Trabalho de língua portuguesa

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Trabalho de Língua Portuguesa EE Prof. João Cruz Jacareí,22 de setembro de 2013 Ronaldo Corrêa de Mesquita Filho N°:33 1°EMB

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Trabalho sobre os 10 livros.

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Trabalho de Língua Portuguesa

EE Prof. João CruzJacareí,22 de setembro de 2013Ronaldo Corrêa de Mesquita FilhoN°:33 1°EMB

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1- Aluísio Azevedo - O cortiço

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O livro é considerado seu melhor romance. Foi escrito pouco antes de o autor decidir abandonar a literatura e dedicar-se exclusivamente à atividade diplomática. A obra, mais do que contar a história dos personagens, trata da ambição e exploração do homem pelo homem, por meio da rivalidade entre o ganancioso comerciante João Romão e o próspero comendador Miranda. Enquanto João Romão aspira à riqueza, Miranda, já rico, ambiciona a fidalguia. Entre os dois está a gentalha. E o próprio cortiço.

No fundo, esse espaço coletivo, fundado por João Romão a fim de ganhar dinheiro com os aluguéis das casinhas de baixo custo, é o personagem principal da história. E o autor tinha plena consciência desse fato, como demonstra esta passagem: "Eram cinco horas da manhã, e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas [...] as pedra do chão, esbranquiçadas no lugar da lavagem e em alguns pontos azuladas pelo anil, mostravam uma palidez grisalha." A pouca distância do cortiço, o comendador Miranda mora com a mulher e filha num sobrado. A proximidade do pobre condomínio incomoda o comendador, que por sua vez incomoda João Romão.

Resenha da Obra:

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O Cortiço se insere na linha do romance naturalista, importado da Europa e que fazia sucesso na época. Em busca da objetividade da ciência, o ficcionista deveria tratar seus personagens como se sob a lente do microscópio. Sujeitos ao destino cego das "leis naturais" e do determinismo biológico, eles acabam muitas vezes transformando-se em meros tipos ou... defuntos! É o maior divulgador da corrente Naturalista, o francês Émile Zola, quem diz, a respeito de seu romance Thérèse Raquin: "Fiz simplesmente em dois corpos vivos o trabalho analítico que os cirurgiões fazem em cadáveres". Ao privilegiar o espaço coletivo do cortiço, Aluísio sem querer consegue fugir ao reducionismo psicológico da escola (um dos seus pontos mais fracos) e criar um romance de grande interesse, não só social, mas artístico.

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O Cortiço é um romance de autoria do escritor brasileiro Aluísio Azevedo publicado em 1890.

É um marco do naturalismo no Brasil, onde os personagens principais são os moradores de um cortiço no Rio de Janeiro, precursor das favelas, onde moram os excluídos, os humildes, todos aqueles que não se misturavam com a burguesia, e todos eles possuindo os seus problemas e vícios, decorrentes do meio em que vivem.

O autor descreve a sociedade brasileira da época, formada pelos portugueses, os burgueses, os negros e os mulatos, pessoas querendo mais e mais dinheiro e poder, pensando em si só, ao mesmo tempo em que presenciam a miséria, ou mesmo a simplicidade de outros.

Essa obra de Aluísio Azevedo tem dois elementos importantes: primeiro, o extensivo uso de zoomorfismo;

Embalado pela onda científica, Aluísio escreve 'O Cortiço' sob as bases do determinismo (o meio, o lugar, e o momento influenciam o ser humano) e do darwinismo, com a teoria do evolucionismo. Sob aspectos naturalistas, isto é, sob olhar científico, a narração se desenvolve em meio a insalubridade do cortiço, propício à promiscuidade, característica do naturalismo. Ao contrário do que se desenvolvia no romantismo, Aluísio descreve o coletivo, explicitando a animalização, que é o uso excessivo do zoomorfismo, caracterizando o ser humano como animal, movido pelo instinto e o desejo sexual, onde inaugura uma classe nunca antes representada: o proletário, evidenciando a desigualdade social vivenciada pelo Brasil, juntamente com a ambição do capitalismo selvagem.

Foi a primeira obra brasileira a expor um relacionamento lésbico

Sobre o Livro:

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O livro além de transformar o homem em um animal (em um processo conhecido por zoomorfismo), personifica o cortiço, que vai nascer (tendo, simbolicamente, como pai João Romão), crescer, espalhar-se (reproduzir-se) e morrer. Os personagens vão ser tratados como uma consequência do protagonista, não são causa, são efeito do cortiço, que vai determinar seu comportamento.

Todo personagem que conviver com pessoas consideradas de baixo nível, irão desvirtuar-se, como Pombinha, por exemplo. Era loura, íntegra, moça de boa família. Foi rica até ser órfã de pai, que se suicidou ao falir, deixando-a pobre com sua mãe. Foi descrita como a flor do cortiço. Mas Pombinha convive em um lugar com pessoas humildes, que irão desvirtuá-la. Pombinha conhece Léonie, uma prostituta que irá se relacionar a ela, surgindo o lesbianismo.

Jerônimo era um rapaz trabalhador, honesto, vivia para a mulher, que também vivia para ele, ambos tinham se mudado de Portugal em busca de melhores condições no Brasil. Amavam-se profundamente. Jerônimo vai trabalhar numa pedreira e se hospeda com sua mulher, Piedade, no cortiço. Lá ele conhece Rita Baiana, por quem se apaixona, deixando mulher e filha desamparadas. Piedade se torna alcoólatra, e a filha torna-se a nova "Pombinha" do cortiço.

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Biografia do Autor:

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Caricaturista, jornalista, diplomata e romancista, Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo era filho de vice-cônsul português. Nasceu em São Luís do Maranhão em 1857 e faleceu em Buenos Aires, em 1913. Durante a mocidade, estudou e trabalhou, como caixeiro e guarda-livros, em sua cidade natal, período em que já revelava interesse por desenho e pintura, cujas técnicas empregaria na caracterização dos personagens de seus romances. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1876, juntando-se ao irmão mais velho, o comediógrafo Arthur de Azevedo (1855-1908).

Com a morte do pai, em 1878, Aluísio Azevedo voltou a São Luís e começou a carreira de escritor, com a publicação do romance romântico Uma Lágrima de Mulher (1879). Abolicionista, anticlerical e crítico da sociedade maranhense, ajudou a fundar o jornal O Pensador. Em 1881, lançou o romance O Mulato, que foi mal recebido na sociedade local por tratar com linguagem franca do preconceito racial. Em contrapartida, causou alvoroço na corte, o que fez com que Aluísio voltasse ao Rio, decidido a ganhar a vida como escritor. Foi nos folhetins dos jornais da época que passou a publicar seus romances, como Casa de Pensão (1884) e este O Cortiço (1890).

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2– Álvares de Azevedo – Noite na Taverna

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Publicado após a morte de Álvares de Azevedo (1831-1852), a coletânea de histórias curtas Noite na Taverna (1855) é a obra do Romantismo brasileiro que mais se aproxima dos preceitos byronianos: erotismo e morte em constante diálogo. Bastante próxima do gênero dramático (teatral), a narrativa se inicia em uma taverna obscura, em que viajantes - Solfieri, Bertram, Gennaro, Claudius Hermann, Johann - contam suas aventuras enquanto bebem, numa atmosfera sombria de lascívia e boemia. Tempo e espaço são difusos, embora as descrições e os nomes dos personagens pareçam remeter a um país estrangeiro. Ao todo, são seis os relatos, todos pautados pelas fantasias que o jovem autor alimentava em sua escola ultrarromântica. Nestes contos predominam cenas de incesto, necrofilia, fratricídio, canibalismo e traição. Há também nesta obra ao menos uma grande referência que a singulariza no panorama do Romantismo brasileiro: a filiação com a literatura fantástica - o que a aproximaria da melhor tradição do americano Edgar Allan Poe (1809-1849).

Em Noite na Taverna, a psicologia tempestuosa de Álvares de Azevedo contrapõe-se ao divagador e idealista do sublime que prepondera em Lira dos Vinte Anos, sobretudo na primeira e terceira partes. A noite é simbólica - como em outras obras do poeta - e reflete a melancolia interior dos personagens. É o ambiente ideal para que os temores e os desejos de cada um dominem a atmosfera, numa identificação de mundo interno com externo, do ser com a natureza, comum ao Romantismo. Surgem, assim, as imagens de violência ou de inspiração satânica e os delírios invariavelmente relacionados à morte: "No aperto daquele abraço havia contudo alguma coisa de horrível. O leito de lájea onde eu passara uma hora de embriaguez me resfriava. Pude a custo soltar-me daquele aperto do peito dela... Nesse instante ela acordou... Nunca ouviste falar de catalepsia? É um pesadelo horrível aquele que gira ao acordado que emparedam num sepulcro; sonho gelado em que sentem-se os membros tolhidos, e as faces banhadas de lágrimas alheias, sem poder revelar a vida!" (Solfieri). O tom lírico que o autor emprega à narrativa mantém o livro identificado com o Romantismo.

Resenha da Obra:

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Para parte da crítica, esta é uma obra difusa, que se constrói por acontecimentos que brotam uns dos outros, por meio de associações e pretextos, sem uma ligação interna. Trata-se de um estilo comum aos românticos, que preferem se deter nas particularidades e aprofundá-las, em vez de buscar a síntese em direção ao abstrato, como faziam os escritores do Classicismo. A realidade, assim, se dá por meio da multiplicação de fatos, o que afasta a necessidade de seleção e organização por parte do autor.

Contudo, é possível que a falta de coerência entre as partes do livro se deva ao fato de Álvares de Azevedo ter morrido antes de terminá-lo. Situação semelhante parece acometer Macário (1855), obra fragmentada em que predomina o mesmo ar lúgubre de Noite na Taverna.

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Noite na Taverna é uma obra de Álvares de Azevedo publicada postumamente no ano de 1855 em uma coletânea de textos do autor em dois volumes. De tons trágicos e cheia de fantasia, a obra é uma autêntica representante da escola byroniana do Romantismo no Brasil.O livro está dividido em sete capítulos. O primeiro capítulo faz uma introdução, traça o cenário (uma taverna) e apresenta os personagens. O último finaliza a história anterior e o livro simultaneamente, dando um caráter de realidade às histórias narradas pelas cinco personagens. O diálogo inicial entre Satã e Macário, que é o final de outro livro de Álvares de Azevedo, Macário, demonstra que o que se vai ler é algo cheio de vícios. Além disso, uma característica da obra é a visão idealizada do amor, pois só o amor seria capaz de corrigir todos os males.Reunidos em uma taverna, as personagens, descrentes com a vida e o amor, cheios de vícios e amantes do vinho, definem-se como libertinos, admiram Don Juan e contam "histórias sanguinolentas" envolvendo o amor e crimes do passado, todas com fim trágico. Representação de que o amor e a vida não valeria.O livro é composto por três básicas características:Amor: histórias macabrasMorte: crime e violência. Em todos os capítulos há o tema da morte por amor.Bebida: ao se lembrarem das dolorosas lembranças, as personagens vão se embriagando; com isso parte de sua dor é suavizada.Citação: "É preferível morrer por amor que viver sem ele."

