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1
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
Daniela Caruso Pereira
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
(T.C.C)
CURITIBA
2010
3
Daniela Caruso Pereira
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
(T.C.C)
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do grau de Médico Veterinário.
Orientadora Acadêmica: Dra. Maria Aparecida de Alcântara
Orientadora Profissional: Dra. Gisalda Bortolotto.
CURITIBA
2010
4
TERMO DE APROVAÇÃO
Daniela Caruso Pereira
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
(T.C.C)
Este trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para a obtenção de título Médico Veterinário por uma banca examinadora do curso de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná.
Curitiba, 16 de junho de 2010.
____________________________________
Medicina Veterinária
Universidade Tuiuti do Paraná
Orientadores: Profª Drª Maria Aparecida de Alcântara
Universidade Tuiuti do Paraná
Profa. Dra. Elza Maria Galvão Ciffoni
Universidade Tuiuti do Paraná
Prof. Dr. Lourenço Rolando Malucelli Neto
Universidade Tuiuti do Paraná
5
Aos meus pais, Nilton e Luciana, minha
família e meu esposo, pelo apoio e pela
dedicação, a Ninna, Hully, Ranny e
Chambinho pela inspiração, motivação e
alegria.
DEDICO
6
“A nós seres humanos, Deus outorgou a proteção e a condução de nossos irmãos mais novos, os animais”. (Chico Xavier)
7
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus, por ter me dado o dom da vida e a
oportunidade de ajudar aqueles que exigem o mínimo de nós, os animais.
Agradeço imensamente aos meus pais Nilton e Luciana pela educação
que a mim foi dada, pelo meu crescimento como pessoa, pela dedicação, força,
pela paciência e por ter sempre acreditado no meu potencial.
Especialmente ao meu pai Nilton, por ter estado sempre ao meu lado antes
e depois da sua partida, que dedicou anos da sua vida tentando me oferecer
sempre o melhor, acreditando sempre que um dia eu iria realizar todos os meus
sonhos.
Ao meu esposo, que contribuiu para a realização deste trabalho, e que
esteve comigo sempre nos piores e melhores momentos, agradeço de todo meu
coração pelas noites sem dormir, e pela enorme paciência que a mim foi
dedicada, me ajudando sempre de todas as formas e acreditando sempre na
minha capacidade profissional.
Aos meus familiares e amigos, à minha tia Lúcia que colaborou com a
realização deste sonho, pela força, pelo apoio, sempre me incentivando a nunca
desistir.
Aos meus colegas de faculdade, agradeço pelo companheirismo e pelo
incentivo nestes longos anos.
8
Aos profissionais da S.O.S Clínica Veterinária pelo meu primeiro estágio
e também pelo estágio curricular, onde aprendi os ensinamentos básicos de um
ótimo profissional, oportunidade de vivenciar e a capacidade de amar os animais
acima de tudo e de qualquer circunstância.
Agradeço à Professora Doutora Maria Aparecida de Alcântara, pela
orientação e por me guiar nestes últimos caminhos da vida universitária e início
da vida profissinal.
Agradeço aos inúmeros professores e profissionais da área que passaram
por mim e que deixaram uma semente do conhecimento plantado em minha
vida.
Aos meus filhos de coração Ninna, Hully, Ranny e Chambinho que foram
as minhas inspirações durantes todos estes anos, e que me motivaram a lutar dia
a dia.
9
APRESENTAÇÃO
Este trabalho de Conclusão de Curso (T.C.C) é apresentado ao Curso de
Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da
Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do título
de Médico Veterinário. É composto de um Relatório de Estágio, no qual são
descritas as atividades realizadas por Daniela Caruso Pereira durante o período
de 18 de fevereiro a 12 de abril de 2010, na S.O.S Clínica Veterinária, localizada
no município de Curitiba, cumprindo estágio curricular.
10
RESUMO
O Estágio Curricular Supervisionado foi realizado na S.O.S Clínica
Veterinária na Avenida Comendador Franco, 3036 bairro Guabirotuba
município de Curitiba – Paraná. Com um total de 360 horas, teve início em 18
de fevereiro e término em 12 de abril de 2010, sob a supervisão profissional da
Médica Veterinária Dra. Gisalda Bortolotto (CRMV – PR 3917), proprietária e
diretora da clínica e sob a orientação acadêmica da Professora Dra. Maria
Aparecida de Alcântara.
As atividades realizadas abrangeram as áreas da Clínica Médica e
Cirúrgica de Pequenos Animais, Radiologia, Laboratório Clínica e como
complementar a área de Acupuntura. Durante o período de estágio
acompanhados os exames laboratoriais, de imagens e juntamente com o clínico,
observar como a vivência é importante para entender o paciente e o proprietário.
Duranteo período analisado, houve uma maior incidência em imunoprofilaxias,
seguida da tratamentos dermatológicos, e desverminações. Além disso, a
casuística maior foi na espécie canina que totalizou 84% dos casos. Para o relato
de casos clínicos foram escolhidas uma paciente que apresentou Babesiose e
outra com Demodicidose Juvenil Generalizada.
Palavras chave: babesiose canina, anemia hemolítica em cães,
demodicidose juvenil generalizada, ivermectina.
11
LISTA DE ABREVIATURAS
DAAP: Dermatite Alérgica a Picada de Pulga
DDIV: Doença do Disco Intervertebral
SID: uma vez ao dia
BID: duas vezes ao dia
TID: três vezes ao dia
µm: micrômetro ou mícron
mg: miligramas
Kg: kilograma
mg/kg: miligrama por kilo
ml: mililitro
CID: Coagulação Intravascular Disseminada
SSP: espécie
VCM: Volume Corpuscular Médio
CHCM: Concentração de hemoglobina Corpuscular Média
IFI: Imunofluorescência Indireta
PCR: Reação em Cadeia de Polimerase
SRD: sem raça definida
g: grama
dl: decilitro
VO: via oral
Dra: doutora
AVC: Acidente Vascular Cerebral
12
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - FREQUÊNCIA DE DISTRIBUIÇÃO DE
ATENDIMENTOS DURANTE O ESTÁGIO
REALIZADO NA S.O.S CLÍNICA VETERINÁRIA NO
PERÍODO DE 18 DE FEVEREIRO A 12 DE ABRIL DE
2010, SEGUNDO A ESPÉCIE E O
SEXO..................................................................................
31
QUADRO 2 - DISTRIBUIÇÃO DOS EXAMES
ELETROCARDIOGRÁFICOS, ULTRASSONOGRÁ -
FICOS E RADIOGRÁFICOS ACOMPANHADOS
DURANTE O ESTÁGIO REALIZADO NA S.O.S
CLÍNICA VETERINÁRIA NO PERÍODO DE 18 DE
FEVEREIRO A 12 DE ABRIL DE 2010, SEGUNDO A
ESPÉCIE E O SEXO..........................................................
32
QUADRO 3 - DISTRIBUIÇÃO DAS REGIÕES RADIOGRAFADAS
ACOMPANHADAS DURANTE O ESTÁGIO
REALIZADO NA S.O.S CLÍNICA VETERINÁRIA NO
PERÍODO DE 18 DE FEVEREIRO A 12 DE ABRIL DE
2010, SEGUNDO A ESPÉCIE E O SEXO........................
32
QUADRO 4 - INTERVENÇÕES CIRÚRGICAS ACOMPANHADAS
DURANTE O ESTÁGIO REALIZADO NA S.O.S
CLÍNICA VETERINÁRIA NO PERÍODO DE 18 DE
FEVEREIRO A 12 DE ABRIL DE 2010, SEGUNDO A
ESPÉCIE E O SEXO..........................................................
33
13
QUADRO 5 - TRATAMENTOS COM A ACUPUNTURA DURANTE
O ESTÁGIO REALIZADO NA S.O.S CLÍNICA
VETERINÁRIA NO PERÍODO DE 18 DE FEVEREIRO
A 12 DE ABRIL DE 2010, SEGUNDO A ESPÉCIE E O
SEXO..................................................................................
33
QUADRO 6 - ENFERMIDADES OBSERVADAS NO SISTEMA
REPRODUTOR FEMININO ACOMPANHADAS
DURANTE O ESTÁGIO REALIZADO NA S.O.S
CLÍNICA VETERINÁRIA NO PERÍODO DE 18 DE
FEVEREIRO A 12 DE ABRIL DE 2010, SEGUNDO A
ESPÉCIE E O SEXO..........................................................
34
QUADRO 7 - DOENÇAS DERMATOLÓGICAS ACOMPANHADAS
DURANTE O ESTÁGIO REALIZADO NA S.O.S
CLÍNICA VETERINÁRIA NO PERÍODO DE 18 DE
FEVEREIRO A 12 DE ABRIL DE 2010, SEGUNDO A
ESPÉCIE E O SEXO..........................................................
34
QUADRO 8 - ALTERAÇÕES GASTROINTESTINAIS
ACOMPANHADAS DURANTE O ESTÁGIO
REALIZADO NA S.O.S CLÍNICA VETERINÁRIA NO
PERÍODO DE 18 DE FEVEREIRO A 12 DE ABRIL DE
2010, SEGUNDO A ESPÉCIE E O SEXO........................
35
QUADRO 9 - ALTERAÇÕES NEUROLÓGICAS ACOMPANHADAS
DURANTE O ESTÁGIO REALIZADO NA S.O.S
CLÍNICA VETERINÁRIA NO PERÍODO DE 18 DE
FEVEREIRO A 12 DE ABRIL DE 2010, SEGUNDO A
ESPÉCIE E O SEXO..........................................................
35
14
QUADRO 10 - ALTERAÇÕES ODONTOLÓGICAS
ACOMPANHADOS DURANTE O ESTÁGIO
REALIZADO NA S.O.S CLÍNICA VETERINÁRIA NO
PERÍODO DE 18 DE FEVEREIRO A 12 DE ABRIL DE
2010, SEGUNDO A ESPÉCIE E O
SEXO.................................................................................
36
15
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - S.O.S. CLÍNICA VETERINÁRIA........................................ 22
FIGURA 2 - CONSULTÓRIO 1 DA S.O.S CLÍNICA
VETERINÁRIA.....................................................................
