Transcrição das Lâminas da apresentação na UFRGS - Dr. Alfredo Meneghetti Neto
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Transcript of Transcrição das Lâminas da apresentação na UFRGS - Dr. Alfredo Meneghetti Neto
16 e 17 de outubro de 2008
Local: Salão Nobre da Faculdade de Direito da UFRGS Av. João Pessoa, nº 80 – Porto Alegre/RS
PROGRAMA
16 DE OUTUBRO DE 2008
8h00min – Credenciamento
9h00min – Solenidade de Abertura Alfredo Pereira Macedo (Presidente do IET; Diretor da Faculdade
de Direito da UFRGS)
Humberto Ávila (Representante da Direção da Faculdade de Direito)
9h30min – A Reforma Tributária Germano Rigotto (Ex-governador do Estado do RS)
10h15min - A visão do economista na discussão da reforma tributária Alfredo Meneghetti Neto (Graduado em Ciências Econômicas e
Contábeis pela PUCRS; Mestre em Economia pela UFRGS; economista da Fundação de Economia e Estatística; experiência na área de Economia, com ênfase em Finanças Públicas Internas, finanças pessoais, sistema tributário e integração).
11h00min - MÓDULO 1: Igualdade Tributária Humberto Ávila (Professor de Direito Tributário da UFRGS;
coordenador substituto do Programa de Pós-graduação e Departamento de Direito Econômico do Trabalho; Livre-docente em Direito Tributário pela USP; Doutor em Direito Tributário - Universidade de Munique/Alemanha; pesquisador visitante da Faculdade de Direito das Universidades de Harvard, nos EUA, e Heildelberg e Bonn, na Alemanha).
12h00min – Intervalo
14h00min - MÓDULO 2: Créditos com Exigibilidade Suspensa Edmar Vianei Marques Daudt (Procurador do Estado do Rio Grande
do Sul; Mestre em Direito do Estado pela Universidade Federal do Paraná; Professor na Pós-Graduação e na Graduação da Faculdade de Direito da Universidade de Passo Fundo).
15h30min – Coffee-break
15h45min - MÓDULO 3: Os efeitos tributários da nova Lei das S/A. Natanael Martins (Advogado em São Paulo e Professor nos Cursos
de Especialização em Direito Tributário do Centro de Extensão Universitária, IBMEC - São Paulo e GVLaw)
16h45min - MÓDULO 4: PIS/COFINS não cumulativo e o sistema monofásico.
Luís Eduardo Schoueri (Professor titular de Direito Tributário da USP; Professor cursos de graduação e pós-graduação da Universidade Presbiteriana Mackenzie; Mestre em Direito por Munique/Alemanha; Doutor e livre-docente pela Faculdade de Direito da USP)
José Carlos Costa Loch (Procurador da Fazenda Nacional, atuando em processos que envolvam grandes devedores e acompanhamento especial).
17 DE OUTUBRO DE 2008
09h00min - MÓDULO 5: O Impacto das Reformas do CPC no Direito Tributário Guilherme Rizzo Amaral (Professor da UFRGS)
Taís Schiling Ferraz (Diretora da Escola Superior da Magistratura Federal, da Associação dos Juízes Federais do Rio Grande do Sul e Juíza Auxiliar da Presidência do STF).
10h45min – Coffee-break
11h00min – MÓDULO 6: ICMS: glosa unilateral de créditos tributários em operações interestaduais decorrentes de benefícios concedidos sem convênio.
José Eduardo Soares de Melo (Mestre, Doutor e livre-docente em Direito. Professor Associado de Direito Tributário da Faculdade de Direito da Universidade Católica de São Paulo).
12h00min – Intervalo
14h00min – MÓDULO 7: Guerra Fiscal entre os Municípios: Aspecto Espacial da incidência do ISSQN.
Eduardo José Domingos Bottallo (Mestre, Doutor e Livre-docente em Direito Tributário; Professor Associado da Faculdade de Direito da USP; Professor titular e Vice-diretor da Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo (SP); Vice-presidente do Instituto Geraldo Ataliba – IDEPE.)
3
Adão Sérgio do Nascimento Cassiano (Desembargador aposentado do TJRS, Professor de Direito Tributário da UFRGS e da Escola Superior da Magistratura da AJURIS, Advogado, ex-fiscal de Tributos Estaduais e ex-juiz do TARF, Doutorando em Direito do Estado pela UFRGS)
15h45min – Cofee-break
16h15min – MÓDULO 8: Mudança da Jurisprudência e Segurança Jurídica.
Humberto Gomes de Barros (Ministro)
Encerramento Alfredo Pereira Macedo (Presidente do IET; Diretor da Faculdade
de Direito da UFRGS)
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PALESTRA: A VISÃO DO ECONOMISTA NA DISCUSSÃO DA REFORMA TRIBUTÁRIA
PALESTRANTE: ALFREDO MENEGHETTI NETOGraduado em Ciências Econômicas e Contábeis pela PUCRS; Mestre em Economia pela UFRGS; economista da Fundação de Economia e Estatística; experiência na área de Economia, com ênfase em Finanças Públicas Internas, finanças pessoais, sistema tributário e integração
Bom dia a todos! É uma honra, uma grande satisfação atender ao
convite do Instituto de Estudos Tributários. Gostaria de fazer uma saudação
especial aos diretores, ao presidente do Instituto de Estudos Tributário, a
Faculdade de Direito, a presença de professores, alunos, mestrandos e
doutorandos, e dizer da minha gratidão e honra de estar aqui, procurando
encaminhar a questão relacionada à visão do economista na discussão da
reforma tributária.
