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Trabalho 4: Projeto Elétrico e Leiaute de Porta XOR em Lógica Estática Dieison Soares Silveira Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS Instituto de Informática Programa de Pós-Graduação em Computação [email protected] 1. Introdução Este trabalho apresenta o projeto e a implementação de uma porta XOR de duas entradas (XOR). Foram utilizados dois estilos de lógica estática na implementação da porta XOR: com transistor de passagem, no qual a porta lógica implementada utiliza apenas 6 transistores, e com lógica CMOS complementar, o qual utiliza 12 transistores em sua implementação. Nesse projeto foram aplicadas as regras de leiaute e os parâmetros do PDK (Physical Design Kit) da empresa AMS para tecnologia CMOS 0,35μm. A Seção 2 apresenta a metodologia utilizada no trabalho, identificando ferramentas e parâmetros utilizados. Além disso, as restrições de projeto determinadas para esse trabalho são apresentadas nessa seção. A Seção 3 apresenta o projeto lógico e elétrico das portas projetadas, apresentando os diagramas esquemáticos utilizados, o dimensionamento dos transistores e o testbench utilizado. A Seção 4 apresenta os leiautes desenvolvidos e a extração dos parasitas desses leiautes. A Seção 5 apresenta a análise dos tempos de resposta para as portas XOR. A Seção 6 apresenta os resultados de potência e energia consumida pelas portas XOR projetadas. Por fim, a Seção 7 conclui este trabalho. 2. Metodologia e restrições do trabalho Os resultados apresentados nesse trabalho foram obtidos através do software de EDA Virtuoso da Cadence utilizando o simulador elétrico SPECTRE™. Na caracterização elétrica foram adotados os seguintes passos: Projeto lógico e elétrico da porta XOR complementar Projeto lógico e elétrico da porta XOR com transistor de passagem Projeto de leiaute da porta XOR complementar Projeto de leiaute da porta XOR com transistor de passagem Análise do pior caso para os tempos de resposta das portas projetadas utilizando os seguintes parâmetros: o Temperatura = 80ºC o Tensão nominal de alimentação = 2,97 V o Capacitância de carga = 20 fF

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Trabalho 4: Projeto Elétrico e Leiaute de Porta XOR em

Lógica Estática

Dieison Soares Silveira

Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS

Instituto de Informática

Programa de Pós-Graduação em Computação

[email protected]

1. Introdução

Este trabalho apresenta o projeto e a implementação de uma porta XOR de duas

entradas (XOR). Foram utilizados dois estilos de lógica estática na implementação da

porta XOR: com transistor de passagem, no qual a porta lógica implementada utiliza

apenas 6 transistores, e com lógica CMOS complementar, o qual utiliza 12 transistores

em sua implementação. Nesse projeto foram aplicadas as regras de leiaute e os

parâmetros do PDK (Physical Design Kit) da empresa AMS para tecnologia CMOS

0,35µm.

A Seção 2 apresenta a metodologia utilizada no trabalho, identificando

ferramentas e parâmetros utilizados. Além disso, as restrições de projeto determinadas

para esse trabalho são apresentadas nessa seção. A Seção 3 apresenta o projeto lógico e

elétrico das portas projetadas, apresentando os diagramas esquemáticos utilizados, o

dimensionamento dos transistores e o testbench utilizado. A Seção 4 apresenta os

leiautes desenvolvidos e a extração dos parasitas desses leiautes. A Seção 5 apresenta a

análise dos tempos de resposta para as portas XOR. A Seção 6 apresenta os resultados

de potência e energia consumida pelas portas XOR projetadas. Por fim, a Seção 7

conclui este trabalho.

2. Metodologia e restrições do trabalho

Os resultados apresentados nesse trabalho foram obtidos através do software de

EDA Virtuoso da Cadence utilizando o simulador elétrico SPECTRE™. Na

caracterização elétrica foram adotados os seguintes passos:

Projeto lógico e elétrico da porta XOR complementar

Projeto lógico e elétrico da porta XOR com transistor de passagem

Projeto de leiaute da porta XOR complementar

Projeto de leiaute da porta XOR com transistor de passagem

Análise do pior caso para os tempos de resposta das portas projetadas utilizando

os seguintes parâmetros:

o Temperatura = 80ºC

o Tensão nominal de alimentação = 2,97 V

o Capacitância de carga = 20 fF

Cálculo da potência média dissipada à frequência de chaveamento Fo = 500MHz

nas entradas A e B

Cálculo da energia média consumida por um par de transições L->H e H->L

com a carga de 20 fF

Wp = 1,5 * Wn

Trilhas de alimentação de Metal M1 com largura de 2µm

Altura da célula de 10 µm

Não utilizar polígonos de Metal M3 e M4

Fazer o leiaute minimizado, permitindo interconexão pelo abutment

Utilizar o comprimento mínimo de canal permitido pelas regras de leiaute

3. Projeto lógico e elétrico

A porta lógica XOR caracteriza-se por implementar a função lógica ou exclusivo

para o caso específico de duas entradas. A função lógica desta porta pode ser

representada pela equação 1. A saída dessa função deve possuir o valor lógico 1 apenas

nos casos onde as entradas A e B possuem valores lógicos diferentes.

