Trabalhar a Dor 2ª Edição

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Em outubro comemoramos o dia de dois profissionais cujo ofício é de grande relevância para a sociedade, o Professor e o Médico. Dia 15 de outubro é o Dia do Professor e 18 de outubro é o Dia do Médico. Dificilmente nos perguntamos como seria a sociedade sem o trabalho destes dois profissionais. Será que temos realmente a dimensão da importância do seu ofício? E como eles se sentem no exercício da sua profissão? Refletir sobre estas questões requer tempo e espaço, por isso decidimos editar um número para cada profissão. No dia 10 outubro, comemoramos o Dia Mundial da Saúde Mental, então optamos por ficar no mês de outubro com o tema da saúde. Dedicaremos este número ao Médico. Em dezembro, nossa próxima edição será dedicada ao Professor. Neste mês comemoramos também o Dia Internacional dos Direitos Humanos, então trataremos da Educação como um Direito Fundamental. para sempre.

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02nº

Conselho EditorialMarilde Batista NovelliMarcelo Dino FraccaroAdriana Silva Fraccaro

Produção editorialTraço Publicidade

ImpressãoGráfica Barueri

Periodicidade: bimestralTrabalhar a dor é uma publicação da editora

Diretor executivo: Marcelo Alves Novelli

Endereço: Rua da Prata, 992 – Jd. Camargos – BarueriContato: [email protected]

[email protected]

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Em outubro comemoramos o dia de dois profissionais cujo ofício é de grande relevância para a sociedade, o Professor e o Médico. Dia 15 de outubro é o Dia do Professor e 18 de outubro é o Dia do Médico.

Dificilmente nos perguntamos como seria a sociedade sem o trabalho destes dois profissionais. Será que temos realmente a dimensão da importância do seu ofício? E como eles se sentem no exercício da sua profissão?

Refletir sobre estas questões requer tempo e espaço, por isso decidimos editar um número para cada profissão. No dia 10 outubro, comemoramos o Dia Mundial da Saúde Mental, então optamos por ficar no mês de outubro com o tema da saúde. Dedicaremos este número ao Médico.

Em dezembro, nossa próxima edição será dedicada ao Professor. Neste mês comemoramos também o Dia Internacional dos Direitos Humanos, então trataremos da Educação como um Direito Fundamental.

Fica aqui o nosso muito obrigado, Professor! Muito Obrigado, Doutor! O fruto do seu trabalho está presente em nosso ser, gravado para sempre.

Abraços,

Os editores

Editorial

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Condições indignas de trabalho e o drama cotidiano dos motoboys. Até quando?

Trabalho

Entrevista com Dr. Maurício TundisiSecretário Municipal de Saúde de Barueri

Trabalhar com saúde

Entrevista com o cardiologista Dr. Eduardo Menezes

Entrevista

A carreira de Luiz Roberto Ramos.Meu trabalho, um projeto de vida

O olhar da Nutrição pelo NutricionistaConversa que se põe a mesa

10 de outubro: Dia mundial da saúde mentalSaúde Mental

Conheça as histórias do Dr. Cuidador.O Cuidador

Sobre a chance de se cuidar.Navegar é preciso

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Revista Trabalhar a Dor - Out 20117

Para uma melhora substancial nos pa-drões das relações trabalhistas, um dos principais desafios que se co-

locam, se não o principal, é o da superação das condições indignas de trabalho. O que se convencionou denominar “trabalho degra-dante”.

Muitos são os exemplos que agridem de al-guma forma a dignidade dos trabalhadores, principalmente a dos jovens mais pobres, necessitados de buscar o primeiro emprego ou manter-se economicamente. Alguns deles agridem física e psicologicamente, como é o caso dos jovens chamados de motoboys que fazem entregas com motocicletas. Esta mo-dalidade de trabalho tem feito muitas víti-mas em nossas cidades e não recebe a devida

atenção de autoridades e da sociedade em ge-ral. Passamos a tratar como habituais cenas cotidianas de jovens com seus corpos tritu-rados em baixo das rodas de um caminhão.

Não bastassem os elevados índices de vidas perdidas e mutilações, somam-se os traumas familiares e o trauma social, assim como os elevados recursos humanos e materiais em-pregados para enfrentar, quase sem sucesso, um dos principais desafios de saúde públi-ca de nossas cidades: as vítimas diárias de nosso trânsito insano. O fato é que todos nós estamos nos tornando vítimas de um proble-ma que vai muito além destas ocorrências cotidianas, que por banalizarem-se, vão am-pliando cada vez mais o nível de stress social a que estamos submetidos.

Condições indignas de trabalho e o drama cotidiano dos motoboys.

Trabalho

» Marcelo Dino Fraccaro

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Revista Trabalhar a Dor - Out 2011 8

Não estamos neste breve artigo nem falan-do das necessárias políticas públicas para o enfrentamento da questão. Elas deveriam tratar de várias questões: saúde do trabalho, relações trabalhistas, segurança no trânsito entre elas. É um dever e um direito de cida-dania exigir e lutar por elas. Infelizmente, sob o ponto de vista da busca de soluções co-letivas para a resolução do problema parece que estamos bem desmobilizados.

Na verdade, problema começa bem antes. Quando nos esquivamos de tentar enxergar a questão do ponto de vista daqueles que são as maiores vítimas: os jovens que para “ganhar a vida” colocam-na em risco. O pro-blema começa quando nós mesmos, os usuá-rios destes serviços, buscamos quem que se

disponha a levar uma encomenda “urgente”, e a preço barato, e consideramos banais as possíveis consequências de nossa irrespon-sabilidade.

Sociólogo, especialista em Direitos Humanos, é professor universitário e consultor em projetos e políticas socioculturais. Foi consultor do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no Ministério da Cultura.

Marcelo Dino Fraccaro

Até quando?

