Trabalho: viaduto st. tereza

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guia socioespacial VIADUTO SANTA TEREZA

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guia socioespacial

VIADUTO SANTA TEREZA

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Informações Gerais

Escola de Arquitetura e Urbanismo - UFMGSemestre: 2014/1oGrupo:

Matéria: Estudos SociaisProfessora: Ana Marcela

Local de Enfoque: Viaduto Santa Tereza

Visitas: 8 de Abril - 11h 5 de maio - 14h 8 de maio - 16h 15 de Maio - 09:30 22 de maio - 09:30

Ana Carolina SmocowiskOctavio H. Mendes Pena Nuno NevesLuiza PaolucciBruno VillelaIsabela Resende

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Introdução

O viaduto Santa Tereza, um dos símbolos da cidade de Belo Horizonte, foi construído em 1929 e tombado como patrimônio cultural na década de 90, sendo palco de diversos movimentos culturais, que vão desde manifestações até duelos de rap. O grupo escolheu abordar o viaduto e seu entorno, visto seu grande potencial em fomentar a diversidade de práticas e de atores sociais, abrigando diferentes formas de manifestação cultural e sendo aberto a novos usos pela população. O contexto do viaduto é marcado por inúmeras obras de revitalização, sendo a mais recente iniciada em janeiro desse ano, com o intuito de restaurar sua estrutura e implantar o Circuito de Esportes Radicais Santa Tereza. Aparentemente essa obra implicaria em benefícios para quem utiliza o espaço, entretanto, foi de grande surpresa para o grupo perceber que o fechamento do viaduto, aliado a retirada das linhas de ônibus em seu entorno, afetaria as potencialidades do local. A partir disso, esse trabalho abordará o contexto histórico do viaduto, de forma a fazer um paralelo com sua situação de degradação e posterior fechamento para obras, mostrando o impacto dessas intervenções para o público que o utiliza. Além disso, serão aprofundados alguns aspectos do espaço e do seu entorno, como o da circulação e sua importância, por meio de estatísticas e entrevistas realizadas com os usuários de transporte público da região.

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Perímetro Abordado

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Histórico

1929

Inauguração do viaduto.(Primeira ponte do Brasil construída em concreto armado)

1988 1994

Tombamento pelo IEPHA-MG

Início dos movimentos de dança no viaduto

1996

Tombamentzo pelo conselho deliberativo do patrimônio cultural do município de BH.

anos 90: constatação da degradação do viaduto

1999

Obra de reabilitação do viaduto.

2007

Início do duelo de mcs.

2014 -

Início das obras de reabilitação do viaduto para o contexto da copa. O perímetro do viaduto é todo fechado e é impedido o acesso público da obra

serão implantados skate street, palco, escadas, arquibancadas e circuito de bicicleta, além de uma reforma no banheiro e no depósito

- 2014

Início da retirada das linhas de ônibus na rua Aarão Reis

serão retiradas as seguintes linhas: 5508, 8001, 8102, 8108, 9103, 9105, 9106, 9803, 2208B, 2212A, 2216, 2224A, 2234A/B, 2256A, 3302B, 4403, 5502, 5503A/B, 5507, SC04, A5517, 9030, 9404, 9801, SC1A, 5405, 5415, 5420, 5450, 5460, 5385, 5390, 5395, 5400, 5425, 5430, 5432, 5490, 5500, 5434, 5440, 5445

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Viaduto Acontece

Manifestantes derrubaram agora os tapumes que vedavam a entrada da parte de baixo do Viaduto Santa Tereza, espaço com histórico de ocupação cultural em Belo Horizonte.Depois de anos recebendo eventos que valorizam a arte urbana, a prefeitura fechou o local e promove uma reforma que faz parte do projeto do Corredor Cultural da Praça da Estação, proposta de higienização do centro da capital mineira para a realização de atividades durante a copa do mundo de 2014. Em clima festivo, os manifestantes que participavam da Praia da Estação comemoram agora a retomada do viaduto.

Do Viaduto para A cidadebaixada.org - 16/02/2014

Considerado um dos símbolos da cidade, viaduto está depredado das bases aos famosos arcos, em um abandono comum a outros espaços que levam o nome da santa.

Viaduto Santa Tereza está abandonado em BHEstado de Minas, 20/04/2012

Prefeitura e estado precisam se entender quanto à programação da Serraria Souza Pinto e atividades sob o Viaduto Santa Tereza. Na prática, um prejudica o outro, sobretudo porque tem públicos totalmente diferentes. Na última sexta, por exemplo, performance de MCs na porta da casa de eventos assustou os convidados do baila da OAB, sobretudo as mulheres que ficavam receosas até de sair do carro. Por isso, a serraria deixou de ser palco de grandes eventos sociais.

