Tópicos em Conservação Preventiva - Caderno 6
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Edifcios que abrigam colees
Tpicos em Conservao Preventiva-6
Willi de Barros Gonalves, Luiz Antnio Cruz Souza e Yacy-Ara Froner
BELO HORIZONTE
ESCOLA DE BELAS ARTES UFMG
2008
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Tpicos em Conservao Preventiva-6 Edifcios que abrigam colees
Copyright LACICOREBAUFMG, 2008
PROGRAMA DE COOPERAO TCNICA:
INSTITUTO DO PATRIMNIO HISTRICO E ARTSTICO NACIONAL IPHAN
Departamento de Museus e Centros Culturais DEMU
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS UFMG
Escola de Belas Artes EBA
Centro de Conservao e Restaurao de Bens Culturais Mveis CECOR
Laboratrio de Cincia da Conservao LACICOR
Av. Antnio Carlos, 6627 Pampulha CEP: 31270-901 Belo Horizonte MG [email protected]
PATROCNIO:
Departamento de Museus e Centros Culturais DEMU/IPHAN
PROJETO:Conservao preventiva: avaliao e diagnstico de coleesLuiz Antnio Cruz Souza, Wivian Diniz, Yacy-Ara Froner e Alessandra Rosado
COORDENAO EDITORIAL:Luiz Antnio Cruz Souza, Yacy-Ara Froner e Alessandra Rosado
Reviso:Ronald Polito
Projeto Grfico:Ndia Perini Frizzera
Ficha Catalogrfica:Maria Holanda da Silva Vaz de Mello
G635e Gonalves, Willi de Barros, 1970
Edifcios que abrigam colees / Willi B. Gonalves, Luiz Antnio Cruz Souza,Yacy-Ara Froner.Belo Horizonte: LACICOREBAUFMG, 2008.
45p. : il. ; 30 cm.(Tpicos em conservao preventiva ; 6)
Projeto: Conservao preventiva: avaliao e diagnstico de colees
Programa de Cooperao Tcnica: Instituto do Patrimnio Histrico e ArtsticoNacional e Universidade Federal de Minas Gerais
ISBN: 9788588587076
1. EdicaesMateriaisConservao preventiva I. Souza, Luiz AntnioCruz, 1962II. Froner, Yacy-Ara, 1966- III.Ttulo IV. Titulo: Conservao preventiva:avaliao e diagnstico de colees V. Srie.
CDD: 702.88
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Willi de Barros Gonalves, Luiz Antnio Cruz Souza e Yacy-Ara Froner
1. INTRODUO
Este caderno aborda conceitos relativos ao uso de edifcios anti-
gos e contemporneos como ambiente de guarda e exposio de
colees.
Na dcada de sessenta, com a Carta de Veneza(1964), a ateno
dada ao patrimnio edicado procurou alertar sobre a problemtica
do crescimento urbano descontrolado. As instituies nacionais e
internacionais passaram a buscar solues para problemas espec-
cos relativos preservao, ocupao, uso e visibilidade de edifcios
histricos.
Desse perodo em diante, as discusses sobre o patrimnio edicado
passaram a contemplar conceitos referentes adequao ao lugar,
particularmente o lugar urbano, envolvendo questes de uso, inser-
o urbana e impactos scio-econmico-ambientais, mas igualmente
abordando a sua dimenso simblica e de formao de uma identi-
dade cultural local, reetindo desse modo as caractersticas culturais
da sociedade. Encontramos as razes das discusses relacionadas
revitalizao, restaurao e uso do patrimnio cultural arquitetnico
na trade formulada por Vitrvio na Antigidade (I sc. a.C.): utilitas
(funcional); rmitas(tecnolgico) e venustas(esttico-formal).
No Brasil, alm da Carta de Veneza, outros documentos de referncia
para as atividades que envolvem a preservao dos edifcios hist-
ricos so: a Carta internacional sobre conservao e restaurao dos
monumentos e lugares (1964), a Carta de Lisboa- Carta da reabilitao
urbana integrada (1995), a Conveno de Paris- Conveno relativa
proteo do patrimnio mundial, cultural e natural (1972), o Decreto-
lei n. 25, de 30 de novembro de 1937, e o Decreto n. 1.494, de 17
de maio de 1995. (VIUALES, 1990; CONFEA, 2007)
Historicamente, podem-se localizar as razes da temtica da revita-
lizao, restaurao e uso do patrimnio cultural arquitetnico na
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Conservao
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trade formulada por Vitrvio (I sc. a.C.): utilitas(funcional); rmitas
(tecnolgico) e venustas (esttico-formal). Contemporaneamente, a
problemtica da concepo, e, conseqentemente, da conservao
dos edifcios est mais voltada para a soluo dos aspectos ambien-
tais, de sustentabilidade, ciclo de vida e ecincia energtica, exigindo
abordagens multi e transdisciplinares.
A maioria das instituies que abrigam acervos etnogrcos, arque-
olgicos, artsticos, histricos ou documentais situa-se em edifcios
que originalmente cumpriam outra funo: palcios, palacetes, cma-
ra e cadeia, e at mesmo escolas e hospitais. A apropriao desses
espaos para se tornarem arquivos, bibliotecas ou museus pode ser
explicada de vrias maneiras. Muitos edifcios antigos convertem-se
naturalmente em marcos identicadores de um lugar, constituindo
centralidades urbanas. Os edifcios pblicos ociais freqentementecumprem um papel de instrumentos ideolgicos de armao cultural,
em diversos nveis, do local ao nacional e at mesmo mundial. Como
exemplo, poderamos citar o conjunto arquitetnico da Pampulha, em
Belo Horizonte, a Praa dos Trs Poderes, em Braslia, ou o Museu da
Incodncia, em Ouro Preto..
A implantao de um museu nesse tipo de edifcio implica, suposta-
mente, numa economia de recursos. consenso que o uso e a ocu-
pao so pr-requisitos para a preservao dos edifcios histricos,abrindo inclusive para a possibilidade da sustentabilidade quanto aos
recursos necessrios a sua manuteno. Por outro lado, a adaptao
de um edifcio para a tipologia Museu envolve uma problemtica com-
plexa, particularmente quanto aos mltiplos aspectos envolvidos na
conservao preventiva do acervo, podendo exigir grande soma de
investimentos iniciais na reforma do edifcio para adequ-lo s exign-
cias que as diversas atividades realizadas em um museu impem.
Apesar dessas relaes engendradas desde o sculo dezenove, a partirda segunda metade do sculo vinte os movimentos de arte moderna
passam a solicitar projetos arquitetnicos mais arrojados, visando a
adequao de galerias, museus e centros artsticos s novas lingua-
gens visuais. Do Museu de Arte de So Paulo (MASP) projetado por
Lina Bo Bardi em 1958 ao projeto de 1992 do Museu Guggenheim
situado na cidade basca de Bilbao, as instituies museais vinculadas
s artes modernas e contemporneas demandam para sua construo
questes de uso atreladas s propostas desenvolvidas: minimal art;
site specic; land art; happening; performance; arte conceitual e novastecnologias impem um espao mais verstil, mutante e adaptvel ao
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novo contexto; por sua vez, a prpria estetizao do edifcio o torna
por si s um objeto artstico, tornando indispensvel a correspon-
dncia entre o desenho do edifcio e a sua funo utilitria enquanto
espao de exposio, investigao e guarda de acervos.
Contemporaneamente, o eixo da questo tende a integrar-se ava-
liao dos aspectos ambientais, de sustentabilidade, ciclo de vida
e ecincia energtica dos edifcios, superando as metodologias de
projeto puramente funcionais e utilitrias, num extremo, ou esteti-
zantes e decorativas, no outro.
Nesse contexto, na dcada de oitenta, a publicao de The Museum
Environment (THOMSON, 1994) introduziu uma nova abordagem
para a preservao: a conservao preventiva. Nesse modelo, a
salvaguarda do acervo implica a considerao de um contexto
mais complexo, exigindo a compreenso, na totalidade do edifcio,
dos fatores de desempenho ambiental temperatura, umidade,
iluminao, poluio e ataque biolgico bem como das condies
fsicas do edifcio, includas a as questes relativas aos materiais e
tcnicas de construo.