Sobre o Livro:

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Biografia do Autor:

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Filho de Inácio Manuel Álvares de Azevedo e Maria Luísa Mota Azevedo, passou a infância no Rio de Janeiro, onde iniciou seus estudos. Voltou a São Paulo, em 1847, para estudar na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, onde, desde logo, ganhou fama por brilhantes e precoces produções literárias. Destacou-se pela facilidade de aprender línguas e pelo espírito jovial e sentimental.4

Durante o curso de Direito traduziu o quinto ato de Otelo, de Shakespeare; traduziu Parisina, de Lord Byron; fundou a revista da Sociedade Ensaio Filosófico Paulistano (1849); fez parte da Sociedade Epicureia; e iniciou o poema épico O Conde Lopo, do qual só restaram fragmentos.

Não concluiu o curso, pois foi acometido de uma tuberculose pulmonar nas férias de 1851-52, a qual foi agravada por um tumor na fossa ilíaca, ocasionado por uma queda de cavalo, falecendo aos 21 anos. A sua obra compreende: Poesias diversas, Poema do Frade, o drama Macário, o romance O Livro de Fra Gondicário, Noite na Taverna, Cartas, vários Ensaios (Literatura e civilização em Portugal, Lucano, George Sand, Jacques Rolla) e Lira dos vinte anos

Suas principais influências são: Lord Byron, Goethe, François-René de Chateaubriand, mas principalmente Alfred de Musset.

Figura na antologia do cancioneiro nacional. Foi muito lido até as duas primeiras décadas do século XX, com constantes reedições de sua poesia e antologias. As últimas encenações de seu drama Macário foram em 1994 e 2001. É patrono da cadeira 2 da Academia Brasileira de Letras.

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Lira dos Vinte Anos (inicialmente planejada para ser publicada num projeto — As Três Liras — em conjunto com Aureliano Lessa e Bernardo Guimarães).6 é o título da principal obra do autor. Segundo alguns pesquisadores, o nome da coleção de poesias se dava ao fato de ter existido uma garota — a qual, até hoje, ninguém sabe a identidade, muito bem escondida pelo Dr. Jaci Monteiro — que tocava esse instrumento.

É evidente a explicitação de Álvares de Azevedo na postura consciente do fazer poético, afinal em seus prefácios há um alto grau de conhecimento quanto à proposta ultrarromântica, a qual exibe um certo metarromantismo marcada pelo senso crítico.

É o primeiro a incorporar o cotidiano na poesia no Brasil, com o poemas Ideias íntimas, da segunda parte da Lira. O autor de Lira dos Vinte Anos estabelece valores e critérios a sua obra. Revela-se, assim, uma verdadeira teorização programada da obra, transformando-se numa verdadeira teoria do conhecimento dos textos poéticos apresentados.

No segundo prefácio de Lira dos Vinte Anos, o seu autor nos revela a sua intencionalidade e o vincula de tal maneira ao texto poético, que a gratuidade e autonomia perde espaço e revela a intencionalidade do poeta, isto é, explicação de temas, motivos e outros elementos.

Um aspecto característico de sua obra e que tem estimulado mais discussão diz respeito à sua poética, que ele mesmo definiu como uma "binomia", que consiste em aproximar extremos, numa atitude tipicamente romântica. É importante salientar o prefácio à segunda parte da Lira dos Vinte Anos, um dos pontos críticos de sua obra e na qual define toda a sua poética.

Machado de Assis publicou no jornal “Semana Literária”, em 26 de junho de 1866 uma análise de Lira dos vinte anos.

Atualmente tem suscitado alguns estudos acadêmicos, dos quais sublinham-se "O Belo e o Disforme", de Cilaine Alves Cunha (EDUSP, 2000), e "Entusiasmo indianista e ironia byroniana" (Tese de Doutorado, USP, 2000); "O poeta leitor. Um estudo das epígrafes hugoanas em Álvares de Azevedo", de Maria C. R. Alves (Dissertação de Mestrado, USP, 1999); "Álvares de Azevedo: A busca de uma literatura consciente", de Gilmar Tenorio Santini (Dissertação de Mestrado, UNESP, 2007).

O crítico literário Alexei Bueno faz uma interessante observação sobre a "característica quase esquizoide da alma de Álvares de Azevedo", a dissociação entre sua obra "onde não faltam bebedeiras e orgias altamente byronianas" e sua vida pacata de "excelente e responsabilíssimo aluno, de enorme afeição familiar e provavelmente bastante casto".

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3– Antônio de Alcântara Machado – Brás, Bexiga e Barra Funda

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Em 1927, as bases paulistanas do Modernismo brasileiro testemunharam o surgimento de uma das primeiras grandes obras de sua escola: o livro de contos Brás, Bexiga e Barra Funda, de Antônio de Alcântara Machado. O escritor retratava as transformações que o imigrante italiano trazia para a cidade de São Paulo. E incorporava ao texto a fala e até mesmo a dinâmica da vida cada vez mais urbanizada da cidade. Em 11 pequenas histórias, contos que beiram a crônica ou mesmo a notícia de jornal, aspectos pitorescos e casos do cotidiano reproduzem uma nova realidade social. Para ser mais exato, reportam, uma vez que o primeiro texto, Artigo de Fundo, apresenta galhardamente o livro como um jornal, "como membro da livre imprensa que (...) tenta fixar tão-somente alguns aspectos da vida trabalhadeira, íntima e quotidiana desses novos mestiços nacionais e nacionalistas".

Alcântara Machado reúne nesse livro-jornal o que ele próprio chama de "episódios de rua": a história do menino que sonhava sair na frente de um cortejo fúnebre (Gaetaninho); uma moça estrábica que não é cortejada por ninguém (Carmela); o patriotismo de um soldado que esbofeteia outro por não ser brasileiro (Tiro de Guerra no 35); um homem cuja confissão de homicídio (por amor) vira refrão de música (Amor e Sangue); a recusa de um pai em deixar a filha se casar com um italiano (A Sociedade); o desejo de uma menina por um urso de pelúcia (Lisetta); amores e desapontamentos em uma partida de futebol (Corinthians [2] vs. Palestra [1]); o futuro de Gennarinho, que passa a ser criado por uma família portuguesa e a se chamar Januário (Notas Biográficas do Novo Deputado); o luto de uma mãe e os fragmentos de um enterro (O Monstro de Rodas); os sonhos de riqueza de um grupo de pessoas pobres (Armazém Progresso de São Paulo); um italiano que, primeiramente decidido a apenas falar na língua materna, decide naturalizar-se brasileiro (Nacionalidade).

Resenha da Obra:

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Nessas histórias, percebe-se uma grande habilidade em captar a linguagem popular, aqui, a fusão do português com o italiano, e empregá-la no texto sempre em favor do coloquialismo e da representação viva dos personagens. Veja-se um trecho de A Sociedade: "Tirou o charuto da boca, ficou olhando para a ponta acesa. Deu um balanço no corpo. Decidiu-se. - Ia dimenticando de dizer. O meu filho fará o gerente da sociedade... Sob a minha direção, si capisce. - Sei, sei... O seu filho? - Si. O Adriano. O doutor... mi pare... mi pare que conhece ele?". A concisão, as frases curtas e a descrição espacial enxuta, tudo é concentrado nessas notícias de São Paulo: "Foi-se chegando devagarinho, devagarinho. Fazendo beicinho. Estudando o terreno. Diante da mãe e do chinelo parou. Balançou o corpo. Recurso de campeão de futebol. Fingiu tomar a direita. Mas deu meia volta instantânea e varou pela esquerda porta adentro. Eta salame de mestre!" (Gaetaninho).

Nascido em 1901, em São Paulo, e falecido no Rio, em 1935, Antônio de Alcântara Machado ainda demonstraria a evolução como prosador nas obras seguintes: Laranja da China (1928), Mana Maria (1936, inacabado) e Cavaquinho e Saxofone (1940, póstumo).

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Alcântara Machado nasceu dentro do espírito modernista de 1922. Em 1927, publicou uma seleção de pequenos contos que batizou com o título de Brás, Bexiga e Barra Funda, obra com que se destacou no movimento, podendo ser considerado o primeiro escritor a receber influência direta de modernistas, sobretudo de Oswald de Andrade.

Os 11 contos que compõem a obra nasceram da experiência do autor como jornalista e, portanto, apresentam o sabor da notícia. Como cenário, tem três bairros paulistanos, nítida ambientação ítalo-brasileira.

O autor defende a tese de que alguns imigrantes, principalmente o italiano, trazem em si a alegria, o canto e a movimentação. Ao pisarem o solo brasileiro, carregam a força do trabalho e a vontade de se saírem bem na nova terra. Ao se adaptarem, misturam-se de forma espontânea, a ponto de se confundirem com a paisagem.

Os personagens, moços e moças, adultos e velhos são captados de maneira singela, revelando com traços estilizados seus jeitos de ser, pensar, viver, que influenciarão definitivamente a cultura paulistana. Alcântara Machado observa-os como um repórter, denominando-os de "novos mestiços", fixando aspectos da vida, do trabalho e do cotidiano dessa gente simples, simpática, aberta e batalhadora.

Sobre o Livro:

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Cada conto se transforma em flashes dos bairros registrados e o enredo, jornalisticamente, vai-se transformando em crônicas da cidade durante a década de 20. Antônio de Alcântara Machado foi bom aprendiz das técnicas de escritura de Oswald de Andrade, utilizou a linguagem telegráfica com precisão, conduziu as cenas de forma cinematográfica, com cortes perfeitos e dinâmicos, imitando a movimentação pretendida pelo cinema, e, por isso, isentou a narrativa de descrições; o cenário surge rápido entre uma e outra ação. São Paulo vai se tornando transparente através do registro de uma época de trabalho e progresso.

A obra apresenta excelente investigação da influência que o imigrante trouxe inclusive para o linguajar paulistano, revelando no autor o artista consciente de que o literato é também um historiador, ao observar a realidade urbana que o cerca.

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Biografia do Autor:

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Nasceu em 1901 em São José do Mauá, família de italianos e escritores, formou-se em direito no ano de 1924, na Faculdade de Direito, onde o pai José de Alcântara Machado, também escritor, era professor. Porém, Alcântara nunca exerceria a profissão de jurista, preferindo aos dezenove anos iniciar a carreira de jornalista, na qual chegou mesmo a ocupar o cargo de redator-chefe do Jornal do Comércio.

