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Mestrado Integrado em Medicina Veterinária Ano letivo 2012/13 Esteatose Hepática 23/05/2013 MVT 1498 - Patologia Geral Docentes: Sandra Branco; Sofia Arroube; Elsa Duarte; Eduarda Potes Trabalho elaborado por: António Domingues nº28945 Bruno Costa nº29358

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Mestrado Integrado em Medicina Veterinária

Ano letivo 2012/13

Esteatose Hepática23/05/2013

MVT 1498 - Patologia Geral

Docentes: Sandra Branco; Sofia Arroube; Elsa Duarte; Eduarda Potes

Trabalho elaborado por:

António Domingues nº28945 Bruno Costa nº29358 Joana Tavares, nº26934 Jorge Oliveira, nº25411 Pedro Castro nº29558

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Esteatose hepática

Indíce

Introdução …………………………………………………………………………………. Pág.2

Etiologia …………………………………………………………………………………… Pág.3

Aspecto macroscópico …………………………………………………………………….. Pág.4

Aspecto microscópico …………………………………………………………………….. Pág.6

Diagnóstico ………………………………………………………………………………… Pág.8

Bibliografia ………………………………………………………………………………… Pág.10

1António Domingues; Joana Tavares; Jorge Oliveira; Bruno Costa; Pedro Castro

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Esteatose hepática

Introdução

O fígado é uma das glândulas anexas que constituem o organismo animal. Desempenha

funções de glândula exócrina segregando bilis e de glândula endócrina libertando vários produtos

para a corrente sanguínea, como glicose, proteínas plasmáticas e lipoproteínas (Gonçalves, 2010).

O fígado é envolvido externamente por uma cápsula de tecido conjuntivo denso, onde se

podem observar algumas fibras elásticas, a cápsula de Glisson. O parênquima hepático é

constituído pelos hepatócitos. Em cortes histológicos estas células são poliédricas, com um ou

dois núcleos, com nucléolo evidente e citoplasma acidófilo, que se dispõem em cordões que

rodeiam a veia centrolobular. O conjunto dos hepatócitos em redor da veia centrolobular constitui

a base anatómica do lóbulo hepático. (Gonçalves, 2010).

A patologia que será abordada neste trabalho será a Esteatose / Degenerescência gorda do

fígado. Esta patologia consiste na acumulação excessiva de triglicéridos nas células, neste caso

nos hepatócitos, no entanto também pode existir esteatose ao nível do rim, do coração e do

músculo. (Pires et al,2004)

Pretendemos com este trabalho descrever esta patologia, bem como a sua etiologia, lesões

macroscópicas, lesões microscópicas e o seu diagnóstico.

2António Domingues; Joana Tavares; Jorge Oliveira; Bruno Costa; Pedro Castro

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Esteatose hepática

Etiologia

A esteatose não é uma doença específica e ocorre normalmente como sequela de uma

variedade de perturbações do metabolismo normal. Os diferentes mecanismos potenciais que

podem estar envolvidos no acúmulo excessivo de triglicéridos no fígado incluem os seguintes:

(Silva e Gonçalves, 2008)

Aumento da esterificação dos ácidos gordos a triglicéridos;

Redução da síntese de apoproteínas, diminuindo a produção de lipoproteínas pelo

hepatócito e consequentemente menor exportação de lípidos;

Diminuição da secreção de lipoproteínas pelo fígado;

Função anormal do hepatócito, ocorrendo diminuição da oxidação dos ácidos gordos e

consequentemente acumulação excessiva;

Aumento da mobilização e da disponibilidade de ácidos gordos na circulação e

consequentemente maior formação de triglicéridos;

Ingestão de excesso de alimentos ricos em gordura resultando num aumento da síntese de

ácidos gordos, com a formação acentuada de triglicéridos nos hepatócitos. (Silva e

Gonçalves, 2008)

É fisiológico verificarmos esteatose particularmente em ruminantes no pico da lactação ou

no final da gestação. Nos neonatos é comum verificar-se infiltrações de gordura, sobretudo

naqueles quem que o leite materno é rico em gordura. (Jubb et al, 1991)