Seja em um edifcio adaptado ou em uma construo nova, projetada
especicamente para essa nalidade, as relaes de uso do Museu
so denidas por diversos parmetros correlacionados: o entorno
(caractersticas geogrcas e climticas); a estrutura material da
edicao e suas condies; as caractersticas tipolgicas do acervo
que abriga e suas relaes de uso (pesquisa, exposio e guarda).
Mais contemporaneamente, a metodologia de projeto em conserva-
o tem buscado atender tambm outras questes ligadas ao uso e
operao do edifcio ao longo do seu ciclo de vida, como consumo de
energia, gua e outros recursos naturais (combustveis, por exemplo)
e seus impactos scio-econmico-ambientais na vizinhana, custos
de manuteno e operao, reciclagem de materiais etc. Essa pro-
blemtica complexa tem sido abordada atravs de estratgias de
projeto multidisciplinares, no campo da engenharia simultnea e da
gesto do processo de projeto, superando uma perspectiva linear
de produo na arquitetura.
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2. PLANEJAMENTO E PROJETO COMO INSTRUMENTOS PARA A CON-
SERVAO PREVENTIVA
2.1. Equipes multidisciplinares para a elaborao de
projetos
Os museus, arquivos e bibliotecas so edifcios complexos. O projeto
de um edifcio novo ou a reforma, ampliao ou adaptao de um edi-
fcio existente para uma dessas nalidades envolve uma grande gama
de informaes e consideraes tcnicas, que vo desde o correto
planejamento das atividades e funes que o edifcio dever cumprir,
at a denio dos espaos e instalaes que essas atividades iro
demandar, passando por inmeros detalhes envolvendo materiais,
componentes, equipamentos e sistemas construtivos.
Esse tipo de edifcio descrito na legislao como agrupamento deedicaes projetadas, construdas e ou ampliadas em uma mesma
rea, obedecendo a um mesmo planejamento fsico integrado, ou seja,
um edifcio para atividades especcas com utilizao de tecnologia
complexa, sendo o resultado da organizao de espaos construdos
(abertos ou fechados) em uma mesma rea fsica. (CREA-PR, 2007;
CREA-MG, 2001).
O planejamento de um museu e a elaborao de um projeto arquitet-
nico para um edifcio complexo novo ou para uma reforma, ampliaoou adaptao de um edifcio ou grupo de edifcios complexos existentes
um trabalho multidisciplinar. Ele pode demandar a colaborao de
prossionais de muitas reas, como por exemplo:
Arquitetos;
Historiadores;
Muselogos, curadores e marchands;
Arquelogos;
Conservadores e restauradores (oriundos de diversas reas, como
a fsica, qumica ou belas-artes);
Bibliotecrios e outros prossionais da rea da Cincia da Informa-
o;
Artistas plsticos;
Fotgrafos;
Designersgrcos e de mobilirio;
Engenheiros:
Civis;
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Mecnicos;
Eletricistas;
Administradores de empresas e outros prossionais ligados ges-
to;
Publicitrios, prossionais de relaes pblicas e outros da rea de
Comunicao.
No Brasil, a Lei dene que o especialista que detm as atribuies
prossionais para o planejamento e o projeto de edifcios complexos
atravs da coordenao, superviso e sntese das contribuies de
equipes multidisciplinares como as listadas acima o arquiteto, devido
sua formao prossional transdisciplinar, no campo das Cincias
Sociais Aplicadas, envolvendo contedos especcos das Cincias
Humanas e das Cincias Exatas.
A prosso do arquiteto em nosso pas scalizada pelo Conselho
Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia CONFEA, o qual
articula um sistema de Conselhos Regionais CREAs. A legislao, a
esse respeito, composta de quatro documentos principais:
O Decreto federal n. 23.569, de 11/12/1933, que regula o exerccio
das prosses de engenheiro, arquiteto e agrimensor.
A Lei n. 5.194, de 24/12/1966, que regula o exerccio das pros-
ses de engenheiro, arquiteto e engenheiro agrnomo e d outrasprovidncias.
A Resoluo CONFEA n. 218, de 29/06/1973, que discrimina as
atividades das diferentes modalidades prossionais da engenharia,
arquitetura e agronomia.
A Resoluo CONFEA n. 1.010, de 22/08/2005, que dispe sobre
a regulamentao da atribuio de ttulos prossionais, atividades,
competncias e caracterizao do mbito de atuao dos prossio-
nais inseridos ao Sistema Confea/Crea, para efeito de scalizao
do exerccio prossional.
Alm disso, conforme a legislao acima, so tambm atribuies
profissionais exclusivas do arquitetoo planejamento e elaborao de
projetos arquitetnicos e obrasrelativos ao patrimnio cultural edifi-
cado, monumentos ou restaurao de obras artsticas monumentais,
envolvendo restaurao, revitalizao, reabilitao, consolidao,
estabilizao, e interveno em bens tombados ou de interesse para
a preservao de intervenes em municpios e ou regies tombadas
ou de interesse para a preservao.
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Recentemente, o CONFEA publicou a Deciso Normativa n. 80, de
25/05/2007 (CONFEA, 2007), dispondo sobre procedimentos para
a scalizao do exerccio e das atividades prossionais referentes a
patrimnio cultural, a elaborao de projeto e a execuo de servios
e obras de conservao, reabilitao, reconstruo e restaurao em
monumentos, stios de valor cultural e seu entorno ou ambincia, en-fatizando que tais atividades so atribuies profissionais exclusivas
do arquiteto.
Esse documento esclarece procedimentos de aplicao da legislao
vigente, denindo com preciso termos como ambincia, bem cultu-
ral, entorno, monumento, patrimnio cultural e stio de valor cultural.
Dene, ainda, o signicado e abrangncia das aes envolvidas na
atividade prossional do arquiteto no campo de patrimnio: conserva-
o, manuteno, reparao, preservao, reabilitao, reconstruo,reforma ou restaurao.
A legislao brasileira dene, portanto, que o arquiteto deve atuar
como coordenador das equipes multidisciplinares, nas atividades de
elaborao de projeto e execuo de servios e obras relativos ao
patrimnio cultural edicado, monumentos ou restaurao de obras
artsticas monumentais.
Assim, o arquiteto o prossional responsvel pelos projetos arquite-
tnicos de qualquer edicao museolgica, porm nem sempre atua
como coordenador em projetos relacionados Conservao Preventiva
de colees de museus, uma vez que para essa tipologia de projeto, a
experincia e a qualicao especcas so determinantes. De qual-
quer modo, para projetos especcos direcionados adaptao, ade-
quao ou restaurao de edifcios, este o prossional indicado.
2.2. Aspectos sobre preservao a serem considerados
no processo de projeto dos edifcios que abrigamcolees
O projeto de um museu, arquivo ou biblioteca envolve um grau de
complexidade que exige a interao dos prossionais envolvidos
visando elaborar solues tcnicas integradas para problemas que
inter-relacionam diversos campos do conhecimento. Particularmente
nos processos de projetos que envolvem adaptao, reabilitao,
reconstruo, reforma ou restaurao, uma questo central a ser dis-
cutida como o projeto altera ou preserva as caractersticas originaisda construo, com vistas a atingir aquelas solues.
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Nesse sentido, as diretrizes gerais de preservao (RAMALHO LES-
SA, 2004) a serem discutidas pela equipe multidisciplinar envolvem
questes como:
Preservao do uso histrico do edifcio ou sua adaptao a uma
nova nalidade, considerando as conseqncias em termos de
alteraes nas caractersticas fsicas do edifcio e de seu entorno
ou ambincia;
Sendo o edifcio onde ser feita a interveno um registro fsico de seu
tempo e cultura, alterar suas caractersticas gera impactos em termos
da perspectiva ou leitura histrica pela qual ele percebido;
A remoo de materiais histricos, elementos arquitetnicos ou de
caractersticas construtivas de edicaes antigas deve ser evitada,
bem como a adio de elementos arquitetnicos emprestados deedifcios caractersticos de outras pocas;
Elementos arquitetnicos degradados devem ser preferencialmente
recuperados. Em casos extremos, o elemento novo deve ser o mais
semelhante possvel em termos de projeto, material, textura, cor,
acabamento e outros atributos fsicos. Elementos perdidos podem
ser incorporados edicao, desde que inequivocamente identi-
cados;
Ampliaes, anexos ou alteraes externas no devem interferir coma personalidade histrica do monumento;
Por outro lado, alguns dos procedimentos condenados acima po-
dem ser necessrios para atender algumas funes ou atividades
planejadas (por exemplo, se for necessrio vedar uma abertura
de ventilao permanente ou impermeabilizar um piso ou parede
originalmente permevel). Alm disso, o contraste de materiais ou
tcnicas construtivas em certas situaes pode ressaltar os mate-
riais e tcnicas originais. Como exemplo, podemos citar o projetode restaurao do Colgio do Caraa, em Santa BrbaraMG (Arq.