(1)

3.1 Esquemático da porta XOR complementar

A Figura 1 apresenta o esquemático da porta XOR complementar. Nota-se que a

rede PDN (Pull-up) é dual a rede PUN (Pull-down). Além disso, nota-se que para

implementar esta porta lógica são utilizados 12 transistores (8 nas redes PUN e PDN + 4

nos dois inversores que complementam as variáveis de entrada).

Figura 1. Esquemático da porta XOR complementar

Além da utilização dos inversores para complementar as variáveis de entrada,

eles serviram de referência para a construção das redes PUN e PDN. Com o intuito de

que elas tivessem a mesma eficiência do inversor, a largura dos transistores da XOR

foram duplicados. Esta abordagem foi utilizada porque a largura de um transistor é

inversamente proporcional a sua resistência intrínseca. Como, tanto na rede PUN quanto

na rede PDN existe sempre um caminho com dois transistores em série, eles devem

possuir o dobro da largura para que a associação em série destes transistores aproxime-

se da resistência do inversor de referência. Desse modo, “drivando” teoricamente a

mesma corrente. A Tabela 1 apresenta as larguras utilizadas nos transistores da porta

XOR complementar.

Tabela 1. Largura dos transistores da porta XOR complementar

Inversores XOR

PMOS 3 µm PMOS 6 µm

NMOS 2 µm NMOS 4 µm

3.2 Esquemático da porta XOR com transistor de passagem

As portas implementadas com transistores de passagem são uma forma de

reduzir a quantidade de transistores necessários para implementar uma função lógica.

Isto se deve ao fato de que os sinais de entrada são aplicados tanto ao terminal de porta

(gate) quantos aos terminais de fonte (source) e/ou dreno (drain) dos transistores

presentes no circuito. Esta abordagem também provê um caminho de baixa impedância

entre VDD (ou GND) e a saída do circuito.

A lógica de transistor de passagem não deve ser implementada em sua forma

básica em função de existir uma queda de tensão entre seus terminais de dreno e fonte

devido à tensão de threshold inerente à tecnologia. Tal deficiência resulta na passagem

de „1s‟ e „0s‟ fracos.

Uma das alternativas de implementação de boas portas utilizando lógica de

transistor de passagem é através de uma subfamília denominada de transmission-gate

logic. Nesta abordagem, bons condutores de „0s‟ (NMOS) e bons condutores de „1s‟

(PMOS) são colocados em paralelo gerando um nível de sinal forte na saída da porta. A

segunda implementação deste trabalho baseia-se nessa abordagem, utilizando a lógica

de chaves convencional e a implementação com transmission-gates. A Figura 2

apresenta o esquemático da porta XOR utilizando transistor de passagem.

Figura 2. Esquemático porta XOR com transistor de passagem

Como pode ser visto na Figura 2 existem seis transistores no esquemático da

porta XOR com transistor de passagem (três PMOS e três NMOS), em vez de 12 como

utilizado na lógica complementar. O inversor é o mesmo do primeiro trabalho. Os

transistores pertencentes à lógica de chaves foram implementados com as mesmas

dimensões do inversor, ou seja, Wp = 3 μm e Wn = 2 μm. Nota-se ainda que não há

nenhum caminho direto entre VDD e GND nos terminais dos transistores neste tipo de

lógica.

3.3 Testbench da porta XOR

A Figura 3 apresenta o testbench utilizado para caracterização elétrica tanto da

porta XOR complementar quanto para a porta XOR com transistor de passagem. Nessa

figura também pode ser visto o símbolo utilizado para as células desenvolvidas. Essa

caracterização foi feita para as duas células, porém apenas uma figura é mostrada, pois

elas são iguais. Pode ser observado nesta figura também, os tempos de transição de rise

(100 ps) e fall (100 ps) nas entradas dos inversores e a carga capacitiva (20 fF) utilizada

na saída do porta.

Figura 3. Testbench utilizado na caracterização das portas XOR

4. Leiaute e extração de parasitas das portas XOR

Antes da extração das características elétricas das portas XOR projetadas, foi

realizada a definição e verificação do seu leiaute sob as regras de leiaute e os

parâmetros do PDK (Physical Design Kit) da empresa AMS para tecnologia CMOS

0.35μm (processo C35B4), considerando ainda todas as decisões de projeto já citadas na

Seção 3.

