Toponímia Dos Espaços Exteriores e Edificações de Conjuntos Habitacionais Populares Velhos Nomes...

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É um estudo rico com o objetivo mostras a importância da Toponímia no Urbanismo e se planejamento.

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  • TOPONMIA DOS ESPAOS EXTERIORES E EDIFICAES DE CONJUNTOS HABITACIONAIS POPULARES - VELHOS NOMES PARA NOVOS LUGARES

    MEDVEDOVSKI. Nirce Saffer(1)

    (1) Arquiteta, Msc.- UFRGS, Doutoranda FAUUSP, Professor Adjunto FAU-UFPEL Rua XV de Novembro, 209 ,CEP 96015 - 000, Pelotas - RS

    Tel./fax: (0532) 786080, E-mail: [email protected]

    RESUMO

    Este estudo busca analisar a denominao das unidades habitacionais e dos elementos urbanos que compe os espaos exteriores de conjuntos habitacionais populares da dcada de 80 e suas conseqncias para a localizao de seus usurios no espao dos mesmos. A toponmia das ruas, praas, quadras, blocos e unidades habitacionais evidenciada atravs dos cadastro urbano municipal, dos cadastros das empresas concessionrias da infra-estrutura urbana e de levantamento de campo. As dificuldades de referncia e localizao do endereo residencial so evidenciados atravs de entrevistas com os moradores, informantes qualificados (como motoristas de taxi e carteiros) e do endereamento telefnico.

    O cadastro urbano municipal adota o sistema convencional de atribuir nomes de personalidades para as vias e do critrio de distncia para a numerao das edificaes. Entretanto o conjunto habitacional apresenta novos elementos urbansticos e arquitetnicos, como passeios e habitaes em fitas superpostas. Moradores assinantes da lista telefnica apresentam vrios endereos para o mesmo local, como garantia de que sero localizados. Foi constatada a falta de referncias concretas ao sitio, memria ou orientao geogrfica, e a convivncia de mais de um sistema de endereamento, resultando na insatisfao dos usurios e insegurana quanto a sua eficcia. Verifica-se a opo dos moradores pelo sistema que utiliza novos cdigos de endereamento para quadras e blocos, bem como a referncia marcos e ns na estrutura urbana dos conjuntos, retomando o carter significativo dos seus elementos urbanos.

    ABSTRACT

    This study deals with the denomination of urban open space elements and building units in low income housing developments built by the State in the 80s and its consequences for the users wayfinding. The toponimia of streets, squares, blocks, paths and dwelling has proved evident in the urban register files, infra stucture companies files and field research. The difficulties of address reference and location have been corroborated by inteview with residents,qualified informers (as postman and taxi drives) and telephone directory.

    The municipal urban register adopts the conventional system of naming streets after personalities and using distance for numbering buildings. The housing scheme, therefore, presents new urban and architectural elements, such as restricted acess paths and two level paired blocks. Residents listed in the telefhone directory give several adresses for the same place, to make sure they will be found. The lack of definite references to the site, memory or geografical ocation has been noticed, as well as the coexistence of more than one adress system , which cause residents to be unsatisfied and uncertain about its effetivness. The dwellers preference for the system that uses new codes for numbering squares and blocks has been observed, as well as the reference to landmarks and nodes in housing scheme layout, wich conveys the significance of their urban elements

    1. INTRODUO

    Nommer les choses, cest les creer

    Claire e Michel Duplay, 1985

    Este estudo procura evidenciar os problemas de orientao oriundos do sistema de endereamento residencial. Enfoca os conjuntos habitacionais populares promovido pela COHAB-RS em Pelotas, na dcada de 80, adotando como estudo de caso o conjunto habitacional Lindia. Este apresenta um layout de fitas de unidades superpostas em dois pavimentos, organizadas em quarteires, numa proposta de desenho urbano que se pauta na independncia da edificao em relao aos limites da parcela em que se situa.

    O j familiar sistema de nomes/nmeros adotados para os logradouros/edificaes da cidade figurativa, no mais se mostra eficaz para localizar os usos e os usurios do conjunto no espao habitacional, evidenciando que novas

  • propostas urbansticas, concretizadas em novas formas de organizao do espao habitacional, demandam um novo cdigo de endereamento.