Fim da PicadaEstado de Minas, 20/04/2012

a obra de reforma do viaduto que já demoliu as arquibancadas e removeu a calçada de pedras portuguesas, nem deveria ter sido iniciada já que o projeto ainda não foi aprovado pelo órgão responsável pelo tombamento. Essa atitude da PBH, além de arbitrária, é ilegal!”

Obras no Viaduto Santa Tereza não têm autorização do Iephaminaslivre.com.br - 13/03/2014

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Segurança

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Segurança

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Mobilidade

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nome: ponto de ônibusmaterial: Metalusos: esperar ônibus, dormitório, descanso, comércio, sombra

nome: poste de ilumi-naçãomaterial: concretousos: mictórios, mural, segurança

nome: arcos do viadutomaterial: concretousos: embelezamen-to, simbolismo para o viaduto

nome: esferas decora-tivasmaterial: concretousos: mural para arte urbana, assento oca-sional

nome: árvorematerial: orgânicousos: sombra para os que dormem no local

nome: paredesmaterial: variadousos: sustentação, mu-ral para arte urbana

Inventário de Objetos

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nome: tapumesmaterial: madeira usos: dispositivo de controle espacial

nome: parapeitos de entradas de lojasmaterial: variadosusos: dormitório para moradores de rua

nome: lixeiramaterial: metalusos: lixeira, mural para expressão artis-tica, local para propa-ganda política

nome: escadamaterial: concretousos: esconderijo, pas-sagem, local para fuga, parkour

nome: telefone públicomaterial: metal, plásti-cousos: depredação, divulgação de serviços gerais (protituição, es-otéricos, etc)

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Usos e Concentrações

O Viaduto Santa Tereza proporciona diversas formas de apropriações e usos devido aos seus espaços bastante variados e aos diferentes setores que podem ser observados.

Sobre o viaduto, por exemplo, há uma via com trânsito de veículos e passeios para pedestres em ambos os lados. Essa área portanto, é própria para a circulação e o fato do viaduto conectar o bairro Santa Tereza ao centro tem como consequência um fluxo relativamente intenso.

Um ponto marcante ao longo da superfície do viaduto é uma escada que conecta à parte subterrânea. Antes das obras serem iniciadas, o espaço era pouco usado e ocorriam casos de violência, tais como assaltos devido ao fato de ser um local mais ermo.

A área ao lado do viaduto e do Parque Municipal, por sua vez, representa uma região de circulação menos intensa de veículos, pois apresenta uma rua de menor movimento. Por outra lado, pessoas usam o passeio para chegar à avenida dos andradas.

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O outro lado do viaduto, devido às obras da prefeitura, está ocupado por tapumes que cercam uma grande parte do espaço. Além disso, os vários imóveis destinados ao comércio nao estão em uso. Dessa forma, podemos observar a ocupação de usuários de droga, bem como a apropriação por moradores de rua, usos bastante diferentes dos demais espaços. A passagem de pedestres nao é muito recorrente devido ao receio de muitos em relação a tais apropriações.

O espaço sob o viaduto está completamente cercado devido à obra da prefeitura. Nesse contexto, a circulação de pessoas ocorre apenas nos passeios ao lado da Avenida dos Andradas. Nas demais áreas, as antigas formas de apropriação, tais como uso de drogas e ocupação de moradores de rua ocorrem em locais alternativos como ao lado do viaduto (citado a cima) ou em pontos aleatórios nos espaços não impedidos. Já os eventos e movimentos socio culturais nao têm mais espaço para ocorrerem no viaduto.

Na região do ponto de ônibus (que conecta o viaduto à praça da estaçao), há uma circulação de pessoas não muito intensa e, consequentemente, o comércio perde cada vez mais a atividade. A ocupação do ponto de ônibus propriamente dito se dá por usuários do transporte público em sua maioria e o fluxo de veículos, por sua vez, nao é muito intenso.

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pessoas que trabalham no centro afirmam usar estacionamentos do lado bairro do viaduto por ser mais barato.

Os moradores de rua usam muito o espaço na parte da noite

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O VIADUTOVIVE

ÀS SEXTAS:

21h: eventualmente, duelo de mc’s. 00h: eventualmente, samba da madrugada.(contexto pré-obra)

ÀS QUINTAS:

19h-22h: ensaios de street-dance (contexto pré-obra)

TODOS OS DIAS

5h-22h: operação das linhas de ÔNIBUS, que são mais utilizadas nos horários de 7h-8h e de17h-18h.