Casos de esteatose evidenciam-se em:

Situações de jejum;

Animais com diabetes mellitus, verifica-se lipólise do tecido adiposo ficando à disposição

na circulação uma grande quantidade de ácidos gordos que irã sobrecarregar o fígado;

Situações de hipóxia/anóxia podem condicionar a síntese e o transporte de lipoproteínas

que estão dependentes do metabolismo oxidativo, conduzindo à acumulação de

triglicéridos. As causas mais frequentes de hipoxia hepatocelular são anemia e perfusão

sinusoidal reduzida em situações de congestão venosa passiva;

3António Domingues; Joana Tavares; Jorge Oliveira; Bruno Costa; Pedro Castro

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Esteatose hepática Casos de intoxicação, existem várias toxinas que podem afectar selectivamente uma

determinada fase do ciclo do metabolismo hepático dos lípidos;

Deficiências nutricionais, como por exemplo a deficiência em colina. (Jubb et al, 1991)

Aspeto macroscópico

O aspecto macroscópico dos órgãos afectados está intimamente associado à quantidade de

lípidos acumulados nas células. Se a quantidade acumulada dos mesmos nas células for reduzida,

não se observam notórias alterações macroscópicas (Pires et al, 2004).

De um modo geral, a acumulação excessiva de triglicéridos resulta no aumento do volume

do órgão, ficando este com bordos arredondados, aspecto mais pálido, evidenciando coloração

amarelada, brilhante, friável e untuoso ao tacto. Alguns casos mais extremos, verifica-se que

fragmentos desses órgãos podem flutuar no fixador, sendo usual observarem-se gotículas do

gordura nos líquidos de fixação (Pires et all, 2004).

É frequente o fígado apresentar-se hipertrofiado, isto é, aumentado no seu volume,

aspecto pálido/ amarelado, peso específico menor, bordos arredondados, friável e untuoso

(Figuras 1 , 2, 3) (Duarte, 2013). Ao corte a superfície é uniforme, gordurosa, e sem o padrão

acinar a não ser que haja congestão ou necrose localizada, neste caso a superfície encontra-se

ligeiramente mosqueada de vermelho e amarelo. (Jubb et al, 1991)

4António Domingues; Joana Tavares; Jorge Oliveira; Bruno Costa; Pedro Castro

Figura 1: Esteatose hepática – canídeo

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Esteatose hepática

5António Domingues; Joana Tavares; Jorge Oliveira; Bruno Costa; Pedro Castro

Figura 4: Esteatose hepática no fígado ao centro

Figuras 2 e 3: Esteatose hepática – galináceo

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Esteatose hepática

Aspeto microscópico

A nível microscópico, a esteatose hepática é caracterizada por uma acumulação de triglicéridos no citoplasma dos hepatócitos formando vacúolos bem delimitados de dimensão variada (coloração branca pela Hematoxilina e Eosina). Podemos observar dois tipos de esteatose: (Duarte, 2013)

Microvacuolar – A célula mantém a sua dimensão normal, vacúolos pequenos e múltiplos, o núcleo mantém-se na sua posição normal, não ocorrendo aumento do órgão.

Macrovacuolar – A célula possui vacúolos grandes e únicos preenchendo por completo o citoplasma, empurrando o núcleo para a periferia. (Pires et al, 2004)

Dentro do lóbulo, a esteatose pode adquirir várias localizações, periférica, central ou difusa, contudo é mais frequente adquirir uma localização centrolobular. (Duarte, 2013)

6António Domingues; Joana Tavares; Jorge Oliveira; Bruno Costa; Pedro Castro

Figura 6- Corte histológico de fígado de cão. Observação de vacúolos que correspondem a acumulações de lípidos no citoplasma dos hepatócitos. Coloração: Hematoxilina & Eosina. Ampliação: 100x.

Figura 5- Corte histológico de fígado (saudável). Coloração: Hematoxilina & Eosina. Ampliação: 40x.