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Revista Trabalhar a Dor - Out 20119

Saúde Mental

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Revista Trabalhar a Dor - Out 2011 10

» Marilde Batista Novelli

qui estamos para tratar de um assunto que nos é caro, afinal é o motivo que

justifica a existência desta revista. E, acreditem, assunto que tem mobilizado todos os organismos internacionais de saúde e agencias relacionadas. No ano passado, o Secretário Geral da ONU fez um apelo enfático em mensagem sobre o Dia Mundial da Saúde Mental: Devemos derrubar as barreiras que ainda excluem aqueles que sofrem de doenças mentais ou psicológicas. Não há lugar no nosso mundo para a discriminação de quem sofre de doenças mentais. Não pode haver saúde sem saúde mental.

Pois é, este é nosso ponto de partida, nossa premissa, não pode haver saúde sem saúde mental. Vejam só o restante do discurso do Secretário Geral da ONU:

A Declaração Universal dos Direitos Humanos e o Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais garantem o direito de todas as pessoas a gozar do melhor estado de saúde física e mental possível de atingir, assim como a ter acesso à assistência médica, sem ser alvo de qualquer tipo de discriminação.

A Constituição da organização Mundial da Saúde menciona os aspectos físicos, mentais

10 de outubro: Dia mundial da saúde mental

e sociais do nosso bem-estar, que estão todos estreitamente relacionados entre si. As doenças mentais afetam gravemente o nosso corpo e as nossas relações sociais, enquanto os problemas de saúde física, especialmente quando são graves e prolongados, podem ser fonte de isolamento social e causar transtornos mentais.

Mas muitos países não proporcionam tratamento adequado a quem sofre dessas doenças mentais, ainda que o tratamento seja relativamente pouco dispendioso e fácil de dispensar. A grande maioria das pessoas com problemas mentais, neurológicos ou de dependência de certas substancias não recebe os cuidados mais elementares. Esses serviços são fundamentais, se quisermos dar a algumas das pessoas mais marginalizadas do mundo, especialmente nos países em desenvolvimento, alguma esperança de ter uma vida digna.

O programa de ação da Organização Mundial da Saúde, intitulado “Preencher as Lacunas em matéria de Saúde Mental”, é a resposta mundial à grande procura deste tipo de serviços de saúde. Exorto todos os países a aderirem aos objetivos deste programa e a empenharem-se em alcança-los. ...

A

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Saúde Mental

sa evitável de mortes prematuras. Segundo dados da OMS, quase 1 milhão de pessoas morrem por ano por suicídio, um índice glo-bal de mortalidade de 16 por 100.000 pessoas, ou uma morte a cada 40 segundos. É a maior causa de mortalidade na faixa entre 15 e 44 anos, tendo crescido 60% no mundo inteiro nos últimos 40 anos.

Estima-se ainda que por cada morte existam vinte ou mais tentativas.

É importante lembrar que tanto o suicídio consumado quanto a tentativa de suicídio tem sérias consequências emocionais para as pessoas mais próximas da vítima, famí-lia e amigos. O impacto emocional causado pela perda de uma pessoa devido ao suicídio pode durar muitos anos, e pode ter nas fa-mílias, consequências que se estendem por várias gerações. A OMS pede aos governos que desenvolvam estratégias de prevenção em nível nacional.

Segundo dados do Ministério da Saúde, no Brasil a taxa de mortalidade por suicídio é considerada baixa, de 4,5/100.000 habitantes. Alguns Estados e Municípios apresentam ta-xas duas vezes superiores à média nacional. É o caso do Rio Grande do Sul que a média é de 9,8/100.000. Nesse Estado, em deter-minadas faixas etárias, as taxas chegam a 30,2/100.000.

Por que falar sobre isso?Há alguns anos a ONU vem pedindo que prestemos a este assunto a atenção que ele me-rece. No mundo todo, a falta de pessoal qua-lificado e de medicação é agravada pela igno-rância sobre os distúrbios mentais, ignorância que só faz aumentar o estigma e a exclusão. É fundamental que possamos conversar livre-mente sobre o assunto, sem preconceitos, sem medo, com o coração aberto para oferecer nos-sa ajuda a quem dela precisa.

Você sabia que 10 de setembro é o dia mundial dedicado à Prevenção do Suicídio? Por que um dia dedicado a

este assunto?

Porque, infelizmente este é um problema que tem afligido milhares de pessoas e famílias pelo mundo e, por mais triste que seja falar disso, a nossa atitude é importante e neces-sária para prevenir que aconteça. Algumas pessoas acham que é muito tétrico falar disso. Tétrico pode ser conviver com o sofri-mento dos outros e não querer enxergar, ficar calado com medo de oferecer ajuda, ou então de pedir ajuda. Não falar sobre o assunto só aumenta os tabus em relação a ele e com isso o número de casos. A própria ONU apela para que seja feita uma divulgação responsá-vel sobre o tema. Existe até uma Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio (IASP), sabia?

A IASP junto com OMS (Organização Mun-dial da Saúde) vem tentando promover o compromisso mundial com medidas para prevenir o suicídio, que, pasmem, é a prin-cipal causa evitável de mortes prematuras. Vejam bem, não estamos falando de qual-quer coisa, estamos falando da principal cau-

Psicóloga, formada pela PUC-SP, escritora, pesquisadora em Saúde do Trabalhador, 10 anos de experiência na Saúde Pú[email protected]

Marilde Batista Novelli

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Revista Trabalhar a Dor - Out 2011 12

O trabalho na área da saúde

Dr. Maurício TundisiSecretário Municipal de Saúde de Barueri

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Trabalhar com Saúde

Sou formado em Medicina desde 1988, com formação especializada em cirurgia plástica na Aeronáutica. No início entrei para a carrei-ra militar. Atuei como oficial médico, clínico e cirurgião dentro da Força Aérea Brasileira e do Exército. Comandei serviços de saúde em Unidades Militares e da Guarnição Osasco/Barueri. Atuação sempre no serviço público, há mais de 15 anos concursado na Prefeitu-ra Municipal de Barueri, em cargos de chefia dentro de Unidade Básica, Coordenação de Serviços de Urgência e Emergência, Diretoria de Pronto Socorro, até receber o convite para ser Secretário Municipal de Saúde.

