Transgressões e Traducões para um livro Corpo
-
Upload
ferraz-wagner -
Category
Documents
-
view
27 -
download
0
description
Transcript of Transgressões e Traducões para um livro Corpo
TRANSGRESSOtildeES E TRADUCcedilOtildeESpara um livro CORPO
Lu Trevisan
TRANSGRESSOtildeES E TRADUCcedilOtildeESpara um livro CORPO
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoCoordenaccedilatildeo Wagner Ferraz
1ordf Ediccedilatildeo
Porto AlegreINDEPIn
2014
2014 2015
Copyrigth 2014 Lu Trevisan
Autor Lu Trevisan (Luiacutesa Beatriz Trevisan Teixeira)
Projeto Editorial INDEPIN - Miriam Piber Campos
Processo C3 - Wagner Ferraz
Foto da capa Lu Trevisan
Arte da capa Anderson Luiz de Souza
Layout e diagramaccedilatildeo Lu Trevisan e Wagner Ferraz
Revisatildeo Geral Wagner Ferraz
Apoio Editorial CANTO Cultura e Arte
Coordenaccedilatildeo Editorial - EditoresMiriam Piber Campos e Wagner Ferraz
INDEPIN INSTITUTO
O Instituto de Desenvolvimento Educacional e Profissio-nal Integrado ndash INDEPin ndash oferece cursos livres em dife-rentes aacutereas e atua como Editora atraveacutes de publica-ccedilotildees colaborativas em formato impresso sob demanda e em formato digital para download gratuito O Instituto natildeo visa lucro com essas propostas de publicaccedilatildeo ape-nas busca contribuir para que produccedilotildees de diferentes aacutereas sejam disponibilizadas facilitando o acesso
Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP)
Bibliotecaacuteria Responsaacutevel Ana Liacutegia Trindade CRB10-1235
T814t Trevisan Lu Transgressotildees e traduccedilotildees para um livro corpo Lu Trevisan ndash Porto Alegre INDEPin 2014 168 p - (Coleccedilatildeo Estudos do Corpo v 1)
Organizaccedilatildeo da Coleccedilatildeo Wagner Ferraz ISBN 978-85-66402-06-3 (coleccedilatildeo) ndash ISBN 978-85-66402- 07-0 (v1)
1 Artes ndash corporeidade I Tiacutetulo II Coleccedilatildeo
CDU 708159925
Registrado e editado em 2014 e lanccedilado em 2015
INDEPIn - wwwindepin-educombrCANTO - Arte e Cultura - wwwcantoartbr
COMISSAtildeO EDITORIAL
Prof Ms Anderson Luiz de Souza - FeevaleProfordf Ms Daniele Noal Gai - UFRGS
Prof Ms Wagner Ferraz - UFRGSUCS
COLECcedilAtildeO ESTUDOS DO CORPO
A ldquoColeccedilatildeo Estudos do Corpordquo surge como desdobramento de encontros realizados para estudos que aconteciam no INDEPIn e hoje ocorrem como Programa de Extensatildeo da UFRGS e desdobramento do livro ldquoEstudos do Corpo Encontros com Artes e Educaccedilatildeordquo ndash Editora INDEPIn
Nos citados encontros diferentes artiacutestas educadores e profissionais de diversas aacutereas se encontram para estudar experimentar discutir ler escrever performar danccedilar compor criar desenhar pintar (ar)riscarhellip Discutindo em primeiro plano ldquoo corpordquo com atravessamentos com criaccedilatildeo educaccedilatildeo filosofia artes visuais danccedila teatro muacutesica performance moda educaccedilatildeo fiacutesica e demais aacutereashellip
Com isso se viu a necessidade de produzir mais publicaccedilotildees com os participantes dos estudos e com convidados que de alguma forma produzem suas escritas visualidades e artes pensando o corpo
Wagner FerrazCoordenador dos encontros Estudos do Corpo
Organizador da Coleccedilatildeo Estudos do Corpo
ParaPietro Gabriela e Leo
AGRADECimENTOS
Ao meu grande amigo Wagner Ferraz por me instigar a buscar novos trajetos e composiccedilotildees que me fazem
pensar o impossiacutevel Movimentos sem os quais este livro natildeo seria possiacutevel
A Anderson Luiz de Souza pela generosidade e paciecircncia na criaccedilatildeo da capa deste livro
A Daniele Noal por despertar em mim o interesse em colecionar invenccedilotildees em meio a poesias fotografias filosofias quinquilharias e
parafernaacutelias
Ao Estudos do Corpo e INDEPin pelo apoio de experimentaccedilotildees visuais
Aos amigos por cederem as capturas de seus lindos ldquorastrosrdquo danccedilas e andanccedilas permeadas de
loucura e arte sem qualquer produtividade imediata nas entatildeo ditas ldquoindiadasrdquo fotograacuteficas
A minha matildee Anadir por acreditar que tudo se pode criar Ao meu pai Antonio pelas gotas de loucura
Aos meus filhos Leo Gabriela e Pietro por me concederem a alegria de compartilhar amor nesta
vida e pelos clicks roubados e conspirados
SUmAacuteRiO
- APRESENTACcedilAtildeO 17- CORPO 21- NAtildeO LUGAR 48- TRANSGRESSOtildeES 78- RASTROS 107- DORES E DELIacuteCIAS DA VIDA 144
14 15
17
Apresentaccedilatildeo
Daniele Noal Gai
Lutrevisanuma senhora menina transgressora Com todos os gostos pela forccedila de palavrotildees soacute assim pode soar esta primeira frase Soar em
ESPECIALISTA em um sustofita cassete de onde
vemem disquete em quem
conhecebobina em analoacutegicas maacutequinas
onde quer ir
ESPECiALiSTA prometo
em viacutedeo casseteem enceradeira em vamos nos
continuaraparelhagem toca discos
tom alto como quem fala palavrotildees com o coraccedilatildeo Descobrimo-nos em Curso de Extensatildeo promovido pelo Programa Parafernaacutelias que oferecia em 201201 oficinas via moodle Sim
18 19
Wagner Ferraz e eu oferecemos oficina com poesia e mil e tantas artes via ambiente virtual E o mais incriacutevel de nossa louca-proposta-pedagoacutegica nosso melhor feito chegava-nos com exatos atrasos e imensas provocaccedilotildees Luiacutesa
Ela a Lutrevisan entendia e ampliava e pervertia as propostas do curso Soube de coisas de Manoel de Barros e de Arthur Bispo do Rosaacuterio Soube de aprendizagem inventiva na educaccedilatildeo para todos e cada um Soube sobre escolas quaisquer Soube sobre corpos que experimentam a existecircncia em meio a-deficiecircncia-na-deficiecircncia Soube de outras intensidades diagnoacutesticas Soube-nos Ensinou Professora de educaccedilatildeo fiacutesica Conosco formou liga Orientanda que muito animaLuiacutesa
doce e tule e atriz e azeda e tecido e professora e fruta e tomate e forte e colorida e limatildeo e preta e fotografias e pequena e foto-escritas e sorriso e cartografia e fotocartografia e
i nem enfeite ii nem maquiagem iii nem fachada iv nudez da primeira v a vi uacuteltima imagem-faladavii umlumlviii contemporaneamente apresentadaix
e s p e c i a l m e n t e s p e c i a l i s t a
na feitura
na artesania
de quaisquer coisas
de uma infinidade de coisas
em uma diversidade de coisas
catadora de vazios de cacos
de tintas de danccedilas de vatildeos
de pedaccedilos de sensaccedilotildees
especialista em parir gente que faz coisas muitas
especialista em matildees em matildeos em mamatildeos em meme
na grande sauacutede nietzscheana
na vida no vigor na duraccedilatildeonas vibraccedilotildees nas ressonacircncias
nas tonalidades nas frequecircncias nos efeitos
rasgadora de papeacuteis
esculpidora de pedras
misturadora de tintas
20 21
Corpo
23
Ondulatoacuterio=At(^210)(L1+ L2) enter return
O que aumenta minha potecircncia de agirAlgumas vezes me surpreendo num movimento de coisas antes impensaacuteveis
Agora (no dia de hoje) adoro levantar cedo e minha cor preferida estaacute azul
Me encantas com teu estranho guarda-roupa e com tua fala migratoacuteria que violentam meu pensamento Tudo escapa dos protocolos
Com minha cacircmera modificada tento estender o tempo na captura do teu fluxo turbulento Te ldquoscaneiordquo e natildeo canso de te olhar
nOW TOUCHE me baby
25
26 27
28 29
30 31
33
34 35
36 37
Duvido do corpo fragmentado
do corpo condicionado dos paralelos opostos e
dos opostos complementares
Duvido dos padrotildees de beleza
Alias descredito na feiura e belezura
na deficiecircncia e eficiecircncia
Fujo do diagnostico de bipolaridade
Faccedilo cara de paisagem pros
prognoacutesticos
Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees
dos historiadores e poliacuteticos e
questiono as escalas das cores
Desconheccedilo
o que pode o corpo
e o que eacute o corpo
38 39
40 41
42 43
44 45
46 47
49
Natildeo
Lugar
50 51
52 53
54 55
56 57
No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e
a frontei desdobras e desvios
Os corpos se datildeo
A partir do acontecimento
ultrapassa transpassa
a fronteira do diziacutevel
provocando
e produz i n f o r m e
em atualizaccedilotildeestrans itivas
um novo si eacute exigido
58 59
60 61
63
64 65
66 67
68 69
70 71
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
Lu Trevisan
TRANSGRESSOtildeES E TRADUCcedilOtildeESpara um livro CORPO
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoCoordenaccedilatildeo Wagner Ferraz
1ordf Ediccedilatildeo
Porto AlegreINDEPIn
2014
2014 2015
Copyrigth 2014 Lu Trevisan
Autor Lu Trevisan (Luiacutesa Beatriz Trevisan Teixeira)
Projeto Editorial INDEPIN - Miriam Piber Campos
Processo C3 - Wagner Ferraz
Foto da capa Lu Trevisan
Arte da capa Anderson Luiz de Souza
Layout e diagramaccedilatildeo Lu Trevisan e Wagner Ferraz
Revisatildeo Geral Wagner Ferraz
Apoio Editorial CANTO Cultura e Arte
Coordenaccedilatildeo Editorial - EditoresMiriam Piber Campos e Wagner Ferraz
INDEPIN INSTITUTO
O Instituto de Desenvolvimento Educacional e Profissio-nal Integrado ndash INDEPin ndash oferece cursos livres em dife-rentes aacutereas e atua como Editora atraveacutes de publica-ccedilotildees colaborativas em formato impresso sob demanda e em formato digital para download gratuito O Instituto natildeo visa lucro com essas propostas de publicaccedilatildeo ape-nas busca contribuir para que produccedilotildees de diferentes aacutereas sejam disponibilizadas facilitando o acesso
Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP)
Bibliotecaacuteria Responsaacutevel Ana Liacutegia Trindade CRB10-1235
T814t Trevisan Lu Transgressotildees e traduccedilotildees para um livro corpo Lu Trevisan ndash Porto Alegre INDEPin 2014 168 p - (Coleccedilatildeo Estudos do Corpo v 1)
Organizaccedilatildeo da Coleccedilatildeo Wagner Ferraz ISBN 978-85-66402-06-3 (coleccedilatildeo) ndash ISBN 978-85-66402- 07-0 (v1)
1 Artes ndash corporeidade I Tiacutetulo II Coleccedilatildeo
CDU 708159925
Registrado e editado em 2014 e lanccedilado em 2015
INDEPIn - wwwindepin-educombrCANTO - Arte e Cultura - wwwcantoartbr
COMISSAtildeO EDITORIAL
Prof Ms Anderson Luiz de Souza - FeevaleProfordf Ms Daniele Noal Gai - UFRGS
Prof Ms Wagner Ferraz - UFRGSUCS
COLECcedilAtildeO ESTUDOS DO CORPO
A ldquoColeccedilatildeo Estudos do Corpordquo surge como desdobramento de encontros realizados para estudos que aconteciam no INDEPIn e hoje ocorrem como Programa de Extensatildeo da UFRGS e desdobramento do livro ldquoEstudos do Corpo Encontros com Artes e Educaccedilatildeordquo ndash Editora INDEPIn
