Trabalho Alienado

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Trabalho alienado Alienação, para Marx, tem um sentido negativo (em Hegel, é algo positivo) em que o trabalho, ao invés de realizar o homem, o escraviza; ao invés de humanizá-lo, o desumaniza. O homem troca o verbo SER pelo TER: sua vida passa a medir- se pelo que ele possui, não pelo que ele é. Isso parece familiar? Pois é, vamos ver os detalhes. O filósofo alemão concebeu diferentes formas de alienação, como a religião ou o Estado, em que o homem, longe de tornar-se livre, cada vez mais se aprisionaria. Mas uma alienação é básica, segundo Marx: a alienação econômica. A alienação econômica pode ser descrita de duas formas: o trabalho como (a)atividade fragmentada e como (b) produto apropriado por outros. Tempos modernos No primeiro caso, a separação do trabalho, em todas as suas instâncias, aliena o trabalhador, que não se reconhece mais em uma atividade - porque ele faz apenas uma peça de um carro em uma escala produtiva e não tem a visão do conjunto, por exemplo - e porque acaba desenvolvendo apenas uma de suas habilidades, seja braçal ou intelectual, provocando, com isso também, uma divisão social. Essa divisão do trabalho foi fundamental para a organização da sociedade capitalista. Não seria possível sequer vestirmos tênis se não existissem trabalhadores que os produzissem em larga escala em fábricas, onde cada um é responsável por uma etapa na produção. O melhor exemplo de como funciona este processo e suas consequências sociais pode ser visto no filme "Tempos Modernos" (1936), dirigido e estrelado por Charles Chaplin, que mostra, de forma bem humorada, a vida de um operário sendo controlada pela máquina na linha de montagem de uma fábrica. Exploração No segundo caso, o trabalhador tem a riqueza gerada pelo seu trabalho tomada pelos proprietários dos meios de produção. Ele é levado a gerar acumulação de capital e lucro para uma minoria, enquanto vive na pobreza. Um empregado de uma fábrica de TV de LCD, por exemplo, em oito horas diárias de trabalho produz, ao final do mês, um número considerável de aparelhos, mas recebe apenas uma pequena parcela disso em forma de salário. O que recebe não

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Trabalho alienadoAlienação, para Marx, tem um sentido negativo (em Hegel, é algo positivo) em que o trabalho, ao invés de realizar o homem, o escraviza; ao invés de humanizá-lo, o desumaniza. O homem troca o verbo SER pelo TER: sua vida passa a medir-se pelo que ele possui, não pelo que ele é. Isso parece familiar? Pois é, vamos ver os detalhes.O filósofo alemão concebeu diferentes formas de alienação, como a religião ou o Estado, em que o homem, longe de tornar-se livre, cada vez mais se aprisionaria. Mas uma alienação é básica, segundo Marx: a alienação econômica.A alienação econômica pode ser descrita de duas formas: o trabalho como (a)atividade fragmentada e como (b) produto apropriado por outros.Tempos modernosNo primeiro caso, a separação do trabalho, em todas as suas instâncias, aliena o trabalhador, que não se reconhece mais em uma atividade - porque ele faz apenas uma peça de um carro em uma escala produtiva e não tem a visão do conjunto, por exemplo - e porque acaba desenvolvendo apenas uma de suas habilidades, seja braçal ou intelectual, provocando, com isso também, uma divisão social.Essa divisão do trabalho foi fundamental para a organização da sociedade capitalista. Não seria possível sequer vestirmos tênis se não existissem trabalhadores que os produzissem em larga escala em fábricas, onde cada um é responsável por uma etapa na produção.O melhor exemplo de como funciona este processo e suas consequências sociais pode ser visto no filme "Tempos Modernos" (1936), dirigido e estrelado por Charles Chaplin, que mostra, de forma bem humorada, a vida de um operário sendo controlada pela máquina na linha de montagem de uma fábrica.ExploraçãoNo segundo caso, o trabalhador tem a riqueza gerada pelo seu trabalho tomada pelos proprietários dos meios de produção. Ele é levado a gerar acumulação de capital e lucro para uma minoria, enquanto vive na pobreza.Um empregado de uma fábrica de TV de LCD, por exemplo, em oito horas diárias de trabalho produz, ao final do mês, um número considerável de aparelhos, mas recebe apenas uma pequena parcela disso em forma de salário. O que recebe não permite sequer adquirir aquilo que ele produz - uma TV de R$ 5 mil - e o modo de vida de sua família é muito diferente daqueles que consomem seu produto.O trabalhador não reconhece mais o produto de seu trabalho e não se dá conta da exploração a que é submetido. O que se exterioriza não é sua essência, mas algo estranho a ele.Diz Marx: "A alienação aparece tanto no fato de que meu meio de vida é de outro, que meu desejo é a posse inacessível de outro, como no caso de que cada coisa é outra que ela mesma, que minha atividade é outra coisa e que, finalmente (e isto é válido também para o capitalista), domina em geral o poder desumano".Divisão do trabalho e acumulação de capital, que, juntos, formam a base de uma sociedade capitalista, são também as fontes de alienação moderna, segundo Marx, por meio das quais se constitui um sistema de dominação.