A minha escolha pela medicina se deu muito cedo, talvez pelos exemplos de família. Tinha muitos médicos dentro da família. Lembro--me principalmente de um tio que demons-trava que a profissão era honesta, gloriosa, útil ao ser humano. Eu fui tocado pela vida dele, pela sua postura e pelos seus valores. Meus pais eram professores em Saúde, mi-nha mãe fez Saúde Pública e meu pai tam-bém foi docente por mais de 40 anos, eles despertaram em mim esse interesse de ajuda ao próximo. Claro, também os fundamentos religiosos, eu sou religioso, minha família é.

Dr. Tundisi

Para mim, a saúde é uma situação na qual você pode encontrar uma forma de ajudar ao próximo, amenizar o sofrimento seja ele físico ou mental. É uma forma de você poder ajudar a pessoa em dificuldade ou pelo me-nos, amenizar o sofrimento. Meu carro chefe é pensar assim, se pensarmos desta forma, então vamos reunindo condições de fazer.

Vejo as coisas por dois ângulos. Um, eu nun-ca deixei de ser médico e nunca vou deixar porque a minha satisfação é estar sempre diante da pessoa a fim de tentar trazer uma melhora para ela. Esta é minha grande satis-fação, seja na clínica ou na cirurgia plástica. É o que eu quero até o fim da minha vida.

Quando comecei a ter cargos de chefia dentro das Forças Armadas fui tendo contato com a administração e com o SUS. Isto foi trazendo uma bagagem de entendimento das dificul-dades que o povo brasileiro tinha no acesso à saúde. Uma das visões mais claras foi quando participei em ações cívico sociais em várias regiões do país. Tive um destaque grande em atendimento à saúde, buscando refúgios, en-tendimentos e tentando através da profissão trazer benefícios à população militar e não militar. Em muitos lugares, a população só tinha acesso à saúde pelo exército. Tive muita informação, o que foi me trazendo uma ba-gagem muito grande. Fui reconhecendo as

A formação Trabalhar com saúde

A escolha da medicina

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Trabalhar com Saúde

dificuldades do Governo Brasileiro em che-gar ao território todo, em levar a saúde ade-quada à população. Tive que buscar mais conhecimentos, entender saúde pública, civil e militar. Eu via as Forças Armadas fazendo um serviço porque o Governo já não tinha pernas para fazer. A medicina militar e cívica se interagindo num território deste tamanho, num país com estas dimensões. Tive uma ba-gagem sólida e o entendimento do SUS (Sis-tema Único de Saúde) enquanto trabalhava para trazer algum tipo de atendimento em áreas longínquas, distantes de tudo. Sempre de forma integrada, seja no tratamento men-tal, clínico ou na reabilitação. Ia buscar uma forma de integração para o atendimento no país das pessoas com dificuldades.

Isto foi despertando a ideia de estar à fren-te de alguma situação e poder modificar de acordo com o que aprendi nestes anos todos. Quando me encontrei à frente da chefia de uma UBS, da coordenação do Pronto Socorro, ou na secretaria da Saúde, pude trazer toda a minha bagagem e informação no modelo de assistência vigente no país, sabedor das dificuldades, e pude também trazer para o profissional de saúde o respeito e a forma adequada de se sentirem úteis. Quando vim para a gestão, vi a oportunidade de fazer com que a saúde fosse de tal forma resolutiva a ponto dos pacientes serem bem atendidos e os profissionais se sentirem valorizados. Tem respeito, condições de trabalho, equipamen-

tos e valorização. Toda minha formação me fez colocar um modelo buscando a resolutivi-dade em saúde baseada em todos os aspectos que possa uma pessoa sofrer, físico, social ou mental.

Ser gestor é importante alcançar índices de satisfação de profissionais e da população. Eu gostaria que minha gestão servisse de modelo pensado na resolutividade que é o caminho de se buscar uma saúde verdadei-ra. Aqui em Barueri temos conseguido esta situação. Importante que a gente tenha tra-balhado para conseguir esta resolutividade e atuar em todos os níveis na prevenção, no tratamento e na recuperação como um todo. É assim que a saúde deve ser e não somente reparativa e mesmo assim superficial que é o que vemos com frequência.

Como médico, o desafio maior era me sentir que não estava sendo eficiente em tudo o que eu poderia fazer para um doente porque eu não tinha recurso adequado, local para enca-minhar para dar seguimento ao tratamento, complementação do diagnóstico através de exames, encaminhamento para procedimen-tos cirúrgicos com internações em situações de risco que a gente não sabia onde ia termi-nar. Quando eu me tornei gestor eu pude mo-dificar esta realidade. De forma que os que venham depois possam modificar no sentido de implementar e não de regredir ou deixar

Ser gestorDesafios

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Revista Trabalhar a Dor - Out 2011 16

ao fracasso, porque as conquistas alcançadas vem da influência de toda uma população. O desafio do gestor é encontrar um equilíbrio, uma adequação, é difícil, mas é a meta. Esta é minha meta, um caminho que você possa ter sempre adequado a quantidade de profis-sionais e serviços de acordo com as necessi-dades da população pela qual você trabalha.

Primeiro, eu aconselho a só escolherem a profissão em saúde, não falo só em ser médi-co, temos várias profissões em saúde, aquele que tenha dentro dele o reconhecimento de que fazer para o outro é tão importante quan-to fazer para si mesmo. Se isto for verdadeiro, que escolham uma profissão de saúde para poder sempre trazer um conforto, algo me-lhor para o próximo. Com isso vai se sentir bem consigo mesmo trazendo um bem estar para sua própria saúde.

