Trabalho - Modernismo No Brasil

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FACULDADE DE ARACRUZ DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO ERILDO FÁVARO JÉSICA MARTINS LUCIANDER FALCÃO CANIÇALI NIRLLANIA SOUZA BOZZI RUBIENE CALLEGARIO MODERNISMO BRASILEIRO ARACRUZ 2011

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Trabalho sobre o modernismo brasileiro identificando suas principais frases, arquitetos e obras.

Transcript of Trabalho - Modernismo No Brasil

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    FACULDADE DE ARACRUZ DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

    ERILDO FVARO JSICA MARTINS

    LUCIANDER FALCO CANIALI NIRLLANIA SOUZA BOZZI RUBIENE CALLEGARIO

    MODERNISMO BRASILEIRO

    ARACRUZ 2011

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    ERILDO FVARO JSICA MARTINS

    LUCIANDER FALCO CANIALI NIRLLANIA SOUZA BOZZI RUBIENE CALLEGARIO

    MODERNISMO BRASILEIRO

    Trabalho apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo na disciplina de Teoria da Arquitetura I na Faculdade de Aracruz como requisito para avaliao. Orientador: Andra Curtiss

    ARACRUZ 2011

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Casa Modernista ............................................................................... 25

    Figura 2: Fachada Casa Modernista ................................................................ 25

    Figura 3: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo ............................................. 26

    Figura 4: Estdio do Morumbi SP .................................................................. 27

    Figura 5: Bloco Vertical e Horizontal do MES................................................... 28

    Figura 6: Terrao de Burle Marx localizado no bloco horizontal do MES ......... 28

    Figura 7: MASP SP ....................................................................................... 30

    Figura 8: Casa de Vidro projetada por Lina Bo Bardi ....................................... 31

    Figura 9: Croqui Pampulha, MG ....................................................................... 32

    Figura 10: Igreja So Francisco de Assis, Complexo da Pampulha ................. 33

    Figura 11: Grande Hotel Ouro Preto, Minas Gerais ......................................... 33

    Figura 12: Ginsio do Clube Atltico Paulistano, So Paulo em 1957 ............. 34

    Figura 13: Estdio Serra Dourada em Goinia................................................. 35

    Figura 14: Museu de Arte Contempornea da USP ......................................... 35

    Figura 15: Cais das Artes em Vitria /ES ......................................................... 36

    Figura 16: Conjunto Habitacional Pedregulho .................................................. 37

    Figura 17: Plano Piloto de Braslia ................................................................... 38

    Figura 18: Parque Moscoso na dcada de 80, Vitria ...................................... 40

    Figura 19: Edificio Antenor Guimares , Praa Costa Pereira, Vitria ............. 41

    Figura 20: Centro de Artes da UFES, 1968 ...................................................... 43

    Figura 21: Edificio Alvares Cabral (esq.), Vitoria .............................................. 44

    Figura 22: Fachada Frontal original do Clube Libans ..................................... 45

    Figura 23: Residncia Otaclia Jos Coser, Vila Velha .................................... 47

    Figura 24: Antropofagia obra de Tarsila do Amaral. ...................................... 49

    Figura 25: Paisagem de Santo Amaro - obra de Anita Malfatti......................... 49

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    SUMRIO

    1 INTRODUO ................................................................................................ 6

    2 HISTRIA MODERNISMO BRASILEIRO ...................................................... 8

    2.1 PRIMEIRA FASE MODERNISTA NO BRASIL (1922-1930) ...................... 10

    2.1.1 Caractersticas ....................................................................................... 11

    2.2 SEGUNDA FASE MODERNISTA NO BRASIL - (1930-1945) .................... 11

    2.2.1 Caractersticas ....................................................................................... 12

    2.3 TERCEIRA FASE MODERNISTA NO BRASIL (1945- +/- 1960) ............... 13

    3 GRANDES ACONTECIMENTOS ................................................................. 14

    4 SITUAO SCIO ECONMICA ................................................................ 21

    5 ARQUITETURA ............................................................................................ 23

    5.1 INFLUNCIAS ESTRANGEIRAS ............................................................... 24

    5.2 PRINCIPAIS ARQUITETOS E OBRAS MODERNAS ................................ 24

    6 URBANISMO MODERNO ............................................................................. 37

    7 ARQUITETURA MODERNA NO ESPIRITO SANTOI .................................. 39

    7.1 A CHEGADA DOS ARQUITETOS E A PRODUO MODERNA .............. 42

    8 TIPOLOGIA DOMINANTE ............................................................................ 48

    9 A ESTTICA DO PERODO MODERNO NO BRASIL ................................. 52

    9.1 MODERNISMO PROJETO ESTTICO E IDEOLGICO ........................... 53

    9.2 DA FASE HERICA AOS ANOS 30 ........................................................ 55

    9.3 VANGUARDA E DILUIO ....................................................................... 56

    10 CONCLUSO ............................................................................................. 57

    11 REFERNCIAS ........................................................................................... 58

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    RESUMO

    O modernismo brasileiro foi um amplo movimento cultural que repercutiu

    fortemente sobre a cena artstica e a sociedade brasileira na primeira metade

    do sculo XX, sobretudo no campo da literatura e das artes plsticas.

    O Modernismo teve incio em meio fortalecida economia do caf e suas

    oligarquias rurais. A poltica do caf-com-leite ditava o cenrio econmico,

    ilustrado pelo eixo So Paulo - Minas Gerais. Contudo, a industrializao

    chegava ao Brasil em conseqncia da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e

    ocasionou o processo de urbanizao e o surgimento da burguesia.

    Arquitetura Moderna o conjunto de movimentos e escolas arquitetnicas que

    vieram a caracterizar a arquitetura produzida durante grande parte do sculo

    XX (especialmente os perodos entre as dcadas de 20 e 60), inserida no

    contexto artstico e cultural do Modernismo.

    Os arquitetos Modernistas buscavam o racionalismo e funcionalismo em seus

    projetos, sendo que as obras deste estilo apresentavam como caractersticas

    comuns formas geomtricas definidas, sem ornamentos; separao entre

    estrutura e vedao; uso de pilotis a fim de liberar o espao sob o edifcio;

    panos de vidro contnuos nas fachadas ao invs de janelas tradicionais;

    integrao da arquitetura com o entorno pelo paisagismo, e com as outras

    artes plsticas atravs do emprego de painis de azulejo decorados, murais e

    esculturas.

    O presente trabalho aborda a Arquitetura Moderna do sculo XX sob a evidente

    argumentao dos materiais empregados e das conseqncias derivadas de

    suas possibilidades tcnicas e expressivas, trazendo a tona uma abordagem

    dos grandes acontecimentos da poca, a situao scio-econmica, um

    panorama da histria da arquitetura seus principais nomes e obras citando

    esttica e tipologias dominante.

    Palavras-chave: Modernismo, Modernismo brasileiro, Arquitetura Moderna.

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    1 INTRODUO

    Arquitetura Moderna o conjunto de movimentos e escolas arquitetnicas que

    vieram a caracterizar a arquitetura produzida durante grande parte do sculo

    XX (especialmente os perodos entre as dcadas de 20 e 60), inserida no

    contexto artstico e cultural do Modernismo. No h um iderio moderno nico.

    Suas caractersticas podem ser encontradas em origens diversas como a

    Bauhaus, na Alemanha; em Le Corbusier, na Frana, e em Frank Lloyd Wright

    nos EUA. Muitos historiadores de arquitetura (como Leonardo Benevolo e

    Nikolaus Pevsner) traam a gnese histrica do moderno em uma srie de

    movimentos ocorridos em meados do sculo XIX, como o movimento Arts &

    Crafts. Um dos princpios bsicos do modernismo era renovar a arquitetura de

    modo a rejeitar toda a arquitetura anterior ao movimento fato posteriormente

    questionado pelos ps-modernistas.

    Apesar de ser um momento multifacetado da produo arquitetnica

    internacional, o Modernismo manifestou alguns princpios que foram seguidos

    por vrios arquitetos, das mais variadas escolas e tendncias. A primeira e

    mais clara caracterstica a rejeio por parte dos modernos do repertrio

    formal do passado e a averso deles idia de estilo.

    A Arquitetura Moderna surge, portanto, com as profundas transformaes

    estticas propostas pelas vanguardas artsticas das dcadas de 10 e 20, em

    especial o Cubismo, o Abstracionismo com destaque aos estudos realizados

    pela Bauhaus, pelo De Stijl e pela vanguarda russa e o Construtivismo.

    A histria da Arquitetura Moderna no Brasil a histria de um punhado de

    jovens e de um conjunto de obras realizado com uma rapidez inacreditvel. Em

    poucos anos, uma idia que teve apenas o tempo de lanar suas razes, em

    So Paulo e no Rio de Janeiro, floresceu e alcanou uma maturidade

    paradoxal. No demandou sequer, como se poderia supor, o tempo de uma

    gerao, mas apenas os poucos anos de passagem de uma turma pela escola

    de arquitetura. Em seu ensaio sobre arquitetura brasileira, Lcio Costa, cujo

    papel nessa histria jamais ser suficientemente louvado, ao analisar o perodo

    que vai de 1930 a 1940 e que antecede a construo do Ministrio da

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    Educao e Sade, assinala com propriedade que a arquitetura jamais

    passou, noutro igual espao de tempo, por tamanha transformao. (MINDLIN,

    1999; FICHER, ACAYABA, 1982 apud COELHO, ALESSANDRA E

    ODEBRECHT, SILVIA, 2007).

    Neste trabalho abordamos a arquitetura Moderna do sculo XX sob a evidente

    argumentao dos materiais empregados e das conseqncias derivadas de

    suas possibilidades tcnicas e expressivas, trazendo a tona uma abordagem

    dos grandes acontecimentos da poca, a situao scio-econmica, um

    panorama da histria da arquitetura seus principais nomes e obras citando

    esttica e tipologias dominante.

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    2 HISTRIA MODERNISMO BRASILEIRO

    O modernismo brasileiro foi um amplo movimento cultural que repercutiu

    fortemente sobre a cena artstica e a sociedade brasileira na primeira metade

    do sculo XX, sobretudo no campo da literatura e das artes plsticas.

    Comparado a outros movimentos modernistas, o brasileiro foi desencadeado

    tardiamente, na dcada de 1920. Este foi resultado, em grande parte, da

    assimilao de tendncias culturais e artsticas lanadas pelas vanguardas

    europias no perodo que antecedeu a Primeira Guerra Mundial, tendo como

    exemplo do Cubismo e do Futurismo, refletindo, ento, na procura da abolio

    de todas as regras anteriores e a procura da novidade e da velocidade.

    Contudo, pode-se dizer que a assimilao dessas idias europias deu-se de

    forma seletiva, rearranjando elementos artsticos de modo a ajust-los s

    singularidades culturais brasileiras. Considera-se a Semana de Arte Moderna,

    realizada em So Paulo, em 1922, como ponto de partida do modernismo no

    Brasil. Porm, nem todos os participantes desse evento eram modernistas:

    Graa Aranha, um pr-modernista, por exemplo, foi um dos oradores. No

    sendo dominante desde o incio, o modernismo, com o tempo, suplantou os

    anteriores. Foi marcado, sobretudo, pela liberdade de estilo e aproximao com

    a linguagem falada, sendo os da primeira fase mais radicais em relao a esse

    marco.

