TRAJETÓRIA - Santa Catarina · Academia de Letras, e se Deus nos ... Miguel foi a capital da...

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1 TRAJETモRIA Edição da Academia de Letras Biguaçu – SC 2008

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TRAJETÓRIA

Edição da Academia de LetrasBiguaçu – SC

2008

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Copyright © 2008, by Academia de Letras de Biguaçu

Editoração Eletrônica: Marcelo Pescador dos SantosOrganização e Coordenação Editorial: Toni Jochem

(48) 3242-0826 – (48) 3344-2777 – E-mail: [email protected]: www.tonijochem.com.br

FICHA CATALOGRÁFICABibliotecária responsável: Cleuza Regina Costa Martins – CRB 14/500

Reservados ao autor todos os direitos de reprodução, total ou parcial.Impresso no Brasil / Printed in Brazil

Endereço Postal:

Academia de Letras de BiguaçuE-mail: [email protected]

Website: www.academiadeletrasdebiguacu.com.brRua Hermógenes Prazeres, 59

Centro – CEP 88.160-000 – Biguaçu – Santa Catarina – BrasilTelefone: 0 XX (48) 3279 -8044

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DIRETORIA DA ACADEMIA DE LETRAS DE BIGUAÇU

Eleição e Posse: 29 de junho de 2007Período do mandato: 30 de junho de 2007 a 30 de junho de 2010

Presidente: Joaquim Gonçalves dos SantosVice-Presidente: Zenilda Nunes Lins

Secretária: Vera Regina Silva BarcellosTesoureiro: José Braz da SilveiraAssessor Jurídico: Valdir Mendes

Assessor Cultural: Neusita Luz Azevedo ChurkinBibliotecária: Janice Marés Volpato

Conselho Fiscal:– Dalvina de Jesus Siqueira

– Homero Costa Araújo– Miguel João Simão

– Stela Máris Piazza Souza– Zelka de Castro Sepetiba

Presidente de Honra: Dalvina de Jesus SiqueiraPatrono da Academia de Letras: São João Evangelista

ABREVIAÇÕES

ABEPL = Academia Brasileira de Estudos e Pesquisas Literárias.ACIBIG = Associação Comercial e Industrial de Biguaçu.ACPCC = Associação dos Cronistas, P oetas e Contistas Catarinenses.ACRIMESC = Associação dos Advogados Criminais do Estado de SantaCatarina.AFAJO = Associação da Família J ochem no BrasilAHESC = Arquivo Histórico -Eclesiástico de Santa Catarina.APA = Área de Proteção Ambiental.APAE = Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais.APB = Acervo da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld, Alemanha.APESC = Arquivo Público do Estado de Santa Catarina.

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APREMAG = Associação de Preservação do Meio Ambiente deGovernador Celso Ramos.ARENA = Aliança Renovadora Nacional.BAC = Biguaçu Atlético Clube.BADESC = Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina S.A.CASAN = Companhia Catarinense de Águas e Saneamento.CBHRT = Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Tijucas.CFO = Curso de Formação de Oficiais.CIASC = Centro de Informática e Automação de Santa Catarina.CM-ALESC = Centro da Memória da Assembléia Legislativa do Estado deSanta Catarina.CODESC = Companhia de Desenvolvimento do Estado de SantaCatarina.CPF = Cadastro de Pessoas Físi cas.DVD = Disco Versátil Digital.E.E.B. = Escola de Educação Básica.ECA = Estatuto da Criança e do Adolescente.ESAG = Escola Superior de Administração e Gerência.ETFSC = Professor da Escola Técnica Federal de Santa Catarina.Farmácia com Registro no CRF/SCFEB = Força Expedicionária Brasileira.FECH = Fundamentos de Expressão Humana e Comunicação.FEDAVI = Fundação Educacional do Alto Vale do Itajaí.FUCAPRO = Fundação Casa do Professor de Santa Catarina.FUMBA = Fundação Municipal de Bagé -RSIEE = Instituto Estadual de Educação.IHGSC = Instituto Histórico e Geográfico de Santa CatarinaIPESC = Instituto de |previdência do Estado de Santa Catarina .LIC = Lagoa Iate Clube.MDB = Movimento Democrático Brasileiro.NETI = Núcleo de Estudos da Terce ira Idade.OFM = Ordem dos Frades Menores.ONG’s = Organizações Não Governamentais.PMDB = Partido do Movimento Democrático Brasileiro.PPB = Partido Progressista Brasileiro.PPR = Partido Progressista Reformador.REPAM = Recanto Pré-Adolescente Municipal.SENAC = Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial.TJSC = Tribunal de Justiça de Santa Catarina.UDESC = Universidade do Estado de Santa Catarina.UFSC = Universidade Federal de Santa Catarina.UNISUL = Universidade do Sul do Estado de Santa Catar ina.USA = United States of America.

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NOSSOS COLABORADORES

Agradecemos às pessoas aqui mencionadas pelacolaboração no processo de elaboração desse livro.Consignamos nosso especial agradecimento a:

Adauto Beckhäuser;Evandro Thiesen;Joaquim Gonçalves dos Santos;Marcelo Pescador dos Santos ; eToni Jochem.

"Somos o que repetidamente fazemos. A excelência,portanto, não é um efeito, mas um hábito".

Aristóteles.

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Dedicamos este livro àmemória de todos osmembros já falecidos daAcademia de Letras deBiguaçu.

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SUMÁRIO

PREFÁCIO......................................................................................

APRESENTAÇÃO..........................................................................

HISTÓRICO DA ACADEMIA DE LETRAS DE BIGUAÇU ............

ADAUTO BECKHÄUSERSAGA DO IMIGRANTE JOHANN KARL BECKHÄUSER..............

ALFREDO DA SILVAOS DOIS MUNDOS DE MARIA-NAIR.............................................

ALZIRA MARIA SILVA DOS SANTOSBIGUAÇU..........................................................................................

CESAR LUIZ PASOLDCONTANDO COM UM CONTO ........................................................

DULCINÉIA FRANCISCA BECKHÄUSERMULHER, SEXO FRÁGIL? ..............................................................

ERNESTINA FAIZER KURTHMEUS, QUASE, HAICAIS ...............................................................

ESPERIDIÃO AMIN HELOU FILHOA RAIZ EM BIGUAÇU....................................................... ...............

HOMERO DA COSTA ARAÚJOBOI DE BOTAS FUTEBOL CLUBE ................................................

JANICE MARÉS VOLPATOLAPIDAR A ESSÊNCIA HUMANA ................................................

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JOAQUIM GONÇALVES DOS SANTOSHOMENAGEM AOS ACADÊMICOS ..............................................

JOSÉ RICARDO PETRYMENSAGEM: POR CÔN. RODOLFO PEREIRA MACHADO ........

LEATRICE MOELLMANN PAGANIESPELHO........................................................... .............................

MARIA DO CARMO ANTUNESDESEJO...........................................................................................

MIGUEL JOÃO SIMÃOA ROSA QUE EU PERDI ................................................................

NORBERTO NAZARENOÁGUA DOCE..................................................................................

OSMARINA MARIA DE SOUZAVOCÊ SABIA?... NA HISTÓRIA DE BIGUAÇU .............................

ROGÉRIO KREMERAS ESCOLAS PAROQUIAIS DO ALTO BIGUAÇU – 1880/1937

STELA MÁRIS PIAZZA SOUZABILLY, O PERALTA........................................................................

TONI JOCHEMNOS PERCALÇOS DA HISTÓRIA:DO ALTO BIGUAÇU A ANTONIO CARLOS ...................................

VALDIRA MENDESPRESENTO TRÊS MOTIVAÇÕES: A NATUREZA, SERHUMANO E SER ANIMAL ..............................................................

VANDA LÚCIA SENS SCHÄFFERALGUÉM A PROCURA DE FELICIDADE ......................................

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VERA REGINA DA SILVA DE BARCELLOSVIDA DE POETA.............................................................................

VILCA MARLENE MERÍZIOEU TAMBÉM ESCREVI CARTAS DE AMOR............... .................

ZELKA DE CASTRO SEPETIBACLARA E O CIRCO..............................................................................

ZENILDA NUNES LINSJANELA PARA O SOL ...........................................................................

WILLIAM WOLLINGER BRENUVIDALUZ LEMBRADA II...........................................................................

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PREFÁCIO

Era uma vez, sim era uma vez... três mulheres,ávidas de conhecimentos, querendo mudar a cultura de umacidade simples, pequena, porém com algumas pessoas quequeriam mudar o curso da história. Salvo melhor juízo,imaginaram fundar uma Academia de Letras, e porque não?Conversaram, almoçaram e daquela conversa surgiu a"ACADEMIA DE LETRAS SÃO JOÃO EVANGELISTA DABARRA DE BIGUAÇU".

Que felicidade, quanta esperança, quanta coragem.Daquele dia em diante, passamos a nos dedicar somente àAcademia de Letras. Isto era o dia 28 de setembro do anode 1996. Dia este, que passou para a história de Biguaçu.

Foi um marco na nossa histó ria. Criamos umaBandeira, com o símbolo de Biguaçu, (dois biguás), e com afrase de minha autoria "O Sublime é ser". Por vários anoselaboramos Antologias que mostram como é importante adedicação e o objetivo de se fazer algo.

E o tempo foi passando, e morreu a Vilma, uma dasfundadoras, morreram outros que marcaram época. Nãotínhamos um lugar ao sol, um lugar decente para que estaEntidade funcionasse como deveria. Passamos por váriassalas atopetadas de entulho no Prédio "David Crispim Correa", onde muitas vezes choramos juntas a nossa desdita, odesconforto e a desvalorização. Tudo bem...

Todo ano mudavam a nossa Academia de Letras,mudavam de sala de depósito, entretanto, graças ao MárioCésar, (Arquivo Público) , obtivemos um pedacinho de salaonde passamos a funcionar, portanto, este moço, foiescolhido como Sócio Emérito, passando a fazer parte daAcademia de Letras, assim como também a Secretária deEducação Sra. Zulmara Gesser e o DD. Prefeito Vilmar

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Astrogildo Tuta de Souza. Por fim conseguimos umasalinha, pequena, porém acolhedora, onde tratamos logo decolocar cortinas, armários, mesa e cadeiras (móveisusados), porém dignos de uma Academia de Letras.

Era tudo o que podíamos fazer, não possuíamosdinheiro, poucos foram, ou melhor, eram aquele s quecontribuíam para a Academia de Letras. Foi uma lutaconstante, um trabalho árduo e difícil. Hoje, porém, estamosa comemorar os 12 anos desta menina moça que é a nossaAcademia de Letras, e se Deus nos ajudar, ela há decomemorar os cem (100), anos c om muitas festas e commuitas honrarias.

Então de lá onde estivermos, haveremos de dizer emtom musical. "Muito obrigada meu Deus". Muito obrigada,por ainda existirem pessoas que sabem amar e salvar apoesia. E neste momento sublime, em que estamospassando para a posteridade, a nossa poesia, o nossoamor, a nossa gratidão, eu passo a cantar baixinho:

"Naquele bairro afastado, onde criança vivias,a remoer melodias, numa ternura sem par,passava todas as tardes, um realejotristonho, passava como num so nho, umrealejo a tocar.Depois tu partiste, ficou triste a rua deserta,na tarde fria e calma ouço ainda o realejo atocar, ficou a saudade, comigo a morar, tucantas alegre e o realejo, parece que choracom pena de mim..."

Foi assim a nossa História. Então, agora, passados12 anos, reerguida, surgindo das cinzas feito Phoenix, onosso objetivo, é cada vez mais. Fazer da Academia deLetras, uma casa de Cultura máxima, onde a qualidade

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esteja sempre presente.

Dalvina de Jesus Siqueira (Estrela)Presidente de Honra da Academia de Letras de Biguaçu.

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APRESENTAÇÃO

Uma antologia como esta, rica em belostrabalhos engrandece a sociedade e me faz recordar aobservação do profeta Daniel : “Os que educarem amuitos para a justiça, bri lharão para sempre comoestrelas” (Dn 12,3).

Ao assumir a responsabilidade de ajudar napublicação da VII Antologia da Academia de Letras deBiguaçu, a pedido do Presidente Joaquim Gonçalvesdos Santos, logo passei a receber todos os textos dosacadêmicos e suas respectivas biografias.

O próximo passo seria encorajar o nobrehistoriador Toni Jochem, também, acadêmico aorganizar o material recebido. De forma muito simpáticafoi à aceitação do historiador e Acadêmico ToniJochem.

Nem todos os acadêmicos se d isponibilizaramem elaborar um texto para a Antologia ; mas, os que selançaram no desafio de elucidar um tema entregaramprontamente na data aprazada.

Coube ainda, ao Presidente da Academia Sr.Joaquim Gonçalves dos Santos, solicitar alguns dadosfaltantes aos acadêmicos.

Esta publicação além de contos, histórias,poesias, prosas, temos um históri co da Academia de1996 a 2008, com a relação dos acadêmicos e fotosdesde a fundação até a presente data. São fotos quefalam por si, relembrando o passado e o pr esente.

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Tenho a certeza que todo este trabalho da VIIAntologia, através de contos, crônicas, saga, histórias,amor, registros, poesias vem demonstrar a belezadestes textos e a potencialidade de nossa academia deletras; além de mostrar o que a academia p roduzapresenta também a sua história de 12 anos deexistência.

Todos que tiverem a oportunidade de ler a VIIAntologia, sentirão a beleza e o encanto dos textos.Tenho a certeza que novos trabalhos virão eengrandecerão a nossa Academia de Letras. Tudo i stoservirá de estimulo para novas produções. É no queacredito.

Boa Leitura,

Acadêmico Adauto Beckhäuser

HISTÓRICO DA ACADEMIA DE LETRAS DEBIGUAÇU

"A Academia de Letras é a guarda denossa Língua e, portanto, caber-lhe-ádefendê-la do que é legítimo – do quenão vem do povo e os escritores –,não confundindo moda, que mata,com o moderno, que vivifica" .

Machado de Assis

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O município de Biguaçu 1 começou a surgirquando em 1748 imigrantes portugueses vindos doArquipélago dos Açores e da Ilha da Madeira, foramassentados no lugarejo denominado de São Miguel daTerra Firme. Mas seu crescimento foi lento ao longodos tempos. Distante 28 quilômetros de Florianópolis ,Biguaçu2 limita ao Norte: com os municípios de

1 SOBRE BIGUAÇU: Em 23 de janeiro de 1751, foi inaugurada a igreja deSão Miguel Arcanjo. A provisão que nomeia o primeiro vigário, PadreDomingos Pereira Machado, para a freguesia de São Miguel é de 8 defevereiro de 1752. Embora de caráter temporário, a freguesia de SãoMiguel foi a capital da capitania de Santa Catarina no período de 10 deoutubro de 1777 a 2 de agosto de 1778 quando os espanhóis a indaocupavam a ilha de Santa Catarina. Por ato do conselho Administrativo daProvíncia em primeiro de março de 1833, a freguesia de São Miguel foielevada a vila, e criado o município de Desterro (atual Florianópolis). Ainstalação do município de São Mig uel ocorreu em 17 de maio de 1833.Face à decadência econômica, aos freqüentes surtos de malária, aodesmembramento de novas freguesias, São Miguel vai aos poucosperdendo seu prestígio. No início da segunda metade do Século XIX,surgia na margem direita d o rio Biguaçu, um povoado (atual cidade deBiguaçu) que aos poucos crescia face as terras férteis, ao trabalho doscolonos, da construção de uma igreja e de um cemitério em 1874, onderesultou na criação de uma freguesia em 19 de dezembro de 1882, sob ainvocação de São João Evangelista. Lideranças políticas de Biguaçuconseguem em 1886 transferir a sede do município para Biguaçu que ficaelevada à categoria de Vila. Em 1888, por decisão do governo daProvíncia, sede municipal volta para São Miguel, vindo a acontecer quaseno final de 1889 devido a relutância dos vereadores. Já no períodorepublicano, João Nicolau Born, consegue junto ao Governador doEstado, a mudança definitiva da sede municipal de São Miguel paraBiguaçu em 22 de abril de 1894. Fonte:http://www.bigua.sc.gov.br/index.php?item=historico – Consulta realizadaem 24 de julho de 2008. – Consulta realizada em 24 de julho de 2008.2 ORIGEM DO NOME: Há algumas controvérsias quant o à origem donome da cidade. Uma versão afirma que é de origem indígena, quesignifica “Biguá Grande”. Biguá é um pássaro aquático ainda hoje

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Canelinhas e Tijucas; ao Sul: com o município de SãoJosé; a Leste: com o município de Governador CelsoRamos e o Oceano Atlântico; a Oeste: com osmunicípios de Antônio Carlos e São João Batista.

A cidade de Biguaçu passou a crescer com ainstalação da Universidade do Vale de Itajaí – Univali3,

encontrado no rio Biguaçu. Já o Pe. Raulino Reitz (in memoriam) em seulivro “Alto Biguaçu” (1988), apresenta a v ersão de que o nome deve -se auma árvore semelhante ao jambolão e chamada popularmente de“baguaçu”. Atualmente, o jornalista da cidade Ozias Alves Júnior (JBFoco), através de uma pesquisa que contou com a ajuda do ProfessorAryon D. Rodrigues, um dos mai ores especialistas em Tupi -Guarani doBrasil, afirma que a origem do nome Biguaçu vem da Palavra“Guambygoasu” que significa “Grande Cerca de Paus” ou “Cerca Grande”(palavra de língua usada pelos antigos índios Carijós). Fonte:http://www.bigua.sc.gov.br/index.php?item=historico – Consulta realizadaem 24 de julho de 2008.3 A carência de ensino superior na região da Grande Florianópolis motivouo inicio do processo de expansão da UNIVALI para a região Sul do Estadono início da década de noventa. Naquele período, dezenas de ônibus sedeslocavam, da Grande Florianópolis, até a cidade de Itajaí com alunosque buscavam acesso ao ensino superior, enfrentando as terríveiscondições da rodovia BR 101, e somando despesas. Nesse contexto foicriado em 1991 o Campus de Biguaçu, com objetivo de atender ademanda da região, além de produzir e viabilizar conhecimento, por meioda pesquisa e extensão. Na época, ainda sem espaço físico, foramofertados os cursos de Ciências Contábeis e Direito. As aulas eramministradas no Grupo Escolar Alexandre Godinho, sendo depoistransferidas para o Colégio EDUCAR. A construção do Campus A, emBiguaçu, aconteceu em 1993, quando então foi implantado, também, ocurso de Administração. Com estrutura física própria, a UNIVALI passou aoferecer na Grande Florianópolis cursos nas áreas de Ciências Humanas,Sociais Aplicadas e Jurídicas, além do curso de Segurança Pública, únicono Estado. A inauguração do Campus B acontece u alguns anos depois,em 2000, abrigando os cursos de Pedagogia, Administração e CiênciasContábeis. No ano de 2002, a UNIVALI instalou em Biguaçu a ClínicaIntegrada de Atenção Básica à Saúde (Ciabs), que presta serviços àcomunidade e promove a formação do profissional em diversas áreas dasaúde, o que fortaleceu a vocação do Centro na área da Saúde. Nessaárea, são ofertados os cursos de Enfermagem, Fisioterapia, Psicologia e

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no início da década de 1990. Este fato fez aumentar onúmero de universitários que precisavam um lugar paramorar, levando a construção de vários prédiosresidenciais para abrigar a demanda então surgida.Além dos prédios residenciais, várias indústrias seinstalaram no Município, aumentando o n úmero deemprego ofertado à população local. Antes desse fato ,não raro os biguaçuenses recorriam a São José eFlorianópolis para trabalhar; ao assim agir , a cidade deBiguaçu tornou-se mero dormitório.

Com o aumento no crescimento econômico esocial, a cidade passou a ter uma nova feição. Feiçãoesta que levou Dalvina de Jesus Siqueira a pensargrande. Ela cogitou a possibilidade de criar na referidacidade uma Academia de Letras. Para tanto, se lançouem montar o estatuto provisório e a reunir poetas,escritores, historiadores e outros intelectuais darespectiva cidade e das imediações. Assim agindo, nodia 26 de julho de 1996 , convidou a Sra. VilmaBayestorff e Osmarina Maria de Souza para um lancheem sua residência e no dia 8 de agosto do mesmo anoas recebeu para um almoço para dar estrutura e melhorfundamentar o referido projeto de fundação da umaAcademia de Letras. Na ocasião ficou decidido que aanfitriã, Senhora Dalvina de Jesus Siqueira, seria a

Fonoaudiologia. Além desses, o campus mantém os cursos deAdministração, Ciências Contábeis, Direito, Pedagogia, SegurançaPública, Letras, Pedagogia – Educação Infantil e Séries Iniciais, ePedagogia – T&T, divididos em dois campi. Fonte:http://64.233.169.104/search?q=cache:4E_2fqlLcncJ:siaiweb22.univali.br/asp/system/empty.asp%3FP%3D1764%26VID%3Ddefault%26SID%3DV8%26C%3DV8+hist%C3%B3rico+univali+Bigua%C3%A7u&hl=pt -BR&ct=clnk&cd=3&gl=br – Consulta realizada em 20 de agosto de 2008.

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primeira presidente4. E deram o nome de Academia deLetras de São João Evangelista 5 da Barra de Biguaçu.

4 Nominata da primeira Diretoria da Academia - Presidente: Dalvina deJesus Siqueira; Vice-Presidente: Zenilda Nunes Lins; Secretária:Osmarina Maria de Souza; Tesoureiro: Zelka de Castro Sepetiba;Conselheiro fiscal : Rogério Kremer; e Bibliotecário: Otávio Rosa.5 São João Evangelista, o apóstolo "bem -amado". Um dos 12apóstolos de Cristo e nascido em Batsaida, na Galiléia, autor do quart oevangelho e conhecido como o discípulo que Jesus amava foi o únicoapóstolo que acompanhou Cristo até a morte na cruz, ao lado de NossaSenhora, ocasião em que lhe foi confiada a tarefa de cuidar de Maria, amãe de Jesus. Pescador e filho do também pesca dor Zebedeu e deSalomé, uma das mulheres que auxiliavam os discípulos de Jesus,juntamente com o irmão mais velho, Tiago o Maior, foi convidado a seguirJesus, logo depois de Pedro e André. Um dos mais jovens apóstolos deCristo, ele e seu irmão, juntamen te com Pedro e André, foram osdiscípulos privilegiados e participaram do círculo mais íntimo junto aJesus. Presenciaram a ressurreição da filha de Jairo, a transfiguração deJesus na montanha e sua angústia no Getsêmani. Os dois foram osúnicos apóstolos que ousaram pedir a Cristo que lhes fosse dado sentarum à direita, outro à esquerda. Da resposta de Jesus "do cálice que eubeber, vós bebereis" deriva a suposição de que os dois se distinguiriamdos demais pelo martírio. Esteve em Jerusalém (37) e depoi s por ocasiãodo Concílio dos Apóstolos, que se realizou em Antióquia. Após asperseguições sofridas em Jerusalém, transferiu -se com Pedro para aSamaria, onde desenvolveu uma intensa evangelização (8,14 -15). Mudou-se para Éfeso (67), onde viveu o resto de sua vida, morreu e foi sepultado.A partir dessa cidade, dirigiu muitas Igrejas da província da Ásia etambém ali escreveu (80 -100) o Quarto Evangelho, o último dosEvangelhos canônicos, e as Epístolas, três cartas aos cristãos em geral.De acordo com os Atos dos Apóstolos, quando acompanhou Pedro nacatequese dos Samaritanos, com ele foi convencido por Paulo a desistirda imposição de práticas judaicas aos neófitos cristãos. Durante ogoverno de Domiciano (81 -96), foi exilado (93-97) na ilha de Patmos, nomar Egeu, onde escreveu o Livro do Apocalipse ou Revelação, que é oderradeiro livro da Bíblia, onde narrou as suas visões e descreveumistérios, predizendo as tribulações da Igreja e o seu triunfo final. O seuevangelho difere dos outros três que são cha mados sinóticos ousemelhantes, pois a sua narrativa enfoca mais o aspecto espiritual deJesus, ou seja, a vida e a obra do Mestre com base no mistério daencarnação: o verbo feito carne e veio dar a vida aos homens. É o homem

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A grandeza de pensamento e de ação de Dalvinase projetou com grande entusias mo, de modo quenenhum dos convidados para ocupar uma das cadeirasdeclinou do convite. O grande impasse inicial foiestabelecer um lugar como sede para a Academia,lugar este que abrigaria os documentos e em cujasdependências se efetuassem as reuniões acadêmicas.Tudo isto foi resolvido aos poucos.Montada toda a estrutura da academia passou emefetuar em 1999 a organização e o lançamento daprimeira Antologia. Foi um sucesso. Outras mais 6foram lançadas posteriormente com os seguintestítulos: Primeira Antologia – 1999 – Um Passeio pelaGrande Florianópolis – Homenagem aos 500 anos doBrasil; Segunda Antologia – 2000 – Sonhos de Outono ;Terceira Antologia – 2001 – Renascer da Primavera ;Quarta Antologia – 2002 – Devaneios de Verão ; QuintaAntologia – 2003 – Aconchego; Sexta Antologia – 2004– Veredas Literárias . E agora, em 2008, está sendolançada a Sétima Antologia que tem como título:Trajetória.

Na presidência da Academia, por 11 anos, esteveDalvina Siqueira de Jesus . Depois dessa data foi eleitaPresidente de Honra.

da elevação espiritual, mais inclinado à contemplação que à ação. Deacordo com Clemente de Alexandria, ordenou bispos em Éfesos e outrasprovíncias da Ásia Menor. Ireneus afirmou que os Bispos Polycarpo ePapias foram seus discípulos. Os primeiros fragmentos dos escritosJoanitas foram encontrados em papiros no Egito datando de princípios dosegundo século, e muitas escolas acreditam que ele tenha visitado estasáreas. Aparece representado por Michelângelo na cúpula da Basílica SãoPedro, em Roma, pela imagem da águia. Fonte:http://www.netsaber.com.br/biografias/ver_biografia_c_3422.html –Consulta realizada em 01 de agosto de 2008.

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Osmarina Maria de Souza descreve com maestriaos fatos que levaram a fundação da Academia deLetras:

Em uma manhã de 26 de julho de 1996, VilmaBayestorff e Osmarina Maria de Souza foramconvidadas pela amiga Dalvina de Jesus Siqueirapara um almoço em sua residência. O dia estavalindo e o almoço muito mais saboroso que se podeimaginar – um peixe ensopado, com feijão esaladas, mas o pirão, meus amigos, feito pelacolega Dalvina que muito feliz agradecia a visita,ao contrário virou farofa. Almoçando e com bompapo tivemos a idéia de fundar uma Academia deLetras em Biguaçu.Já havíamos fundado a Associação dos Poetas,Cronistas e Contistas Catarinenses, a Academiade Letras de São José, por que não tambémfundarmos uma em Biguaçu?Da idéia, após o almoço partimos para suaconcretização. Primeiro vamos dar um nome aesta casa e Dalvina nos disse: eu já tenho estenome, porque acho que vamos homenagear acidade; deve se chamar ACADEMIA DE LETRASSÃO JOÃO EVANGELISTA DA BARRA DO RIOBIGUAÇU.O nome foi aceito e fomos então achar ospatronos para estas 40 cadeiras. Algumashoras depois já tínhamos esta relação pronta bemcomo um rascunho do estatuto . Constituímos aPrimeira Diretoria; Presidente Dalvina de JesusSiqueira, Vice Vilma Bayestorff, PrimeiraSecretária Osmarina de Souza, Segundasecretária Dorinda Rabello Waltrick, PrimeiraTesoureira (Não me lembro)6.

6 Texto inédito escrito por Osmarina Maria de Souza.

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E nesta reunião passou-se a escolher as cores daacademia: cinza, azul e amarela. O respectivo símboloaprovado foi o do pássaro biguá, a bandeira azul com opássaro cinza e as letras amarelas. O lema escolhido:“O sublime é ser”. Nesta mesma reunião ficouestabelecido um total de 40 cadeiras, os seusrespectivos patronos, o valor a ser cobrado para asdespesas iniciais: beca, medalhas, diplomas. Comrelação aos patronos foram eleitos:

Cadeira 1 – Abelardo Sousa.Cadeira 2 – Aderbal Ramos da Silva.Cadeira 3 – Adolfo Konder.Cadeira 4 – Altino Flores.Cadeira 5 – Aníbal Nunes Pires.Cadeira 6 – Antonieta de Barros.Cadeira 7 – Luiz Delfino dos Santos.Cadeira 8 – João da Cruz e Souza.Cadeira 9 – Elpídio Barbosa.Cadeira 10 – Alaíde Sarda de Amorim.Cadeira 11 – Juvêncio Araújo Figueredo.Cadeira 12 – Francisco Galloti.Cadeira 13 – Fritz Müller.Cadeira 14 – Geraldino Atto de Azevedo.Cadeira 15 – Henrique Fontes.Cadeira 16 – Holdemar de Menezes.Cadeira 17 – Cônego Rodolfo Pereira Machado.Cadeira 18 – Arnaldo de S. Thiago.Cadeira 19 – João Crisóstomo Pacheco.Cadeira 20 – João Nicolau Born.Cadeira 21 – Jorge Lacerda.Cadeira 22 – Vidal Mendes.Cadeira 23 – Lausimar Laus.Cadeira 24 – Paschoal Apóstolo Pitsica.

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Cadeira 25 – Luiza dos Reis Prazeres.Cadeira 26 – Maria da Glória Viríssimo de Faria.Cadeira 27 – Mário Quintana.Cadeira 28 – Manoel de Menezes.Cadeira 29 – Maura da Senna Pereira.Cadeira 30 – Nereu Corrêa de Souza.Cadeira 31 – Nereu de Oliveira Ramos.Cadeira 32 – Nila Sarda.Cadeira 33 – Oswaldo Rodrigues Cabral.Cadeira 34 – Othon da Gama Lobo D’eça.Cadeira 35 – Padre Raulino Reitz.Cadeira 36 – Dom Jaime de Barros Câmara.Cadeira 37 – Thomé da Rocha Linhares.Cadeira 38 – Lauro Locks.Cadeira 39 – Virgílio Várzea.Cadeira 40 – Visconde de Taunay.

Dessa forma, no dia 20 de setembro de 1996, às20h30min, no Auditório do Centro Cultural DavidCorrea, em Biguaçu, foi realizada a Assembléia deFundação da Academia de Letras de São JoãoEvangelista da Barra de Biguaçu. Presentes a estaassembléia estavam o Sr. Rogério Kremer, João PauloRodrigues, Lauro Locks, Dalvina de Jesus Siqueira,Vilma Bayestorff, Alaíde Sarda Amorim, Ana Maria LealMendes e Osmarina Maria de Souza.

Posteriormente foi marcada nova reunião paraacertos finais, como a estruturação e aprovação dosEstatutos da nova entidade.

Após onze anos a frente desta academia sucedeua Senhora Dalvina de Jesus Siqueira, no dia 29 dejunho de 2007, o Sr. Joaquim Gonçalves dos Santos,

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como presidente para o p eríodo de 30 de junho de2007 a 30 de junho de 2010 7.

Com o mandato de três anos, tem como metamodernizar e criar um website para a Academia paramelhor comunicação entre os acadêmico s, elaborar onovo Estatuto que ficou a cargo do Acadêmico ValdirMendes, já aprovado. O website ficou a cargo doacadêmico Adauto Beckhäuser e está disponível paraconsulta na rede mundial de computadores desde 16de maio de 2008, no seguinte endereço ele trônico:www.academiadeletrasbigucu.com.br . Foi tambémelaborado um novo modelo de Diploma, bem como umnovo Brasão de Armas. Há um trabalho que deve serdestacado: projeto Açores em Portugal. Nesse projetoalgumas acadêmicas se destacaram junto aos órgãosPúblicos. Foi um grande sucesso.

O trabalho desenvolvido pelo atual presidente édigno de elogio como foi também o da ex -presidente,Senhora Dalvina de Jesus Siqueira. A edição da VIIIAntologia, em comemoração aos 12 anos de existênciada Academia, revela a beleza nos textos e mostra agrande atuação dos Acadêmicos na sociedade. Um dospontos altos desta administração foi a informatizaçãoda Academia. Trabalho este de grande importância naatualidade. A partir do website houve uma maior

7 Nominata com todos os membros da diretoria. Presidente: JoaquimGonçalves dos Santos; Vice-Presidente: Zenilda Nunes Lins; Secretária:Vera Regina Silva Barcellos; Tesoureiro: José Braz da Silveira;Assessor Jurídico: Valdir Mendes; Assessor Cultural: Neusita LuzAzevedo Churkin; Bibliotecária: Janice Marés Volpato; Conselho Fiscal:Dalvina de Jesus Siqueira; Homero Costa Araújo; Miguel João Simão;Stela Máris Piazza Souza; Zelka de Castro Sepetiba. Presidente deHonra: Dalvina de Jesus Siqueira.

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comunicação entre os acadêmicos que viram seustrabalhos serem mais amplamente divulgados.

Enumeramos, a seguir, as realizações e projetospara 2008 da nova Diretoria da Academia de Letras deBiguaçu:

1 – Aquisição de um computador, cedido pelaPrefeitura Municipal de Biguaçu.2 – Instalação de internet, cedida tambémpela referida prefeitura.3 – Aquisição de uma impressora, esta, feitapela própria Academia.4 – Aquisição de um telefone, instalado pelaPrefeitura de Biguaçu, número: (48) 3279 -8044.5 – Aprovação de um novo estatuto. Jádistribuído após o Registro.6 – Realização de Projeto Missão Açores II.Já realizado. Com prestação de contaspendente junto ao Governo Estadual.7 – Elaboração da Antologia 2008, apenasaguardando o lançamento.8 – Expediente da Academia no períodovespertino de segunda-feira a sexta-feira. Nomomento, cumprido quando possível.9 – Está sendo feito o chamamento deacadêmicos afastados.10 – Posse de novos acadêmicos.6 empossados.11 – Festividades de 12 anos de criação aAcademia. Está sendo providenciada,conforme planos.

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12 – Elaboração do website, já disponível noseguinte endereço eletrônico:www.academiadeletrasdebigu acu.com.br

HOMENAGEM PÓSTUMA

“A morte não é nada. Eu só passei para ooutro lado do caminho. Eu sou eu, vocês sãovocês. O que eu era para vocês, eu continuosendo. Me dêem o nome que vocês sempre mederam, falem comigo como vocês sempre fizeram.

Vocês continuam vivendo no mundo dascriaturas, eu estou vivendo no mundo do Criador.Não utilizem um tom solene ou triste, continuem arir daquilo que nos fazia rir juntos. Rezem, sorriam,pensem em mim. Que meu nome sejapronunciado como sempre foi, sem ênfa se denenhum tipo, sem nenhum traço de sombra outristeza.

A vida significa tudo o que ela sempresignificou, e o fio não foi cortado. Porque euestaria fora de seus pensamentos, agora que euestou apenas fora de suas vistas? Eu não estoulonge, apenas estou do outro lado do caminho” .

Santo Agostinho

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A diretoria da Academia de Letras gostaria defazer homenagem póstuma a:

* Dorinda Rabelo Meiss Waltrich – Falecida no dia12 de junho de 2008;

* Hermelinda Izabel Merizi – Falecida no dia 12 defevereiro de 2008; e a

* Solange Rech – Falecido no dia 29 de janeiro de2008, bem como a todos os demais acadêmicosfalecidos anteriormente:

* Vilma Bayestorff – Falecida em 14/01/2000;* Durval Borba Neto – Falecido no dia 06/07/2001;* Lauro Locks – Falecido no dia 24/02/2004;* Otacílio Schüller Sobrinho – Falecido no ano de 2006; e* Otávio Rosa – Falecido em 10/09/2007.

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ADAUTO BECKHÄUSER

Data Nascimento: 29 de julho de 1944. Filiação: Gabriel CarlosBeckhäuser e Maria Vieira Beckhäuser . Naturalidade: Tubarão-SC.Nacionalidade: Brasileiro . Profissão: Advogado militante desde 1995.

Funções exercidas: – Professor Adjunto IV aposentado pelaUniversidade Federal de Santa Catarina. – Professor Universitário doCurso de Pedagogia de Joinville, na Associação Catarinense de Ensino. –Professor Universitário da Unisul. – Diretor de Escola Secundária da RedeEstadual. – Professor da rede estadual e particular de Ensino Médio. –Atualmente presta Assessoria Jurídica para grandes Empresas da Capitale de todo o Estado de Santa Catarina. Atuante como advogado noescritório, sito à Rua Tenente Silveira, n. 200, sala 405, Centro,Florianópolis-SC, desde o ano de 1975 até a presente da ta. Atuante nosTribunais de 1º e 2º graus, nas esferas Federal e Estadual.

Formação – Graduação Superior: – Filosofia pela UFSC,Florianópolis-SC. – Pedagogia pela Fumbá, Bagé -RS. – Direito pelaUFSC, Florianópolis-SC.

Pós-Graduação – Especialização: – Mestre em Direito pelaUniversidade Federal de Santa Catarina. – Mestrado em Direito Tributáriopela Universidade Federal de Santa Catarina. – Tecnologia Educacionalpela Universidade Federal de Santa Catarina. – Cours de LangueFrançaise Heures – Universite Catholique de Belgique – Institut desLangue Vivante – Belgique (Bélgica).

Curso CAPES: – Português, registro de professor de 1º e 2ºgraus. – Desenho, registro de professor de 1º e 2º grau s.

Doutorado: – Doutorando “Doctorat spécial em Droit, Faculté deDroit – Université Catholique de Louvain -la-Neuve – Belgique”. –Doutorando em Direito pela Universidade do Museu de Buenos Aires –Argentina, em convênio com a UNISUL.

Trabalhos realizados: – Dissertação de Mestrado: SistemaJurídico Estatutário X Consoli dação das Leis do Trabalho. – Tese: LeRegime Juridique de Funcionaire Publique Bresilien e Belgique (EtudeComparative du Statut Juridique du Fonctionnaire Public Dans le DroitBresilien et Dans le Droit Belge. – Tese: A Prova no Direito Civil Brasileiro.

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– Publicação Livro: História da Família Beckhäuser no Brasil ; lançado em26/11/2006, sendo impresso na Nova Letra, Gráfica e Editora, emBlumenau-SC. – Livro "A Trajetória de 1862 à 2008 : A fuga da fome e damiséria salva a família Beckhäuser nas duas grandes guerras", no prelo.– Músico. – Presidente da Associação da Família Beckhäuser , de 2004 à2010.

Acadêmico: Adauto BeckhäuserNascimento: 29-07-1944Cadeira nº: 02Posse: 14-05-2008Título: Escritor / AdvogadoEndereço: Rua Tenente Silveira, 200, Ed. Atlas, Sala 405, Centro,Florianópolis-SCCEP: 88010-300Fone: (48) 3222-7781E-mail/Site: [email protected] /www.advbeckhauser.com.brPatrono: Aderbal Ramos da SilvaTítulo: Político / Orador

SAGA DO IMIGRANTEJOHANN KARL BECKHÄUSER

Em 1862, Johann Karl Beckhäuser, com 36 anos deidade nascido em 09 de setembro de 1826, juntamente comsua esposa Maria Elisabeth Kropp nascida em 20 desetembro de 1834, com 28 anos de idade e grávida de oitomeses, emigraram para o Brasil, na esperança de diasmelhores para sua família, que já era composta por duasfilhas: Philippine, com quatro anos de idade, e Elizabeth,com nove meses. No entanto, já haviam perdido o primeirofilho de nome Johann Karl, ainda, na Alemanha, em 16 de

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abril 1856, mesmo dia de seu nascimento.O casal Johann Karl Beckhäuser e Maria Elisabeth

Kropp saiu de Bierkenfed na Alemanha e seguiu para aAntuérpia na Bélgica. Lá, no dia 20 de junho de 1862, abordo do Navio César, de bandeira belga, os dois iniciarama viagem rumo ao Brasil, onde desembarcaram no porto doRio de Janeiro, em 08 de julho de 1862 8. Posteriormente, em19 de julho de 18629, a bordo de uma embarcação de nomedesconhecido, seguiram viagem rumo ao Sul do país, comdestino a Desterro (hoje Florianópolis), no Estado de SantaCatarina, junto a mais 128 colonos.

Ao chegar em Desterro, o casal foi destinado àColônia Santa Isabel, onde, assim que che gou, Johann KarlBeckhäuser comprou terras ao lado das de Miguel Kropp.Miguel Kropp era irmão de Maria Elisabeth Kropp. Mas, porque os dois irmãos compraram terras contíguas? Háalgumas hipóteses: Uma delas aponta para a possibilidadede Miguel Kropp ter vindo anteriormente para o Brasil eescrito para sua irmã, Maria Elisabeth Kropp, falando dasvantagens da emigração. Outra hipótese é a de que vieramjuntos para o Brasil devido à propaganda feita pelo governobrasileiro, de que aqui encontrariam terras férteis. A primeirahipótese é a mais plausível porque na lista dos imigrantes 10,em que consta Johann Karl Beckhäuser, não está inserido onome de Miguel Kropp, dos Schuchs. Mas é precisoempreender novas pesquisas.

Sobre a família Kropp, sabe -se que o pai de MariaElisabeth, João Karl Kropp, casado com Anna Katharina

8 Segundo Certidão de Nascim ento de Karl Eduard. Certificado por CópiaConforme do registro nas Atas do Estado -Civil n. 10. Rio de Janeiro, 11 dejulho de 1862 do Cônsul Geral da Bélgica, Edouard Pecher.9 Transcrição Peleográfica das Correspondências do Ministério daAgricultura para Presidente da província, do ano de 1861/1862, n. 50.APESC.10 Idem.

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Schwickert, em 05 de fevereiro de 1829 11, teve cinco filhos:1 – Anna Maria Dorothea Kropp – nascida a 15 de

novembro de 1829, faleceu em 10 de janeiro de 1846 12;2 – Maria Elisabeth Kropp – nascida a 20 de

setembro de 1834, casou-se em 31 de maio de 1855 comJohann Karl Beckhäuser – nascido a 09 de setembro de182613;

3 – Johann Michael Kropp – nascido a 24 defevereiro de 1838 e migrou para o Brasil 14;

4 – Maria Philippina Kropp – nascida a 15 deagosto de 184115;

5 – Katharina Kropp – nascida a 05 de maio de1846, casada com Joseph Franz, nascido em 05 de maio de184616.

Tudo indica que as vantagens alegadas para emigrarforam de tamanha força que superaram as vantagens depermanecer em solo alemão.

O casal de imigrantes Johann Karl e Maria Elisabethteve um filho durante a viagem para o Brasil, a bordo donavio Cesar. Trata-se de Karl Eduard Caesar Beckhäuser,nascido no dia 08 de julho de 1862; seu nascimento foiregistrado no Consulado Belga, Ri o de Janeiro, no dia 11 dejulho de 186217. Tudo indica que ele foi ali registrado, por ternascido a bordo de um navio de bandeira daquele país.

11 Livro das Famílias da Paróquia Sanct Jakobus, de Bierkenfeld,Alemanha. Registro n. 940, p. 194. APB.12 Idem.13 Idem.14 Idem.15 Idem.16 Idem.17 Conforme consta na respectiva Cert idão de Nascimento. Certificado porCópia Conforme do registro nas Atas do Estado -Civil n. 10. Rio deJaneiro, 11 de julho de 1862, do Cônsul Geral da Bélgica, EdouardPecher.

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Chegados ao Rio de Janeiro, foram encaminhadospela Diretoria das Terras Públicas e Colonização, doMinistério das Navegações, da Agricultura, Comércio eObras públicas para cidade de Desterro 18.

Quando do envio dos imigrantes, foi encaminhadoum comunicado ao Presidente da Província de SantaCatarina; no qual se fez constar:

“Nesta data seguem para essa Provínciacento e vinte e oito colonos, constantes darelação inclusa, os quais VossaExcelência fará estabelecer nas Colôniasdo Governo, a que derem preferência, econcedendo-lhes os mesmos favores aque outros se têm feito em casossemelhantes. Deus Guarde a Voss aExcelência, João Luiz Vieira, 19 de julhode 1862”19.

A Colônia Santa Isabel foi fundada em 1847 porimigrantes oriundos, em sua maioria, da região do Hunsrücke estava localizada a aproximadamente 50 quilômetros deDesterro, às margens do Caminho das Tr opas, que ligava oLitoral ao Planalto Serrano catarinense. Na época, aprodução agrícola da colônia era bastante diversificada:mandioca, milho, feijão, batata, algodão, café e cana.

Após 1850, com a Lei das Terras, não mais eramconcedidos gratuitamente os lotes de terras aos imigrantes.Eles tinham que adquiri -los por compra, com seus própriosrecursos. Johann Karl Beckhäuser adquiriu suas terras naregião de Taquaras, uma das linhas da Colônia SantaIsabel. Ali, teve que abrir clareira na mata virgem pa ra

18 Correspondências do Ministério da Agricultura para Presidência daProvíncia, do ano de 1861/1862. APESC.19 Idem.

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construir sua casa, onde passou a abrigar a sua esposa,suas duas filhas e o filho nascido a bordo do navio. Porsorte, as terras da colônia não apresentavam baixafertilidade. Todavia, nem por isso as coisas foram fáceispara a família Beckhäuser. Tudo dependia do trabalho, da fée da esperança de Johan e Maria Elisabeth, qualidades quenão os deixavam esmorecer diante das dificuldades.

Não se sabe a razão, mas provavelmente no final dadécada de 1860, Johann Karl migrou de Taquaras para oVale do Capivari, exatamente, para o Rio Sete.

Aos poucos, a família foi crescendo. Em 08 de julhode 1865, nasce Anna Maria e, em 1867, Guilhermina 20. Aotodo, agora eram cinco os filhos da família Beckhäuser, que,a considerar o natimorto, compôs -se da seguinte maneira:

1 – Karl Beckhäuser (este já havia falecido);2 – Philippine Beckhäuser;3 – Elizabeth Beckhäuser;4 – Eduard Caesar Beckhäuser;5 – Anna Maria Beckhäuser;6 – Guilhermina Beckhäuser.

Após o nascimento de Guilhermina, morre a mãeMaria Elisabeth, aos 34 anos de vida, vítima decomplicações no parto. Ela faleceu em data ignorada e omesmo se verifica com relação ao cemitério onde foisepultada.

Tudo indica que Maria Elisabeth era uma mulher demuita coragem, espírito de luta e abnegação. Somente seisanos foram suficientes para comunicar o seu projeto de vidanova aos seus diletos filhos, o qual foi legado posteriormenteaos netos, bisnetos, trinetos e tataranetos.

20 Guilhermina posteriormente teve o filho chamado Guilherme, nascidoem 13 de dezembro de 1893. Livro de Registro de Batismo da Paróquiade Teresópolis, n. 4, folha 64, Livro de 1888 a 1895. AHESC.

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Viúvo, novamente a fé de Johann Karl levou -o a nãoesmorecer com a perda da mão amiga de s ua esposa MariaElisabeth, sua grande incentivadora e companheira. Eleagora se via sozinho nos cuidados com sua família. Nemcom os filhos poderia dividir essa responsabilidade, vistoque a filha mais velha tinha apenas 11 anos de idade 21.

Johann Karl morava a doze lotes das terras dafamília Schug, cujo patriarca era Peter Schug. Este tambémhavia emigrado da Alemanha, juntamente com sua filhaMargareth Schug e mais outros familiares. Com a morte deMaria Elisabeth, Johann Karl veio a se casar com Margaret hSchug, com quem teve outros cinco filhos:

1 – Bernard Peter Beckhäuser;2 – Johann Peter Beckhäuser;3 – Peter Beckhäuser;4 – Johann Beckhäuser;5 – Heirinch Beckhäuser.

O casamento foi oficiado em local ignorado, assimcomo a data de sua realização.

Nada fácil para a jovem Margareth Schug, na épocacom 20 anos de idade; ela, de imediato passou a cuidar dascinco crianças deixadas por Maria Elisabeth. Esse númeroaumentava ao longo dos anos, à medida que nasciam osseus filhos com Johann Karl Beckhäuse r. O primeiro filhodesse novo casamento, Bernard Peter, nasceu em 08 deabril de 1870, o que reforça a suspeita de o casamento deJohann Karl e Margareth ter acontecido entre 1868 e 1869.