Quando o Dr. Marcelo me convidou, ao mesmo tempo aceitei, dizendo
que seria interessante em um seminário jurídico a fala de um economista. Esse
convite, na realidade, aceitei, diretamente, no mesmo momento, e pensei que
poderia trazer dados e gráficos para explicar e referenciar as palestras que me
antecederam, como a do ex-governador Germano Rigotto, que tanto
brilhantismo trouxe ilustrando os bastidores da reforma tributária. Acho que o
meu material, que está muito coerente com a fala do ex-governador.
Antes, disso, eu queria dizer para vocês que o conteúdo da minha fala,
tem muito de finanças públicas, que venho trabalhando desde 1978 na
Fundação de Economia e Estatística. Inclusive, existe uma barreira tênue entre
a economia tributária e o Direito Tributário que eu não consigo, muitas vezes,
diferenciar, mas, efetivamente, existe uma interação enorme.
Isso eu já tinha descoberto há mais tempo. Agora, recentemente, nos
últimos 10 anos, também descobri que há uma barreira muito tênue entre as
finanças públicas e finanças pessoais. Ou seja, aquelas questões que dizem
respeito ao governo, também se referem à família na dimensão do gasto, do
salário, do rendimento, do ajuste que a gente tem que fazer no orçamento, a
relação com a taxa de juros. Importante que se diga que nós cidadãos
5
brasileiros temos, talvez as mais altas taxas de juros do mundo. Só perdemos
para a Turquia. Na realidade a taxa Selic, como ela está hoje, no nível de
13,75% ao ano no Brasil - é uma referência, porque o mercado pratica cinco,
seis, sete vezes mais.
Então, a minha fala está muito relacionada com finanças pessoais e
acho que o brasileiro ainda não se despertou para esse problema. Na
realidade, é como diz aquela estrofe do hino Nacional “Deitado eternamente
em berço esplêndido ao som do mar e à luz do céu profundo” e de tanto o
brasileiro ouvir, ele acabou incorporando este processo. Dessa forma a sua
índole é maravilhosa. Parece-me que há uma necessidade de uma
agressividade maior por parte do cidadão, no que diz respeito à taxa de juros e
principalmente a alta carga tributária.
Então, gostaria de encaminhar para vocês o primeiro material
relacionado a um indicador, extremamente importante, da presença do Estado
na economia na sociedade. Este indicador é a carga tributária. O conceito dela
é a receita tributária dividida pelo PIB, ou seja, pelo que a sociedade produz.
Ela já é muito conhecida de vocês. A carga tributária sempre me deu uma
motivação para estudar, mas é um índice muito grosseiro. Na realidade eu
gostaria de refletir em cima desse índice grosseiro, e a partir disso sofisticar um
pouquinho mais.
Então, eu iniciaria com a primeira lâmina da evolução da carga tributária
nesses últimos quarenta anos.
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Lâmina 1
Ela tem como base de dados a OCDE (Organização para a Cooperação
e o Desenvolvimento Econômicos) que é um organismo para a cooperação dos
países da Europa, tendo sido criado em 1961, na França. Ele é o braço
econômico da OTAN, e tem aconselhado os governos no que diz respeito à
política fiscal.
Como eles têm uma base de dados muito boa, eu simplesmente
coloquei no gráfico, de 1965 até 2006, para verificar como a carga tributária
vem se comportando. Então, a pergunta é justamente, para onde a carga
tributária dos países está indo?
No que diz respeito à carga tributária brasileira, pode-se notar que ela
está se aproximando do nível dos contribuintes europeus. Nós nem mais
estamos próximos aos países sul-americanos. Com uma carga de quase 37%
do PIB nós já nos aproximamos do nível dos Estados Unidos. Então, em
termos de América Latina, para a tristeza de nossos contribuintes, nós
conseguimos dar um “upgrade”, saltando para outro patamar de carga
tributária!
Nestes últimos quarenta anos a carga tributária dos países,
representada por aquele feixe de linhas no gráfico, aumentou em todos os
países. Se antes nós tínhamos uma média de 25,7% lá no início da série, no
final do período houve um aumento de 12 pontos percentuais. Então, se antes
a média era 25,7% agora nós temos 37,7% do PIB. E no Brasil que estava
abaixo desta média (18,9%), chegou ao final do período a 35,5% do PIB. Na
realidade ele estava mais distante e agora nós estamos nos aproximando da
média dos países europeus, em termos de crescimento da carga tributária.
Isso, de certa forma já preocupa, e é uma coisa a ser pensada: 25,7%
para 37,7% do PIB houve um brutal crescimento! Nós estamos nos
aproximando atualmente da média histórica dos países mais desenvolvidos.
7
Então para onde nós estamos indo, em termos de carga tributária?
Certamente para uma pressão da carga cada vez maior, ainda mais com a
crise financeira mundial em andamento, e com a intervenção do Estado no
sistema financeiro, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos. Daqui para
frente, nós devemos ter uma política fiscal mais forte, ou seja, um aumento da
carga tributária. Apesar de alguns autores como, por exemplo, Victor Tanzi que
escreveu um artigo antes dessa crise financeira, argumentou que o mundo
estava no limite da carga tributária. Como ele não ainda não trabalhou com
dados mais recentes possivelmente ele está errado, pois esse limite ainda não
chegou. Para sair dessa crise econômica a intervenção dos governos europeus
e americano deve aumentar e assim poderemos ter um cenário de tendência
altista da carga tributária.