Rodrigo Meniconi, 1990);
Novas adies devem ser bem diferenciadas, mas compatveis em
tamanho, escala e caractersticas arquitetnicas, de forma a respei-
tar a integridade histrica da edicao;
Tratamentos fsicos ou qumicos extremos, como jateamento de areia
ou uso de cidos, podem causar danos irreparveis ao monumento,
tanto pela ao direta quanto residual no longo prazo, bem como
contribuir para criao de uma atmosfera agressiva, prejudicial
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conservao das obras de arte, devendo, portanto, ser evitados;
Os edifcios sofrem mudanas estticas e de uso ao longo do tempo
e cabe discutir se esta nova signicao histrica que deve ser
preservada;
Na elaborao do projeto arquitetnico, a equipe coordenada peloarquiteto dever considerar:
a misso institucional e as caractersticas do acervo que o edifcio
ir abrigar;
a localizao urbana e o impacto social da construo, bem como a
segurana do entorno em relao s condies dos servios siste-
mas de drenagem, alimentao eltrica, segurana e transporte;
os referenciais culturais e estticos que agregam signicado ao
projeto;
a articulao e adequao interna dos espaos no atendimento ao
Programa Arquitetnico de Necessidades1;
a denio dos materiais de construo e do sistema construtivo
em relao aos seus aspectos arquitetnicos, funcionais, estruturais
e dos sistemas de suporte de automao e segurana do edifcio,
eltrico, hidrulico, de comunicao (telefonia, internet, cabeamento
estruturado etc.), de condicionamento de ar;
o custo exponencial da obra.
Do ponto de vista especco da Conservao Preventiva, a equipe
multidisciplinar deve avaliar o edifcio adaptado em relao aos se-
guintes aspectos:
a relao do edifcio com o entorno, considerando os aspectos
ambientais (particularmente os aspectos geogrcos e climticos),
mas tambm os aspectos sociais e econmicos;
uxograma de atividades e sua relao com o Programa Arquitetnico
de Necessidades a ser implantado;
1 Um Programa Arquitetnico de Necessidades constitudo por uma lista de espaos, comsuas respectivas funes e atividades, que devem ser atendidas pelo edifcio. Essa lista podeincluir detalhes relativos a pessoas, materiais, equipamentos e instalaes, bem como deniesrelativas s dimenses necessrias aos espaos. O programa de um museu composto resu-midamente de espaos para exposies, espaos de guarda do acervo, reservas e laboratriostcnicos e cientcos, rea administrativa e de servios gerais. Contemporaneamente, o museu
tem adquirido outras funes que extrapolam a conservao, guarda e exposio do acervo,incorporando com freqncia elementos do Programa de Necessidades de outras tipologias,como as escolas, os centros culturais e os teatros.
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o comportamento dos materiais e sistemas construtivos, conside-
rando sua capacidade de interao com o ambiente externo, prin-
cipalmente quanto ao desempenho trmico e luminoso;
o comportamento dos materiais introduzidos em reformas ou restau-
raes, considerando sua interao com os materiais originais e seu
desempenho funcional, estrutural, trmico e luminoso, bem como
sua apresentao esttica em relao aos componentes originais;
estanquidade das vedaes e esquadrias em relao gua e ao
vento;
minimizao ou eliminao do risco de ataque por pragas e micro-
organismos;
aspectos relativos ao ciclo de vida e reciclagem dos materiais utili-
zados na construo;
ecincia energtica e sistemas de sustentabilidade do edifcio (re-
aproveitamento e reutilizao de gua, aquecimento solar, eccia
da iluminao articial e do sistema de ar-condicionado etc.).
Por meio dessa avaliao, possvel traar um plano ou estratgia
para solucionar problemas de ocupao de espao, composio ar-
quitetnica do edifcio e adequao climtica visando conservao
preventiva do acervo.
O Projeto Arquitetnico constitui a sntesede um trabalho de planeja-
mento, atravs da identicao e discusso de demandas e problemas
especcos de cada atividade e da proposio de solues tcnicas.
Essa discusso deve se estender tanto quanto necessrio, na fase de
projeto, de maneira a garantir que no momento das obras de execuo
e, posteriormente, durante o funcionamento dos ambientes e das
atividades previstos, tudo ocorra conforme planejado.
Esse procedimento metodolgico rigoroso que possibilitar a elabo-
rao de um planejamento fsico-nanceiro dos custos da obra, bem
como dos custos de manuteno e operao do edifcio, durante todo
o seu ciclo de vida.
Gehbauer (2002) apresenta um protcolo para auxiliar na elaborao
do Programa de Necessidades a ser atendido pelo projeto do edifcio,
abrangendo:
A) Compreenso global visa denir, na fase inicial do projeto, o seu
tipo e objetivos, bem como a situao da instituio ou empresa
dona do empreendimento, os grupos de inuncia sobre o projeto
e seus participantes;
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B) Condicionantes, objetivos e meios disponveis atravs das deci-
ses relativas a esse item, a equipe cheada pelo arquiteto poder
decidir como usar da melhor forma os meios disponveis, dentro do
quadro de condicionantes existentes, para que sejam atingidos os
objetivos do projeto;
C) Requisitos com relao ao anteprojeto dizem respeito s decises
sobre os aspectos fsicos do edifcio.
Em relao a consideraes sobre preservao na construo e refor-
ma de bibliotecas, o Projeto Conservao Preventiva em Bibliotecas e
Arquivos CPBA2disponibiliza, entre outras fontes de consulta, 53
ttulos de literatura sobre preservao, traduzidos para o portugus,
em segunda edio revisada (TRINKLEY, 2001; BECK, 1997).
2.3. O estado da arte da engenharia simultnea e da
gesto do processo de projeto aplicada ao projeto de
edifcios que abrigam colees
As metodologias de abordagem dos problemas complexos pertinentes
indstria da construo civil no Brasil tm sido objeto de pesquisa
de vrias instituies do pas. O estado da arte da pesquisa tem se
concentrado nos campos da gesto do processo de projetoe da cha-
mada engenharia simultnea.
Tendo em vista a coordenao e o aprimoramento dos projetos e a
otimizao global dos empreendimentos, a pesquisa tem tomado
como referenciais o conceito e a metodologia de desenvolvimento de
produtos da Engenharia Simultnea na indstria seriada, analisan-
do as possibilidades e as adaptaes necessrias para a utilizao
desta metodologia no setor de construo de edifcios. (FABRCIO e
MELHADO, 1998)
A Associao Nacional de Tecnologia no Ambiente ConstrudoANTAC3
hoje a agremiao acadmica que centraliza o esforo de promoode integrao, intercmbio e difuso de conhecimentos entre as v-
rias instituies vinculadas produo de pesquisa, ao fomento e
utilizao de tecnologias na indstria da construo civil brasileira.
A ANTAC possui, dentre os seus grupos de trabalho, um GT de Gesto
e Economia da Construo4que promove a cooperao dos prossio-
nais interessados nessa rea. O primeiro workshopdo grupo ocorreu
2 www.cpba.net (acessado em 13/11/2007).3 www.antac.org.br (acessado em 13/11/2007).
4 http://silviobm.pcc.usp.br/ GT-ANTAC.htm (acessado em 13/11/2007).
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em 1994 e, desde ento, foram organizados vrios eventos nacionais
relevantes. O principal encontro do grupo ocorre no Simpsio Brasileiro
de Gesto e Economia da Construo SIBRAGEC.