23
FIGURA 3 - CONSULTÓRIO 1 DA S.O.S CLÍNICA
VETERINÁRIA....................................................................
23
FIGURA 4 - CONSULTÓRIO 2 DA S.O.S CLÍNICA
VETERINÁRIA.....................................................................
24
FIGURA 5 - ÁREA DE RECEPÇÃO DA S.O.S CLÍNICA
VETERINÁRIA.....................................................................
24
FIGURA 6 - ÁREA DE RECEPÇÃO DA S.O.S CLÍNICA
VETERINÁRIA.....................................................................
25
FIGURA 7 - SALA PARA EXAMES RADIOGRÁFICOS DA S.O.S.
CLÍNICA VETERINÁRIA...................................................
25
FIGURA 8 - LABORATÓRIO CLÍNICO DA S.O.S CLÍNICA
VETERINÁRIA.....................................................................
26
FIGURA 9 - SALA DE CIRURGIA DA S.O.S CLÍNICA
VETERINÁRIA....................................................................
26
FIGURA 10 - SALA DE CIRURGIA DA S.O.S CLÍNICA
VETERINÁRIA....................................................................
27
FIGURA 11 - PERCENTUAL DE ATENDIMENTOS
ACOMPANHADOS DURANTE O ESTÁGIO
REALIZADO NA S.O.S CLÍNICA VETERINÁRIA NO
PERÍODO DE 18 DE FEVEREIRO A 12 DE ABRIL DE
2010.........................................................................................
30
FIGURA 12 - PERCENTUAIS DE ESPÉCIES E SEXOS
ACOMPANHADOS DURANTE O ESTÁGIO
REALIZADO NA S.O.S CLÍNICA VETERINÁRIA NO
PERÍODO DE 18 DE FEVEREIRO A 12 DE ABRIL DE
2010.........................................................................................
30
16
FIGURA 13 – Dermacentor reticulatus........................................................ 38
FIGURA 14 – Rhipicephalus sanguineus...................................................... 38
FIGURA 15 - Riphicephalus sanguineus MACHO...................................... 39
FIGURA 16 - Riphicephalus sanguineus FÊMEA........................................ 39
FIGURA 17 - FASES DE DESENVOLVIMENTO DO CARRAPATO..... 43
FIGURA 18- CICLO EVOLUTIVO DO Rhipicephalus
sanguineus...............................................................................
43
FIGURA19- OVODEPOSIÇÃO DE Rhipicephalus sanguineus................ 44
FIGURA 20 - ANISOCITOSE...................................................................... 47
FIGURA 21 – POLICROMATOFILIA.......................................................... 48
FIGURA 22 - CORPÚSCULO DE HOWELL – JOLLY.....................................................................................
48
FIGURA 23 - IMUNOFLUORESCENDIA INDIRETA (IFI)..................... 53
FIGURA 24 - TESTE DE ELISA (IMUNOENSAIO ENZIMÁTICO)....... 53
FIGURA 25 - PCR (REAÇÃO DE POLIMERASE EM CADEIA)............. 53
FIGURA 26 - PACIENTE MARIA PETÚNIA............................................. 56
FIGURA 27 - CARRAPATO EM REGIÃO DORSAL NA PACIENTE MARIA PETÚNIA.................................................................
57
FIGURA 28 - DISTRIBUIÇÃO DA DEMODICIDOSE
GENERALIZADA EM CÃO.................................................
64
FIGURA 29 - OVO DE Demodex canis........................................................ 65
FIGURA 30 - LARVA DE Demodex cani.................................................... 66
FIGURA 31 - NINFA DE Demodex canis.................................................... 66
FIGURA 32 - ADULTO DE Demodex canis............................................... 66
FIGURA 33 - PACIENTE WENDY.............................................................. 71
FIGURA 34 - ALOPECIA MULTI – FOCAL DIFUSA NA PACIENTE
WENDY...................................................................................
72
FIGURA 35 - ALOPECIA MULTI – FOCAL DIFUSA NA PACIENTE
WENDY...................................................................................
73
FIGURA 36 - ALOPECIA E CROSTAS MULTI – FOCAL E DIFUSA NA ORELHA DA PACIENTE WENDY
17
NA ORELHA DA PACIENTE WENDY............................... 73
FIGURA 37 - ALOPECIA MULTI-FOCAL DIFUSA E PÚSTULAS EM REGIÃO ABDOMINAL NA PACIENTE WENDY..............
74
FIGURA 38 - EXAME PARASITOLÓGICO DE RASPADO PROFUNDO POSITIVO PARA Demodex canis DA PACIENTE WENDY..............................................................
75
FIGURA 39 - PACIENTE WENDY DECORRIDOS 8 SEMANAS............. 78
18
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO............................................................................. 20 2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO................................. 22 2.1 CORPO CLÍNICO E FUNCIONÁRIOS........................................ 28 3 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS............................................. 29 4 DESCRIÇÃO DE CASOS CLÍNICOS........................................ 37 4.1 BABESIOSE.................................................................................... 37 4.1.1 Morfologia e Etiologia.................................................................... 39 4.1.2 Rhipicephalus sanguineus .............................................................. 40 4.1.3 Epidemiologia................................................................................. 41 4.1.4 Controle........................................................................................... 41 4.1.5 Transmissão e Ciclo Evolutivo....................................................... 41 4.1.6 Patogenia......................................................................................... 44 4.1.7 Aspectos Clínicos........................................................................... 45 4.1.8 Aspectos Hematológicos................................................................ 47 4.1.8.1 Anemia........................................................................................... 49 4.1.8.2 Anemia Hemolítica ou Regenerativa............................................. 49 4.1.9 Aspectos Bioquímicos e Renais..................................................... 50 4.1.10 Diagnóstico..................................................................................... 50 4.1.11 Diagnóstico Diferencial.................................................................. 54 4.1.12 Tratamento..................................................................................... 54 4.1.13 Prevenção e Profilaxia................................................................... 55 5 Caso Clínico.................................................................................... 56 5.1 Anamnese...................................................................................... 57 5.2 Exame Físico.................................................................................. 57 5.3 Exames Complementares............................................................... 58 5.4 Diagnóstico.................................................................................... 58 5.5 Tratamento..................................................................................... 58 5.6 Discussão do Caso Clínico............................................................. 60 6 DEMODICIDOSE JUVENIL GENERALIZADA...................... 62 6.1 Morfologia...................................................................................... 63 6.2 Patogenia e Transmissão............................................................... 63 6.3 Aspectos Clínicos........................................................................... 67 6.4 Diagnóstico..................................................................................... 68 6.5 Tratamento..................................................................................... 68 6.6 Prognóstico..................................................................................... 70 7 Caso Clínico.................................................................................... 71 7.1 Anamnese....................................................................................... 72 7.2 Exame Físico.................................................................................. 72 7.3 Exames Complementares............................................................... 74 7.4 Diagnóstico..................................................................................... 75 7.5 Tratamento...................................................................................... 75 7.6 Discussão do Caso Clínico.............................................................. 76 8 CONCLUSÃO............................................................................... 79
19
10 REFERÊNCIAS........................................................................... 82 ANEXO 1...................................................................................... 80 ANEXO 2............................................................................... 81
20
1 INTRODUÇÃO
O relatório apresentado refere-se ao estágio curricular realizado na S.O.S
Clínica Veterinária na Cidade de Curitiba, no período de 18 de fevereiro a 12 de abril
de 2010. O estágio foi realizado no setor de Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos
Animais, onde foi possível aplicar na prática conhecimentos adquiridos durante o
curso de Medicina Veterinária, juntamente com o acompanhamento de profissionais.
A S.O.S Clínica Veterinária está situada na Avenida Comendador Franco,
número 3036, bairro Guabirotuba, em Curitiba, Paraná.
As consultas são realizadas de segunda a sábado das 08:30 às 20:00 hs, e de
domingo das 09:00 às 19:00 hs, com o clínico plantonista, além de atendimentos em
domícílio.
Inicialmente, as recepcionistas recebem os pacientes e seus responsáveis,
encaminhando-os aos consultórios. Durante as consultas o acadêmico do curso de
Medicina Veterinária pode acompanhar os procedimentos, auxiliando quando
necessário; também tem a possibilidade de acompanhar e auxiliar nos exames
radiográficos, ultrassonográficos, assim como nas colheitas de material e na
medicação de pacientes internados.
O estágio teve a duração de 360 horas, sob a orientação profissional da Dra.
Gisalda Bortolotto (CRMV – PR 3917) e a orientação acadêmica da Professora Dra.
Maria Aparecida de Alcântara, o que permitiu aprender acrescentando no meu
desenvolvimento profissional.
21
No presente trabalho estão descritas as atividades desenvolvidas na clínica
durante o período de estágio, os casos clínicos acompanhados, e dois relatos de casos,
cujos temas são Babesiose e Demodicidose Juvenil Generalizada.
22
2 DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO
A S.O.S Clínica Veterinária (FIGURA 1), encontra-se na Avenida Comendador
Franco 3036, bairro Guabirotuba, no município de Curitiba – Paraná.
FIGURA 1 – S.O.S CLÍNICA VETERINÁRIA,2010
A S.O.S Clínica Veterinária foi fundada em 3 de julho de 1995, com um
conceito em oferecer sempre o que há de melhor na qualidade de vida dos pequenos
animais.
É composta por 3 consultórios podendo 2 deles serem visualizados nas
FIGURAS 2, 3 e 4; ala de internamento; área de recepção FIGURAS 5 e 6, sala para
exames radiográficos FIGURA 7, laboratório clínico FIGURA 8, sala de cirurgia
FIGURAS 9 e 10 e farmácia. Ainda possui área para banho e tosa, cozinha, uma área
administrativa e financeira. A S.O.S Clínica Veterinária também possui um veículo
para os atendimentos a domícilio.