Segundo, é ter uma visão do SUS. O modelo do SUS é um modelo vitorioso, interessante e audacioso para um país com estas dimen-sões. Mostrou ser eficiente, mas precisa de algumas remodelações para que possa real-mente atender a população como um todo em todos os seus níveis, num país deste ta-manho. Um Governo realmente sério tem que abraçar o SUS acima de qualquer outra causa e fazer os investimentos que são tão ne-

Importante para trabalhar em saúde

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Revista Trabalhar a Dor - Out 201117

cessários. Posso falar de minha experiência de modo pessoal, posso dizer que para que você consiga fazer o que realmente é neces-sário, não basta um bom gestor, você precisa ter um executivo sério que acredita que você está fazendo tecnicamente o necessário, que você vai trazer benefícios para a população. Até hoje, todas as nossas reivindicações, o executivo nunca se opôs, tudo que eu entendi como necessário ele acatou. Sou secretário de uma cidade e não de um bairro, trabalho em rede, coloquei o dedo várias vezes na ferida e tive o apoio do executivo. Trabalhei tendo o entendimento do que é necessário para a po-pulação e não para a reivindicação política, não de uma demanda local, pensar procedi-mentos para a cidade inteira. Eu sou técnico e tive, pelos resultados, o apoio político.

O SUS é perfeito, mas o Governo federal precisa acreditar francamente nele, se não, ele não anda. Os técnicos precisam dizer, eu acredito nisso, o que é necessário, quais são os investimentos. Hoje, há duas posturas, uma que acredita que o problema na saúde é de gestão e outra que acredita que é inves-timento. A Presidenta está pedindo um estu-do, quer ter claro qual é a demanda, o que realmente se gasta e se precisa, para ter o en-tendimento se o problema é de gestão ou de financiamento. Acho importante isso, apoio essa medida, é preciso ter um diagnóstico claro da situação. O meu entendimento é de que há um subfinancia mento, o que não quer dizer que havendo financiamento ele não vai parar no lugar errado. Tem que ter metas cla-ras, um plano a seguir. Não basta aumentar

o financiamento e não ter o controle de onde está sendo gasto. Tem que ter metas claras e elas precisam ser cumpridas, tem que ter for-mas de controle. O Brasil é o único país deste tamanho que tem este sistema de saúde, nes-te sentido é audacioso. É caro, é preciso ter um bom financiamento e mão de ferro para cobrar que os técnicos executem o que foi es-tudado e proposto em cima desse financia-mento. Só dar o dinheiro não basta, é preciso ter controle sobre ele.

A dor física eu procuro me cuidar tentando ter uma vida saudável, regrada, e tratando se for o caso. E tem outra dor, que é a dor de se sentir impotente diante de algumas situa-ções. Estas eu me apego em Deus, na minha esperança e na minha formação para que eu possa ter a tranquilidade e o discernimento necessários a fim de esperar o resultado. E eu colhi bons resultados, me sinto muito bem e sei que quando retornar ao atendimento eu vou dizer que encontrei um serviço muito melhor, mais humano e tranquilo, e mais digno de exercer uma profissão. Sim, eu me sinto bem de ter feito isso e vou continuar como um defensor incansável do SUS.

Trabalhar com Saúde

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O coração de quem cuidaO cardiologista Dr. Eduardo Menezes fala à Trabalhar a dor e resume como é o coração de quem cuida. Como se sente no cotidiano do seu trabalho e o que pensa de sua profissão.

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Revista Trabalhar a Dor - Out 201119

Entrevista

Eduardo – Era bem pequeno quando ganhei um “João bobo”, e pintei a barriga dele toda com mercúrio dizendo que ia operá-lo. Hoje penso e concordo com minha avó que reconheceu ali uma primeira manifestação vocacional.

Eduardo – Saí do interior de Minas Gerais onde não tinha ainda os cursinhos. Prestei 03 vestibulares, na Federal de Uberaba, de Uberlândia e em Vassouras no Rio de Janei-ro. Passei mal classificado em Vassouras, mas tudo que conseguia enxergar naquele mo-mento, era um desejo incontrolável de iniciar o curso. Estranhamente, sempre tive vontade de fazer cardiologia. Minha formação se deu no Hospital Beneficiencia Portuguesa e no Hospital Heliópolis, ambos em São Paulo.

Eduardo – Sou um hipertenso leve con-trolado com monoterapia em dose baixa, e diariamente convivo com exemplos reais de como não devo tratar meu coração inclusive alguns casos com evoluções dramáticas de limitações físicas e psicológicas de pacientes em franca idade produtiva. Todavia o bom é que em minha rotina clinica diaria, esse gru-po se alimenta de exceções. Somente na UBS do Parque Imperial onde faço ambulatório

na Prefeitura Municipal de Barueri, temos hoje cadastrados 134 pacientes que se sub-meteram a procedimentos cardíacos cirúr-gicos. É gratificante a forma carinhosa com que alguns deles materializam sua gratidão. Pessoas humildes e trabalhadoras que levam frutas, canetas camisas, couro de bode, quei-jos, pimentas , mel etc. Outro dia me comovi com um deles que queria de qualquer forma demonstrar alguma gratidão por um atendi-mento que reconheço, temos obrigação ética e moral de dispensar a todos. Creio que como faltou o fator material para que ele concreti-zasse sua intenção, Deus permitiu que ele protagonizasse ali naquele consultório, uma das mais belas e sinceras manifestações de carinho que já recebi. Ele me pediu 2 minu-tos de atenção, retirou uma flauta do bolso, montou e tocou ali uma linda melodia. Como não estava preparado, fiz questão de pedir a ele que repetisse para que eu gravasse em meu celular, onde ela permanecerá pelo resto dos meus dias.

Eduardo – Dizer que não nos envolvemos, com conselhos, emoção ou mesmo silêncio respeitoso às situações ali presenciadas, não seria verdade. Mas a cada ocre que entra e saia, a situação nos permite renovar o esta-do de espirito e seguir o atendimento. Tenho como regra tentar atender cada um deles como se fosse o único do dia. Tem dado certo e me sinto muito realizado com minha profis-são. Não consigo imaginar nada mais que pu-desse fazer profissionalmente, que não fosse isso, e só por isso agradeço a Deus em todos os momentos em que me é permitido viver o prazer e a nobreza da profissão de Médico.