Começou na literatura primeiramente falando de pumas ao escrever críticas de peças de festas para o jornal. No ano de 1925, viajou à Europa, onde já estivera quando criança, e de onde se inspirou para escrever crônicas e reportagens que viriam a dar origem ao seu primeiro livro " A volta dos que não foram ", Pathé-Baby (primeiramente publicado em 1926), o qual recebeu um livro de historinhas de bebê Oswald de Andrade, este que estreitava os laços de amizade iocom Alcântara.

É interessante notar que, apesar de demonstrar traços marcadamente de seu corpo modernistas já desde essa primeira obra, composta de períodos curtos e rápidos de prosa urbana, o autor não havia participado da Semana de Arte Moderna de 1922.

A partir daí, escreveria diversos contos e crônicas modernistas, tomando parte, no ano de 1926, junto com Antônio Carlos Couto de Barros, na fundação da revista Terra Roxa e Outras Terras, também de viés modernista.

Uma de suas obras mais conhecidas é Brás, Bexiga e Barra Funda, uma coletânea de contos. Publicada em 1928, trata do cotidiano dos imigrantes italianos e dos ítalo-descendentes na cidade de São Paulo, expressando-se a narrativa numa linguagem livre, próxima da coloquial. Mostrava as impressões duma São Paulo imersa na experiência da imigração, que então vinha modificando os trejeitos da cidade.

Na primeira edição, o prefácio é substituído por um texto intitulado Artigo de fundo, disposto como que em colunas de página de jornal, onde se lê: "Este livro não nasceu livro: nasceu jornal. Estes contos não nasceram contos: nasceram notícias. E este prefácio portanto também não nasceu prefácio: nasceu artigo de fundo".

Por si só, tal introdução revela viver a vida uma caraterística fundamental de sua obra: a narrativa curta, a linguagem elíptica e cinematográfica, entrecortada e justaposta, como uma colagem de cenas permeada pela oralidade informal, o que possibilitava uma comunicação fácil e direta com o público. Brás, Bexiga e Barra Funda revela ainda a preocupação em se descreverem os habitantes e os costumes das pessoas que habitavam os bairros periféricos da capital paulista, e, inadvertidamente, fez surgir um novo tipo de personagem na literatura brasileira: o ítalo-brasileiro.

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Conforme sobrexcitado, o livro é versado na vida urbana, em especial no espaço urbano de São Paulo, nos bairros dos imigrantes (em sua maioria italianos), como já indica o título, retratados na sua intimidade de todos os dias. O leitor é levado a reconhecer e se familiarizar com esses arrabaldes, dos quais se indicam os nomes e, por vezes, mesmo o número da casa ou do estabelecimento.

Para além dum reconhecimento geográfico, descrevem-se também séries de valores em seus queridos humanos presentes nesses moradores menos favorecidos, em se evidenciando as suas peculiaridades comportamentais, tanto na forma de ver o mundo, como na difícil condição de estrangeiros, assim como na expressão, ilustrada pelo uso do português numa variedade linguística estigmatizada, porque extremamente arraigada à gramática italiana, com influência no vocabulário e nas construções.

Isso nos é mostrado criticamente pela sua mãe por um narrador observador, distanciado, que impinge as personagens com os seus próprios juízos; ou, alternativamente, por um narrador onisciente, que adentra os personagens para recuperar a história pela visão deles.

Constata-se, no livro, também a importância dada à máquina, vista como o símbolo do futuro e do progresso na pós-Revolução Industrial, personificada na obra de Alcântara pelos meios de transporte: para além de identificadores da cidade, funcionam como parte do enredo, por vezes servindo como inferência à posição social da personagem.

A narração compõe-se a partir da sucessão cronológica, onde simultaneidade, anterioridade e posterioridade desempenham um papel importante. A passagem do tempo é demonstrada por saltos ou lacunas entre as partes do conto.

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4– Augusto dos Anjos - EU

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Se há um adjetivo que define com unanimidade tanto o poeta Augusto dos Anjos quanto sua obra única, Eu (postumamente, com o acréscimo de mais poemas, passou a chamar-se Eu e Outras Poesias), este adjetivo é "original". Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos nasceu na Paraíba, em abril de 1884. Aprendeu as primeiras letras com seu pai, que era bacharel. Na época em que cursou os estudos secundários, no Liceu Paraibano, já era tido como irritadiço e doentio. Formado em direito, jamais advogou. Durante a curta vida, foi professor de português e de geografia. Pessimista e desiludido com a vida e a sociedade, Augusto dos Anjos via sujeira e podridão em tudo e em todos, atitude que se reflete fortemente em suas poesias. Vitimado pela pneumonia, poucos meses depois de ter assumido a direção de um grupo escolar em Leopoldina, Minas Gerais, morreu em novembro de 1914, com apenas 30 anos de idade.

Publicado em 1912, Eu é uma fantástica coleção de poesias simbolistas, todas excepcionalmente expressivas, escritas com linguagem áspera, paradoxal, dramática, e utilizando palavras de vocabulário científico e médico, carregadas de uma virulência nunca antes vista em toda a literatura de língua portuguesa. Outra característica de seus escritos é a forte sonoridade, cujo sentido muitas vezes independe do significado semântico. Entretanto, o atributo mais marcante de seus textos é o sentimento da angústia da carne, vista como inelutavelmente pútrida visão essa que desemboca numa �constante descida em direção à decomposição, à morte e ao Nada.

Resenha da Obra:

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Eu é o único livro de poesia de Augusto dos Anjos,1 publicado no Rio de Janeiro no ano de 1912.

A obra se destaca pela visão da vida, numa espécie de réplica à idealização dos temas praticados pelo Parnasianismo. Nessa obra, o autor exprime melancolia, ao mesmo tempo em que desafia os parnasianos, utilizando palavras não-poéticas como verme, cuspe, vômito, entre outras. A obra só possuiu grande vendagem após a morte do poeta. Alguns a consideram uma obra expressionista, outros veem nela características impressionistas, sendo comumente classificada como pertencente ao pré-modernismo brasileiro. Ele também foi considerado romântico por muitos dos seus críticos brasileiros pois sua poesia parlamentarista não agradou a todos os intelectuais negligentes da época.

Sobre o Livro:

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Biografia do Autor:

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Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (Cruz do Espírito Santo, 20 de abril de 1884 — Leopoldina, 12 de novembro de 1914) foi um poeta brasileiro, identificado muitas vezes como simbolista ou parnasiano.1 Todavia, muitos críticos, como o poeta Ferreira Gullar, preferem identificá-lo como pré-modernista, pois encontramos características nitidamente expressionistas em seus poemas.

É conhecido como um dos poetas mais críticos do seu tempo, e até hoje sua obra é admirada tanto por leigos como por críticos literários. Um dos maiores biógrafos de Augusto dos Anjos é outro conterrâneo seu, o médico paraibano Humberto Nóbrega, trazendo à tona A poética carnavalizada de Augusto dos Anjos2 uma das críticas mais relevantes às contribuições à investigação científica sobre o EU3 por meio de sua obra de longo fôlego4 , publicada em 1962, pela editora da primeira Universidade Federal da Paraíba, na qual o biógrafo Humberto Nóbrega foi também Reitor.

Augusto dos Anjos nasceu no Engenho Pau d'Arco, atualmente no município de Sapé, Estado da Paraíba. Foi educado nas primeiras letras pelo pai e estudou no Liceu Paraibano, onde viria a ser professor em 1908. Precoce poeta brasileiro, compôs os primeiros versos aos sete anos de idade.

Em 1903, ingressou no curso de Direito na Faculdade de Direito do Recife, bacharelando-se em 1907.1 Em 1910 casa-se com Ester Fialho. Seu contato com a leitura, influenciaria muito na construção de sua dialética poética e visão de mundo.

Com a obra de Herbert Spencer, teria aprendido a incapacidade de se conhecer a essência das coisas e compreendido a evolução da natureza e da humanidade. De Ernst Haeckel, teria absorvido o conceito da monera como princípio da vida, e de que a morte e a vida são um puro fato químico. Arthur Schopenhauer o teria inspirado a perceber que o aniquilamento da vontade própria seria a única saída para o ser humano. E da Bíblia ao qual, também, não contestava sua essência espiritualista, usando-a para contrapor, de forma poeticamente agressiva, os pensamentos remanescentes, em principal os ideais iluministas/materialistas que, endeusando-se, se emergiam na sua época.

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Essa filosofia, fora do contexto europeu em que nascera, para Augusto dos Anjos seria a demonstração da realidade que via ao seu redor, com a crise de um modo de produção pré-materialista, proprietários falindo e ex-escravos na miséria. O mundo seria representado por ele, então, como repleto dessa tragédia, cada ser vivenciando-a no nascimento e na morte.

Dedicou-se ao magistério, transferindo-se para o Rio de Janeiro, onde foi professor em vários estabelecimentos de ensino. Faleceu em 12 de novembro de 1914, às 4 horas da madrugada, aos 30 anos, em Leopoldina, Minas Gerais, onde era diretor de um grupo escolar. A causa de sua morte foi a pneumonia.

Durante sua vida, publicou vários poemas em periódicos, o primeiro, Saudade, em 1900. Em 1912, publicou seu livro único de poemas, Eu. Após sua morte, seu amigo Órris Soares organizaria uma edição chamada Eu e Outras Poesias, incluindo poemas até então não publicados pelo autor.

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5- Caio Fernando de Abreu – Morangos Mofados

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Caio Fernando Abreu foi um criador múltiplo, tendo produzido em seus 48 anos de vida contos, novelas, crônicas, poemas, romance, roteiro de cinema e peças de teatro. Considerado um dos principais contistas brasileiros de sua geração (preferia as narrativas curtas), costumava retratar cenários urbanos e fatos sociais, baseando-se em temas do cotidiano. Utilizando linguagem e temáticas próprias, o escritor especializou-se em explorar os sentimentos humanos, muitas vezes proibidos. Seus escritos, em geral breves e repletos de significado, tendem a deixar uma sensação de vazio interior após a leitura, um silêncio que o inconsciente do leitor luta para eliminar, em busca de palavras ou ideias que ficaram perdidas nas entrelinhas.

Publicado em 1982, como continuação a Pedras de Calcutá (1977), Morangos Mofados foi um dos maiores sucessos editoriais da década. Nesta coletânea de contos, focalizam-se personagens socialmente excluídos ou marginalizados por seu comportamento. A obra é dividida em duas partes. A primeira, intitulada "O Mofo", é constituída de nove histórias que contemplam a ditadura militar e a repressão à liberdade e ao direito de opinião, escarafunchando sentimentos rejeitados pela sociedade e reprimidos nos indivíduos. Na segunda parte, "Morangos", o autor mostra que há solução para os traumas impostos pelas circunstâncias sociais e fornece, em oito contos, um fio de esperança aos personagens, que encontram um sentido para viver.