    A partir de 1924, comeam a surgir as divises do Movimento Modernista,

    principalmente a partir do pau- brasil (Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral,

    entre alguns membros) e do verde- amarelo (Menotti del Picchia e Plnio

    Salgado, como alguns dos representantes).

    A valorizao do carter nacional era importante para as duas correntes,

    entretanto o pau-brasil no abria mo da atualizao da arte brasileira,

    tomando como parmetro as produes internacionais, enquanto o verde-

    amarelo era mais apegado s tradies e cauteloso em relao aos

    movimentos vanguardistas estrangeiros. Divergncias polticas, ideolgicas e

    sociais profundas acabariam por afastar cada vez mais essas duas correntes

    do modernismo brasileiro. A Antropofagia, inspirada no quadro Abaporu de

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    Tarsila do Amaral e liderada por Oswald de Andrade e Raul Bopp - com seus

    objetivos de rompimento com a arte e a histria anteriores ao movimento e seu

    objetivo de devorar" as culturas estrangeiras, assimilando delas o que fosse

    considerado importante pelo grupo brasileiro - e o Grupo da Anta - reafirmando

    a cultura brasileira, afastando-se das influncias estrangeiras e posteriormente

    desdobrando-se no Integralismo - acabariam por polarizar ainda mais a

    discusso modernista brasileira.

    dcada de 30 coube sedimentar e oficializar as conquistas modernistas.

    Movimentos artsticos europeus, principalmente o Expressionismo e o Cubismo

    inspiravam ento artistas como Cndido Portinari, Guignard e Bruno Giorgi.

    Dois outros importantes nomes dessa fase modernista como Ismael Nery e

    Ccero Dias (Ccero principalmente em suas primeiras obras) eram mais

    pautados pelo Surrealismo. O poder pblico passa a apoiar o Modernismo e se

    So Paulo tinha sido o principal foco difusor dos primeiros tempos do

    Modernismo, agora caberia ao Rio de Janeiro esse papel. A passagem de Le

    Corbusier e Frank Lloyd Wright pelo Brasil (1929 e 1931) chama a ateno dos

    artistas para as possibilidades da integrao das artes, renovando a arquitetura

    brasileira, nela incluindo a nova pintura, escultura, paisagismo e decorao.

    A temtica social passaria ser grande fonte de inspirao para a gerao

    Modernista dessa dcada e a tcnica, que tinha assumido uma posio

    secundria durante os anos 20, volta a ser valorizada. Surgiam importantes

    focos como o Ncleo Bernardelli (1931 - 1940) no Rio de Janeiro, preocupado

    em democratizar o ensino de artes plsticas e apontando para um Modernismo

    moderado. Em So Paulo surgiria a Sociedade Pr- Arte Moderna (SPAM), em

    1932, reunindo artistas e promovendo uma srie de atividades divulgando seus

    trabalhos. Ainda em So Paulo surgiria o Clube dos Artistas Modernos (CAM),

    dissidncia da SPAM, bastante ativo e irreverente, prximo ao esprito das

    primeiras pocas modernistas.

    O Modernismo at ento, salvo alguns esforos de artistas isolados,

    permanecia restrito ao eixo Rio-So Paulo. Em 1944, uma exposio

    modernista em Minas Gerais, patrocinada pela prefeitura da capital do estado

    na gesto de Juscelino Kubitschek, marcaria o incio do Modernismo nesse

    estado. Minas ento passaria a ser extremamente importante para o

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    movimento no perodo, produzindo grandes artistas. O ano de 1944 tambm

    marca o incio do Modernismo baiano, seguido pelo Paran e Recife (este

    ltimo em 1948). O Cear j desde 1941 abrigava manifestaes Modernistas.

    Entretanto, importante lembrar que o Modernismo brasileiro surgiu com a

    inteno de ser um movimento de vanguarda, numa poca em que na Europa

    estava havendo um refluxo e uma tendncia contrria, a de volta ordem.

    Enquanto a Europa procurava romper com o peso da arte passada e o

    abstracionismo era extremamente valorizado, no Brasil o Modernismo assumia

    mais a funo de promover uma atualizao da arte brasileira capaz de ajudar

    na consolidao da identidade nacional e no abria mo do figurativismo. As

    vanguardas europias tinham carter universal , enquanto o Modernismo

    brasileiro buscava expressar as particularidades nacionais, assimilando para

    isso aquilo que lhe interessava nas propostas de arte Moderna que chegavam

    do velho continente.

    Os anos 60 marcam o fim do Modernismo Brasileiro, sendo extremamente

    diversificada a produo artstica no pas nas dcadas seguintes.

    Didaticamente, divide-se o Modernismo em trs fases: a primeira fase, mais

    radical, cheia de irreverncia e escndalo; uma segunda mais amena, que

    formou grandes romancistas e poetas; e uma terceira, tambm chamada Ps-

    Modernismo por vrios autores, que se opunha de certo modo a primeira e era

    por isso ridicularizada com o apelido de neoparnasianismo.

    2.1 PRIMEIRA FASE MODERNISTA NO BRASIL (1922-1930)

    Caracteriza-se por ser uma tentativa de definir e marcar posies. Perodo rico

    em manifestos e revistas de vida efmera.

    Um ms depois da SAM (Semana de Arte Moderna), a poltica vive dois

    momentos importantes: eleies para Presidncia da Repblica e congresso

    (RJ) para fundao do Partido Comunista do Brasil. Ainda no campo da

    poltica, surge em 1926 o Partido Democrtico que teve entre seus fundadores

    Mrio de Andrade.

    a fase mais radical justamente em conseqncia da necessidade de

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    definies e do rompimento de todas as estruturas do passado. Carter

    anrquico e forte sentido destruidor.

    Principais autores desta fase: Mrio de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel

    Bandeira, Antnio de Alcntara Machado, Menotti del Picchia, Cassiano

    Ricardo, Guilherme de Almeida e Plnio Salgado.

    2.1.1 Caractersticas

    Busca do moderno, original e polmico;

    Nacionalismo em suas mltiplas facetas;

    Volta s origens e valorizao do ndio verdadeiramente brasileiro;

    Lngua brasileira - falada pelo povo nas ruas;

    Pardias - tentativa de repensar a histria e a literatura brasileiras;

    A postura nacionalista apresenta-se em duas vertentes:nacionalismo

    crtico, consciente, de denncia da realidade, identificado politicamente

    com as esquerdas.nacionalismo ufanista, utpico, exagerado,

    identificado com as correntes de extrema direita.

    2.2 SEGUNDA FASE MODERNISTA NO BRASIL - (1930-1945)

    Estende-se de 1930 a 1945, sendo um perodo rico na produo potica e

    tambm na prosa. O universo temtico se amplia e os artistas passam a

    preocupar-se mais com o destino dos homens, o estar-no-mundo.

    Segundo Cassiano Ricardo,

    A segunda fase colheu os resultados da precedente, substituindo o

    carter destruidor pela inteno construtiva, pela recomposio de

    valores e configurao da nova ordem esttica.

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    Ao contrrio da sua antecessora, foi construtiva. No sendo uma sucesso

    brusca, a poesia da gerao de 22 e 30 foram contemporneas. A maioria dos

    poetas de 30 absorveram experincias de 22, como a liberdade temtica, o

    gosto da expresso atualizada ou inventiva, o verso livre e o antiacademicismo.

    Portanto, ela no precisou ser to combativa quanto a de 22, devido ao

    achamento de uma linguagem potica modernista j estruturada. Passara,

    ento, a aprimor-la, prosseguindo a tarefa de purificao de meios e formas

    direcionando e ampliando a temtica da inquietao filosfica e religiosa, com

    Vincius de Moraes, Jorge de Lima, Augusto Frederico Schmidt, Murilo Mendes,

    Carlos Drummond de Andrade.

    Segundo Carlos Drummond de Andrade, in Nosso Tempo,

    "Este tempo de partido, / tempo de homens partidos. (...) Os

    homens pedem carne. Fogo. Sapatos. / As leis ano bastam. Os lrios

    ano nascem da lei. Meu nome tumulto, e escreve-se / na pedra."

    2.2.1 Caractersticas

    Repensar a historia nacional com humor e ironia - " Em outubro de 1930

    / Ns fizemos que animao! / Um pic-nic com carabinas." (Festa

    Familiar - Murilo Mendes);

    Verso livre e poesia sinttica - " Stop. / A vida parou / ou foi o

    automvel?" (Cota Zero, Carlos Drummond de Andrade);

    Nova postura temtica - questionar mais a realidade e a si mesmo

    enquanto indivduo;

    Tentativa de interpretar o estar-no-mundo e seu papel de poeta;

    Literatura mais construtiva e mais politizada.;

    Surge uma corrente mais voltada para o espiritualismo e o intimismo

    (Ceclia, Murilo Mendes, Jorge de Lima e Vincius);

    Aprofundamento das relaes do eu com o mundo;

    Conscincia da fragilidade do eu - "Tenho apenas duas mos / e o

    sentimento do mundo" (Carlos Drummond de Andrade - Sentimento do

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    Mundo);

    Perspectiva nica para enfrentar os tempos difceis a unio, as

    solues coletivas - " O presente to grande, ano nos afastemos, / Ano

    nos afastemos muito, vamos de mos dadas." (Carlos Drummond de

    Andrade - Mos dadas)

    2.3 TERCEIRA FASE MODERNISTA NO BRASIL (1945- +/- 1960)

    Com a transformao do cenrio scio-poltico do Brasil, a literatura tambm

    transformou-se. O fim da Era Vargas, a ascenso e queda do Populismo, a

    Ditadura Militar, e o contexto da Guerra Fria, foram, portanto, de grande

    influncia na Terceira Fase. Na prosa, tanto no romance quanto no conto,

    houve a busca de uma literatura intimista, de sondagem psicolgica e

    introspectiva, tendo como destaque Clarice Lispector. O regionalismo, ao

    mesmo tempo, ganha uma nova dimenso com a recriao dos costumes e da

    fala sertaneja com Guimares Rosa, penetrando fundo na psicologia do

    jaguno do Brasil central. A pesquisa da linguagem foi um trao caratersticos

    dos autores citados, sendo eles chamados de instrumentalistas.

    A gerao de 45 surge com poetas opositores das conquistas e inovaes

    modernistas de 22. A nova proposta, inicialmente, defendida pela revista

    Orfeu em 1947. Negando a liberdade formal, as ironias, as stiras e outras

    caractersticas modernistas, os poetas de 45 buscaram uma poesia mais

    equilibrada e sria, tendo como modelos os Parnasianos e Simbolistas. No

    fim dos anos 40, surge um poeta singular, no estando filiado esteticamente a

    nenhuma tendncia: Joo Cabral de Melo Neto.