23
FIGURA 2 – CONSULTÓRIO 1 DA S.O.S CLÍNICA VETERINÁRIA, 2010
FIGURA 3 – CONSULTÓRIO 1 DA S.O.S CLÍNICA VETERINÁRIA, 2010
24
FIGURA 4 – CONSULTÓRIO 2 DA S.O.S CLÍNICA VETERINÁRIA, 2010
FIGURA 5 – ÁREA DE RECEPÇÃO DA S.O.S CLÍNICA VETERINÁRIA, 2010
25
FIGURA 6 – ÁREA DE RECEPÇÃO DA S.O.S CLÍNICA VETERINÁRIA, 2010
FIGURA 7 – SALA PARA EXAMES RADIOGRÁFICOS DA S.O.S CLÍNICA
VETERINÁRIA, 2010
26
FIGURA 8 -LABORATÓRIO CLÍNICO DA S.O.S CLÍNICA VETERINÁRIA, 2010
FIGURA 9 – SALA DE CIRURGIA DA S.O.S CLÍNICA VETERINÁRIA, 2010
28
2.1 CORPO CLÍNICO E FUNCIONÁRIOS
O quadro de funcionários da S.O.S Clínica Veterinária é composto por 6
Médicos Veterinários, sendo 4 clínicos e 2 cirurgiões.
Do corpo clínico destaca-se especialistas em dermatologia, odontologia e
acupunturista. Dentre os cirurgiões encontra-se um especialista em ortopedia. A
anestesista não integra o corpo clínico, sendo contratada para os procedimentos
cirúrgicos. A Clínica ainda conta com uma estagiária remunerada que acompanha a
rotina.
Dentre os funcionários destacam-se duas recepcionistas, a responsável pela
limpeza e três funcionários responsáveis pelo banho e tosa.
29
3 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
Durante o estágio curricular foram acompanhados atendimentos clínicos em
diversas especialidades como, dermatologia, ortopedia, odontologia, neurologia,
acupuntura, anestesiologia, colheita de material para exames complementares e de
biópsia, acompanhamentos em procedimentos cirúrgicos, diagnóstico por imagem
como, radiografias e ultrassonografias, além da realização de prescrições médicas e
acompanhamento de pacientes internados e seus prognósticos, junto ao responsável
clínico (FIGURA 11). Durante o período de estágio foram atendidos 46% de cães
fêmeas seguido de 38% de cães machos (FIGURA 12).
Os atendimentos clínicos acompanhados, podem ser observados no quadro 1,
distribuídos de acordo com a espécie e sexo.
30
FIGURA 11 - PERCENTUAL DE ATENDIMENTOS ACOMPANHADOS
DURANTE O ESTÁGIO REALIZADO NA S.O.S CLÍNICA VETERINÁRIA NO
PERÍODO DE 18 DE FEVEREIRO A 12 DE ABRIL DE 2010
4%4,00%
24%
18%
2%
6,00%
25%
5,70%
2% 9,00% Acupuntura
Alterações Reprodutivas
Dermatologia
Derverminação
Eutanásia
Gastroenterologia
Imunoprofilaxia
Neurologia
Odontologia
Ortopedia
FIGURA 12 - PERCENTUAIS DE ESPÉCIES E SEXOS ACOMPANHADOS
DURANTE O ESTÁGIO REALIZADO NA S.O.S CLÍNICA VETERINÁRIA NO
PERÍODO DE 18 DE FEVEREIRO A 12 DE ABRIL DE 2010.
38%
46%
9,20% 6,70%
Cães Machos
Cães Fêmeas
Felinos Machos
Felinos Fêmeas
31
QUADRO 1 – FREQUÊNCIA DE DISTRIBUIÇÃO DE ATENDIMENTOS DURANTE O ESTÁGIO REALIZADO NA S.O.S CLÍNICA VETERINÁRIA NO PERÍODO DE 18 DE FEVEREIRO A 12 DE ABRIL DE 2010, SEGUNDO A ESPÉCIE E O SEXO
ESPÉCIES
CANINA FELINA M F M F
PROCEDIMENTOS CLÍNICOS
N (%) N (%) N (%) N (%)
TOTAL N (%)
Acupuntura 6 (6,5%) 2 (2%) 1 (4,5%) 1 (6%) 10 (4,3%) Alterações do aparelho reprodutor feminino
- - 9 (9%) - - - - 9 (4%)
Dermatologia 29 (31%) 22 (22%) 3 (13%) 2 (12%) 56 (24%) Desverminação 16 (17%) 14 (14%) 8 (36%) 4 (25%) 42 (18%) Eutanásia 2 (2%) 1 (1%) - - 1 (6%) 4 (1,7%) Gastroenterologia 6 (6,5%) 8 (8%) - - - - 14 (6%) Imunoprofilaxia 17 (18%) 23 (23%) 10 (45%) 7 (44%) 57 (25%) Neurologia 3 (3,2%) 9 (9%) - - 1 (6%) 13 (5,7%) Odontologia 1 (1%) 3 (3%) - - - - 4 (1,7%) Ortopedia 13 (14%) 8 (8%) - - - - 21 (9%) TOTAL 93 (100%) 99 (100%) 22 (100%) 16 (100%) 230 (100%)
Durante o período de estágio curricular observou – se uma incidência maior em
imunoprofilaxias sendo utilizadas vacinas Rabisin ®(anti rábica), Vanguard
®HTLP5/CV-L (cepas da parvovirose, cinomose, adenovirus, parainfluenza,
coronavirose e leptospirose canina), BronchiGuard® (Bordetella bronchiseptica),
Felocell ® CVR (calicivirose, rinotraqueíte e panleucopenia dos felinos).
32
QUADRO 2 - DISTRIBUIÇÃO DOS EXAMES ELETROCARDIOGRÁFICOS, ULTRASSONOGRÁFICOS E RADIOGRÁFICOS ACOMPANHADOS DURANTE O ESTÁGIO REALIZADO NA S.O.S CLÍNICA VETERINÁRIA NO PERÍODO DE 18 DE FEVEREIRO A 12 DE ABRIL DE 2010, SEGUNDO A ESPÉCIE E O SEXO
ESPÉCIES
CANINA FELINA M F M F
EXAMES N (%) N (%) N (%) N (%)
TOTAL N (%)
Eletrocardiogramas 1 (5%) 1 (7%) - - - - 2 (5.5%) Radiografias 10 (60%) 12 (71%) 1 (50%) - - 23 (62%) Ultrassonografias 7 (35%) 3 (21%) 1 (50%) 1 (100%) 12 (32%) TOTAL 20 (100%) 14 (100%) 2 (100%) 1 (100%) 37 (100%)
Nota-se que houve uma predominância nas radiografias totalizando 62% dos
atendimentos, seguido das ultrassonografias.
QUADRO 3 - DISTRIBUIÇÃO DAS REGIÕES RADIOGRAFADAS ACOMPANHADAS DURANTE O ESTÁGIO REALIZADO NA S.O.S CLÍNICA VETERINÁRIA NO PERÍODO DE 18 DE FEVEREIRO A 12 DE ABRIL DE 2010, SEGUNDO A ESPÉCIE E O SEXO
ESPÉCIES
CANINA FELINA M F M F
RADIOGRAFIAS
N (%) N (%) N (%) N (%)
TOTAL N (%)
Contrastada de Esôfago
1 (10%) 1 (8%) - - - - 2 (8%)
Crânio - - 1 (8%) - - - - 1 (4,5%) Gestacional - - 1 (8%) - - - - 1 (4,5%) Membros Pélvicos 4 (40%) 3 (25%) - - - - 7 (30%) Pelve 1 (10%) 2 (16%) - - - - 3 (13%) Rádio e ulna 3 (30%) 2 (16%) - - - - 5 (21%) Torácicas 1 (10%) 2 (16%) 1 (100%) - - 4 (17%) TOTAL 10 (100%) 12 (100%) 1 (100%) - (100%) 23 (100%)
Segundo o quadro 3, observa-se um incidência nas radiografias de membros
pélvicos, seguido dos exames de radio e ulna, ambos decorrentes a traumas, segundo
relato de responsáveis.
33
Conforme observado no quadro 4 nota-se que dentre as intervenções cirúrgicas,
há uma maior prevalência da ovariosalpingohisterectomia, onde se incluem as eletivas
e ás relacionadas a piometra e hemometra.
