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15 1 INTRODUÇÃO Através desse trabalho, apresentam-se aspectos da história das pessoas que nos antecederam. Identificam-se os tempos, as ações, o modo de viver, de agir, os costumes e as heranças culturais destes personagens, não apenas contando e recontando fatos, mas pesquisando e registrando, através de fontes documentais e principalmente da memória dos habitantes que vivenciaram esses acontecimentos ou foram testemunhas de relatos de terceiros. Trata-se, em outras palavras, da história do enoturismo. O atual estágio no progresso do ramo enoturístico é também, fruto de nossos ancestrais. É o fruto do nosso imigrante italiano, francês, alemão, austríaco, espanhol ou de qualquer outra raça, que aqui chegou depositou toda a sua fé, energia e, acima de tudo, acreditou na cultura da uva e do vinho. Hoje seus descendentes dispõem para o fomento da atividade enoturística de uma orientação em nível educacional, empresarial e de pesquisa, para tornar mais humana e sustentável essa valorosa profissão. Esse trabalho contará a história da origem do turismo, do enoturismo, da uva e do vinho, no mundo e no Brasil, e a importância do Enoturismo para o desenvolvimento regional, principalmente para os municípios que fazem parte da Região Uva e Vinho, onde será abordado, através dos dados coletados em pesquisa de fontes primárias e secundárias, seu contexto histórico e os primeiros atrativos turísticos (festas temáticas da uva e seus derivados). O presente estudo esta dividido em seis capítulos. O primeiro capítulo tem como referencial teórico a história do surgimento e o desenvolvimento da vitivinicultura no mundo, e dos três povos que mais se destacaram neste aspecto na antiguidade. O mesmo capítulo aborda o avanço da vitivinicultura nos períodos históricos, assim como o seu surgimento no Brasil e no Rio Grande do Sul. O segundo capítulo trata de uma breve história do surgimento do turismo numa visão geral no mundo, Brasil e Rio Grande do Sul, tendo como enfoque principal a Região Uva e Vinho, que por sua vez compõe a Serra Gaúcha. O terceiro capítulo, por sua vez, retrata um breve histórico dos municípios que fizeram o enoturismo na Região Uva e Vinho, tendo como foco principal Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Flores da Cunha, Garibaldi e Veranópolis.

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1 INTRODUÇÃO

Através desse trabalho, apresentam-se aspectos da história das pessoas que nos

antecederam. Identificam-se os tempos, as ações, o modo de viver, de agir, os costumes e as

heranças culturais destes personagens, não apenas contando e recontando fatos, mas

pesquisando e registrando, através de fontes documentais e principalmente da memória dos

habitantes que vivenciaram esses acontecimentos ou foram testemunhas de relatos de

terceiros. Trata-se, em outras palavras, da história do enoturismo.

O atual estágio no progresso do ramo enoturístico é também, fruto de nossos

ancestrais. É o fruto do nosso imigrante italiano, francês, alemão, austríaco, espanhol ou de

qualquer outra raça, que aqui chegou depositou toda a sua fé, energia e, acima de tudo,

acreditou na cultura da uva e do vinho. Hoje seus descendentes dispõem para o fomento da

atividade enoturística de uma orientação em nível educacional, empresarial e de pesquisa,

para tornar mais humana e sustentável essa valorosa profissão.

Esse trabalho contará a história da origem do turismo, do enoturismo, da uva e do

vinho, no mundo e no Brasil, e a importância do Enoturismo para o desenvolvimento regional,

principalmente para os municípios que fazem parte da Região Uva e Vinho, onde será

abordado, através dos dados coletados em pesquisa de fontes primárias e secundárias, seu

contexto histórico e os primeiros atrativos turísticos (festas temáticas da uva e seus

derivados).

O presente estudo esta dividido em seis capítulos. O primeiro capítulo tem como

referencial teórico a história do surgimento e o desenvolvimento da vitivinicultura no mundo,

e dos três povos que mais se destacaram neste aspecto na antiguidade. O mesmo capítulo

aborda o avanço da vitivinicultura nos períodos históricos, assim como o seu surgimento no

Brasil e no Rio Grande do Sul.

O segundo capítulo trata de uma breve história do surgimento do turismo numa visão

geral no mundo, Brasil e Rio Grande do Sul, tendo como enfoque principal a Região Uva e

Vinho, que por sua vez compõe a Serra Gaúcha.

O terceiro capítulo, por sua vez, retrata um breve histórico dos municípios que

fizeram o enoturismo na Região Uva e Vinho, tendo como foco principal Bento Gonçalves,

Caxias do Sul, Flores da Cunha, Garibaldi e Veranópolis.

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O quarto capítulo do referencial teórico aborda questões relacionadas aos conceitos e

definições de enoturismo, bem como fontes de pesquisas orais, bibliográficas e acadêmicas,

relacionadas ao tema no mundo e no Brasil.

O quinto capítulo tem como objetivo principal do trabalho de pesquisa a história do

surgimento do Enoturismo nos municípios gaúchos citados acima que compõem a Região

Uva e Vinho.

O último capítulo se delimita em apresentar um breve histórico das principais festas

impulsionadoras do Enoturismo no Rio Grande do Sul. Dentre estas festas, que têm como

foco principal a Festa da Uva e do Vinho Novo – Forqueta - em Caxias do Sul, a Fenavinho

em Bento Gonçalves, a Fenavindima em Flores da Cunha, as Exposições da Uva e a

Fenachamp em Garibaldi e a Abertura da Vindima em Monte Belo do Sul. Esse mesmo

capítulo aborda um simples relato do Dia Estadual do Vinho e do Espumante Fino Brasileiro,

comemorados no Estado.

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2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

É objetivo deste trabalho apresentar a história do Enoturismo na Região Uva e Vinho

- Serra Gaúcha, com foco nos municípios de Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Flores da

Cunha, Garibaldi e Veranópolis, visto que estes municípios estarem muito ligados a

vitivinicultura e ao turismo.

2.2. Objetivos Específicos

a) Descrever, sucintamente, a história da vitivinicultura na Região;

b) Pesquisar em fontes primárias e secundárias a História do Enoturismo na Região;

c) Identificar o papel das Festas temáticas decorrentes da uva e derivados, no

desenvolvimento do Enoturismo;

d) Identificar a influência do Enoturismo no desenvolvimento da vitivinicultura da

Região.

e) Realizar o estágio na Atuaserra (Bento Gonçalves).

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3 METODOLOGIA DA PESQUISA

A metodologia, segundo Dencker (2004), é o estudo do método da pesquisa. Neste

sentido, utiliza-se, o Método Histórico, partindo do principio de que a forma de vida social

atual, as instituições e os costumes têm origem no passado, sendo assim, é de fundamental

importância conhecer suas raízes, para compreender sua natureza e função.

Enquanto método, esse permite investigar acontecimentos, processos e instituições

do passado, tornando mais fácil a análise e compreensão destes fenômenos, principalmente

sobre seu desenvolvimento, permitindo verificar alterações e variações e comparações entre

sociedades distintas. Portanto, o método histórico preenche os espaços vazios dos fatos e

acontecimentos, apoiando-se em um tempo, assegurando a percepção da continuidade e do

entrelaçamento dos fenômenos passados e atuais. (LAKATOS; MARCONI, 2003, p.107).

Enquanto técnica de pesquisa o trabalho está fundamentado, principalmente, nos

relatos de pessoas que presenciaram, participaram, desenvolveram ou de qualquer forma

foram testemunhas do nascimento do Enoturismo na Serra gaúcha. Também está

fundamentado em obras de diversos autores e demais informações e conhecimentos

adquiridos durante o curso Tecnológico em Gestão do Turismo - Enoturismo.

A base da metodologia histórica segundo Fagherazzi (2007), é a própria reflexão dos

fatos históricos a fim de entendê-los e poder transformá-los. A categoria da história clássica

surgiu com os gregos. Este povo estava preocupado com o eterno e não com as mudanças

transitórias. Com o pai da história, Heródoto, que se preocupava com as coisas vividas na

temporalidade, o ofício de registrar os fatos históricos nos foi legado.

A história está voltada pelas construções humanas, pelo passado e suas relações com

o presente. Nesse sentido, há um método positivista em maximizar os fatos, os períodos e os

heróis de cada época. Há um método marxista em estar voltado as transformações sociais pela

base da própria sociedade e outro introduzido pela denominada Escola Nova. Seguindo esse

último método, o passado não morreu, pois o presente é tão somente o fruto dele. O modo e as

experiências humanas são vistas como a representação do tempo histórico que organiza a

percepção das experiências humanas do presente na perspectiva futura. O tempo histórico é

subjetivo e é determinado pela temporalidade e pelo pensamento de uma época que se

transforma continuamente.

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A Escola de Annales em contato com as ciências sociais modificam a concepção de

tempo histórico. As ciências sociais empregam o conceito de estrutura social, procurando

encontrar no mundo regularidades como a física e a matemática. Este conceito torna o evento

irrelevante. Por sua vez, a história compreende esta influência, mas continua analisando as

mudanças e inserindo os eventos em uma ordem sucessiva. Para os Annales o homem não só

constrói a história, mas também é construído por ela. Com a irrelevância conquistada pelos

eventos, a história aumentou seu vértice de fontes históricas, valendo-se de todos os meios

para preencher as lacunas vazias deixadas pelas fontes. Com esta visão a história passa a ser

vista como a história-problema, onde o historiador olha o passado e o integra construindo os

argumentos primordiais a comprovação de suas hipóteses. Tem-se o conhecimento da

impossibilidade de narrar os fatos como realmente se passaram.

Conforme Reis (2008), a Escola de Annales foi estruturada num momento em que a

ilusão daquilo que é eterno se acaba, e os eventos fizeram esta visão ruir foram muito

violentos, daí a necessidade dos Annales de evitá-los, de procurar harmonia com

transformações repetitivas que dão idéia de eternidade. Portanto essa escola elabora uma

mudança substancial na compreensão do tempo histórico. Os historiadores tradicionais

pensam na história como essencialmente uma narrativa dos acontecimentos, enquanto a nova

história esta interessada com a análise das estruturas, isto é, os historiadores novos entendem

que a história não pode ser conhecida e produzida com base em uma compreensão

especulativa e revolucionária do tempo histórico.

Para obtenção das informações a presente pesquisa insere em seu escopo, a busca por

informações nas mais diversas fontes. Os dados coletados devem relacionar-se positivamente

ou negativamente ao objeto de pesquisa. Desta maneira as informações coletadas para a

elaboração deste estudo foram obtidas através da pesquisa em documentos oficiais, políticas

de governo, dados estatísticos, documentos históricos, publicações em jornais, revistas,

folhetos, sites, livros, fotografias, depoimentos, organizações privadas, organizações não

governamentais, associações, entre outros. Enfim, nas mais diversas fontes de pesquisa que

podem subsidiar a compreensão da trajetória do surgimento/desenvolvimento do enoturismo

na região. Apesar das limitações desta pesquisa, todos os resultados podem revelar

importantes fatos deste tema.

O presente estudo também se utilizou de pesquisa com fontes primárias, visto a

escassez de informações, principalmente escritas, registradas, sobre a história do enoturismo

na Região Uva e Vinho, disponíveis em fontes secundárias. Ressalta-se, ainda, a importância

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da elaboração de um banco da história oral dos personagens que fizeram a história do

enoturismo acontecer.

Assim a metodologia priorizou a entrevista aberta, com um pré-roteiro. As

entrevistas foram gravadas. Os entrevistados eram questionados sobre acontecimentos

relevantes ao surgimento do enoturismo nos municípios de Bento Gonçalves, Caxias do Sul,

Flores da Cunha, Garibaldi e Veranópolis.

Desta maneira, a pesquisa teve como objetivo coletar informações importantes sobre

este segmento do turismo, utilizando o seguinte pré-roteiro:

Nome completo do entrevistado e sua data de nascimento e função?

Quais as vinícolas que se destacaram como pioneiras no enoturismo? Quando

iniciaram essa atividade?

Quais foram as festas, exposições e eventos que se destacaram?

Que motivos levaram a realizar estes acontecimentos?

Quais os problemas encontrados, e as respostas para os mesmos?

O que levou a investir no enoturismo?

O que o enoturismo representa ou representou para a empresa e para o meio social?

Quais foram os produtos que se destacaram na época? E hoje são os mesmos?

Tendo em vista a necessidade de pesquisa, foram selecionados alguns especialistas

do setor enoturístico que se destacaram ou se destacam e aceitaram ceder entrevista. Segundo

Silveira Bueno (2000), especialista é definido como aquele que se dedica a determinada

especialidade; perito; técnico; o que tem conhecimento.

As entrevistas foram antecipadamente agendadas, por telefone, e apresentado o

objetivo e o tempo estimado de duração, sendo as mesmas realizadas pelo próprio

pesquisador, com um tempo médio de 25 minutos a 1hora e 20 min. Elas foram realizadas, na

maioria das vezes, com auxilio de um gravador, mediante autorização do entrevistado e

transcritas posteriormente. Foram realizadas nos municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e

Veranópolis, no período de abril a novembro de 2008. Geralmente, foram realizadas nos

locais de trabalho dos entrevistados. Não houve ordem de formulação ou padrão das

perguntas, geralmente aconteciam na ordem das respostas dos entrevistados, em alguns casos

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foi necessária a utilização da entrevista por escrito, isto é, quando o entrevistado se sentia

pouco a vontade mediante a gravação.

Nessa metodologia de pesquisa, dois componentes se destacam no processo do

surgimento, bem como o desenvolvimento do enoturismo na região estudada. O primeiro caso

engloba os fatos históricos de algumas comunidades (festas e exposições alusivas a uva), e o

segundo os depoimentos (entrevistas), cedidas por aqueles que fizeram parte da história, a

saber: (I) secretário de turismo municipal; (II) responsáveis pelo serviço de turismo; (III)

representantes de associações locais; (IV) empreendedores locais; (V) historiadores e outros.

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4 BREVE HISTÓRICO DA VITIVINICULTURA NO MUNDO

Apresenta-se, neste capítulo, a história da vitivinicultura no mundo e no Brasil.

Destacando o papel dos pioneiros no processo de disseminação da cultura da uva e do

consumo do vinho pelo mundo.

4.1 Introdução à viticultura – origem da videira

Na formação do planeta Terra, várias eras se sucederam. Algumas delas têm relação

estreita com a história e origem da videira. Na Era Arqueozóica houve a consolidação da

crosta terrestre, tendo o Brasil grande parte do seu solo formado nesse período. As

temperaturas eram muitas elevadas não permitindo o aparecimento de qualquer ser vivo. Daí

em diante a crosta terrestre foi se esfriando lentamente e várias eras se passaram como a

Proterozóica, a Paleozóica, a Mesozóica, chegando a Cenozóica em que as condições já

começavam a permitir vida, pois já havia calor no Equador, frio nos pólos e as estações do

ano já eram sentidas. Essa Era Cenozóica aconteceu cerca de 100 milhões de anos atrás. Foi

dividida em dois períodos, o Terciário e o Quaternário. No período Terciário a vida já estava

presente na terra, no mar e no ar.

Conforme Manfrói (2004), a videira surgiu aproximadamente a cem milhões de anos.

Portanto, quando o ser humano apareceu sobre a Terra, há três milhões de anos, a videira

selvagem já conquistava seu habitat e enfeitava as copas das árvores, crescia ao longo dos rios

ou em pedras, com suas formas, troncos, folhas, cores e frutos. Sendo assim, a videira tem sua

origem no Terciário da Era Cenozóica.

O ser humano surgiu no Quaternário dessa mesma Era Cenozóica, e nos primeiros

passos de sua evolução, utilizava o fruto da videira na sua alimentação. Este fato é

comprovado por achados arqueológicos, onde sementes de uva apareciam junto com os

vestígios de populações pré-históricas.

Phillips (2005) nos fala que fósseis mais antigos das videiras primitivas têm como

região de origem a atual Groenlândia, de onde foram se alastrando para regiões mais

meridionais, seguindo duas direções: uma Américo-Asiática e a outra Euro-Asiática. No

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roteiro Euro-asiático encontramos a Vitis sezannesnsis considerada como a Vites tercearia

mais importante, pois é a ancestral da evolução para a Vitis vinifera.

No fim do período quaternário, as vitis já eram em grande número com dois

subgêneros o Euvitis e o Muscadinea. Nessa época, sobreveio a glaciação, ou seja, o período

Glacial em que a terra ficou quase totalmente coberta de gelo. As videiras foram atingidas por

esse flagelo, restando apenas três focos de sobrevivência; um americano, um europeu e um

asiático-ocidental.

O foco americano originou as atuais espécies Vitis labrusca, Vitis rupestris, Vitis

berlandieri, entre outras. O foco europeu, compreendendo as áreas mediterrâneas francesas e

italianas, até a península balcânica, originou uma única espécie: a Vitis vinifera silvestris.

O foco asiático-ocidental, localizado entre o mar Cáspio e o mar Negro, deu origem às

Vitis vinifera Caucásicas. Essa região corresponde exatamente à região citada na Bíblia onde

Noé, após o dilúvio, plantou e cultivou a primeira videira.

Videiras silvestres cresciam em várias regiões do Hemisfério Norte, especialmente

na Eurásia, na América do Norte e na Ásia. Indícios arqueológicos e botânicos sugerem

fortemente que as videiras foram cultivadas pela primeira vez no Oriente Médio antes de 4000

a.C.. Outros estudos apontam a possibilidade de ter iniciado o cultivo até por volta de 6000

a.C., tendo sido encontrados indícios na Geórgia. O homem só pode ter iniciado o cultivo de

videiras no período neolítico, quando passou a criar animais, e não só caçar animais

selvagens, e cultivar alimentos.

Embora houvesse uvas silvestres em muitas partes da Europa e do oeste da Ásia, os

primeiros vestígios surgiram numa região bem delimitada do Crescente Fértil: as encostas do

Cáucaso entre o mar Negro e o mar Cáspio, as montanhas Tauros da Turquia e a parte norte

das montanhas Zagros no oeste do Irã. (PHILLIPS, 2005, p. 30).

Cita o mesmo autor que não devemos confundir a origem da videira com a origem da

viticultura. A videira é anterior ao homem. A viticultura é uma decorrência da evolução da

civilização do homem. Muitos milhões de anos separaram uma da outra.

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4.2 Expansão da vitivinicultura no mundo

Os primeiros produtores de vinho da Idade da Pedra podem ter colhido as uvas

selvagens, as amassado, deixado o sumo e os resíduos da uva fermentar em pequenos sulcos

nas rochas e bebido antes que o líquido azedasse. Com o passar do tempo, o ser humano foi

evoluindo e a intervenção do homem para a elaboração do vinho aumentou progressivamente.

As uvas eram cultivadas e as variedades mais adequadas eram selecionadas e fermentadas.

(PHILLIPS, 2005).

A influência humana sempre esteve muito ligada à cultura do vinho:

A ação do homem está presente na elaboração do vinho que bebemos hoje como nunca esteve na história e a garrafa de vinho que compramos é o resultado de uma série de decisões. Muitas decisões dizem respeito à viticultura: onde plantar, que variedades de uva escolher, a distância entre as videiras, como deve ser guiadas e podadas, como podem ser irrigadas e adubadas, quando colher a uva, com máquina ou manual. Resumindo: cultivar uvas para vinho é um processo complexo no qual o viticultor deve pensar antes de tomar a decisão. (PHILLIPS, 2005, p.18).

As origens do vinho são nebulosas como devem ter sido as primeiras safras. É muito

difícil saber quem foi o primeiro que permitiu que o sumo fermentasse até se tornar vinho,

também nunca saberemos quem foi o primeiro que colheu os grãos de trigo e assou o primeiro

pão. (PACHECO, 2006; PHILLIPS, 2005).

Vestígios de vinho foram encontrados em jarras de barro ou outros tipos de vasos que

continham evidências de que foram usados para guardar vinho: restos de uvas - sementes, ou

manchas e resíduos de vinho. Tais vestígios foram encontrados em vários lugares do Oriente

Médio que datam do período neolítico, que se estendeu de 8500 a 4000 a.C.

A prova mais consistente da descoberta das origens do vinho foi obtida em vários

sítios arqueológicos na montanha Zagros, no que é hoje o Irã. Os mais antigos achados desse

período são seis jarras de nove litros enterradas no piso de uma construção de tijolos de

barro que data de 5400 a 5000 a.C., a noroeste das montanhas Zagros. Os vasos não

continham apenas resíduos de vinho, mas também sedimentos de resina, usada como

conservante de vinho no passado por sua capacidade de matar algumas bactérias. Vários

tampões de argila foram encontrados próximo às jarras, o que se entende que a bebida pode

ter sido até protegida do contato do ar.

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A teoria do vinho foi limitada a um só lugar, sendo muitas vezes chamada de

“hipótese de Noé,” por causa do relato de Noé e o vinho presentes no primeiro livro do

Antigo Testamento. O livro faz curiosa sugestão de que a viticultura e a produção de vinhos

começaram no Monte Ararat, onde a Arca de Noé atracou depois que as águas do Dilúvio

refluíram. Segundo a descrição bíblica do gênese do vinho, Noé foi o primeiro viticultor e o

pioneiro produtor da bebida. (PACHECO, 2006).

Os primeiros vinhos eram provavelmente menos alcoólicos do que os modernos. As

uvas silvestres têm cerca de metade de açúcar das cultivadas. No passado, o homem

costumava adicionar ao vinho produtos como ervas mel e outros.

Os primeiros vinhos elaborados eram consumidos logo, caso contrário, se

transformariam em vinagre. Era uma grande festa bebê-lo tão logo ficasse pronto. Já nesta

época era reconhecido por trazer benefícios à saúde. Os poucos que consumiam vinho todos

os dias tinham melhores condições de vida.

Da Ásia menor, a viticultura propagou-se para a Síria, Egito e Grécia. No Egito as

uvas eram cultivadas por reis, sacerdotes e importantes autoridades. Raramente o cultivo se

dava em vinhedos, eles preferiam os jardins maiores e as videiras eram plantadas

normalmente no centro das plantações, com o propósito de ficarem protegidas do vento por

outras árvores mais altas a sua volta. A viticultura ganha maior desenvolvimento no Egito,

no período final da colonização grega, quando o cultivo da uva passou a cobrir uma extensão

de terras bem maior. (PHILLIPS, 2005).

A viticultura e a produção de vinho também acompanhavam a colonização. Os

gregos, por exemplo, intensificaram e estenderam a viticultura já existente quando

colonizaram o Egito em 300 a.C. e introduziram a produção de vinho no sul da Itália. Os

romanos, por sua vez, introduziram o plantio de uvas e a elaboração do vinho em regiões de

seu império que são hoje em dia importantes produtoras. França, Alemanha e Hungria estão

entre os países que possuem a origem de sua indústria vinícola na época do Império

Romano.

Outro fato importante para a disseminação do vinho foi de ele estar associado a

divindades específicas ter se tornado elemento de rituais religiosos. A oferenda de vinho aos

deuses era comum na Mesopotâmia, no Egito, na Grécia e em Roma, e os deuses chegaram a

ser associados à uva e ao vinho.

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No Antigo Egito o vinho denota status social, sendo que era bebido somente pela

família do faraó. Também foi usado em honra aos deuses, nos sepultamento dos mortos e

usado como remédio.

O amor dos gregos pelos vinhos pode ser avaliado através dos Simpósios, cujo

significado literal é bebendo junto. Eram reuniões (daí o significado atual) onde as pessoas

se reuniam para beber vinho em salas especiais, reclinados confortavelmente em divãs, onde

conversas se desenrolavam num ambiente de alegre convívio. Todo Simpósio tinha um

presidente cuja função era estimular a conversação. Embora muitos Simpósios fossem sérios

e constituídos por homens nobres e sábios, havia outros que se desenvolviam em clima de

festa, com jovens dançarinas ao som de flautas.

Segundo Phillips (2005), o vinho também se tornou importante símbolo de conceitos

fundamentais, como a morte e a ressurreição, e passou a representar o sangue de algumas

divindades em religiões tão diversas quanto as do Antigo Egito e do cristianismo. As

videiras também ficaram associadas a um grupo de crenças religiosas e, quando essas

crenças se expandiram no mundo, se disseminou, inicialmente com propósitos religiosos e,

mais tarde, para satisfazer o desejo do povo.

Uma das mais freqüentes associações é ao mistério da morte e ressurreição - enigma que acabou sendo representado pela própria videira. As videiras parecem morrer no inverno, quando suas folhas caem e o tronco seca; o “renascimento” das videiras acontece [...] na primavera. Em muitas pinturas egípcias, a videira simboliza a ressurreição [...]. (PHILLIPS, 2005, p.52).

O mesmo autor cita que este povo relacionava também o vinho à fertilidade, uma

causa talvez um pouco mais “cortesã”:

O vinho tem a capacidade de relaxar as convenções e as travas sociais, facilitando a interação das pessoas, incluindo as relações sexuais. A ligação entre vinho e sexo, uma conexão tanto celebrada quanto deplorada há milênios, deu origem à associação do vinho com a fertilidade. (PHILLIPS, 2005, p.52).

O vinho passa a ser um instrumento de várias religiões no mundo antigo, era usado

freqüentemente em libações. Também foi muito usado em nome de um deus especifico,

derramando-o durante uma oração em agradecimento a um presente recebido por este. No

Egito o plantio das videiras pode ter se tornado uma obrigação religiosa:

Dirigindo-se ao grande deus Amon-Ra, Ramsés III falou da contribuição que ele havia feito naquela área: “Fiz para o senhor três jardins de videiras no Oásis

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Meridional, um número semelhante no Oásis do norte e vários no sul...” Ele afirma ter oferecido ao deus 59.588 jarras de vinho. (PHILLIPS, 2005, p.53).

As técnicas de viticultura, segundo o mesmo autor, são transferidas do Egito para

Creta, baseadas na lenda do deus do vinho para os gregos. Após o nascimento de Dionísio,

Zeus decide salvar o filho mandando ele para o Egito. É lá que conhece a arte da vinicultura à

qual se identifica.

Conforme Johnson (1989), na Grécia a viticultura ganha, realmente,

desenvolvimento e passa a integrar os seus costumes, religião, história e tradições. Da Grécia

é levada para todos os cantos do mar Mediterrâneo pelos fenícios, mercadores e aventureiros,

que difundindo os famosos vinhos gregos introduziram também, por onde passavam

negociando a cultura da videira.

A Itália foi a região que mais aceitou e cultivou a videira, isto cerca de 2000 a.C.

Entretanto, essa cultura só começou a ganhar proporções 400 a.C. Por essa época, Plínio já

catalogava 91 variedades de videiras e 40 tipos de vinho.

Johnson (1989) e Phillips (2005) descrevem que, em Roma, as uvas eram colhidas o

mais tardar possível, por tantas vezes eram deixadas secar ao sol para poder desidratar e

concentrar o açúcar. Os romanos inventaram a prensa, usaram tonéis de madeira para

armazenar o vinho para sua melhor conservação. Também tornaram o vinho uma marca

própria, uma forma de impor seus costumes e sua cultura. Expandiram o hábito de cultivar e

beber vinho em todo o seu vasto império. Transformaram o vinho no principal produto do

Império Romano e foram responsáveis pela fundação de grandes regiões vinícolas no mundo,

até hoje famosas, principalmente na Itália, França e Alemanha.

Da Itália, as legiões romanas, nas suas conquistas, levaram a videira por toda a

Europa. Nessa época, em todo Continente, se bebia vinho romano que era trazido pelos toscos

caminhos de terra ou pelo mar. O interesse pelo vinho, conseqüentemente, trouxe o cultivo da

videira. Vinhedos foram sendo formados por toda a Europa. Variedades foram se adaptando

aos climas mais frios, e assim, a arte de cultivar a uva se propaga e se fixa na França, Suíça,

Alemanha, Inglaterra, Espanha e Portugal.

Na Idade Média os padres desenvolvem os vinhedos e a técnica de elaborar os

vinhos. O vinho passa a ser símbolo da liturgia, uma bebida sagrada para os cristãos. Foi

muito consumido em festas de casamento.

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Na Idade Moderna, passa a inspirar grandes artistas e passa a acompanhar os

alimentos, surgindo assim a enogastronomia. Surge a garrafa de vidro e a rolha de cortiça.

Louis Pasteur torna-se o pai da Enologia. Surgem, nesta época, o espumante e os vinhos

licorosos.

No século XX, a difusão do vinho intensificou-se com a utilização de modernos

equipamentos e novas tecnologias, permitindo que se produzisse em todos os continentes.

Portugal foi o último a ser conquistado pela viticultura cerca de 100 a. C. a partir desta época

começou a ensaiar a sua viticultura, que mais tarde se caracterizou por desenvolver variedades

e técnicas próprias de cultivo, elaborando vinhos e aguardentes. Quando Portugal começou a

se projetar como país de grandes navegantes e colonizadores, levou com suas expedições a

videira disseminando-a pelas terras que conquistava, entre elas, a Ilha da Madeira, onde foi

introduzida a viticultura e, rapidamente, aí se desenvolveu, produzindo vinhos que eram muito

disputados na Inglaterra.

Com as expedições colonizadoras, as videiras européias chegam a outros continentes.

Na América, Cristóvão Colombo introduz as primeiras videiras na sua segunda viagem às

Antilhas, em 1493, mais tarde as videiras se espalham para o México e os Estados Unidos,

chegando às colônias espanholas da América do Sul, em especial Chile e a Argentina.

MacNeil (2003) cita que, no final do século XIX, a filoxera1 espalhou-se por toda a

Europa, destruindo todos os vinhedos. Da Europa, esta praga se deslocou por todo o mundo,

matando vinhedos na África do Sul, Austrália, Nova Zelândia e América. Na década de 1860,

videiras nativas da América foram enviadas para a França, a fim de serem utilizadas para

experiências. A filoxera entrou neste país de carona nas raízes destas plantas. Em duas

décadas, a maioria dos vinhedos da Europa fora destruídos. Existe um pequeno consolo nessa

história, os vinhedos foram replantados com variedades, clones e bacelos adequados a cada

local.

A partir do século XX a elaboração dos vinhos tomou novos rumos com o

desenvolvimento tecnológico na viticultura e da enologia, propiciando conquistas tais como o

cruzamento genético de diferentes cepas de uvas e o desenvolvimento de leveduras

1 Filoxera é um pequeno inseto altamente destrutivo que ataca as raízes das videiras destruindo-as aos poucos. Videiras americanas nativas, como as pertencentes às espécies Vitis labrusca ou Vitis riparia, toleram esse inseto, sem conseqüências adversas. No inicio, denominada Phylloxera vastatrix (a devastadora), hoje identificada como o inseto Dactylasphaera vitifoliae.

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selecionadas geneticamente, controle de temperatura, entre outros. Para os produtores, o vinho

é feito no vinhedo, o que significa que a qualidade do vinho vem da uva da qual ele é feito.

4.3 Expansão da vitivinicultura no Brasil

De acordo com Souza (1996) e Santos (1998), embora o Brasil tenha sido descoberto

em 1500, somente em 1532, com a expedição colonizadora de Martin Afonso de Souza, que

trazia agricultores da Ilha da Madeira e dos Açores, homens com tradições vitícolas, é que a

videira foi trazida ao Brasil.

Com a intenção de colonizar a nova colônia, conhecida como Terra de Santa Cruz,

formando povoados, surgiu a necessidade de desenvolver uma agricultura de subsistência.

Assim davam-se condições à cultura da videira, que foi trazida junto a animais, sementes e

outras árvores frutíferas.

São Vicente é fundado nessa época e, conseqüentemente, a agricultura brasileira e,

com ela, a introdução da videira. Quando chega Dom Martim Afonso de Souza, enviado por

Dom João III, Rei de Portugal que traz da Ilha da Madeira as primeiras vinhas. Brás Cubas,

donatário de vastas terras cultiváveis, mandou trazer do Porto (Portugal) seus irmãos e seu

pai, em 1540, e nas terras infecundas de Jeribatiba, na serra de Piratininga, na modesta Vila de

São Paulo dos Campos, cultivou seus vinhedos, que já estavam em franca produção em 1551,

dando origem aos vinhos que supriam a falta do produto português, conforme comprova o

Inventário dos Bens, documento guardado no Convento do Carmo na cidade de Santos no

Estado de São Paulo.

A vitivinicultura brasileira iniciou após 32 anos do descobrimento do Brasil.

Podemos dizer que estes primeiros vinhos brasileiros foram elaborados brancos originários de

uvas Malvasia, provenientes do Douro ou de Verdelho, uma das mais cultivadas na Ilha da

Madeira ou ainda da Galego de Alentejo; os tintos com a casta Bastardo, Tinta e Alvaralho

provenientes da Ilha Madeira e do Douro. As referências históricas enumeram ainda

variedades como Ferraes, Boaes, Bastardo e Dedo de Dama, como as uvas mais destacadas.

Também é de procedência portuguesa o registro de 1542, referente à plantação de

vinhedos em Pernambuco, e de 1549, na Bahia, no litoral do Nordeste do Brasil, com castas

Ferral, Moscatel e Dedo de Dama, muito usadas na elaboração de vinhos.

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A descoberta de ouro, em Minas Gerais, foi um desastre para a agricultura em geral.

A “febre do ouro” esvaziou a região agrícola. Todos queriam minerar e enriquecer

rapidamente. Tempos mais tarde, com a decadência das minas, a agricultura começou a

renascer, mas com outros objetivos.

A cana-de-açúcar, algodão e o café eram as prioridades. Santos (1998) comenta

sobre a facilidade de importar vinhos. Isso fez com que a viticultura não fosse importante e,

no ano de 1785, Dona Maria I, por meio de um documento proibiu o cultivo da videira e a

elaboração de vinhos no Brasil, para não prejudicar a produção vinícola portuguesa. Esse

“alvará” só foi revogado em 1808 por Dom João VI.

Mesmo depois dessa revogação, a viticultura não marcou presença entre as culturas

agrícolas do Brasil. O fracasso das variedades viníferas não se limitou apenas ao Brasil. Na

América do Norte também essas culturas não tiveram sucesso, então os Estados Unidos se

voltaram para variedades nativas que produziam mais e com muito menos trabalho. Tal foi o

sucesso das variedades americanas que o mundo inteiro passou a se interessar por elas.

Reforçam Albuquerque, Souza e Oliveira (1987) que, tanto a Bahia quanto

Pernambuco, apresentavam irretorquível documentação de existência da viticultura desde o

Século XVI. Onde consta que o ponto de partida do cultivo das videiras foi introduzido pela

expedição colonizadora vinda de Portugal e hábil para introduzir, nas novas terras, bacelos e

povoadores pioneiros. A primeira expedição capacitada foi a de Duarte Coelho que deu inicio,

em 1535, ao povoado de Pernambuco estabelecendo seu primeiro núcleo em Mirim, hoje

Olinda: onde grande número de colonos, tanto de Portugal e mesmo de outras capitanias onde

afirma também que as primeiras vinhas tivessem sido plantadas no nordeste brasileiro.

(ALBUQUERQUE; SOUZA; OLIVEIRA, 1987).

Os mesmos autores também reforçam que, em 1542, desembarcou na Ilha de

Itamaracá o capitão João Gonçalves, com a incumbência de retomar a administração. Em sua

atuação fomentou a lavoura, importou mudas e sementes e, acrescenta o autor, “o cultivo da

cana, da vinha, do tabaco e do algodão generalizou-se na ilha e logo foi se estendendo pelo

continente fronteiriço”. (ALBUQUERQUE; SOUZA; OLIVEIRA, 1987, p.01).

Na Bahia, pode-se admitir o cultivo da parreira antes de 1549, como se verifica no

exame das cartas escritas, mais precisamente na Carta V, Informações da Terra Brasil, escrita

em 1549 na Bahia, por Nóbrega (1931, apud ALBUQUERQUE; SOUZA; OLIVEIRA, 1987),

nas quais relata que a produção de uvas chega a duas vezes por ano, quando não atacadas

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pelas formigas. Souza (1938) confirma que a principal árvore é a videira, quanto mais a

podam, mais fruto produz.

O mesmo autor cita ainda, que na Bahia, em toda época do ano, há uvas que

amadurecem e são muito doces, e é possível encontrar em uma só videira, braços com uvas

maduras e outros com a fruta em flor.

Os cultivares, plantados na Bahia e Pernambuco, eram todos de Vitis vinifera, as

mesmas castas trazidas pelos primeiros portugueses, que fizeram vir da Ilha da Madeira ao

tempo das primeiras viagens, vale destacar as Malvasias, Moscatéis, Dedo de Dama, entre

outras. Estas variedades já davam celebridade ao vinho da Madeira ao tempo das viagens

colonizadoras para o Brasil. (ALBUQUERQUE; SOUZA; OLIVEIRA, 1987).

De acordo com Philips (2005), estudos arqueológicos atuais, realizados por Oldemar

Blasi e Igor Chmyz, comprovam a existência de uma viticultura com raízes espanholas, nas

margens do rio Paraná, mais precisamente na fundação da cidade Real de Guairá, no ano de

1557. Esta cidade foi colonizada por espanhóis que entraram por Buenos Aires.

Esta viticultura, em terras paranaenses, dura até 1631 quando sua população foi

aniquilada por Raposo Tavares. O missionário jesuíta Roque Gonzáles de Santa Cruz, foi

precursor e pioneiro da viticultura no extremo sul do Brasil no ano de 1626. Graças a sua ação

de catequizar os autóctones, funda a Redução Cristã de São Nicolau, na margem esquerda do

rio Uruguai, introduzindo ferramentas e mudas de videiras de origem espanholas, via Buenos

Aires. Após a morte do jesuíta Roque Gonzáles, pelos índios Caparaós, os catequizadores da

Companhia de Jesus prosseguem a obra de expansão, fundando os Sete Povos das Missões,

onde cultivaram diversas lavouras, inclusive as videiras de origem européia, além de

fabricarem doces, conservas, roupas, pão e vinho, como relata os escritos do padre Luiz

Gonzaga Jaeges (1939). Os Sete Povos das Missões, considerados a cunha da viticultura sul-

rio-grandense, terminaram como ruínas históricas por obra de dominadores espanhóis e

portugueses.

Uma segunda introdução vitícola portuguesa no Nordeste do Brasil surge na Ilha de

Itamaracá com vinhedos constituídos por castas Ferral, Moscatel e Dedo de Dama e, desde

então, se difunde no continente, inclusive merecendo incentivos oficiais durante a dominação

holandesa, iniciada em 1647.

Vale relembrar que no período colonial a vitivinicultura não chega a ter importância

econômica, e a videira se manteve como uma planta de cultivo mais doméstico, sendo que no

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ano de 1785, por ordem de Dona Maria I, se proíbe a instalação de indústrias no Brasil e,

como conseqüência, o cultivo da vinha e a elaboração de vinhos foram de proteção e

produção portuguesa.

A imigração italiana no Brasil se inicia aos poucos, no ano de 1820, principalmente

em São Paulo, crescendo até o final do século XIX. Muito ligados à viticultura devido a

tradição e vocação, os imigrantes italianos, trouxeram a videira para ser cultivada em suas

terras. Provavelmente, trouxeram espécies de Vitis vinifera que, ou secaram, devido a

travessia, ou não chegaram a crescer e se desenvolver, como o esperado, devido às

enfermidades e pragas já introduzidas anteriormente com as variedades americanas.

Com o passar do tempo, os imigrantes italianos, e/ou seus descendentes, levaram as

videiras para o Rio Grande do Sul e promoveram sua expansão geográfica rumo ao norte,

implantando centros vitivinícolas em Santa Catarina, no Vale do Rio do Peixe; no Paraná, em

União da Vitória, Curitiba e Londrina alcançando, recentemente, as regiões do sul - médio:

São Francisco (Juazeiro, Irecê e Curaça/ Bahia e Petrolina, Santa Maria da Boa Vista e Casa

Nova/ Pernambuco), e do Centro-Oeste do Brasil.

O século XIX foi importante na contribuição à viticultura do sul do Brasil

principalmente pela contribuição dos imigrantes europeus. A partir de 1824, os imigrantes

alemães chegam ao Rio Grande do Sul, sendo que muitos eram conhecedores e apreciadores

de vinho e se constituíram em propagadores do cultivo de videiras nos municípios de São

Lourenço do Sul e São Leopoldo.

Também se deve aos agricultores das colônias alemãs de São Francisco do Sul e

Joinvile, em Santa Catarina, a expansão da viticultura entre 1850 e 1870, no Vale do Rio

Negro e, mais tarde, para o norte, até Curitiba – Paraná, e para o sul, até Blumenau - Santa

Catarina, com sarmentos de Isabel, procedente do Rio Grande do Sul.

A imigração de origem francesa também esteve associada à expansão da viticultura

sul-brasileira. Em 1865, se estabeleceram nos arredores de Curitiba cem agricultores franceses

chegados da Argélia, formando os primeiros grupos de viticultores com interesses comerciais

no Paraná. No Rio Grande do Sul os franceses foram notórios desde 1880, difundindo a

viticultura em Pelotas onde foram formados vinhedos com 340 mil cepas de Isabel, Concord e

Barbera na região de Santo Antônio.

Com a segunda imigração italiana, em 1875, ao Rio Grande do Sul, começa uma

nova realidade na história da vitivinicultura brasileira, onde os imigrantes italianos iniciam o

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cultivo da parreira na Encosta superior do Nordeste do Rio Grande do Sul, denominada hoje

Serra Gaúcha (ou será melhor chamar Região Uva e Vinho?).

4.4 Variedades americanas chegam ao Brasil

De acordo com Souza (1996) e Santos (1998), no Brasil a primeira variedade

americana introduzida foi a ‘Isabel’ uma Vitis labrusca, logo depois chegaram às outras

variedades a ’Concord, Martha, Delaware, York Madeira e Catawba’ e outras variedades de

origem Vitis bourquina como a ’Jacque e Hebermont’ e diversos Vitis aestivales como ’Blanc

Jully, Rulander, Clinton e Norton Virgínia’.

Na primeira metade do século XIX, com o fracasso da Vitis vinifera por ataques

criptogâmicos, inicia na América do Norte a formação de vinhedos com videiras nativas,

rústicas e produtivas, em primeiro lugar com a Alexandre ou Cape, em 1801; seguida da

Isabella em 1861; da “Catawba”, em 1823, e de muitas outras que rapidamente se

disseminaram pelo mundo. No Brasil a variedade americana “Isabella”, uma Vitis labrusca foi

a primeira a ser introduzida. No Rio Grande do Sul estas variedades chegam entre 1839 e

1842, cultivadas na Ilha dos Marinheiros.

Com o surgimento do míldio2, a história da viticultura brasileira sofre

transformações, e, especialmente a do Rio Grande do Sul, onde graças a sua rápida

aclimatação, capacidade de produção e expansão, passa a ser conhecida como “uva nacional”.

Mais tarde chegam outras Vitis labrusca, como a Concord, Catawba, Martha, Delaware e

York Madeira; também algumas Vitis bourquina como Jacquez e Herbemont, e diversas Vitis

aestivalis como Black July, Rulander, Clinton e Norton’s Virginia. Em 1894 Benedito

Marengo introduz a Niágara Branca, que rapidamente se estendeu por todas as regiões

brasileiras. Em 1933, no vinhedo do Sr. Antônio Carbonari, no município de Louveira, surge

a Niágara Rosada, dada à cor rosada de suas bagas, sendo que, em menos de dez anos, é

convertida na mais importante uva de mesa do Brasil.

Entretanto, a falta de cultura vitivinícola de algumas regiões, ou a opção pelo cultivo

de outras variedades agrícolas, tais como o café e a cana-de-açúcar, fez com que não tivesse

êxito a produção de uvas no Brasil. Cabendo assim, ao Rio Grande do Sul, o papel de

desenvolver a cultura vitivinícola brasileira.

2 Míldio: Doença causada pelo fungo Prasmopara viticola e que ataca a videira (frutas, ramos e folhas).

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4.5 A expansão da vinicultura no Rio Grande do Sul

Sem dúvida, o nascimento da vinicultura na Província do Rio Grande de São Pedro

(Rio Grande do Sul), se deu graças aos imigrantes açorianos que povoaram o litoral desde Rio

Grande e Pelotas até Porto Alegre. No período compreendido entre 1732 e 1773, além das

variedades de uvas já citadas anteriormente, introduzem as variedades Bastardo, Alvaralhão e

Malvasia. Atribui-se a Manoel de Macedo Brum da Silveira, natural da Ilha do Pico, o título

do primeiro vitivinicultor gaúcho, sendo que elaborou seus vinhos no município de Rio Pardo.

Um decreto de D. João VI, datado de 11 de março de 1813, reconhece seu pioneirismo.

(UBALDO, 1999).

Em 1824 os imigrantes alemães chegam ao Rio Grande do Sul, muitos deles eram

conhecedores e apreciadores de vinho que rapidamente difundem a vitivinicultura

aproveitando as plantas existentes, ou melhor, a Isabel.

A introdução de variedades americanas no Rio Grande do Sul, conforme Ubaldo

(1999) deu-se em 1840, por José Marques Lisboa, que envia dos Estados Unidos da América

mudas da variedade Isabel. As variedades Niágara e Concord são introduzidas na década

seguinte por viticultores paulistas.

O nascimento oficial da exploração vitivinícola, com caráter econômico-industrial,

no Rio Grande do Sul, deu-se em 1870. Em 1890, o Liceu Riograndense de Agronomia e

Veterinária de Pelotas, incluiu a cadeira de viticultura e enologia e, no mesmo ano, foi

fundada a firma Scalzilli & Cia. Ltda, com adegas em Caxias do Sul e Bento Gonçalves e

filiais no Rio de Janeiro e em São Paulo. (RODRIGUES, 1972).

Em 1873, a produção de vinho na província foi de 987 litros e, em 1880, já subia

para 63.160 litros elaborados com uvas híbridas, americanas e européias. (BRAMBATTI,

2002).