Então, a primeira mensagem que eu gostaria de passar para vocês é
que o cenário atual mundial é uma tendência altista da carga em função da
intervenção, cada vez maior, em termos de política fiscal dos governos dos
países, inclusive o brasileiro. Lembrando que existem dois textos que falam o
contrário: o do Victor Tanzi e do Paulo Rabelo de Castro, que sugerem que nós
já estaríamos no limite, algo em torno de 30% do PIB em termos de média. Na
realidade, imagino que 30% do PIB seria a carga tributária ideal para o Brasil.
A Lâmina 2 mostra uma fotografia da carga tributária de vários países
em dois períodos: 1965 e 2006.
Lâmina 2
De 1965 a 2006, pode-se notar no gráfico da direita, um aumento da
carga mundial, que já foi relatada agora. A posição da setinha vermelha mostra
a carga brasileira, que vem ganhando posições em relação a países
desenvolvidos. Então o que preocupa, é que nós estamos ganhando posições,
em relação aos países desenvolvidos.
A Lâmina 3 apresenta uma comparação da carga tributária brasileira, em
relação aos países em desenvolvimento e industrializados Os dados mostram
uma triste realidade.
8
Lâmina 3
Em 2006, nós tínhamos uma carga de 35,50% do PIB, os países em
desenvolvimento de 27,44% (que considera a China,Índia, Rússia), e os países
industrializados com uma carga tributária de 38,80% do PIB; A realidade é
triste, porque nós estamos mais identificados com os países industrializados,
do que os em desenvolvimento. Somos sem dúvida, um leviatã anêmico, ou
seja, um monstro (representado pelo Estado brasileiro), mas, anêmico, pela
insuficiência de serviços públicos. Isso foi muito bem relatado na outra palestra,
pelo ex-governador Germano Rigotto.
A Lâmina 4 mostra a evolução da pressão fiscal de todos os países de
1965 até 2006.
Lâmina 4
Na realidade esse indicador não é tão grosseiro como o da carga
tributária. Ele se baseia de um artigo de 1959 que foi escrito por um
economista no National Tax Journal, que argumentou da necessidade melhorar
o indicador carga tributária. Então há cinqüenta anos foi apresentado esse
conceito de pressão fiscal. Esse é um índice melhor do que a carga tributária.
Ele é a carga tributária dividida pela renda per capita. Em outras
palavras, no caso do Brasil, se considera: 35% do PIB, que é a nossa carga
tributária do Brasil e se divide pela renda per capita dos brasileiros, que dá
mais ou menos US$ 5 mil ao ano. Essa é a renda per capita brasileira. Então
trinta e cinco, dividido por cinco mil, e ainda multiplicando-se por mil, (para
evitar decimais) daria, efetivamente, o índice de pressão fiscal de sete. Então,
o que esse artigo do National Tax Journal fez, foi melhorar o entendimento,
dando um conceito novo. Assim sendo, o Brasil tem, efetivamente, uma
péssima posição em termos de pressão fiscal, em termos de comparações
9
internacionais, pois quanto maior o índice pior é. No caso dos Estados Unidos,
a renda per capita é cinco vezes maior do que a nossa. E aí, nesse caso, a
pressão fiscal é bem menor. No caso brasileiro ela é de cinco e nos Estados
Unidos ela não passa de um. Além disso, se for considerado os países
desenvolvidos, o mesmo fenômeno ocorre: a pressão fiscal é menor, porque a
renda per capita é maior. Olhando-se o gráfico da Lâmina 4 é possível notar
que de todos os países, é o Brasil e a Turquia os que apresentam a maior
evolução da pressão fiscal nesses últimos quarenta anos. Os países europeus
ficaram em um nível mais baixo de pressão fiscal, com exceção de Portugal.
A Lâmina 5 mostra a comparação da pressão fiscal de todos os países
no ano de 2006.
Lâmina 5
O gráfico, só para sensibilizar todos nós, provoca tristeza e desgosto ao
Leão, da Receita Federal, que ficou envergonhado ao saber que nós temos um
índice de pressão fiscal mais alto do mundo, ficando próximo ao da Turquia.
Na realidade é importante considerar que o índice de pressão fiscal
diminuiu muito no Brasil, porque a renda per capita aumentou. Nessa época
que nós vivemos, é sabido que houve aumento da renda per capita em função
do crescimento da economia brasileira. Conseqüentemente, o índice de
pressão fiscal diminuiu, mas, mesmo assim, é muito alto em relação a outros
países.
Esse gráfico mostra Brasil, Turquia e Portugal, como sendo os que
possuem a pressão fiscal mais alta, desses vinte e cinco países da OCDE. Na
realidade, os demais países, não estão sendo penalizando demais, em função
da enormidade da renda per capita que eles possuem e também da excelente
qualidade de seus serviços públicos.
A Lâmina 6 mostra a diferença de perfil tributário dos países.
Lâmina 6
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Considerando o sistema tributário mundial, sabe-se que ele está
assentado sobre várias bases de incidência. Foram consideradas quatro bases
de incidência: renda, lucros e ganhos de capital, bens e serviços, salários e
contribuições sociais e propriedades. A cor amarela representa o Brasil, a
verde os países em desenvolvimento e a azul os países industrializados. A
pergunta é, qual é a incidência do sistema tributário nesses países? Em outras
palavras, qual é a extração de recursos da sociedade que o governo faz
nesses países?