    A legibilidade tem sido apontada como um importante atributo de um meio urbano adequado s necessidades e desejos dos grupos humanos que o compartilham. No Brasil, entre os que se debruam sobre este tema, as conexes dos atributos formais e estruturais dos elementos desenhados sua capacidade de proporcionar uma maior legibilidade, tem sido enfatizados atravs do enfoque da gestalt (KOLSDORF, 1985). Outros examinam a capacidade comunicativa da forma arquitetnica, com o auxlio do instrumental terico da semiologia (FERRARA,1993), ou entendem a legibilidade sob a tica dos processos cognitivos que propiciam a formao de imagens mentais do ambiente vivenciado (LEITE de SOUZA,1995).

    Sem dvida, um dos trabalhos de maior influncia no estudo da percepo do meio urbano o de LYNCH (1960), que coloca a legibilidade de um espao como uma qualidade vital para estruturar a vida humana nas cidades. Para o autor, a imagem ambiental tem o papel imediato de localizar e permitir o deslocamento dos indivduos, mas no menor sua funo de balizar a memria da coletividade, de fornecer segurana emocional, servir de ponto de partida para a aquisio de novas informaes e do crescimento do indivduo (LYNCH:1980, 14-15). TUAN (1980) enfatiza os laos emocionais que nos unem ao espao, conceituando topofilia como o elo afetivo com o lugar.

    Os volumes do I e II SEDUR - Seminrios de Desenho urbano ( 1984, 1986), realizados em Braslia, bem como a publicao de DEL RIO e OLIVEIRA (1996) sobre a experincia brasileira relativa percepo do meio ambiente, fornecem um amplo espectro de trabalhos onde a legibilidade abordada diretamente ou aparece permeando outros temas.

    Sob a tica das relaes ambiente-comportamento, ao estudar conjuntos habitacionais populares LAY (1992) e DUVAL (1997) evidenciam como o uso e apropriao dos seus espaos abertos so afetados, entre outros fatores, pela legibilidade do layout do stio.

    Se os aspectos relativos forma urbana e a sua percepo tem sido tema recorrente entre os estudiosos do espao, entretanto os aspectos simblicos da comunicao de uma localizao (o fornecer o endereo, de forma oral ou escrita) tem sido menos enfatizados na literatura sobre o tema. Em algumas obras no diretamente voltadas ao tema, este revela-se nas entrelinhas, identificando uma preocupao latente.

    LYNCH (1960), nos anexos de A imagem da cidade, efetua algumas referncias aos sistemas de orientao atravs da histria. evidenciada a progressiva mudana de um sistema altamente significativo para um sistema mais racional e classificatrio de nomes e nmeros. Em 1972, NEWMAN em seu clssico estudo sobre a criminalidade em reas residenciais, Defensible Space, ao analisar a legibilidade do projeto (dos conjuntos) como um todo, efetua o comentrio de que O uso do sistema de endereamento por nomes de ruas como um meio de localizar edifcios numa superquadra usualmente impossvel. (NEWMAN,1972: 96-100). HOLSTON em A Cidade Modernista, verifica que a ordem urbana global de Braslia afetou a orientao dos moradores, aumentando a legibilidade do todo (a imagem da cruz ou do avio), mas diminuindo a das partes, composta de unidades monofuncionais. As unidades de vizinhana ... so consideradas uniformes, indistinguveis entre si e carentes de qualquer ponto de referncia. (HOLSTON, 1993).

    2. METODOLOGIA

    O conjunto Lindia estrutura seu espao atravs de ruas, praas, quadras, blocos e unidades habitacionais 1.Para o estudo de caso foi evidenciada a convivncia de vrios cdigos de endereamento, que combinavam referencias . A origem de cada cdigo foi investigada, bem como mapeados o cdigo proposto no projeto original, resgatado dos arquivos da empresa construtora, e o cdigo utilizado pelo Cadastro Urbano Municipal, procurando evidenciar as regras de denominao e numerao contidas em cada um. Entrevistas com os moradores, informantes qualificados (como motoristas de taxi e carteiros) revelaram dificuldades de referncia e localizao do endereo residencial e as estratgias adotadas pelos moradores e outros usurios para reforar a legibilidade residencial. Atravs do endereamento telefnico, que registra o endereo conforme fornecido pelo assinante da lista, efetuou-se um terceiro mapeamento dos endereos residenciais, evidenciando o sistema de referncias criado pelos prprios moradores. A pesquisa contemplou ainda os sistemas de endereamento utilizado junto ao Registro de Mveis da 1 Zona de Pelotas, ao Servio Autnomo de gua e Esgoto de Pelotas - SANEP e Companhia Estadual de Energia Eltrica - CEEE.