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    3 GRANDES ACONTECIMENTOS

    De 1917 a 1922, os jovens artistas de So Paulo intensificaram contatos com

    as vanguardas europias, aparelhando-se para o grande evento que viria a ser

    a Semana de Arte Moderna. Ao mesmo tempo, atravs de jornais foram

    divulgadas as novas idias estticas. A combatividade dos jovens intelectuais e

    artistas foi criando uma coeso no grupo, formado por artistas plsticos, poetas

    e crticos: Di Cavalcanti, Brecheret, Anita Malfatti, Mrio de Andrade, Menotti

    del Picchia, Oswald de Andrade. Alm disso, a articulao com intelectuais do

    Rio de Janeiro, como Ribeiro Couto, Manuel Bandeira, Guilherme de Almeida,

    Villa Lobos e Ronald de Carvalho, "e a adeso do prestigioso Graa Aranha

    significavam que o Modernismo poderia lanar-se como um movimento".

    Assim, entre 11 e 18 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de So Paulo,

    com a participao dos artistas que, segundo a notcia veiculada no O Estado

    de S. Paulo, "representam as mais modernas correntes artsticas", deu-se o

    grande evento, destinado a marcar poca: a Semana de Arte Moderna.

    Modernismo e tendncias ideolgicas Em seguida ao lanamento da Semana

    apareceram revistas crticas que procuraram dar ao movimento uma feio

    terica. Assim, em maio de 1922, surgiu a revista Klaxon, mensrio de arte

    moderna, e em setembro de 1924 saiu a revista Esttica. Todavia, ambas

    tiveram vida curta: Klaxon conseguiu publicar nove nmeros e Esttica apenas

    trs.

    As formulaes tericas dessas duas revistas j denunciavam o impasse

    esttico em que logo se viram os modernistas. Na Klaxon, o futurismo (aberto

    civilizao moderna e tecnolgica) conflitava com o primitivismo (voltado para

    as foras do inconsciente). Na Esttica, a oposio era entre a arte engajada e

    a arte pela arte. medida que as implicaes estticas do modernismo foram

    se explicitando, o campo de debate foi se ampliando, e as reflexes estticas

    conduziram os modernistas a posies ideolgicas que, em seguida, os

    dividiram em tendncias contraditrias. Da "redescoberta" do Brasil surgiram o

    primitivismo de Oswald (Revista de Antropofagia, 1928), mas tambm o

    nacionalismo verde-amarelo (1926) de Cassiano Ricardo e o Grupo Anta.

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    (1927), neoindianista, de Plnio Salgado. Ao mesmo tempo, formou-se um

    grupo em torno da revista Festa (1927), reunindo os "espiritualistas , como

    Tasso da Silveira, que retomaram a tradio simbolista.

    Assim, mesmo tendo as mesmas origens no que diz respeito ao movimento

    artstico, o modernismo no chegou propriamente a se definir ideologicamente.

    No geral, persistiu a hesitao, com exceo do Grupo Anta de Plnio Salgado,

    que aderiu explicitamente ao nazi-fascismo.

    Origens da crise dos anos 20 Enquanto o modernismo trazia grandes

    transformaes no campo da arte, uma grave crise poltica eclodia no Brasil. A

    sua origem situava-se na crescente insatisfao do Exrcito e das camadas

    mdias urbanas, ao mesmo tempo em que surgiam tenses no prprio seio da

    camada dominante. Os militares que haviam se afastado da vida poltica depois

    do governo Floriano reapareceram na campanha presidencial de 1909. Nessa

    campanha, a cpula militar aliou-se oligarquia gacha.

    Embora o Exrcito tenha reaparecido no cenrio das disputas polticas em

    1910, ele o fez subordinado s poderosas oligarquias de Minas e Rio Grande

    do Sul. Apoiado por essas foras, o marechal Hermes da Fonseca foi lanado

    como candidato presidncia. Rui Barbosa, seu opositor, era apoiado por So

    Paulo e Bahia e baseou toda a sua campanha na idia "civilista" , contra a

    ascenso militar, identificando Hermes da Fonseca ao militarismo Rui Barbosa

    foi derrotado, enquanto Hermes da Fonseca, depois de eleito, lanou-se

    "poltica das salvaes", que consistia na interveno federal nos estados onde

    as oligarquias eram contra o novo presidente.

    Apesar da eleio de Hermes da Fonseca e do papel de destaque exercido por

    Pinheiro Machado, presidente do Senado e chefe da oligarquia gacha, aps o

    seu mandato a antiga poltica, que tinha Minas e So Paulo como eixo, foi

    novamente retomada.

    A crise poltica reapareceu, entretanto, em 1922, nas eleies para a sucesso

    de Epitcio Pessoa, quando Minas e So Paulo resolveram a questo

    indicando Artur Bernardes (mineiro) para a presidncia e j acertando a

    candidatura de Washington Lus (paulista) como sucessor de Bernardes.

    Contra esse arranjo poltico uniram-se os seguintes estados: Rio Grande do

    Sul, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro - nessa ordem em termos de

  • 16

    importncia eleitoral. Formava-se assim a Reao Republicana, que

    apresentou Nilo Peanha como candidato e opositor de Bernardes, o candidato

    do "caf com leite" . Novamente, o Exrcito inclinou-se para a oposio, contra

    a oligarquia dominante. As disputas acirradas criaram um clima de grande

    tenso, agravada pela publicao, no jornal Correio da Manh, de uma carta,

    falsamente atribuda a Artur Bernardes, ofensiva aos militares.

    Todavia, as eleies foram vencidas por Artur Bernardes. Finalmente, as

    frustraes longamente acumuladas eclodiram: no dia 5 de julho de 1922,

    jovens oficiais do forte de Copacabana se rebelaram, com apoio das

    guarnies do Distrito Federal, Rio de Janeiro e Mato Grosso. O objetivo era

    impedir a posse de Artur Bernardes. Embora a rebelio tenha fracassado, os

    jovens militares resolveram abandonar o forte e marchar pela praia de

    Copacabana para enfrentar as foras legalistas, numa atitude suicida. Desse

    episdio, conhecido como os 18 do Forte, sobreviveram apenas os tenentes

    Siqueira Campos e Eduardo Gomes. Iniciou-se a o longo episdio de rebelio

    a que se chamou Tenentismo.

    A presidncia de Artur Bernardes, desde o incio, conheceu a instabilidade

    poltica. No Rio Grande do Sul, estourou uma guerra civil. E a razo foi a

    seguinte: o Partido Republicano Gacho indicara pela quinta vez o nome de

    Borges de Medeiros para presidente do Estado. Como em 1922 ele se colocara

    contra a eleio de Bernardes, a oligarquia dissidente gacha, agrupada na

    Aliana Libertadora, esperava o apoio federal atravs de seu candidato, Assis

    Brasil. Entretanto, as eleies deram vitria a Borges de Medeiros. Os nimos

    ento se exaltaram, culminando a disputa poltica numa guerra civil que

    terminou com o pacto das Pedras Altas. Nele, o governo federal reconheceu

    Borges de Medeiros como presidente do estado, mas o impediu de nova

    reeleio.

    O descontentamento contra a oligarquia dominante atingiu o auge com as

    revoltas tenentistas, que tiveram dois focos principais: o Rio Grande do Sul

    (1923) e So Paulo (1924). No Rio Grande do Sul, a revolta tenentista teve o

    imediato apoio da dissidncia oligrquica da Aliana Libertadora e dirigiu-se

    para o norte: Santa Catarina e Paran. Em So Paulo, a revolta foi

    desencadeada sob a chefia do general Isidoro Dias Lopes, que, no podendo

  • 17

    suportar as presses das tropas legalistas, dirigiu-se para o sul, encontrando-

    se com as tropas gachas, lideradas por Lus Carlos Prestes e Mrio Fagundes

    Varela. A unio das duas tropas rebeldes levou organizao da "guerra de

    movimento". Os principais nomes desse movimento foram: Juarez Tvora,

    Miguel Costa, Siqueira Campos, Cordeiro de Farias e Lus Carlos Prestes. Este

    ltimo, mais tarde, desligou-se do movimento para ingressar no Partido

    Comunista do Brasil, tornando-se o seu chefe principal.

    Formou-se assim, em 1925, a clebre Coluna Prestes, que durante dois anos

    percorreu cerca de 24 000 km, obtendo vrias vitrias contra as foras

    legalistas. Inutilmente procurou sublevar as populaes do interior contra

    Bernardes e a oligarquia dominante. Com o fim do mandato de Artur

    Bernardes, em 1926, a Coluna entrou na Bolvia e, finalmente, se dissolveu.

    O programa de ao dos tenentes Nos incios de 1925, quando os rebeldes

    do sul chefiados por Lus Carlos Prestes juntaram-se em Iguau com as tropas

    paulistas de Isidoro Dias Lopes e Miguel Costa, um iderio no muito

    consistente guiara o movimento. Alm da deposio do presidente Artur

    Bernardes, os tenentes reivindicavam o voto secreto, eleies honestas,

    castigo para os polticos corruptos e liberdade para os oficiais presos em 1922.

    Acreditavam que esse programa teria apoio da populao do serto.

    O percurso da Coluna Prestes, originalmente chamada de Coluna Miguel

    Costa-Prestes, durou 25 meses, enfrentando as tropas federais e os jagunos

    dos coronis. A populao que os tenentes pensavam defender reagia ora com

    indiferena ora com hostilidade. Ideologicamente, os tenentes eram

    conservadores, no propunham mudanas significativas para a estrutura social

    brasileira. Defendiam um reformismo social ingnuo misturado com muita

    centralizao poltica e nacionalismo.

    A "herana" do tenentismo Em que pese o carter conservador do

    tenentismo, a sua influncia maior foi sobre as organizaes da esquerda

    brasileira. Como em todo o mundo, a vitoriosa Revoluo Russa de 1917 influiu

    decisivamente na constituio do Partido Comunista. Antes de seu nascimento,

    o cenrio das lutas operrias no pas era dominado pelo anarquismo, cuja

    ttica era o enfrentamento direto com os patres. Isso foi abandonado em favor

    de uma organizao comunista hierarquizada e disciplinada, num sentido muito

  • 18

    prximo aos anseios tenentistas. Mas o tenentismo influiu tambm sobre o

    conservadorismo militar, do qual o regime militar institudo em 1964 pode ser

    considerado um produto tardio.

    O mesmo movimento histrico que transformou lentamente as bases da

    Repblica Velha, e que explica o tenentismo, explica tambm o surgimento de

    um novo ator na histria do Brasil: o operariado. A princpio imperceptvel, o

    operariado cresceu como categoria social nas duas primeiras dcadas do

    sculo XX.

    O estabelecimento do trabalho livre e o incio do desenvolvimento industrial

    foram os motivos bsicos do crescimento do trabalhador urbano. O contexto

    poltico lhe era desfavorvel, pois a ordem estabelecida no reconhecia

    nenhum direito em relao ao seu trabalho. Os deputados e senadores,

    indiferentes aos problemas sociais, negaram projetos assistenciais e de

    proteo aos operrios feitos por seus representantes.