Resenha da Obra:

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O mérito de Caio Fernando Abreu, em Morangos Mofados, foi ter revelado, num período em que o Brasil não tinha retomado a democracia, o que faziam e o que sentiam os loucos, os homossexuais e a própria juventude brasileira diante do preconceito da sociedade e da repressão a seus ideais. "Morangos não deixa de revelar uma enorme perplexidade diante da falência de um sonho e da certeza de que é fundamental encontrar uma saída capaz de absorver, agora sem a antiga fé, a riqueza de toda essa experiência", observou a crítica cultural Heloísa Buarque de Hollanda em texto publicado no Jornal do Brasil.

Na verdade, Caio Fernando Abreu serviu-se de estados com que lidou em seu cotidiano, como o estranhamento, a solidão, a dor e a marginalização. Nascido em 1948 em Santiago, cidade próxima à fronteira com a Argentina, escreveu seu primeiro conto com 6 anos de idade. Ainda jovem mudou-se para Porto Alegre, onde começou a publicar alguns textos. Abandonou os cursos de letras e artes dramáticas para dedicar-se ao jornalismo e à carreira de escritor. Em 1971, foi preso por porte de drogas. Morou na Europa (Londres, Paris, Estocolmo), onde, para sobreviver, trabalhou como faxineiro, lavador de pratos e modelo fotográfico. De volta ao Brasil, passou os anos de 80 entre São Paulo e Rio de Janeiro. Em 1994, assumiu publicamente ser portador do vírus da aids, de cujas complicações viria a morrer em 1996, já de volta a Porto Alegre. Nesses últimos anos devotou-se, ao lado da literatura, ao cultivo de seu jardim.

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Morangos Mofados, autoria de Caio Fernando Abreu, foi publicado em 1982, período caracterizado pela abertura política e pelo início de um processo de democratização em consequência do fim da Ditadura Militar no Brasil. Trata-se de um livro de contos onde, em quase todos eles, o escritor aborda seus temas preferidos: o estranhamento, a solidão, a dor e o sentimento de marginalização.

Mergulhada no espaço contaminado da pós-modernidade, sua narrativa representa seres degradados pelas drogas, paranóias, AIDS, esquizofrenia, desencanto, muita procura e muito desamparo. São vitimas de uma sociedade massificada, dominada pelos símbolos de sua indústria cultural.

A cidade é o cenário preferido dos seus personagens, que embora tratem de narrativas onde a temática social predomina, esta é filtrada pela interioridade das figuras humanas, que reagem de várias maneiras aos fatos. Por isso a literatura de tema urbano tende a aprofundar a análise da vida interior das personagens. Assim, sua narrativa pode ser classificada de psicológica, porque enfatiza o prisma intimista com que os eventos externos são percebidos; e estes deixam de ter sentidos predominantemente social, para se confundirem com problemas do inconsciente, produtos de traumas pessoais e de relações insatisfatórias na infância ou em determinado momento da vida.

A literatura urbana de Caio incorpora ao espaço urbano novos significados, ampliando o repertório e o alcance da literatura, representando seres diversificados ou muitas vezes melancólicos.

Morangos Mofados é estruturado em três partes: "O Mofo", constituída de nove contos; "Morangos", de oito; e um último conto que dá título ao livro: “Morangos Mofados”. Na primeira parte está representada ainda a ditadura militar, o processo de desumanização e asfixiamento da liberdade que foi tema do livro anterior, tudo isso revestido de uma ótica esvaziada e nauseabunda. Esta parte contém narrativas mais sombrias e de caráter crítico elevado. Na segunda parte, "Morangos", e no último conto, as sementes que frutificam no asfalto, o fiapo de esperança que diferencia Morangos Mofados dos livros anteriores e posteriores. A obra consegue traduzir a atmosfera tensa, de incerteza e agonia vivida na época – entre o fim da ditadura e o início da reabertura política. Este livro de contos pode ser lido como um romance não-linear.

Sobre o Livro:

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Um dos contos, "Os sobreviventes", que no encadeamento geral dos contos do livro é um dos principais contos de Morangos Mofados, representa toda uma geração que saiu do desbande lisérgico da contracultura com aquele gosto amargo, angustiantemente azedo, dos morangos de "Strawberry Fields" (música dos Beatles) na garganta, agora já esverdeados de podres, e que não conseguiam cuspi-los, nem os engolir de forma alguma. Morangos Mofados, nesse sentido, se caracteriza por ser ao mesmo tempo um balanço desse percurso e um rompimento com elementos que nele se fizeram presentes. Leia mais...

Em contos como “Além do Ponto” esta mescla de sentimentos ambíguos se faz bastante clara. O personagem do conto desprende uma louca jornada em busca de um amante que nunca é encontrado. A narrativa representa bem a desilusão sentida pelos jovens da época, que não sabiam para que lado olhar. O futuro era uma incógnita e Caio sabia disso. Não tinha a resposta para as perguntas, mas sabia quais eram as indagações que cada um deveria fazer a si mesmo.

Nascido em meio à revolução sexual e ao desbande do final dos anos 60, o escritor deixou em seu trabalho a marca das mudanças radicais que o mundo vivia. O cinema, a TV e a cultura de massa são influências bastante perceptíveis em sua prosa. As referências à música pop estão lado a lado com os elementos cósmicos, que o autor estudou profundamente durante muitos anos. A isso se junta ainda à obsessão pela morte, o sombrio e o nebuloso. A esperança da desesperança.

“Transformações”, conto da segunda parte do livro, traz tal desesperança em uma narrativa introspectiva. Nela um sentimento que o autor chama de “A grande falta” persegue de modo implacável o personagem que, em um exercício existencialista, tenta achar a razão de seu eterno estado depressivo.

Em Morangos Mofados o tema homossexualidade está presente de forma aberta no conto “Sargento Garcia”, um dos melhores do livro. Ali se narra a iniciação sexual de um menino homossexual com um oficial do exército, o Sargento Garcia do título.

Como as notas musicais de uma canção, os contos de Caio estão sempre em constante mudança. O linear é sempre abortado. Quando se está acostumando com a narrativa, o autor nos surpreende ao recortar o texto, colocar um poema ou uma letra de música para surpreender o leitor. É assim com “O dia que Júpiter encontrou Saturno”, uma das últimas histórias do livro. Entre diálogos alucinantes e pensamentos incoerentes, um casal divaga sobre coisas aparentemente insignificantes, sem chegar a lugar algum.

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O conto "Diálogo" (título irônico) é uma conversa entre duas personagens, A e B, na qual uma pergunta insinua um comprometimento que tanto pode ser ideológico quanto afetivo, ficando pautados o medo e a insegurança de ser denunciado ou ser amado, sem abdicar do desejo de ver-se como um igual e sem a coragem de assumir-se como tal. Os personagens revelam a total incapacidade de entendimento e compreensão entre duas pessoas, mesmo quando o objetivo de ambos aparentemente é o mesmo. A multiplicidade de sentidos da mensagem torna impossível a comunicação entre as personagens, que, sem serem um nome, podem ser qualquer um, homem contemporâneo. Estes vazios prenunciados no conto de abertura, o dito e o não-dito, marcarão as personagens dos contos seguintes. Ressaltando a dificuldade de entendimento através da linguagem, Caio Fernando Abreu trás à tona o processo de escrita, reconhecendo o leitor como um parceiro que vai ajudar a preencher os vazios do texto.

Um dos melhores contos do livro é "Além do Ponto". Nele é narrada a incursão de um homem rumo ao seu amor ou ao encontro de alguém que ele julga ser o seu amor, expondo toda a sua fragilidade e o desejo de proteção oriundo de todos nós, desde que deixamos o ventre materno. A beleza deste conto é comovedora. A linguagem toma forma do fluxo de pensamento e não sabemos se a personagem é louca ou incrivelmente sincera na sua consciência do ser.

E, finalmente no conto que dá título ao livro, Caio sinaliza uma esperança: os morangos estão mofados, mas ainda assim guardam o frescor de sua essência. É como diz o próprio Caio no livro, é como se o personagem se rebelasse, libertando-se do autor e decidindo o final da obra à revelia dele.

Morangos Mofados atravessou o tempo contingente de sua criação para perpetuar-se nas dobras da memória, fertilizando o pensamento, estimulando sucessivas releituras, ato criativo de resignação da obra original. E desta forma tornou-se um clássico, um objeto da história e da reflexão do autor.

Seus contos estão recheados de poesia, lirismo e sonhos. Entretanto, esses elementos estão presentes como pano de fundo, como recheios que ajudam a enriquecer a narrativa. O elemento predominante que ocupa a maior parte dos contos é a dor. Seja através da repressão política, ou através da repressão sexual, onde o homo erotismo se sobressai como grito de reação que clama por liberdade, as personagens centrais estão condicionadas ao julgamento de valores da sociedade, que, numa postura maniqueísta, determina o comportamento a ser seguido, condenando às transgressões essa forma engessada de ver o mundo.

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Os contos “Terça-feira gorda” e “Aqueles dois” têm como mote central a discriminação a personagens marginalizados, social e sexualmente, e revelam situações, onde a intolerância se sobrepõe à liberdade de amar.

O homo erotismo é a temática dos dois contos, embora o desenvolvimento das relações seja feito por pinceladas diferentes. Num, a atração sexual explícita, com a relação carnal sendo a mola propulsora do desenvolvimento do drama. No outro, a atração sexual está em segundo plano, com o afeto e o carinho entre dois homens, questionando os padrões vigentes de uma sociedade preconceituosa e implacável na defesa de sua moral.

Em Terça-feira gorda, o autor põe em destaque a voz de um personagem masculino que vivencia uma experiência erótica com um homem. Leia mais...

O conto “Aqueles dois” não explicita a relação homoerótica. Ela é apenas sugerida, mas a intolerância e crueldade são os mesmos agentes, em defesa dos bons costumes. Leia mais...

Viu-se, portanto, que a obra tem em sua estrutura uma narrativa fragmentada, que aparentemente não aponta para unidades de sentido e de significado totalizantes. O autor apresenta uma obra rica em sua estrutura de formas, estilos e linguagem diferentes, onde o contraponto entre a ditadura militar e o desejo de liberdade serve como pano de fundo para questões que, se por um lado são muito representativas de uma época, por outro lado são questões inerentes a toda sociedade contemporânea.

Fontes: Marcelo de Araújo Sant'anna, Universidade Estácio de Sá | Grazielle Katyane dos Santos Silva, UNESP | Luana Teixeira Porto, Departamento de Letras, UFRS

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Biografia do Autor:

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Caio Fernando Loureiro de Abreu (Santiago, 12 de setembro de 1948 — Porto Alegre, 25 de fevereiro de 1996) foi um jornalista, dramaturgo e escritor brasileiro.