Nos citados encontros diferentes artiacutestas educadores e profissionais de diversas aacutereas se encontram para estudar experimentar discutir ler escrever performar danccedilar compor criar desenhar pintar (ar)riscarhellip Discutindo em primeiro plano ldquoo corpordquo com atravessamentos com criaccedilatildeo educaccedilatildeo filosofia artes visuais danccedila teatro muacutesica performance moda educaccedilatildeo fiacutesica e demais aacutereashellip
Com isso se viu a necessidade de produzir mais publicaccedilotildees com os participantes dos estudos e com convidados que de alguma forma produzem suas escritas visualidades e artes pensando o corpo
Wagner FerrazCoordenador dos encontros Estudos do Corpo
Organizador da Coleccedilatildeo Estudos do Corpo
ParaPietro Gabriela e Leo
AGRADECimENTOS
Ao meu grande amigo Wagner Ferraz por me instigar a buscar novos trajetos e composiccedilotildees que me fazem
pensar o impossiacutevel Movimentos sem os quais este livro natildeo seria possiacutevel
A Anderson Luiz de Souza pela generosidade e paciecircncia na criaccedilatildeo da capa deste livro
A Daniele Noal por despertar em mim o interesse em colecionar invenccedilotildees em meio a poesias fotografias filosofias quinquilharias e
parafernaacutelias
Ao Estudos do Corpo e INDEPin pelo apoio de experimentaccedilotildees visuais
Aos amigos por cederem as capturas de seus lindos ldquorastrosrdquo danccedilas e andanccedilas permeadas de
loucura e arte sem qualquer produtividade imediata nas entatildeo ditas ldquoindiadasrdquo fotograacuteficas
A minha matildee Anadir por acreditar que tudo se pode criar Ao meu pai Antonio pelas gotas de loucura
Aos meus filhos Leo Gabriela e Pietro por me concederem a alegria de compartilhar amor nesta
vida e pelos clicks roubados e conspirados
SUmAacuteRiO
- APRESENTACcedilAtildeO 17- CORPO 21- NAtildeO LUGAR 48- TRANSGRESSOtildeES 78- RASTROS 107- DORES E DELIacuteCIAS DA VIDA 144
14 15
17
Apresentaccedilatildeo
Daniele Noal Gai
Lutrevisanuma senhora menina transgressora Com todos os gostos pela forccedila de palavrotildees soacute assim pode soar esta primeira frase Soar em
ESPECIALISTA em um sustofita cassete de onde
vemem disquete em quem
conhecebobina em analoacutegicas maacutequinas
onde quer ir
ESPECiALiSTA prometo
em viacutedeo casseteem enceradeira em vamos nos
continuaraparelhagem toca discos
tom alto como quem fala palavrotildees com o coraccedilatildeo Descobrimo-nos em Curso de Extensatildeo promovido pelo Programa Parafernaacutelias que oferecia em 201201 oficinas via moodle Sim
18 19
Wagner Ferraz e eu oferecemos oficina com poesia e mil e tantas artes via ambiente virtual E o mais incriacutevel de nossa louca-proposta-pedagoacutegica nosso melhor feito chegava-nos com exatos atrasos e imensas provocaccedilotildees Luiacutesa
Ela a Lutrevisan entendia e ampliava e pervertia as propostas do curso Soube de coisas de Manoel de Barros e de Arthur Bispo do Rosaacuterio Soube de aprendizagem inventiva na educaccedilatildeo para todos e cada um Soube sobre escolas quaisquer Soube sobre corpos que experimentam a existecircncia em meio a-deficiecircncia-na-deficiecircncia Soube de outras intensidades diagnoacutesticas Soube-nos Ensinou Professora de educaccedilatildeo fiacutesica Conosco formou liga Orientanda que muito animaLuiacutesa
doce e tule e atriz e azeda e tecido e professora e fruta e tomate e forte e colorida e limatildeo e preta e fotografias e pequena e foto-escritas e sorriso e cartografia e fotocartografia e
i nem enfeite ii nem maquiagem iii nem fachada iv nudez da primeira v a vi uacuteltima imagem-faladavii umlumlviii contemporaneamente apresentadaix
e s p e c i a l m e n t e s p e c i a l i s t a
na feitura
na artesania
de quaisquer coisas
de uma infinidade de coisas
em uma diversidade de coisas
catadora de vazios de cacos
de tintas de danccedilas de vatildeos
de pedaccedilos de sensaccedilotildees
especialista em parir gente que faz coisas muitas
especialista em matildees em matildeos em mamatildeos em meme
na grande sauacutede nietzscheana
na vida no vigor na duraccedilatildeonas vibraccedilotildees nas ressonacircncias
nas tonalidades nas frequecircncias nos efeitos
rasgadora de papeacuteis
esculpidora de pedras
misturadora de tintas
20 21
Corpo
23
Ondulatoacuterio=At(^210)(L1+ L2) enter return
O que aumenta minha potecircncia de agirAlgumas vezes me surpreendo num movimento de coisas antes impensaacuteveis
Agora (no dia de hoje) adoro levantar cedo e minha cor preferida estaacute azul
Me encantas com teu estranho guarda-roupa e com tua fala migratoacuteria que violentam meu pensamento Tudo escapa dos protocolos
Com minha cacircmera modificada tento estender o tempo na captura do teu fluxo turbulento Te ldquoscaneiordquo e natildeo canso de te olhar
nOW TOUCHE me baby
25
26 27
28 29
30 31
33
34 35
36 37
Duvido do corpo fragmentado
do corpo condicionado dos paralelos opostos e
dos opostos complementares
Duvido dos padrotildees de beleza
Alias descredito na feiura e belezura
na deficiecircncia e eficiecircncia
Fujo do diagnostico de bipolaridade
Faccedilo cara de paisagem pros
prognoacutesticos
Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees
dos historiadores e poliacuteticos e
questiono as escalas das cores
Desconheccedilo
o que pode o corpo
e o que eacute o corpo
38 39
40 41
42 43
44 45
46 47
49
Natildeo
Lugar
50 51
52 53
54 55
56 57
No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e
a frontei desdobras e desvios
Os corpos se datildeo
A partir do acontecimento
ultrapassa transpassa
a fronteira do diziacutevel
provocando
e produz i n f o r m e
em atualizaccedilotildeestrans itivas
um novo si eacute exigido
58 59
60 61
63
64 65
66 67
68 69
70 71
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
Copyrigth 2014 Lu Trevisan
Autor Lu Trevisan (Luiacutesa Beatriz Trevisan Teixeira)
Projeto Editorial INDEPIN - Miriam Piber Campos
Processo C3 - Wagner Ferraz
Foto da capa Lu Trevisan
Arte da capa Anderson Luiz de Souza
Layout e diagramaccedilatildeo Lu Trevisan e Wagner Ferraz
Revisatildeo Geral Wagner Ferraz
Apoio Editorial CANTO Cultura e Arte
Coordenaccedilatildeo Editorial - EditoresMiriam Piber Campos e Wagner Ferraz
INDEPIN INSTITUTO
O Instituto de Desenvolvimento Educacional e Profissio-nal Integrado ndash INDEPin ndash oferece cursos livres em dife-rentes aacutereas e atua como Editora atraveacutes de publica-ccedilotildees colaborativas em formato impresso sob demanda e em formato digital para download gratuito O Instituto natildeo visa lucro com essas propostas de publicaccedilatildeo ape-nas busca contribuir para que produccedilotildees de diferentes aacutereas sejam disponibilizadas facilitando o acesso
Dados Internacionais de Catalogaccedilatildeo na Publicaccedilatildeo (CIP)
Bibliotecaacuteria Responsaacutevel Ana Liacutegia Trindade CRB10-1235
T814t Trevisan Lu Transgressotildees e traduccedilotildees para um livro corpo Lu Trevisan ndash Porto Alegre INDEPin 2014 168 p - (Coleccedilatildeo Estudos do Corpo v 1)
Organizaccedilatildeo da Coleccedilatildeo Wagner Ferraz ISBN 978-85-66402-06-3 (coleccedilatildeo) ndash ISBN 978-85-66402- 07-0 (v1)
1 Artes ndash corporeidade I Tiacutetulo II Coleccedilatildeo
CDU 708159925
Registrado e editado em 2014 e lanccedilado em 2015
INDEPIn - wwwindepin-educombrCANTO - Arte e Cultura - wwwcantoartbr
COMISSAtildeO EDITORIAL
Prof Ms Anderson Luiz de Souza - FeevaleProfordf Ms Daniele Noal Gai - UFRGS
Prof Ms Wagner Ferraz - UFRGSUCS
COLECcedilAtildeO ESTUDOS DO CORPO
A ldquoColeccedilatildeo Estudos do Corpordquo surge como desdobramento de encontros realizados para estudos que aconteciam no INDEPIn e hoje ocorrem como Programa de Extensatildeo da UFRGS e desdobramento do livro ldquoEstudos do Corpo Encontros com Artes e Educaccedilatildeordquo ndash Editora INDEPIn
Nos citados encontros diferentes artiacutestas educadores e profissionais de diversas aacutereas se encontram para estudar experimentar discutir ler escrever performar danccedilar compor criar desenhar pintar (ar)riscarhellip Discutindo em primeiro plano ldquoo corpordquo com atravessamentos com criaccedilatildeo educaccedilatildeo filosofia artes visuais danccedila teatro muacutesica performance moda educaccedilatildeo fiacutesica e demais aacutereashellip
Com isso se viu a necessidade de produzir mais publicaccedilotildees com os participantes dos estudos e com convidados que de alguma forma produzem suas escritas visualidades e artes pensando o corpo
Wagner FerrazCoordenador dos encontros Estudos do Corpo
Organizador da Coleccedilatildeo Estudos do Corpo
ParaPietro Gabriela e Leo
AGRADECimENTOS
Ao meu grande amigo Wagner Ferraz por me instigar a buscar novos trajetos e composiccedilotildees que me fazem
pensar o impossiacutevel Movimentos sem os quais este livro natildeo seria possiacutevel
A Anderson Luiz de Souza pela generosidade e paciecircncia na criaccedilatildeo da capa deste livro
A Daniele Noal por despertar em mim o interesse em colecionar invenccedilotildees em meio a poesias fotografias filosofias quinquilharias e
parafernaacutelias
Ao Estudos do Corpo e INDEPin pelo apoio de experimentaccedilotildees visuais
Aos amigos por cederem as capturas de seus lindos ldquorastrosrdquo danccedilas e andanccedilas permeadas de
loucura e arte sem qualquer produtividade imediata nas entatildeo ditas ldquoindiadasrdquo fotograacuteficas
A minha matildee Anadir por acreditar que tudo se pode criar Ao meu pai Antonio pelas gotas de loucura
Aos meus filhos Leo Gabriela e Pietro por me concederem a alegria de compartilhar amor nesta
vida e pelos clicks roubados e conspirados
SUmAacuteRiO
- APRESENTACcedilAtildeO 17- CORPO 21- NAtildeO LUGAR 48- TRANSGRESSOtildeES 78- RASTROS 107- DORES E DELIacuteCIAS DA VIDA 144
14 15
17
Apresentaccedilatildeo
Daniele Noal Gai
Lutrevisanuma senhora menina transgressora Com todos os gostos pela forccedila de palavrotildees soacute assim pode soar esta primeira frase Soar em
ESPECIALISTA em um sustofita cassete de onde
vemem disquete em quem
conhecebobina em analoacutegicas maacutequinas
onde quer ir
ESPECiALiSTA prometo
em viacutedeo casseteem enceradeira em vamos nos
continuaraparelhagem toca discos