QUADRO 4 – INTERVENÇÕES CIRÚRGICAS ACOMPANHADAS DURANTE O ESTÁGIO REALIZADO NA S.O.S CLÍNICA VETERINÁRIA NO PERÍODO DE 18 DE FEVEREIRO A 12 DE ABRIL DE 2010, SEGUNDO A ESPÉCIE E O SEXO
ESPÉCIES
CANINA FELINA M F M F
INTERVENÇÕES CIRÚRGICAS N (%) N (%) N (%) N (%)
TOTAL N (%)
Exérese da cabeça do fêmur
2 (15%) - - - - - - 2 (5%)
Osteossíntese de fratura de rádio e ulna
7 (54%) 5 (20%) - - - - 12 (30%)
Osteotomia corretiva 2 (15%) 2 (8%) - - - - 4 (10%)
Ovariosalpingohisterec- tomia
- - 17 (68%) - - 1 (100%) 18 (46%)
Trocleoplastia 2 (15%) 1 (4%) - - - - 3 (7,7%) TOTAL 13 (100%) 25 (100%) - (100%) 1 (100%) 39 (100%)
QUADRO 5 – TRATAMENTOS COM A ACUPUNTURA DURANTE O ESTÁGIO REALIZADO NA S.O.S CLÍNICA VETERINÁRIA NO PERÍODO DE 18 DE FEVEREIRO A 12 DE ABRIL DE 2010, SEGUNDO A ESPÉCIE E O SEXO
ESPÉCIES
CANINA FELINA M F M F
DOENÇAS
N (%) N (%) N (%) N (%)
TOTAL N (%)
AVC - - 1 (33%) - - - - 1 (10%) DDIV 2 (40%) 1 (33%) 1 (100%) 1 (100%) 5 (50%) Espondilose deformante
2 (40%) - - - - - - 2 (20%)
Osteofitose 1 (20%) 1 (33%) - - - - 2 (20%) TOTAL 5 (100%) 3 (100%) 1 (100%) 1 (100%) 10 (100%)
34
QUADRO 6 – ENFERMIDADES OBSERVADAS NO SISTEMA REPRODUTOR FEMININO ACOMPANHADAS DURANTE O ESTÁGIO REALIZADO NA S.O.S CLÍNICA VETERINÁRIA NO PERÍODO DE 18 DE FEVEREIRO A 12 DE ABRIL DE 2010, SEGUNDO A ESPÉCIE E O SEXO
ESPÉCIES
CANINA FELINA M F M F
ENFERMIDADES
N (%) N (%) N (%) N (%)
TOTAL N (%)
Nódulos mamários - - 3 (33%) - - - - 3 (33%) Piometra e Hemometra
- - 3 (33%) - - - - 3 (33%)
Pseudociese - - 3 (33%) - - - - 3 (33%) TOTAL - (100%) 9 (100%) - (100%) - (100%) 9 (100%)
QUADRO 7 – DOENÇAS DERMATOLÓGICAS ACOMPANHADAS DURANTE O ESTÁGIO REALIZADO NA S.O.S CLÍNICA VETERINÁRIA NO PERÍODO DE 18 DE FEVEREIRO A 12 DE ABRIL DE 2010, SEGUNDO A ESPÉCIE E O SEXO
ESPÉCIES
CANINA FELINA M F M F
DOENÇAS DERMATOLÓGICAS
N (%) N (%) N (%) N (%)
TOTAL N (%)
Adenite Seborreica - - 1 (4.5%) - - - - 1 (1,7%) Atopia 7 (24%) 5 (22%) - - - - 12 (21%) DAAP 3 (10%) 4 (18%) - - - - 7 (12,5%) Demodicidose 3 (10%) 3 (13%) - - - - 6 (10%) Dermatite piotraumática
3 (10%) 1 (4,5%) - - - - 4 (7%)
Dermatite por malassezia
2 (6,8%) 1 (4,5%) - - - - 3 (5,3%)
Dermatofitose 2 (6,8%) 3 (13%) - - - - 5 (9%) Intertrigo 1 (3%) - - - - - - 1 (1,7%) Miíase 3 (10%) 1 (4,5%) - - - - 4 (7%) Otite externa 5 (17%) 3 (13%) 3 (100%) 2 (100%) 13 (23%) TOTAL 29 (100%) 22 (100%) 3 (100%) 2 (100%) 56 (100%)
Conforme observado no quadro 7, há uma maior predominância dos
atendimentos dermatológicos em machos da espécie canina, onde as otites externas
aparecem em maior incidência, sendo causadas pela Otodectes cynotis e seguida pela
35
Demodex canis. Notou-se também que a atopia apresenta-se com uma prevalência
relativamente alta, sendo diagnosticada em sua maioria como atopia pela picada da
pulga, e em outros casos como hipersensibilidade alimentar.
Com relação as alterações gastrointestinais como nota-se no quadro 8, as mais
observadas foram as gastroenterites, dentre elas, as verminóticas e as hemorrágicas.
QUADRO 8 – ALTERAÇÕES GASTROINTESTINAIS ACOMPANHADAS DURANTE O ESTÁGIO REALIZADO NA S.O.S CLÍNICA VETERINÁRIA NO PERÍODO DE 18 DE FEVEREIRO A 12 DE ABRIL DE 2010, SEGUNDO A ESPÉCIE E O SEXO.
ESPÉCIES
CANINA FELINA M F M F
ALTERAÇÕES GASTROINTESTINAIS
N (%) N (%) N (%) N (%)
TOTAL N (%)
Enterite 2 (33%) 1 (12,5%) - - - - 3 (21%) Gastroenterite 3 (50%) 7 (87,5%) - - - - 10 (71%) Intoxicação alimentar
1 (16%) - - - - - - 1 (7%)
TOTAL 6 (100%) 8 (100%) - (100%) - (100%) 14 (100%)
QUADRO 9 - ALTERAÇÕES NEUROLÓGICAS ACOMPANHADAS DURANTE O ESTÁGIO REALIZADO NA S.O.S CLÍNICA VETERINÁRIA NO PERÍODO DE 18 DE FEVEREIRO A 12 DE ABRIL DE 2010.
ESPÉCIES
CANINA FELINA M F M F
ALTERAÇÕES NEUROLÓGICAS
N (%) N (%) N (%) N (%)
TOTAL N (%)
DDIV 1 (33%) 5 (55%) - - - - 6 (46%) Espondilose deformante
- - 3 (33%) - - - - 3 (23%)
Osteofitose 1 (33%) 1 (11%) - - - - 2 (15%) Síndrome vestibular central
1 (33%) - - - - 1 (100%) 2 (15%)
TOTAL 3 (100%) 9 (100%) - (100%) 1 (100%) 13 (100%)
36
Com relação aos atendimentos neurológicos observados (QUADRO 9), nota-se
que a doença do disco intervertebral foi a mais freqüente totalizando 46%, seguida dos
quadros de espondilose, osteofitose e síndrome vestibular central.
QUADRO 10 – ALTERAÇÕES ODONTOLÓGICAS ACOMPANHADOS DURANTE O ESTÁGIO REALIZADO NA S.O.S CLÍNICA VETERINÁRIA NO PERÍODO DE 18 DE FEVEREIRO A 12 DE ABRIL DE 2010.
ESPÉCIES
CANINA FELINA M F M F
ALTERAÇÕES ODONTOLÓGICAS
N (%) N (%) N (%) N (%)
TOTAL N (%)
Fístula oro - nasal - - 1 (33%) - - - - 1 (25%) Tratamento periodontal 1 (100%) 2 (66%) - - - - 3 (75%) TOTAL 1 (100%) 3 (100%) - (100%) - (100%) 4 (100%)
37
4 DESCRIÇÃO DOS CASOS CLÍNICOS
4.1 BABESIOSE
A Babesiose é uma moléstia de significado mundial, causada por parasitos
hematozoários, pertencentes ao gênero Babesia, veiculados por carrapatos. O cão é o
hospedeiro mais importante para as babesias, já o gato é infectado com muito menos
frequência (ETTINGER e FELDMAN, 1995).
A Babesia canis foi descrita pela primeira vez por Piana e Galli – Valerio em
1895, na Itália. Os sintomas associados ao parasito incluíam anemia, febre e icterícia.
Segundo Almosny (2002), existem três subespécies de babesia que variam em função
do vetor, patogenicidade e localização geográfica.
Para Urquhart (1996) as Babesias são parasitos intra-eritrocitários de animais
domésticos e são a causa de anemia e hemoglobinúria.
Dentre as inúmeras espécies de babesia, apenas duas atingem os cães, a B. canis
e a B. gibsoni. Atualmente admite-se três subespécies da Babesia canis, onde a
Babesia canis canis, quando a transmissão se dá pelo Dermacentor reticulatus
(FIGURA 13); Babesia canis vogeli, quando a transmissão se dá pelo Riphicephalus
sanguineus (FIGURA 14); e a Babesia canis rossi, quando a transmissão se dá pelo
Haemphysalis leachi, sendo esta a mais patogênica, porém encontrada no Sul da
África (ALMOSNY, 2002)
38
FIGURA 13 – Dermacentor reticulatus
Font
e: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Dermacentor_reticulatus
FIGURA 14 – Rhipicephalus sanguineus
Fonte: http://www.cdc.gov/EID/content/14/9/1360.htm
O período de incubação da Babesia canis varia de 10 a 20 dias. O micro
organismo se replica intracelularmente nos eritrócitos resultando em anemia
intravascular hemolítica (NELSON e COUTO, 2006).
39
4.1.1 – Morfologia e Etiologia
A família Ixodidae é a mais importante com relação a babesiose, cujos
membros são frequentemente denominados “carrapatos duros”, por causa da presença
de um rígido escudo quitinoso que cobre toda a superfície dorsal do macho adulto
(FIGURA 15); na fêmea adulta, na larva e na ninfa, ele se estende apenas por uma
pequena área, permitindo a dilatação do abdômen depois da alimentação (FIGURA 16)
(URQUHART, 1996).
FIGURA 15 – Riphicephalus sanguineus MACHO
Fonte: www.telmeds.org
FIGURA 16 - Riphicephalus sanguineus FÊMEA
Fonte: www.telmeds.org
40
Existem dois tipos de Babesia, a B. canis que é uma grande Babesia medindo
de 4 a 7µm, e a B. gibsoni que é uma pequena Babesia medindo de 2 a 5µm (BARR e
BOWMAN, 2010). As grandes babesias se apresentam em formas piriformes,
predominam parasitos redondos, ovais, alongados ou amebóides (ALMOSNY, 2002).
Os organismos ficam isoladamente ou em pares dentro dos eritrócitos
(URQUHART, 1996).
4.1.2 Rhipicephalus Sanguineus
O carrapato Rhipicephalus sanguineus tem hábitos nidícolas, termo de origem
latina que significa nidi (nidus = ninho); cola (cola = que habita). Quando não estão
parasitando o hospedeiro, estes carrapatos estão sob a forma de vida livre, escondidos
nas frestas e buracos das tocas (LABRUNA e PEREIRA, 2001).
Para (URQUHART, 1996), os Rhipicephalus sanguineus são carrapatos não
ornamentados, com olhos e festões presentes. A espécie mais comum de três
hospedeiros é o Rhipicephalus sanguineus que tem a distribuição mais disseminada,
sendo encontrada em todo o hemisfério sul. Fundamentalmente parasitos de cães, e é
denominada como “ carrapato castanho do cão ou do canil” e é responsável pela
transmissão da Babesia canis e da Erlichia canis. (URQUHART, 1996).
41
4.1.3 Epidemiologia
Os diversos gêneros de carrapatos têm diferentes limiares de temperatura e
umidade dentro dos quais são ativos e se nutrem, sendo a sua distribuição regidas por
estes limiares. De modo geral, os carrapatos são mais ativos durante a estação quente,
desde que as chuvas sejam suficientes, mas em algumas espécies os estágios larvais e
ninfas também são ativos em clima mais ameno, e isto afeta a duração e a escolha da
época dos programas de controle (URQUHART, 1996).