Em 1889, no final do Império, ocorre a Primeira Exposição de Vinhos nacionais,

juntamente com a Primeira Exposição Internacional do Açúcar, no Rio de janeiro.

Concorreram ao certame, vinhos brancos e tintos, das províncias do Rio Grande do Sul, Santa

Catarina, São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro e de Pernambuco, num total de 58

amostras. Todos foram analisados e comentados do ponto de vista organoléptico, sensorial.

Como consta, a arte de elaborar bons vinhos no Rio Grande do Sul já era percebida

no final do Brasil Império. A província do Rio Grande do Sul apresentou seis vinhos, um dos

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quais branco. Um deles tinto, Monte Bonito, 1882, de Pelotas, de uva “portuguesa”, mereceu

a qualificação maior, com o comentário “não artificialmente adoçado” e considerado

semelhante ao vinho da Borgonha. (SANTOS, 1998, p. 60).

Em 21 de abril de 1899, foi inaugurada em Pelotas, pelo Governo do Rio Grande do

Sul, a 1ª Exposição Agrícola do Estado, com uma presença expressiva de vinhos elaborados

naquele município.

Uma publicação da Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul, no Jornal da

Semana de 14/02/71, mostrava que no Estado existiam 1.120 estabelecimentos vinícolas e 329

engarrafadores, representando 80% do total do vinho elaborado no país.

Atualmente, o Rio Grande do Sul é o maior produtor de uvas do País, com 54,2% do

total, sendo que 90% da uva é transformada em vinhos, sucos e derivados. Isto mostra um

aumento de área de cultivo em relação a 2006 em 12,09%, segundo levantamento do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística. (IBGE, 2007).

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5 TURISMO – BREVE HISTÓRICO E DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE

Antes mesmo de nascer a expressão turismo, os povos antigos sabiam que existia um

grande espaço físico ao seu redor e que neste espaço podiam se deslocar por diversos motivos.

A palavra é originaria do francês tourisme, derivado de tour, em que está implícita a idéia de

retorno. O “grande volume dos intercâmbios culturais e, sobretudo comerciais,

proporcionados pelo turismo teve início na segunda metade do Século XX quando se criou

uma indústria de grandes dimensões”. (BARSA, 1998, p. 213).

As buscas por novas experiências e a vivência de novas descobertas sempre foram

características do ser humano. Podemos verificar tais fatos desde as civilizações antigas, em

que foi possível encontrar registros de deslocamentos humanos de um determinado local para

outro. Estes deslocamentos eram motivados pelas mais diversas razões: sobrevivência,

guerras, conquistas de novos territórios, peregrinações religiosas, saúde, diversão entre outros

motivos que levaram o ser humano a se deslocar. (BARRETTO, 2003).

Heródoto (pai da história), já relatava em seus manuscritos suas experiências em

viagens, nos quais descreve a sua visita às pirâmides do Egito. Outro fato de importância

vital, que podemos julgar como o embrião do turismo, isto é, deslocamento de pessoas de um

determinado lugar para outro por determinado tempo, sem dúvida foi ocasionados pelo

desenvolvimento dos povos gregos e romanos. Na Grécia em 776 a.C., realizaram-se os

primeiros Jogos Olímpicos da Era Antiga. Este tipo de evento acontecia de quatro em quatro

anos e possuía caráter religioso. A partir desses Jogos Olímpicos o espírito de hospitalidade

desenvolveu-se. “neste período em que estavam ocorrendo os jogos, se estabelecia uma trégua

e nenhum tipo de batalha era travado.” (MATIAS, 2007, p.3).

De acordo com Barretto (2003, p. 45), teriam sido os romanos os primeiros a viajar

por prazer. Através de pinturas pré-históricas (mapas, azulejos, vasos,...) comprovam que os

antigos romanos iam à praia e aos spas, buscando divertimento em primeiro lugar, e em

segundo momento, cura. Com o desaparecimento do Império Romano, as viagens de prazer

acabaram e as estradas começaram a deteriorar-se e até mesmo destruir-se totalmente.

Citam-se, ainda, os espetáculos no Anfiteatro Flávio, mais conhecido como Coliseu,

com capacidade de 50 a 70 mil espectadores, era uma das grandes paixões dos antigos

romanos, a festa de inauguração durou cem dias, sem interrupção, atraindo pessoas dos mais

variados locais, beneficiadas pelas inúmeras estradas que, até então, o Império Romano havia

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construído, o que foi determinante para que seus cidadãos viajassem. (LIBERATI;

BOURBON, 2005).

Outros tipos de acontecimentos identificados na Antigüidade foram as Festas

Saturnálias, instituídas em 500 a.C., das quais deriva o carnaval. As civilizações antigas

deixaram de herança para o turismo o espírito de hospitalidade, infra-estrutura de acessos e

espaços para eventos.

Na Idade Média houve pouco desenvolvimento do turismo, em conseqüência da falta

de segurança nas estradas. Em contrapartida, conforme MATIAS (2007) surgiu o primeiro

Guia de Estradas de Charles Estiene em 1552, que continha informações, roteiros e

impressões sobre viagens, e a publicação Of Travel, de Francis Bacon em 1612, com

orientações para os viajantes. Destacaram-se nesta época os eventos religiosos e comerciais,

onde um grande número de pessoas se deslocava, principalmente membros do clero (os

concílios e as representações teatrais de caráter religioso) e os mercadores (as feiras

comerciais).

Matias (2007) comenta que, com o declínio da Idade Média, voltam os viajantes de

espírito investigativo composto por artistas, artesões, músicos e poetas pessoas que viajavam

para mostrar o seu trabalho, adquirir experiência profissional e, também, conhecer outras

culturas e localidades. Nessa época surgem também as viagens conhecidas como Grand Tour,

atingindo seu auge no século XVIII, onde jovens filhos de famílias nobres, com intuito

educacional, deveriam percorrer o mundo, adquirir experiência profissional e se preparar para

ser um membro da classe dominante. Por volta do século XVIII, o Grand Tour tornou-se

comum entre as elites britânicas, reunindo ao mesmo tempo prazer e instrução.

O grande impacto do Grand Tour representou uma mudança revolucionária,

principalmente por tratar de interesse na saúde. Eram comuns viagens para lugares que

ofereciam banhos considerados medicinais, prática que ficou restrita aos aristocratas. Por sua

vez, a burguesia se preparava à busca do lucro na atividade.

Com o aparecimento das hospedagens, albergues ou estalagens e a melhoria das

condições de viagens através das ferrovias e do trem, em 1830, propicia-se maior conforto e

segurança ao passageiro, reforçando o surgimento do turismo.

De acordo com Fávero (2006) e Matias (2007), a Revolução Industrial, já no final do

Século XVIII, operou grandes mudanças na sociedade, transformando a economia manual em

mecanizada. O trabalho humano ou animal foi substituído por outros tipos de energia, como a

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máquina a vapor ou de combustão. Tais mudanças causaram transformações também nos

transportes e comunicações. Todas essas mudanças refletiram também nos tipos de eventos

realizados, causando o surgimento dos eventos técnicos e científicos. Os problemas sociais

decorrentes ao stress dos trabalhadores, provocado pelas longas jornadas de trabalho nas

linhas de produção e o conseqüente desejo de evasão, motivaram os primeiros deslocamentos

dos proletários.

Surgem também nessa época, as lutas das causas trabalhistas que resultam no direito

de adquirir férias remuneradas, redução da jornada de trabalho e outras lutas que passam a

repercutir no mundo inteiro, aumentando cada vez mais o número de pessoas em viagens.

O turismo só passa a ser uma atividade organizada no Século XIX, quando o inglês

Thomas Cook organizou a ida de um grupo de pessoas para participar de um congresso, isso

em 1841. O turismo, para se consolidar definitivamente como atividade econômica e social no

século XX, recebeu contribuições de outros tipos de turismo, como o esportivo, feiras de

amostras e, principalmente, das exposições universais. O automóvel causou verdadeiro

impulso ao turismo. Depois do automóvel é a vez do avião, que encurtou as distâncias,

propiciando aos viajantes, rapidez, segurança e muito conforto.

5.1 Breve histórico do turismo no Brasil

De acordo com Matias (2007), o Brasil desperta para o turismo no século XX:

[...],em 1922, quando realiza no Palácio de Festas, no Rio de Janeiro, a Exposição Internacional do Centenário, evento esse que tinha por objetivo comemorar o Centenário da Independência do Brasil. Esse foi um grande passo para o Brasil começar a desenvolver o Turismo. A Exposição Internacional do Centenário contou com a participação de quatorze países expositores: Argentina, Estados Unidos, Portugal, Inglaterra, Bélgica, França, Noruega, México, Dinamarca, Itália, Suécia, Uruguai, Tcheco-Eslováquia e Japão. A exposição recebeu cerca de 3.626.402 pessoas, uma média diária de 12.723 visitantes. (MATIAS, 2007. p. 26- 27).

No ano de 1928, no Brasil é criada a Convenção Interestadual de Turismo, hoje

Touring Club do Brasil. Na década de 1930 e início dos anos de 1940, os segmentos de

turismo param devido a Segunda Guerra Mundial. Nesta época foram inaugurados vários

hotéis-cassinos, que ofereciam espetáculos nacionais e internacionais. Também foi

inaugurado o Estádio Mário Filho, também conhecido como Estádio do Maracanã, no Rio de

Janeiro, em 1950, para sediar a Copa do Mundo.

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Após esses importantes acontecimentos, o Turismo no Brasil foi se transformando

em uma atividade cada vez mais organizada. Em 1953, criou-se no Rio de Janeiro a

Associação Brasileira de Agências de Viagens - ABAV. Os congressos da ABAV mostram o

crescimento do Turismo Nacional, apresentando tendências para uma maior

profissionalização, em que os agentes de viagens demonstram o interesse por informações

técnicas e novas possibilidades de acordos empresariais, para melhor atender seus clientes.

Outro acontecimento importante no Turismo aconteceu no final da década de 1970.

Foi o Encontro Nacional de Bacharéis e Estudantes de Turismo - ENBETUR. Em 1999, sua

denominação foi alterada para Congresso Brasileiro de Turismo - CBTUR.

Em 2005, o Ministério do Turismo - MTUR - cria o Salão do Turismo, para

impulsionar o Programa de Regionalização do Turismo - Roteiros do Brasil3, visando

promover e comercializar novos produtos/roteiros turísticos desenvolvidos de acordo com as

diretrizes políticas estabelecidas no Plano Nacional de Turismo – PNT, como também mostrar

um novo olhar sobre a atividade turística como forma de promover o desenvolvimento

sustentável e a inclusão social, entre outros benefícios para as comunidades envolvidas.

5.2 Breve histórico do turismo no Rio Grande do Sul

No ano de 1935, o Rio Grande do Sul, preparava-se para comemorar o Centenário

Farroupilha. Este fato glorioso certamente iria atrair milhares de pessoas, sendo primordial

criar um órgão que cuidasse da recepção, da assistência e da informação turística, fundou-se o

Touring Club do Rio Grande do Sul, como entidade capaz de gerenciar tais tarefas. No dia 21

de março de 1935, em assembléia de fundação realizada no Clube do Comércio, nasceu o

Touring Club do Rio Grande do Sul. Em cinco de setembro do mesmo ano em assembléia

geral extraodinária, o Touring Club do Rio Grande do Sul passa a ser incorporado ao Touring

Club do Brasil.

No dia 15 de setembro de 1935, o Touring4 inaugurou sua sede no Hotel Magestic,

loalizado na Rua dos Andradas, 736, onde funcionou por mais de trinta anos, até sua nova

sede na Av. João Pessoa. A 20 de setembro de 1935, finalmente os portões foram abertos aos

3 Programa de Regionalização do Turismo - Roteiros do Brasil é um dos Programas do Plano Nacional de

Turismo - PNT (2003-2007), que propõe a organização de territórios definidos em conformidade com os critérios e as realidades de cada estado e Distrito Federal.

4 O mesmo que turismo.

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numerosos visitantes do país e do exterior para Exposição do Centenário Farroupilha. Este foi

o primeiro local de prestação de serviços a turistas, de que se tem notícia no Estado.

(FLORES, 1993).

Assim que o Touring Clube se instalou no Rio Grande do Sul, em 1935, edita a

Revista Touring, visando conquistar adeptos para a sua causa. Foi à primeira publicação

turística que circulou em nosso Estado. A revista foi publicada até 1945, ano que marcou

trauma para toda a atividade turística, decorrente da II Guerra Mundial. Durante a década de

1935 a 1950, o Touring conduziu sozinho o turismo no Estado. Foram quinze anos de bons

trabalhos que acompanharam o desenvolvimento do turismo no Rio Grande do Sul.

Em conseqüência da realização da Exposição do Centenário Farroupilha, o Touring

inicia o trabalho de conduzir esses visitantes que atraídos a Porto Alegre para visitarem este

evento, passam a conhecerem também a Serra Gaúcha: utilizava trem ou carromotor. A

primeira meta turística foi Caxias do Sul, onde o vinho, a metalúrgica e as malhas eram a

atração. Caxias do Sul foi, assim, o primeiro ponto turístico do Estado, afora Porto Alegre, a

despertar interesse nacional. (FLORES, 1993, p. 27). Cita a mesma autora que, outros fatos

importantes ocorreram na década de 1930 na Serra Gaúcha, que eram alvo de curiosidade dos

brasileiros: A fonte do vinho, durante a Festa da Uva, evento realizado desde 1931, e a neve

cobrindo a cidade nos dias de inverno, foram imagens que espicaçaram a curiosidade dos

brasileiros dos anos trinta, mesmo sem as facilidades de divulgação da mídia de hoje em dia.

(FLORES, 1993, p. 27).

Com o início do turismo em automóvel, o Touring preocupa-se com o fato e começa

a editar roteiros que permitiam viajar de carro, com alguma segurança, apesar do atraso da

rede rodoviária. Publica o primeiro guia turístico de Porto Alegre, que logo veio a juntar-se a

primeira Carta Rodoviária do Rio Grande do Sul, todas distribuídas gratuitamente.

A história do turismo no Rio Grande do Sul teve seu marco inicial em 23 de janeiro

de 1950, quando o governador Walter Jobim promulgou a Lei nº 997, criando o Conselho

Estadual de Turismo, CET, e o Serviço Estadual de Turismo, SETUR. Assim o Rio Grande do

Sul passa à condição de pioneiro do turismo oficializado no Brasil em nível estadual.

A posição de vanguarda assumida pelo Rio Grande do Sul repercutiu muito, não

demorou para os demais Estados brasileiros adotarem as mesmas medidas, enviando

emissários ao sul, para aprender com a experiência gaúcha.

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O descaso da União em beneficio do turismo, aliado aos poucos recursos do Estado,

dificultou a instalação do Serviço Estadual de Turismo, privando assim seu braço executivo.

Essa situação mudou somente em 1959, quando o CET, passa a criar a Taxa de Turismo, com

objetivo de arrecadar recursos financeiros para desenvolver os seus planos de fomento e de

estruturação.

No entanto, a falta de apoio da Assembléia Legislativa Estadual, por diversos

motivos, somado a pouca vontade política, veio dar o fim a Taxa de Turismo.

Conseqüentemente, o Serviço Estadual de Turismo, por falta de recursos, deixou de ser

instalado. Durante o mandato do governador Ernesto Dornelles, de 1951 a 1955, o trabalho do

Conselho Estadual de Turismo, ganha apoio. “Sob a rubrica turismo, foram consignados

recursos na ordem de 30 milhões de cruzeiros." (FLORES, 1993, p. 47).

Com recursos, o CET projetou e construiu o Paradouro do Morro Reuter, situado

entre Porto Alegre e Caxias do Sul, destinado a receber os fluxos turísticos de fim de semana

que demandavam para a Região das Hortênsias. Procedeu a desapropriação dos rochedos à

beira-mar na praia de Torres, nasceu assim o Parque Estadual da Guarita. Igualmente

procedeu a desapropriação de uma área de 29 hectares entorno da Cascata do Caracol, que

delineou e criou o Parque Estadual de turismo do Caracol.

Em março de 1951, foi organizado o 1º Rallye de Turismo e Regularidade Porto

Alegre-Canela, visava incentivar o turismo em automóveis para a serra e chamar a atenção do

Governo Federal por melhoramentos da rodovia federal. Uma centena de participantes

disputou o Rallye, entre eles, num gesto de apoio à iniciativa do Touring, o governador

Ernesto Dornelles, mandou inscrever o carro oficial do Palácio. (FLORES, 1993, p. 48).

O município de Canela doa uma extensa área para que o Governador do Estado aí

construísse uma residência oficial de verão, tal como ocorria na esfera do Governo Federal, o

qual se transferia do Catete para o Palácio Guanabara, em Petrópolis.

Leonel Brizola, Secretário de Obras Públicas da administração Ernesto Dornelles, em

visita à Cascata do Caracol, entusiasmado com as possibilidades turísticas levou a

desapropriação e instalação do Parque Estadual de Turismo do Caracol.

Em novembro de 1956, em Torres, o governador Ildo Meneghetti encontrou-se com

Jorge Lacerda governador de Santa Catarina, pela primeira vez o turismo foi considerado

oficialmente uma questão de interesse dos dois Estados. Do encontro dos dois Governadores

foi definida uma política comum de aproveitamento turístico do parque das águas termais e

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hidrominerais dos dois Estados e do estreito do Rio Uruguai; criação do Parque Turístico dos

Aparados da Serra; melhoria do acesso rodoviário entre Torres e Araranguá e criação do

Conselho Estadual de Turismo de Santa Catarina. Em 1956, foi instalada uma Comissão

Parlamentar Especial de Turismo, com objetivo de amparar e fomentar o turismo, a partir

desse ponto o empresário brasileiro começa a tomar consciência da importância do turismo.

Apesar de o turismo ser uma indústria que poderia render milhões de dólares para o

país, o mesmo continuava desprezado e ignorado pelo Governo Brasileiro. “Nunca, em

momento algum, constatara do Orçamento da União uma rubrica que se destinasse

especificamente ao turismo”. (FLORES, 1993, p. 52).

Na década de 1950, a Confederação Nacional do Comércio, CNN, liderada por

Umberto Stramandinoli, luta pela oficialização do turismo no Brasil, e organiza os

Congressos Brasileiros de Turismo, também é de sua autoria o Conselho de Turismo da

Confederação Nacional do Comércio. Em 1956, foi proposta a criação o COMTUR –

Conselho Municipal de Turismo, segundo Flores: “foi a primeira vez que o órgão do poder

público municipal fez ouvir a sua voz em favor do turismo” (FLORES, 1993, p. 54).

No ano seguinte, a VARIG impulsionou o turismo gaúcho, “leva suas asas a estância

termal de Irai e libertando-a de seu isolamento” (FLORES, 1993, p. 54). Nos anos sessenta o

turismo gaúcho ganha novos estímulos, quando o SETUR, com apoio da VARIG e da Pluna,

promoveu a vinda ao Estado de agentes de viagem uruguaios e argentinos, contatou jornais e

revistas do Brasil que mantinham páginas de turismo. Organizou um arquivo de fotografias e

slides dos principais pontos turísticos do Estado, em 1961, foi criado os Conselhos de

Turismo Locais, Gramado e Canela foram os primeiros a optarem pela sugestão, em 1962

realiza-se o 1º Festival da Serra em Canela. Outros municípios gaúchos aderem à nova idéia e

surgem outros eventos no Estado, se destacando a Festa do Pêssego em Pelotas; a Festa das

Rosas em Sapiranga; a 1ª Festa do Milho em Guaporé e a Festa Nacional do Calçado em

Novo Hamburgo.

Para melhorar e inovar a capacidade hoteleira do Rio Grande do Sul foi criado o

Fundo Rotativo de Crédito Hoteleiro. Nos transportes, o turismo em automóveis e ônibus é

favorecido pela pavimentação das rodovias federais e estaduais. O avião também passa a

exercer importante papel nos transportes, passando a ocupar o segundo lugar mundial quanto

à extensão comercial doméstica e freqüência de vôos em todo o País. Já os trens de

passageiros não se modernizam em conforto e rapidez, estando fadados ao desaparecimento.

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O turismo social foi uma preocupação na época. Cita Flores (1993), duas iniciativas

foram conduzidas na área da grande Porto Alegre: a primeira, desapropriação das terras e

praias do Guaíba, e a outra a fundação do Parque Estadual de Turismo do Itapuã, com

objetivo de preservar a fauna, flora e as águas do Guaíba. Outra iniciativa foi o projeto de

Balneários Populares em Tramandaí e Pinhal, esses terminais turísticos deviam proporcionar

conforto aos milhares de turistas que procuravam essas áreas da orla marítima.

O SETUR iniciou a organização do calendário turístico do Estado e mediu a

importância econômica do fenômeno turístico, e elaborou e publicou o primeiro Guia de

Hotéis de Praia e Serra do Rio Grande do Sul.

O descaso da União em relação ao turismo brasileiro, fez surgir em 1963, o 1°

Simpósio Nacional de Turismo em Brasília, e no ano seguinte em Porto Alegre o 2º Simpósio

Nacional de Turismo. A hotelaria do interior do Estado, conforme a mesma autora (FLORES,

1993, p. 80), ganhou impulso e inovação com a inauguração do Hotel Charrua, em Rio

Grande, Bagé e o Hotel das Hortênsias em Gramado.

No final da década de 1960, início da década de 1970 a Região das Hortênsias passa

a ganhar um sério competidor, segundo a autora, “surge o Roteiro da Uva e do Vinho,

reunindo atrações em Caxias do Sul, com a Festa Nacional da Uva; em Bento Gonçalves, com

a Fenavinho e Garibaldi, com a Fenachamp”. (FLORES, 1993, p. 81).

O patrimônio histórico-cultural constitui uma forte atração turística do Estado. As

ruínas da Missão de São Miguel foram recuperadas e ganharam um belíssimo Espetáculo de

Som e Luz, atraindo grande número de turistas fascinados pela reconstituição in loco da saga

missioneira, em 1982, foram reconhecidas pela UNESCO como Patrimônio Cultural da

Humanidade.

A importância do turismo ganha às salas de aula em 1986, quando foi elaborada e

publicada uma Cartilha Turística do Rio Grande do Sul, destinada aos alunos de 1º Grau das

Escolas Estaduais, com objetivo de ensinar à juventude sobre turismo, sua importância

econômica e social, e incluindo informações sobre o patrimônio turístico gaúcho.

No campo de desenvolvimento do turismo gaúcho se deve a outros setores, o

campismo e o da construção de traillers e ônibus de turismo. Sendo que a Marco Polo foi a

primeira fábrica de carrocerias destinadas a viagens turísticas, em 1949. A Turiscar foi a

primeira no país a fabricar traillers, e a empresa administra campings em alguns municípios

gaúchos. Atualmente, o Estado recebe cerca de dois milhões de turistas estrangeiros ao ano,

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sendo que este fluxo de turistas se dirige, principalmente, para as praias do litoral norte:

Torres, Capão da Canoa e Tramandaí, que são as mais conhecidas no Estado. No entanto, a

região turística com maior número e turistas ao longo do ano é a Serra Gaúcha.

5.2.1 Breve histórico do turismo na Serra Gaúcha

De acordo com De Paris (2008), Michelon (2008) e Dal Pizzol (2008) 5, as serras6 do

Sul atraem milhares de turistas todos os anos. Por ser a única região brasileira a apresentar

clima temperado, o Sul do Brasil possui estações bem definidas. O turismo de inverno é um

grande atrativo na região. As cidades de Gramado e Canela muito conhecidas na época de

Natal pela criatividade na decoração de suas ruas, avenidas, jardins e parques natalinos.

Também no inverno os turistas visitam essas cidades e acrescentam outras mais nos roteiros

como São José dos Ausentes e Cambará do Sul, atraídos pelas baixas temperaturas, que

podem chegar a -10º C e com nevascas, para a felicidade dos turistas. Nas mesmas podem-se

encontrar os cânions de Itaimbezinho e de Fortaleza, os quais são os maiores do Brasil.

Alguns municípios que compõem a Região Uva e Vinho – Serra Gaúcha,

principalmente Bento Gonçalves, Garibaldi, Farroupilha e Veranópolis, se destacaram no

turismo muito cedo. Como citam os entrevistados Michelon (2008), De Paris (2008), Girondi

(2008), e Sganzerla (2008),7 a região já tinha alguma experiência em turismo, fato pelo qual

esses municípios já eram considerados estações de veraneio, muito tempo antes de surgir à

moda de veranear no litoral. Diante disso podemos afirmar que a Região Uva e Vinho atinge

seu auge turístico no período de 1920 – 1940. Sabendo que no final da década de 1870 surge o

primeiro hotel de Garibaldi, o Casacurta8, pode ser considerado o primeiro hotel construído na

região de colonização italiana do Estado, que encerrou suas atividades em 1947, quando veio

as ser vendido e demolido, somente em 1953 foi inaugurado o novo Hotel Casacurta.

No início da década de 1990, surgem os primeiros hotéis na região. Segundo Nichetti9

(2008), no ano de 1903, é construído o Hotel Nichetti em Pinto Bandeira distrito de Bento

Gonçalves este atendia principalmente famílias de italianos e portugueses residentes em Porto

Alegre. Com a chegada do trem em 1919 surge o Hotel Estação em Bento Gonçalves.

5 Entrevistas concedidas nos dias 05/08/08, 11/08/08 e10/09/08 respectivamente. 6 Referiam-se à Serra Gaúcha e à Serra Catarinense. 7 Este último entrevistado no dia 05/05/08. 8 Dados do site www.hotelcasacurta.com.br. Acessado em 23/12/08. 9 Entrevista concedida no dia 23/12/08.

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A entrevistada Blauth10 (2008), afirma que o Veraneio Desvio Blauth em Farroupilha

foi construído em 1920, com o objetivo de atender os veranistas que chegavam à região. Em

1927, afirma Basso11 (2008), surge o Veraneio Bela Vista em Ana Rech, Caxias do Sul. O

Hotel Planalto de Bento Gonçalves inicia suas atividades na década de 1930. Na década de 50

surge em Cotiporã (antigo distrito de Veranópolis), o Hotel Dal Molin 12que durante os anos

50-70 atendia veranistas principalmente constituídos por espanhóis residentes na capital

gaúcha.

Em Bento Gonçalves existiam vários hotéis voltados para este tipo de turismo, entre

eles, o Hotel Planalto. O atual Museu Casa do Imigrante, na época servia como dormitório

dos funcionários deste hotel. Depois, devido alguns problemas tributários, passa o

empreendimento para o Estado, sendo posteriormente utilizado como estação de sericicultura.

Na década de 1950 é repassado ao governo municipal, com o objetivo de voltar a funcionar

como hotel, quando o prefeito Mario Mônaco tentou revitalizá-lo, criando a taxa de turismo.

A taxa era revertida em ações para o desenvolvimento do turismo, sendo que, com o término

de seu mandato, não houve seqüência desta inovação para o período. O hotel foi vendido,

passando por vários proprietários, sendo finalmente adquirido por Elias Dall’Onder. Como se

pode ver na figura a seguir representa veranistas pertencentes da elite de Porto Alegre, no ano

de 1930, veraneando em Bento Gonçalves.

Figura 1 - Veranistas do Hotel Planalto

Fonte: Museu Casa do Imigrante de Bento Gonçalves

10 Entrevista concedida no dia 23/12/08. 11 Entrevista concedida no dia 23/12/08. 12 Dados do site www.hoteldalmolin.hpgvip.ig.com.br Acessado em 23/12/08.

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Além deste, Bento Gonçalves contava com os seguintes hotéis: Hotel Bela Vista,

Hotel Paris, Hotel Zanoni, Hotel América, Hotel Estação, Hotel Valenti, Hotel Dalla Coletta,

Casa de Pouso Pasquetti, entre outros. Em Monte Belo do Sul encontrava-se o Hotel Brusqui

e, em Pinto Bandeira, o Hotel Nichetti. Com a falta de estradas pavimentadas e o advento da

“moda” de veranear no litoral, os hotéis não resistiram, vindo a desaparecer a grande maioria

deles na década de 40 e de 50.

Segundo Paulus (2008), na década de 70 inicia outro modelo de hotéis os chamados

executivos. Nesta mesma década, a grande maioria dos hotéis de Bento Gonçalves não

resistem e desaparecem. Por sua vez Michelon (2008), afirma que em decorrência da I

Fenavinho, surge o Hotel Vinocap, inaugurado em 1967. Inicialmente, o objetivo era de ser

um prédio residencial, no entanto, em função da Festa, Aristides Bertuol, o transformou em

hotel, hospedando a imprensa.

Conforme entrevista de Girondi13, o turismo surge em Garibaldi motivado pela

inauguração da Estação Férrea de Carlos Barbosa e Garibaldi, em 1917, quando junto com o

trem chegam também os turistas ou veranistas, além de pessoas que, por indicação médica,

procuravam a Serra Gaúcha para curar suas doenças pulmonares. A cidade oferecia uma boa

rede hoteleira como o Hotel Casacurta, Hotel Faraon, Hotel do Comércio, Pensão familiar da

Dona Emilia Dornelles e Pensão Farroupilha. Com o passar dos anos, o turismo se consolida,

tendo como principal evento da década de 70, a inauguração da primeira Estação Artificial de

Esqui do Brasil, fato que colocou Garibaldi nas rotas turísticas do país.

Como citam De Paris (2008) e Michelon (2008), em suas entrevistas, e corrobora

Fávero (2006), somente nos últimos tempos, mais precisamente nas décadas de 30 - 50, a

Região Nordeste do Estado, recebia um grande número de turistas que se hospedavam em

seus pequenos hotéis para veranear. No verão subiam a serra, atraídos pelo clima mais ameno

e saudável. Com o surgimento das indústrias as cidades cresceram, e a oferta de bons

empregos atraía grande número de pessoas de todo o Estado, principalmente de áreas rurais

que buscavam condições melhores de vida.

No período de 1970–1990, a nova “Era Industrial” provocou transformações na

região. Muitos hotéis fecharam, o turismo era lembrado somente para se referir às viagens dos

moradores para outros locais. Com o passar do tempo, vendedores, empresários e homens de

13 Entrevista concedida em 10/10/08.

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negócios se deslocavam para a região para visitarem as indústrias e começaram a utilizar uma

infra-estrutura turística, então houve a necessidade de reconstruir os hotéis para alojar essas

pessoas. (FÁVERO, 2006).

Em Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Garibaldi, conhecidas como “Pequena Itália”

pode-se encontrar algumas das melhores vinícolas do Brasil, com bastante destaque ao Vale

dos Vinhedos, situado entre os municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do

Sul. Ainda no Estado, se encontram as Missões Jesuíticas, patrimônio da humanidade,

fundadas em 1632 pelos jesuítas da Companhia de Jesus, que congregaram milhares de

indígenas guaranis que foram catequizados. Passados quase 400 anos de sua fundação, as

ruínas ainda podem ser visitadas pelos turistas apaixonados pela cultura e história local.

Com o desenvolvimento da região, um município chamado Gramado, passou a

explorar e se beneficiar com as atividades turísticas, atraindo um fluxo de aproximadamente

de um milhão de turistas por ano, isto só na década de 90. Também visitaram as cidades mais

próximas. Com o passar do tempo, as operadoras sentiram a necessidade de diversificar o

modelo de oferta turística e passaram a oferecer outros atrativos. Outro problema surge: a

superlotação dos hotéis que fez com que os visitantes se hospedassem em outros hotéis da

Serra Gaúcha. Com isso uma nova frente de turistas começa a se dirigir para a Região Uva e

Vinho, fazendo com que alguns empresários hoteleiros de Bento Gonçalves buscassem novas

formas de lazer para oferecerem a seus hospedes. Assim, sendo a uva e o vinho um produto de

atração turística em todos os lugares do mundo, o que não poderia ser diferente nesta região,

esses produtos autênticos da cultura regional passaram a ser um dos principais ingredientes na

atração dos turistas.

O passeio nos parreirais do Vale dos Vinhedos foi estudado e organizado para

atender a demanda dos turistas. Mais tarde é implantada a Ferrovia do Vinho, passeio de trem

“Maria Fumaça”, que tinha como ponto inicial a estação de Bento Gonçalves percorrendo a

região sentido norte até Jaboticaba (próximo a Ponte Ernesto Dornelles, mais conhecida como

Ponte do Rio das Antas), que não demorou em atrair mais turistas.

Mais tarde é lançado o roteiro Caminhos de Pedra, modelo de turismo rural-cultural

que despertou uma grande possibilidade de usufruir o patrimônio histórico-arquitetônico,

dando força e valor à cultura regional como a culinária e o sotaque do dialeto Vêneto, mais

conhecido como “talian”, ao estilo de vida, aos usos e costumes típicos dessa região, herdados

dos primeiros imigrantes italianos que aqui chegaram (FÁVERO, 2002). Vale lembrar que a

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história do turismo “remonta aos anos 1920 - 1950, quando a Serra Gaúcha era muito visitada

como destino de veraneio, conforme ocorria na região”. (FÁVERO, 2006).

De acordo com a entrevistada De Paris (2008) e Fávero (2006), os turistas

provenientes da Capital do Estado e demais cidades vizinhas, vinham em busca do clima mais

ameno e, pela crença que se difundia na época, que os “ares das montanhas faziam muito bem

à saúde”, afirmavam. (DE PARIS, 2008).

Oficialmente, a história do turismo na administração pública municipal inicia em 28

de dezembro de 1957, com a criação do Conselho Municipal de Turismo em Garibaldi. “[...]

este foi o primeiro conselho municipal a ser instalado no Rio Grande do Sul”. (FÁVERO,

2006, p. 85). Também vale ressaltar o que foi escrito por Flores (1993), que afirma que o

Conselho Estadual de Turismo foi instituído em 1950, fazendo assim do Rio Grande do Sul a

condição de pioneiro do turismo oficializado no Brasil.

5.2.2 O Desenvolvimento da Governança do Turismo na Serra Gaúcha – a Atuaserra

A Atuaserra - Associação de Turismo da Serra Nordeste teve como data de fundação

1985, na cidade de Caxias do Sul. Surgiu de uma iniciativa de onze secretarias de turismo dos

municípios de Antônio Prado, Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Farroupilha, Flores da Cunha,

Garibaldi, Guaporé, Nova Prata, São Marcos, Serafina Corrêa e Veranópolis. Esses

municípios tinham como objetivo, unificar os atrativos da região dos vinhedos, fortalecer e

resgatar o turismo, presente até a década de 50 quando veio a ser substituído pela atividade

industrial, cujo auge se deu nos anos 70.

O primeiro estatuto foi registrado em junho de 1986 e os objetivos eram: promover e

congregar os órgãos de turismo da Serra Nordeste; sugerir e tratar de medidas destinadas à

promoção do desenvolvimento dos municípios associados; promover o aperfeiçoamento dos

métodos de trabalho e desenvolver os usos, costumes e as tradições particulares de cada

município; estimular o intercâmbio entre os órgãos de turismo; interelacionamentos entre os

municípios; viabilizar roteiros turísticos; assessorar eventos; elaborar um calendário anual de

eventos; reivindicar aos órgãos competentes, infra-estrutura financeira, material e apoio

técnico.

Em 1995, contava com dezenove municípios integrantes. Em 1997, foi eleito o

primeiro Presidente da Atuaserra da iniciativa privada, representando a CIC de Bento

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Gonçalves, que contratou uma técnica para desenvolver as ações de implementação e

promoção da Região Uva e Vinho.

Hoje a Atuaserra coordena as ações de Desenvolvimento do Turismo Regional, com

foco na sustentabilidade das comunidades, além da conservação da cultura e do ecossistema

existente na região. Atualmente, com 28 associados provenientes do setor público e seis

representantes do setor privado, totaliza 34 integrantes. Os municípios que compõe a Região

Uva e Vinho são: Antônio Prado, Bento Gonçalves, Boa Vista do Sul, Carlos Barbosa, Casca,

Caxias do Sul, Cotiporã, Fagundes Varela, Farroupilha, Flores da Cunha, Garibaldi, Guaporé,

Marau, Monte Belo do Sul, Nova Araçá, Nova Bassano,Nova Pádua, Nova Prata, Nova Roma

do Sul, Parai, Protásio Alves, Santa Tereza, Santo Antônio do Palma, São Marcos, Serafina

Corrêa, Veranópolis, Vila Flores e Vila Maria.

A primeira experiência regional deu-se com o Trem Maria Fumaça, e com o apoio do

poder público e da iniciativa privada, envolvendo os municípios de Carlos Barbosa, Bento

Gonçalves e Garibaldi.

Entre 1997 e 1998, a Atuaserra lidera o processo de desenvolvimento regional.

Elabora um plano de ação e define prioridades. Em 1998, inicia o trabalho com o artesanato

regional e desenvolve o Projeto dos Mapas Turísticos Municipal, além de parcerias com o

Sebrae para o desenvolvimento do turismo em toda Região, com o “Projeto de Turismo no

Meio Rural, Artesanato e Agronegócios”.

Entre as ações desenvolvidas pela Atuaserra, estão; inventários de todos os

municípios, criação de mapas municipais turísticos – urbanos e rurais; lançamento de 156

empreendimentos turísticos; lançamento do Guia Região Uva e Vinho; lançamento da

Comunicação Visual única para os municípios; lançamento do Pólo de Aventura Rio das

Antas; Portal e o Vídeo Institucional; definição da Paisagem Urbana de Santa Tereza e sua

participação no Movimento Brasil de Turismo e Cultura; entrega de 732 certificações de

profissionais pelo Instituto de Hospitalidade; atuação no tombamento dos Caminhos de Pedra,

Monte Belo do Sul e Garibaldi; registro das marcas para preservação da identidade regional;

criação do Banco de Imagens e de Dados; presença constante nas comunidades; auxílio

constante e transferência de Know Hall às comunidades envolvidas.14

14 Informações em:www.serragaucha.com/portal/downloads/CurriculumeAtivi- dadesdaAtuaserra.

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5.2.3 Importância do Turismo na Região Uva e Vinho

Desde o século XX, o turismo é um dos fenômenos sociais mais importantes e não

pode ser tratado com descaso. Tendo como ponto de referência os municípios que fazem parte

da Região Uva e Vinho, apresentam atrativos de variadas culturas, se destacando pelos

aspectos geográficos diversificados, potencial ecológico, histórico e pela hospitalidade de seu

povo.

A atual globalização da economia faz com que os mercados se tornem cada vez mais

fragilizados, principalmente no setor vinícola, onde os vinhos nacionais lutam com os

importados para se manterem no mercado nacional. Uma das possibilidades de se fazer frente

à avalanche de vinhos estrangeiros é através do enoturismo.

Na Região Uva e Vinho, as atividades turísticas apresentam diversas alternativas aos

apreciadores do vinho. Existem lugares encantadores, com características peculiares, como o

Vale dos Vinhedos (Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do sul); a Rota dos

Espumantes, Estrada do Sabor e Rota das Cantinas (Garibaldi); a Rota Enoturística Vinhos de

Montanha, Caminhos de Pedra, (Bento Gonçalves), Roteiro Vinhos dos Altos Montes (Flores

da Cunha e Nova Pádua), Roteiro Vinhos e Longevidade (Veranópolis); Estrada do Imigrante,

(Caxias do Sul); Vale Trentino (Caxias do Sul e Farroupilha); Caminhos da Colônia (Caxias

do Sul e Flores da Cunha); Passeio nos Parreirais (Monte Belo do Sul) e esta surgindo um

novo roteiro em Faria Lemos (Bento Gonçalves) a Rota das Cantinas Históricas.

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6 ENOTURISMO – CONCEITOS, DEFINIÇÃO E BREVE HISTÓRICO

Este capítulo fundamenta-se em alguns conceitos e definições do enoturismo,

conforme estudos publicados no Brasil e no mundo. Pode-se afirmar que o vinho e o turismo,

há muito tempo andam de mãos dadas, mas é recente o fato de serem reconhecidos,

principalmente pelos pesquisadores, autoridades e pela indústria turística, o que faz com que

as publicações sobre o tema sejam escassas. Atualmente no “mundo do turismo,” o vinho está

crescendo de maneira considerável como atrativo motivacional.

6.1 Enoturismo – Concepção da Atividade

Enoturismo é a soma da palavra eno e turismo. Eno deriva do grego oinos que

significa vinho e turismo originário da palavra francesa Tour e do inglês Turn; quer dizer

volta. Por sua vez turismo em latim é Tornare, que significa voltar ou voltear. Turismo em

português tem o significado de Viajar no sentido de embarcar; ir; e vir; partir e voltar.

Splendor (2008) contribui para a conceituação do Enoturismo, com sua visão de

enólogo: “O enoturismo é a cadeia para o crescimento de uma região quando bem

desenvolvido, e de estagnação, quando explorado impropriamente [...], é a troca de

experiência entre vinhateiro e consumidor.” 15 (SPLENDOR, 2008).

Para João Ferreira (2008),16 “Enoturismo é trabalhar a imagem, sentidos, emoções,

história e cultura, [...]. Enoturismo é labutar na demanda de cessações de vazios emocionais

das pessoas.” Já Lavandoski (2008), define o enoturismo puramente ligado as tradições da

cultura do vinho:

Falar em enoturismo é analisar assuntos ligados ao turismo e ao mundo dos vinhos. É um nicho novo de mercado turístico ligado às culturas e às técnicas de elaboração, à história e degustação do vinho e seus derivados. Enoturismo proporciona o conhecimento e o entendimento a respeito de tudo o que cerca esta bebida, o vinho. (LAVANDOSKI, 2008, p.25).

15 Entrevista concedida no dia 15/09/08. 16 Entrevista concedida no dia 05/06/08.

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Barretto (2003, p.22) reforça a idéia de que “turismo cultural seria aquele que tem

como objetivo conhecer os bens materiais e imateriais produzidos pelo homem”. A mesma

autora reforça que o turismo, quanto ao objetivo ou à motivação, pode ter muitas

classificações. Segundo a mesma autora, atualmente existem algumas ofertas, “tour de dez

dias percorrendo vinhedos e vinícolas, para enólogos ou pessoas interessadas [...]”.

(BARRETO, 2003, p.20).

De acordo com Valduga (2007) o enoturismo pode assim ser definido:

Enoturismo, é um segmento do fenômeno turístico, que pressupõe deslocamento de pessoas, motivadas pelas propriedades organolépticas e por todo o contexto da degustação e elaboração de vinhos, bem como a apreciação das tradições, da cultura, gastronomia, das paisagens e tipicidades das regiões produtoras de uvas e vinhos. É um fenômeno dotado de subjetividade, cuja principal substância é o encontro com quem produz uvas e vinhos. (VALDUGA, 2007 , p. 43).

Conforme Souza (2008), “o enoturismo é um poderoso instrumento de valorização e

dignificação humana que encurta caminhos fortalece laços, consolida amizades e fomenta

negócios.” 17

De acordo com o entrevistado Fitarelli (2008) 18, “Enoturismo não é apenas vinho,

mas gastronomia, história, cultura, belezas naturais e diversificação de outros produtos.”

Paulus (2008) 19 define: “Enoturismo é a valorização do vinho, do espumante por pessoas que

buscam, através de inúmeras experiências, descobrir o vinho ou espumante que mais agrada

ao seu paladar, junto com uma experiência vivenciada”. (PAULUS, 2008).

6.2 Breve histórico do Enoturismo no mundo

A origem do enoturismo, assim como sua data ainda é uma incógnita, talvez por se

tratar de um estudo recente, ou pela falta de reunir todos os estudos em uma literatura

especializada no assunto. No entanto, sabe-se que em todos os locais do mundo onde se

encontram videiras e vinhos, há uma grande possibilidade de se desenvolver o enoturismo.

Cabe citar aqui que, conforme Phillips (2005), no início do século XVII, havia um

crescente interesse por vinho na Inglaterra e em outros lugares. Muitos viajantes que haviam

participado do Grand Tour, comentavam com freqüência, e de forma otimista, sobre a comida

17 www.enoturismobrasil.com.br/ acessado em 27/10/08. 18 Entrevista concedida no dia 05/06/08. 19 Entrevista concedida no dia 10/11/08.

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e a bebida encontrada em lugares como a Itália. Muitos destes viajantes eram atraídos pela

curiosidade sobre as terras estrangeiras. Vários destes viajantes mencionavam o vinho em

seus relatos. John Raymond trata sobre Albano, uma cidade que “merece ser visitada, se não

por sua antiguidade, ao menos por seu bom vinho – um dos melhores da Itália”. (PHILLIPS,

2005, p.193).

Outro fato curioso, talvez o mais antigo, sobre enoturismo registrado, aconteceu por

volta do ano 48 a.C. no Antigo Egito. Quando César (Imperador de Roma), em visita a este

país, declarando que desejava conhecer a cultura da terra de Cleópatra, (última rainha do

Antigo Egito) realizou uma viagem pelo Rio Nilo. Conforme estudos de Bencheley (2007), o

casal foi acompanhado por uma frota de 400 barcos. Ao longo de seis ou sete semanas de

navegação, conheceram cidades, templos, visitaram campos cobertos de trigo e de cevada, e o

mais importante, os vinhedos, herança Ptolomaica grande orgulho dos nobres egípcios.

De acordo com Splendor (2005, p.38), Donatella Colombini, presidente e fundadora

do (MTV), Movimento do Turismo do Vinho na Itália, o enoturismo é uma forma de fazer

excursões relacionadas ao vinho. Este movimento foi fundado em três de abril de 1993. A

associação disponibilizou para os turistas um roteiro de visitação às vinícolas, chamado de

“Cantina Aberta”, neste roteiro os enoturistas conhecem locais previamente estudados,

castelos, museus da cultura colonial, vinhedos e propriamente a degustação nas vinícolas.

