Trabalho de Literatura

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Universidade Federal do Pará Professor: Thiago de Melo Barbosa Disciplina: Literatura Brasileira Aluno: Henrique B. Lobato (13119000701) Belém, 30 de junho de 2014 Literatura Brasileira não tradicional Antes de pensarmos se existe uma identidade literário brasileira é necessário refletir sobre o que é tipicamente brasileiro, se fizermos tal reflexão veremos que esse conceito é mutável com o desenvolvimento da história deste país. De maneira que, a identidade do que é, hoje, tido como tipicamente brasileiro é resultado da junção de inúmeras culturas que ainda hoje estão se agregando e somando os elementos culturais que geralmente são vistos como cultura de um povo brasileiro, tais como comidas típicas, danças, vertentes religiosas e vertentes sincrónicas de religiões que nasceram da junção de outras aqui, além da cultura oral e dos pontos de fala característicos de cada estado, que foi fortemente influenciado pelo povo que migrou para esta região. Embora, também possamos pensar a identidade do povo brasileiro também a partir do momento em que se delimitou um horizonte e se chamou essa terra de Brasil, se pensarmos por esta vertente então iremos desconsiderar toda uma cultura anterior ao “descobrimento” desta nossa província. Mas certos autores como Carlos Nejar iniciam suas narrativas a partir da carta de Pero Vaz de Caminha, considerando esta carta como a primeira produção escrita no Brasil, ou seja, a primeira produção escrita neste pedaço de terra antes mesmo dele receber tal nome, então se pode chamar a primeira produção tida como brasileira de indiana uma vez que Pedro Alvares Cabral supunha ter chegado nas índias? Creio que não, então não vejo considerações a ponderar para

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Universidade Federal do ParProfessor: Thiago de Melo BarbosaDisciplina: Literatura BrasileiraAluno: Henrique B. Lobato (13119000701)Belm, 30 de junho de 2014