O ltimo encontro
III SIBRAGEC (2003) aconteceu em So Carlos(SP), sob a coordenao da Universidade Federal de So Carlos
UFSCar, em conjunto com a Escola Politcnica da USP, a Escola de
Engenharia de So Carlos USP e a Universidade de Campinas. Tam-
bm entre as atividades desenvolvidas pelo GT, est a promoo do
Workshop Brasileiro de Gesto do Processo de Projeto na Construo
de Edifcios, com o objetivo de fomentar a discusso cientco-aplicada
entre as linhas de pesquisa relacionadas Gesto do Processo de
Projeto de Edifcios e s experincias desenvolvidas no mercado.
Essa iniciativa deu origem a uma Rede Brasileira de Pesquisa e Ino-
vao em Gesto do Processo de Projeto de Edifcios, em cuja home
pagepodem ser acessadas as informaes dos workshopsrealizados
pelo grupo desde 2001. Dentre a produo acadmica dos pesquisa-
dores do grupo, podemos destacar o trabalho dos professores. Slvio
Melhado6, da Poli-USP, e Mrcio Fabrcio7, da EESC-USP (MELHADO,
2005; FABRCIO, 2002).
Ghebauer (2002) apresenta interessantes resultados prticos de
uma experincia de cooperao tcnica entre Brasil e Alemanha nocampo do planejamento e gesto de obras. O livro contm captulos
sobre estudo de viabilidade do empreendimento, coordenao de
projetos, organizao de canteiros de obra, fases da obra (da fun-
dao aos acabamentos de fachadas e coberturas), planejamento
da obra, oramento, softwaresde controle para construo civil e
sistemas de gesto da qualidade nas empresas.
Quanto a esse ltimo aspecto, as empresas brasileiras de constru-
o civil tm cada vez mais buscado a certicao de qualidade em
seus processos e produtos, motivadas por ampliar seus mercados,
atender a exigncia dos clientes, cumprir exigncias contratuais
e de licitaes. Com esse intuito, as empresas tm utilizado as
normas da famlia NBR ISO 9000 (ABNT, 2001) para apoiar a im-
plementao e operao ecazes de seus sistemas de gesto da
qualidade. Tambm existem outros modelos especcos de gesto
da qualidade utilizados no mercado da construo civil brasileira,
5 http://www.eesc.usp.br/sap/projetar/ (acessado em 13/11/2007).6 http://www.pcc.usp.br/ silviobm/Default.htm (acessado em 13/11/2007).
7 http://www.eesc.usp.br/sap/docentes/fabricio/Fabricio.htm (acessado em 13/11/2007).
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como o QUALIHAB Programa de Qualidade na Habitao Popular
e o PBQP-H Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade na
Construo Habitacional.
Sperling (2002) analisa como o uso de novas tecnologias de informa-
o no processo de projeto-produo do espao construdo possibilita
e requer reexes quanto ao emprego corrente de ferramentas com-
putadorizadas em arquitetura, ainda mais face ao que j se apresenta
em termos de engenharia simultnea em campos historicamente mais
avanados como a engenharia mecnica. A utilizao de sistemas de
CAD/CAM/CAE, a engenharia reversa e a realizao de prottipos,
processos utilizados na concepo das inovaes formais do Museu
Guggenhein, de Bilbao, demonstram uma mudana de paradigma
no uso das ferramentas de projeto e desenho por computador em
arquitetura.
O prximo item discute os aspectos relativos importncia da lingua-
gem do desenho arquitetnico para a preservao de edifcios que
abrigam colees e ao tema da representao arquitetnica, que re-
presenta um campo importante de pesquisa acadmica na arquitetura
contempornea devido s transformaes impostas pela evoluo dos
recursos computacionais utilizados pelos arquitetos.
2.4. A importncia da linguagem do desenhoarquitetnico para a preservao de edifcios que
abrigam colees estado da arte da pesquisa em
representao arquitetnica
As possibilidades da representao arquitetnicatm evoludo em pas-
so com os recursos de computao grca utilizados pelos arquitetos.
A discusso envolve, fundamentalmente, problemas de comunicao.
O desenho arquitetnico, que em determinadas etapas do processo
se traduz em um desenho tcnico, , na verdade, um recurso de lin-
guagem, para expresso, registro e transmisso das idias e solues
geradas no processo de planejamento e projeto.
Nesse mbito, a questo abrange aspectos de padronizao e ade-
quaorelativos ao cdigo de representao(por exemplo, quanto ao
signicado dos smbolos utilizados nos desenhos), ao lxicoutilizado
(por exemplo quanto s diferenas de nomenclatura para a denomi-
nao de um mesmo elemento arquitetnico) e tambm em relao
recepo e decodificao da mensagem por parte de receptor(por
exemplo, quanto ao nvel de conhecimento necessrio por parte de
um conservador para ler um projeto arquitetnico).
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Willi de Barros Gonalves, Luiz Antnio Cruz Souza e Yacy-Ara Froner
Tratada por alguns autores em obras mais bsicas (LEGGITT, 2004;
SILVA, 1984), a questo do desenho arquitetnico como linguagem
constitui um importante tema de pesquisa no campo da arquitetura e
urbanismo, aparecendo inclusive como tema central de disciplinas em
cursos de ps-graduao na rea, como o da FAU-USP (MONZEGLIO,
2007) ou o da UFRJ, que abriga uma linha de pesquisa intitulada Gr-ca Digital, Representao e Urbanismo, inclusive com produo aca-
dmica voltada para a rea de Patrimnio (PARAIZO, 2004, 2003).
A discusso nesse campo perpassa a metodologia de ensino das diver-
sas modalidades de representao arquitetnica atravs de maquetes
fsicas e dos diversos tipos de desenho, bem como o impacto, sobre
as metodologias de projeto arqutetnico, de novas tecnologias como
a disponibilizao, em larga escala, de programas amigveis para
confeco de maquetes eletrnicas e de equipamentos de realidade
virtual.
O frum latino-americano de discusso do tema abrigado pela So-
ciedade Ibero-americana de Grca Digital SIGRADI , que rene os
arquitetos, designers, comunicadores e artistas vinculados aos novos
meios e constitui a congnere de organizaes similares na Europa
(ECAADE), Amrica do Norte (ACADIA) e sia/Oceania (CAADRIA). A
SIGRADI realiza um congresso anual, no qual debatido o estado da
arte no desenvolvimento e aplicaes da computao grca, com a
participao dos mais importantes especialistas internacionais. Os
congressos tm sido realizados desde o ano de 1997, ano em que
a SIGRADI8 foi fundada. O congresso SIGRADI 2005 teve como tema
viso e visualizao e contou com sesses tcnicas sobre patrimnio
histrico digital (PARAIZO, 2005).
2.5. Noes bsicas para leitura de desenhos
arquitetnicos
O desenho arquitetnico , em um sentido estrito, uma especializao
do desenho tcnico normatizado voltada execuo e a representao
de projetos de arquitetura. Em uma perspectiva mais ampla, porm,
o desenho de arquitetura poderia ser encarado como todo o conjunto
de registros grcos produzidos por arquitetos ou outros prossionais
durante ou no o processo de projeto arquitetnico. O desenho de
arquitetura, portanto, manifesta-se como um cdigo para uma lin-
guagem, estabelecida entre o emissor (o desenhista ou projetista) e o
8 www.sigradi.org.br
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Tpicos em Conservao Preventiva-6 Edifcios que abrigam colees
9 http://pt.wikipedia.org/wiki/Desenho_arquitet
receptor (o leitor do projeto). Desta forma, seu entendimento envolve
um certo nvel de treinamento, seja por parte do desenhista ou do
leitor do desenho9.
Os prossionais envolvidos com o projeto, operao e manuteno
de museus, arquivos e bibliotecas devem ter o conhecimento bsico
necessrio para a leitura de projetos arquitetnicos. A bibliograa espe-
cializada contm muitos livros bsicos sobre o assunto. Recomendam-
se os livros de Montenegro (2001) e Ching (2000) como referncias
de introduo para os leigos. Como introduo leitura de projetos
eltricos indica-se a apostila do SENAI (1996).