21 Esta situação veio a se repetir com Gabriel Carlos Beckhäuser, filho deKarl Eduard Caeser, neto de Johann Karl. Com o falecimento de CorinaMendonça, Gabriel se viu diante de seis filhos menores, sendo que a maisvelha possuía 13 anos de idade. E com a coragem e a fibra Bec khäuser,enfrentou a morte de sua amada Corina. E logo veio a se casar com MariaVieira Beckhäuser, que com muito amor e carinho passou a cuidar dosfilhos do primeiro casamento e a criar seus oito filhos.

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Uma década e meia depois, em 1885, falece oimigrante Johann Karl, aos 59 anos de idade22, deixandotodas as tarefas para Margareth. Desconhece -se o local deseu sepultamento, mas, provavelmente, tenha sido em RioSete, em São Bonifácio-SC, onde residiam. Com muita fé eamor a sua família, Margareth teve força para enfrent ar asduras penas da época e a tarefa de dar seguimento aocaminho traçado por Johann Karl para seus filhos.

Pouco tempo depois do falecimento de Johann Karl,Margareth veio a se casar com João Heikes, casamento quegerou a filha de nome Antônia Heikes, na scida no ano de188623, que, por sua vez, casou-se com Pedro Scheidt.

Margareth, a segunda esposa de Johann, nasceu naAlemanha em 1848 e veio a falecer no dia 02 de julho de1913, aos 65 anos de idade 24. Está sepultada no cemitérioluterano da comunidade do Alto Rio Sete, Município de SãoBonifácio-SC.

Os filhos da primeira esposa de Johann, agoratambém sem o pai, contavam apenas com a dedicação deMargareth, a madrasta, que procurava suprir a ausência deMaria Elizabeth. Verifica-se, no entanto, que houve umgrande afastamento dos filhos da primeira esposa dos dasegunda, bem como o afastamento de todos os filhos doprimeiro e do segundo casamento de Johann Karl, pordiscordarem do casamento de Margareth com João Heikes.Em conseqüência do afastamento físic o, passaram não maisa manter contatos e a família literalmente se dispersou.

Em certa ocasião, numa festa em São Martinho, KarlEduard Caesar Beckhäuser, um dos filhos do imigrante

22 Certidão de óbito de Margareth Schug: n. 46, f. 18, Livro n. 02-C, doCartório de Registro Civil de Águas Mornas -SC.23 Idem.24 Após busca no cartório de Águas Mornas, descobrimos que MargarethSchug faleceu no dia 02 de julho de 1913, foi enterrada no CemitérioProtestante em Auto Rio Sete, Município d e São Bonifácio-SC.

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Johann Karl, encontra uma pessoa de idade respeitável queteria vindo de Urubici, na serra catarinense. Apósconversarem, indagou aquele senhor: “sabes que tu és meuirmão?” Fato este relatado por muitos da família.

Com o passar do tempo, os filhos de Johannconstituíram suas próprias famílias :

Filhos da primeira esposa:1 – Philippine Beckhäuser – nascida a 09 de maio

de 1957, em Hambach, casada com João Batista May;2 – Elizabeth Beckhäuser – nascida a 27 de

setembro de 1859, casada com Christoph Schmoeller, seusegundo casamento foi com Bernard Schmoeller, o terceiro,em 25 de fevereiro de 1908, com Pedro Meurer na IgrejaMatriz de São Ludgero-SC;

3 – Karl Eduard Caesar Beckhäuser – nascido a 08de julho de 1862, em navio de bandeira Belga, casado comAnna Aurora Arns;

4 – Anna Maria – nascida em 08 de julho de 1865,casada com Bernardo Kühlkamp, foi para a região de SãoMartinho, Armazém e São Ludgero 25;

5 – Guilhermina Beckhäuser26;Filhos da segunda esposa:1 – Bernard Peter Beckhäuser; (nascido em 08 de

abril de 1870) casado com Bernardina Eyng permaneceu emSão Martinho27;

25 Registro de Batismo da paróquia de Teresópolis encontrei no livro1862-1876, fls. 29 n. 298. AHESC.26 Registro de Batismo da paróquia de Teresópolis, livro 1888 -1895, fls.64, n. 4. AHESC. Guilherme nasceu dia 13 de dezembro 1893; Pai: JoãoBaptista May e mãe Guilhermina Beckhäuser; avós maternos CarlosBeckhäuser e Maria Elisabeth Kropp.27 Registro de Batismo da paróquia de Teresópolis, livro 1888 -1898, fls.114, n. 118. AHESC.

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2 – Johann Peter Beckhäuser; (nasceu em 16 deagosto de 1871) residiu em Águas Mormas e dele nãotemos mais informações28.

3 – Peter Beckhäuser; (nascido em 16 de agosto de1871) casado com Joanna Schmoeller subiu a serra e foiresidir em Urubici-SC29;

4 – Johann Beckhäuser; (nascido em 18 de marçode1873) casado com Auguste Grunfeld seguiram o RioHipólito-Orleans e depois para Forquilhinha-SC30;

5 – Heinrich Beckhäusen – (nascido 09 de abril de1875) seguiu para Porto Alegre, passando a se assinarBeckhausen31.

A FAMÍLIA BECKHÄUSER ainda hoje está muitodispersa. Com a fé e a esperança de Johann Karl, levar -se-áa bom termo a união de todos.

Johann Karl não teria suportado a perda de suaamada Maria Elisabeth, se não tivesse o apoio de seucunhado Miguel Kropp e da família Schug, que, num gestode amor e carinho, abençoou o casamento de Margareth.

Quando Margareth faleceu, em 05 de junho de191332, já casada com João Heikes, deixou uma filha, denome Antônia Heikes, nascida no ano de 1886, com 27 anosde idade.

Há, no entanto, um fato a questionar: teria mesmoalguém testemunhado a morte de Johann Karl Beckhäuser?

28 Registro de Batismo da paróquia de Teresópolis, livr o 1876 fls. 81, n.60, n. 4. AHESC.29 Registro de Batismo da paróquia de Teresópolis, livro 1888 -1898, fls.117, n. 151. AHESC.30 Registro de Batismo da paróquia de Teresópolis, livro 1862 -1876, fls.99, n. 69. AHESC.31 Registro de Batismo da paróquia de Teresópolis, livro 1862-1876, fls.116, n. 17. AHESC.32 Registro de Óbito n. 46, f. 18, do livro n. 02 -C, do Cartório de RegistroCivil de Águas Mornas-SC.

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Há informações de que o mesmo havia desaparecido pormuitos anos juntamente com uns escravos. Ele carregariaconsigo muitas moedas de ouro. A pós muito tempo do seudesaparecimento, foi considerado morto e Margareth Schugresolveu se casar novamente em 1885.

São questões nunca antes cogitadas. Será queJohann Karl Beckhäuser separou -se de Margareth Schug ouele veio a falecer antes do segundo ca samento deMargareth Schug? A busca de informações continua.Embora, Mas acreditamos que os dados da certidão de óbitode Margareth sejam verdadeiros.

Por ironia do destino, com a morte de MargarethSchug, o ponto de apoio da família Beckhäuser passou a se rJoão Heikes, o segundo esposo de Margareth, motivando adispersão dos filhos Beckhäuser. Foi ele mesmo quemefetuou o registro de óbito, em cujo documento fez constarque a residência do casal era em Rio Sete, em SãoBonifácio, alegando também que Margar eth deixou bens apartilhar.

Em Taquaras, na Colônia Santa Isabel

Não é fácil explicar por que algumas pessoasabandonaram o seu lar, a sua pátria, para emigrar. Umarazão comum e, talvez até simples demais, é a busca poruma vida melhor. Já no Brasil, cada imigrante de posse desua terra, tratava de fazê-la produzir para não ter que sofrermais tarde com as privações deste novo mundo. E o árduoinício na mata virgem pode ser descrito assim:

“Enquanto as mulheres e as criançasficavam no acampamento, o s homenscom os filhos e as filhas mais crescidos

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iam para as suas propriedades a fim detorná-las habitáveis. Providos demachado, foice e facão, cada qual comsua carga de mantimentos às costas,marchavam mato adentro até os seusterrenos. Lá, construíam, primeiramente,um pequeno rancho para o qual o matofornecia tudo. Depois, ocupavam -se depreparar um pequeno pedaço de terrapara a plantação.Enquanto os filhos menores derrubavamos arbustos e pequenas árvores, os paispunham abaixo, a machadadas, osgigantes da floresta e as filhas cuidavamda cozinha.Nesse trabalho, gastavam semanas atéque um bom pedaço de mato estivessederrubado. A espingarda nunca ficavalonge da mão.Tão logo o mato derrubado estivesse secoe o tempo fosse favorável, queimava -se aroça. Era uma beleza ver como o fogolevantava labaredas até a copa das maisaltas árvores que haviam ficado de pé.Depois, escolhia-se um lugar próximo auma fonte d’água, o qual era limpo epreparado para se construir ali umacasinha, para toda a família.Buscavam-se moirões que eramenterrados e, depois, folhas apropriadasde uma espécie de palmeira, paracobertura. Logo após, faziam-se paredescom ripas amarradas com cipó, as quaiseram, então, cobertas com barroamassado. Em pouco tempo, a casinha

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estava pronta.O transporte, depois, dos móveis para aColônia não era tarefa fácil. Como ocaminho do acampamento para a Colôniaainda não havia sido construído, nãopassando de uma picada muito primitiva,não se podia pensar em transportar osnossos trastes em carroças ou em lombode burro. Tudo tinha que ser conduzidonas costas por várias horas.Enquanto a mãe levava os filhinhos nocolo, ou uma cesta com roupa de uso, asfilhas carregavam as roupas maiores oualguns baldes e panelas enfiados nobraço, o pai e o filho mais velho seguiamatrás carregando um pesado caixãoamarrado a um pau que levavam nosombros. Como tudo tinha que sertransportado dessa maneira para aColônia (lote), passava-se muito tempoaté que o último objeto estivesse em casa.E a família começava, então, a semear ea plantar verduras, cereais, preparando -separa enfrentar o futuro.Nos primeiros anos, certamente, as coisasnão iam às mil maravilhas; passava -semuita necessidade, mas depois dealgumas colheitas, tudo melhorava. Diaapós dia a clareira na mata virgem ia sealargando e tomando forma; cada vez seplantava mais e a fartura ia se acentuandoentre os moradores”33.

33 SCHAUFFLER H. (Org.). “Da vida de um alemão no Brasil. Crônica deMathias Schmitz”. In: Blumenau em Cadernos. Blumenau, Tomo VII. N.12, pp. 248-249.

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Em nova terra – Rio Sete

Na Colônia Santa Isabel, nas imediações dalocalidade de Taquaras, instalados em terras em que osacidentes geográficos abundavam e a fertilidade do solo eraaquém do esperado, alguns colonos ficaram completamentedesencorajados, fator que os levou a migrar para outrasterras dentro do Estado de Santa Catarina.

Johann Karl não pensou duas vezes e saiu em buscade novas terras, porém, de melhor qualidade, onde pudesseassentar definitivamente a sua família. Em comum acordocom sua esposa, passou a planejar a migração da ColôniaSanta Isabel, para Vale do Capivari, exatamente no Alto -RioSete, hoje município de São Bonifácio -SC. Lá, o casalencontrou terras consideradas mais férteis e de melhorescondições em relação às da região de Taquaras.

Mas, o destino lhe pregou mais uma peça: a perdade sua amada Maria Elisabeth. Isso dificultou a m igração daRegião de Taquaras para o Vale do Capivari. Se era algodifícil de se realizar com a ajuda de sua amada, agora, semela um turbilhão de problemas se projetava diante da famíliaBeckhäuser, quase sem solução.

Contudo, a garra do alemão Johann Kar l e a ajuda dafamília de Miguel Kropp, seu vizinho de lote na colônia, lhederam o apoio necessário para que um novo rumo fossedado em sua vida.

Muitos eram os questionamentos que o afligiam: “oque fazer com cinco crianças menores, uma recém -nascida,sem sua amada que o alentava nos momentos maisdifíceis?” Johann Karl Beckhäuser, sentindo a solidão e aresponsabilidade de criar estes cinco filhos menores em

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terras brasileiras, resolveu se casar novamente.A solução estava a 12 lotes de distância; lá, mo rava

a Família de Peter Schug, com uma numerosa prole. Suapreferida, sua eleita foi outra imigrante alemã, MargarethSchug, com 20 anos de idade. Embora considerada novaainda para receber tamanha responsabilidade de cuidar doscinco filhos do viúvo Johann Karl.

Após o casamento, ele iniciou outra migração, agorapara o Vale do Capivari. Com todas as dificuldades o novocasal começou tudo de novo. Em 1868, munido deespingarda, munição, facão e da determinação que herdarade seus ascendentes alemães, meteu -se mata-virgem adentro, abriu picada, atravessou o morro e, depois de algunsdias, encontrou entre as nascentes do Rio Cubatão e do rioCapivari um lugar que lhe lembrava Birkenfeld.

Lá, construiu uma pequena cabana coberta de palha.Era o Capivari do Meio, à margem direita. No entanto, nãose estabeleceu por ali imediatamente, teve que voltar parabuscar algumas ferramentas, como foice e machado, paraderrubar um pedaço daquela mata. Com sua coragem e féem Deus, mais uma vez, enfrentou sozinho aquela ma ta.Depois de queimar a roça, iniciou sua viagem de volta paraa nova casa, a pé, pela segunda vez. Num cargueiro deburro, trouxe sementes de milho, batata inglesa, feijão,mudas de aipim, sementes de laranja, de bergamota, depêssego e mudas de grama par a a pastagem dos animais.

Depois de tudo plantado, construiu uma cabanamaior, fabricou uma mesa, bancos e camas de madeirabruta e os cobriu com palmito rachado. Tudo estava prontopara a recepção da família.

Duas cestas de taquara, jacás, eram suficiente s paratransportar os pertences da família de Johann Karl: porbaixo, a louça e panelas; por cima, os cobertores,travesseiros e lençóis; e finalmente, por cima de tudo isso,Karl Eduard Caesar, Ana Maria e Guilhermina, todos

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pequenos. E seguiam, a pé com a nova mãe Margareth, eas duas outras filhas, Philippine e Elisabeth. Colocados osjacás no lombo de um burro, lá se foram o pai, Johann Karl ea mãe Margareth com os filhos, a pé, mata adentro, pelapicada aberta pelo facão do pioneiro de garra.

Sem medo dos bugres e animais selvagens,dormiram duas noites em plena mata virgem, a céu aberto.

Na época, a mata-virgem era rica em caça: pacas,tatus, veados, jacupembas, jacus, macucos; em pesca e,também, frutos do mato: o coração do palmito substituía asverduras. A carne fresca excedente era transformada emcarne seca, o charque selvagem. Tudo isso era saboreadocom o feijão, a batatinha e o aipim plantados pelo precavidopai Johann Karl.

Não estava ainda completa a mudança. Desta vez,carregou o burro com dois porquinhos, galinhas, mudas decafé e de uvas e conduziu uma vaquinha.

Nada mais faltava agora à família unida no Vale doCapivari, rodeada de bugres, animais selvagens, mas deoutro lado, da bela natureza. Tudo isso debaixo do céu azul,à noite, iluminado pelas estrelas cintilantes do Cruzeiro doSul.

Como vimos, no Vale do Capivari, o novo casalJohann Karl e Margareth teve cinco filhos, a saber: 1 –Bernard Peter; 2 – Johann Peter; 3 Peter; 4 – Johann; e 5 –Henry.

Esta foi a saga de Johann Karl Beck häuser.

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ALFREDO DA SILVA

Natural de Rio da Prata, Anitápolis -SC, com 1º e 2º graus a partirda terra natal, passando por Criciúma, Tubarão e Lages, onde concluiu naEscola Técnica de Comércio de Lages o curso de Técnico emContabilidade iniciado na Escola Sena Pereira, Estreito, Florianópolis,quando servia o Exército Brasileiro, no 14º BC, o 63º BI. 3º grau, Bacharele Licenciado em História . Posteriormente, Bacharel em Direito e PÓS -GRADUAÇÃO, com Mestrado, pela Universidade Federal de SantaCatarina. Exerceu também as profissões de comerciário, radialista comolocutor e rádio ator (Rádio Tuba , de Tubarão, Rádio Diário da Manhã deLages e de Florianópolis, Rádio Guarujá de Florianópolis, além dacolaboração na antiga Rádio Anita Garibaldi e Rád io Jornal a Verdadetambém de Florianópolis).

Professor da Escola Técnica Sena Pereira, Instituto Estadual deEducação, Escola Técnica Federal de Santa Catarina, FundaçãoEducacional do sul do Estado, originária da UNISUL e da UniversidadeFederal de Santa Catarina, nas cadeiras de História e de Sociologia. Foitambém assessor do Conselho Estadual de Educação no governo doilustre e conceituado político, Antônio Carlos Konder Reis.

Atualmente membro da Associação de Imprensa de SantaCatarina, Academia de Letras de Biguaçu, Cadeira Dom Jaime de BarrosCâmara, Presidente do Clube dos 100, Coqueiros, Florianópolis -SC eadvogado militante na grande Florianópolis, com escritório em Biguaçu -SC.

Acadêmico: Alfredo da SilvaCadeira nº: 36Posse: 14-05-1998Título: Escritor / AdvogadoCurrículo: SimEndereço: Praça Nereu Ramos, n....., Centro, Bi guaçu-SCCEP: 88160-000Fone: Não informadoE-mail/Site: www.advocaciaassociada.com.br/alfredoPatrono: Dom Jaime de Barros CâmaraTítulo: Orador

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OS DOIS MUNDOS DE MARIA-NAIR

“Gostaria de ressaltar que não existeapenas uma vida interior, mas várias, àmedida que retornamos no tempo (...).Para Nietzsche, o conceito derenascimento é um ponto de mu taçãona história da humanidade. (...) .Recordações de vidas anteriores ereencarnação, ainda não são encaradascom naturalidade para nossa concepçãodo mundo. A partir de suas experiênciasde regressão com pacientes voluntários,(...) busca-se comprovação experimentalda doutrina da reencarnação (...)responde as exigências de fundamentoe de comprovação científica” 34.

________________

PLURARIDADE DAS EXISTÊNCIAS.I REENCARNAÇÃO (...)

34 A Regressão a Vidas Passadas Como Método de Cura – AComprovação Experimental da Teoria da Reencarnação . THORWALDDETHLEFSEN, Psicólogo diplomado pela Universidade de Munique .Editora Pensamento, São Paulo, 1976.

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“Em cada nova existência o espírito dáUM PASSO NO C AMINHO DOPROGRESSO: Quando se tenhadespojado – de todas as imperfeiçõesnão mais necessitará de novas asprovas na vida corporal (...)reencarnação”35.

Os Dois Mundos de Maria -Nair, tem a finalidadede revelar parte de suas relações vividas durante a su aestada aqui na terra, no período de 1913 a 2007, queintitulamos como o PRIMEIRO MUNDO e informaçõesextraídas através dela, nas sessões realizadas comamigos e momentos outros em que como médiumrevelava acontecimentos de suas VIDAS PASSADAS ede juntamente com outras pessoas com as quais teverelacionamentos que intitulamos O SEGUNDOMUNDO.

Entretanto, ressalta-se que quaisquer nomes,personalidades ou locais aqui mencionados, secoincidirem com os realmente existentes ou tenhamexistido, são mera coincidência.

Vale lembrar aqui, o grande literato HUMBERTODE CAMPOS, que após a sua partida para o “outromundo”, como espírito, passou a aproveitar amediunidade de FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER,escrevendo crônicas e assuntos importantes quedespertou a curios idade pública e também certodesconforto e ambição por parte de seus familiares,

35 Cap. IV do Livro dos Espíritos de Allan Kardec, pseudônimo de DenizarHipplyte Leon Rivail, página 83, obra, “Allan Kardec – O Caminho daVerdade”. Opus Editora Ltda. São Paulo.

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ainda vivos, que moveram uma ação em juízo paraapurar os fatos, tendo como réus, A Federação EspíritaBrasileira que publicava e o Chico Xavier que era ointermediário. “Produções do médio (...), referentes aoespírito de Humberto de Campos, foram publicadas em‘Reformador’, órgão da federação e a parti r de 1937,reunidas em volumes”36.

Voltemos aos Dois Mundos de Maria -Nair.Portanto, em aproximadamente mil novecentos e

treze, um casal do Império Germânico, resolve deixar aAlemanha onde residia, e vir para o Brasil tendo -sefixado provisoriamente em Campo Alegre, SantaCatarina, cuja paisagem fertilizada e pela natureza,com suas cascatas e pinheirais até hoje são o encantode seus habitantes e visitantes, juntamente com seusfilhos, um menino de quatro anos e uma menina de umano, que chamaremos de Valquíria, comparando -a comas “Valquírias” deusas germânicas que protegiam osrios e as florestas, por ter também seus lindos ol hosazuis e cabelos loiros, sedosos como os cabelos demilho-verde, menina esta que é a PERSONAGEMdeste conto. O pai biológico, engenheiro da Estrada deFerro São Paulo-Rio Grande, que aqui permaneceupouco tempo, pois foi vitimado por uma das araucáriasque derrubava para abrir a estrada, falecendoimediatamente. A mãe também teve vida curta,deprimida com a morte do marido não suportou osencargos que exigia a nova terra em que estavavivendo, desprovida de um apoio e assistência social,

36 A Psicografia Ante os Tribunais , de MIGUEL TIMPONI, FederaçãoEspírita Brasileira, 4ª. Ed., Rio de Janeiro, pág. 33.

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também faleceu e pela sombra dos pinheiros do alto daserra Dona Francisca, seguiu o mesmo destino de seuamado. Coube ao Juiz de Direito da Comarca,pertencente a notável família do Rio de Janeiro,magistrado em São Bento do Sul, dar destino aos doismenores. Homem portador de muita bondade resolveuficar com o menino levando -o como filho no seu retornopara Guanabara, menino esse que se tornou médico ecomo alemão legítimo, por incrível que pareça, tornou -se expedicionário brasileiro, servindo no corpo médicoda Força Expedicionária Brasileira (FEB), na luta contraos alemães na Segunda Guerra Mundial. A menina,Maria-Nair, também foi criada como filha legítima porum casal de Florianópolis, que em São Bento do Sul,estava como visitante de parentes que eram amigos domagistrado. Deram-lhe todo o carinho, assistência,educação em instituição de grande conceito na CapitalCatarinense, formando-se normalista e chegou a atuarcomo professora e depois foi funcionária pública federalaté a aposentadoria. Faleceu em dois mil e s ete comnoventa e quatro anos de idade, como brasileiralegítima, filha de descendentes de açorianos, tendocomo pai, alto funcionário público federal e homemmuito conceituado, que tinha como recreação apescaria, liderava e ajudava muitos pescadores dolitoral, embora fosse amigo do Capitão dos Postos. Amãe, embora do lar, tinha além do pai uma parentelamilitar com elevados postos e trabalhos de grandereconhecimento na História do Brasil. Dentre eles oGeneral Liberato Bittencourt.

Este O PRIMEIRO MUNDO DE MARIA-NAIR,que ainda faremos referências no prosseguimento.

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Agora com a permissão dos senhores leitores,este conto prossegue, destacando várias passagensmarcantes do SEGUNDO MUNDO DE MARIA -NAIR.

Para não contrariar ninguém, procuremosprimeiramente a salvação no ECUMENISMO do PapaJoão XXIII, com todo o respeito à infinidade dereligiões.

É onde encontramos agasalho para justificar OSDOIS MUNDOS DE MARIA -NAIR, consolidado nafilosofia e na metodologia científica do Espiritismo,codificado por Allan Kardec no séc. XIX e tambémnuma das áreas teóricas e práticas da Psicologia queenvolve o princípio da reencarnação. Foi por intermédiode nossa personagem, que era MÉDIUM de alto graude sensitividade e de pessoas de seu relacionamento,que temos informações de seu segundo mundo. Écomo se estivesse predestinado, um casal, sem filhos,vivendo na ilha de Santa Catarina, naquela data,resolvesse passar alguns dias, com familiares quemoravam em São Bento do Sul, para encontrar a filhaque já lhes havia per tencido em vidas passadas,noutras partes do mundo. Na Arábia, por exemplo, opai, cheique do deserto, com grande poder deliderança. A que passou a ser sua mãe também foranum grupo de ciganos, na Espanha ela, desde meninafoi à atração do grupo, como bai larina e deleitava opovo pelos lugares e países por onde passava o “grupogitano”. Na Espanha, um de seus elementos vendeuum anel de jade para Don Pablito, senhor feudal, comgrande propriedade que cultivava azeitonas e nossapersonagem, a menina bailari na tentou recuperar a jóiaque era de sua mãe, foi perseguida por bravos

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cachorros da fazenda que lhe danificaram uma daspernas, não mais podendo dançar.

Esse que na época era o Grande Senhor FeudalEspanhol e exportador de olivas que produzia para ocontinente europeu, aqui, no primeiro mundo, tambémveio encontrá-la e por ela e sua mãe agasalhado emseu próprio lar onde juntos viveram por muitos anos.Essa mesma pessoa, num grupo cigano em vidapassada, havia sido neto da velha cigana chamadaGiovana, que quando neste primeiro mundo de Maria -Nair, imediatamente convidou -o para morar com elas,mãe e filha, deixando-lhe a disposição em quarto dehóspedes e doravante tratando -o como se ainda lhefosse o “neto do passado”.

E nesse lar, através da mediunidade de Maria-Nair, é que foi despertado para a Fé em NossaSenhora de Guadalupe, pelo guia dela, Francisco deAssis, espírito de um frade franciscano, que foimissionário no México e nos Estados Unidos daAmérica do Norte e toma conhecimento da existênciade uma gruta em homenagem a Nossa Senhora deGuadalupe, doada pela família Reitz, à Paróquia deBiguaçu inaugurada em 1995 e até hoje visitada pelosfiéis.

A mesma pessoa, que por muitos anos tambémdivulgou a Fé a “VIGENCITA DE GUADALUPE”, comodizia o Frei Franciscano, já mencionado, através daantiga Rádio Diário da Manhã, – na hora do ângelus –às 18 horas de cada dia que provavelmente, alguns dosleitores ainda tenham recordações. Por sua casatambém passou conhecido de vida passada na Rússiaonde ela (nossa personagem), era a Princesa Olga, um

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cidadão que também pertencia aos meios decomunicação, mais que lá, por ela havia seapaixonado, como oficial integrante das forças do Tzar,mas foi banido pelo comandante geral “Korsako”, quedela também gostava.

E o antigo Senhor Feudal, já mencionado,naquela época, na Rússia e junto dela, também estavanaquela encarnação, mas como um humilde “mojique”,serviçal plantador de trigo sofrendo as conseqüênciasde um “terceiro mundo”, como até hoje acontece. Aestória de Maria-Nair também revela que uma de suasvidas passadas ela chegou a ser heroína da HistóriaUniversal como Izabel de Castela que por união políticacasou com Fernando de Aragão. Foi rainha daEspanha e destacou-se na luta pela expulsão dosmouros, união do território espanhol e influente nadescoberta e colonização do Novo Mundo.

E quem ela veio encontrar também neste seuprimeiro mundo, aqui, Ilha de Santa Catarina, o próprioFernando, que segundo informações, por ela seapaixonou, pedindo-a até em casamento, o que por elasempre foi negado, pois revelava que sua missão eradar assistência a seus pais.

A sua estória do SEGUNDO MUNDO ainda émuito longa. Como também, natural da China chegou aser mulher de um embaixador francês, voltou para aespiritualidade ainda muito jovem. Dessa passagemnão temos informações mais detalhadas. Tem outroacontecimento muito importante de outra vida que elateve nos Estados Unidos da América do Norte, épocada colonização e desbravamento do oeste, como filhade um Pastor Evangélico, que com sua família resolveu

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dar assistência aos colonizadores. Em viagem para ooeste foi trucidada por um grupo hostil de índios pele -vermelha, sendo a única que se salvou, escondidadebaixo do carroção. Por ali passando um grupo deguerreiros de outra tribo levou -a e a criou até aadolescência. Mais tarde a entregaram para outropastor que a levou para o México confiando -a a umafamília mexicana, para lhe dar continuidade na vidacivilizada. Entretanto, no norte, deixou umacomunidade indígena que a amava e que já lhe haviatransmitido grande parte de sua cultura, saindo de lácomo pele-vermelha loura para o mundo dos astecas.

Já no México, ela retornou em outra vida, comofilha de um casamento misto. Mãe asteca e pai pele -vermelha, que possuíam uma fazenda na Serra Madrechamava-se Manolita. Mas sofria muito, quando desciaao povoado, e certa vez que chegou até a serapredejada, perseguida pelo fato de ser mestiça.Juntamente com a família foi chacinada por um grupode bandoleiros que atacou a fazenda. Sua mãe só tevetempo de enrolar seu irmãozinho menor em umcobertor, descer até a divisa da fazenda e escondê -lodebaixo de um cacto gigante, retornando para lutar emorrer com os demais familiares e peões.

Os bandoleiros procuraram o tes ouro da SerraMadre, segundo deduções até hoje ainda nãoencontrado.

O Frei Francisco, já mencionado, que por alipassava retornando de uma missão, encontrou omenino e o levou para um convento onde foi criado poruma freira a Madre de Las Dolores, batiz ado com onome de Miguelito, que aos cinco anos de idade era o

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encanto de todos, com seus cabelos negros e cor dosolhos coberto por um sombreiro aparecendo somente àcosteleta e as franjas. Era o maior tocador dos sinos dacapela. Determinado dia, quando o frei voltava dasmissões, encontrou o menino já moribundo que deusua despedida, com apenas dez anos de idadeperdendo o frei, temporariamente, o filho que achou ecriou, pois também morreu, depois de catequizar váriastribos de índios pele-vermelha, e vários índios e peõesoriginários dos astecas, dando assistência religiosa emgrande parte do território mexicano, que envolviatambém grande parte dos Estados Unidos. Magro,cansado, hábito marrom surrado, pisando sobreespinhos, partiu apenas com trinta e oito anos de idade,com expressão radiante longo e negro bigode e olharespenetrantes e na espiritualidade Miguelito já estava lheesperando.

Neste segundo mundo de Maria -Nair, este, comoespírito, foi o frei da Ordem dos Frades Menores(OFM), natural do México, mais que aqui no primeiromundo de Maria-Nair chegou e permaneceu como seuguia e protetor até o seu desencarne em meados dedois mil e sete e através de sua mediunidade, durantemais de meio século, muita caridade praticou, de ordemmoral e espiritual, sempre no anonimato, sendo esta aprimeira vez que se toma a liberdade de revelar quenessa missão arrebanhou e trouxe consigo enormefalange de outros frades desencarnados, irmãos daOrdem Terceira, índios pele -vermelha, astecas, incas,guaranis e tupinambás, espanhóis, ciganos,portugueses, brasileiros de todos os níveis nas escalassociais quando viventes na terra. Ainda crianças, ex -

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escravos africanos, hindus, árabes, que poderíamosaté revelar seus nomes e não e não o fazemos por umaquestão de ética.

A Maria-Nair tinha sempre ao seu lado o meninoda Serra Madre, com seus cabelos negros e seusombreiro colorido, acompanhado do Frei Francisco,que nas doutrinas que proferia e em todas as vezesque reunia suas falanges espirituais, e através deMaria-Nair evocava Jesus, Nossa Senhora deGuadalupe, (Vigencita de Guadalupe) como dizia noseu suave e cantante espanhol mexicano. Semesquecer também de São Francisco de Assis.

O encanto de Maria-Nair, em vida, neste seuPRIMEIRO MUNDO era visitar a grut a de NossaSenhora de Guadalupe, na estrada Biguaçu - AntônioCarlos já mencionada, nesta paróquia de São JoãoEvangelista, que na literatura espírita encarnou noséculo XIII na Família Bernardone , na Itália, e pelo seutrabalho cristão tão reconhecido tor nou-se SãoFrancisco de Assis pela Igreja Católica ApostólicaRomana.

Neste seu PRIMEIRO MUNDO – em doisséculos, XX e XXI – Maria-Nair não constituiu família ese dedicou à caridade.

Voltando para o Segundo Mundo e reencontroua sua família espiritual.

TODOS NÓS TEMOS DOIS MUNDOS COMOOS DE MARIA-NAIR. UM QUE VOLTA A SE ABRIRQUANDO CHEGAMOS... OUTRO QUE VOLTAMOS AREVER NA HORA DE PARTIR.

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VINDO DA ALEMANHA AINDA MENINA . ELAAQUI CHEGOU COM A BELEZA LOIRA DAS“VALQUÍRIAS”. E O NINHO QUE ENCONTROU N AILHA DO DESTERRO. FOI UM BERÇO PORTUGUÊSDE “ALÉM-MAR”.

A GERMANIA DESAPARECEU...FAMÍLIA É A QUE CRIAEM REGRESSÃO ESPIRITUALTEVE MUITO A NAVEGAR.PALMILHOU CONTINENTES JÁ VIVIDOSMUITOS JARDINS... COM MUITA FLOR

Foi cigana, índia, princesa, r ainha,chinesinha, esposa de embaixadorDistribuiu muito amor.E aqui e agora com mais de noventaAcabou sozinha.Para o seu outro mundonão partiu... quis voltarDeixou muita gente chorandoa professora que tanto ensinou a amar

tanto no mundo de láquanto no mundo de cá

BRILHA COMO ESTRELA DO MAR!

ALZIRA MARIA SILVA DOS SANTOS

Alzira Maria da Silva dos Santos nasceu aos 05 de julho de 1950.Filha de Oscar Silva e Nair Bunn Silva é natural do Município de

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Biguaçu/SC, onde cresceu, estudou e viveu a maior parte da sua vida.Formou-se normalista em 1970 no Colégio Normal Professora Maria daGlória Veríssimo de Faria. Gosta de crianças, de flores, do mar e deescrever poesias.

Alzira descobriu a afinidade pelas letras quando, em Joinvile,onde atuou três anos como professora, fez duas paródias das músicas“Lencinho” e “Jardineira” para apresentação das crianças, emcomemoração ao aniversário daquela cidade. Em 1999, em Biguaçu,olhava a neblina, ou serração que vem do rio -mar conforme dizem,através da janela da cozinha de sua casa, inspirou -se, pegou umguardanapo e uma caneta e escreveu um dos seus primeiros poemas,intitulado “Nebliguá”. Nunca mais parou de escrever. Quando a inspiraçãoabre as portas, saem de seu coração lindos poemas, em su a grandemaioria, enfatizando a terra natal, seus lugares, sua natureza. Alzira tem,em muitas de suas poesias, o desafio de chamar a atenção para a defesado meio ambiente, e também o valor cultural da cidade que nasceu.Também chama atenção para o cuidad o com as nossas crianças, ofolclore, entre outros temas. E assim, de verso em verso, Alzira vaidescrevendo seus costumes, seu povo, sua preocupação com o mundo.

Acadêmica: Alzira Maria Silva dos SantosNascimento: Não informadoCadeira nº: 29Posse: 14-05-2008Título: PoetisaEndereço: Rua Justino Adalberto Leal, 57, Biguaçu -SCCEP: 88160-000Fone: (48) 3243-4170E-mail/Site: Não informadoPatrono/Patronesse: Maura da Senna PereiraTítulo: Poetisa

Nebliguá

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Oh! Neblina geladaÉ fácil te encararPorque só descortinasAqui no nosso lugar.

Começas no Morro da BinaE no Centro resolves pairarPois ao chegar na Praia de BaixoO sol já começa a brilhar.

O povo já te conheceCerração que vem do rio -marSabemos no dia seguinteQue o sol é de rachar.

Vens chegando de madrugadaQuando o povo já foi se acomodarE ao sairmos cedinhoTu vens livre e baixinhaQuerendo nos congelar.

Neblina de nosso invernoGaroa ou cerraçãoFaz parte da naturezaÉs própria dessa estação.

Gostamos como tu ésCausando-nos muita atraçãoPorque os nativos daquiTe admiram com emoção.

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Biguaçu

Quando falo de BiguaçuAlgo forte bate em meu peito

Defendo tudo que tens de bomPois para mim não tens defeito.

Tens um clima especialPropício para hortaliçasAs frutas são saborosas

E as flores são belíssimas.

Em Biguaçu a natureza se esbaldaCom rios, cachoeiras e o mar

Ainda tem floresta nativaE montanhas verdejantes sem par.

O povo de Biguaçu é hospitaleiroÉ solidário na alegria e na dor

Ampara pessoas cada uma do seu jeitoDesde o humilde até o doutor.

Biguaçu parece pequenoAí que estamos enganados

É grande por naturezaE de gente boa está habitado.

Grandes enchentes alagavam a cidadePara sair de casa só de bateira

Certa vez uma embarcação lotadaQuase morreu uma família int eira.

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Tinha uma ponte toda de ferroCartão postal do nosso lugar

Embaixo dela as tocas de peixesQue os homens pescavam prá se sustentar.

Que saudades das tropas de boisDas carroças e das ciganadasAs crianças corriam atrás deles

E dos cavaleiros levavam relhadas.

O grupo escolar José BrasilícioEste era igual nosso lar

Estudávamos com entusiasmosLá aprendemos ler, escrever e amar.

Na praça havia grandiosas festasCom touradas, parques e barraquinhasOs alto-falantes mandavam mensagens

Para namoradas, amigas e vizinhas.

Ah! O cinema foi demolidoA Alameda deu lugar ao progressoO clube 17 de maio pede socorro

Mas para o BAC ainda temos ingresso.

Biguaçu tem muita históriaE também bastante cultura

Parabéns aos que aqui trabalharamCom sabedoria e muita bravura.

Duas características fortes tu tens

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Os Biguás e a gelada cerraçãoComo os dois são obras de Deus

Agradecemos em oração.

Biguaçu tem uma BandeiraCom orgulho te hasteamos

Para defender este chão queridoDo município que tanto amamos.

O padroeiro de BiguaçuÉ São João EvangelistaInterceda por todos nós

No progresso e nas conquistas.

CESAR LUIZ PASOLD

Advogado, Professor e Escritor. Membro das: Academiade Letras de Biguaçu; Academia de Letras de Palhoça; e,Academia Desterrense de Letras.

Acadêmico: César Luiz PasoldCadeira nº: 24Posse: 25-06-2004Título: Escritor / AdvogadoEndereço: Caixa Postal 223, Imbituba -SCCEP: 88780-000Fone: Não informadoE-mail/Site: [email protected] / www.advocaciapasold.com.brPatrono: Paschoal Apóstolo PitsicaTítulo: Escritor

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CONTANDO COM UM CONTO

Ajeitado, preguiçosamente, na cadeira debalanço cujo respaldar era um trançado branco e noassento havia uma almofada puída, Maurício olhou aponta do cigarro apagado, respirou bem fundo e, emseguida, começou a falar manso.

...Era dia três.De dezembro.De um mil e novecentos e trinta e dois, eu acho.Marisa azucrinava o marido, reclamando da sua

inércia, comodismo, preguiça e falta de ambição.As duas figuras eram, fisicamente, muito

diferentes.Ela, 25 anos, corpo farto, rosto redondo e lindo

como de uma boneca gorda de porcelana, cabeloscastanhos escuros contribuin do para ressaltar os olhosazuis claros, e sempre vestida com roupas que exibiampelo menos três cores fortes diversas. Do lar, as suasprendas principais eram coser e cozinhar.

Da primeira, o destaque era a habilidade emrecuperar roupas rasgadas de uma forma praticamenteperfeita, tanto que somente um olhar muito concentradoe previamente informado se tornava capaz deidentificar o local do dano antes existente no tecido.

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Na cozinha os seus pratos famosos entre osparentes, vizinhos e amigos eram a galin ha ao molhopardo, o bife à milanesa (feito com alcatra por elaescolhida pessoalmente no açougue do Ari) e omacarrão ao sugo, cuja massa compunha com especialmaestria, e cujo molho era de tomate ao natural, bempicado e bem cozido.

Ele, o marido, tinha corpo franzino, massurpreendentemente dotado de força e vigor, cotovelosexageradamente ossudos, rosto pálido e muito vincadopara um homem de 30 anos, cujo cabelo pretocorrespondia rigorosamente à cor de seus olhos.

A sua atividade profissional era a d e mascate,vendendo sal e farinha de mandioca para as biroscasde toda a região, na qual era conhecido como JonasMagro.

Pois, a bronca de Marisa naquela noite eracantilena repetida: afinal faltavam só treze contos parao total necessário à compra do t erreno na esquina darua Colombo com a Praça Independência, bem nocentro da vila.

Comprada a terra, o pai de Marisa, comerciantepróspero, com promessa já feita e expressa mais deuma vez, daria o dinheiro para a construção da casaprópria.

O marido respondeu, berrando como semprequando nervoso, que não queria esmola do sogro.

A conversa morreu ali.Deitaram-se amuados, em posições ressentidas,

um em cada canto da cama de casal.

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Na madrugada, Marisa acordou, confirmou osono profundo do marido pelo ress onar contínuo erítmico e levantou-se, mesmo assim, cautelosa.

Puxou, vagarosa e o mais silenciosamentepossível, o bauzinho que estava debaixo da cama e,perto da janela, sob a luz da lua cheia contou odinheiro.

Não acreditou!Eram já cento e vinte e nove contos de réis!

Faltava apenas um conto!Recontou e confirmou: o marido não lhe havia

dito – porque ela não lhe dera chance - que ganharamais dinheiro e o que faltava, agora, era muito pouco:apenas um conto... repetiu mentalmente.

Voltou à cama, acordou suavemente o marido efez, com ele, um ato de amor ardente e completo, comonunca dantes nos oito anos de casados, haviamconsumado.

Readormeceram nus, de mãos entrecruzadas,corpos suados e unidos, no centro da cama de casal.

De manhã, Violeta acordou sentindo a sensaçãoestranha de algo muito frio e rígido colado a seu corpo:o marido estava morto... o coração dele havia paradosubitamente!

Já no enterro, o pai de Marisa, informado da faltade apenas um conto, prometeu o valor e reafirmou aconstrução da casa.

Terreno comprado. Casa construída. Marisa,viúva e grávida. O menino nasceu, cresceu, tornou -se adulto.

Marisa faleceu, sempre viúva, com 60 anos.

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O terreno foi negociado pelo solteirão, único filhoe herdeiro de Marisa, em troca de apartamentos nafutura construção.

...Amassando enfim, no cinzeiro, com a mão

esquerda, aquele cigarro apagado, enquanto que commão direita raspava uma pequena lágrima, Maurícioconcluiu:

– É por isso, Mimi, que tenho estes trêsapartamentos neste majestoso edifício, egraças ao aluguel que recebo em doisdeles eu me mantenho em velhice serena,ainda que simples. É por isso, também,que este edifício se chama CondomínioUm Conto de Réis.

...Mimi, a gata, tendo cessado o ronronar

habitualmente incompreensível de seu dono, levantou -se lânguida e calmamente foi perseguir a barata queestava procurando esconder -se sob o armário da salade estar.

DULCINÉIA FRANCISCA BECKHÄUSER

Data Nascimento: 11 de agosto de 1947 . Filiação: ManoelInocêncio Martins e Albertina Francisca Martins . Estado Civil: Casada.Naturalidade: Florianópolis -SC. Nacionalidade: Brasileira . Profissão:Professora.

Funções Exercidas : – Gerente de Tecnologias Educacionais noperíodo de 1995 a 1988. – Diretora de Tecnologia Educacional . – Gerentede Pesquisa e Inovação da Diretoria do Ensino Superior. Gerente do

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Ensino Superior. – Secretária da Associação da Praia Brava (período2000 a 2002). – Secretária do PMDB / mulher Florianópolis . – Presidentedo PMDB / mulher Florianópolis (durant e 3 mandatos). – Secretária doPMDB / mulher – Estadual (durante 2 mandatos) . – Delegada do mesmopartido PMDB (durante 6 mandatos) . – Presidente do Conselho deSegurança nas seguintes localidades: Jardim Santa Mônica – Parque SãoJorge – Córrego Grande – Jardim Anchieta – Pantanal – Trindade. –Diretora do Colégio Estadual Lauro M üller (cargo eletivo) em 1985. –Reeleita Diretora do Colégio acima citado em 1990 com 99% da votação.– Atualmente desenvolve Trabalho Voluntário na Comunidade – InstitutoLagoa Social – Idosos. Jardim Santa Mônica – Diretora Social eComunitária do Conselho de Segurança. – Atualmente exerce a função deSecretária do Jardim Santa Mônica e membro do Conselho Diretor domesmo.

Formação - Magistério: – Licenciada em Letras: Português ,Literatura Portuguesa e Brasileira, Francês, Literatura Francesa.

Curso de Especialização: – Comunicação e ExpressãoPortuguês Francês – UFSC. – Mestrado em Metodologia do Ensino naBélgica – 1983 a 1985. – Cours de Langue Française Heures – UniversiteCatholique de Belgique – Institut des Langue Vivante – Belgique (Bélgica).– Lecionou 18 anos Francês – Português, 1º e 2º Grau. – LiteraturaFrancesa e Portuguesa. – Cursou Escola de Governo e Cidadania duranteum ano – Total de horas aulas e trabalhos com defesa, 148hs, 2003.

Cursos de formação continuado: – Seminário Estadual sobreSegurança Pública – julho 2003. – Proposta Curricular do Estado deSanta Catarina. – Tecnologias Educacionais. – Curso de GestãoEducacional e Gerencial. – Curso Qualidade Tota l na Educação. – ArtistaPlástica.

Acadêmica: Dulcinéia Francisca BeckhäuserNascimento: 11/08/1947Cadeira nº: 33Posse: 14-05-2008Título: Escritora / Artista Plástica / ProfessoraEndereço: Rua Tenente Silveira, 200, Ed. Atlas, Sala 405, Centro,Florianópolis-SCCEP: 88010-300Fone: (48) 3222-7781E-mail/Site: [email protected]: Oswaldo Rodrigues CabralTítulo: Historiador

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Mulher, sexo frágil?

Sabemos que dia 08 de março foi escolhid o paraser o Dia Internacional da Mulher porque nessa dataem 1857, quando as mulheres já trabalhavam nasfábricas de tecido houve em uma fábrica de Nova Yorkuma greve de mulheres.

A primeira greve de mulheres do mundoreivindicava as condições de trabalh o e salários, serecusavam a trabalhar, ficando dentro da fábrica.

Os patrões vendo que não era possível expuls á-las não tiveram dúvidas, mandaram incendiar o prédioqueimando-as vivas.

Depois de sofrerem durante séculos a condiçõesde escravas dos homens. As mulheres do século XXpassaram a conquistar o seu espaço na sociedade,equiparando-se ao homem. É evidente que sempreouve famílias onde há muitos homens que tratam suamulher como companheira, com amor, consideração erespeito, pois toda regra sempre há exceções. Masgrande parte a situação da mulher era submissão aohomem. Após a Segunda Grande Guerra, a mulherconseguiu sua emancipação e hoje as mulheresocupam os mais importantes cargos na indústria,comércio, empresa, na administração pública. Até nasforças armadas a mulher está ocupando seu espaço.Já na política em pleno século XXI a mulher deveria terseu espaço com maior conotação. Sim porque somos amaioria e ainda temos apenas cotas para as mulherespoderem ser candidatas, mulheres no mundo i nteiro

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entusiasmaram, aplaudiram e no fundo, ficaram umtanto orgulhosas com a posse recente da chilenaMichelle Bachelet e a da alemã Ângela Merkel no postomáximo do poder político em seus países. No Brasil onúmero de representantes na política é muito pouco.Haja vista o número de representantes no país, estadose municípios. Porém do ponto de vista dos eleitores asituação é diferente. Estudos realizados em váriospaíses mostram que o eleitorado acredita que políticossão mais éticos do que políticas. Mas isso em tese.Porque na teoria a situação é outra. Nós mulheresainda votamos em políticos. Sejamos corajosos vamoseleger mulher para poder termos nosso lugar na políticabrasileira, (poder nas mãos femininas) no campocultural a situação é animadora, pois um númerobastante expressivo de mulheres ingressa em cursossuperiores no Brasil.