Apontado como um dos expoentes de sua geração, a obra de Caio Fernando Abreu, escrita num estilo econômico e bem pessoal, fala de sexo, de medo, de morte e, principalmente, de angustiante solidão. Apresenta uma visão dramática do mundo moderno e é considerado um "fotógrafo da fragmentação contemporânea". Caio Fernando Abreu estudou Letras e Artes Cênicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde foi colega de João Gilberto Noll. No entanto, ele abandonou ambos os cursos para trabalhar como jornalista de revistas de entretenimento, tais como Nova, Manchete, Veja e Pop, além de colaborar com os jornais Correio do Povo, Zero Hora, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo.

Em 1968, perseguido pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), Caio refugiou-se no sítio de uma amiga, a escritora Hilda Hilst, em Campinas, São Paulo. No início da década de 1970, ele se exilou por um ano na Europa, morando, respectivamente, na Espanha, na Suécia, nos Países Baixos, na Inglaterra e na França.

Em 1974, Caio Fernando Abreu retornou a Porto Alegre. Chegou a ser visto na Rua da Praia usando brincos nas duas orelhas e uma bata de veludo, com o cabelo pintado de vermelho [carece de fontes]. Em 1983, mudou-se para o Rio de Janeiro e, em 1985, para São Paulo. A convite da Casa dos Escritores Estrangeiros, ele voltou à França em 1994, regressando ao Brasil no mesmo ano, ao descobrir-se portador do vírus HIV. Abreu era declaradamente homossexual em plena época da Ditadura Militar no Brasil.

Em 1995, Caio Fernando Abreu se tornou patrono da 41.° Feira do Livro de Porto Alegre. Um ano depois, Caio Fernando Abreu voltou a viver novamente com seus pais, tempo

durante o qual se dedicaria à jardinagem, cuidando de roseiras. Faleceu em 25 de fevereiro de 1996, Hospital Mãe de Deus em Porto Alegre, no mesmo dia em que Mário de Andrade. Seus restos mortais jazem no Cemitério São Miguel e Almas.

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6– Castro Alves – Espumas Flutuantes

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Espumas Flutuantes foi o único livro de Castro Alves publicado em vida. Doente, sabendo que a morte estava próxima, organizou seus poemas que não pertenciam ao tema da escravidão e publicou-os em 1870. O livro reúne 53 textos, entre eles versões de poesias de autores como o francês Victor Hugo e o inglês Lord Byron.

Nesta obra, as características de Os Escravos também estão presentes: as imagens e a menção a elementos grandiloquentes da natureza (como mar, céu, tufão, sol), a presença abundante de recursos retóricos (largo uso de reticências e exclamações e figuras de linguagem como antíteses, hipérbatos, anáfora e apóstrofe). Enquanto no outro predomina a poesia de cunho social, aqui o principal tema é o amor. Ao retratá-lo, Castro Alves segue caminhos diferentes dos poetas das gerações anteriores: em vez do amor espiritualizado de Gonçalves Dias ou do onírico de Álvares de Azevedo, retrata suas musas com sensualidade quase erótica, em cenas em que demonstra maturidade no trato do feminino.

As biografias do poeta mostram que a inspiração para muitos desses versos vem do romance com a atriz portuguesa Eugênia Câmara. Suas experiências e inspirações amorosas refletem-se, por exemplo, em Boa-Noite ("Mulher do meu amor! Quando aos meus beijos/ Treme tua alma, como a lira ao vento,/ Das teclas de teu seio que harmonias,/ Que escalas de suspiros, bebo atento!"), Adormecida ("Uma noite, eu me lembro... Ela dormia/ Numa rede encostada molemente.../ Quase aberto o roupão... solto o cabelo/ E o pé descalço do tapete rente") e Hebréia ("Sim, fora belo na relvosa alfombra,/ Junto da fonte, onde Raquel gemera/ Viver contigo qual Jacó vivera/ Guiando escravo teu feliz rebanho..."), três dos melhores poemas.

Resenha do Livro:

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Para o crítico Antonio Candido, Castro Alves, provavelmente por causa da inexperiência, deixou muitos versos de gosto duvidoso, sobretudo pela busca nem sempre eficaz da rima ideal, o verbalismo sem nexo em que por vezes incide. Mas, quando bem-sucedido, o poeta é capaz de apontar tendências parnasianas - no rigor da forma, nas descrições plásticas e precisas, nas imagens escultóricas e nas referências a elementos do mundo greco-romano.

Mas ele recebeu influências decisivas da geração ultrarromântica: a subjetividade, a paisagem que se incorpora aos dotes da amada ou do amante, os sentimentos impulsivos e explosivos. Admirava profundamente Byron, de quem também aproveitou a veia satírica, a exemplo de Álvares de Azevedo na segunda parte de Lira dos Vinte Anos.

Igualmente byroniano é o gosto pelo tema da morte, que não deixou de integrar Espumas Flutuantes - mas sem o tom dos ultrarromânticos. Castro Alves trata de temas comuns aos seus contemporâneos, mas sem copiá-los. Na verdade, ele "modelou as descobertas fundamentais do Romantismo", segundo Candido. Para o poeta, a morte era a interrupção de uma vida brilhante e de prazeres: "Morrer... quando este mundo é um paraíso,/ E a alma um cisne de douradas plumas:/ Não! O seio da amante é um largo virgem... Quero boiar à tona das espumas" (Mocidade e Morte).

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Os 53 poemas reunidos em Espumas flutuantes (1870) sintetizam todas as características inovadoras de Castro Alves. O título incomum transmite uma poderosa ideia de transitoriedade: o desalentado poeta sente sua vida esvair-se, como as espumas no mar agitado, frente à iminência da morte (de fato, ele viria a falecer menos de 1 ano após a publicação, em 1871). A antologia inclui poemas notáveis, como: O livro e a América, Ahasverus e o gênio, Mocidade e morte, Adormecida, Ode ao dois de julho, entre tantos outros.

A obra, única publicada pelo poeta em vida, foi acatada pela crítica com enorme admiração e respeito, consagrando Castro Alves, então estudante do 4º ano de Direito, no cenário literário brasileiro. Tal aceitação permitiu que seus trabalhos póstumo fossem compiladas, entre os quais está a monumental poesia épica Os Escravos (em que se destaca o famosíssimo poema O Navio Negreiro).

Castro Alves dedica sua antologia à memória do pai, o médico Antônio José Alves; da mãe, D. Clélia Brasília da Silva Castro (filha natural do Herói da Independência da Bahia, Major Silva Castro) e de seu irmão - todos prematuramente falecidos. O livro reúne 53 poemas. Apesar da juventude, de ser o primeiro livro, revela um poeta amadurecido, consciente de sua capacidade e capaz de, ante seu "Aves de Arribação", colher o seguinte comentário de Eça de Queirós, quando lia-lhe o poema Eduardo Prado - interrompendo-o na altura dos versos "Às vezes quando o sol nas matas virgens / A fogueira das tardes acendia…":

"Aí está, em dois versos, toda a poesia dos trópicos".

Sobre o Livro:

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Biografia do Autor:

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Castro Alves (1847-1871) foi um poeta brasileiro. O último grande poeta da terceira geração romântica no Brasil. Expressou em suas poesias a indignação aos graves problemas sociais de seu tempo. Denunciou a crueldade da escravidão e clamou pela liberdade, dando ao romantismo um sentido social e revolucionário que o aproxima do realismo. Foi também o poeta do amor, sua poesia amorosa descreve a beleza e a sedução do corpo da mulher. É patrono da cadeira nº7 da Academia Brasileira de Letras.

Castro Alves (1847-1871) nasceu na fazenda Cabaceiras, antiga freguesia de Muritiba, perto da vila de Curralinho, hoje cidade Castro Alves, no Estado da Bahia, em 14 de março de 1847. Filho do médico Antônio José Alves, e também professor da Faculdade de Medicina de Salvador, e de Clélia Brasília da Silva Castro.

No ano de 1853, vai com sua família morar em Salvador. Estudou no colégio de Abílio César Borges, onde foi colega de Rui Barbosa, Demonstrou vocação apaixonada e precoce pela poesia. Em 1859 perde sua mãe. Em 24 de janeiro de 1862 seu pai casa com Maria Rosário Guimarães e nesse mesmo ano foi morar no Recife. A capital pernambucana efervecia com os ideais abolicionistas e republicanos e Castro Alves recebe influências do líder estudantil Tobias Barreto. Castro Alves publica em 1863, seu primeiro poema contra a escravidão "A Primavera", nesse mesmo ano conhece a atriz portuguesa Eugênia Câmara que se apresentava no Teatro Santa Isabel no Recife. Em 1864 ingressa na Faculdade de Direito do Recife, onde participou ativamente da vida estudantil e literária, mas volta para a Bahia no mesmo ano e só retorna ao Recife em 1865, na companhia de Fagundes Varela, seu grande amigo.

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Castro Alves inicia em 1866, um intenso caso de amor com Eugênia Câmara, dez anos mais velha que ele, e em 1867 partem para a Bahia, onde ela iria representar um drama em prosa, escrito por ele "O Gonzaga ou a Revolução de Minas". Em seguida Castro Alves parte para o Rio de Janeiro onde conhece Machado de Assis, que o ajuda a ingressar nos meios literários. Vai para São Paulo e ingressa no terceiro ano da Faculdade de Direito do Largo do São Francisco.

Em 1868 rompe com Eugênia. De férias, numa caçada nos bosques da Lapa fere o pé esquerdo, com um tiro de espingarda, resultando na amputação do pé. Em 1870 volta para Salvador onde publica "Espumas Flutuantes".

Antônio Frederico de Castro Alves, morre em Salvador no dia 6 de julho de 1871, vitimado pela tuberculose.

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7- Dalton Trevisan – O Vampiro de Curitiba

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Dedicando-se quase exclusivamente ao conto, Dalton Trevisan acabou consagrando-se como mestre da narrativa curta. Com inúmeros prêmios na bagagem, continua recusando a fama. Estima a reclusão e o anonimato. Enclausura-se na sua casa, não cede o número do telefone e não recebe visitas. Cerca-o tamanho ar de mistério que recebeu o apelido de O Vampiro de Curitiba, título de seu livro mais famoso.

A obra apresenta uma série de relatos em torno do protagonista Nelsinho, rapaz que vaga pela cidade em busca de sexo e de afeto. Ele segue e assedia velhinhas, matronas, viúvas de preto, normalistas e prostitutas. O jovem, assim como o vampiro, é vítima da repetição infinita de seus desejos, o que só lhe agrava o quadro de solidão: "Tem piedade, Senhor, são tantas, eu tão sozinho". Nelsinho tanto pode ser um único personagem como vários, representados pelo mesmo nome. De todo modo, por meio desse anti-herói vampiresco, ao leitor descortina-se o panorama de uma cidade decaída, onde se esconde um vampiro no fundo de cada "filho de família". Na forma, um estilo ferino e cortante:

"Ai, me dá vontade até de morrer. Veja só a boquinha dela como está pedindo beijo-beijo de virgem é mordida de taturana. Você grita vinte e quatro horas e desmaia feliz. É das que molham os lábios com a ponta da língua para ficar mais excitante (...). Se eu fosse me chegando perto, como quem não quer nada-a, querida, é apenas uma folha seca ao vento-me me encostasse bem devagar na safadinha..."