tom alto como quem fala palavrotildees com o coraccedilatildeo Descobrimo-nos em Curso de Extensatildeo promovido pelo Programa Parafernaacutelias que oferecia em 201201 oficinas via moodle Sim
18 19
Wagner Ferraz e eu oferecemos oficina com poesia e mil e tantas artes via ambiente virtual E o mais incriacutevel de nossa louca-proposta-pedagoacutegica nosso melhor feito chegava-nos com exatos atrasos e imensas provocaccedilotildees Luiacutesa
Ela a Lutrevisan entendia e ampliava e pervertia as propostas do curso Soube de coisas de Manoel de Barros e de Arthur Bispo do Rosaacuterio Soube de aprendizagem inventiva na educaccedilatildeo para todos e cada um Soube sobre escolas quaisquer Soube sobre corpos que experimentam a existecircncia em meio a-deficiecircncia-na-deficiecircncia Soube de outras intensidades diagnoacutesticas Soube-nos Ensinou Professora de educaccedilatildeo fiacutesica Conosco formou liga Orientanda que muito animaLuiacutesa
doce e tule e atriz e azeda e tecido e professora e fruta e tomate e forte e colorida e limatildeo e preta e fotografias e pequena e foto-escritas e sorriso e cartografia e fotocartografia e
i nem enfeite ii nem maquiagem iii nem fachada iv nudez da primeira v a vi uacuteltima imagem-faladavii umlumlviii contemporaneamente apresentadaix
e s p e c i a l m e n t e s p e c i a l i s t a
na feitura
na artesania
de quaisquer coisas
de uma infinidade de coisas
em uma diversidade de coisas
catadora de vazios de cacos
de tintas de danccedilas de vatildeos
de pedaccedilos de sensaccedilotildees
especialista em parir gente que faz coisas muitas
especialista em matildees em matildeos em mamatildeos em meme
na grande sauacutede nietzscheana
na vida no vigor na duraccedilatildeonas vibraccedilotildees nas ressonacircncias
nas tonalidades nas frequecircncias nos efeitos
rasgadora de papeacuteis
esculpidora de pedras
misturadora de tintas
20 21
Corpo
23
Ondulatoacuterio=At(^210)(L1+ L2) enter return
O que aumenta minha potecircncia de agirAlgumas vezes me surpreendo num movimento de coisas antes impensaacuteveis
Agora (no dia de hoje) adoro levantar cedo e minha cor preferida estaacute azul
Me encantas com teu estranho guarda-roupa e com tua fala migratoacuteria que violentam meu pensamento Tudo escapa dos protocolos
Com minha cacircmera modificada tento estender o tempo na captura do teu fluxo turbulento Te ldquoscaneiordquo e natildeo canso de te olhar
nOW TOUCHE me baby
25
26 27
28 29
30 31
33
34 35
36 37
Duvido do corpo fragmentado
do corpo condicionado dos paralelos opostos e
dos opostos complementares
Duvido dos padrotildees de beleza
Alias descredito na feiura e belezura
na deficiecircncia e eficiecircncia
Fujo do diagnostico de bipolaridade
Faccedilo cara de paisagem pros
prognoacutesticos
Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees
dos historiadores e poliacuteticos e
questiono as escalas das cores
Desconheccedilo
o que pode o corpo
e o que eacute o corpo
38 39
40 41
42 43
44 45
46 47
49
Natildeo
Lugar
50 51
52 53
54 55
56 57
No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e
a frontei desdobras e desvios
Os corpos se datildeo
A partir do acontecimento
ultrapassa transpassa
a fronteira do diziacutevel
provocando
e produz i n f o r m e
em atualizaccedilotildeestrans itivas
um novo si eacute exigido
58 59
60 61
63
64 65
66 67
68 69
70 71
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
COLECcedilAtildeO ESTUDOS DO CORPO
A ldquoColeccedilatildeo Estudos do Corpordquo surge como desdobramento de encontros realizados para estudos que aconteciam no INDEPIn e hoje ocorrem como Programa de Extensatildeo da UFRGS e desdobramento do livro ldquoEstudos do Corpo Encontros com Artes e Educaccedilatildeordquo ndash Editora INDEPIn
Nos citados encontros diferentes artiacutestas educadores e profissionais de diversas aacutereas se encontram para estudar experimentar discutir ler escrever performar danccedilar compor criar desenhar pintar (ar)riscarhellip Discutindo em primeiro plano ldquoo corpordquo com atravessamentos com criaccedilatildeo educaccedilatildeo filosofia artes visuais danccedila teatro muacutesica performance moda educaccedilatildeo fiacutesica e demais aacutereashellip
Com isso se viu a necessidade de produzir mais publicaccedilotildees com os participantes dos estudos e com convidados que de alguma forma produzem suas escritas visualidades e artes pensando o corpo
Wagner FerrazCoordenador dos encontros Estudos do Corpo
Organizador da Coleccedilatildeo Estudos do Corpo
ParaPietro Gabriela e Leo
AGRADECimENTOS
Ao meu grande amigo Wagner Ferraz por me instigar a buscar novos trajetos e composiccedilotildees que me fazem
pensar o impossiacutevel Movimentos sem os quais este livro natildeo seria possiacutevel
A Anderson Luiz de Souza pela generosidade e paciecircncia na criaccedilatildeo da capa deste livro
A Daniele Noal por despertar em mim o interesse em colecionar invenccedilotildees em meio a poesias fotografias filosofias quinquilharias e
parafernaacutelias
Ao Estudos do Corpo e INDEPin pelo apoio de experimentaccedilotildees visuais
Aos amigos por cederem as capturas de seus lindos ldquorastrosrdquo danccedilas e andanccedilas permeadas de
loucura e arte sem qualquer produtividade imediata nas entatildeo ditas ldquoindiadasrdquo fotograacuteficas
A minha matildee Anadir por acreditar que tudo se pode criar Ao meu pai Antonio pelas gotas de loucura
Aos meus filhos Leo Gabriela e Pietro por me concederem a alegria de compartilhar amor nesta
vida e pelos clicks roubados e conspirados
SUmAacuteRiO
- APRESENTACcedilAtildeO 17- CORPO 21- NAtildeO LUGAR 48- TRANSGRESSOtildeES 78- RASTROS 107- DORES E DELIacuteCIAS DA VIDA 144
14 15
17
Apresentaccedilatildeo
Daniele Noal Gai
Lutrevisanuma senhora menina transgressora Com todos os gostos pela forccedila de palavrotildees soacute assim pode soar esta primeira frase Soar em
ESPECIALISTA em um sustofita cassete de onde
vemem disquete em quem
conhecebobina em analoacutegicas maacutequinas
onde quer ir
ESPECiALiSTA prometo
em viacutedeo casseteem enceradeira em vamos nos
continuaraparelhagem toca discos
tom alto como quem fala palavrotildees com o coraccedilatildeo Descobrimo-nos em Curso de Extensatildeo promovido pelo Programa Parafernaacutelias que oferecia em 201201 oficinas via moodle Sim
18 19
Wagner Ferraz e eu oferecemos oficina com poesia e mil e tantas artes via ambiente virtual E o mais incriacutevel de nossa louca-proposta-pedagoacutegica nosso melhor feito chegava-nos com exatos atrasos e imensas provocaccedilotildees Luiacutesa
Ela a Lutrevisan entendia e ampliava e pervertia as propostas do curso Soube de coisas de Manoel de Barros e de Arthur Bispo do Rosaacuterio Soube de aprendizagem inventiva na educaccedilatildeo para todos e cada um Soube sobre escolas quaisquer Soube sobre corpos que experimentam a existecircncia em meio a-deficiecircncia-na-deficiecircncia Soube de outras intensidades diagnoacutesticas Soube-nos Ensinou Professora de educaccedilatildeo fiacutesica Conosco formou liga Orientanda que muito animaLuiacutesa
doce e tule e atriz e azeda e tecido e professora e fruta e tomate e forte e colorida e limatildeo e preta e fotografias e pequena e foto-escritas e sorriso e cartografia e fotocartografia e
i nem enfeite ii nem maquiagem iii nem fachada iv nudez da primeira v a vi uacuteltima imagem-faladavii umlumlviii contemporaneamente apresentadaix
e s p e c i a l m e n t e s p e c i a l i s t a
na feitura
na artesania
de quaisquer coisas
de uma infinidade de coisas
em uma diversidade de coisas
catadora de vazios de cacos
de tintas de danccedilas de vatildeos
de pedaccedilos de sensaccedilotildees
especialista em parir gente que faz coisas muitas
especialista em matildees em matildeos em mamatildeos em meme
na grande sauacutede nietzscheana
na vida no vigor na duraccedilatildeonas vibraccedilotildees nas ressonacircncias
nas tonalidades nas frequecircncias nos efeitos
rasgadora de papeacuteis
esculpidora de pedras
misturadora de tintas
20 21
Corpo
23
Ondulatoacuterio=At(^210)(L1+ L2) enter return
O que aumenta minha potecircncia de agirAlgumas vezes me surpreendo num movimento de coisas antes impensaacuteveis
Agora (no dia de hoje) adoro levantar cedo e minha cor preferida estaacute azul
Me encantas com teu estranho guarda-roupa e com tua fala migratoacuteria que violentam meu pensamento Tudo escapa dos protocolos
Com minha cacircmera modificada tento estender o tempo na captura do teu fluxo turbulento Te ldquoscaneiordquo e natildeo canso de te olhar
nOW TOUCHE me baby
25
26 27
28 29
30 31
33
34 35
36 37
Duvido do corpo fragmentado
do corpo condicionado dos paralelos opostos e
dos opostos complementares
Duvido dos padrotildees de beleza
Alias descredito na feiura e belezura
na deficiecircncia e eficiecircncia
Fujo do diagnostico de bipolaridade
Faccedilo cara de paisagem pros
prognoacutesticos
Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees
dos historiadores e poliacuteticos e
questiono as escalas das cores
Desconheccedilo
o que pode o corpo
e o que eacute o corpo
38 39
40 41
42 43
44 45
46 47
49
Natildeo
Lugar
50 51
52 53
54 55
56 57
No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e
a frontei desdobras e desvios
Os corpos se datildeo
A partir do acontecimento
ultrapassa transpassa
a fronteira do diziacutevel
provocando
e produz i n f o r m e
em atualizaccedilotildeestrans itivas
um novo si eacute exigido
58 59
60 61
63
64 65
66 67
68 69
70 71
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
ParaPietro Gabriela e Leo
AGRADECimENTOS
Ao meu grande amigo Wagner Ferraz por me instigar a buscar novos trajetos e composiccedilotildees que me fazem
pensar o impossiacutevel Movimentos sem os quais este livro natildeo seria possiacutevel
A Anderson Luiz de Souza pela generosidade e paciecircncia na criaccedilatildeo da capa deste livro
A Daniele Noal por despertar em mim o interesse em colecionar invenccedilotildees em meio a poesias fotografias filosofias quinquilharias e
parafernaacutelias
Ao Estudos do Corpo e INDEPin pelo apoio de experimentaccedilotildees visuais
Aos amigos por cederem as capturas de seus lindos ldquorastrosrdquo danccedilas e andanccedilas permeadas de
loucura e arte sem qualquer produtividade imediata nas entatildeo ditas ldquoindiadasrdquo fotograacuteficas
A minha matildee Anadir por acreditar que tudo se pode criar Ao meu pai Antonio pelas gotas de loucura
Aos meus filhos Leo Gabriela e Pietro por me concederem a alegria de compartilhar amor nesta