Após décadas de preparação silenciosa,experiências e frustrações para com o trabalhomasculino, as mulheres estão a beira de uma mudançarevolucionária. Vivemos num t empo de esperanças, devontades novas. Convivemos numa situação paradoxal,pos de um lado, a sociedade lhes pede que sejamiguais aos homens, acenando com oportunidades deestudos e trabalho, e, por outro lado, as mantémdesiguais já que são consideradas a s responsáveisexclusivas da vida privada. Como ser ao mesmo tempoigual e desigual? É preciso repensar em todos os seusaspectos esta proposta social contraditória.

Necessitamos encontrar caminhos para adequarnossa sociedade a sua nova realidade nova rea lidade,dando as mulheres e aos homens as condições para

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redefinir seus papéis e desenvolver cada um suaspotencialidades. Em nenhum lugar esta discussão serátão importante e fecunda quanto nas famílias e nasescolas. É certo que o feminismo trouxe mudanç asirreversíveis para o mercado de trabalho, ocomportamento sexual e, obviamente, as relaçõespessoais. Não se tem notícia de uma revolução decostumes tão poderosa e efetiva na história ocidental.Pelo menos nos países desenvolvidos as conquistasfemininas foram reconhecidas. Não podemos e nãodevemos usar o poder da sexualidade e da seduçãocomo meio de conseguir dinheiro e poder.

A questão que se coloca é se as mulheres, amaioria delas, querem m esmo essa mudança edispõem-se a pagar o preço de abandona r a postura dedesprotegidas, coitadinhas, sexo frágil e, de fato, partirpara a luta.

Mais atarefada do que nunca, as mulheresbuscam estratégias para ganhar tempo e qualidade devida. A boa notícia é que é possível resolver oproblema. A grande massa fem inina parece estar maisinteressada em lutar contra a balança e as rugas doque contra desigualdades ainda presentes ealardeadas desde a época das feministas históricas. Nocentro da questão que afligem o movimento pós -feminista do século XXI, nada surge tão forte quanto ovelho tema do casamento. Ele ainda é ao que tudoindica, o grande nó da questão. “As mulheres devemreconhecer que a família é hoje o que o ambiente detrabalho era em 1964 e o voto em 1926”.

De todos os erros cometidos pelo feminismo omais grave foi a incapacidade de mudar a instituição

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que estaria no centro de toda a tragédia feminina. Ocasamento para muitas mulheres é um empecilho paraque elas atinjam a igualdade total de salários, asmesmas oportunidades de ascensão profissional e adivisão com os homens da carga de trabalho e dasresponsabilidades na administração da casa e naeducação dos filhos. Desta forma muitas mulheres sãoinfelizes por ter de cuidar da casa e dos filhos e dividir avida familiar com o trabalho. A saída seria resolver oproblema entre as quatro paredes do lar. O diálogo ésempre a melhor forma para solucionar conflitos.“Juntos eles devem estruturar sua vida familiar comigualdade de direitos e deveres também nos afazeresdomésticos”.

Seja qual for a razão pes soal pela qual asmulheres costumam se desdobrar em casa, o que osanalistas do assunto afirmam é que é preciso rompersocialmente essa dependência. Sem mexer no papeltradicional que a mulher exerce no casamento, pregamesses estudiosos, elas tendem a con tinuar emdesvantagem eterna em relação aos homens,sobretudo no campo profissional. É verdade que nosúltimos anos a diferença salarial diminuiu, assim comose abriram muitos cargos de chefia para mulheres.Porém a distância ainda é bem sólida. Infelizmen te asdiscussões sobre educação dos filhos, chateação dasogra, itinerário no trânsito ou horário de cada um sãofichinhas perto do tema dinheiro. Os homens podemnão admitir que motivo tão mesquinho cause tantaencrenca todo conflito em casa começa pelo d inheiro. Afalta dele e as despesas excessivas do companheirosão as duas principais razões apontadas. Mentir sobre

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dinheiro também é recorrente nos relacionamentos. Oshomens na grande maioria não admitem que asmulheres ganhem mais do que eles. O dinheir o muitasvezes é motivo de tensão no casamento. Homens emulheres podem não vir de planetas diferentes, masquando o assunto são finanças, operam em órbitasdistintas. A maioria dos casais ainda adota uma divisãotradicional de tarefas. As mulheres em gera l, tomam oshomens, cuidam dos investimentos e das decisões delongo prazo. Ainda encontramos resquícios dasociedade antiga em que o homem era o provedor.

Embora seja clara a emergência de um tipo decasal mais igualitário, em que ambos contribuem –mesmo de forma desigual – para o sustento da família.Homens e mulheres não concordam nem sobre dadosobjetivos que poderiam ser confirmados. Por exemplo,sobre quanto receber e quanto gastam. Essedescompasso pode se tornar um grande problema nocontrole das f inanças. É preciso saber quanto entra equanto sai, como uma empresa, senão é fácil perder adireção. Quando os cálculos ficam , mas suposições énormal que se credite o rombo financeiro ou a falta derecursos ou a má administração do outro. O certo é ocasal discutir sempre as questões que envolvemdespesas e investimentos. Tanto um como o outroprecisam estar a par de tudo que envolve o dinheiro docasal. Só assim as surpresas desagradáveis sãoevitadas. Não se acomode pensando que seu marido émais esperto em relação às finanças. Não use suasfalta de confiança como desculpa pra abdicar de suasresponsabilidades.

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Participe e se informe. Saiba quanto vocêsinvestem e onde seu dinheiro está alocado, comececom calma. Se seu marido cuida das finanças sozinhohá anos, participe e mostre interesse pelo assuntodevagar – sejam objetivos, críticas não levam a lugarnenhum. Dinheiro envolvem questões emocionais, nãogastem energias tentando convencer o outro. Criem umplano de ação que funcione pra os dois. Aprenda m agerenciar seu dinheiro.

A esperança que alimento é a de que quandoum número grande de mulheres assumir as alavancasde comando do planeta, e o fizerem calcadas emvalores femininos, crie -se a massa crítica suficientecapaz de mudar o comportamento dos próprios homense, por essa via mudar o mundo. Não se deve pensarque sonho com um mundo no qual homens e mulheresserão iguais. Não o serão, visto que diferentes, masdiferentes não quer dizer necessariamente superior ouinferior. Ou seja, homens e mulhe res serão homens emulheres, mulheres, porém enriquecidos comcaracterísticas de um e de outro gênero para termosseres humanos melhores. Também não alimentoilusões de que um processo de mudança da magnitudee da profundidade possa se completar em curto prazo.Em que pesem as evidências de que o processo já seiniciou, muito ainda há de ser feito e complet á-lo nãoserá tarefa para apenas uma ou duas gerações. Porfim, uma indagação de Freud: Afinal , o que uma mulherquer?

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ERNESTINA FAIZER KURTH

Nasceu em Agenlina-SC a 07 de março de 1929 e formou -se noCurso Normal no Colégio Maria Auxiliadora, de Rio do Sul -SC, em 1952.Lecionou desde os 15 anos de idade, tendo se aposentada em 1982 comoDiretora de Escola Básica. É Bachare l em Administração de Empres as(1973) e Licenciada em Letras (1975) pela FEDAVI.

Diplomada “Master Cake Decoration” pela Wilton School OfDecoration (USA), onde estudou em 1993 e 1995. É co -autora do livro“Um Passeio pela Grande Florianópolis” e participou , com contos epoesias, nos livros “Histórias de Professor”, “Contos do Professor” e“Poemas de Professor”, da Coleção FUCAPRO.

Participou da organização do Varal Literário do Grupo Almas emSerenata, de São José-SC. Pertence à Academia de Letras de Biguaçu,ocupando a Cadeira 39, cujo patrono é o poeta Vergílio Várzea.

Acadêmica: Ernestina Faizer KurthCadeira nº: 39Posse: 18-12-1996Título: PoetisaEndereço: Rua Getúlio Vargas, 3 .008, São José-SCCEP: 88103-400Fone: (48) 3247-0280E-mail/Site: Não informadoPatrono: Virgílio VárzeaTítulo: Poeta

MEUS, QUASE, HAICAIS

Amigo rabdomante,pela rabdomancia,advinha a água nossa de cada dia.

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Santo Bento, Santo BentoVem cobrirQuem dorme ao relento ,Com teu manto santo.

Por onde passares,Passa de modo,Que possas sempre ali voltar.

O pinheiro magnífico candelabro,De verdes arandelas,As pinhas são as velas.

Nuvens correm fugidias,Escondendo-se atrás do mosteiro,CÉU DE BRIGADEIRO.

Chega-nos uma boa lembrança,Emoldurada pela saudade.

Obrigado SenhorPelo dom das curas,Que crias em tuas criaturas.

Se és amigo de Deus eprecisas de alguém ou de alguma coisa ,Olha em volta. Ele já ali as colocou.

As folhas caemA árvore fica.O Outono explica.

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Neblinacomo lá,Assim, cá.

A poesia está no ar,Pede as rimas ao luar.

Nuvens grávidasno céu,Chuvas ao léu.

Na roupa do céuNossa Senhora passou anil .Deus gostoue guardou para Abril.

Se o amanhã tivesse janela ,e eu soubesse dela,Debruçar-me-ia já, nela.

Obrigado Senhorpor esta cama tão boaE que nela, nada me doa.

Na chuva:– Mãe águaLeva de mimToda dor e toda mágoa.

Vento qual pente,penteando palmeiras:Cabelos verdes.

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Envelheci um ano em uma noite.Adormeci com 17e acordei com 18.

Lágrimas ardenteschora já sem fé.Velha garrafa de café.

Parece desatinomas cada panelacom seu destino.

Minha geladeirapor que chora em líquido ,Se pode as lágrimas solidificar?

Regai, consolaias plantas presas em vasos ,e as pessoas em seus casos.

Estejamos sempre em alerta :tentando acertar o quê errado,e consertar o quê quebrado.

O sol debruando a ouroa nuvem vestal,Que quer se vestirApós o temporal.

Limpa pára-brisastrabalha com mágua,

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Lavando água.

O guarapuvualcançou a floração dos ipês ,a diferença são os pés.

Já foi verde a sombrearramos bem distribuídos,Agora secos a esqueletar.

O sol por entre nuvens,Caiu no lago.Saiu molhado.

Naquele dia que as formigas fizeram greveA cigarra não cantou,As rosas murcharam,E o olho d’agua chorou.

O sol amareloFaz a nuvem mais bela.

Sob a cristaUm bico,Galo rico.

O vento faz a ondaa onda faz a renda.

Se não puderes levar água para tua roça ,Inunda a do vizinho, igualmente seca,que inundada derrama na tua.

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Na casa do meu avôdiziam roda d’agua,Descobri que era de madeira.

Dente de leite,roda d’agua,quem já viudente de alho?

Com a seca dos rios,vê-se tantos seixos.É de cair o queixo.

Vi a luz do pirilampoMas não ouvi seu canto.

Luz, luz, luzes.Acesas.Quem pagaApaga.

Teria Deus colocadoAçúcar no rio?É uma corrente de água doce.

Na orelha de pau,Não achei brincos.

Calendário sem fases da lua...Como saber em que horaa Lua Nova vem para a rua.

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Um grande pé-de-ventoachou um sapato.Por que não o calçou?

Na boca da noitenascem estrelas.No céu da boca,não nascem dentes.

No chimarrão,presentes três continentes:Bomba da Europa,Erva Mate da América eCuia da África caliente.

No escabelovão bem os pés.Na cabeça, cabelos.

No Paço Realuma brasileira reinouDona Maria II,Rainha de Portugal.

Gris no cumealvacento no sopé.Neblina presente.

ESPERIDIÃO AMIN HELOU FILHO

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Esperidião Amin Helou Filho é filho de Esperidião Amin Helou eElza Marini Amin Helou. Nasceu em Florianópolis -SC em 21/12/1947. Éformado em Administração pela ESAG, Bacharel em Direito pela UFSC eMestre em Administração também pela UFSC, tendo feito especializaçãoe extensão nas áreas de Economia e Direito.

Exerceu o magistério na UFSC de 1968 até 1990. Exerceudiversos cargos públicos, como: Diretor de Administração, chefe deGabinete, Secretário de Esta do da Educação e Cultura, Assessor deorganização e Métodos, Diretor Financeiro do BADESC, PrefeitoMunicipal de Florianópolis, por duas legislaturas, Presidente da AMGF –Associação dos Municípios da Grande Florianópolis, Deputado Federal,Senador da República, Presidente Nacional do PPR e do PPB, eGovernado do Estado de Santa Catarina.

Atualmente é professor no curso de Administração da UFSC e étambém aluno Doutorando na Engenharia de Gestão do Conhecimento.

Acadêmico: Espiridião Amin Helou FilhoNascimento: 21/12/1947Cadeira nº: 28Posse: Não informadoTítulo: Político / Orador / ProfessorEndereço: Rua Antenor de Moraes, 412, Bom Abrigo, Florianópolis -SCCEP: 88085-430Fone: (48) 3244-4389E-mail/Site: [email protected]: Manoel de MenezesTítulo: Jornalista

Dedico estas linhas à ex -presidente da Academia deLetras de Biguaçu, nossa amigaDalvina de Jesus Siqueira,dedicada e diligente lutadora emprol da valorização da Academiae do patrimônio sócio-cultural deBiguaçu.

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A Raiz em Biguaçu

O Engenheiro Celso Ramos Filho ofereceu aSanta Catarina uma extraordinária contribuição àHistória de Santa Catarina com seu livro “COXILHARICA – Genealogia da Família Ramos”.

Além de abordar de maneir a abrangente eprofunda as origens de uma família marcante nahistória do nosso Estado, o livro homenageia Biguaçuao revelar a origem catarinense dos Ramos.

Três questões merecem registro que me permitoaqui fazer, pretendendo, no máximo, alinhar tópicospara uma discussão futura.

A primeira questão refere-se ao nome. O nomeoriginal da família que migrou dos Açores era Coelho.Ao que tudo indica, Coelho fora adotado comoexpressão de uma conversão mais do que convenientepara a época. Sim; os recém conve rtidos, os chamados“cristãos novos” adotavam, como nome de família,designativos “naturais”, isto é, substantivos quedenominam árvores, pássaros, animais eassemelhados. Coelho (Celso Ramos Filho sugere queseja derivado da Quinta da Coelha) pode sersucedâneo de nome de família “sefaradine”, ou seja,semita – judeu ou árabe – da península ibérica.

Se formos consultar Manoelito de Ornelas, emseu clássico “Gaúchos e Beduínos”, colheremosinformações adicionais para crer que as feições dosserranos (e dos Ramos, em particular), guardamfamiliaridade com os traços dos Beduínos.

Estes, com seu acendrado amor pelo cavalo,constituem modelo que o nosso gaúcho assumiu em

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nossas latitudes. A propósito, lembra Manoelito que “ogaúcho, como o árabe, tem pelo cavalo um cultoexagerado. O próprio Maomé chamava aos cavalosfilhos do vento . E dizia que Deus, quando criou ocavalo, proferiu estas palavras: “Quero fazer de ti umacriatura para a glória dos meus fiéis e terror dos meusinimigos!”. O cavalo é, para o homem do oriente médio,o mais nobre dos animais.”.

Daí decorre a “gabança poética” referida porDomingo Sarmiento:

“Tou velho, tive bom gosto Morro quando Deus quiser. Duas penas levo comigo: Cavalo bom e Mulher” .

Isto quando não coloca o cavalo em planosuperior:

“Mi mujer y mi caballo Se me fueron para Salta,

Como mi caballo vuelva, Mi mujer no me hace falta!” .

Sem comentários…Manoelito de Ornelas demonstra as afinidades

entre gaúchos e beduínos nos hábitos, costumes,vestimentas, músicas e outros fatores. Maragateria,bombacha e os principais identificadores da pelagemdos cavalos são decorrência dessas afinidades. Quemdesejar conferir tais origens, pode consultar ointeressante “Dicionário de Termos Árabes da LínguaPortuguesa”, do Dr. Júlio Doin Vieira.

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Os Coelho desembarcados em São Miguel daTerra Firme, da nossa sempre hospitaleira Biguaçu,deram ao seu filho Laureano José o nome de Ramospor ter este nascido no Domingo de Ramos de 1777(exatamente em 18 de março daquele ano).

Sim, seus pais – Matheus José Coelho e MariaAntônia de Jesus –, originários de Angra do Heroísmo,Ilha Terceira (ou de Jesus Cristo), deram -lhe osobrenome Ramos e estenderam este sobrenomeilustre aos outros filhos, nascidos em 1776 (antes, pois)e 1779, respectivamente, Adolfo José e Ricardo José .Portanto, este primeiro tópico aborda a origembrasileira e catarinense da família Ramos, situando -aem Biguaçu, mais precisamente em São Miguel.

A segunda questão aborda a saga de LaureanoJosé Ramos. Falar que o marceneiro Laureano saiu deBiguaçu e foi para São Francisco do Sul; de lá foi paraAntonina (Paraná); de Antonina foi para Lapa (Paraná);de lá foi para Santo Antônio da Patrulha (Rio Grande doSul) e de lá, enfim, veio para Lages, é fácil. Difícil edesafiador deve ter sido cumprir esse itiner ário entre1804 e 1812...

Os estudiosos da língua árabe encontrariam napalavra “MAKTUB!” (estava escrito!) a melhorexplicação para tal “odisséia”.

Todo aquele conteúdo substrato referido porManoelito de Ornelas explica essa procura pelapaisagem em que o fundador dos nossos Ramos sesentiria em casa...

Que ambiente seria mais adequado para osRamos? Podemos dizer que Laureano, depois de tantoviajar, chegou à sua casa!

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Em sua obra “Taipas – Origem do Homem doContestado”, Octacílio Schüller Sobrinho res salta que“o vaqueiro, o pastor por excelência é o homem da cordo pinhão, descendente de uma raça habituada à vidanômade – o árabe”, ou seja, o beduíno.

Tendo, pois, vencidas vicissitudes tãomarcantes, Laureano José de Ramos fundou em Lageso mais importante estabelecimento agropecuário,compreendendo azenha, atafona, tecelagem de lã e dealgodão, carpintaria (afinal, era marceneiro), olaria,pomar e outros agregados econômicos.

Portanto, o catarinense (nascido em Biguaçu)Laureano, fundador do tronco Ramos, foi um grande edistinguido empreendedor.

Além disso, sua descendência deu a SantaCatarina, além de Nereu Ramos (Presidente e Vice -Presidente da República, Presidente da Câmara e doSenado, Ministro da Justiça e Governador de SC), umembaixador (o grande historiador Licurgo Ramos daCosta), sete senadores, oito deputados federais, seisgovernadores do Estado, dez deputados estaduais,seis desembargadores, nove prefeitos municipais e umarcebispo, além de inúmeros outros exemplaresservidores da nossa “res publica”.

O contributo originário de Biguaçu ésingularmente expressivo, pois. E não tem paralelo.Podemos dizer que as bênçãos derramadas naqueleDomingo de Ramos de 1777 foram muito especiais!

Esta avaliação é apropriada, especialmente seconsiderarmos que aquele não era um momentotranqüilo. Menos de 30 dias antes, os espanhóis deCeballos tinham tomado a Ilha de Santa Catarina! E o

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fizeram lançando mão da maior esquadra que até entãochegara a estas plagas. Cento e vinte naviosancoraram na baía de Canasvieiras e delesdesembarcaram cerca de dez mil soldados quepuseram em fuga a guarnição do forte de São José daPonta Grossa e forçaram a rendição – sem luta – datropa e das autoridades portuguesas da Ilha de SantaCatarina. Não foi, portanto, sob todos os aspectos, umDomingo de Ramos comum o de 1777!

A terceira questão volta-se para Biguaçu e parasuas raízes açorianas, sediadas em São Miguel daTerra Firme. Quem já teve o privilégio de visitar osAçores pode sentir a emoção de conhecer um povovalente – sem ser acintoso – e que valoriza a família,instituição essencial para sua organização social.

Dentre as ilhas dos Açores, a do Pico, peladureza de sua topografia e pela aspereza de suamorfologia, é exemplo muito especial.

Areia vulcânica escura, batida por incansávelvento, só poderia ser habitada por um povo forte!Comer de seus queijos e beber de seus vinhos e licoresé atestar a vitória da perseverança e da criatividadesobre as adversidades.

São Miguel, em particular, e todo o território deBiguaçu ofereceram ao imigrante açoriano umambiente muito mais propício e generoso.

Aqui, a “a mão do Criador” plantou terras férteis;desenhou baías e enseadas caprichosas; dotougenerosamente o território de águas boas; fez do marum celeiro abundante de frutos que não precisamosplantar (mas, seria muito bom deles desfrutar commoderação). Enfim, de Laureano Ramos aos nossos

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dias, Biguaçu nos oferece berço e cenário deoportunidades. O berço – generoso e seguro – continuaà nossa disposição!

As oportunidades são desafios postos diante denosso espírito empreendedor. Se este não faltou – emoutras plagas – a Laureano, filho ilustre de Biguaçu,cabe aos que gostamos de Biguaçu, especialmentepelo desenvolvimento de nossas competências atravésde educação de qualidade, tornar possível aconcretização dos nossos sonhos.

HOMERO DA COSTA ARAÚJONascimento: 06 de maio de 1948; Local de Nascimento: Lages -

SC; Filiação: Antônio Alencar Araújo Furtado e Helma Helena da CostaAraújo.

Formação: Curso Primário: Colégio Vidal Ramos Júnior , Lages-SC; Curso Secundário: Colégio Diocesano de Lages : Curso Científico;Academia de Comércio de Lages : Curso Técnico de Contabilidade . CursoSuperior: Administração de Empresas na UFSC ; Direito na UFSC.

Experiência Profissional: Professor da Escola Técnica Federal deSanta Catarina – ETFSC, na disciplina de Organização e Normas (ano1972 – 1998). Administrador, na Companhia Catarinense de Águas eSaneamento – CASAN (1972 – 1979). Administrador, na Companhia deDesenvolvimento do Estado de Santa Catarina – CODESC; AdvogadoAutônomo, OAB-SC 3144; Diretor da Empresa Vida, Importação Comércioe Representações Ltda. (1986 – atual).

Autor das seguintes obras: Fogo de Chão, então, então; Caminhodas Tropas; Prosas de Galpão; Por detrás das Taipas; Cama de Pelego;Confraria da Coxilha. Membro da Academia de Letras de Biguaçu, cujopatrono é o ilustre lageano Nereu Ramos.

Acadêmico: Homero Costa AraújoNascimento: 06-05-1948

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Cadeira nº: 31Posse: 15-12-2006Título: EscritorEndereço: Rua Newton Ramos, 70, Apto. 502, Ed. San Matheu, 5º Andar,Florianópolis-SCCEP: 88086-893Fone: (48) 3223-4664 / 8808-6893E-mail/Site: [email protected]: Nereu de Oliveira RamosTítulo: político / Orador

Boi de Botas Futebol Clube

O time do Boi de Botas Futebol Clube, daCoxilha Rica, contava trinta e seis jogos sem vitória.

A diretoria, preocupada com o rebaixamento, sereuniu e chegou a conclusã o de que deveria contratar.

— Mas nós não temos dinheiro, argumentou otesoureiro. Até a venda do centroavante “Lambança”não se concretizou, o que tiraria o time do buraco...quinze milhões de euros.

— Não estou falando de contratar jogadores, massim um benzedor, pai-de-santo, ou alguém do gêneroque faça um trabalho para afastar a má fase do time.

É muito mau-olhado; muito olho-grande; muitamandinga contra nós; coisas desse gênero,argumentou o presidente.

Doutor Paulinho, médico do clube, facultativo,como se diz na linguagem do futebol, soube da

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preocupação do presidente e apresentou -se comovoluntário.

— Já fui macumbeiro quando estudava medicinaem Florianópolis. Era um quebra -galho que me ajudavaa cobrir as despesas da faculdade, não mais do queisso. Entendo da função, não contratem ninguém. Voufazer o “trabalho”, e de graça pra ajudar a salvar oclube.

O presidente topou a parada.— De graça, até injeção na língua.Paulinho começou com sessões aplicadas no

vestuário: reza, chifre raspado de bode preto; incenso;patuás; velas; charutos e galinha preta; enfim, atéarruda na meia dos jogadores.

Nada disso resolveu.Doutor Paulinho partiu então para o plano “B”:

Banho de mar grosso, muita água salgada no plantel.— Esse recurso nunca falha – garanto-lhe

presidente.Fiz isso no Arranca Toco de Campo Belo do Sul e

ficamos oitenta e dois jogos invictos.— Mande brasa “Pai Paulinho” , pois domingo que

vem teremos jogo e não poderemos perder. Quem vaiestar presente na transmissão do jogo é a Rádio Clubede Lages com Camargo Filho e toda sua equipe derepórteres.

— Deixa comigo, presidente.O time do Boi de Botas veio para Florianópolis e

Pai Paulinho determinou: dois banhos de mar pela

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manhã, um à tarde e outro à noite, é o bastante, nãomais do que isso.

Repetiu a operação por três dias seguidos.Retornaram para a Coxilha Rica e em seguida

concentraram-se para o confronto decisivo com oEstrela Azul, de Capão Alto.

Presente no evento toda a equipe esportiva daRádio Clube de Lages, coisa inédita na Coxilha R ica.

O jogo se realizou no estádio do Rincão do Perigoe novo revés: Estrela Azul 8x1 Boi de Botas.

O locutor Camargo Filho, ficou rouco de tantogritar gol.

O presidente do Boi de Botas, inconformado peloresultado questionou Pai Paulinho: “O que houve,painho?”

— Não houve nada, presidente. Pra mim nãohouve nenhuma surpresa. Os pais -de-santo meavisaram que o resultado do jogo era pra ser 12x0 proEstrela Azul, e, eu com o meu “trabalho” diminuí agoleada, além de termos tido a sorte de sair com 1x0 anosso favor, ou seja, marcamos um gol, coisa que otime não fazia há quatorze rodadas. O senhor estáreclamando de quê? Tenha a santa paciência.Qualquer pessoa percebe que 8x1 é melhor do que12x0. Pergunte pro pessoal da Rádio Clube. Quem tácerto é o locutor Camargo Filho que sempre afirma:“Quem quebra galho é macaco gordo”. Saravá,presidente.

— Eu, hem? Arrumo cada um. Saravá, PaiPaulinho.

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Lambança

Nos idos do ano de 1960 apareceu em Lages,vindo de Porto Alegre, uma jovem e grata rev elação dofutebol daquela cidade e, de cara, o locutor esportivoCamargo Filho, da Rádio Clube, colocou -lhe o apelidode “Lambança”.

Ingressou nas hostes do Esporte ClubeInternacional onde foi titular absoluto por dois anosseguidos.

Lambança alternava grandes e brilhantes partidascom atuações medíocres e ridículas que comprometiama equipe. Tinha momentos de Pelé e outros deverdadeiro perna-de-pau, ninguém entendia tantaoscilação.

Após pendurar as chuteiras como atleta foiconvidado pela Diretoria do I nternacional para ser otreinador da equipe juvenil.

Aceitou o desafio.Era um excelente motivador, embora fosse um

homem de pouca instrução. Formou uma grandeequipe sendo que alguns atletas chegaram muitorápido ao time titular que venceu o campeonatoestadual de 1965, lembra-se?

Lambança proporcionava momentos hilariantescomo treinador.

Apresentaram-lhe numa oportunidade, umpretinho que tinha sido a revelação do campeonato doCerro Negro e disseram maravilhas acerca do garoto e

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pediram para que Lambanç a o testasse na equipe doInternacional.

— Não tem problema, é só me trazer a fera queeu já digo se presta ou não...

“Flexinha”, assim era o apelido do guri,apresentou-se numa segunda-feira, à tarde.

Quando Lambança botou os olhos na figura,sentiu o drama e lascou: “Qual é o seu forte Flexinha:ataque, meio-campo ou defesa?

— Eu sô ponta dereita professô. Corro quinem umcurisco. Pra mi pará só na porrada ou no tiro. Pego intélebre de morro acima.

— Meu filho. Estou precisando é de jogador, nãode maratonista: a São Silvestre é só em dezembro,sabe?

E tem mais, troque de roupa no vestiário, ligeiro,que o treino já vai começar.

Flexinha tirou da sacolinha um par de chuteirasque havia engraxado com sebo de ovelha e trajou -se alimesmo, pois queria era participar do treino.

Lambança mandou Flexinha aquecer e pediu paraque ele viesse à beira do gramado receber instruções.

O coração do Flexinha aumentava os batimentose quase saltava boca a fora tamanha a expectativa pelaoportunidade:

“Meu Deus, não acredi to que vô ponhá a camisado Internacioná, não vejo a hora”..., e continuouaquecendo.

Lambança ordenou:— Tá bom meu filho, não esquente demais senão

derrete. Venha cá. Está pronto Flexinha?

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— Tô professo. Tô.— Está nervoso ou está calmo?— Um pôco nervoso, sabe cumo é, sô muito novo

ainda.— Logo vi que você está nervoso. Olhe para a

sua chuteira, está com os cadarços trocados.— Cumo? Cardaço trocado? Cumo?Eu explicoO cadarço do pé direito está no pé esquerdo e o

cadarço do pé esquerdo está no pé direi to. Vocêentendeu agora?

— Intendi professô. Acho que foi a pressa, trocojá, agorinha memo.

E Flexinha agachou-se para a operação da trocado cadarço. Lambança ria a mais não poder. Aplicavaessa pegadinha em todo mundo.

Colocou Flexinha só no segundo tem po de treino.Viu que Flexinha não tinha nenhum talento e resolveuexplorá-lo um pouco mais.

Findo o treino, chamou-o em separado dosdemais jogadores e colocou -o a bater penalty. Aí é quea desgraça aumentou.

Das vinte cobranças, Flexinha apenas acertouuma. Um índice baixíssimo.

— Flexinha venha cá. Vou instruí -lo e ensiná-locomo bater a “falta capital”.

— Falta capital? O que é isso professô? Nuncaouvi falá nisso. É argum pecado?

— Eu explico. Falta capital é o penalty. Usava-seesse termo antigamente, não é do seu tempo Flexinha,

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sabe? Agora, preste muita atenção nos meusensinamentos. Penalty não tem segredo.

Aprendi com o meu amigo e locutor CamargoFilho da Rádio Clube de Lages. Você pega a redonda ecoloca-a na marca da cal. Na marca da cal, não do cal,porque cal é uma palavra feminina entendeu?

— Intendi, e aí?— Aí você se concentra e dá uma cacetada com

bastante efeito, rasteiro, no canto que o goleiro nãoestá, ouviu? Não tem erro... é só correr pros braços dagalera.

E Flexinha questionou:— Professô, e cumo que eu vou sabê quar é o

canto que o golêro não tá?E Lambança gargalhava:— Aí já é demais. Você quer que eu lhe diga qual

é o canto que o goleiro vai se atirar? Qual é Flexinha?Pode tomar banho e voltar para o Cerro Negro.

Aqui em Lages não tem lebre pra você correr atrás.Logo vi, revelação do futebol de Cerro Negro só podiadar nisso. Só eu pra acreditar numa dessa... Mereço...

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JANICE MARÉS VOLPATO

Catarinense de Mafra nasceu em 23 de maio de 1953. Filha deJayme Marés, falecido, e de Marianna Wisovata Marés. Casada comPacelli Volpato, filhos gêmeos: Laércio e Leonardo Marés Volpato.

Graduada em Biblioteconomia pela UDESC – Universidade doEstado de Santa Catarina. Especialista em Metodologias de Atendimentoda Criança e do Adolescente em Situação de Risco. Parapsicóloga Clínicado Sistema Grisa. Ocupa a cadeira n. 10 da Academia de Letras deBiguaçu, e n. 09 de Governador Celso Ramos.

Publicações: 2008 – “Jornal a Cidade – Governador CelsoRamos”, Coluna: “Pescadores”. 2006 a 2008 – “Jornal Fique Esperto” –São José. Coluna: “Janice Marés Volpato”. 2007 – Participação naAntologia de Contos e Poemas “Encontros da Primavera”, Academia deLetras de Governador Celso Ramos, com a poesia “O Gancheiro e suatradição”, 2006 – Monografia de Especialização.

Acadêmica: Janice Marés VolpatoNascimento: 23-05-1953Cadeira nº: 10Posse: 15-12-2006Título: Parapsicóloga / EscritoraEndereço: Rua Heriberto Hülse, 78, Barreiros, São José -SCCEP: 88110-010Fone: (48) 3246-0533 / 8407-3227E-mail/Site: [email protected]: Alaíde Sarda de AmorimTítulo: Educadora / Escritora

LAPIDAR A ESSÊNCIA HUMANA

O Ser Humano caminha, ora em passos largos eapressados, ora curtos quase parados. E nessemomento carece pensar: S im, é um ser racional quepensa a cada passo. Não como deveria ser em sua

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totalidade, pois muitas vezes age e reage como animal,via seus instintos.

Existem no seu Subconsciente registros que oaprisionam e na ausência de uma liberdade interiortrava uma luta entre o bem e o mal conforme suapercepção.

Da conjunção da qual foi concebido eprogramado, e de uma vida sofrida da mãe que ocarregou no ventre, veio ao mundo rejeitado. Quandosente se ameaçado, dele emerge toda a realidade, poisas informações recebidas desde a vida intra -uterinaficaram nele impregnadas, quase que adormecidas.

Sob a égide do Subconsciente, os registros maisprofundos, distorcidos afloram e por segundos falta -lhea razão. É a manifestação do sistema emocionalcompletamente desequilibrado. Nisso ele grita, agride,se arrepende e chora. É tarde demais! Um crime foicometido, agiu por impulso descontrolado.

– Assassino! Gritam as pessoas que assistiram otrágico acontecido.

E quando toma consciência do fato, e nada maispode fazer, pensa em fugir, quer sumir, mas de joelhoscai ao chão e logo, deitado.

Com as mãos aperta a cabeça, sua fala cansadaparece longínqua.

– Meu Deus! Por que eu fiz isso? Sou um jovemfracassado.

Perde as forças, se entrega, para não sertorturado. A polícia logo chega e o jovem é levado,algemado, no camburão, só e desesperado!

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A vítima inerte, no chão ensangüentado, éobservada com pesar por ser ainda tão jovem, mas,logo depois da perícia, sai na maca carregada.

As conversas paralelas se misturam na multidão,que aumenta rapidamente, entre curiosos querendodetalhes e testemunhas dando opinião.

– Esse mundo está perdido!– É por causa das drogas! Exclama a mãe

desesperada, que ao saber do ocorrido chega um poucoatrasada ao cenário.

– Eu dizia pra ele, tu vai morre, vão acabá comtua vida! Ai meu Deus! E agora? Proclama ela ao vento.

As vizinhas a consolam e juntas saem emprocissão. Claudenira, a mãe sofrida, ainda reforça comênfase as palavras que seguem automatizadas:

– Eu sabia que isso ia acontecer! – Eu sabia...Até chegar à sua casa ela continua a falar, o

nervosismo toma conta e ela chega a desmaiar.Enquanto isso na delegacia, Robert o está

desolado, lembra que algumas vezes sentia ódio,vontade mesmo de matar. Mas não era isso que queria.Estava realmente arrependido. Agora sabia que asconseqüências seriam as piores. Pensava na Mãe, naspalavras que ela dizia:

– Meu filho não se envolva com drogas, um diavai acontecer alguma coisa ruim. Mas, aquelesconselhos da mãe sempre foram ignorados, pois elequeria dinheiro fácil. De relance percebe sua tristecondição e sente muita amargura na rigidez da prisão.

Algumas semanas após o acontecido, na cadeiarecebeu a sentença, em papel sujo e amassado. No

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bilhete estava escrito a jura de vingança mortal, e nessemomento percebeu que seu destino foi traçado.

Essa é uma situação em que muitos daquelesque se encontram presos vivenciam. Conforme oenvolvimento criminal, sofrem ameaças e se sujeitam asmuitas humilhações, a raiva e o medo podem a todoscontaminar.

O carcereiro por sua vez acostumado, com tantose tantos casos, esclarece a situação:

– Alguns casos são resolvidos aqui mesmo naprisão, outros quando saem encontram a morte no outrolado do portão. Sem oportunidades dificilmenteconseguem mudar. E da vida, algo melhor, só resta -lhesesperar...

A Mãe sofrida, agora se esforça para falar com asvizinhas, e sua respiração difícil e muito fraca evidenciaa dor e o pesar.

– Ele sempre foi assim, brigão desde pequeno,não adiantava surrar, ele não melhorava, depois deixeipor conta e deu no que deu.

Roberto demonstrava ter o sistema emocionalindomável. Seria por conseqüência de problemasgerados desde o período da vida intra -uterina, na horado nascimento, ou algum trauma? Provavelmente, aindamais quando reforçado no convívio do dia-a-dia, ondeos riscos à integridade físi ca e mental são maiseminentes.

As situações vivenciadas por Roberto ou outraspessoas que também manifestam descontroleemocional e isso as incomodam, desde a concepção,durante a infância ou adolescência ou fase adulta,podem ficar aliviadas, pois existem possibilidades para

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melhorar ou eliminar definitivamente as causasprejudiciais.

Roberto não obteve uma orientação adequada,para controlar o sistema emocional, quando ainda eracriança. E quando adulto ele também não procurouajuda. Muito pelo contrário sempre rejeitou. Queriamostrar o poder por meio de agressividade. Fato quereforçava cada vez mais, até sem motivo aparente.

Pedro Grisa, autor de vários livros, depoi s demuitos estudos e pesquisas minuciosas, comprova:

– “A mente humana merece ser lapidada”.E numa outra expressão conclui sua grande

descoberta.– “Só se expressa no exterior o que já é no

interior”.Em forma de brincadeiras, crianças e jovens

batem nos irmãos, nos amigos, desrespeitam pais eprofessores. Atitudes que possibilitam a programaçãode um futuro avassalador . Porém, se desde a mais tenraidade a criança for orientada a manter o controleemocional, vai crescer com segurança, estudar erespeitar, vai poder ser feliz, viver em equilíbrio eharmonia.

Assim como em vários lugares, Biguaçu tambémapresenta situações complexas . Cresce a violência, acriminalidade e a agressividade de forma desenfreada.

Dalvina de Jesus Siqueira reside no municípiodesde seu nascimento, em 1929. Por tanta vivência, temum elevado conhecimento sob re sua comunidade. É umgrande exemplo de vida, uma verdadeira guerreira dobem. Disciplinadora nata, possuidora de muita

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sabedoria, tem uma imensidão de histórias para contar.Diz ela:

– “Biguaçu era um lugar calmo,muito bom para morar, não havia agressividade ecriminalidade como hoje. Durante muitos anos aspessoas podiam andar tranquilamente pelas ruas, atécom a bolsa aberta. Não se via criança brincando ouperambulando nas ruas, elas trabalhavam em casa eajudavam os pais, não eram escravas, eram ocupadas,estudavam.”

Dalvina ainda afirma:– “A situação que vivenciamos hoje, iniciou após

a legalização do Estatuto da C riança e do Adolescente –ECA, pois nele existem artigos que os superprotegem edeixam pais, professores e a sociedade sem ação ”.

Garantidos nessa proteção, muitos adultosaproveitadores se utilizam da inocência das criançaspara atingirem seus objetivos.

– “A razão de tudo é a distorção na educação,existe uma inversão de valores, transtornaram a formade relacionamento, crianças e jovens não respeitam,impõem regras, geram medo, insegurança e impotêncianos adultos”. Afirma Dalvina, e ainda comenta:

– “Biguaçu tem locais específicos para oatendimento de crianças e jovens envolvidos emsituações de risco: O Recanto Pré -AdolescenteMunicipal – REPAM, A Casa Lar e a Inst ituição VovóSebastiana. Elas oferecem atividades que incentivam eorientam crianças e adolescentes no melhor caminho aseguir. Mas, está difícil resolver como deveria.”

A situação de vulnerabilidade é existente namaior parte dos bairros de toda a Grande Florianópolis e

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se estendem à outros, quando o assunto é violência,criminalidade, prostituição e livre acesso às drogas,independente da idade, e algumas vezes vítima evitimizador ficam sem solução. Fatos que têm geradomaiores probabilidades de risco às mesmas, aosfamiliares e a sociedade como um todo.

As conselheiras do Conselho Tutelar domunicípio de Biguaçu, em depoimento oral, relatam:

– ‘’Dentre os casos mais graves registrados noConselho Tutelar também está a violência sexual, poisocorre toda semana e o agressor normalmente é daprópria família, padrasto, pai ou av ô, que abusam sempiedade dos pequenos indefesos.

– Para atendimento nos Bairros: Saveiro, BomViver, Janaina, Morro da Boa vista, locais de maiorprobabilidade de riscos, recebemos ajuda da polícia,mas não se pode generalizar, pois dependendo dosmeses, pode ser nos Bairros: Jardim Anápolis e JardimCarolina”.

Considerando a escola, como local ideal, porabranger uma grande quantidade de crianças e jovensreunidos, é o momento propício para os responsáveispela educação desenvolverem um bom trabalho visandomelhorar a qualidade de vida, por meio de orientação eprevenção aos riscos que todos estão expostos.

É possível ainda que ocorra uma grandemudança na cultura da agressividade. Para tanto, énecessário conscientização e interesse das autoridadesmunicipais, estaduais e federais. Porém, continuamosem nosso pequeno trabalho social, sabendo que pelomenos algumas crianças obtêm conhecimentos que lhesproporcionam melhores possibilidades perante a vida.

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Esperamos que em breve surja um governanteque tenha capacidade de ver e de agir, que enfrentedesafios, seja dinâmico, tenha humanidade e faça algode muito significativo pelas crianças e adolescentes,para que elas consigam evoluir com sabedoria,obtenham autocontrole, consigam manter aconcentração nos estudos e leituras, para que setornem adultos dignos, seguros, de respeito bemsucedidos e felizes.

O relato também é para nós refletirmos sobre assituações que estamos vivenciando e juntos buscarmossoluções.

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JOAQUIM GONÇALVES DOS SANTOS

Historiador, mestre em História, brasileiro, casado, nasceu a 27de março de 1936, em Florianópolis -SC. Fez os estudos do primário,secundário e o superior na cidade de Florianópolis.

Com a idade de 17 anos ingressou na Marinha de Guerra doBrasil, tendo lá permanecido no período de junho de 1953 até agosto de1960, onde realizou os cursos de: Direção de Tiro, Combate a Incêndio,Operador de Cinema, Técnico em Eletricidade (eletricista naval) eEscrituras Sagradas.

Após ter dado baixa do serviço militar, foi nomeado por concursopara o cargo de Escrivão de Exatoria Estadual, e depois para ExatorEstadual (atual Auditor Fiscal). Está aposentado deste último cargo desde1984.

Ingressou no Magistério Público Estadual através de concurso.Professor no período de 1968 até 2002, tendo também exercido os cargosde Diretor de Colégio e Supervisor Estadual de Educação.

Primeiro diretor da Casa dos Açores – Museu Etnográfico, emSão Miguel, Biguaçu-SC, nos anos de 1979-80.

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Professor de Educação Moral e Cívica, de Organização Social ePolítica do Brasil, de Geografia e História. Está aposentado no cargo deprofessor de História desde 2002.

Na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC fez oscursos de: Antropologia Social, Etnologia Brasileira, Origens do Homem eOrigens do Homem Americano, Licenciatura Plena em História e oMestrado em História do Brasil.

Vereador em Biguaçu por duas legislaturas: de 1973 a 1977 ereeleito até 1981, tendo sido Presidente da Câmara Municipal por doisperíodos, na administração do Prefeito Dr. Lauro Locks, e depois com oPrefeito Senhor João Brasil de Azevedo.

Escreveu e publicou as seguintes obras: A Freguesia de SãoMiguel da Terra Firme – aspectos históricos e demográficos – 1750-1894;Cônego Rodolfo Machado – 60 anos de sacerdócio; Martinho e Alzira –suas histórias; A Guarda Nacional em São Miguel; Cônego RodolfoMachado – Cidadão de Biguaçu.

Atualmente ocupa a Cadeira nº. 03 da Academia de Letras deBiguaçu, cujo Patrono é o Dr. Adolfo Konder. Eleito Presidente da mesmaAcademia para o período de 30 de junho de 2007 a 30 de junho de 2010.

Está sempre à disposição dos interessados para proferirpalestras em educandários, associações, clubes, entidades civis oureligiosas..., nas seguintes áreas: História do Brasil, de Santa Catarina eBiguaçu.

Acadêmico: Joaquim Gonçalves dos SantosNascimento: 27-03-1936Cadeira nº: 03Posse: 25-06-2004Título: Historiador / EscritorEndereço: Rua São José, 100, Apto . 404, Residencial Cônego Rodolfo,Centro, Biguaçu-SCCEP: 88160-000Fone: (48) 3285-8968 / 9914-9880E-mail/Site: [email protected]: Adolfo KonderTítulo: Político / Orador

Homenagem aos Acadêmicos

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Joaquim Gonçalves dos Santos

A Academia de Letras de BiguaçuÉ formada por acadêmicos idôneos,Que ocupam quarenta cadeirasDe ilustres patronesse e patronos.

Cadeira nº. 01_ Patrono: Abelardo Souza.Miriam de Almeida, poetisa.Considerada com muito afeto,Ela mudou de residênciaNão disse o endereço certo.

Cadeira nº. 02_ Patrono: Aderbal Ramos da Silva.Adauto Beckhäuser, advogado e escritor.Organizou um “site” para a academia,Gosta de tudo documentadoEstá a disposição todo dia.

Cadeira nº. 03_ Patrono: Adolfo Konder.Joaquim Gonçalves dos Santos, historiador.Atual presidente da Academia,Quer organização e participaçãoCaso contrário ele renuncia.

Cadeira nº. 04_ Patrono: Altino Flores.Hilta T. Bencciveni, poetisa.Acadêmica isenta de vaidade,É muito amiga de todosNão importa qual a idade.

Cadeira nº. 05_ Patrono: Aníbal Nunes Pires.Zenilda Nunes Lins, poetisa.Vice-presidente muito democrática,Usa sempre o bom senso,Amigas de todos e simpática.

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Cadeira nº. 06_ Patronesse: Antonieta de Barros.Zelka de Castro Sepetiba, escritora.Na academia é do conselho fiscal,Trata os assuntos com seriedadePois não considera nada banal.

Cadeira nº. 07_ Patrono: Luiz Delfino.Dorinda Rabelo M. Waltrick, poetisa.Estava muito doente,Ela deixou o nosso mundoCausando saudades na gente.

Cadeira nº. 08_ Patrono: João da Cruz e Souza.Norberto Nazareno B. Fortes, escritor.Está em Santo Amaro da Imperatriz,Voltou a participar ativamenteEstá contente e muito feliz.

Cadeira nº. 09_ Patrono: Elpídio Barbosa.José Braz da Silveira, advogado e escritor.É o nosso competente tesoureiro,Sempre está à disposição de todosMuito atencioso e companheiro.

Cadeira nº. 10_ Patronesse: Ala íde Sardá de Amorim.Janice Marés Volpato, escritora.Na academia é a bibliotecária,Muito prestativa e amigaPessoa assim é coisa rara.

Cadeira nº. 11_ Patrono: Juvêncio A.Figueredo.

Willian Wollinger Brenuvida, poeta.Intelectual muito competente ,

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Irradia alegria e otimismoNos eventos está sempre presente.

Cadeira nº. 12_ Patrono: Francisco Galloti.Toni Vidal Jochem, historiador.Faz falta a sua participação,Esperamos o seu retornoPois é uma pessoa de ação.

Cadeira nº. 13_ Patrono: Fr itz Müller.Wanda Ritta, historiadora.Não deu o novo endereço,Talvez ocorra algum problemaSem comunicação não há jeito.

Cadeira nº. 14_ Patrono: Geraldino A. de Azevedo.Dalvina de Jesus Siqueira, poetisa.Educadora e ótima escritora,É nossa Presidente de HonraDa academia é a fundadora.