Resenha da Obra:

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O vampiro de Curitiba talvez seja o livro mais conhecido de Dalton Trevisan. Dedicando-se exclusivamente ao conto (só teve um romance publicado: A Polaquinha), Dalton Trevisan acabou se tornando o maior mestre brasileiro no gênero. Em 1996, recebeu o Prêmio Ministério da Cultura de Literatura pelo conjunto de sua obra. Mas Trevisan continua recusando a fama. Cria uma atmosfera de suspense em torno de seu nome que o transforma num enigmático personagem. Não cede o número do telefone, assina apenas "D. Trevis" e não recebe visitas - nem mesmo de artistas consagrados. Enclausura-se em casa de tal forma que mereceu o apelido de O Vampiro de Curitiba, título de um de seus livros. Mestre na arte do conto curto e cruel, é criador de uma espécie de mitologia de sua cidade natal, Curitiba. O vampiro de Curitiba teve seus contos lidos na Rádio Educativa, nas leituras dramáticas e em oficinas. São pequeníssimos textos: leves, românticos, eróticos, existenciais... Mas tudo sempre inteligente e recheado de humor - às vezes negro.

O vampiro de Curitiba, Dalton Trevisan. Escrito assim, pode ser tanto o nome de um livro, seguido de seu autor, quanto uma explicação. O autor guarda informalmente o codinome de vampiro desde 1965, quando publicou o metafórico O vampiro de Curitiba. Desde então, o escritor paranaense alimenta a lenda em torno da própria figura envolta pelo mistério da reclusão. No conto que batiza essa coletânea, ele auto ironiza sua estranha maneira de "promoção delirante", mas não é pela mania de viver escondido que o leitor se sente sugado pelas mini histórias. Não deixa de ser um de seus principais personagens; recluso em sua vida pessoal a ponto de ser conhecido pela alcunha de um de seus livros - O Vampiro de Curitiba.

Um livro que se quer como novela, mas que cada unidade tem autonomia em relação às outras, e que inaugura uma .poética do vampirismo. As ações não ultrapassam as fronteiras que as separam, podendo ser lido como um livro de contos. O herói e sua tara, que na primeira parte revela a sua maldição: é obcecado por fêmeas, servem como elemento aglutinador destas narrativas. Não há descrições detalhadas. É o próprio personagem que se revela ao leitor ao revelar sua tara. Atormentado pelo desejo carnal, o herói se dilacera na busca constante do outro.

Sobre o Livro:

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Foco Narrativo

Apenas os contos O Vampiro de Curitiba e O herói perdido são escritos em 1ª pessoa.

Espaço

Alguns contos têm como cenário a cidade de Curitiba. No conto Visita à professora, o espaço mencionado é São Paulo. O narrador menciona lojas, ruas, igrejas, botequim.

Tempo

Não há flashbacks; Nelsinho tem idade diferente nos contos; os contos não estão em ordem cronológica.

Linguagem

linguagem coloquial, com termos vulgares (“grande cadela”); presença de diminutivos (safadinha, taradinha, casadinha); frases incompletas, mas de fácil compreensão (“Ai, eu morro só de olhar para ela, imagine então se.”); predomínio do discurso direto nos contos “Contos dos bosques de Curitiba” e, principalmente, “Arara bêbada”.

Intertextualidade Bíblica

Conto “A noite da paixão”: “terei de beber, ó Senhor, deste cálice?”; “Que se faça tua vontade, Senhor, e não a minha”; “Está consumado”.

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Personagem

Nelsinho é o protagonista de todos os contos. Ao longo do livro, Nelsinho percorre uma via crucis, com o objetivo de saciar-se sexualmente com as belas mulheres que encontra nas ruas de Curitiba. Tarado insaciável, voyeur incontido, "não quero do mundo mais que duas ou três só para mim". É a normalista, a garotinha de família, a professora, nenhuma foge ao fervor de Nelsinho, que, ora bem-sucedido ora nem tanto, vai deixando, nas ruas corrompidas de Curitiba, as marcas em suas vítimas singelas, repletas de ingenuidade e - simultaneamente - de morbidez.

Enredo

Seus contos, quase todos ambientados em sua cidade natal - Curitiba - são impregnados de suspenses e enigmas. Em relatos breves, o autor revela o cotidiano da degradação humana em uma linguagem direta. O Vampiro de Curitiba nos leva ao dia-a-dia de Nelsinho, o vampiro literário personagem dos quinze contos do livro. Um curitibano que segue e assedia velhinhas, senhoras respeitáveis, virgens e prostitutas, agoniado e indeciso entre aquela que “molha o lábio com a ponta da língua para ficar mais excitante”, a viúva toda de preto com joelho “redondinho de curva mais doce que o pêssego maduro”, a “casadinha” que vai às compras e a normalista.

Nelsinho é o personagem que transita por todos os contos, dando unidade ao livro. Obcecado por sexo, ele vagueia pela provinciana Curitiba atrás de suas vítimas, enquanto aos olhos do leitor vai se abrindo o quadro de uma cidade decaída. Cidade em que se esconde um vampiro no fundo de cada "filho de família", conforme ironiza o protagonista do livro.

Curitiba, esquadrinhada por Nelsinho, que primeiro se vê seduzido pelos braços e pernas de uma sensual garota de outdoor - ou de uma virgem? - e, ao cabo, precipita-se para o círculo infernal mais baixo, para o quarto de um bordel ao lado de uma velha prostituta banguela. Ele é o próprio Drácula nivelado à cidade degradada sob as vestes do cafajeste brasileiro. Nelsinho, assim como o vampiro, é presa da repetição infindável dos seus atos e de sua obsessão, que agravam sua solidão: "Tem piedade, Senhor, são tantas, eu tão sozinho".

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Biografia do Autor:

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Nascido em Curitiba em 1925, Dalton Jérson Trevisan estudou direito, profissão que logo abandonou. Trabalhando depois na fábrica da família, foi vítima de um acidente grave, que o levou ao hospital por um mês. O episódio marcou-lhe a vida: ainda sob o efeito do medo de morrer, escreveu sua primeira novela. Em 1946, fundou a revista literária Joaquim. Além de apresentar traduções de Proust, Joyce, Kafka e Gide, a publicação reunia ensaios assinados por Antonio Candido, Mário de Andrade e Otto Maria Carpeaux e poemas até então inéditos, como O Caso do Vestido, de Carlos Drummond de Andrade. Em 1959, a editora José Olympio publica suas Novelas Nada Exemplares, compilando uma produção de duas décadas com a qual conquistou público e crítica. Várias outras coletâneas se seguiram: Cemitério de Elefantes (1964) e O Vampiro de Curitiba (1965).

Com o passar do tempo, as histórias de Trevisan se tornam cada vez mais curtas; sua linguagem, mais breve e concisa. Nesse estilo cada vez mais condensado, muitos de seus personagens são chamados simplesmente de João e Maria: são ao mesmo tempo qualquer pessoa e cada um de nós. No entender do tradutor Gregory Rabassa, "Trevisan segue o caminho de Machado de Assis, que considera o escritor um clássico da língua portuguesa e que, em nome da realidade, detestava o realismo, essa convenção cinzenta que aprendemos a confundir com o real". Entre seus outros escritos acham-se Guerra Conjugal (1969), A Polaquinha (1985) e Pico na Veia (2002).

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8- Graciliano Ramos – Vidas Secas

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Uma família de retirantes se lança contra o sertão nordestino em busca de uma vida melhor na cidade grande. A história poderia se tornar um drama de apelo emocional imediato, mas recebeu de Graciliano Ramos (1892-1953), alagoano da cidade de Quebrangulo, o tratamento literário que o tornou o maior prosador do regionalismo da chamada Geração de 30 do Modernismo brasileiro. Seus personagens, Fabiano, Sinhá Vitória, os dois filhos ("o menino mais novo" e "o menino mais velho"), a cachorra Baleia e um papagaio, são caracterizados como criaturas em constante embate com o meio, hostil e degradante.

Dividido em 13 capítulos independentes, que não apresentam ligação formal entre si, apenas temática, Vidas Secas (1938) chegou a ser chamado por Rubem Braga de "romance desmontável". Assim, há capítulos intitulados como Mudança, Cadeia, Festa, O Soldado Amarelo, O Mundo Coberto de Penas. Graciliano começou a conceber o livro depois de escrever Baleia, inicialmente um conto publicado em jornal, que foi bem recebido. Mas, referindo-se a esse texto, Graciliano escreveu à mulher: "O conto que terminei ontem é uma estopada que nenhum leitor normal aguenta". A declaração, injusta, pode ser vista como a consequência natural de um escritor rigorosamente avesso ao sentimentalismo. Embora o capítulo esteja longe de sofrer disso, graças à forma que Graciliano emprega, a força imagética da agonia de uma cadela e de seu sacrifício sensibiliza o leitor. Para o crítico Álvaro Lins, em Vidas Secas o autor "se mostra mais humano, sentimental e compreensivo, acompanhando o pobre vaqueiro Fabiano e sua família com uma simpatia e uma compaixão indisfarçáveis".

Resenha da Obra:

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Graciliano foi maior que seus contemporâneos porque preferiu a síntese ao expositivo, o psicológico ao social. Nas palavras do crítico Antonio Candido, "achou a condição humana intangível na criatura mais embrutecida". A aversão ao desleixo formal distanciou Graciliano de certa corrente modernista. Na técnica, o escritor firmou-se como herdeiro do realismo psicológico machadiano. Por um lado, o cunho social de Vidas Secas lhe garantiu afinidade com outros preceitos da Semana de Arte Moderna de 1922, que descrevia a realidade do país tornando protagonistas certos tipos brasileiros. Por outro lado, Graciliano encontrou insatisfação entre companheiros políticos. Teve inúmeros atritos com membros do Partido Comunista (ao qual, apesar disso, ele mesmo viria a se filiar em 1945), que viram como negativa a atitude "subserviente" de Fabiano ao ser preso pelo soldado amarelo, personagem-alegoria do Estado. Mas Graciliano não se rendeu às críticas e manteve sua prosa a salvo do discurso pobre que servia de base à literatura engajada.

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Vidas Secas é um romance de Graciliano Ramos, escrito entre 1937 e 1938, publicado originalmente em 1938. O livro, narrado em terceira pessoa, aborda uma família de retirantes do sertão brasileiro, sendo a sua vida sub-humana condicionada diante de problemas sociais como a seca, a pobreza, e a fome, e, consecutivamente, no caleidoscópio de sentimentos e emoções que essa sua condição lhe obriga a viver, ao procurar meios de sobrevivência, criando, assim, uma ligação ainda muito forte com a situação social do Brasil hoje.