4.1 Leiaute da porta XOR complementar

O leiaute proposto para a porta XOR complementar pode ser visualizado na

Figura 4. Após todas as verificações, a versão extraída desse leiaute, contendo os

componentes parasitas modelados pela ferramenta, pode ser visualizada na Figura 5.

Figura 4. Leiaute da porta XOR complementar

Figura 5. Leiaute extraído da porta XOR complementar com elementos parasitas

Em função das limitações de altura da célula impostas no projeto (10 µm) e,

visto que as dimensões do inversor base já ocupavam uma boa parte desta altura, tanto

os transistores PMOS quanto os NMOS das redes PUN e PDN foram inseridos no

leiaute utilizando a técnica de folding. Os dois inversores responsáveis pela

complementação dos sinais de entrada foram colocados nas extremidades horizontais do

leiaute. A parte central é ocupada pelos oito transistores restantes.

Pode-se observar nas Figuras 4 e 5 o uso da técnica de compartilhamento de

fusão. Como os pinos de dreno de um transistor N deve conectar-se aos pinos de fonte

do transistor à direita, essas regiões podem ficar sobrepostas no leiaute. Dessa forma, a

conexão é realizada sem a necessidade de uso de fios, diminuindo a incidência de

componentes parasitas e minimizando o uso de área da célula. A largura dessa célula é

de 34,7 μm, totalizando uma área de 347 (μm)².

4.2 Leiaute da porta XOR com transistor de passagem

O leiaute proposto para a porta XOR com transistor de passagem pode ser

visualizado na Figura 6. Após todas as verificações, a versão extraída desse leiaute,

contendo os componentes parasitas modelados pela ferramenta, pode ser visualizada na

Figura 7.

Figura 6. Leiaute da porta XOR com transistores de passagem

Figura 7. Leiaute extraído da porta XOR com transistores de passagem e componentes parasitas

Nessa célula também foi utilizada a técnica de folding nos transistores, porém

apenas os transistores PMOS foram divididos, utilizando apenas dois fingers de poly. A

largura dessa célula é de 13,6 μm, totalizando uma área de 136 (μm)².

5. Análise dos tempos de resposta

Para caracterização dos tempos de resposta das XOR projetadas, uma análise

transiente dos sinais de entrada e saída no testbench (Figura 3) foi realizada. A proposta

é obter os valores de tempo de subida e descida do sinal (Trise e Tfall, respectivamente),

além da propagação de atraso H-L e L-H (Tphl e Tplh). Utilizando as definições em

Rabaey [Rabaey et al. 2004], esses valores podem ser calculados conforme a Figura 8.

Figura 8. Definições de tempos de resposta

O atraso Tp das portas projetadas é dado como a média do pior atraso de todas

as possibilidades de Tphl e Tplh, considerando as seguintes condições de estresse:

temperatura T = 80º C e tensão nominal de alimentação VDD = 2,97V. Assim, é preciso

especificar quais análises de transição serão realizadas.

Para mensurar as métricas definidas anteriormente, foram propostos dois vetores

de teste de modo a cobrir oito tipos distintos de transições. Estes vetores foram

divididos em dois casos: caso 1 com a entrada A transacionando primeiro e caso 2 com

a entrada B transacionando primeiro. Estes casos são apresentados na Tabela 2.

Tabela 2. Transições consideradas na análise

Casos A B A B Transição

Cas

o 1

0 0 -> 1 0 T1

1 0 -> 1 1 T2

1 1 -> 0 1 T3

0 1 -> 0 0 T4

Cas

o 2

0 0 -> 0 1 T5

0 1 -> 1 1 T6

1 1 -> 1 0 T7

1 0 -> 0 0 T8

5.1 Análise dos tempos da XOR complementar

As Figuras 9 e 10 apresentam os resultados de tempo para os vetores de teste dos

casos 1 e 2, respectivamente. Os piores tempos de Tphl, Tplh, Tr, Tf e Tp médio junto

com as suas respectivas transições são apresentados na Tabela 3.

Tabela 3. Tempos do pior caso para a porta XOR complementar

Tr Tf Tphl Tplh Tp

Tempo 516 ps 262 ps 282 ps 372 ps 327 ps

Transição T1 T4 T8 T1 -

Figura 9. Tempos de resposta da XOR complementar para o caso 1

Figura 10. Tempos de resposta da XOR complementar para o caso 2

5.2 Análise dos tempos da XOR com transistor de passagem

As Figuras 11 e 12 apresentam os resultados de tempo para os vetores de teste

dos casos 1 e 2, respectivamente. Os piores tempos de Tphl, Tplh, Tr, Tf e Tp médio

junto com as suas respectivas transições são apresentados na Tabela 4.