    1 Para Jos M. Ressano Garcia LAMAS (1992), em Morfologia Urbana e Desenho da Cidade, os

    elementos urbanos so aqueles elementos mnimos reconhecveis na estrutura urbana, sendo que cada elemento participa em mais de um nvel de reconhecimento e estruturao da cidade.

  • 3. RESULTADOS E DISCUSSES

    3.1 A Toponmia oficial: Critrios municipais de denominao e numerao de vias, logradouros e edificaes

    Como o stio da cidade apresenta-se extremamente plano e os elementos em altura divisados na paisagem so pouco expressivos, Pelotas apoia as referncias para seu percorrido na fora de suas vias principais. A primeira planta de arruamento data de 1815, uma malha ortogonal, lanada na regio mais elevada e afastada do rio, mas crescendo inicialmente em sua direo com a incorporao de novas funes econmicas cidade.

    Como em outras cidades brasileiras, os primeiros nomes das vias carregavam uma forte relao com a atividade que nela se desenvolvia ou com os locais aos quais conduzia. A populao participava da denominao dos seus lugares, com nomes sugestivos como Rua das Flores, Rua das Fontes, da Igreja, ou da Quitanda, posteriormente denominada do Padeiro. A Av. Domingos de Almeida era a Estrada da Costa, pois aproximava-se do canal que margeia a cidade2. A toponmia era uma atividade de consenso.

    A partir da ltima dcada do sculo XIX, no Rio Grande do Sul, juntamente com os planos urbansticos de saneamento e de melhoramentos urbanos, vem a troca das antigas denominaes dos lugares urbanos. Em Pelotas um decreto municipal de 1889 muda a anterior Rua do Comrcio para Rua Rui Barbosa. Em Porto Alegre, a capital, rasga-se novas avenidas e estas homenageiam os polticos da poca: Borges de Medeiros, Otvio Rocha, Alberto Bins. Trata-se de dar novos nomes aos velhos lugares, bem como de marcar no espao o espirito positivista que domina a poca, com a abertura de novas vias e reordenando o espao da cidade. Mudar o nome mudar o significado daquele ponto no espao: permanece a mesma localizao mas muda-se o carter do lugar.3 Os novos nomes das vias, praas e outros elementos urbanos, anunciam uma nova ordem sobre a cidade.

    Desde este perodo, o sistema de endereamento em Pelotas segue as regras de uma combinao entre nomes prprios para os logradouros e de nmeros para localizar as edificaes, correspondendo estes ltimos distncia desta, em metros, medida da origem do logradouro.

    Na malha ortogonal correspondente ao centro comercial e de servios da cidade, a numerao das ruas no eixo norte sul inicia junto ao Porto, aumentando no sentido sul/norte. Ao longo do eixo leste/oeste, a numerao parte novamente da beira da gua, e cresce no sentido leste/oeste. Este fato tem suas explicao na origem da cidade, que na dcada de 40 tem seu crescimento limitado pelo canal (localizado ao sul e leste), precisando conquistar terrenos a oeste e a norte para sua expanso. A numerao possui, portanto, somente uma direo de crescimento.4

    Quando o desenho de uma via cede lugar a uma praa, sua numerao interrompida, e passa a valer uma nova contagem, que percorre seqencialmente todos os lados da poligonal da praa.