4.1.4 Controle
Segundo URQUHART, 1996 vários fatores influenciam para o controle dos
carrapatos, como, a atividade sazonal e a duração da alimentação da espécie do
carrapato em questão, a importância das doenças que transmitem e o efeito residual e a
toxicidade do acaricida para o hospedeiro. Outro fator importante, é que o controle do
carrapato de um hospedeiro é mais fácil, pois o ciclo evolutivo ocorre no mesmo
hospedeiro, o que já não acontece no Rhipicephalus sanguineus que é considerado um
carrapato de três hospedeiros (URQUHART, 1996).
4.1.5 Transmissão e Ciclo Evolutivo
A transmissão da Babesia se dá pela inoculação de esporozoítos que é a forma
infectante. Na grande maioria dos casos ocorre a transmissão transovariana, onde a
fêmea infectada e ingurgitada (FIGURA 19) transmite o parasito para a sua prole,
42
conhecida como transmissão vertical, sendo importante quando o vetor é um carrapato
de três hospedeiros. Durante o ciclo evolutivo (FIGURA 18), a fêmea ingurgitada é
infectada, deixa o hospedeiro e no chão deposita os ovos, onde eclodem e se
transformam em larvas. As larvas migram para um segundo hospedeiro, se alimentam
de sangue e voltam ao chão onde se transformam em ninfa. As ninfas migram
novamente para um terceiro hospedeiro onde se alimentarão de sangue, no chão elas se
transformam em um carrapato adulto, onde migrará pela terceira e última vez no
hospedeiro, concluindo o ciclo. As larvas que nascem infectadas, ao mudarem para
ninfas e depois adultos, carregam a Babesia, transmitindo-a (FIGURA 17)
(ALMOSNY, 2002).
É interessante observar que, ao final de um repasto sanguíneo, os carrapatos
nidícolas tendem a se desprender do hospedeiro, quando este se encontra no interior da
toca ou do abrigo, a fim de garantir o ciclo nidícola naquele ambiente, de forma a que
o estágio subseqüente do parasita não tenha dificuldade de encontrar o hospedeiro. As
principais áreas do corpo que o Rhipicephalus sanguineus parasita são a cabeça, o
pescoço, o dorso, as orelhas e os espaços interdigitais (LABRUNA e PEREIRA,
2001).
43
FIGURA 17 – FASES DE DESENVOLVIMENTO DO CARRAPATO
Fonte: www bayer.com.br
FIGURA 18 – CICLO EVOLUTIVO DO Rhipicephalus sanguineus
Fonte: www.universipet.com
44
FIGURA 19 – OVODEPOSIÇÃO DE Rhipicephalus sanguineus
4.1.6 - Patogenia
Durante o repasto sanguíneo no cão, o carrapato pode transmitir o parasita por
meio da saliva infectante, sendo necessário um período médio de três dias para que
isso ocorra. Um a dois dias após a inoculação do agente, ocorre no hospedeiro canino
a parasitemia inicial com cerca de quatro dias de duração, havendo novo pico de dez a
quatorze dias depois (BRANDÃO e HAGIWARA, 2002).
A patogenia da babesiose está relacionada com a ação hemolítica intra e
extravascular, variando com a espécie de Babesia, com a dose infectante, com a
imunidade e idade do hospedeiro (ALMOSNY, 2002). Para Urquhart (1996) os
parasitas que se dividem rapidamente nos eritrócitos produzem rápida destruição
destas células, apresentando hemoglobinemia, hemoglobinúria e febre, este quadro
pode ser tão agudo a ponto de causar morte em poucos dias, durante os quais o
volume globular cai para menos de 20%.
45
O aumento da destruição de hemácia intravascular, leva a uma sobrecarga
hepática, surgindo icterícia. Ocorre congestão hepática e esplênica, com conseqüente
aumento do baço e fígado (ALMOSNY, 2002).
Podem ocorrer manifestações do sistema nervoso central como, convulsões,
astenia e ataxia. Acredita-se que as manifestações neurológicas sejam causadas pela
sedimentação dos eritrócitos parasitados no interior dos capilares do sistema nervoso
central (ETTINGER e FELDMAN, 1995).
Ascite, sinais gastrintestinais, doença do S.N.C, edema e evidência clínica de
doença cardiopulmonar ocorre em alguns caninos com infecção atípica (NELSON e
COUTO, 2006).
4.1.7 – Aspectos Clínicos
As manifestações variam de doenças subclínicas até a doença hiperaguda, onde
segundo Almosny (2002) os cães mais jovens com idade inferior a quatro semanas,
irão apresentar com maior frequência a forma hiperaguda da doença. Nessa forma é
comum ocorrer anemia intensa, hemoglobinúria, icterícia e febre (ALMOSNY, 2002).
Para Ettinger e Feldman (1995,) pode ocorrer morte em seguida a menos de um dia de
anorexia e letargia, podendo também ser observada hematúria.
Para Brandão e Hagiwara (2002), as manifestações clínicas da babesiose são
classificadas como complicadas e não complicadas na dependência do
46
comprometimento sistêmico do animal, que está diretamente relacionado à intensidade
da parasitemia e da hemólise.
A fase aguda é caracterizada por anemia hemolítica, trombocitopenia e
esplenomegalia, além de anorexia, letargia e vômito que também podem ser
observados (ETTINGER e FELDMAN, 1995).
Casos complicados de babesiose canina podem levar a acidose, coagulação
intravascular disseminada (CID) e pancreatite aguda e como afirma Brandão e
Hagiwara (2002) podem ser observados intensa crise hemolítica ocasionada pelo
parasita e da liberação sistêmica de fatores inflamatórios que levam ao choque
hipovolêmico e insuficiência renal aguda. Muitos cães que se infectam apresentam
apatia e febre, recuperam-se rapidamente e tornam-se portadores do parasita,
entretanto, animais portadores podem adoecer quando são submetidos a stress intenso
como, por exemplo, doenças concomitantes (ALMOSNY, 2002), ou como relatou
Ettinger e Feldman (1995) se forem administrados corticosteróides.
Segundo Ettinger e Feldman (1995) muitas das manifestações atípicas podem
ter causa similar. Infecções duplas por Babesia spp e Erlichia canis provavelmente
contribuem para a diversidade dos sinais clínicos.
Apesar da anemia hemolítica auto – imune ser a característica principal,
variações severas da doença e complicações podem ocorrer, tais como: insuficiência
renal aguda, sinais neurológicos, coagulopatias, hepatopatia, hemoconcentração,
hipotensão e síndrome de angústia respiratória ou como relatou Brandão e Hagiwara
(2002) alterações digestivas, emese e edema de membros. O desenvolvimento das
47
alterações renais pode ocorrer devido a deposição de imuno – complexos devido à
presença do hemoparasita (CAVALCANTE et al, 2006).
4.1.8 Aspectos Hematológicos
O achado mais consistente é a anemia hemolítica, do tipo regenerativa, com
presença de reticulócitos, anisocitose (FIGURA 20) e policromatofilia (FIGURA 21),
presença de Corpúsculo de Howell – Jolly (FIGURA 22), trombocitopenia, a
trombocitose é um achado também bastante freqüente na babesiose canina, porém, na
maioria das vezes é branda, não sendo suficiente para desencadear fenômenos
hemorrágicos (ALMOSNY, 2002).
FIGURA 20 – ANISOCITOSE
Fonte:http://www.webartigos.com/articles/PRINCIPAIS-ALTERAÇÕES MORFOLÓGICAS-NAS-CELULAS-DO-SANGUE-DE-CAES-E-GATOS
48
FIGURA 21 – POLICROMATOFILIA
Fonte: http://www.webartigos.com/articles/PRINCIPAIS-ALTERAÇÕES MORFOLOGICAS-NAS CELULAS-DO-SANGUE-DE-CAES-E-GATOS
FIGURA 22 – CORPÚSCULO DE HOWELL - JOLLY
Fonte: http://www.webartigos.com/articles/PRINCIPAIS-ALTERAÇÕES-MORFOLÓGICAS-NAS-CELULA-DO-SANGUE-DE-CAES-E-GATOS
A anemia torna - se macrocítica, hipocrômica e regenerativa à medida que a
moléstia progride. A azotemia e a acidose metabólica são comuns, e parecem
49
contribuir para a morbidade e a mortalidade onde segundo Ettinger e Feldman (1995)
ambas são comumente causadas pela desidratação e/ou choque.
4.1.8.1 Anemia
Para Ettinger e Feldman (2004) a anemia não é um diagnóstico mas sim um
sinal clínico e uma anormalidade no teste laboratorial. A anemia é definida como uma
diminuição na massa de células vermelhas segundo Bush (2004) e que pode ocorrer
pela excessiva perda de sangue (hemorragia) ou pela destruição (hemólise) ou
diminuição da produção de eritrócitos (MEYER; COLES; RICH, 1995).
Para Meyer, Coles e Rich (1995), as anemias podem ser classificadas pelos
índices eritrocitários que são, o VCM que se refere ao tamanho da célula podendo ser
normal (normocítica), menor que o normal (microcítica), ou maior que o normal
(macrocítica), e o CHCM que se refere a concentração média de hemoglobina num
dado volume de eritrócitos, os valores normais são determinados como
normocrômicos, e menor que o normal hipocrômicos. Os eritrócitos não podem ser
produzidos com o conteúdo de hemoglobina maior que o normal, um valor elevado
neste parâmetro será sempre um artefato.
4.1.8.2 Anemia hemolítica ou regenerativa
A anemia hemolítica consiste na diminuição da quantidade de eritrócitos, e
consequentemente no decréscimo da concentração de hemoglobina, que ocorre por
50
uma queda na vida média eritróide. A hemólise intravascular define a forma de
hemólise em que ocorre a ruptura dos eritrócitos dentro dos vasos sanguíneos, já a
hemólise extravascular é a retirada exacerbada dos eritrócitos pelo sistema fagocítico
mononuclear, a hemólise extravascular é o principal mecanismo patogênico no
desenvolvimento da anemia hemolítica de cães e gatos (FIGHERA, 2007).