Legenda:

Sp- Septos ou trabéculas

Vc- Veia centro-lobular

Ep- Espaço porta

Nota: lóbulo hepático contornado a preto

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Esteatose hepática

No que diz respeito às colorações utilizadas, com a técnica de rotina, Hematoxilina & Eosina, esta não permite afirmar se os vacúolos em questão contêm triglicéridos no seu interior ou não, dado que são arrastados pelos solventes de inclusão. Contudo existem colorações que permitem a observação de triglicéridos celulares, exigindo apenas que o tecido tenha sido congelado, como por exemplo Tetróxido de ósmio, Sulfato azul do nilo, Técnica de Sudan negro (triglicéridos corados a negro) ou vermelho. (Pires et al, 2004)

7António Domingues; Joana Tavares; Jorge Oliveira; Bruno Costa; Pedro Castro

Figura 7- Lâmina 10/08-H4- Fígado de cão. Coloração: Hematoxilina & Eosina. Ampliação: 40x. Presença de vacúolos no citoplasma (seta preta), em certos casos empurrando o núcleo para a periferia (seta vermelha).

Figura 8- Exemplo de coloração de Sudan negro, Fígado R. Canadum, núcleos rosa pálido, triglicéridos a preto. Ampliação: 10 µm

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Esteatose hepática

Diagnóstico

Os sinais clínicos mais comuns da lipidose são a perda de peso acentuada devido à

anorexia, vómitos, letargia e diarreia, mucosas ictéricas amarelas, ptialismo e hepatomegália.

O diagnóstica presuntivo faz-se através da história clínica do paciente com base nas suas

manifestações clínicas e no seu exame físico, testes laboratoriais clínicos (hemograma,

leucograma, glicemia, dosagem de ferro, ácido fólico, vitamina B12, exame de urina), biópsia e

imagiologia (hepatomegália) de que são exemplos a ecografia abdominal , tac ou ressonância

nuclear magnética (fígado hiperecogénico (radopacidade aumentada) em relação a gordura

falciforme, hepatomegália e colestase).

Alterações laboratoriais incluem anemia não regenerativa, leucograma de stress,

hiperbilirrubinémia e bilirrubinémia, aumento de AST, ALT e ácidos biliares séricos. Os valores

de GGT estão geralmente normais. Ocasionalmente, hipoalbuminémia, déficits de coagulação e

hiperamonémia podem ocorrer. (Silva e Gonçalves, 2008)

O sintomas variam de acordo com o grau de esteatose, sendo que muitos pacientes são

assintomáticos. O sinal mais típico é um fígado aumentado e doloroso, a que se dá o nome de

hepatomegália. O paciente pode apresentar também um desconforto à palpação no lado ventral

direito do abdómen, icterícia (coloração amarelada da pele e mucosas), febre, ascite, náuseas,

vómitos e falta de apetite.

A ecografia tende a confirmar os casos de esteatose hepática, revelando hepatomegalia ,

hiperecogenicidade generalizada, podendo também diferenciar-se de uma pancreatite ou anomalia

no trato biliar. (Newell 2004)

O exame citológico é suficiente para detectar casos de esteatose hepática idiopática, onde

não há evidências de inflamação ou necrose. (Ettimger: Feldman, 2004) A punção aspirativa com

agulha fina (PAAF) no fígado deverá ser feita após a administração de vitamina K1. Neste

método de PAAF é essencial que os hepatócitos sejam identificados pois é aspirado uma pequena

quantidade de gordura subcutânea que não pode ser confundida com a que está ligada aos

hepatócitos, para então diagnosticar a esteatose hepática. (CENTER, 2005)

8António Domingues; Joana Tavares; Jorge Oliveira; Bruno Costa; Pedro Castro

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Esteatose hepáticaPara a confirmação do diagnóstico de esteatose hepático definitivo e concreto pode se

recorrer a realização de uma biópsia. A biópsia pode ser feita por celiotomia exploratória em que

para além de se obter uma amostra representativa, consegue-se observar o fígado e pâncreas

adjacentes. Um método menos invasivo é a laparoscopia, que permite a recolha de material,

suficiente para realização do exames histopatológicos e a obtenção de diagnóstico definitivo.