AMBULANTES/vendedores informais: mais vistos na parte da tarde e em horários de pico.

Funcionários responsáveis pela LIMPEZA de vias públicas, mais vistos no período da manhã.

ÀS VEZES

Competição de skate: realizada no segundo domingo do mês no período da tarde.(contexto pré-obra)

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O VIADUTOVIVE

24 HORAS/DIA:

PESSOAS OCIOSAS, a espera de uma consulta, um compromisso, um encontro. MORADORES DE RUA que migram de lá pra cá ao longo do dia/noite.

TRANSEUNTES. Estes concentran-se nos horários de pico (começo da manhã | final da tarde)

POLICIAIS circulam pelas redondezas, mas sem permanecer por longos períodos.

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Concentrações

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Fluxos

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Análise Física

Conectando a Rua da Bahia à rua Francisco Sales, o Viaduto Santa Tereza ocupa uma posição central no planejamento urbano de Belo Horizonte, tanto historicamente quanto estrategicamente. Um passo crucial ao analisá-lo é dividir as áreas de estudo, visto que cada uma delas apresenta uma função diferente para seus utilizadores. A superfície: a superfície do Viaduto apresenta um fluxo intenso de carros e é também utilizado pelos pedestres, mesmo que não exista um suporte físico muito apropriado para isso (ausência de parapeitos e calçada praticamente do mesmo nível da rua). Seus arcos históricos são acompanhados de vinte e oito postes, quatorze de cada lado da via. Durante o dia, não são muito necessários, pois a incidência solar é intensa no local, entretanto, quando anoitece se mostram importantes para diminuir o número de assaltos no local. Devido aos altos preços dos estacionamentos na Afonso Pena, motoristas costumam parar seus automóveis do outro lado do Viaduto e atravessá-lo de volta a pé. Grande parte dos pedestres atravessando a superfície durante o horário de análise seguiam esse padrão. O Viaduto também é utilizado como “banheiro público” por populações marginalizadas, e qualquer protuberância ou concavidade se torna sua moradia ou área para guardar seus pertences. Os Subterrâneos: a parte de baixo do Viaduto, aqui chamada de Os Subterrâneos, era ocupada em grande parte pelos moradores de rua antes das obras do Circuito de Esportes Radicais Santa Tereza se instalarem no local. Não conseguimos informações sobre o que aconteceu aos moradores depois do início da obra. Atualmente, a parte debaixo do Viaduto está cercada pelos tapumes das obras, que estão cobertos de grafites e pichações de cunho político, normalmente com mensagens contra a Fifa e a Copa.

Pontos de Ônibus e Comércio: até a recente instalação do BRT MOVE, os pontos de ônibus da Rua Aarão Reis eram um dos mais movimentados da cidade, servindo de convergência para várias linhas. Com a mudança na frota de ônibus, poucos passam pelo local, e apesar de essa mudança ter se instalado há poucos meses, já está afetando negativamente o comércio do local, cuja principal clientela eram os utilizadores do transporte público. Com a diminuição do movimento na área, muitas lojas estão com dificuldades em pagar os aluguéis, e a previsão é que muitas delas fechem as portas nos próximos meses. A ausência desse comércio será negativa para a região, pois diminuirá a segurança para os pedestres que utilizam o local.

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A obra e o contexto na produção

Henri Lefebvre, em “A Produção do Espaço”, propôs um entendimento do espaço que como uma segunda natureza, um produto das relações sociais. Para ele, o processo social e a forma espacial são formas diferentes de pensar a mesma coisa. Assim, por interação ou retroação, o espaço vêm a intervir na sua própria produção. Portando, visto que os processos sociais tem um contexto histórico, pode-se assim dizer que existe uma história do espaço, isto é, uma história que conta como esse mudou com as sociedade.O viaduto, nesse contexto, encontra-se em um contexto histórico que implica profundamente em como ele é gerido. Inserido na tendência de higienista na concepção da gestão do espaço público, discursos acerca em modificações do espaço baseadas na apresentação da apresentação desse para o outro (A FIFA, o estrangeiro, o usuário da serraria) e sobre a beleza do local muitas vezes é frenquente; discurso o qual muitas vezes é insensível às apropriações prévias e aos cidadãos que antes ocupavam esse espaço. Inserida nesse contexto, a(s) obra(s) no Viaduto demonstra(m) isso claramente: Ao se fechar esse espaço, a prefeitura não reconsiderou o que as apropriações prévias que alí se estabeleciam necessitavam quanto à estrutura física e o que essas apropriações poderiam sofrer com a obra; isto é, se o duelo de MCs poderia se enfraquecer, dentre outros. A obra de 1999 é exemplo da relevância desse pensamento: as instalações de banheiros e de um bar logo se tornou obsoleta e depredada, enquanto apenas os palcos e arquibancadas instaladas (obras que inseriram-se bem nas necessidades espaciais das apropriações alí estabelecidas) prevaleceram frente à passagem do tempo.É preciso entender, nesse contexto, que o urbano não é apenas um palco indisciplinar; ele é, também, uma imprevisível e aberta possibilidade de relação-entre. É debaixo do viaduto que uma rica vida cultura sobrevive. Assim, criar obras ultra-específicas que não atendem aos grupos que ali habitam podem, de certa forma, agir numa vertente de segregação e controle das diversas interrelações e fluxos. O espaço urbano é múltiplo, e tem uma complexa potência que advêm de quem a compõe: o viaduto não é só o viaduto, é o ambulante, o usuário de transporte, o grafiteiro, o pixador, o skatista, o le parkour, o bboy, os artistas, o MC, o usuário de transporte, o morador de rua, o estudante, etc.