Tabela 4. Tempos do pior caso para a porta XOR com transistor de passagem

Tr Tf Tphl Tplh Tp

Tempo 268 ps 249 ps 193 ps 155 ps 174 ps

Transição T5 T2 T2 T5 -

Figura 11. Tempos de resposta da XOR com transistor de passagem para o caso 1

Figura 12. Tempos de resposta da XOR com transistor de passagem para o caso 2

5.3 Comparativo dos tempos de resposta

A Tabela 5 apresenta um comparativo entre os tempos de resposta das duas

implementações da porta XOR. A porta XOR com transistor de passagem apresenta

melhores tempo de resposta quando comparada a implementação da XOR

complementar, chegando a ter um Tp médio 47% mais rápido.

Tabela 5. Tempos do pior caso para a porta XOR com transistor de passagem

Implementação Tr Tf Tphl Tplh Tp

Complementar 516 ps 262 ps 282 ps 372 ps 327 ps

Transistor de

passagem 268 ps 249 ps 193 ps 155 ps 174 ps

6. Potência e energia média consumida

A potência média e a energia consumida pelas portas XOR projetadas, foram

calculadas considerando uma análise transiente utilizando frequência de chaveamento

Fo = 500MHz.

Essa frequência foi analisada variando as entradas A e B de forma separada.

Para calcular a potência média e RMS dissipada pelas portas XOR (sobre o pino de

VDD) foi utilizada a calculadora da própria ferramenta de síntese. Para o cálculo do

consumo de energia média, considerou-se apenas um par de transições L-H e H-L. Para

isso, foi suficiente a multiplicação da potência média obtida no pior caso pelo tempo

onde ocorre apenas duas transições (2ns). A Tabela 6 sumariza todos esses resultados.

As equações 2, 3 e 4 apresentam as fórmulas utilizadas para realizar o cálculo da

potência média, RMS e consumo energético, respectivamente.

Tabela 6. Resultados de potência média, RMS e energia consumida pela portas XOR

A = 500 MHz B = 500 MHz

Potência

Média

Potência

RMS

Potência

Média

Potência

RMS

Consumo

Energético

XOR

Complementar 592,6 µW 1,02 mW 465,4 µW 784,4 µW 1,19 pJ

XOR

Transistor de

passagem

5,52 µW 312 µW 68,7 µW 451,7 µW 0,14 pJ

) ) (2)

) ) (3)

(4)

7. Conclusões

Este trabalho apresentou o projeto elétrico e de leiaute para duas portas XOR.

Ambas as implementações seguem o estilo de lógica estática. Porém, uma

implementação utiliza transistores de passagem, no qual a porta lógica implementada

utiliza apenas 6 transistores, e com lógica CMOS complementar, onde são utilizados 12

transistores em sua implementação. Os leiautes das duas portas XOR foram

desenvolvidos e os circuitos parasitas foram extraídos, a célula da XOR CMOS

complementar atingiu uma largura de 34,7 μm, totalizando uma área de 347 (μm)².

Enquanto que a célula da XOR PTL utiliza apenas 13,6 μm de largura, totalizando uma

área de 136 (μm)². Isto representa uma redução de 60% em área quando utilizada a

XOR PTL. Foram também analisados os tempos de resposta para as duas portas sob as

condições de estresse determinadas no testbench. A porta XOR PTL apresentou um

Tpmédio de 174 ps, enquanto que a porta XOR CMOS complementar apresentou um

Tpmédio de 327 ps. Novamente a XOR PTL mostrou-se mais eficiente, sendo 47% mais

rápida que a porta XOR CMOS complementar para as mesmas condições de testes. As

potências, média e RMS, das duas implementações para a frequência de chaveamento

de 500 MHz foram determinadas, e o consumo energético das portas para uma transição

pode ser obtido, sendo que a XOR PTL apresentou um consumo de energia por

transição de 0,14 pJ enquanto que a XOR CMOS complementar apresentou um

consumo de 1,19 pJ. Para essas condições, a implementação da XOR PTL mostrou-se

como uma opção mais eficiente que a XOR CMOS complementar tanto para área e

tempo de resposta quanto para potência e consumo de energia.

Referências

Rabaey, J. M., Chandrakasan, A., and kikolic, B. (2003). Digital Integrated Circuits: A

Design Perspective. Prentice Hall, 2nd

edition.

AMS 0.35 µm CMOS C35 Design Rules