Cadeira nº. 15_ Patrono: Henrique Fontes.Arlete Carminatti Zago, advogada.Brilhante na sua profissão,Queremos sua valiosa presençaNos eventos ou em reunião.

Cadeira nº. 16_ Patrono: Holdemar de Menezes.Maria do Carmo Antunes, poetisa.Voltou disposta para a academia,Muitos acadêmicos até pensaramQue ela não retornaria.

Cadeira nº. 17_ Cônego Rodolfo Machado.José Ricardo Petry, filósofo.

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Entende tudo de fotografia,É muito amigo das pessoasTrabalha sempre com alegria.

Cadeira nº. 18_ Patrono: Arnaldo de S. Thiago.Stela Máris Piazza Souza, escritora.Não temos a sua biografia,É competente e assíduaSempre disposta em qualquer dia.

Cadeira nº. 19_ Patrono: João C. Pacheco.Onete Ramos Santiago, psicóloga.Sempre notada a sua ausência,Aguardamos a sua voltaPois temos a preferência.

Cadeira nº. 20_ Patrono: João Nicolau Born.Osmarina Maria de Souza, poetisa.Da academia também é fundadora,Muito prestativa e organizadaTem o perfil de historiadora.

Cadeira nº. 21_ Patrono: Jorge Lacerda.Orival Prazeres, escritor.Está sempre muito atarefado,Defensor dos fracos e oprimidosPor todos é muito estimado.

Cadeira nº. 22_ Patrono: Vidal Mendes.Valdir Mendes, advogado.É o nosso assessor jurídico,Fez a reforma do estatutoDando o valioso veredicto.

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Cadeira nº. 23_ Patrono: Lausimar Laus.Vilca Marlene Merízio, poetisa.Sabe tudo sobre Portugal,Trabalha sempre com projetosCompanheira e muito legal.

Cadeira nº. 24_ Patrono: Paschoal A. Pitsica.Cezar Luiz Pasold, escritor.Em Imbituba está residindo,Sempre muito dispostoFeliz por um filho lindo.

Cadeira nº. 25_ Patronesse: Luiza dos R.Prazeres.

Miguel João Simão, historiador.Educador muito atuante,Gosta muito de escreverDesprovido de qualquer rompante.

Cadeira nº. 26_ Patronesse: Maria da Glória V. de Faria.Rogério Kremer, historiador.Muito amigo e organizado,Do município de Antônio CarlosTem muito documento arquivado.

Cadeira nº. 27_ Patrono: Mário Quintana.Vanda Lúcia Sens Schäffer, poetisa.Das pessoas é muito amiga,Seu coração é de todosJamais comprou uma briga.

Cadeira nº. 28_ Patrono: Manoel de Menezes.Esperidião Amim Helou Filho, educador.Precisa reservar algum tempo ,

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Está ausente da academiaAté o presente momento.

Cadeira nº. 29_ Patronesse: Maura de SennaPereira.

Alzira Maria S. dos Santos, poetisa.Educadora de grande qualidade,Sempre enaltece BiguaçuE defende nossa cidade.

Cadeira nº. 30_ Patrono: Nereu Corrêa.João F. Vaz Sepetiba, escritor.Sua ausência é muito sentida,Algum motivo deve existirAguardamos agora sua vinda.

Cadeira nº. 31_ Patrono: Nereu Ramos.Homero Costa Araújo, escritor.Intelectual muito competente,Quando não pode comparecerSempre justifica antecipadamente.

Cadeira nº. 32_ Patronesse: Nila Sardá.Resilamar F. M. Silva, escritora.É otimista e sorridente,Deve reservar algum tempoPara prestigiar nossa gente.

Cadeira nº. 33_ Patrono: Oswaldo R. Cabral.Dulcinéia F. Beckhäuser, escritora.Assumiu recente esta cadeira,Demonstra muita competênciaSempre atenta e ordeira.

Cadeira nº. 34_ Patrono: Othon Gama D`Eça.

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Vera Regina da S. de Barcellos, escritora.É a nossa competente secretária,Apresenta sempre boas idéiasNão importa qual seja a área.

Cadeira nº. 35_ Patrono: Raulino Reitz.Maria de L. Zunino Duarte, escritora.É uma acadêmica ausente,Gostaríamos de saber os motivosPorque não está presente.

Cadeira nº. 36_ Patrono: D. Jaime de B. Câmara.Alfredo da Silva, escritor.Agora muito participativo,Ficamos contentes com a voltaÉ intelectual muito ativo.

Cadeira nº. 37_ Patrono: Thomé da R. Linhares.Ana Lúcia Coutinho, historiadora.Batalha pela cultura em geral,Sempre muito atarefadaPessoa competente e leal.

Cadeira nº. 38_ Patrono: Lauro Locks.Neusita Luz de A. Churkin, poetisa.Está sempre com disposição,Viaja de longa distânciaPara prestigiar uma reunião.

Cadeira nº. 39_ Patrono: Virgílio Várzea.Ernestina Faizer Kurth, poetisa.Também é acadêmica ausente,Já enviamos correspondênciaAguardamos resposta urgente.

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Cadeira nº. 40_ Patrono: Visconde de Taunay.Leatrice Moellmann Pagani, escritora.Acadêmica de grande capacidade,Seus livros são tão importantesQue nunca perdem a validade.

Encerro minha homenagemCom estes versos inéditos,Sei que não agradei a todosDa próxima vez serão completos.

JOSÉ RICARDO PETRY

Nasci em 22 de novembro de 1958 em Florianópolis, filho de LuizFelipe Ramos Petry (in memoriam) e Marina Petry. Meu pai era ColetorEstadual de Biguaçu.

Estudei o primário na Escola Básica José Brasilísio. Concluiu a8ª série no Colégio Estadual M aria da Glória V. de Faria. E o 2ª grauestudou no Estreito no Colégio Co mercial Pio XII, foi a última turma comreconhecimento Técnico em Contabilidade. Exercia a função de contador.

Em 1974 meu irmão Luiz Renato montou o “Foto Ideal”, tendocontratado o fotógrafo Amaro, Daí despertou meu interesse pelafotografia, e o contado com o Padre Francisco Costa (in memoriam) quetinha um grande conhecimento da fotografia, que muito ensinou. E em1976 Luiz Renato fechou seu Foto Ideal, e eu fui trabalhar de continuo noBanco Real, trabalhei até 1977 onde tinha sido promovido para ca ixa. No

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início de 1978, já formado, sai do Banco e montei meu comércio FotoRicardo usando os equipamentos do meu irmão.

No 2ª semestre de 1978 fiz um curso Pré -Vestibular a noite emFlorianópolis, onde conheci a colega de aula Cátia Regina Gonçalves,casamos em 1981, foi o Cônego Rodolfo Machado quem celebrou nossasalianças.

Tenho 3 filhos: Ricardo Luiz Petry – 1983, Júlia Gonçalves Petry–1984, e João Vitor Gonçalves Petry – 1989. Em 1983 prestei vestibularUFSC para Filosofia e me formei em 1986.

Sou um fotógrafo Social, perdi as contas de quantoscasamentos, batizados, festas de aniversário, desfile 7 de setembro,bailes, eventos religiosos e políticos que eu fiz cobertura.

Em 1990 fui Presidente da ACIBIG (Associação Comercial eIndustrial de Biguaçu), e 2004 fui candidato Vice-Prefeito com PedroCardoso, na coligação entre PSDB com PTB, meu partido até hoje.Uns dos meus trabalhos mais relevantes foi da pesquisa fotográfica“Atividades Cônego Rodolfo Machado” (in memoriam). Em 2000 na casados Açores Museu Etnográfico, fiz a doação do acervo, ficando aexposição permanente até hoje.

Segue em ordem cronológica, certificados e homenagensrecebidos: 1969 – Lembrança 1ª Eucaristia em 28 de setembro na IgrejaMatriz São João Evangelista . 1974 – certificado de conclusão de 1ª grauno Colégio Mª da Glória V. de Faria. 1977 – Formatura de 2ª grau noColégio Comercial Pio XII, no Estreito. 1980 – SENAC (Serviço Nacionalde Aprendizagem Comercial) “Curso de Fotografia e Arte”. 1991 –Destaque Empresarial, promovido pela Sociedade Recreativa 17 de Maio.1993 – Padrinho de turma 8ª série da Escola Municipal Donato. 1995 –Homenagem Projeto Biguá -Flor, Troféu Raulino Reitz. 1996 –Homenagem da Margan Confecções “Cliente Amigo”. 1996 – Padrinhoturma 8ª série da Escola Avelino M üller. 1996 – Troféu Empresarial doAno, promovido pela ACIBIG. 1998 – Destaque do ano pela Empresa dePesquisa Promatex. 1998 – Troféu Empresarial pela ACIBIG. 1998 –Certificado Associação Com. e Industrial de Joinville, 1 ª colocadoconcurso categoria “Foto Social”. 2000 – Imprensa – Cobertura ViagemPresidencial a Petrobras em Biguaçu/SC, para o Jornal Biguaçu em Foco.2000 – Certificado Exposição Fotográfica “Atividades CônegoRodolfo Machado (in memoriam), pela Fundação Catarinense de CulturaCasa dos Açores e Museu Etnográfico. 2001 – Troféu Lar do IdosoOsvaldo Alípio da Silva (Padrinho). 2001 – Certificado Espaço do ArtistaDICAVE – Blumenau Foto Arte. 2003 – Troféu Biguá-Empresarial CPPropaganda. 2004 – Câmara de Vereadores de Biguaçu em SecçãoSolene Homenagem “Honra ao Mérito”. 2004 – Biguaçu Atlético Clube-BAC. Diploma Amigo do BAC. 2004 – Troféu Top Of Mind. Destaque

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empresarial “Biguá 2004”. Pela conquista da Preferência popular ereconhecimento da comunidade de Biguaçu. 2005 – Troféu OF-MIND,destaque empresarial. 2006 – Troféu OF-MIND, 4ª edição destaqueempresarial. 2007 – Prefeitura Municipal de Biguaçu – SecretariaMunicipal de Cultura Esporte Turismo e Lazer, “Honra ao MéritoBom Cidadão”. 2008 – Homenagem pela contribuição da turma Heróis daFé e amigo da Igreja do Evangelho Quadrangular.

É com grande responsabilidade que vou ocupar a cadeira doGrande Homem Público, o Cônego Rodolfo Pereira Machado, estou comum acervo de mais de 500 fotos reproduções inéditas. Aos meusfamiliares, amigos e clientes uma grande gratidão. Biguaçu é minha vida,agradeço a Deus pela cidade maravilhosa.

Acadêmico: José Ricardo PetryNascimento: 22-11-1958Cadeira nº: 17Posse: 14-05-2008Título: Filósofo / EscritorEndereço: Rua João Born, Biguaçu-SCCEP: 88160-000Fone: Não informadoE-mail/Site: Não informadoPatrono: Cônego Rodolfo Pereira MachadoTítulo: Cônego / Orador

MensagemPor Cônego Rodolfo Pereira Machado

Meus Caros AmigosDezembro de 1996

Nada mais importante na vida de um homem doque o agradecimento, e eu sempre agradeço a Deus osbenefícios que Ele me concedeu ao longo da minhavida. Ao me levantar de manhã ou na cama deitado,peço sempre a Deus que abençoe a todos,

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principalmente aos necessitados, os doentes e todosaqueles que precisam de sua misericórdia paraperseverar no caminho do bem e da salvação.

Nada mais gratificante para um padre se levantare ver diante de si os seus sucessores, aqueles que osubstituíram e vem pregando a palavra de NossoSenhor Jesus Cristo.

Por isso, nas minhas orações, eu sempre peço aDeus para glorificar aqueles que pastoreiam as almas.Espero que todos em 6 de janeiro de 1997, quandocompletarei 60 anos de sacerdócio, foi nesse dia em1937, que prometi a nosso Senhor lutar pela salvaçãodas almas.

Vamos, portanto, meus amigos, com muitasatisfação rezar pelo menos uma vez por dia pedindopaz e harmonia nesse mundo.

Que as famílias de Biguaçu esteja m unidas nonome de Deus. Muito Obrigado e que Deus conceda abênção a todos. Amém.

Cônego Rodolfo Pereira Machado64 anos de sacerdócio e 92 anos de vida

Janeiro de 2001

A igreja de Biguaçu, São João Evangelista,prepara uma missa em ação de graças paracomemorar os 64 anos de sacerdócio do C ônegoRodolfo em 6 de janeiro de 2001, do padre símbolo da

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cidade. Muito doente, sofre de artrose, não anda; ouvee vê com dificuldade.

Mesmo tendo deixado as atividades de párocoem 1976, ele continua sendo procurado por seus fiéis,a maioria deles grato pelo trabalho realizado desde1943. Apesar de doente ele está lúcido, e quandoprocurado, ele ouve as confissões completa s.

Padre Rodolfo como é conhecido, completaria 93anos em novembro, natural de Florianópolis, localidadede Canasvieiras, viu surgir a vocação sacerdotal apóssua crisma, com o padrinho Padre João Casale.Estudou Filosofia a Teologia em São Leopoldo -RS,concluiu em Mariana-MG e ordenou-se padre em Itajaí(1937).

Foi nomeado para Orleans (1937 a 1938), SãoPedro de Alcântara (1938 a 1941) e Itajaí (1941 a1943). Em 1943 veio para Biguaçu permanecendo atésua morte.

Os moradores mais antigos ainda se lembramque o primeiro carro a aparecer na localidade foi o seu.Além das atividades de Padre, realizou trabalhocomunitário, buscando junto as autoridades, donativospara as famílias carentes. Político, professor e muitomais.

Era o Padre Rodolfo quem dava assistência asmulheres que tinham dificuldades no parto caseiro,levando para o Florianópolis no seu carro.

A primeira creche, para as mulhe res poderemtrabalhar, ajudar no orçamento familiar, foi criada porele, (Jardim de Infância Chapeuzinho Vermelho).

Nomeado Cônego em 1962, quando comemorousuas Bodas de Prata como sacerdote, também recebeu

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homenagem de Honra ao Mérito pela Câmara deVereadores como “Cidadão de Biguaçu” . Padre Rodolfotinha grande domínio da língua Alemã.

Não posso esquecer de falar de Dona PaulinaBrugemann (em memória). Grande auxiliadora na casaparoquial, fazia expediente, cuidava da casa, do Jardimde Infância, professora de catequese e de música naIgreja. Teve toda sua vida voltada a cuidar do CônegoRodolfo Pereira Machado. Todo dia fornecia muitospratos de comida aos necessitados, mendigos e outros.

No fim da vida, Padre Rodolfo depend ia em tudode Vilma Lourenço Peres, criado por ele desde 3 anosde idade “Ele é praticamente uma criança, apesar dalucidez”, conta ela. O Cônego não anda, apenas dáalguns passos, de uma cadeira a outra, sofreu umderrame, que agravou sua saúde. Um cilindro deOxigênio é instalado em seu quarto, esta muito frágil.

Em 2000, a poetisa Dalvina de Jesus Siqueira,em comemoração do Jubileu de Ouro da Igreja Matrizque ele construiu, fez a o utorga da cadeira nº 17 aoacadêmico Cônego Rodolfo Pereira Machado.

Em 21 de março de 2001, veio a falecer o PadreRodolfo, sendo sepultado no cemitério Municipal SãoJoão Evangelista. Fez parte importante comopersonalidade Histórica de Biguaçu.

Procissão de Corpus Christi

Numa manhã de junho 1975, Grupos deFamílias, Movimento de Irmãos, Grupo de Jovem e apopulação em geral se reúnem ao redor da praça, na

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madrugada, para confeccionar os tapetes a procissãode Corpus Christi. Muita serragem, flores, tampinhas degarrafas, areia fina, pó de café, papel picado e muitomais material reciclado, além das formas para oscorredores.

Já os tapetes são únicos em cada estação,surgem os belos tapetes para os fi éis expressarem,através da arte, seus sentimentos da fé cristã.

De todos os tapetes, o que me faz pensar, é o daDona Augusta, no cruzament o da Rio Branco comLúcio Born, feito na maioria com tampinhas de garrafascobertas com papel laminado, lembro minha mãe(Marina Petry), cobria estas tampas com antecedência,para entregar no dia. Era um Cálice e uma Hóstia,representando a fé em Jesus Cristo; muito lindo.

“O corpo de Jesus é um alimento forte quesustenta a nossa caminhada na fé” diz o PadreRodolfo.

Começa a profissão, uma multidão acompanha oCônego Rodolfo, que termina com a missa ao ar livre,pois dentro da Igreja não caberia a quant idade de fiéisdevotos no dia de Corpus Christi.

Festa da Nossa Senhora dos Navegantes

Tudo começa num sábado de fevereiro às 10h,no Posto Texaco beira do rio, na rua João Pessoa,centro Biguaçu. Muitas embarcações enfeitadas combandeirinhas e fogos de artifício, comandadas pelofogueteiro Pialo, segue a imagem de Nossa Senhorados Navegantes, da Igreja Matriz até beira do rio . Ia de

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procissão pelo rio até o mar, ficando na Capela daPraia até a noite, quando segue a procissão a pé emdireção a Igreja Matriz vindo pela rua 7 de setembro .Mais fogos são estourados neste percurso . Chegandona Igreja Matriz havia uma verdadeira bateria defoguetes coloridos e barulhentos.

O Cônego Rodolfo estava a frente de toda afestividade, barraquinhas eram dist ribuídas em toda apraça, muita comida era servida nas barracas; asbebidas eram do Sr. Vidal Mendes – responsabilidadeBebidas Marte; as galinhas eram com recheio alemão;o churrasco bem temperado em cocho com temperos.

A maioria das vendas era realizada através deroletas que tinha os números 00 a 99, fabricad as apartir da roda de bicicleta . O baile no salão erarealizado nas tardes de domingo ; as domingueiraseram gratuitas.

Padre Rodolfo adorava fazer a Guerra dosBonecos em fogos de artifício, era a última atração napraça.

Que belas festas eram realizadas ! Todosajudavam: uns na cozinha, outros nas bebidas, outrosainda nas churrasqueiras improvisadas . Nas barracashaviam tortas de suspiro, pão de trança, cucas. .. Tudoficou na saudade...

Reconhecimento

Quando fizeres o bem, não espere aplausos,abraços ou notícias na mídia. Talvez seja por timidez,orgulho, desprezo, as pessoas raramente reconhecem

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a realização do bem. Mas, nem por isso, deixe depraticá-lo.

Agora, se fizeres o mal, esta rás sujeito a todotipo da má sorte; estarás nas páginas de jornal c omtodo pejorativo em evidência; descobrem oinacreditável e sua vida vira uma eterna desgraça.

Portanto, ainda é melhor fazer o bem, um diaserás homenageado por Ele e serás uma pessoa feliz.

LEATRICE MOELLMANN PAGANI

Natural de Florianópolis -SC, Leatrice Moellmann é formada emDireito e Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Federal deSanta Catarina. Tem onze livros publicados, três dobraduras e inúmerosartigos em jornais, revistas e antologias.

Pertence à Academia Catarinense de Letras, à Academia deLetras do Estado do Rio de Janeiro, à Academia de Letras de Biguaçu -SCe outras instituições culturais.

Acadêmica: Leatrice Moellmann PaganiCadeira nº: 40Posse: 17-12-1997Título: EscritoraEndereço: Rua Esteves Júnior, 563, Apto. 301, Florianópolis -SCCEP: 88015-130Fone: (48) 3222-5862E-mail/Site: [email protected]: Visconde de TaunayTítulo: político / Orador

ESPELHO

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Passando pelo espelho eu me vicom um ar tão feliz e tão contenteque fiquei bela e me surpreendide ter-me transformado de repente .

E logo em seguida eu entendia razão de tornar-me esplendenteFoi porque me flagrei pensando em tie o amor me iluminou completamente .

Senti-me como noiva engrinaldadasenti-me uma mulher abençoadasenti-me desejada e formosa.

Vendo-me de relance no cristalsenti-me uma mulher especialtornando o nosso mundo cor -de-rosa.

MARACANÃ

Foi uma apoteose verdadeira.No estádio, a família carioca,são artistas, a sociedade inteira:o nosso patriotismo nos convoca.

Depois de sete anos, a chuteirarisca o maracanã e nos provoca.Oitenta mil é a claque brasileiranuma explosão que a TV enfoca.

Em dribles e firulas corre o jogo,

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vai o Maracanã pegando fogo.O nosso adversário é o Equador.

Cacá, Robinho e Dunga, alvissareiro.E canta o torcedor: Sou brasileirocom muito orgulho, com muito amor...or!

NOSSO VELHO AFETO

Um belo dia tu me presenteiascom uma linda peça musical.Nossa vida pregressa tu folheias,dizes que meu olhar te é fatal.

Com teu canto de amor me homenageias,surpresas me dedicas às mãos-cheias.Meu carinho também é especial.Uma alva camélia invernal

a cada ano eu te oferecia.Assim recordo, cheia de saudade.Tu me amavas e eu não percebia.

Meu passado de ti está repleto.Pela instável fronteira entre amizadee amor, transita o nosso velho afeto.

O DIA SEGUINTE

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É um calor de sol a iluminarÉ uma embriaguez que me faz bemEm ti agarradinha, a recordarEu entro em alfa e vou além do além...

Existe uma utopia pelo arSe me abraças, não sei mais quem é quemEste êxtase hei de perpetuarAo anjos todos vão dizer amém .

Meu corpo necessita e exige o teuMinh’alma se compraz em teu ardorTeu corpo necessita e exige o meu .

Ao me entregar me sinto inebriadaE te devoto todo o meu amorNa certeza de ser também amada .

MARIA DO CARMO ANTUNES

Tem formação na área da saúde e prestou relevantes trabalhoscomo funcionária pública estad ual da Secretaria da Saúde de SantaCatarina.

É bonsaista (produz bonsai – arte oriental), é mosaicista decerâmica (produz mosaico – arte lusitana) e é poetisa.

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Participou de 5 (cinco) antologias da Associação dos Cronistas,Poetas e Contistas Catarinens es.

É acadêmica da egrégia Academia de Letras de Biguaçu, ondeocupa a cadeira de número 16, cujo patrono é o escritor HoldemarMenezes, que foi médico obstetra em Florianópolis -SC, profissional essecom quem esta acadêmica teve a honra de trabalhar comoinstrumentadora na Maternidade Carlos Corrêa.

Participou da antologia “Renascer da Primavera”, lançada pelaAcademia de Letras de Biguaçu.

Atualmente fixou domicílio em Santo Amaro da Imperatriz -SC,onde mora com seu esposo, e também poeta, Norberto Naza renoBarreiros Fortes – acadêmico da Academia de Letras de Biguaçu –, comquem tem um filho que se chama André Frederico Antunes Fortes.

Acadêmica: Maria do Carmo AntunesCadeira nº: 16Posse: 17-12-1997Título: PoetisaEndereço: Caixa Postal 59, Santo Amaro da Imperatriz-SCCEP: 88140-000Fone: Não informadoE-mail/Site: Não informadoPatrono: Holdemar de MenezesTítulo: Escritor

Desejo(Para Norberto Nazareno Barreiros Fortes)

– Que sua vida seja feita com cançõesde vitórias e de alegrias;

– Que sua consciência esteja sempresubmersa na luz divina;

– Que os ventos lhe soprem as músicasdos que sabem amar;

– Que a inspiração poética e musicalesteja sempre constante em seus dias;

– Que o amor seja sempre a notamusical maior em sua vida.

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Voa pássaro, voa!

IVoa pássaro, voa!Cumpre teu destino,A janela é pequenaMas está aberta!Sai de mansinho.

IIVoa pássaro, voaEm direção à liberdade!Segue teu bando,Todos vão te admirar!Na hora de cantar,Não sejas brando!

IIIVoa pássaro, voa!Faze de tua melodiaUm engajamento de multidões,Migra para outras fronteiras,Cantando, formando fileiras!

IVVoa pássaro, voa!E que no adejar de tuas asasNunca saibas o que é cansar,E que teu canto seja acalanto

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E venha as almas tristes alegrar!

VVoa pássaro, voa!Sai feliz a cantar,Toca muitas notas,Canta muitas letras,A música é tua sina!

VIVoa pássaro, voa!Não fiques a esperar,Derruba muros,Abre alas,Espalha mensagensPara a terra melhorar!

Tarde de outono!

Bruscamente a chuva cai!Meu coração entoa uma canção desconhecida,

mística, quase sinistra!Sua imagem plasmada em minha mente povoa

meu mundo, momentaneamente desalicerçado:a chuva, a rua, a lama, o vento, o pensamento, olamento..., a sensação se expande, o sentimento voa àtoa, a lembrança navega numa maré agitada,desvairada, desacreditada, num barco sem proa.

Você chegou e amorteceu, acalentou, beijou,adentrou, pousou e ritmado meu coração ficou!

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Ser Poeta!

É volitar entre as nuvens!Catar estrelas!Beijar as bochechas da lua cheia!É “morrer de amor”!É ter um amor maior que o Mundo!Um coração maior que tudo!

Parabéns por saber amar!

Vós tendes a chave do conhecimento mas se,contudo, não entrardes no coração de cada criança,vosso saber é como uma primavera sem flores!

Conhecimento e emoção precisam serdespertados na mesma medida, do contrário cresce umadulto desequilibrado.

É decepcionante o desequilíbrio profissional nosgraduados de ciências humanas. Temos cada vez maisespecialistas que aprenderam ser peritos em tratarolhos, ossos, cérebros, coração etc; entretanto, nãoaprenderam a tratar os doentes. Ciências humanassem amor é uma oficina onde o essencial não éprescrito, nem administrado.

Sobretudo nossas crianças precisam aprender apraticar o verbo amar; precisamos injetar amor emnossas crianças, para que no futuro tenhamosprofissionais, especialistas de todas as áreas, quetambém saibam amar.

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Há mais de cem anos, já dizia Ch arles Chaplin:“mais do que inteligência precisamos de afeição edoçura”!

Toscas notas

O barulho do silêncio ecoaE cria toscas notasNum piano roto.As notas assumem seqüênciaE o pianista,Que de pé permaneciaDedilhando teclas empoeiradas,Agora se ajoelha e, em formaDe prece, abraça o pianoQue só toca toscas notasQue evaporam,Formando brumasMescladas, amareladas, empoeiradas.Janelas opacas,Tudo tão desnudo,Tudo tão mudo,Paredes solitárias,Minha mente tão ocupada,Tantos versos atropeladosPor tantos pensamentosTão desalinhados.

Um campeão(Um acróstico para meu filho André Frederico Antunes Fortes)

Amor de nossas vidas,

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Nessa dimensão és exemplo a ser seguido:Determinado, animado!Regras não te prendem,És campeão na arte de viver!

Festeiro, gozador, ímpar!Rico menino de alma nobre,Entendes a linguagemDa natureza como ninguém.Entre tantos nativosReinas junto com as águas do riacho.Imperas o mundo da ecologiaComo um professor de área rural.Orientas a todos para jamais prender animais.

Antigamente um manezinho na ilha a abençoar o mar!Naquele gesto de reverência, na cadência das ondas,Tinhas cor dourada para contrastar com o sol.Uma paralisia cerebralNão te faz menos capaz.Estais cada vez melhor nas artes marciais!Serás também campeão na natação.

Fazes da vida um manancial de delícias!Ontem parecias um ser indefeso, hojeRecrias condições para vencer!Trata com amor todos os que de ti se aproximam!Encontras na terra a poderosa energia paraSer um implacável campeão!

Um pouco do que é ser mãe

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Ser mãe é sentir-se o máximo, pela condição desê-la!

Ser mãe é saber falar, calar e, sobretudo, ouvir oque seu filho tem para lhe contar.

Ser mãe é afagar, fazer ninar aquela criancinhaque faz parte do maior encanto da vida!

Ser mãe é esquecer -se de si, de suaspreferências, sem, contudo, anular -se, para poderdividir sua vida com seu filho.

Ser mãe é ser mestra na arte de amar, porquehá que ser dócil, generosa, companheira, amigaincondicional de todas as horas.

Ser mãe é emocionar-se ao ver que seu filhoestá aprendendo as lições da escola e, sobretudo,aprendendo a arte de viver, porque saber viver é umaarte!

MIGUEL JOÃO SIMÃO

Natural de Governador Celso Ramos -SC, Miguel João Simãonasceu em 21 de julho de 1960. Casado com Lucineide de AzevedoSimão desde 1981 é pai de Diego, Eduardo e Iolanda. Professor da RedeEstadual de Ensino dede 1980, atua como Professor Supervisor deEstágio e Didática na E.E.B. Wanderley Júnior, em São José. Presidentee Fundador da Academia de Letras de Governador Celso Ramos, ocupa aCadeira Nº 1, tendo como Patronesse Iolanda dos Santos Simão.

É Membro da Academia de Letras de Biguaçu ocupando aCadeira Nº 25, sendo Patronesse Luiza dos Reis Prazeres. É Membro da

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Oficial Academia Tijuquense de Letras, ocupando a Cadeira Nº 11, sendoPatrono Padre Jacob Hudieston Steler. Presidente e Fundador daAssociação dos Escritores dos Municípios da Região da GrandeFlorianópolis.

Presidente da Academia de Letras do Brasil em Santa Catarina,ocupando a Cadeira Nº 01. Tem três obras publicadas: “Ganchos – Umpedacinho de Portugal no Brasil”, “De Ganchos a Governador CelsoRamos” e “Mulheres de Ganchos”. Participou das seguintes antologias:Devaneios de Verão e Aconcheg o pela Academia de Letras de Biguaçu eEncontros da Primavera pela Academia de Letras de Governador CelsoRamos, onde foi organizador da Obra. Escreve para diversos Jornais daRegião.

Acadêmico: Miguel João SimãoNascimento: 21-07-1960Cadeira nº: 25Posse: Não informadoTítulo: Educador / EscritorEndereço: Rua São Pedro, 105, Canto dos Gaúchos, Governador CelsoRamos-SCCEP: 88190-000Fone: (48) 3262-0296 / 9972-1823E-mail/Site: [email protected]: Luiza dos Reis PrazeresTítulo: Educadora

A ROSA QUE EU PERDI

Do alto do campanário da velha igrejinha sentadano topo do morro, o sino badalava sem cessar.

O sino era tão velho quanto a construção dasparedes da igrejinha rebocadas com óleo extraído defígados de baleias. A igreja foi um sonho do povo que necessitava deum lugar para rezar.

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Sua construção data de 1941, mas não é a datada pedra fundamental, que foi colocad a no local bemantes, nem se sabe ao certo quanto tempo antes. Todo mundo queria ver a igrejinha acabada, comjanelas, com portas, com uma torre bem alta. Muitosnão alcançaram, foram embora desse mundo antes daobra ficar pronta, não chegaram nem a conhecer opadre. Mas, outros tiveram até o privil égio de vestirseus primeiros ternos na inauguração, chapéus decarmuça e lenços brancos no bolso do paletó.

Para as “moças de famílias” não faltou o véu quelhes cobriam os rostos e que só eram levantados nahora de tomar a comunhão. R oupas descentes, semdecotes e saias abaixo dos joelhos, é claro.

Teve até a banda de músicos que veio deFlorianópolis; foi aquele festão! Depois da missa, começava a domingueira nosalão improvisado ao lado da igrejinha. Salão Poeira,como diziam os hilários de plantão. Uma cobertura comlonas, cercado com uns pedaços de madeira, e alitodos se divertiam. Começou a dança. Pedro se encheu de corageme respondeu ao olhar fascinante da mais bela jovemque ali estava a enfeitar ainda mais a festa.

Chegou de mansinho, meio envergonhado e pediupermissão para aquela dança. Prontamente a moçaaceitou.

Começaram a dançar. Os olhares se atentaram aeles, centro de atenção por criarem um momento deraro esplendor. Formou um belo casal aos olhos dosmais velhos que ali estavam e deu inveja nos maisjovens.

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Ele era nativo da pacata vila de pescadoresdenominada Canto dos Ganchos, hoje GovernadorCelso Ramos. Descendia de uma mistura de alemãescom portugueses. O moço moreno claro, de olhos meioesverdeados trazia bem os traços das duas raças. Alto,de bela presença, chamava a atenção por ondepassava.

Ela chamava-se Rosa, uma rosa pura e bela quechamava a atenção por onde passava por sua belezaímpar.

Loira pura de cabelos amarelinhos e de olhosazuis, lindos como o céu clareado sem nuvens, erapercebida sempre. Sua simpatia, seu carisma eramqualidades admiradas por todos que lhes conheciam.

Essa dança foi o primeiro contato que ela tevecom um moço desconhecido, por isso tão marcantepara sua vida. Era a primeira vez que saia só, sem acompanhia dos pais .

Mal terminava essa dança e o músico jácomunicava a dança da gasosa, um costume da épocaque, muitas vezes, esvaziava o salão e quepermaneciam apenas os poucos sortudos.

A dança da gasosa era uma espécie debrincadeira que acontecia em todos os bailes, onde asmoças eram quem convidavam os moços a dançar, ecomo uma maneira generosa de retribuir o convite, omoço pagava uma gasosa (refrigerante) para a moça.Nesse momento, ficavam todos de orelhas bem em pé,pois os convidados geralmente eram seus futurospretendentes ao namoro.

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Rosa dirigiu seu olhar encantador para Pedro. Asexpressões no rosto, o sorriso singelo já dizia tudo, erao convite para dançar.

Na primeira dança nem uma palavra, mas nadança da gasosa já estavam mais soltos, mais avontade, e puderam trocar algumas palavras quemarcariam aquele momento como único, sagrado parao jovem casal.

Final de tarde! Algumas estrelas começam a pintaro céu, que vai perdendo o azul irradiante pelo tomescuro da noite que se aproxima. A domingueiratermina, as moças dirigem -se as suas casas, apenasos rapazes ficam ainda por mais tempo trocando idéias,fazendo comentários da festa, dando boasgargalhadas.

Rosa vai acompanhada da tia e da prima, mesmoassim ainda consegue deixar algumas palavras dedespedida a Pedro, visto que partiria cedo no diaseguinte.

Na manhã de inverno, daquele 30 de junho,agasalhada com um casaco que lhe protegia do frio, elase despede dos parentes e embarca na lancha que alevaria até Tijucas.

Quando chegou em casa, não levou muitasnovidades, o pai já sabia da festa, das companhias eaté da dança.

O pai de Rosa era um homem duro,incompreensível, áspero. Era do tipo que achava queum bom pretendente para a filha tinha que se r dali dosarredores, gente de família conhecida, menino que eleviu nascer e crescer, nada de gente de fora. Dizia quepaixão é igual fogo de palha, logo se apaga. Um bom

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casamento não precisa ter paixão, amor, essas coisastiradas da cabeça de gente nova . Um bom casamentose fazia com obediência. Mulher obediente etrabalhadeira tem futuro, pega bom casamento. A moçatem que ser prendada, saber cozinhar bem paraagradar o marido, usar bem o ferro de passar para nãoamarrotar a roupa, deixando -a bem passada.

Por mais que Rosa, com a ajuda da compreensivamãe, tentasse explicar que tinha sido apenas umadança, o homem não queria entender. Para tanto,tratou logo de arrumar um casamento para a filha. Omoço em questão era de família tradicional de Tijucas ehá muito tempo se interessava por Rosa.

No pacato vilarejo de Ganchos, Pedro continuavasuas atividades profissionais ao lado do pai. Em suashoras de solidão, buscava no amigo violão o antídotopara suas dores de cotovelos. Cantava, inventavacanções, declamava poesia, vivia um sonho acordado.

Era um incansável lutador pelo sonho quedesenhou ao lado de Rosa. Sempre que ia alguém deconfiança para Tijucas, mandava uma carta. As viagensà Tijucas eram comuns na época e aconteciam quasetodos os dias. Sempre ia alguém para Tijucas, fazercompras, buscar remédios nas benzedeiras, vendercrivos, enfim, sempre alguém tinha alguma coisa parafazer em Tijucas, visto ser uma cidade desenvolvida,com muitos recursos por aqui inexistentes.

Em todas as cartas receb idas por Rosa vinha acerteza do amor de Pedro. Mas, seu coração partia dedor em imaginar que já era comprometida, mesmocontra-gosto, mas por força de seu pai. Pedro sabiadas atitudes do pai de Rosa, mas a cada casa, a cada

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barco que terminava de constr uir, guardava o dinheiro,moeda sobre moedas, pois haveria de surpreender afamília de Rosa. Era uma promessa feita para simesmo, economizar, e quando tivesse um montantesuficiente iria à Tijucas e fugiria com a moça.

Namorou Rosa quase um ano por carta e seencontraram depois daquela inesquecível domingueiraapenas duas vezes, tempo suficiente para juraremamor eterno. Pedro trabalhava incansavelmente e não via ahora de buscar Rosa, pois já fazia algum tempo que elenão recebia notícias dela . As costumeiras cartas já nãolhe eram respondidas e, depois do último encontro, elerecebeu apenas uma carta sua, que suplicando eladizia que o casamento, logo seria marcado.

No sábado, depois da Páscoa, do ano seguinte,com uma quantia de dinheiro qu e era suficiente paraassumir tamanho compromisso, o de tirar uma moça defamília de casa de seus pais e dá -lhe o confortonecessário, Pedro se preparou para buscar Rosa.

Acordou feliz! Como se tivesse achado ouroenterrado. Ele foi buscar um terno que ma ndou oalfaiate fazer, engraxou seus sapatos e tratou com umdono de embarcação a hora da surpresa.

Mar calmo! E lá se vão os homens, remando rumoà Tijucas.

Na entrada da barra já se avista as casas e aIgreja de São Sebastião. Foram eles se aproximando evendo a presença de pessoas que se dirigiam para aigreja. Pessoas bem arrumadas, carroças e charretesenfeitadas e cheiro de festa no ar. Pedro, os dois

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remadores e o dono da embarcação atracam a canoano Porto e descem.

A curiosidade de Pedro instigo u-lhe a perguntaruma senhora, qual era a festa que tinha na cidade. Asenhora que também se dirigia à igreja, sorrindo,calmamente falou:

– É o casamento da Rosa, filha do seu Antônio,com Geraldo, o filho do fazendeiro.

Os remadores e o dono da embarcaç ão baixarama cabeça e só as levantaram quando os sinos da igrejaanunciavam a entrada da noiva. Ficaram estáticos, nemos olhos se mexiam, esperando a reação de Pedro queteve seu olhar transformado em dor, solitário,aprisionado. Lágrimas lhes caiam do r osto, masmanteve a postura de um homem educado, nem umapalavra falou, apenas pasmo ficou.

Deixou todas as pessoas entrarem na igreja, equando os noivos se aproximam do altar, ele chega demansinho a porta da igreja. Olha as pessoas, a igreja,dirige seu olhar em direção aos noivos.

Peito rasgado, não conseguia imaginar Rosa nosbraços de outro, para viver como manda osmandamentos de Deus. Casar para a vida toda, naalegria e na tristeza, na saúde e na doença. Queriauma explicação plausível para o c aso, queria saber seRosa havia deixado de lhe amar. Saiu da porta daigreja da mesma maneira que ali chegou, e preferiuesperar o casamento terminar próximo a embarcação.Gostaria de poder olhar nos olhos de Rosa, mesmo quefosse pela última vez.

Quase uma hora depois, saia da igreja a noiva debraços dados com o noivo. Ela não o percebeu. Soube,

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muitos anos depois por uma amiga, que Pedro tinha idolhe buscar, bem no dia de seu casamento.

Ele pode apreciar sua beleza, mesmo de longe, láda barranca do rio, viu pela última vez sua amada,como desejou um dia vê-la, vestida de noiva.

Ordenou aos homens que dessem a volta nalancha e dando seu último olhar em direção a igreja,com os olhos marejados de lágrimas, disse: Lá se foi aRosa que eu perdi...

NORBERTO NAZARENO

Nome literário de Norberto Nazareno Barreiros Fortes. Dedescendência portuguesa (Barreiros) e espanhola (Fortes), nasceu numacidade de colonização italiana, ao sul de Santa Catarina, Urussanga, a“Terra do Vinho”, em 1959. Aos 7 anos de idade já tocava violão e,enquanto entoava os primeiros acordes musicais, também cursava oensino fundamental no Grupo Escolar “Barão do Rio Branco”.

Na adolescência passou a compor poemas e a musicá -los, vindoa formar um grupo musical que se apresen tava em shows beneficentes.Durante a infância e adolescência sempre veio muito à Florianópolisvisitar irmãos mais velhos que já cursavam Universidade e, junto com osamiguinhos ilhéus, apresentavam o boi -de-mamão. Em 1977 concluiu oensino médio, formando-se no “Curso Técnico em Análises Químicas”, noColégio “Rainha do Mundo”, em Urussanga.

Em 1978 veio morar em Florianópolis, fixando seu domicílio naCapital do Estado até 2006, quando mudou -se com sua família para SantoAmaro da Imperatriz-SC, onde reside atualmente. Em 1978 fez o cursopré-vestibular do Barddal e estudou inglês na escola FISK. De 1978 a1980, na Capital do Estado de Santa Catarina, passou nos concursospúblicos da Polícia Federal, Centro de Informática e Automação de SantaCatarina (CIASC), Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) eMinistério das Comunicações.

Ainda em 1979 foi aprovado no vestibular da UniversidadeFederal de Santa Catarina para o curso de Farmácia e Bioquímica, onde

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cursou a primeira fase. Neste ano participou d o I Concurso Universitáriode Violão, realizado na Igrejinha do campus universitário, concorrendocom grandes violonistas do cenário musical, classificando -se para a etapafinal do certame. Em 1980 foi novamente aprovado no vestibular daUniversidade Federal de Santa Catarina para o curso de Direito. Formou -se no segundo semestre de 1985, colando grau em 04/01/1986.

De 1987 a 1994 classificou vários poemas musicados emdiversos Festivais da Canção em Santa Catarina (já publicados – comdetalhes dos locais apresentados – no livro “Aconchego” da Academia deLetras de Biguaçu), passando então, posteriormente, a apresentar -seprofissionalmente como músico (e sempre muito bem acompanhado porexcelentes músicos) no Shopping Itaguaçu, no Lagoa Iate Clube (LIC),restaurante Kantão (próximo ao Banco Itaú no bairro Estreito), festasparticulares e casamentos.

De 1990 a 1996 participou de vários cursos e vivênciasalternativas para o autoconhecimento, especializando -se no estudo doTarot e massoterapia ayurvédica, vin do a tornar-se Terapeuta holístico.

Em 1996 classificou “Saudades” no concurso promovido peloGrupo Brasília de Comunicação, com sede em Brasília -DF e Rio deJaneiro-RJ, vindo a ser membro, neste mesmo ano, da Associação dosCronistas, Poetas e Contistas Catarinenses (ACPCC), participando damaioria das antologias lançadas por esta agremiação. Em 1997 recebeu amedalha do mérito cultural “Stella Brasiliense” (Estrela de Brasília) doGrupo Brasília de Comunicação – pela participação ativa nas atividadesculturais dessa empresa jornalística – e tornou-se acadêmico da“Academia São João Evangelista da Barra de Biguaçu”, que mais tarde,por votação democrática de seus acadêmicos, viria denominar -sesimplesmente de “Academia de Letras de Biguaçu”, onde ocupa a c adeiranº 8 do poeta Cruz e Sousa. Tem participado, até o presente, de todas asantologias lançadas por esta insigne Academia de Letras.

Em 2001 conquistou o título de “Maestro Letterato” (MestreLiterato) pela Academia Brasileira de Estudos e Pesquisas L iterárias(ABEPL), em Brasília -DF. De 2001 a 2003 concluiu pós -graduação emDireito Constitucional e Direito Tributário pelo Instituto de PreparaçãoJurídica, com sede em Brasília -DF. Atualmente, participa do website da“Sociedade dos Poetas Advogados de S anta Catarina”(www.poetasadvogados.com.br ).

Em concurso de poesias realizado em São Paulo -SP (produçãode Arnaldo Giraldo), classificou alguns poemas e foi convidado pelo editora participar de um website literário – www.giraldo.org – para divulgartrabalhos literários. Endereço pessoal no website:www.giraldo.org/norbertofort

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Acadêmico: Norberto Nazareno Barreir os FortesNascimento: 29-08-1959Cadeira nº: 08Posse: 17-12-1997Título: Não informadoEndereço: Caixa Postal 59, Santo Amaro da Imperatriz -SCCEP: 88140-000Fone: (48) 9106-1161E-mail/Site: Não informadoPatrono: João da Cruz e SouzaTítulo: Poeta

Água doce37

A água doce é um bem essencial à vida. É umdos maiores valores da vida, assim como é o oxigênioque, através da respiração, é levado pelo sangue atodos os tecidos do nosso corpo, mantendo a vida emtodos os seres humanos. A água doce é um direito detodos. Temos que democratizá -la com uma gestãocomunitária e não transformá -la em consórcio parageração de lucros particulares e capitalistas.

A água doce não é mercadoria, pois sendomercadoria não tem nenhum objetivo ou valor social.Se for considerada apenas uma mercadoria, gera umdesastre, um caos social, porque muitas pessoasexcluídas economicamente da sociedade não poderãosobreviver, pois a água doce é um bem insubstituível àvida.

37 Crônica publicada no Jornal VIP – Vitrine Popular, de Santo Amaro daImperatriz-SC, cidade conhecida como o “Paraíso da Águas”, comdistribuição para a Grande Florianópolis, de 22 a 28 de setembro de 2006.

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Temos a obrigação, nós, seres humanosconscientes, de trabalhar para diminuir a poluição nosmananciais e nos rios das águas doces e proteger omeio ambiente. Temos que formar grupos ativistas paraproteger as nascentes e os rios, cada pessoa dandosua cota de contribuição e participação dentro de suaárea profissional, com o apoio do Poder Público –Executivo, Legislativo e Judiciário.

Em razão de a água potável ser um dos maioresvalores da vida, é dever de todos economizá -la,principalmente em razão dos níveis alarmantes depoluição que permeiam os n ossos rios atualmente.Como é um bem que está ficando cada vez mais raro acada dia que passa, conseqüentemente, está tambéma cada dia mais valorizado e cobiçado, chegando ahaver, atualmente, estrangeiros que estão querendointernacionalizar a Amazônia, que é um dos maioresreservatórios de água doce no mundo, isso sem falarda sua biodiversidade – flora e fauna – que é de umariqueza incomensurável.

Então, atualmente, está havendo uma grandecorrida para o apossamento dos mananciais de águadoce no planeta. Compete ao Poder Público, com oapoio de ONG’s (Organizações Não Governamentais –formadas com o objetivo de dar consciência ecológicaàs pessoas menos esclarecidas, e, conseqüentemente,dar também uma consciência mais humanitária –),continuar proporcionando uma vida comunitária justa eigualitária, com distribuição de água potável para toda asociedade, garantindo qualidade de vida a todos osseus membros, combatendo a poluição dos rios e dosseus mananciais, protegendo o meio ambiente do

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Planeta Terra, garantindo a continuidade da vida àsfuturas gerações.

Altruístas

Ainda existem, atualmente, pensamento eoratória de algumas mulheres que persistem emdizerem-se “feministas”.

Em pleno século XXI conclui -se que essediscurso já está ultrapassado. Senão vejamos:

O movimento feminista aconteceu até o final doséculo XX. Foi bom; as mulheres evoluíram muito,atingiram um grau de crescimento justo, semelhante aodo homem ou ainda maior em muitos casos; exemplodisso é o atual Código Civil Brasileiro (Lei n. 10.406, de10/01/2002) que criou medidas igualitárias entre ohomem e a mulher promovendo a tão sonhada justiçaentre os sexos, os direitos iguais, que tanto asmulheres almejavam.

A Lei n. 11.340, de 07/08/2006, também crioumecanismos de defesa e proteção à mulher, eliminandotodas as formas de discriminação contra as mulheres eprevine, pune e erradica a violência contra a mulher.