O que o levou a ser médico?

Como foi sua formação?

Você cuida do coração dos outros, e o coração de quem cuida como é?

E o sofrimento, como é? Afinal, você convive diariamente com o sofrimento das pessoas.

Page 20: Trabalhar a Dor 2ª Edição

E o sofrimento, como é? Afinal, você convive diariamente com o sofrimento das pessoas.

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Revista Trabalhar a Dor - Out 201121

Meu trabalho, um projeto de vida

L embro-me que, quando entrei na Es-cola Paulista de Medicina como calou-ro pela primeira vez, a sensação que

eu tive é que as pessoas todas me reconhe-ciam e eu não conhecia ninguém. Creio que a história de que o neto do Prof. Jairo Ramos e filho do Prof. Oswaldo Ramos era um dos calouros no ano de 1971 havia circulado. Eu estava entrando na instituição que meu avô havia ajudado a fundar e onde lecionou até a aposentadoria, e onde meu pai havia se formado e le-cionado desde então. A de-cisão de fazer medicina não foi fácil, perguntava-me se a opção seria apenas uma resposta às expectativas fa-miliares. Mas acho que, no fundo, minha vontade era mesmo ser médico e entrar na Paulista. Cheguei a fazer vestibular na FGV para ad-ministração de empresas, carreira que meu avô via como promissora, fui apro-vado, mas não cheguei a cursar.

Para ser bem franco, eu me lembro mais do meu avô como avô do que como médico ou professor da Escola. Entrei na escola em 1970, comecei a fazer o primeiro ano em 1971, sendo que meu avô recebeu a aposentadoria compulsória em 1970, parou de freqüentar a Escola e morreu um 1972. A

Luiz Roberto Ramos

aposentadoria foi para ele um trauma que, praticamente, o matou. Meu avô era super ativo e deixar a Escola foi como sair da vida. No ambiente familiar meu avô era bem afe-tivo eu acho, mas tinha essa fama de muito bravo, duro com as pessoas, e é essa a fama que ficou.

Quando houve a comemoração dos 100 anos de nascimento do meu avô (ano 2000), pedi-ram-me para escrever alguma coisa sobre ele.

Relatei algo que me impres-sionou quando me dei con-ta: até hoje eu não encontrei uma pessoa que tenha co-nhecido meu avô e que, ao saber que eu era neto dele, não tivesse uma história para me contar sobre ele, algo elogioso ou as vezes nem tanto, mas que havia ficado forte na lembrança.

A medicina surgiu de uma forma natural e precoce em minha vida. Tenho memó-rias de infância, entrando no Hospital São Paulo e sentindo aquele cheiro de

reagentes, na antiga Seção de Metabolismo e Nutrição, onde meu pai trabalhava, e que foi o embrião da atual disciplina de Nefro-logia. Eu me lembro, por exemplo, das festas de final de ano. Onde hoje é o refeitório no Hospital fazia-se uma festa à qual ia meu avô, minha avó e todos os professores com

“Eu sempre tive a Escola

Paulista como uma extensão

da minha família”

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Revista Trabalhar a Dor - Out 2011 22

suas famílias.O interessante é que cabia todo mundo na tal sala, hoje ficaria difícil reunir todo mundo.

Como aluno, tive, no quarto ano de medici-na, a experiência marcante de aprender Pro-pedêutica Médica na chamada terceirona, a Enfermaria de Clínica Médica no terceiro andar do HSP, que durante muitos anos foi comandada pelo meu avô e seus assistentes. Na minha época, meu avô já estava aposenta-do e quem dirigia a enfermaria era meu pai e meu tio, Prof Duílio Sustovich (primo irmão de meu pai), junto com um time de excelen-tes clínicos, dos quais destaco o professor William Hornse, que foi preceptor do meu grupo.

Dizia-se que era na terceirona que os alunos aprendiam medicina, como examinar o pa-ciente e diagnosticar as doenças. A enferma-ria era a base de formação dos bons clínicos que deram fama à Escola. Acho que meu avô se mostrou avançado para seu tempo quando passou a estimular bons profissionais a estu-darem no exterior para trazerem novos co-nhecimentos. Meu pai foi um dos primeiros que experimentou estágios no exterior, um primeiro em Montreal, e outro em Nova Ior-que. A Escola tem essa marca de apostar no estágio fora do Brasil como forma de ampliar a massa crítica e desenvolver a pesquisa. Eu acabei seguindo caminho semelhante.

Depois de formado fiz três anos de residên-cia, e fui fazer mestrado e doutorado em Lon-

dres “Eu sempre tive a Escola Paulista como uma extensão da minha família” na London School of Hygiene and Tropical Medicine. Fi-quei lá ao todo quatro anos e acho que foi um período muito importante para o meu desen-volvimento profissional e pessoal.

Devo muito aos professores Roberto Baruzzi e Magid Iunes pelo apoio e incentivo para es-tudar fora do Brasil.

Foi nessa época que dei uma guinada em minha vida profissional. Até então eu era pediatra, com formação em saúde pública e cargo de sanitarista na Secretaria da Saúde Estadual.

