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Trabalho de Conclusão de Curso
BIOATIVIDADE DO MTA
Rick Fornaza Brodbeck
Universidade Federal de Santa Catarina
Curso de Graduação em Odontologia
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA
Rick Fornaza Brodbeck
BIOATIVIDADE DO MTA
Trabalho apresentado à Universidade
Federal de Santa Catarina, como requisito para a conclusão do Curso de Graduação em
Odontologia Orientador: Prof. Dr. Wilson Tadeu Felippe.
Co-orientadora: Prof. MsC Gabriela Santos Felippe
Florianópolis
2012
Rick Fornaza Brodbeck
BIOATIVIDADE DO MTA
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado para
obtenção do título de cirurgião-dentista e aprovado em sua forma final
pelo Departamento de Odontologia da Universidade Federal de Santa
Catarina.
Florianópolis, 17 de outubro de 2012.
Banca Examinadora:
________________________
Prof. Dr. Wilson TadeuFelippe
Orientador
Universidade Federal de Santa Catarina
________________________
Prof. Dr. Eduardo Antunes Bortoluzzi
Universidade Federal de Santa Catarina
________________________
Prof. Dra.Mara Cristina Santos Felippe
Dedico à minha família, namorada e
amigos, pois sempre me apoiaram,
tornando possíveis meus sonhos e
fazendo meus dias melhores com
conselhos e carinho.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, pela vida, por estar sempre no meu
caminho, iluminando e guiando às escolhas certas.
Aos meus pais: Kelson e Matilde, que me proporcionaram uma
ótima formação e nunca pouparam esforços para me ajudar a alcançar
meus objetivos. Sempre presentes em minha vida com muito diálogo,
carinho e compreensão, sendo meus verdadeiros exemplos de vida. Pai e
mãe, amo vocês.
Ao meu irmão Bill, pelos ensinamentos, brigas e todos os momentos
em que esteve ao meu lado, sendo companheiro e amigo.
Aos meus avós, pelo carinho, diálogo e por me ensinarem um pouco
sobre a vida.
À minha tia Valéria, que me acolheu, dando carinho e ajudando em
todos os momentos que precisei de ajuda longe de casa.
À minha namorada, Juliana Schmoeller, que mesmo estando longe
de mim, sempre se fez presente, me dando carinho em todos os
momentos em que precisei, sendo minha parceira em todos os
momentos bons e ruins.
Aos meus amigos, que sempre me deram força, compartilhando
risadas, histórias e momentos inesquecíveis.
À Universidade Federal de Santa Catarina, pela oportunidade de
cursar Odontologia;
Ao Professor Dr. Wilson Tadeu Felippe, que sabiamente exerceu
sua função de orientador, sempre ajudando não só neste trabalho, mas
também ao longo de toda a graduação.
À Gabriela Santos Felippe por seu empenho e dedicação em me
ajudar, obrigado pela paciência e amizade.
Aos demais professores e funcionários da Universidade Federal de
Santa Catarina meu agradecimento por todo o tempo e esforço que
dedicaram para me ensinar.
RESUMO
O agregado de trioxido mineral (MTA), introduzido na odontologia
duas décadas atrás, é um material usado principalmente para o
selamento de perfurações, preenchimento de cavidades retrógradas,
terapias pulpares e como tampão apical em dentes com rizogênese
incompleta. Estudos revelam que o MTA possui capacidade bioativa
quando em contato com solução tampão-fosfato (PBS); a interação
MTA-dentina com PBS propicia a formação de uma intercamada na
interface cimento-dentina, com aglomerados de cristais de apatita
carbonatada. Essa camada parece estar aderida quimicamente à dentina
e apresenta prolongamentos intratubulares que parecem favorecer o
selamento marginal. O presente trabalho teve por objetivo revisar
estudos in vivo eex vivo,a fim de elucidar o mecanismo de bioatividade
do MTA.
Palavras-chave: Agregado de Trióxido Mineral, Bioatividade,
Biomineralização, Cimento Portland.
ABSTRACT
Mineral trioxide aggregate (MTA)was introduced in dentistry two
decades ago. It is used mainly for sealing perforations, retrograde filling
of cavities, pulp therapy and as apical plug in teeth with incomplete root
formation. Studies show MTA is bioactive when in contact with
phosphate buffer solution (PBS). The interaction MTA-dentin with PBS
promotes the formation of interfacial layer between the cement and
dentin, with carbonated apatite crystals. This layer seems to be
chemically bonded to dentin andpresentsintratubular tags, which seem
to improvingthe marginal sealing. This study aimed to review studies in
vivo and ex vivo in order to elucidate the bioactivity of MTA.