Então, hoje, não há mais necessidade demovimentos “feministas” ou “machistas”. E les estãosuperados. Não há mais espaço para rivalidades ecompetições entre os sexos porque isso só prejudica obom relacionamento e o entrosamento entre aspessoas no seio da sociedade, sociedade esta já tãoabalada em sua estrutura pela falta de seguran ça, de

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paz social, de moral, de respeito e de confiança entreseus membros.

Deixemos as competições, saudáveis paratodos, no âmbito dos esportes, dos concursos públicose dos diversos outros concursos de várias modalidadespara ambos os sexos.

Neste século XXI, denominado de Nova Era,preocupemo-nos todos em sermos humanitários,contribuindo para ajudar a sanar o problema dainjustiça social em nosso país, a erradicar a fome nomundo e a miséria nos países subdesenvolvidos,periféricos, e tentarmos soluc ionar, juntos, o problemado aquecimento global e da poluição do meio ambiente,para que as futuras gerações possam continuarsobrevivendo com dignidade, qualidade de vida e comas mesmas facilidades e condições que uma parcela dahumanidade desfruta nos d ias atuais.

Para que os dias continuem bons na atualidadee no futuro, e a felicidade esteja ao alcance de todos oshabitantes do Planeta Terra, busquemos sermossaudáveis com entendimento, ajuda mútua e amor:sejamos “altruístas”!

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Ao grande saxofonista38

Muitos vôos alçamos juntos: eu com meu violão,Você com o seu saxofone! A vida ficava mais alegreE vibrante quando entoávamos nossos sons,Que se eternizaram no infinito!

Hoje a vida ficou mais tristePois não poderá ouvir jamaisAs notas sonoras do seu saxofone,Ainda mais belas quando tocadas de improviso!

Vamos procurar absorver o conteúdoDessa estranha realidade: a perda de umGrande músico, dedicado, uma alma amigaQue nos deixou, vítima de estúpido ato de violência.

38 Homenagem ao músico saxofonista, Cabo Osvaldir Gonçalves , daBanda do Exército – 63º Batalhão de Infantaria, em Florianópolis -SC,tragicamente assassinado a tiros na madrugada do dia 2 de fevereiro de1998, em frente à Associação dos Funcionári os da Bescri, no JardimAtlântico, Florianópolis -SC.

Poema publicado no Jornal AN Capital, Florianópolis -SC, poucosdias após a sua morte. Curiosidades: O músico Osvaldir Gonçalves era deraça negra, mas falava fluentemente a língua alemã. Certa noite aochegar numa cidade catarinense de colonização alemã, foi xingado emlíngua alemã por dois anfitriões alemães, por ser negro, ao entrar no clubeda cidade onde iria apresentar -se com seu saxofone. Ele contava quetinha entendido todos os palavrões contra el e dirigidos. Após aapresentação, essas mesmas pessoas que o haviam xingado foramparabenizá-lo e ele os questionou porque o haviam xingado em línguaalemã momentos antes, e fez com que os agressores pedissemdesculpas.

Osvaldir Gonçalves contava essa his tória com um senso dehumor muito grande. Todos nós, amigos, ríamos muito com essa e outrashistórias e muitas piadas que ele contava. Por isso que, além de grandemúsico, era uma pessoa maravilhosa.

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Você foi embora, mas o seu sorriso largo ficou,Como também ficou o seu exemplo de homem públicoCheio de otimismo, companheirismo, honestidade,Amor, espírito de coletividade e respeito ao próximo!

Osvaldir Gonçalves: cabo do exército à espera da fardaDe sargento, por merecimento, pois que já havia sidoAprovado num concurso federal, no ano próximo passado.Meus parabéns! Grande músico da banda e de grandes parcerias!

Você foi um vitorioso por aqui! A platéia,Bem como seus amigos do mundo da música,Tanto da banda do quartel, quanto dos bares e restaurantes,Todos ouviram e se emocionaram com suas apresentaçõesmaravilhosas!

Aonde você estiver, esteja com Deus,Na Luz do Amor Divino! Amor esseQue muito você soube nos irradiarCom simplicidade, amizade e calor humano!

Não à violência! Que se continue a conscientizaçãoPela não violência em Santa Catarina, no BrasilE no mundo. Que todos os países lutem em prol de umaConvivência fraterna, de respeito e dignidade.

“Os responsáveis pelo futurosão os pais e as autoridades!Ou o homem acaba com o crimeOu o crime vai acabar com o homem”.

Que a concórdia, o entendimento entre os cidadãos,Seja a meta principal a ser alcançada no seioDe uma sociedade civilizada, onde, acima de tudo,O diálogo deve imperar, por amor a si, ao pr óximo e à paz!

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Um acróstico para Orlando Amorim

Ontem você apareceu em minha vida!Rico de conhecimentos, deu-me chance deLaborar com você para eu crescer profissionalmente.Agora, somos, além de colegas, também amigos.Nem a pressão do sistema va i desatar esse laço de amizade!De vez em quando, estaremos longe um do outro:Olharei para o horizonte e, com as estrelas, rezarei por você.

Advogado competente, simples, humilde e solidário.Muito trabalhador, discreto, independente, leal e correto.Orgulha-me ter conhecido você e desfrutar do seu convívio.Rico conhecedor das leis e do trabalho prático forense!Inteligentemente vai ajudando muitas pessoas:Moços, adultos, idosos e todos são gratos ao seu trabalho.

Catarinense 24 horas por dia 39

Florianópolis é a capital de Santa Catarina, terra amada dessanação!É terra amada de todos, do Rio Grande do Sul ao do Norte!Mas, por favor, não troquem a sigla do nosso Estado, não!Nós, catarinenses, não queremos trocar nosso passaporte!

Nós, catarinenses, somos um povo de muito orgulho e tradição!

39 Esta poesia foi composta em resposta a uma correspond ênciaendereçada ao autor por uma Instituição Literária de Brasília -DF, em cujoenvelope constava “Florianópolis-RS”. Assim que terminei de compô -la,coloquei-a num envelope com o endereço da Instituição LiteráriaBrasiliense, dirigi-me a uma agência do correio e a remeti de volta emresposta ao erro crasso que constava no envelope que eu havia recémrecebido.

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Para cá imigraram, dentre outros, o negro, o açoriano, o espanhole o alemão!Do nosso folclore temos o pau -de-fita e o boi-de-mamão!Por que trocar a sigla do nosso Estado, então? Quantadesatenção!

Nós, catarinenses, os perdoamos, pois, com certeza, foi falta deatenção!Mas esperamos que não se repita, pois por aqui já campeia muitogauchão!Aceitamos amizade, mas troca ou perda, jamais. Por favor, não!

Assim, espero que vocês não levem a mal esta carta em forma depoesia!Porque esses versos são de um catarinense 24 horas por dia!Poeta que ama essa terra e por nada no mundo a trocaria!

Confiante e feliz

AmeComo se você estivesseNuma guerra:Desprendido,Apesar de toda tensão;Confiante,Apesar de toda incerteza;Feliz,Apesar de todo clima adverso;Alegre,Porque essa é a naturezaharmônicaDo nosso ser,

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Mesmo diante da morte!

Perfume de mulher(Homenagem a todas as mulheres do Planeta

e a lembrança pela passagem do dia 8 de março quando é celebrado,todos os anos, o Dia Internacional da Mulher).

Mulher...Quem és tu?És uma ave?És um cantar?És o fogo?És a terra?És o mar?És a brisa suave?És o nascer e o pôr-do-sol?Pois és tudo isso e muito mais...És fonte de amor,Um oásis relaxante, mitigador!És uma flor, um abraço, um licor!És um aconchego familiar!És um incenso a queimar!És um coração aladoQue a tudo quer tocarE deixar...O teu perfume de mulher!

Eu e Carminha em Floripa(Carminha é minha esposa Maria do Carmo Antunes)

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Floresta e marE animais, vegetais,Flores, pássaros, enfim,Cores, multicores,Da natureza,Naturalmente bela.

Pensando... imagineiNós dois felizes,Num lugar livres,Tranqüilos,Numa ilha imensa,Onde há paz,Onde há harmonia,Onde há beleza e amor:Floripa,Belas praias e calor.

OSMARINA MARIA DE SOUZA

Natural de Florianópolis. Nasceu em 17 de novembro de 1929.Faz poesias e crônicas. Sócia e fundadora da Associação dos Poetas,Cronistas e Contistas Catarinenses. Fundadora da Academia São José deLetras, da Academia Desterrense de Letras e da Academia de Letras deBiguaçu, Voluntária no Núcleo de Estudos da Terceira Idade -UFSC. Fez oCurso de Monitora da Ação Gerontológica do NETI -UFSC.

Tem participação em muitos seminários e Congressos bem comona Primeira Conferência Nacional para Política da Pessoa Idosa, emBrasília, Faz parte da Missão Açores com participação na Escola deEnsino Superior em Setúbal - Portugal e na Universidade dos Açores nacidade de Ponta Delgada, nas Ilhas: Graciosa, do Pico e Faial nos Açores.

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Acadêmica: Osmarina Maria de SouzaNascimento: 17-01-1929Cadeira nº: 20Posse: 18-12-1996Título: PoetisaEndereço: Rua Ivo Reis Montenegro, 328, Apto. 101, Ed. Emanuelle, Bl.C, Bairro Floresta, São José -SCCEP: 88110-618Fone: (48) 3246-2931 / 9972-2272E-mail/Site: Não informadoPatrono: João Nicolau BornTítulo: Político / Orador

VOCÊ SABIA?... Na história de Biguaçu

Você que é natural desta simpática cidade, jádeve saber que a história de Biguaçu tem dois tempos:Primeiro o tempo dos portugueses, açorianos chegadospor volta de 1748. Alguns destes casais foramassentados na localidade de Três Riachos , outros emSão Miguel.

O segundo, o tempo dos alemães, que da vila d aArmação da Piedade, transferiram -se para São Pedrode Alcântara, e para a Foz do rio Biguaçu.

João Nicolau Born era um dos filhos do prósperoagricultor prussiano John Born, que também setransferira para a localidade do Louro.

João Nicolau, também agricultor, como seu pai,descia o rio para negociar suas mercadorias na barrado rio ou atravessar a baía para vendê -las na capital.

Gostou das terras, achou -as apropriadas e nabarra do rio fincou sua morada, construiu ali uma casade negócios em estilo português, em 1892. Em 1894

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construiu o casarão, ago ra em estilo alemão, ao ladode seu armazém, que até hoje, com mais de um século,continua desafiando o tempo na praça da cidade. É umdos símbolos de Biguaçu.

Muito se escreveu sobre a vida do casarão dosBorn, todo biguaçuense sabe de sua história e mui todeve a João Nicolau Born. Ele foi uma mola propulsorano desenvolvimento da cidade.

Foi o primeiro Superintendente da cidade. Emsua gestão se abriu a estrada que liga Biguaçu aFlorianópolis, e desviou a estrada Biguaçu Tijucas,passando pela localidade de Sorocaba e Timbé, de vezque por São Miguel era muito difícil a passagem pelolocal Inferninho. Hoje neste trajeto temos a famig eradae devastadora rodovia BR-101 que destruiu parte dopatrimônio histórico local.

Não estou aqui para escrever a histó ria deBiguaçu e sim para uma proposta diferente com umcapítulo cujo título é: Você Sabia, e dando início já lhefaço a pergunta. Você sabia...

– que Tomé da Rocha Linhares, nascido em SãoMiguel foi um líder na vida pública da vila. Foi oprimeiro presidente da Câmara de São Miguel, foi Juizde Paz, Vereador e exerceu, ainda, outros cargos navida político-administrativo da cidade.

Quando chamado para assumir uma cadeira naCâmara de Deputados, recusou. Conforme relato deMaria Lúcia Coutinho Locks, a m orte de Toméaconteceu em 9 de novembro de 1848, aos 77 anos deidade, motivada por uma queda de cavalo .

– que no dia 19 de março de 1780, nascia nalocalidade de São Miguel, o garoto Laureano José.

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– que segundo Maria do Carmo Ramos KriegerGoulart em seu livro “Um Ramo da Família Ramos”, omenino era filho de Matheus José Coelho, um dosaçorianos ali assentados. Por ser aquele dia umDomingo de Ramos, Matheus o registrou comoLaureano José Ramos. Seu casamento com MariaGertrudes e Moura, natural de L apa no Paraná constado Livro 1º de Casamento da Paróquia de SantoAntônio da Lapa. Laureano foi o primeiro varão dagrande família Ramos de Santa Catarina que fixouresidência na cidade de Lages.

– Nove foram os filhos deste casal: Davi JoséMoura Ramos, Policarpo José Ramos, João JoséRamos, Henrique Ferreira Ramos, Fidelis José Ramos,Luiz José de Oliveira Ramos, Gertrudes Maria deMoura Ramos.

Dos descendentes destes, em especialHenrique, temos: Aureliano de Oliveira Ramos, Vidal deOliveira Ramos, Manoel de Oliveira Ramos, e maisseus familiares, Nereu de Oliveira Ramos, CelsoRamos, Aderbal Ramos e tantos outros que foramfiguras de projeção na história de Santa Catarina .

– que o tenente-coronel João da Silva Ramalho,filho do tenente-coronel Joaquim da Silva Ramalho, foicomandante da Guarda Nacional de São Miguel, localde seu nascimento?

– Que Joaquim da Silva Ramalho, avô de Joãoda Silva Ramalho foi o primeiro catarinense a receberdireitos de sangrar, operar, e fazer sanguessugas, ouseja, o certificado de médico cirurgião?

– que Cipriano Coelho Ruiz, nascido em SãoMiguel, foi comandante do 6º Batalhão a Guarda

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Nacional?– que os dois primeiros historiadores de Santa

Catarina, Joaquim de Almeida Coelho e Manoel deAlmeida Coelho eram na turais de Biguaçu, maisprecisamente da localidade de São Miguel e filhos doBrigadeiro Manoel Coelho Rodrigues também natural eSão Miguel?

– que eram também nascidos em Biguaçu oMarechal Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão,Visconde de Santa Teresa?

– que o Marechal de Campo A ntônio NicolauFalcão da Frota aos dezesseis anos ingressou na vidamilitar e participou na guer ra contra o Uruguai eParaguai chegando ao posto de Brigadeiro , depois aMarechal, e ocupou a Pasta da Guerra; e que seuirmão Júlio Anacleto Falcão da Frota foi militar doCorpo de Engenheiros e tomou parte também naGuerra do Paraguai e Uruguai. Serviu o gabinete doMarechal Osório e foi o primeiro brasileiro a receber osbordados de general. Chegou ao posto de Marechalcomo o seu irmão, ambos eram também naturais deBiguaçu?

– Joaquim da Silva Ramalho também exerceu ocargo de Promotor Público na capital e foi Vice-Presidente da Província de Santa Catarina. Todosestes vultos tiveram destaque na história não só deSanta Catarina, mas do Brasil?

– Sabia que em 1829, se instalaram em SãoPedro de Alcântara, alemães vindos das margens doRio Mosela e na década de 1860 chegaram os vindosde Vestfália, entre eles a família Locks que foramassentados na Colônia Teresópolis. Alguns deles

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migraram para Braço do Norte, onde se formava umnovo núcleo de colonização alemã, inclusive os Locks.Duas ou três gerações após, nascia também em Braçodo Norte o menino Lauro, filho de Bernardo Francisco?

– que Lauro Locks iniciou sua vida profissionalcomo professor primário e depois como Diretor, nasescolas de Braço do Norte, Bom Retiro e Tubarãoquando foi transferido para Biguaçu. Lauro foi eleitoDeputado Estadual, por Biguaçu e com votos de Braçodo Norte, e como tal exerceu o cargo em quatrolegislaturas. Foi Secretário Estadual de Educação,Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado e Prefeitoda cidade. Em sua gestão à frente da Prefeitura,Biguaçu teve grande impulso em seu desenvolvimento.A cidade deve muito a este homem nascido em Braçodo Norte e aqui estabelecido desde 1951.

A morte de sua querida esposa Tabita, o deixouem viuvez, rodeado de seus dezesseis filhos e netos,mas vivendo na cidade que adotou a sua queridaBiguaçu.

Você, jovem ou garoto que estudou ou estuda navelha escola no centro da cidade, sabe, é lógico, o seunome, pois está escrito no seu frontal e muitas foram àsvezes que escreveu em seus cadernos “Escola BásicaJosé Brasilício”. Muitos , no entanto, não tiveram acuriosidade de saber quem foi este homem que deunome a sua escola.

Você sabia que José Brasilício, nasceu emnasceu em Pernambuco e chegou a Santa Catarinacom apenas três anos de idade. Era ateu, mas regeupor muito tempo o coro da Igreja da Ordem Terceira deSão Francisco. Foi grande Professor, c olecionador de

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selos e moedas, astrônomo, e sobre isto secorrespondia com grandes conhecedores do assunto.Divulgador do idioma volapük, e sobre ela mantevefarta correspondência com divulgadores europeus.

José Brasilício foi casado com a poetisa MariaCarolina Corcoroca de Souza, pai do músico ÁlvaroSouza e avô do cronista, m úsico, escritor e poetaAbelardo Souza.

José Brasilício foi autor da letra do Hino doEstado de Santa Catarina que recebeu música deHorácio Nunes Pires.

– que Abelardo Souza, con ta com riqueza dedetalhes o que aconteceu na noite e 4 de fevereiro de1890. Com a presença do Governador Lauro Müller, doTenente Carlos Augusto de Campos, seu secretário eJosé Artur Boiteux, seu oficial de gabinete, quando emsua bela residência à rua Álvaro de Carvalho nº 14 , nacidade de Desterro, José Brasilício, sua esposa donaMaria Corcoroca receberam os ilustres visitantes e osconduziram à sala onde, entre seleto auditório comfarfalhar de saias e leques já se encontrava o MaestroHorácio Nunes Pires. Após todos terem se acomodadoJosé Brasilício senta -se ao piano-de-cauda, eacompanhado pelo violino do maestro João AdolfoFerreira Melo, três jovens cantam o Hino do Estado deSanta Catarina. É um longo e belo capítulo este queAbelardo Souza nos apresenta com o título de“Pequena História de um Grande Hino ”, em seu livro “OMestre-Escola Viaja no Tempo”.

– que o piano acima mencionado esteve pormuitos anos na Escola José Brasilício de Biguaçu, hojese encontra corroído no Museu Histórico de S anta

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Catarina.– que um dia conversando com a professora

Dalvina, ex-Diretora daquela escola, ela meconfidenciou comovida:

– Visitei o Museu e quando vi o piano ondemuitas vezes meus dedos dedilharam seu teclado,confesso que chorei. Doeu no fundo do m eu coração,acrescentou ela.

– E você sabia que a família Ramalho foi quemconstruiu o sobrado de São Miguel, que mais tardepassou a ser propriedade de outras famílias e hoje épatrimônio do Estado, onde funciona o MuseuHistórico?

– que o sobrado, além de residência, foi PaçoMunicipal, Paço da Capitania, abrigo das tropas quecombateram no sul a gente Farroupilha e foi ondenasceu o miguelense Joaquim da Silva Ramalho , quechegou a Vice-Governador e depois Governador daProvíncia?

Abro aqui um parêntese para contar um encontroque tive no ano de 2000, com a senhora Araci TavaresNeves. Esta senhora, que há três ou quatro anos nosdeixou, era neta de João Nicolau Born. Com quasenoventa anos Araci muito lúcida me contou passagenspitorescas de seus avós; porém um caso interessanteaconteceu com o rico tijucano Jacó Lameu Tavares,filho do proprietário do sobrado de São Miguel, que seenamorara de Guilhermina uma da s filhas de JoãoNicolau Born. Jacó muito apessoado, de boas posses,boêmio, pediu a jovem em casamento. João Nicolau,querendo saber se realmente o galã tinha dinheiro,perguntou:

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– Você pode me emprestar duzentos mil réis?Ao que o jovem mancebo, à queima roupa respondeu -lhe com outra pergunta.

– O senhor quer este dinheiro em dólar ou emlibra esterlina?

João Nicolau silenciou admirado. Em poucotempo estavam casados Jacó e Guilhermina e destecasamento eu nasci, complementou Araci.

Certa vez, acrescentou Araci, meu pai, e outrosfamiliares visitaram o Museu de São Miguel, antigaresidência da nossa família. Ficaram empolgados comas fotos e utensílios, e tudo mais que viram, inclusivecom a foto de vovô João Nicolau. Passaram então, anarrar aos presentes um pouco da história dos Born eNeves, ligadas por laços familiares, pela política, epelos dois casarões, de Biguaçu e de São Miguel queguardam curiosidades deste aprazível recanto à beiramar. Os turistas presentes, disse Araci, passaram aescutá-lo; o guia do Museu muito admirado também oouvia, pois também ele viveu momentos de sauda de.

Sabia que Biguaçu em sua vida literária contacom pessoas importantes ligadas às letras e que aquitentamos lembrar e perguntamos: você sabia que?

– Geraldino Atto de Azevedo, natural deCamboriu viveu anos de sua vida entre Rio Grande doSul, Florianópolis (Canasvieiras) . Em 1924 veio morarem Biguaçu indo trabalhar no armazém de Aníbal A.da Silva e apaixonou-se pela filha de seu patrão comquem se casou. Começou a publicar suas poesias eficou conhecido como “O Poeta de Biguaçu”, título queserviu para ilustrar seu livro póstumo, editado em 1948pelo amigo Manoel Félix Cardoso.

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– Geraldino é patrono da Cadeira nº 14 daAcademia de Letras de Biguaçu, onde tem acento aescritora Dalvina de Jesus Siqueira .

– que Salim Miguel, para todos, um bigua çuenseque nasceu no Líbano, veio para o Brasil ainda muitopequeno, criou-se no interior do município, no meio dacolonização alemã. Sempre escreveu ressaltando suavida em Biguaçu, ena ltecendo a cidade suas praias, apraça, e logradouros com passagens pi torescas de ummenino levado, feliz, que viveu sua infância como todomenino deve viver, isto é, brincando de ser feliz, nacidade também simples , mas com cara de cidade feliz.É um contista de renome, elogiado pela crítica. Biguaçuse orgulha de Salim Miguel que tanto a valorizou emseus escritos.

– que João Machado Mendes – é um autor,nascido em Biguaçu, cujo destino lhe pregou uma peça.Sofreu um acidente e perdeu a visão, mas nem por issodeixou de estudar. Escreveu livros . O primeiro foiprefaciado pela professora Nila Sardá e o segundo peloescritor gaúcho Nilo Ruschel. Joã o Mendes montou emBiguaçu uma livraria e papelaria. Figura muito queridana cidade. Em 1951 escreveu “Amor, Amizade eEsperança”, poesias líricas, prefaciado também por NilaSardá.

– que João Crisóstomo Pacheco, é natural deCamboriu, mas se transferiu para Biguaçu e em 1921fundou a imprensa com o jornal “O Arauto”, onde alémde proprietário era o seu diretor. Faleceu em Blumenaua 4 de maio de 1948.

– que José Nicolau Born, filho de João Born,tinha o diploma de Engenheiro -Geógrafo. Foi

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funcionário da Diretoria de Terras e Colonização. Maistarde foi trabalhar no Ministério da Agricultura, no Riode Janeiro. Em 1961 foi eleito Deputado Estadual.Membro do Instituto Históri co e Geográfico de SantaCatarina. Foi o primeiro autor de Biguaçu a se dedicar àhistória do município. Escreveu um livro com notíciasdescritivas sobre estatística, em diversos volumes.Começou a escrever um novo livro sobre a história deBiguaçu, porém com sua morte, este trabalho foiperdido. Faleceu em maio de 1966, deixando escritos ealguns ensaios topográficos sobre agricultura, egeografia.

– que Walter José Jorge – nasceu em Biguaçu,filho de pais libaneses. Advogado, defendeu tese emDireito Florestal. Foi Consultor Jurídico do ServiçoFlorestal da Diretoria de Terras e Colonização,Conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil,Conselheiro Jurídico do Estado, fundador daConfederação Brasileira de Fotografia e Cinema emSão Paulo, Crítico em foto grafia, escreveu em jornaisde Santa Catarina e Rio de Janeiro. Tem livrospublicados. É sócio fundador da Associação dosCronistas, Poetas e Contistas Catarinenses, eacadêmico fundador da Academia São José de Letras,onde ocupa a Cadeira nº 09 cujo Patro no é OswaldoRodrigues Cabral.

– que Lídio Martins Barbosa – natural deBiguaçu, foi autodidata. Era jornalista e fez parte dojornal “A Tribuna” era amigo de Martinho Callado, Cruze Souza e de Virgílio Várzea. Ao lado de Esteves Júniorrepresentou Santa Catarina no CongressoRepublicano, na Corte em 1887. Membro do Instituto

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Histórico e Geográfico de Santa Catarina. É patrono daCadeira nº 28 da Academia Catarinense de Letras, e daCadeira nº 24 da Academia Biguaçu de Letras.

– que Alaíde Sardá Amorim – nascida emBiguaçu, recentemente falecida foi professora nestacidade. Exerceu sua profissão com muita dedicaçãosem com isto deixar de escrever poesias. Seu primeirolivro, cujo título foi Turismo a Dois, onde se encontramdados biográficos da autora e tem apresentação dogrande historiador Oswaldo Rodrigues Cabral.Pertenceu à Academia de Letras de Biguaçu, e hoje épatronesse de uma cadeira nesta mesma Academia. Éfundadora da Associação dos Cronistas, Poetas eContistas Catarinenses.

– que Durval Neto – jovem boêmio, alegre,poeta, compositor, professor, era autor do Hino deBiguaçu. Netinho pertenceu à Academia de Letras deLetras de Biguaçu.

– que Dalvina de Jesus Siqueira – nascida emBiguaçu, sempre morou em sua cidade natal. Éprofessora, licenciada em Pedagogia, Letras ePsicologia. Todos os habitantes de Biguaçu conhecemdona Dalvina, pois se não foram seus alunos, seusfilhos ou seus pais o foram.

Dalvina foi professora e Diretora da EscolaBásica José Brasilício, e Diretora do Colégio Mari a daGlória Veríssimo de Faria. É escritora e poetisa. Temcinco livros publicados além de participação emdiversas Antologias. Dalvina é pessoa saudosista e temum acervo de memória sobre curiosidades e casosacontecidos em Biguaçu. É fundadora e foi Pres identeda Academia de Letras de Biguaçu.

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Você sabia que em fins de 1906 fo i terminada aestrada Biguaçu – Tijucas, obra iniciada por JoãoNicolau Born, e que em dezembro deste mesmo ano oGovernador Gustavo Richard inaugurou a pontemetálica sobre o rio Biguaçu?

Muitos moradores desta cidade lembram davelha ponte coberta de zinco, assoalhada, e que media30 metros.

Às 8 horas de uma manhã de sol, o Governadore sua comitiva fizeram a bordo de uma lancha, atravessia para o Estreito. Daí para o municíp io deBiguaçu foram de carro de cavalo. Segundo descreveua escritora Sillviamélia, neta do Governador.

– Você sabia que no chão da Igreja de SãoMiguel estão enterradas algumas pessoas ilustres,entre elas Joaquim da Rocha Linhares, o médicoJoaquim da Silva Ramalho Pereira, o Juiz JoséJoaquim Varela, o Coronel João Florêncio Jordão, oCoronel Henrique e Azevedo Leão Coutinho, o PadreSerrano e outros. No cemitério ao lado da Igrejapodemos ainda ler em algumas tumbas, inscrições commais de 200 anos cu jos restos são de pessoas defamílias ilustres e até hoje conhecidas como: os Moura,Demoro, Linhares, Azevedo Coutinho, Siqueira, Neves,Farias, Born, Dias, Couto, Amorim, Ramalho. Alipodemos inclusive levantar dados da história domunicípio.

– Você sabia que ainda hoje são lembrados emBiguaçu o nome de professores dedicados, amigos emuitos deles nascidos nesta cidade, Procuramos aquilembrar alguns nomes: Ana Amélia Pereira, filha doCoronel Henrique de Azevedo Leão Coutinho, foi

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nomeada para dirigir a primeira escola provincialfeminina.

Em 1851, funcionava em Biguaçu duas escolas,uma do professor Caetano José Gonçalves, com 5alunos e outra de Francisco José Pereira Duarte, com 7alunos. Em 1864, João Rodrigues Pereira era nomeadoprofessor de primeiras letras. Nas localidades poucodistantes do centro da vila, outras escolas funcionavamprecariamente. Sabe-se que em Três Riachos, aprofessora Bernardina Manoela Siqueira dirigia aescola com 19 meninos e 14 meninas matriculadas. Em1917, nesta mesma escola era professora BentaSiqueira com um total de 12 alunos.

Para não nos estender muito, podemos, ainda,anotar que na sede do município estavam osprofessores: Donato Alípio de Campos e Maria Barbosaque foi a primeira professora normalista nomeada emBiguaçu e lecionou francês na Escola Feminina. Fa ziatextos teatrais que apresentava no casarão dos Born.

Maria Barbosa era casada com Alfredo Bor n,filho de João Nicolau Born. Em São Miguel tambémestava ensinando as primeiras letras, a professoraJulieta Amorim.

Mais recentemente lembramos as professorasMaria da Glória Veríssimo Faria, cuja dedicação acausa, foi distinguida merecidamente com seu nomeem um Colégio, Nila Sardá, a dona Nenem como eraconhecida pelos seus alunos e familiares, não te ve aatenção da Prefeitura, com uma homenagem, A cidadenão lhe distingui nem com uma placa de rua. É umapena que dona Nila não tenha sido lembrada comotambém dona Alaíde Sardá, a poetisa de quem já falei

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acima. Anita Borbi Coutinho, que em entrevista e m1997, nos contou:

– Sou professora aposentada e por 18 anos deiaula em São Miguel, e 8 anos no José Brasilício deBiguaçu, lecionei também em Três Riachos.

Durval Borba, o Netinho, de saudosa memória foiprofessor no Colégio Maria da Glória Faria.

João Brasil de Azevedo – nasceu em Biguaçu, éfilho do poeta de Biguaçu, Geraldino Atto de Azevedo.Foi aluno do Grupo Escolar José Brasilício .Comerciante e contabilista, foi eleito por diversas vezesvice-prefeito e como tal assumiu a Prefeitura, naausência dos titulares.

À frente da Prefeitura deu grande impulso eprioridade a formação de escola no interior domunicípio. Foi fundador e pertenceu à Diretoria doClube 17 de Maio.

Encerrando meu trabalho, deixo além destasbreves curiosidades, novamente a pergunta: VocêSabia?...

Antes de encerrar meu trabalho vejamos o quedisse Duperrey Lesson, em 1822 quando em viagempara o Prata, esteve em São Miguel, cujo relato seencontra às páginas 257 e 258 do livro Ilha de SantaCatarina – relatos de Viajantes Estrangeiros nosSéculos XVIII e XIX:

“Avançamos para o sul, ao logo da costa,encontra-se a Vila de São Miguel, notávelpor seu moinho de água e uma lindacascata. A vila de São Miguel é situada aO.S.O. a cerca de umas seis milhas doforte de Santa Cruz.

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Esta se compõe de uma série de casasdistantes umas das outras. Na suaestrada fica a aguada onde os navios seabastecem. Esta é fresca e límpida e vemdas montanhas vizinhas por meio de umaqueduto de madeira que conduz a águasobre os cubos de uma larg a roda demoinho que serve para debulhar arroz...Basta estender o recipiente onde ela caisob a mesma escoa até o mar que nãoestá a mais de cinqüenta passos.... As casas que constituem o vilarejo sãoparticularmente dispostas em duas fileirasmuito espaçadas; em seguida o terrenosobe e desce e as casas isoladas nãoultrapassam uma pequena cadeia que sedirige de leste a oeste.As mulheres voltadas para os d iferentestrabalhos domésticos, ocupam-se de fazerrenda que elas trabalham com gosto, e alimpar o algodão que elas fiam nos fusos,com os quais elas fazem roupas para todaa família. Elas têm formas graciosas àssuas figuras não faltam encantos nemexpressão. Embora ponham um certoesmero em seus adornos, elas usamvestimentas simples de uma limpezanotável. Um vestido leve de chita quedesenha uma estatura bem apanhada,algumas flores colocadas com arte sobrea bela cabeleira, lhes dão um arprovocante. Elas possuem aquela

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coqueteria tão comum ao seu sexo, e tãoatraentes paras os estrangeiros... “

E assim galantemente segue Lesson suanarrativa tão pitoresca, romântica e cheia de verdades.Uma verdade ainda hoje notada na gente de Biguaçu.

UMA PRACINHA ALEGRE

Caminhando com uma amiga pela calçada daromântica e gostosa pracinha da cidade, ou vi ocantarolar de alguém. Eram 9 horas de uma ensolaradamanhã.

Uma aragem, que balançava a ramagem, asárvores e as flores, anunciava que o dia não seria tãoquente. Aquele cantarolar se tornava cada vez maispróximo de nós que, paradas na esquina,aguardávamos a passagem de um ou dois carrosapressados. Foi então que vimos e nos surpreendemoscom uma cena pitoresca; pedalando uma bicicleta,muito velha, um jovem senhor aparentando vinte ecinco anos de idade. Vestindo bermuda azul, camisabranca e boné vermelho, cantava bem alto uma cançãoalegre e dava vivas à vida, sem acanhamento e semse preocupar com aqueles que paravam para admirá -lo.

Olhava para os lados, dava um alegre bom -dia econtinuava cantando sua alegre canção de felicidadeem bom tom. Ainda se podia ouvi-lo ao longe.

Caminhamos mais alguns passos, e o encontrocom uma simpática senhora professora aposentada e

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amiga de minha colega, que agora se dedica a umpequeno sítio. Haviam trabalhado juntas no colégiopróximo.

– Crio animais, disse ela. Cavalos, vacas,galinhas, perus. Colho ovos, bananas, leite, continuoufeliz. E gesticulando muito, mostrando com isto suafelicidade, completava:

– Ganhei um carro de minha filha, mas prefericomprar uma bicicleta, para correr pela cidade e sentir -me ainda mais livre e feliz. Respiro melhor, concluiusorrindo, ao se despedir.

– Dirigimo-nos a uma agência bancária, e resolviaguardar minha amiga, do lado de fora. Minha atençãodespertou para uma senhora que se aproximava.Aparentava sessenta anos e chegava ali pedalandouma velha bicicleta já enferrujada. Olhou para um ladoe para o outro, saltou e encostou a sua velha conduçãoa uma parede, e sem o menor cuidado também sedirigiu ao Banco.

Eu fiquei só meditando : “Como a bicicleta éimportante nesta cidade e como seus habitantes sãofelizes. Cantam pelas ruas, preferem a bicicleta aoautomóvel, e não têm medo que lhes roubem suamagrela; podem deixá-las encostadas a qualquerparede sem perigo”.

Confesso que também me senti feliz por e star alie tive até vontade de fazer parte daquela população. Éuma cidade tão simples e rom ântica, onde todos seconhecem se respeitam, e além desta virtude a cidadeconta com belas praias, um rio de integração, piscoso ecom grande participação em sua história. Como é bompassear as nove horas da manhã pela pracinha da

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querida Biguaçu tão romântica.

Fontes de consultas:

CARDOSO, Manoel Félix. O Poeta de Biguaçu . 1948.Ilha de Santa Catarina – Relatos de Viajantesestrangeiros nos Séculos XVIII e XIX . Florianópolis:Editora UFSC, 2ª edição, 1984.PIAZZA, Walter. História de Biguaçu . Fascículo 01,02,03. Florianópolis: Ed. Lunardelli e UFSC, 1983.Revistas da Academia Catarinense de Letras : Anos1995, 1996, 1997, 1998 e 1999. Florianópolis: Ed. daUFSC.SCHEIDT, Marlene Luzia & SOUZA, Osmarina Mariade. Nossas Memórias . Florianópolis: Ed. da UFSC,1997.SIQUEIRA, Dalvina de Jesus. Grandes Momentos .1999. Biguaçu: Prefeitura Municipal, 1997.SOARES, Iaponam & LOCKS, Ana Lúcia Coutinho.História de Biguaçu através su a Gente. Florianópolis:Ed. Lunardelli e UFSC, 1983.SOARES, Iaponam. História do Município deBiguaçu. Florianópolis: Ed. Lunardelli e UFSC, 1983.SOUSA, Abelardo. O Mestre Escola Viaja no Tempo .Florianópolis: Imprensa Oficial, 1978.Um Passeio pela Grande Florianópolis . Biguaçu:Academia de Letras de Biguaçu, 1999.

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ROGÉRIO KREMER

Nascido em 05 de abril de 1940, em Antônio Carlos -SC. Filho deHumberto Kremer e Ana Apolônia Pereira Kremer. Casado por duasvezes. Pai de três filhos. Todos co m nível superior de escolaridade.Formado em Pedagogia pela UDESC, com Licenciatura Plena emPsicologia, Didática e Sociologia. Oficial de Farmácia com Registro noCRF/SC sob N.º 364 N. Aposentado como professor e diretor de escola.Participou de diversos cursos nas áreas da saúde e educação. Vereadorem 1965 e 1972 à Câmara Municipal de Antônio Carlos.

Possuidor de diversas condecorações por serviços prestados asua comunidade e a literatura catarinense. Autor e co -autor de diversoslivros. Organizador e proprietário de um Arquivo Histórico de AntônioCarlos, em oito volumes. Proprietário e responsável técnico de umadrogaria. Acadêmico da Academia de Letras de Biguaçu, com posse em18 de dezembro de 1996.

Acadêmico: Rogério KremerNascimento: 05-04-1940Cadeira nº: 26Posse: 18-12-1996Título: EscritorEndereço: Rua 06 de Novembro, 102, Antônio Carlos -SCCEP: 88180-000Fone: (48) 3272-1152E-mail/Site: Não informadoPatronesse: Maria da Glória Viríssimo de FariaTítulo: Educadora

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AS ESCOLAS PAROQUIAIS DO ALTO BIGUAÇU –1880/1937

A preocupação com a questão escolar entre osalemães, principalmente a leitura -base para umamelhor prática religiosa, fez com que fossem criadas,nas comunidades, Escolas Paroquiais. O descaso dogoverno em construir escolas públicas e o desejo demanter a língua alemã foram condições suficientes paraque essas escolas proliferassem e persistissem até ofinal da década de 1930.

Data de 1880 a fundação da primeira EscolaParoquial Alemã, no Rachadel, pelo Pe. GuilhermeRoer, então responsável pela Paróquia de São Pedrode Alcântara, sob a qual encontravam -se vinculados oscolonos de Alto Biguaçu (Antônio Carlos). E ssa escolacontinuou funcionando até 1937, quando num períodointenso de nacionalização do ensino foi fech ada pelointerventor Nereu Ramos.

Durante aproximadamente, duas décadas, aEscola Paroquial do Rachadel foi a única escolaparticular alemã que se tem conhecimento na região.Somente em 1902 é que foram criadas por Pe. FreiErnerto Zeno Walbroehl * 30/07/ 1866 + 03/06/1925 –OFM, também vigário de São Pedro de Alcântara,outras escolas paroquiais : Capela do Louro, Rio Farias,Egito e Santa Maria. Segundo o ex -vereador Sr. JoãoJosé Guesser * 01/08/1914 + 02/05/2002, em 1898havia uma escola particular alemã em Alto Rio Farias,que durou 2 anos. Pedro José Franzner, um dosprofessores, mais tarde, em 1906, lecionou na EscolaParoquial do Rachadel. Ainda em 1929, Cô nego Dr.

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Raulino Reitz localizou duas Escolas Paroquiais emBraço do Norte, uma no Egito e duas no interior doRachadel.

Em função do abandono das comunidades pelasautoridades educacionais, as escolas paroquiaisalemãs cresceram como fruto da própria comunidade eem tudo se identificava com ela. A importância dada àlíngua alemã pelos colonos de c erta forma foiresponsável pela manutenção das escolas paroquiais.A necessidade em aprender o português os levou aaceitar as escolas bilíngües à medida que o portuguêsera a única língua admitida para o ensino.

As escolas paroquiais eram pagas pelos pa isdos alunos através da Caixa Escolar. Cadacomunidade escolhia uma diretoria escolar que deveriazelar pelo pagamento do professor. Assim sendo, aDiretoria da Caixa Escolar era responsável pelorecolhimento de uma determinada taxa mensal poraluno, que variava entre 1 a 3 mil réis, destinada aosalário do professor. Conseq üentemente, quanto maisalunos, maior seu salário.

A escola e o professor paroquial, contratado oudispensado pelo vigário responsável, eram a ponteentre a igreja católica e a coloniz ação alemã. Osvigários alemães mantinham escolas paroquiais naspequenas comunidades com a intenção de manipular areligião, além da escolarização. Pois, sabendo ler eescrever estes poderiam participar dos cultosdominicais, manusear livros e partituras de cânticos nosatos litúrgicos e festas familiares. Os professores,verdadeiros líderes comunitários, eram consideradosuma extensão do padre. Mantinham a comunidade

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informada dos acontecimentos nacionais e mundiaisatravés da leitura de jornais, almanaqu es, revistas, etc.Sua função social ia desde o zelo pelos bens dacomunidade (capela, escola, terrenos), árbitro epacificador de desentendimentos, até suarepresentação junto às autoridades. Na ausência dopadre, cuja visita à comunidade era mensal, pres idia oculto, acompanhava os doentes com preces,encaminhava os atos fúnebres e, geralmente, erainiciado em música para dirigir o coral e o canto naigreja. Era, ainda, responsável pela catequese.

Nem sempre os professores paroquiais eramqualificados para exercerem a profissão. Dosprofessores de Alto Biguaçu sabemos que Vítor Pauli(Capela do Louro) era ex-seminarista e Pedro AmâncioConrat, apesar da grande influência que exerceu nacomunidade não tinha qualquer formação profissional.Exemplo de “virtude e retidão no agir” eram condiçõessuficientes para a indicação do professor pelo vigário.

Por outro lado, o governo dispensava umagrande atenção aos professores regentes das escolasrurais. Muitas vezes, mal falavam o português nãopodendo, segundo um Relatório da Instrução Públicade 1929,

“satisfazer as justas necessidades danacionalização do ensino primário, assunto esseque em Santa Catarina se reveste de realimportância e ao qual o governo vem de anosdispensado a maior atenção”.

Apesar de não resolver os problemas com oensino público, o governo matinha inspetores a fim defiscalizar as poucas escolas existentes: particulares e

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públicas. Com a intensificação da política denacionalização através do ensino, a língua alemã foisendo proibida, e uma pronúncia correta do portuguêsera o que se esperava dos professores.

Com a falta de cursos de formação paraprofessores, as longas distâncias e mesmo o interessedos colonos em manter a língua alemã, as escolasparoquiais persistiram e conviveram com as escolaspúblicas. A última Escola Paroquial do Alto Biguaçu foia de Rachadel, fechada em 1937; tendo como últimoprofessor Pedro Amâncio Conrat.

Desde o início, a Igreja Católica participou dacolonização alemã na região.

STELA MÁRIS PIAZZA SOUZA

Nascida a 4 de julho, em Florianópolis -SC, filha de Luiz BoiteuxPiazza e de Carolina Taranto Piazza; cursou Serviço Social naUniversidade Federal de Santa Catarina; Bolsista da Fullbright, cursouespecialização em Desenvolvimento de Comunidade, na Universidade deMichigan, E.U.A; professora titular do Departamento de Serviço Social daUFSC; Mestre em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica doRio Grande do Sul, Porto Alegre – 1990; Mestre em Inovação do SistemaEducativo, Pedagogia Aplicada (Universidade Autônoma de Barcelona –1996); Doutoranda Inovação do Sistema Educativo, Pedagogia Aplicada(Universidade Autônoma de Barcelona – 2006).

Autora do livro "Serviço Social e Universidade – Resgate deLembranças" Editora da UFSC – 1994; Cronista do Jornal "A Gazeta"Florianópolis, com o pseudônimo de ASTER; Professora de SociologiaAplicada à Administração – ESAG/UDESC; Professora de Sociologia –

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Faculdade de Educação UDESC; Doutoranda do Curso Inovação noSistema Educativo – Pedagogia Aplicada Universidade Autônoma deBarcelona – 2002; Presidente do Clube Soroptimista Internacional eFlorianópolis – 1976/1978 – 1978/1980 – 1993/1996 – 2006/2008 –2008/2010; Conselheira da Fundação d os Professores de Santa Catarina–FUCAPRO/FPOLlS – 2000/2003.

Co-fundadora do Curso de Serviço Social Universidade doContestado Caçador/SC; Membro da Comissão Editorial da RevistaKatalysis, do Departamento de Serviço Social da Universidade Federal deSanta Catarina.

Acadêmico (a): Stela Máris Piazza SouzaNascimento: 04-07-......Cadeira nº: 18Posse: Não informadoTítulo: Não informadoEndereço: Rua Dom Joaquim, 866, Apto. 802, Ed. Solar Flambo yan,Florianópolis-SCCEP: 88015-310Fone: (48) 3222-5550E-mail/Site: [email protected]: Arnaldo de S. ThiagoTítulo: Poeta

BILLY, O PERALTA

Quando ele desapareceu, numa manhã emCanasvieiras, neste verão, a família toda ficou empolvorosa. Como o Billy fugiu? Para onde ele foi?Quem deixou o portão aberto? C omo? Quem estavaem casa? Quem abriu o portão e não fechou?

Estas perguntas martelavam a cabeça e ocoração da mãe de Billy.

Foi ela que, ao sair, havia recomendado quetomassem conta do cãozinho e não deixassem o portãoaberto. Pois Billy era o seu xodó.

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Quando chegou, de suas lides acadêmicas, jáhaviam lhe comunicado do desaparecimento de Billy,aquele cãozinho amoroso, tão leal e companheiro.Como isto aconteceu? Não podia ser, logo o Billy quetodos cuidavam tanto. Não, isto não podia acontecer.Ela não acreditava e logo se pôs em ação para acharseu querido animalzinho.

Telefonemas e mais telefonemas, procura nascasas das ruas próximas, dos supermercados, dosmercadinhos, das clínicas, das lojas e nada docãozinho aparecer.

Foi quando surgiu a idéia de colocar nos locaiscom maior afluência de público, a fotografia de Billy,prometendo uma recompensa para aquele que otrouxesse de volta.

A fotografia era muito própria e mostrava muitobem como era aquele cachorrinho.

Toda a manhã se passou, a tarde ta mbém e anoite estava se aproximando e nenhuma notícia haviachegado. Que agonia... Todos estavam ansiosos porum telefonema, uma batida na porta, com a boa notícia.Mas nada.

E como era o Billy? Um cachorrinho da raçaShitsu, todo rajado de preto e branc o, pêlo muitosedoso, com dois olhinhos pretos, bem redondos, muitoexpressivos, um focinho bem delineado e tinha umjeitinho todo especial de caminhar. O que mais sesalientava nele era o companheirismo, a lealdade, oquerer ficar sempre perto da gente.

Era muito manso e fazia festa para todo mundo.Jamais ladrava assustando as pessoas. Quando

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dormia, sonhava, e sonhando ladrava. Gostava detomar banho de sol no inverno.

Seu rabinho peludo, meio arredondado, estavasempre abanando para as pessoas e fazendo festa.

Billy veio para nossa casa, no dia 23 de março,justo no aniversário de Florianópolis. Quando a mãe oviu, no canil, para ser vendido, logo se encantou pelasua beleza e pelo seu jeito de ser. Tinha dois meses deidade, e, agora, quase 2 anos. Não era possível quenão achassem o Billy, pensavam todos os que estavama sua procura.

A preocupação era que o cachorrinho só podiacomer ração e gostava de muita limpeza. Toda semanaquando vinha do veterinário, após o banho, trajava umagravata diferente e vinha muito elegante e perfumado.Era tão leal e companheiro que só ia dormir quandosua mamãe (a que ele tinha escolhido) também serecolhia. Isto, quase sempre de madrugada, pois a mãeestava fazendo sua tese de doutorado e, Billy, oguardião, ficava sempre aos seus pés ou a seu lado,esperando a hora de se recolher.

É bom lembrar que gostava muito docomputador, daquele barulhinho gostoso que o faziadormir. Pudera, não era só o computador que otranqüilizava, mas também a televisão e o som do CD.Era um cachorrinho muito feliz e trazia felicidade paratodos.