Objetivamente, a representao grca do desenho arquitetnico cor-
responde a um conjunto de normas internacionais (sob a superviso
da ISO). No Brasil, as normas so editadas pela Associao Brasileira
de Normas Tcnicas (ABNT), sendo as principais as duas primeiras
da lista abaixo, que inclui as normas de desenho dos projetos eltrico
e hidrulico:
Cdigo danorma NBR Ttulo da Norma
6492 Representao de projetos de arquitetura (ABNT, 1994)
10067 Princpios gerais de representao em desenho tcnico (ABNT,1995)
5410 Instalaes eltricas de baixa tenso
5444 Smbolos grcos para instalaes eltricas prediais
5473 Instalaes eltricas prediais
5626 Instalaes prediais de gua fria
7198 Projeto e execuo de instalaes prediais de gua quente
7808 Smbolos grcos para projetos de estruturas
8160 Instalaes prediais de esgoto sanitrio
8196 Emprego de escalas em desenho tcnico
8402 Execuo de caracter para escrita em desenho tcnico
8403 Aplicao de linhas em desenhos tipos de linhas largurasdas linhas: procedimento
10647 Desenho tcnico: terminologia
10844 Instalaes prediais de guas pluviais
10897 Proteo contra incndio por chuveiro automtico
12298 Representao de rea de corte por meio de hachuras em desenhotcnico
14100 Proteo contra incndio Smbolos grcos para projeto
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Willi de Barros Gonalves, Luiz Antnio Cruz Souza e Yacy-Ara Froner
O desenho arquitetnico consiste na representao geomtrica de
diferentes projees, vistas, ou sees (cortes) do edifcio, em planos
horizontais ou verticais. Esse conjunto de projees resume-se a plan-
tas, cortes, elevaes, detalhes.
Os desenhos tcnicos dos projetos complementares eltrico, hidruli-
co, estrutural etc. tambm se utilizam dessas projees, empregando
porm smbolos grcos diferenciados, determinados em norma tc-
nica, que representam os componentes das respectivas instalaes
eltricas, hidrulicas, preveno e combate a incndio, proteo contra
descargas eltricas etc.
Uma planta uma seo que se obtm passando um plano horizontal
paralelo ao piso, numa altura tal que esse plano corte janelas, portas,
paredes etc. A Fig. 1 mostra o conceito do desenho de uma planta:
O desenho tcnico da planta contm ainda as cotas, que so as medi-
das da espessura das paredes e das dimenses dos ambientes. So
tambm identicados os nomes dos ambientes, e o nvelde cada um,
que se refere altura do piso do ambienteem relao a um nvel dereferncia. Geralmente, os ambientes em um mesmo andar tm um
mesmo nvel, a menos que haja diferenas na altura de seus pisos.
De maneira semelhante planta, um corteou seoresulta da passa-
gem de um plano vertical atravs do edifcio em estudo, indicando-se
na planta de qual lado do plano feita a representao da projeo
vista. Os cortes tm a funo de esclarecer e enfatizar detalhes que
podem car confusos nas plantas devido superposio de projees,
relativos a diversos elementos importantes na construo como as
escadas e coberturas. Nos cortes cotado o p-direitodos ambientes,
que corresponde sua altura, medida entre o piso e o forro.
Figura 1
Planta baixa
de um museu
com esquema
de circulao
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Tpicos em Conservao Preventiva-6 Edifcios que abrigam colees
A evoluo dos recursos de apresentao do projeto arquitetnico, atra-
vs de maquetes fsicas ou eletrnicasou de desenhos em perspectiva,
facilita a compreenso de edifcios com volumetrias s vezes muito
complexas por parte de pessoas com diculdade de viso espacial.
Esses recursos so muito teis na fase de projeto porque permitem a
percepo de problemas relacionados com a forma arquitetnica, que
s vezes passam despercebidos quando se utiliza somente o desenho
arquitetnico em plantas e cortes.
Os atuais recursos computacionais de simulao de desempenho
ambientaldos edifcios, em relao, por exemplo, iluminao ouventilao naturais, exigem como um dado de entrada uma maquete
eletrnica tridimensional do ambiente a ser simulado, associando-se
s envoltrias desse modelo feito em computador as propriedades
trmicas ou ticas dos materiais de construo.
Todos os desenhos de projees em planta e corte so desenhados
em escala. Escala um valor medido no papel que guarda uma rela-
o de proporo com o tamanho real em verdadeira grandeza dos
elementos desenhados. Uma escala de 1:1 (um para um), signicaque o desenho foi feito em tamanho natural (cada centmetro no papel
equivale a um centmetro do prprio objeto). Quando nos referimos
a uma escala de 1:100 (um para cem), estamos informando que o
objeto desenhado foi representado com uma reduo de 100 vezes
ao seu tamanho real; desse modo, 1cm no desenho equivale a 1m no
tamanho real do edifcio. O instrumento de desenho que se utiliza para
medir diferentes escalas chamado de escalmetro. Ele tem a forma
de um prisma triangular, e cada uma de suas trs faces tem duas es-
calas distintas, normalmente escalas 1:20; 1:25; 1:50; 1:75; 1:100; e1:125. possvel, por meio da utilizao de mltiplos ou submltiplos
Figura 2 Museu
da Incondncia
Ouro Preto MG
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dessas seis escalas, extrair um grande nmero de outras escalas. Cada
unidade marcada nas escalas do escalmetrocorresponde sempre a
um metro no tamanho real. A norma de desenho arquitetnico obriga
que, ao lado de cada desenho, seja sempre informada a escala, para
possibilitar a sua leitura.
3. MATERIAIS, SISTEMAS E TCNICAS CONSTRUTIVOS
PATOLOGIAS E RISCOS PARA A CONSERVAO PREVENTIVA
3.1. Arquitetura vernacular x Arquitetura
contempornea
Os materiais de construo podem assumir papis e comportamen-
tos diferentes, dependendo do sistema ou tcnica construtiva em
que so empregados, podendo assumir funo estrutural ou apenasde vedao ou revestimento nas construes. Conforme o seu uso,
e as condies ambientais a que so submetidos, podem variar
as patologias que iro apresentar ao longo do seu ciclo de vida,
acarretando diferentes conseqncias no mbito da conservao
preventiva. O conhecimento dos materiais e tcnicas construtivas
fundamental para a realizao de adaptaes adequadas de edif-
cios antigos, bem como construes coerentes em relao funo
dos edifcios novos erigidos com o intuito de abrigar colees.
Nessa rea, constituem referncias bibliogrcas os trabalhos de
VILLALBA (1995) e PETRIGANI (1979); e no tocante ao patrimnio
arquitetnico do nosso perodo colonial, VASCONCELLOS (1979).
Uma viso panormica das inter-relaes entre as patologias
construtivas e o desempenho ambiental dos edifcios pode ser en-
contrada em GONZLES (1997), PARICIO (1997) e ALLEN (2000).
A extensa gama de tcnicas e sistemas construtivos utilizados nos
edifcios que constituem o patrimnio edicado pode ser, grosso
modo, subdividida em dois grupos: os sistemas e tcnicas tradicionais
ou vernacularese os sistemas e tcnicas contemporneos.
Figura 3 Escalmetro
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O patrimnio construdo tradicional ou vernacular representa, funda-
mentalmente, a expresso cultural de comunidades mais ligadas ao
stio onde se localizam e que ao longo do tempo conseguiram preservar
suas tradies, apesar de inuncias culturais externas. Ele constitui
o modo natural com que tais comunidades produziram seu prprio
habitatao longo do tempo. Faz parte de um processo contnuo, emque as mudanas scio-ambientais necessrias so paulatinamente
incorporadas tradio construtiva. Essa arquitetura vernacular est
intimamente relacionada com um tipo de arquitetura que hoje deno-
minamos bioclimtica ou sustentvel, por otimizar as relaes entre
o edifcio e o meio externo, proporcionando conforto aos usurios,
minimizando o consumo de energia e recursos naturais.
A permanncia das tcnicas e sistemas construtivos vernaculares
tem sido cada vez mais ameaada por processos de homogeneizaocultural e arquitetnica. A proteo dessas culturas e, por conseguin-
te, dos fatos materiais e imateriais produzidos por elas, enfatiza a
necessidade de aes diversas de Preservao, num sentido amplo.