(Dimski, 1997)

Devemos fazer o diagnóstico diferencial de colitíase, obstrução do ducto biliar extra

hepático e neoplasia, pancreatite, gastroenteropatias inflamatórias, intoxicações e hipertiroidismo,

e em casos mais raros, anomalias vasculares portossistémicas congénitas. (Tilley; Smith, 2004)

9António Domingues; Joana Tavares; Jorge Oliveira; Bruno Costa; Pedro Castro

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Esteatose hepática

Bibliografia:

- PIRES, Mª dos Anjos, TRAVASSOS, Fernanda, GARTNER, Fátima – Atlas de Patologia Veterinária, 2004, Lisboa, Lidel

- GONÇALVES, Carlos, BAIROS, Vasco- HISTOLOGIA texto e imagens, 2010, Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra

- SILVA, Leonardo Belli GONÇALVES, Paulo (2008). Degeneração gordurosa (lipidose hepática). Revista Científica Eletrônica De Medicina Veterinária

- JUBB, K. V. F.; KENNEDY, Peter C.; PALMER , Nigel (1991). Pathology of domestic animals. 4º Edição. Vol.2. Academic Press. San Diego, California.

-Atlas de Anatomia Patológica da FMV. Disponível em: http://www.fmv.utl.pt/atlas/ (acedido a 18/05/2013)

-DUARTE, E.; Apontamentos de apoio da unidades curricular de Patologia Geral.

-http://patologiando.blogspot.pt/2010/10/esteatose-bem.html (18/05/2013)

-(Duarte, 2013) www.moodle.uevora.pt/1213/mod/resorce/view.php?id=28693 (acedido a 17/05/2013)

- Figura da capa - http://honest-food.net/wp-content/uploads/2010/11/Wild-foie-gras.jpg (acedido a 22/05/2013)

-Figura 1,2,3,4 - Atlas de Anatomia Patológica FMV-UTL

-Figura 5- histologiaufgd.blogspot.pt/2010/05gd11-figado-em-revisão-panorâmica-40x.html (17/05/2013)

-Figura 6- www.fmv.utl.pt/atlas/fígado/paginas-pt/figado_003.htm (acedido 20/05/2013)

-Figura 7- Lâmina 10/08-H4, laboratório de patologia H.V.U.E., fígado de cão, foto tirada 16/05/2013

-Figura 8- https://www.was.org/wasmeetings/_images/MeetingAbstract/AQ2013_0915_02.gif (acedido a 22/05/2013)

- NEWELL,S.M. et al: Correlations between ultrasonographic findings and specific hepatic diseases in cats: 72 cases (1985-1997). JAVMA, v213, p.94, 1998.

- TILLEY, L.P.; JR SMITH, F.W.K. Consulta veterrinária em 5 minutos: espécie canina e felina. 2.ed. São Paulo:MANOLE, 2007. p.772-73.

- ETTINGER, S.J.; FELDMAN, E.C. Medicina Interna Veterinária : Doenças do cão e do gato. v.2. ed.5. Rio de Janeiro: GUANABARA KOOGAN, 2004. p. 1402-05

-DIMSKI, D.S. Feline hepatic lipidosis. Seminars in Veterinary Medicine and Surgery(Small Animal). v.12, n.1, p.28-33,fev., 1997.

- CENTER, S.A. Feline hepatic lipidosis. Veterinary Clinics of North América: Small Animal Pratice.v.35, n.1, p.225-229, 2005.

10António Domingues; Joana Tavares; Jorge Oliveira; Bruno Costa; Pedro Castro

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Esteatose hepática

- Volpato JR, L.e; Sturion, D..; Cachoni, A.C – Hepatic Lipidose In Canines anad Felines - Literature Revision, (disponível em: http://fio.edu.br/cic/anais/2011_x_cic/PDF/Medicinaveterinaria/LIPIDOSE%20HEPATICA%20EM%20CANINOS.pdf)

11António Domingues; Joana Tavares; Jorge Oliveira; Bruno Costa; Pedro Castro