Quando mamãe chegava em casa Billy pegavaseu chocalho e chocalhava numa demonstração de quequeria brincar. Uma graça. E brincava mesmo. Tinhauns brinquedos que gostava muito, e outros que, parabrincar os colocava na soleira da varanda do

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apartamento e, com a patinha, jogava para a rua. Eassim perdia o brinquedo. O único que não conseguirajogar fora era um osso de plástico, que parecia osso deverdade. Ruía que fazia gosto.

Este era o cãozinho tão querido e amoroso quehavia desaparecido. Como? Não, ninguém seconformava! Onde estará ele? Será que alguém rouboue vai levá-lo embora? Será que vão levá -lo para outropaís, já que é grande o número de turistas na cidade enos balneários? Estes pensam entos povoavam amente daqueles que o estavam procurando e asdúvidas deixavam todos muito ansiosos. E o que vaicomer? Está acostumado com ração e, sempre damelhor qualidade.

De repente, um telefonema. Tudo indicava quehaviam encontrado o Billy. Mas qu eriam a presençadas pessoas chegadas a ele para fazerem oreconhecimento, a acareação.

Lá foram todos à Clínica Veterinária para ter acerteza de que era mesmo o Billy. Lá estava ele, operalta.

Haviam encontrado Billy na frente de sua casa e,percebendo que era um cachorrinho de raça, bemtratado, o levaram para uma Clínica Veterinária. E. lá,na Clínica, se depararam com o cartaz e a fotografia deBilly, com os seguintes dizeres: “Quem encontrar, porfavor, devolva este cãozinho que é o nosso xodó. Nós oqueremos muito e, ele, a nós”. Então telefonaram paraa família. Era um casal de namorados. A alegria foigrande. Abraços, agradecimentos e recompensasforam trocados.

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Billy havia passado parte da manhã e a tardetoda brincando com os meninos, bem na rua aondehavia desaparecido. Mais tarde os meninos secansaram de brincar e deixaram o cãozinhoperambulando pelas ruas próximas a sua casa. Até queo casal de namorados o viu e o levou para a Clínica.

E, por coincidência, esta era a Clínica quecuidava de Billy, quando ele estava veraneando emCanasvieiras.

Talvez vocês perguntem: E, por acaso, cãozinhotambém veraneia? Claro que sim!

Não é preciso dizer que a chegada de Billy, emcasa, foi uma festa, regada a refrigerantes, docinhos esalgadinhos.

Afinal, este cãozinho peralta, merecia.Mas, para ele foi um dia bem diferente. Vadiou à

bessa. Se sentiu saudades, não se sabe, mas nóssentimos.

TONI JOCHEM

Toni Jochem é bacharel e licenciado em Filosofia pelaUniversidade Federal de Santa Catari na. Mestre em História Cultural pelamesma Universidade, na linha de pesquisa "Migrações, Cultura eIdentidade".

É autor dos livros: “Pouso dos Imigrantes” (1992); “A Epopéiade uma Imigração” (1997); “A Formação da Colônia Alemã Teresópolis e aAtuação da Igreja Católica (1860 -1910)” – Dissertação de Mestrado(2002); "Nossos Pais" (2005); "Uma Caminhada de Fé: História daParóquia Santo Amaro (Santo Amaro da Imperatriz e Águas Mornas -SC)"

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(2005); e "Tecendo o Saber Confessional Católico em Santa Catarina "(2006).

Toni é organizador das publicações: “Sesquicentenário daColônia Santa Isabel – 1847-1997, Celebração e Memória” (1998); “SãoPedro de Alcântara – Aspectos de sua História” (1999); e "História daFamília Beckhäuser no Brasil" (2006).

Co-autor dos livros: “São Pedro de Alcântara: 170 anosdepois” (1999); “Terras da Esperança – A Trajetória dos Irmãos Buss emSanta Catarina” (2003); e “Os Cunha e os Tatim na História de Soledade”(2005).

E editor dos livros: “Caminhos da Integração Catarinense –Do Caminho das Tropas à Rodovia BR 282” (2004), de autoria de AntônioCarlos Werner; "São Bonifácio -SC: Aspectos de sua História" (2006), deAnselmo Buss; "Senhor Bom Jesus de Nazaré – Padroeiro do Municípiode Palhoça/SC: Arte, História e Devoção" (200 6), de autoria de ManoelScheimann da Silva; "As Alavancas do Progr esso da Região de Braço doNorte-SC" (2008), de autoria de Anselmo Buss; “Estradas da Vida –História de um Ramo da Família Deschamps” (2001); e “São Pedro deAlcântara – Memórias da Nossa Terra e Nossa Gente” (2005), esses doisúltimos de autoria de Osvaldo Deschamps.

Toni Jochem foi coordenador do biênio comemorativo do 170ºaniversário da imigração alemã de São Pedro de Alcântara – 1998/1999.É Presidente da Associação da Família JOCHEM no Brasil – AFAJO;membro da Academia de Letras de Biguaçu -SC; Membro da Academia deLetras de Santo Amaro da Imperatriz -SC; e sócio efetivo do InstitutoHistórico e Geográfico de Santa Catarina -IHGSC. É coordenador dosseguintes websites: IMIGRAÇÃO ALEMÃ: www.tonijochem.com.br eFAMÍLIA JOCHEM NO BRASIL: www.familiajochem.com.br

Acadêmico: Toni JochemNascimento: 13-10-1969Cadeira nº: 12Posse: 18-05-2001Título: HistoriadorEndereço: Rua Gerânio, 217, Apto. 303, Residencial Pedra Branca,Jardim das Palmeiras, Palhoça-SCCEP: 88133-800Fone: (48) 3242-0826 ou (48) 3344-2777E-mail/Site: [email protected] / www.tonijochem.com.brPatrono: Francisco GallotiTítulo: político / Orador

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NOS PERCALÇOS DA HISTÓRIA:DO ALTO BIGUAÇU A ANTONIO CARLOS

Apesar de ser uma extensão fí sica da colônia SãoPedro de Alcântara, a localidade do Alto Biguaçu, bem comosuas imediações, foram, aos poucos, se desenvolvendo.Nessa localidade, no dia 30 de abril de 1838, mediante oDecreto Nº. 100 foi autorizada a construção de uma capela ede um cemitério. E, após quase três décadas, mediante aLei Nº. 544, de 02 de maio de 1864, foi criada a Freguesia(paróquia) de São Pedro Apóstolo do Alto Biguaçu 40, e, umavez desmembrada da paróquia de São Pedro de Alcântara,por razões diversas, nunca foi ofi cialmente instalada41.

Registra a história que:

”Antônio Carlos, antigo distrito de Biguaçu,começou a ser colonizado em 1830, quando JoãoHenrique Schoeting, juntamente com outras dezfamílias e alguns homens solteiros assentaram -seàs margens do Rio do Louro42. Constitui-se deuma extensão física do povoamento da Colônia

40 Mais informações cf. Doc. 28, Leis 1857 -1866, pp. 146v-147, CM-ALESC. Veja ainda Doc. 22, ATAS, 1867, p. 142, CM -ALESC.41 Cf. KREMER, Rogério. Antônio Carlos – 175 Anos de História –1830-2005. Biguaçu: Litográfica, 2007, p. 205.42 Na região do Louro, instalaram -se, entre outras, as seguintes famílias:Schenk/Vieira, Geissbusch/Kraemer, Kuber (solteiro), Hoener, Meinschein(solteiro), Sieglin (sol teiro), Schwart/Both, Crels (viúva), Holze (solteiro),Schwarz/Schneider, Schwarz/Hermes, Schwartz (solteiro),Hermes/Reimaelus, Jochem (viúvo), Bins/Pudinger, Emmerich/Vhors,Soechting/Silva, Revoets (solteiro) e Ruppel/Kickn, cf. MATTOS, p. 61.

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São Pedro de Alcântara 43, primeiro núcleo decolonização alemã em Santa Catarina (1829)” 44.

Os imigrantes que se estabeleceram em São Pedrode Alcântara e nas cabeceiras dos r ios Louro e Biguaçueram provenientes, em sua maioria, da Região do Eifel 45 edo Hunsrück, na Alemanha.

A imigração alemã para o Brasil pode ser classificadaem duas categorias (de acordo com o método aplicado ecom objetivos propostos), quais sejam: a imi gração deparceria; e a imigração baseada na pequena propriedade. Aimigração de parceria utilizava -se do método do“endividamento” e era voltada para o Sudeste brasileiro,principalmente São Paulo, considerando a existência,naquela província, de grandes latifundiários. Esta forma deimigração visava a resolução do problema decorrente daextinção paulatina da escravidão, relacionado à falta demão-de-obra no cultivo do café – que a partir de meados doséculo XIX passa a ser o principal produto de exportaçã o doBrasil. A imigração baseada na pequena propriedade eracomposta por colonos livres e foi dirigida principalmente aoSul do Brasil. Esta segunda forma de imigração tinha entre

43 Interessante observar que, não raras vezes, as denominações dascolônias homenageavam a família imperial; assim temos as seguintescolônias: São Leopoldo-RS, Petrópolis-RJ, Santa Amélia-PE, São Pedrode Alcântara das Torres -RS, Teresópolis-SC, Leopoldina-SC, SantaLeopoldina-ES, Santa Isabel-SC e ES, entre outras.44

http://www.antoniocarlos.sc.gov.br/portal1/municipio/historia.asp?iIdMun=100142015 – Consulta realizada em 30/07/2007. Cf. também BESEN,José Artulino; PAULI Evaldo. A Comunidade de Antônio Carlos . AntônioCarlos: Prefeitura Municipal e Paróquia Sagrado Coração de Jesus, 1983,p. 2.45 A região de Eifel "tirou" de localidades como Brohl, Forst, Moselkern,Treis-Karden, Kaisersesch, Müsntermaifeld etc. parte dos emigrantesenviados a Santa Catarina em 1828.

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seus objetivos, povoar a região e desenvolver umaagricultura voltada ao abastecimento do mercado interno.

Pretendia o governo brasileiro, com a colonizaçãobaseada no regime de pequenas propriedades e do trabalholivre, criar profundas mudanças na realidade brasileira:demográficas (povoamento), morais (dignificação dotrabalho manual), sociais (instituição de uma classe média),militares (defesa das fronteiras) e econômicas(desenvolvimento do Brasil).

Neste contexto, os alemães eram considerados bonsagricultores e, portanto, ideais para povoar vaziosdemográficos. Assim, fundaram-se algumas colônias peloBrasil: em 1818, na Bahia, a Colônia Leopoldina; em 1820,Nova Friburgo, no Rio de Janeiro; e, para encerrar, em1822, com a Colônia São Jorge dos Ilhéus, no Sul baiano, ociclo da colonização alemã na região montanhosa do lit oralmédio brasileiro. Mas, a colonização alemã no Brasil, sob oregime de pequena propriedade, se concentrou em suasProvíncias Meridionais (Rio Grande do Sul, Santa Catarina eParaná), onde os imigrantes deixaram sua marca. Assim,pode-se dizer que:

“Os descendentes de imigrantes que seestabeleceram no Alto-Biguaçu, construíram aolongo do século XX, um patrimônio culturalbastante expressivo. Apesar do contato antigo econtínuo com Florianópolis e região, AntônioCarlos ainda mantém características mar cantes dacolonização do imigrante alemão, principalmentena zona rural. Junto a alguns valores culturais,pratos típicos ou o dialeto ainda hoje falado,encontramos ao percorrer suas localidades,edifícios isolados que marcam sua história” 46.

46

http://www.antoniocarlos.sc.gov.br/portal1/municipi o/historia.asp?iIdMun=100142015 – Consulta realizada em 30/07/2007.

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A formação da população de Antônio Carlos pode sercaracterizada por quatro principais etnias: luso -brasileira deorigem açoriana, alemã, libanesa e negra 47. No entanto,predominam os descendentes da matriz étnica alemã,provenientes, em sua maioria, das colônias viz inhas, taiscomo: São Pedro de Alcântara 48, Santa Isabel49 e Piedade50,além da Colônia Leopoldina 51 localizada nas imediações.

47 Veja mais em: REITZ, Raulino. Alto Biguaçu – Narrativa CulturalTetrarracial. Florianópolis: Ed. Lunardelli e Ed. da UFSC, 1988.48 A Colônia São Pedro de Alcântara foi fundada em março de 1829 por635 imigrantes alemães, constituindo -se a mais antiga colônia alemãfundada em Santa Catarina. Foi elevada à Freguesia em 1844 através daLei Nº. 194, sendo emancipada político -administrativamente do municípiode São José mediante Lei Nº. 9.534 datada de 16 de abril de 1994.49 Fundada em 1847 por imigrantes recém -chegados da Alemanha, aColônia Santa Isabel foi composta, em sua maioria, por agricultores eprovenientes da região do Hunsrück, no atual Estado da Renânia -Palatinado. Professavam a re ligião católica e a luterana sendo que, nestaúltima, Santa Isabel tem a primazia cronológica sobre todas as colôniasfundadas no Estado de Santa Catarina. Instalada às margens doCaminho-de-Tropas que ligava o Litoral catarinense ao Planalto serrano, adenominação da colônia é uma homenagem prestada pelo Governoconstituído à Princesa Isabel. Inicialmente, além da sede da colônia,localizada num terreno excessivamente montanhoso e impróprio para aagricultura, foram fundadas e povoadas as linhas coloniais deLöffelscheidt e Primeira Linha. Em 1860, o Governo resolveu remeternovos imigrantes para a Colônia, a qual desde 1851 crescia apenas pelodesenvolvimento interno de sua população, sem receber novosimigrantes. O núcleo foi ampliado e submetido ao regim e colonial com achegada de novos imigrantes resultando na fundação de novas linhascoloniais, entre elas: Segunda Linha, Terceira Linha, Quarta Linha, QuintaLinha, Rancho Queimado, Linha Scharf e Taquaras.50 Em 1847, foi fundada na Armação da Piedade – localizada nocontinente da Baía Norte da Ilha de Santa Catarina – uma Colônia Alemãformada por, aproximadamente, 150 imigrantes chegados durante osmeses de janeiro a março daquele ano. Todos professavam a religiãocatólica. Sem regulamento especial, a Co lônia Piedade era dirigida peloscomandantes da fortaleza de Santa Cruz, localizada na Ilha deAnhatomirim. As terras eram íngremes, destituídas de fertilidade e,

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Seu nome foi uma homenagem ao estadistabrasileiro Antônio Carlos Ribeiro de Andrade 52, políticomineiro, com destacada atuação na Revolução de 1930. Anomenclatura foi imposta à população local. Antônio Carlosera integrante de uma das famílias de maior tradição na

portanto, impróprias para a agricultura. Por isso, os imigrantes foram seretirando. Dos 150 imigrantes com os quais a Colônia fora fundada havia,um ano após, apenas 120; em 1849, 114; em 1850, 105 e em 1854somente 54. Em 1856, o censo demográfico apurou 41 habitantes para aColônia. Finalmente, também os mais esperançosos se deixaram vencermigrando para as regiões vizinhas, especialmente para Biguaçu.Extinguiu-se, assim, a Colônia Piedade.51 Colônia Leopoldina é uma homenagem a Dona Leopoldina TeresaFrancisca Carolina Miguela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança eBourbon (Rio de Janeiro, 13 de julho de 1847 – Viena, 7 de fevereiro de1871), princesa do Brasil e duquesa de Saxe-Coburgo-Gota, foi asegunda filha de D. Pedro II do Brasil. A referida colônia foi umempreendimento particular de duas léguas em quadro de terras, queforam medidas em 1847 e c oncedidas em 24 de fevereiro de 1848, aosempresários Sheridan Telghuys Filho e Henrique Ambauer Schutel. DeHamburgo, Alemanha, em 1849, vieram para a Colônia Leopoldina novepessoas; em 1852, mais cinco imigrantes. Pela inacessibilidade das terrasnenhuma delas se fixou na área. Em 1853, foram estabelecidas quatrofamílias alemãs e uma belga. Mas a colônia não se desenvolveu. Em1849, havia ali apenas um estabelecimento de criação de gado e nenhumcolono. Como se demorou a vinda de novos imigrantes, foramestabelecidos brasileiros. Em 1853, foram colocados em 14 lotes de terra,38 colonos belgas e alemães, procedentes quase todos da fracassadacolônia da Armação da Piedade. Cf.: BESEN, José Artulino; PAULIEvaldo. A Comunidade de Antônio Carlos . Antônio Carlos: PrefeituraMunicipal e Paróquia Sagrado Coração de Jesus, 1983, p. 6. Cf. tambémREITZ, Raulino. Alto Biguaçu – Narrativa Cultural Tetrarracial .Florianópolis: Ed. Lunardelli e Ed. da UFSC, 1988, pp. 46ss. Veja ainda:Doc. 20, Ofícios 1849-1857, de 22/04/1851, pp. 86-7, CM-ALESC. Cf.também KREMER, Rogério. Antônio Carlos – 175 Anos de História –1830-2005. Biguaçu: Litográfica, 2007, p. 118.52 Antônio Carlos Ribeiro de Andrada nasceu em Barbacena -MG a 05 desetembro de 1870 e faleceu no Rio de Janeiro-RJ, em 02 de janeiro de1946.

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política brasileira. Em julho de 1963, foi cogitada na CâmaraMunicipal de Biguaçu a conveniência da mudança dadenominação “Antônio Carlos” para “Reitzburgo” emhomenagem a João Adão Reitz, pioneiro da colonização novale do Rio Rachadel. Após acalorada discussão, a propostanão obteve aprovação daquela casa legislativa 53.

Além da questão do nome a se adotar para ummunicípio, outra problemática estava na pauta daqueles queestavam a construir a história política de Alto Biguaçu, ouseja, a sede onde se instalaria a administração do entãoDistrito:

“Pela Lei Municipal Nº. 121 de Biguaçu/SC, de 15de julho de 1919, era criado o quarto Distrito dePaz na localidade de Louro, cuja instalaçãoocorreu em 02 de agosto do mesmo ano. A sededo Distrito foi localizada na casa de LeopoldoFreiberger, que possuía também uma casacomercial de secos e molhados, ambas situadasno entroncamento das estradas da Capela doLouro e Santa Maria. O proprietário era políticoinfluente, tendo exercido os cargos de segundosecretário da Mesa da Câmara em 1919 e chefedo Poder Executivo Municipal no período de 1927a 1930”54.

53 REITZ, Raulino. Alto Biguaçu – Narrativa Cultural Tetrarracial .Florianópolis: Ed. Lunardelli e Ed. da UFSC, 1988, p. 176.54http://64.233.169.104/search?q=cache:2Ua1MKcS3gMJ:www.portalsantoamaro.com.br/antoniocarlos.php+limites+do+munic%C3%ADpio+de+Ant%C3%B4nio+Carlos&hl=pt -BR&ct=clnk&cd=1&gl=br – Consulta realizadaem 31/07/2007. Cf. também BESEN, José Artulino; PAULI Evaldo. AComunidade de Antônio Carlos . Antônio Carlos: Prefeitura Municipal eParóquia Sagrado Coração de Jesus, 1983, p. 2. Cf. ainda REITZ,Raulino. Alto Biguaçu – Narrativa Cultural Tetrarracial . Florianópolis:Ed. Lunardelli e Ed. da UFSC, 1988, p. 167. Cf. também KREMER,

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Mas, a sede do Distrito do Louro foi transferida paraoutras localidades até ser confirmada, em definitivo, em1938, no atual centro urbano de Antônio Carlos:

“Em 1930, a sede do Distrito de Louro, eratransferida para o local chamado ‘Encruzilhada’ ouCoração de Jesus, por se en contrar ali umpequeno povoado e uma Ermida dedicada aoSagrado Coração de Jesus. Passava também adenominar-se Antônio Carlos, o nome do Distrito,através do Decreto Nº. 24, de 09 de dezembro de1930. (...). Pelo Decreto Estadual Nº. 489 de 15 defevereiro de 1934, era a sede transferidanovamente ao Louro, sua sede inicial. Porém, asrepartições públicas (correio e cartório)permaneceram em Coração de Jesus, o queimpediu o retorno. Em 1938, com a elevação àcategoria de Vila, foi confirmada a sede emdefinitivo, e delimitados os perímetros urbano esuburbano da Vila de Antônio Carlos, comvigência em 01 de janeiro de 1939” 55.

Localizado na região da Grande Florianópolis, emSanta Catarina, distante 33 quilômetros da capital doEstado, Antônio Carlos foi em ancipado político-

Rogério. Antônio Carlos – 175 Anos de História – 1830-2005. Biguaçu:Litográfica, 2007, p. 135.55http://64.233.169.104/search?q=cache:2Ua1MKcS3gMJ:www.portalsantoamaro.com.br/antoniocarlos.php+limites+do+munic%C3%AD pio+de+Ant%C3%B4nio+Carlos&hl=pt -BR&ct=clnk&cd=1&gl=br – Consulta realizadaem 31/07/2007. Cf. também BESEN, José Artulino; PAULI Evaldo. AComunidade de Antônio Carlos . Antônio Carlos: Prefeitura Municipal eParóquia Sagrado Coração de Jesus, 1983, p. 2. Cf. ainda REITZ,Raulino. Alto Biguaçu – Narrativa Cultural Tetrarracial . Florianópolis:Ed. Lunardelli e Ed. da UFSC, 1988, p. 168. Cf. também KREMER,Rogério. Antônio Carlos – 175 Anos de História – 1830-2005. Biguaçu:Litográfica, 2007, p. 135.

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administrativamente em 06 de novembro de 1963, pela LeiEstadual Nº. 92856.

Atualmente, o município é integrado pelas seguinteslocalidades: Egito, Alto Egito, Divisa, Rocinha, RanchoMiguel, Morro do Gato (hoje Morro da Glória), NovaInglaterra (atualmente Santa Maria), Braço do Norte, AltoBraço do Norte, Capela do Louro, Louro, Santa Bárbara, RioFarias de Baixo, Rio Farias de Cima, Alto Rio Farias (ex -RioAntinhas), Canto dos Petry, Colônia Leopoldina, Vargem dosPinheiros, Faxinal (hoje Reserva Ecológica Caraguatá),Espeito (Espeto), Vila Doze de Outubro, Cantos dosGuesser, Rachadel (ex-Salto), Morro da Gaita (Morro dosHoffmann), Canto do Seu Belmiro, Canto da Sinhá Dadinha,Morro dos Cunha, Usina, Encruzilhada (posteriormenteCoração de Jesus), hoje sede municipal de Antônio Carlos,Canudos, Califórnia, Riacho Negro e Rosápolis (ex -Bananal)57.

Com relação aos aspectos demográficos, apopulação total do município era de 6.434 de habitantes, deacordo com o Censo Demográfico do IBGE (2 000); umaestimativa da população residente para 2006 apresenta7.041 habitantes58. Vale ressaltar que a maioria absolutadesse total professa a religião católica. Quanto à áreaterritorial59, Antônio Carlos possui 229,12 km 2,

56 BESEN, José Artulino; PAULI Evaldo. A Comunidade de AntônioCarlos. Antônio Carlos: Prefeitura Municipal e Paróquia Sagrado Coraçãode Jesus, 1983, p. 6. Cf. também KREMER, Rogério. Antônio Carlos –175 Anos de História – 1830-2005. Biguaçu: Litográfica, 2007, pp. 12 e137ss.57 Cf. KREMER, Rogério. Antônio Carlos – 175 Anos de História –1830-2005. Biguaçu: Litográfica, 2007, p. 11.58 http://www.ibge.gov.br/cidadesat/default.php – Consulta realizada em30/07/2007.59 Coordenadas: Latitude: -27 31 0 Gr. Min. Seg. Longitude: -48 46 03 Gr.Min. Seg.

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representando 0.2403% do Estado de Santa Catarina,0.0407% da Região Metropolitana de Florianópolis e0.0027% de todo o território brasileiro 60. Faz fronteira com osmunicípios de Biguaçu, São Pedro de Alcântara, Angelina,São José, São João Batista e Major Gercino.

Eis, portanto, uma rápida caracterização domunicípio de Antônio Carlos, objeto de estudo desse artigo.

VALDIR MENDES

Filho de Lauro Mendes e Clarice da Silva Mendes , nascido em 01de novembro de 1947, em Florianópolis-SC. Casado com ClariceAparecida Cabral Mendes . Filhos: Pierre, Michel, Bianca, Michelli, Lauro,Davi e Ana Clara.

I – Comércio: Gerente da Seguradora "Mendes" ; Secretário daempresa "Nova Sauna" ; Secretário da Empresa "Mendes Representação" ;Diretor Proprietário da "Pousada Sol da Costa" , em Florianópolis.

II – Professor: Grupo Escolar Lauro Müller (diurno) / 1965 ; EscolaArquidiocesana São José (noturno) / 1966 ; Colégio Antonieta de Barros(noturno) / 1967; Instituto Estadual de Educação – IEE (diurno/noturno) /1968/1969; Colégio Catarinense (diurno /noturno) / 1969/1973 ; Diretorproprietário da Escola de Datilografia Pierre Mendes / 1973/1985 .

III – Órgão Público: Chefe da Assessória Jurídica da Secretáriade Estado da Justiça – 1980/1985.

IV – Advocacia: Presidente da Associação dos AdvogadosCriminais do Estado de Santa Catarina A.ACRIMESC ; Advogado Militante.

60

http://www.antoniocarlos.sc.gov.br/portal1/dado_geral/mumai n.asp?iIdMun=100142015 – Consulta realizada em 30/07/2007.

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V – Jornalismo: Apresentador do Programa Toque Ilhéu – TV AITV Capital; Apresentador do Programa Passaporte Catarinense – TV SãoJosé / Viamax 2003/2005; Colunista do Jornal Fique Esperto 20 03/2005.

Acadêmico: Valdir MendesNascimento: 01-11-1947Cadeira nº: 22Posse: 17-12-2005Título: Escritor / AdvogadoEndereço: Rua Tenente Silveira, 85, Sala 101, Ed. ....., Florianópolis -SCCEP: 88010-030Fone: (48) 3222-5071E-mail/Site: [email protected]: Vidal MendesTítulo: Empresário

Apresento três motivações: A natureza, serhumano e ser animal

UM DIA A MAIS

Após uma noite de agradável sonhar, vagandopor lembranças mil, de saudosismo de meus pais,avós, parentes e amigos, estes que já se encontram emum estágio iluminado, visualizando o encanto dasflores, do mar, do céu e da terra, das pessoas, dossorrisos, dos olhares... acordei.

Sentado a cama, pensei.

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Que bom dormir, acordar alegre e assim ficar.O dia-a-dia se torna então motivado.Assim caminhei em volta da casa, sozinho, sem

ninguém acordar.Cedo, pois.Resido em frente a praia de mar grosso,

circundada por morros e com visual para a ilha dos“Moleques” e das “Três Irmãs;’ local onde as gaivotasfazem seus vôos e pousam. Lá onde os peixesabundam e os barcos navegam formando um cenáriode harmonia e paz.

E com olhar carinhoso para a s flores, sentindo ocharme de seus perfumes; para o céu, aindaadormecido, embalado por uma suave brisa; para omar, com ondas pequenas deitando -se na praia,espumosas e com leve chuás; saindo da fantasia deum sonho para a realidade e tudo ao som dospássaros, estes inquietos, buscando seus alimentos narelva e nas árvores, a lguns com brincadeiras entre si eoutros saltitando alegremente e lá no fundo, como sebrotasse do mar, esbelto, forte, avermelhado, nascia ogrande astro o sol, elevando -se ao céu como semajestade fosse e é, fazendo com que a natureza, porum todo, com ele acordasse.

E então pensei... como somos abençoados porDeus.

Elevei, pois, o espírito a um pensar divino eagradeci, mais ainda, quando retornei para a casa eencontrei a família acordada iniciando as obrigações damanhã.

Deu fez e faz este universo de bondade, decerteza, de amor e de beleza.

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Seguir para o trabalho, com es ta fantasia real écom certeza o lado bom da vida.

Mocidade... esperança

Tudo na vida passa por um processo deevolução, crescimento, amadurecimento. O serhumano, portanto, possui este perfil, nasce aprende aandar, falar, pensar e a conhecer os sentimentos dealegria e de dor. Após vem a formação dapersonalidade. Ao atingir a mocidade, idade queacelera o direito de independência, procura criar umaautoconfiança de que seus argumentos, suas vontades,suas interpretações são efetivamente as credenciadascomo as corretas. Entretanto, assim agindo, por vezesvem a incorrer em erros de somenos importância , mastambém cai em contrariedades que podem ser fortes ede grande prejuízo. Contudo, por absoluta certeza,tenho na mocidade como a fase ideal, perfeita,emocionante de sonhos e de ideais. Estamos na épocado modernismo, da tecnologia, da poderosa máquinaque é o computador e da internet o que torna,inobstante a inteligênc ia desta tecnologia, umafastamento do jovem do que é belo no contexto desua formação. As conversas pessoais passam a servirtuais, a prática esportiva se detém em sentar emfrente ao computador e interagir ali jogando qualquertipo de esporte. A educação sexual, postocompletamente permissivo no computador, torna estemecanismo um tanto quanto nocivo. É salutar, naminha visão, que por oportunidades, a família se reúna,desligando o computador, e em conversação sadia,

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façam as reflexões que sejam convenie ntes, digam oque querem e o que não querem. Apresentem suasvontades. Ainda, que a mocidade procure no esporteoutra forma de se comportar, pois assim estarámelhorando sua condição física e participará decompetições. E, é claro, no descansar do dia, apó s ostrabalhos escolares, o bate papo pessoal com a famíliae amigos, a participação esportiva, estar com ocomputador se torna extremamente salutar. Postoentão, com certeza a mocidade estará sendo motivadapara um futuro promissor.

BOB... um grande amigo

Em um determinado dia, ao entardecer, no finaldo ano de um mil novecentos e noventa, meu grandeamigo Rubinho, artesão de elevada competência, tendosua tenda de atendimento nas areias da Praia dePântano do Sul, foi me visitar e me presenteou com umfilhote de cão da raça Setter, de origem Irlandesa,caçador, porte grande e pelo longo, com acaracterística de ser ágil e ain da dotado de rarainteligência.

Recebi o presente com muita alegria.Imediatamente, sem ninguém consultar, em atitude atéantidemocrática, passei a lhe chamar de BOB. Com otempo, todos concordaram com o nome e ass im sefamiliarizaram. Na época BOB ficava sob aresponsabilidade de caseiros, vez que eu não residiana praia. Com ele, portanto, tinha contacto nas férias

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de julho e final de ano. BOB foi um cão fiel, estimadopela família e pelos amigos. Em sua minúscula idadeeu o levava ao costão e lá, choramingando, tentavaultrapassar as barreiras das pedras e com dificuldadevinha aos poucos conseguindo alcançar este objetivo.Ganhou então uma destreza muito grande. Ademaisdisso, desde cedo ia para a praia, época, pois, que nãose proibia a presença de cão e prazerosamente tomavaseu banho de mar. Às vezes, forte o calor, ia se banharno período noturno. As ondas não se aprese ntavamcomo problema, eis que BOB pulava sobre elas comose gigante fosse. Era um animal magro, pois assim é aformação de sua raça. Suas pernas compridas lhedavam a vantagem de superar os obstáculos.Entretanto, como é realidade para todos os seres vivos ,este querido cão de estimação alcançou a terceiraidade e aos poucos foi se deixando le var, emboraestivesse presente no dia a dia da família. Certa noitecomo de costume, passei a mão em sua cabeça edesejei-lhe uma boa noite. Ao acordar, quando fui aoquintal lá estava BOB deitado, sem vida, de olhosabertos e lacrimejados, como se estivesse em choro dedespedida, olhando para o quintal onde gostava deestar brincando com as crianças, perseguindo gatos eentregadores, enfim o seu mundo.

A perda foi grande e hoje quando a sós estou,fechando os olhos, mentalizo BOB ao meu lado, juntocom todos que o amavam, pulando as ondas do mar eoutras saudades. Posso afirmar que BOB foi um cãoincomum em razão de suas atitudes. Destaco, pois,que, quando estávamos tomando banho de mar elevantávamos a mão, como se pedindo socorro, este

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mergulhava e mordia a mão da pessoa que buscavaajuda e a trazia para a praia, largando o socorridosomente quando na areia estivesse. Os turistas,encantados fotos batiam levando a i magem de BOBpara outras cidades. Ainda, quando deitado, ochamávamos de “cara sem vergonha” e eleprontamente colocava suas patas sobre sua cabeça,como se envergonhado estivesse. Para pedir alimento,quando nos sentávamos, BOB colocava sua pata sobrenossa perna e olhava para outro lado. Era um grandepedinte. Seu olhar transmitia carinho e amizadeprofunda. E tantas e tantas outras manifestações doBOB fizeram com que ele fosse para mim e tenhocerteza que para tantos outros, um cachorro amigo einesquecível.

Mãe... que saudade

Como é gratificante falar a respeito de minhamãe... CLARICE DA SILVA MENDES . Uma pessoamaravilhosa que manteve uma vida voltada para seusfamiliares, para o bem e para a cultura. Eu e o meuirmão VILSON MENDES, Presidente da AcademiaDesterrense de Letras, sabemos o quanto nossa mãefoi importante e como somos gratos a ela.

Em meu Programa de Televisão, na T V Capital,Programa Toque Ilhéu, tive o prazer de estar com elaparticipando do primeiro programa e quando assumicomo Acadêmico da Academia de Letras de Biguaçu, láestava ela, brilhante, de sorriso, na primeira fila,

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assistindo ao evento, assim como também estava porocasião da posse de meu irmão, sendo inclusivehomenageada.

No dia do escritor – 26/07/2008 –, na aprazívelpraia de Palmas, em evento presidido pelo Presidenteda Academia de Letras do Brasil (SC), Professor MiguelSimão, fui diplomado como Presidente Municipal deFlorianópolis da Academia de Letras do Brasil,oportunidade em que estavam presentes meus filh osMichel e Nívea, Bianca e Alexandre, Lauro, Davi e AnaClara, tendo a companhia de minha esposa que leva onome de minha mãe...Clarice, tive forte sensação deque ela estava presente iluminando o momento. Emsua residência sempre acolheu seu familiares ,ofertando bem estar. Como professora teve umadedicação muito forte para com seus alunos, sendorespeitada e amada. E, quando Diretora do GrupoEscolar Lauro Müller, além do trato para com os alunos,ela incansavelmente atendia aos interesses dosprofessores e pais.

Naquela época, os alunos tinham a obrigação desaudar a bandeira nacional, cantando o hino, todosperfilados em respeito, motivação esta que tive a gratasatisfação de participar, eis que fui aluno do GrupoEscolar Lauro Müller. Nossa mãe e xerceu o Magistériopor 47 anos, sendo de 1938 até alcançar aaposentadoria em 1985. Nascida na cidade (vila) deCamboriu, iniciou suas atividades como professora emIbirama, vindo a encerrar sua carreira em Florianópolis,ocupando a Presidência da Associa ção dosProfessores. Foi agraciada pela Câmara de Vereadoresde Florianópolis e Camboriu.

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Participava do Grupo de Idosos do Instituto de|previdência do Estado de Santa Catarina – IPESC enas festividades gostava muito de dançar. As colegasdo Grupo dos Idosos eram como se irmãs fossem. Como falecimento de nosso pai, LAURO MENDES, a quemela sempre teve admiração e dedicação, passou a viversozinha, independente, cuidando de si, sendo, pois,uma verdadeira guerreira. Como colaboradora pessoal,na verdade sua amiga, tinha sempre presente LUIZAFARIAS. Mãe de VALDIR MENDES e VILSONMENDES, tendo dez netos e sete bisnetos a quemestava sempre dedicando carinho e atenção.

Seu falecimento ocorreu no dia 11 de março de2007, quando contava com 89 anos. Agora, e m planosuperior, com certeza junto com nosso pai, suas irmãs,Altina e Zizi, ela está em sua plenitude junto comDeus... Todos nós que a conhecemos sentimos umasaudade imensa, harmonizada com o orgulho de serela CLARICE DA SILVA MENDES uma professora qu emarcou época, conforme assim bem define areportagem realizada no dia seis de dezembro de 2006.

VANDA LÚCIA SENS SCHÄFFER

Filha de Francisco Sens e de Olinda Thiesen Sens. Nasceu aos22 de setembro de 1952 , em Taquaras, município de Rancho Queimad o-SC. Fez seus primeiros estudos no Grupo Escolar daquel a localidade.Vanda, mais tarde, estudou como interna, no Colégio "Nossa Senhora",no município de Angelina -SC. Por motivos alheios a sua vontade, nãoconcluiu os estudos. Pensou então, dedicar -se à música, mas em sua

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bucólica cidade, não havia aula para tal. Além da música, gostava muitode ler.

No seu primeiro livro intitulado "A DANÇA DAS FLORES" ,publicado pela Editora Paulus de São Paulo, ela relata com veemênciaque a natureza é a sua maior fonte de inspiração. Em todos os seuscontos e poesias, viaja -se por um mundo colorido, cheio de pássaros,flores e noites enluaradas. Hoje com aproximadamente cento e cinqüentacontos e muitas poesias de ótimo conteúdo, Vanda também estáescrevendo três livros.

Casada com Adilso Amo Schäffer desde 1972, Vanda tem trêsfilhos: Keila, Mateus e Lucas; e duas netas: Beatriz e Heloísa. Além deescritora e poetisa, é comerciante. No entanto, com a publicação do seuprimeiro livro, afirma que se abriram os caminhos p ara a sua vida literária.Vanda que é católica e temente a Deus. Diz ser apenas uma partícula embusca do seu Criador.

Acadêmica: Vanda Lúcia Sens SchäfferNascimento: 22-09-1952Cadeira nº: 27Posse: 17-12-1997Título: PoetisaEndereço: Avenida Lédio João Martins, 543, Kobrasol, São José -SCFone: (48) 3259-1711E-mail/Site:Patrono: Mário QuintanaTítulo: Poeta

ALGUÉM A PROCURA DE FELICIDADE

Procurei a liberdadepois estava aprisionado por meu orgulho.

Dos humanos sentia-me o melhor!

Procurei a liberdadepois estava aprisionado por meu egoísmo.

De tudo queria mais e melhor!

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Na bebida procurei a liberdade.Aprisionei-me na embriagues!

Nas drogas procurei a liberdade.Aprisionei-me na insensatez!

Na prostituição procurei a liberdade.Aprisionei-me nas fúteis paixões.

Perdi a dignidade!

Na preguiça procurei a liberdade.Nela aprisionei o meu coração

em perniciosas cobiças sem prosperidade!

No roubo procurei a felicidadede possuir sem trabalho.

Tombei qual a mais alta árvore de carvalho!

Na noite procurei a liberdade.A encontrei escura fria e traiçoeira.

Procurei-a em vão.A lua e as estrelas, somente tem para tanto permissão!

Ah! Mas quando encontrei o Sol Maiornotas rítmicas e perfeitas tocaramem meu peito a mais bela canção.

Era a força brotara do amor e enlaçava o meu coração!

Deixei seduzir-me por Jesus! Abri os braços em cruz.

Hoje sou livre como o vento.Sou pássaro que vôo no espaço dos meus pensamentos.

Livres, livres pensamentos

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modificados pela liberdade que Deus me deu e me dá a cada momento!

Não sou mais alguém a procura.Sou a própria liberdade.

Sou liberdade em forma de criatura!

25/07/2001

ANJO DEFORMADO

Fazendo caminhadas matinaisque somam cinco voltas ao redor do Shopping.

Oro.E em cada volta uma oração especifica

e muitas inventadas na hora.Eis uma delas.

Os meus pensamentos, os meus sentimentos, as minhas emoções e os meus desejos, Senhor a ti os

entrego.Ao término dessa oração olhei para o céu

e vi um anjo deformado.Logo pensei. “Que anjo engraçado”.

Seus cabelos encaracolados.O rosto...

O rosto de um lado era achatado.Uma asa era pequena a outra enorme.

Na volta seguinte o anjo havia se modificadoe na outra volta ele estava sem a asa maior, e parecia

desanimado.A asa menor acenava para o mar.

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Mas... o mais curioso deu-se com o rosto abriu-se umafenda.

Nitidamente vi que era uma boca implorando a Deus paraque a humanidade de todo o mal a defenda.

Continuo caminhando...E em todas a voltas continuo orando.

Porém o anjo deformado que v i naquele diajamais saiu do meu pensamento.

Penso nele todos os dias...No entanto nunca mais o vi nas nuvens retratado.

Concluotambém não há necessidade.

Há tantos ao meu lado interiormente deformados.E ... quem sabe não sou um deles.

11/09/2000

CRÔNICA DO BOM CAFÉ

Levantei bem cedo, fui para a cozinha fazer o café,lembrei-me da minha filha que sempre diz:– Mãe, você está na idade da pedra.E sabem por quê?Porque não uso cafeteira.Pus a chaleira no fogo e, enquanto esperava a água ferver,minha mente trabalhava e esta crônica fez nascer.

Obrigado, Senhor!Como preciso de Vós para, em mim, nascer a chama doamor.O fogo não mais para ferver a água.

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Mas, o fogo que abrasa.O fogo que cada indivíduo deveria ter em sua casa interior.E... a chama, amarelo-azulada logo a água fez borbulhar.O café, mais gostoso em seguida pude saborear.Coadjuvantes do meu café, o leite quentinho e o adoçanteeles inspiraram-me ainda mais.Não é tão raro, mas todos não têm café saboroso assim.Analisado poeticamente e degustado vagarosamente,originando esta crônica tão diferente.

No entanto, muitos não têm cafée jamais um pão com manteiga, isso já pela manhã.O restante do dia passam fome; são indivíduos excluídos dasociedade e errantes, vagueiam no mundo chamados devagabundos.E quanto a nós, que temos café, almoço e jantar, podem noschamar do quê?Mui capacitados e sensíveis?Ou a nossa sensibilidade evaporou com as labaredas dodesamor?

Eis a receita do meu café; de um bom café.Água filtrada, pó de boa qualidade, leite também do melhor.

E foi assim nesse entrosamento, um necessitando do outro,que o meu café ficou pronto.Então me transportei ao passado; visualizei uma plantaçãode café. Visualizei muitas vacas prontas para seremordenhadas; prontas a repartirem conosco e com osbezerros o leite, uma das fontes de vida terrena, sustentoprimeiro.Visualizei também quem não tem o básico sustento.Concluí que nós, humanos, precisamos compartilhar até ostalentos.Agradecer a Deus ainda é muito pouco.

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Colocarmo-nos à sua disposição e ajudar os desvalidos, énossa obrigação.Não querendo dizer com isto que sempre devemos dar aeles o café pronto, mas ensiná-los a plantar.

O que nós sabemos, eles querem aprender. Utopia não é,pois até o papagaio aprende a falar e a dar o pé.

04/11/2002

ENSOPADO

Lá vai o pintainhorecém da casca saiu.Contente piando vai...

Nem sabe o pobre inocenteque o seu fim será azarado

reverter-se-ánum frango ao molho pardo.

Meses mais tarde...– Que delícia este ensopado!

– Parabéns cozinheira!Ela escondendo a verdade se agita

e ao pé do fogão grita.– Não me contento com elogios

tenho saudade de ver o pintainho subindo a escada aos pius...

Eis que de repenteouve-se do galinheiro

um có-có-ri-có mui afinado.

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Era um galo faceiroque de cima do poleiro

cantava para todo o galinheiro.

Surpresa geral à quem ali almoçava.Os que na rua passavam

ouviam também o catar estridente.– Que galinho esperto!

Por certo alguém o adotou como gente.

E o papagaio faladorfazendo o maior alvoroço bradou de alivio.

– Graças a Deus que do meu convíviodesapareceu o gato e o cachorro!

06/02/2003

VERA REGINA DA SILVA DE BARCELLOS

Vera Regina da Silva de Barcellos denomina-se Vera DeBarcellos como nome literário. Nasceu em Florianópolis , capital de SantaCatarina, em 1948.

Suas atividades literárias aconteceram em 1996, quandocomeçou a participar de entidades literárias em Santa Catarina.

Inicialmente foi convidada a participar da Associação deContistas, Poetas e Cronistas Catarinense, posteriormente comoacadêmica da Academia São José de Letras, da Academia de Letras deBiguaçu e fundadora e acadêmica da Academia Desterrense de Letras,todas catarinense.

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É membro correspondente das: Academia Municipalista do RioGrande do Sul, Academia Petropolitana de Letras, Academia de LetrasRaul de Leoni, estas duas últimas da cidade de Petrópolis no Rio deJaneiro. Mantém com orgulho o título de Membro Titular do Clube dosEscritores de São Paulo e mais onze entid ades literárias de renomenacional.

Editou em 1997 duas obras literárias “Na luz a dor da saudadetua (poesias e poemas já em segunda edição) e Cores poéticas em teucoração (Pensamentos, na quarta edição) e um DVD poético queacompanha suas apresentações literária e artística e em 2004 lançoujuntamente com o escritor. Hugo Bessoni em Belo Horizonte -MG, a obrainfantil “A ratinha vaidosa”.

Hoje Vera De Barcellos colabora com sessenta e cinco jornais,revistas e boletins literárias e mantém um acervo de se tenta e cincoantologias literária, realizado junto a outros escritores de renome nacional.

Sempre participando de concursos literário s contando hoje comdezenove prêmios e troféus em primeiro lugar, Menção Honrosa, Honraao Mérito, classificação por Destaque e outras honrarias de nível nacional.

Para os próximos meses será lançada a coleção “Tia Vera”contendo nove obras infant is.

Acadêmica: Vera Regina da Silva de BarcellosNascimento: Não informadoCadeira nº: 34Posse: 17-12-1997Título: Não informadoEndereço: Avenida Rubens de A. Ramos, 2 .082, Apto. 302, Ed.Belvedere, Florianópolis -SCCEP: 88015-701Fone: (48) 3207-6888 / 9621-7660E-mail/Site: [email protected]: Othon da Gama Lobo D’EçaTítulo: Poeta

VIDA DE POETA

Vera de Barcellos

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Poemas e poesiasUm Poeta a outros poetasque poetandofazem do verdadeiro “POETA” um mongena sua simples e infinita sabedoria.

Ah! poeta

Ainda era madrugada,precisamente 2:45 da manhã,quando me acordaste com tua infinita inspiraçãopara compor estes versosnas ondulações dos cantos líricos de outros tempos...

Abri vagarosamente meus olhosespreguicei-me... tentando ainda continuar a dormirmas, tu, oh! poeta dos meus encantos,fizeste-me colocar meus pés no chão e,preguiçosamente, levantei -me paraestender em linhas poéticas o que me vem á alma !

Canta pois, alma queridaos deleites dos teus cantos despertos da aurorae vislumbre em tuas cadências rítmicasos mais puros sentimentos de outrora...

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Despertei na madrugada primaveril...

Poeta, sei que desperteide um sono profundo;que descoberto dos deslizes do tempovem à tona todos os ímpetos juvenisdas pequenas almas que percorrem seu s espaços,vislumbrando em cada canto de seus mundosas incessantes perturbações de seus novos pensares!Sei, que não é fácil dedilharos pesares do dia a dia...Sei que não é simplescolocar-se a descoberto aos incessantes olhos quevêemsem olhar na mesma direção os códigos moraisque deslizam nas políticas inconformadas dos tempos.

Diz o político com seus botões:Será o certo ou o incorreto?É correto saber colocar o ovo em pé?

Nas vicissitudes da vida,um chapéu de palha voa ao vento,de quem a cabeça pertence?Ao ancião que vende quitutes na esquinaou ao jovem que busca outros empregosna boléia de um caminhão?Ah! poeta... segues poetando sem parar,pensando talvez que este não seja o teu poema,mas na poeira do tempo as linhas que se descobr em

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fazem parte do rodeio do teu próprio mundo,fazem parte da tua própria descoberta...Entender que as almas que caminham juntasnas descobertas de si mesmasseguem o mesmo compassodos sonhos inevitáveis do destino.Quem viu que o diga!

Hoje é teu dia...