A manifestação “Cantina Aberta” deu origem ao Wine Day (Dia do Vinho),

comemorado mundialmente no último domingo do mês de maio. Essa associação sem fins

lucrativos é responsável pela divulgação das diferentes rotas do vinho existentes ao longo do

país, aproximadamente 900 cantinas italianas estão cadastradas, cujo objetivo principal é

garantir a preservação do meio ambiente e da agricultura de qualidade, promovendo um estilo

de vida o mais natural possível, o que se torna um dos atrativos. (VALDUGA, 2007; LOCKS;

TONINI, 2004).

Cita ainda Locks e Tonini (2004) que, com a preocupação no controle da qualidade

da oferta turística e na divulgação da mesma, a associação “Cantina Aberta,” desenvolveu o

Decalogo dell’Accoglienza, agrupando todas as regiões enoturísticas que estavam associadas

ao Movimento do Turismo del Vino.

Este regulamento passou a usar como símbolo uma folha de parreira, para representar

o nível de qualidade do estabelecimento. Conforme o tipo de serviço, espaço, método e

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pessoas, o estabelecimento recebe a identificação de três a cinco folhas de videiras verdes.

Somente os que possuírem qualidade máxima pode chegar a cinco folhas douradas.

Um dos programas de desenvolvimento do Enoturismo na Europa foi apresentado no

dia 11 de abril de 2003 pela Assembléia das Regiões Vinícolas da Europa (AREV). A Carta

do Enoturismo da Europa pretende potencializar os diferenciais das regiões com vocação

vitivínicola, agrupando todos os envolvidos e permitindo aos enoturistas escolherem seu

destino em nível local, regional e nacional. Atualmente, na Europa, existem 216 rotas de

vinhos, subdivididas da seguinte maneira: 98 na Itália, 20 na Slovenia, 17 na Áustria, 16 na

Espanha, 15 na França, 15 na Hungria, 11 na Alemanha, 11 em Portugal, 6 na Grécia, 4 na

Croácia, 2 na Suíça e 1 Eslováquia. (LOCKS; TONINI, 2004).

Citam as mesmas autoras que, segundo o site da Winemaker of. Australia (WFA-

Federação das Vinícolas Australianas), no ano de 1993, 235 mil turistas estrangeiros visitaram

o país. Em 1999, 456 mil, sendo que o maior incremento é verificado nas regiões

vitivínicolas, que passaram a investir em outros serviços para atender o turista, como

alimentação e hospedagem. Para a maioria dos turistas, a compra de vinhos é a principal

motivação. Entre os turistas nacionais, predomina casais sem filhos, num faixa de 40 - 60

anos de idade, com educação de curso superior.

Uma pesquisa realizada em 1998 contabilizou aproximadamente três milhões de

visitantes em todas as vinícolas da Austrália, sendo que 81,9% eram turistas nacionais. Sendo

o principal motivo para as visitas a degustação e compra de vinhos. (VALDUGA, 2007).

De acordo com estatísticas fornecidas pelo Office Inernational de la Vigne et du Vin

(Escritório Internacional da Uva e do Vinho - OIV), verificou-se que, nos últimos quinze

anos, a produção e o consumo de vinhos reduziu. Segundo as autoridades internacionais

ligadas ao setor vitivínicola, embora o consumo esteja em declínio, o consumidor está em

busca de maior qualidade, pois o que reduziu foi a elaboração de vinhos comuns. Em

compensação, aumentou a elaboração de vinhos finos. As mesmas estatísticas apontam os

fatores que contribuíram para a diminuição do consumo de vinhos, se destacam, por exemplo:

o desconhecimento da bebida pelos jovens, o alto preço do produto (altas taxas

administrativas e alíquotas de impostos) e a falta de campanhas publicitárias e educativas

sobre os benefícios da bebida. Com a divulgação do enoturismo e a formação de profissionais

capacitados aos poucos este segmento de mercado tende a crescer cada vez mais. (LOCKS;

TONINI, 2004).

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Na visão de Pacheco e Silva (2001, p. 331) “os profissionais da área de serviços

turísticos devem, cada vez mais, se adaptar aos novos interesses desse público, buscando

conhecimentos que lhes permitam diferenciar e valorizar seu trabalho.”

Segundo Locks e Tonini (2004), as visitas organizadas aos roteiros enoturísticos de

países tradicionais como a França, Itália, Portugal, Espanha e Alemanha são comparadas

como as visitações aos monumentos e museus. O grande diferencial encontrado nestes países

europeus é a oferta gastronômica como atrativo cultural, pois esta reflete e concentra a

história, tradição e evolução destes povos. Além disso, considerarem o vinho como

patrimônio cultural.

Outro fator que tem contribuído para o aumento do consumo do vinho são as

publicações sobre seus benefícios para a saúde. Muito se fala e se escreve sobre a

harmonização dos vinhos com os cardápios da gastronomia. E especula-se sobre os seus

benefícios para o coração.

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7 OS MUNICÍPIOS QUE FIZERAM O ENOTURISMO NA REGIÃO UVA E VINHO

Neste capítulo serão apresentados os municípios foco desta pesquisa, tendo em vista

que o recorte para esta pesquisa privilegiou os mais desenvolvidos enoturisticamente na

atualidade e, também, limitou-se ao tempo da mesma.

7.1 Breve histórico e apresentação do município de Bento Gonçalves

Até o ano de 1870, Bento Gonçalves denominava-se de Cruzinha. Alguns dizem por

ser o local onde morreu e foi enterrado um traçador de estradas; outros dizem que a cruz era o

túmulo de um tropeiro. No mesmo ano, o Governo da Província através de seu Presidente do

Estado do Rio grande do Sul, João Sertório, criava as Colônias Dona Isabel e Conde D’Eu.

A demarcação dos lotes das duas novas Colônias exigiu um investimento de 70

contos de réis. Em 1873, alguns imigrantes começam a chegar e ocupar 20 lotes da Colônia

Dona Isabel. Os imigrantes ficavam abrigados em barracões, alimentando-se de caça, pesca e

frutos silvestres e do pouco que era fornecido pelo governo. Depois de instalados, iniciaram

uma agricultura de subsistência. Com os excedentes agrícolas e a criação de animais, surgem

as primeiras indústrias artesanais. A troca compra e venda de produtos era feita na sede da

Colônia.

De Paris (2006), Fagherazzi (2005) e Costa (1999), citam que, em 24 de dezembro de

1875, imigrantes do norte da Itália ocupam as terras de Dona Isabel. As dificuldades nos

primeiros tempos foram enfrentadas com muito sacrifício, fé e coragem. No lombo do cavalo

ou a pé desciam até Montenegro para moer os cereais, para terem farinha. Em 1881 é iniciada

a construção da estrada, ligando as Colônias Dona Isabel, Conde D’Eu e Alfredo Chaves

cortando o norte do Estado. A atual RST-470, chamada na época de Buarque de Macedo

sendo a mais antiga via do Rio Grande do Sul a ligar Montenegro até o Estado de Santa

Catarina. Assim os produtos da Colônia Dona Isabel e Conde D’Eu eram levados em carroças

para Montenegro e Porto Alegre.

A arte de elaborar vinhos inicia na metade da década de 1885, quando surgem uns

dos primeiros estabelecimentos vinícolas na Colônia Dona Isabel.

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Augusto Pasquali & Irmãos- estabelecimento fundado em 1885, pelo imigrante italiano Alexandro Pasquali, elaborava vinhos e queijos, comercializados em todo o país. Chegou a produzir em 1925, 45.000 litros de vinho e 100.000 quilos de queijo. A indústria mantinha uma filial em São Paulo, denominada Nardon Cia. (DE PARIS, 2006, p. 112).

No dia 11 de outubro de 1890, a Colônia Dona Isabel foi desmembrada de São João

de Montenegro, pelo Governador do Estado General Cândido Costa, com a denominação de

Bento Gonçalves em homenagem ao General Bento Gonçalves de Lima e Silva20. A

jurisdição político-administrativa das colônias italianas Dona Isabel e Conde D’Eu estava

consignada ao Município de São João de Montenegro, constituindo-se o 4º Distrito, com sede

na Colônia Dona Isabel. Em 1919 chega o tão esperado trem, vários estabelecimentos foram

transferidos para as proximidades da Estação Férrea, dentre eles pode-se citar a Casa

Comercial Dall Mollin21 e a Vinícola Riograndense.22

Depois de 25 anos de colonização, relata De Paris (2008), foi iniciada uma

divulgação na Capital e demais regiões do Rio Grande do Sul, onde médicos compreenderam,

também, que a alimentação do imigrante italiano era saudável e a região era chamada de Serra

não só pelas montanhas, mas pelos ventos que podiam trazer benefícios à saúde. Uma região

onde o visitante podia vislumbrar distantes horizontes. Estes visitantes começaram a se

estabelecer nas casas dos moradores locais, estes queriam conhecer os hábitos dos imigrantes,

sua cultura e seu modo de viver.

O principal atrativo, no início do desenvolvimento do turismo em Bento Gonçalves,

segundo o relato da mesma entrevistada:

“[...], era a cultura italiana, esta era diferente e o povo era alegre, as pessoas visitavam a região e os imigrantes se sentiam confiantes em receber os visitantes em suas casas, eles mostravam tudo que tinham, tomavam café junto e tinham vinho a oferecer. (DE PARIS, 08).

20 General Bento Gonçalves de Lima e Silva, foi presidente da República Piratini em 1835, proclamada pelos revolucionários Farrapos - Revolução Farroupilha. 21 Casa Comercial Dall Mollin Era considerada uma das mais importantes casas de comércio do Estado, chegando a participar da Exposição do Cinqüentenário de Porto Alegre, divulgando a indústria e o comércio do município. Exportava gêneros alimentícios (queijos e produtos suínos), para a Itália, Alemanha, França e Inglaterra (DE PARIS, 2006, p.110). 22 Vinícola Riograndense: foi fundada em 22 de julho de 1929, com a denominação de Sociedade Vinícola Riograndense, foi considerada por muitos anos como a maior produtora de vinhos do país. Sua matriz estava localizada em Porto Alegre e tinha estabelecimentos em Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Garibaldi, e em Flores da Cunha estava situado o principal vinhedo denominado Granja União, considerado o maior centro brasileiro de uvas de castas finas (Centenário da Imigração Italiana - RS, 1975, p.364).

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Com o passar do tempo grandes parreirais foram surgindo, algumas propriedades

passaram a plantar plátanos, para substituir as taipas de pedras. O plátano, na primavera, com

seu pólen começou a complicar o ar dos veranistas, sendo que os mesmos temiam que fizesse

mal à saúde, principalmente para os que tinham problemas de brônquios, asma ou difícil

respiração. Sobre o mesmo tema, turismo, De Paris (2008) acrescenta que a Ponte Ernesto

Dornelles, através de sua arte ajudou a projetar e atrair visitantes à região.

Em janeiro de 1943, chega a primeira turma do 1º Batalhão Ferroviário, vinda de

Santiago, que provoca uma nova imigração para a cidade.

No período de 1948 - 1955, Bento Gonçalves é muito bem representado na

vitivinicultura, sendo que possuía uma das maiores áreas de parreiras do país, com uma

produção anual de 25.900 toneladas de uvas. Este município esta localizado na Encosta

superior do Nordeste, na Serra Gaúcha. Com altitude média de 618 metros, apresenta clima

subtropical e quatro estações bem definidas. Possui uma área geográfica de 382,5 km² e uma

população de 100.643 habitantes (PREFEITURA MUNICIPAL DE BENTO GONÇALVES,

200723). Esta situado a 115 km de Porto Alegre, Capital do Rio Grande do Sul. Seu PIB é de

R$ 2.367.582,00 e sua Renda per capita de R$ 22.763,00 (dados de 2006). A base da

economia é a indústria, com destaque ao setor moveleiro e vinícola. No Índice de

Desenvolvimento Humano – IDH ocupa o 1º lugar no Estado e a 6ª posição no Brasil (dados

de 2003).

7.2 Breve histórico e apresentação do município de Caxias do Sul

A história de Caxias do Sul inicia bem antes da chegada dos imigrantes italianos. De

acordo com Brambatti (2002), a primeira picada que se tem notícia em direção à futura

Colônia situada aos “Fundos de Nova Palmira” foi aberta por Antônio Machado de Souza, em

1864. A região, já ocupada por indígenas, foi percorrida por tropeiros em busca de gado

alçado que fazia dos campos gaúchos seu habitat. De 1875 e início de 1877, foi denominada

"Campo dos Bugres". A ocupação por imigrantes italianos em sua maioria camponeses

provenientes da região do Vêneto (Itália) deu-se a partir de 1875, localizando-se em Nova

Milano.

23 Disponível em www.bentogoncalves.rs.gov.br. Acessado em 16/10/2008.

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Embora tivessem ganhado auxílio do governo, através de ferramentas, alimentação e

sementes, esse auxílio teve que ser reembolsado aos cofres públicos. Dois anos após, a sede

da colônia do Campo dos Bugres recebeu a denominação de Colônia de Caxias. Em 1884,

expira-se o prazo para emancipação das Colônias Imperiais, sendo que, no mesmo ano, a

Colônia se emancipa e passa a ser distrito de São Sebastião do Cai, em 12 de abril.

No dia 20 de junho de 1890 foi então criado o Município e, em 24 de agosto do

mesmo ano, foi efetivada a sua instalação.

No dia 1º de junho de 1910, Caxias foi elevada a categoria de cidade e, neste mesmo

dia, chegava o primeiro trem, ligando a região à Capital do Estado.

Os Imigrantes eram agricultores, porém, muitos deles possuíam outras profissões. O

cultivo da videira e a elaboração de vinho marcaram a evolução e a identidade de um povo

que acreditou no trabalho.

Num primeiro momento, este vinho era para consumo próprio e mais adiante para

comercialização. A indústria vinícola na década de 60 chegou a ser a principal da região de

colonização italiana. No interior nasciam as cantinas familiares e os parreirais ocupam os

espaços destinados a outras culturas, na cidade expandiam-se as vinícolas. A qualidade do

vinho era uma busca constante, surgiram as cooperativas, oferecendo alternativas

protecionistas ao setor. Na década de 30, muitas cantinas coloniais foram incorporadas pelas

grandes vinícolas, estas já possuíam um complexo de atividades: parreirais, tanoarias,

vidraçarias e empalhamento de garrafões. Mesmo com dificuldades a produção de vinhos

crescia significativamente. Nos anos 70, a vitivinicultura continuava a ocupar destaque na

economia local, mas a tecnologia de produção permanecia estacionada e com poucos ou

talvez sem recursos para novos investimentos, algumas vinícolas começam a enfraquecer e a

mostrar sinais de falência.

Na localidade de Vila Forqueta, no ano de 1929, foi fundada a primeira Cooperativa

Vitivínicola da América Latina por um grupo de pequenas famílias em um momento de

dificuldade em que o setor estava passando. Através da uva e do vinho, Caxias se notabilizou,

sendo o berço do turismo do Estado quando em 1931, lançava a maior festa do sul: a Festa da

Uva. Este município esta localizado na Encosta superior do Nordeste, na Serra Gaúcha e

apresenta altitude média é de 760 a 800 metros. O clima é subtropical. Possui quatro estações

bem definidas. Sua área geográfica é de 1.588,4 km² e conta com uma população de 412.053

habitantes (2006). Esta situado a 130 km de Porto Alegre. Suas principais vias de acesso são

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a BR 116 e RST 122. Seu PIB é de 8,1 milhões (2004) e sua Renda per capita de R$

20.485,00 (2004). A base da economia é a indústria 50,01%; comércio e serviços, 38% e

agropecuária 4,51%.24

7.3 Breve Histórico e apresentação do município de Flores da Cunha

Segundo os historiadores, a colonização de Flores da Cunha começou em 1877, com

a chegada das famílias vindas do Vêneto, Piemonte e Treviso. Em 1878, chegaram mais

famílias de imigrante italianos vindos, principalmente, de Cremona e do Trento. No início

surgem dois pequenos povoados formados por ranchos cobertos com cascas de pinheiros,

sendo um o de São Pedro, onde hoje se encontra a sede do município, e o outro de São José, a

um quilômetro a leste. Mais tarde este povoado extinguiu-se, devido à falta de água.

Aumentada a capela de São Pedro, muitos queriam que ela fosse chamada de Nova Tirol, em

homenagem à terra de origem e outros preferiam que fosse Nova Cremona, e assim por

diante. Numa certa manhã encontraram uma placa de quatro metros pendurada no pinheiro

mais alto da praça, onde estava escrito, a carvão, “Nova Trento”, e o nome foi adotado.

Quando nasceu o município de Campos dos Bugres (Caxias do Sul), Nova Trento foi o 2º

distrito.

Em maio de 1924, Nova Trento tornou-se município. Em 1935, por decreto do

Governo Municipal, passa a se chamar Flores da Cunha. Este município esta localizado na

Encosta superior do Nordeste, na Serra Gaúcha. A altitude média é de 710 metros, apresenta

clima subtropical tipo serrano. Possui uma área geográfica de 253 km² e uma população de

23.678 habitantes (2000). Esta situado a 150 km de Porto Alegre. Sua economia é baseada

na agricultura e indústria, atualmente detém o titulo de maior produtor de vinhos e de 2º maior

produtor de uvas do país25.

Em função da forte produção vitivinícola, é fundada, em 23 de janeiro de 2002, a

Associação de Produtores dos Vinhos dos Altos Montes – Apromontes26, uma associação de

dez vinícolas localizadas nos municípios de Flores da Cunha e Nova Pádua.

24 Dados do site www.caxiasdosul..rs.gov.br Acesso em 16/10/2008. 25 Dados do site ww.floresdacunha.rs.gov.br . Acesso em 16/10/2008. 26 Apromontes - esta localizada no Villa Borghese Albergo, a Apromontes tem uma central de atendimento aos turistas que desejam obter mais informações sobre a Rota dos Vinhos dos Altos Montes, atendendo de segunda-feira a sábado.

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7.4 Breve histórico e apresentação do município de Garibaldi

Em maio de 1870, o Presidente da Província do Rio Grande do sul, Dr. João Sertório,

desejando ampliar a área de colonização, criava as Colônias de Dona Isabel e Conde D’Eu,

em terras devolutas do Planalto. A divisão em lotes custou à Província quase setenta contos de

réis e, mais tarde, quando iniciado o povoamento, as terras seriam devolvidas ao Governo

Imperial. Os imigrantes alemães, temendo os índios e feras, não chegaram a povoar estas

terras. O mesmo aconteceu com os descendentes portugueses, estes não apreciavam esta

região, devido ser pouco apropriada à criação de gado bovino.

Em 1875, é aberta a Linha Colonial Figueira de Melo, ao longo da qual e da Estrada

Geral estavam disseminadas 790 pessoas em 348 lotes demarcados. Destas pessoas, 48 eram

francesas, sendo que o Presidente da Província, Dr. José Antônio de Azevedo Castro,

anunciava terem sido mandadas para servirem de núcleo e 729 eram italianos que tinham

vindo espontaneamente à Província, sem que seus nomes contassem nas listas de imigração.

No ano de 1876, foi construído um galpão para abrigar os colonos, bem como abrir uma

picada na Linha Figueira de Melo.

Oficialmente, a primeira família italiana vinda a Conde D’Eu, no ciclo da imigração,

foi a de Cirilo Zamboni, que contava com 33 anos de idade, quando se instalou no pequeno

núcleo em 15 de novembro de 1875, onde já se encontravam imigrantes de famílias suíço-

francesas. No fim de 1876, chegam novas levas de imigrantes italianos.

Escassos são os documentos da época, mas tudo indica a precariedade em que se

encontravam os imigrantes. Mesmo assim, os colonos trabalhavam, construíam casas, abriam

suas roças, plantavam, enfim, sobreviviam apesar de todas as dificuldades. Em 1878, o

Presidente da Província queixava-se das dificuldades que os imigrantes enfrentavam, visto

que muitos estavam na dependência dos subsídios pagos pelos trabalhos em estradas.

Em 1° de setembro de 1886, foi erigida a primeira capela no lugar denominado Santo

Antônio, sendo seu pároco o padre Bartolomeu Tiecher.

Finalmente, em 11 de outubro de 1890, o Governo do Estado desmembrava as

colônias Conde D’Eu e Dona Isabel, do município de Montenegro, passando ambas a

constituírem o município de Bento Gonçalves.

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Para desenvolver a vitivinicultura no município, Aurélio Porto27, promoveu a

primeira Exposição de Uvas de Garibaldi, nos dias 24 a 26 de fevereiro de 1913, onde

compareceram 133 expositores de uvas, com 38 diferentes variedades, e 20 expositores de

vinhos. Em 1914, realiza a segunda Exposição de Uvas, nos dias 12 a 15 de fevereiro, onde

participaram 268 expositores. (GIRONDI, 2007, p. 24; COSTA, 1999, p. 102).

Costa (1999), afirma que o município de Garibaldi no ano de 1913, possuía uma

população de aproximadamente 17 mil habitantes e, Bento Gonçalves, aproximadamente 25

mil habitantes. Por Decreto de 31-10-1900, foi desmembrado o território do Município e a ex-

colônia Conde D’Eu passou à categoria de Município com a denominação de Garibaldi. “O

sábio governo do Estado, sob a égide de um Júlio de Castilhos e de um Borges de Medeiros,

ao declarar autônomo de Bento Gonçalves quis glorificar e imortalizar um se seus filhos na

gloriosa epopéia de 1835, Garibaldi: ‘o herói dos dois mundos’.” (DE PARIS, 2005, p. 82).

Conforme Girondi (2007), em 1900, muitas pessoas vinham conhecer o local, já com

a intenção de residirem, sendo que era considerado o município mais desenvolvido de toda a

região. Com a emancipação, em 1904 surge o Clube Borges de Medeiros, que na época

serviria concomitantemente de teatro, cinema, salão de festas e de palco para a 1ª Exposição

de Uvas.

O turismo nasce oficialmente com a inauguração da Estação Férrea de Carlos

Barbosa e Garibaldi em 1917, quando junto com o trem chegam os turistas ou veranistas,

chegam também às pessoas que por indicação médica que procuravam a Serra Gaúcha para

tratarem doenças pulmonares. A cidade oferecia uma boa rede hoteleira como o Hotel

Casacurta, Hotel Faraon, Hotel do Comércio, Pensão familiar da Dona Emilia Dornelles e

Pensão Farroupilha. Com o passar dos anos o turismo se consolida, tendo como principal

evento, da década de 70, a inauguração da primeira Estação Artificial de Esqui do Brasil28,

27 Aurélio Porto- foi o 3º Intendente no período de 1910 – 1917. Nasceu em Cachoeira do Sul, em 1879, descendente do herói farroupilha Jacinto Guedes. Faleceu em 1945. Foi intendente de Garibaldi e Montenegro. Dirigiu e redigiu vários jornais, lançou os Fundamentos do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, e mais tarde, da Academia Sul- Riograndense de Letras. Foi escritor, jornalista, ensaísta, genealogista e orador, teatrólogo e um dos mais notáveis historiadores do Rio Grande do Sul. Preocupou-se com o social, fundou escolas, construiu novas estradas, melhorou a energia elétrica e telefonia. Em 1913, compôs a letra do Hino às Uvas, com música do Maestro Francisco Zani. (GIRONDI, 2007, p. 25). 28 A pista de Ski D. Santini, fundada em 24/08/68. Inicialmente foi denominada Estação de Eski Presidente Médici, por ser este o primeiro Presidente do Brasil, da origem da colonização italiana. Foi a primeira pista artificial de esqui da América Latina. Possuía infra-estrutura de parque, pista artificial de 350 metros, pista de esqui para iniciantes, teleférico com 40 cadeirinhas, tobogã de 280 metros, restaurante panorâmico, chalés de montanha, artesanato e maquete da Serra Gaúcha. Todos os anos, no frio do mês de julho, aconteciam o Campeonato Brasileiro de Esqui, podia contar com concorrentes de todos os estados brasileiros e a Competição

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fato que colocou Garibaldi nas rotas turísticas do país. Entre os eventos, destacam-se o

Festival do Frango e do Vinho e a Fenachamp, que se mantém até hoje.

Segundo Bellini (2008)29, em 1918, algumas comitivas oficiais provindas da Itália

chegam a Garibaldi. Os moradores locais enfeitaram suas casas, colocavam lanternas

venezianas nas janelas, portas, sacadas e paredes. As ruas foram enfeitadas com bandeiras

italianas, brasileiras e lampiões, foi uma recepção muito calorosa, onde os visitantes se

impressionaram com a hospitalidade local, foi um momento inesquecível. Os jornais de Porto

Alegre publicavam: “Milhares de estrelas iluminaram as ruas de Garibaldi”. (BELLINI,

2008).

Conforme o mesmo entrevistado, os Irmãos Maristas fundaram a Vinícola Pindorama

e plantaram parreirais de cepas européias e, em 1908, elaboram seus primeiros vinhos. No ano

seguinte, seu primeiro espumante é elaborado. Vitório Espac, engenheiro prático, constrói as

primeiras máquinas para auxiliar no processo dessa bebida, tanto na elaboração quanto no

engarrafamento.

A indústria vinícola, a partir de 1924, passa a formar a base da economia do

município, com grandes vinícolas conhecidas em todo o país, tais como: a Cooperativa

Garibaldi (a maior da América do Sul, no gênero, fundada em 1936), a Cooperativa

Tamandaré, a Vinícola Armando Peterlongo (produtor do famoso champagne que leva seu

nome), a Carraro - Brosina & Cia. (produtora dos vinhos Palácio), a Vinícola Riograndense e

a Granja Santo Antônio (dos irmãos Maristas).30

Da mesma forma, lembra-se que Garibaldi está localizado na Encosta superior do

Nordeste, na Serra Gaúcha. A altitude média é de 613 metros. Apresenta clima subtropical,

quatro estações bem definidas e possui uma área geográfica de 181,2 km² que abriga uma

população de 29.709 habitantes É privilegiado por apresentar uma boa malha rodoviária,

tendo acesso pelas rodovias RST 470, RST 453 - Rota do Sol, BR 116, RST 240, RST 446 e

RST 122. Esta situado a 105 km de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul.31 Seu PIB é

de US$ 397 milhões (2006) e sua Renda per capita de R$ 23.502,00 (2005). A base da

Brasileira de Esqui, acontecia dentro da semana de Garibaldi. Atualmente este parque esta desativado. www.geocities.com/TheTropics/Paradise/6624/esqui.htm, acessado 08/09/08. 29 Entrevistado em 11/07/2008. 30 Informações obtidas no Arquivo Histórico Municipal de Garibaldi. 31Dados disponíveis no site www. garibaldi.rs.gov.br – Acesso em 16/10/08.

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economia é a indústria metalúrgica, moveleira, alimentícia e metalúrgica. (GARIBALDI,

2008).

7.5 Breve histórico e apresentação do município de Monte Belo do Sul

O município de Monte Belo do Sul situa-se na região da Encosta Superior do

Nordeste do Rio Grande do Sul, no contexto da Serra Gaúcha, a principal produtora de vinhos

do Brasil. Seu território assim como o do município de Santa Tereza, integrou a área da

Colônia Dona Isabel, atual município de Bento Gonçalves, sendo colonizado por imigrantes

italianos, das regiões do Vêneto, Piemonte e da Lombardia, que chegaram a partir de 1876.

Em 13 de dezembro de 1888 é elevada à categoria de freguesia, a povoação de Linha

Zamith, sob a invocação de São Francisco de Assis, fixando-lhes limites. Em 1888 passou a

chamar-se Montebello. Nos anos de 1945 a 1949 passa-se a chamar de Caturetã (em

linguagem indígena significa povoado bonito). De 1950 a 1992 denominou-se Monte Belo e,

em 20 de março de 1992, quando emancipado, Monte Belo do Sul. (RAZADOR, 2005).

Os imigrantes exploraram suas pequenas propriedades com trabalho exclusivamente

familiar. A superação do isolamento dos imigrantes em seus lotes materializou características

que marcam a identidade cultural do município: a criação de comunidades, voltadas,

sobretudo na religiosidade das igrejas e capitéis, e a salões e clubes, em locais escolhidos para

serem sedes das comunidades ao longo das linhas.

O plantio de videiras iniciou-se por volta de 1878 e, em 1880, já havia uma pequena

produção de vinhos, elaborados nos porões das casas feitas de basalto. Nas primeiras três

décadas do século XX, em toda a região de colonização italiana, a policultura vai

desaparecendo gradativamente cedendo lugar à expansão da viticultura. Leis estaduais e

federais promulgadas nas décadas de 1920/1930, especialmente relativas à higiene na

elaboração de alimentos, centralizam a produção de vinhos em grandes vinícolas localizadas

nas cidades, algumas das quais instalaram, posteriormente, centrais de recebimentos da

colheita, o que dificultou o desenvolvimento de vinícolas locais.

O comércio local foi se desenvolvendo com o passar dos anos, como cita Razador

(2005), a família Franzoni possuía casa de comércio, cantina de vinhos e licores (em 1913 já

produzia 15.000 hl anuais), fábrica de queijos, salames e serraria e mulas para o transporte de

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mercadorias. Possuía filiais em Porto alegre e São Paulo. Em 1930, a família Scanzili

construiu cantina de vinhos. Funcionou neste ano também uma agência do Banco Pelotense.

Em 1889, é oficialmente criada a Paróquia de São Francisco de Assis. Dez anos mais

tarde, a pedido do Padre Francisco Piccoli instalaram-se as Irmãs do Imaculado Coração de

Maria, neste mesmo ano começa a funcionar a Escola Sagrada Família. No ano de 1936, para

fazer frente à crise econômica, a Escola recebeu veranistas. Em 1989 a Escola cessou suas

atividades, devido a inexistência de interessadas na formação religiosa.

Em 10 de abril de 1955, na celebração da festa da Páscoa, foram realizadas as

últimas funções na igreja velha e, no dia 15 do mesmo mês, começa a demolição da igreja. No

dia 17 de janeiro de 1965, é inaugurada a nova igreja com a presença do grande idealizador -

Padre José Ferlin, do Bispo Diocesano e do Governador do Estado - Dr. Hildo Meneghetti,

além de inúmeras autoridades e fiéis. (RAZADOR, 2005).

O município que serviu de cenário para gravação da novela da Globo, Esperança

(capítulos finais) e do filme Saneamento Básico, também é conhecido como o berço da

vitivinicultura da Serra Gaúcha. Destacam-se na produção de cítricos, leite,

hortifrutigranjeiros e agricultura de subsistência.

Realiza diversos eventos, ligados a cultura local, entre eles: Festa de Abertura da

Vindima; O Polentaço e o Festival do Artesanato Dança e Música.

Seguindo os passos do Vale dos Vinhedos e de Pinto Bandeira (distrito de Bento

Gonçalves), Monte Belo do Sul busca a delimitação geográfica. Os avanços dos trabalhos

desta futura Indicação Geográfica de seus vinhos e espumantes tendem a valorizar ainda mais

a produção local de vinhos de qualidade, de origem controlada, que expressam a identidade da

região.

A área para a Indicação Geográfica Monte Belo do Sul, foi delimitada de modo a

privilegiar a homogeneidade em termos de fatores como altitude, cuja média é de 691 metros,

bem como a valorização da paisagem e a preservação ambiental, pela preservação da mata

nativa que forma um cinturão entorno da área. Esta demarcação abrange parte dos municípios

de Monte Belo do Sul (4.114,6 hectares), Santa Tereza (381,08 hectares) e Bento Gonçalves

(553,48 hectares), totalizando 5.049,02 hectares.

O clima característico da Serra gaúcha é distinto do encontrado na maioria das outras

regiões vitícolas mundiais, com verões temperados e úmidos, possibilitando o cultivo da

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videira. Esses fatores possibilitam a obtenção de vinhos brancos, tintos e espumantes, com

uma tipicidade própria.

A identidade cultural também se destaca a influência dos imigrantes italianos e seus

descendentes. As casas centenárias de basalto ou de madeira fazem parte dessa identidade,

bem como os capitéis, uma característica do apego religioso e o uso de plátanos e pedras para

sustentação das videiras.

Onze vinícolas, reunidas desde 2003, fazem parte da área demarcada. São cultivados

segundo dados do Cadastro Vitícola 2007, 2.450 hectares de videiras, sendo 800 delas de

variedades de uvas finas. (EMBRAPA UVA E VINHO, 2008). Este município esta localizado

na Encosta superior do Nordeste, na Serra Gaúcha. A altitude média é de 691 metros,

apresenta clima subtropical, quatro estações bem definidas. Apresenta uma área geográfica de

70 km² e uma população de 2.879 habitantes (2007). Esta situado a 137 km de Porto Alegre,

Capital do Rio Grande do Sul. Seu PIB é de R$ 64.497,00 e sua Renda per capita de R$

22.559,00. A base da economia é a agricultura, principalmente o cultivo da uva. A taxa de

analfabetismo chega 0, 956% e a expectativa de vida aos78 anos. (MONTE BELO DO SUL,

2007).

7.6 Breve histórico e apresentação do município de Veranópolis

A colonização de Veranópolis teve inicio em 1884, por uma leva de imigrantes

italianos e, algum tempo depois, por um grupo de famílias polonesas. Os primeiros imigrantes

italianos eram oriundos das províncias de Vicenza, Pádua, Treviso, Cremona, Mântua, Beluno

e Tirol. No inicio foi construído um barracão32 que destinava a alojar provisoriamente os

imigrantes. Esta construção, provavelmente, gerou o nome de “Roça Reiúna”, que significa

“Roça do Rei”, isto é, de ninguém e de todos. No dia 31 de maio de 1892, através do decreto

do governo provisório, a colônia foi elevada a categoria de “vila”, com a denominação de

Benjamin Constant. No dia 15 de julho do mesmo ano, este ato foi anulado, volta novamente

a ser colônia, ou seja, distrito de Lagoa Vermelha.

32 Grande casa feita com a utilização de madeiras rústicas (troncos), que servia para abrigar os imigrantes, na sua

chegada.

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Em 1893, durante a Revolução Federalista33 que abalou o Estado, a vila por diversas

vezes foi ocupada por forças militares, de um ou de outro lado. Depois de muitos sacrifícios

tanto materiais como em vidas humanas, somente em 1894 as coisas melhoram.

A elevação definitiva de Vila chegou em 15 de janeiro de 1898, com o

desmembramento de Lagoa Vermelha, passando o lugar a chamar-se de Alfredo Chaves. Em

26 de fevereiro de 1941, o município passa a ser denominado de Veranópolis, (que significa

“cidade veraneio”) por sugestão do escritor e poeta Mansueto Bernardi. (ARQUIVO

HISTÓRICO DE VERANÓPOLIS).34

A cultura da maçã foi introduzida na localidade de Lajeadinho pelo agricultor José

Bin, que trouxe as mudas da Argentina. A 1ª Festa Municipal da Maçã foi em 1971, ganhando

dimensões de Festa Estadual em 1973. Já, em 1976, passa a se denominar de Festa Nacional

da Maçã, hoje em sua sétima edição. Assim, Veranópolis ficou conhecida como o “Berço

Nacional da Maçã”.

Em maio de 1981, uma reportagem publicada na página 52 da Revista Geográfica

Universal, constava que médicos e sociólogos de diversas nacionalidades, dedicados aos

estudos da gerontologia, citavam Veranópolis entre os locais mundiais considerados como

favoráveis ao prolongamento da vida humana. Isto levou a ser lançado um folder turístico,

onde despontava a seguinte frase: “É considerada, por técnicos da Organização Mundial de

Saúde, como Cidade da Longevidade35, primeira no país e terceira no mundo. A partir disso,

Veranópolis ganhou grande impulso, atingiu renome nacional e internacional, e impulsionou o

turismo não só municipal, mas regional. (VERANÓPOLIS, 2008). Este município esta

localizado na Encosta superior do Nordeste, na Serra Gaúcha. A altitude média é de 705

metros. Apresenta clima subtropical e quatro estações bem definidas, em uma área geográfica

de 289 km² e uma população de 23.904 habitantes em 2007. Esta situado a 170 km de Porto

Alegre, Capital do Estado. Seu PIB é de R$ 347.786,640 (2002) e sua Renda per capita de R$

17.219,00 (2006). A taxa de analfabetismo é de 4,55% (2000).

33 A Revolução Federalista ocorreu no sul do Brasil logo após a Proclamação da República, e teve como causa a

instabilidade política gerada pelos federalistas, que pretendiam "libertar o Rio Grande do Sul da tirania de Júlio Prates de Castilhos", então presidente do Estado.

34 Pesquisa realizada em 4/9/2008 35 Pelos dados obtidos entre 1996 e 2000, sabe-se que, em números redondos, a média de expectativa de vida

registrada é a seguinte: Brasil -68 anos; Rio Grande do Sul -72; Veranópolis -78 anos. (Fonte: Prefeitura municipal de Veranópolis, setembro de 2008).

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8 HISTÓRIA DO ENOTURISMO NA REGIÃO UVA E VINHO – SERRA GAÚCHA

Na Serra Gaúcha, há uma transposição da cultura do vinho. Isso porque suas forças

combinam com um hábito de números crescentes: o fazer turismo. A chegada de visitantes em

busca de degustação, passeios nos parreirais e outros prazeres já representa entre 30% e 35%

da economia do Vale dos Vinhedos, esta pequena região formada pelos principais produtores

de uva e de vinho do país: Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul. “Para algumas

vinícolas de menor porte, essa fatia atinge 50%”, afirma Valduga (2007, p. 26).

Brambatti (2002) destaca, ainda, que na década de 70 foi construído um Roteiro

denominado de “Roteiro dos Parreirais” abrangendo o município de Flores da Cunha.

Figura 2 - Primeiro roteiro de Enoturismo de Flores da Cunha

Fonte: Floriano Molon, Flores da Cunha.

Cita Balico (2005) que, na década de 1950, a Dreher S/A de Bento Gonçalves, já

possuía um departamento especial com a finalidade de atender os turistas, onde recepcionistas

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tipicamente trajadas, percorriam o interior do estabelecimento explicando o processo de

elaboração dos vinhos e derivados da uva.

O entrevistado Dal Pizzol (2008) cita que, no Rio Grande do Sul, o enoturismo

oficialmente começou na Serra Gaúcha na década de 1930, em Caxias do Sul, com a

realização da I Festa da Uva e complementa: “nos anos de 1984 e 1985, a média de

enoturistas que visitaram a empresa Maison Forestier era entorno de 65 a 70 mil visitantes

ano, e o faturamento médio era de onze (11) a doze (12) dólares por pessoa”. Paulus, em sua

entrevista (dia 10/11/08), afirma que, durante todo o período de funcionamento da Maison

Forestier, a folha de pagamento era custeada integralmente com os recursos provenientes do

enoturismo.

Com o passar das décadas, o enoturismo vem ampliando sua importância econômica

na Região, sendo que, conforme o entrevistado Miolo (2008),36 “atualmente o enoturismo é

responsável por 4% do faturamento total da empresa (Vinícola Miolo), isto é muito

importante...” No ano passado aproximadamente 120.000 visitantes estiveram na Miolo; este

ano são esperados aproximadamente 10.000 a mais.

A importância vai além da geração de renda. O enoturismo tem sido responsável pela

geração de inúmeras vagas de emprego. Conforme Valduga; J. (2008) 37 somente a Casa

Valduga, recebe anualmente em media de 60 a 70 mil turistas/ano e, graças ao enoturismo, o

empreendimento emprega 168 pessoas diretamente nos seus mais diversos serviços,

hospedarias, restaurantes, vinhedos e vinícola.

Os números expressam a importância da atividade para a Região. Em média 150.000

turistas visitam, anualmente, a Cooperativa Vinícola Aurora. Atualmente, o enoturista

representa o 2º maior cliente em rentabilidade. (FRARE, 08). Na George Aubert, o enoturista

era o melhor cliente da empresa, afirma Ferreira (2008). Mesmo para uma multinacional

como a Chandon, o enoturismo já possui grande representatividade, representando, em 2007,

quando foram contabilizados 5.391 visitantes. (CATTANI, 2008).

A roteirização do enoturismo tem ajudado no fortalecimento da identidade da

atividade na Região Uva e Vinho. Conforme o entrevistado Milan (2008),38 o Vale dos

Vinhedos vem atraindo cada vez mais enoturistas. A prova disso tudo mostra que, em 2001,

mais de 45 mil turistas visitaram a rota; em 2006, 105 mil, e em 2007, 120 mil turistas

36 Entrevista concedida no dia 30/09/08. 37 Entrevista concedida no dia 25/09/08. 38 Entrevista concedida no dia 26/08/08.

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visitaram o Vale. Para este ano esta previsto mais de 130 mil, sendo que o primeiro semestre

já registrou 109 mil visitantes.

Conforme citado anteriormente, a elaboração oficial de vinhos no Rio Grande do Sul

é marcada com a chegada da imigração italiana em 1875, com estes imigrantes vieram seus

hábitos e as tradições, principalmente no cultivo da videira. A forte influência desse povo

rendeu temas de novelas consagradas, minisséries e até filmes como O Quatrilho, indicado ao

Oscar em 1996. “Esta divulgação fez crescer o interesse turístico por algumas cidades que

hoje fazem parte da Região Uva e Vinho, e são consideradas as maiores áreas produtoras

vinícolas do país”.39

Ainda, cita o mesmo site, que outra questão de grande importância para o enoturismo

na região foi o extraordinário avanço, em termos de qualidade, pela qual o vinho brasileiro

passou nas ultimas décadas. Com o aumento dos investimentos em pesquisa e a conquista do

mercado externo fez do Brasil , em 1995, membro da Organização Mundial do Vinho, órgão

que regula as normas internacionais de cultivo e produção do vinho.

Segundo dados da OIV, onde o Brasil tem se situado, nos últimos anos, entre os 20

maiores produtores de vinho do mundo. O consumo é ainda reduzido, cada brasileiro consome

cerca de 2 litros de vinho por ano - bem pouco, se forem levadas em consideração a superfície

e a população do país. Nos últimos anos tem havido um grande avanço no consumo, devido

principalmente à melhora da qualidade do vinho nacional. (MACNEIL, 2004, p.744).

O Vale dos Vinhedos, região formada pelos municípios de Bento Gonçalves,

Garibaldi e Monte Belo do Sul, em 2001, passa a ter a primeira Indicação Geográfica no

Brasil. Este é um dos motivos que fazem com que a região do Vale dos Vinhedos seja

considerada o maior pólo enoturístico do país. (VALDUGA, 2007).

Para os enoturistas ou até mesmo para quem busca conhecer novas culturas, a visita a

Serra Gaúcha é uma experiência inesquecível. Atualmente existem muitos outros municípios

da Serra Gaúcha que produzem vinhos e merecem ser visitados como Antônio Prado,

Cotiporã, Farroupilha, São Marcos, Guaporé, Nova Pádua, e outros mais.

O Enoturismo brasileiro é jovem como também é recente a cultura do vinho e o

conhecimento do que envolve a bebida. Mas assim como o vinho nacional cresce em

qualidade, da mesma forma que o brasileiro passa a se interessar mais pela história que há

39 Disponível em: www.planetalazer.com. Acesso em: 09 set. 08.

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dentro de cada garrafa. A vontade de conhecer os locais nos quais se elabora o vinho se

intensifica.

Confirmam Balico (2005) e Rodrigues (1972) que o enoturismo, na Região Uva e

Vinho, iniciou somente no século XX, mais precisamente em primeiro de junho de 1910,

quando da construção da Ferrovia que ligava Caxias do Sul, Garibaldi, Carlos Barbosa,

Farroupilha e Bento Gonçalves. Com as primeiras cantinas caseiras, onde pessoas dos centros

urbanos e de outras regiões, adeptos ao vinho procuravam esses pequenos estabelecimentos

para adquirir o produto.

O enoturismo, segundo Balico (2005), despertou o amor pela história, tradição e a

gastronomia, como resultado a conscientização, a preservação e o exercício do riso, tornando

as pessoas mais agradáveis e receptivas. A primeira festa (e exposição) alusiva à uva

aconteceu em 1913, no município de Garibaldi, conforme a autora.

Segundo Rodrigues (1972), aconteceram no Estado pelo menos três exposições

anteriores a 1913, onde foram apresentados vinhos e uvas. A primeira foi realizada em1881,

denominada 1ª Exposição Agro-Industrial da Colônia Caxias, onde foram expostos, “além de

produtos da lavoura, garrafas contendo “graspa”, vinho tinto e branco, [...] O vinho provinha

da produção particular dos colonos”. (RODRIGUES, 1972, p.41). A segunda foi realizada em

1889, quando o Governo do Estado do Rio Grande do Sul criou o primeiro Laboratório

Enológico Riograndense em Pelotas, em 21 de abril do mesmo ano, foi inaugurada a “1ª

Exposição Agrícola do Estado”, com a presença de expressiva mostra de vinhos elaborados

naquele município. A outra exposição aconteceu em Porto Alegre, em 19 de março de 1900,

quando o Intendente José Cândido de Campos Junior, “mandou cunhar uma medalha de ouro

para ser oferecida ao viticultor do município que for classificado em primeiro lugar”, na

Exposição Estadual. (RODRIGUES, 1972, p. 44).

Para Dal Pizzol (2008), o Rio Grande do Sul é dividido em dois grandes vértices

indutores do enoturismo: o primeiro vértice que tem como principais municípios Caxias do

Sul e Flores da Cunha, considerados o berço do enoturismo no Estado. O segundo grande

vértice, Bento Gonçalves e Garibaldi, detentores dos melhores destinos enoturísticos do

Brasil.

A região se preocupa em manter parcerias, em suas ações de implementação do

turismo e do enoturismo, com o Ministério do Turismo, Embratur, Setur, Sebrae, Senar,

Emater, Instituições de Ensino Superior (UCS, FISUL, Faculdade Cenecista, CEFET/BG) e

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com Entidades de Ciência e Tecnologia, Convênios Nacionais e Internacionais além do

Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares, que atua com uma infra- estrutura de

mais de 5000 leitos, ampliando e qualificando a infra-estrutura e a promoção do setor.