    Com o crescimento quantitativo dos trabalhadores industriais, sua conscincia

    e, consequentemente, suas reivindicaes comearam a ganhar peso. No

    processo de formao do operariado brasileiro foi significativo o papel dos

    imigrantes italianos e espanhis (chamados de artfices), responsveis pela

    difuso do anarquismo, trazendo de seus pases de origem a experincia

    sindical. Muitas publicaes operrias do comeo do sculo XX foram feitas em

    italiano e espanhol, contribuindo, entre outras coisas, para valorizar a palavra

    "operrio", que tinha no Brasil um sentido depreciativo.

    Os trabalhadores imigrantes formavam clubes, crculos, unies e associaes

    com o objetivo de conscientizar e unir os operrios. O governo, sentindo-se

    ameaado, decretou a lei Adolfo Gordo, em 1904, que previa a expulso do

    operrio estrangeiro envolvido na luta de sua classe. Apesar disso, desde o

    ano de 1891 foram realizadas greves, que, mesmo no tendo propores

    ameaadoras, foram duramente reprimidas.

    Atravs da organizao de sindicatos, os anarquistas visavam obter o controle

    do mercado de trabalho. Se todos os membros de uma dada categoria

    profissional estivessem associados a um sindicato, os patres no teriam

    alternativa seno procurar o sindicato da categoria para negociar a contratao

    de trabalhadores e tudo o que lhes dissesse respeito. Esse era o objetivo

  • 19

    perseguido pelos anarquistas.

    Mas os anarquistas eram avessos centralizao. Para eles, cada categoria

    organizada em sindicato deveria lutar no mbito das empresas para concretizar

    suas reivindicaes. Nada de generalizar a luta com a criao de rgos

    centrais e centralizadores, que imporiam a cada sindicato filiado uma rgida

    linha de conduta. Os sindicatos deveriam desfrutar completa autonomia para

    que os associados pudessem decidir livremente conforme os seus interesses.

    Nota-se que a preocupao era preservar o carter auto-organizado do

    movimento operrio.

    Os anarquistas eram tambm contra o Estado. Alis, o seu objetivo ltimo era a

    completa extino dele, abolindo toda forma de governo. Por isso, o operariado

    deveria conseguir tudo com seu prprio esforo, lutando e se organizando, sem

    interferncias estranhas ao seu meio. No campo da burguesia as coisas no

    eram melhores para o anarquismo. Em 1929 houve uma violenta crise do

    capitalismo, que comeou com a quebra da Bolsa de Nova York e propagou-se

    para o mundo inteiro. A crise de 29 caracterizou-se pela superproduo, e

    milhares de empresas, incluindo muitos bancos, faliram. Em consequncia,

    milhes de trabalhadores ficaram desempregados. A burguesia ento

    compreendeu que no existiam leis "naturais" que ajustavam automaticamente

    a economia, conforme a crena dos liberais. Essa desorganizao do

    capitalismo exigiu por toda parte a firme interveno do Estado para colocar

    novamente a economia de p.

    A Revoluo Russa de 1917 e a crise de 29 preocuparam a burguesia de todo

    o mundo. Um aps outro, os pases comearam a mudar de atitude em relao

    ao mundo do trabalho. A burguesia tomou conscincia de um fato muito

    simples: a explorao indiscriminada dos trabalhadores poderia lev-los,

    atravs de uma reao organizada, a destruir o capitalismo.

    A primeira idia foi "racionalizar" o trabalho. Mas isso no significava abolir a

    explorao do trabalhador. Queria dizer, simplesmente, explorar de maneira

    eficiente, obedecendo certos limites, evitando, por exemplo, que os

    trabalhadores fossem atirados mais negra misria e se tornassem sensveis

    aos apelos do comunismo. Para amenizar "a misria e as privaes" dos

    trabalhadores j havia sido criada, logo depois da Primeira Guerra Mundial, a

  • 20

    Organizao Internacional do Trabalho (OIT).

    Se os anarquistas, diante da nova conjuntura internacional, ficaram sem saber

    o que fazer, os comunistas se sentiram como peixes dentro d'gua. Fundado

    em 1922, o Partido Comunista do Brasil apareceu como produto imediato da

    vitoriosa Revoluo Bolchevique na Rssia. Como tal, era favorvel

    transformao da luta econmica em luta poltica, defendia a centralizao e,

    em vez da extino do Estado, tinha como meta a tomada do Estado e a

    instalao da "ditadura do proletariado" . Enfim, os comunistas defendiam tudo

    aquilo que horrorizava os anarquistas. Eles no viam problema algum em

    aceitar uma legislao trabalhista e, inclusive, em lutar para que o Estado

    adotasse uma.

    Assim, onde os anarquistas fracassaram, os comunistas tiveram xito, o que

    no significa que no tenham tido problemas. A tica comunista favoreceu a

    separao, no movimento operrio, entre dirigentes e dirigidos, e o sistema

    sindical no Brasil foi sendo transformado num sistema burocratizado, em que o

    sindicato no era mais que um escritrio dirigido com o propsito de

    estabelecer um controle sobre os operrios.

    Nesse sentido, no seria de todo errado afirmar que os comunistas prepararam

    o terreno para o controle estatal do movimento operrio na era de Vargas. O

    centralismo, a teoria da vanguarda, a hierarquia entre dirigentes e dirigidos, a

    burocratizao dos sindicatos no destoaram, na prtica, da poltica trabalhista

    inaugurada por Getlio Vargas, que resultou na subordinao dos

    trabalhadores ao Estado, mediante o atrelamento dos sindicatos ao Ministrio

    do Trabalho.

  • 21

    4 SITUAO SCIO ECONMICA

    O Modernismo teve incio em meio fortalecida economia do caf e suas

    oligarquias rurais. A poltica do caf-com-leite ditava o cenrio econmico,

    ilustrado pelo eixo So Paulo - Minas Gerais. Contudo, a industrializao

    chegava ao Brasil em conseqncia da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e

    ocasionou o processo de urbanizao e o surgimento da burguesia.

    A Primeira Guerra Mundial determinou, evidentemente, uma diminuio no

    ritmo da construo civil, to florescente na primeira dcada do sculo. Na

    retomada, os construtores se encontraram diante de uma situao social,

    econmica e tecnolgica profundamente modificada.

    A guerra acelerou por toda parte o desenvolvimento da indstria, tanto em

    sentido quantitativo quanto no sentido do progresso tecnolgico. Indiretamente,

    produziu-se em decorrncia um grande crescimento das populaes urbanas.

    A classe operria, consciente de ter contribudo e sofrido com o esforo blico

    mais do que qualquer outra classe, vem adquirindo um peso poltico decisivo;

    ademais, a revoluo bolchevique demonstrou que o proletariado pode

    conquistar e manter o poder; na arte, com seus movimentos experimentais e de

    vanguarda, ela pode realizar uma transformao radical no s da estrutura e

    da finalidade, como tambm da figura social do artista.

    A burguesia profissional, por sua vez, est se transformando em classe de

    tcnicos dirigentes. Devido transformao quantitativa e qualitativa de seus

    contedos e seu dinamismo funcional, como tambm ao crescente

    desenvolvimento da mecanizao dos servios e transportes, a estrutura da

    cidade j no responde s exigncias sociais.

    O nmero de imigrantes europeus crescia nas zonas rurais para o cultivo do

    caf e nas zonas urbanas na mo-de-obra operria.Nesta poca, So Paulo

    passava por diversas greves feitas pelos movimentos operrios de

    fundamentao anarquista.Com a Revoluo Russa, em 1917, o partido

    comunista foi fundado e as influncias do anarquismo na sociedade ficavam

    cada vez menos visveis.

    A sociedade paulistana estava bastante diversificada, formada por bares do

  • 22

    caf, comerciantes, anarquistas, comunistas, burgueses e nordestinos

    refugiados na capital.

    O Modernismo tem seu marco inicial com a realizao da Semana de Arte

    Moderna, em fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de So Paulo. O grupo de

    artistas formado por pintores, msicos e escritores pretendia trazer as

    influncias das vanguardas europias cultura brasileira. Estas correntes

    europias expunham na literatura as reflexes dos artistas sobre a realidade

    social e poltica vivida.

    Por este motivo, o movimento artstico Semana de Arte Moderna quis trazer a

    reflexo sobre a realidade brasileira scio-poltica do incio do sculo XX.

  • 23

    5 ARQUITETURA

    O Modernismo foi um movimento artstico e cultural que se iniciou na Europa e

    comeou a ter seus ideais difundidos no Brasil a partir da primeira dcada do

    sculo XX, atravs de manifestos de vanguarda, principalmente em So Paulo,

    e da Semana da Arte Moderna, realizada em 1922. O movimento deu incio a

    uma nova fase esttica na qual ocorreu a integrao de tendncias que j

    vinham surgindo, fundamentadas na valorizao da realidade nacional, e

    propondo o abandono das tradies que vinham sendo seguidas at ento,

    tanto na literatura quanto nas artes. Apesar da grande repercusso que a

    arquitetura e Arte Moderna obtiveram, vale ressaltar que o Movimento Moderno

    no se limitou a essas duas reas. Foi um movimento cultural global que

    envolvia vrios aspectos, entre eles sociais, tecnolgicos, econmicos e

    artsticos.

    O Modernismo arquitetnico surgiu na Europa devido necessidade de se

    encontrar solues para os problemas que vinham sendo gerados pelas

    mudanas sociais e econmicas que a Revoluo Industrial causou. J no

    Brasil, as primeiras obras Modernistas surgem quando apenas se iniciava o

    processo de industrializao, portanto no se habilitava a solucionar

    necessidades sociais. No entanto, segundo Lcio Costa, o Modernismo

    brasileiro justifica-se como estilo, afirmando a identidade de nossa cultura e

    representando o "esprito da poca".

    No campo da arquitetura, o Modernismo foi introduzido no Brasil atravs da

    atuao e influncia de arquitetos estrangeiros adeptos do movimento, embora

    tenham sido arquitetos brasileiros, como Oscar Niemeyer e Lcio Costa, que

    mais tarde tornaram este estilo conhecido e aceito.

    Os arquitetos Modernistas buscavam o racionalismo e funcionalismo em seus

    projetos, sendo que as obras deste estilo apresentavam como caractersticas

    comuns formas geomtricas definidas, sem ornamentos; separao entre

    estrutura e vedao; uso de pilotis a fim de liberar o espao sob o edifcio;

    panos de vidro contnuos nas fachadas ao invs de janelas tradicionais;

  • 24

    integrao da arquitetura com o entorno pelo paisagismo, e com as outras

    artes plsticas atravs do emprego de painis de azulejo decorados, murais e

    esculturas.

    5.1 INFLUNCIAS ESTRANGEIRAS

    Quando iniciou-se no Brasil a difuso dos princpios Modernos, arquitetos

    recm formados passaram a estudar obras de arquitetos estrangeiros, como os

    alemes Mies Van der Rohe e Walter Gropius, adeptos da arquitetura

    racionalista. No entanto, foi o franco-suo Le Corbusier quem mais influncia

    teve na formao do pensamento Modernista entre os arquitetos brasileiros.

    Suas idias inovadoras influenciaram diretamente o Movimento Moderno no

    Brasil, sendo fonte inspiradora para Lcio Costa, Niemeyer e outros pioneiros

    da arquitetura Moderna brasileira.