vida e pelos clicks roubados e conspirados
SUmAacuteRiO
- APRESENTACcedilAtildeO 17- CORPO 21- NAtildeO LUGAR 48- TRANSGRESSOtildeES 78- RASTROS 107- DORES E DELIacuteCIAS DA VIDA 144
14 15
17
Apresentaccedilatildeo
Daniele Noal Gai
Lutrevisanuma senhora menina transgressora Com todos os gostos pela forccedila de palavrotildees soacute assim pode soar esta primeira frase Soar em
ESPECIALISTA em um sustofita cassete de onde
vemem disquete em quem
conhecebobina em analoacutegicas maacutequinas
onde quer ir
ESPECiALiSTA prometo
em viacutedeo casseteem enceradeira em vamos nos
continuaraparelhagem toca discos
tom alto como quem fala palavrotildees com o coraccedilatildeo Descobrimo-nos em Curso de Extensatildeo promovido pelo Programa Parafernaacutelias que oferecia em 201201 oficinas via moodle Sim
18 19
Wagner Ferraz e eu oferecemos oficina com poesia e mil e tantas artes via ambiente virtual E o mais incriacutevel de nossa louca-proposta-pedagoacutegica nosso melhor feito chegava-nos com exatos atrasos e imensas provocaccedilotildees Luiacutesa
Ela a Lutrevisan entendia e ampliava e pervertia as propostas do curso Soube de coisas de Manoel de Barros e de Arthur Bispo do Rosaacuterio Soube de aprendizagem inventiva na educaccedilatildeo para todos e cada um Soube sobre escolas quaisquer Soube sobre corpos que experimentam a existecircncia em meio a-deficiecircncia-na-deficiecircncia Soube de outras intensidades diagnoacutesticas Soube-nos Ensinou Professora de educaccedilatildeo fiacutesica Conosco formou liga Orientanda que muito animaLuiacutesa
doce e tule e atriz e azeda e tecido e professora e fruta e tomate e forte e colorida e limatildeo e preta e fotografias e pequena e foto-escritas e sorriso e cartografia e fotocartografia e
i nem enfeite ii nem maquiagem iii nem fachada iv nudez da primeira v a vi uacuteltima imagem-faladavii umlumlviii contemporaneamente apresentadaix
e s p e c i a l m e n t e s p e c i a l i s t a
na feitura
na artesania
de quaisquer coisas
de uma infinidade de coisas
em uma diversidade de coisas
catadora de vazios de cacos
de tintas de danccedilas de vatildeos
de pedaccedilos de sensaccedilotildees
especialista em parir gente que faz coisas muitas
especialista em matildees em matildeos em mamatildeos em meme
na grande sauacutede nietzscheana
na vida no vigor na duraccedilatildeonas vibraccedilotildees nas ressonacircncias
nas tonalidades nas frequecircncias nos efeitos
rasgadora de papeacuteis
esculpidora de pedras
misturadora de tintas
20 21
Corpo
23
Ondulatoacuterio=At(^210)(L1+ L2) enter return
O que aumenta minha potecircncia de agirAlgumas vezes me surpreendo num movimento de coisas antes impensaacuteveis
Agora (no dia de hoje) adoro levantar cedo e minha cor preferida estaacute azul
Me encantas com teu estranho guarda-roupa e com tua fala migratoacuteria que violentam meu pensamento Tudo escapa dos protocolos
Com minha cacircmera modificada tento estender o tempo na captura do teu fluxo turbulento Te ldquoscaneiordquo e natildeo canso de te olhar
nOW TOUCHE me baby
25
26 27
28 29
30 31
33
34 35
36 37
Duvido do corpo fragmentado
do corpo condicionado dos paralelos opostos e
dos opostos complementares
Duvido dos padrotildees de beleza
Alias descredito na feiura e belezura
na deficiecircncia e eficiecircncia
Fujo do diagnostico de bipolaridade
Faccedilo cara de paisagem pros
prognoacutesticos
Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees
dos historiadores e poliacuteticos e
questiono as escalas das cores
Desconheccedilo
o que pode o corpo
e o que eacute o corpo
38 39
40 41
42 43
44 45
46 47
49
Natildeo
Lugar
50 51
52 53
54 55
56 57
No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e
a frontei desdobras e desvios
Os corpos se datildeo
A partir do acontecimento
ultrapassa transpassa
a fronteira do diziacutevel
provocando
e produz i n f o r m e
em atualizaccedilotildeestrans itivas
um novo si eacute exigido
58 59
60 61
63
64 65
66 67
68 69
70 71
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
AGRADECimENTOS
Ao meu grande amigo Wagner Ferraz por me instigar a buscar novos trajetos e composiccedilotildees que me fazem
pensar o impossiacutevel Movimentos sem os quais este livro natildeo seria possiacutevel
A Anderson Luiz de Souza pela generosidade e paciecircncia na criaccedilatildeo da capa deste livro
A Daniele Noal por despertar em mim o interesse em colecionar invenccedilotildees em meio a poesias fotografias filosofias quinquilharias e
parafernaacutelias
Ao Estudos do Corpo e INDEPin pelo apoio de experimentaccedilotildees visuais
Aos amigos por cederem as capturas de seus lindos ldquorastrosrdquo danccedilas e andanccedilas permeadas de
loucura e arte sem qualquer produtividade imediata nas entatildeo ditas ldquoindiadasrdquo fotograacuteficas
A minha matildee Anadir por acreditar que tudo se pode criar Ao meu pai Antonio pelas gotas de loucura
Aos meus filhos Leo Gabriela e Pietro por me concederem a alegria de compartilhar amor nesta
vida e pelos clicks roubados e conspirados
SUmAacuteRiO
- APRESENTACcedilAtildeO 17- CORPO 21- NAtildeO LUGAR 48- TRANSGRESSOtildeES 78- RASTROS 107- DORES E DELIacuteCIAS DA VIDA 144
14 15
17
Apresentaccedilatildeo
Daniele Noal Gai
Lutrevisanuma senhora menina transgressora Com todos os gostos pela forccedila de palavrotildees soacute assim pode soar esta primeira frase Soar em
ESPECIALISTA em um sustofita cassete de onde
vemem disquete em quem
conhecebobina em analoacutegicas maacutequinas
onde quer ir
ESPECiALiSTA prometo
em viacutedeo casseteem enceradeira em vamos nos
continuaraparelhagem toca discos
tom alto como quem fala palavrotildees com o coraccedilatildeo Descobrimo-nos em Curso de Extensatildeo promovido pelo Programa Parafernaacutelias que oferecia em 201201 oficinas via moodle Sim
18 19
Wagner Ferraz e eu oferecemos oficina com poesia e mil e tantas artes via ambiente virtual E o mais incriacutevel de nossa louca-proposta-pedagoacutegica nosso melhor feito chegava-nos com exatos atrasos e imensas provocaccedilotildees Luiacutesa
Ela a Lutrevisan entendia e ampliava e pervertia as propostas do curso Soube de coisas de Manoel de Barros e de Arthur Bispo do Rosaacuterio Soube de aprendizagem inventiva na educaccedilatildeo para todos e cada um Soube sobre escolas quaisquer Soube sobre corpos que experimentam a existecircncia em meio a-deficiecircncia-na-deficiecircncia Soube de outras intensidades diagnoacutesticas Soube-nos Ensinou Professora de educaccedilatildeo fiacutesica Conosco formou liga Orientanda que muito animaLuiacutesa
doce e tule e atriz e azeda e tecido e professora e fruta e tomate e forte e colorida e limatildeo e preta e fotografias e pequena e foto-escritas e sorriso e cartografia e fotocartografia e
i nem enfeite ii nem maquiagem iii nem fachada iv nudez da primeira v a vi uacuteltima imagem-faladavii umlumlviii contemporaneamente apresentadaix
e s p e c i a l m e n t e s p e c i a l i s t a
na feitura
na artesania
de quaisquer coisas
de uma infinidade de coisas
em uma diversidade de coisas
catadora de vazios de cacos
de tintas de danccedilas de vatildeos
de pedaccedilos de sensaccedilotildees
especialista em parir gente que faz coisas muitas
especialista em matildees em matildeos em mamatildeos em meme
na grande sauacutede nietzscheana
na vida no vigor na duraccedilatildeonas vibraccedilotildees nas ressonacircncias
nas tonalidades nas frequecircncias nos efeitos
rasgadora de papeacuteis
esculpidora de pedras
misturadora de tintas
20 21
Corpo
23
Ondulatoacuterio=At(^210)(L1+ L2) enter return
O que aumenta minha potecircncia de agirAlgumas vezes me surpreendo num movimento de coisas antes impensaacuteveis
Agora (no dia de hoje) adoro levantar cedo e minha cor preferida estaacute azul
Me encantas com teu estranho guarda-roupa e com tua fala migratoacuteria que violentam meu pensamento Tudo escapa dos protocolos
Com minha cacircmera modificada tento estender o tempo na captura do teu fluxo turbulento Te ldquoscaneiordquo e natildeo canso de te olhar
nOW TOUCHE me baby
25
26 27
28 29
30 31
33
34 35
36 37
Duvido do corpo fragmentado
do corpo condicionado dos paralelos opostos e
dos opostos complementares
Duvido dos padrotildees de beleza
Alias descredito na feiura e belezura
na deficiecircncia e eficiecircncia
Fujo do diagnostico de bipolaridade
Faccedilo cara de paisagem pros
prognoacutesticos
Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees
dos historiadores e poliacuteticos e
questiono as escalas das cores
Desconheccedilo
o que pode o corpo
e o que eacute o corpo
38 39
40 41
42 43
44 45
46 47
49
Natildeo
Lugar
50 51
52 53
54 55
56 57
No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e
a frontei desdobras e desvios
Os corpos se datildeo
A partir do acontecimento
ultrapassa transpassa
a fronteira do diziacutevel
provocando
e produz i n f o r m e
em atualizaccedilotildeestrans itivas
um novo si eacute exigido
58 59
60 61
63
64 65
66 67
68 69
70 71
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
SUmAacuteRiO
- APRESENTACcedilAtildeO 17- CORPO 21- NAtildeO LUGAR 48- TRANSGRESSOtildeES 78- RASTROS 107- DORES E DELIacuteCIAS DA VIDA 144
14 15
17
Apresentaccedilatildeo
Daniele Noal Gai
Lutrevisanuma senhora menina transgressora Com todos os gostos pela forccedila de palavrotildees soacute assim pode soar esta primeira frase Soar em
ESPECIALISTA em um sustofita cassete de onde
vemem disquete em quem
conhecebobina em analoacutegicas maacutequinas
onde quer ir
ESPECiALiSTA prometo
em viacutedeo casseteem enceradeira em vamos nos
continuaraparelhagem toca discos
tom alto como quem fala palavrotildees com o coraccedilatildeo Descobrimo-nos em Curso de Extensatildeo promovido pelo Programa Parafernaacutelias que oferecia em 201201 oficinas via moodle Sim
18 19
Wagner Ferraz e eu oferecemos oficina com poesia e mil e tantas artes via ambiente virtual E o mais incriacutevel de nossa louca-proposta-pedagoacutegica nosso melhor feito chegava-nos com exatos atrasos e imensas provocaccedilotildees Luiacutesa
Ela a Lutrevisan entendia e ampliava e pervertia as propostas do curso Soube de coisas de Manoel de Barros e de Arthur Bispo do Rosaacuterio Soube de aprendizagem inventiva na educaccedilatildeo para todos e cada um Soube sobre escolas quaisquer Soube sobre corpos que experimentam a existecircncia em meio a-deficiecircncia-na-deficiecircncia Soube de outras intensidades diagnoacutesticas Soube-nos Ensinou Professora de educaccedilatildeo fiacutesica Conosco formou liga Orientanda que muito animaLuiacutesa