Se for considerada a base de incidência renda, lucros e ganhos de
capital, os países industrializados são os que mais a utilizam. O Brasil está um
pouco acima dos países em desenvolvimento. Então, essa base já evidencia a
que não é preferência nacional do governo brasileiro tributar rendas, lucros e
ganhos de capital. Vou dar uma ilustração sobre esse assunto. Quem aplica
no mercado acionário brasileiro, se retirar R$ 20 mil a cada mês, não existe
tributação. Somente se o investidor resgatar ações que totalizam um valor
superior à R$ 20 mil. Nesse caso ele pagará 15% de tributos. Por outro lado,
quem trabalha e ganha até R$ 1,3 mil de salário, está isento de Imposto de
Renda, de R$ 1,3 mil até R$ 2,3 mil paga 15% de imposto e, acima de R$ 2,3
mil paga 27,5%. Conclusão o trabalhador que ganha mais do que R$ 2,3 mil
paga Imposto de Renda e quem vive de ações está praticamente isento. Então,
isso mostra que o fato do Brasil não utilizar essa base de incidência, pode estar
causando injustiça fiscal.
A outra base é a de bens e serviços. Nessa base o Brasil vem utilizando
muito bem. Nós temos uma ampla cesta de impostos que incidem sobre bens e
serviços: ICMS, IPI, COFINS, PIS e PASEP. Tudo esses tributos estão nas
prateleiras dos supermercados, que representam de 30% a 35% do preço de
cada produto. Isso é a carga tributária que está embutida nos preços dos
produtos. O Brasil se destaca em relação aos países industrializados e países
em desenvolvimento ao tributar mais essa base.
Salários e contribuições sociais - é a outra base: o Brasil está acima dos
países em desenvolvimento, mas perde para os países industrializados. Já a
base de incidência sobre a propriedade, o Brasil está se destacando dos outros
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países, entretanto a arrecadação do IPTU, ITR e IPVA ainda é insignificante no
Brasil. Nós estamos engatinhando nesta área, e provavelmente existe mais
espaço para aumentar a arrecadação. Na realidade, o Brasil, ao deixar de
arrecadar mais sobre a propriedade, pode estar gerando justiça fiscal. Vocês
sabem melhor do que eu, que efetivamente, os manuais de tributação,
sugerem tributar aplicando a Lei de Robin Hood, tirando dos ricos e dando para
os pobres. Os manuais encaminham essa questão buscando a justiça.
A conclusão é que nós estamos tributando muito o consumo de bens e
serviços e não explorando outras bases como renda, lucro e ganhos de capital
e também as propriedades.
A Lâmina 7 detalha as alíquotas do Imposto de Renda da Pessoa Física
em vários países. Então, como é que o IRPF brasileiro, comparativamente ao
de outros países? Como o BRASIL se posiciona?
Lâmina 7
Pode-se notar que no Brasil existem duas faixas de classe de renda: a
de 15% e a de 27,5%. Dessa forma, a nossa alíquota mínima é 15% e a
máxima 27%. Nos países industrializados nós temos faixas de 53% e até 60%.
Então efetivamente nesses países existe uma tendência a tributar mais a
renda. Entretanto a classe média brasileira está pagando muitos tributos, pois é
tributada quando trabalha e principalmente quando consome. Provavelmente,
um grande encaminhamento que poderia ser feito seria melhorar as deduções
tributárias do Imposto de Renda. Acho que as deduções podem ser
aumentadas no Brasil, principalmente as relacionadas com estudo e saúde.
A Lâmina 8 mostra a evolução das alíquotas de IRPF no Brasil desde
1979. Pode-se notar que nós chegamos a ter inclusive 12 faixas sobre as
classes de renda e que com o tempo foram diminuindo.
Lâmina 8
Tivemos também alíquotas máximas de 60% de 1983 a 1985. Inclusive
tenho ouvido as seguintes indagações de alunos: “Professor, o que aconteceu,
nesse período de 20 anos no Brasil, nós tínhamos 12 faixas de renda e hoje
12
nós só temos duas?” Eu explico que a vontade do Congresso Nacional nesses
anos foi a de atender a pressão daqueles que tinham salários mais altos
(inclusive dos próprios congressistas), aliviando as alíquotas do IRPF e
trazendo para uma realidade mais adequada. Assim passamos de alíquotas de
60% de IRPF em 1983 para alíquotas de 27,5% em 2008. Então, efetivamente,
houve uma flexibilização, uma redução das alíquotas do Imposto de Renda da
Pessoa Física no Brasil.
A Lâmina 9 mostra a evolução da carga tributária brasileira. Ela vem
crescendo extraordinariamente: de 13% do PIB em 1947, para 36,5% do PIB
em 2007.
Lâmina 9
A Lâmina 10 detalha quais os tributos que mais contribuíram para o
crescimento dessa carga tributária. Em outras palavras, onde a carga mais
aumentou? Nesse gráfico de pizza, de 1998 a 2006, pode-se ter a nítida
impressão dos tributos que mais cresceram nesse período.
Lâmina 10
A noção que se tem é que efetivamente, 28,78% do aumento da carga
tributária brasileira veio da Contribuição Social – COFINS. Em segundo lugar, o
tributo que mais contribuiu com o crescimento da carga tributária foi a
Contribuição Previdenciária, com 17,98%. Então, houve um aumento maior
destes dois impostos dentro dessa fase de crescimento da carga tributária. Em
terceiro lugar, foi o ICMS. Esses três seriam os grandes causadores do
crescimento da carga tributária brasileira no período de 1998 a 2006.
A Lâmina 11 é interessante, porque considera a variação da carga
tributária de 1996 e 2003. Avalia quanto cresceu para cada uma das faixas de
renda. No eixo horizontal do gráfico têm-se as faixas de renda até dois salários
mínimos, de dois a cinco salários mínimos, de 5 a 10, de 10 a 15 e assim por
diante.
13
Lâmina 11
Então, se mediu a variação da carga tributária brasileira sobre a renda
familiar de dois até 30 salários mínimos, para ver o quanto aumentou em cada
uma delas.