    Le Corbusier veio ao Brasil algumas vezes, inclusive para orientar a equipe de

    arquitetos que, em 1936, projetou o edifcio da nova sede do Ministrio da

    Educao e Sade no Rio de Janeiro. Em suas vindas ao Brasil realizou

    conferncias e difundiu seus ideais, reforando ainda mais sua influncia entre

    os jovens arquitetos da poca.

    5.2 PRINCIPAIS ARQUITETOS E OBRAS MODERNAS

    Assim como na Arquitetura Moderna internacional, o Brasil tambm conta com

    um nmero bastante significativo de representantes desse estilo no pas. Os

    mais influentes so:

    Gregori Warchavchik, Joo Vilanova Artigas, Affonso Eduardo Reidy, Rino Levi,

    Lina Bo Bardi, Lucio Costa, Oscar Niemeyer, entre outros.

    Gregori Warchavchik projetou e construiu para si aquela que foi considerada a

    primeira residncia moderna do pas. A Casa Modernista (Figuras 1 e 2).

  • 25

    Figura 1: Casa Modernista Fonte: http://www.museudacidade.sp.gov.br/modernista-imagens.php

    Figura 2: Fachada Casa Modernista Fonte: http://www.museudacidade.sp.gov.br/modernista-imagens.php

  • 26

    Joo Vilanova Artigas responsvel pelas primeiras manifestaes

    modernistas na arquitetura de CuritibaPR. Graduou-se engenheiro-arquiteto

    na Escola Politcnica da USP, Artigas, muito embora tenha atuado

    principalmente em So Paulo, deixou significativas obras na capital, e mesmo

    no interior paranaense. dele a antiga estao rodoviria de Londrina, hoje

    transformada em Museu de Arte.

    Como principais obras, alm de inmeras residncias, edifcios comerciais,

    residenciais, instituies e escolas, Vilanova Artigas deixou projetos

    reconhecidos nacionalmente. Como exemplos: a sede da Faculdade de

    Arquitetura da USP-SP (Figura 3), e o Estdio do Morumbi-SP (Figura 4).

    (ARTIGAS, 1981).

    Figura 3: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Fonte: http://www.uspvirtual.usp.br/unidades/FAU/FAU.html

  • 27

    Figura 4: Estdio do Morumbi SP Fonte:http://esporte.ig.com.br/futebol/2008/09/24/video_estadios_paulistas_trabalham_para_a_copa_2014_1936853.html

    Affonso Eduardo Reidy, assim como outros arquitetos, considerado um dos

    pioneiros na introduo da arquitetura moderna no pas.

    Influenciado pelas idias de Le Corbusier, faz parte da equipe de arquitetos

    que no fim da dcada de 1930 projeta o edifcio-sede do recm-criado

    Ministrio de Educao e da Sade (Figura 5). A trabalha junto de Oscar

    Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy, Carlos Leo, Jorge Moreira e Ernani

    Vasconcelos, liderados por Lcio Costa.

    O edifcio do Ministrio compe-se de um volume em altura sobre pilotis e um

    outro mais baixo e perpendicular ao primeiro. Suas fachadas foram tratadas de

    acordo com a incidncia solar, utilizando-se brise soleils e vidro. No seu

    interior a planta livre, isto , sem paredes fixas, o que permite liberdade de

    uso. Foram utilizadas divisrias de madeira que no chegam at o teto,

    possibilitando ventilao cruzada. Alguns locais receberam azulejos e murais

    do pintor Candido Portinari, artista de destaque no Movimento Moderno

    brasileiro, e os jardins receberam esculturas de Lipchitz, Bruno Giorgi e Celso

    Antonio (Figura 6).

  • 28

    Figura 5: Bloco Vertical e Horizontal do MES Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=596915

    Figura 6: Terrao de Burle Marx localizado no bloco horizontal do MES Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=596915

  • 29

    Segundo Lcio Costa,

    Este belo edifcio do Ministrio , conforme j tenho dito, um marco

    histrico e simblico. Histrico porque foi nele que se aplicou pela

    primeira vez, em escala monumental, a adequao da arquitetura

    nova tecnologia construtiva do concreto armado (...) E simblico

    porque, num pas ainda social e tecnologicamente subdesenvolvido

    foi construdo com otimismo e f no futuro, por arquitetos ainda

    moos e inexperientes, enquanto o mundo se empenhava em

    autoflagelao.

    O projeto foi orientado pelo prprio Le Corbusier que veio ao Brasil a convite do

    ento Ministro da Educao e Sade, Gustavo Capanema. O edifcio foi

    concebido de acordo com os fundamentos modernistas e tornou-se um marco

    para a arquitetura brasileira, representando a ruptura com as formas

    arquitetnicas ornamentadas com motivos historicistas e simblicos que eram

    usadas na poca.

    A repercusso que o edifcio do Ministrio obteve ps em foco o Movimento

    Moderno e representa o momento em que este movimento ganhou impulso,

    desenvolvendo-se de forma profunda.

    Como diretor do Departamento de Urbanismo da prefeitura empreende alguns

    projetos importantes, como a urbanizao do centro carioca. Tem participao

    importante no projeto do Aterro do Flamengo, junto de Burle Marx.

    Reidy responsvel por projetos imporatantes como o Conjunto Habitacional

    Pedregulho, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, entre outros.

    (MINDLIN, 1999).

    Rino Levi foi um arquiteto brasileiro, representante da chamada escola paulista

    de arquitetura moderna. Foi fundador do escritrio '"Rino Levi Arquitetos

    Associados", que funciona at hoje. Suas primeiras obras de impacto foram em

    So Paulo, que abrange o edifcio Columbus, o cinema UFA-Palace, a

    residncia Mdici, o edifcio Sarti, entre outros.

    Na produo arquitetnica de Lina Bo Bardi possvel distinguir o potencial

    que suas obras tm de fazer referencias ao universo que est ao seu redor.

    Sua arquitetura cria relaes de semelhana com elementos contidos no

    mundo natural e cultural. No entanto, essas conexes so independentes de

  • 30

    uma comparao entre elementos iguais. Ou seja, sua arquitetura no trata de

    produzir cpias fiis do meio circundante. As suas obras suscitam relaes

    inesperadas com as coisas que esto ao seu redor.

    Porm, em sua famosa obra, as propostas de Lina Bo Bardi para o MASP

    (Figura 7) eram de uma arquitetura simples, sem esnobismo cultural, optando

    desse modo por solues diretas e despidas, como por exemplo, o no

    acabamento, com o concreto saindo das formas.

    Outra obra de muita importncia em sua carreira como arquiteta a Casa de

    Vidro (Figura 8), escondida na mata, virou uma "arca do tesouro", testemunho

    de uma cultura que parece ter sumido de So Paulo.

    Figura 7: MASP SP Fonte: http://spcultural.com/node/3807

    Outra obra de muita importncia em sua carreira como arquiteta a Casa de

    Vidro (Figura 8), escondida na mata, virou uma "arca do tesouro", testemunho

    de uma cultura que parece ter sumido de So Paulo.

  • 31

    Figura 8: Casa de Vidro projetada por Lina Bo Bardi

    Fonte: http://arquiteturabrasileirav.blogspot.com/2008/11/lina-bo-bardi.html

    Conhecido mundialmente pelo projeto do Plano Piloto de Braslia, Lucio Costa

    frequentou o curso de Arquitetura da Escola Nacional de Belas Artes.Apesar de

    praticar uma arquitetura neoclssica durante seus primeiros anos (defendendo

    em certos momentos uma arquitetura neocolonial), Lucio Costa rompeu com

    essa formao historicista da escola e passou a receber influncias da obra do

    arquiteto franco-suo Le Corbusier. Iniciou parceria com o arquiteto russo

    Gregori Warchavchik, que construiu o primeiro projeto modernista no Brasil. Foi

    nomeado por alguns meses como diretor da Escola Nacional de Belas Artes,

    onde implantou um curso de Arquitetura Moderna. Entre seus alunos estava o

    jovem Oscar Niemeyer. (NOBRE, 2004).

    So inmeras as obras que Lucio Costa desenvolveu em sua carreira como

    arquiteto. A de maior importncia sem dvida o Ministrio da Educao e

    Sade no Rio de Janeiro.

    Oscar Niemeyer um arquiteto brasileiro considerado um dos nomes mais

    influentes na Arquitetura Moderna internacional. Foi pioneiro na explorao das

    possibilidades construtivas e plsticas do concreto armado. A influncia de Le

    Corbusier notvel nas primeiras obras de Niemeyer. Porm, pouco a pouco o

  • 32

    arquiteto adquire sua marca: leveza nas formas curvas criando espaos que

    transformam o programa arquitetural em ambientes inusitados.

    imenso o nmero de obras concebidas e que se destacam da Arquitetura

    Moderna por Oscar Niemeyer. Como edifcio importante desse estilo, se

    destaca a Casa do Baile em Belo Horizonte - MG, que mesmo com o concreto

    fortemente aparente apresenta liberdade em suas formas. Em 1945, Niemeyer

    constri na Lagoa RJ, a sua primeira residncia. A casa corresponde

    minuciosamente aos 5 pontos da nova arquitetura definidos por Le Corbusier. A

    utilizao de pilotis, o uso de uma rampa para a circulao interna e a escolha

    da planta livre tem origem nesses princpios. Somente a inclinao do teto (da

    cobertura) desvia-se da caixa purista que os modernistas propagaram.

    Dentre outras obras de destaque esto: o Conjunto da Pampulha (1942-1943),

    em Minas Gerais (Figuras 9 e 10), obra encomendada pelo ento prefeito de

    Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek. Dentre outras obras deste arquiteto

    destacam-se, alm dos famosos edifcios em Braslia, O Grande Hotel de Ouro

    Preto (MG, 1940) (Figura 11), com o qual inicia uma srie de obras

    governamentais em Minas Gerais, e o Parque do Ibirapuera(SP, 1951-1955).

    Figura 9: Croqui Pampulha, MG

    Fonte:http://giodas.blogspot.com/2011/05/grandes-genios-da-arquitetura-

    mundial.html

  • 33

    Figura 10: Igreja So Francisco de Assis, Complexo da Pampulha

    Fonte: http://aninteriores.blogspot.com/2011/02/pampulha.html

    Figura 11: Grande Hotel Ouro Preto, Minas Gerais

    Fonte: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/10.122/3486

    Paulo Mendes da Rocha, arquiteto formado pela Faculdade de Arquitetura e

    Urbanismo da Universidade Mackenzie em 1954 um dos principais expoentes

    de uma gerao de arquitetos paulistas, formada a partir de 1951.

    Mantendo-se fiel ao Modernismo, Paulo Mendes da Rocha apreende os

    conceitos estabelecidos por aqueles que foram seus mestres, e a partir deles

    elabora sua arquitetura, como em 1967 escrevia Flvio Motta:

    "... Dizer, por exemplo, que a arquitetura brasileira

    contempornea, adquiriu prestgio internacional, uma questo de

    prestgio que no fecha a questo. Muito pelo contrrio, tem

    desviado o entusiasmo dos jovens para problemas competitivos,

    de nivelamento formal e final, conforme padres que pouco dizem

  • 34

    da conscincia, do valor qualitativo e das possibilidades da

    arquitetura no Brasil. O prprio Niemeyer se esfora em corrigir

    essa tendncia, com seu exemplar prestgio internacional, ao

    versar os problemas de arquitetura dentro dos rigores da crtica e

    da autocrtica. Artigas, tambm, muito pela sua atividade docente

    e pela sua obra, manifesta continuado empenho na recuperao,

    preservao e projeo da integridade da arquitetura.