Sei poeta que hoje é o teu dia,ou serão todos os dias da tua vidao dia de tuas descobertas ouas descobertas de outras almas...Tua inspiração como um bisturi médicodilacera vísceras para curar o malou quem sabe as mãos de um pedreiroque soma pedra sobre pedra para formaruma grande parede indiv isível quem sabe!

Pingos pingados de uma saudadeconta as contas dos rosários das ave -marias,ou o pai nosso de cada diado pão de aluguel que na mesa fornece,ou o feijão de um bago sóno tempero da água com salfervendo na panela a dias!

Ah poeta! Quantas viagens nos teus mundos,

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já se conta mais de centenas talvez!Somos como o vento que apazigua os temporaisou as fagulhas que aumenta o fogo nos vendavais?

Ah! poeta deixe nas linhas de tuas diretrizeso consolo que aumenta de diae atemoriza nas noites os teus sonhos despertos daintuição.Canta poeta os teus sentimentos mais íntimosda pureza que tua alma de criança crescidadeixa transparecer as luzes que sempre foramo néctar do mais puro mel!

Ah! poeta dedilha tua oração matinalrezando baixinho a outros poetasque seguem pelo mesmo caminho em direção ao sol!

Chame poeta, teus companheiros da lida,deixe-os dedilhar nas linhas das tuas descobertasteus sonhos ínfimos de contornos s oletrados demistérios,olhando jardins a descobertos!

Sim poeta, hoje é teu dia,tua liberdade começa quando a do outro poeta termina.Sim quando termina...Se num mesmo festival de cantoriasos poetas poderão um dia terminar suas poesias!Pois as poesias, poeta dos meus encantos,resistem ao tempo e ao espaçoelas são infinitamente belas e eternas...

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Simplesmente poeta!

Poeta, hoje é teu dia.Voas como as borboletas leves em seus vôos primeirosnos mais altos valseios de um d ança qualquer .Não preferes jazz, rock ou samba,somente dança de um compasso três por quatropara que tuas asas junto a outraspossam delinear a frênesi dança dos eternosenamorados...Poeta, hoje despertastes tão romântico,deixastes em teu lençol na ca maos vestígios de uma noite de amor!Deixastes um coração cantando baixinhoas melodias do encanto d’alma,sussurrando apaixonadamente teu nome poeta,anônimo inspirador dos trovadores dos tempos!Ah! poeta... teu vesperal desperta corações,faz saltar poesias... jardins de rosas...e as águas das mil correntezas...faz cantar passarinhos ... voar borboletas...contornar nuvens altaneiras...azuis no céu... e verdes mares do sul!Teus encantos poeta, encantam a muitos,namoricam a outros e apaixonam a tan tos...Teus dizeres poeta colorem sonhos,assumem diretrizes das almas que te escutam...

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que se comprazem em atender o teu chamadopara que seus corações não parem de baterneste mundo infinitamente belo de emoções e encantos...Poeta...continue a dedilhar o compasso de tua própria dançae não deixes jamais de seres simplesmente um poetado mundo...

um poeta da vida...um poeta do amor!

“UM POETA NESTE GRANDE UNIVERSO DE DEUS”.

Um caminho solitário, talvez!

Poeta, sei que caminhavas sozinhopelas veredas da vida,bisbilhotando outras vidas...ou espiando outras almas...Quem sabe!Somente olhando as almas em sua simplicidade,passando pela vida,dedilhando sapatilhas de balé,sapateando castanholas,ou picoteando rebolés de samba...Não importa poeta,para ti tudo é possível.Tens livre caminho nas curvas que a vida dá...Tens livre conduto nas fronteiras de outros mundos...Tens passe aberto nas portas de todos os corações...Pois dedilhas em tuas linhas

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toda a euforiatoda a canduratoda a belezatoda a tristezatoda a amarguratodas... todas as vicissitudes de todas as vidas...E não paras por aí...descobres em cada pouso da tua imaginaçãoos contornos febris das almas que nascem sementes,germinam raízes e descobrem -se frutos madurospara serem corrompidas pelas maldades do mundo ouinebriadas pelos mistérios da vida .Oh! poeta...nas frases que compõestrazes em teu próprio peito os cód igosque delimitam a sabedoria do Universo,para que todas as almas possam um dia conheceras delícias de tua própria vivência em direção á luze a sensibilidade de teu coração na força de um grandeamor!

Hoje ainda é o teu dia!

Hoje ainda é teu dia, poetaestás de parabéns!Acordei-te de mansinhopara que teus sonhos coloridosnão se diluíssem no sabor de um mero despertar...Hoje ainda é teu dia, poetavislumbre em teu amanhecer o quanto já fizestes. ..Quantos já despertastes do seu sono eterno?

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Quantos que enviastes a outros mundos...mundos de esperanças e sonhos...mundos de amor e descobertas...mundos de altruísmo e sabedoria...mundos eternos de poesia...

Forme hoje se puderes, poetaum grande ramalhete de florese envie a cada um daquelesque passaram por tua vidae ainda não descobriramque o verbo “AMAR” está intri nsecamente ligadoao verbo da eterna declinação “POETAR”...

Dê hoje poeta, se puderes,as linhas das tuas poesias a outros poetasque parados em suas linhasdedilham dicionários a procura de novas palavrasquando está na verdadeira alma do sábio poetaa simplicidade das “Verdades Eternas”...

Poeta vejo que estas a amar... amando a poesia,poetar... poetando o amor!Nas tuas mais simples emoções do dia a diae na singeleza de hoje sementeamanhã desabrochas em botões,flores de um mesmo ramobeleza infinita do teu bem querer!

A faceirice...

Hoje poeta descobri tua alma faceira,

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não da faceirice que o mundo conhece,mas da beleza que canta a natureza...

A simplicidade da alvoradacom suas matrizes coloridas,seus encantos e perfumes...O cantar das águas do riocantando soltas sua liberdadenas danças ondulantes que vão... e vão...

O vôo da cotovia que escutou na janelaas juras de amor de Romeu e Julieta...O som das trombetas apaziguadorasdos doze da Távola Redonda...Das passarelas atapetadas,dos estadistas em busca da paz nas fronteiras da Terra...O grito saltitante do homem que vem ao mundopara descobrir em si mesmo a sabedoria de tudo...

Ah! poeta, este é o teu lema,descortinar nas linhas de tuas emoçõesas descobertas das histórias...as tramas e os limiares das alcovas...os píncaros mais altos dos filósofos...as verdades encobertas das ciências novas...os planos sociais inconformados de muitos...e os objetivos arcaicos para si mesmo...

Conta poeta, hoje é teu dia.Sabes, porém que todos os diassempre serão o teu dia.

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Pois a tua liberdade não se restringe a dias,mas à eterna sabedoria dos temp os!Motivando almas...abrindo corações...traçando caminhos e iluminando com esperançasas noites escuras de outros viventes...Poetando, proseando, contando e estoriandoespalhas o brilho estrelares do teu coraçãopelos caminhos eternos do teu sonhar!

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Na tristeza!

Hoje, poetate vi tão triste.Estavas junto ao mendigoque mendigava dizendo baixinho,que tudo faria para descobrir em seu mundoo saciar da fome de todos...

Queria descobrir em sua análise o teu coraçãoque a ti já não mais pertence,mas ao mundo que de ti muito espera.Queria dedilhar a tua própria dançapara contar aos seus parceirosa ligeireza das tuas idéias ea inteligência das tuas diretrizes...

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Ah! poeta...e ali te deixastes ficar...Observastes então na quietude do teu coraçãoo olhos ávidos que queriam te conhecer mais de perto,pois, analfabeto de pai e mãe,não conhecia as letras dos teus poemas...não conhecia a singeleza das tuas cançõese tampouco o compasso de tua própria sinfonia...

Mas tu, oh! poetacom toda a tua simplicidadeolhastes as estrelas no céu , pois teto ali não havia...sentistes em tuas faces a brisa fria da noite poisestavam a descoberto...respirastes o cheiro azedo do suor pela falta de banhono corpo dele...tomastes a fraca refeição do pão e água borrenta deum ralo café,e com os dedos envolvendo uma lata velha aquecidaolhastes fundo aqueles olhos nublados e vividose te deixaste pousar naquela tão grande beleza esabedoria,espelhando-te nas pupilas de seus olhosencontrastes a ti mesmo...

Mendigo das dores do mundo...conhecedor de suas desesperanças...analisador de suas amarguras...avaliador de seus desconfortos...sedento da sua sede...faminto da sua fome..

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E assim dedilhando um rosário das eventualidadesinfinitasadormecestes junto ao outro poeta da vida...E assim, na manhã do outro dia,seguistes teu caminho,intimamente sabendo que muito aprendestes com ele.E, lá ficou o mendigo,olhando-te a perder de vistadizendo para um só botão de sua malbaratadacamisa...

Segue poeta o teu mundo, e diga a outros poetas que fizemos parte das diretrizes do mesmo

caminho, fizemos parte da mesma rota,contornamos as voltas dos nossos corações,eu com meus sonhos perdidos e tu, poeta,dedilhando em tuas linhas os perdidos nos

caminhos...De todos aqueles que inconformados com sua

vidanão avaliam a riqueza que existe bem dentro do

seu coração,um Universo de belos e desprendidos

sentimentos...Amar a todos sem distinção de raça, credo ou

cor!Estas as verdadeiras linhas do Universo de

DEUS!E assim, quando o poeta pouco a pouco desapareciano horizonte,o mendigo transformava-se em uma nuvem luminosa

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que pouco a pouco subindo aos céusformava com outras nuvensa beleza que todos os poetas delineiamnas linhas de suas poesias!

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Eu sou...

És feliz? diria o poetanão se lembrando se é diasem tira da sandália de couro cruolha o balanço da cigana andarilha...

Lenço de seda e bola de cristalpulseira de ouro e brinco de argo lastudo pulsa o gingado da guitarra...

Canta rouxinol o teu canto maviosoque contorne em lágrimasum coração em saudades...Das cantigas ao pé da fogueiranos rodeios das conversas ao léo...Tudo lembra euforiameditação e alquimiaquantas alegrias... lembranças do meu diade cigana andarilha...Cantante melodia que há em seu cantoo rebordo de uma aliança de ouro...melodia dourada nos preâmbulosdos meus sonhos de mulher crescida...

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Sem querer...

Sem querer galgueios caminhos que ora descortinavamem flores de mil cores...Sem querer caminheipor atalhos de mil espinhosem direção a sabedoria transcendental...Sem querer tornei-me antes da horaum ermitão tão sequioso de conhecimentosSem querer... continueino caminho das flores de mil pétalasdos mil encantos e das mil lágrimasque unidos formam-se em bolas cristalinasque se encontram dentro do mar

Onde? sem querer encontrarnos preâmbulos que a vida dáo toque angelical do sino da c apela...onde encontrar a alma que busca confortoem outro alma em direção da Luz Maior?Onde?Sentir dentro do peito o sibilar do toquede mil estrelas no recôndito escondidoda alma que luta por sua libertação?Onde? sem querer ser...sem querer estar...

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Sei o que sou... mas e o caminho que terei quepercorrer ,

onde está? sim... onde estápois... não quero me perder!

(nos momentos que a alma pede socorro)

Para outro poeta...

Ah! poeta de outros tempossaboreia o vesperal de cantosque tua alma anseia em cantar...É este o teu lema, descortinandoem prosas os anseios de tua almaque segue as linhas harmoniosasdos grandes monges de outrora.Não deixe a poeira da solidão obscurecero sentido exato do que propusestes a fazer.Ah! querido amigo...também dos tempos idos! Lembro -me das nossasconversasna “Torre Alta”...tantas sabedorias e tantas alegrias...quantas descobertas... que carinhosamente passavas ao compasso do meu coraçãoque bebendo cada palavra... cada evocação...sentia-me voar aos píncaros mais elevados dos meussonhos!Hoje um despertar assola minha almae pingos pingados de uma saudade

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brota em meu peito, despertando jardinsde diferentes encantos... perfumes de floresque sempre depositavas em meus cabelosque desciam em cachos pelos ombrosda mais clara alvura dos lírios dos campos...Meu poeta... desfaça-se em folhas coloridase desperta nas páginas em brancotua alma em cantoria..Espero-te nos jardins entrecortados de ciprestes...nas alamedas dos grandes valseios.. .junto as estrelas dos nossos sonhos...Até lá... um sopro de outono em teu coraçãoao rumo na transcendêncianas Pontas do Grande Triângulo!

(Uma alma poeta para outra alma que canta a sinfoniada Luz que não se apaga...)

PINCELADAS DE CARINHO

Percorrendo as noites de invernodurante meus devaneios noturnos,verifiquei que as brumas em pensamentosassolavam todos aquelesque defraudavam bandeiras arraigadas do passado .Triste pensar... triste ilusão.

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Como poderia falar claramentea todos a qual visitarano meu palco psíquico..das minhas viagens fora do corpo?Num bela tarde onde o crepúsculo banhavaa minha Ilha de Sol e Marraios violeta tocavam minhas aspiraçõesno meio de outras tonalidades douradasveio-me o livro que ora está em vossa mão.Trazendo-te raios semelhantespara expandir flores de alegrias,paz e equilíbrio em vossa tão bela vida.Pense belo...e raios de fortalecimento e amorserão jorrados em vosso caminho...Tendo a certeza de que o vosso Eu Interior brilhará com o fulgor do Grande Sol Central...Creia firmemente que tudo na vossa vida se resolveraquando vossos pensamentos mudarempara um positivismo maior e mais persistente...O grande Criador provera vossa necessidadeBasta crer...Vossa vida sempre será a dimensão de vosso pensar...Vossa vida será a extensão de vosso amor...Creia firmemente em vosso poder de transmutação...E seja feliz consigo mesmae com tudo que te rodeia.Seja simplesmente feliz...E tudo a vossa volta se modificaraporque você mudou seu planotransformando seu Eu Superior na direção do AMOR!

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Como tecer o brilho das estrelas? Como falar a linguagens dos anjos de Deus? Como colorir a vida com as cores do arco -íris?

Como beber da água viva que levaremos anossa ressurreição!

UM ESTADO INTERESSANTE

um estado interessante... que estado?... um estado de humor, de sabor... das estações do ano, Ah! quantos estado... e lá vem ela, alquebrada pelo tempo, no estado da idade, tão interessante, nas brumas do tempo... da saudade.... Ah! quanta saudade...dos caminhos... dos atalhos e entulhos...nas estradas da vida...queria que fosse tudo tão limpo,Ah, mundos... seria tudo tão belo tão maravilhosoNeste estado interessanteonde as rugas aparecem iluminando teu rosto...cada uma marcando a sabedoria de tua alma!

Ah! que estado interessante... onde o brilho das estrelas são marcados pela singeleza do teu sorriso cansado, do brilho de teus olhos opacos,

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mas teu coração... oh! qu e estado de amor,de agrado incandescente... de ternura...quantas... quantas mil,na soberania dos teus anos,a singeleza sabia dos grandes monges...em direção da Luz que não se apaga...

Ah se todos nos pudéssemosalcançar os seus frutos maduros.quem sabe,,, um dia eu sabereiEstarei neste mesmo estado interessante...no cintilar dos ventos...nas cores do por do sol que sempre nasce...na sempre claridade das esperanças ... Ah! quando estarei neste estado interessante

quem sabe... ele sabe...já o conhece... eu sei!

(na certeza de novas descobertas)

VILCA MARLENE MERÍZIO

Vilca Marlene Merízio (Brusque, Santa Catarina, Brasil) vive emFlorianópolis há 45 anos. Professora Doutora em Literatura Portuguesa(Universidade dos Açores, Portugal, 1992; Mestre em Literatura Brasileira(1978) e Licenciada em Letras (1973) pela Universidade Federal de SantaCatarina. Professora de Língua Portuguesa e Literatura (1963 -2008).Idealizadora e Coordenadora Geral do Programa MISSÃ O AÇORES 2008e Missão Cultural Santa Catarina Açores/Portugal e ComunidadesLusófonas (2001-2007). Criadora e Coordenadora Geral do Projeto

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Representação Catarinense no II Encontro de Lusofonia e Açorianidade eatividades Paralelas nas Ilhas de São Miguel e Graciosa, Açores (maio de2007) e do Projeto Missão Açores II – 2008. Criadora e Coordenadora doPrograma Cultural Açores -SC para o Festival do Mar, Florianópolis, 1996.Idealizadora e Professora de Cursos de Harmonização P essoal,Açores/Portugal (2002) e em SC (2000-8). Conferencista e palestrante decongressos, colóquios, painéis e outros. Membro de júris dedoutoramento, mestrado e graduação. Revisora de livros.

Atualmente, Professora aposentada da Universidade Federal deSanta Catarina, Vice-Presidente da Academia São José de Letras.Membro da Academia de Letras de Biguaçu. Diretora Institucional daAssociação de Amigos da Casa dos Açores -Museu Etnográfico deBiguaçu. Sócia-fundadora da Associação dos Poetas Livres deFlorianópolis.

Livros publicados: A História de Um Amor Feliz. 2004. 375 p.Açores... De memória . 2004. 122 p. Quase... de Corpo Inteiro . 1996. 190p. Redação: uma Experiência de Ensino -Aprendizagem. Brasília.Ministério da Educação e Cultura, 1980, 180 p. (Prêmio MEC 1979).Publicações em Antologias, Jornais e Revistas Literárias. Artista Plástica(1993-2008).

Acadêmica: Vilca Marlene MerízioNascimento: 05-01-1944Cadeira nº: 23Posse: 18-12-1996Título: Poetisa / EscritoraEndereço: Rua Irineu Bornhausen, 3 .770, Apto. 203, Bl. 2, Ed.Agronômica, Florianópolis -SCCEP: 88025-205Fone: (48) 3224-4031 / 9971-2285E-mail/Site: [email protected] / [email protected]: Lausimar LausTítulo: Poetisa

“EU TAMBÉM ESCREVI CARTAS DE AMOR” 61

61 Conferência proferida pela autora em maio de 2008, no 3º Encontro deLusofonia e Açorianidade, na Lagoa, Ilha de São Miguel, Açores, Portugal,

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Nasce um poemaE ao contrário dos regulamentos

Sei porquêO porque dum nascimento

em representação da Academia de Letras de Biguaçu, ao abrigo doProtocolo de Intenções de Cooperação Mútua entre o Governo do Estadode Santa Catarina e o Governo Regional dos Açores (2007) e com opatrocínio da Secretaria de Estado da Cultura, Esporte e Turismo doGoverno do Estado de Santa Catarina , dentro das comemorações dos260 anos da imigração açoriana e madeirense em Santa Catarina.

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Misterioso quanto um sedimentoDe longo amor e desejo.

José Martins Garcia

Era outubro de 1987. Nove de outubro. Numrestaurante, em Ponta Delgada, minha família e eu fomosapresentadas pelo então Reitor da Universidade dos Açores,Prof. Doutor Machado Pires, ao Prof. Doutor José MartinsGarcia (JMG)62, que, durante cinco anos, na mesmauniversidade, iria me conduzir aos caminhos da percepçãoliterária, instigando-me, com coragem e perseverança, atranscender os mistérios que permeiam mar , céu, terra egente das ilhas açorianas. A chave capaz de abrir as portasimateriais das ilhas, descobri mais tarde, não estava comele, não estava comigo, mas pairava dentro de nós, e sobrenós, na palavra dita, no olhar hospitaleiro e nos gestos deamizade de toda a comunidade que me recebia.

A constatação, depois a compreensão, de que, entrebrasileiros e açorianos, existiam maneiras diferentes depensar; a aceitação de um silêncio que, às ve zes, dizia maisque um discurso; a imersão na arte de viver d os quantos,

62 Também escritor, poeta, contista, romancista, ensaísta e crítico literário.Sobre JMG, David Mourão -Ferreira escreveu: o “escritor mais completo emais complexo que no último decénio que entre nós se revelou” (JornalSigno, 1987).

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amando ou odiando estes cumes emersos do Atlântico, aquiviviam e repartiam comigo fraternalmente a mesa e,carinhosamente, os laços de família, tudo isso permitiu-meconhecer e vivenciar a poesia destas ilhas. Mas foi com oProfessor JMG que aprendi a ver os Açores com odistanciamento necessário para que nele coubesse Portugalcom sua história e conquistas, mas também com seusdesvios e desvarios, levando -me a amar a LiteraturaPortuguesa, incondicionalmente, a partir de leituras a que sóele era capaz de me fazer ascender.

Antes de vir para os Açores procurei no PequenoRoteiro da História da Literatura Portuguesa (1984)informações sobre o professor -orientador com quem iriatrabalhar nos dois anos de pesquisa, pensava eu, que teriapela frente. Lá estava, à página 282: JMG, autor de“exegeses inovadoras, ensaísta de sólida preparaçãohumanística e ficcionista de largos recursos, mas polemistade temível mordacidade. A par disso, ainda no Brasil, o Prof.Machado Pires já havia advertido: “JMG é o melhorprofessor que temos no âmbito das Letras, mas o maiscomplexo, o mais difícil de se lidar...” No entanto, JMGprofessor apresentou-se para mim e para meus filhos comtanta solicitude e amabilidade, que o receio que eu sentiraantes de conhecê-lo pessoalmente desapareceu diante dohomem extremamente gentil que se colocava à disposiçãopara auxiliar-me naquela longa trajetória de meia década depermanente orientação nos estudos da cultura açoriana e daliteratura portuguesa.

Muitos dos que me davam as boas vindas referiam-se ao Prof. Martins Garcia como um profissional altamentequalificado, mas de uma sensibilidade que o levava a perderfreqüentemente a paciência em razão da sua forte tendênciaà irritabilidade. Contavam-me sobre a contundência de suascríticas, a veia satírica de suas personagens de ficção, alinguagem quase sempre direta e acutilante dos seus

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narradores e sobre a ironia que constantemente oacompanhava nas suas falas. Na ocasião, senti o quanto osseus colegas, apesar da descriçã o crítica um tanto severa,admiravam-no, respeitando a sua maneira de ser, e quantoalguns dos seus alunos, talvez por não o conheceremsuficientemente, temiam-no. Contudo, no meio acadêmico,era comum, a todos que com ele conviviam, oreconhecimento de sua gentileza e de sua cordialidade notrato. “Conversava amenamente, fossem os interlocutoressimpáticos e tivessem com ele afinidades. Mas era raro vê -loengajado numa troca”, escreve Onésimo de Almeida(2001/04:33). Diz ainda: JMG “Quedava -se freqüentementepelo assentimento reverencial nas aparências, na maiorparte das vezes em polidez retraída”.

A respeito da permanência do poeta nos EstadosUnidos, Almeida relata: “Precedido pela fama de senhor deuma têmpera de ebulição freqüente, forte e em pouca ág ua,nunca ninguém viu Martins Garcia levantar a voz, zangar -se,polemizar, maltratar quem quer que fosse. De uma lisuraimpecável, chegava a parecer subserviente no seu saudarde cabeça inclinada e pasta na mão. As secretárias [naBrown University (Providence, Estados Unidos)], conheciam-no por São Tomás de Aquino”.

E assim, JMG, um “intelectualem estado puro”, como o definiu Machado Pires 63, era um

63 “Intelectual: talvez também aquilo a que o seu mestre Nemésiochamava ‘o intelectual em estado puro’ – o que se refugia no luminosopercurso espiritual das idéias e das palavras, com alhe amento total dosprazeres ‘terrenos’ das máquinas e das tecnologias, que não sabe mexerem aparelhos, não tem carta de condução, não se importa com inventos eúltimos modelos do que quer que seja” (Pires, Machado, 2001/04:177).

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complexo misto de serenidade e de vulcão à flor da pele 64,escondido por trás da amabilidade de um comportame ntosocial impecável e de um caráter profissional que provocavainveja. O seu mundo particular “era mesmo de um outroreino” (Almeida, 2001/04:115), não importando se vivessenos Açores - Pico, Faial e São Miguel, se em Lisboa, Françaou Estados Unidos, lugares que, de algum modo, fizeramparte do seu universo profissional e literário. JMG mesmojustifica-se: “a ficção, sendo distinta da realidade, temprofunda relação com a realidade”, talvez, passasse aimpressão de uma procura constante de uma outra vida , deum outro lugar. A esse respeito, Vamberto Freitas (1992:34)confirma: “quanto mais andou, mais sobre si se fechou”,embora essa solidão voluntária tenha sido a origem de “umadas mais enclausuradas, mas originais, vibrantes edesmistificadoras obras l iterárias portuguesas daactualidade [...]. “É no acto de escrever que Martins Garciavolta à sua comunidade” (Freitas, 1992: 37).

De volta aos Açores, em 1984, seu último refúgio,JMG não reconheceu nas ilhas o seu mundo original. Entãofoi cada vez mais se “fechando no seu imenso mundointerior”, aceitando a situação de exilado: exílio criado porele mesmo, como costumava dizer. E se em ContrabandoOriginal dá voz a um personagem que diz: “Sim, nasci numailha e perdi-me no mundo”, é numa entrevista con cedida aVamberto de Freitas que confirma: “Sou um exilado, é certo.Mas um exilado por temperamento”. Logo depois, confessa:

[...] eu próprio criei o meu exílio. O mundocircundante não me bastava... Permanecer nele

64 Ler a obra de JMG, segundo Vamberto Freitas (1992:33), “é ler comsorrisos na cara ou então a rir a sério. São páginas que contêm, sempre,uma espécie de escuridão cômica, de onde o medo nunca se retira porcompleto, e nas quais nada e ninguém é sagrado, tudo e todos são alvosa atingir, inclusive o próprio narrador. Está -se aqui no inferno, mas semnunca se perder o humor – é a vingança (aterrorizadora) do homempensante e artista moderno”.

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seria resignar-me à monotonia. Sair de le seria(como foi) uma aventura marcada por muitosofrimento. [...] de certo modo, quis fazer coincidira vida com a imaginação. Claro que isso éimpossível. O resultado, quer me acredite quernão, foi o divórcio entre a minha vida quotidiana eos mundos que inventei. Rigorosamente falando,não há nada de autobiográfico nos meusromances, nos meus contos [...] Só na poesia‘lírica’ o ‘eu’ que sinto se exprime sem a invençãode um médium. (FREITAS, 1992:119).

E esse exílio procurado pelo cidadão foi traduzidopela dor da ausência, no signo da saudade que o poeta diziasentir. Por isso, diz a Freitas (1992:127) “estou aqui, masnão me encontro aqui”. (E teria vivido no Brasil, não tivesseido tão cedo, embora para os amigos mais próximos, depoisda sua aposentadoria (2001) afirmasse não mais poderviajar.) Talvez, o que o fizesse afastar -se das suas ilhasfosse a têmpera inflamada que, à falta de compreensão dosconterrâneos, fazia-o crer que o problema da não aceitaçãodos seus livros, da indiferença, ou me smo do esquecimentosobre o que havia escrito – poucas foram as críticaspublicadas e menos ainda as frontalmente orais – devia serrelegado à estética da recepção.

Na ilha, este mundo limitado, mas infinit o, comodefine Fernando Aires, também outros amigos forampercebendo que JMG abrigava-se, sozinho, no seu imensomundo interior. Onésimo (2001/04:43) observa que nessemundo de (aparente) paz e sossego o escritor parecia serfeliz e, “quando desse mundo interior emergia, tinha umaenorme facilidade em entrar em colisão com o dos outros”.Envolvia-se, por vezes, com o público (chegou mesmo a serVice-Reitor da UA, mas isso lhe ex igiu tremendo esforço),quando lecionava ou proferia palestras e isso o fazia comerudição e prazer. A acutilância da sua inteligênciaextravasava em brilho nos momentos serenos, ou explodiam

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em sarcasmo cruel quando algo o a cicatava. De todas asmaneiras, “Os alunos bebiam-lhe o verbo e osensinamentos”, disse dele Onésimo (2001/04:44), e confirmoeu.

Bem, naquele nosso primeiro e ncontro, nem mesmohavíamos acabado o almoço (ele sentou -se à minha frente)e questionou-me a respeito do tema da dissertação que eupretendia escrever. Falei do meu interesse em estudar umaautora açoriana (Natália Correia, evidentemente). Ele sorriu,sem aprovar ou contradizer a minha idéia. Do que ele medisse, ficou na minha memória mais ou menos isso:Escrever sobre a Literatura Açoriana é árduo demais paraquem não viveu em Portugal. O ser açoriano, na suacomplexidade existencial, exige que o pesquis ador observemais do que hortênsias, bandeiras do Espírito Santo emarchinhas de São João. Um bom trabalho de pesquisaexige tempo e dedicação exclusiva. Se você veio para voltarantes de cinco anos (eu pensava ficar dois), nem procuresaber onde fica o interruptor de luz da sua casa. Volte.Quem está aqui só de passagem não conhece as ilhas nemos açorianos e muito menos conhecerá a sua literatura.Adiei o estudo sobre a Natália e fiquei. Fiquei, não só cincoanos, mas muito mais e cá ainda estou... P orque, como dizDaniel de Sá, é saindo das ilhas que nelas se permanece.

A primeira lição recebida de JMG surtiu efeito: parafalar da exuberância de hortênsias, que embelezam osAçores, há-de-se, antes, amar o solo em que elas vicejam ereverenciar as mãos que as transplantaram; para saber dasua essência, é preciso igualar -se à seiva que as fazemflorescer pelos caminhos tortuosos, como se cascatas de luzabençoassem as escarpas negras destas ilhas. É precisoamar, mesmo com toda a dureza e negritude, “estes ricospenhacos”, como dizia a Sra. Dona Lili Pavão. Então,aprendi que os Açores não eram somente a beleza dascurvas ao longo da costa onde o mar disputa atenção com a

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estrada ladeada de plátanos a ensombrar camélias,beladonas e azáleas. Os Açores não si gnificam apenas apresença das criptomérias, alinhadas pelos campos emontes, onde vaquinhas pretas com manchas brancas,também alinhadas, ficam pastando, sempre igual, a ruminardespedidas...

Ficar na ilha, não era somente ser o viajantemaravilhado diante dos pores de sol cheios de magenta,dourado e ciclame... Não, os Açores não eram, e não são,só vento, só mar (e aqui lembro Antero)... Umidadeexcessiva, austeridade. Aqui existe angústia... Solidão! Se éde despedidas que a sua gente se constrói, man têm-se, osque aqui ficam, de reencontros, de alegrias, de felicidade porse estar junto, de conversas longas nas mesas de umaesplanada ou de um café, das histórias mil vezesrecontadas... Sem pressa, com ternura, olhos nos olhos...Coração aberto, mão estendida...

E para quem chega, herança dos que daqui partiram,os Açores também não são o “cativeiro geográfico” que tantose promulga. São antes, o ponto de repouso, oabastecimento da alma que anseia por silêncio e cultura. Acerteza de que a Terra de Lídia se estende por todo oarquipélago faz o estrangeiro ir ficando, ou quando obrigadoa regressar ao seu país, retornar às ilhas porque os laços seestreitaram e o coração já não mais abandona o seu novoparaíso.

A alegria que hoje percebo nos açorianos, essaagitação interna que os leva, entre eles, a conver sar alto, adizerem da sua vida; o tom irônico, as observaçõesaguçadas, a franqueza..., mas também a solicitude, aamizade franca e hospitaleira apontam, hoje, uns Açoresmais abertos ao progresso e de mãos dadas com a evoluçãoque determina a sua identidade. JMG tinha razão. De nadaadianta o pesquisador preocupar -se apenas com asvariantes lingüísticas de cada ilha nem com o que lhe é

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familiar na cultura. Isso não garante a açorianidade. Para seter uma literatura que fuja do regional é preciso mais. Épreciso universalidade sem deixar de ser original. Osaspectos geofísicos e históricos contam, mas acrescem -se aeles a psicologia individual e coletiva das pessoas quehabitam a região, a filosofia de vida, a moralidade e oscostumes, a sua abundância e a sua miséria, é aí, então,que se solidifica a identidade integral do território que seabre à globalidade das pesquisas. E a sua literatura assimpode ser lida e apreciada por todo o mundo porque conté m,para além da sua especificidade, os mesmos códigos dauniversalidade humana.

E foi refletindo sobre tudo isso que conseguicompreender o que José Martins Garcia pretendia que eualcançasse a fim de melhor estudar a Literatura. Senti,então, ser necessário à pessoa interessada no tratado daalma portuguesa, presente na consciência das ilhas, umtornar-se resistente e leve como a lava e, ao mesmo tempo,sensível e doce como a aragem que passeia, no verão,entre as faias e o louro. Mas também suportar a um idade eos vendavais. E as distâncias. E as saudades. Se as ondasdo mar beijam as rochas e se perpetuam na espuma, é nomovimento das marés que o planeta se compõe erecompõe. Apreciar a Literatura Açoriana, que não deixa deser portuguesa, por sua univer salidade, é saber ir e voltar. Ésaber que ainda há homens no mar... e sereias em volta dasilhas. É aspirar no ar da madrugada a alegria de quem voltae sabe que há alguém à espera.. É apreciar o verde e oazul, mas também o negro. É rir e chorar. É ter n apolarização natural da vida o contraponto do sonho. Éresistir... Mantendo, não na vida, mas apenas na memória, ador do isolamento e a nódoa da partida. E, então, pelaliteratura, voltar a esse tempo mágico onde tudo é permitido,porque expressão de alma sofrida, vivida.

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E essa luz dos Açores, tão inco nstante e variada, amesma luz que cativa o estrangeiro é mesma que, às vezes,perturba o ilhéu. Essa luz das ilhas, esse tempo baçoincomodava JMG. Ouçamo-lo:

A luz dos Açores, mesmo em dias de sol, é um acoisa aquosa, um derrame que pesa naspálpebras. Melhor do que eu o escreveu RaulBrandão, encantado, sim, mas farto dessaatmosfera de limbo. Essa atmosfera pesa naescrita. O clima não explica nada, claro! Mas quemnos garante que não tem a sua quota -parte deresponsabilidade na atmosfera social dos Açores?E, por conseguinte, na escrita cercada por essasociedade? (GARCIA, 1999:68)

Para pouco mais adiante explicar: “Não é o efeitodirecto do clima; é a translucidez das muitas teias que seacumulam em torno da privacidade”65 que me fazem quererrespirar o ar de fora. Referia -se ele ao convívio das ilhas, aoconhecimento natural, quase obrigatório: ler um escritorconterrâneo e contemporâneo era quase ver d evolvidos naspáginas escritas os reflexos da vida comunitária66. QuestionaOnésimo Almeida (2001/04, p. 42): “Mas ou a literatura é sófingimento ou há uma ligação profunda (obviamente nemsempre coincidente) entre as vozes dos narradores da ficçãode MG, do poeta e de JMG himself.” Tzvetan Todorovmesmo dizia que “uma leitura ingênua dos livros de ficção

66 “As marcas da vida do sujeito empírico, dissimuladas pelo s artifícios deque dispõe a literatura, procuram evidenciar -se, sem que, no entanto,cheguem a impor a sua soberania. Contudo, elas lá estão, interferindo naescrita, deixando impressas as vivências do criador” (DUARTE,2001/04:109). E na mesma linha, o parecer de Rui Dores (1987: 4): “ aficção de Martins Garcia situa -se entre uma dimensão da vida vivida euma dimensão da vida recreada. O que prova, pelo menos, que o ofíciode escrever é indissociável do ofício de viver” (Idem: 125) .

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confunde personagens e pessoas vivas” (MOURÃO -FERREIRA, 1976: 89).

Carlos Ventura (2001/04:190), ao lembrar o primeiroencontro com JMG, em Lisboa, aponta os possíveis riscosque se pode incorrer na procura de “homologias, entre aprodução de um autor e a personalidade do homem” queescreve. No caso de Martins Garcia , diz ser possívelencontrar muito da voz docente coincidindo com o cerne, porexemplo, de Linguagem e Criação (1973), a sua primeiraobra publicada. E eu digo que muitos pensamentos doensaísta estão revelados sob forma “quase teórica” em(quase) teóricos e malditos (1999). O fato de JMG afirmarque os seus livros vão se fazendo, sem um planoestruturado, é conceito conhecido das pessoas que com oprofessor tiveram o privilégio de dialogar sobre o processoliterário de criação. A mim, por diversas vezes, eleconfessou construir suas obras passo a passo, semesquemas a cumprir, a escrita fluindo ao sabor da memória.Muitas vezes, ouvi-lhe dizer que o “texto quis ser assim e eunão pude contrariá-lo”, justificativa que deixou registrada emseu último livro no capítulo “Uma aposta em três postas”(1999:61) em que se refere à POLIFONIA (destaque doautor67), recurso amplamente por ele utilizado no romanceImitação da Morte (1982).

“Eu também fui revolucionário... ‘Eu também escrevicartas de amor’...” Assim começa JMG um dos parágrafosdo capítulo “Sobre Crítica Literária”, da sua últimapublicação em vida, o (quase) teóricos e malditos (1999:27),a lembrar Allain Robbe Grillet (a destruir a ‘alma’ daburguesia) e Fernando Pessoa, (talvez mais para justificar asua incapacidade revolucionária do que pelas cartas deamor de Fernando a Ofélia). 68 Mas, pelo sim, pelo não, achei

67 [...] “POLIFONIA (caixa alta quer dizer que não é o que julgam...)”(GARCIA, 1999: 61).68 Ver Mourão-Ferreira, 1978.

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aí o argumento, o filão que me levaria a desenvolver estaspáginas, cujo objetivo único é o de revelar o caráter digno,leal e compreensivelmente humano, de um açor ianotorturado pela distância, pelo isolamento voluntário a que sedispunha e, segundo o seu sentir, pela falta dereconhecimento público à arte do seu trabalho literário .69 Umhomem que, durante a minha permanência em Portugalcomo sua orientanda, soube conservar -se ao leme doprocesso que me levaria ao doutorado. Ao cabo da árduatarefa oficial, quando eu já retornava à minha pátria,tornamo-nos grandes amigos, a ponto de confiar -me algunsdos seus segredos, que, sabia ele, sei eu, iriam serrevelados com o tempo. Por isso, sinto -me à vontade, já quea mim pertencem, por doação do autor e autorizaçãoexpressa da destinatária, dar a público algumas das cartasassinadas por JMG, no período que vai de novembro de1992 a outubro de 1998.

Fernanda Leitão, no artigo “O meu Amigo da CriaçãoVelha” (Açoriano Oriental, 7/12/ 02:16), poucos dias após ofalecimento de JMG, ao exaltar-lhe a coragem política deoutrora, refere-se ao depauperamento físico em queencontrou o amigo, dezoito meses antes do seu falecimento:a “palidez, os olhos inundados de amargura, a linha dosombros a gritar desamparo. Como se tivessem passadosobre ele 30 anos de trabalhos forçados”. E indaga,deduzindo: “Que tratos de polé teria sofrido o artista, homemde superior inteligência e rectidão de caráter, sabe Deus aque mediocridade teve de obedecer em silên cio”. E asolidão, sabemos nós, rondou a sua alma, principalmentenos últimos anos de sua existência.

Assim é que, lendo algumas das suas cartasparticulares, fortalece-se a impressão e a (quase) certeza doseu imenso esforço em continuar em Ponta Delgada em

69 Onésimo Almeida (2001/04: 35) confirma: (Martins Garcia queixava -sedo silêncio a que o votavam, a ele e a seus livros).

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razão dos abalos emocionais sofridos na d écada de noventa(um divórcio litigioso), da debilitação física que lhe foicorroendo a capacidade de escrita, do isolamento a que sepermitia, da alma em sobressalto por razões muito pessoais.

A primeira carta é datada de 4 de novembro de 1992,e aqui a transcrevo com o sublinhado e as caixas altas doautor, suprimindo apenas o nome próprio da destinatária, emrespeito à memória de JMG, que a todo custo manteve, pormuito tempo, esse relacionamento em segredo.

Minha querida; meu Amor [...] – só no fimreparei que só te chamei de meu Amor) .

As duas páginas lamurientas que teescrevi – e destruí – estavam datadas de 1 e 2 docorrente. Ontem, 3, após um dia de imensaangústia, ouvi a tua voz. “Deus te proteja!”,também to digo. Lembras-te do dia de Agosto emque formulaste este mesmo voto?... Há quantotempo, meu Amor!

O que torna tão difícil o acto de escrever -teresulta certamente da inquietação que meatormenta de maneira contínua. Queria enviar -teumas palavras onde houvesse algo belo... e nãoconsigo, não vou conseguir. E, contudo, eurecordo momentos belos cujo centro és tu. Masagora, dada a tua ausência, tudo parece irreal,amargo, sonho desmentido por um despertar cruel,frio, solitário – talvez como o tempo e as pessoasque me rodeiam.

E é isto. Recaio no mesmo estilo. Para sercoerente, deveria destruir estas linhas. Mas, então,nunca te enviaria uma única carta. Tenho oespírito desmantelado, o coração... Ah, o coração!Que é que posso dizer dele?...

Há uma semana ainda aqui estavas.Gostaria de dar-te algum ânimo porque sei quevives momentos atribulados. E , no entanto, só sei

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queixar-me porque não te tenho junto de mim.Creio que ultrapassei o Amor e que estouapaixonado. Ou tonto de todo. Os apaixonadosnão serão egoístas, ao contrário dos am orosos?Eu, apaixonado, volto-me para o meu sofrimento.Quero dizer: volto-me, principalmente, para osofrimento causado pela tua falta. E acho quepratico uma terrível injustiça, porque afinal o meuamor por ti te coloca acima (deveria colocar acima)dos problemas da minha vida íntima. Ou será quenão consigo fugir ao paradoxo? Ou será que nãodigo, de perturbado, coisa com coisa?

O teu rosto, as tuas mãos... As águas, aluz, as ondas (sete?), a rosa... Mas quando foitudo isso?... Sinto doer o coração. Si nto os olhosteimosamente húmidos. Em vez de reter a belezadas recordações... Lá estou a bater na mesmatecla!

Meu Amor! Afinal é o que gosto deexclamar: meu Amor! Sei que, por mais ruas quepercorra, não há agora um acaso que me façacruzar contigo.

Por favor, perdoa este tom. Gostaria tantode imaginar o teu regresso. Tenho esperança, masnão tenho imaginação para tanto. É horroroso oquase nada das nossas duas vidas!

Queria falar-te de tanta coisa... Mas –agora reparo! – há uma espécie de ‘censura’ aimpedir-me as palavras que te queria dedicar. Ouentão amo-te demais: um sentimento tão grande eprofundo (e tão ‘acorrentado’ ao longo de tantotempo) não cabe na escrita. Não se conforma coma tua ausência. Tenho de dizer -te: AMO-TE, AMO-TE, AMO-TE... Tenho de dizer-te que não imaginoo futuro longe de ti. Beijo -te as mãos, os olhos, oslábios, beijo-te. Quero-te. E tanto que o próprioquerer (ou desejar) também se enovela emsofrimento.

Um abraço. Mil beijos. Imensa saudade.

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Escolhi entre as cartas que seguem uma seqüênciacronológica. Esta é de 15 de Agosto de 1993:

Domingo, 15 de agosto de 1993.

Minha Querida, meu Amor:

Na última sexta-feira era enorme a minhaangústia. Por isso telefonei. Ontem o teutelefonema, se por um lado me trouxe a tua voz,não pôde dissipar a minha ansiedade. Vivo (?) emsaudade angustiada. E os dias de Julho e Agostoem que me deste a tua presença contraem -seagora numa espécie de momento, um clarãobreve.

Neste estado de espírito, pesa muito, semdúvida, a inquietação resu ltante da tua presentesituação. Mas há outra coisa aflitiva, a um nívelmais egoísta: esta ilha sem ti, é dum imenso tédio.Ontem, sol, Hoje, nuvens. É igual. Os dias,contigo, voam. Sem ti, os dias voltaram a serimensos. Regressei a esta “penitência” de lutar (?)contra o tempo. Lutar?... Não sei o que digo. Sintoo peso do tempo, físico, implacável. O relógio, orelógio... As pedras de Ponta Delgada. A cidadedeserta. O horror destes fins de semana!... Seriatão bom abraçar-te, ou saber pelo menos quepoderias surgir algures, por uns instantes... Nada!Vou deter esta triste prosa. Intervalo... O que estapalavra me lembra! Tenho de parar.

15h30min do mesmo dia.

Almoçar no “Sagres”, naquela mesinha,sem ter à minha frente os teus olhos, os teuslábios, o teu rosto, o teu ser... Quando nos

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reencontrarmos, estarei feito outra vez pele eosso, que a comida não passa na garganta. Ecomeço a reinventar fugas... Por exemplo, tomarLorenin para enganar o tempo até sabe Deusquando. Ou então: marcar passagem para fugir aisto, nem que seja por dois ou três dias. Será quemais alguém nota o pavor desta ilha condenada?Ou sou eu, “doente”, a não poder v iver sem ti?Amo-te tanto, tanto, que me parece nunca teramado outra...

22h do mesmo dia

Meu Amor:

Amo-te duma forma que, infelizmente, sóposso classificar de desesperada. Pensava nãotornar a inscrever no TEMPO expressões tãodesanimadoras, mas o presságio invade -me epode mais que a minha vontade. Vontade?... Emmim, uma contradição: débil, raivosa, mole etensa. Quereria resolver tudo num instante em queas minhas mãos te arrebatassem à distânciageográfica que nos mata e do passado que nossufoca. Peço-te que me ajudes, a esta hora, a lutarcontra o Mal que nos persegue... Amo -te, amo-te,amo-te, amo-te, meu Amor, minha Vida, minhaRessurreição, meu Amor doce com fundo deTÍLIAS e muito MAR... Será que gosto desta sílabade cativeiro?... Quem me dera poder pintar,desenhar, desleixar estes pobres vocábulos...Sofro! Imenso! Nunca imaginei sofrer assim poruma separação! Oxalá isto signifique alguma coisaboa no futuro! Amo-te, quero beijar-te as mãos, ospés, a alma! Quero-te! E não posso continuar...

Mas continuo alguns minutos depois.Lembro-te com tanta intensidade que me faz doer.

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Há neste sentimento qualquer coisa que tenho demoderar. Há um sabor de fim em cada uma dasnossas despedidas. Claro que é um fim. Clarotambém que a esperança não nos traiu. Mas, meuAmor, há sempre tanto tempo, tanta lonjura entrenós! Perdoa! Eu resistirei! Peço -te que resistas.Peço-te por tudo quanto creias que res istas!BEIJO-TE. Amanhã continuo.

Nessa mesma época José Martins Garcia escreveunuma folha A4, comum, branca:

No momento em que sinto que a vida passouSobre mim como onda que não pude beberNo momento em que o excesso abortouNa minha pobre e podre poesia de nada obter.

No momento em que me ferem feitas apenas dorAs estrelas do Sul e uma gaivota saída destespenedosNo momento em que até o Verbo me abandonouPara me deixar nuvens de vertigens várias esegredosDe corpos mal cumpridos no contato do sonho.

MulherTu que foste minha amante e minha mãeE minha filha nos beijos com que te cerqueiTu que vieste sem culpa (que eu te não chamei)E voltaste a ser virgem nos meus braços viajeiros .

MulherEscutaFaz-me chegar ao coração vencidoO perdão que uma só vez na vidaSe concede (quando a alma é grande

Para o conceder)

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Perdoa-me e escuta o sangue tão culpado e vilQue em mim bate por ti

(Por mais ninguém)70.

Difícil é escolher, dentre tantas afirmações econfirmações do depauperamento de JMG, os excertos maissignificativos. A evolução progressiva para um fim próximoevidencia-se. A letra torna-se diferente, as idéiasdesconexas, o esforço da rememoração agiganta -se. E,aqui, a consciência de que também estou che gando ao fim(deste texto), igualmente me angustia. Mas, vamos lá:

Ano de 1994, 8 de julho.Faz hoje precisamente dois anos que, em Lisboa,sozinho, fugindo a não sei quê fantasmas. Faleimuito comigo mesmo, tentando tomar precauçõespara me defender duma grande angústia. Fuifalando comigo mesmo, sempre só, ao longo dodia, ao longo da noite. Creio que regressei no diaseguinte a Ponta Delgada. Parece -me que entãocompreendi que fugir da ilha não me tinha ajudadoa resolver coisa nenhuma. O problema viajavacomigo, a angustia estava por dentro; não haviafuga de mim para nenhum lugar. Desculpa, meuAmor – beijo-te as mãos! – [...] Às vezes, tenho aimpressão, de que o perpassar do tempo é umacoisa descontínua. O passado volta –mentalmente, só isso! – com uma intensidadeangustiante. Saio da angústia como que impelidopor alguma grande força. Recaio depois naangústia, noutra angústia, noutra angústia, com

70 Publicado em 1ª Antologia Poética. Florianópolis, Associação dosCronistas, Poetas e Contistas Catarinenses, 1966: 34, juntamente commais três poemas inéditos em Portugal: “The Legend of Cutty Sark” (O fimsilenciado) – escrito num café de Ponta Delgada; O poeta (diz -se) palpa olado palpável do signo – escrito em Estoril, em 1993 – e um poema semtítulo, escrito nos Mosteiros, Açores, em 1994, cujo primeiro verso é “Era aterra de verde permanente”.