doce e tule e atriz e azeda e tecido e professora e fruta e tomate e forte e colorida e limatildeo e preta e fotografias e pequena e foto-escritas e sorriso e cartografia e fotocartografia e
i nem enfeite ii nem maquiagem iii nem fachada iv nudez da primeira v a vi uacuteltima imagem-faladavii umlumlviii contemporaneamente apresentadaix
e s p e c i a l m e n t e s p e c i a l i s t a
na feitura
na artesania
de quaisquer coisas
de uma infinidade de coisas
em uma diversidade de coisas
catadora de vazios de cacos
de tintas de danccedilas de vatildeos
de pedaccedilos de sensaccedilotildees
especialista em parir gente que faz coisas muitas
especialista em matildees em matildeos em mamatildeos em meme
na grande sauacutede nietzscheana
na vida no vigor na duraccedilatildeonas vibraccedilotildees nas ressonacircncias
nas tonalidades nas frequecircncias nos efeitos
rasgadora de papeacuteis
esculpidora de pedras
misturadora de tintas
20 21
Corpo
23
Ondulatoacuterio=At(^210)(L1+ L2) enter return
O que aumenta minha potecircncia de agirAlgumas vezes me surpreendo num movimento de coisas antes impensaacuteveis
Agora (no dia de hoje) adoro levantar cedo e minha cor preferida estaacute azul
Me encantas com teu estranho guarda-roupa e com tua fala migratoacuteria que violentam meu pensamento Tudo escapa dos protocolos
Com minha cacircmera modificada tento estender o tempo na captura do teu fluxo turbulento Te ldquoscaneiordquo e natildeo canso de te olhar
nOW TOUCHE me baby
25
26 27
28 29
30 31
33
34 35
36 37
Duvido do corpo fragmentado
do corpo condicionado dos paralelos opostos e
dos opostos complementares
Duvido dos padrotildees de beleza
Alias descredito na feiura e belezura
na deficiecircncia e eficiecircncia
Fujo do diagnostico de bipolaridade
Faccedilo cara de paisagem pros
prognoacutesticos
Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees
dos historiadores e poliacuteticos e
questiono as escalas das cores
Desconheccedilo
o que pode o corpo
e o que eacute o corpo
38 39
40 41
42 43
44 45
46 47
49
Natildeo
Lugar
50 51
52 53
54 55
56 57
No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e
a frontei desdobras e desvios
Os corpos se datildeo
A partir do acontecimento
ultrapassa transpassa
a fronteira do diziacutevel
provocando
e produz i n f o r m e
em atualizaccedilotildeestrans itivas
um novo si eacute exigido
58 59
60 61
63
64 65
66 67
68 69
70 71
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
14 15
17
Apresentaccedilatildeo
Daniele Noal Gai
Lutrevisanuma senhora menina transgressora Com todos os gostos pela forccedila de palavrotildees soacute assim pode soar esta primeira frase Soar em
ESPECIALISTA em um sustofita cassete de onde
vemem disquete em quem
conhecebobina em analoacutegicas maacutequinas
onde quer ir
ESPECiALiSTA prometo
em viacutedeo casseteem enceradeira em vamos nos
continuaraparelhagem toca discos
tom alto como quem fala palavrotildees com o coraccedilatildeo Descobrimo-nos em Curso de Extensatildeo promovido pelo Programa Parafernaacutelias que oferecia em 201201 oficinas via moodle Sim
18 19
Wagner Ferraz e eu oferecemos oficina com poesia e mil e tantas artes via ambiente virtual E o mais incriacutevel de nossa louca-proposta-pedagoacutegica nosso melhor feito chegava-nos com exatos atrasos e imensas provocaccedilotildees Luiacutesa
Ela a Lutrevisan entendia e ampliava e pervertia as propostas do curso Soube de coisas de Manoel de Barros e de Arthur Bispo do Rosaacuterio Soube de aprendizagem inventiva na educaccedilatildeo para todos e cada um Soube sobre escolas quaisquer Soube sobre corpos que experimentam a existecircncia em meio a-deficiecircncia-na-deficiecircncia Soube de outras intensidades diagnoacutesticas Soube-nos Ensinou Professora de educaccedilatildeo fiacutesica Conosco formou liga Orientanda que muito animaLuiacutesa
doce e tule e atriz e azeda e tecido e professora e fruta e tomate e forte e colorida e limatildeo e preta e fotografias e pequena e foto-escritas e sorriso e cartografia e fotocartografia e
i nem enfeite ii nem maquiagem iii nem fachada iv nudez da primeira v a vi uacuteltima imagem-faladavii umlumlviii contemporaneamente apresentadaix
e s p e c i a l m e n t e s p e c i a l i s t a
na feitura
na artesania
de quaisquer coisas
de uma infinidade de coisas
em uma diversidade de coisas
catadora de vazios de cacos
de tintas de danccedilas de vatildeos
de pedaccedilos de sensaccedilotildees
especialista em parir gente que faz coisas muitas
especialista em matildees em matildeos em mamatildeos em meme
na grande sauacutede nietzscheana
na vida no vigor na duraccedilatildeonas vibraccedilotildees nas ressonacircncias
nas tonalidades nas frequecircncias nos efeitos
rasgadora de papeacuteis
esculpidora de pedras
misturadora de tintas
20 21
Corpo
23
Ondulatoacuterio=At(^210)(L1+ L2) enter return
O que aumenta minha potecircncia de agirAlgumas vezes me surpreendo num movimento de coisas antes impensaacuteveis
Agora (no dia de hoje) adoro levantar cedo e minha cor preferida estaacute azul
Me encantas com teu estranho guarda-roupa e com tua fala migratoacuteria que violentam meu pensamento Tudo escapa dos protocolos
Com minha cacircmera modificada tento estender o tempo na captura do teu fluxo turbulento Te ldquoscaneiordquo e natildeo canso de te olhar
nOW TOUCHE me baby
25
26 27
28 29
30 31
33
34 35
36 37
Duvido do corpo fragmentado
do corpo condicionado dos paralelos opostos e
dos opostos complementares
Duvido dos padrotildees de beleza
Alias descredito na feiura e belezura
na deficiecircncia e eficiecircncia
Fujo do diagnostico de bipolaridade
Faccedilo cara de paisagem pros
prognoacutesticos
Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees
dos historiadores e poliacuteticos e
questiono as escalas das cores
Desconheccedilo
o que pode o corpo
e o que eacute o corpo
38 39
40 41
42 43
44 45
46 47
49
Natildeo
Lugar
50 51
52 53
54 55
56 57
No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e
a frontei desdobras e desvios
Os corpos se datildeo
A partir do acontecimento
ultrapassa transpassa
a fronteira do diziacutevel
provocando
e produz i n f o r m e
em atualizaccedilotildeestrans itivas
um novo si eacute exigido
58 59
60 61
63
64 65
66 67
68 69
70 71
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
17
Apresentaccedilatildeo
Daniele Noal Gai
Lutrevisanuma senhora menina transgressora Com todos os gostos pela forccedila de palavrotildees soacute assim pode soar esta primeira frase Soar em
ESPECIALISTA em um sustofita cassete de onde
vemem disquete em quem
conhecebobina em analoacutegicas maacutequinas
onde quer ir
ESPECiALiSTA prometo
em viacutedeo casseteem enceradeira em vamos nos
continuaraparelhagem toca discos
tom alto como quem fala palavrotildees com o coraccedilatildeo Descobrimo-nos em Curso de Extensatildeo promovido pelo Programa Parafernaacutelias que oferecia em 201201 oficinas via moodle Sim
18 19
Wagner Ferraz e eu oferecemos oficina com poesia e mil e tantas artes via ambiente virtual E o mais incriacutevel de nossa louca-proposta-pedagoacutegica nosso melhor feito chegava-nos com exatos atrasos e imensas provocaccedilotildees Luiacutesa
Ela a Lutrevisan entendia e ampliava e pervertia as propostas do curso Soube de coisas de Manoel de Barros e de Arthur Bispo do Rosaacuterio Soube de aprendizagem inventiva na educaccedilatildeo para todos e cada um Soube sobre escolas quaisquer Soube sobre corpos que experimentam a existecircncia em meio a-deficiecircncia-na-deficiecircncia Soube de outras intensidades diagnoacutesticas Soube-nos Ensinou Professora de educaccedilatildeo fiacutesica Conosco formou liga Orientanda que muito animaLuiacutesa
doce e tule e atriz e azeda e tecido e professora e fruta e tomate e forte e colorida e limatildeo e preta e fotografias e pequena e foto-escritas e sorriso e cartografia e fotocartografia e
i nem enfeite ii nem maquiagem iii nem fachada iv nudez da primeira v a vi uacuteltima imagem-faladavii umlumlviii contemporaneamente apresentadaix
e s p e c i a l m e n t e s p e c i a l i s t a
na feitura
na artesania
de quaisquer coisas
de uma infinidade de coisas
em uma diversidade de coisas
catadora de vazios de cacos
de tintas de danccedilas de vatildeos
de pedaccedilos de sensaccedilotildees
especialista em parir gente que faz coisas muitas
especialista em matildees em matildeos em mamatildeos em meme
na grande sauacutede nietzscheana
na vida no vigor na duraccedilatildeonas vibraccedilotildees nas ressonacircncias
nas tonalidades nas frequecircncias nos efeitos
rasgadora de papeacuteis
esculpidora de pedras
misturadora de tintas
20 21
Corpo
23
Ondulatoacuterio=At(^210)(L1+ L2) enter return
O que aumenta minha potecircncia de agirAlgumas vezes me surpreendo num movimento de coisas antes impensaacuteveis
Agora (no dia de hoje) adoro levantar cedo e minha cor preferida estaacute azul
Me encantas com teu estranho guarda-roupa e com tua fala migratoacuteria que violentam meu pensamento Tudo escapa dos protocolos
Com minha cacircmera modificada tento estender o tempo na captura do teu fluxo turbulento Te ldquoscaneiordquo e natildeo canso de te olhar
nOW TOUCHE me baby
25
26 27
28 29
30 31
33
34 35
36 37
Duvido do corpo fragmentado
do corpo condicionado dos paralelos opostos e
dos opostos complementares
Duvido dos padrotildees de beleza
Alias descredito na feiura e belezura
na deficiecircncia e eficiecircncia
Fujo do diagnostico de bipolaridade
Faccedilo cara de paisagem pros
prognoacutesticos
Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees
dos historiadores e poliacuteticos e
questiono as escalas das cores
Desconheccedilo
o que pode o corpo
e o que eacute o corpo
38 39
40 41
42 43
44 45
46 47
49
Natildeo
Lugar
50 51
52 53
54 55
56 57
No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e
a frontei desdobras e desvios
Os corpos se datildeo
A partir do acontecimento
ultrapassa transpassa
a fronteira do diziacutevel
provocando
e produz i n f o r m e
em atualizaccedilotildeestrans itivas
um novo si eacute exigido
58 59
60 61
63
64 65
66 67
68 69
70 71
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
18 19
Wagner Ferraz e eu oferecemos oficina com poesia e mil e tantas artes via ambiente virtual E o mais incriacutevel de nossa louca-proposta-pedagoacutegica nosso melhor feito chegava-nos com exatos atrasos e imensas provocaccedilotildees Luiacutesa