    Quando novas vias so incorporadas ao tecido urbano, sua denominao cumpre procedimentos determinados mais pelo hbito do que pela promulgao de normas especficas. O promotor imobilirio, na entrega do projeto de parcelamento do solo ao poder municipal, numera todas as vias e logradouros, bem como os quarteires resultantes do parcelamento. Inicia a numerao designando a via principal como Avenida ou Rua 1, seguindo a numerao segundo a hierarquia das vias. Aprovado o projeto, esta planta fornecida ao Registro de Imveis, que efetuar a descrio da localizao e dos limites do imvel para cada unidade autnoma, no caso de edifcios ou de conjuntos residenciais, ou para cada lote, no caso de loteamento.

    No atribuio do loteador ou do promotor imobilirio, ou mesmo do tcnico municipal, nomear as vias e logradouros. Esta compete Cmara Municipal, que atravs de Decreto Municipal estabelece a substituio do nmero por algum nome ilustre a ser homenageado pela municipalidade. Muitas ruas permanecem sem receber nova denominao, provavelmente porque esto no final da hierarquia do sistema virio, praticamente acessadas somente pelos seus prprios moradores. Simplesmente se apresentam como a Rua Trs do Loteamento Arco-ris, ou a Rua Cinco do Conjunto Residencial Colina do Sol. Sua sada do anonimato depender de alguma iniciativa local dos moradores ou de algum vereador. Em alguns casos, o nome das vias faz parte de uma

    2 Correspondem respectivamente s atuais ruas Andrade Neves, Alm. Barroso, Anchieta e Dr Cassiano. 3A antroploga Denise Lawrence define o lugar como o espao dotado de significado. O lugar como

    conceito scio-espacial pode ser definido como um stio geogrfico investido de valores morais. LAWRENCE, Denise. Notas de palestra. So Paulo. FAUSP,1994.

    4 Em outras cidades, onde a expanso urbana pode dar-se em mais de uma direo sobre o mesmo vetor, freqente a adoo dos pontos cardeais e de uma numerao referenciada a um ou eixo ou marco central, como o adotado em Braslia. Os pontos cardeais fazem parte do endereo urbano (p. ex.: SQS significa Super Quadra Sul).

  • estratgia de marketing do empreendimento, como nomear todas as vias como espcimes vegetais (como: Av. das Accias, Rua dos Flamboyant) e h uma negociao com a Cmara para que os nomes sejam estabelecidos em conjunto com o loteador5. DUPLAY e DUPLAY (1985) apontam a dificuldade de reter na memria os nomes de personagens ...presentes no corao dos edis e que nem sempre so os mesmos no corao dos moradores.

    Na Lista Telefnica da Cidade de Pelotas de 1997 (CTMR, 1988), na seo Lista de Endereos, constavam vinte Rua 5, quatro Passeio 5 e duas Travessa 5. Quando uma destas vias batizada, passa a conviver com o novo nome, e a Lista remete uma nova entrada, indexada pela sua nova letra inicial. Juntamente com outras tantas vias nomeadas por outros tantos nmeros, quinze vias nmero 5 ainda aguardam na fila por uma identidade prpria.

    3.2 Denominao e numerao no conjunto habitacional moderno: o caso do Lindia

    O conjunto Lindia possui uma tipologia de unidades geminadas em fitas (blocos) superpostas. Em sua maior parte, as fitas so dispostas paralelamente, e justapostas pelos ptios de fundos, gerando um espao frontal de acesso por vias de hierarquia variada. Seu layout que se pauta na independncia da edificao em relao ao alinhamento das vias. O conjunto Lindia possui uma clara inteno de hierarquizao e diferenciao dos espaos exteriores. O espao pblico corresponde ao Quarteiro Comunitrio, e s vias pblicas (avenida principal e vias de ligao). O espao coletivo est contido em unidades espaciais claramente discriminadas: as quadras, sendo estruturado atravs de vias locais (os passeios) e praas. As unidades habitacionais, organizadas em blocos e seus ptios de fundo, compe o espao privado (ver FIG. 1).

    AVENIDA ERNANI OSMAR BLASS

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    CENTRO COMUNITRIO

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    RUA JOS RIZZOLO

    FIGURA 1 - Conjunto Habitacional Lindia - Projeto original.