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Universidade Federal do Vale do São FranciscoEngenharia MecânicaSociologiaProf. Ana Cristina Chaves AndradeDiscente: Camila Coelho Guimarães

Resenha sobre o filme "O Germinal":

O filme germinal caracteriza perfeitamente o processo de produção do trabalho do modelo capitalista, a expansão do chamado capital, mostrando assim de uma forma bem clara os opostos entre as necessidades humanas e as materiais. O filme reflete o cotidiano de exploração sofrido pelos trabalhadores nas minas de carvão na França do século XIX e mostra a necessidade do trabalho como forma de sobrevivência.

A classe de proletários vive sob a influência do capitalismo, ou seja, é movido à consumo e lucro, onde a burguesia se mostra permanentemente dominante. Nesse âmbito, há varios conflitos de interesses, gerando uma grande insatisfação social por parte dos trabalhadores das minas, que se mostram com uma postura altamente ofensiva diante da injustiça provocada pelos baixos salários e cobrança de multas devido às escoriações sofridas.

O início de "O Germinal" aponta a árdua rotina dos mineiros e evidencia a experiência de um velho homem que trabalha nas minas desde os oito anos de idade, codinome "Boa Morte", que por ter sofrido inúmeros incidentes e ter sobrevivido a todos, assim foi apelidado. Nesse momento evidencia-se o quanto o processo produtivo vivido pela classe proletária é opressivo.

A partir da divisão do trabalho, é exposta uma profunda desigualdade social, em decorrência da separação dos demais segmentos na sociedade, alegando as diferenças que se dão através da oposição entre os trabalhadores e a burguesia. 

A chegada de um jovem desempregado dotado de visão contestadora, acaba provocando grandes mudanças, é nesse contexto que os questionamentos da situação de exploração e total alienação imposta aos mineiros vem à tona. Essa alienação acontece devido à falta de consciência e conhecimento, onde a classe trata o trabalho como algo alheio a ele. Sem conhecimento do seu próprio trabalho, eles perdem o poder e o controle do que é recebido, sendo inseridos numa questão bastante comum nesse sistema de produção, a mais-valia, onde o excedente de produção que é formado através do processo produtivo não é pago ao trabalhador, ficando sobre o controle dos burgueses.

O descontentamento por parte do desempregado desencadeia e alerta os demais empregados, dando início a uma grande revolta, acarretando greves, muitas mortes e tragédias. Podemos concluir que a temática sobre a luta do operariado contra a exploração e por melhores condições de vida e trabalho, é algo mais recente do que se pode imaginar, sendo constantes as

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notícias nos meios de comunicação sobre greve dos trabalhadores. Em razão da divisão social do trabalho e dos meios, a sociedade se extrema entre possuidores e os não detentores dos meios de produção.

O filme no entanto, fala mais do seu próprio período de produção, sendo um agente denunciador de uma realidade temporal. Haja vista falarmos de tempo, ainda podemos nos enquadrar e encontramos em pleno século XXI, condições de trabalho sub-humanos, de exploração extrema e salários dignos de mera sobrevivência.