Ela a Lutrevisan entendia e ampliava e pervertia as propostas do curso Soube de coisas de Manoel de Barros e de Arthur Bispo do Rosaacuterio Soube de aprendizagem inventiva na educaccedilatildeo para todos e cada um Soube sobre escolas quaisquer Soube sobre corpos que experimentam a existecircncia em meio a-deficiecircncia-na-deficiecircncia Soube de outras intensidades diagnoacutesticas Soube-nos Ensinou Professora de educaccedilatildeo fiacutesica Conosco formou liga Orientanda que muito animaLuiacutesa
doce e tule e atriz e azeda e tecido e professora e fruta e tomate e forte e colorida e limatildeo e preta e fotografias e pequena e foto-escritas e sorriso e cartografia e fotocartografia e
i nem enfeite ii nem maquiagem iii nem fachada iv nudez da primeira v a vi uacuteltima imagem-faladavii umlumlviii contemporaneamente apresentadaix
e s p e c i a l m e n t e s p e c i a l i s t a
na feitura
na artesania
de quaisquer coisas
de uma infinidade de coisas
em uma diversidade de coisas
catadora de vazios de cacos
de tintas de danccedilas de vatildeos
de pedaccedilos de sensaccedilotildees
especialista em parir gente que faz coisas muitas
especialista em matildees em matildeos em mamatildeos em meme
na grande sauacutede nietzscheana
na vida no vigor na duraccedilatildeonas vibraccedilotildees nas ressonacircncias
nas tonalidades nas frequecircncias nos efeitos
rasgadora de papeacuteis
esculpidora de pedras
misturadora de tintas
20 21
Corpo
23
Ondulatoacuterio=At(^210)(L1+ L2) enter return
O que aumenta minha potecircncia de agirAlgumas vezes me surpreendo num movimento de coisas antes impensaacuteveis
Agora (no dia de hoje) adoro levantar cedo e minha cor preferida estaacute azul
Me encantas com teu estranho guarda-roupa e com tua fala migratoacuteria que violentam meu pensamento Tudo escapa dos protocolos
Com minha cacircmera modificada tento estender o tempo na captura do teu fluxo turbulento Te ldquoscaneiordquo e natildeo canso de te olhar
nOW TOUCHE me baby
25
26 27
28 29
30 31
33
34 35
36 37
Duvido do corpo fragmentado
do corpo condicionado dos paralelos opostos e
dos opostos complementares
Duvido dos padrotildees de beleza
Alias descredito na feiura e belezura
na deficiecircncia e eficiecircncia
Fujo do diagnostico de bipolaridade
Faccedilo cara de paisagem pros
prognoacutesticos
Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees
dos historiadores e poliacuteticos e
questiono as escalas das cores
Desconheccedilo
o que pode o corpo
e o que eacute o corpo
38 39
40 41
42 43
44 45
46 47
49
Natildeo
Lugar
50 51
52 53
54 55
56 57
No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e
a frontei desdobras e desvios
Os corpos se datildeo
A partir do acontecimento
ultrapassa transpassa
a fronteira do diziacutevel
provocando
e produz i n f o r m e
em atualizaccedilotildeestrans itivas
um novo si eacute exigido
58 59
60 61
63
64 65
66 67
68 69
70 71
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
20 21
Corpo
23
Ondulatoacuterio=At(^210)(L1+ L2) enter return
O que aumenta minha potecircncia de agirAlgumas vezes me surpreendo num movimento de coisas antes impensaacuteveis
Agora (no dia de hoje) adoro levantar cedo e minha cor preferida estaacute azul
Me encantas com teu estranho guarda-roupa e com tua fala migratoacuteria que violentam meu pensamento Tudo escapa dos protocolos
Com minha cacircmera modificada tento estender o tempo na captura do teu fluxo turbulento Te ldquoscaneiordquo e natildeo canso de te olhar
nOW TOUCHE me baby
25
26 27
28 29
30 31
33
34 35
36 37
Duvido do corpo fragmentado
do corpo condicionado dos paralelos opostos e
dos opostos complementares
Duvido dos padrotildees de beleza
Alias descredito na feiura e belezura
na deficiecircncia e eficiecircncia
Fujo do diagnostico de bipolaridade
Faccedilo cara de paisagem pros
prognoacutesticos
Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees
dos historiadores e poliacuteticos e
questiono as escalas das cores
Desconheccedilo
o que pode o corpo
e o que eacute o corpo
38 39
40 41
42 43
44 45
46 47
49
Natildeo
Lugar
50 51
52 53
54 55
56 57
No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e
a frontei desdobras e desvios
Os corpos se datildeo
A partir do acontecimento
ultrapassa transpassa
a fronteira do diziacutevel
provocando
e produz i n f o r m e
em atualizaccedilotildeestrans itivas
um novo si eacute exigido
58 59
60 61
63
64 65
66 67
68 69
70 71
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
23
Ondulatoacuterio=At(^210)(L1+ L2) enter return
O que aumenta minha potecircncia de agirAlgumas vezes me surpreendo num movimento de coisas antes impensaacuteveis
Agora (no dia de hoje) adoro levantar cedo e minha cor preferida estaacute azul
Me encantas com teu estranho guarda-roupa e com tua fala migratoacuteria que violentam meu pensamento Tudo escapa dos protocolos
Com minha cacircmera modificada tento estender o tempo na captura do teu fluxo turbulento Te ldquoscaneiordquo e natildeo canso de te olhar
nOW TOUCHE me baby
25
26 27
28 29
30 31
33
34 35
36 37
Duvido do corpo fragmentado
do corpo condicionado dos paralelos opostos e
dos opostos complementares
Duvido dos padrotildees de beleza
Alias descredito na feiura e belezura
na deficiecircncia e eficiecircncia
Fujo do diagnostico de bipolaridade
Faccedilo cara de paisagem pros
prognoacutesticos
Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees
dos historiadores e poliacuteticos e
questiono as escalas das cores
Desconheccedilo
o que pode o corpo
e o que eacute o corpo
38 39
40 41
42 43
44 45
46 47
49
Natildeo
Lugar
50 51
52 53
54 55
56 57
No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e
a frontei desdobras e desvios
Os corpos se datildeo
A partir do acontecimento
ultrapassa transpassa
a fronteira do diziacutevel
provocando
e produz i n f o r m e
em atualizaccedilotildeestrans itivas
um novo si eacute exigido
58 59
60 61
63
64 65
66 67
68 69
70 71
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
25
26 27
28 29
30 31
33
34 35
36 37
Duvido do corpo fragmentado
do corpo condicionado dos paralelos opostos e
dos opostos complementares
Duvido dos padrotildees de beleza
Alias descredito na feiura e belezura
na deficiecircncia e eficiecircncia
Fujo do diagnostico de bipolaridade
Faccedilo cara de paisagem pros
prognoacutesticos
Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees
dos historiadores e poliacuteticos e
questiono as escalas das cores
Desconheccedilo
o que pode o corpo
e o que eacute o corpo
38 39
40 41
42 43
44 45
46 47
49
Natildeo
Lugar
50 51
52 53
54 55
56 57
No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e
a frontei desdobras e desvios
Os corpos se datildeo
A partir do acontecimento
ultrapassa transpassa
a fronteira do diziacutevel
provocando
e produz i n f o r m e
em atualizaccedilotildeestrans itivas
um novo si eacute exigido
58 59
60 61
63
64 65
66 67
68 69
70 71
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
26 27
28 29
30 31
33
34 35
36 37
Duvido do corpo fragmentado
do corpo condicionado dos paralelos opostos e
dos opostos complementares
Duvido dos padrotildees de beleza
Alias descredito na feiura e belezura
na deficiecircncia e eficiecircncia
Fujo do diagnostico de bipolaridade
Faccedilo cara de paisagem pros
prognoacutesticos
Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees
dos historiadores e poliacuteticos e
questiono as escalas das cores
Desconheccedilo
o que pode o corpo
e o que eacute o corpo
38 39
40 41
42 43
44 45
46 47
49
Natildeo
Lugar
50 51
52 53
54 55
56 57
No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e
a frontei desdobras e desvios
Os corpos se datildeo
A partir do acontecimento
ultrapassa transpassa
a fronteira do diziacutevel
provocando
e produz i n f o r m e
em atualizaccedilotildeestrans itivas
um novo si eacute exigido
58 59
60 61
63
64 65
66 67
68 69
70 71
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
28 29
30 31
33
34 35
36 37
Duvido do corpo fragmentado
do corpo condicionado dos paralelos opostos e
dos opostos complementares
Duvido dos padrotildees de beleza
Alias descredito na feiura e belezura
na deficiecircncia e eficiecircncia
Fujo do diagnostico de bipolaridade
Faccedilo cara de paisagem pros
prognoacutesticos
Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees
dos historiadores e poliacuteticos e
questiono as escalas das cores
Desconheccedilo
o que pode o corpo
e o que eacute o corpo
38 39
40 41
42 43
44 45
46 47
49
Natildeo
Lugar
50 51
52 53
54 55
56 57
No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e
a frontei desdobras e desvios
Os corpos se datildeo
A partir do acontecimento
ultrapassa transpassa
a fronteira do diziacutevel
provocando
e produz i n f o r m e
em atualizaccedilotildeestrans itivas
um novo si eacute exigido
58 59
60 61
63
64 65
66 67
68 69
70 71
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
30 31
33
34 35
36 37
Duvido do corpo fragmentado
do corpo condicionado dos paralelos opostos e
dos opostos complementares
Duvido dos padrotildees de beleza
Alias descredito na feiura e belezura
na deficiecircncia e eficiecircncia
Fujo do diagnostico de bipolaridade
Faccedilo cara de paisagem pros
prognoacutesticos
Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees
dos historiadores e poliacuteticos e
questiono as escalas das cores
Desconheccedilo
o que pode o corpo
e o que eacute o corpo
38 39
40 41
42 43
44 45
46 47
49
Natildeo
Lugar
50 51
52 53
54 55
56 57
No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e
a frontei desdobras e desvios
Os corpos se datildeo
A partir do acontecimento
ultrapassa transpassa
a fronteira do diziacutevel
provocando
e produz i n f o r m e
em atualizaccedilotildeestrans itivas
um novo si eacute exigido
58 59
60 61
63
64 65
66 67
68 69
70 71
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
33
34 35
36 37
Duvido do corpo fragmentado
do corpo condicionado dos paralelos opostos e
dos opostos complementares
Duvido dos padrotildees de beleza
Alias descredito na feiura e belezura
na deficiecircncia e eficiecircncia
Fujo do diagnostico de bipolaridade
Faccedilo cara de paisagem pros
prognoacutesticos
Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees
dos historiadores e poliacuteticos e
questiono as escalas das cores
Desconheccedilo
o que pode o corpo
e o que eacute o corpo
38 39
40 41
42 43
44 45
46 47
49
Natildeo
Lugar