    A quadras foram numeradas de 1 a 6, mas diferentemente de Braslia, seu nmero no indica sua amarrao ao espao do entorno (HOLSTON, 1995). Na Capital Federal o nmero da superquadra a localiza leste ou oeste da via expressa (o primeiro algarismo - nmeros pares e mpares, respectivamente), bem como sua posio relativa ao eixo monumental (os dois ltimos algarismos). Para o Lindia o projetista adotou para a numerao das quadras o critrio da leitura de uma pgina impressa: da esquerda para a direita, de cima para baixo (ver FIG.1). Entretanto o conjunto tem uma entrada principal, e as quadras 2 e 6 so as primeiras que recebem os visitantes. Este fato levou o carteiro local a comentar: L no Lindia, no era pra numerar diferente? Comea pelo 2 [Quadra 2] e depois vai para o 6 [Quadra 6]! Parece coisa de portugus!

    5 Entrevistas com tcnicos do Cadastro Tcnico Municipal - CTM e do Setor de Aprovao de Projetos da

    Secretaria de Servios Urbanos de Pelotas SMUMA. Jan. 1998.

  • FIGURA 2 - Conjunto Habitacional Lindia - Toponmia do projeto original

    ~

    FIGURA 3 - Conjunto Habitacional Lindia - Toponmia do Cadastro Tcnico Municipal .

    Os blocos iniciam sua numerao pelo dgito correspondente quadra onde se situam e apresentam mais duas casas decimais para nomear at 99 fitas. Assim, na Quadra 1, teremos os Blocos 101, 102, 103 e assim sucessivamente; na Quadra 2, os Blocos 201, 202, 203 e assim por diante. Cada praa tem seu nome vinculado quadra onde se localiza: Praa 5, como consta no projeto, ou Praa da Quadra 5, como a ela se referem os usurios. Fica clara a pertinncia da praa quadra (ver FIG. 2). Verifica-se que o critrio adotado para a denominao e numerao do Lindia procura dar novos nomes aos novos lugares. Mas o projetista no contempla um sistema to complexo e completo como o adotado em Braslia. O sentido da numerao dos blocos ora segue o correr dos ponteiros do relgio (FIG. 2, Quadra 2), ora o sentido contrrio (FIG. 2, Quadra 1), ou ainda o de uma leitura de pgina impressa (FIG. 2, Quadras 3 a 6).

    J a numerao das fitas (ou blocos) adotada pelo Cadastro Tcnico Municipal segue o critrio aplicado cidade: ao nome da via se segue um nmero que baliza a distncia da edificao ao incio da mesma. Quando a fita no

  • Estac

    ionam

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    Estac

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    AV. ERNANI OSMAP BLASS

    PRACA

    FIGURA 4 - Conjunto Habitacional Lindia. Quadra 1.Localizao dos telefones segundo o endereo dosassinantes.

    faz diretamente frente uma via, recebe o nmero da edificao mais prxima, seguida das letras do alfabeto (ver FIG. 3).

    Portanto um endereo residencial de uma mesma unidade pode assumir as seguintes formas: Quadra 5, Bloco 114, Ap. 1, se usar os critrios do projeto original; se sua referncia for o Cadastro Tcnico Municipal seu endereo ser: Rua Jos Correa, N. 151, Ap. 101. Na Lista Telefnica o morador opta por manter a numerao do projeto original: Rua Jos Correa, N. 114, Ap. 1. Para ter certeza que ser localizado, o morador em algumas vezes oferece uma segunda alternativa de endereo, referenciando o bloco avenida principal: Rua Ernani Osmar Blass, N. 114, Ap. 1 (ver FIG. 4).

    Na convivncia de dois sistemas de numerao a populao escolheu o que mais icnico: permaneceu com a numerao da edificao referenciada quadra (a centena 100 para a Quadra 1,a 200 para a Quadra 2...) e adotou o nome das ruas mais prximas, pois um endereo oficial necessita de um logradouro como referncia. Criou assim, uma terceira opo de endereamento. Quando fornecem sua localizao oralmente, os moradores costumam omitir o nome da rua e referenciam-se somente quadra: Eu moro na Quadra 6, Bloco 603, na entrada do Lindia. fcil...

    No Registro de Imveis ainda permanece o sistema de ruas numeradas, e a CEEE e o SANEP utilizam o Cadastro Tcnico Municipal.