    Paulo Mendes da Rocha no se distanciou dos ensinamentos desses dois

    arquitetos. Na verdade, pertence a uma gerao j identificada ao Movimento

    Moderno, dentro das faculdades, entre o sistematizado e o institucionalizado,

    onde circulam as predilees e o entusiasmo por certos artistas. A proximidade

    e a simultaneidade com que procuramos situar os trabalhos de Paulo Mendes

    da Rocha, em relao aos dois arquitetos brasileiros, apenas

    para frizar que os trs esto aproximados e comprometidos mesma

    experincia histrica e social.

    Principais Obras do perodo Moderno foram o Ginsio do Clube Atltico

    Paulistano, So Paulo em 1957 (Figura 12); o Pavilho brasileiro da Feira

    Internacional de Osaka, Japo, juntamente com Flvio Motta, Jlio Katinsky e

    Ruy Ohtake, demolido em 1969; o Estdio Serra Dourada em Goinia em 1973

    (Figura 13); o Museu de Arte Contempornea da USP (com Jorge Wilheim),

    So Paulo, no construdo 1975; o Museu Brasileiro da Escultura (MUBE), So

    Paulo em 1986 (Figura 14); a Capela de So Pedro Apstolo, construo

    anexa ao Palcio Boa Vista, Campos do Jordo em 1987 e recentemente em

    2009 o Cais das Artes em Vitria /ES (em construo) (Figura 15).

    Figura 12: Ginsio do Clube Atltico Paulistano, So Paulo em 1957

    Fonte: http://archiinbrazil.wordpress.com/arquiteto-modernista/

  • 35

    Figura 13: Estdio Serra Dourada em Goinia

    Fonte: http://archiinbrazil.wordpress.com/arquiteto-modernista/

    Figura 14: Museu de Arte Contempornea da USP

    Fonte: http://archiinbrazil.wordpress.com/arquiteto-modernista/

  • 36

    Figura 15: Cais das Artes em Vitria /ES

    Fonte: http://www.ponto.org/1/artigo3.html

  • 37

    6 URBANISMO MODERNO

    O urbanismo moderno brasileiro produziu significativos exemplos. Em 1933,

    quando o Movimento Moderno apenas se iniciava, Attilio Correa de Lima

    elaborou o plano para Goinia, baseando-se nos fundamentos Modernistas.

    Foram realizados projetos urbanos como os Conjuntos Habitacionais de

    Pedregulho (1950-51) (Figura 16) e o da Gvea (1952) de Affonso Eduardo

    Reidy.No entanto, foi em Braslia que o urbanismo brasileiro atingiu seu apogeu

    e reconhecimento internacional.

    Figura 16: Conjunto Habitacional Pedregulho

    Fonte: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.062/446

    Braslia conhecida por ter sido uma cidade inteiramente planejada, com o

    propsito de ser a nova capital brasileira. Sua construo se deu no governo de

    Juscelino Kubitschek, sendo inaugurada em 1960. A escolha do projeto para a

    nova capital, apontada no mundo todo como uma realizao urbanstica

    ambiciosa, se deu atravs de um concurso do qual Lcio Costa saiu vencedor,

    e Oscar Niemeyer coube projetar os edifcios da cidade.

    O plano de Lcio Costa (Figura 17) tomou o racionalismo por base e inspirou-

    se nos princpios da Carta de Atenas - documento mximo do urbanismo

    Moderno da

  • 38

    autoria de Le Corbusier, que propunha a diviso da cidade em setores,

    segundo a funo de cada um.

    Figura 17: Plano Piloto de Braslia

    Fonte: http://giovanigabriel.blogspot.com/2011/05/plano-piloto-brasilia.html

    O plano piloto tratava-se basicamente de dois eixos perpendiculares: o Eixo

    Rodovirio-Residencial, com forma arqueada, ao longo do qual dispem-se as

    superquadras residenciais; e o Eixo Monumental, no qual esto localizados os

    centros cvico e administrativo com destaque para o conjunto dos edifcios do

    governo federal.

    Estes encontram-se no tringulo equiltero, que deu origem Praa dos Trs

    Poderes. O cruzamento do Eixo Monumental, de cota inferior, com o Eixo

    Residencial foi resolvido criando-se uma grande plataforma na qual est o

    centro de diverses da cidade.

    A construo de Braslia gerou tambm muita discusso e crtica, as quais

    questionavam desde a validade de construir-se uma cidade - capital

    inteiramente nova, chamada pejorativamente por alguns de "artificial", at as

    solues finais do projeto em si. Apesar das crticas, o fato que Braslia

    resultou em uma "obra de arte" na qual a arquitetura baseia-se em grandes

    blocos dentro de vastas reas verdes e o trfego foi resolvido suprimindo-se os

    cruzamentos e criando-se ruas destinadas a pedestres.

  • 39

    7 ARQUITETURA MODERNA NO ESPIRITO SANTOI

    A Arquitetura Moderna chega ao Esprito Santo no incio da dcada de 50 e

    sua consolidao se deu principalmente atravs da ao do governo,

    empenhado no desenvolvimento e modernizao do estado e da atuao de

    arquitetos de formao Moderna. Como no havia curso de arquitetura no

    Esprito Santo os primeiros arquitetos que vieram para Vitria eram todos

    formados em outros estados, principalmente no Rio de Janeiro, e sua formao

    Moderna foi possvel graas aos vanguardistas Modernos que atuaram de

    maneira plena, no s projetando, mas tambm escrevendo, protestando e

    lecionando.

    O desenvolvimento do Esprito Santo se d a partir do incio do sculo XX,

    atravs dos recursos gerados pela produo de caf, mas somente mais tarde

    as transformaes no espao urbano de Vitria se intensificam, principalmente

    nos governos de Muniz Freire (1892-96), Jernimo Monteiro (1908-12) e

    Florentino Avidos (1924-28).

    Na dcada de 20, quando em So Paulo j aconteciam as primeiras grandes

    manifestaes Modernistas, como a Semana de Arte de 22, em Vitria o estilo

    arquitetnico dominante era o ecletismo. Desde o governo de Jernimo

    Monteiro, quando foram realizadas vrias obras de melhoria na cidade graas

    prosperidade na produo de caf, utilizou-se estilos europeus na arquitetura,

    como o caso do Parque Moscoso (Figura 18). Nesta poca tornou-se comum

    a remodelao de fachadas coloniais para o estilo ecltico.

  • 40

    Figura 18: Parque Moscoso na dcada de 80, Vitria

    Fonte: http://parquemoscosoontemehoje.blogspot.com/

    A crise de 1929 afetou a rentabilidade da produo cafeeira, base da economia

    capixaba, levando o Estado a diversificar a economia e incentivar a

    industrializao como alternativas para o desenvolvimento do Esprito Santo.

    Em 1930, com a instaurao do autoritrio e desenvolvimentista regime poltico

    de Getlio Vargas, o Estado Novo, a busca pela modernizao torna-se quase

    uma obssesso nacional. No Esprito Santo, o interventor Joo Punaro Bley

    (1940-43) empreendeu diversas obras como hospitais, escolas, estradas e

    obras de renovao de praas e parques. A partir dos governos de Carlos

    Lindemberg (1947-50/1956-62) e Jones dos Santos Neves (1951-54) o

    crescimento econmico do estado passa a ser questo fundamental, levando-

    os a empenhar-se na realizao de vrias obras.

    No perodo de 30 a 50 a arquitetura capixaba passou a caracterizar-se por

    composies geomtricas verticalizadas, uso de recuos para propiciar

    privacidade, ocupao de alinhamentos e laterais, eliminao de ornamentos

    nas fachadas e utilizao de novas tecnologias possibilitadas pelo advento da

    industrializao. No entanto, ao mesmo tempo em que se desprendia de

    determinados padres clssicos, mesclavam-se a esta arquitetura elementos

    do ecletismo. A este estilo que caracterizou a transio da arquitetura ecltica

    para a Moderna, chamou-se proto-Modernismo, que apresentava, entre outras

    caractersticas, fachadas com varandas arredondadas embutidas ou semi-

  • 41

    embutidas - que definem as zonas noite e dia - base e corpo distinguidos e a

    concordncia das quinas do edifcio com o encontro formado pelos

    logradouros. Um exemplo o Edifcio Antenor Guimares (Figura 19),

    construdo em 1936, mesmo ano em que foi iniciado o edifcio do MES -RJ.

    Figura 19: Edificio Antenor Guimares , Praa Costa Pereira, Vitria

    Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?p=68454689

    Embora considerado marco da arquitetura Moderna brasileira, a realizao de

    obras Modernistas ousadas no Rio de Janeiro, como o Ministrio, se dava

    ainda de maneira pontual em sua poca. Isto mostra que a defasagem de

    tempo entre a ecloso da arquitetura Moderna no Esprito Santo e nos beros

    do Modernismo no Brasil no muito significativa. Considerando a dcada de

    40 como aquela que marcou de fato a aceitao e popularizao da arquitetura

    Moderna no pas, cerca de dez anos mais tarde, as dcadas de 50 e 60

    caracterizariam o perodo de maior produo de arquitetura Moderna no

    Esprito Santo.

  • 42

    7.1 A CHEGADA DOS ARQUITETOS E A PRODUO MODERNA

    Enquanto no Rio construa-se a realizao mais ousada do Modernismo

    brasileiro da poca, a nova sede do Ministrio da Educao e Sade, o Esprito

    Santo comeava a caminhar rumo nova arquitetura. No final da dcada de

    40, levado pelo esprito de modernizao que havia tomado o pas desde a

    instaurao do Estado Novo, Carlos Lindemberg convida o arquiteto lio

    Vianna para trabalhar em Vitria.

    Posteriormente, no final da dcada de 40 e incio de 50 chegam outros

    arquitetos como Dcio Thevernard, Marcello Vivcqua, Maria do Carmo

    Schwab, Dirceu Carneiro e outros, que passam a atuar no estado produzindo

    obras Modernas.

    O arquiteto Dcio Thevenard, graduado em Minas Gerais, dedi cou-se bastante

    ao campo administrativo, chegando at a ser prefeito de Vitria, em 1970. No

    se tm muitas informaes a respeito de sua produo arquitetnica. As duas

    obras mais conhecidas deste arquiteto so um edifcio no centro de Vitria e

    um conjunto de prdios na Av. Csar Hilal, o qual lembra os edifcios do

    Parque Guinle, no Rio de Janeiro, de Lcio Costa, com seus elementos

    vazados nas fachadas.