50 51
52 53
54 55
56 57
No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e
a frontei desdobras e desvios
Os corpos se datildeo
A partir do acontecimento
ultrapassa transpassa
a fronteira do diziacutevel
provocando
e produz i n f o r m e
em atualizaccedilotildeestrans itivas
um novo si eacute exigido
58 59
60 61
63
64 65
66 67
68 69
70 71
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
34 35
36 37
Duvido do corpo fragmentado
do corpo condicionado dos paralelos opostos e
dos opostos complementares
Duvido dos padrotildees de beleza
Alias descredito na feiura e belezura
na deficiecircncia e eficiecircncia
Fujo do diagnostico de bipolaridade
Faccedilo cara de paisagem pros
prognoacutesticos
Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees
dos historiadores e poliacuteticos e
questiono as escalas das cores
Desconheccedilo
o que pode o corpo
e o que eacute o corpo
38 39
40 41
42 43
44 45
46 47
49
Natildeo
Lugar
50 51
52 53
54 55
56 57
No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e
a frontei desdobras e desvios
Os corpos se datildeo
A partir do acontecimento
ultrapassa transpassa
a fronteira do diziacutevel
provocando
e produz i n f o r m e
em atualizaccedilotildeestrans itivas
um novo si eacute exigido
58 59
60 61
63
64 65
66 67
68 69
70 71
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
36 37
Duvido do corpo fragmentado
do corpo condicionado dos paralelos opostos e
dos opostos complementares
Duvido dos padrotildees de beleza
Alias descredito na feiura e belezura
na deficiecircncia e eficiecircncia
Fujo do diagnostico de bipolaridade
Faccedilo cara de paisagem pros
prognoacutesticos
Tenho desconfianccedila das convicccedilotildees
dos historiadores e poliacuteticos e
questiono as escalas das cores
Desconheccedilo
o que pode o corpo
e o que eacute o corpo
38 39
40 41
42 43
44 45
46 47
49
Natildeo
Lugar
50 51
52 53
54 55
56 57
No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e
a frontei desdobras e desvios
Os corpos se datildeo
A partir do acontecimento
ultrapassa transpassa
a fronteira do diziacutevel
provocando
e produz i n f o r m e
em atualizaccedilotildeestrans itivas
um novo si eacute exigido
58 59
60 61
63
64 65
66 67
68 69
70 71
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
38 39
40 41
42 43
44 45
46 47
49
Natildeo
Lugar
50 51
52 53
54 55
56 57
No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e
a frontei desdobras e desvios
Os corpos se datildeo
A partir do acontecimento
ultrapassa transpassa
a fronteira do diziacutevel
provocando
e produz i n f o r m e
em atualizaccedilotildeestrans itivas
um novo si eacute exigido
58 59
60 61
63
64 65
66 67
68 69
70 71
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
40 41
42 43
44 45
46 47
49
Natildeo
Lugar
50 51
52 53
54 55
56 57
No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e
a frontei desdobras e desvios
Os corpos se datildeo
A partir do acontecimento
ultrapassa transpassa
a fronteira do diziacutevel
provocando
e produz i n f o r m e
em atualizaccedilotildeestrans itivas
um novo si eacute exigido
58 59
60 61
63
64 65
66 67
68 69
70 71
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
42 43
44 45
46 47
49
Natildeo
Lugar
50 51
52 53
54 55
56 57
No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e
a frontei desdobras e desvios
Os corpos se datildeo
A partir do acontecimento
ultrapassa transpassa
a fronteira do diziacutevel
provocando
e produz i n f o r m e
em atualizaccedilotildeestrans itivas
um novo si eacute exigido
58 59
60 61
63
64 65
66 67
68 69
70 71
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
44 45
46 47
49
Natildeo
Lugar
50 51
52 53
54 55
56 57
No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e
a frontei desdobras e desvios
Os corpos se datildeo
A partir do acontecimento
ultrapassa transpassa
a fronteira do diziacutevel
provocando
e produz i n f o r m e
em atualizaccedilotildeestrans itivas
um novo si eacute exigido
58 59
60 61
63
64 65
66 67
68 69
70 71
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
46 47
49
Natildeo
Lugar
50 51
52 53
54 55
56 57
No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e
a frontei desdobras e desvios
Os corpos se datildeo
A partir do acontecimento
ultrapassa transpassa
a fronteira do diziacutevel
provocando
e produz i n f o r m e
em atualizaccedilotildeestrans itivas
um novo si eacute exigido
58 59
60 61
63
64 65
66 67
68 69
70 71
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
49
Natildeo
Lugar
50 51
52 53
54 55
56 57
No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e
a frontei desdobras e desvios
Os corpos se datildeo
A partir do acontecimento
ultrapassa transpassa
a fronteira do diziacutevel
provocando
e produz i n f o r m e
em atualizaccedilotildeestrans itivas
um novo si eacute exigido
58 59
60 61
63
64 65
66 67
68 69
70 71
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
50 51
52 53
54 55
56 57
No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e
a frontei desdobras e desvios
Os corpos se datildeo
A partir do acontecimento
ultrapassa transpassa
a fronteira do diziacutevel
provocando
e produz i n f o r m e
em atualizaccedilotildeestrans itivas
um novo si eacute exigido
58 59
60 61
63
64 65
66 67
68 69
70 71
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
52 53
54 55
56 57
No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e
a frontei desdobras e desvios
Os corpos se datildeo
A partir do acontecimento
ultrapassa transpassa
a fronteira do diziacutevel
provocando
e produz i n f o r m e
em atualizaccedilotildeestrans itivas
um novo si eacute exigido
58 59
60 61
63
64 65
66 67
68 69
70 71
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
54 55
56 57
No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e
a frontei desdobras e desvios
Os corpos se datildeo
A partir do acontecimento
ultrapassa transpassa
a fronteira do diziacutevel
provocando
e produz i n f o r m e
em atualizaccedilotildeestrans itivas
um novo si eacute exigido
58 59
60 61
63
64 65
66 67
68 69
70 71
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
56 57
No encontro dos corpos algo transgride o campo do visiacutevel e
a frontei desdobras e desvios
Os corpos se datildeo
A partir do acontecimento
ultrapassa transpassa
a fronteira do diziacutevel
provocando
e produz i n f o r m e
em atualizaccedilotildeestrans itivas
um novo si eacute exigido
58 59
60 61
63
64 65
66 67
68 69
70 71
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
58 59
60 61
63
64 65
66 67
68 69
70 71
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
60 61
63
64 65
66 67
68 69
70 71
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
63
64 65
66 67
68 69
70 71
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
64 65
66 67
68 69
70 71
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
66 67
68 69
70 71
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
68 69
70 71
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
70 71
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
72 73
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
74 75
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
76 77
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
79
TRA
NSG
RESccedil
S OtildeES
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
80 81
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
82
Andei tendo um sonho engraccedilado contigo
a campainha tocou Atendi Tu estavas escorado no marco da porta com esse
teu lindo sorriso infantilA ldquocriaccedilatildeordquo que recebi me faz acreditar em sonhos como sinais Isto sempre me confortou e tambeacutem me alertou assim
como as benzeduras de minha avorsquo
(que sempre funcionaram apesar de nunca entender uma soacute palavra
que ela entoava)
Ha quem diga que o sonho seja soacute uma maneira de criar uma ldquorealida-
derdquo onde se pode realizar os DESEjOS ()
(um sonho estranhoque me fez sorrir)
ldquoSonho de doce de leiteSonho de creme
Sonho de chocolateGoiaba-sonho
Freguesiardquo
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
84 85
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
86 87
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
88 89
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
90 91
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
92 93
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
94 95
ldquotraduzir os
geneacutericos a tal
ponto que natildeo
sirvam mais para dizer o
que dizem
ou seja
torna-los estranhos
desenvolve-los aos caos
para que tomem
velocidade e se
desnaturalizemrdquo
(DALAROSA 2012 p60)
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
96 97
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
98 99
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
100 101
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
102 103
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
104 105
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
106 107
RASTROSVestiacutegios e ressonacircncias
Esta cacircmera natildeo vecirc o que eu vejo O que a lente natildeo vecirc
E o que os olhos distraiacutedos natildeo percebem
Natildeo percebem a mobilidade invisiacutevelO deslocamento raacutepido de um corpo
O vento que move os fios finos de teu cabeloA ressonacircncia do ruminar dos rebanhos
O rastro de luz produzidoespelhado
a (re)fraccedilatildeoa (re)flexatildeo
A crianccedila que parecia estar em outro lugar a um nano segundo atraacutes
Desapercebidos os vestiacutegios dos corpos vibraacuteteisa reverberaccedilatildeo das tuas lutas
das tuas revoltasdos teus desassossegos
dos teus planosDos planos de imanecircncia
de impermanecircncia de transferecircncia
de resistecircncia (re)existecircncia
(re)flexatildeo
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
109
Cia Soacute
do E
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
111
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
112 113
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
114 115
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
117
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
118 119
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
120 121
Arquivos do Devir
Caccedilando achadouros da infacircncia
Roubando risos da crianccedila num CLiCKTraduzidos em seacutepia PampB ou
arco-iacuteris
Vou arquivando no subterracircneo
mantendo a superficialidade
Na pele o que haacute de mais profundo
imaginando quais livros contaratildeo uma
verdade