(SERRA GAUCHA, 08).

Apresentam-se, a seguir, as fases do enoturismo na Região Uva e Vinho, destacando

os principais períodos.

Tabela 1 - Desenvolvimento da vitivinicultura e do enoturismo na Região Uva e Vinho, 1875

- 2008.

Período Vitivinicultura Fases do Enoturismo Características do Enoturismo

1875 a 1930

Implantação de vinhedos

Primeira Fase: Nascimento

Exposições agro-industriais; Visita às cantinas familiares, em tempo de colheita.

1931 a 1970

Expansão Segunda Fase: Implantação/Difusão

Festas da Uva e do Vinho em vários municípios; Surgem as primeiras vinícolas abertas à visitação turística.

1971 a 1990

Especialização Terceira Fase: Expansão

Exposições agro-industriais; Festas da Uva e do Vinho em toda a região; Visita às vinícolas em diferentes municípios (prioritariamente, urbanas).

1991 a 2008

Qualificação Quarta Fase: Consolidação

Exposições agro-industriais; Festas da Uva e do Vinho em toda a região; Entidades de ensino superior e associativistas, ligadas ao setor; Visita às vinícolas em diversas cidades; Roteirização do Enoturismo; Identidade do vinho brasileiro.

Fonte: Elaborado pelo autor

8.1 O Enoturismo em Caxias do Sul e Flores da Cunha

No Rio Grande do Sul, o enoturismo tem seu início na Serra Gaúcha, na década de

1930, em Caxias do Sul, com a realização da I Festa da Uva, no dia 07 de março de 1931,

quando houve uma exposição discreta e elegante de uvas, na sede do Clube Recreio Cruzeiro

(esquina Visconde de Pelotas com a Sinimbu). Carros alegóricos desfilavam pelas ruas da

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cidade: “Caxias do Sul, foi o marco do pioneirismo em enoturismo, com a realização da I

Festa da Uva e, com a pavimentação da BR 116”. (DAL PIZZOL, 2008).

Figura 3 - Primeira Festa da Uva. Caxias do Sul, 1931

Fonte: Acervo Casa do Imigrante, Museu de Bento Gonçalves

No período áureo da indústria vinícola, de 1930 a 1970, as cantinas sempre foram os

pontos mais visitados pelos turistas que passavam por Caxias do Sul. Com a decadência da

maioria das cooperativas vinícolas, estas deixaram de ser visitadas. Hoje a Igreja de São

Pelegrino é o atrativo turístico mais visitado, seguida da Casa de Pedra (BRAMBATTI,

2002).

O eixo Caxias do Sul e Flores da Cunha se destaca como o primeiro pólo de atração

turística do Rio Grande do Sul, comenta Dal Pizzol (2008). Caxias do Sul se beneficiou muito

com as correntes turísticas, motivadas pelo acesso pavimentado. Algumas empresas, como a

Eberle, que na época produzia variados artigos sacros e a Gazzola, que fabricava artigos de

cutelaria, já motivavam o fluxo de pessoas à Caxias do Sul. Algumas vinícolas aproveitaram

este fluxo de “turistas”, tais como a Vinícola Luiz Antunes & Cia,40a Vinhos Mosele, a

40 A vinícola Luiz Antunes & Cia., trabalha na elaboração de vinhos desde 1866. Em 1873, foram exportados os

primeiros mil litros de vinho brasileiro. (RODRIGUES, 1972, p.29).

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Vinícola Luiz Michelon S.A, a Cooperativa Aliança, a Cooperativa Forqueta e a Estação

Experimental de Caxias do Sul. (DAL PIZZOL, 2008; MICHELON, 2008; BRAMBATTI,

2002).

Dal Pizzol (2008) relata que as Vinícolas Luiz Michelon S.A. e a Vinhos Mosele, se

destacaram mais com o turismo, foram duas empresas que traziam muitos clientes, entre eles

havia um tipo especial o “turista político”, autoridades de importante cunho político

(governadores, ministros, deputados, e outros).

Conforme o mesmo entrevistado, Flores da Cunha nesta mesma época, contava com

a Companhia Vinícola Riograndense e a Granja União, sendo que a Abertura da Vindima

geralmente era feita na Granja União, para onde fluíam presidentes, ministros, governadores e

demais autoridades. A Granja União e a Granja São Mateus foram as duas pioneiras no

plantio e difusão de variedades viníferas, no mesmo período de Caxias do Sul.

Prossegue relatando o mesmo entrevistado que em 1957-1958, no vértice Caxias do

Sul e Flores da Cunha, teve grande destaque a Vinícola João Slaviero, situada em Otávio

Rocha, distrito de Flores da Cunha. Esta vinícola trazia caravanas de turistas de São Paulo,

para visitarem a empresa, seus principais atrativos eram os vinhedos, degustações de seus

vinhos elaborados com variedades viníferas e visitas ao estabelecimento. Devido à dificuldade

da localização, bem no interior de Flores da Cunha, e por seu acesso dificultado em função da

falta de boas estradas, João Slaviero constrói um hotel para abrigar os visitantes, sendo que

também usavam estas instalações viajantes e comerciantes.

Lembra Dal Pizzol (2008), “que a coragem em construir um hotel que passou a

abrigar enoturistas, autoridades, viajantes e clientes, foi um marco, um bom exemplo de

pioneirismo no enoturismo serrano.” Brambatti (2002) destaca, ainda, que além do já citado

Roteiro dos Parreirais, lançado em 1971, abrangendo Flores da Cunha e seu distrito Otávio

Rocha, surge, em 1989, um roteiro denominado de Caminhos da Colônia, com a finalidade de

atrair turistas para o interior de Caxias e Flores da Cunha. (DAL PIZZOL, 2008).

Flores da Cunha atualmente comercializa o roteiro dos Vinhos dos Altos Montes, que

conta com doze vinícolas que compõem a rota e que fazem parte da Associação de Produtores

de Vinhos dos Altos Montes (APROMONTES). Este roteiro foi criado em 2003, sendo que a

região é considerada a maior produtora de vinhos do Brasil. (ANUÁRIO BRASILEIRO DA

UVA E DO VINHO, 2004).

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Apresentam-se, a seguir, as fases das principais Vinícolas dos municípios

pesquisados, destacando o início de suas atividades no Enoturismo.

Tabela 2 - Surgimento do enoturismo em algumas importantes vinícolas da Região Uva e

Vinho, 1930 -1990.

Período

Município

Empresa-Início da Atividade Enoturistica

Festas (principais)

193

0

a

19

70

Caxias do Sul

-Vinícola Antunes -Vinhos Mosele -Vinícola Luiz Michelon -Coop. Aliança -Coop. Forqueta

1931 I Festa da Uva

Flores da Cunha

- Vinícola Rio Grandense -Granja União -Granja São Mateus -Vinícola João Slaviero

1967 I Festa da Vindima

Garibaldi -Coop. Garibaldi -Peterlongo -George Aubert

Bento Gonçalves

-Dreher -Aurora -Vinícola Rio Grandense

1967 I Fenavinho

197

1 a

1

990

Caxias do Sul

Bento Gonçalves

-Miolo -Dom Cândido -Valduga -Cordelier -Don Laurindo -Dal Pizzol

1971 - I Festa Regional da Uva

Garibaldi -Maison Forestier -Martini e Rossi

1981 I Fenachamp

Veranópolis -Coop. Alfredo Chaviense OBS- Outras vinícolas a partir de 2000

Fonte: Elaborado pelo autor.

8.2 O Enoturismo em Bento Gonçalves

No vértice que compreende as localidades de Bento Gonçalves e Garibaldi, o

município de Garibaldi foi que mais se destacou no turismo. Conforme Dal Pizzol (2008) e

Fitarelli (2008), Garibaldi além de possuir um bom hotel, o Casacurta, onde se hospedavam

pessoas importantes vindas principalmente da capital gaúcha para veranear, foi beneficiado

pela chegada do trem e pelas tradicionais vinícolas já existentes. Esta idéia se consolida e se

confirma com o relato de Paulus, conforme a entrevistada, as vinícolas passam a agregar um

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diferencial turístico no local, destacando-se a Cooperativa Garibaldi, Peterlongo George

Aubert entre outras. Anos depois, se instalam a Maison Forestier e a Martini & Rossi. Todas

vieram a oferecer um local apropriado para o recebimento dos visitantes.

Dal Pizzol (2008), Splendor (2008), De Paris (2008) e Frare (2008), em suas

entrevistas, relatam e concordam que, em Bento Gonçalves, o enoturismo ganha impulso em

1967, com a realização da I Fenavinho, depois de trinta e seis (36) anos da realização da I

Festa da Uva em Caxias do Sul. Apesar desta constatação, é sabido que algumas vinícolas já

recebiam visitantes em períodos anteriores. As empresas que mais se destacaram na época

foram a Dreher e a Cooperativa Aurora.

Na opinião do entrevistado Michelon (2008), o enoturismo surgiu um pouco por

acaso em Bento Gonçalves. Conforme o mesmo autor, em 1965, o Colégio Aparecida se

preparava para comemorar os 25 anos de sua existência no municipio. Na circunstância o

ensino particular e religioso estava sob ameaças e, nos debates que realizavam para

comemorar os 25 anos, surgiu a idéia de promover uma festa, tendo como ponto de referência

o Festival do Chope em Blumenau (Santa Catarina).

Por ser Bento Gonçalves o maior produtor de uvas e vinhos do Brasil, foi pensado

em realizar um Festival do Vinho. No mesmo período também coincidia com o

cinqüentenário da instalação das Irmãs Carlistas (Colégio Medianeira) no município, e Bento

Gonçalves iria comemorar os 75 anos de sua existência. Portanto, 1965 havia de ser um ano

marcante.

A partir disso, surgiram as primeiras reuniões com as entidades participativas, entre

elas as associações rurais, o Centro da Indústria e Comércio e a Câmara de Vereadores.

Surge a Festa Nacional do Vinho e a Exposição Agrícola Industrial, referendando o símbolo

do município: o vinho. Este passa a brindar as bodas de prata dos Maristas, as bodas de ouro

do Colégio Medianeira e as bodas de diamante de Bento Gonçalves.

Lembra Michelon (2008), que Bento Gonçalves era deficiente de todo tipo de infra-

estrutura, não existiam estradas pavimentadas, não existia telefonia e havia deficiência de

energia elétrica, alguma coisa prescisava ser feito, como relata o mesmo autor:

Na verdade o objetivo da festa era chamar a atenção às autoridades do Estado e do País pela existência de Bento Gonçalves. [...]. A idéia não foi no enoturismo, mas sim colocar Bento Gonçalves no mapa político brasileiro, para ser justamente ouvida pelas autoridades responsáveis pela falta de infra-estrutura em que se encontrava o município. (MICHELON, 08).

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O evento deveria acontecer em 1966, porém neste ano aconteceu um desastre

meteorológico, o acesso a Porto Alegre ficou interrompido em São Leopoldo, o Rio dos Sinos

transbordou mais de um metro, o interior do Estado foi muito atingido. O município não

possuia recursos, e o Estado não atendia a estes apelos, consequentemente, foi adiada para

1967, a realização da Festa Nacional do Vinho.

A Assembléia da Comissão da I Fenavinho, convoca o Sr. Moysés Luiz Michelon,

para presidir o evento em 1967. O mesmo entrevistado relata as prioridades para organizar o

evento: “ em primeiro lugar, foi decidido sobre a escolha da imperatriz, não se falou em

escolha de rainha, pensando que Bento Gonçalves antigamente se chamava Colônia Dona

Isabel e Dona Isabel era uma imperatriz e não uma rainha, foi feita uma ligação com o

fato.”(MICHELON, 2008). Ao ser anunciado o vinho encanado nas ruas de Bento Gonçalves,

lembra o mesmo, houve a maior repercussão a respeito do evento a ser realizado:

Este fato não foi realmente uma coincidência, mas sim uma inspiração divina, e consolidou a I Fenavinho, o fato de ter oferecido o vinho encanado nas ruas de Bento Gonçalves, repercutiu mais que o esperado [...]. A idéia do vinho encanado foi tomando corpo e notamos que além de promovermos Bento Gonçalves e o vinho como produto símbolo do município, estávamos promovendo o enoturismo. (MICHELON, 08).

O vinho representava cerca de 60% da economia de Bento Gonçalves, as indústrias

de móveis eram ainda artesanais e a Barzenski Móveis estava iniciando suas atividades de

forma muito pequena. Nesta época, o setor vitivinícola enfrentava série dificuldades, as

cantinas estavam abarrotadas de vinho, criando dificuldades financeiras e uma concordatária.

A vinda de um presidente para conhecer Bento Gonçalves, consolidou

definitivamente a I Fenavinho e o municipio, como relata Michelon (2008):

Na verdade passamos a dar notoriedade ao vinho, conseguimos pela primeira vez trazer um Presidente da República a Bento Gonçalves (Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco), isto aconteceu poucos dias antes de encerrar seu governo, sabendo que sua gestão acabaria em 15 de março e no dia 25 de fevereiro veio a Bento Gonçalves. (MICHELON, 08).

Na chegada do Presidente da República41, o dia amanheceu com um forte nevoeiro, o

avião Hercules, não conseguiu pousar no aeroclube de Bento Gonçalves, este estava situado

41 Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco (Fortaleza, 20 de setembro de 1900 — Fortaleza, 18 de julho

de 1967) foi um militar e político brasileiro, primeiro presidente do regime militar instaurado pelo Golpe Militar de 1964. Nomeado chefe do Estado-Maior do Exército pelo então presidente da República João

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nas proximidades da Avenida Planalto. Toda a comitiva oficial chegou pela BR 116, via

Caxias do Sul, “[...] enfrentaram uma estrada com poucas condições de uso, cheia de

buracos e de curvas e muito lodo.” (MICHELON, 2008). Ao chegar a comitiva presidencial

a Bento Gonçalves, uma das primeiras palavras que o Presidente falou ao cumprimentar o

Prefeito Municipal (Milton Rosa), que o estava esperando na escadaria da Prefeitura, foi “Eu

falei aqui ao Governador (Perachi), que Bento Gonçalves merece uma estrada melhor do que

essa que tem aqui.” esta foi a primeira grande repercussão política dessa visita, comenta

Michelon (2008) e De Paris (2008).

Figura 4- Visita do Presidente da República Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco. I Fenavinho, Bento Gonçalves, 1967

Fonte: Moysés Michelon

O próprio Presidente intimou o Governador a dar uma maior atenção a Bento

Gonçalves. Surge então a Estrada São Vendelino segundo o mesmo entrevistado:

Foi muito difícil, visto que Caxias do Sul se habilitou também e o Governador encontrava dificuldade em construir duas estradas, mas a pressão política foi tanta que ele construiu as duas, a que ligava Porto Alegre a Farroupilha e São Vendelino a Bento Gonçalves. Segundo o Governador, a estrada São Vendelino foi a mais cara do Estado, devido à topografia, pontes e viadutos que tiveram de ser construídos. (MICHELON, 08).

Corroboram Splendor (2008), Dal Pizzol (2008), De Paris (2008) e Michelon (2008),

que a vinda do Presidente da República do Brasil a Bento Gonçalves e, no domingo seguinte

Goulart em 1963, Castelo Branco foi um dos líderes militares do Golpe de Estado de 31 de março de 1964, que depôs João Goulart. Presidente do Brasil - de 15/4/1964 a 15/3/1967. pt.wikipedia.org -acessado 15/09/08.

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a visita de Assis Chateaubriand42, Diretor Geral dos Diários e Emissoras Associadas, e estas

deram ampla cobertura do evento, Bento Gonçalves passou a constar no mapa político do

Brasil. Com esta divulgação na imprensa brasileira, nasce o enoturismo em Bento

Gonçalves.

Cita Balico (2005) e confirma o entrevistado Sganzerla (2008) que, na década 1950,

a Dreher S/A de Bento Gonçalves, já possuía um departamento especial com a finalidade de

atender os turistas, onde recepcionistas tipicamente trajadas, percorriam o interior do

estabelecimento explicando o processo de elaboração dos vinhos e derivados da uva.

O primeiro grupo a visitar a Dreher era oriundo de São Paulo, convidado em parceria com o Hotel Atlântica (hoje Hotel Dall’Onder), este grupo foi conduzido por Nilson Vicenti, da Panorama Turismo de São Paulo. Era composto por 36 pessoas, sendo a maior parte da 3ª idade. Estas pessoas viajavam tendo como objetivo conhecer locais diferentes. (SGANZERLA, 08).

O mesmo entrevistado relata que trabalhou na equipe de recepção dos enoturistas na

década de 1970 na Dreher. A equipe era composta por mais quatro pessoas que atendiam

todos os dias da semana. No domingo o horário era somente das 08h30min às 12 horas.

De acordo com Splendor (2008), Sganzerla (2008), e Dal Pizzol (2008), a Dreher se

destacou com seus vinhos, espumantes e destilados, por ser uma empresa muita bem

relacionada com os veículos de comunicação, sendo o seu proprietário amigo pessoal do

jornalista e embaixador Assis Chateaubrian. Carlos Dreher Neto43 homenageou-o, lançando

um chamado Velho Capitão. Tudo isso, veio a influenciar a vinda de turista, e todos se deram

conta que era um bom negócio para a divulgação do vinho e da região.

A Dreher foi fundada em 1910, atinge seu auge na década de 1960 a 1975. Iniciou

suas atividades na Av. Marechal Floriano, onde hoje se situa a Eletro Dam (empresa de

materiais elétricos), ainda hoje podem ser visto um brasão em suas paredes. Todo o prédio foi

42 Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo, mais conhecido como Assis Chateaubriand, ou Chatô (Umbuzeiro, Paraíba 4 de outubro de 1892 — São Paulo, 4 de abril de 1968) foi um jornalista, empreendedor, mecenas e político brasileiro. Criou e dirigiu a maior cadeia de imprensa do país, os Diários Associados: 34 jornais, 36 emissoras de rádio, 18 estações de televisão, uma agência de notícias, uma revista semanal (O Cruzeiro), uma mensal (A Cigarra), várias revistas infantis e uma editora. pt.wikipedia.org -acessado 15/09/08. 43 Carlos Dreher Neto era filho do imigrante Carlos Dreher Filho, este, quando chegou em Bento Gonçalves, vislumbrou o lugar ideal para concretizar um velho sonho: produzir vinhos diferentes, da mais alta qualidade, como os da sua terra natal (Alemanha). Na Alemanha, foi buscar inspiração e conhecimentos. De lá, trouxe as melhores castas de videiras brancas. Ofereceu aos viticultores mais progressistas de Bento Gonçalves sem cobrar nada. Em 1932, com seu falecimento assume seus filhos Carlos Dreher Neto e Erny Hugo Dreher. (RODRIGUES, 1972, p. 58).

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construído em estilo europeu, mais tarde a empresa se muda para a Rua Assis Brasil 613,

devido o pouco espaço físico de suas instalações.

Segundo Splendor (2008), e Sganzerla (2008), a Dreher S/A atraía muitos turistas

que chegavam em grandes caravanas de ônibus provenientes principalmente de Recife,

Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro. Quando o proprietário Carlos Dreher Neto visitava

alguns estados, muitas vezes era recebido pelo governador local. Ele projetava o nome de

Bento Gonçalves e da região, “o nome Dreher era um sucesso no Brasil, um marco para o

turismo e do desenvolvimento da palavra uva e vinho,” reforça Splendor (2008).

No ano de 1967, em função da I Fenavinho, a Dreher reestrutura o seu varejo para

atender aos visitantes desta festa. Em 1970, o varejo se consolida com a construção da Adega

Frau Lídia (Senhora Lídia, nome da matriarca da família), e esta adega fica até o final de sua

história.

Comenta Splendor (2008), sobre a construção do local e seu objetivo: “[...] a adega

era um lugar todo especial, onde se recebiam todos os visitantes, autoridades do país em visita

ao município, sendo um local confortável, mas simples e de bom requinte. A porta da adega

era feita em arcos de tijolos, estilo romano, no fundo barris de madeira.” (SPLENDOR, 2008).

A recepção ao público visitante era muito profissional, segundo Splendor (2008),

“neste local os visitantes eram bem recepcionados, se dava uma atenção toda especial e

particular, era um ambiente de diálogo, conversação, trocas de idéias, e sobre tudo de receber

opiniões.” Na época, a Dreher tinha uma filial em Porto alegre e outra na cidade do Rio de

Janeiro, isto foi muito bom para projetar o nome de Bento Gonçalves no ramo de visitação

turística do Brasil. (SPLENDOR, 2008).

Os turistas visitavam a grande maioria das instalações da empresa, engarrafamento,

recebimento das uvas, salas de vinificação e era permitido degustar os espumantes

diretamente das autoclaves, coisa inédita até o momento, como relata Sganzerla (2008). O

mesmo entrevistado lembra, dos demais atrativos que os visitantes procuram na região:

Além das vinícolas, os turistas queriam conhecer toda a região, pois já era famosa pelos outros atrativos locais, como a Ponte Ernesto Dornelles, o esqui, o Vale do Rio das Antas, a gastronomia, o clima frio e a boa hospitalidade. Os turistas ficavam em média um a dois dias, geralmente ficavam hospedados em Caxias do Sul. (SGANZERLA, 08).

Concordam Michelon (2008), Sganzerla (2008), e Splendor (2008), que muitas

pessoas ilustres visitaram a Dreher, o Presidente da República Humberto Castelo Branco (em

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visita a I Fenavinho, 1967), governadores de estados, o Presidente Ernesto Geisel e jornalistas

com destaque a Assis Chateaubriand. “A Dreher se destacava das demais, foi ali servido o

almoço ao Presidente da República e ali estive presente Assis Chateaubriand”, reforça

Michelon, (2008).

A Cooperativa Aurora passa a aderir com a I Fenavinho. Conforme Dal Pizzol

(2008), este ato foi de muita coragem por parte da empresa, por ser uma cooperativa, que

recentemente tinha entrado no mundo dos vinhos finos, isto é, até o momento ela só lidava

com vinhos elaborados de uvas americanas e híbridas, no entanto, não tinha marcas

importantes no mercado, mas a partir de 1967, começou a crescer e se destacar em vinhos

finos, ao natural sentiu a necessidade de participar deste movimento enoturístico.

Dal Pizzol (2008), Paulus (2008), e Frare (2008), também comentam a entrada da

Aurora para o enoturismo e a construção do local nas suas dependências para atrair os

visitantes da festa:

Durante a realização da I Fenavinho, a Aurora construiu uma adega muito especial, era uma pipa de vinho em que os visitantes entravam nela, era uma idéia muito inovadora, simples e ao mesmo tempo aconchegante e os turistas queriam muito visitar esta adega, e isso contribuiu para a empresa se projetar na vanguarda no enoturismo. (DAL PIZZOL, 08).

Conforme Frare (2008), o varejo da Aurora foi reformado em 1970 e criou-se um

roteiro, com a finalidade de atender a grande demanda de enoturistas. Somente em 1984, foi

inaugurado um novo circuito turístico, este novo roteiro permitiu aos visitantes presenciarem

os diversos procedimentos da arte de elaborar vinhos, percorrendo corredores com barris de

carvalho, tanques de inox e enormes pipas de madeira. O trajeto é interligado por túneis, que

fazem o visitante vivenciar um pouco da cultura, das tradições locais e do romantismo

fascinante do mundo do vinho. O ponto alto da visitação é a chegada a Cave di Bacco, um

dos maiores sucessos da visitação. No local, é oferecida degustação gratuita de toda a sua

linha de produtos. No varejo da empresa, o turista tem a oportunidade de adquirir os produtos

degustados.

De acordo com Frare (2008), aproximadamente 150.000 turistas/ano visitam este

estabelecimento vinícola. Em julho deste ano foram contabilizados, aproximadamente, 20.000

visitantes, sendo 2.000 a mais do mesmo período anterior44. Uma equipe de 25 atendentes,

todos devidamente treinados, faz a recepção dos visitantes que chegam à Aurora.

44 Em 2007 se agrava a crise no setor aéreo.

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Conforme Balico (2005), a Cooperativa Aurora, chegou a ser considerada o maior

Centro de Recepção Turística Vinícola da América Latina. O enoturismo para a Aurora

representa o 2º maior cliente em rentabilidade, ele passou a ser visto como uma ferramenta

importante de divulgação, comercialização e de grande potencialidade, segundo Frare (2008).

A entrevista de Frare (2008) reforça a idéia da importância do enoturista para a

empresa no seu desenvolvimento: “O enoturismo não só vende vinho, ele vende

principalmente emoção, história, tradição e hospitalidade. A qualidade dos produtos aqui

encontrados se deve também aos enoturistas, muito tem contribuído para o desenvolvimento

dos mesmos.” (FRARE, 2008). E prossegue em seus relatos sobre mudanças de conceitos no

país e no exterior na visão dos consumidores: “O vinho é um grande atrativo, o espumante

brasileiro está com uma boa aceitação no Brasil e no exterior. O enoturismo esta mudando um

pouco o conceito, que o país não tem a penas Carnavais, futebol e caipirinha”.(FRARE,

2008).

Aos poucos, os produtos brasileiros e o enoturismo regional vêm conquistando

credibilidade junto ao mercado externo. A Aurora vem fazendo sua parte, participando de em

feiras internacionais, segundo Frare (2008):

A Aurora participa em várias divulgações turísticas, talvez a vinícola que mais participa em eventos, divulgando, fomentando o enoturismo em todos os locais visitados, não leva apenas o nome Aurora ou Bento Gonçalves, mas o de toda a região, Vale dos Vinhedos, Caminhos de Pedra, Pinto Bandeira, Garibaldi, enfim, o nome Serra Gaúcha. Sabe-se que o turista que visita nossa região, não visita só um local ou uma só vinícola, ele quer conhecer outros atrativos. (FRARE, 08).

Segundo a mesma entrevistada, com a realização da I Fenavinho, em 1967, a Aurora

passou a visualizar o enoturismo como uma boa fonte de renda, geração de emprego e uma

boa forma de divulgação institucional dos produtos. “Percebeu-se que as pessoas que

visitavam a empresa, acabavam levando uma imagem dela e de seus produtos, isso fez que a

emoção ficasse gravada na sua memória, influenciando depois na escolha dos produtos”.

(FRARE, 08).

A Cia. Mônaco, também criou ambientes voltados ao recebimento de turistas, relata

Dal Pizzol (2008) e Splendor (2008): “uma coisa fomentava outra, hotéis e restaurantes

voltaram a ser ocupados por turistas, que há muito tempo tinham desaparecido devido à

deficiência das estradas e falta de atrativos, optando a Gramado e Canela”. (DAL PIZZOL,

08).

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A viticultura regional ganha grande impulso de desenvolvimento, iniciado na década

de 1930, com Celeste Gobatto, técnico italiano, que ensina métodos de enxertia e traz para a

região o enólogo “Paternó,” e inicia-se a fundação de muitas cooperativas. Conforme relatam

Michelon (2008) e De Paris (2008): “O vinho começa a ter espaço com o surgimento destas

cooperativas, onde estas passaram a vinificar cada vez mais uvas” (DE PARIS, 08).

Na Região Uva e Vinho a vitivinicultura moderniza-se com a fundação da Empresa

Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA, em 1972. Seu programa visa à geração de

conhecimentos que permitam melhorias no processo de produção agropecuário. Trata-se de

uma empresa pública vinculada ao Ministério da Agricultura, possui autonomia administrativa

e financeira. Sua unidade desenvolve pesquisa relacionada ao desenvolvimento da

vitivinicultura através da implantação de novas tecnologias. Vem atuando de forma integrada

e em parceria com produtores e instituições, tendo como meta viabilizar soluções tecnológicas

para o desenvolvimento sustentável do agronegócio da vitivinicultura brasileira. (DE PARIS,

2006).

No ano de 1985 através da Deliberação 008/85, a passa a se denominar de Centro

Nacional de Pesquisa de Uva e Vinho – CNPUV. É uma empresa pública, vinculada ao

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Conforme De Paris (2006), a

EMBRAPA caracteriza-se por ser um dos centros de pesquisa mais modernos da América do

Sul na área da vitivinicultura. Apresenta atualização constante e convênios de cooperação

técnico-científica com a França.

O desenvolvimento regional passa a se solidificar mais em 1959, quando o

Ministério da Agricultura cria uma instituição de ensino profissionalizante, a Escola de

Viticultura e Enologia de Bento Gonçalves. No entanto em 1967, a Escola passa a ser

vinculada ao Ministério da Educação e Cultura – MEC. Em outubro de 1985, passa a

denominar-se de Escola Agrotécnica Federal “Presidente Juscelino Kubitschek” de Bento

Gonçalves. No ano de 2002, a Escola torna-se um CEFET – Centro Federal de Educação

Tecnológica, passando a ser uma pequena universidade federal.

Desde sua data de fundação, o Centro vem formando profissionais nos cursos de

Técnico em Enologia; Técnicos em Agropecuária com Habilitação em Agricultura,

Agroindústria e Zootecnia; Técnicos em Informática; Tecnólogos em Viticultura e Enologia

(Nível Superior) e Tecnólogos em Alimentos (Nível Superior). (CEFET-BG).45

45 Disponível em www.cefetbg.gov.br/imana. Acessado em 16/12/2008.

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Segundo Michelon (2008), com a realização da I Fenavinho surge a Fenachamp, em

Garibaldi. Foi uma seqüência lógica, as festas iniciam na década de 30 com a I Festa da Uva

em Caxias do Sul, Fenavindima em Flores da Cunha, na mesma época da Fenavinho (1967), e

outras mais, todas tendo como foco principal o enoturismo.

Prossegue o mesmo autor reforçando a mesma idéia:

O despertar do tema “vinho”, nasce com a Festa da Uva e se consolida com as outras festas mais, então temos hoje nessa região vários municípios que exploram o charme que tem como produto central o vinho. “[...] notamos que depois desses grandes eventos na região, o enoturista esta presente em todas as épocas do ano, e não só quando acontecem os eventos. (MICHELON, 08).

Por sua vez De Paris (2008), menciona a força de uma sociedade envolvida em

concretizar num sonho comum:

[...] as pequenas comunidades, os distritos começaram a realizar exposições de seus produtos, estas eram feitas geralmente no dia do agricultor ou nas festas religiosas do padroeiro, mostrando ou fazendo oferendas do que eles produziam e assim se chegou a uma complementação. Nos anos 60 conhecidos como os “anos de chumbo” devido à ditadura militar, [...] é realizada a I Fenavinho, onde o povo e o clero se uniram e mostraram Bento Gonçalves ao Brasil. (DE PARIS, 08).

No entanto em 1971, a região produtora de uva e de vinho passava mais uma vez por

séries dificuldades. A uva nos parreirais começava a dar sinais de amadurecimento, o tom de

verde das mesmas vai mudando para o vermelho-violeta, sinalizando que a colheita não

demora a chegar, mas o setor vinícola estava quieto demais e a ansiedade dos produtores

aumentava a cada dia.

Brandelli, L., (2008),46 lembra que, em 1971 a comunidade da Linha 8 da Graciema

(Vale dos Vinhedos) resolve realizar uma festa, incentivada por Armindo Franzoni47 em

sinal de protesto aos órgãos oficiais do governo e as grandes vinícolas que se recusavam a

vinificar. Os preparativos para o evento iniciaram e surge uma polêmica, segundo o mesmo

entrevistado:

O nome desta festa no início foi Festa da Uva, inclusive alguns cartazes tinham sido já colados nas lonas dos caminhões, mas este nome gerou uma polêmica, visto que Caxias do Sul já havia adotado este nome para a sua maior festa, com a opinião de Moisés Michelon (primeiro presidente da Fenavinho de Bento Gonçalves), o nome foi alterado para I Festa Regional da Uva de Bento Gonçalves. (BRANDELLI, L., 08).

46 Entrevista concedida em 19/07/08. 47 Armindo Franzoni – natural da Linha 15 da Graciema, era produtor de uvas e revendedor de carros da marca

Ford, em Bento Gonçalves.

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A festa aconteceu no mês de fevereiro, no principio era para ser apenas um fim de

semana, com o sucesso foi além do esperado, a festa se estendeu por mais um fim de semana,

segundo o mesmo entrevistado:

No primeiro fim de semana, compareceu tanta gente, que não sabíamos de onde vinham esses visitantes, algumas pessoas que estavam em visita à região também prestigiaram a festa. Chegavam caminhões carregados de pessoas em suas carrocerias, carros particulares, ônibus dos distritos e pessoas que moravam nas localidades mais próximas chegavam a pé. (BRANDELLI, L., 08).

Em um dos pavimentos do salão da comunidade, foi realizada uma exposição de

uvas e de produtos agrícolas cultivados no local: batatas, milho, cebolas, abóboras, e outros

mais, também havia espaços para algumas vinícolas que patrocinaram a festa para exporem

seus produtos e degustação dos mesmos, participaram a Vinícola Riograndense, as

Cooperativas Garibaldi e Aurora, Dreher, Salton, Mônaco, Fontanive, Júlio Brandelli,

Dumont, entre outras. Foi estipulado um valor para a visitação das exposições. Os melhores

produtores de uva foram premiados com taças e medalhas.

A presença do apoio feminino à festa não faltou, nem tão pouco sua colaboração,

segundo Zélia Brandelli (2008):48

Foi uma linda festa, o salão estava enfeitado com galhos de videiras, cestos de vime, barris e uvas perfumadas. A comunidade inteira participou, as mulheres ajudavam na cozinha e na decoração, os homens cuidavam da organização toda, desde a preparação do churrasco e das mesas de jogos. Recebemos muitos elogios, todos ficaram admirados com o sucesso da festa, foi muito bonito. (BRANDELLI, Z., 08).

A festa foi realizada no salão da comunidade local, devido ao grande número de

visitantes, foi necessário improvisar toldos de lonas de caminhões. No entanto, Brandelli, L.,

(2008), relata a falta de apoio e de credibilidade na época pelos órgãos públicos:

O prefeito Darcy Fialho Fagundes (31/01/69 – 28/02/73, 21º prefeito do município) se mostrou indiferente em ajudar a comunidade, mais tarde ficou sabendo do sucesso de público, e que o evento iria se estender por mais um fim de semana, procurou os organizadores e se colocou a disposição dos mesmos. (BRANDELLI, L., 08).

O mesmo entrevistado lembra, que no último fim de semana, foi realizado um desfile

de carros alegóricos, retratando a chegada dos primeiros imigrantes italianos, desfile da rainha

e das princesas da festa, e todas as empresas participantes dispuseram de um carro para

representá-las. No local foram servidos almoços e jantas, “e os visitantes passavam a noite 48 Entrevista concedida em 19/07/08.

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cantando e bebendo vinho, a festa era animada pela banda municipal”. Compareceram mais

de 15.000 visitantes. (BRANDELLI, L.,2008).

No final da década de 80 e início de 90, com desaparecimento da Vinícola Rio

Grandense e Mônaco S/A, e mais as crises no setor vinícola, tudo veio a aportar condições

favoráveis para o crescimento e surgimento de pequenas empresas familiares, segundo os

relatos de Splendor (2008).

Figura 5- Primeira Festa Regional da Uva. Linha 8 da Graciema. BG. 1971.

Fonte: Acervo Sociedade 8 da Graciema, Vale dos Vinhedos.

Splendor (2008) comenta o surgimento do nome da localidade mais importante no

enoturismo brasileiro na atualidade:

Depois da Dreher e da Vinícola Aurora, surgiu um bloco de vinícolas pequenas, creio que o mais feliz de todos os bentogonçalvenses, na época, foi o Vereador Carlos Perizzolo, este decide nomear de Vale dos Vinhedos, as terras que eram mais conhecidas como Colônia Leopoldina, ou colônia dos Valduga, ou colônia dos Carraro que eram famílias que moravam nestas terras e eram clientes da Dreher. (SPLENDOR, 08).

Nas palavras de Paulus (2008) e Milan (2008), em 1992, com um trabalho esplêndido

do Rubens Laude e a união e esforços da comunidade, a estrada (RS 444) passa no Vale dos

Vinhedos que liga Bento Gonçalves a Monte Belo do Sul é finalmente pavimentada com

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asfalto. De acordo com relatos de Valduga. J (2008), e Miolo (2008) o enoturismo nasceu de

forma espontânea, isto é, ao natural. A Vinícola Casa Valduga foi pioneira no recebimento de

enoturistas no Vale dos Vinhedos.

Por sua vez Paulus (2008) afirma que, o enoturismo no Vale dos Vinhedos inicia

com a Família Tumelero (Ceará da Graciema, pequena comunidade que compõe o Vale dos

Vinhedos):

Durante quatro anos, os turistas eram encaminhados pelo Hotel Dall’Onder para aquele local. Os visitantes eram recepcionados pela família no porão da casa, onde podiam adquirir vinhos, salames, queijos e outros produtos. Em 1985, a esposa do senhor Tumelero desiste de trabalhar com os turistas e o casal se muda para a cidade. (PAULUS, 08).

A mesma entrevistada comenta a desistência da Família Tumelero em trabalhar no

turismo: “Tem-se a compreensão de que o turismo, principalmente no meio rural depende

principalmente da participação decisiva da mulher”. (PAULUS, 2008).

A entrevistada prossegue relatando sobre a mudança de local de recebimento dos

visitantes: “Depois da desistência da Família Tumelero, os turistas são encaminhados para

São Valentin (Bento Gonçalves, Distrito de Tuiuty), na Família Possamai, nesse meio tempo a

Aurora se torna grande parceira do Hotel Dall’Onder”. (PAULUS, 2008).

Conforme a mesma entrevistada, no início a CVC trazia turistas a região, estes

pensavam em estarem em Gramado ou em Caxias do Sul. Em Bento Gonçalves estes turistas

reclamavam muito pela falta de atividade de lazer.

Valduga (2008), Paulus (2008) e Miolo (2008) corroboram que nos anos de 1973 a

1975, a agência do Banco do Brasil de Bento Gonçalves oferecia cursos de treinamento a seus

funcionários, e estes eram provenientes de várias regiões do Estado e também de alguns

outros estados brasileiros. Estas pessoas de bom poder aquisitivo ficavam hospedados nos

hotéis da cidade (Hotel Dall’Onder, Vinocap, e outros), visitavam o comércio local, faziam

suas compras, mas não havia nada de especial entretenimento no tempo livre. Por iniciativa

do empresário Tarcisio Michelon e outras pessoas mais, a Casa Valduga inicia oferecendo a

estas pessoas jantares simples: polenta, massas, frango, sopa de capeletti, vinho e cantorias.

“Os jantares eram servidos nos centros dos corredores, entre as pipas de vinho. “[...] os

turistas ficavam maravilhados com tudo isso, principalmente com a simplicidade, carinho,

aconchego e atenção prestada pelos proprietários.” (VALDUGA, J., 08).

O mesmo entrevistado comenta sobre o determinismo e perseverança no trabalho:

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No inicio a comunidade os achou estranhos, receber os turistas e oferecer jantares na vinícola. Com muita, fé, trabalho e determinação, a idéia ia amadurecendo e se consolidando cada vez mais. Os enoturistas ficavam envolvidos com a boa hospitalidade, aliada a gastronomia e aos bons vinhos. (VALDUGA, J., 08).

No ano de 1979, foram inaugurados o restaurante e a pousada, com o passar do

tempo a Casa Valduga foi fomentando outras vinícolas no Vale. A parte social também aos

poucos foi se fortalecendo, cita o mesmo entrevistado, com o aumento do número de

visitantes, o acesso que separa a comunidade do município sede foi pavimentado, telefonia e

escolas novas foram instaladas. “Os moradores locais passaram a cuidar melhor das suas

residências, com boas pinturas e jardins coloridos de flores. Tudo isso para deixar uma boa

impressão do local aos visitantes que ali chegavam”. Com o resultado deste trabalho, a Casa

Valduga foi crescendo e se modernizando cada vez mais, adquirindo equipamentos modernos:

tanques de aço inox, refrigeração, moedoras, prensas, e outros mais. Assim passaram a

elaborar vinhos com semelhante tecnologia das multinacionais, Maison Forestier, M.

Chandon e Martini e Rossi. Com a entrada de vinhos importados, muitas dessas empresas

foram embora com exceção da M. Chandon. Graças ao enoturismo a Casa Valduga emprega

168 pessoas diretamente nos seus mais diversos serviços, hospedarias, restaurantes, vinhedos

e vinícola. (VALDUGA, J., 08).

A Casa Valduga recebe anualmente em media de 60 - 70 mil turistas/ano. Além dos

Restaurantes Dom Luigi e Persona um novo restaurante e uma 5ª nova pousada em breve

serão inaugurados. O enoturistas poderá contar com a técnica vinoterapia49

, e salas para

cursos de degustação. O visitante também poderá ter acesso a maior adega particular da

América Latina e participar da Festa da Vindima, colher uvas, com a presença de um coral

típico italiano, esmagar as uvas com os pés, acompanhar de perto todo o processo de

elaboração dos vinhos e espumantes, sabrage, almoçar nas cavas, degustar vinhos e

espumantes sob a sombra de um parreiral. Assim que os vinhos estiverem prontos para o

consumo, os “elaboradores” poderão adquirir os mesmos. Aos turistas é oferecida a visita à

Capela das Neves, que esta localizada muito próxima do estabelecimento, onde é relatada a

história da imigração italiana e da construção da igreja.

49 Vinoterapia consiste num tratamento corporal à base de extratos de uva, molhos, folhas, vinhos e óleos

derivados, que ajudam a relaxar. Surgiu na França em 1999. Benefícios: A terapia do vinho tem um grande poder antioxidante e tonificante, que mantém a pele jovem e elástica. Além disso, previne problemas cardíacos, ajuda a perder peso e combate ainda o estresse. Jornal de Notícias - O vinho como terapia jn.sapo.pt acessado em /2006/03/08.

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De acordo com Miolo (2008) e Paulus (2008) o enoturismo na Vinícola Miolo

aconteceu ao natural, ele foi tratado como uma maneira de vender vinhos, um método

parecido naquele momento com o da Casa Valduga, que fazia jantares ao pessoal do Banco do

Brasil que vinham a Bento Gonçalves fazer treinamentos. Muita gente era atraída, e isto foi

fomentando as pequenas empresas a fazer o mesmo trabalho, os jantares. A partir disso

nasceu à idéia de criar uma hostearia no porão da casa, foram realizados jantares duas a três

vezes por semana. Atualmente é servido o mesmo tipo de cardápio, comida colonial típica da

imigração italiana: galeto, polenta e sopa de capeletti, saladas e vinho. A hostearia funcionava

como varejo, era possível adquirir os vinhos e não existia visitação à vinícola.

Em 2001, foi construído um complexo de visitação, dentro de um plano voltado ao

enoturismo. Em 2002, foi inaugurada a nova sala de degustação e com horários de visitação

programada. Segundo Miolo (2008), “[...] o enoturismo passa a ser visto como forte

ferramenta de Marketing, o visitante passa a ter uma experiência positiva com a marca e os

produtos.” Atualmente o enoturismo é responsável por 4% do faturamento total da empresa,

fazendo no próximo passo uma ampliação da estrutura de atrativos. “A gastronomia, foi a

principal atração do enoturismo no início, agora o vinho é o primeiro atrativo”. (MIOLO,

2008).

No ano passado aproximadamente 120.000 visitantes estiveram na Miolo, este ano

são esperados aproximadamente 10.000 a mais. O maior emissor de turistas é o Rio Grande

do Sul, principalmente da Grande Porto Alegre. O modelo ideal de enoturismo no Vale dos

Vinhedos atualmente é o da Casa Valduga, segundo Miolo (2008), por apresentar uma infra-

estrutura toda voltada ao atendimento do enoturista, desde visitações aos vinhedos, ao

estabelecimento vinícola e possuir restaurantes e pousadas. Na Miolo, o principal foco de

atração é o vinho e foram buscadas parcerias em outros setores da gastronomia e hospedagem

que é o caso do Hotel Villa Europa.

Cita o mesmo entrevistado que “a grande diferença entre a Casa Valduga e a Miolo,

é que o enoturismo para a Casa Valduga é o principal negócio, na Vinícola Miolo, o grande

negócio é a elaboração de vinhos e derivados.” (MIOLO,2008).

O mesmo entrevistado fala da importância do enoturismo para as pequenas vinícolas

do local e das dificuldades de se manter no atual mercado:

O enoturismo pode ser a grande saída para as pequenas empresas, visto que a nível nacional e internacional cada vez é mais difícil chegar ao mercado consumidor, devido aos custos logísticos de locomoção e de vendas. Manter uma estrutura comercial no mundo é muito elevada e no Brasil é mais alta ainda. (MIOLO, 08).

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Miolo (2008) faz uma comparação entre os modelos de enoturismo americano e o

francês:

O Napa Valley (USA) recebe 3,5 milhões de turistas ao ano, um trabalho feito a 30 – 40 anos atrás, as empresas estão totalmente voltadas ao enoturismo, e as vendas de seus produtos ao visitante é o foco principal. Na França o enoturismo é visto como bom negócio para os hotéis, pousadas e restaurantes, as vinícolas enxergam o enoturismo como uma ferramenta para promover seus produtos, não como negócio. (MIOLO, 08).

Relata Paulus (2008), quais foram as primeiras vinícolas a receber os turistas no Vale

dos Vinhedos, tendo como atrativo inicial a enogastronomia: “No final de 1991, já estão

constituídas a Miolo, Casa Valduga, e a Vinícola Cordelier, depois surge a Don Laurindo,

com a enogastronomia, pouco tempo depois fica somente com a parte de vinhos”. (PAULUS,

2008).