    O arquiteto carioca Marcello Vivcqua, formado no Rio de Janeiro, em 1951

    vem para Vitria incentivado por lio Vianna. Trabalhou na Secretaria de

    Viao e Obras Pblicas (SVOPES) junto com lio Vianna e Maria do Carmo

    Schwab. A primeira obra significativa de Marcello Vivcqua na cidade o

    Edifcio Ouro Verde, que expressa claramente sua inspirao nas curvas

    sensuais de Niemeyer. Destaca-se ainda entre seus projetos o primeiro plano

    para a Universidade Federal do Esprito Santo (UFES), incluindo o atual Centro

    de Artes, de 1968 e o Centro de Educao Fsica, de 1970 (Figura 20).

  • 43

    Figura 20: Centro de Artes da UFES, 1968

    Fonte: http://www.arquiteturamodernacapixaba.kit.net/introd-AMES.html

    Dentre as obras de Marcello Vivcqua nota-se uma variao de estilo em

    determinados perodos, que parece refletir de certa forma os acontecimentos

    do momento no campo da arquitetura. Vivcqua voltou fazer arquitetura

    colonial quando esta ressurgiu como moda no Brasil, diferenciando assim sua

    produo da de arquitetos como lio Vianna e Maria do Carmo Schwab, que

    mantiveram-se sempre fiis arquitetura Moderna.

    O capixaba Dirceu carneiro chega Vitria na dcada de 50. Formado no Rio

    de Janeiro em 1956, destacam-se entre suas obras o prdio do DER -

    Departamento de Estradas e Rodagens, no qual prevalece a simplicidade na

    modulao do edifcio, e o Restaurante Universitrio da UFES, que j se

    encontra parcialmente descaracterizado aps reformas.

    Um dos arquitetos de maior destaque na arquitetura capixaba, lio Vianna

    realizou diversas obras expressivas durante o governo de Jones dos Santos

    Neves. Entre elas esto: a sede da Legio Brasileira de Assistncia (LBA-ES),

    o Edifcio lvares Cabral (Figura 21) e o Jardim de Infncia Maria Queiroz

    Lindemebrg, de 1952, a Escola Irm Maria Horta e o Colgio Estadual, de

    1954.

  • 44

    Figura 21: Edificio Alvares Cabral (esq.), Vitoria

    Fonte:http://www.arquiteturamodernacapixaba.kit.net/introd-

    AMES.html

  • 45

    Realizou vrios projetos de escolas, como a Escola de 1 Grau Liberato Sete

    em Caratora e a Escola de Engenharia Politcnica, alm das j citadas. O

    interesse de lio Vianna pela questo educacional levou-o a desenvolver teses

    sobre o assunto.

    Em suas obras freqentemente esto presentes elementos como brises

    verticais, venezianas e elementos vazados como o cobog.

    Outro nome de peso na arquitetura do estado o de Maria do Carmo Schwab.

    Esta capixaba retornou Vitria no ano seguinte sua graduao em1953.

    Acompanhou a evoluo da arquitetura Moderna e de arquitetos como Lcio

    Costa e Affonso Eduardo Reidy, vindo a trabalhar com este ltimo como

    estagiria. Suas principais obras so na maioria casas e edifcios comerciais.

    Maria do Carmo participou de vrios concursos, entre eles o do Clube Libans

    do Esprito Santo (Figura 22), de 1958, no qual tirou primeiro lugar, vindo a

    realizar uma de suas obras mais importantes.

    Figura 22: Fachada Frontal original do Clube Libans

    Fonte: http://www.arquiteturamodernacapixaba.kit.net/introd-AMES.html

    Durante o perodo em que trabalhou na SVOPES realizou com lio Vianna e

    Marcello Vivcqua diversos projetos de escolas, igrejas, prefeituras, jardins de

    infncia e mercados. Em 1963 atuou na direo do Departamento de

    Planejamento e Obras da Universidade Federal do Esprito Santo e em 1966

    passa a trabalhar como arquiteta da UFES. nesta poca que projeta o

    escritrio de campo, apelidado por ela mesma de Catetinho. Realizou ainda

    para a UFES diversos projetos que no foram executados.

    Maria do Carmo Schwab e lio Vianna so os arquitetos que mais se

    destacaram no Esprito Santo, no s pela quantidade de obras realizadas mas

    tambm pela qualidade das mesmas.

  • 46

    O fato de terem atuado em cargos pblicos resultou em uma maior liberdade

    no sentido das limitaes econmicas, principalmente para lio Vianna, que

    realizou diversos projetos no governo de Jones dos Santos Neves, grande

    incentivador do desenvolvimento do estado e da arquitetura Moderna.

    Tais obras expressam a fidelidade dos arquitetos para com a arquitetura

    Moderna, utilizando seu repertrio atravs do emprego de brises verticais,

    venezianas, pilotis, estrutura independente, cobogs e elementos vazados, que

    adaptam-se especificidade de cada obra na busca de qualidade.

    neste sentido que se torna evidente a convico de lio Vianna e Maria do

    Carmo Schwab acerca da arquitetura Moderna, chegando mesmo, segundo a

    prpria Maria do Carmo, a optar, em determinados momentos, por abrir mo de

    certos trabalhos a ter que fazer uma arquitetura na qual no acreditava.

    Como podemos perceber, a arquitetura Moderna foi introduzida em Vitria a

    partir destes arquitetos de formao acadmica Moderna, que passaram a

    atuar na cidade, juntamente com o incentivo do governo. Assim, o que se deu

    estava longe de ser um movimento Moderno, tal como ocorreu nos grandes

    centros atravs da atuao das vanguarda. Nem era possvel haver um

    movimento, pois no havia um grupo de profissionais de arquitetura no estado

    at a chegada daqueles arquitetos.

    Como um eco do Movimento Moderno chegou uma arquitetura Moderna, que

    na maioria das vezes no expressava plenamente os ideais daquele

    movimento. Trata-se de um moderno com caractersticas diludas, pois foi

    posta em prtica por arquitetos que vieram trabalhar em Vitria procurando

    aplicar em suas obras os princpios Modernos adquiridos em sua formao.

    Mas ao mesmo tempo em que tentavam utilizar o repertrio Moderno, tinham

    que conciliar suas idias com certas limitaes econmicas e culturais

    Tudo isto, somado s posturas pessoais dos profissionais, resultaram em uma

    arquitetura que adapta-se s nossas possibilidades, traduzindo-se em formas

    que s vezes no apresentam caractersticas Modernas to explcitas., sem no

    entanto comprometer a qualidade da arquitetura Moderna capixaba. Trata-se

    de obras de qualidade que apresentam traos nicos, cujas causas esto

    ligadas diretamente histria do estado, alm de constiturem a base para se

    refletir sobre a nossa arquitetura atual.

  • 47

    Por fim, importante alertar que, atualmente, diversas obras da arquitetura

    Moderna capixaba encontram-se muito descaracterizadas, como o caso da

    residncia Acio Peixoto Bumachar (Avenida Desembargador Santos Neves),

    atual Banco Santos Neves - abandonadas ou foram demolidas, como ocorreu

    com a residncia Otaclio Jos Coser na Praia da Costa (Figura 23), e com a

    residncia Flamnio Sarlo Maia (Avenida Rio Branco), pondo em risco o acervo

    de obras Modernas do Esprito Santo.

    Figura 23: Residncia Otaclia Jos Coser, Vila Velha

    Fonte: http://www.arquiteturamodernacapixaba.kit.net/introd-AMES.html

  • 48

    8 TIPOLOGIA DOMINANTE

    O movimento modernista representou uma inovao nos padres estticos e

    nas formas expressivas na pintura, literatura, escultura, poesia, arquitetura, etc.

    Essa revoluo experimental caracterstica do incio do Modernismo

    Brasileiro e propunha uma mudana radical em relao a essas diversas reas.

    A produo propriamente dita, seguindo a ideologia dessa experimentao,

    buscava efetivamente a polmica, a modernidade e a originalidade, fazendo

    com que a pintura e as obras literrias se inspirassem nas tcnicas

    vanguardistas europias, como o dadasmo, o futurismo, o expressionismo e o

    surrealismo, misturados a temas regionalistas brasileiros. Os participantes da

    Semana de Arte de 1922 provocaram muita polmica na poca e sua influncia

    atravessaria todo o sculo XX.

    Dentre outros nomes, destacaram-se na arte modernista brasileira as pintoras

    Tarsila do Amaral (Figura 24) e Anita Malfatti (Figura 25), cujas obras

    evidenciam a influncia europia, porm com uma forte relao aos temas

    nacionais.

  • 49

    Figura 24: Antropofagia obra de Tarsila do Amaral. Fonte: http://artefontedeconhecimento.blogspot.com

    Figura 25: Paisagem de Santo Amaro - obra de Anita Malfatti. Fonte: http://peregrinacultural.wordpress.com

    Em relao arquitetura, o movimento modernista tinha a inteno de renovar

    definitivamente o panorama arquitetnico nacional, visando uma paisagem

    urbana mais homognea. Os arquitetos procuravam a racionalidade e a

  • 50

    funcionalidade em seus projetos, desenvolvendo obras com formas

    geomtricas definidas, sem detalhes rebuscados, utilizao de pilotis liberando

    o espao sob as construes e uso de panos de vidro contnuos nas fachadas

    ao invs das tradicionais janelas de dimenses reduzidas. Havia uma

    preocupao em integrar a arquitetura com o entorno atravs de projetos

    paisagsticos. Tambm as artes plsticas eram utilizadas para complementar

    as obras arquitetnicas atravs do emprego de painis de azulejos decorados,

    esculturas e murais.

    Braslia considerada a principal concentrao de elementos da arquitetura

    moderna brasileira que enfatizam esse movimento, pois l se encontram vrios

    exemplares construtivos caractersticos do Modernismo como o Palcio da

    Alvorada e o Congresso Nacional, entre muitos outros.

    O modernismo trouxe avanos radicais esttica e tcnica de construo,

    onde predominam linhas geomtricas simples e puras, mas muitas vezes

    ousadas, e o concreto armado, o ao e o vidro assumem papel de destaque.

    Os principais elementos da esttica Corbusiana se resumem da seguinte

    forma:

    Planta livre: elaborao de uma estrutura independente que permita a livre

    distribuio das paredes, j sem exercerem funo estrutural.

    Fachada livre: resulta igualmente da independncia da estrutura. Assim, a

    fachada pode ser projetada sem impedimentos.

    Pilotis: sistema de pilares que elevam o prdio do cho, permitindo o trnsito

    por debaixo do mesmo.

    Terrao-jardim: recupera a rea ocupada pelo edifcio transferindo-o para

    cima do prdio na forma de um jardim.

    Janelas em fita: possibilitadas pela fachada livre, permitem uma relao

    desimpedida com a paisagem.

  • 51

    Outros arquitetos brasileiros tambm seguiram os princpios de Le Corbusier,

    deixando uma contribuio significativa no cenrio nacional. Dentre eles esto

    Henrique Mindlin, Carmen Portinho, Francisco Bolonha, Srgio Bernardes,

    Olavo Redig de Campos e Marcos Konder Netto (Rio); Flvio de Carvalho,

    lvaro Vital Brazil, Rino Levi, Oswaldo Bratke, Paulo Mendes da Rocha e

    Vilanova Artigas (So Paulo); Lus Nunes, Burle Marx e Delfim Amorim

    (Recife); Digenes Rebouas e Jos Bina Fonyat (Salvador).