A linha de cima das colunas mostra o quanto a carga aumentou nesses
dois períodos (1996 a 2003). Considerando as duas primeiras colunas, pode-se
notar que antes a carga era de 28,2% daquelas pessoas que ganhavam até
dois salários mínimos, e, em 2003, acabaram passando para uma carga de
48,9%. O crescimento da carga para elas foi de 73,4%, que se pode ver na
linha acima das duas colunas. Então, qual o principal recado deste gráfico?
Quem mais sofreu o aumento da carga tributária no Brasil, foram aqueles que
ganhavam até dois salários mínimos. Em seguida aparecem também os de
renda entre 2 a 5 salários mínimos, que tiveram um aumento de 71,9%. Essa
duas faixas são efetivamente, as que foram penalizadas pelo aumento da
carga tributária. Esse gráfico não deixa enganar, houve nesse período uma
injustiça tributária. Houve um aumento da carga tributária, justamente sobre
aqueles que menos condições financeiras apresentavam.
A próxima Lâmina 12 é ainda mais evidente.
Lâmina 12
Isso daria para a gente comentar durante um semestre inteiro. Ela nos
dá condições, quem sabe, de formular a principal crítica ao nosso sistema
tributário.
O eixo horizontal está representado pelas faixas de renda em decis, do
mais baixo salário (1º decil) até os salários mais altos (10º decil). Foram
representadas três linhas, a da tributação direta, a indireta e a tributação total.
Considerando somente a tributação direta - que é a linha rosa – pode-se
verificar que ela aumenta à medida que crescem as faixas de renda. Isso
sugere que existe justiça fiscal, pois quando aumenta a renda, o cidadão vai
pagar mais imposto. Em outras palavras existe progressividade no Brasil
considerando-se a tributação direta, quanto mais pobre for o cidadão, menos
14
imposto ele pagará. Quanto mais rico, mais tributação direta ele pagará. Isto
está coerente com o Imposto de Renda da Pessoa Física, completamente, pois
ele é uma tributação direta e progressiva. Justamente, o gráfico está mostrando
isso. E a tributação indireta? Nesse caso nós temos um efeito contrário sobre a
renda no Brasil. Constata-se que é muito alta a tributação indireta para quem
ganha menos, ou seja, eles pagam 29,1% da sua renda, e aqueles que
ganham mais (10º decil) pagam somente 10,7% de sua renda. Essa tributação
abrange os impostos que incidem sobre o consumo, e estão embutidos no
preço, por exemplo, dos produtos de supermercado. Então, o raciocínio que a
gente faz é o seguinte: a doméstica que ganha um salário mínimo, vai ao
supermercado e compra um quilo de feijão, arroz e açúcar, os tributos que
incidem no salário dela são muito mais pesados, do que os tributos que
incidem sobre a classe média. Na realidade a classe média tem muitos outros
gastos do orçamento voltados para itens que não são muito tributados, como
por exemplo, o mercado acionário e viagens internacionais. Então,
considerando-se a tributação indireta, existe uma diminuição da carga à
medida que aumenta a renda. Isso significa regressividade. Considerando-se a
tributação direta somada com a indireta, ou seja, os quase 61 tributos que
existe, é fácil perceber a regressividade do nosso sistema, que está mostrada
na última linha. Então efetivamente no Brasil, o pobre paga proporcionalmente
mais tributos do que o rico. Essa é a grande evidência do nosso sistema
tributário: a regressividade. Isso é fundamental para que a gente possa se
criticar o nosso sistema tributário: que é injusto, regressivo e mal distribuído.
Atualmente se percebe que a classe média foi aquele que mais teve aumento
de sua carga tributária, de forma totalmente injusta, porque nós não temos a
devolução dos recursos que são tirados de nós. A classe média brasileira arca
de forma privada as despesas de educação, saúde e segurança pública. Esta é
a grande verdade. Cada um de nós tem um plano de saúde, uma segurança
privada (como câmaras e guardas de segurança em condomínios) e escola
privada. A UFRGS, na realidade, é um exemplo em termos de educação
pública. Ela faz uma intervenção fabulosa no mercado, entretanto não dá conta
do enorme contingente de estudantes do ensino superior. Então existem outras
universidades que vendem esse serviço para suprir a demanda.
15
A Lâmina 13 mostra como é que fica a distribuição de receita pública
entre as três esferas governamentais: União, estados e municípios, que bem o
ex-governador comentou. Sem dúvida existem muitos problemas e
divergências.
Lâmina 13
Na primeira parte da tabela são apresentados os dados da arrecadação
direta, ou seja, o recolhimento de tributos próprios de cada esfera. E na
segunda parte tem-se o que ocorre com cada uma das esferas depois das
transferências. Efetivamente, se forem considerados todos os tributos, pode-se
notar que a União é a esfera que concentra grande parte da receita, mesmo
depois das transferências. A União tem, em média, 68% de tudo que é
arrecadado no Brasil; os estados ficam com 26%; e os municípios em torno de
6%. Depois, as transferências, nós temos um aumento muito grande nos
municípios, em detrimento da União. Os estados permanecem com a mesma
carga, tanto antes como depois das transferências. De uma forma geral, é
possível argumentar que, dos três entes federativos, é a União que mais detêm
poder.
A Lâmina 14 mostra a evolução dessas três áreas nesses últimos
quarenta anos. No gráfico de cima estão representadas as esferas
governamentais (na cor azul escuro a União, cor azul, os Estados e azul claro,
os municípios). No gráfico debaixo, observa-se o que aconteceu com as três
esferas depois das transferências.