Conforme a mesma entrevistada surgem no Vale uma empresa que oferece outros

tipos de produtos alternativos e uma nova geração de vinícolas que se destacam com uma

visão diferenciada de mercado:

A adega Casa de Madeira, se posiciona com produtos diferentes, graspa, geléias e sucos. Em 1999 e 2000 surge uma nova geração de vinícolas a Geração Atuaserra, empresas familiares profissionalizadas, onde seus empreendedores passaram a ter orientações e treinamentos. (PAULUS, 08).

Paulus (2008) ainda cita as empresas que compõem essa nova geração e a sua visão

de mercado:

A nova geração passa a ser composta pela Cave de Pedra, Pizzato, Cavalleri, Reserva da Cantina, Lídio Carraro, Vallontano e Villaggio Larentis. Enquanto a Miolo e a Casa Valduga, procuravam mercados internacionais, as pequenas vinícolas apostaram no público que visitava o Vale dos Vinhedos. (PAULUS, 08).

De acordo com a mesma entrevistada no final da década de 1990, início da década de

2000, a Maison Forestier encerra suas atividades. Seu modelo de profissionalismo serviu de

inspiração para muitas vinícolas principalmente no Vale dos Vinhedos e outros

estabelecimentos da região, destacando-se a Vinícola Dal Pizzol, situada em Faria Lemos

(Bento Gonçalves).

Conforme Dal Pizzol (2008), o visitante que chega para conhecer nossa região não se

limita somente em conhecer vinhos ele procura outros atrativos: “o turista valoriza não só o

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vinho, mas o entorno da vinícola, a natureza e a gastronomia que também fazem parte da

cultura do vinho”. (DAL PIZZOL, 2008).

O ambiente de entorno da Vinícola Dal Pizzol, exemplificando, foi totalmente

planejado, comenta o mesmo entrevistado. Criou-se um cenário totalmente voltado à cultura

do vinho. O estabelecimento vinícola apresenta um parque temático com lagos e pode ser

visitada a coleção de plantas nativas e exóticas. Um outro belo atrativo é o vinhedo, que

possui mais de 200 espécies de videiras, originarias dos cinco continentes, mais conhecido

como Vinhedos do Mundo. Também é possível ver uma réplica do Vinhedo do Imigrante, a

Enoteca localizada no interior de uma antiga olaria, que abriga uma coleção de inúmeras

garrafas de vinho de antigas safras, desde a fundação da empresa, em 1974. Possui também

um restaurante, com vista panorâmica para o lago, onde são oferecidos almoços e jantares

com cardápios que resgatam as tradições dos imigrantes italianos.

A crise vinícola que surge na década de 1990, abala o setor na Região Uva e Vinho e

faz surgir uma entidade no Vale dos Vinhedos voltada à divulgação do enoturismo.

Conforme Michelon (2008) surge a Aprovale em 1995, que deu maior notoriedade à

região, em termos de enoturismo. Seus fundadores deram maior atenção aos vinhos finos, as

vinícolas do Vale dos Vinhedos se diferenciam das demais da região com a elaboração dos

vinhos provenientes de uvas nobres e com o enoturismo. “Isto deu certo, a partir daí surgiram

outras entidades com objetivos idênticos em outros municípios da região”. (MICHELON,

2008).

Milan (2008) concorda com as palavras de Michelon (2008), que a crise no setor de

vinhos, fez surgir a APROVALE em 1995. Os problemas no setor vitivínicola, nos anos de

1995 a 1997, sobretudo agravados pela crise econômica da Aurora, fizeram com que os

produtos elaborados pelas pequenas vinícolas do Vale dos Vinhedos começassem a ganhar

espaço no mercado nacional.

Atualmente 32 vinícolas são associadas à Aprovale e cinco ainda estão fora dessa

associação. Conforme o mesmo entrevistado, a associação, vem trabalhando em campanhas

voltadas ao enoturismo no Vale dos Vinhedos, tendo quatro (04) objetivos fundamentais:

desenvolvimento do vinho, espaço físico e meio ambiente, enoturismo e desenvolvimento

sócio-cultural e Indicação Geográfica.

O mesmo entrevistado relata a viabilidade do enoturismo do Vale dos Vinhedos no

seu contexto histórico-geográfico:

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Acredito pessoalmente, que o crescimento e o desenvolvimento da marca e dos produtos do Vale dos Vinhedos se devem, em primeiro lugar, ao enoturismo, em conseqüência do Vale estar próximo de cidades importantes, destacando-se Porto Alegre, Caxias do Sul, Santa Maria e outras mais, e estar localizado perto da Região das Hortênsias (Gramado, Canela e Nova Petrópolis), e estas cidades são muito importantes por apresentar pessoas com o hábito de apreciar bons vinhos. (MILAN, 08).

O mesmo entrevistado, complementa a idéia sobre as fortalezas que fizeram o Vale

dos Vinhedos se consolidar:

Bento Gonçalves possui uma rede razoável de hotéis e restaurantes, esses requisitos somados, fizeram com que o Vale dos Vinhedos, com seu charme especial, nome interessante, vinícolas novas, vinhos novos [...] despertou o interesse de muitos enoturistas querendo conhecer mais o local e seus atrativos. (MILAN, 08).

Prossegue o mesmo entrevistado relatando sobre os benefícios da localização do

Vale dos Vinhedos dentro do contexto crescimento:

Sua localização estratégica entre municípios fortes em tradição enológica, Garibaldi com o espumante, Bento Gonçalves com vinhos finos, e Monte Belo do Sul com uma boa tradição em viticultura, tudo tem contribuído para o desenvolvimento do Vale dos Vinhedos. (MILAN, 08).

Milan (2008) relata sobre a importância da Indicação Geográfica, como ferramenta

de marketing para o enoturismo local: “Embora não muito conhecida por grande maioria dos

brasileiros, por ser esta a primeira do Brasil, ela foi importante por ocupar espaço na mídia

nos últimos anos”. A partir disso, o Vale vem a cada ano atraindo cada vez mais enoturistas,

segundo o mesmo entrevistado: “A prova disso tudo mostra que em 2001 mais de 45 mil;

2006 - 105 mil e, em 2007 - 120 mil turistas visitaram o Vale. Neste ano está previsto mais de

130 mil, sendo que o primeiro semestre já registrou 109 mil visitantes”. (MILAN, 2008).

Reforça o mesmo entrevistado que o enoturismo em Bento gonçalves é importante

devido a outros atrativos oferecidos e empreendedores que apostam neste segmento do

turismo:

Não podemos esquecer da Aurora e da Salton. Estes investem forte [...], em seus locais é possível encontrar história, tradição e trabalho em conjunto, não esquecer também da Rota Caminhos de Pedra, e Pinto Bandeira e Faria Lemos com suas paisagens e seus vinhos, formando um grande pacote enoturístico, fazendo com que o visitante permaneça mais tempo na região. (MILAN, 08).

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Conforme Valduga, V., (2008), ele mesmo realizou uma pesquisa, tendo como foco

central investigar se a Indicação de Procedência tinha sido definitiva para o desenvolvimento

do Enoturismo no local, ou se tinha que considerar todo o processo histórico anterior e se tudo

isso tinha contribuído de alguma forma para o fortalecimento endógeno do Vale dos

Vinhedos.

Uma das suas principais constatações foi que:

A Indicação de Procedência do Vale dos Vinhedos foi secundária, teve interferência indireta no Enoturismo, em função de todo um marketing, de toda uma mídia conseguida (na visão do produtor de vinhos). Estas atrações se solidificaram em 1995 com a criação da Aprovale. (VALDUGA, V., 08).

O mesmo entrevistado segue relatando o resultado de seu trabalho sobre a influência

da Indicação de Procedência:

No início se pensava que a IPVV iniciou o enoturismo no Vale dos Vinhedos, na verdade não foi bem assim, o enoturismo foi conseqüência de um longo processo de especialização na produção de uvas e de vinhos, não se esquecendo do contexto histórico que foi fundamental. (VALDUGA, V., 08).

De acordo com o mesmo entrevistado alguns entraves sociais foram percebidos no

atual modelo enoturístico adotado no vale dos Vinhedos. “O enoturismo é muito parcial ainda,

existe uma falsa idéia que é vendida ao turista como Região Uva e Vinho, no entanto se vende

muito mais vinho do que uva; falta um contato maior com o produtor local de uvas”.

(VALDUGA, V., 2008). O mesmo entrevistado relata um pouco da história da Vinícola

Vallontano, de sua família, situada no Vale dos Vinhedos e seus principais objetivos com o

turismo: “a vinícola foi fundada em 1997, foi aberta ao público em 2001, todo seu

empreendimento foi voltado ao enoturismo, desde seu projeto, baseado na arquitetura

industrial da imigração italiana das décadas de 1930 a 1950”. (VALGUGA, V., 2008).

Comenta sua preocupação com as rotas enoturísticas na Região Uva e Vinho em

buscar um diferencial entre si:

Um grande desafio destas regiões que estão surgindo em relação ao enoturismo é criar uma identidade própria e marcas que estabeleça diferenças particulares, não igualdade. O segundo atrativo depois do vinho, é a paisagem, e o enoturismo deve agregar mais produtos ao vinho. (VALDUGA, V., 08).

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Conforme o mesmo entrevistado “enoturismo tanto para vinícolas médias e pequenas

representa 35 – 40% do faturamento, isso pode ser um dado ruim até certo ponto de vista,

quanto mais vende para o turista, menos vende para outros mercados”. (VALDUGA, V.,

2008).

Por sua vez Milan (2008), relata as preocupações do Plano Diretor do Município em

relação ao Vale dos Vinhedos com o futuro:

O Plano Diretor do Município está se sedimentando e os conselhos distritais estão se reunindo constantemente, estabelecem critérios para evitar mudanças bruscas na paisagem, no jeito de ser, no jeito de viver, conservando a identidade do local para uma evolução mais orientada e evitando futuramente que o Vale dos Vinhedos se torne um “dormitório”, temos que ter o nosso espaço físico voltado à atividade principal que é o enoturismo. (MILAN, 08).

As vinícolas do Vale dos Vinhedos sabem elaborar bons vinhos, mas isso não é tudo,

segundo o mesmo entrevistado:

O Vale precisa se aperfeiçoar mais em comercializar seus produtos. Precisam investir mais em visão técnica no enoturismo, é muito importante o trabalho que entidades como a FISUL e a UCS estão fazendo, preparando profissionais capacitados e levando para o interior das vinícolas essa visão técnica e profissional. (MILAN, 08).

Ferreira(2008), concorda com a idéia de Milan (2008) e reforça dizendo tendo como

foco de sua opinião Garibaldi: “Ainda hoje, falta mão-de-obra de pessoas disponíveis a

aprender, pois temos clientes, produtos, mas não temos atendentes profissionais que queiram

trabalhar nos fins de semana e feriados.” (FERREIRA, 2008).

O mesmo entrevistado fala sob a nova visão dos cursos no mercado: “Atualmente

com cursos oferecidos em capacitação em enoturismo, oferecidos aos interessados pela

FISUL, é um bom início, para criar um novo conceito de estratégica de mercado,

principalmente no atendimento e na hospitalidade.” (FERREIRA, 2008).

O Vale dos Vinhedos proporciona muito mais que vinhos e espumantes aos

visitantes, conforme Milan (2008) relata:

O Vale possui um calendário especial de eventos, com o propósito de aproveitar as quatro estações do ano, talvez essa semente foi lançada precocemente, mas se espera que possa germinar e dar bons resultados. O Vale possui uma atração que poucas regiões enoturisticas do mundo tem, que é o Spa do Vinho, sendo este um belo empreendimento que esta sendo reconhecido cada vez mais na comunidade. (MILAN, 08).

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O mesmo entrevistado fala dos projetos futuros da Aprovale para o enoturismo

continuar crescendo no Vale dos Vinhedos:

Atualmente a Aprovale possui um programa a ser implantado em médio prazo, subdividido em quatro projetos, o primeiro a ser implantado é o Museu Brasileiro do Vinho e depois, os outros de ordem esportiva cultural, integração de comunidades e um voltado aos jovens. (MILAN, 08).

Indagado sobre qual o objetivo especifico da implantação do Museu do Vinho e onde

seria instalado, o mesmo entrevistado definiu o seguinte:

O Museu do Vinho seria instalado no Vale, e o visitante poderia interagir com os principais museus do vinho do mundo inteiro para conhecer a cultura, pesquisar e pode receber peças itinerantes de outros museus, mas principalmente estar interligado com os mais importantes museus mundiais, num conceito bem moderno. (MILAN, 08).

De acordo com Milan (2008) e Michelon, (2008) a Aprovale atualmente vem

trabalhando cada vez mais a divulgação do enoturismo, através de DVD’s, sites sempre

atualizados, mapas e folders, mas isso não é tudo, a região espera que profissionais na área do

turismo e do enoturismo, juntamente com os empreendedores e órgãos oficiais possam cada

vez mais incrementar o calendário de eventos da Região.

No Vale dos Vinhedos, é importante que o enoturismo inclua outra característica

presente em outras regiões vinícolas: a criação de condições para que o enoturista consuma

não só o vinho, mas também a paisagem e a cultura da região. (VALDUGA, V., 2008).

Bento Gonçalves apresenta outras vinícolas importantes no segmento do enoturismo,

além da Aurora e as que fazem parte do Vale dos Vinhedos podemos citar a Vinícola Salton.

A Vinícola Salton, foi fundada em 1910, atualmente está se destacando cada vez mais no

Enoturismo regional. Atualmente com suas novas instalações em Tuiuty - Bento Gonçalves, a

empresa tem investido fortemente no enoturismo. Os visitantes podem conhecer as

dependências da empresa, visitar seus parreirais e adquirir seus produtos, sempre

acompanhados por profissionais que explicam sobre os métodos de elaboração de seus

produtos e oferecem degustação dos mesmos.

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Outros fatores colaboraram para a sedimentação e desenvolvimento do enoturismo

em Bento Gonçalves. O Passeio de Trem Bento Jaboticaba - Ferrovia do Vinho, tendo sua

viagem inaugural em 26 de outubro de 1986, realizando o percurso entre Bento Gonçalves e

Jaboticaba - Vale das Antas.

A gestão era pública sendo conduzida pelo Secretário de Turismo de Bento

Gonçalves, José Oro que o manteve até 1990. Após essa data, assume Jovino Nolasco de

Souza, que mantém o trajeto em parceria com a Rede Ferroviária até o ano de 1991.

(PAULUS, 08).

O passeio, por diversos fatores foi encerrado no mesmo ano, diante disso, Clacir

Romagna toma a iniciativa de falar com Tarcisio Michelon, (empresários do turismo) para a

reativação do trem, mas com um novo percurso iniciando em Bento Gonçalves, passando por

Garibaldi a Carlos Barbosa. A união entre a iniciativa privada e Poder público dos três

municípios, inicia-se a negociação em novembro de 1992, e em cinco de junho de 1993 foi

realizada a viagem inaugural. Desde então o trem Maria Fumaça - Uma Volta ao Passado - se

mantém como um dos produtos de maior atração turística da Região Uva e Vinho.

(ATUASERRA, 2001).

Lideranças e pessoas como Tarcísio Michelon, também fizeram a diferença no

desenvolvimento do Enoturismo. Este contribuiu no fortalecimento da Atuaserra, no resgate

da Fenavinho, na criação do Espetáculo do Vinho, entre outras ações de importante impacto.

O enoturismo atualmente não acontece por acaso.

Existe um belo planejamento no contexto. Felizmente a região da Serra Gaúcha

desperta para a promoção do enoturismo. “ Enoturismo é uma nova página para o Brasil atuar

com a qualiade de serviço, cujo crescimento o setor vinícola merece”. (SPLENDOR, 2007, p

40).

8.3. O enoturismo em Garibaldi

No município de Garibaldi, conforme Girondi (2008) e Bellini (2008) foram

realizadas duas exposições de uvas no início na década de 1910. Nos anos de 1913 e 1914,

ocorreu uma crise vinícola no Estado, decorrentes em parte, da desmoralização que se iniciava

com os vinhos gaúchos, como conseqüência das adulterações que aconteciam nos grandes

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mercados consumidores, para onde era comercializado em barris. “[...] isso fez que fossem

criados laboratórios enológicos destinados a fiscalizar os nossos vinhos [...]” (RODRIGUES,

1972, p.45).

Bellini (2008) corrobora com Rodrigues (1972), em sua opinião, o enoturismo nasce

em Garibaldi nos ano de 1913 com a primeira festa alusiva à uva, graças ao intendente

Affonso Aurélio Porto, que buscava saída para a crise do setor vitivinícola, tentando moralizar

o vinho gaúcho:

Um grande incentivador ao enoturismo local, talvez o primeiro, foi Aurélio Porto, que promove as primeiras Exposições de Uva em 1913 e 1914, atraindo muitos apreciadores locais e também dos municípios próximos como Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Montenegro, São Sebastião do Caí e de outras localidades. (BELLINI, 08).

O mesmo entrevistado relata que os participantes do evento foram reconhecidos e

homenageados os que mais se destacaram:

Os expositores de vinhos, espumantes e de uvas, foram agraciados com medalhas de ouro, prata e bronze, estas fundidas pelo João Bellini (avô do entrevistado), proprietário da mais antiga joalheria do Estado e o mais antigo estabelecimento comercial de Garibaldi. (BELLINI, 08).

Figura 6: Segunda Exposição de Uvas de Garibaldi. 1914

Fonte: Acervo Casa do Imigrante, Museu de Bento Gonçalves.

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De acordo com Fitarelli (2008) e Girondi (2008) um dos grandes incentivadores do

turismo em Garibaldi foi o Hotel Casacurta, que trazia muita gente principalmente de Porto

Alegre para conhecer a vindima e também para veranear, inclusive no inverno.

Fitarelli (2008) e Romagna (2008)50 afirmam que, em 1986, houve uma preocupação

muito grande com o turismo no município de Garibaldi. Os turistas que visitavam a região

muito pouco entravam na cidade. Os lugares mais visitados eram o Esqui e a Maison

Forestier, depois seguiam para outros municípios, em Bento Gonçalves visitavam a

Cooperativa Aurora e o Dreher ou para Caxias do Sul. “Garibaldi era um corredor de

passagem, também o turista poucas vezes se hospedava nos hotéis da cidade, preferia os

hotéis das cidades vizinhas.”(FITARELLI, 08).

Por sua vez Romagna (2008), tenta classificar o tipo de turismo que acontecia antes

de 1986. Em suas palavras: “[...], até então tínhamos um tipo de turista se podemos classificá-

lo como turista de passagem”. (ROMAGNA, 2008).

Um projeto foi elaborado para atrair esse público à cidade. Este projeto tinha como

meta revitalizar o centro histórico de Garibaldi, tombar prédios, revitalizar toda a cidade, mas

isto não foi suficiente, “Garibaldi tinha mais coisas para o turista usufruir, mais vinícolas além

da Maison Forestier (esta foi até então a única vinícola voltada para o recebimento de turistas

em Garibaldi), e o Esqui voltado para público jovem, ambos situados na RST 470.”

(ROMAGNA, 2008).Segundo o entrevistado:

Elaborou-se um projeto junto às principais vinícolas da cidade, George Aubert, Cooperativa Garibaldi, Martini e Rossi e Peterlongo, em que constava que cada vinícola ficaria aberta num final de semana para receber os enoturistas que chegavam aqui. (ROMAGNA, 08).

Conforme o mesmo, “o resultado do trabalho se deu em negociações com as

vinícolas, apresentando projetos, novas idéias, fazer as pessoas acreditar, ouvindo os

empreendedores e levar adiante esta filosofia de trabalho”. (ROMAGNA, 2008). A

divulgação do novo projeto nos canais de comunicação e no local de maior atração turística

de Garibaldi, além da transposição do centro de informações foram medidas tomadas como

prioridades para reativar o enoturismo no município:

A divulgação foi feita nos principais jornais gaúchos e nacionais e também em revistas. Havia um centro de informações turísticas, localizado anexo ao Posto do Avião (RST 470). Por motivos de segurança foi transferido para o Esqui. Neste local

50 Entrevista concedida no dia 03/08/08.

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foi instalada uma placa de 10 m de comprimento por 6 m de altura, nela constava o nome das vinícolas, horários e datas que podiam ser visitadas. Os turistas olhavam e tomavam interesse em visitar. (ROMAGNA, 08).

Lembra o mesmo entrevistado das dificuldades encontradas pelos empresários na

implantação da rota enoturística: “No início algumas vinícolas reclamavam do pouco fluxo de

turistas que as visitava, mas depois foi normalizando com o tempo, e passou a dar certo”. A

rota se chamava Roteiro de Visita às Vinícolas de Garibaldi, “e este foi o início do

enoturismo no município, descobriu-se o potencial deste segmento e este foi trabalhado e

tornado conhecido em toda a comunidade local, para melhor informar os visitantes que ali

chegavam” (ROMAGNA, 2008) .

Romagna (2008), Milan (2008), Girondi (2008), Sganzerla (2008) e Fitarelli (2008),

concordam que o Esqui foi um grande centro de atrações de jovens, visitantes do Brasil

inteiro. Depois do encerramento de suas atividades, restou uma lacuna junto ao público

jovem.

Paulus (2008) reforça a idéia, citando que a primeira pesquisa qualitativa51 realizada

pela Atuaserra, em novembro de 1997, durante os três dias do Festival de Turismo de

Gramado, no qual foi a mentora desta investigação, relata que foram ouvidas 1.507

entrevistados vistos como possíveis potenciais turísticos para a Região Uva e Vinho, aonde o

esqui chegou a ser votado como a segunda maior atração da Região Uva e Vinho perdendo

apenas para o trem Maria Fumaça de Bento Gonçalves. Inicialmente as questões conduziam

aos atrativos que os pesquisados tinham acesso/conheciam da Região Uva e Vinho. A ordem

foi essa:

1. Maria Fumaça

2. Sky de Garibaldi

3. Vale dos Vinhedos

4. Caminhos de Pedra

5. Vinícolas de Garibaldi

6. Vinícola Aurora

51 Essa pesquisa visou identificar as principais carências mercadológicas da Região Uva e Vinho, e que nos diferenciavam de outros destinos turísticos.

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7. Raftig no Rio das Antas

8. Belezas Naturais

9. Chateau Lacave e Igreja São Pelegrino - Caxias do Sul

10. Caminhos da Colônia- Flores da Cunha. (PAULUS, 2008).

Nas palavras da mesma entrevistada, “a proximidade de Gramado favorece muito o

enoturismo, hoje o turista que a visita a Região das Hortênsias, visita também a nossa,

principalmente o Vale dos Vinhedos e as vinícolas de Garibaldi”. A Fenachamp também teve

destaque importante na divulgação do turismo em Garibaldi. Lembra Romagna (2008): “na

divulgação da I Fenachamp, a comunidade garibaldense colaborou muito, inclusive algumas

divulgações da festa foi realizada nos vidros traseiros dos carros, com tinta spray”.

(ROMAGNA, 2008).

Conforme Fitarelli (2008), o período de trazer enoturistas é muito recente. Somente

nos últimos anos houve mais incentivo ao enoturismo em Garibaldi com a Fenachamp e o

restaurante localizado no Parque da Festa, voltado para o turismo desde 1991, sob a

administração de Clacir Romagna, entre outros, onde muitos grupos almoçavam e ainda

almoçam. Em relação às vinícolas: “a pioneira foi a Peterlongo que iniciou trazendo turistas,

devido sua história, bela arquitetura, caves e adegas magníficas, grande produtora de

espumantes, mas eram poucos os que vinham aqui”. (FITARELLI, 2008).

Girondi (2008) concorda, complementa e dá mais ênfase à idéia anterior de Fitarelli

(2008) sobre o trabalho de Clacir Romagna no recebimento de turistas e reconhece o

profissionalismo e comprometimento de Ivane Fávero com o turismo em Garibaldi:

Garibaldi recentemente voltou a ter um planejamento turístico, e o turismo foi trabalhado de forma séria juntamente com a população local. Ivane Fávero é uma grande profissional, com visão em turismo, reuniu o Projeto das Vinícolas, o Projeto das Passadas e o da Estrada do Sabor. Ela conseguiu também trazer a Garibaldi os ônibus da CVC, estes nunca traziam turistas à cidade. Anterior a ela, somente no período do Romagna, quando este foi Secretário de Turismo do Município. (GIRONDI, 08).

Sganzerla (2008) corrobora a idéia de Fitarelli (2008) e Girondi (2008), sobre o

restaurante da Fenachamp, e acrescenta a idéia de que a atividade principal do

estabelecimento era atender os turistas que visitavam a região e manter o visitante em

Garibaldi por mais tempo. Comenta ainda o mesmo entrevistado que: “Em Bento Gonçalves,

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já havia restaurantes especializados nessa área, o Restaurante Pão Queijo e Vinho (hoje o

Canta Maria) e a Churrascaria Ipiranga eram os que mais se destacavam, aqui até então, era

deficiente”. (SGANZERLA, 2008).

Falando em gastronomia, Girondi (2008) acredita que a gastronomia foi a segunda

atração de turistas em Garibaldi, depois dos veranistas que se motivavam pela temperatura, e

agora mais recentemente as vinícolas.

Na opinião de Fitarelli (2008), a gastronomia não representou papel muito

importante, para o turismo por apresentar poucas muitas opções:

[...] devido ser pouca desenvolvida, baseada na comida caseira, não havendo pratos especiais ou diferentes, apenas os típicos da imigração italiana, polenta, galeto e algumas variedades de massas. O Hotel Casacurta foi uma exceção, outros restaurantes agora estão evoluindo na área gastronômica, eram muito pobres e simples demais. (FITARELLI, 08).

O entrevistado Sganzerla (2008) cita que em 2001 foi trabalhar na Cooperativa

Garibaldi, onde continua até hoje, tendo o mesmo objetivo de suas anteriores ocupações

profissionais, isto é, trazer turistas do Brasil inteiro. Sabe muito bem da importância do

enoturismo no contexto econômico e na divulgação dos produtos para uma empresa: “o vinho

é o produto mais procurado pelo enoturista, depois o espumante e o suco de uva”. Destaca,

ainda, que os produtos orgânicos estão cada vez mais sendo procurados pelos visitantes.

(SGANZERLA, 2008).

Atualmente, a Cooperativa é visitada por aproximadamente 70 mil turistas/ano,

sendo o Rio Grande do Sul (Porto Alegre), o maior emissor de visitantes, seguido por São

Paulo, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Nordeste. “O enoturista representa de 3 a 4% do

faturamento bruto, sendo o varejo o segundo maior cliente da Garibaldi”. (SGANZERLA,

08).

Dal Pizzol (2008) relata o surgimento da Maison Forestier em 1973, maior

empreendimento vinícola da região voltado ao enoturismo da época, que nasceu no ventre da

Cooperativa Aurora, que elaborava vinhos para terceiros: “Em 1977 a Maison Forestier se

instala em local próprio, no município de Garibaldi, iniciando com a implantação de

vinhedos. Em 1980, constrói seu estabelecimento todo baseado num projeto voltado ao

atendimento de turistas”. (DAL PIZOL, 08).

Concordam Dal Pizzol (2008), Sganzerla (2008), Romagna (2008) e Paulus (2008)

que a Maison Forestier, provavelmente, foi a primeira empresa vinícola a preparar um local

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onde o enoturista podia visitar o estabelecimento e os seus vinhedos, foi uma condução mais

abrangente, que fazia parte de uma atividade ligada a cultura do vinho.

Reforça Sganzerla (2008) que já em 1990, na Maison Forestier, eram ministrados

cursos de degustação de vinhos aos visitantes. Além de visitarem todo o estabelecimento,

estes recebiam explicações da elaboração dos vinhos e, ao final, recebiam um diploma.

“Provavelmente a Vinícola tenha sido a pioneira, na Região, em oferecer este tipo de

certificados aos visitantes.” (SGANZERLA, 2008).

De acordo com Dal Pizzol (2008) a Maison Forestier foi totalmente planejada para o

recebimento dos visitantes, o enoturismo não nasceu ao natural, assim como nas demais

vinícolas da região, como relata em sua entrevista:

O seu modelo foi inspirado nas vinícolas californianas (EUA), principalmente as do Napa Valley, onde os turistas visitam as dependências, conhecem todo o processo de elaboração de vinhos, degustam e podem adquirir os produtos e outros souvenires, como camisetas, saca-rolhas e demais objetos ligados ao mundo do vinho, tudo com muito profissionalismo. (DAL PIZZOL, 08).

Conforme Dal Pizzol (2008) e Sganzerla (2008) uma nova estrutura de recepção da

Forestier ficou concluída em 1985, o objetivo era de receber e abrigar autoridades e pessoas

importantes (Vips). Uma casa foi construída tendo uma sala de negociações e três suítes que

abrigaram ministros, governadores e secretários de estado.

O seu local, junto a RST 470, favoreceu muito o fluxo de turistas. Lembra Dal

Pizzol (2008) do avançado projeto do empreendimento “[...] era uma vinícola moderna, com

equipamentos de última geração. No seu interior, tanques de aço inoxidável eram utilizados

para elaboração e armazenamento dos vinhos.” (DAL PIZZOL, 2008).

Também lembra muito bem do dia da inauguração da Forestier, quando o chefe do

Laboratório de Enologia de Bento Gonçalves estranhou os modernos equipamentos e fez uma

comparação cômica: “dirigindo-se a mim, comentou: vocês me convidaram para assistir uma

inauguração de uma cantina ou de uma queijaria, onde estão as pipas de madeira?” (DAL

PIZZOL, 2008).

Esta observação foi sentida, também, na reação dos turistas, que sentiam a

ausência das tradicionais pipas. Mais tarde, construíram uma adega feita de pedras, de estilo

rústico, com seu ambiente bem decorado com muitos barris de madeira, um palco para

apresentações artísticas e uma linda sala de confraternização. Um ambiente de cantina na

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concepção da época e da região, que foi muito bem aceito pelos visitantes. (DAL PIZZOL,

08).

Conforme Dal Pizzol (2008) e Sganzerla (2008), várias empresas de turismo do

Brasil foram convidadas, se destacando as empresas CVC, Soletur3, Costa e a Inelvis de

Veranópolis. A CVC iniciou um trabalho muito profissional na área do enoturismo na

Forestier. A empresa trazia turistas, principalmente provenientes de São Paulo e do Rio de

Janeiro. Nos anos de 1984 e 1985 a média de enoturistas que visitavam o estabelecimento era

entorno de 65 a 70 mil visitantes/ano e o faturamento médio era de onze (11) a doze (12)

dólares por pessoa, “[...] era uma estrutura voltada para vender e promover seus produtos no

cenário nacional” reforça Dal Pizzol (2008).

Embora tendo um escritório na Região Sudeste, a Forestier, contava com um

profissional que viajava exclusivamente para divulgar e trazer turistas à região. Conforme Dal

Pizzol (2008), Garibaldi, começa a criar uma imagem voltada para o enoturismo, com forte

influência da Forestier. Depois outras passaram a aderir ou se estruturar melhor: Cooperativa

Garibaldi, Peterlongo, Georges Aubert e outras mais.

No final da década de 1990, a Vinícola Forestier encerra suas atividades. “Seu

modelo de profissionalismo serviu de inspiração para muitas vinícolas, principalmente no

Vale dos Vinhedos e outros da Região Uva e Vinho”. (DAL PIZZOL, 2008).

Girondi (2008) comenta sua preocupação com o envolvimento da comunidade de

Garibaldi, a respeito do enoturismo e sugere alternativas para desenvolver melhor a

hospitalidade local:

A população local deve ser consultada, para saber se os habitantes locais querem que Garibaldi seja turístico ou não. Caso queiram, a comunidade deve ser preparada, temos que educar nossas crianças desde o ensino fundamental até no nível secundário, preparar os moradores, as pessoas devem estar bem informadas para orientar bem os turistas, o povo precisa saber tratar bem o visitante e as escolas também devem ser preparadas para orientar os alunos. (GIRONDI, 08).

Uma sugestão para o desenvolvimento do enoturismo regional, talvez seja aproximar

mais as rotas evolvidas neste segmento conforme relata Milan (2008):

A união da rota Estrada do Sabor com a rota Vale dos Vinhedos e Monte Belo do Sul, através de boas estradas pavimentadas, aliadas a bons empreendedores e profissionais especializados em enoturismo, tudo se completará originando um grande centro de atendimento enoturístico do Brasil. (MILAN, 08).

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O turismo em Garibaldi volta a despontar como diferencial no segmento do

Enoturismo, depois do encerramento do esqui, que em 1997, foi apontado como a segunda

maior atração turística da Região Uva e Vinho. Atualmente o espumante é a principal atração

do município e importante diferencial das demais localidades produtoras de uva e seus

derivados. A vocação no enoturismo novamente está na ativa e muito bem sedimentada,

planejada, agregando novos atrativos e ofertando várias opções ao visitante que ali chega.

8.4 O Enoturismo em Veranópolis

Conforme Zanella52 (2008), (Secretário de Turismo de Veranópolis), o município

atualmente conta com 09 vinícolas. Destas uma é Cooperativa (Alfredo Chaviense) e as

demais são consideradas familiares, que vieram a ser regulamentadas e organizadas como

agroindústria no ano 2000. Antes desta data, a grande maioria elaborava vinhos de forma

artesanal e, com ajuda e incentivos da EMATER, passaram a ser registradas.

A grande maioria dessas vinícolas familiares surgiu com o agravamento da situação

econômica da Cooperativa Aurora de Bento Gonçalves. Comenta o mesmo entrevistado:

A maioria dos produtores de uva do município fornecia sua produção para esta cooperativa, preocupados de não poderem entregar sua produção de uvas à Aurora, devido à grande crise de 1995, que abalou aquele estabelecimento, resolveram investir em suas agroindústrias, elaborando vinhos e legalizando os mesmos. (ZANELLA, 08).

O mesmo entrevistado comenta sobre o apoio do poder municipal em divulgar o

enoturismo em Veranópolis:

A prefeitura municipal, através de sua Secretaria de Turismo, apoiou e auxiliou na divulgação dos estabelecimentos vinícolas através de folhetaria e de sinalização turística, pois a grande maioria se encontra no interior do município, em média de 2 a 3 km da cidade ou da rodovia principal - RSC 470. (ZANELLA, 08).

Fato muito importante que ajudou a alavancar o enoturismo em Veranópolis foi o

que aconteceu em maio de 1981, onde a Revista Geográfica Universal, na página 51, publica

que médicos e sociólogos de diversas nacionalidades, dedicados aos estudos da gerontologia5,

citavam Veranópolis entre os locais mundiais considerados como favoráveis ao

prolongamento da vida humana. Ali, lia-se textualmente: “[...] no Estado do Rio Grande do

52 Entrevista concedida em 03/08/08.

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Sul, existe uma localidade denominada Veranópolis, no meio de montanhas, onde vive

apreciável numero de velhinhos, em sua maioria, quase totalidade, descendentes de colonos

imigrantes [...]”. (VERANÓPOLIS, 2008).

Levado o fato ao prefeito (Leonir Antonio Farina), este resolveu aproveitá-lo como

apelo turístico e, ainda lança o primeiro folder turístico, onde, entre os vários textos

explicativos sobre o município, despontava a frase: “É considerada, por técnicos da

Organização Mundial de Saúde - OMS, como Cidade da Longevidade - primeira no país e

terceira no mundo”. A partir disso, o termo “Terra da Longevidade” ganhou grande impulso,

atingiu renome nacional e internacional, e impulsionou sobremaneira o turismo não só

municipal, mas regional (VERANÓPOLIS, 2008). Esta constatação também se relaciona ao

enoturismo, visto estar atribuída a longevidade ao consumo regular do vinho.

Hoje o enoturismo vem para somar a outros destaques, o que motiva a vinda de

turistas a Veranópolis é um conjunto de atrativos, em que o município vem trabalhando com

outros roteiros, comenta Zanella (2008):

O Roteiro Vinhos e Longevidade já é consolidado pela Atuaserra, formatado e bem estabelecido, e a grande preocupação é estabelecer outros atrativos entorno como a Ponte Ernesto Dornelles, o Rio das Antas, grutas, águas termais, usinas hidrelétricas e mirantes para que o turista fique mais em Veranópolis. (ZANELLA, 08).

Veranópolis está despontando cada vez mais como um grande potencial enoturístico,

o mais importante, a comunidade local esta inserida nesta idéia. Graças ao apoio do poder

municipal que através de medidas e parcerias vem destacando o município no cenário

nacional e como grande centro turístico.

Sua bela localização, clima agradável, bela paisagem formada por vales, montanhas,

rios e pontes, vinícolas novas, aliadas a boa hospitalidade, a cada ano vem incrementando

novos diferenciais turísticos e novos empreendimentos de atração turística.

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9 BREVE HISTÓRICO DAS PRINCIPAIS FESTAS IMPULSORAS DO ENOTURISMO NO RS

Apresentam-se, neste capítulo, as mais importantes festas impulsoras do enoturismo

no Estado. Destacando os principais eventos alusivos à uva, ao vinho e ao espumante nos

municípios de Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Flores da Cunha, Garibaldi e Monte Belo do

Sul.

9.1 Festa da Uva - Caxias do Sul

Celebrar a vindima: esse era o objetivo da primeira festa agrária realizado em Caxias

do Sul, na década de 30. O dia 07 de março de 1931 foi marcado por uma exposição discreta e

elegante de uvas, na sede do Clube Recreio Cruzeiro (esquina Visconde de Pelotas com a

Sinimbu). Quem está acostumado com carros alegóricos desfilando pelas ruas de Caxias,

confraternizações festivas e bailes de gala, que representam a festa de hoje, ficaria surpreso

em visitar a cidade nesta data.

No dia 05 de março de 1932, aconteceu a II festa da uva com o tema “Mais Brilho e

o Primeiro Corso Alegórico”. Sob a direção da associação dos comerciantes de Caxias, essa

segunda edição aconteceu na Praça Dante e contaram com um desfile de alegorias sobre

rodas, puxadas por juntas de bois ou cavalos, representando a produção de algumas colônias

da região.

Na terceira edição chamada de “Adélia! Senhora nossa e rainha,” houve a primeira

rainha coroada. A Festa da Uva aconteceu no dia 18 de fevereiro de 1933, no Cine Teatro

Central. O então governador do Estado do Rio Grande do Sul, Coronel Flores da Cunha,

colocou na cabeça de Adélia Eberle uma pequena coroa e, após seu discurso, cortou a fita,

declarando inaugurada a III Festa da Uva.

Em 24 de fevereiro de 1934 foi inaugurada a IV edição da Festa com o tema “Caxias,

a Pérola das Colônias.” Dr. Olmiro Azevedo mais uma vez saudou a rainha, desta vez era

Odila Zatti. Vários discursos marcaram o início do evento, entre eles, o do Comandante da 3ª

Região Militar, José Franco Ferreira, que se referiu à cidade como “Pérola das Colônias”,

referindo-se ao carinhoso apelido da cidade atribuído pelo então Presidente da Província do

Rio Grande do Sul, Júlio Prates de Castilhos, no dia 14 de março de 1897.

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Em 1935 e 1936 a celebração foi interrompida. Problemas econômicos no setor da

vitivinicultura afetaram a realização da festa nesses dois anos. Em 1937 foi inaugurada a fonte

luminosa. Após dois anos, a Festa da Uva é novamente realizada, no dia 28 de fevereiro de

1937.

Em sua 5ª edição, aconteceu um belo desfile de carros alegóricos, mas não houve a

escolha da rainha. Foi nesta festa que aconteceu a inauguração da fonte luminosa no centro da

Praça Dante. Em 1938 a 1949 novamente as celebrações foram interrompidas. Mais uma vez

a Festa da Uva não foi realizada, porém, desta vez, o motivo foi a segunda grande guerra, que

trouxe instabilidade interna, afetando profundamente a Região Colonial Italiana.

Em 1950, realizou-se a VI Festa da Uva. Se passaram 11 anos desde a realização da

última Festa da Uva, novamente a festa começa a ser preparada, desta vez com mais de um

ano de antecedência, no dia 02 de abril de 1949, na sede da Associação Comercial local. A

tradicional escolha da rainha aconteceu no dia 11 de fevereiro de 1950, tendo como campeã

Teresinha Morganti, de Bento Gonçalves. Aconteceram algumas brigas em protesto ao

resultado, pois a torcida queria a vitória da caxiense Bila Vial.

Em 1954, obteve-se a visita do Presidente da República e inauguração do

Monumento ao Imigrante. Na noite do dia 20 de fevereiro de 1954, o baile de coroação da

rainha, Maria Elisa Eberle, inaugurou oficialmente a VII Festa da Uva. Durante esta edição da

festa, aconteceu a inauguração do Monumento ao Imigrante, com a presença do então

Presidente da República, Getúlio Vargas, que inaugurou também o Parque de Exposições da

Festa da Uva.

Em 1958, a VIII Festa da Uva começou em 1º de março de 1958 e terminou no dia

23 do mesmo mês. O concurso de Rainha foi um pouco diferente dos anteriores. Houve dois

sufrágios. O primeiro, de cunho eminentemente popular, o povo indicou suas candidatas

preferidas. As quatro mais votadas passaram, então, pelo crivo de uma comissão formada

especialmente para escolher, entre elas, a Rainha. A eleita foi Zila Turra, segunda mais votada

pelo povo, mas descendente de uma das famílias mais antigas de Caxias. A mais votada em

pleito popular, foi Rosemary Spinatto. O Presidente da República, Sr. Juscelino Kubistchek,

não participou da festa.

Em 1961, a IX Festa da Uva teve como presidente Bertilo Wiltgen, e a soberana,

escolhida por seis jurados de Porto Alegre e três de Caxias, foi Helena Luiza Robinson. A

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visita do Presidente Jânio Quadros e de sua esposa, Eloá, foi o ponto forte no dia da

inauguração da festa, em 27 de fevereiro, recebido pelo Governador do Rio Grande do Sul,

Leonel Brizola. Foi nesta data, também, que ele determinou o asfaltamento da BR/2 (atual BR

116). Outra presença marcante nos festejos foi a Miss Brasil, Gina Mac Pherson, que vestiu

trajes típicos italianos.

Em 1965 o evento teve como tema “Maior evento do gênero na América Latina”.

Esta festa foi presidida por Ottoni Minghelli, que já liderara o certame em 1937. A X Festa da

Uva teve como rainha Silvia Celli. O Presidente da República, Humberto Castello Branco,

participou intensamente dos festejos. Neste ano, a Festa da Uva e a Feira Agro-Industrial

foram consideradas o maior evento no gênero na América do Sul, com cerca de 300 mil

visitantes. Não era uma festa somente da cidade, mas de toda a região.

Em 1969 o evento teve como tema Corso Noturno. Lívio César Gazola foi eleito,

pela Comissão da festa, para presidir a XI Festa da Uva, que começou no dia 22 de fevereiro

de 1969. A rainha, escolhida por um júri composto por 14 pessoas foi Elizabeth Maria

Menetrier. A grande inovação da festa foi o corso noturno, com carros alegóricos iluminados.

Desfilaram carros alegóricos financiados por embaixadas estrangeiras (Itália, Espanha e

Japão). Houve também o Congresso de Literatura, Encontro Interestadual de Apicultores e

Simpósio Internacional de Viticultura e Enologia. O encerramento oficial da festa contou com

a presença do presidente Costa e Silva.

Em 1972 o evento teve como tema Festa da Uva. A década de 70 marcou o auge da

indústria metal-mecânica na cidade. A festa tradicional não poderia mais continuar sendo

comunitária; tinha que se tornar um empreendimento organizado. O âmbito da festa de 72 foi

sensivelmente ampliado e a presença das autoridades nacionais foi maciça. O Presidente

Médici inaugurou a festa e o Ministro das Comunicações, Hygino Corsetti, caxiense,

inaugurou aqui a TV em cores no Brasil, durante o corso do dia 19 de fevereiro. Pela primeira

vez, a festa foi registrada em cores, pelas câmeras de televisão. A rainha escolhida foi

Margareth Trevisan e o presidente foi Mário Bernardino. A partir desta Festa, algumas

mudanças estruturais que se faziam necessárias na organização do evento começaram a

acontecer. A transferência dos pavilhões de exposições da Rua Alfredo Chaves para a Rua

Ludovico Cavinato começou nesse ano. Em 12 de fevereiro de 1974, a Sociedade Civil

Comissão da Festa da Uva foi transformada em Festa da Uva Turismo e Empreendimentos

S.A e, em 31 de março, foi inaugurada a TV Caxias, canal 8.

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Em 1975, o evento teve como tema ‘100 anos de imigração.” A Festa foi, também,

uma celebração do centésimo ano decorrido desde a povoação do nordeste do Estado pelos

imigrantes. O presidente da festa foi Humberto Bassanesi, contando com o apoio dos

governos federal, estadual e municipal. Nesse ano, além da escolha da Rainha da Festa da

Uva, tendo como eleita Roxane Torelli, foi feita a escolha da Rainha do Centésimo, contando

com candidatas de diversos municípios da região. A vencedora foi a representante de Caxias,

Tânia Slongo.. A presença do presidente Geisel foi muito marcante para todos os caxienses.

Em 1978, o evento teve como tema “Réplica de Caxias”. A XIV Festa da Uva foi

presidida por Flávio Ioppi. A obra mais marcante de sua gestão foi a construção da réplica de

Caxias 1885, na área do Parque de Exposições. A rainha da festa de 78 foi Ana Méri Brugger.

O Presidente Geisel retorna a Caxias para visitar a festa, renovando as emoções da festa

anterior. Uma escola de samba do Rio de Janeiro homenageou a imigração italiana, ajudando

a difundir a festa.

Em 1981, a festa da uva teve a visita do Presidente Figueiredo. A festa de 81 foi

presidida por Flávio Salomoni, caxiense que tomou sobre si a tarefa de realizar o evento

apesar da grande crise econômica que já se insinuava naquela época. A rainha eleita foi

Marília Conte. O Presidente Figueiredo esteve presente na abertura dos festejos, visitando a

exposição e tecendo vários elogios ao trabalhador do nordeste gaúcho.