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A importância da circulação e a morte do viaduto

A circulação sempre foi um fator essencial para a cidade capitalista moderna. Como abordado por Roberto Lobato Côrrea em “O Espaço Urbano”, a cidade constitui um “conjunto de diferentes usos de terra justapostos entre sí”(CORRÊA, 1989). Esse conjunto de usos acabam por definir áreas (de lazer, de administração, etc) as quais formam a organização espacial da cidade - o espaço urbano. E, tal como ele se apresenta, é um espaço profundamente fragmentado.

Assim, os diversos usos que se dão á terra conectam-se através da circulação e fluxo de pessoas. É a circulação que articula o espaço urbano para que as trocas necessárias para o desenvolvimento das atividades humanas ocorram. Posteriormente, Lobato Corrêa também demostrou que as estações de trem - intimamente ligada - estão diretamente ligadas ao contexto de surgimento das áreas centrais das cidades modernas.

A circulação de pessoas em uma dada área implica situações como: a segurança em certo grau, visto que a grande concentração de pessoas acaba por inibir certas práticas; fluxo de mercadorias (consumo de produtos alimenticios, etc); e a consequente concentração de serviços nas redondezas; vida cultural para a cidade, visto que em muitos desses locais passam a ocorrer eventos que visem atrair às multidões.

E esse era o contexto prévio do viaduto. Anteriormente, o viaduto Santa Tereza era um local de rica vida cultural. Ali se realizava projetos como o Duelo De MCs, relizado todas as sextas a noite. Além disso, era local de grande concentração de pontos de ônibus, que vinha por atrair uma alta densidade de pessoas durante todo o dia – principalmente nos horários de pico. Nele estabelecia-se uma rica relação entre o complexo e apropriação para usos culturais. Porém, os usos eram todos esporádicos – assim como não constantes. Isso se implicava devido à condição do entorno, como evidenciado por uma reportagem sobre o viaduto vinculada pelo estado de minas, em 20/04/2012: “ Um misto de sujeira, abandono e depredação transformou uma das estruturas mais marcantes do cenário urbano de Belo Horizonte em paisagem sombria, que não só não atrai como traz medo à população de BH. Esse é o resumo não só dos arcos, mas de todo o Viaduto Santa Tereza, uma das principais ligações entre o Centro e a Região Leste da cidade. Escadas destruídas, cheiro insuportável, pichação por todo lado, buracos nas calçadas, fiação exposta e uso de drogas são exemplos daquilo em que se transformou o elevado.” Logo, o que vinha a propiciar os usos do viaduto nunca foi sua condição física– que desde os anos 90 encontra-se degradada – mas sim as concentrações de pessoas em seu entorno. A reabilitação realizada no viaduto, em 1999, é evidência disso. Após a constatação do estado de degradação nos anos 90, a prefeitura revitalizou a estrutura física do espaço do viaduto. Em conjunto, no local que se encontram próximos à Serraria Souza Pinto foi

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instalado um palco, uma pista de dança, arquibancada e bar. Porém, essa revitalização não impediu uma nova degradação do espaço do viaduto, como evidenciado pela reportagem do Estado de Minas acima citada. É evidente que o problema não é a estrutura do viaduto, mas como se propõe o relacionamento com ele. Por meio da instalação de elementos que proporcionariam o lazer da população, pensava-se em usos determinados para estes, como o espaço reservado para a implantação de um bar. Porém, isso não foi constatado, uma vez que ao longo do tempo é possível observar uma intensa apropriação dessa área por meio de usos que não estavam previstos na intervenção da época. O local destinado para o bar, por exemplo, passou a abrigar um posto policial. Apesar de tentar resolver questões locais, estabelecendo uma relação direta com o público afetado, a reabilitação não ampliou a possibilidade de uso do viaduto, passando a ocorrer alguns shows e eventos de forma esporádica.