Lâmina 14
Dá para ver, dois períodos, antes e depois de 1983 (marcado pro uma
linha). Inicialmente se tem um período de centralização de receitas, ou seja, é
quando a União vem ganhando força, poder, receita, e, a partir de 1983, um
período de descentralização, quando os 5,5 mil municípios vêm aumentando a
sua receita disponível.
Um tema que surge nesse contexto é a guerra fiscal dos municípios,
que, aliás, será debatida amanhã, com vários especialistas. Isso é um assunto
16
que praticamente ninguém conversa sobre isso. Eu sou muito estadualista,
penso que o essa esfera deveria ter mais força. Na realidade é o nível
estadual, o grande arquiteto dessa conjunção de poderes e responsabilidades
governamentais. Certamente esse nível está muito preocupado na melhoria
dos serviços públicos, de forma mais eficiente, discutindo a qualidade do gasto.
Existem muitos órgãos trabalhando com isso, como por exemplo, o Tribunal de
Contas do Estado, que faz as auditorias operacionais para saber se o gasto
que é feito, se efetivamente, chega ao contribuinte. Quando o ex-governador
Rigotto falou a respeito da renúncia fiscal e da guerra fiscal, eu não tenho
dúvidas, que é importante sempre ter uma visão proativa ao mercado. Na
realidade o capital é como água, sempre vai procurando onde não existem
obstáculos, e cabe ao governo resolver isso, desobstruindo onde existem
dificuldades. Então a concessão de incentivos é importante, e o empresário
não vai investir, se isso não existir. Mas é importante que a renúncia fiscal seja
medida, para saber quais os benefícios para a sociedade (aumento de
empregos e de renda). Isso falta fazer! Falta transparência, falta uma
inteligência para monitorar a renúncia fiscal, coisa que não existe no Brasil.
Entendo que as empresas brasileiras estão bem posicionadas nessa crise
mundial, mas nós devemos continuar incentivando o mercado. Nós, brasileiros,
não podemos depender muito de bancos, do mercado financeiro. Nós temos
que olhar o mercado acionário e entender que são empresas rentáveis,
lucrativas, e colocar o nosso dinheiro lá. Certamente, não tenho dúvidas, que o
mercado acionário, hoje, está abrindo excelentes oportunidades para
investimentos. A Petrobras é um exemplo internacional, ela é a qüinquagésima
primeira empresa do mundo, em termos de patrimônio, de rentabilidade, em
termos de lucratividade. Mas tem que haver incentivos, apesar de não existir
consenso na literatura. Será que os incentivos fiscais fazem bem para a
economia? Uns dizem que sim, outros dizem que não. Fiz um levantamento da
literatura e não tem uma definição. Apesar disso creio que o incentivo fiscal
deve continuar, mas com medição, auditoria, transparência e monitoramento.
Aliás, monitoramento é um termo pouco usado. Nós temos no Brasil
algumas iniciativas excelentes, como o Tribunal de Contas da União. Nós
temos agora na FEE um seminário, no dia 29 de novembro, que vem o Ministro
17
Augusto Nardes, do TCU falar das avaliações que são feitas,
reconhecidamente no Brasil. Na FEE também existe uma equipe que está
trabalhando em um convênio com a Secretaria da Fazenda, monitorando
algumas áreas, começando com a da saúde.
Talvez seja essa a saída, se nós temos uma tendência altista da carga
tributária, vamos começar a melhorar a qualidade do gasto. Quem sabe se a
gente melhorar a qualidade do gasto, a despesa poderá cair, e
consequentemente não haverá mais necessidade dessa carga tributária tão
alta. Agora, se a gente não fizer um esforço na despesa, a carga tributária vai
continuar crescendo, e o Estado vai continuar sendo um leviatã anêmico, um
monstro, mas ao mesmo tempo fraco. E o contribuinte comprando serviços
privados no mercado, porque o serviço público existente é de péssima
qualidade.
A próxima Lâmina 15 explora a questão da guerra fiscal dos municípios.
Lâmina 15
É o resultado de um trabalho que eu apresentei em um Encontro
Estadual de Economia Gaúcha sobre a guerra fiscal dos municípios e que me
surpreendeu muito. A pesquisa municipal do IBGE mostrou que 80% dos 5,5
mil municípios fazem doações de terrenos. Inclusive esse estudo foi publicado
na Revista de Controladoria da Prefeitura do Rio de Janeiro e certamente vai
dar mais visibilidade nacional. Também tenho o texto em uma versão em
inglês, que vou encaminhar para algum congresso internacional, para mostrar
esse fenômeno da guerra fiscal entre municípios. Na realidade eu sou favorável
ao incentivo fiscal, ou a renúncia fiscal. O problema é que, quando se faz uma
pesquisa no Google: “doações de terrenos na prefeitura” pode-se notar 20 mil
links relacionados com denúncias, irregularidades, ministério público estaduais,
atrás dessas doações. Porque a Câmara e o prefeito aprovam, mas, depois, a
avaliação sobre a renúncia não é feita. Então será que esse incentivo fiscal,
essa doação de terreno foi maior ou menor que o aumento da receita, da renda
e do emprego? Então, isto é que está faltando. Falta esta transparência.
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Então, em função disso, eu acho que, em primeiro lugar, a gente tem
que fazer esta denúncia de incentivos fiscais, tem que trazer estes dados. No
gráfico isso fica bem claro, pois em média 13% dos municípios do Rio Grande
do Sul, Santa Catarina e Paraná, concedem isenção total de IPTU. Depois,
vem a isenção de taxas, que é praticada em 15% dos municípios da região sul.