Keywords:Mineral Trioxide Aggregate, Bioactivity, Biomineralization,
Portland Cement.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
MTA - Mineral TrioxideAggregate
PBS - Phosphate Buffered Saline
MEV - Microscópio Eletrônico de Varredura
EDX - Espectroscopia de Raios X por dispersão de energia
XRD - Difração de Raios X
SUMÁRIO
1 Introdução........................................................................................ 19
2 Revisão de Literatura...................................................................... 23
3 Conclusão......................................................................................... 29
4 Referências....................................................................................... 31
19
1INTRODUÇÃO
A importância do selamento marginal na Endodontia já é conhecida.
É sabido que a maioria dos casos de insucesso resulta da passagem de
substâncias irritantes presentes nos canais radiculares em direção aos
tecidos perirradiculares (SIQUEIRA, 2001; TORABINEJAD;
PARIROKH, 2010a).
A busca por materiais que apresentem características físico-
químicase biológicas ideais levou ao desenvolvimento do agregado de
trióxido mineral (MTA) (TORABINEJAD; WATSON; FORD, 1993).
Inicialmente este cimento foi indicado para selar comunicações entre a
cavidade pulpar e o periodonto (TORABINEJAD; WATSON; FORD,
1993) e, posteriormente, ganhou aplicação no preenchimento de
cavidades retrógradas (TORABINEJAD et al., 1995), pulpotomia
(HOLLANDet al., 2001) e tampão apical em dentes com rizogênese
incompleta (FELIPPE;FELIPPE; ROCHA, 2006).
1.1 MTA - Apresentação, composição e manipulação
O MTA é um pó que contém pequenas partículas hidrofílicas, que
tomam presa em contato com umidade. É composto basicamente por
75% de cimento Portland, 20% de óxido de bismuto e 5% de gesso. Seu
principal componente, o cimento Portland, é formado porsilicato
tricálcico, aluminato tricálcico, silicato de cálcio e aluminoferrato
tetracálcico. O MTA de cor cinza já não é mais comercializado, devido
a sua incompatibilidade estética. Atualmente, o MTA é encontrado
comercialmente na cor branca. As principais diferenças entre os dois
tipos de MTA são a maior concentração de íons ferro, alumínio e
magnésio, e maior tamanho das partículas no MTA cinza (ASGARY et
al., 2005; ISLAM et al., 2006).A manipulação do MTA é feita com água
destilada na proporção pó-líquido de 3:1, até formar um gel coloidal que
tem sua presa após 2 horas e 20 minutos (ISLAMet al.,2006).
20
1.2 Propriedades físico-químicas
Diversas pesquisas avaliaram as propriedades físico-químicas do
MTA e revelam que esse material apresenta baixa solubilidade (ISLAM
et al., 2006), boa capacidade de selamento (AQRABAWI, 2000;
VIZGIRDA et al., 2005; MATT et al., 2004; CAMILLERI; PITT
FORD, 2008; TORABINEJAD et al., 1995a) e força de união à
estrutura dental (REYES-CARMONA et al., 2010a). Tais propriedades
podem ser alteradas de acordo com o tipo de MTA, a proporção
pó/líquido empregada, o método de mistura, a pressão empregada na
compactação, a umidade, o pH e temperatura do meio, a espessura de
material, e a forma como é levado ao local de aplicação
(DAMMASCHKE et al., 2005; WATTS et al., 2007;
COOMARASWAMY et al., 2007; SAGHIRI et al., 2008).
O MTA tem natureza hidrofílica, o que lhe permite tomar presa na
presença de umidade, que por sua vez está relacionada à ligeira
expansão que sofre após a presa, o que parece melhorar a adaptação do
material às paredes dentinárias e o selamento (SLUYK; MOON;
HARTWELL, 1998; TORABINEJAD et al., 1995a).
Além disso, apresenta pH alcalino que chega a 12,5 3 horas após a
manipulação (TORABINEJAD et al., 1995c), que lhe confere poder
antimicrobiano (TORABINEJAD et al., 1995a; THOMSON et al., 2003); e ainda capacidade de induzir a mineralização e de gerar menor
resposta inflamatória (TORABINEJAD et al., 1995a; KOH et al., 1997;
AEINEHCHI et al., 2003; MENEZES et al., 2004; FELIPPE; FELIPPE;
ROCHA, 2006).