Em 1984, o evento teve como tema “Volta às Origens.” O êxito da festa anterior

levou seus organizadores a prosseguirem no resgate das tradições italianas, para que o evento

da feira agro-industrial não diminuísse o brilho da festa. Mas o evento coincidiu com o auge

da recessão econômica. O presidente da XVI Festa da Uva foi o Sr. Mário David Vanin e a

rainha eleita foi Marisa Dotti.

Em 1986, o evento teve como tema “55 anos de Festa.” Com a retomada do

crescimento, se decidiu realizar a festa de dois em dois anos, sendo inaugurada em fevereiro

de 1986, com a presença do presidente José Sarney. O presidente Mário Vanin voltou a dirigir

os festejos em 86. A rainha eleita foi Silvia Slomp.

Em 1989, o evento teve como tema “A maior Festa do Século.” A Festa de 1989

coincidiu com o auge da escalada inflacionária. O presidente Sarney decidiu não comparecer

ao evento, deixando o governador Pedro Simon ouvir as reclamações dos agricultores e dos

operários contra a política econômica do governo. O Presidente da festa de 89 foi Luiz

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Zamboni Neto. Uma das atitudes mais marcantes foi ter fomentado a memória histórica da

festa. Calcula-se que 400.000 pessoas percorreram os pavilhões durante os dias do evento. A

rainha da XII festa foi Deliz De Zorzi.

Em 1991, o evento teve como tema “XIX Festa da Uva.” Para aumentar o público, a

Festa incluiu novas atrações, como espetáculos musicais gratuitos, contribuindo para trazer as

pessoas das cidades vizinhas, que se voltava contra o seu artificialismo. O presidente da festa,

Alexandre Wisintainer, a rainha, Catiana Rossato, e as princesas, Joane Schüller e Flora

Magnabosco, percorreram várias cidades do país, divulgando a Festa da Uva. A festa de 91

não contou com a presença do Presidente da República, o Sr. Fernando Collor.

Com o tema "Uma história que vem de longe", a Festa da Uva de 1994 foi presidida

por Flávio Ioppi. Neste ano, a Sociedade Civil Comissão Festa da Uva foi reativada para a

organização da festa. O presidente da comissão foi Sr. Nestor Perini. A Rainha de 94 foi

Cristina Briani, tendo como princesas Carine Pozzenato e Fabrícia Fedrizzi. A visita do

Presidente da República, Sr. Itamar Franco, aconteceu na abertura da festa, juntamente com o

Governador do Estado, Sr. Alceu de Deus Collares.

Em 1996, o evento teve como tema “A América que nós fizemos.” A festa de 96 foi

um mega-evento que celebrou os 120 anos da imigração italiana. Houve grandes atrações

paralelas: corso alegórico, distribuição de 250 mil quilos de uvas, espetáculo Som & Luz.

Além disso, a Festa da Uva foi tema no desfile da escola de samba Vila Isabel.

O presidente da empresa foi o Sr. João Flávio Ioppi e o presidente da Comissão Comunitária

foi o Sr. Nestor Perini. A rainha eleita foi Srta. Patrícia Horn Pezzi, e as princesas, Márcia

Maróstica e Valéria Weiss.

Em 1998, o presidente da empresa Festa da Uva foi o Sr. José Carlos Monteiro e o

presidente da Comissão Comunitária foi o Sr. Ricardo Golin. A rainha eleita foi Patrícia Roth

dos Santos, e as princesas, Alessandra Kuhn Marta e Letícia Bachi Mazzochi. O tema

escolhido foi "A Festa das Festas”. A inauguração da XXII Festa da Uva foi feita pelo Vice-

Presidente da República, Marco Maciel; pelo Governador do Estado, Antônio Britto; Ministro

da Agricultura, Francisco Dorneles e pelo Prefeito de Caxias do Sul, Gilberto Pepe Vargas.

Em 2000, o evento teve como tema “O trabalho e os dias de um povo. Venha ver e

festejar.” A Festa da Uva de 2000 aconteceu com o objetivo de marcar o novo milênio. Os

presidentes foram o Sr. José C. Monteiro, presidente da empresa, e o Sr. Ricardo Golin,

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presidente da Comissão. A escolha da Rainha e das princesas foi uma grande festa, marcada

por shows regionais. As escolhidas foram: Fabiana Bressanelli Koch, como rainha, e Henriete

Caldas Vaccari e Vanessa Slavieiro, como princesas.

A Mulher Imigrante foi o tema da 24ª edição, que ocorreu entre 15 de fevereiro a três

de março de 2002. O presidente deste ano foi Sr. Valter Agostinho Minuscoli. A Rainha eleita

foi Juliana Marzotto e as princesas foram Fernanda Frigeri e Adriana Corso.

Em 2004, o Sr. Ovídio Deitos presidiu tanto a Comissão como a Empresa Festa da

Uva. A rainha foi Priscila Caroline Tomazzoni, e as princesas, Greice Demoliner Tedesco e

Victoria Titton De Carli. A XXV Festa Nacional da Uva teve como tema central a terra e os

produtos do trabalho do homem no seu cultivo. Através das palavras "Terra, pão e vinho", a

festa prestou uma homenagem aos imigrantes de todas as origens - em especial aos italianos

que - chegaram ao Estado no século XIX em busca de terra e ao fruto do trabalho do cultivo

do solo.

Em 2006, aconteceu a 26ª Festa da Uva, contou com Gelson Palavro como

presidente, que organizou, juntamente com as comissões, uma belíssima festa responsável por

um público de quase 900 mil pessoas. Nessa festa, como o tema “A alegria de estarmos

juntos,” foi celebrada a união de todos os povos, tendo toda a beleza da região representada

pela rainha, Julia Brugger de Carli, e pelas princesas, Marcela de Fátima Bertussi e Natália

Menegat Vanzin.

Em 2008, o evento teve como tema Uma vez Imigrante para Sempre Brasileiro. A

27ª Festa da Uva encerrou no dia 9 de março, contou com a presença de aproximadamente um

milhão de visitantes. A atual rainha é a jovem Andressa Grillo Lovato e as princesas Paula Da

Costa Taddeucci e Vanessa Susin. A próxima festa esta prevista nos dias 18 de fevereiro a

sete de março de 2010. (Festa Nacional da Uva, 08).

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9.2 Festa Nacional do Vinho de Bento Gonçalves – Fenavinho

Passa-se a descrever sucessivamente sobre os principais fatos de cada festa comemorativa do

vinho de Bento Gonçalves:

I FENAVINHO – de 25 de fevereiro a 12 de março de 1967. Presidente, Moysés

Luiz Michelon, a Imperatriz do Vinho foi Sandra Guerra; e Damas de Honra, Iegla

Gehlen e Liane Mazzini. O presidente da República Humberto de Alencar Castelo

Branco visita Bento Gonçalves, sendo o primeiro Presidente Brasileiro a visitar o

município. Aproximadamente cem mil visitantes prestigiaram o evento.

II FENAVINHO – de 13 a 28 de fevereiro de 1971. Presidentes, José Eugênio

Farina, Carlos Reno Dreher e Horácio Guedes Mônaco, a Imperatriz do Vinho foi

Naira Valenti; e Damas de Honra, Vera Regina Pompermayer e Maria Aparecida

Soares. Presença do ministro da Agricultura Cirne Lima e do Governador Walter

Perachi.

III FENAVINHO –. De 15 de fevereiro a nove de março de 1975. Presidente, Tel

Antinolfi, a Imperatriz do Vinho foi Marisa Tondo, e Damas de Honra, Stela

Fasolo e Maria Lolita Menegotto, marcou a presença o Presidente da República

Ernesto Geisel e do Governador Euclides Triches.

IV FENAVINHO – De primeiro a 19 de fevereiro de 1980. Presidente, Nelton

Callegari, Imperatriz do Vinho, Sílvia Ross, e Damas de Honra, Ângela Ozelame e

Elisabete Rotava. Presenças do Presidente da República João Batista Figueiredo e

do Governador do Estado José Augusto Amaral de Souza.

V FENAVINHO – De oito de 24 de fevereiro de 1985. Presidente, Carlos Bertuol.

Imperatriz do Vinho, Sheila Telli, Damas de Honra, Liana Cristina Fortuna Rigon

e Cláudia Sfoggia. Presença do Ministro da Agricultura Nestor Jost, e do

Governador Jair de Oliveira Soares.

VI FENAVINHO – De 14 a 29 de julho de 1990. Presidente, Jovino Nolasco de

Souza. Imperatriz do Vinho, Nádia Cini, e Damas de Honra, Eliane Gobatto e

Raquel Possamai. Presenças; Ministro da Agricultura Antônio Cabrera e do

Governador Sinval Guazzelli.

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VII FENAVINHO – De 12 a 28 de Julho de 1991. Presidente Jovino Nolasco de

Souza. Imperatriz do Vinho, Nádia Cini,e Damas de Honra, Eliane Gobatto e

Raquel Possamai. Presenças, Ministro da Agricultura Antônio Cabrera e

Governador Alceu de Deus Collares.

VIII FENAVINHO – De 10 a 26 de julho de 1992. Presidente, Jovino Nolasco de

Souza. Imperatriz do Vinho, Andréa Poletto, Damas de Honra, Maristela Titton e

Lucimara Minozzo. Presenças, Ministro de Minas e Energia Pratini de Moraes e o

Governador Sinval Guazzelli.

IX FENAVINHO – De 9 a 25 de julho de 1993. Presidente, Erci Zottis Grapiglia.

Imperatriz do Vinho, Loren Hofsetz, Damas de Honra, Sônia Arlete Rasador e

Janete Rizzi. Presenças, Ministro da Presidência Antônio Brito Filho e

Governador Alceu de Deus Collares.

X FENAVINHO – De 15 a 31 de julho de 1994. Presidente, Erci Zottis Grapiglia.

Imperatriz do Vinho, Loren Hofsetz; Damas de Honra, Sônia Arlete Rasador e

Janete Rizzi. Presenças, Ministro da Agricultura Sinval Guazzelli e Governador

Alceu de Deus Collares.

XI FENAVINHO – De 4 a 14 de maio de 2000. Presidente Jaime Milan. Contou

com 25 expositores. Prefeito Darcy Pozza.

XII FENAVINHO – De 28 de janeiro a 13 de fevereiro de 2005. Presidente Paulo

Geremia. Participaram 43 vinícolas. Prefeito Alcindo Gabrielli.

XIII FENAVINHO – Fevereiro de 2007. Presidente Tarcísio Michelon. Inicio de

uma nova era, em termos de festa, O Espetáculo Cênico. (DE PARIS, 2006, p.257

a p.259).

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9.3 Exposições de Uvas e Festas do Champanha – Garibaldi

Nos dias 24, 25 e 26 de fevereiro de 1913 se realizou a 1ª Exposição de Uvas da Serra

Gaúcha, realizada nos salões do Clube Borges de Medeiros, compareceram 133 expositores

de uvas e 20 de vinho, a Casa Bromberg & Cia, de Porto Alegre, apresentou uma coleção de

máquinas para a vinicultura. Comissão julgadora- Enólogo Horacio Mônaco, G. Bormancini e

irmão José Sion. Os vinhos premiados foram medalha de ouro para Manoel Peterlongo, prata

para Irmãos Maristas e bronze para Domingos Deconto, David Bagatini, Albino Parisi e

Pedro Carrera. Em 1914, se realiza a 2ª Exposição de Uvas, no Clube Borges de Medeiros,

nos dias 12 a 15 de fevereiro, participaram 268 expositores. (ARQUIVO HISTÓRICO DE

GARIBALDI). Cita-se a seguir as principais festas e suas principais características:

I FENACHAMP - De 10 a 26 de julho de 1981. Presidente, Adolfo Alberto Lona.

Rainha, Ana Beatriz Peterlongo Franciosi. Princesas, Ana Inês Fachin e Marines

Emanuelli. Presenças: Presidente da República General João Batista de Figueiredo e

o Governador do Estado, Amaral de Souza.

II FENACHAMP – De 29 de junho a 22 de julho de 1984. Presidente, Lauro Rigoni.

Rainha, Rosana Cristina Ogliari. Princesas, Mariléia Inês D’Arrigo e Anelise Pizzi.

Presença: Ministro da Indústria e Comércio, Camilo Penna.

III FENACHAMP – De 10 de julho a 02 de agosto de 1987. Presidente, Valdomiro

José Brandelli. Rainha, Josaina Brandelli. Princesas, Roselice Parmegiani e

Alexandra Nicolini.

IV FENACHAMP – De 06 a 29 de julho de 1990. Presidente, Ambrósio Chesini.

Rainha, Beatriz Bocchese Arregui. Princesas, Ana Cristina Cofferi, Fabiana

Agostini, Mara Zorrer e Simone Simonaggio.

V FENACHAMP – De 09 de julho a 01 de agosto de 1993. Presidente, Ademar

Petry. Rainha, Morgana Facchinelli. Princesas, Lisiane Delazzeri e Renata

Santarosa.

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FESTA DO CHAMPANHA – De 30 de outubro a 08 de novembro de 1998. Não

teve presidente, mas comissões, o promotor executivo da festa foi Cláudio Troian.

Rainha, Roberta Delazzari. Princesas, Antonella Fellini e Franciele Carraro. A Festa

ocupou parte da Rua Buarque de Macedo e das Av. Rio Branco e Presidente

Vargas.

FESTA DO CHAMPANHA 2000 - De 11 a 22 de outubro de 2000. Rainha, Kelli

Lorenzi. Princesas, Andréia Meneguzzi e Grasiela Pertille. Também realizada nas

principais ruas do centro da cidade.

FENACHAMP 2003 - De 03 a 19 de outubro de 2003. Presidente, Antenor Fellini.

Rainha, Caroline Benini Magagnin. Princesas, Alessandra Guarnieri e Lúcia

Misturini. Esta festa foi realizada pela Prefeitura Municipal, Secretaria de Turismo,

Indústria e Comércio e Comissão da Fenachamp.

FENACHAMP 2005 – De 30 de setembro a 16 de outubro. A organização da festa

foi de responsabilidade do Presidente Antenor Fellini, vice-presidente Gilberto

Pedrucci e suas comissões. A corte da mesma foi formada pela Rainha Mariana

Milani e pelas princesas Marizete Locatelli e Vanessa Dalla Valle Sabei.

FENACHAMP 2007 – De 19 de setembro a sete de outubro. Presidente, Gilberto

Pedrucci. Rainha, Veroní Ballestrin Girelli. Princesas: Claiana Pieta e Cristina

Carniel. A 10ª edição da Fenachamp – Festa Nacional do Champanha teve como

proposta resgatar a história dos 25 anos da Festa e homenagear todos que

trabalharam pela realização e pelo sucesso das edições anteriores.

FENACHAMP 2009 – Este evento esta previsto de primeiro a 25 de outubro de

2009. (FENACHAMP, 08).

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9.4 Festa Nacional da Vindima de Flores da Cunha – Fenavindima

Expõem-se a seguir as principais festas já realizadas em Flores da Cunha:

I FENAVINDIMA – De 26 de fevereiro a 12 de março de 1967. Presidente:

Claudino Muraro.Rainha: Marisa Bigarella. Princesas: Odali Fontana, Silvia

Mattioni, Bernardete Soldatelli e Maria do Carmo Toigo.

II FENAVINDIMA - De 17 de fevereiro a 4 de março de 1973. Presidente: Januário

Bulla. Rainha: Justina Finger. Princesas: Leonor Mioranza e Olívia Chiarani

III FENAVINDIMA - De 21 de fevereiro a 7 de março de 1976. Presidente: Victório

Carlos Toigo. Rainha: Miriam Pedron. Princesas: Clara Panizzon e Maria Fernanda

Borgetti.

IV FENAVINDIMA - De 17 de fevereiro a 4 de março de 1979. Presidente: Ângelo

Araldi. Rainha: Jaqueline Cardoso. Princesas: Márcia Lunardi e Kátia Gonzáles.

V FENAVINDIMA - De 27 de fevereiro a 14 de março de 1982. Presidente:

Januário Bulla. Rainha: Sueli Veadrigo. Princesas: Marisa Coloda, Ritamar Devenz e

Sílvia Molon. Miss Simpatia: Rosane Caldart.

VI FENAVINDIMA - De 21 de fevereiro a 8 de março de 1987. Presidente: Floriano

Molon. Rainha: Sônia Dalla Vale. Princesas: Adriana Muraro e Gema Smiderle.

VII FENAVINDIMA - De 17 de fevereiro a 4 de março de 1990. Presidente:

Honorino Toigo. Rainha: Andréia Carpeggiani. Princesas: Sandra Guerra e Renata

Zorgi.

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VIII FENAVINDIMA – De 18 de fevereiro a 5 de março de 1995. Presidente: Carlos

Raimundo Paviani. Rainha: Cristiane Passarin. Princesas: Alessandra Muraro e

Kelen Cavalli.

IX FENAVINDIMA – De 12 de fevereiro a 14 de março de 1999. Presidente:

Floriano Molon. Rainha: Giovana Ulian. Princesas: Cláudia Muraro e Cristiane

Piccoli.

X FENAVINDIMA - De 14 de fevereiro a 16 de março de 2003. Presidente:

Floriano Molon. Rainha: Márcia Belincanta. Princesas: Franciele Sgarioni e Andréia

Debon.

XI FENAVINDIMA - De 23 de fevereiro a 18 de março de 2007. Rainha: Fabiane

Veadrigo Princesas: Fernanda Longhi Nicole Toigo Montanari. Encerra com mais de

80 mil visitantes. (FENAVINDIMA, 08).

9.5 Festa de Abertura da Vindima - Monte Belo do Sul

Festa de Abertura da Vindima. O evento, que está em sua 5ª edição, marca o início da

colheita da uva na serra gaúcha. Os parreirais de Monte Belo do Sul são um dos protagonistas

do desenvolvimento econômico, social e cultural do Rio Grande do Sul. Desde a colheita até

o vinho, cultivam-se hábitos, nascem histórias, surgem cantos, fluem emoções. E, tanto

quanto a produção propriamente dita, a colheita da uva também foi se incorporando

juntamente com a cultura regional como uma importante tradição do Rio Grande do Sul.

(MONTE BELO DO SUL, 08).

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9.6 Festa do Vinho Novo de Forqueta – Caxias do Sul

Festa do Vinho Novo - Nasceu oficialmente em 2001, no distrito de Forqueta, Caxias

do Sul. Foi idéia do Padre Darci Bertolini, devido que a maioria das famílias do distrito

trabalha na vitivinicultura. De acordo com os organizadores, o evento tem como principal

objetivo resgatar uma cultura universal, que é a “benção do vinho,” herança trazida pelos

primeiros imigrantes que chegaram à região, como forma de manter vivas as suas raízes.

Conta a tradição, que após o trabalho da colheita, as famílias chamavam o padre da paróquia

para abençoar o vinho e depois faziam uma grande festa.

De acordo com o Padre Darci Bortolini (2008), “o vinho novo, que é elaborado com

uva da última safra, é considerado símbolo da fertilidade, da longa vida, revigorante dos

fracos e a alegria dos festeiros que no fim da festa está presente no sorriso, no canto, na

poesia, no sangue e no vigor”, salienta.

Na Festa do Vinho Novo, os turistas podem degustar os primeiros vinhos resultado das

uvas colhidas nos meses de fevereiro e março, visto que a festa geralmente ocorre no mês de

julho. A festa reúne 14 comunidades do local, além do vinho novo, os turistas encontram a

farta culinária de origem da imigração italiana no Brasil, ao som de grupos típicos e

apresentação de danças. Nas ruas do distrito, o visitante pode conhecer a história da

colonização, através de desfiles de carros alegóricos temáticos. Olimpíadas coloniais fazem

parte desta festa, além dos torneios de bocha e outros jogos. (SERRA GAÚCHA, 08). Edições

das Festas do Vinho Novo ocorreram em:

2001 – A melhor novidade da Serra gaúcha. 2004 – Da alma de nossa gente, aos cálices em nossas mãos. 2006 – Uma viagem ao coração do imigrante. 2008 – Foi a última edição com o lema “Esta Festa te espera” no mês de julho. (FESTA DO VINHO NOVO, 08).

9.7 Homenagens ao Vinho e ao Espumante no Rio Grande do Sul

O Rio Grande do Sul passa a comemorar a partir desta década dois dos seus mais

importantes produtos: o vinho e o espumante fino brasileiro. Através desta iniciativa, além de

estimular a cultura e o consumo desses produtos, contribui para o impulso e desenvolvimento

do enoturismo no Estado.

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9.7.1 Dia Estadual do Vinho

O Dia Estadual Do Vinho - É uma promoção de Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin)

e Governo do Estado, através das secretarias da Agricultura e Abastecimento e de Turismo e

de Esporte e Lazer. Na capital, as ações tiveram como parceiros, a Prefeitura Municipal de

Porto Alegre, e Irmandade dos Italianos e patrocínio da Rede Wal Mart hipermercados Big, e

execução de Phoenix Produções e Marketing. A ser realizado anualmente, no primeiro

domingo de junho, o Dia Estadual do Vinho foi criado em dezembro 2003, através da Lei n°

12.019, de projeto do deputado Iradir Pietroski, aprovado por unanimidade pela Assembléia

Legislativa e sancionado pelo governador Germano Rigotto, a 11 de dezembro. A

comemoração foi formalmente sugerida pelo senador Sérgio Zambiasi. A primeira celebração

da data foi em seis de junho de 2004.

A primeira celebração da data, contou com ampla programação. Na Serra Gaúcha, isto

se deu através de eventos nas praças centrais das cidades, abertura de vinícolas à visitação e

oferta de produtos com preços promocionais em estabelecimentos diversos, entre outras

ações. Em Porto Alegre, encenação da chegada dos imigrantes italianos ao Rio Grande do

Sul, no Cais do Porto, assistida por autoridades e convidados, marcou oficialmente o Dia do

Vinho. Também na região metropolitana da Capital, churrascarias e restaurantes associados à

Irmandade dos Italianos ofereceram sua carta de vinhos com valores promocionais.

A data comemorativa tem, não apenas o propósito de estimular a cultura e o consumo

do vinho, e de impulsionar o turismo temático - no caso, o enoturismo - mas também, celebrar

um dos mais tradicionais e importantes produtos do Estado do Rio Grande do Sul, principal

pólo vitivinícola do país. (DIAS ESTADUAL DO VINHO, 08).

9.7.2 Dia Estadual do Espumante Fino Brasileiro

O Dia Estadual Do Espumante Fino Brasileiro – Foi instituído em 2005, pela Lei nº

12.330, na Assembléia Legislativa do Rio Grande do sul, sendo o dia 22 de outubro, festejado

juntamente com o Dia do Enólogo. Este projeto foi encaminhado pela Deputada Estadual

Maria Helena Sartori. O projeto tem como objetivo valorizar o espumante fino brasileiro,

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através de data especial, e promover o mesmo. O projeto foi sugerido pela Confraria do

Champanhe da Serra Gaúcha. (ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA, 08).

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10 CONCLUSÃO

O presente trabalho dobrou-se sobre o estudo do surgimento do Enoturismo nos

municípios de Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Garibaldi, Flores da Cunha e Veranópolis,

integrantes da Região Uva e Vinho.

Assim, pois, o Enoturismo brasileiro pode ser considerado jovem, não chega a

completar um século de atividade. Pode-se dizer que é mais recente ainda sua

representatividade econômica. É de suma importância ressaltar que, mesmo nos países que

apresentam mais de mil anos em tradições vitivinícolas, o enoturismo somente nas últimas

décadas vem conquistando espaço no segmentado setor turístico. No Brasil, mais

especialmente na Região Uva e Vinho, o Enoturismo demonstrou importante evolução. As

oportunidades surgem e os empreendedores estão aproveitando o momento para crescer

juntos. As informações adquiridas para o desenvolvimento do trabalho permitiram esclarecer

algumas considerações, embora limitadas, uma vez que houve um corte no número de

entrevistados e na área geográfica.

Resulta desta maneira, de informações que puderam ser absorvidas no período e que

confirmam o destaque do Enoturismo, sua maneira de interferir no desenvolvimento de uma

região, contribuindo com o surgimento de associações, festas alusivas a uva e ao vinho,

instituições de ensino, serviços de profissionais qualificados e, sobretudo, o incremento

socioeconômico, cultural na região Uva e Vinho. Atualmente, o Enoturismo incorpora um

cenário potencializado dado a sua importância para inúmeras empresas que trabalham nesse

segmento e, para a comunidade local, que dele dependem para sua sustentabilidade e registro

de memória coletiva. Percebe-se que a região estudada tem vocação para o Enoturismo,

justificado através das raízes culturais e certamente, pela hospitalidade local, que evidencia a

preocupação com o bem receber, traduzindo-se em uma cultura hospitaleira.

Conforme Paulus (2008), para uma região ser considerada turística, esta deve contar

com infra-estrutura de aporte, ou seja, a união da hotelaria, transporte e gastronomia. Diante

disso podemos afirmar que a Região Uva e Vinho atinge seu auge turístico no período de

1920 a 1940. O cenário do modelo turístico (veraneio) apresenta sinais de declínio a partir dos

anos 50, se agravando nos anos 70, quando a região passa a obter um crescimento industrial e

deixa a atividade do turismo de veraneio para um segundo plano. O reposicionamento da

atividade turística ocorre a partir da década de 80, tendo como principal modelo turístico na

região o Enoturismo.

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Nota-se que o Enoturismo na região passa por três momentos distintos.

Primeiramente o turista foi atraído para a região através de festas e exposições alusivas à uva

e ao vinho. Esses grandes eventos ajudaram a projetar o nome dos municípios no Brasil

inteiro, muitas vezes, prestigiados por personalidades importantes e o mais interessante foi

que a comunidade local foi inserida neste espírito receptivo. As empresas passaram a

“enxergar” o turista com grande potencial de propagação e de consumo de seus produtos,

tendo como finalidade fidelizar o cliente.

Num segundo momento, o Enoturismo ganha força usando como atrativo a

gastronomia típica da imigração italiana. Várias empresas abriram suas portas aos visitantes,

oferecendo jantares, simples ou requintados, tendo como estrela principal o vinho. Este,

muitas vezes, acompanhava o visitante em sua viagem de retorno.

E como terceiro aspecto relevante do estudo, o destaque é dado aos vinhos finos e,

conseqüentemente, a região começa a ser reconhecida como importante produtora. Portanto, a

conquista da Indicação de Procedência passa a ser vista como uma ferramenta de marketing.

Mas não resta dúvida que a Indicação de Procedência solidifica uma nova fase para o

Enoturismo brasileiro, especialmente pelo diferencial de seus produtos, cercados por um

mercado contemporâneo e globalizado.

Evidencia-se a localização geográfica da Região Uva e Vinho, de fundamental

importância, devido à proximidade com a Região das Hortênsias, considerada importante pólo

indutor do turismo do Estado, favorecendo a criação de uma rede de parcerias entre agências

de viagens e operadoras, possibilitando ao visitante descobrir novos destinos turísticos. Além

disso, está próxima ao principal emissor de turistas do Estado, a região da capital gaúcha.

Outro papel importante do Enoturismo é sua contribuição para a preservação da identidade

histórico-cultural, motivando agregar novos atrativos ligados à uva, ao vinho e seus derivados.

No entanto, como resultado as entrevistas somaram longos momentos, grande parte

do material foi analisado e aproveitado como base nas principais idéias consideradas

importantes para tecer a história do enoturismo e, com auxílio do professor orientador, foram

analisadas e organizadas.

E finalizando, considera-se o presente estudo como sendo parcial, sem a pretensão de

encerrar o tema e sim, pelo contrário, instigar outros estudos, que venham contribuir para

novos conhecimentos sobre o Enoturismo na Região.

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APÊNDICE A – Entrevistas concedidas, referente ao surgimento do turismo e do enoturismo na região.

ENTREVISTA DE ADRIANO MIOLO – Enólogo diretor técnico da Miolo Wine Group.

Entrevista concedida em: 30 de setembro de 2008.

A Miolo foi inaugurada 1989, sua primeira safra foi realizada em 1990. Foi uma

época marcada pela crise no setor vinícola, muito parecida com a atual, e muitos agricultores

não sabiam para quem entregar suas uvas. Nesta mesma época surgiram várias vinícolas como

a Reserva da Cantina, Lídio Carraro, Don Laurindo, Vallontano e outras mais.

O enoturismo na Miolo aconteceu ao natural, ele foi tratado como uma maneira de

promover os vinhos, um método parecido naquele momento com o da Casa Valduga que

fazia jantares para os funcionários do Banco do Brasil que vinham a Bento Gonçalves realizar

treinamentos. Era tanta gente que vinha que foi fomentando as pequenas empresas a fazer o

mesmo trabalho dos jantares. [...], surgiu à idéia de criar uma hostearia no porão da casa, ali

foram realizados jantares de duas a três vezes por semana e ainda hoje é servido o mesmo tipo

de cardápio com comida colonial: galeto, polenta, sopa de capeletti e saladas. A hostearia

funcionava também como varejo, onde os visitantes podiam adquirir os vinhos, nesta época

não era ainda oferecida visitação no interior da vinícola. [...].

Com o passar dos tempos, percebeu-se que as vendas dos vinhos nos jantares eram

bem maiores do que nos mercados. A partir disso se estruturou melhor a hostearia e se

procurou trazer um fluxo maior de pessoas. Conseqüentemente aumentaram as vendas de

vinho. O próximo passo foi abrir uma sala de vendas na hostearia. Durante o dia o turista

tinha acesso à vinícola e depois adquiria os vinhos na hostearia. [...], o acesso ao Vale dos

Vinhedos era horrível, não existia asfalto e mesmo assim as pessoas vinham visitar. Como o

fluxo estava aumentando, houve a necessidade de abrir um varejo na vinícola e este foi

desenvolvido entre as próprias pipas de vinho.

Em 2001, a Miolo construiu um novo complexo de visitação, desta vez dentro de um

plano voltado ao enoturismo. Em 2002, foi inaugurada a nova sala de degustação e com

horários de visitação programados, [...]. Neste ponto o enoturismo passa a ser visto como

forte ferramenta de Marketing, o visitante passa a ter uma experiência positiva com a marca e

os produtos. Atualmente o enoturismo é responsável por 4% do faturamento total da empresa,

isto é muito importante, fazendo do próximo passo uma ampliação da estrutura de atrativos.

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A gastronomia foi à principal atração do enoturismo no início, agora o vinho passa a

ser o primeiro atrativo. No ano passado aproximadamente 120.000 visitantes estiveram na

Miolo, neste ano esperamos aproximadamente 10.000 a mais. O maior emissor de turistas é o

Rio Grande do Sul, principalmente oriundos da Grande Porto Alegre. [...].

O modelo ideal de enoturismo no Vale dos Vinhedos atualmente é o da Casa Valduga,

por apresentar uma infra-estrutura toda voltada ao atendimento ao enoturista, como visitações,

restaurantes e pousadas. Na Miolo o principal foco de atração é o vinho e foram procuradas

parcerias em outros setores do turismo, como o da gastronomia e hospedagem, que é o caso

do Hotel Vila Europa.

A grande diferença entre a Casa Valduga e a Miolo é que o enoturismo para a Casa

Valduga é o principal negócio; na Miolo o grande negócio é a elaboração de vinhos e

derivados.[...]

O enoturismo pode ser a grande saída para as pequenas empresas, visto que a nível

nacional e internacional cada vez é mais difícil chegar ao mercado consumidor, devido aos

custos logísticos de locomoção e de vendas. Manter uma estrutura comercial no mundo é

algo que requer elevados investimentos e no Brasil é maior ainda.

O Napa Valley recebe atualmente em torno de 3,5 milhões de turistas ao ano, retorno

de um trabalho realizado aproximadamente há 30 – 40 anos atrás. As empresas estão

totalmente voltadas ao enoturismo, e as vendas de seus produtos ao visitante é o foco

principal. Na França o enoturismo é visto como um bom negócio para os hotéis, pousadas e

restaurantes. As empresas vinícolas enxergam o enoturismo como uma ferramenta para

promover seus produtos e não como negócio.

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ENTREVISTA DE ASSUNTA DE PARIS - Professora, historiadora, pós-graduada em

História da América Latina. Diretora do Arquivo Público e Histórico Municipal de Bento

Gonçalves, escritora de vários livros dentre eles “Bento, origem e história; Bento Gonçalves

ontem e hoje; a Trajetória do Comércio em Bento Gonçalves e Memórias: Bento Gonçalves-

RS Fundamentação Histórica. Entrevista concedida em: 05 de agosto de 2008.

Depois de 25 anos de colonização, começou uma divulgação na Capital e demais

regiões do Rio grande do Sul, aonde médicos entenderam que a alimentação do imigrante

italiano era sadia e a nossa região, por ser chamada de Serra, não só pelas montanhas, mas

pelos ventos que podiam trazer benefícios à saúde. Um lugar aonde o visitante podia

vislumbrar de horizontes ao longe. Estes visitantes começaram a se estabelecer nas casas dos

moradores locais, estes queriam conhecer os hábitos dos imigrantes, sua cultura e modo de

viver. O lema dos imigrantes era: “trabalho e oração”.

O vinho começa a ter espaço com o surgimento das cooperativas, onde estas passaram

a comprar cada vez mais uva. O prefeito de Caxias do Sul – Celeste Gobatto traz para a região

o enólogo “Paternó” e inicia-se a fundação de muitas cooperativas.

A estrada de ferro tirou o município do isolamento em 1919, várias empresas

transferiram seus estabelecimentos nas proximidades da estação ferroviária, facilitando o

escoamento de suas produções, [...] o clero ajudou o imigrante a se fixar no campo, e fundou

diversas escolas particulares. [...].

[...], as pequenas comunidades e os distritos começaram a realizar exposições de seus

produtos. Estas exposições eram feitas geralmente no dia do agricultor ou nas festas religiosas

do padroeiro, mostrando ou fazendo oferendas do que eles produziam e assim se chegou a

uma complementação. Nos anos 60, conhecidos como os “anos de chumbo” devido à

ditadura militar, mais precisamente em1967 é realizada a I Fenavinho em Bento Gonçalves,

onde o povo e o clero se uniram e mostraram Bento Gonçalves ao Brasil. Pela primeira vez

um presidente visita Bento Gonçalves (Humberto Alencar Castelo Branco),

conseqüentemente, mais tarde, em 73 é inaugurado o asfalto São Vendelino. [...].

O principal atrativo no início de Bento Gonçalves, foi a cultura italiana, esta era

diferente das demais e o povo era alegre. As pessoas visitavam a região e os imigrantes se

sentiam confiantes em receber os visitantes em suas casas, eles mostravam tudo que tinham,

tomavam café juntos e tinham vinho a oferecer.

Com o passar do tempo, os grandes parreirais foram surgindo, algumas propriedades

passaram a plantar Plátanos, para substituir as taipas de pedras. O plátano na primavera com

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seu pólen passou a complicar o ar dos veranistas, que temiam que fizesse mal à saúde para os

que tinham problemas de brônquios, asmas ou difícil respiração. [...].

Os planos altos eram os recomendáveis para os veranistas se hospedarem. [...].

A Ponte Ernesto Dornelles, conhecida com Ponte do Rio das Antas e Ponte de

Veranópolis, através de sua arte projetou também o turismo na região, principalmente em

Bento Gonçalves. [...].

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ENTREVISTA DE BEATRIZ PAULUS - Diretora – Executiva da Atuaserra e Professora

Universitária. Entrevistada concedida em: 10 de novembro de 2008.

A vinícola Dreher elabora o primeiro espumante moscatel na região, [...]. Durante a

década de 1970 a 1986, empresas como a Dreher, Mônaco, Aurora e Rio Grandense recebiam

turistas em Bento Gonçalves.

Em 1978, a Forestier investe fortemente no enoturismo com a criação de um parque

temático. Durante todo o período de funcionamento da Maison Forestier, a folha de

pagamento era paga com dinheiro proveniente do enoturismo. [...]. No final da década de 60 a

Cooperativa Aurora cria um ambiente para o recebimento dos visitantes. Uma pipa de vinho

onde os turistas podiam entrar e degustar os vinhos.

Depois de algum tempo a Dreher, Mônaco e a Vinícola Riograndense deixam de

atender o turista, restando a Martini & Rossi, Cooperativa Garibaldi, Maison Forestier (esta

atuou até 2002), e a Peterlongo inicia no ramo enoturístico na década de 80.

Em 1980, Tarcísio Michelon após a morte do cunhado, assume o Hotel Dall’Onder,

de propriedade do sogro. Vale-se de sua experiência na Itália e muda a idéia inicial de

empreendimento imobiliário para empreendimento hoteleiro. Por ser um empreendedor de

visão, afirmava que Bento Gonçalves tinha mercado e era possível buscar turismo.

Implementa o Hotel com áreas de gastronomia e áreas de eventos. Começa a captar turistas e

eventos do Banco do Brasil.

No início a CVC trazia turistas à região e estes pensavam estar em Gramado ou Caxias

do Sul. Chegando aqui estes turistas reclamavam muito pela falta de atividade de lazer. [...].

O enoturismo no Vale dos Vinhedos começa na Família Tumelero (Ceará da

Graciema). Durante quatro anos os turistas eram encaminhados pelo Hotel Dall’Onder para

aquele local. Os visitantes eram recepcionados pela família no porão da casa, onde podiam

adquirir vinhos, salames, queijos e outros produtos. [...]. Em 1985, a esposa do Sr. Tumelero

desiste de trabalhar com os turistas, e o casal se muda para a cidade.

Tem-se a compreensão de que o turismo principalmente no meio rural depende

principalmente da figura da mulher.

Depois da Família Tumelero os turistas são encaminhados para São Valentin (distrito

de Tuiuty) na Família Possamai, nesse meio tempo a Aurora se torna grande parceira do Hotel

Dall’Onder.[...]

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No final da década de 80, Tarcísio Michelon sugere a Casa Valduga uma experiência

nova, vender seus vinhos em garrafa, visto que este estabelecimento produzia vinhos finos e

os vendia em garrafão de 4,6 litros.

Uma vez por semana um grupo de funcionários de aproximadamente 60 pessoas era

enviado a jantar na Casa Valduga. Era uma época em que se discutia a privatização dos

bancos, e na ocasião o Banco do Brasil defendia uma idéia “nacionalista”, defendiam o

produto brasileiro. A experiência deu certo, os turistas acabavam levando vários produtos

além do vinho. A Dona Maria (matriarca da casa) fazia os pães, seu marido Luiz era uma

figura folclórica ele encantava os turistas com suas histórias.

Depois de oito meses aproximadamente a Miolo inicia um trabalho idêntico,

recebendo os turistas no porão da casa (hoje Hostearia Miolo) de chão batido.

No final de 91, já estão constituídas a Miolo e Casa Valduga e a Vinícola Cordelier

iniciando, depois surge a Don Laurindo com a enogastronomia, pouco tempo depois fica

somente com a parte de vinhos. [...]

A Adega Casa de Madeira, se posiciona com produtos diferentes, graspa, geléias e

sucos.

Em 1999 e 2000 surge uma nova geração de vinícolas a “Geração Atuaserra,”

empresas familiares profissionalizadas, onde seus empreendedores passaram a ter orientações

e treinamentos. A nova geração passa a ser composta pela Cave de Pedra, Pizzato, Cavalleri,

Reserva da Cantina, Lídio Carraro, Vallontano e Villaggio Larentis.

Enquanto a Miolo e a Casa Valduga procuravam mercados internacionais, as pequenas

vinícolas apostaram no público que visitava o Vale dos Vinhedos. [...].

O enoturismo é uma experiência completamente diferenciada, até hoje o melhor

produto de turismo que nós temos é o enoturismo, ele é sempre melhor qualificado, melhor

atendido, aponta de certa forma para uma possível enogastronomia. [...].

Enoturismo é a valorização do vinho, do espumante por pessoas que buscam através

de inúmeras experiências, descobrir o vinho ou espumante que mais agrada ao seu paladar,

junto com uma experiência vivenciada. Enoturismo é o desenvolvimento da cultura do vinho.

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ENTREVISTA DE CÉLIO SGANZERLA - Diretor do recebimento turístico da

Cooperativa Garibaldi. Entrevista concedida em: 05 de maio de 2008. Nasceu em 1948 em

Pinto Bandeira, distrito de Bento Gonçalves.

Lembra que ainda com oito anos de idade, turistas vindos principalmente de Porto

Alegre e região chegavam a Pinto Bandeira para veranear. Na grande maioria casais, a época

mais procurada era de dezembro a fevereiro. Hospedavam-se no Hotel Nichetti, [...]. O

Santuário de Nossa Senhora De Pompéia era também uma atração turística (Turismo

Religioso).

No ano de 1967, foi trabalhar na Dreher no atendimento ao turista, em Bento

Gonçalves nesta na época a Dreher já possuía um sistema de recebimento aos enoturistas,

iniciado no final da década de 50 inícios de 60. Nesta época os turistas eram recepcionados

na Adega Frau Lydia, criada especialmente para o atendimento dos visitantes. [...]. O

primeiro grupo a visitar a Dreher era oriundo de São Paulo, convidado em parceria com o

Hotel Atlântica (hoje Dall’Onder), este grupo foi conduzido por Nilson Vicenti, da

Panorama Turismo de São Paulo. Era composto por 36 pessoas, sendo a maior parte da

terceira idade. Estas pessoas viajavam como objetivo conhecer locais diferentes. [...].

Célio trabalhou na equipe de recepção dos enoturistas, esta equipe era composta por

mais quatro pessoas, atendiam todos os dias da semana, no domingo somente das 08h30min

às 12: horas. Isto na década de 70.

Estes turistas visitavam quase todas as dependências da empresa, engarrafamento,

recebimento das uvas, salas de vinificação e na Adega Frau Lydia era oferecido à

degustação dos produtos elaborados e os visitantes podiam adquirir os mesmos. Os turistas

ao visitarem a empresa podiam degustar os espumantes diretamente das autoclaves, coisa

inédita até o momento. Além das vinícolas os turistas queriam visitar toda a região, pois já

era famosa pelos outros atrativos locais ex: a Ponte de Veranópolis, a Estação do Esqui de

Garibaldi, o Vale do Rio das Antas, a gastronomia, o clima frio e a boa hospitalidade. Os

turistas ficavam em média um a dois dias, geralmente ficavam hospedados em Caxias do

Sul.

O esqui em Garibaldi contribuiu muito para atrair turistas na região, principalmente

público jovem. [...].

Após a venda da Dreher para a Heublein, passou a trabalhar na Forestier, juntamente

com Rinaldo Dal’Pizzol. No ano de 1981, desenvolveram um departamento de recepção

turística, os visitantes não só degustavam os produtos elaborados da casa, mas também

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podiam conhecer toda a estrutura da empresa, assim como o plantio dos porta enxertos, as

mais de 20 espécies de videiras novas em estado de climatização e o minizoológico. O

turista era quase obrigado a conhecer todas as instalações da empresa. [...].

- Até 1981 recebíamos alguns turistas num local improvisado.

- 1985 foram construídas a Adega de Pedra, a hospedagem, onde políticos foram

recepcionados: presidente, deputados, senadores e outras autoridades importantes

do governo.

- 1985 a 1986 foram convidadas as empresas de turismo do Brasil inteiro (captação

de turistas), se destacando as empresas CVC, Soletur, Costa e a Inelvis de

Veranópolis. Recebemos todos os tipos de grupos, inclusive os turistas que

viajavam na região.

- No início da década de 90, num só dia de feriado de Carnaval, foi recebido 35

grupos de turistas.

- Em 1989 – 1990 foram recebidos 36 a 40 mil turistas ano.

- Em 1990 foram ministrados cursos de degustação de vinhos aos visitantes, estes

visitavam os vinhedos, a vinícola e recebiam explicações da elaboração dos

vinhos, no final recebiam um diploma, talvez os pioneiros em oferecer diplomas

aos visitantes.

Nessa época a maior porcentagem de visitantes viajavam de ônibus entorno de 75%,

e o restante de carro particular. Em 1991 foi construído o Restaurante da Fenachamp, cuja

atividade principal era atender os turistas que visitavam a região e manter o visitante aqui

por mais tempo. Em Bento Gonçalves já havia restaurantes especializados nessa área, o

Restaurante Pão Queijo e Vinho (Hoje o Canta Maria) e a Churrascaria Ipiranga.

Em 2001 Célio passa a trabalhar na Cooperativa Garibaldi, exercendo a mesma

função, trazer turistas do Brasil inteiro. Atualmente essa empresa é visitada por

aproximadamente 70 mil turistas ano, vindos principalmente de São Paulo e do Rio Grande

do Sul (Porto Alegre, Santa Maria), Rio de Janeiro, Santa Catarina e do Nordeste.

[...]. O enoturista representa 3 – 4% do faturamento bruto da empresa, sendo o varejo

o segundo maior cliente da Cooperativa Garibaldi. Ainda o vinho é o produto mais

procurado pelo enoturista, depois vem o espumante e o suco de uva. Os produtos orgânicos

vêm se destacando cada vez mais na procura do consumidor.

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ENTREVISTA DE CLACIR ROMAGNA – Data de Nascimento: 13 de maio de 1947.

Empresário; atual Presidente da Atuaserra; tesoureiro por nove anos na Atuaserra e Ex-

Secretário de Turismo de Garibaldi por duas gestões. Entrevista concedida em: 03 de agosto

de 2008.

Na época em que era secretário de turismo de Garibaldi no ano de 1986, houve uma

preocupação muito grande com o turismo no município. Os turistas que visitam a região,

muito pouco entravam na cidade, os lugares mais visitados era a Estação de Esqui e a

Maison Forestier, depois seguiam para outros municípios. Em Bento Gonçalves a

Cooperativa Aurora e o Dreher eram as mais visitadas ou seguiam a Caxias do Sul.