Isenção parcial, também cerca de 15% dos municípios dos três estados fazem.
Isenção do ISSQN, a média já aumenta, cerca de 16% dos municípios
praticam. Já a doação de terrenos é uma prática municipal duas vezes maior
do que as outras. Então existe um contingente enorme de municípios
brasileiros que hoje doam terrenos, muitas vezes sem ter acompanhamento
desse processo.
A próxima Lâmina 16 faz um fechamento de tudo que foi comentado
anteriormente.
Lâmina 16
Nessa lâmina é evidenciado que existe um nó que nós temos que
desatar no sistema tributário brasileiro. Em primeiro lugar, temos no Brasil uma
pressão fiscal sem comparação. Nós estamos com uma pressão fiscal de sete,
enquanto os países desenvolvidos estão com uma pressão fiscal entre um e
dois. Existe regressividade no Brasil, se for considerada a tributação direta e
indireta. Apesar de a tributação direta, considerada isoladamente, é
progressiva. Juntando-se com a tributação indireta fica evidenciada a
regressividade.
Outra coisa a tributação sobre consumo, penaliza os mais pobres,
enquanto que a classe média mais alta, ao não gastar tudo no consumo, de
certa forma, paga menos relativamente aos mais pobres.
Terceira evidência existe uma guerra fiscal nos municípios e também
nos estados. Nós temos que resolver esse assunto. Não sou contra o incentivo
fiscal, mas temos que avaliar. Na própria Lei de Responsabilidade Fiscal tem o
artigo nº 67, que estabelece a criação de Comitê de Gerenciamento de tudo
que o governo concede de renúncia fiscal, tudo que se faz em termos de gasto
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público. Nós precisamos fazer um esforço no sentido de melhorar a qualidade
do gasto público. Talvez este seja o principal desafio.
E o último comentário que eu queria fazer é sobre o que está
acontecendo em termos de crise internacional. É bem interessante o que
mostra o site do Federal Reserve dos Estados Unidos.
(http://www.federalreserve.gov/). Ali existe um mapa dinâmico que é bem
esclarecedor. Existe a posição dos empréstimos realizados de subprime em
todos estados americanos. Na realidade o subprime, representa o crédito que é
difícil de ser pago pelos americanos. E como o Federal Reserve é muito bom
de estatística, esse mapa dinâmico assusta porque em todos os Estados
Unidos a utilização desse tipo de crédito é enorme, chegando a alguns estados
a quase 40%. São financiamentos realizados pelos bancos, que muitas vezes
não têm documentos, e nem comprovação de renda. Isso é ruim, porque
mostra uma dificuldade muito grande, que o governo americano vai ter no
futuro próximo, para lidar com as pessoas que não têm documentação. São os
chamados “ninjas” – no income, no job or assets (sem renda, sem emprego e
sem patrimônio). Na Califórnia 40% dos financiamentos são de subprime. Em
Nevada, ao lado da Califórnia, 35% deles são de subprime, ou seja, não existe
documentação alguma por parte do tomador de empréstimo. Também Nova
Iorque tem este nível. Mas o resto todos os estados estão abaixo de 20%.
Entretanto existem outras informações estatísticas, que mostram que a
situação está melhorando gradativamente. O grande problema é que eles não
tem muita regulamentação nessa área, uma vez que a política de Bush era
bastante liberal. Nós temos um sistema bem mais regulamentado, a nossa
Comissão de Valores Imobiliários- CVM é bem superior do que a deles, pois
exige regulamentação, transparência e clareza de todos os atos das
instituições financeiras no Brasil. Mas lá nos Estados Unidos a Securities and
Exchange Comission Exchange (semelhante a CVM) permitiu todo o processo
de transformar esses subprimes em derivativos, que por falta de pagamento
acabaram por virar papel podre, sem rentabilidade alguma! Mas efetivamente a
situação nos Estados Unidos, de acordo com esse gráfico, está melhorando. É
claro que vai levar muito tempo, talvez um ano. Então, essa é a origem do
problema e a forma que o governo americano encontrou é a da investigação,
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inclusive o FBI está indo atrás das instituições financeiras para corrigir as
distorções. Certamente o governo americano irá programar uma série de
subsídios para fazer com que aquela pessoa que não está trabalhando, volte a
ter renda e assim retornar os pagamentos da sua casa própria.
A conclusão que eu chego é que a política fiscal, ou seja, os recursos
tributários, a carga tributária, devem aumentar para todos os contribuintes do
mundo. Não tenho dúvidas, até para os brasileiros. Então, nós temos uma
tendência altista da carga tributária.
Como é que nós conseguiremos desatar este nó? A Lâmina 17 dá mais
detalhes.
Lâmina 17
A sugestão seria melhorando a questão da regressividade, reduzindo-a.
Lembro do discurso de Obama que ele invocou muito a classe média. Eu acho
que a classe média tem que ser muito mais valorizada, porque ela é que paga
o crescimento da carga tributária. Ela é que sustenta, em termos do custo
tributário no Brasil: é a classe média. Pelas informações que existem pode-se
argumentar que a classe pobre tem recebido muitos recursos do governo e por
isso a renda tem melhorado. Existem mais ofertas de serviço público, como o
bolsa família, por exemplo. Acho que ela está muito bem valorizada. Claro que
tem que fazer muito esforço em termos de melhoria na área da saúde e
educação. Mas porque a educação é importante? Se for considerado o índice
de mortalidade infantil no Brasil sabe-se que de cada mil que nascem vivos,
quatorze morrem no Brasil. Este é um dos índices mais monitorados no mundo
inteiro. Todos os governos fazem esforços para diminuir esse índice. Através
dos dados do Banco Mundial foi possível ver que o índice de mortalidade
estava muito relacionado com a educação da mãe. Nos países onde o nível de
educação da mãe era mais alto, o índice diminuía. Então, esse tipo de
constatação é importante para que o Brasil acorde, para que se faça esforço na
educação, que o governo gaste, de forma eficiente, com qualidade, para
melhorar efetivamente, o que pode ser melhorado. Temos que fazer com que a
despesa pública chegue até ao cidadão. Em uma frase: reduzir a
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regressividade, melhorar a qualidade do gasto e aliviar os tributos que recaem
sobre a classe média.