1.3 Propriedades biológicas e antimicrobianas
Diferentes autores compararam a biocompatibilidade do MTA à de
outros materiais, como Diaket, amálgama e super EBA (ASRARI et al.,
2003; TORABINEJAD et al., 1995a; KEISER et al., 2000; MASUDA
et al., 2005). Num destes estudos o MTA se mostrou o único material
não neurotóxico (ASRARI et al., 2003). Também já foi relatado que o
MTA, quando colocado em contato com os tecidos perirradiculares,
induz a proliferação celular em sua superfície (KOH et al., 1997;
THOMSON et al., 2003), fato que permite concluir que o material
proporciona boas condições ao reparo tecidual, promovendo a
neoformação de tecido ósseo e cementário, e o restabelecimento do
21
ligamento periodontal (TORABINEJAD et al., 1997; ECONOMIDES
et al., 2003; FELIPPE; FELIPPE; ROCHA, 2006).
Inúmeros estudos demonstraram a capacidade antimicrobiana do
MTA, porém esta atividade está limitada a alguns micro-organismos
(ESTRELA et al., 2000; TORABINEJAD et al., 1995a; MIYAGAK et
al., 2006), mais precisamente bactérias anaeróbias facultativas, não
apresentando nenhuma atividade contra flora estritamente anaeróbia
(PARIROKH e TORABINEJAD, 2010). Segundo Al-Hezaimi et
al.(2005), o MTA apresenta alguma capacidade antifúngica.
Outra característica importante do MTA está relacionada à sua
bioatividade, ou seja, ao seu poder de formar precipitados minerais de
hidroxiapatita ou apatita carbonatada quando em contato com solução
tampão-fosfato (PBS). Esta característica parece melhorar tanto as
propriedades físicas quanto as biológicas do material (SARKAR et al.,
2005; BOZEMAN; LEMON; ELEAZER, 2006; REYES-CARMONA;
FELIPPE; FELIPPE, 2009).
O presente trabalho tem por objetivo revisar estudos que avaliaram,
in vitro, ex vivo e in vivo a capacidade do MTA de promover o processo
de biomineralização.
Para compor a presente revisão foram selecionados artigos
científicos publicados entre os anos de 1993 e 2012, indexados na base
de dados PubMed, BioMed e SciELO, publicados na língua inglesa ou
portuguesa. As palavras-chaves utilizadas para a pesquisa foram:
Agregado de Trióxido Mineral, Bioatividade, Biomineralização e
Cimento Portland.
23
2 REVISÃO DE LITERATURA
Sarkar et al. (2005) realizaram um estudo com o intuito de elucidar a
natureza das interações entre o MTA e a dentina após contato com a
solução tampão-fosfato (PBS). O estudo foi dividido em 2 partes: Na
primeira, 0,25g de MTA foram colocados em frascos com 1mL de água
destilada; logo após foram adicionados 10mL de PBS e armazenados a
37° C. Após 1 a 2 horas, ocorreu a formação de um precipitado branco
na superfície do material. Ao final de três dias e após duas semanas, os
precipitados foram removidos e analisados em microscópio eletrônico
de varredura (MEV), espectroscopia de raios-x por dispersão de energia
(EDX) e difração de raios x(XRD). Tais precipitados apresentavam
formas globulares e continham cálcio, fósforo e oxigênio, composição
compatível com hidroxiapatita. Na segunda parte do estudo, canais de 2
dentes unirradiculados foram preparados endodonticamente; os canais
foram irrigados com EDTA e hipoclorito de sódio 5,25% e preenchidos
com MTA. As amostras foram expostas ao PBS durante 2 meses. Após
esse período, foram levadas ao microscópio óptico, MEV e EDX para
análise da interface MTA-dentina. As análises revelaram que o MTA
sofreu dissolução em PBS, liberando principalmente cálcio, que
levaram a precipitação de hidroxiapatita. Os autores acreditam que, pelo
fato de o MTA ser um material poroso, essa precipitação continua
internamente, mudando a composição do MTA na região em contato
com a parede de dentina, e dando origem a uma camada de
hidroxiapatita, quimicamente aderida ao tecido dentinário.