4.1.9 Aspectos Bioquímicos e Renais
Filhotes com babesiose aguda severa apresentaram aumento do nível de uréia e
billirubina séricas, e filhotes que morreram em conseqüência da doença também
podem apresentar hipoglicemia e hipercalemia (ALMOSNY, 2002). Quanto ao
Sistema Renal o paciente pode apresentar alterações renais graves, o desenvolvimento
das alterações renais pode ser decorrente da deposição de imuno – complexos devido à
presença do hemoparasita, sendo que animais com babesiose podem apresentar intensa
reação inflamatória, caracterizada por proteinúria, hipoalbuminemia,
hipercolesterolemia, hiperlipemia e edema, sendo assim pacientes com o diagnóstico
de babesia canis podem apresentar Síndrome Nefrótica como conseqüência da doença
glomerular renal (CAVALCANTE, et al 2006).
4.1.10 Diagnóstico
A história e a sintomatologia clínica em geral são suficientes para justificar um
diagnóstico presuntivo de babesiose (ETTINGER e FELDMAN, 1995). Para Almosny
51
(2002) podemos suspeitar de babesiose canina sempre que observamos cães,
principalmente jovens, com apatia, anorexia e febre e com histórico de infestação de
carrapatos. Entretanto como estes exames são inespecíficos, devemos realizar exames
laboratoriais para confirmar as suspeitas clínicas.
O diagnóstico presuntivo pode ser baseado nos achados de anamnese e exame
físico e na detecção da anemia regenerativa, hiperbilirrubinemia, bilirrubinúria e
trombocitopenia (CORRÊA; NASCIMENTO e FARIA, 2005).
Para confirmação é preciso um diagnóstico parasitológico, sendo que quadros
agudos, o animal encontra-se febril, a parasitemia é geralmente elevada e o diagnóstico
feito pelo achado de parasitos durante o esfregaço sanguíneo, corado com Giemsa ou
Panótico Rápido, que revela os parasitas nos eritrócitos do sangue periférico,
principalmente de pequenos capilares da orelha.
Pode ocorrer reação sorológica cruzada entre Babesia canis e Babesia gibsoni
em testes indiretos com anticorpo fluorescentes, portanto os resultados dos testes
sorológicos não podem ser utilizados para determinar definitivamente a espécie
infectante, sendo que resultados falso – negativo nos testes sorológicos podem ocorrer
nos casos agudos ou em caninos com imunosupressão concomitante (NELSON e
COUTO, 2006).
Segundo Ettinger e Feldman (1995) a presença de grandes microorganismos
piriformes e em pares é indicativa da infecção, enquanto que microorganismos
intracelulares menores provavelmente pertencerão a espécie Babesia gibsoni.
Entretanto uma vez cessada a fase febril aguda, frequentemente é impossível encontrá-
52
los, pois são rapidamente removidos da circulação (URQUHART, 1996). Para Ettinger
e Feldman (1995) embora algumas vezes seja fácil encontrar os parasitos em animais
agudamente infectados, eles são raramente evidentes em animais cronicamente
infectados ou em portadores assintomáticos.
São vários os testes sorológicos que podem ser empregados no diagnóstico de
anticorpos anti - Babesia, sendo que o teste de Imunofluorescência Indireta (IFI)
(FIGURA 23) para anticorpos contra a babesia tem utilidade no diagnóstico da
babesiose, visto que provavelmente os cães não eliminam completamente o parasito,
após a infecção. Outras técnicas como ELISA (FIGURA 24), têm sido utilizadas,
porém testes genéticos, que detectam o DNA do parasito também vem sendo utilizados
cada vez mais (ALMOSNY, 2002).
O emprego de técnicas de biologia molecular, como o PCR (Reação da
Polimerase em Cadeia), tem sido de grande auxílio na identificação de animais
portadores crônicos da doença, ou ainda na avaliação da efetividade da terapia, através
do termociclador que faz ciclos de temperatura adequado para o DNA (FIGURA 25)
(BRANDÃO e HAGIWARA, 2002).
53
FIGURA 23 – IMUNOFLUORESCENDIA INDIRETA (IFI)
Fonte: http://www.cnpgc.embrapa.br/publicacoes/naoseriadas/babesia/babesia.html
FIGURA 24 – TESTE DE ELISA (IMUNOENSAIO ENZIMÁTICO)
Fonte: http://pragawall.cenargen.embrapa.br/aiqweb/virhtml/virproc01.asp
FIGURA 25 – PCR (REAÇÃO DE POLIMERASE EM CADEIA)
Fonte: https://sites.google.com/a/luther.edu/genetics/students/claire-addis/pcr-amplification
54
4.1.11 Diagnóstico Diferencial
Como diagnóstico diferencial podemos citar a erliquiose, doenças
imunomediadas, como anemia hemolítica e hemobartonelose (BARR e BOWMAN,
2010).
4.1.12 Tratamento
O tratamento suporte, com transfusão sanguínea, terapia com bicarbonato de
sódio para a acidose e fluidoterapia devem ser administrados. O Dipropionato de
imidocarb pode ser eficaz para o tratamento da babesiose quando administrado na dose
de 5 a 6,5 mg/kg por via subcutânea ou intramuscular, com um intervalo de 14 dias, ou
7,5 mg/kg por via subcutânea ou intramuscular em dose única (NELSON e COUTO,
2006).
Cães de áreas onde não ocorra Babesia canis e que viagem para áreas
endêmicas, podem ser tratados profilaticamente com Dipropionato de imidocarb, na
dose de 6mg/kg, ficando protegidos por duas semanas, e Cloridrato de Doxiciclina na
dose de 10mg/kg, BID por 11 dias (ALMOSNY, 2002). O Dipropionato de imidocarb
tem efeito sobre o parasita, alterando a forma do núcleo e a morfologia citoplasmática.
A interrupção da parasitemia e dos sintomas clínicos ocorre depois de 24 a 48 horas de
sua aplicação, a dose recomendada é de 5 a 7 mg/kg em duas aplicações, com intervalo
de 14 dias.
55
Para Nelson e Couto (2006), pode ocorrer efeitos adversos no tratamento com o
Dipropionato de imidocarb como, salivação transitória, diarréia, dispnéia,
lacrimejamento e depressão.
Segundo Brandão e Hagiwara (2002) para prevenir os efeito colinérgicos
indesejados da droga, pode ser utilizada atropina (0,04 mg/kg) 10 minutos antes de
sua aplicação.
4.1.13 Prevenção e Profilaxia
Para Ettinger e Feldman (1995), o modo principal de prevenção é o controle do
carrapato vetor.
As quantidades de carrapatos e, portanto, o nível de infecção por Babesia
podem ser reduzidos por pulverização ou banhos carrapaticidas regulares com
acaricidas. É recomendado o uso do Fipronil spray (Frontline ®) a cada 30 dias e uma
coleira anti carrapaticida (Kiltix – Bayer ®) como prevenção.
Segundo Almosny (2002) o tratamento profilático também pode ser feito
através da administração de Dipropionato de imidocarb, injeção subcutânea, 6 mg/kg,
ficando protegidos por duas semanas e Cloridrato de doxiciclina a uma dose de 10
mg/kg, duas vezes ao dia por 11 dias.
56
5 Caso Clínico
Durante o período de estágio curricular observou – se o caso clínico da paciente
Maria Petúnia (FIGURA 26).
FIGURA 26 – PACIENTE MARIA PETÚNIA
Nome: Maria Petúnia
Espécie: Canina
Sexo: Fêmea
Raça: SRD
Idade: 3 meses
Peso, 3,320 KG
57
5.1 Anamnese
A paciente, foi encaminhada a S.O.S Clínica Veterinária no dia 01 de março de
2010, o proprietário relatou que em uma viagem a encontrou, com 20 carrapatos. A
queixa principal era apatia e vômito.
5.2 Exame Físico
Durante o exame físico observou-se, ectoparasitas (FIGURA 27), desidratação,
anorexia, mucosas pálidas, hipertermia (40ºC) e dor a palpação abdominal.
FIGURA 27 – CARRAPATO EM REGIÃO DORSAL NA PACIENTE MARIA PETÚNIA
58
5.3 Exames Complementares
Foi solicitado hemograma completo (ANEXO 1), verificando-se anemia
normocítica, normocrômica com hemácias (2,0 milhões/µL); hemoglobina (4,1g), 13%
de hematócrito, VCM (65 u³), CHCM (31,54 g/dl), plaquetas (260.000) e proteína
plasmática (4,8g/dl). No leucograma observou-se leucócitos (20200 /mm³), moderada
policromatofilia, moderada anisocitose e discreta quantidade de Corpúsculos de
Howell - Jolly.
5.4 Diagnóstico
O diagnóstico foi determinado pelo histórico clínico, anamnese, exame físico e
hemograma da paciente em questão. A paciente permaneceu internada na Clínica, pelo
período de 5 dias.
5.5 Tratamento
Durante o período de internamento foi realizado um novo hemograma (ANEXO
2) observando-se novamente a anemia normocítica, normocrômica com hemácias
(2,08 milhões / µL); hemoglobina (4,66g); 14% de hematócrito, VCM (67,31 u³);
CHCM (33,29 g/dl); plaquetas (194.000); proteína plasmática (4,6 g/dL). No
leucograma o hemograma apresentou o número de leucócitos (29035 /mm³);
monócitos 16% (4645.6/mm³), com intensa policromatofilia e intensa anisocitose.
59
A paciente também recebeu medicamentos para a êmese, irritação gástrica
juntamente com a fluidoterapia.