Garibaldi era um corredor de passagem, também o turista poucas vezes se hospedava nos

hotéis da cidade, preferia os hotéis das cidades vizinhas.

Como se tratava de “turismo de passagem,” foi elaborado um projeto para atrair esse

público à cidade. Este projeto tinha como meta revitalizar o centro histórico de Garibaldi,

tombar prédios, revitalizar toda a cidade. Mas isto não foi suficiente. Garibaldi tinha mais

coisas para o turista usufruir, mais vinícolas além da Maison Forestier (esta foi até então a

única vinícola voltada para o recebimento de turistas em Garibaldi), e o Esqui voltado para

público jovem, ambos situados na RST 470. Elaborou-se um projeto junto as principais

vinícolas da cidade, George Aubert, Cooperativa Garibaldi, Martini e Rossi e Peterlongo, em

que constava que cada vinícola ficaria aberta num final de semana para receber os

enoturistas que chegavam aqui. O resultado do trabalho se deu em negociações com as

vinícolas, apresentando projetos, novas idéias, fazer as pessoas acreditar, ouvindo os

empreendedores e levar adiante esta filosofia de trabalho. A divulgação foi realizada nos

principais jornais gaúchos e nacionais e também em revistas. Havia um centro de

informações turísticas localizado anexo ao Posto do Avião (RST 470), por motivos de

segurança foi transferido para o Esqui. [...]. Neste local foi instalada uma placa de 10 m de

comprimento por 6 m de altura, nela constava o nome das vinícolas, horários e datas que

podiam ser visitadas. Os turistas olhavam e tomavam interesse em visitar. [...]. No início

algumas vinícolas reclamavam do pouco fluxo de turistas que as visitava, mas depois foi

normalizando com o tempo, e passou a dar certo.

Esta rota passou a ser chamada de “Roteiro de Visita às Vinícolas de Garibaldi”, e

este foi o início do enoturismo no município, descobriu-se o potencial deste segmento e este

foi trabalhado e tornado conhecido em toda a comunidade local, para melhor informar os

visitantes que ali chegavam. [...].

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Lembra que o Esqui foi um grande centro de atrações para jovens, depois do

encerramento de suas atividades, restou uma lacuna vazia junto ao público jovem. [...].

A Fenachamp também teve destaque importante na divulgação do turismo em

Garibaldi. Lembra que na divulgação da I Fenachamp, a comunidade garibaldense colaborou

muito, inclusive algumas divulgações da festa foi realizada nos vidros traseiros dos carros,

com tinta spray. [...].

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ENTREVISTA DE ELIANE MARTA FRARE – Data de nascimento: 26 de agosto de

1969. Supervisora da Área de Turismo do varejo da Cooperativa Aurora de Bento Gonçalves.

Atua na área de turismo há oito anos. Entrevista concedida em: 26 de setembro 2008.

A Cooperativa Aurora de Bento Gonçalves foi fundada em 1931, por 16 produtores de uva,

vinificaram aproximadamente 300.000 kg de uva, grande maioria de castas americanas. Hoje

com 77 anos de história são vinificados em média/ ano 50.000.000 kg de uvas, em 2008 foram

56.000.000 kg.

O enoturismo inicia no final da década de 60, mais precisamente em 67 com a

realização da I Fenavinho em Bento Gonçalves. Foi uma das primeiras vinícolas a abrir as

portas ao turista em Bento Gonçalves. Nesta época se visualizou que o enoturismo era uma

boa fonte de renda, geração de emprego, e uma boa forma de divulgação institucional dos

produtos. Percebeu-se que as pessoas que visitavam a empresa, acabavam levando uma

imagem dela e de seus produtos, isso fez que a emoção ficasse gravada na sua memória,

influenciando depois na escolha dos produtos.

Em 1967 foi o marco inicial, mas a década de 70 foi uma das épocas em que aconteceu

um aumento considerável de visitantes, tanto que o roteiro turístico de visitação era pequeno,

mas era suficiente para a ocasião, talvez metade do atual. Havia uma sala de degustação que

era uma pipa de vinho de madeira de 40.000 litros de capacidade, onde o visitante podia

entrar. O varejo era muito pequeno. Mas com o número de visitas aumentando

constantemente, no final dos anos 70, o ambiente foi reformado e criou-se um roteiro para

atender todos os visitantes que aqui chegavam. [...].

Em 1984, foi inaugurado um novo circuito turístico, este roteiro mostra os diversos

procedimentos da arte de elaborar vinhos, percorrendo corredores com barris de carvalho,

tanques de inox e enormes pipas de madeira. O trajeto é interligado por túneis, que fazem o

visitante vivenciar um pouco da cultura, das tradições locais e do romantismo contagiante do

mundo do vinho. [...].

O ponto alto da visitação é a chegada a Cave di Bacco, que ainda existe sendo um dos

maiores sucessos da visitação. No local é oferecida degustação gratuita de toda a sua linha de

produtos. No varejo da empresa o turista tem a oportunidade de adquirir os produtos

degustados. Atualmente 150.000 turistas ano visitam este estabelecimento vinícola. Em julho

deste ano foram contabilizados aproximadamente 20.000 visitantes, sendo 2.000 visitantes a

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mais do mesmo período anterior. (2007 crises no setor aéreo, agravado pela TAM). Uma

equipe de 25 atendentes todos devidamente treinados faz a recepção dos visitantes. [...].

Atualmente o enoturista representa o segundo maior cliente em rentabilidade, ele

passou a ser visto como uma ferramenta importante de divulgação, comercialização e de

grande potencialidade. [...].

O Rio Grande do Sul continua sendo o maior mercado emissivo de visitantes, seguido

por São Paulo, Paraná, Santa Catarina e outros estados mais. O enoturismo de Bento

Gonçalves tem crescido bastante no conceito dos visitantes e ainda pode crescer mais, não é

por acaso que o município é hoje o terceiro pólo indutor do turismo do Estado.

A Aurora participa em várias divulgações turísticas, talvez a vinícola que mais

participa em eventos, divulgando, fomentando o enoturismo em todos os locais visitados, não

leva apenas o nome Aurora ou Bento Gonçalves, mas o de toda a região Vale dos Vinhedos,

Caminhos de Pedra, Pinto Bandeira, Garibaldi, enfim o nome Serra Gaúcha. Sabe-se que o

turista que visita nossa região, não visita só um local ou uma só vinícola, ele quer conhecer

outros atrativos.

O vinho é um grande atrativo, o espumante brasileiro está com uma boa aceitação no

Brasil e no exterior. O enoturismo esta mudando um pouco o conceito, que o país não tem

apenas Carnaval, futebol e caipirinha. [...], aos poucos o turista estrangeiro vem surgindo,

graças também a presença da Aurora em feiras internacionais.

O enoturismo não só vende vinho, ele vende principalmente emoção, história, tradição

e hospitalidade. A qualidade dos produtos aqui encontrados se deve também aos enoturistas,

muito têm contribuído para o desenvolvimento dos mesmos.

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ENTREVISTA DE EVANDRA STRINGHINI - Departamento Financeiro Giordani

Turismo Ltda. E-mail: [email protected] - recebido no dia 03 de agosto de

2008.

Histórico da Empresa – Giordani Turismo Ltda.

A Giordani Turismo Ltda foi fundada em 17 de novembro de 1992 com o propósito de

ser a agência operadora do passeio turístico-cultural Maria Fumaça.

Concessionária da RFFSA a princípio, e posteriormente da ANTT (Agência Nacional

de Transportes Terrestres), é responsável pela operação total do passeio, tanto operacional

quanto comercial e de divulgação. Logo após sua criação instalou o departamento de emissão

de passagens aéreas e pacotes. Em abril de 1999, instalou-se em escritório próprio, e em 07 de

junho de 2002 abriu a filial de receptivos, instalada dentro de um hotel da cidade, visando

atender outro segmento do mercado turístico.

Em 10 de dezembro de 2003, inaugurou a Epopéia Italiana Parque Temático, um

espetáculo de som e luz guiado por atores que contam a história da imigração italiana através

de personagens. A Giordani Turismo faz parte do grupo Santo Antônio.

Em janeiro de 2006, a empresa recebeu a certificação integrada nas Normas NBR ISO

9001:2000 e 14001:2004.

Talvez você já tenha ouvido falar, mas antigamente, ou seja, antes da Giordani Turismo

operar o trecho ferroviário de Bento a Carlos Barbosa, o passeio de Maria Fumaça era

realizado pela prefeitura de Bento Gonçalves, no trecho entre Bento Gonçalves e Jaboticaba.

Por motivos de segurança este trecho teve que ser desativado. Alguns anos depois a RFFSA

liberou o trecho de Bento Gonçalves a Carlos Barbosa para transporte turístico e a Giordani

Turismo assumiu esse passeio, pois viu a possibilidade prosperar, desenvolvendo um roteiro

turístico que pudesse alavancar o turismo de Bento e região.

A maior parte dos turistas recebidos em nossa cidade provém dos estados de São Paulo,

Minas Gerais, Santa Catarina e aqui do Rio Grande Sul, principalmente Porto Alegre e

municípios da região metropolitana. Do exterior recebemos turistas da Argentina e Uruguai.

A empresa possui a seguinte estrutura:

A Giordani Turismo é a operadora do Passeio de Maria Fumaça, possui agência que

emite passagens aéreas e pacotes turísticos nacionais e internacionais e uma filial de

receptivos que atende nas dependências do Grande Hotel Dall' Onder. Além disso, possui

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frota própria de ônibus e também é proprietária do Parque Temático Epopéia Italiana,

localizado próximo à estação ferroviária de Bento Gonçalves.

A Giordani Turismo possui a concessão do trecho ferroviário junto a ALL (América Latina

Logistica), e a RFFSA (Rede Ferroviária Estadual Sociedade Anônima).

São duas locomotivas: Mikado ano 1941 e Yung ano 1954. A composição é formada por

06 vagões. Está sob respondabilidade da Giordani Turismo, o prédio da Estação Ferroviária

de Bento Gonçalves e Garibaldi e a Plataforma de Carlos Barbosa, localizada próxima à

entrada da cidade. A empresa possui no total 45 colaboradores.

Histórico das Locomotivas:

As máquinas a vapor marcaram um importante período da história, o da Revolução

Industrial, em que o trem era o principal meio de transporte da época. Hoje restam somente

alguns exemplares em todo o mundo. Duas dessas raridades ainda percorrem os trilhos

gaúchos entre Bento Gonçalves, Garibaldi e Carlos Barbosa.

Mikado: A locomotiva modelo Mikado 156, fabricada nos Estados Unidos em 1941.

Trabalhou na famosa estrada de ferro Teresa Cristina em Tubarão - Santa Catarina.

Yung: A locomotiva modelo Yung fabricada na Alemanha em 1954 veio para o Brasil

onde puxava 11 vagões de minérios nas minas de carvão da Companhia Siderúrgica Nacional.

A composição é formada pela locomotiva e seis carros. A locomotiva pesa

aproximadamente 80 toneladas e cada carro pesa em torno de 30 toneladas. A locomotiva é

movida à lenha e água para o vapor. O percurso realizado é de 23 km de ida e 23 km de volta.

O surgimento da ferrovia teve grande importância para o desenvolvimento da economia local,

e alavancou o progresso da região. Foi à comunidade, principalmente os comerciantes, que

solicitaram a linha férrea junto ao governo no ano de 1895, facilitando assim a

comercialização e o transporte de produtos coloniais como uva, milho, trigo e batata doce.

Porém, ela só foi inaugurada no ano de 1910, pelo governador Carlos Barbosa. A linha

Bento Gonçalves/Garibaldi/Carlos Barbosa começou a ser construída em 1916 e operada

somente em 1919. Mas com o passar do tempo os trens deixam de correr sobre os trilhos

ficando no esquecimento. O maquinista agora é motorista; o progresso agora é sinônimo de

novas necessidades como foi o trem tão esperado pela população. E por isso, através de nosso

passeio queremos proporcionar a todos um emocionante retorno ao passado, aos tempos

áureos do transporte ferroviário.

Em 07 de setembro de 1918, foi inaugurado o trecho Carlos Barbosa/Garibaldi.

Em 10 de agosto de 1919, o trem chegou a Bento Gonçalves.

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Conforme Inventário das Locomotivas a Vapor no Brasil, organizado por Regina

Perez foram registradas um total de 419 locomotivas em todo Brasil, que foram catalogadas e

fotografadas nesse livro. No estado foram registradas no total 25 locomotivas. Vale salientar

que de todas essas apenas 02 estão em funcionamento, que são as operadas pela Giordani

Turismo. As demais são estáticas, presentes em museus, praças e depósitos.

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ENTREVISTA DE FIRMINO SPLENDOR – Ano de nascimento: 1940 em Bento

Gonçalves. Formou-se no curso de viticultura e enologia. Trabalhou 11 anos como enólogo na

Dreher. Empresário e professor de Enologia (CEFET/BG). Entrevista concedida em 15 de

setembro de 2008.

Sua primeira atividade profissional foi na Dreher em 1964, pertencente a um grupo

alemão. Esta empresa iniciou suas atividades na Av. Marechal Floriano, hoje se situa a Eletro

Dam (empresa de materiais elétricos), ainda hoje podem ser visto um brasão em suas paredes,

toda sua arquitetura em estilo europeu. Mais tarde mudou-se para a Rua Assis Brasil 613,

devido o pouco espaço físico de suas instalações. [...].

A empresa foi fundada em 1910, atinge seu auge na década de 60 - 75. Nesta época a

Dreher ostentava uma primazia, de um prestigio tão grande com o produto mais vendido no

Brasil, o Conhaque Dreher. Este produto projetou o nome Dreher em todo o país. Este é o

ponto, a raiz, ou melhor, a semente do turismo em Bento Gonçalves no ano de 1965 em

diante. Na década de 60 havia apenas três grandes empresas em Bento Gonçalves, Dreher,

Aurora e Barzenski (indústria de móveis). Estas empresas foram as pioneiras e as maiores

impulsionadoras do turismo. A Dreher atraia muitos turistas que chegavam em caravanas de

ônibus, principalmente de Recife, Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro. Quando o

proprietário Carlos Dreher Neto visitava alguns estados, muitas vezes era recebido pelo

governador local. Ele projetava o nome do produto que vendia. Sendo que o Conhaque

Dreher era muito comentado em todas as principais capitais do Brasil.

Na Guanabara (RJ) existia um grande navio que tinha uma bandeira, nela estava

estampado o nome do conhaque. O nome Dreher era um sucesso no Brasil, um marco para o

turismo e do desenvolvimento da palavra uva e vinho. Além do conhaque produzia excelentes

espumantes, estes não vendiam em grandes quantidades como os espumantes de Garibaldi das

vinícolas George Aubert e Peterlongo, estes foram os dois maiores vendedores de

espumantes. Os espumantes Dreher não eram fortes em vendas de grandes volumes, mas sim

era forte na qualidade, sendo que estes eram comercializados com preços mais elevados dos

concorrentes e eram muito requisitados pelos grandes apreciadores das cidades brasileiras. Na

ocasião eram elaboradas quatro autoclaves de 10.000 litros cada, por mês. Para a ocasião era

considerado um volume pequeno, mas expressivo para quem não tinha como produto o

espumante em primeiro plano no mercado.

Estes espumantes eram elaborados com vinho base de castas Riesling, Trebbiano e

de Peverela. [...]. Também a Dreher produzia o moscatel, com uma uva que o próprio

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Splendor escolheu numa propriedade da família Barbieri no município de Monte Belo do Sul,

que no início era denominado de filtrado doce. Este filtrado doce era elaborado com 100% de

uvas moscatéis e com três atmosferas de pressão e se denominava de Espumone. Era

extremamente rico, agradável, natural e muitas pessoas vinham provar, dar opiniões e ficavam

maravilhadas com a bebida, comentavam “os senhores não vão ter produto suficiente para

vender”. Mais tarde o filtrado doce é alterado com permissão do Ministério da Agricultura,

vindo a permite hidratar o produto até 50%. Lamento muito, isso fez modificar toda uma

realidade de um produto que nasceu bem e o tornou inviável, de qualidade inferior e acabou

sendo rotulado com produto de massa. O Dreher foi o pioneiro em elaborar esta bebida

maravilhosa, mas com a alteração do produto, caiu o consumo, pois esta alteração veio para

piorar e não para melhorar.

No ano de 1967, em função da I Fenavinho, a Dreher abre seu varejo para atender os

visitantes desta festa. Em 1970, o varejo se consolida com a criação da adega Frau Lidia

(nome da matriarca da família), e fica até o final de sua história. Esta adega era um lugar todo

especial, onde se recebiam todos os visitantes, autoridades do país em visita ao município,

sendo um local confortável, mas simples e de bom requinte. A porta da adega era feita em

arcos de tijolos, estilo romano, no fundo barris de madeira. Neste local os visitantes eram bem

recepcionados, se dava uma atenção toda especial e particular, era um ambiente de diálogo,

conversação, trocas de idéias e, sobretudo de receber opiniões.

Muitas pessoas ilustres visitaram a Dreher, o Presidente da República Castelo Branco

(em visita a I Fenavinho em 1967), governadores de estado, o Presidente Ernesto Geisel, os

jornalistas com destaque a Assis Chateuaubriaux, sendo que em homenagem de sua visita foi

lançado um vinho elaborado com uvas Cabernet Franc e Merlot, parte deste vinho

envelhecido em barris de carvalho, denominado “Velho Capitão”. Este vinho serviu como

projeção ao nome Dreher no cenário vinícola brasileiro em vinhos nobres. Na época a Dreher

tinha uma filial em Porto Alegre e outra na cidade do Rio de Janeiro, isto foi muito bom para

projetar o nome de Bento Gonçalves no ramo de visitação enoturística do Brasil. No início de

sua fundação, a Dreher teve que “importar” enólogos, pois não existia ainda a escola CEFET

de Bento Gonçalves que formava estes profissionais.

Nos primeiros anos (1965 - 1980), os visitantes que vinham a Bento Gonçalves eram

levados a conhecer a Ponte de Veranópolis (Ponte Ernesto Dornelles), era um ponto de

referência. A I Fenavinho atraiu muitos turistas, somente no início da década de 1980, nos

damos conta em dar atenção melhor aos visitantes passamos a mostrar mais o estabelecimento

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vinícola, visto que antes só dávamos degustação dos produtos. [...], valorizamos mais o vinho

como fator cultural, místico para aportar e atrair o elemento humano. [...].

Atualmente o vinho e o espumante se tornaram patrimônio da nossa região e outros

mais produtos elaborados em pequena escala poderão ser incorporados ao patrimônio da

região: licores, sucos, artesanatos, graspa, e outros mais.

Depois da Dreher e da Vinícola Aurora surgiu um bloco de vinícolas pequenas, creio

que o mais feliz de todos os bentogonçalvenses, na época foi o Vereador Carlos Perizzolo,

este decide nomear de Vale dos Vinhedos, as terras que eram mais conhecidas como Colônia

Leopoldina, ou colônia dos Valduga, ou colônia dos Carraro que eram famílias que moravam

nestas terras e eram clientes da Dreher.

Com o desaparecimento da Vinícola Rio Grandense, mais o agravamento da

Cooperativa Aurora, tudo veio a aportar condições favoráveis para o crescimento das

pequenas empresas familiares, isto na década de 1985 - 1990, onde a Casa Valduga e a

Vinícola Miolo se destacaram mais, [...].

[...], enoturistas é toda aquela pessoa, além de visitar a região, de satisfazer o

organismo ou seu descanso espiritual ele vai buscar também a sede de uma nova cultura que

se chama vinho. A vindima também é um produto turístico, quantas pessoas se deslocam de

suas casas, cidades para vivenciar este acontecimento importante em nossa região?[...].

Investir nos jovens para que eles possam conhecer o patrimônio da região, porque quando os

mais velhos vão morrer quem vai beber vinho?[...].

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ENTREVISTA DE HELENITA GIRONDI – Ano de nascimento: 1957. Trabalha no

Arquivo Histórico de Garibaldi, pós-graduada em História da América Latina. Entrevista

concedida em: 11 de julho de 2008.

Para a cidade ser turística a população local deve ser consultada, para saber se os

habitantes locais querem que Garibaldi seja turística ou não. Caso queiram, a comunidade

deve ser preparada, temos que educar nossas crianças no ensino fundamental até no nível

secundário, preparar os moradores, as pessoas devem estar bem informadas para orientar os

turistas, o povo precisa saber tratar bem o visitante e as escolas também devem ser preparadas

para orientar os alunos. [...].

Garibaldi recentemente voltou a ter um planejamento turístico, e o turismo foi

trabalhado de forma séria juntamente com a população local. Ivane Fávero é uma grande

profissional, com visão em turismo, reuniu o Projeto das Vinícolas, o Projeto das Passadas e o

da Estrada do Sabor. Ela conseguiu também trazer a Garibaldi os ônibus da CVC, estes nunca

traziam turistas à cidade. Anterior a ela, somente no período do Romagha, quando este foi

Secretário de Turismo do Município. Ele se preocupou em trazer os enoturistas ao município.

[...].

Garibaldi é considerada a terra dos espumantes, mas a comunidade não sabe explorar

este potencial, quando as coisas estão caminhando, de repente pára tudo (referindo a saída da

Secretária de Turismo Ivane Fávero). Poucas pessoas são capacitadas a trabalhar no turismo.

Turismo se faz com pessoas capacitadas e acima de tudo que gostem desse ramo. [...]

O esqui atraiu muitos turistas a Garibaldi, vindos do país inteiro, depois de seu

encerramento os jovens ficaram sem atrativo algum. [...].

Os primeiros turistas que aqui chegaram vieram de trem, para veranear e alguns para

buscar saúde, naquela época existiam muitos hotéis e pousada para atender essa demanda. A

gastronomia também fez parte dos atrativos aqui buscados, talvez a segunda atração turística,

seguido depois pelas vinícolas, as mais destacadas foram a Peterlongo, Cooperativa Garibaldi,

George Aubert e Carraro- Bruzina. [...].

O hotel Casacurta também contribuiu para atrair turistas em Garibaldi convidando os

moradores de Porto Alegre a conhecerem a região e a vindima. Muitas pessoas acabavam

gostando do local quando aqui chegavam, vindo a se casar e acabavam permanecendo

morando em Garibaldi.

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Em 1913 e 1914, o terceiro intendente de Garibaldi Affonso Aurélio Porto realizou

exposições de uvas neste município. Ele alavancou o setor vitivinícola, quando este estava

desacreditado e em sérias dificuldades. [...].

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ENTREVISTA DE IVAN LUIZ BELLINI – Data de nascimento: 11 de junho de 1937.

Economista; Comerciário e Empresário de Garibaldi. Entrevista concedida em 11 de julho de

2008.

Os Irmãos Maristas em 1904 plantaram parreirais de cepas européias, fundaram a

Vinícola Pindorama em 1908 elaboram seus primeiros vinhos, e no ano de 1911, seu primeiro

espumante é elaborado. [...]. Vitório Espac constrói as primeiras máquinas para auxiliar no

processo dessa bebida, tanto na elaboração assim como no engarrafamento.

Em 1910, aconteceu uma exposição em São Paulo, nela estavam presentes vários

produtos do Rio Grande do Sul, nesta exposição já se encontrava um espumante gaúcho não

elaborado em Garibaldi. O espumante foi elaborado no município de Pelotas.

Em 1918, umas comitivas oficiais provinda da Itália chegam a Garibaldi, os moradores

locais, enfeitaram suas casas, colocaram lanternas venezianas nas janelas, portas, sacadas e

paredes, as ruas foram enfeitadas com bandeiras italianas, brasileiras e lampiões, foi uma

recepção muito calorosa, os visitantes se impressionaram com a hospitalidade local, foi

inesquecível. Os jornais de Porto Alegre publicavam: “Milhares de estrelas iluminaram as

ruas de Garibaldi”.

Um grande incentivador ao enoturismo local, podemos dizer que foi Aurélio Porto,

que promove as primeiras Exposições de Uva em 1913 e 1914, atraindo muitos apreciadores

locais e também dos municípios próximos: Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Montenegro, São

Sebastião do Caí e de outras localidades. Os expositores de vinhos, espumantes e de uvas,

foram agraciados com medalhas de ouro, prata e bronze, estas fundidas pelo João Bellini,

proprietário da mais antiga joalheria do Estado e o mais antigo estabelecimento comercial de

Garibaldi. [...], nesses tempos houve uma grande crise no setor vitivinícola, o intendente

tentou reverter à situação, realizando as exposições de uva. [...].

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ENTREVISTA DE JAIME MILAN - Diretor Executivo da Aprovale. Entrevista concedida

em: 26 de agosto de 2008.

A Aprovale surgiu com a união de seis vinícolas do Vale dos Vinhedos, o objetivo

inicial era de viabilizar economicamente projetos, principalmente encontrar soluções para

baratear custos de insumos: garrafas, rolhas, caixas de papelão, rótulos, e outros materiais.

Foi pensado inicialmente em adquirir equipamentos de engarrafamento, fazendo um

investimento só, ao invés de todos adquirirem o seu, também foi pensado na parte comercial,

onde todas as vinícolas pudessem se unir para divulgar e comercializar os produtos em feiras,

eventos e festas. A idéia inicial de cooperativismo é abandonada por motivos de burocracia e

foi optado em fundar uma associação, embora bastante limitada sem fins lucrativos, sem atos

comerciais, mas sim agrupar as pequenas e novas vinícolas que estavam surgindo.

Em 1992, com a união e esforço da comunidade, a estrada do Vale dos Vinhedos é

finalmente pavimentada com asfalto. Em 1995, surge a Aprovale, motivada por crises no setor

de vinhos, neste mesmo ano se inicia campanhas voltadas ao enoturismo no Vale dos

Vinhedos com quatro objetivos: Desenvolvimento do vinho; espaço físico e meio ambiente;

enoturismo - desenvolvimento sócio-cultural e Indicação Geográfica.

Com a crise no setor nos anos 95, 96 e 97, sobretudo agravada pela crise econômica da

Aurora, os produtos elaborados pelas pequenas vinícolas do Vale dos Vinhedos começam a

ganhar espaço no mercado nacional. Acredito pessoalmente, que o crescimento e o

desenvolvimento da marca e dos produtos do Vale dos Vinhedos se devem, em primeiro lugar

ao enoturismo, em conseqüência do Vale estar próximo de cidades importantes, destacando-se

Porto Alegre, Caxias do Sul, Santa Maria e outras mais, e estar localizado perto da Região das

Hortênsias (Gramado, Canela e Nova Petrópolis), e estas cidades são muito importantes por

apresentar pessoas com o hábito de apreciar bons vinhos. Bento Gonçalves possui uma rede

razoável de hotéis e restaurantes, esses requisitos somados, fizeram com que o Vale dos

Vinhedos, com seu charme especial, nome interessante, vinícolas novas e vinhos novos, [...]

despertou o interesse de muitos enoturistas querendo conhecer mais o local e seus atrativos.

Com a conquista da Indicação Geográfica, embora não muito conhecida por grande

maioria dos brasileiros, por ser esta a primeira no Brasil ela foi importante por ocupar espaço

na mídia nos últimos anos. A partir disso o Vale dos Vinhedos vem atraindo cada vez mais

enoturistas, a prova disso mostra que em 2001 mais de 45 mil; 2006 - 105 mil e 2007 - 120

mil turistas visitaram o Vale dos Vinhedos e neste ano esta previsto mais de 130 mil, sendo

que o primeiro semestre já registrou 109 mil visitantes.

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Apesar do dólar em baixa, o vinho importado inundando o mercado nacional, o Vale

dos Vinhedos vem se sedimentando cada vez mais como importante rota enoturistica

nacional.

Sua localização estratégica entre dois municípios fortes em tradição enológica,

Garibaldi com o espumante, Bento Gonçalves com vinhos finos, e Monte Belo do Sul com

uma boa tradição em viticultura, tudo tem contribuído para o desenvolvimento do Vale dos

Vinhedos.

Outras localidades situadas próximas do Vale dos Vinhedos, também apresentam

papel importante para o enoturismo, se destacando Pinto Bandeira (Bento Gonçalves), com

grande possibilidade de crescer graças ao bom espumante e vinhos tintos, devido ser uma

região de altitude. Monte Belo do Sul, trabalhando na busca da Indicação de Procedência e

sendo o maior produtor de uvas brancas do país para elaboração de espumantes.

A união da rota Estrada do Sabor, com rota Vale dos Vinhedos e Monte Belo do Sul,

através de boas estradas pavimentadas, aliadas a bons empreendedores e profissionais

especializados em enoturismo, tudo se completará originando um grande centro de

atendimento enoturístico do Brasil.

Não podemos esquecer-nos da Aurora e da Salton que investem forte neste segmento

de mercado turístico, em seus locais é possível encontrar história, tradição e trabalho em

conjunto, não esquecer também da Rota Caminhos de Pedra, e Pinto Bandeira e Faria Lemos

com suas paisagens e seus vinhos, formando um grande pacote enoturístico, fazendo com que

o visitante permaneça mais tempo na região.

Gramado e Canela possuem atrativos criados, verdadeiros parques temáticos, diferente

do Vale dos Vinhedos em que o enoturismo nasceu ao natural, e o turista ainda não é muito

explorado, aqui se tem outro espírito de empreendedorismo.

O Plano Diretor do Município está se sedimentando e os conselhos distritais se

reunindo constantemente, estabelecem critérios para evitar mudanças bruscas na paisagem, no

jeito de ser, no jeito de viver, conservando a identidade do local para uma evolução mais

orientada e evitando futuramente que o Vale dos Vinhedos se torne um “dormitório”, temos

que ter o nosso espaço físico voltado à atividade principal que é o enoturismo.

O Vale possui um calendário especial de eventos, com o propósito de aproveitar as

quatro estações do ano, talvez essa semente foi lançada precocemente, mas se espera que

possa germinar e dar bons resultados. O Vale possui uma atração que poucas regiões

enoturisticas do mundo tem, que é o Spa do Vinho, sendo este um belo empreendimento que

esta sendo conhecido cada vez mais na comunidade.

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O Vale precisa se aperfeiçoar mais em comercializar seus produtos, precisam investir

mais em visão técnica no enoturismo, é muito importante o trabalho que entidades como a

FISUL e a UCS estão fazendo, preparando profissionais capacitados e levando para o interior

das vinícolas essa visão técnica e profissional. Até pouco tempo atrás, não se tinha associados

envolvidos em outros ramos (hotéis, restaurantes, pousadas, artesanatos, alimentos, serviços e

outros), hoje eles reunidos somam num total de 27 e são muito importantes dentro da

Aprovale e também para o Enoturismo local.

A Aprovale atualmente vem trabalhando cada vez mais o enoturismo, através de Dvds,

sites sempre atualizados, mapas e folderes, mas isso não é tudo, a região espera que

profissionais na área do turismo e enoturismo juntamente com os empreendedores e órgãos

oficiais possam cada vez mais incrementar o calendário de eventos do Vale dos Vinhedos.

A falta de atrativos para os jovens tem sido uma preocupação em toda a região, não só

no Vale dos Vinhedos, depois do esqui de Garibaldi ter encerado suas atividades, ficou uma

grande lacuna aberta para ser preenchida.

Hoje a Aprovale possui um programa a ser implantado em médio prazo, subdividido

em quatro projetos, o primeiro a ser implantado é o Museu Brasileiro do Vinho e depois os

outros de ordem esportiva cultural, integração de comunidades e um voltado aos jovens. O

Museu do Vinho seria criado no Vale, e o visitante poderia interagir com os principais museus

do vinho do mundo inteiro para conhecer a cultura, pesquisar e poder receber peças itinerantes

de outros museus, mas principalmente estar interligado com os mais importantes museus

mundiais, num conceito bem moderno.

A produção de vinhos finos se mantém atualmente, sendo elaboradas 10 a 12 milhões

de garrafas de vinhos e espumantes. Atualmente 32 vinícolas são associadas à Aprovale e

cinco ainda estão fora dessa associação.

Reclamações:

A través de reclamações feitas pelos turistas muitas coisas foram resolvidas, por

exemplo: as sinalizações nas estradas secundárias do Vale dos Vinhedos algumas foram

renovadas, a segurança foi tratada com muita atenção e foi planejado e lançado o mapa

turístico do Vale. [...] a grande maioria das reclamações ainda estavam ligadas a cultura local,

nosso horário de almoço, algumas empresas fechavam nos feriados e o mau humor de alguns

atendentes. Também existem turistas que não entendem bem a proposta do Vale dos

Vinhedos, algumas acham que deveria funcionar como na Europa e querem mudar toda e

identidade cultural do local. Hoje o turista pode almoçar até as 16 horas sem problema, pois o

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Vale dos Vinhedos já tem bons restaurantes para atender essas pessoas. Outra reclamação é a

falta de atrações à noite, mas em qualquer lugar do mundo o enoturismo ao anoitecer se reduz

a restaurantes.

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ENTREVISTA DE JOÃO FERREIRA - Ano de nascimento: 1963. Natural de Porto

Alegre. Diretor de Marketing da Peterlongo. É pós-graduado em Gestão de Marketing

Empresarial, trabalha na Peterlongo desde 2005. Trabalhou na George Aubert durante cinco

anos.Entrevista concedida em: 05 de junho de 2008.

[...], o enoturismo é muito importante, e não se ganha dinheiro se você não fizer uma

gestão séria rígida com controle financeiro de todos os processos e sentidos. Na George

Aubert o enoturista era reconhecido como sendo o melhor cliente da empresa. Para que isso

ocorra é necessário um bom trabalho voltado a ele, com bom atendimento e preços justos.

[...].

Enoturismo é trabalhar a imagem, sentidos, emoções, história e cultura. [...]. O

enoturismo em Garibaldi é muito jovem, é coisa recente, hoje Garibaldi vive um momento

rico, sendo o enoturismo o maior fomentador de sonhos de idéias e realizações. Enoturismo é

labutar na demanda de sensações de vazios emocionais das pessoas.

Hoje “Garibaldi” sabe trabalhar “coisas concretas” sabe cultivar as videiras, elaborar

bons vinhos e espumantes, aprenderam a trabalhar “coisas”, mas ainda falta saber trabalhar

emoções, afeto, relacionamentos como base na cultura que é o enoturismo, e enoturismo não é

concreto é relacionamento.

Ainda hoje falta mão-de-obra de pessoas disponíveis a aprender, pois temos clientes,

produtos, mas não temos atendentes profissionais que queiram trabalhar nos fins de semana e

feriados. [...], no enoturismo não pode ter mentira, se não souber não fala, procura saber ou

vai procurar em pesquisas. [...]. É um relacionamento recíproco, onde cada um aprende com o

outro. Quem tem bom relacionamento tem cultura, quem não tem cultura, pode amar as

pessoas, mas não tem amor pelo vinho. [...].

Atualmente com cursos oferecidos em capacitação em enoturismo, oferecidos aos

interessados pela FISUL, é um bom início para criar uma nova visão estratégica de mercado,

principalmente no atendimento e na hospitalidade.

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ENTREVISTA DE JOÃO VALDUGA – Diretor – sócio da Casa Valduga.

Entrevista concedida em: 25 de setembro de 2008.

A Casa Valduga foi o primeiro estabelecimento vinícola do Vale dos Vinhedos no

que diz respeito ao recebimento dos enoturistas, visto que tal movimento surgiu de forma

espontânea e natural. Nos anos de 1973 -1975, a agência do Banco do Brasil de Bento

Gonçalves oferecia cursos de treinamento a seus funcionários, e estes eram oriundos de

várias regiões do Rio Grande do Sul, também de alguns outros estados brasileiros que se

deslocavam a Bento Gonçalves. Estas pessoas de bom poder aquisitivo ficavam hospedadas

nos hotéis da cidade: Hotel Dall’Onder, Vinocap e outros. Visitavam o comércio local,

faziam suas compras, mas não havia nada de especial a fazer no tempo livre. Por iniciativa

de Tarcísio Michelon e outras pessoas mais, a família Valduga inicia oferecendo a estas

pessoas jantares.

O cardápio era simples, comidas típicas da imigração italiana: polenta, massas,

frango, sopa de capeletti, vinho e saladas, tudo acompanhado de cantorias. Os jantares eram

servidos nos centros dos corredores entre as pipas de vinho. [...] os turistas ficavam

maravilhados com tudo isso, principalmente com a simplicidade, carinho, aconchego e

atenção prestada pelos proprietários. No início a comunidade os achou estranhos, receber os

turistas e oferecer jantares no meio da vinícola. Com muita fé, trabalho e determinação, a

idéia foi amadurecendo e se consolidando cada vez mais.

Os enoturistas ficavam envolvidos com a boa hospitalidade, aliada a gastronomia e

aos bons vinhos. No ano de 1979 foi inaugurado o restaurante e a pousada, esta, com

capacidade de atender cinco casais ou 10 pessoas, com o passar do tempo a Casa Valduga

foi fomentando outras vinícolas vizinhas do Vale dos Vinhedos.

A parte social também aos poucos foi se fortalecendo, com a chegada de cada vez

mais de enoturistas, o acesso que separa a propriedade do município sede foi pavimentada,

telefonia e escolas foram instaladas. Os moradores locais passaram a cuidar melhor das suas

residências, com boas pinturas e jardins coloridos de flores. Tudo isso para deixar uma boa

impressão do local aos visitantes que ali chegavam. Com o resultado obtido deste trabalho, o

empreendimento foi crescendo cada vez mais e conseqüentemente se modernizando, foram

adquiridos equipamentos modernos para a elaboração de vinhos: tanques de aço inox,

refrigeração, moedoras e prensas. Com este equipamento passamos a elaborar vinhos com

semelhante tecnologia das multinacionais Maison Forestier, Chandon, Martini e Rossi. Com

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a entrada de vinhos importados muitas dessas empresas foram embora, com exceção da

Chandon.

Em 2000, ocorre a conversão dos parreirais tipo latada para espadeiras.

Atualmente a Casa Valduga emprega 168 pessoas diretamente nos seus mais diversos

serviços, hospedarias, restaurantes, vinhedos e vinícola.

Recebe anualmente em media de 60- 70 mil turistas /ano. Além dos restaurantes

Dom Luigi e Persona, um novo restaurante e uma quinta nova pousada em breve será

inaugurada, nesta o enoturista poderá contar com a técnica “vinho terapia”, e salas para

cursos de degustação. [...].

Hoje a Casa Valduga conta com 142 hectares de videiras, sendo que 100 estão

situados no município de Encruzilhada do Sul e os outros no Vale dos Vinhedos. Recebe

uvas de 25 pequenos produtores estabelecidos no Vale dos Vinhedos. Atualmente são

elaborados aproximadamente 1.500.000 litros de vinho, sendo que 40% são destinados para

elaboração de espumantes (método champenoise e charmat) e os outros 60% para vinhos

tranqüilos. [...]. O enoturista também poderá visitar a maior adega particular da América

Latina e participar da Festa da Vindima, podendo colher uvas, animada com pelo show de

coral típico italiano, esmagar as uvas com os pés, ver de perto todo o processo de elaboração

dos vinhos e espumantes, aprender a realizar o sabrage, almoçar nas cavas, degustar vinhos e

espumantes sob a sombra de um parreiral e também é oferecida uma visita à Capela das

Neves, onde é relatada a história da imigração italiana e da construção da igreja. Assim que

os vinhos estiverem prontos para o consumo, os “elaboradores” poderão adquirir os mesmos.

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ENTREVISTA DE LUCINDO BRANDELLI E ZÉLIA CARRARO BRANDELLI -

Ano de nascimento: 1927. Morador da Linha 8 da Graciema (Vale dos Vinhedos, BG) – um

dos fundadores mais antigo da comunidade. Organizador da I Festa regional da Uva de Bento

Gonçalves em 1971. Empresário do setor vitivinícola. Entrevista concedida em: 09 de agosto

de 2008. Zélia, esposa do Lucindo Brandelli e uma das colaboradoras da organização da I

Festa Regional da Uva de Bento Gonçalves. Entrevista concedida em: 09 de agosto de 2008.

Em 1971, a região produtora de uva e de vinho passava mais uma vez por séries

dificuldades no setor vitivinícola. A comunidade do 8 da Graciema ( Vale dos Vinhedos,

BG), resolve a realizar uma festa. Armindo Franzoni incentiva essa festa em sinal de protesto

aos órgãos oficiais do governo e as grandes vinícolas que se recusavam a vinificar.

O nome desta festa no início foi Festa da Uva, inclusive alguns cartazes haviam sido já

colados nas lonas dos caminhões, mas este nome gerou uma polêmica, visto que Caxias do

Sul já havia adotado este nome para a sua maior festa, com a opinião de Moisés Michelon

(primeiro presidente da Fenavinho de Bento Gonçalves), o nome foi alterado para I Festa

Regional da Uva de Bento Gonçalves.

Esta festa aconteceu no mês de fevereiro, a princípio era para ser apenas um fim de

semana, mas o sucesso foi além do esperado, que a festa se estendeu para mais um fim de

semana. No primeiro fim de semana compareceu tanta gente que não sabíamos de onde

vinham esses visitantes, algumas pessoas que estavam em visita à região também prestigiaram

a festa. Chegavam caminhões carregados de pessoas em suas carrocerias, carros particulares,

ônibus dos distritos e pessoas que moravam nas localidades próximas chegavam a pé. [...].

A festa foi realizada no salão da comunidade local, devido ao grande número de

visitantes foi necessário improvisar toldos de lonas de caminhões para acomodar o pessoal.

[...].

Num dos salões da comunidade foi realizada uma exposição de uvas e de produtos

produzidos no local: batatas, milho, cebolas, abóboras, e outros mais. Também havia espaços

para algumas vinícolas que patrocinaram a festa para esporem seus produtos e degustação dos

mesmos, como a Vinícola Rio Grandense, Cooperativa Garibaldi, Cooperativa Aurora,

Dreher, Salton, Mônaco, Fontanive, Júlio Brandelli & filhos, Dumont, e outras mais. [...], foi

cobrado um ingresso para a visitação da exposição, [...]. Os melhores produtores de uva foram

premiados com taças e medalhas. [...].

O prefeito Darcy Fialho Fagundes (31/01/69 – 28/02/73, 21º prefeito do município) se

mostrou indiferente em ajudar a comunidade, mais tarde ficou sabendo do sucesso de público,

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e que o evento iria se estender por mais um fim de semana, procurou os organizadores do

evento e se colocou a disposição dos mesmos.

Foi uma linda festa, o salão estava enfeitado com galhos de videiras, cestos de vime,

barris e uvas perfumadas. A comunidade inteira participou, as mulheres ajudavam na cozinha

e na decoração, os homens cuidavam da organização toda, desde a preparação do churrasco e

das mesas de jogos. Recebemos muitos elogios, todos ficaram admirados com o sucesso da

festa, foi muito bonito. Comenta Zélia Carraro Brandelli.

No último fim de semana foi realizado um desfile de carros alegóricos, retratando a

chegada dos primeiros imigrantes italianos, desfile da rainha e princesas da festa e outras

vinícolas também foram representadas.

No local eram servidos almoços e jantas, e os visitantes passavam a noite cantando e

bebendo vinho, a festa era animada pela banda municipal de Bento Gonçalves. [...].

Compareceram mais de 15.000 visitantes. [...].

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ENTREVISTA DE LUIZ FITARELLI – Data de nascimento 25 de maio de 1959.

Empresário e empreendedor no setor enoturístico de Garibaldi. Entrevista concedida em: 05

de junho de 2008.

Um dos grandes marcos do turismo em Garibaldi foi o Hotel Casacurta, que trazia

muita gente principalmente de Porto Alegre para conhecer a vindima e também para veranear.

Garibaldi sempre foi muito carente em hotéis, não se preocupou muito com o turismo, outro

problema era a falta de atrativos para serem oferecidos para que o turista permanece-se mais

no local. Bem diferente de Gramado e Canela, aqui grande maioria do comércio e restaurantes

fecham nos finais de semana e feriados, o turista não fica aqui por muito tempo, ele quer

comprar também, este é um problema cultural.

Em Garibaldi o enoturismo é recente pouco mais de 15 anos, a pioneira foi a

Peterlongo que iniciou trazendo turistas, devido sua história, bela arquitetura, caves e adegas

magníficas, grande produtora de espumantes, mas eram poucos os que vinham aqui. O esqui

de Garibaldi chegou a ser a maior atração de turistas no município, infelizmente veio a

desativar por problemas particulares, até hoje é ainda muito lembrado pelos moradores da

região, [...].

A gastronomia não representou papel muito importante, devido ser pouca

desenvolvida, baseada na comida caseira, não havendo pratos especiais ou diferentes, apenas

os típicos da imigração italiana, polenta, galeto e algumas variedades de massas. O Hotel

Casacurta foi uma exceção, outros restaurantes agora estão evoluindo na área gastronômica,

eram muito pobres e simples demais.

Somente nos últimos 15 anos houve mais incentivo ao enoturismo em Garibaldi com a

Fenachamp, e seu restaurante voltado para o turismo, onde o Clacir Romagna trazia ônibus

lotados de turistas a Garibaldi e a almoçar neste restaurante. [...], o período de trazer

enoturistas é muito recente, [...].

[...], continua sendo o grande foco de atração turística de Garibaldi o vinho, e quem

esta fazendo um bom trabalho enoturístico é o Vale dos Vinhedos, que despertou a

curiosidade e vontade de conhecer a região. Garibaldi depois começa a despertar com a

George Aubert, que faz um trabalho de história do vinho, criando um museu temático, trouxe

muitos turistas, [...].

Em Bento Gonçalves o Tarcíso Michelon com uma visão futurista, incentiva a

restauração das casas no interior do município, originando a Rota Caminhos de Pedra, esta

rota fomenta outras, inclusive o Vale dos Vinhedos e vinícolas de Garibaldi. Aos poucos

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todos começam a enxergar o enoturismo como uma boa alternativa para a região.