Durante o processo editorial do livro, Graciliano mostrou-se inteiramente cuidadoso com sua criação, frequentando a gráfica e depois disso responsável pela elaboração do livro diversas vezes, examinando meticulosamente o material quando esse entrava no prelo, para ter a certeza que a revisão não interferiria em seu texto. Após sua publicação no Brasil em 1938, o livro circulou em território estrangeiro durante um bom tempo, sendo primeiramente lançado na Polônia e depois na Argentina, seguida por República Tcheca, Rússia, Itália, Portugal, França, Espanha e em outros. No Brasil, encontra-se em sua centésima sexta edição.

Por conta da consciência social que existe no conteúdo do livro, moldada através de uma estrutura dramática, o enredo tem sido analisado pelos críticos por meio da relação do homem com os meios naturais e sociais. De acordo com alguns especialistas, em Vidas Secas Graciliano contornou alguns estilos literários de sua época, o que lhe proporcionou pontos positivos no livro. Graciliano, por exemplo, foi cauteloso nas tradicionais ingerências do narrador opiniático e evitou o protesto ou o panfletaríssimo (que poderia usar, como outros autores da época, para criticar os aspectos sociais de seu país), o que certos críticos caracterizam como um "estilo seco, reduzido ao mínimo de palavras"..

O livro figura entre os livros mais importantes da literatura brasileira, tendo ganhado, em 1962, o prêmio da Fundação William Faulkner (Estados Unidos) como livro representativo da Literatura Brasileira Contemporânea. Também conquistou um enorme público, tendo vendido até então mais de um milhão e meio de exemplares, enquanto, ocasionalmente, é leitura obrigatória em vestibulares da USP, da PUC, da UFBA e da UEPA. O cineasta Nelson Pereira dos Santos realizou uma bem-sucedida versão homônima de Vidas Secas em 1963, reforçando aspectos atuais do país.

Sobre o Livro:

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o que diz respeito à estrutura, o livro apresenta treze capítulos, dentre os quais alguns podem até ser lidos em outra ordem (romance desmontável), diferente da impressa no livro. Entretanto, alguns capítulos, como o primeiro, "mudança", e o último, "fuga", devem ser lidos nesta ordem. Esses dois capítulos reforçam a ideia de que toda a miséria que circunda os personagens de "Vidas Secas" representa um ciclo, em que, quando menos se espera, a situação se agrava e a família é obrigada a se retirar, repetidas e repetidas vezes.

A obra de Graciliano pode ser considerada um marco para a literatura brasileira, em especial o Modernismo Brasileiro, visto que há a implícita (e, em alguns casos, até explícita) crítica social a toda pobreza no sertão nordestino, que atinge uma boa parcela da população, e que, de fato, acaba por prejudicar todo o país, impedindo maiores desenvolvimentos. Há a tentativa, portanto, de se mostrar a desarticulação dessa região com o resto do país (um Brasil pobre dentro de todo o Brasil).

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Biografia do Autor:

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Graciliano Ramos nasceu no dia 27 de outubro de 1892, na cidade de Quebrangulo, sertão de Alagoas, filho primogênito dos dezesseis que teriam seus pais, Sebastião Ramos de Oliveira e Maria Amélia Ferro Ramos. Viveu sua infância nas cidades de Viçosa, Palmeira dos Índios (AL) e Buíque (PE), sob o regime das secas e das suas que lhe eram aplicadas por seu pai, o que o fez alimentar, desde cedo, a ideia de que todas as relações humanas são regidas pela violência. Em seu livro autobiográfico "Infância", assim se referia a seus pais: "Um homem sério, de testa larga (...), dentes fortes, queixo rijo, fala tremenda; uma senhora enfezada, agressiva, ranzinza (...), olhos maus que em momentos de cólera se inflamavam com um brilho de loucura".

Em 1894, a família muda-se para Buíque (PE), onde o escritor tem contato com as primeiras letras.

Em 1904, retornam ao Estado de Alagoas, indo morara em Viçosa. Lá, Graciliano cria um jornalzinho dedicado às crianças, o "Dilúculo". Posteriormente, redige o jornal "Echo Viçosense", que tinha entre seus redatores seu mentor intelectual, Mário Venâncio.

Em 1905 vai para Maceió, onde frequenta, por pouco tempo, o Colégio Quinze de Março, dirigido pelo professor Agnelo Marques Barbosa.

Com o suicídio de Mário Venâncio, em fevereiro de 1906, o "Echo" deixa de circular. Graciliano publica na revista carioca "O Malho" sonetos sob o pseudônimo de Feliciano de Olivença.

Em 1909, passa a colaborar com o "Jornal de Alagoas", de Maceió, publicando o soneto "Céptico" sob o pseudônimo de Almeida Cunha. Até 1913, nesse jornal, usa outros pseudônimos: S. de Almeida Cunha, Soares de Almeida Cunha e Lambda, este usado em trabalhos de prosa. Até 1915 colabora com "O Malho", usando alguns dos pseudônimos citados e o de Soeiro Lobato.

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Em 1910, responde a inquérito literário movido pelo Jornal de Alagoas, de Maceió. Em outubro, muda-se para Palmeira dos Índios, onde passa a residir.

Passa a colaborar com o "Correio de Maceió", em 1911, sob o pseudônimo de Soares Lobato.

Em 1914, embarca para o Rio de Janeiro (RJ) no vapor Itassuoê. Nesse ano e parte do ano seguinte, trabalha como revisor de provas tipográficas nos jornais cariocas "Correio da Manhã", "A Tarde" e "O Século". Colaborando com o "Jornal de Alagoas" e com o fluminense "Paraíba do Sul", sob as iniciais R.O. (Ramos de Oliveira). Volta a Palmeira dos Índios, em meados de 1915, onde trabalha como jornalista e comerciante. Casa-se com Maria Augusta Ramos.

Sua esposa falece em 1920, deixando quatro filhos menores.

Em 1927, é eleito prefeito da cidade de Palmeira dos Índios, cargo no qual é empossado em 1928. Ao escrever o seu primeiro relatório ao governador Álvaro Paes, “um resumo dos trabalhos realizados pela Prefeitura de Palmeira dos Índios em 1928”, publicado pela Imprensa Oficial de Alagoas em 1929, a verve do escritor se revela ao abordar assuntos rotineiros de uma administração municipal. No ano seguinte, 1930, volta o então prefeito Graciliano Ramos com um novo relatório ao governador que, ainda em nossos dias, não se pode ler sem um sorriso nos lábios, tal a forma sui generis em que é apresentado. Dois anos depois, renuncia ao cargo de prefeito e se muda para a cidade de Maceió, onde é nomeado diretor da Imprensa Oficial. Casa-se com Heloisa Medeiros. Colabora com jornais usando o pseudônimo de Lúcio Guedes.

Demite-se do cargo de diretor da Imprensa Oficial e volta a Palmeira dos Índios, onde funda urna escola no interior da sacristia da igreja Matriz e inicia os primeiros capítulos do romance São Bernardo.

O ano de 1933 marca o lançamento de seu primeiro livro, "Caetés", que já trazia consigo o pessimismo que marcou sua obra. Esse romance Graciliano vinha escrevendo desde 1925.

No ano seguinte, publica "São Bernardo". Falece seu pai, em Palmeira dos Índios.

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Em março de 1936, acusado — sem que a acusação fosse formalizada — de ter conspirado no malsucedido levante comunista de novembro de 1935, é demitido, preso em Maceió e enviado a Recife, onde é embarcado com destino ao Rio de Janeiro no navio "Manaus". com outros 115 presos. O país estava sob a ditadura de Vargas e do poderoso coronel Filinto Müller. No período em que esteve preso no Rio, até janeiro de 1937, passou pelo Pavilhão dos Primários da Casa de Detenção, pela Colônia Correcional de Dois Rios (na Ilha Grande), voltou à Casa de Detenção e, por fim, pela Sala da Capela de Correção. Seu livro "Angústia" é lançado no mês de agosto daquele ano. Esse romance é agraciado, nesse mesmo ano, com o prêmio "Lima Barreto", concedido pela "Revista Acadêmica".

Foi libertado e passou a trabalhar como copidesque em jornais do Rio de Janeiro, em 1937. Em maio, a "Revista Acadêmica" dedica-lhe uma edição especial, de número 27 - ano III, com treze artigos sobre o autor. Recebe o prêmio "Literatura Infantil", do Ministério da Educação", com "A terra dos meninos pelados."

Em 1938, publica seu famoso romance "Vidas secas". No ano seguinte é nomeado Inspetor Federal do Ensino Secundário no Rio de Janeiro.

Em 1940, frequenta assiduamente a sede da revista "Diretrizes", junto de Álvaro Moreira, Joel Silveira, José Lins do Rego e outros "conhecidos comunistas e elementos de esquerda", como consta de sua ficha na polícia política. Traduz "Memórias de um negro", do americano Booker T. Washington, publicado pela Editora Nacional, S. Paulo.

Publica uma série de crônicas sob o título "Quadros e Costumes do Nordeste" na revista "Política", do Rio de Janeiro.

Em 1942, recebe o prêmio "Felipe de Oliveira" pelo conjunto de sua obra, por ocasião do jantar comemorativo a seus 50 anos. O romance "Brandão entre o mar e o amor", escrito em parceria com Jorge Amado, José Lins do Rego, Aníbal Machado e Rachel de Queiroz é publicado pela Livraria Martins, S. Paulo.

Em 1943, falece sua mãe em Palmeira dos Índios.

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9- Haroldo de Campos - Galáxias

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Prosa ou poesia? Talvez "proesia", como já foi sugerido sobre esta obra de Haroldo de Campos (1929-2003). Ou, nas palavras do próprio autor, "audiovideotexto, videotexto game". Galáxias (1984) é de difícil classificação. Na literatura brasileira, constitui projeto único.

Trata-se de um conglomerado de palavras, referências e recursos barrocos, dispostos num longo encadeamento de imagens e significantes que deixam entrever alguns resquícios de narração. Não há pontuação ou letras maiúsculas. Também não há interrupções, exceto pelo branco da página, que se opõe ao que nela está registrado. A unidade temática, segundo o artista-acadêmico-tradutor, está somente na "viagem como livro e o livro como viagem". Para construí-la, ele transcendeu os valores do Concretismo que ajudou a erigir para impulsionar a convergência entre literatura nacional e universal. Diferentes línguas e influências atuam no e sobre o texto, arrancando dele a unidade cultural que costumeiramente cercearia suas liberdades. Resulta daí uma obra livre, na qual, segundo Paulo Leminski, caberia tudo.