Bozeman et al. (2006) realizaram um estudo com o objetivo de
quantificar e qualificar os cristais formados após interação do MTA
branco, MTA cinza e Dentalcrete com PBS. Foram confeccionados 15
cilindros de cada material (4 mm de altura e 12 mm de diâmetro
interno) e criados 7 grupos. Os grupos G1(n=12) e G4 (n=3) continham
cilindros preenchidos com MTA cinza; G2 (n=12) e G5 (n=3) foram
preenchidos com MTA branco e G3 (n=12) e G6 (n=3) com
Dentalcrete. O G7 (n=1) constituiu o grupo controle, no qual o cilindro
permaneceu vazio. Nos grupos 1 a 3 foram analisados o crescimento e
a composição química e estrutural dos precipitados. As 36 amostras
desses grupos foram individualizadas e imersas em frascos contendo 40
mL de PBS, o qual era substituído a cada 5 dias. Após 40 dias, as
amostras foram analisadas em MEV e XRD. Nos grupos 4 a 6, o
24
objetivo foi medir a dissolução de íons cálcio, silício e outros elementos
em água destilada. As amostras foram colocadas individualmente em
frascos contendo 35mL de água destilada, e a concentração dos íons foi
medida após 24h, 72h, 5, 7,10 e 14 dias. Foi observado que os
precipitados eram estrutural e quimicamente semelhantes à
hidroxiapatita. O MTA cinza apresentou maior quantidade de
precipitados, enquanto o Dentalcrete não os produziu. A análise dos
cristais indicou a presença de Si, Ca e P. Com relação à liberação de
íons, após 14 dias o MTA cinza liberou mais cálcio, alumínio, bismuto e
ferro do que MTA branco. Os autores sugeriram que a capacidade de o
MTA cinza formar mais precipitados pode resultar em um melhor
desempenho clínico, principalmente em relação a sua capacidade
seladora.
Reyes-Carmona et al. (2009) avaliaram a capacidade de
biomineralização do ProRoot MTA, MTA BIO, MTA Branco e do
cimento Portland branco quando em contato com PBS. Foram feitas
secções transversais do terço médio de raízes de 28 dentes humanos
unirradiculados, com diâmetro interno padronizado em 2 mm. Os
espécimes foram imersos em EDTA, NaOCl, e posteriormente lavados
em água destilada e secos. Após o preenchimento com os materiais, as
amostras foram divididas em 5 grupos (n=11): G1) ProRoot MTA; G2)
MTA branco; G3) MTA BIO; G4) CP1 (Cimento Portland + óxido de
bismuto 20%) e G5) CP2 (CP1 + 10% de cloreto de cálcio), colocadas
individualmente em frascos contendo PBS e incubadas a 37º C por 2
meses. A cada 5 dias a solução de PBS foi substituída e o precipitado
colhido para análise. O MTA BIO apresentou maior quantidade de
precipitados em relação aos outros cimentos. A análise em MEV
mostrou que eles apresentavam diferentes morfologias, e eram
compostos basicamente por cálcio e fósforo, em proporções variáveis.
As superfícies das amostras foram preparadas para análise da interface
cimento-dentina, a qual revelou formação de uma intercamada e
deposição mineral no interior dos túbulos dentinários, também contendo
principalmente cálcio e fósforo. Essa deposição foi maior nas amostras
dos grupos 2 e 3. O aditivo cloreto de cálcio não otimizou a formação
de deposição intratubular no G5. Foi possível observar que inicialmente
ocorre a formação de fosfato de cálcio amorfo, o qual atua como
precursor para a fase secundária, de apatita carbonatada. Os autores
afirmam que a bioatividade do MTA e do cimento Portland está
diretamente relacionadaà sua capacidade de formar apatita carbonatada,
a qual influencia na formação e manutenção de tecido duro, e
possivelmente melhora a capacidade seladora do material. Os autores
25
sugeriram que a formação mineral está diretamente ligada à liberação de
íons a partir dos cimentos.
Os mesmos autores (REYES-CARMONA; FELIPPE; FELIPPE,
2010) realizaram um estudo com o objetivo de analisar a influência da
biomineralização na resistência à tração dos cimentos ProRoot MTA,
MTA Branco, MTA BIO e cimento Portland com e sem cloreto de
cálcio. Foram utilizados 63 dentes unirradiculados, a partir dos quais
foram obtidas secções com 2 mm de espessura. O espaço do canal
radicular foi padronizado em 1,3 mm e preenchido com os diferentes
materiais. As amostras foram colocadas em contato com algodão
umedecido por 72 horas à 37º C (controle) ou imersas em PBS por 2
meses. A solução de PBS foi substituída a cada 5 dias. Após os
períodos, foi medida a resistência de união cimento-dentina com o
auxilio de uma máquina Instron e as superfícies fraturadas foram
analisadas em MEV. As amostras imersas em PBS apresentaram maior
resistência ao deslocamento do que as do grupo controle e os MTAs
demonstraram melhores resultados do que o cimento Portland com ou
sem cloreto de cálcio. Ainda, a adição de cloreto de cálcio parece ter
influenciado positivamente na força de resistência à tração do cimento.