  • 52

    9 A ESTTICA DO PERODO MODERNO NO BRASIL

    Sobrepondo-se ao otimismo anarquista da primeira fase do Modernismo, a pr-

    conscincia do subdesenvolvimento introduz um elemento de tenso entre o

    projeto esttico e o projeto ideolgico da literatura brasileira dos anos 30. Se

    algumas das realizaes mais felizes do perodo surgem sob o influxo da

    "politixao", por outro lado esta acaba desviando o conjunto da produo

    literria da linha de intensa experimentao que vinha seguindo.

    O estudo da histria literria coloca-nos sempre diante de dois problemas

    fundamentais, quando se trata de desvendar o alcance e os exatos limites

    circunscritos por qualquer movimento de renovao esttica: primeiro,

    preciso verificar em que medida os meios tradicionais de expresso so

    afetados pelo poder transformador da nova linguagem proposta, isto , at que

    ponto essa linguagem realmente nova; em seguida, e como necessria

    complementao, preciso determinar quais as relaes que o movimento

    mantm com os outros aspectos da vida cultural, de que maneira a renovao

    dos meios expressivos se insere no contexto mais amplo de sua poca. Para

    retomar a distino apresentada pelos "formalistas russos" diramos que se

    trata, na histria literria, de situar o movimento inovador: em primeiro lugar

    dentro da srie literria, a seguir na sua relao com as outras sries da

    totalidade social. Decorre da que qualquer nova proposio esttica dever ser

    encarada em suas duas faces (complementares e, alis, intimamente

    conjugadas; no obstante, s vezes relacionadas em forte tenso); enquanto

    projeto esttico, diretamente ligadas s modificaes operadas na linguagem, e

    enquanto projeto ideolgico, diretamente atada ao pensamento (viso-de-

    mundo) de sua poca.

    Essa distino til porque operatria; no podemos entretanto correr o risco

    de torn-la mecnica e fcil: na verdade o projeto esttico, que a crtica da

    velha linguagem pela confrontao com uma nova linguagem, j contm em si

    o seu projeto ideolgico. O ataque s maneiras de dizer se identifica ao ataque

    s maneiras de ver (ser, conhecer) de uma poca; se na (e pela) linguagem

    que os homens externam sua viso-de-mundo (justificando, explicitando,

  • 53

    desvelando, simbolizando ou encobrindo suas relaes reais com a natureza e

    a sociedade), investir contra o falar de um tempo ser investir contra o ser

    desse tempo. Entretanto, consideremos o poder que tem uma ideologia de se

    disfarar em formas mltiplas de linguagem; revestindo-se de meios

    expressivos diversos dos anteriores, pode passar por novo e crtico o que

    permanece velho e apenas diferente. Pensemos, por exemplo, em certo

    aspecto exaltador do futurismo marinettiano que, pretendendo-se expresso da

    moderna vida industrial, representava de fato o prolongamento anacrnico de

    conscincia burguesa otimista e "progressista" do sculo XIX; ou lembremos

    ainda a retrica popularesca e demaggica de contra-revolues como o

    fascismo e o nazismo, com seu apelo mobilizao das massas, instaurando

    na simblica partidria a fraude ideolgica. por outro lado, tambm verdade

    que Marinetti e o fascismo - para continuar com nosso exemplo - em muitos

    dos seus aspectos representam inovaes radicais na literatura e na retrica

    poltica e nesse sentido devem ser vistos como rupturas parciais com o

    passado; nesse caos, apesar da postura ideolgica reacionria de base, a

    linguagem contm elementos pertencentes modernidade.

    9.1 MODERNISMO PROJETO ESTTICO E IDEOLGICO

    Assim, possvel concluir que, a despeito de sua artificialidade, a distino

    esttico/ideolgico, desde que encarada de forma dialtica, importante como

    instrumento de anlise. O exame de um movimento artstico dever buscar a

    complementaridade desses dois aspectos, mas dever tambm descobrir os

    pontos de atrito e tenso existentes entre eles. Sob esse prisma, podemos

    examinar o Modernismo brasileiro em uma das linhas de sua evoluo,

    distinguindo o seu projeto ideolgico (renovao dos meios, ruptura da

    linguagem tradicional) do seu projeto ideolgico (conscincia do pas, desejo e

    busca de uma expresso artstica nacional, carter de classe de suas atitudes

    e produes).

    A experimentao esttica revolucionria, e caracteriza fortemente os

    primeiros anos do movimento: propondo uma radical mudana na concepo

  • 54

    da obra de arte, vista no mais como mimese (no sentido em que o naturalismo

    marcou de forma exarcebada esse termo) ou representao direta da natureza,

    mas como um objeto de qualidade diversa e de relativa autonomia, subverteu

    assim os princpios da expresso literria. Por outro lado, inserindo-se dentro

    de um processo de conhecimento e interpretao da realidade nacional -

    caracterstica de nossa literatura - no ficou apenas no desmascaramento da

    esttica passadista, mas procurou abalar toda uma viso do pas que subjazia

    produo cultural anterior sua atividade.

    Tal coincidncia entre o esttico e o ideolgico se deve em parte prpria

    natureza da potica modernista. O Modernismo brasileiro foi tomar, das

    vanguardas europias, sua concepo de arte e as bases de sua linguagem: a

    deformao do natural como fator construtivo, o popular e o grotesco como

    contrapeso ao falso refinamento academista, a cotidianidade como recusa

    idealizao do real, o fluxo da conscincia como processo desmascarador da

    linguagem tradicional. Ora, para realizar tais princpios os vanguardistas

    europeus foram buscar inspirao, em grande parte, nos procedimentos

    tcnicos da arte primitiva, aliando-se tradio artstica de que provinham e,

    por essa via, transformando-a; mas no Brasil - j o notou um crtico - as artes

    negra e amerndia estavam to presentes quanto a cultura branca, de

    procedncia europia. O senso do fantstico, a deformao do sobrenatural, o

    canto do cotidiano ou a espontaneidade da inspirao eram elementos que

    circundavam as formas acadmicas de produo artstica.

    Dirigindo-se a eles e dando-lhes lugar na nova esttica. o Modernismo, de um

    s passo, rompia com a ideologia que segregava o popular - distorcendo assim

    nossa realidade - e instalava uma linguagem conforme a modernidade do

    sculo.

    Outro fator que permite essa convergncia a transformao scio-econmica

    que ocorre ento no pas. O surto industrial dos anos de guerra, a imigrao e

    o conseqente processo de urbanizao por que passamos nessa poca,

    comeam a configurar um Brasil novo. A atividade de industrializao j

    permite comparar uma cidade como So Paulo, no seu cosmopolitismo, aos

    grandes centros europeus. Esse dado decisivo j que a literatura moderna

    est em relao com a sociedade industrial tanto na temtica quanto nos

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    procedimentos (a simultaneidade, a rapidez, as tcnicas de montagem, a

    economia e a racionalizao da sntese).

    9.2 DA FASE HERICA AOS ANOS 30

    Para situar corretamente o Modernismo preciso pensar na sua correlao

    com outras sries da vida social brasileira, em especial na sua correlao com

    o desenvolvimento da economia capitalista em nosso pas. A parece estar o

    fulcro da questo: atentando para a efervescncia poltica dos anos 20 o

    observador poder inferir que o Brasil atravessa uma fase de transformaes

    profundas, tenentes a configurar um quadro econmico-estrutural mais

    complexo que o sistema agrrio-exportador herdado do Imprio. As

    modificaes no sistema de produo datam, naturalmente, de muito antes da

    dcada de 20: vm de antes da Abolio, com o emprego do trabalho

    assalariado, e passam pelos sucessivos surtos de industrializao, pela poltica

    do Encilhamento, pelas vrias levas imigratrias, pelas inmeras agitaes

    operrias do comeo do sculo, tudo caminhando em direo a uma

    complexidade crescente, tanto da nossa vida econmica, quanto da nossa vida

    cultural. Apesar de no afastar do poder as oligarquias rurais, a burguesia

    (comercial, financeira, industrial; sozinha ou aliada aos interesses capitalistas

    imperialistas) se encontra em franco processo de ascenso; cresce tambm

    classe mdia, forma-se nas cidades um proletariado que sabe, s vezes,

    demonstrar sua agressividade. Nos trs primeiros decnios do sculo XX os

    velhos quadros econmicos, polticos e culturais do sculo XIX so lentamente

    modificados e acabam por estourar na Revoluo de 30.

    H durante esses anos, no obstante, a resistncia das superestruturas:

    permanece a poltica dos governadores, a servio das oligarquias; permanece

    em suas linhas bsicas a poltica financeira protecionista do caf,

    gerandoatritos com a burguesia industrial; permanecem ainda, em alto grau de

    diluio, o naturalismo e o simbolismo do sculo anterior.

    Por enquanto importa assinalar essa diferena: enquanto nos anos 20 o projeto

    ideolgico do Movimento correspondia necessidade de atualizao das

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    estruturas, proposta por fraes das classes dominantes, nos anos 30 esse

    projeto transborda os quadros da burguesia, principalmente em direo s

    concepes esquerdizantes (denncia dos males sociais, descrio do operrio

    e do campons), mas tambm no rumo das posies conservadoras e de

    direita (literatura espiritualista, essencialista, metafsica e ainda definies

    polticas tradicionalistas, como a de Gilberto Freyre, ou francamente

    reacionrias, como o integralismo).

    9.3 VANGUARDA E DILUIO

    Com efeito, a opinio unnime dos estudiosos do Modernismo que o

    movimento atingiu, durante o decnio de 30, sua fase urea de maturidade e

    equilbrio, superando os modismos e os cacoetes dos anos 20, abandonando o

    que era contingncia ou necessidade do perodo de combate esttico. Tendo

    completado de maneira vitoriosa a luta contra o passadismo, os escritores

    modernistas e a nova gerao que surgia tinham campo aberto sua frente, e

    podiam criar obras mais livres, mais regulares e seguras. Sob esse ngulo de

    viso, a incorporao crtica e problematizada da realidade social brasileira

    representa um enriquecimento adicional e completa - pela ampliao dos

    horizontes de nossa literatura - a revoluo na linguagem.

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    10 CONCLUSO

    O Modernismo se desenvolveu em consequncia de uma busca pela libertao

    esttica ocasionada por um sentimento de rejeio s tendncias do sculo

    XIX, fazendo com que os principais focos da fase inicial desse movimento

    fossem a experimentao constante e a busca de novos rumos na produo

    artstica, literria e arquitetnica. Os modernistas almejavam provocar uma

    transformao na cultura brasileira, tendo como referncia a ideologia da

    vanguarda europia, que j havia desenvolvido novas formas de comunicao

    em diversas reas.

    A arquitetura buscava desenvolver projetos preocupados com o racionalismo e

    funcionalismo fazendo com que as obras deste estilo apresentassem linhas

    retas, formas geomtricas simples, limpas e definidas. O urbanismo moderno

    brasileiro foi responsvel pela produo de significativos exemplos de projetos

    urbanos internacionalmente reconhecidos. Braslia famosa por ter sido uma