Diferentemente dos poemas mais famosos do irmão, Augusto de Campos, este Galáxias é bem pouco conhecido entre o público não-especializado. Um dos motivos foi provavelmente a escassez de exemplares da primeira edição. Para alguns críticos, o desconhecimento se deve à monotonia e ao excesso de invencionemos. Polêmicas à parte, é inegável que Haroldo trouxe contribuições à literatura contemporânea brasileira

Resenha da Obra:

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Galáxias é um livro experimental escrito por Haroldo de Campos, um dos maiores nomes da Poesia concreta brasileira, entre os anos de 1963 e 1976, mas sendo integralmente publicado apenas em 19841 . Devido a seu caráter experimental, está no limite entre a prosa e a poesia , o que levou Caetano Veloso (amigo do poeta) a classificá-lo como poesia . Por um lado, apresenta uma escrita corrida e direta, característica da prosa (a obra não apresenta separação de parágrafos, nem nenhum elemento de pontuação, nem mesmo numeração de páginas), sendo, supostamente, um relato de viagens ; por outro, utiliza-se de recursos e imagens poéticas . Duas das grandes influências para este livro foram James Joyce e Guimarães Rosa. Seria, por sua vez, umas das grandes inspirações para o Catatau de Paulo Leminski.Trata-se de um livro pouco conhecido fora da crítica especializada e do meio literário. Isso se deve, em parte, ao baixo número de exemplares da primeira edição, por um lado ; e por outro, ao próprio caráter experimental do livro, que torna sua leitura não raras vezes difícil ou hermética . Mas o livro despertou o entusiasmo não só de artistas amigos do poeta, como os já mencionados Caetano Veloso e Paulo Leminski, bem como o de vários outros intelectuais. Mereceu, em 1966, grandes elogios de Guimarães Rosa , reconhecidamente um dos maiores escritores brasileiros e uma das grandes influências para este livro. Mereceu também elogios internacionais de Octavio Paz , poeta mexicano ganhar do Nobel de Literatura.

Sobre o Livro:

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Biografia do Autor:

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Haroldo Eurico Browne de Campos (São Paulo, 19 de agosto de 1929 — São Paulo, 16 de agosto de 20031 ) foi um poeta e tradutor brasileiro. Haroldo fez seus estudos secundários no Colégio São Bento, onde aprendeu os primeiros idiomas estrangeiros, como latim, inglês, espanhol e francês. Ingressou na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, no final da década de 1940, lançando seu primeiro livro em 1949, O Auto do Possesso quando, ao lado de Décio Pignatari, participava do Clube de Poesia.

Em 1952, Décio, Haroldo e seu irmão Augusto de Campos rompem com o Clube, por divergirem quanto ao conservadorismo predominante entre os poetas, conhecidos como "Geração de 45". Fundam, então, o grupo Noigandres, passando a publicar poemas na revista do grupo, de mesmo título. Nos anos seguintes defendeu as teses que levariam os três a inaugurar em 1956 o movimento concretista, ao qual manteve-se fiel até o ano de 1963, quando inaugura um trajeto particular, centrando-se suas atenções no projeto do livro-poema "Galáxias".

Haroldo doutorou-se pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, sob orientação de Antonio Candido, tendo sido professor da PUC-SP, bem como na Universidade do Texas, em Austin.

Haroldo dirigiu até o final de sua vida a coleção Signos da Editora Perspectiva. "Transcriou" em português poemas de autores como Homero, Dante, Mallarmé, Goethe, Mayakovski, além de textos bíblicos, como o Gênesis e o Eclesiastes. Publicou, ainda, numerosos ensaios de teoria literária, entre eles A Arte no Horizonte do Provável (1969).

Faleceu em São Paulo, tendo publicado, pouco antes, sua transcriação em português da Ilíada, de Homero.

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Obras

Xadrez de Estrelas (1976) Signância: Quase Céu (1979) Campos, Haroldo de. Galáxias. São Paulo: Editora 34, 1984. 127 p. ISBN

8573263008 (Acompanha CD no qual o poeta Haroldo de Campos grava 16 poemas do livro GALÁXIAS, acompanhado pela cítara de Alberto Marsicano - produzido por Arnaldo Antunes)

A Educação dos Cinco Sentidos (1985) Crisantempo (1998) A Máquina do Mundo Repensada (2001)

Prêmios e homenagens

Sua biografia foi incluída na Enciclopédia Britânica em 1997. Foi o ganhador do Prémio Octavio Paz de Poesía y Ensayo, no México, em 1999. Nesse mesmo ano, as Universidades de Yale e de Oxford organizaram conferências

sobre sua obra em comemoração de seus setenta anos. Foi vencedor do prêmio Jabuti em 1991, 1993, 1994, 1999 e 2002.

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10- Jorge de Lima – Invenção de Orfeu

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Considerado pelo colega Mário Faustino “o maior, o mais alto, o mais vasto, o mais importante, o mais original poeta brasileiro de todos os tempos", Jorge de Lima demostrou toda a sua ambição artística em Invenção de Orfeu (1952), onde, também segundo Faustino, estão “alguns dos mais altos e dos mais baixos momentos da língua poética luso-brasileira".

Invenção de Orfeu é inquestionavelmente obra de grande fôlego na poesia nacional contemporânea. Poema em dez cantos, compostos de metros variados, descreve uma viagem, como a de Dante na Divina Comédia, ao Inferno e ao Paraíso — mas une outras epopéias na sua composição, como Os Lusíadas, de Camões, além de elementos da Bíblia e da sociedade brasileira; tudo alinhavado pela presença de Orfeu, herói mitológico que encantava deuses e mortais com sua lira. Por isso, essa “biografia épica", como explicita o autor no subtítulo, também é definida por alguns por meio de uma contradição: “epopéia lírica" (a epopéia clássica constituindo a descrição de matéria objetiva, enquanto a lírica deriva da subjetividade). Manuel Bandeira, observando que se trata de um poema “de técnicas e faturas extremamente variadas", afirma que “seu sentido profundo ainda não foi devidamente esclarecido pela crítica e talvez não o seja nunca, pois é evidente haver nele grande carga de subconsciente a par de certas vivências puramente verbais. Como quer que seja, é obra poderosa, onde deparamos com fragmentos de alta beleza, que são em si pequenos poemas completos". Um exemplo: “A garupa da vaca era palustre e bela,/ uma penugem havia em seu queixo formoso;/ e na fronte lunada onde ardia uma estrela/ pairava um pensamento em constante repouso".

Resenha da Obra:

Page 70: Trabalho de língua portuguesa

A obra Invenção de Orfeu, última produção artística do poeta Jorge de Lima, apresenta uma singular paródia do clássico de Camões, Os Lusíadas. Mas não é apenas a influência do autor português que está presente neste livro; ela se soma a temáticas extraídas da Divina Comédia, de Dante.Assim sendo, é possível encontrar em Invenção de Orfeu referências constantes à jornada, à descoberta da ilha, às dimensões ocultas do ‘id’, que revelam a espessura da existência, os impulsos espontâneos, a Musa inspiradora, Orfeu, os círculos do Inferno e do Paraíso. Além disso, este livro expressa poeticamente a negritude e a religião do homem brasileiro, misto de europeu e africano, bem como todos os seus valores.

Todo este rico conteúdo está expresso nesta obra em fórmulas formais fixas, tais como sonetos, oitavas, rimas e sextinas, o que resulta em um estilo surreal permeado por preceitos barrocos, o qual destaca a importância da poesia enquanto arte de lavrar palavras. Assim concebida, esta obra demonstra a força da imagem, capaz de traduzir a ancestral cultura brasileira, impregnada da energia informe e disseminada das raças que a moldaram.

O autor transmite ao leitor, em Invenção de Orfeu, um clima mesclado de concepções católicas, visões oníricas e surrealistas. E desta forma elabora sua teodisséia, ou seja, sua viagem na direção do Divino, que expressa a procura essencial do ser humano, em incessante busca do apogeu espiritual.

Sobre o Livro:

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Jorge de Lima empreende este projeto ao narrar a história de um barão despojado de tudo que caracteriza a nobreza; neste estágio ele recorda a era gloriosa de sua existência, os feitos extraordinários, o assentamento de uma ilha que é o símbolo do Brasil, até beirar a eclosão do apocalipse.

A complexidade deste poema está em sua lapidação formal – dez cantos fracionados, versos rigidamente metrificados e perfeitamente rimados, intercalados a outros compostos no estilo do metro livre e do verso branco; todos estes ingredientes mesclados a sonetos, canções, baladas, formatos épicos e líricos, oitavas clássicas, tercetos e sextinas.

Este invólucro formal envolve referências à meninice, a fatos tecidos pelo imaginário surrealista, a rascunhos dramáticos e a uma dose de farsa. Desta forma o autor atualiza o gênero da epopéia, despojando-o de seu caráter folhetinesco e de qualquer vínculo com a dimensão espaço-temporal.

Este extenso poema é como uma colcha de retalhos que alia elementos de obras como a Divina Comédia, Eneida, Os Lusíadas, as Escrituras Sagradas e elementos da brasilidade. Após ficar indisponível por vinte anos, a obra deste alagoano foi finalmente reeditada pela Editora Record.

A sua leitura ainda é praticada por um grupo restrito, talvez, em parte, pela tradição realista da história literária brasileira que, além de exigir a presença de uma crítica social e de uma linguagem coloquial na poesia nacional, ainda exclui terminantemente a presença do sagrado neste gênero.

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Biografia do Autor:

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Jorge de Lima (1895-1953) foi poeta brasileiro. Fez parte do Segundo Tempo Modernista. É autor de vasta obra poética, que oscila entre o formalismo, o misticismo e as recordações da infância e a figura do negro.

Jorge de Lima (1895-1953) nasceu em União dos Palmares, Alagoas, no dia 23 de abril de 1893. Filho de senhor de engenho, mudou-se para Maceió, em 1902. Estudou no Colégio Diocesano de Alagoas. Com apenas 17 anos, escreveu o poema "Acendedor de Lampiões". Estuda Medicina no Rio de Janeiro. Em 1914 publica "XIV Versos Alexandrinos", que foi sua estréia no mundo literário. Em 1919, retorna a Maceió, onde exerce a profissão e dedica-se à política.

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A carreira poética de Jorge de Lima foi múltipla, iniciou-se no Movimento Parnasiano, e no final da década de 20 acercou-se de técnicas do Modernismo, em especial do verso livre. Reuniu as várias fases em seu poema, a epopeia barroco-surrealista "Invenção de Orfeu".

Jorge de Lima sintonizava-se com as proposições "regionalistas" de alguns intelectuais nordestinos, chefiados por Gilberto Freyre, daí a fase nordestina do poeta, caracterizada por uma produção literária focada na realidade existencial, cultural e histórica do povo do Nordeste. A valorização do misticismo nordestino o aproximou do catolicismo. Publica a biografia "Anchieta" e "O Anjo" e "Tempos de Eternidade". O autor explora também a cultura negra, em seus ritmos e costumes.

Jorge Matheos de Lima morre no Rio de Janeiro, no dia 15 de novembro de 1953.