Trabalho infantil? - Parte 1

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Fernando Poffo [email protected] D eterminado a seguir a carreira de joga- dor, Pedro Cezar, de 14 anos, postou nas redes sociais na semana passa- da o registro na Federação Pau- lista de Futebol, pela qual está inscrito pelo Nacional Atlético Clube. O jovem meia treina 2 horas por dia e até optou por estudar em uma escola pública para se dedicar mais ao espor- te, apesar de ainda não receber nada do clube, nem almoço. Pedro Cezar está feliz com a estrutura oferecida pelo clube, os exames clínicos aos quais se submete regular- mente e o fato de saber que seu boletim escolar é acom- panhado. Outros garotos nessa faixa etária e que tam- bém sonham em jogar fute- bol, no entanto, nem sempre têm a mesma sorte. Prestes a sediar pela segun- da vez uma Copa do Mundo, o Justiça intervém na formação de atletas ATRÁS DA BOLA: Sonho de se tornar profissional enfrenta muitos obstáculos FOTOS: DIEGO VIÑAS Ministério Público do Trabalho exige que aspirante a jogador de futebol tenha direitos respeitados chamado País do Futebol ainda falha na hora de formar profis- sionais na modalidade. Após re- ceber denúncias sobre trabalho infantil envolvendo o esporte, o Ministério Público do Trabalho resolveu ir a campo. “Notificamos todos os clu- bes de formação profissional do Brasil e, após o prazo de 90 dias da notificação, iremos averiguar se estão cumprindo as recomen- dações”, declarou o procura- dor do Trabalho Rafael Dias Marques, coordenador nacio- nal de Combate à Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescente (Coordinfância). Entre os pedidos feitos aos clubes estão a necessidade de acompanhamento de corpo médico nas atividades, orien- tação nutricional, alojamentos dignos, visitas dos pais para jogadores de outra cidade ou Estado e adequação às normas da Lei Pelé e do Estatuto da Criança e do Adolescente, que proíbe qualquer trabalho antes dos 14 anos. A cobrança é voltada aos clubes de formação profissional e não a projetos pedagógicos ou educacionais. “É para esporte de rendimento, para clubes que querem formar um Neymar, um Ronaldinho, mas que não podem pensar só no lado finan- ceiro e focar só em garimpar jogador, atropelando os outros direitos que esses adolescentes têm”, reforçou o procurador. De acordo com Marques, o Ministério Público do Trabalho recebeu várias denúncias antes de decidir agir. “Teve o caso de sul-coreano sem qualquer supervisão e vivendo em aloja- mento sem estrutura. No Vasco faltou médico, por exemplo. É preciso evitar o que ocorreu ano passado, quando um garoto de 14 anos morreu durante um treinamento no Vasco.” O caso citado pelo procu- rador é de Wendel Junior Ve- nâncio da Silva, que morreu durante um teste da equipe Sub-15 do clube carioca, no dia 9 de fevereiro de 2012, de- pois de apresentar um proble- ma cardíaco. O jovem chegou morto ao hospital. Apesar da falta de médicos e de ambulân- cia no Centro de Treinamentos de Itaguaí, o Vasco alegou que recebeu atestado médico para o menino jogar, o que é nega- DENÚNCIAS SOBRE EXPLORAÇÃO DE ADOLESCENTES LEVARAM MINISTÉRIO DO TRABALHO A AGIR MAIS SEGURANÇA: Após notificação, clubes terão 90 dias para cumprir as recomendações 18 e sporte DOMINGO, 24 DE MARÇO DE 2013 -

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Fernando Poff o

[email protected]

Determinado a seguir a carreira de joga-dor, Pedro Cezar, de 14 anos, postou nas

redes sociais na semana passa-da o registro na Federação Pau-lista de Futebol, pela qual está inscrito pelo Nacional Atlético Clube. O jovem meia treina 2 horas por dia e até optou por estudar em uma escola pública para se dedicar mais ao espor-te, apesar de ainda não receber nada do clube, nem almoço.

Pedro Cezar está feliz com a estrutura oferecida pelo clube, os exames clínicos aos quais se submete regular-mente e o fato de saber que seu boletim escolar é acom-panhado. Outros garotos nessa faixa etária e que tam-bém sonham em jogar fute-bol, no entanto, nem sempre têm a mesma sorte.

Prestes a sediar pela segun-da vez uma Copa do Mundo, o

Justiça intervém naformação de atletas

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Ministério Público do Trabalho exige que aspirante a jogador de futebol tenha direitos respeitados

chamado País do Futebol ainda falha na hora de formar profi s-sionais na modalidade. Após re-ceber denúncias sobre trabalho infantil envolvendo o esporte, o Ministério Público do Trabalho resolveu ir a campo.

“Notifi camos todos os clu-bes de formação profi ssional do Brasil e, após o prazo de 90 dias da notifi cação, iremos averiguar se estão cumprindo as recomen-dações”, declarou o procura-dor do Trabalho Rafael Dias Marques, coordenador nacio-nal de Combate à Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescente (Coordinfância).

Entre os pedidos feitos aos clubes estão a necessidade de acompanhamento de corpo médico nas atividades, orien-tação nutricional, alojamentos dignos, visitas dos pais para jogadores de outra cidade ou Estado e adequação às normas da Lei Pelé e do Estatuto da Criança e do Adolescente, que proíbe qualquer trabalho antes dos 14 anos.

A cobrança é voltada aos clubes de formação profi ssional e não a projetos pedagógicos ou educacionais. “É para esporte de rendimento, para clubes que querem formar um Neymar, um Ronaldinho, mas que não podem pensar só no lado fi nan-

ceiro e focar só em garimpar jogador, atropelando os outros direitos que esses adolescentes têm”, reforçou o procurador.

De acordo com Marques, o Ministério Público do Trabalho recebeu várias denúncias antes de decidir agir. “Teve o caso de sul-coreano sem qualquer supervisão e vivendo em aloja-

mento sem estrutura. No Vasco faltou médico, por exemplo. É preciso evitar o que ocorreu ano passado, quando um garoto de 14 anos morreu durante um treinamento no Vasco.”

O caso citado pelo procu-rador é de Wendel Junior Ve-nâncio da Silva, que morreu durante um teste da equipe

Sub-15 do clube carioca, no dia 9 de fevereiro de 2012, de-pois de apresentar um proble-ma cardíaco. O jovem chegou morto ao hospital. Apesar da falta de médicos e de ambulân-cia no Centro de Treinamentos de Itaguaí, o Vasco alegou que recebeu atestado médico para o menino jogar, o que é nega-

DENÚNCIAS SOBRE

EXPLORAÇÃO DE

ADOLESCENTES

LEVARAM

MINISTÉRIO DO

TRABALHO A AGIR

MAIS SEGURANÇA: Após notifi cação, clubes terão 90 dias para cumprir as recomendações

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esporteDOMINGO, 24 DE MARÇO DE 2013 -