Terminei o mestrado em 1982 e estava de-finindo meu doutorado na área de atenção materno infantil quando resolvi conversar com uma pessoa que foi muito importante na minha vida, o Alexandre Kalache, que hoje é diretor do programa mundial de envelheci-mento da OMS lá em Genebra. Ele era o bra-sileiro epidemiologista que havia se radicado em Oxford. Fui procurá-lo para discutirmos o meu projeto sobre amamentação, como parte dos programas de saúde materno-in-fantil, que era um casamento entre pediatria e saúde pública. E conversando com ele no refeitório, depois de mostrar o projeto, ouvi o seguinte “seu projeto é legal, mas sinto que no Brasil tem muita coisa nessa área mater-noinfantil, você não quer trabalhar com en-velhecimento?”. Foi assim que se iniciou um novo tempo em minha vida! Ele argumentou

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Meu trabalho, um projeto de vida

que o Brasil estava envelhecendo, que nin-guém estava percebendo isso, e que as con-seqüências para a saúde pública seriam gra-ves. Acabei mudando de forma radical, entrei para fazer um projeto de pediatria e saí com a idéia de um projeto sobre envelhecimento. Este acabou sendo o tema do meu doutorado, proporcionando o primeiro inquérito epide-miológico com idosos realizado no Brasil.

Desde então comecei a prestar atenção nos idosos. O primeiro desafio era fazer um le-vantamento, um estudo de reconhecimento, populacional. Isto se mostrava importante para saber quem são os nossos velhos aqui em São Paulo, do que padecem quais as necessidades que têm. Esta foi a primeira avaliação populacional com idosos feita no Brasil. Depois disso, inúmeros estudos sur-giram. Continuo estudando idosos na comu-nidade, aqui na região da Vila Clementina, e mantenho a seqüência de pesquisa há mais de 17 anos.

Tinha feito concurso pra professor auxiliar antes de voltar pela segunda vez a Londres em 1985. Como retornei com o doutorado, passei a professor adjunto, ainda na medi-cina preventiva. Voltei falando de velho e isso era uma coisa nova. As pessoas diziam “você ficou louco. No Brasil, país de jovens, estudar velhos?!... Você é pediatra!”. Hoje, de-corridos 20 anos, envelhecimento é o assunto do momento. Naquela época era interessante ver a reação das pessoas ao ver alguém es-tudar envelhecimento. Voltei então para o Departamento de Medicina Preventiva, onde tentei desenvolver essa área de estudos mas naquela época, o departamento não vivia

um momento propício. Concomitantemente, eu estava me associando às pessoas da clíni-ca médica interessadas por geriatria. Como docente promovi a metodologia de pesquisa científica aplicada aos idosos e à geriatria, em sintonia com o trabalho assistencial de uma equipe multidisciplinar que se especializa-va em geriatria e gerontologia. Dessa união nasceu o embrião da disciplina de geriatria que iria ser ficializada no Departamento de Medicina mais de 10 anos depois. Ao mesmo tempo ia ficando muito dividido entre a pre-ventiva e esse lado clínico. Nessa época, meu pai teve um papel importante e me alertou “escuta, você não vai conseguir viver uni-camente como pesquisador nesse país”. Foi bom ele me trazer à realidade porque quan-do voltei de Londres tinha essa idéia de ser pesquisador. Sonhava em ganhar grants e que com isso teria dinheiro para pesquisar e viver, mas a realidade é que eu precisava reativar o consultório que havia parado na ida para Londres. Com o apoio do meu pai voltei a clinicar, dividindo seu consultório e podendo ter supervisão clínica nessa retoma-da profissional. De certa forma reproduzi a experiência de meu pai, que teve consultório com meu avô.

Na Escola comecei a montar um grupo de pesquisa em geriatria e gerontologia com profissionais envolvidos com projetos de pes-quisa, visando a pós-graduação. A união da pesquisa e assistência geriátrica levou a for-mação de um Setor de Geriatria na Disciplina de Clínica Médica. Nessa época eu ainda era sanitarista, estava na Secretaria de Saúde Es-tadual que tinha o comando do Dr. Aristode-mo Pinote que havia me indicado para coor-

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denar o Programa de Assistência aos Idosos no Estado. Na Escola, o ambulatório começou a crescer e isto facilitou convencer o diretor, na época o Prof. Nader Wafae, a criar um Se-tor de Geriatria. Foi assim que ele nos cedeu uma casa onde passou a funcionar o Setor com o ambulatório e os projetos de pesquisa em 1988. Em 1995, saí novamente do Brasil, agora para fazer um pós-doc em geriatria e desta vez fui para Harvard fazer neuropsico-geriatria, com especialização em Alzheimer. Fiquei um ano e meio lá no departamento de geriatria da Harvard, num setor específico de Alzheimer e fortaleci meu lado clínico. Voltei preparado para a livre-docência em Geriatria e consegui o título em 1997. Nesta época éra-mos três docentes no setor (dois com livre do-cência) e mais dois técnicos administrativos com função docente, suficiente para pleitear uma disciplina. Em 1999 o Departamento de Medicina aprovou a criação da Disciplina de Geriatria da EPM.

Entrei na Escola no auge da ditadura, em 1971. Na época do presidente Médici nin-guém conversava sobre política. Nesse tem-po, tínhamos uma colega de turma que foi presa durante o curso, simplesmente de um dia para o outro ela não apareceu mais, só veio a retomar o curso anos depois quando foi libertada, e tudo era meio abafado. Em 1975, já no quinto ano, quando começou a distensão, acabei me envolvendo em políti-ca estudantil, e cheguei a vice-presidente do centro acadêmico (CAPB), responsável pelo jornalzinho. De certo modo isso quebrava uma tradição familiar, pois meu pai era uma pessoa políticamente conservadora como, ali-ás, também era o meu avô. Durante a residên-

cia, em 1978 a 1979 me envolvi, com a política da residência e fiz parte da diretoria estadual da Associação dos Residentes de São Paulo e vivenciei a época mais agitada do movimen-to, quando houve a primeira greve nacional que foi a primeira greve de residentes feita no Brasil! E essa greve começou aqui na Escola Paulista de Medicina e ganhou dimensão na-cional. Participei de uma assembléia históri-ca no anfiteatro A lotado com residentes, pre-ceptores e professores, e falei a favor da greve caso o governo federal não nos equiparasse aos residentes estaduais em termos salariais. Naquela época, greve de residente era algo impensável. Mas acabou acontecendo uma longa greve de quase um mês, que adquiriu dimensões nacionais. Tenho muito orgulho de ter participado do movimento de resi-dentes, numa luta pelos direitos trabalhistas. Tive uma militância bastante intensa nesse movimento, e acabei me envolvendo também com o movimento Renovação dos médicos, no Sindicato e CRM, que se contrapunha ao sistema militar vigente à época.