A preservao desse patrimnio, incentivada pela educao e por pro-
gramas multidisciplinares conjuntos, objetiva manter vivas as tcnicas
construtivas tradicionais, resistindo massicao globalizante dos
mtodos e at mesmo das formas construtivas.
Ao se reconhecer a importncia de um vocabulrio tecnolgico prpriode certas comunidades, rearma-se a competncia e a capacidade
dessa comunidade de encontrar seus caminhos, a partir do conceito
de sustentabilidade. Por meio da arquitetura tradicional possvel
apreender a histria tcnica, dos smbolos e viso de mundo prprios
de determinada cultura, bem como o seu estilo de interao com o
meio ambiente.
A partir da segunda metade do sculo XIX, ocorrem mudanas signi-
cativas nos processos de construo, impulsionadas pela Revoluo
Industrial. Aparecem novos materiais de construo produzidos em
srie: inicialmente, o ferro e o vidro; posteriormente, o cimento, que
viria inaugurar uma nova era tecnolgica sob a gide do concreto
armado. As engenharias civil, mecnica e eltrica garantem clculos
mais precisos. No bojo das transformaes, d-se uma alterao
nos conceitos bsicos da Arquitetura: em um processo de cultura
de massas, ocorre a perda da identidade dos edifcios gerada pela
padronizao, necessidade de reduo de custos e otimizao na
ocupao dos espaos. A produo em escala tambm gera uma vidatil limitada, alm de uma dependncia energtica e tecnolgica cada
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vez maior. Como conseqncia, no raro que a manuteno dos
edifcios novos, construdos no decorrer do sculo XX, seja mais cara
e constante. Some-se a essas consideraes o alto custo energtico
e ambiental envolvido na produo dos materiais, decorrente da pro-
duo de resduos e da padronizao nos modelos construtivos, que
desconhece a diversidade criativa do artesanal.
Nesse contexto, projetos complementares de instalaes eltricas,
hidrulicas, sanitrias, telefnicas, preveno e combate a incndio,
sistema de proteo a descargas atmosfricas (spda), sonorizao,
segurana agregam ao custo da edicao um montante que, no
raramente, multiplica o valor inicial da construo.
Villalba (1995), ao estudar a histria da evoluo das tcnicas e
sistemas construtivos, sistematiza suas observaes, considerando
inicialmente, em cada perodo analisado, questes relativas ao cenrio
sociocultural de cada poca, para, em seguida, organizar o estudo em
torno dos materiais e tcnicas agrupados em termos de estrutura, pa-
redes de vedao constitudas por elementos aglomerantes e blocos
ou aglomerados, bem como os acabamentos, sistema de cobertura
e vos, pisos e fundaes. De maneira similar, Vasconcellos (1979)
organiza seu estudo, tratando de estruturas, vedaes, pisos, forros,
vos, coberturas e escadas.
A identicao e o conhecimento dos materiais que compem os
elementos de uma edicao auxiliam na compreenso das caracte-
rsticas de um prdio em relao ao seu comportamento estrutural e
sua qualidade ambiental.
3.2. Fundaes
Na arquitetura vernacular brasileira, os alicerces so feitos em alve-
naria de pedra argamassada com barro, aparecendo em alguns raros
exemplos a argamassa de cal. A alvenaria praticamente a mesmadas paredes de pedra que aoram do cho, diferenciando-se por
empregar pedras maiores, bem assentadas e caladas com pedras
menores. A altura e espessura varivel em funo da carga a su-
portar. Vasconcellos (1979) ressalta ainda sua evoluo ao longo do
tempo, tornando-se mais rasos.
comum o uso de alicerces ensoleirados, com vistas minimizao
da umidade ascendente do terreno. Sendo que os esteios, elemen-
tos estruturais, se assentam sobre essa soleira, no penetrando nos
alicerces.
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No caso de pavimentos elevados do solo, so encontrados embasamen-
tos de alvenaria, cantaria ou ensilharia10. Podem acontecer tambm
falsos alicerces, apenas de vedao do espao entre o baldrame11 e
o alicerce, nas edicaes com estrutura autnoma.
Patologias e riscos: As patologias construtivas ligadas s fundaes
podem decorrer de recalques, inltrao de umidade e eventualmente
infestaes de pragas e crescimento de microorganismos. Os recal-
ques acontecem por movimentaes do terreno sob a fundao, seja
por uma acomodao natural ou um fator externo, como, por exemplo,
eroso, contraes e dilataes por variaes de temperatura; ventos;
vibraes; impactos; variaes estticas de cargas; aes dinmicas
por abalos ssmicos etc. O recalque da fundao pode resultar em
danos estrutura e s vedaes do edifcio. As falhas se manifes-
tam geralmente pelo aparecimento de ssuras, perdas estruturais
e desprendimentos. Dentre essas manifestaes, as ssuras so
as mais importantes, ainda que no sejam as mais graves, pois so
Figura 4 Alicerce enso-
leirado, assentamento de
esteios. Fonte: VASCON-
CELLOS, 1979.
Figura 5 Casa de
cmara e cadeia Ouro Preto (MG).
Ensilharia na base da
edicao.
10 A alvenaria constituda por pedras aglomeradas por uma argamassa. Na cantaria, as pedras
maiores so caladas por pedras menores e a ensilharia composta por blocos de pedra cortadosregularmente e encaixados.
11 Baldrame - pea horizontal de madeira que sustenta a parede, apoiando-se nos esteios.
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sintomas de alteraes relacionadas distribuio de carga (peso)
citadas acima, ou podem tambm ser causadas por movimentos de
contrao e dilatao ocasionados por utuaes de umidade.
importante diferenciar ssuras ativas das estveis, pois no primeiro
caso as falhas estruturais podem resultar em danos mais srios, como
desmoronamento. Desse modo, indispensvel identicar a causa deseu aparecimento. Sua preveno est relacionada com a garantia de
estabilidade do terreno onde se localiza a edicao e com a minimi-
zao das variaes de umidade na estrutura do edifcio.
3.3. Paredes estruturais
As paredes estruturais compem os elementos portantes fundamentais
nas tipologias construtivas tradicionais; sustentam as cargas verticais
da edicao e ocasionalmente as horizontais; realizam a funo de
limite exterior e diviso dos cmodos no interior. Os materiais utilizados
so os mais diversos, incluindo terra crua em variaes distintas; pedra
em estado natural ou desbastada; barro cozido em forma de tijolos,
ladrilhos; madeira e vegetao local.
3.3.1. Taipa de pilo
Paredes de taipa de pilo empregadas na arquitetura vernacular, com
espessura entre 40 e 80cm, so construdas com formas paralelas,
entre as quais se compacta a terra por camadas. Empregadas ainda
hoje em diversos tipos de edicaes pela sua simplicidade e baixo
custo, revelam-se bastante resistentes (desde que bem isoladas),
atingindo facilmente esta condio em climas quentes e secos com
baixos ndices de chuva. Tradicionalmente so isoladas com cal, em
aplicaes repetidas com regularidade, podendo ainda ser revestidas
com pedras.
O barro empregado deve ser escolhido e a proporo de mistura de
terra, areia e argila determina o grau de aglutinao, minimizando
a desintegrao por rachaduras e fendas. Por esse motivo, aparece
misturado com o barro o estrume de curral, as bras vegetais ou a
Figura 6 Paredes
de terra taipa,
adobe, taipa de
mo (pau-a-pique)
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crina animal. H tambm a tradio de juntar sangue de boi como
aglutinante.
Em construes especiais, como nas cadeias pode ocorrer o reforo
interno com tbuas de madeira transversais. Numa outra modalidade,
conhecida como formigo, o barro misturado com pedregulhos,
feio de um concreto.
Patologias e riscos: so relacionados sua deteriorao por ero-
so chuva e vento. No primeiro caso, a umidade que atravessa as
paredes por capilaridade poder causar uma elevao da umidade
relativa no interior do ambiente e eorescncias resultantes da car-
reao de material solvel para a superfcie da parede. No caso do
vento, a desagregao pode ser um fator gerador de particulados no
interior do ambiente, os quais, em contato com a umidade ou agentes
poluentes no ar, so agentes potencialmente danosos aos objetos
de arte expostos. No recomendvel alterar as caractersticas ori-
ginais, correndo-se o risco da desagregao das argamassas ou dos
materiais, bem como da alterao das propriedades de troca com o
meio, gerando uma maior concentrao de umidade interna, e no
sua eliminao.