A última Lâmina 18 é o meu site sobre a pesquisa do setor público
(http://spublico.googlepages.com/), onde estão todas as informações, inclusive
essa palestra em Power Point. O Dr. Marcelo já tem esta palestra, em arquivo
eletrônico, e vocês se quiserem usar, podem solicitar esse arquivo.
Lâmina 18
Esse site ajuda quem trabalha com pesquisa em finanças públicas.
Existem dados do Rio Grande do Sul, de outros estados, do governo federal e
dos governos dos países mais desenvolvidos. Para cada um desses itens são
disponibilizadas, base de dados e estatísticas que, muitas vezes, ficam
dispersas. Procurei reunir também ampla literatura sobre esse assunto, como
uma contribuição aos interessados e pesquisadores da área de finanças
públicas. Então eu agradeço e para mim foi uma satisfação, uma honra estar
aqui com vocês. Muito obrigado.
Marcelo Pierdoná
Nós que agradecemos ao Dr. Alfredo pelas brilhantes palavras, bastante
elucidativas, preocupantes, também, principalmente, no que se refere a essa
tendência que se verifica de aumento da carga tributária como reflexo dessa
crise econômica.
Tomara, não é professor, que isto não venha a se confirmar, porque o
leão já está constrangido, envergonhado e, se isto vier a ocorrer, realmente,
nós teremos uma mudança disso.
O que chama a atenção é que, realmente, o Brasil se encontra na
contramão no que se refere ao sistema fiscal tributário, porque todo aumento
da nossa carga tributária se deu, exatamente, naqueles setores que são
setores importantíssimos para o nosso desenvolvimento. Como o senhor falou,
nós tivemos o aumento principal na COFINS, na previdência social e no ICMS
que são exatamente aqueles tributos que incidem sobre a produção, sobre a
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prestação do serviço e, conseqüentemente, sobre a geração de empregos,
sobre a geração de riquezas.
Talvez isso explique um pouco porque as estatísticas econômicas nos
últimos anos demonstram que, nos países do BRIC, o Brasil é aquele que
apresenta o menor crescimento de todos eles, ficando sempre atrás na
comparação com Índia, com a Rússia e, principalmente, com a China, nossa
grande locomotiva.
Coloco à disposição de vocês, se alguém tiver uma pergunta para fazer
ao nosso professor.
Não havendo questões, nós, novamente, agradecemos... Aqui chegou
uma pergunta.
Professor Meneghetti: Não lhe parece que, no Brasil, o problema da
carga tributária seria mais palatável pela população se o poder público
oferecesse em troca serviços públicos, como educação, transporte e saúde de
boa qualidade?
Alfredo Meneghetti
Exatamente isso que eu procurei demonstrar, quer dizer, se nós
tivéssemos uma qualidade da despesa pública, nestas três áreas – educação,
saúde e segurança pública -, nós aceitaríamos mais facilmente essa carga
tributária. Parece-me que a figura do Leviatã anêmico é uma figura muito boa,
pois representa muito bem esse estado enorme, mas fraco ao mesmo tempo!
Na verdade, hoje, ouvindo o Jornal Nacional da manhã, mostrava que, em
Pelotas, somente metade da frota de veículos envolvidos com a segurança
pública está funcionando. A outra metade está parada por falta de peças de
reposição, sendo que, na praia do Portal do Laranjal, os policiais estão a pé.
Então, isso é muito preocupante. Qualquer tipo de serviço público tem
condições de melhorar, principalmente o que não está funcionando. É claro que
tem que fazer um esforço, nem há necessidade de me alongar nisto aqui. Mas
nós temos que fazer um esforço procurando medir, porque tudo que a gente
quer que melhore, a gente tem que medir. Se tu queres baixar o peso, tens que
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comprar uma balança. Se tu queres melhorar a performance da corrida, tens
que comprar um relógio de batimentos cardíacos. A mesma coisa é o Estado.
Se nós queremos que o Estado tenha mais eficiência, nós temos que medir a
qualidade do gasto. E isso a gente faz através dos indicadores. Por isso que é,
o que um economista poderia fazer, nessa hora, é buscar construir
conhecimento na área de indicadores. E isto que a Fundação de Economia
está fazendo, em convênio com a Secretaria da Fazenda, trazendo para
discussão, o Tribunal de Contas da União, valorizando o que está sendo feito
no Tribunal de Contas do Estado, em termos de auditoria operacional.
A preocupação é que nós temos um cenário de um aumento da carga
tributária, que certamente vai acontecer. Cada vez a política fiscal vai ser mais
intervencionista, como o que está acontecendo nos países europeus, Estados
Unidos e agora nos países emergentes também (Brasil, Rússia, Índia e China).
E o que isto significa? Aumento do gasto, por meio de aumento da receita e da
pressão sobre os contribuintes. Então, a minha maneira de ver, é ao contrário
do Vítor Tanzi, acreditar em um cenário de política fiscal mais agressiva, que
torna o peso dos governos mais pesado sobre a sociedade.
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