Literatura Brasileira no tradicional Antes de pensarmos se existe uma identidade literrio brasileira necessrio refletir sobre o que tipicamente brasileiro, se fizermos tal reflexo veremos que esse conceito mutvel com o desenvolvimento da histria deste pas. De maneira que, a identidade do que , hoje, tido como tipicamente brasileiro resultado da juno de inmeras culturas que ainda hoje esto se agregando e somando os elementos culturais que geralmente so vistos como cultura de um povo brasileiro, tais como comidas tpicas, danas, vertentes religiosas e vertentes sincrnicas de religies que nasceram da juno de outras aqui, alm da cultura oral e dos pontos de fala caractersticos de cada estado, que foi fortemente influenciado pelo povo que migrou para esta regio. Embora, tambm possamos pensar a identidade do povo brasileiro tambm a partir do momento em que se delimitou um horizonte e se chamou essa terra de Brasil, se pensarmos por esta vertente ento iremos desconsiderar toda uma cultura anterior ao descobrimento desta nossa provncia. Mas certos autores como Carlos Nejar iniciam suas narrativas a partir da carta de Pero Vaz de Caminha, considerando esta carta como a primeira produo escrita no Brasil, ou seja, a primeira produo escrita neste pedao de terra antes mesmo dele receber tal nome, ento se pode chamar a primeira produo tida como brasileira de indiana uma vez que Pedro Alvares Cabral supunha ter chegado nas ndias? Creio que no, ento no vejo consideraes a ponderar para chamar esta carta de marco de inicio da literatura nacional. Porm, para demonstrar o pensamento desta vertente faz-se necessrio explicar o que a levou a entender esta carta como a primeira produo literria. O primeiro aspecto da carta de Pero Vaz de Caminha o ato de nomear. Possumos as coisas quando as designamos. Carlos Nejar transporta conceitos da filosofia para sua analise literria, para a filosofia algo s se torna real quando ela faz parte do nosso mundo pessoal e a partir de ento recebe um nome, mesmo que seja coisa, neste momento o significante passa a ter um significado existencial, ou seja, posso passar todos os dias pela mesma cadeira e no notar a dita cadeira at que um dia sem querer esbarro nesta cadeira e percebo a existncia dela e s ento dou-lhe o nome de cadeira maldita pois esbarrei nela, no caso de Cabral foi algo um pouco maior que uma cadeira e pelo ponto de vista aparente em Carlos Nejar a literatura brasileira torna-se brasileira quando atribui-se um nome a ela. O segundo aspecto o de que o trao caracterstico coletivo a imaginao. Caminha seduz o leitor de hoje, como o fez com o leitor de ento, o rei de Portugal: Dando-lhe um poder de deciso que, ao final, dele. (E nesta maneira, senhor, dou aqui a Vossa Alteza do que nesta vossa terra vi). Neste ponto Carlos Nejar evoca a fala de Graa Aranha, escritor da academia brasileira de letras referindo-se a imaginao com que Pero Vaz de Caminha v o povo que encontrou ao entrar no Brasil. O terceiro aspecto a forma com que Caminha tenta forjar o sagrado com a viso do Paraso. E o sagrado o que nem o texto consegue perpetuar, por ser eternamente inventvel. E quanto mais se fala do Sagrado, mais o perdemos. Diz Mircea Eliade em Aspects du mithe: O mito no nele mesmo uma garantia de bondade, nem de moral, sua funo revelar modelos e fornecer uma significao ao mundo e existncia humana. E ao lermos a Carta, sentimos a mitificao do Brasil no tempo, como se no ato de criar labareda, fosse clareada a grandeza da terra dentro de si e tambm a grandeza da terra para todos. Neste momento Carlos Nejar mostra outro aspecto da literatura dentro da carta de Pero Vaz relatando o mito dentro da linguagem da carta, mostra tambm aspectos picos quando se refere a descrio com que a carta foi produzida sem perceber porm que tanto o aspecto mtico quando o aspecto pico j habitam o seio desta terra onde aportou o barco de Cabral, nas narrativas orais e na cultura do povo que aqui foi encontrado e que no momento da chegada possivelmente narrou a chegada de divindades ou demnios segundo sua prpria cultura, que no entendia o que os estranhos falavam, mas via neles o outro do qual se refere Sigmund Freud ao falar do mundo do inconsciente e dos sonhos. Em suma, a literatura inerente ao homem porque o homem sonha e quando sonha narra e aumenta a sua narrao nos espaos em branco que os autores chamam de pivor narrativo, cada um aumenta a mitologia que j existe e que no tornou-se real a partir da carta que entrega o territrio para um rei. O quarto aspecto o da construo de um texto impossvel. Aqui Nejar retoma um pouco a ideia do mtico e cita Barthes de que a modernidade comea com a busca de uma literatura impossvel e relatando como Pero Vaz ficou fascinado com a inocncia do povo e a partir da possibilidade do desconhecido pode atribuir ao povo como sendo moradores do paraso e remanescentes do jardim do den bblico e assim carregando de literatura a carta de Pero Vaz de Caminha. O quinto aspecto o de que estamos diante do embrio do que veio depois na literatura brasileira, profeticamente. No instante em que foi escrita a Carta, Caminha tornou-se o primeiro a vislumbrar as pegadas mgicas do territrio, seja pela pario da linguagem, seja pelo sonho dela consigo prpria, imperceptivelmente, com a presena visvel ou invisvel de tantos autores, at contemporneos. Neste momento fica claro o ponto de vista de Carlos Nejar em considerar a literatura brasileira como tendo iniciado com a carta de Pero Vaz de Caminha, e posteriormente vem a descrever a carta como tendo respeito pelos selvagens o que segundo ele remete as literaturas indianistas como O guarani e I-Juca-Pirama esquecendo-se de considerar toda uma cultura literria que j existe antes mesmo da chagada dos portugueses e que a partir dai comeou a misturar-se com outras culturas, remetendo novamente ao ideal de que a cultura brasileira tradicionalmente no tradicional e sim formada com o sincretismo de vrios mitos, religies e costumes o que resultou em terra frtil para a fermentao da oralidade e da literatura oral que cada peregrino desde Pero Vaz de Caminha, at os bandeirantes e a independncia do Pas. H tambm alguns autores que consideram a literatura como tipicamente brasileira somente aps a independncia do Brasil usando como argumento que antes disto a literatura era eventualmente feita por portugueses e com os moldes estticos portugueses