    4. CONCLUSO

    LYNCH (1960) identifica trs componentes da imagem urbana: identidade, estrutura e significado. A identidade refere-se individualidade, diferenciao de uma imagem em relao s demais. Esta imagem deve estar conectada, proporcionando uma relao estrutural com o observador e com o contexto. Por ltimo, a imagem deve apresentar um significado, seja ele prtico ou emocional.

    Uma alternativa de recuperarmos a legibilidade espacial, propor um sistema de reforo mtuo em todos os signos onde ela pode ser expressada. Reforar, portanto a redundncia. Pierre Levi, em As Tecnologias da Inteligncia no estudo dos processos cognitivos da memria de longo prazo expe que um objeto tanto mais lembrado quanto mais conexes neurais a ele tiver se referindo, quanto mais associaes ele propiciar (LEVY, 1995: 80). Poderamos aludir metfora do hipertexto. Quando falamos nos mltiplos sistemas de informaes contidos nos endereos urbanos. tecnicamente um hipertexto um conjunto de ns ligados pr conexes.(LEVY,1995:33). Ao criar um novo sistema de endereamento usando o nome da rua, mas mantendo o nmero do bloco que o referencia quadra, os moradores esto criando um hipertexto; o nmero do bloco remete posio na quadra; o nmero da quadra remete sua localizao no territrio do conjunto. Se, no lugar de um nome aleatrio, a rua fosse denominada Rua do Colgio, teramos um link uma referncia visual (o prdio da escola) e uma funo (o ensino). Se a forma do logradouro e sua posio na hierarquia viria expressa no seu nome (perimetral, diagonal, avenida, rua, travessa, passeio, beco), temos uma nova remessa estrutura e um reforo na identidade. Por fim, se os logradouros forem denominados atravs de um coletivo de usurios, o significado ser reforado. Como enuncia LEVY (1995:81): Quanto mais estivermos pessoalmente envolvidos com uma informao, mais fcil ser lembr-la.

  • Portanto a questo da denominao de logradouros no se resolve somente atravs de uma normalizao, de um cdigo coerente de especialistas. A participao dos usurios no processo de significao do espao, a imagem de uma coletividade pensante (LEVY, 1995: 163), onde usurios e suas vrias linguagens, ferramentas, espaos e emoes estejam envolvidos, certamente engendrar um meio ambiente mais confortvel e estimulante.

    Cabe lembrar as ainda atuais palavras CHOAY publicadas, no ano de 1965 em Urbanismo: Utopias e Realidades, mesmo sem ainda a presena unificadora da Internet:

    O urbanista deve deixar de conceber a aglomerao urbana exclusivamente em termos de modelos e de funcionalismo. preciso parar de repetir frmulas fixas que transformam o discurso em objeto para definir sistemas de relaes, criar estruturas flexveis, uma pr-sintaxe aberta a significados ainda no constitudos. [...] Ningum hoje sabe qual ser a cidade de amanh. Talvez ela perca uma parte da riqueza semntica que possuiu no passado. Talvez seu papel criador e formador seja assumido por outros sistemas de comunicao (televiso ou rdio, por exemplo). Talvez assistamos a proliferao, pr todo o planeta, de aglomerados urbanos, indefinidamente extensos, que faro o conceito de cidade perder todo o significado. [...] Ainda que a cidade do futuro funcione perfeitamente, ainda que seja adaptada s novas condies de vida, como as cidades medievais o eram s exigncias de sua poca, ela s conservar seu valor semiolgico com a convivncia de seus habitantes, com o jogo ou astcia destes.

    Os moradores do Lindia ao subverter com astcia o sistema oficial de denominao e numerao dos elementos urbanos do conjunto habitacional Lindia, j comearam a jogar um novo jogo: o do coletivo.

    BIBLIOGRAFIA

    CHOAY, Franoise. O urbanismo. So Paulo: Perspectiva, 1979. DEL RIO, Vicente, Oliveira, Lvia.org. Percepo Ambiental. A experincia brasileira. So Paulo, Studio

    Nobel, 1996. DUPLAY, Claire e DUPLAY, Michel. Mthode Ilustre de Cration Architecturale. Paris: ditions du

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