Foram administrados:
- Solução Fisiológica 500 mL por via endovenosa – INFUSÃO LENTA – 24 horas;
- Cloridrato de Metoclopramida na dose de 0,5mg/kg sendo administrado 0,3 ml (TID)
por via subcutânea;
- Cloridrato de Ranitidina na dose 2 mg/kg sendo administrado 0,3 ml (TID) por via
subcutânea;
- Glicose sendo administrada 10 ml (SID) dissolvidas na fluidoterapia em infusão
lenta, por via endovenosa;
- Cloridrato de doxiciclina na dose de 5 mg/kg administrando-se 0,3 ml (BID) por via
subcutânea;
- Suplemento Vitamínico Energy Pet® sendo administrado 0,5 ml ( BID) por via oral;
- Diaceturato de 4,4 diazoaminodibenzamidina (Diaseg®) na dose de 3,5 mg/kg onde
foi administrado 0,2 ml em dose única por via intra muscular;
Após 5 dias de internamento a paciente já apresentava melhoras, tendo recebido
alta, porém o proprietário foi instruído de que deveria retornar no prazo de 3 dias para
uma nova reavaliação e um novo hemograma. Foi prescrito para casa:
- Hemolitan Pet® 1 comprimido (SID), durante 5 dias;
- Doxifin® 50mg/kg, 1/2 comprimido (BID), durante 14 dias;
60
- Prednisona na dose de 1mg/kg/dia, 0,5 comprimido (SID), durante 10 dias, na dose
de imunosupressão.
A paciente retornou no dia 08 de março de 2010, sendo realizada reavaliação e
solicitado novo hemograma que apresentou hemácias (4,61 milhões/µL); hemoglobina
(10,33g); 31% de hematócrito; VCM (70 u³); CHCM (33,2g/dl); plaquetas (334.000);
proteína plasmática (5,8 g/dl); leucócitos (16.800/mm³). Foi recomendado ao
proprietário que continuasse com o Doxifin ® pelo prazo de 14 dias, e que aplicasse 1
vez ao mês fipronil 0,25% (Frontline ®), para o combate dos carrapatos, além da
limpeza de canis e ambientes, com Assuntol pó ®, para o controle e prevenção.
A vacina para babesiose canina chamada NOVIBAC® PIRO - INTERVET,
tem sido bastante utilizada fora do Brasil, apesar de não impedir a infecção do
parasito, inibi os sinais clínicos.
5.6 Discussão do Caso Clínico
A babesiose é uma das enfermidades mais comuns que acometem cães filhotes,
devido a intensa infestação do carrapato conhecido por Rhipicephalus sanguineus que
são responsáveis pela transmissão do hematozoário do gênero Babesia.
Conforme relatado, o procedimento de atendimento teve como início uma
anamnese feita junto ao proprietário que relatou ter encontrado a paciente abandonada
apresentando inúmeros carrapatos. Posteriormente, a paciente foi encaminhada a
clínica apresentando sinais clínicos como, apatia, anorexia, letargia, falta de apetite,
61
vômito, dor a palpação abdominal e febre intensa, sendo assim tudo levava a suspeita
de uma possível babesiose. Portanto, foi realizado exame laboratorial como o
hemograma, onde foi constatado que a paciente em questão apresentava uma intensa
anemia hemolítica. Não foram realizados exames sorológicos como
imunofluorescência (IFI), PCR, e teste de Elisa, pois devido o alto custo o proprietário
optou por não fazê-los, também não foram realizados exames de ultrassonografia para
uma possível hepatomegalia, esplenomegalia e pancreatite, sinais físicos decorrentes
da babesiose. Contudo, constatou-se apenas com o exame clínico, sintomatologia,
anamnese e hemograma que a paciente apresentava-se com babesiose.
Dessa forma, o procedimento realizado foi, internação pelo prazo de 5 dias com
intervenção medicamentosa de antibioticoterapia, antieméticos, protetores gástricos,
antiparasitário, corticosteróide e suplemento vitamínico juntamente com a
fluidoterapia.
Decorridos os 5 dias, a paciente já apresentava melhoras significativas,
recebendo alta, com medicação para casa e uma dieta a base de fígado.
Deste modo concluímos que os proprietários devem estar atentos as infestações
parasitárias, tanto no ambiente quanto em seus animais, estando atentos também aos
sinais clínicos apresentados, como principalmente, falta de apetite, apatia, e anorexia,
pois uma vez instalada a enfermidade, o animal rapidamente começa a apresentar os
sintomas acima descritos. Se houver uma intervenção rápida, o resultado é positivo,
contudo, se houver uma demora no atendimento, os sinais podem se agravar, podendo
levar o paciente à óbito.
62
6 DEMODICIDOSE JUVENIL GENERALIZADA
A demodicidose canina, sarna demodécica, sarna folicular ou sarna vermelha
como também é conhecida, é uma doença parasitária inflamatória de cães,
caracterizada pela presença de números maiores que o normal de ácaros demodécicos
(SCOTT et al, 1995). O ácaro é um habitante normal do folículo piloso e das glândulas
sebáceas (BIRCHARD e SHERDING, 2003).
Para Medleu e Hnilica (2003), dependendo da idade do cão a demodicidose
generalizada é classificada como de início juvenil ou de ínício adulto. Ambas as
formas são comuns em cães, a demodicidose generalizada juvenil acomete cães jovens
normalmente com 3 a 18 meses, com maior incidência em cães de raça pura de
tamanho médio a grande.
Para Scott et al, (1995), existe um outro ácaro com características morfológicas
diferente podendo ser um mutante do Demodex canis, sendo este o parasita mais
comum em cães. A alopecia e o eritema resultantes são conhecidos como
Demodicidose.
Provavelmente pela sua localização profunda na derme, é quase impossível a
transmissão de Demodex entre animais, a menos que haja contato prolongado
(URQUHART, 1996).
63
6.1 Morfologia
O Demodex canis apresenta um corpo vermiforme, com abdômen alongado e
estriado transversalmente, e adultos com 4 pares de patas curtas e grossas (FORTES,
2004). As fêmeas podem medir de 40 a 300µm, e o macho adulto de 40 a 250µm
(SCOTT et al, 1995).
6.2 Patogenia e Transmissão
A patogênia de Demodex canis é mais complexa que a de outros ácaros de
sarna, porque os fatores imunológicos parecem desempenhar grande papel em sua
ocorrência e gravidade. Uma característica notável de todos os tipos de sarna
demodécica é a ausência de prurido (URQUHART, 1996).
Para Fortes (2004), a presença da Demodex canis nos folículos pilosos
(FIGURA 28) e glândulas sebáceas ocasiona uma dilatação, permitindo assim invasões
bacterianas consequentemente.
A demodicidose generalizada pode apresentar – se como demodicidose
escamosa que é menos grave, é uma reação seca com pouco eritema mas alopecia
difusa, com descamação e espessamento da pele, acometendo a face e as patas. E a
demodicidose pustular ou folicular que é considerada a forma mais grave e
consequentemente com invasão bacteriana das lesões, frequentemente por
estafilococcus, a pele torna-se enrugada e espessada com pequenas pústulas
(URQUHART, 1996).
64
Segundo Moras et al, (2008) a piodermite gerada pela proliferação é ocasionada
principalmente por Staphylococcus intermedius, que está envolvida em
aproximadamente 90% dos casos. As piodermites profundas desenvolvem – se em
50% dos casos de demodicidose generalizada.
FIGURA 28 - DISTRIBUIÇÃO DA DEMODICIDOSE GENERALIZADA EM CÃO
Fonte: http://www.medi-vet.com/Demodicosis.aspx
Os ovos (FIGURA 29) do Demodex canis são fusiformes e eclodem em larvas
pequenas e com 6 patas (FIGURA 30), que mudam para ninfas com 8 patas (FIGURA
31) e em seguida para adultos com 8 patas (FIGURA 32) (SCOTT et al, 1995). Para
Birchard e Sherding (2003), acredita-se que o ciclo vital leva entre 20 e 35 dias para se
completar. Os ácaros podem ser encontrados nos linfonodos, na parede intestinal, no
baço, no fígado, no rim, na bexiga, no pulmão, na tireóide, sangue, urina e fezes.
Porem, os ácaros encontrados nestes locais extracutâneos estão geralmente mortos e
65
degenerados, e representam a drenagem simples dessas áreas pelo sangue ou pela linfa
(SCOTT et al, 1995).
Supõe-se que certas cadelas transportem um fator genético que resulta em
imunodeficiência em seus filhotes, tornando-os mais susceptíveis à invasão por ácaros,
e observa-se que os filhotes de uma cadela deste tipo com frequência desenvolvem a
forma generalizada de sarna demodécica, mesmo tendo sido criados separadamente
(URQUHART, 1996).
A transmissão, ocorre das cadelas para os neonatos lactantes por contato direto
durante os dois ou três primeiros dias de vida neonatal, os ácaros são observados
primeiramente nos focinhos dos filhotes, o que enfatiza a importância do contato
direto e do cuidado materno (SCOTT et al, 1995).
Para Scott et al (1995) os ácaros podem viver fora dos cães por até 37 dias sob
várias condições de laboratório, porém esses ácaros perdiam sua capacidade de
infectar (invadir os folículos pilosos dos cães).
FIGURA 29 – OVO DE Demodex canis
Fonte:http://www3.unileon.es/personal/wwdmvjrl/dermatopatias/sarna_demodecica.htm
66
FIGURA 30 – LARVA DE Demodex canis
Fonte:http://www3.unileon.es/personal/wwdmvjrl/dermatopatias/sarna_demodecica.htm
FIGURA 31 – NINFA DE Demodex canis
Fonte:http://www3.unileon.es/personal/wwdmvjrl/dermatopatias/sarna_demodecica.htm
FIGURA 32 – ADULTO DE Demodex canis
Fonte:http://www3.unileon.es/personal/wwdmvjrl/dermatopatias/sarna_demodecica.htm
67
6.3 Aspectos clínicos
A doença frequentemente inicia com lesões localizadas que se disseminam.
Normalmente há área de alopecia regional, multifocal ou difusa com eritema,
descamação prata – acinzentada, pápulas e/ou prurido, a pele acometida pode
apresentar liquenificação, hiperpigmentação, pústulas, erosões, crostas e/ou úlceras
decorrentes da piodermatite secundária superficial ou profunda (MEDLEAU e
HNILICA, 2003).
Para Medleau e Hnilica (2003) sinais sistêmicos como febre, depressão,
anorexia podem ser observados quando há septicemia secundária.
Para Birchard e Sherding (2003) pode ocorrer formação de comedos e se a
piodermatite for profunda, podem se encontrar presentes linfoadenopatias e tratos de
drenagem cutâneos com exsudatos hemorrágicos e purulentos.