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todos os sintomas da depressão. Uma enormeinércia. Uma vontade de ficar deitado, semprojectos, sem rumo, morto-vivo à espera do fim.Depois, revolto-me, reajo... e assimsucessivamente.

8 de setembro de 1994:Depois da tua voz vem a consciência aguda de

que me faltou o teu ombro, a tua mão, o teu calor,o teu cheiro. Sob o pouco de azul que este dia meoferta, outra ausência se sobrepõe à presenteausência e torno a ligar-te para Lisboa e mando-temúsica pelo telefone... Lembras -te?[...] É igualmente certo que os ‘ últimos’ diassempre os sinto como catástrofe, Junto ao mar, àlagoa, num aeroporto, sob re a berma dumpasseio.

Aeronave. Encontro muito antigo/ Devolvido aminutos de altitude /Inigualável. E o primeiro rito/Comentário carnal e clandestino./ Areias epalmeiras e o teu corpo.Na alcatifa repleta de infinito/ Desejo. Hora aéreano teu rosto. Conta-gotas suspenso. Nosso oardor.Súbito a brecha. Algures o luar/ Reacendia acontagem do interdito/ Tempo nosso. E em lugarda aeronave/ Quatro paredes de nocturno espaço.

[...] Beijo-te mil vezes. Torno a dizer -te que foste omais carinhoso dos seres que conheci na minhavida. Quero beijar-te os olhos. Sinto-me de novotão triste. Apagado, obrigado a circular como umautômato. Gostaria de falar de fé e esperança.Talvez amanhã. Amo-te. Amo-te...

21 de Abril de 1995.

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Meu doce Amor: Apenas um murmúrio desaudade. Recebi a tua carta, abafou -a umanuvem, passei mal dois ou três dias. [...] Alémdisso, que é quase uma doença, vivo (?) tenso,coma sensação de muitas feras de dentes àmostra, todas dispostas circularmente à minhavolta. Meu doce Amor, és tão de céu e mar e sol ebeleza! Precisamente o que não me pode seconsentido. Se te disser que me dilacero, não vaisacreditar, nem sequer aprovar. [...] Não ousoimplorar perdão, Nada faz sentido nas minhaspalavras. Eu estou enredado por algo que nãoconsigo decifrar. E continuaria um lamento commuitos “sês”. Não, não pode ser. Beijo -te as mãos,dou-te a minha alma.

Em 21 de julho de 1995.

[...] Acredites ou não, o facto de hoje se oficializaro novo Reitor causa-me um enorme mal-estar,uma dor. É assim uma espécie de “fim de ciclo”Pergunto-me o que aconteceu, o que fui, o que fiz,o que foi aquela minha vice -reitoria (um ano epoucos meses), as circunstâncias que lhe marcamo fim. [...] Devem existir momentos em que , semrazão nenhuma, uma pessoa sente que está‘embarcando’ numa grande infelicidade.[...] nunca mais escrevi uma obra... Obra?... Nuncamais escrevi um texto que valha a pena. Talvez sesalve algum fragmento. Fragmentos... às ve zestenho a impressão de ser só fragmentos. Umresto. Claro que o meu mundo onírico é defragmentos. Repete-se a tua despedida, é sempreOutubro. O cenário é que varia. As personagenstambém. É angústia, é culpa, é dor.

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Bem mais tarde, em 20 de feve reiro de 1997.

O meu tempo de escrita pessoal está quasereduzido a zero. O que se passa na Univ. dosAçores obriga-me a um desgaste imenso. [...] .Assim, tendo recebido a tua mensagem de AnoNovo (que me confrangeu – o remorso, o pesar, adesventura...) e, ontem, o fax referente ao meuaniversário, respondo, só agora, com gratidãoangustiada, com um afecto indefinível e com aperturbação inerente à mudança de habitação, aque sou obrigado [...] Perdi um ‘tecto’, perdi osmeus livros... Vou sobreviver, tal vez... [...]. E sinto-me cansado, desalentado com a memória aperseguir-me (na vigília e no sono). Não teesqueço; não vejo nenhuma luz que nos envolva.[...] Um beijo. Uma saudade... Um cerco desombra permanente. Rezar?! – Oh Deus! Umbeijo.

Quase dez meses depois, em 27 de novembro de1997:Acabo de receber a tua carta. Um solavanco na

minha (parcial) apatia. Escrevo ‘apatia’, muitosubjectivamente, quando afinal o diagnóstico dapsiquiatra diz ‘depressão reativa’ – do mesmo tipode moléstia de que fui vítima na Guiné Biassaunos meus tempos de militar. Custa crer! Quasetrinta anos depois!... Mas sinto agora uma enormevontade de viver. Contigo. Falas de Fé; euacrescento ESPERANÇA. Às vezes, julgo que osmeus últimos anos foram pass ados em pavorosoabsurdo, um desgaste estúpido, um sonho mau.[...] Cumpri as determinações médicasescrupulosamente. Sinto-me mais forte, masincapaz de escrever ficção. (Tinha entre mãos doiscapítulos de um romance, que têm de aguardar...)Fui aconselhado a escrever, mesmo que tudo me

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desagradasse depois. Assim fiz: rabiscos semimportância. Mas – imagina! Há dois ou três diasplaneei uma crônica humorística. Escrevi umapágina apenas, meditei no que faltava (umas seisou sete páginas) e senti -me muito cansado. Aindanão![...] Sabes que, ao imaginar a normalização daminha vida, me parece renascer?... Aulas de novo(antes isso que a inércia psíquica), livros, tu... Serápossível, meu Deus?Quero-te junto a mim. Quero tornar a olhar,contigo, junto de mim, os ‘nossos’ lugares, o‘nosso’ mundo. Quero que me olhes e sorrias semressentimentos... Não será exigir de mais?[...]Desculpa a minha letra. Deves achar diferenças.Resultado dos medicamentos? Resultado daprofunda emoção que a tua carta me trouxe?Cansaço ainda?...Peço-te que creias no meu amor. Com infinitasaudade e um milhão de beijos, o teu [e assina].

Numa outra carta, assinada em Outubro de 1988,JMG escreve um trecho a caneta com tinta azul, outro alápis e, novamente a caneta:

Aceita, por favor, esta desorganização do que nãoposso exprimir correctamente. [...] (que horror, oque se passa aqui, neste 10 de outubro de 1998! Ahumidade é tanta que as mãos sujam o papel e aesferográfica não quer deslizar. Dizem quecaminhamos para o FIM EM ESTUFA... Gostariade ver-te antes do FIM...). Gostaria de restituir-te aimagem de há dez anos (vou tentar usar umlápis): a imagem da menina de caracóis louros [...]em Ponta Delgada. Sempre disse que não gostavadesse penteado. Inconscien temente andei amentir-te. É dessa imagem que guardo, sem o tersabido, uma SAUDADE, saudade, saudade,Saudade, que me leva a não saber mais nada depalavras [fim do parágrafo com traços que

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parecem ter sido grafados com a mão a cairpesadamente sobre o papel].

Num trecho mais adiante: “SEMPRE QUE MAISPRÓXIMO ME SENTIA DE TI, TU PARTIAS... E SABES –agora, deves saber! – COMO É A DOR DA SOLIDÃO?Convive-se, dorme-se... por solidão, não é? É um deserto,sem ser bem deserto, esse horror chama do solidão!”. Econclui, páginas adiante: “Santo Deus! Há muito anos quenão escrevia (sem obrigação ‘académica’) tantas páginas ...assim... assim. Mas desabituei -me. No fundo, já não seiquem ÉS. Seria melhor pensar se QUEM SOU ainda fazsentido”.

Na última página da mesma carta, refere -se a umtelefonema recebido seis meses antes: “Que horror detelefonema, de madrugada, eu em Lisboa . E que vontade denão CRER em mais nada! Quase uma vontade deautodestruição! E foi o que fiz! E foi o que viria a ser o m eucaminho de amargura! Tanta Amargura, tanta!” E termina:“Agora não posso escrever mais. Há uma revolta contra nãosei quê, contra mim certamente. Fiz da vida uma coisa semconteúdo, sem sentido, sem perdão... Alguém me escutará?[...] Queria exprimir tanta ternura, esperar por perdão;sentir... O quê? Que não estamos mortos? Que vais pensarDISTO? Não penses Mal!”.

No final da carta um X, marcado com linhas trêmulas,como se realmente ali alguém que não o poeta -professordevesse assinar. Quem? O homem? O amante? O poeta-fingidor? Não, não tenho resposta.

E na data referida ao telefonema “maldito”(30/10/1996), em outro envelope para a mesma destinatária,duas páginas em papel-cartão amarelo, com timbre do HotelDom Carlos, de Lisboa. Uma página:

Todo o vivido é irreversível. E mais intensamenteirreversível quando mitificado. Tu és um serrecortado naquele tempo, que abrange vários

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tempos e lugares. Tu sabes a diferença quemarcou os teus dois regressos. A ternura e agratidão são indestrutíveis em mim. A vidaproblematiza o prolongamento. Que destino? Rezosempre, cada vem com menor convicção. Umabraço. Um beijo.

Na outra página, depois da invocação, um poema:

Nem o mínimo deus a menor gota De bálsamo ou da fórmula sancionada Legitimam o espanto da memória Acordada em acorde repentino A meio da noite onde.

A lisura dum lago determina Um círculo de mar que falsamente Quebra nas cristas de invernia Remetidas ao bojo de outro tempo A nódoa viva da espera.

Que era de lodaçal impresso numa a restaBico de garça ou nome passageiroProa matriculada no sargaçoFarol exausto sem sol que mesmo assimNublado indicativo prometia .

Talvez carta mais tarde talvez núpciaEntre um olhar insaciado e créduloE o sonho de água LímpidaIdo e retornado dedosModulando na ausência todos os possíveis .

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Talvez tenha sido esse o último poema do grandeescritor açoriano.

Pelo que sei dessa história, o escritor e a destinatáriase reencontraram em Lisboa, alguns anos depois. JMGdisse que ainda a amava e que não passou dia desde aúltima despedida em que não houvesse pensado nela.Abraçaram-se. Ele chorou. Ela também. Ambos seguiram oseu destino.

Encontrei-me, pela última vez com o Prof. DoutorJosé Martins Garcia, em Ponta Delgada, em março de 2002.Surpreso, ele me disse, com os olhos marejados delágrimas, quase fechados, dando a impressão de que assimme via melhor, e em tom de queixa: “não consigo maisescrever. Não escrevo mais”. Indagou por que vinha eu falarde paz num tempo de guerra. Deixou que eu percebe sseuma aliança no seu anular esquerdo 71. Últimas palavras quedele ouvi: “Escreve-me!”

Não escrevi. Oito meses mais tarde, exatamentesete dias antes do meu retorno aos Açores, falecia o grandepoeta e escritor açoriano, meu grande Mestre e Amigo. Dele,a luz da escrita permanece, fazendo da Literatura Açorianaum marco da universalidade embebida nos traços daaçorianidade atlântica.

Aqui ainda permanecem “hortênsias no colo dasilhas” a simbolizarem os seus poetas e a gente dos Açores.Pudesse eu, dizer a JMG, o que já disse Armando CortesRodrigues, numa última homenagem prestada à (Ode à)Solidão:

“Homem! Sacode o pó do teu caminho Serena a dor que tens nos olhos teus, E humilde e confiante e pobrezinho,Regressa à Solidão, regressa a Deus. 72

71 Realmente havia casado meses antes com a Sra. Carmem.72 Canção da Vida Vivida (1991).

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Com certeza, JMG voltou. Está em Deus. Assimespero.

Referências Bibliográficas

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ARQUIPÉLAGO (2001/04). Línguas e Literaturas. Vol. XVII.Revista da Universidade dos Açores.

DORES, Victor Rui (1987). “ Contos Infernais ou aefabulação do poder”. In Signo. Jornal de Letras e Artes, 16,4.

DUARTE, Noélia (2001/04). “David Mourão-Ferreira e JoséMartins Garcia: o ‘ofício de escreviver”. In Arquipélago.Línguas e Literaturas . Vol. XVII. Revista da Universidadedos Açores, 109-131.

MOURÃO-FERREIRA, David (1978) . Cartas de Amor deFernando Pessoa. Lisboa: Ática.

Pequeno Roteiro da História da Literatura Portuguesa(1984). Lisboa: Instituto Português do Livro.

PIRES, A. Machado (2001/04) . “José Martins Garcia umintelectual em estado puro”. In Arquipélago. Línguas eLiteraturas. Vol. XVII. Revista da Universidade dos Açores:171-177.

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Fotos e imagens: Anamaria Brandão (excerto de carta) Vilca (Fernanda Pereira, Setúbal) JMG: autor desconhecido

ZELKA DE CASTRO SEPETIBA

Filha de José Pereira de Castro e Maria das Neves Moreira deCastro. Nasceu no Rio de Janeiro, em 21 de janeiro de 1943.

Curso Primário: "Escola Primária D. Ida Schmidt” em Lages,1951-1954.

Curso Secundário: Científico no Colégio Diocesano de Lages,1959-1961. Em 1963 prestou ve stibular para Letras na PontifíciaUniversidade Católica do Rio de Janeiro, Faculdade Santa Úrsula. Cursouo 1° e 2° anos na Faculdade Santa Úrsula, tendo cursado o 3° e 4° anosna Universidade Federal de Santa Catarina. Concluiu o Curso em10/12/1967.

Curso Superior: Licenciatura Plena em Letras; Português –Inglês – Literaturas Brasileira e Portuguesa; Inglês – Literaturas Inglesa eAmericana. – Mestre em Lingüística Aplicada pela Universidade Federalde Santa Catarina, 1982 -1985. – Tese: "Uma Introdução à AnáliseSemiótica – Prática", 1985.

Professora Concursada no Instituto Estadual de Educação, 1969(onde lecionou Português e Inglês). – Professora Titular da Faculdade deEducação pela Universidade do Estado de Santa Catarina, 1975 -1995,lecionando Língua Portuguesa, Literaturas Brasileira, Portuguesa,Catarinense, Português Instrumental, nos Cursos de Pedagogia,Biblioteconomia, História e Geografia. – No Curso de Educação Artísticada Universidade do Estado de Santa Catarina, lecionou LínguaPortuguesa, Fundamentos de Expressão Humana e Comunicação –FECH, 1978-1984. – Professora de Língua Portuguesa na Academia dePolícia Militar, no Curso de Formação de Oficiais – 1º CFO, 1987-1992,convênio com a Universidade do Estado de Santa Catarina. – Professorade Teoria e Prática de Redação no Curso de Formação de Oficiais daPolícia Militar – 2° ano, convênio com a Universidade do Estado de SantaCatarina. – Participou de diversas Bancas para Seleção de Professoresna Universidade do Estado de Santa Catarina – Faculdade de Educação .

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– Participou da Elaboração de Provas do Vestibular da AssociaçãoCatarinense das Fundações Educacionais, 1978 -1984, e da Universidadedo Estado de Santa Catarina, 1992 -1995. – Como Jurada participou deConcursos Estaduais para escolh a de melhor Conto e melhor Crônica.

Acadêmica: Zelka de Castro SepetibaNascimento: 21-01-1943Cadeira nº: 06Posse: 18-12-1996Título: Não informadoEndereço: Rua Anita Garibaldi, 149, Apto. 801, Florianópolis -SCCEP: 88010-500Fone: (48) 3222-2740E-mail/Site: Não informadoPatronesse: Antonieta de BarrosTítulo: Educadora / Política

CLARA E O CIRCO

Numa pequena cidade vivia a menina Clara. Elaera esperta, bonita e muito alegre. Vivia com seus tiose primos, pois os pais a abandonaram após seunascimento, indo morar em local desconhecido.

Clara fazia o serviço de casa pela manhã e àtarde ia à escola. Era uma criança realmente feliz e atodos alegrava.

Às vezes, ela punha-se a pensar sobre seuspais: Como seriam? Onde viveriam? E uma tristez aprofunda a dominava.

Os tios José e Anita a criavam como filha e tudofaziam para que fosse feliz. Eles só tinham filhoshomens – três garotos – e Clara era a filha que sempredesejaram. Nada faltava à garota: tinha casa, comida,

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boa escola e o carinho dos familiares que a adoravam.Ela tinha vários amigos na cidade, era estimada portodos.

Certo dia, chegou à cidade um circo muitofamoso, com várias atrações. Todos se alegraram comsua chegada e pretendiam ir assistir as apresentaçõesno final de semana.

Curiosos, os alunos saíam da escola e iam olharos animais do circo, ver os artistas e os palhaços.

As crianças estavam encantadas, maravilhadascom o novo mundo que se descortinava, tudo era lindo,fantástico, enigmático. Como estavam felizes com avinda do circo! Toda a cidade só falava no circo eaguardavam ansiosos para assistir aos shows.

Os tios de Clara prometeram levá -la, juntamentecom os filhos, para assistir o espetáculo de sábado àtarde.

O sábado foi ansiosamente esperado por todasas crianças. Não se falava em outra coisa, aexpectativa era enorme.

Naqueles dias, Clara trabalhou e estudou commais satisfação, ajudou sua tia Anita nas tarefasdomésticas com mais alegria.

Finalmente, chegou o dia tão esperado! Osábado. Clara e seus primos tomar am o café damanhã, fizeram suas tarefas, tomaram banho,almoçaram e esperavam a hora de usar suas roupasnovas para irem ao show circense. A alegria e ocontentamento eram tanto que eles riam à toa.

Há muitos anos não aparecia um circo nacidade.

O show foi todo muito bonito, com atrações

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maravilhosas. Trapezistas, bailarinos, domadores,palhaços – enfim, um festival de atraçõesinesquecíveis.

O que mais chamou a atenção de Clara foi umnúmero em que o palhaço Totó apresentou -se comuma garota e três cachorrinhos. Foi uma atração muitobem feita, porém a garota parecia triste e aquiloimpressionou Clara. Na saída, ela falou com a meninado circo – Alice – e combinou de passar ali outro diapara conversarem.

Na semana seguinte, após a escola, Clara foi atéo circo e falou com Alice. Perguntou de sua vida nocirco, se ela estudava, e falou de sua família.

Alice disse-lhe que era feliz no circo. Ali era asua casa e o Totó a criara desde pequena. Ela nãoconhecia os pais, nem sabia se tinha irmãos. Totófalou-lhe que a encontrou numa cestinha de vime, pertodo circo onde ela foi deixada, e isto, às vezes, aentristecia. Gostaria de conhecer sua verdadeirafamília.

Clara contou-lhe que fora abandonada pelospais na casa de seus tios, e que chorou muito quandosoube da historia, mas hoje, agradece aos tios e primoscom quem vive e é feliz.

– Alice, seja uma pessoa alegre e feliz, pois vocêtem quem cuide de você. Eu quero ser sua amiga,iremos nos corresponder. Não fique triste, a vida é boae lembre-se: “Quem tem um amigo tem tudo!”

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ZENILDA NUNES LINS

Natural de Florianópolis, professora universitária aposentada,escreveu a história de três entidades ligadas à educação: Faculdade deEducação Projeto e Realidade, 1988 – 2ª edição, 1999; ACP Sucesso eConsolidação, 1995 – 2ª edição, 2002; FUCAPRO História e DimensãoSocial, 1996. Publicou Rosas e Violetas – contos – 1998; OndasRendilhadas – poemas – 1997; Contos de Outono, 2004; Horizonte deMontanhas, 2007.

Tem participado em diversas antologias e pertence à Academiade Letras de Biguaçu.

Acadêmica: Zenilda Nunes LinsNascimento: 09-04-1933Cadeira nº: 05Posse: 18-12-1996Título: Não informadoEndereço: Rua Dom Joaquim, 680, Centro, Florianópolis -SCCEP: 88015-310Fone: (48) 3222-1758E-mail/Site:Patrono: Aníbal Nunes PiresTítulo: Educador / Escritor

JANELA PARA O SOL

Levantei-me, hoje, muito feliz. Depois deangustiosas semanas, posso olhar da janela do meuquarto, o céu se tingindo com os tons anunciadores doamanhecer, a neblina esvaindo -se ao calor dosprimeiros raios solares, a dança das palmeiras nacolina, ao longe, limitando o horizonte.

Consegui, finalmente, um agradável lugar para

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morar. Nem sufocado pelo barulhento centro urbano,nem isolado, distante dos serviços básicos, tãonecessários à minha atual condição de vida. E maisimportante: compatível com os meus modestosproventos de aposentada.

Sou do tempo em que, para ser professoraprimária, bastava ter-se o diploma de normalista. Essatitulação era suficiente para lecionar nos gr uposescolares da rede pública de ensino. Hoje, a exigênciaaumentou, requerendo curso universitário. Naquelaépoca, o Normal era um bom curso, até porque, emalguns estados, as faculdades eram raras ouinexistentes. Muitas autoridades e doutores de hojeaprenderam a ler e escrever com os professoresnormalistas, tão desvalorizados atualmente. Eu mesmavi alunos meus chegarem a altos postos daadministração pública.

Entretanto, apesar de haver lecionado por mais detrinta anos, meus proventos não ultrapassa m doissalários mínimos. Como não casei, não recebo pensãode marido, nem auxílio de filhos, pois também não ostenho. Mantive-me sempre sozinha e independente.Desenvolvi um bom senso de economia, não gastodinheiro com o supérfluo.

Mas a velhice está chegando, devagarinho, masestá. E como não se pode deter a ampulheta do tempo,o melhor a fazer é assumir uma atitude otimista e nãodesperdiçar o precioso dom da vida.

Residi, por quase doze anos, numa discretapensão pertencente à Dona Marta. Ela alugara, háanos, um antigo casarão no centro da cidade, e neleinstalara o pensionato. Aceitou alguns hóspedes,

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quatro, que garantiam o aluguel e lhe proporcionavampequeno lucro. Eu era uma das suas hóspedes. Atuavacomo uma espécie de assessora: ajudava nascompras, na manutenção da casa e distraia as outrasresidentes, quando os frios e nevoentos dias de invernoretinham todas em casa.

Dávamo-nos muito bem. Até que o senhoriodecidiu vender a casa, um prédio decrépito, masvistoso, as platibandas ornamentadas co m bonitosarabescos, as janelas guarnecidas com vidros jateadose uma espaçosa varanda lateral.

Dona Marta tomou conhecimento da proposta porum corretor e, não podendo comprar o imóvel, foiintimada a sair, desativando a pensão. Por insistêncianossa, tentou encontrar outra casa nas imediações,mas o preço proibitivo dos aluguéis fê -la desistir.Avisou-nos da decisão.

Duas das pensionistas tinham filhos e, emboranão desejassem residir com eles, tiveram que o fazer.A terceira, viúva abonada, encontrou fác il um pequenoapartamento localizado num condomínio residencial,classe média.

Dona Marta recebeu uma razoável indenizaçãopor deixar o imóvel antes do término contratual emudou-se para Curitiba, onde residia seu irmão maisvelho, negociante lá instalado.

Só eu continuava sem destino.Choramos, todas, no dia da partida. Fizemos uma

festinha – não sei se cabia uma festa –, mas fizemos.Festa com bolo, risos, choros e adeuses. Fiqueisozinha no casarão que me pareceu enorme.

Pedi ao novo proprietário alguns dias. Seu projeto

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era demolir a casa, cedendo espaço para um modernoedifício. Uma pena, o casarão, imponente a despeito dasua decrepitude, situado na esquina de duas ruascentrais, merecia ser restaurado, não demolido.

Ele concordou com a pretensão, ao s aber que oprédio estava tombado pelo serviço de patrimôniomunicipal. Minha permanência seria útil por afastarpossíveis intrusos. Alegrei -me com a perspectiva de alificar ainda algum tempo, acrescida da vantagem extrade ser dispensada do aluguel.

A alegria, porém, durou pouco. Um mês depois,chegou o engenheiro responsável pelas obras e meinformou do destombamento. A demolição estavaliberada.

Na minha alegria, havia esquecido que nestacidade, como em outras, a observância de certas leisdepende do prestígio e poder dos interessados.

Não consegui esconder a tristeza ante aexpectativa frustrada da permanência. O engenheiro,penalizado com a aflição expressa no meu semblante,indicou-me um residencial para idosos, situado numlugarejo afastado da cidad e. Prontificou-se até a levar-me lá, se eu quisesse. Combinamos ir no sábado.Saímos cedo, aproveitando a quietude da manhã. Umahora de percurso e trânsito livre, chegamos aoResidencial, encoberto por espessa vegetação.Acionada a sineta, o alto portão s e abriu. O engenheirodespediu-se, recomendando-me que voltasse deônibus ou lá pernoitasse.

Uma senhora, mais gorda que magra, idadeindefinida, recebeu-me com polidez. Conduziu -me poruma alameda ladeada de altos ciprestes. Àquela hora

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matinal, o arvoredo circundante sombreava todo ocaminho, provocando uma sensação de friagem. Aparte frontal da construção, longa e sólida, apresentavapoucas aberturas. Entramos numa sala, maisparecendo um escritório, mobiliada com uma estantecom portas de vidro, deixan do ver as prateleiras cheiasde pastas, uma mesa de madeira escura e poucascadeiras.

Disse-lhe que procurava um lugar pare residir.Perguntou-me se tinha parentes. Respondinegativamente, pois primos distantes não sãoreconhecidos como parentes.

– Venha, vou lhe mostrar alguns quartos.Caminhei ao seu lado, observando atentamente

os cômodos. Atravessamos um amplo salão.Certamente o refeitório, parecendo também uma salade recreação. Chamou-me a atenção o silêncio. Não seouviam vozes.

– A casa está vazia?– Não, neste horário todos ficam no pátio externo.

É mais saudável permanecerem ao ar livre. Às onze etrinta retornam para o almoço. Depois vem a sesta.Fazemos um lanche no meio da tarde e às dezenovehoras servimos a última refeição, em geral uma sopaseguida de um chá.

Parecia interessante. Manifestei a vontade deconversar com algum residente.

– Veja primeiro o seu quarto, disse, destravandouma porta. – Este lhe agrada?

Olhei o cômodo, aparentava ser bom. Acomodariabem os meus pertences: uma confort ável cadeira debalanço, herdada de minha mãe, a velha, mas eficiente

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máquina de costura, alguns livros e pouca coisa mais.Aprendi a não acumular quinquilharias.

– Então, indagou a mulher, com voz grave.– Gostei, mas quero saber o preço. Meus

proventos são reduzidos.– Não se preocupe. Vamos ao escritório e lhe

mostrarei o contrato.Apresentou-me um documento e pediu que eu

lesse e assinasse no lugar indicado.Ao notar que eu estava lendo mesmo, apressou -

se em apontar o espaço da assinatura.– É aqui, com sua identidade e CPF. Pode

terminar de ler depois.– Prefiro ler agora, respondi. Ainda não sei quanto

vou pagar.Notei que o documento não era um contrato de

locação ou similar. Era uma procuração permitindo quea Direção do estabelecimento recebesse os meusproventos mensais.

Ao pedir esclarecimento, a mulher informou, quedada a falta de agência bancária na localidade, sermais fácil o tesoureiro da casa receber e descontar ovalor da hospedagem, entregando o restante aoresidente.

Não gostei. Percebi que iria ficar dependentedeles. Afinal, eu podia andar, enxergava bem, estavalúcida. Era idosa, sim, mas a idade não é um fatorlimitativo dos nossos direitos de cidadãos.

Disse que precisava pensar. A mulher procurouargumentar salientando vantagens que, a meu ver,pareciam, exatamente, o contrário. Despedi -me e saisem falar com mais ninguém.

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Caminhei rápido para a rua em direção ao pontode ônibus. No trajeto, analisei a situação: grandedistância do centro, silêncio demais, cedência dosmeus direitos.

Não, eu teria que encontrar outra solução. Eencontrei. Ela estava à minha espera.

Sentada na varanda do casarão fechado, DonaMarta me aguardava.

– Finalmente, você chegou, disse – abraçando-meefusivamente. Voltei de Curitiba. Não me acostumei aoclima. Senti falta do mar, das ondas, das gaivotas. Edas minhas amigas, também. Consegui, por influênciade um velho conhecido de meu irmão, uma casaagradável no bairro Bosque Verde, próximo ao CampusUniversitário. O lugar é tranqüilo, tem árvores,pássaros, como você gosta. Vim convidá -la para morarcomigo. Dividiremos as despesas e aproveitaremos odinheirinho restante para viajar. Há várias opções deviagens curtas para orçamentos modestos como onosso. Aceita?

Minha resposta foi um longo e agradecido abraço .Ajudou-me a empacotar minhas coisas, aluguei umacaminhonete e, ao findar o dia, chegamos, cansadasmas felizes, ao novo endereço. Uma be néfica noite desono afastou a angustiante incerteza da véspera.

Este é o meu primeiro despertar aqui. Vejo dajanela, voltada para o norte, os raios luminosos do sol,a luz e o calor invadindo o cômodo, iluminando eaquecendo a chegada dos meus oitenta anos.

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WILLIAM WOLLINGER BRENUVIDA

William Wollinger Brenuvida , paulista de São Bernardo do Campo(17/06/1979). Filho de Adilson Domingos Brenuvida e Elizabeth WollingerBrenuvida. Irmão de Wellington e Caroline. Escritor e poeta radicado emSanta Catarina desde 1998. Graduado em Direito e Especialista emProcesso Penal pela Universidade do Vale do Itajaí.

Escreveu os trabalhos: “O Menino e as estrelas” (poesia/2003);“Trabalho Penal: fator de auto -estima, valorização e inclusão social docondenado” (monografia/2005); “Luz Lembrada – Jyoti” (poesia/2007);“Tortura como meio de prova: aspectos da lei 9.455/97 (lei da tortura)”(monografia/2008). Em andamento coletânea poética: “No cair das folhas” .Contribui com jornais da grande Florianópolis. É colunista do Jornal “ORebate”, de Macaé-RJ.

Ativista sócio-ambiental nas seguintes entidades: Academia deLetras de Governador Celso Ramos (cadeira n. 06) – patrono FranciscoWollinger; Academia de Letras de Biguaçu (cadeira n. 11) – patronoJuvêncio Araújo Figueiredo; APAE – Associação de Pais e Amigos dosExcepcionais; APREMAG – Associação de Preservação do MeioAmbiente de Governador Celso Ramos; CBHRT – Comitê da BaciaHidrográfica do Rio Tijucas; Conselho da APA do Anhatomirim; Conselhode Assistência Social de Governador Celso Ramos. Delegado Territorialpela comunidade de Canto dos Ganchos, para revisão e aprimoramentodo Plano Diretor. Suplente de vereador (2004). Exerceu as funções deCoordenador do Meio Ambiente (2005) e Diretor de Saneamento Básico(2005-2007) na administração municipal de Governador Celso Ramos.

Acadêmico: William Wollinger BrenuvidaNascimento: 17-06-1979Cadeira nº: 11Posse: 14-05-2008Título: PoetaEndereço: Rua Hipólito de Azevedo, 131, Canto dos Ganchos,Governador Celso Ramos-SCFone: (48) 3262-0157E-mail/Site: [email protected] / [email protected]: Juvêncio Araújo FigueredoTítulo: Poeta

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LUZ LEMBRADA II

E luz lembrada…Tem o galope de um cavalo ,e a singeleza de uma flor .É um descanso na loucura…Não é verbo. É amor.

Luz lembrada…É alma que caminha,sem temor.É a face de deus-energia,e a paz interior.

Luz lembrada…É a imagem refletida,Resquício-caminho-incompleto.Sobressalto e lembrança já vivida ,é o universo em expansão incontido .

Luz lembrada…É medida imensurável .A face antiga renovada,e sempre conhecida.Sonho que não termina .

Luz lembrada…É Jyoti, um sânscrito, língua antiga .

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Um caminho em verso, pra alma.Um céu de estrelas sem pranto,É luz que reflete na retina.

RETORNOU MEU SORRISO 73

Demorou, mais recobrei o sorriso .Foi uma nuvenzinha aí que passou.Sem avisar ou dar sinal.Vento sul eu acho… Ah! Maroto.Se eu pego um cavalo vou voando ,espalhar o riso pra todo canto .

Voltaram as piadinhas sem sal, devo lembrar.E o humor de fundo de quintal.Do traço presente a eternizar.

Puta reza braba essa que fizeram, resta avisar .A próxima macumba pra cima, eu vou revidar !E se vier correndo eu daqui grito,Ou mando pelo correio sem aviso.

O jeito de encantar sem dizer,de falar pelos cotovelos tá no rosto,Pra quem me quer em osso, deixoa benção do torto!

73 “Retornou meu sorriso”, “Movimento”, “Luz lembrada II”, “O jardim dasborboletas”, “A borboleta” serão publicados na coletânea “No cair dasfolhas”.

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O MOVIMENTO

O movimento manso e suave da ruamantém a mente nua e desavisada.Veículos, demônios, um gigante puma.Os vejo em toda parte. Dão risadas.

O sol se esconde, acho que é o fim de tarde.A tristeza vai… prolongam gargalhadas.Os barcos se recolhem na margem.O cais se estreita… soldados apanham armas.

Minha pequena vila expandiu horizontes,Minha porciúncula cansou a cidade.O sertão em mim cortou os montes,quando lembrou o mar sentiu saudade.

O sorriso-menino desatinou frases,a bela juntou todas elas, e fez oração.E assim trancou o sorriso a sete chaves,pra que um dia lembrasse em seu coração.

O movimento das marés em vai e vem constante.Tabulas rasas, esparsas, sentinelas e casas acesas.Vento predominante é o sul a soprar errante…Pede aos bateis, em seu balé, que não icem as velas.

Um universo inteiro em folhas se esvaindo,em leis, átomos, procelas, serestas, tempos idos .Batalhas e horizontes, novamente, se erigindo …Um calabouço, a parte, se abrin do no abismo.

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O JARDIM DAS BORBOLETAS 74

Vi num sonho! Acreditem, vocês todos, eu vi num sonho…Uma menina que andava entre caminhos e jardins abertosDe belas flores multicores em contraste ao enfadonho,O bater de asas da borboleta inspirando sorriso -universo.

Não tinha pressa. Apreciava cada paisagem e cenário.Recriava, seus olhos, um estágio de liberdade infinita.Na limitava, a menina, ela voava junto aos canários.Ressurgia, quando queria, sem definir ponto de partida.

No semblante um sorriso. Na lembrança lugares invejáveis.No coração um estandarte. Na imaginação muitas artes.Na perseverança uma hoste de soldados incontáveis.

E o sonho? Lugares que se misturam, pedem passagem.O jardim estaria pronto como fora idealizado?É bem provável que s im, a espera das borboletas.

74 A poesia fiz pra Carissa. Surgiu de uma conversa nossa há tempos…também da melodia e harmonia da música “Madame Butterf ly”, de Puccini[Coro final de la parte 1ª del acto 2º – segundo o maestro Valdo de LosRios].

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RERITYBA75

Essa diminuta parte do meu coração bate.Percorre suas ruas,nossa gente e seus falares,as paisagens e o destino.

É um recanto,canto dos pássaros,verde das colinas e das árvores,colorido dos vestidos e sorrisos , das moças.Flores que nascem delicadas em algumas moradas.

Essa diminuta parte do meu ser sente.Viaja nas lembranças…Adentra as matas, rios e cachoeiras.Rememora encontros e transpassa a terceira marg em.Vê sorrisos e estrelas,na face e no jeito de gente tão simples e festiva.

A passagem dos Jês,A Rerytiba dos Guarani,e todos seus extintos sambaquis.O cantar das francas nos meses de inverno,e o balé dos golfinhos num encanto,espaço aberto quase infinito.

Relembra essa diminuta parte do meu ser,das migrações e apresamentos,

75 Rerityba ou Reritiba, nome de uma das aldeias Guarani no atualmunicípio de Governador Celso Ramos até 1538. Em tupiguarani –ostreira, lugar de muitas ostras. Os Guarani que aqui viveram foramescravizados, mortos, ou migraram. A história de Ganchos não podeesquecer de seus primeiros habitantes. Agradeço o conhecimento obtidojunto a minha amiga, jornalista e historiadora, Rosana Bond autora de “OCaminho de Peabiru”.

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da mortandade de nossos nativos,cativos fadados ao esquecimento.

Relembra essa diminuta parte do meu ser,o (re)surgimento dos nossos vilarejos,na ocupação dos vicentistas , negros, alemães e açoritas.braços cansados e fé cativa,que deram vida aos engenhos de Ganchos, Palmas, Piedadee outros recantos…

Essa diminuta parte do meu ser compreende…Os erros do passado e exalta a perseverança,aceita as etnias do hoje, esperança e ponto de partida,para um eterno retorno.

Essa diminuta parte do meu ser enxerga,essa cidade esquecida e sofrida em suas mazelas.Querida, por sua resistência ao progresso.Em seu levante, em seu protesto quer ser ouvida,emergida em nossos sonhos e pensamentos,lembrada e transmitida.

É essa diminuta parte da bela e Santa Catarina:Ameríndia e européia,que transborda em mim,grita em minhas veias,pede que eu atenda ao chamado,e siga adiante.

E Ganchos,É um barco a vela no oceano.Redes lançadas e o calor do espírito humano.É um restinho de vento sul que sopra cantando,Falando baixinho em quase silêncio.

É luz que lembra, fascina, voa e desconcerta,que preenche a alma e nos eleva.Essa diminuta parte de todos nós, gancheiros ,Está viva e pulsando dentro de nós.

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GANCHOS: NEM SEMPRE O SILÊNCIO FOI RESPOSTA

O livro “Brasil: nunca mais”, de D. Paulo EvaristoArns, cita: “A imagem do brasileiro, conformado,acomodado, submisso, que sempre se procurouvender, não corresponde ao registro da his tória”. Arepressão a artistas, idealistas, trabalhadores, eminorias foi cruel, mas vozes sempre denunciaram aviolência do Estado, do capitalismo mercantil, industriale neoliberal. O fascismo arraigado nos governosmunicipais age com truculência. A barb árie enrustidanos déspotas de gabinete usa o povo de escudo emdefesa de erros fúteis, e as propagandas dedesenvolvimento escondem ranços de corrupção eviolência. Numa perspectiva local o município deGovernador Celso Ramos sofreu revezes.

A primeira greve de Ganchos ocorreu naArmação da Piedade em 30 de julho de 1784.Pescadores descontentes com as condições detrabalho e agressões se rebelaram sob a liderança doarpoador João Pereira Ruivo. Brancos e negros lutaramjuntos contra o exército e o capital mercantil. Massacre:mortes e prisões. Ruivo levado ao Rio de Janeiro foicondenado e torturado. Para que não houvesserebeliões o governo a época passou a retirar dasfamílias membros para lutar no sul. O comércio decrianças feito por ingleses aqui era omitido pelas

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autoridades. “Não macular a imagem do Brasil frente aomercado internacional” – era o lema!

Em 1905 paralisação no Porto de Ganchos.Resistência dos pescadores ao “dízimo do pescado” ,que o Distrito de Armação e Ganchos pagava aoMunicípio de Biguaçu. O movimento grevista foiduramente repreendido. Desta vez não se usou apenasda força, mas a penhora dos bens dos pescadores.Muitos faliram. Nos anos 1960 o deputado catarinensePaulo Stuart Wright organizou os pescadoresartesanais e as colônias de pescadores. Anos depois aditadura militar prendeu ilegalmente, torturou e oassassinou. O corpo nunca foi encontrado.

Em 1963 emancipação de Biguaçu. Não sedeixou, porém, de ser um bairro afastado. A ditaduramilitar piorou a economia de Ganchos. Os recursosdestinados aos artesanais foram para armadoresdestruindo a pesca artesanal. Política patrocinada pelogoverno de Celso Ramos. Nos anos 70 o agricultorPedro Wollinger e outros trabalhadores fundam oSindicato dos Trabalhadores Rurais de Gov. Cel soRamos. O movimento sindical o lança candidato avereador pelo MDB sob pressão da ARENA. Asmanobras governistas e oligárquicas, porém, semprefizeram da terra um cativeiro. O sindicato pereceu.

Lassale dizia: “o povo é forte, masdesorganizado”. Freire na “pedagogia do oprimido”salientava o aprender com os próprios erros. Mas,continua-se observando em cada brasileiro o coronelda república velha: “autoritário e racista” . Essacondição se transfere aos governantes .

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Em 1984/86 invasão da tropa de choque da políciamilitar tentou sufocar a brincadeira do boi – é o começoda especulação imobiliária em Gov. Celso Ramos. Aviolência do Estado fez com que a população reagissedistorcendo a evolução da cultura. Nos 1990 e iníciodos 2000 houve diversas manifes tações contra ascaras tarifas de ônibus, e as condições de bem -estardos transportes. Em 2008 quem ousa discutir o planodiretor “participativo” e buscar alternativas para Gov.Celso Ramos é rotulado “descontente”, “reacionário”,“anti-desenvolvimentista” , para não citar palavrões,ameaças, e perda de espaço. O gancheiro, mistura demuitos povos desde tempos imemoriais, corre o riscode ficar sem terra, mar, e identidade.

Perguntaram sobre o futuro… Disse em linhascéleres:

Não haverá militares. A Demo cracia será omodelo: com justiça, igualdade e liberdade. Haveráchance de propor idéia que não oprima e divida.Teremos áreas verdes, cidades mais bem planejadas,sem tirar a graça. Tecnologias limpas e pessoassaudáveis, mas ainda pessoas! Gente risonha eeducada, nas ruas e praças. Não precisaremos dapressa. Evoluiremos a outro estágio. Eterno -retorno aoque somos!

William Wollinger Brenuvida, Acangatu…

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ANHATOMIRIM

O sol queima o rosto,como a chuva seca a alma.Por companheira a lembrança,a solidão, a dor da despedida,e a visão restrita de uma ilha,perdida na imensidão do atlântico sul.

É uma masmorra medieval,moça ainda no tempo de sua existência.Nas paredes espessas daquela prisão,redigidas foram algumas preces,repetidas aos mesmos santos,em memória e no olhar vazio.

De súbito é uma torrente de ar,que atrofia e faz o prisioneiro emudecer.E é a paciência que comprime o tempo,e não compreende sua resistência.Ele quer voar, sair pelos poros dos muros,através dos canhões, risos e baioneta s.

As grades da prisão,atravessam os olhos do prisioneiro,junto ao bramido do vento,que ao entrar sereno, pelos gradis,recordam tempos imemoriais,de uma terra sem males e fuzis.

Cantam, os ventos, palavras índias,

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Herança Jê e Guarani,provindas das cantigas e dos falaresdas memórias e dos sonhos,arremessados ao ar,da Ilha do Arvoredo ao mar.

É quando os laços que sem dó,e em nós, buscam artifícios,entre as preces e as vozes dos capitães,é que o respirar se torna o impulso da fuga,atrofiando o último suspiro,levando a alma pelos olhos.

Ao longe, amalgamados, entre as fardas,as ordens, os ritos, o marulhar das ondas,os ganidos de Anha 76 e de qualquer bandido,disparam também os tiros,comendo a ferrugem e a carne,descansando, em liberdade, o prisioneiro.

Numa paragem longínqua,perdida na imensidão do atlântico sul,num esquecimento e absoluto silêncio,ficou para trás a ilha e a maldição de anha.Porque a alma viajou serena,

76 Anha em tupiguarani “Diabo”. Anhatomirim: “Pequena Toca do Diabo” .A poesia reflete minha estada na ilha em 2006. Ao passar o pórtico deentrada, em estilo chinês, com escadaria de mármore português, lembreio verso de Quintana cujo título é “A Porta”: “Quem atravessa a porta daúnica parede de uma casa em ruínas é como se passasse para o OutroMundo”. Na ilha está edificada a Fortaleza de Santa Cruz (1739). SantaCruz era parte do plano militar do Brig. Silva Paes que construiu outrosfortes: Santo Antônio (Ratones Grande); São José (Ponta Grossa); eNossa Senhora da Conceição (Barra do Sul).

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misturou-se ao azul e infinito do mar.

TERRAÇO DA JUVENTUDE

Hei você no escuro,do quarto abafado,tempo perdido, já escasso,acenando no terraço...

Da memória, a juventude,da atitude, a fome e a sede,de querer ser,como a gente,que se acha feliz.

Hei amigo espera comigo,a estrela cadente do espaço,que carente admite seu lado,seu brilho seco e opaco,perdido no espaço.

Quem sabe da outra vez,com toda força e sensatez,a gente mude,ou fique mudo de uma vez.

Grita um verso nos dedos,donde surge algum refrão,de qualquer música,que toque qualquer coração.

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Na visão final do terraço,da memória,a alma que se eleva,da janela e sem escada,acena pra toda essa gente, vai!que não se acha feliz. 77

A BORBOLETA

Olha a borboleta!Suas listas são madeixas ,parecem seda japonesana parede ela escamoteia…

Borboletinha viverá pouco tempo .Na parede da cozinha ela fica .Descansa ou foge do vento?Permanece ali quietinha.

Borboleta como essa eu nunca vi .Não me lembro de vê-la na coleção.Será que pro vovô era condiz?Acho que não. Não chamaria atenção.

Borboleta voa logo e ligeiro.Vai pequenina! Diga a menina ,

77 Ao amigo Eder Oliveira Fernandes, que prematuramente foi nos levado,mas resistiu firme aos ventos contrários. Coração vascaíno, “ a músicaelevou tua alma na iminência do criador e nas notas da vida, tocasse comamor”. Publicada em “O menino e as estrelas” (2003).

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que nesse dia, meu luzeiro…quer que eu nela reviva.

ORELHA DO LIVRO

A iniciativa de escrever e publicar este VII número daAntologia da Academia de Letras de Biguaçu foi do SenhorPresidente Joaquim Gonçalves dos Santos. Ele nosimpulsionou e nos encorajou nessa jornada : todos osacadêmicos foram convocados a apresentar um texto alémde uma rápida autobiografia, como homenagem aos 12 anosda fundação da referida Academia.

Cientes do grande desafio que se nos apresentavaem face do tempo e em especial a uma data tão especialpara a academia, eu juntamente com a ajuda do renomadohistoriador e Acadêmico Toni Jochem, mestre em históriapela Universidade Federal de Santa Catarina, que seprontificou a auxiliar em todas as etapas dessa obra.

Com a ajuda desse escritor de renome a respeito daimigração alemã em Santa Catarina, tudo ficou mais fácil einiciamos a coleta dos textos dos acadêmicos que nosderam a honra de enviar no tempo estabelecido pelo Senh orPresidente da Academia de Letras de Biguaçu.

E todos os que aceitaram o convite para produzir umtexto o fizeram com muita dedicação, buscando sempreproduzir o melhor.

Cabe destacar a coragem da primeira presidente daAcademia e atual presidente de hon ra, Dalvina de JesusSiqueira, que há doze anos atrás, juntamente com outrasacadêmicas, fundaram a academia.

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Na atual administração, partimos para uma novaetapa, disponibilizando todos, fatos e acontecimentos paraas gerações futuras através do website. Trabalho que esteacadêmico não mede esforços para levar a todos.

Cabe aqui ressaltar o trabalho brilhante que vemsendo desempenhando a frente da Academia pelo Sr.Presidente Joaquim Gonçalves dos Santos . Umas dasprovas disso é a viagem que nossas acadê micas fizeram aPortugal, levando além mar o nome de nossa academia.

Acadêmico Adauto Beckhäuser