3.3.2. Adobe
So peas em forma de prisma, empregadas na arquitetura vernacular,
geralmente com o comprimento duas vezes maior que a altura para
facilitar o encaixe. So construdas por meio de moldes nos quais se
compacta a terra previamente amassada; depois de secos ao sol, os
tijolos so dispostos e unidos tambm por barro. Pode ser adicionada
bra vegetal para melhorar suas propriedades. A evoluo das pa -
redes de adobe resultou no desenvolvimento dos tijolos queimados
das olarias.
Patologias e riscos:como as demais construes base de terra, pos-
suem como caracterstica propriedades capilares que resultam em umcomportamento inadequado diante de solos ou climas midos.
3.3.3. Alvenaria de pedra
No princpio do perodo colonial brasileiro, foram utilizadas para essa
nalidade as pedras importadas de Portugal, trazidas como lastro nos
navios. Os ornamentos externos dos edifcios eram preferencialmente
feitos em pedra, devido trabalhabilidade aliada durabilidade. A
tcnica de aplicao varivel segundo a argamassa com que so
assentadas, podendo adotar os padres da pedra-seca, da pedra-e-
barro e do canjicado.
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Figura 7 Edi-
cao feita em
tcnica de pedra-
seca
Figura 8 - Edi-cao feita em
tcnica de pedra-
e-barro
Figura 9 -
Canjicado
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Patologias e riscos:Risco de ssurao, associado aos recalques,
conforme descrito para as paredes de taipa de pilo.
3.3.4. Coroamento das paredes
Na arquitetura vernacular brasileira, as paredes so geralmente co-
roadas pela cobertura em beiradas sacadas. Existem tambm coroa-
mentos monumentais, compreendendo frontes ou platibandas, cujas
empenas assumem formato triangular, rampantes ou caprichosas. So
arrematadas com molduras, cimalhas ou tambm com telhas coloca-
das transversalmente. As platibandas possuem ornamentos diversos,
ou se apresentam vazadas, com balastres de pedra, geralmente
divididos em painis que seguem o ritmo dos pilares na fachada.
3.3.5. Cunhais
Os cunhais acabamento inferior dos esteios variam conforme o
sistema construtivo. Quando a estrutura de madeira, os esteios ao-
rados constituem os cunhais. s vezes so revestidos com tbuas lisas
ou de rebaixo, com moldura, dando-lhes maior ressalto em referncia
ao plano das paredes. Quando de pedra, podem ser de alvenaria e
massa ou de cantaria, porm sempre realados, feio de pilastras.
H casos na arquitetura vernacular brasileira de esteios imitando
pilastras, com revestimento de estuque ou de massa.
Figura 10 Coroa-
mentos. Fonte: VAS-
CONCELLOS (1979)
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3.3.6. Cimento
O cimento pode ser denido como um p no, com propriedades aglo-
merantes, aglutinantes ou ligantes, que endurece sob a ao de gua.
Na forma de concreto, torna-se uma pedra articial, que pode ganhar
formas e volumes, de acordo com as necessidades de cada obra. Os
vrios tipos de cimento so indicados para compor argamassas e
concretos de acordo com as necessidades de cada caso. Alm disso,
possvel modicar suas caractersticas aumentando ou diminuindo
a quantidade de gua, cimento e demais componentes agregados
(areia, pedra britada, cascalho etc.). possvel usar ainda aditivos
qumicos, a m de reduzir certas inuncias ou aumentar o efeito de
outras, quando desejado ou necessrio. Os diferentes tipos de cimentos
normalizados so designados pela sigla e pela classe de resistncia.
A sigla corresponde ao prexo CP acrescido de algarismos romanos I
a V, sendo as classes de resistncias indicadas pelos nmeros 25, 32
e 40. Estas apontam os valores mnimos de resistncia compresso
(expressos em megapascal MPa), garantidos pelos fabricantes, aps
28 dias de cura: quanto maior o valor, maior a resistncia.
3.3.7. Concreto armado
O concreto um dos materiais mais difundidos nas construes con-
temporneas; a mistura de materiais inertes como areia e pedras
de distintas granulometrias, cimento portland e gua, a qual cria a
amlgama e a reao qumica necessria ao seu endurecimento.
Quando reforado por barras de ferro, o concreto denominado
concreto armado. A dosagem dos componentes do concreto e da arga-
massa conhecida tambm por trao. Portanto, importante encontrar
a dosagem ideal a partir do tipo de cimento e de agregados escolhidos
para estabelecer uma composio que d o melhor resultado com o
menor custo. No basta ter o trao e a dosagem ideais; a etapa de
execuo fundamental para a obteno de um bom concreto e de
uma boa argamassa.
Patologias e riscos: Se os processos de adensamento e cura forem mal
executados, acabam surgindo patologias, tais como baixa resistncia,
trincas e ssuras, corroso das armaduras, entre outras. O bom adensa-
mento obtido por vibrao adequada. J para obter uma cura correta
importante manter as argamassas e os concretos midos aps a
pega, molhando-os com uma mangueira ou com um regador, ou ento
cobrindo-os com sacos molhados (de aniagem ou do prprio cimento),
de modo a impedir a evaporao da gua por ao do vento e do calor
Figura 11 cunhais. Fonte:
VASCONCELLOS (1979)
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do sol, durante um perodo mnimo de sete dias, ou ainda adotando-se
o uso de agentes qumicos de cura. A partir da alterao nos modelos
construtivos do sc. XX, o concreto tornou-se o segundo material mais
consumido pela humanidade, superado apenas pela gua.
Esses materiais tm, como caracterstica, baixa porosidade e alta
condutividade trmica o oposto dos materiais tradicionais. Tais pro-
priedades implicam em determinados comportamentos em relao ao
meio ambiente: a baixa porosidade dene uma incapacidade de troca
de vapor dgua e a condutividade trmica promove um acmulo do
calor pela incidncia solar que irradia no ambiente interno. Assim, em
ambos os casos h uma demanda de sistemas mecnicos complexos
(ar-condicionado) ou simples (desumidicadores, umidicadores,
exaustores) que ajustem a umidade relativa e a temperatura interna.
A arquitetura moderna acreditou por muito tempo que estes materiais
possuam vida-til ilimitada. Os problemas estruturais e a desagrega-
o de suportes como nas construes de Braslia demonstram
que no h coerncia nessa proposio.
3.4. Paredes de vedao
3.4.1. Pau-a-pique
Tipo de vedao que consiste em paus colocados perpendicularmen-
te entre os baldrames e frechais12, neles xados por meio de furos
ou pregos. Esses paus so freqentemente rolios, inclusive com a
casca, com um dimetro de 10 a 15cm. A terra amassada aplicada
sobre uma trama de bambus, caibros ou galhos de madeira exveis,
cumprindo a funo de revestimento.
3.4.2. Revestimento das vedaes
Na arquitetura vernacular, as paredes so em geral revestidas comuma argamassa de barro, qual, por vezes, se adiciona cal e areia.
A cal, inicialmente importada, depois passou a ser obtida da queima
de conchas. Para essa nalidade foi tambm utilizada a madeira e
azulejos.
3.4.3. Produtos cermicos
Materiais contemporneos que consistem em peas confeccionadas
em formato de tijolos, blocos, placas, painis e ladrilhos para a exe-
12 Frechal: pea de madeira paralela ao baldrame, no coroamento da parede.
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cuo de paredes estruturais ou revestimentos de pisos e paredes.
Devido ao processo industrial, tornam-se muito compactos e pouco
porosos; porm, as cermicas so mais exveis, higroscpicas, poro-
sas e menos pesadas do que o concreto.
3.4.4. Materiais metlicos
As construes contemporneas utilizam os perlados de ao para uso
estrutural e chapas de diversos metais como zinco, alumnio, cobre
e ao inoxidvel para ns de revestimento e/ou vedao de paredes
e coberturas.