Creio que começo a deixar minhas marcas na Escola, por exemplo, com a consolidação de uma área de estudos e de pesquisa que con-tinua crescendo. Dei sim continuidade a uma proposta de família de produzir o conheci-mento, fazer pesquisa. Foi assim que a geria-tria nasceu: com qualificação em pesquisa e foi exatamente isso que deu força para se rei-vindicasse que ela virasse disciplina, depois de uma rigorosa avaliação pelo Departamen-to de Medicina.

Todas as minhas pesquisas são na área de en-velhecimento. Meu doutorado foi um estudo

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epidemiológico e na seqüência montei esse projeto de segmento que é de 1990 (Projeto EPIDOSO) e que continua até hoje. Atual-mente contabilizo 35 mestres e 15 doutores formados com trabalhos publicados sobre esse estudo. O Centro de Estudos do Enve-lhecimento conta com 30 pessoas trabalhan-do com idosos e faz interfaces com muitas disciplinas e departamentos da Escola inte-ressados nos idosos e no processo de enve-lhecimento.

Hoje sou Professor Titular de Medicina Pre-ventiva e além de exercer a chefia do De-partamento, coordeno um novo programa de pós-graduação em Saúde Coletiva o que certamente me ocupa bastante porém me dá muita satisfação.

A Escola tem muito a ver com minha vida, em particular com minha vida profissional. E enquanto testemunha viva de várias gera-ções que por aqui passaram, procuro manter a tradição de uma escola de excelência na área médica, forte na pesquisa, e aberta para o novo. É preciso aprender a se adaptar aos

novos tempos. Noto uma mudança no públi-co estudantil que chega à Escola. Por outro lado vejo que o contato professor-aluno-do-ente tem diminuído e que os alunos têm uma carência desse tipo de contato. Estou vendo se, via preventiva, recuperamos essa prática. E atualmente estamos fazendo uma reformu-lação da grade curricular que tem como obje-tivo dar aos alunos uma prática mais voltada à relação médico-paciente, uma visão mais social dos problemas de saúde e uma capaci-tação geral para cuidar dos problemas clíni-cos antes do jovem fazer a sua opção por uma especialidade.

Tudo isto tem a ver com a minha trajetória na Escola. Sem contar que a minha turma foi uma turma eleita porque, desconfio eu que foi a que mais deixou docentes nessa escola e seguramente a que deu o maior número de titulares. Sou da 34a turma, formandos em 1976, de onde saíram uns 25 docentes e 9 titu-lares. Isto também faz a diferença não só para mim, mas para o conjunto da Escola Paulista de Medicina.

Meu trabalho, um projeto de vida

Prof. Luiz Roberto Ramos é Professor do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina.

Fonte: BMHV- Banco de Memórias e Histórias de Vida da EPM/UNIFESP

Luiz Roberto Ramos

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O Cuidador

Cria

ção:

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nal:

Carlo

s Mec

chi

Vamos

Alminha!

N~ao podemos

chegar atrasados!

Seo Agoniado

levantou cedo...

tomou banho, fez

café e ficou pronto...

Era o dia da primeira

consulta com o DR Cuidador

Será que est~ao

falando de mim?

Parabéns DR.

Hoje é dia do

Médico!

Muito obrigado

Dona Alma, mas

eu n~ao sou médico.

N~ao! Ent~ao, o que

estamos fazendo aqui?

Calma homem, n~ao

posso nem me arru-

mar direito!

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Conversa que se põe a mesa

O olhar da Nutrição pelo Nutricionista » Adriana Silva Fraccaro & Fernanda Brossi Gutierre

nutrição é um ato involuntá-rio, uma etapa sobre a qual o

indivíduo não tem controle. Começa quando o alimen-

to é levado à boca. A partir desse momento, o sistema digestório entra em ação, ou seja, a boca, o estômago, o intestino e outros ór-gãos desse sistema começam a trabalhar em processos que vão desde a trituração dos ali-mentos até a absorção dos nutrientes, que são os componentes dos alimentos que consumi-mos e são muito importantes para a nossa saúde. ¹

Falar sobre nutrição é um assunto muito am-plo. Nós, nutricionistas, temos que estudar quase como médicos, temos que ver cadá-veres e temos que provar comidas horríveis, apesar da população achar que é só coisa boa. Como decidir em que área trabalhar se

durante o curso se aprende de tudo: clínica, esporte, controle de qualidade, Unidade de Alimentação e nutrição (UAN)? E todos os estágios? Além disso, mesmo após termos estudado um pouquinho de cada área, ainda uma especialização é necessária.

Ser nutricionista é ser também: conselheiro, psicólogo, professor, pacificador e ainda ser motivo de desavenças, pois muitos colabora-dores ainda têm a visão de que o nosso traba-lho é para prejudica-los.

Ser nutricionista é sempre saber os nomes das bactérias dos alimentos, ter alguém pe-dindo para fazer uma dieta, decorar todas as calorias de todos os alimentos, ser magra e ainda dar bom exemplo de alimentação: churrasco e junk food nem pensar!

Ser nutricionista é ser apaixonado pela pro-

A

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fissão! As dificuldades são muitas, a remu-neração é pequena, mas o prazer de ver um paciente feliz com o peso eliminado, a mu-dança nos hábitos alimentares e colaborado-res seguindo as orientações do treinamento, não tem preço!

O Dia do Nutricionista é um dos mais divul-gados e mais comemorados do país! Agora não somos mais vilões, somos imprescin-díveis em qualquer área da Nutrição, pois conseguimos provar, como nosso trabalho, o valor que temos.

Parabéns a todos nós!