Foi possível observar, nas fotomicrografias das amostras imersas em
PBS, deposição mineral no interior de túbulos dentinários compostas
predominantemente por cálcio e fósforo. Os autores concluíram que a
biomineralização influencia positivamente a resistência de união dos
cimentos à dentina, principalmente dos MTAs.
Reyes-Carmona et al. (2010a) por meio de um modelo de
apicificação ex-vivo avaliaram o efeito do PBS intracanal no processo
de biomineralização em tampões apicais de MTA. Foram seccionadas a
parte coroal e apical de 30 pré-molares unirradiculados. Em seguida, os
canais foram preparados, irrigados e os dentes armazenados em solução
salina. Tampões apicais de 5 mm foram realizados com ProRoot MTA e
as raízes divididas em 3 grupos (n=10): no G1 o restante do canal foi
preenchido com PBS; no G2 as amostras foram introduzidas em frascos
contendo espuma floral umedecida com 20mL de PBS e no G3 as
amostras foram introduzidas em frascos com 20mL de PBS e o restante
do canal preenchido com PBS. Após 2 meses as amostras foram
analisadas em MEV. No G1 houve formação mineral (intercamada) no
terço cervical e ausência no terço apical do tampão. No G2 não foi
observada formação mineral no terço cervical, mas ela estava presente
em algumas amostras no terço médio e em todas no terço apical. O G3
apresentou os melhores resultados, com formação de intercamada e
projeções intratubulares nos três terços do tampão. Os autores
26
concluíram que a utilização de um curativo intracanal com PBS após a
confecção de um tampão apical com MTA estimula a formação de
apatita carbonatada na interface material/dentina.
Gandolfi et al. (2010) investigaram a bioatividade do ProRoot MTA
em função do tempo, por meio da imersão de amostras do cimento em
PBS por 10 minutos, 5 horas, 1 e 7 dias. A análise em EDX-MEV
demonstrou que as amostras que permaneceram em PBS por 10 minutos
(recém-preparadas) e por 5 horas já apresentaram formação de apatita,
caracterizada pela deposição de cristais de fosfato de cálcio. Após 7
dias, houve a formação de uma camada uniformemente distribuída
sobre toda a superfície. A proporção Ca/P aumentou conforme o tempo
de imersão, indicando a maturação da apatita carbonatada, onde íons
carbonato substituem os íons fosfato na estrutura das apatitas. Os
resultados deste estudo confirmaram a bioatividade do ProRoot MTA e
sua capacidade de formar apatita carbonatada em poucas horas.
Reyes-Carmona et al. (2010b) avaliaram o processo de
biomineralização e a resposta tecidual após a implantação de tubos de
dentina preenchidos com MTA no tecido conjuntivo subcutâneo de
camundongos. Foram confeccionados tubos de dentina, com diâmetro
interno padronizado em 1,3 mm. Após lavação, autoclavagem e
irrigação com EDTA seguido de NaOCl, os tubos foram preenchidos
com ProRoot MTA e implantados. O sacrifício dos animais ocorreu
após 12 horas, 1, 3 e 7 dias, quando os tubos e o tecido adjacente foram
removidos e preparados para análise. A capacidade de biomineralização
in vivo foi observada já nas primeiras horas, quando os autores
observaram aglomerados semelhantes à apatita sobre as fibrilas
colágenas da dentina. Com o passar do tempo ocorreu um aumento da
mineralização, formando uma camada compacta na superfície dos tubos
após 7 dias. A análise em EDX demonstrou que os precipitados
continham principalmente cálcio e fósforo (Ca/P = 1,60 a 1,64). Foi
constatado que o processo de biomineralização ocorre simultaneamente
à fase aguda da resposta inflamatória. Quando o MTA é implantado,
uma série de reações bioquímicas e biofísicas ocorrem na interface
dentina-MTA-tecido, que posteriormente ativam os eventos celulares e
teciduais inflamatórios, culminando com a formação de uma camada de
apatita, que facilita a integração do biomaterial ao meio.