Tanto a estação de metro, situada na Praça da Estação, como os pontos de ônibus distribuídos na Rua Aarão Reis permitem um grande fluxo de pedestres e usuários de transporte coletivo, que além de ocupar os pontos de espera destes, também freqüentam os comércios estabelecidos no entorno, dando vida a essa área. O Duelo de Mc`s também é um exemplo disso, a partir da sua criação em 2007, a parte inferior do viaduto passou a ser ocupada de forma intensa, dinamizando não apenas essa área, mas também o que está em sua volta. Os pontos de ônibus passaram a ser mais utilizados, os estabelecimentos comerciais ganharam maior clientela e o espaço do viaduto tornou-se mais vivo, instigando novos usos diferenciados. O que proporcionou a ocorrência do duelo não foi a estrutura do local, tampouco seus elementos, mas a vida em seu entorno, a circulação de pessoas. A ocupação do viaduto se deu além de sua estética, permitindo a instalação de diferentes atividades e eventos. Moradores de rua, skatistas, vendedores ambulantes, b-boys e bordelenses passaram a utilizar o espaço de maneiras distintas, sem necessariamente promover uma interação entre eles. Utilizando como pretexto a intensa degradação do viaduto e seu mau uso pelos usuários, a prefeitura da cidade fechou o espaço para iniciar obras de revitalização do local, prevendo a implantação de uma pista de skate, uma quadra poliesportiva, um palco, banheiros, entre outros elementos. Apesar de a obra aparentar melhorias para os usuários do espaço, ela pode sujeitá-lo a usos específicos, assim como ocorreu na década de 90, impedindo a pluralidade do viaduto. O fechamento do viaduto e o recente realocamento das linhas de ônibus da Rua Aarão Reis para outras ruas do centro, provocaram uma redução do fluxo de pessoas no local e nos comércios do entorno, que perderam por volta de 60% de sua clientela, cosequentemente, essa parte da cidade ficou mais deserta, com menos circulação de pessoas, podendo provocar a morte do viaduto. A prefeitura ainda não propôs esclarecimentos detalhados sobre a obra, que está sujeita a desvios de verba e negligencia por parte do poder público. Com isso, percebe-se que medidas como essas nem sempre atendem os anseios da população, mas pelo contrário, podem afetá-la de forma negativa. Devem ser implantadas soluções que garantam a livre circulação e concentração de pessoas no espaço, permitindo usos diversos e inimagináveis, a fim de manter essa área central viva.

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Como proposto por Massey, o espaço está em constante estado de devir. O viaduto é exemplo disso.As novas relaçòes que constatemente se estabeleciam dentro desse espaço entre as pessoas que alí circulavam davam ao lugar uma espacialidade e uma dinâmica única; o que, porventura, veio a abrir caminho pra vários outros tipos de apropriação. Quando se retira as pessoas que se interrelacionam do espaço, subentende-se também uma perda de potencialidade do espaço - que, nesse caso, é profundamente multicultural E esse foi o processo que se gerou ao se retirar as vias de ônibus e se fechar o viaduto santa tereza - retirou-se todo o potencial interralcional desse local. E os efeitos são surtidos não só na vida cultural do local, mas também na comercial: muitos comerciantes alegam que o a freguesia no local decaiu entre 40% à 60%.

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Bibliografia

“Processos Sociais e Forma Espacial: Os problemas conceituais do planejamento urbano” HARVEY, D. (1980)

“Filosofia e política da espacialidade: algumas considerações” MASSEY, D. (2004)

“O espaço – Sistemas de objetos, Sistemas de ação” SANTOS, M. (1996)

“A produção do espaço” LEFEBVRE, H. (1991)

“El Urbanismo como modo de vida” WIRTH, L. (1938)

“Sociedade de esquina” WHYTE, W. (1943)

“La comunidad urbana como modelo espacial y orden social” PARK, R. (1925)

“A situação da classe trabalhadora na Inglaterra” ENGELS, F. (1845)

“O Espaço Urbano” CORRÊA, R. (1995)

“Ciudadanía y espacio público” BORJA, J. (1998)

“Lições de Arquitetura” HERTZBERGER, H. (1999)

“The Social Life of Small Urban Spaces” WHYTE, W. (1980)