Para Scott et al (1995) apesar de alguns cães com demodicidose apresentarem
apenas modificações seborréicas, os ácaros que se desenvolvem no folículo piloso
geralmente provocam uma foliculite. Ocorrem com o decorrer da doença foliculite
profunda, e os exsudatos são produzidos e formam crostas espessas, onde debaixo
destas crostas e nos folículos há o crescimento de bactérias como principalmente
Staphylococcus intermedius.
68
6.4 Diagnóstico
Para a confirmação do diagnóstico devem ser feitos microscopias através de
raspados de pele profundos, onde o diagnóstico é feito ou por demonstração dos
grandes números de ácaros adultos ou pelo achado de uma relação aumentada de
formas imaturas (ovos, larvas e ninfas) em relação aos adultos. O cão deve ser raspado
em diversos locais diferentes antes do diagnóstico de demodicidose ser descartado
(SCOTT et al, 1995).
Mesmo em cães normais, podem ser encontrados alguns ácaros no material,
mas a presença de uma alta proporção de larvas e ninfas, indicará uma população
rapidamente crescente e, portanto, infecção ativa (URQUHART, 1996).
6.5 Tratamento
Para Scott et al (1995) aproximadamente 30 a 50% de todos os cães com menos
de 1 ano de idade com demodicidose generalizada recuperam-se espontaneamente,
onde a doença frequentemente pode ser controlada, mas nem sempre curada.
No caso de tratamentos acaricidas tradicionais deve-se tosar toda a pelagem
corporal, caso o cão apresente pêlos, dar banhos semanais com xampu contendo
Peróxido de Benzoíla 2,5 a 3%, seguido da aplicação corporal de Solução de Amitraz
0,025 a 0,05%, a taxa de cura varia de 50% a 86% . Como alternativa, o tratamento
com 0,6 mg de Ivermectina /kg/24h VO (SID) frequentemente é eficaz no tratamento
de demodicidose generalizada (MEDLEAU e HNILICA, 2003). Tem-se descrito que
69
as taxas de cura a longo prazo são de 83% quando se usa a dosagem de 600µg/kg, mas
de 48% quando se usa 400µg/kg. Os efeitos adversos incluem perda de apetite,
aumento de salivação, confusão ataxia, fraqueza, coma e morte, e quanto mais alta for
a dosagem, maior será a chance desses efeitos adversos (BIRCHARD e SHERDING,
2003).
Porém, antes da instituição de qualquer medicamento para a demodicidose, o
estado geral de saúde do cão e o manejo devem ser melhorados, se necessário. A
seleção de antibióticos varia com o caso, mas os agentes bactericidas devem ser
selecionados por causa do provável estado imunossuprimido do cão (SCOTT et al,
1995).
Para Birchard e Sherding (2003) nunca deve ser usado corticosteróides em cães
e gatos com demodicidose, se possível, evite o uso de todos os agentes
imunossupressivos.
Outro tratamento alternativo eficaz utiliza 2mg/kg/24h VO de Milbemicina. A
taxa de cura varia de 85% a 90% (MEDLEAU e HNILICA, 2003).
Indiferentemente do tratamento escolhido, requer longa duração (semanas a
meses). Manter a medicação durante no mínimo 1 mês após a negatividade do raspado
de pele (MEDLEAU e HNILICA, 2003).
70
6.6 Prognóstico
O prognóstico varia de bom a regular, sendo que em alguns casos pode ocorrer
recidivas e o tratamento deve ser periódico ou por toda a vida. Deve-se evitar o uso de
glicocorticóides e o acasalamento, devido a predisposição hereditária da demodicidose
juvenil generalizada (MEDLEAU e HNILICA, 2003).
71
7 Caso Clínico
Durante o período de estágio curricular observou o caso clínico da paciente
Wendy (FIGURA 33).
FIGURA 33 – PACIENTE WENDY
Nome: Wendy
Espécie: canina
Sexo: Fêmea
Raça: Yorshire
Idade: 1 ano e 4 meses
Peso: 3 Kg
72
7.1 Anamnese
Relata-se o caso clínico da paciente encaminhada a S.O.S Clínica Veterinária. A
proprietária observou há 4 meses, presença de lesões alopécicas e eritematosas nos
membros anteriores e posteriores e distribuídos pelo corpo. A proprietária relatou
também que a paciente em questão, foi tratada há 4 meses com Cetoconazol VO e
banhos semanais com xampu à base de Miconazol sem êxito, com o diagnóstico de
Dermatofitose.
7.2 Exame Físico
Durante o exame físico observou-se alopecia multi – focal difusa em flancos
(FIGURA 34 e 35), região esternal, orelhas (FIGURA 36), membros torácicos e
pélvicos, lesões eritematosas, pápulas eritemato – crostosas, pústulas abdominais
(FIGURA 37), e leve prurido.
FIGURA 34 – ALOPECIA MULTI – FOCAL DIFUSA NA PACIENTE WENDY
73
FIGURA 35 –ALOPECIA MULTI – FOCAL DIFUSA NA PACIENTE WENDY
FIGURA 36 – ALOPECIA E CROSTAS MULTI – FOCAL E DIFUSA NA
ORELHA DA PACIENTE WENDY
74
FIGURA 37 - ALOPECIA MULTI-FOCAL DIFUSA E PÚSTULAS EM REGIÃO
ABDOMINAL NA PACIENTE WENDY
7.3 Exames Complementares
Foi solicitado a proprietária exame parasitológico de raspado profundo, onde
diagnosticou positivo para Demodex canis (FIGURA 38), cultura para fungos, cujo
resultado foi negativo e citologia de pústula abdominal sendo observado infiltrado
neutrofílico, com células inflamatórias contendo bactérias cocóides intra –
citoplasmáticas, compatível com Piodermite Bacteriana Superficial.
75
FIGURA 38 – EXAME PARASITOLÓGICO DE RASPADO PROFUNDO POSITIVO PARA Demodex canis DA PACIENTE WENDY
Fonte: S.O.S Clínica Veterinária, 2010
7.4 Diagnóstico
O diagnóstico foi determinado pelo histórico clínico, anamnese, e exames
complementares da paciente em questão.
7.5 Tratamento
A proprietária recebeu o diagnóstico e prescrição para casa da paciente Wendy
sendo:
- Cefalexina na dose de 30 mg/ kg, ½ comprimido (BID), durante 25 dias;
- Doramectina na dose de 0,6mg/kg, onde foi administrado semanalmente na S.O.S
Clínica Veterinária na dose de 0,2 ml por via subcutânea, durante 8 semanas;
76
- Peróxido de Benzoíla, banhos a cada 5 dias por 2 semanas, e depois banhos 1 vez por
semana por 2 semanas.
Na oitava semana foi realizado um novo exame parasitológico de raspado
profundo, cujo resultado foi negativo para ácaros. Sendo assim a paciente recebeu alta.
Foi recomendado como prevenção e profilaxia a castração devido a hereditariedade da
doença.
7.6 Discussão do Caso Clínico
A Demodicidose Juvenil Generalizada é uma enfermidade que acomete cães,
principalmente filhotes de 3 a 18 meses e geralmente de raças puras. A transmissão
ocorre através da mãe no momento do nascimento e da amamentação, aparecendo
sinais de alopecia em focinhos e face e consequentemente espalhando – se pelo corpo.
Conforme relatado, o procedimento de atendimento teve como início uma
anamnese feita junto a proprietária que relatou ter observado na paciente sinais de
alopecia primeiramente em membros anteriores e posteriores e em região de flanco. A
proprietária também relatou que a paciente Wendy há 4 meses estava recebendo
medicação de Cetoconazol e banhos com Miconazol sem resultado esperado e com o
diagnóstico de Dermatofitose.
Dessa forma, foi realizado exame parasitológico de raspado profundo de pele,
onde constatou-se que a paciente apresentava o ácaro Demodex canis. Também foi
realizado cultura para fungos cujo resultado foi negativo, além de citologia de pústula
77
abdominal onde foi encontrado infiltrado neutrofílico, com células inflamatórias
contendo bactérias cocóides intra-citoplasmáticas, sendo compatível com Piodermite
Bacteriana Superficial.
Após a realização dos exames complementares e o diagnóstico confirmado a
proprietária foi orientada quanto a enfermidade, causa e tratamento, onde a paciente
Wendy teria que retornar a clínica semanalmente para a aplicação da Doramectina pelo
prazo de 8 semanas, tendo sido receitado também medicação para casa e banhos com
Peróxido de Benzoíla.
Para o diagnóstico de demodicidose juvenil generalizada, além dos sinais
observados no exame físico é indispensável o raspado de pele onde se observa a
presença do Demodex canis.
O proprietário deve ser alertado que a doença frequentemente pode ser
controlada, mas nem sempre curada (FIGURA 39).
O prognóstico desta paciente é bom mas pode ocorrer recidiva caso haja
imunosupressão. Deve – se evitar o acasalamento deste animal devido a predisposição
hereditária.
Se houver o tratamento correto, as lesões diminuirão, porém o paciente tratado
nunca esta curado, podendo ocorrer recidiva da doença.
79
8 CONCLUSÃO
O estágio curricular é uma oportunidade única na vida do acadêmico, sendo
possível praticar tudo que foi ensinado em sala de aula, como vivenciar o dia a dia do
profissional.
Pode ser observado a grande dificuldade que existe em solicitar determinados
exames laboratoriais e tratamentos, devido ao custo e a resistência de certos
proprietários.
A área de estágio escolhida foi de acordo com a preferência e afinidade do
acadêmico. Para exercê-la percebemos que o estudo deve ser rotina na vida do clínico.
A vivência é fundamental para o aprendizado e para o exercício responsável da
profissão. As especialidades possibilitam, o conhecimento mais profundo, mas não se
pode esquecer de que devemos ter uma visão do ser, como um todo.
As relações estabelecidas com o proprietário são fundamentais para o sucesso
do tratamento e bem estar dos animais.
Enfim, para o exercício da Clínica Veterinária é necessário muito estudo,
conhecimento, vivência, respeito e acima de tudo vocação.
82
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