Referência bibliográfica:

¹Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica.

Mo692 Módulo 10: Alimentação e nutrição no Brasil l. / Maria de Lourdes Carlos Rodrigues...[et al.]. – Brasília : Universidade de Brasília, 2007.

Nutricionista, especialista em vigilância sanitária de alimentos e administração de empresas com dez anos de experiência profissional. Atualmente exerce atividades como docente.

Adriana Silva Fraccaro

- Nutricionista CRN3 11147 - Especialista em Vigilância Sanitária de Alimentos - Atualmente trabalha como coordenadora de Qualidade de uma grande rede de Fast Food.

Fernanda Brossi Gutierre

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Alento, serenidade e cuidado é bom para todos. Não é à toa que a sensação de respaldo é uma das mais

perseguidas. Espantar a solidão e esquentar um pouco o vazio de muitas existências é, também, além de uma busca, uma ação revigorante e inevitável possibilidade de re-estabelecimento espiritual. E cuidado não é apenas para os doentes ou fragilizado. Cuidado é zelo, administração antecipada de uma boa vida. Em uma de suas formas mais incomuns de manifestação, a palavra cura é utilizada, e muito bem, para designar a necessidade natural do humano de zelar. Como o curador de um acervo de obras de

arte, nós, homens, olhamos para a vida de modo a prevenir e lutar por tranqüilidade. Ou seja, não é preciso, sempre, “apagar um incêndio” ou remediar um problema.O coração dos cuidadores também precisa desse alento, pois, afinal, antes de tudo são gente. Sou psicólogo clínico, passo dias ou-vindo problemas que parecem insolúveis, di-lemas existenciais, perguntas sem resposta e, de modo algum, isso é uma reclamação, ape-nas um fato. Escolhi como minha profissão e modo de ser a chance de clarear alguns cami-nhos e percorrê-los em parceria com aqueles que me solicitam. Entretanto, há, também, um “homem-aranha” por trás deste Peter Parker.

Sobre a chance de se cuidar » Guilherme Conti Marcello

Navegar é preciso

Banda Family Free Rock após show no parque Villa Lobos em 2010.

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Sobre a chance de se cuidarComo assim? Nem bem salvar o mundo e mui-to menos escalar prédios e sobrevoar a cidade pendurado em teias, mas, fazer música. Para-lelo à vida de consultório, tenho bandas desde a minha adolescência. Respiro e me alimento de música, quase como um antídoto que me protege da monotonia do cotidiano. Durante 8 ótimos anos mantive minhas quintas-feiras à noite como descanso mental e entrega ao bom e velho rock n roll. Family Free Rock é o nome da banda que fundei junto com dois amigos, um deles cirurgião de traumas do Hospital das Clínicas e professor de cirurgia geral da Faculdade de Medicina da USP. Alguém que cuida, e mais, salva vidas e reconstrói futuros

por vezes invisíveis. Nosso objetivo?

Diversão! Nun-ca ambiciona-mos sucesso, público, fãs e

shows em estádios de futebol e, sinceramen-

te, acho que essa foi a formula que resultou em 8 anos de convivên-

cia e criação sem desavenças, disputa ou discussão sequer. No início de cada ano, pla-nejamos as atividades dos meses seguintes. Na maioria das vezes, um disco com nossas composições ou um show para nossos amigos constituem-se em metas desejadas e fortemen-te buscadas. Somos uma “family” , quando membros se ausentam, deixam sua marca e saudade. Outros chegam e complementam o núcleo, trazendo novas energias. Capri-chosamente, com as diferenças de idade que aconteceram entre nós, o acaso teceu laços e afinidade de sentimentos e idéias dissolvendo os 38 anos que separam, por exemplo, eu e o baterista do conjunto, um engenheiro. A músi-

Foto de show com a banda Family Free Rock no Parque Villa Lobos em 2010.

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ca, vontade de expressar emoções, sensações e vivências os por meio de notas é o eixo que nos une; a aliança que nos apóia; a essência da convivência. Tocar é o modo mais sincero que tenho para zelar por mim, que quando não vivo minha “identidade secreta”, cuido.Esse pequeno texto vai além do depoimento de um psicotera-peuta, que registra humildemente o manifesto sussurrado de um roqueiro, que dá forças para transmitir às platéias uma par-cela da serenidade que a música lhe dá e, ao fazer chegar signi-ficado tão intenso assume-se, analogamente, ao pajé, ou melhor, um Pajazz. Como assim? Curiosamente, há tempos eu, e mais 5 médicos extremamente competentes, fundamos e atuamos du-rante 4 intensos anos em uma banda de jazz, batizada com esse nome. Uma brincadeira entre o estilo de música tocado por nós e a vocação da troupe. Enfim, é assunto para um próximo texto. Mas, ainda aqui, cabe dizer que a cura própria a nós mesmos e para nós direcionada, de fato, cura.

Psicólogo graduado na PUC-SP (2009); tem formação na área de fenomenologia existencial e psicologia fenomenológica pelo NEFFE - Núcleo de Estudos e Formação em Fenomenologia Existencial de São Paulo (2007). Aluno de Mestrado do PEPG em Filosofia da PUC-SP. Atualmente atua como psicoterapeuta em consultório particular e realizando atendimentos em grupos de funcionários do complexo Hospital das Clínicas pelo IPqHC. É colunista do site Redepsi - portal de psicologia de caráter formativo e informativo das atividades relacionadas à psicologia do mundo contemporâneo onde apresenta produção com foco nos cruzamentos entre a fenomenologia heideggeriana e a prática clínica. Colaborador do blog “Além do blá blá blá” onde, eventualmente, publica textos sobre temas cotidianos.

Guilherme Conti Marcello

Links de publicações.http://www.redepsi.com.br/portal/modules/soapbox/column.php?columnID=50www.alemdoblablabla.blogspot.com

Links de produção musical.www.familyfreerock.mus.brwww.myspace.com/curtadilei

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