Um problema do enoturismo é que ele geralmente é destinado ao público masculino,

poucas mulheres são adeptas a este segmento e as crianças e adolescentes quase nada. [...].

Não adianta Garibaldi e região ter uma paisagem interessante, um belo acervo histórico, casas

e igrejas belíssimas, tanto no interior como nas cidades, é preciso trabalhar isso tudo para se

tornar um potencial atrativo turístico, onde o visitante possa contemplar tudo isso, e também é

preciso incentivar mais as agroindústrias locais, como acontece no interior dos países

europeus. O que falta aqui é envolver mais a comunidade no espírito turístico, um exemplo a

seguir é Gramado e Canela, onde nestes municípios tudo esta voltado ao turismo, desde as

indústrias, comércio, serviços, casas, jardins e tudo mais. [...].

Educar a comunidade local, formando profissionais na área assim como a FISUL esta

fazendo, para prestar melhor atendimento ao turista, mostrar que o turista é uma oportunidade

de negócio e ele traz dinheiro e desenvolvimento ao local, precisamos pensar grande. [...].

A proximidade de Gramado favorece muito a região, hoje o turista que a visita aquela

região, visita também a nossa principalmente o Vale dos Vinhedos e as principais vinícolas de

Garibaldi. Hoje o enoturista não só quer comprar vinhos, ele quer atenção, história, ser bem

atendido, e nos temos anos de história herdados de nossos imigrantes. Obrigatoriamente quem

trabalha com turismo tem que conjugar história com o produto a ser oferecido, buscar saber

mais detalhes, coisas simples, só não pode mentir, nem inventar fatos, ter conhecimento e

falar o que se sabe, pesquisar mais sobre a região.

O turista não procura apenas obras faraônicas, ele quer coisas simples, e enoturismo

não é só vinho, ele é o principal, mas outros atrativos devem ser implantados, como diz o

ditado “não se deve colocar todos os ovos num cesto só”, precisamos ter agroindústrias,

artesanatos, museus, parques temáticos e outras coisas mais. Turismo é uma forma de troca de

idéias, opiniões, cultura, informação que ocorre no lado do visitante e no lado do autóctone.

[...].

Enoturismo não é apenas vinho, mas gastronomia, história, cultura, belezas naturais e

diversificação de outros produtos.

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ENTREVISTA DE LUCIANO ZANELLA – Atual Secretário de Turismo do Município

de Veranópolis. Entrevista concedida em: 03 de agosto de 2008.

Atualmente Veranópolis conta com nove vinícolas, sendo destas uma é a Cooperativa

Vinícola Alfredo Chaviense, as outras oito são consideradas familiares e estas vieram a ser

regulamentadas e organizadas como agroindústria no ano 2000. Antes desta data, sua

grande maioria elaborava vinhos de forma artesanal - caseira e, com ajuda e incentivos da

EMATER, passaram a ser registradas.

Grande maioria dessas vinícolas familiares surgiu com o agravamento da

Cooperativa Aurora de Bento Gonçalves. A maioria dos produtores de uvas do município

fornecia sua produção para esta cooperativa, preocupados de não poderem entregar sua

produção de uvas à Aurora, devido à grande crise de 1995, que abalou aquele

estabelecimento, resolveram investir em suas agroindústrias, elaborando vinhos e

legalizando os mesmos. [...].

A prefeitura municipal, através de sua Secretaria de Turismo, apoiou e auxiliou na

divulgação dos estabelecimentos vinícolas através de folhetaria e de sinalização turística,

pois a grande maioria se encontra no interior do município, em média de 2 a 3 km da cidade

ou da rodovia principal - RSC 470.

[...]. Fato importante aconteceu em maio de 1981, onde a Revista Geográfica

Universal, na pagina 51, publica que médicos e sociólogos de diversas nacionalidades,

dedicados aos estudos da gerontologia, citavam Veranópolis entre os locais mundiais

considerados como favoráveis ao prolongamento da vida humana. Ali, lia-se textualmente:

“[...] no Estado do Rio Grande do Sul, existe uma localidade denominada

Veranópolis, no meio de montanhas, onde vive apreciável numero de velhinhos, em sua

maioria, quase totalidade, descendentes de colonos imigrantes [...].”

Levado o fato ao prefeito (Leonir Antonio Farina), este resolveu aproveitá-lo como

apelo turístico e, ainda lança o primeiro folder turístico, onde, entre os vários textos

explicativos sobre o município, despontava a frase: “É considerada, por técnicos da

Organização Mundial de Saúde – OMS, como Cidade da Longevidade - primeira no país e

terceira no mundo”.

A partir disso, o termo “Terra da Longevidade” ganhou grande impulso, atingiu

renome nacional e internacional, e impulsionou sobremaneira o turismo não só municipal,

mas regional. [...]. Hoje o enoturismo vem para somar a outros destaques, o que motiva a

vinda de turistas a Veranópolis é um conjunto de atrativos, em que o município vem

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trabalhando com outros roteiros. O Roteiro Vinhos e Longevidade já é consolidado pela

Atuaserra, formatado e bem estabelecido, e a grande preocupação é estabelecer outros

atrativos entorno como a Ponte Ernesto Dornelles, o Rio das Antas, grutas, águas termais,

usinas hidrelétricas e mirantes para que o turista fique mais em Veranópolis.[...].

Investigações nutricionais mostram que idosos ingerem em média as quantidades de

carboidrato, proteínas e gorduras que são indicadas pela OMS como sendo saudáveis; em

média o consumo alcoólico é moderado e inclui principalmente a ingestão de vinho

(máximo 300 ml/dia). Diversos estudos internacionais mostram que o vinho principalmente

contém substâncias antioxidantes, que protegem o organismo contra a ação dos radicais

livres, o resveratrol. Pesquisa realizada por químicos da PUCRS comprova que os vinhos

possuem alto valor de resveratrol, o que poderia auxiliar como protetor no risco de doenças

cardiovasculares, como o infarto agudo do miocárdio e derrame (acidente vaso cerebral,

AVC). Fonte: Livro: Projeto Veranópolis: reflexões sobre o Envelhecimento Bem Sucedido.

Dra. Ivana Cruz, Emílio Moriguchi, Veranópolis: Ed. Oficina da Longevidade, 2002.

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ENTREVISTA DE MOYSÉS MICHELON – ano de nascimento 1934. Natural de Caxias

do sul. Empresário do setor hoteleiro, fundador da primeira Fenavinho de Bento Gonçalves.

Entrevista concedida em: 11 de agosto de 2008.

O enoturismo surge um pouco por acaso, no ano de 1965 o Colégio Aparecida se

preparava para comemorar os 25 anos de sua existência em Bento Gonçalves. Como era de

tradição, os antigos alunos maristas se encontravam e era preparado um churrasco de

confraternização, isto acontecia cada 3 - 4 meses. O reencontro visava manter a comunidade

marista unida. Na circunstância, o ensino particular e religioso estava sob ameaças, nos

debates que realizavam para comemorar os 25 anos surgiu à idéia de promover um Festival

do Vinho.

Tendo como experiência o Festival do Chope em Blumenau (Santa Catarina). Na

época Bento Gonçalves era o maior produtor de uvas e vinhos do Brasil e acharam que

deveria ser o realizado um festival do vinho. A idéia amadurecia com o tempo, e notaram

nas discussões que simultaneamente iria acontecer o cinqüentenário das irmãs Carlistas em

Bento Gonçalves. Continuando os debates, identificaram que Bento Gonçalves iria

comemorar os 75 anos de sua existência.

O entusiasmo dos jovens e ex-alunos maristas era muito grande, onde se encontrava

o Engenheiro Agrônomo Loreno Augusto Gracia que tinha sido vice-prefeito de Bento

Gonçalves. Presente estava o padre coadjutor da igreja Cristo Rei, Arnaldo Gasparotto, ele

no seu entusiasmo que contagiou a todos falou que deveria ser realizada uma festa do vinho,

mas nesse momento começaram a questionar sobre as dimensões da festa. Depois de

realizado o debate se chegou a uma conclusão que deveria ser realizada uma Festa Nacional

do Vinho.

Para ser uma Festa Nacional do Vinho não podia ficar restrita aos ex-alunos

maristas, mas sim uma mobilização comunitária e assim foi levada a idéia ao prefeito

municipal Milton Rosa que já estava tratando da festa dos 75 anos do município. Com esta

sugestão ele ficou surpreendido. Nesta época a prefeitura municipal não dispunha de

estrutura de pessoal e não tinha idéia de como a festa deveria ser planejada. Nas discussões

com o prefeito se perguntou quem poderia presidir. O Loreno Augusto Gracia se ofereceu

para ser o presidente. A partir disso, surgem às primeiras reuniões com as entidades

participativas, associações rurais, centro da indústria e comércio e câmara de vereadores.

Surge a Festa Nacional do Vinho e Exposição Agrícola Industrial, que tinha como símbolo

de Bento Gonçalves o vinho para comemorar as bodas de prata dos maristas, as bodas de

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ouro do colégio Medianeira e as bodas de diamante de Bento Gonçalves. Na verdade o

objetivo da festa era chamar a atenção das autoridades do Estado e do País pela existência de

Bento Gonçalves. Nessa época, Bento Gonçalves era carente em tudo, isolada de todos os

municípios, aqui não existia asfalto e nem sequer boas estradas, não existia telefone,

carência de energia elétrica, enfim, de todo tipo de infra-estrutura. A idéia não foi no

enoturismo, mas sim colocar Bento Gonçalves no mapa político brasileiro, para ser

justamente ouvida pelas autoridades responsáveis pela infra-estrutura em que se encontrava

o município.

Ocorre que este evento deveria acontecer em 1966, porém, neste ano aconteceram

desastres meteorológicos, enchentes e o acesso a Porto Alegre ficou interrompido em São

Leopoldo o Rio dos Sinos transbordou mais de um metro, o interior sofreu muito com isso.

O resultado foi que o município não tinha recurso, e o estado não atendia a estes apelos,

então, foi adiada para 1967. Neste meio tempo Loreno é convocado pela Secretaria da

Agricultura para viajar aos EUA, fazer um curso de conservação para uvas, porque a

empresa Dal’Molin tinha instalado câmeras frigoríficas, (local ode hoje esta localizado o

edifício Cristo Rei), pois não tinha quem as opera-se. [...].

Mesmo assim foi lançada a pedra fundamental no campo municipal (imediações do

SENAI), porém o Milton Rosa adoece e o vice- prefeito Dr. Ervalino Bozzetto assume e este

convida Moysés para conhecer um terreno. Sabendo através dos debates que não havia

concordância em construir o parque de eventos nas imediações (onde hoje é Ginásio de

Esportes do Município), visto que o espaço ser pequeno demais, ele ofereceu-se para

analisar um terreno. Quando Moysés analisou o terreno logo falou, “Se vocês não compram,

eu compro, não tenho dinheiro, mas vou dar um jeito”. [...]. Ele realmente comprou o

terreno, mas nesse meio tempo as coisas iam acontecendo, mas poucas ações concretas. [...].

Surge uma pessoa extraordinária que vive entre nós o Padre Mânica. Com a volta do

prefeito da cirurgia, este reestrutura a diretoria da Fenavinho não esperando Loreno voltar.

Numa manhã, sem aviso prévio o prefeito e o padre aparecem no local de trabalho do

Moysés (Massas Isabela), e o convocam como presidente da Fenavinho eleito em

Assembléia da Comissão. Foi estipulado um tempo de 24 horas para Moysés decidir. Foi

realizada uma reunião à noite e ele aceitou e passou a ser o presidente da I Festa Nacional do

Vinho.

Mais tarde foi feita uma reestruturação, foi convidado Luiz Mateus Todeschini para

ocupar o cargo de vice-presidente da festa. Assim passaram a tomar atitudes que viessem a

dar bons resultados. Em primeiro lugar foi decidido sobre a escolha da imperatriz, não se

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falou em escolha de rainha, pensando que Bento Gonçalves antigamente se chamava

Colônia Dona Isabel e Dona Isabel era uma imperatriz e não uma rainha foi feito uma

ligação com o fato. Outro acontecimento importante foi a divulgação do vinho encanado nas

ruas de Bento Gonçalves.

Este fato não foi realmente uma coincidência, mas sim uma inspiração divina, e

consolidou a I Fenavinho. O fato de ter oferecido o vinho encanado nas ruas de Bento

Gonçalves, repercutiu mais que o esperado, maior do que qualquer imagem, e assim com

este tema, sendo o vinho encanado nas ruas da cidade é que se desenvolveu toda a

programação desde a escolha da imperatriz. Quando a imprensa foi convidada para compor a

mesa dos jurados, foi realizado um churrasco e foi instalado o vinho sobre as mesas. A idéia

do vinho encanado foi tomando corpo e notamos que além de promovermos Bento

Gonçalves e o vinho como produto símbolo do município, estávamos promovendo o

enoturismo. Sabendo que o vinho representava cerca de 60% da economia de Bento

Gonçalves, as indústrias de móveis eram ainda artesanais e a Barzenski (indústria de

móveis), estava iniciando suas atividades de forma muito pequena.

Nesta época o setor vitivinícola enfrentava série dificuldades, as cantinas estavam

abarrotadas de vinho, dificuldades financeiras e uma concordatária. Na verdade passamos a

dar notoriedade ao vinho, conseguimos pela primeira vez trazer um Presidente da República

a Bento Gonçalves (Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco), isto aconteceu poucos

dias antes de encerrar seu governo, sabendo que sua gestão acabaria em 15 de março e no

dia 25 de fevereiro, veio a Bento Gonçalves.

Na chegada do Presidente, o dia amanheceu com um forte nevoeiro, o avião

Hercules, não conseguiu pousar no aeroclube de Bento Gonçalves, este estava situado nas

proximidades da Avenida Planalto. Chegaram a Bento Gonçalves toda a comitiva vinda pela

BR 116, via Caxias do Sul. Na vinda a Bento Gonçalves enfrentaram uma estrada com

poucas condições de uso, cheia de buracos e de curvas e muito lodo. Quando chegaram a

Bento Gonçalves, uma das primeiras coisas que o Presidente falou ao cumprimentar o

Prefeito que o estava esperando na escadaria da Prefeitura foi: “eu já falei aqui ao

Governador (Perachi), que Bento Gonçalves merece uma estrada melhor do que essa que

tem aqui.” esta foi a primeira grande repercussão política dessa visita, visto que o próprio

Presidente intimou o Governador a dar uma maior atenção ao Município. Mais tarde as

lideranças municipais, juntamente com o Centro da Indústria e Comércio, autoridades de

classe, Prefeito e outros, conseguiram desatar os nós, sejam de telefonia, água, energia

elétrica e de estradas. Surge então à estrada São Vendelino. Foi muito difícil, visto que

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Caxias do Sul se habilitou também e o Governador encontrava dificuldade em construir duas

estradas, mas a pressão política foi tanta que ele construiu as duas, a que ligava Porto Alegre

a Farroupilha e São Vendelino a Bento Gonçalves. Segundo o Governador, a estrada São

Vendelino foi a mais cara do Estado, devido à topografia, pontes e viadutos que tiveram de

ser construídos.

Com o Presidente do Brasil em Bento Gonçalves, no domingo seguinte esteve

prestigiando também Assis Chateaubriand, Diretor geral dos diários e emissoras associadas,

estas deram ampla cobertura do evento, tudo de graça, nada foi gasto com divulgação. Visto

que o Carlos Dreher era muito amigo dele, inclusive a Dreher lançou um vinho em sua

homenagem chamado “Velho Capitão” e com essa atitude Bento Gonçalves passou a constar

no mapa político do Brasil. Com esta divulgação na imprensa brasileira, nasce o enoturismo

em Bento Gonçalves.

Bento Gonçalves já tinha alguma experiência em turismo, fato pelo qual muitos anos

antes era uma estação de veraneio antes de surgir a moda de veranear no litoral. Não era só

Bento Gonçalves que se destacava também Farroupilha e Garibaldi. [...]. Em Bento

Gonçalves existiam vários hotéis voltados para este tipo de turismo, se destacando o Hotel

Planalto. O atual Museu do Imigrante era o dormitório dos funcionários deste hotel, depois

devido alguns problemas tributários passam o empreendimento para o Estado. Tempos

depois foi utilizado como estação de sericicultura. Mais adiante na década de 50, é

repassado ao governo municipal com o objetivo de voltar a funcionar como hotel, o prefeito

Mário Mônaco tentou revitalizá-lo, criou a taxa de turismo e esta taxa era revertida em

ações, com o término de seu mandato o substituto não deu seqüência. O hotel foi vendido,

passou por vários proprietários e ficou com Elias Dall’Onder. Além deste, havia o Hotel

Bela Vista, Hotel Paris, Hotel Zanoni, Hotel América, Hotel Estação, Hotel Valenti, Casa de

Pouso Pasquetti, Hotel Dalla’Coletta e outros mais.

Em Monte Belo do Sul o Hotel Brusqui, em Pinto Bandeira o Hotel Nichetti. Com a

falta de estradas boas e com o surgimento do turismo no litoral os hotéis não resistiram,

vindo a desaparecer em sua grande maioria na década de 40 e de 50.

Com a realização da I Fenavinho, surge o hotel Vinocap inaugurado em 1967. Era

para ser um prédio residencial, mas Aristides Bertuol o transformou em hotel, hospedando a

imprensa. [...].

O pessoal vinha veranear na serra e não existia o costume de ir ao litoral. [...]. Com a

realização das seguintes Fenavinhos, Bento Gonçalves despertou para uma maior

importância ao produto vinho, no sentido de consolidar ainda mais o desenvolvimento do

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projeto enoturístico. Na I Fenavinho foram recebidos aproximadamente 120.000 visitantes

pagantes no Parque de Eventos, além do vinho encanado foi realizado um desfile de carros

alegóricos típicos, se distribuiu uva aos visitantes. Elas foram doadas pelos agricultores,

devido à grande quantidade. [...].

A prefeitura se ocupava em organizar a cidade, a comunidade toda foi envolvida com

a idéia. Em 1967 existia em Bento Gonçalves a Dreher, Aurora, Mônaco, Salton e a Vinícola

Rio Grandense, estas eram os principais estabelecimentos vinícolas. [...].

A Dreher se destacava das demais, foi ali servido o almoço ao Presidente da

República e ali estive presente Assis Chateaubriand. [...]. Em Garibaldi destacavam-se a

Cooperativa Garibaldi, George Aubert, Peterlongo, Carraro & Bruzina e a Cooperativa

Tamandaré.

Em Caxias do Sul os Vinhos Michelon, Antunes, Moselle, Cooperativa Aliança e a

Forqueta. O grande destaque na viticultura de Caxias foi iniciado com o técnico italiano

Celeste Gobatto, que veio a Caxias na década de 30, com o intuito de ensinar as técnicas de

enxertia. [...]. Esta forma de enxertia é trazida a Bento Gonçalves, por Lourenço Mônaco. A

Vinícola Rio Grandense nasce com a idéia de Mandelli, que resolveu juntar várias vinícolas

pequenas na região e formar uma só, com melhor tecnologia. [...].

Como conseqüência da I Fenavinho surge na região a Fenachamp em Garibaldi, foi

uma seqüência lógica. [...], as festas alusivas a uva acontecem no início da década de 30 em

decorrência da realização da I Festa da Uva em Caxias do Sul e da Fenavindima em Flores

da Cunha realizada na mesma época da Fenavinho, todas tendo como foco principal

valorizar o produto local e o enoturismo.

O despertar desse tema “vinho”, nasce com a Festa da Uva e se consolida com a

Fenavinho, Fenachamp, Fenavindima e outras festas mais. Hoje nessa região, vários

municípios exploram o charme que tem como produto central a uva e o vinho. Notamos que

depois desses grandes eventos na região, o enoturista esta presente em todas as épocas do

ano e não só quando acontecem os eventos.

É uma lástima que hoje quem está desfrutando desse trabalho de implantação do

consumo de vinhos são os importados, beneficiados com tarifas baixas, dólar em queda,

descaso das autoridades locais e federais e como conseqüência fez com que o consumidor

procure mais os importados devido seu baixo preço. [...].

Diante das crises do setor vitivinícola, surge a Vinosul (destiladora de vinhos), com

a finalidade de regular os estoques de vinhos nas vinícolas. Foram construídas duas, sendo

que uma em Bento Gonçalves e a outra em Flores da Cunha.

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Passados vários anos surge a Aprovale, que deu maior notoriedade a região. Estes

fundadores deram maior atenção ao vinho fino. O Vale dos Vinhedos se destaca com os

vinhos e com o enoturismo, esse trabalho deu certo. Surgiram outras entidades em outros

municípios da região, buscando o mesmo ideal. [...].

A divulgação da I Fenavinho foi bem simples. Inicialmente foi usada uma impressão

estampada encima de jornais velhos, esse material era distribuído nas vinícolas e colado nas

lonas dos caminhões que cobriam as cargas de vinhos que eram comercializados em outras

cidades ou estados. Depois foi conseguida uma verba com uma produtora de rótulos de

Santa Cruz. [...]. Também os carros de passeio foram utilizados. Foi pintada no vidro

traseiro dos caminhões e carros a seguinte frase: “Visite Bento Gonçalves - I Festa Nacional

do Vinho”. [...].

Na I Fenavinho todos os visitantes recebiam uma pequena garrafa de vinho, com o

intuito de levar para casa este vinho para comemorar com os que não puderam prestigiar o

evento. Aproximadamente 150.000 garrafas de vinho foram doadas pela indústria Nifosa

(vidraçaria), o vinho, rótulo e rolha as vinícolas doaram. [...]. Apenas um contra-rótulo foi

colocado contendo alguns dizeres da Fenavinho. [...]. Sobraram 30.000 unidades e estas

foram vendidas aos credores da festa. [...].

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ENTREVISTA DE RINALDO DAL PIZZOL – Data de nascimento: março de 1937.

Historiador e Diretor-sócio da Vinícola Monte Lemos. Entrevista concedida em 10 de

setembro de 2008.

Em 1911, os irmãos Maristas fundam a Pindorama, sendo que o irmão “Pacomio”

elabora o primeiro Brut. Em 1913 Manuel Peterlogo elabora o seu espumante com ajuda do

Irmão Pacomio. [...].

O eixo Caxias do Sul, Flores da Cunha, se destaca como o primeiro pólo de atração

turística do Rio Grande do Sul. [...], Caxias se privilegiou muito disso pelo fato da realização

do asfalto, [...], os mais focados nas correntes turísticas foi a Eberle, que na época produzia

variados artigos ligados a igreja, cálices e outros artefatos sacros, a Gazzola (cutelaria), estas

empresas traziam pessoas para Caxias, ali algumas vinícolas aproveitavam este fluxo, por

exemplo: a Vinícola Luiz Antunes, a Vinhos Moseler, a Michelon e a Estação Experimental

de Caxias do Sul. A Vinícola Michelon trabalhou bem a parte de divulgação do vinho,

realizava divulgações nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Sendo a Michelon e

Moseler foram as duas empresas que trabalharam com o turista, trazendo clientes. Entre seus

clientes turísticos tinham um tipo especial, se assim podemos dizer, o “turista político”,

grandes autoridades, governadores, ministros, deputados, e outros. Em Flores da Cunha

nesta mesma época existia a Companhia Vinícola Rio Grandense, e a granja União, sendo

que a abertura da vindima geralmente era realizada na Granja União, vinham ministros,

presidente, governador e demais autoridades.

Em Flores da Cunha estavam situadas a Granja União e a Granja São Mateus, essas

foram as duas pioneiras no plantio e difusão de variedades viníferas, na mesma época de

Caxias do Sul. [...]. Caxias foi o marco do pioneirismo do turismo do vinho (enoturismo),

muito contribuiu foi a pavimentação da Br 116 e a Festa da Uva 1937.

Nesta região podemos dizer, neste vértice teve grande destaque em 1957 - 1958 a

Vinícola João Slaviero situada em Otávio Rocha, distrito de Flores da Cunha. Esta vinícola

realizava um trabalho em São Paulo, onde trazia caravanas de turistas para visitar o

estabelecimento vinícola. Além de degustação o turista visitava seus vinhedos e instalações,

era uma forma de vender e promover o produto vinho. Devido à dificuldade de sua

localização situada bem no interior de Flores da Cunha e o acesso dificultoso, pois não havia

asfalto e viajar para lá era um desafio. João Slaviero planeja construir um hotel com a

finalidade de hospedar esses turistas. Essas instalações passaram a ser usadas por viajantes e

comerciantes. A sua coragem em construir esse hotel para abrigar os turistas foi uma idéia

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interessante, ali se hospedavam os enoturistas, clientes ou não e até autoridades, esse

trabalho passa a ser um marco, um exemplo de pioneirismo no setor enoturístico. A vinícola

possuía uma linha muito diversificada de produtos de boa qualidade entre eles se

destacavam os vinhos elaborados a partir de castas viníferas.

Neste lado que compreende Bento Gonçalves, Garibaldi, Carlos Barbosa, o

município que se destacou mais foi Garibaldi, por possuir um bom hotel o Casacurta, hotel

de veraneio, nele pessoas importantes principalmente da capital gaúcha costumavam se

hospedar ali. [...]. A Cooperativa Garibaldi entre todas se destacava por oferecer um local

apropriado para o recebimento de autoridades e de caravanas de turistas. Em Bento

Gonçalves o enoturismo ganha impulso com a Dreher e a Cooperativa Aurora no ano de

1967 com a realização da I Fenavinho depois de 36 anos da realização da I Festa da Uva em

Caxias do Sul. A questão da Fenavinho fez a motivação, pois os municípios de Bento

Gonçalves e Garibaldi se destacavam cada vez mais como grandes produtores de uva e

vinho. A festa da Uva era um evento que atraia grande fluxo de visitantes, foi um dos

motivos para a realização da I Fenavinho, mas havia um inconveniente, era a falta de

estradas boas.

A Dreher se destacava com seus vinhos, espumantes e destilados, era uma empresa

muito bem relacionada com os veículos de comunicação, sendo o seu proprietário muito

amigo do jornalista e embaixador Assis Chateaubriand, sendo esse diretor de vários jornais

associados muito fortes na época, tudo isso veio a influenciar a vinda de turistas e todos se

deram conta que era um bom negócio para a divulgação do vinho e da região. A Cooperativa

Aurora também aderiu ao enoturismo com a I Fenavinho, foi um ato corajoso por parte da

direção por ser uma cooperativa, pois recentemente tinha entrado no mundo da elaboração

de vinhos finos, visto que até então ela só lidava com vinhos de castas americanas e não

possuía marcas importantes no mercado. A partir de 1967, começou a crescer e se destacar

em vinhos finos, ao natural sentiu a necessidade de participar deste segmento do turismo, se

não podemos dizer turistas ao menos podemos dizer de relações públicas.

Durante a realização da I Fenavinho, a Aurora construiu uma adega muito especial,

era uma pipa de vinho em que os visitantes entravam nela, era uma idéia muito inovadora,

simples e ao mesmo tempo aconchegante e os turistas queriam visitar esta adega, e isso

contribuiu para a empresa se projetar na vanguarda do enoturismo. A Mônaco também criou

ambientes voltados ao recebimento de turistas, uma coisa fomentava outra, hotéis e

restaurantes voltaram a ser ocupados por turistas, que há muito tempo tinham desaparecido

devido à deficiência das estradas e falta de atratídos optando a Gramado e Canela.

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No ano de 1973, a Cooperativa Aurora passou a produzir vinhos para terceiros, neste

mesmo ano nasce a Maison Forestier dentro da Aurora. No ano de 1977, a Forestier se

instala em local próprio no município vizinho de Garibaldi, iniciando com a implantação de

vinhedos. Em 1980, é construído seu estabelecimento baseado num projeto voltado para o

recebimento de turistas. Provavelmente foi a primeira empresa vinícola que preparou um

local onde podia ser visitado o estabelecimento e os seus vinhedos, foi uma coisa mais

abrangente que faz parte de uma atividade da cultura ao vinho. Esta empresa foi planejada

para o recebimento de enoturistas, não aconteceu ao natural como as demais na região. O

seu modelo foi inspirado nas vinícolas californianas (EUA), principalmente as do Napa

Valley, onde os turistas visitam as dependências, conhecem todo o processo de elaboração

de vinhos, degustam e podem adquirir os produtos e outros souvenires, como camisetas,

saca-rolhas e demais objetos ligados ao mundo do vinho, tudo com muito profissionalismo.

No ano de 1985, toda uma nova estrutura ficou pronta, para receber autoridades e

pessoas importantes, uma casa foi construída com três suítes que abrigaram ministros,

governadores e secretários de estado e mais uma sala para negociações. Seu local de

instalação junto a RST 470 favoreceu muito o fluxo de turistas. A Maison Forestier era uma

vinícola moderna, com equipamentos de ultima geração. No seu interior tanques de aço

inoxidável eram utilizados para elaboração e armazenamento dos vinhos. O entrevistado

lembra muito bem no dia da inauguração da vinícola, quando o chefe do laboratório de

Enologia de Bento Gonçalves, uma pessoa muito respeitada e culta, dirigindo-se a mim,

comentou: “vocês me convidaram para assistir uma inauguração de uma cantina ou de uma

queijaria, onde estão as pipas de madeira?”. Isso foi um problema que acabaram notando

também na reação dos outros turistas.

Mais tarde construíram uma adega feita de pedras, de estilo rústico, com seu

ambiente bem decorado com muitos barris de madeira, palco para apresentações artísticas,

sala para confraternizações, tudo no meio das pipas de madeira, em fim foi criado um

ambiente de “cantina” na concepção da época e da região. [...]. A CVC iniciou um trabalho

muito profissional na área de enoturismo, trazia turistas principalmente de São Paulo e do

Rio de Janeiro. No ano de 1984 - 1985, a média de turistas que visitam o estabelecimento

era entorno de 65 - 70 mil turistas/ano e o faturamento médio eram de 11 - 12 dólares por

pessoa, [...] era uma estrutura voltada para vender e promover seus produtos no cenário

nacional. Embora tendo um escritório na Região Sudeste, ela tinha uma pessoa exclusiva

que viajava para divulgar e trazer turistas à vinícola. Assim Garibaldi começa a criar uma

imagem voltada para o enoturismo com forte influência da Forestier. Com o passar do tempo

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outras empresas se integram, a Cooperativa Garibaldi, Peterlongo, George Aubert, e outras

mais. No final da década de 1990, início da década de 2000 a Forestier encerra suas

atividades. Seu modelo de profissionalismo serviu de inspiração para muitas empresas

vinícolas, principalmente no Vale dos Vinhedos e outras da Região Uva e Vinho.

A vinícola Dal Pízzol nasce no ano de 1974, nas imediações da RS 431, km 5 no

distrito de Faria Lemos. Inicia elaborando vinhos de mesa, logo em seguida passa para

vinhos finos onde vende de forma direta ao consumidor final. Nesta forma se mostrou que

uma propriedade familiar pequena podia elaborar vinhos finos com boa qualidade. [...].

Na Forestier tivemos a experiência que o turista valoriza não só o vinho, mas o

entorno da vinícola, a natureza e a gastronomia que também fazem parte da cultura do

vinho. No início os turistas que chegavam ao estabelecimento eram recebidos no meio das

pipas e ali era servida uma tábua de frios, salame, pão e vinho. Os visitantes podiam se

servir diretamente da torneira dos tanques de vinho. Este momento era muito emocionante,

os turistas ficavam ali entretidos até madrugada adentro. [...]. Depois passaram a adicionar

ao cardápio pratos quentes, como massa, frango e polenta.

O ambiente entorno do estabelecimento vinícola também foi trabalhado, criou-se um

cenário totalmente ligado a cultura do vinho. Um parque temático com uma área de 80 mil

m², com lagos e uma ampla área verde que reúne uma grande coleção de plantas nativas,

exóticas, ornamentais e frutíferas. Um grande atrativo é o vinhedo que possui mais de 200

espécies de videiras, originarias dos cinco continentes, mais conhecido como “Vinhedos do

Mundo. Também é possível ver uma réplica do “Vinhedo do Imigrante”, a Enoteca (antiga

olaria da família), que abriga uma coleção de garrafas exclusivas de safras antigas desde a

fundação da empresa. Possui também um restaurante, com vista panorâmica para o lago,

onde são oferecidos almoços e jantares com cardápios que resgatam as tradições dos

imigrantes italianos.

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ENTREVISTA DE VANDER VALDUGA. Atua na UCS na área de planejamento Turístico

e Gestão Territorial. Orientador do Curso de Turismo no Campus Universitário da Região dos

Vinhedos de Bento Gonçalves. Entrevista concedida em: 06 de agosto de 2008.

Trabalhou no estudo de Desenvolvimento do Enoturismo no Vale dos Vinhedos. O

trabalho teve como foco central, investigar se Indicação Procedência do Vale dos Vinhedos

tinha sido definitiva para o desenvolvimento do Enoturismo no Vale dos Vinhedos, ou se

tinha que considerar todo o processo histórico anterior e se tudo isso tinha contribuído de

alguma forma para o fortalecimento endógeno do Vale dos Vinhedos. Uma das principais

constatações foi que em primeiro lugar, a Indicação de Procedência do Vale dos Vinhedos foi

secundária, teve interferência indireta no Enoturismo, em função de todo um marketing, de

toda uma mídia conseguida (na visão do produtor de vinhos). Estas atrações se solidificaram

em 1995, com a criação da Aprovale. [...].

No início se pensava que a IPVV iniciou o enoturismo no Vale dos Vinhedos, na

verdade não foi bem assim, o enoturismo foi conseqüência de um longo processo de

especialização na produção de uvas e de vinhos, não se esquecendo do contexto histórico, que

foi fundamental. O enoturismo é muito parcial ainda, existe uma falsa idéia que é “vendida”

ao turista como Região Uva e Vinho, no entanto se vende muito mais vinho do que uva, falta

um contato maior com o produtor local de uvas. O enoturismo tanto para vinícolas grandes e

pequenas representa 35 – 40% do faturamento, isso pode ser um dado ruim até certo ponto de

vista, que, quanto mais vende para o turista, menos vende para outros mercados.

A Vallontano foi fundada em1997, a recepção ao público teve início no ano de 2001,

todo seu empreendimento foi voltado ao enoturismo, desde seu projeto, baseado na

arquitetura industrial da imigração italiana das décadas de 1930 a1950. [...].

O enoturismo é uma relação pessoal, uma prática social, onde se estabelece uma

relação pessoal. Não existe turismo sem pessoas, não é o estabelecimento vinícola que se

desloca. O centro de estudo do enoturismo é o próprio enoturista e não as vinícolas, o vinho.

[...]. Enoturistas são pessoas que visitam uma região não apenas atraída pelo vinho, mas

também pelo contato afetivo com os moradores locais, sua cultura, sua tipicidade, os

processos de elaboração dos vinhos, modo de vida e a paisagem da região.

Um grande desafio destas regiões que estão surgindo em relação ao enoturismo é criar

uma identidade própria e marcas que estabeleça diferenças particulares, não igualdade. O

segundo atrativo depois do vinho, é a paisagem, e o enoturismo deve procurar agregar mais

produtos atrativos ao vinho. [...].

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APÊNDICE B – Resumo das entrevistas concedidas sobre o surgimento do turismo e de alguns hotéis na região pesquisada

ENTREVISTA DE MARTA LUIZA DE ARANHA BLAUTH. Empresaria do turismo

rural, moradora no Desvio Blauth, Farroupilha. Marta é uma das descendentes diretas dos

Blauth, proprietários do Veraneio Desvio Blauth. Entrevista não gravada, concedida no dia 23

de dezembro de 2008.

Veraneio Desvio Blauth foi fundado em 1920, pelos irmãos Elza e Elvino Blauth,

filhos de Carlos Blauth e de Sophia Blauth. Este estabelecimento se situava no Desvio Blauth

município de Farroupilha, RS. Localizado a 10 km da cidade de Farroupilha. Segundo a

entrevistada o Veraneio Desvio Blauth era uma estação de veraneio, sendo um dos primeiros

ou o primeiro hotel de veraneio mais importante no Estado. O Veraneio Desvio Blauth ficava

localizado próximo aos trilhos do trem. Neste local se situava uma parada obrigatória do trem,

onde o mesmo se abastecia de água, vindo a transformar o local em uma atração especial. [...].

O Veraneio Desvio Blauth atinge seu auge na década de 1930, quando a elite da

Capital do Estado e outras famílias de classe média procuravam a região atraídas pelo clima

das montanhas, isolamento, descanso, comida farta e bom atendimento. Na Europa eram

comuns as pessoas das cidades maiores veranearem nas montanhas em busca de climas mais

agradáveis e saudáveis. O local era procurado em todas as épocas do ano, inverno e verão

sendo que algumas famílias inteiras chegavam a se hospedar até três meses por ano. [...]. Os

visitantes chegavam de trem. O trem chega a Caxias do Sul em 1910, partindo de Rio dos

Sinos, 7 km antes de Novo Hamburgo. Em 1917, as estações férreas de Carlos Barbosa e de

Garibaldi são inauguradas. [...].

O estabelecimento oferecia os mais diversos serviços de hospedagem, sendo que as

famílias eram distribuídas em vários alojamentos. Os filhos menores ficavam instalados

juntamente com os pais. Havia alojamentos exclusivos para as moças e outro para os rapazes.

Existiam normas a serem seguidas, desde o horário das refeições até o banho. Muitas

vezes essas normas se estendiam sobre o comportamento em geral dos visitantes. Os horários

de banho eram agendados previamente com um empregado do estabelecimento e este por sua

vez preparava a sala de banho e a reservava, para realizar as caminhadas junto à natureza um

procedimento parecido era adotado. Havia horário de silêncio. As crianças não podiam fazer

algazarra depois do almoço até as 15 horas, (horário considerado de descanso e de sestear).

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O gerador de energia elétrica geralmente era desligado às 22 horas, este estava instalado junto

à barragem e era movido pelas águas do reservatório. [...].

O Veraneio Desvio Blauth oferecia diversos atrativos, desde piscina, possibilidade de

banho nas águas do lago, passeio a cavalo e de barco à remo, e outros mais. Os homens

podiam desfrutar da sala de jogos onde era possível jogar cartas e bochas, acompanhados de

um bom vinho colonial, graspa, pão caseiro, salame e queijo. As mulheres ficavam entretidas

realizando crochê e conversando entre elas. O estabelecimento disponibilizava de uma

charrete para passear e conhecer as plantações e parreirais próximos.

Em 1953, com o declínio da “moda” de veranear na serra, o Veraneio Desvio Blauth

não resiste e vem a encerrar suas atividades. Hoje restam as ruínas da antiga caixa d’água que

abastecia o trem e uma fileira de pedras que formavam a plataforma de desembarque junto aos

trilhos. [...].

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ENTREVISTA DE PAULO NICHETTI- entrevista concedida por telefone no dia 23 de

dezembro de 2008.

No ano de 1903, Marino João Nichetti, avô do entrevistado, constrói o Hotel Nichetti

em Pinto Bandeira, distrito de Bento Gonçalves. Esse estabelecimento atinge seu maior auge

na década de 1920 – 1940, quando veranistas de Porto Alegre (grande maioria turistas

portugueses e italianos residentes na Capital do Estado), procuravam a região por ser

considerada de clima ideal à saúde. Embora o hotel fosse procurado em todas as épocas do

ano, era nos meses de dezembro a março em que os turistas mais procuravam se hospedar,

devido às temperaturas serem consideradas mais amenas e agradáveis. [...].

Os veranistas geralmente utilizavam seus carros particulares para chegar a Pinto

Bandeira, sendo sua grande maioria formada por pessoas da terceira idade, poucos casais

jovens optava a esse tipo de veraneio. Os visitantes geralmente realizavam caminhadas na

praça e nas ruas do distrito, visitavam os parreirais e os pomares, adquiriam produtos

coloniais (vinhos, graspa, salames, queijos e outros mais). Havia a possibilidade dos visitantes

passearem de carroça, um morador local Volmar Mazzotti, oferecia este tipo de serviço. [...].

O hotel desde sua fundação sempre esteve voltado ao atendimento aos turistas. Depois

da década de 1940, passa a hospedar viajantes e professoras que atuavam no distrito. [...]. O

estabelecimento encerra suas atividades em treze de março de 1969, conseqüência de um

incêndio que destruiu o prédio. Depois do sinistro a família proprietária se muda a Bento

Gonçalves.

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ENTREVISTA DE VLADEMIR JOÃO BASSO- Proprietário do Bela Vista Parque Hotel,

de Caxias do Sul. Entrevista concedida por telefone no dia 23 de dezembro de 2008.

O Bela Vista Parque Hotel- foi inaugurado em1927, por José Basso e seus dois filhos: Jacó e

Jacinto Basso. Localizado na frente da Igreja de Ana Rech em Caxias do Sul. Em 1937, é

inaugurado o Hotel Bela Vista nas instalações atuais e passa a ser ampliado.

A fundação do hotel foi sugerida por uma comadre do proprietário, visto que o mesmo

gostava muito de convidar os amigos para almoçar em sua casa. Algumas vezes as visitas chegavam

de surpresa e a dona da casa não estava preparada e improvisava alguns pratos de comida. Num

certo dia a comadre conversa com a esposa do José e incentiva a construir um hotel para servir

almoços aos convidados. [...]. A boa comida e a grande variedade de pratos oferecidos, tudo isso

aliado ao bom atendimento fez o empreendimento prosperar cada vez mais.

Na década de 1927, o hotel não possuía muito espaço físico disponível, houve a necessidade

de utilizar um terreno vizinho de um parente. Com a ampliação e mudança para o atual espaço

situado dentro de um parque bem arborizado principalmente por acácias mimosas, o

empreendimento passou a oferecer melhor conforto aos hospedes. A preocupação com a natureza

sempre foi um diferencial. Os irmãos Basso quando viajavam geralmente traziam plantas

ornamentais para serem plantadas no jardim do hotel. O parque passou a oferecer caminhadas entre

as árvores, piscina, lago com barcos à remo e a possibilidade de banho nas suas águas límpidas. O

hotel disponibilizava de sala de recreação, carteados, boliche, cancha de bochas, salão de baile,

padaria, tambo de leite onde os visitantes podiam ordenhar as vacas e tomar o leite, (geralmente esta

atividade acontecia à tarde, e os visitantes traziam potes com achocolatados e se serviam com o leite

da ordenha), janta, almoço e lanches. No café da tarde eram geralmente servidas frutas

provenientes do próprio pomar do hotel, uvas, ameixas, pêssegos, laranjas e outras mais.

Famílias provenientes na sua grande maioria de Porto Alegre procuravam suas instalações

para veranear. [...]. Foi muito utilizado para casamentos e férias longas (variavam de 15 dias até três

meses no verão). No início de suas atividades os veranistas chegavam de trem, o hotel possuía um

carro (jardineira), que fazia o trajeto da estação ferroviária ao hotel. Em 1937, com a Br 116 ainda

não pavimentada, os visitantes começaram a chegar de ônibus ou de automóveis. Mesmo assim a

“jardineira” buscava os hospedes, desta vez não mais na estação ferroviária, mas da rodoviária de

Caxias do Sul.

Com o passar do tempo a comunidade de Ana Rech foi crescendo, surgiram outros

empreendimentos, dentre eles, um abatedouro de aves e de porcos. A carne bovina era proveniente

de Criúva (distrito de Caxias do Sul), esta era enviada duas vezes por semana ao hotel. O cardápio

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constituía de massas, bifes, batata frita, arroz, polenta, panada, frango preparado de várias maneiras,

pão de milho, bolachas e bolos sortidos, mel e frutas da época. O prato principal eram os molhos de

carne e os queijos serranos. Utilizavam muitas conservas de frutas e de legumes para compensar a

falta do produto em determinadas épocas do ano.

Os hospedes podiam comprar vários produtos coloniais diretamente dos produtores que

abasteciam o hotel. [...]. O transporte mais utilizado pelos agricultores para abastecer o hotel eram

os burros. [...]. Os veranistas podiam realizar passeios no interior e na cidade, adquiriam vinhos nas

pequenas cantinas rurais, graspa, schmier de frutas e vários outros produtos coloniais. Durante a

II Guerra Mundial com a escassez de combustível, os ônibus e alguns automóveis usavam como

alternativa o gasogênio, quando os turistas chegavam ao seu destino, muitas vezes suas roupas

ficavam cobertas por uma pequena camada de fuligem. [...].

Os turistas vindos de Porto Alegre, Santa Maria, Rio Grande e Pelotas geralmente

utilizavam o trem como meio de transporte, depois da década de 1960, passam a utilizar o

transporte rodoviário. [...]. Caxias do Sul passa a crescer cada vez mais, a Festa da Uva torna-se

referência, o inverno chega a ser um bom atrativo turístico, a moda européia é adotada, onde as

pessoas saíam de suas cidades para veranear nas montanhas em busca de ar puro e de temperaturas

amenas.

Em 1937, Amélia (esposa de um dos filhos) assume a cozinha sob orientação da avó. [...].

Em 1954, a avó veio a falecer. Amélia graças a sua dedicação e bom talento na arte de cozinhar

herdado da avó continua se aperfeiçoando cada vez mais. Para incrementar seu cardápio muitas

vezes mandava trazer livros de culinária de Porto Alegre (Livraria o Globo), conseqüentemente

passou a formar diversos chefes de cozinha, graças ao seu talento e criatividade. [...]. Os jornais

Correio do Povo e o Jornal do Comércio eram recebidos diariamente através dos ônibus que

chegavam de Porto Alegre, isto na década de 1990. [...].

Na década de 1960, surgem os Hotéis Menegotto, City e Real. Na década seguinte o Hotel

Samuara e Alfred e outros mais modelos de hotéis executivos. [...].

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ANEXO A – Roteiro do Vinho

Fonte: Revista do Vinho, 1988.

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ANEXO 02 – Parada Blauth com o trem. Farroupilha - RS

Fonte: Acervo Patrícia Haupt.