E se o observador ainda natildeo observou tudo
que haacute pra se observar
Natildeo observou o invisiacuteveliquest
Como poderaacute codificar algo que nunca foi obser-
vado
Que nome ele daraacute
Viajando nas nuvens de algodatildeo
Estaraacute ele em repouso ou
movimento
Estaraacute na horizontal ou
iquest
E onde guardaraacute a sensaccedilatildeo
Onde se guarda uma coleccedilatildeo
Guarda-se em gavetas
Em prateleiras
Em imensos moacutebiles suspensos num ceacuteu anil
Onde podem danccedilar se desconstruindo e
se reinventando
Vertical
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
122 123
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
125
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
126 127
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
128 129
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
130 131
S
US P
E
N S O S
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
132 133
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
134 135
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
136 137
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
138 139
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
140 141
T r a n s d u ccedil atilde o ldquo m a n e i r a p e l a p a r a u m o u t r o o u a o c o n t r a r i o s e e s t a b e l e c e o u s e c o n s t i t u i
q u a l u m m e i o s e r v e d e b a s e s o b r e u m o u t r o s e d i s s i p a n o o u t r o rdquo
DELEUZE GUATARI 1997 p118
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
142 143
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
144 145
Meus ancestrais fizeram feitos histoacutericos como por exemplo natildeo morrer de fome Deixaram de heranccedila o talento de ldquotirar leite de pedrardquo A confusa descendecircncia de imigrantes indiacutegenas e seres humanos que foram escravizados em nosso paiacutes parodoxalmente dispara diversos tipos de preconceito gerando sofrimento das pessoas e ao mesmo tempo uma potecircncia poliacutetica e criativa
Dores e delicias da vida
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
147
jaacute nasci revoltada (por minha conta mesmo) Fui uma crianccedila estranha e sonhadora (Sol em peixes Ascendente em aquaacuterio e Lua em escorpiatildeo) que adorava bonecos bizarros desmontar coisas e colecionar caquinhos e pedrinhas
Devido a minha descendecircncia multieacutetnica (Guarani Espanhol1 e imigrantes Italianos) meus amiguinhos me chamavam de japonesinha Eu respondia ao apelido e sorria meio desapontada mas sem a miacutenima vontade de explicar que na verdade eu era uma iacutendia2 com pouca melanina
Cresci em meio a produccedilatildeo de sustento (que hoje chamo de arte) e estantes de enciclopeacutedias livros de ocultismo pedagogia e revistas de artes (meu pai trabalhava numa editora e ganhava exemplares com defeitos de impressatildeo ou encadernamento aleacutem de ter o habito de garimpar bons livros nos
1- Por parte do avo paterno existiram outras descendecircncias Talvez alematildees e franceses Mas estes satildeo os que tenho conhecimento no momento
2 - Jaacute na idade adulta tive um Batismo indiacutegena onde recebi o nome de YAWA VAMAYAWA - da tribo da queixada isto ersquo daqueles que andam em famiacutelia VAMA -Curandeira que ajuda os curandeiros homens Aquela que faz tudo acontecer
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
148 149
sebos3)
Meus avoacutes possuiacuteam habilidades extraordinaacuterias desenvolvidas ao longo de suas vidas costura crochecirc sapataria sob medida marcenaria e pintura Ate hoje pequenos fiapinhos de linha e o cheiro de tinta ou madeira me remetem a infacircncia
Conheci o Teatro com suas gigantescas cortinas4 de veludo vermelho ainda bem pequena e me apaixonei pelo Museu de Arte5 locais onde meu avocirc paterno trabalhava de porteiro e onde de vez em quando ganhava fotos de artistas com dedicatoacuterias que exibia com carinho
Os brinquedos que eu ganhava de meus pais eram quase sempre kits de montagem jogos pedagoacutegicos ou simplesmente uma caixa com materiais que eu dava um jeito de montar um Frankstein que possivelmente eu chamaria de ldquoPaulinhordquo na falta de um nome mais sonoro
Um desses kits ganhei numa das 3 - Comercio de livros e revistas usadas4 - Cortinas do Teatro Satildeo Pedro 5 - Museu de Artes do Rio Grande do Sul - MARGS
noites quando meu pai retornava da faculdade uma caixa com uma bola de isopor um novelo de latilde feltro e tecido de algodatildeo (segundo ele era o palhacinho que havia me prometido) dormi abraccedilada a caixa e no outro dia cedo da manhatilde ndash com a ajuda de minha matildee uma versatildeo feminina do ldquoMacgiver (Magaiver)6rdquo - montei-o Aos quatro para cinco anos de idade meus pais se mobilizavam para me alfabetizar dentro de um apartamento Cartazes cadernos coloridos espalhados por todas as peccedilas da casa
Com 8 anos tinha a tarefa de ir ao mercado com uma lista de compras e ao banco pagar contas (atitude questionaacutevel em nossos dias porem que me auxiliaram com minha timidez) Para cumprir tarefas difiacuteceis que exigiam socializaccedilatildeo eu recorria a figurinos que me ldquotransformavamrdquo Apos assistir ao filme ldquoHearrdquo minha matildee produzia um ldquoBlack Powerrdquo a custa de frisados cheios de florzinhas minuacutesculas Logicamente meu cabelo ldquofio de aramerdquo natildeo permitia uma durabilidade da produccedilatildeo Meus fios voltavam a ficar lisos expulsando
6 - Personagem de um seriado de tevecirc dos anos 80 que possuiacutea a capacidade de resolver problemas sempre com eficiecircncia como fazer um explosivo com goma de mascar e um clipes de papel
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
150 151
as flores na base do ldquoescorregardquo
Em plena ditadura militar faziacuteamos
eleiccedilotildees diretas na famiacutelia A preocupaccedilatildeo dos meus pais sempre foi com que eu caminhasse com minhas proacuteprias pernas e tivesse opiniatildeo sobre as coisas assim como pudesse usufruir da liberdade de mudar de ideia a qualquer momento
A agitaccedilatildeo curiosidade
e loucura de meus pais e avoacutes estatildeo em mim tambeacutem E uma das coisas que aprendi com eles e com
aquelas caixas
mAGiCAS foi
criar condiccedilotildees e realidades que sonhava e
transgredir as normas
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
152 153
1997 p118
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
154 155
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
157
Referecircncias utilizadas no livros
DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil Platocircs Capitalismo e esquizofrenia Trad De Ana Lucia de Oliveira Sao Paulo Edi-tora 34 v 4 1997
DALAROSA Patricia Cardinale Pedagogia da Traducao entre bio-oficinas de filosofia ndash Patricia Cardinale Dalarosa - Porto Alegre UFRGS 2012 (Escrileituras caderno de notas 4)
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
159
Organizador da Coleccedilatildeo
Autora
WAGNER FERRAZ Danccedilante performer coreoacutegrafo pesquisador e gestor cultural Estudou danccedila contemporacircnea ballet claacutessico e algu-mas teacutecnicas de danccedilas modernas Mestre em Educaccedilatildeo pela UFRGS Poacutes-Graduado em Educaccedilatildeo Especial Poacutes-Graduado em Gestatildeo Cul-tural Graduado em Danccedila Professor em cursos de Poacutes-Graduaccedilatildeo na aacuterea da Educaccedilatildeo e Danccedila em instituiccedilotildees como UFRGS CAPACITAR e UNISINOS Professor na Graduaccedilatildeo Tecnoloacutegica em Danccedila da Uni-versidade de Caxias do SulUCS jaacute dirigiu coreografou e atuou como bailarino em vaacuterios espetaacuteculos performances festivais e mostras de danccedila sendo premiado vaacuterias vezes Foi bailarino da Cia Terpsiacute Teatro de Danccedila Ministrou aulas e oficinas de danccedila no ensino comum e no ensino especial para pessoas com e sem deficiecircncia Coordenador dos Estudos do CorpoUFRGS Editor da ldquoCANTO ndash Cultura e Arterdquo que tem publicado livros sobre danccedila Autor e Organizador de 08 livros entre eles ldquoO PROCESSO DE CRIACcedilAtildeO DA TERPSIacute TEATRO DE DANCcedilArdquo ldquoCORPO DANCcedilA E MASCULINIDADErdquo ldquoO TRABALHO DO FIGURINISTArdquo ldquoESTUDOS DO CORPOrdquo e ldquoEXPERIMENTACcedilOtildeES PERFORMAacuteTICASrdquo ldquoPA-RAFERNAacuteLIAS I DIFERENCcedilA ARTES EDUCACcedilAtildeOrdquo ldquoPARAFERNAacuteLIAS II CURRIacuteCULO CADEcirc A POESIArdquo Aleacutem de organizar a ldquoCOLECcedilAtildeO ESTU-DOS DO CORPOrdquo que publica livros sobre DANCcedilA Atuou como Coor-denador do Danccedila do Estado do RS no IEACEN - SEDAC Coordena-dor e Editor da Revista INFORME C3 (Qualis C) Tem sido avaliador em diversos festivais de danccedila e em editais de patrociacutenio para projetos de danccedila como o ldquoPROGRAMA O BOTICAacuteRIO NA DANCcedilArdquo Endereccedilo para acessar este CV httplattescnpqbr7662816443281769
LUIacuteSA BEATRiZ TREViSAN TEiXEiRA (Lu Trevisan) Graduada em Edu-caccedilatildeo Fiacutesica (UFRGS) e acadecircmica da Graduaccedilatildeo em Artes Visuais (IERGS) Mestranda do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Ciecircncia do Movimento HumanoUFRGS Artista independente performer e foto-grafa Coordena o projeto Devir que tem realizado experimentaccedilotildees cecircnicas e visuais com trabalhos na Usina do Gasocircmetro e Casa de Cultura Mario Quintana Pesquisadora dos Estudos do Corpo (INDEPIn) onde desenvolve uma pesquisa de experimentaccedilotildees visuais dentro da temaacutetica Artes Corpo Educaccedilatildeo e Filosofia da Diferenccedila Capiacute-tulos de livros publicados nas temaacuteticas Artes Educaccedilatildeo Corpo e Fotografia Produccedilotildees Cecircnicas em Performance Participa do Grupo de pesquisa GRACE- Grupo de Estudos em Arte Corpo e Educaccedilatildeo Integra o GRECCO - Grupo de Estudos sobre Esporte Cultura e Histoacuteria e Centro de Memoacuteria do Esporte (CEME)
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial
Formato A5 (148 x 21 cm) Acabamento Brochura com orelhas Miolo em preto e branco Papel Couche 150g Capa Colorida Nordm de paacuteginas 162
Transgressotildees e Traduccedilotildees para um livro corpoAutora Lu TrevisanEditora INDEPIn
Apoio Editorial CANTO - Cultura e ArteEdiccedilatildeo 1(2014)
ISBN 978-85-66402-07-0
Coleccedilatildeo Estudos do CorpoOrganizaccedilatildeo Wagner Ferraz
Editora
Projeto Editorial