Por meio de metodologia semelhante, Dreger et al. (2012)
analisaram a capacidade de biomineralização dos cimentos MTA
branco, MTA BIO e Cimento Portland com (CP1) ou sem (CP2) cloreto
de cálcio (10%), através da implantação de tubos de dentina no tecido
conjuntivo subcutâneo de ratos. Aos trinta dias foi visualizada a
27
formação de uma intercamada em 6 amostras do MTA BIO, 5 do MTA
Branco, 2 do CP1 e em nenhuma do CP2. Aos 60 dias, todos os tubos
preenchidos com MTA BIO e MTA Branco apresentaram a
intercamada, enquanto nos grupos do CP1 e CP2 ela foi visualizada em
apenas uma das amostras. Após 90 dias, apenas 3 amostras do CP2 não
apresentaram a formação da intercamada. A composição química dessa
camada era principalmente de cálcio e fosfato, em uma razão Ca/P
tempo dependente. Os autores concluíram que o MTA BIO e MTA
Branco foram mais efetivos no processo de biomineralização do que o
CP1 e CP2, principalmente nos períodos de 30 e 60 dias.
Felippe (2012) analisou a interação dos cimentos MTA FILLAPEX,
iRoot SP, DiaRoot Bioaggregate (BA) e MTA Branco com a dentina in
vivo. Cento e sessenta tubos de dentina foram divididos em 4 grupos
experimentais e um grupo controle (tubo vazio) (n=32). Após o
preenchimento com os materiais,os tubos foram implantados no tecido
conjuntivo subcutâneo de ratos. Após 7, 15, 30 e 90 dias os ratos foram
mortos (n=8/período) e os tubos de dentina foram preparados para
análise em MEV (n=8/material/período). Aos 7 e 30 dias foi observada
deposição mineral na interface cimento-dentina em todas as amostras
preenchidas com MTA FILLAPEX, e após 15 e 90 dias esta deposição
foi encontrada em 7 das 8 amostras. A autora não visualizou formação
mineral em nenhuma das amostras dos grupos do iRoot SP, BA e MTA
Branco, independentemente do período experimental. Foi concluído que
o MTA FILLAPEX foi o único cimento que interagiu com a dentina e
promoveu a biomineralização in vivo, e que este processo não foi
influenciado pelo tempo.
De Almeida (2012) avaliou, num modelo de apicificação ex vivo, se
a interação MTA/dentina com PBS intracanal e se a adição de cloreto de
cálcio ao MTA Branco exercem influência sobre o selamento apical.
Sessenta segmentos radiculares foram divididos em dois grupos (n=30),
sendo G1=MTA Branco e G2=MTA Branco + 10 % de cloreto de
cálcio. Os segmentos foram inseridos em uma esponja floral umedecida
com PBS e subdivididos (n=15): nos subgrupos G1A e G2A, uma
bolinha de algodão umedecida com água destilada foi colocada na
região cervical dos segmentos durante 24h e depois substituída por uma
seca; nos subgrupos G1B e G2B, o espaço do canal foi preenchido com
PBS. Todas as cavidades foram seladas e após 2 meses foi feito o teste
de infiltração de glicose. Não foram verificadas diferenças significativas
entre os resultados dos grupos 1A e 1B; e 2A e 2B, contudo os
segmentos que receberam PBS intracanal apresentaram menor número
de amostras com traços da solução e menor valor médio de
28
concentração de glicose. Foram observadas diferenças significativas
entre G1A e G2A; e G1B e G2B. Os segmentos que receberam o
tampão com MTA Branco + 10% de cloreto de cálcio apresentaram
maior número de amostras com traços da solução e maior valor médio
de concentração de glicose. Assim, a autora concluiu que a interação
MTA-dentina com PBS intracanal influenciou positivamente o
selamento apical, contudo a adição de cloreto de cálcio 10% ao MTA o
influenciou negativamente.
29
3 CONCLUSÃO
O MTA é um material capaz de promover a biomineralização. Após
interação com fluido tissular (ou PBS) há deposição de cristais de
apatita carbonatada, decorrente das reações entre os íons cálcio
liberados pelo cimento e os íons fosfato do PBS ou fluido tissular. Estes
cristais contribuem para a formação de uma camada de apatita
carbonatada na interface MTA/dentina, com aparente adesão química à
estrutura dentinária, que influencia positivamente a força de união à
dentina e o selamento promovido pelo MTA.
31
REFERÊNCIAS
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