No tocante estrutura, h dois tipos principais de pers: os lami-
nados a quente (maior capacidade estrutural) e os laminados a frio
(resistncia maior e custo reduzido). Para cada um desses tipos de
pers de ao h uma ampla gama de formas e dimenses adaptadass mais diversas necessidades estruturais. Os pers de ao tm uma
capacidade estrutural alta: so capazes de suportar cargas pesadas
com um mnimo de material.
Patologias e riscos: As principais desvantagens desse tipo de material
so: corroso por oxidao e umidade; perda da capacidade estrutural
nos incndios; uma vez que o coeciente de dilatao baixo, esta
propriedade pode gerar incompatibilidade em relao movimenta-
o de outros materiais nos pontos de vnculo, como juntas de unio,ocasionando ssuras; alto custo energtico para sua produo e pa-
dronizao formal dos elementos. Outro aspecto a ser considerado
sua alta condutividade trmica, permitindo a entrada de calor durante
o dia e a perda trmica noite.
3.4.5. Plsticos
Existe uma gama de produtos e aplicaes de materiais plsticos
e sintticos para a construo contempornea, incluindo pinturas,resinas, impermeabilizantes, divisrias, forros e armaes, onde a
variedade de textura, resistncia mecnica e cor garantem a diversi-
dade de sua aplicao.
Patologias e riscos: produtos plsticos so: impermeveis; quimica-
mente estveis (no caso de polietileno e polipropileno, pois polies-
tirenos so degradados pela ao da luz); altamente combustveis,
dependendo ainda de tratamentos qumicos que reduzem este po-
tencial. Considerando sua capacidade impermevel, so amplamenteutilizados como forro, pois bloqueiam de maneira ecaz inltraes. Em
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relao condutividade trmica, dependem da carga e de elementos
qumicos agregados em sua fabricao.
3.4.6. Vidros
Os vidros so materiais usados na arquitetura desde o perodo medie-
val. Contudo, a tecnologia e a capacidade tica de transmisso de luz
tornaram o vidro um dos elementos mais empregados nas edicaes
contemporneas, principalmente aps a consolidao do Estilo Inter-
nacional (modernismo). As vanguardas arquitetnicas adotaram como
materiais as esquadrias de vidro, o concreto e os perlados metlicos.
Existem no mercado diversos tipos de vidros com comportamentos
termo-luminosos diferenciados.
Patologias e riscos: No caso dos vidros, agrega-se sua transmissi-bilidade luz, a falta de porosidade e a alta condutividade trmica.
Esta relao porosidade-condutividade implica a promoo de um
interior quente, com baixa troca de vapor mido com o exterior, o que
transforma caixas de vidro em espaos inadequados, uma vez que se
associa a esse material a passagem da irradiao ultravioleta, quando
no h barreira ou ltro de proteo. Como na maioria dos materiais
modernos, h um alto consumo energtico para sua produo. O vidro
comum, que possui um fator solar13de 86%, provoca o chamado efeito
estufa: As radiaes ultra-violeta, visvel e infra-vermelho prximo pas-
sam pelo vidro comum, so absorvidas pelos materiais e superfcies do
ambiente e reemitidas sob a forma de infra-vermelho de onda longa,
para o qual o vidro comum opaco. Essa radiao trmica vai sendo
trocada entre as superfcies do ambiente, que por sua vez transmitem
o calor para o ar por conveco.
3.5. Pisos
Os pisos so muito variados na arquitetura tradicional brasileira, apa-
recendo desde os de terra socada at o parqu de madeira. O piso de
terra batida executado por compactao, s vezes com adio de
terra e gua, e depois apiloado. Foram tambm utilizados ladrilhos
de barro, de pequena durabilidade. O assoalho em tabuado corrido
foi empregado com grande variedade de encaixes, com as tbuas
pregadas nos barrotes, assentados em cima dos baldrames.
13 O fator solar uma porcentagem que expressa a quantidade total de radiao solar queatravessa o vidro, em relao radiao incidente.
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Outra modalidade de piso utilizada na arquitetura tradicional no Brasil
foi o de seixos rolados, formando mosaicos, xados por apiloamento.
E tambm a chamada calada portuguesa ou p-de-moleque.
3.6. Forros
Assim como os pisos, os forros vernaculares brasileiros tambm apre-
sentam grande variedade quanto forma e ao material de acabamento
utilizado. Os mais simples so de esteira. Os forros de gamela so
compostos por 5 painis, 4 painis trapezoidais inclinados, corres-
pondendo s laterais do cmodo, e sendo fechados no alto por um
painel horizontal retangular ou quadrangular.
Patologias e riscos: Os maiores problemas dos entablamentos ou das
estruturas feitas em madeira sua degradao por ataque biolgico e
sua desagregao por umidade. Como material altamente combustvel,so suscetveis a incndios.
Figura 12 piso de
seixos rolados. Fon-
te: VASCONCELLOS
(1979)
Figura 13 forro
Nossa Senhora da
Conceio da Praia
Salvador BA
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3.7. Coberturas
Na arquitetura vernacular brasileira, as coberturas mais simples so
denominadas de meia-gua, podendo apresentar dois, trs, quatro ou
mais panos de telhado, caso em que aparecem as tacanias.
As coberturas apresentam salincias, denominadas beiradas, beiral
ou sancas. Sua funo proteger as paredes da gua da chuva,
sendo que a largura do beiral proporcional altura da parede a ser
protegida. As beiradas podem ser:
De madeira, com estrutura aparente em cachorrada quando so
chamadas de beirais;
Perladas, quando so chamadas cimalhas, de diversos tipos: ma-
deira, alvenaria e massa, cantaria ou estuque.
A concordncia entre a inclinao do telhado e a beirada obtida com
a aplicao de uma pea chamada contrafeito, que se apia no teroinferior do caibro e no tero externo da beirada.
3.8. Patologias construtivas relacionadas com a
umidade
3.8.1. Capilaridade
A capilaridade o fenmeno conhecido como a ascenso da gua por
meio de vasos capilares, frestas, ssuras e vos dos componentes
construtivos das paredes. A umidade por capilaridade se produz geral-
mente em nveis baixos da edicao como pores, salas localizadas
em declives, prximas aos muros de arrimo e demais desnveis que
Figura 15 - Contra-
feitos e cimalhas.
Fonte: VASCON-
CELLOS (1979)
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colocam a construo em contato direto com o solo.
A presena de lenol fretico no solo, a presena de reas de des-
cargas (esgotos, canos, ladres, boca-de-lobo), mau escoamento de
guas pluviais, a existncia de fontes de gua articiais ou naturais
e a vegetao abundante na vizinhana (razes) podem gerar um
ambiente mido no entorno, que tende a penetrar no interior da edi-
cao atravs dos materiais construtivos. A altura que pode chegar a
gua na parede depende do equilbrio de trs fatores: suco capilar,
gravidade e evaporao.
As caractersticas da umidade por suco capilar so:
ocorrem nos nveis mais baixos da edicao;
presena de manchas de umidade escuras em pontos distintos da
parede;
algumas vezes ocorre o estufamento da argamassa ou da tinta, oca-
sionando bolhas e desprendimento; eorescncias esbranquiadas
causadas pela formao de cristais salinos carregados das camadas
internas para a superfcie externa da parede; limo ou mofo em con-
dies extremas devido proliferao de microorganismos.
H diversos tratamentos contra esse tipo de umidade. Identicada
a fonte, prossionais qualicados devem ser acionados para a pro-
posio de alteraes estruturais na edicao. Ao contrrio do que
se imagina, no recomendado selar ou impermeabilizar a parede,
mas empregar materiais permeveis que facilitem a evaporao e
disperso da umidade.
Para prdios novos, h de se cuidar para que o processo de cura e
disperso da gua utilizada na modelagem do cimento, concreto, ar-
gamassa e pintura j tenham ocorrido. Entre a nalizao da obra e
a ocupao do espao, o intervalo mnimo de um ms. Por sua vez,
recomenda-se planejar o nal da obra e a ocupao do prdio para
perodos de estiagem.
3.8.2.Condensao
A umidade por condensao ocorre em climas onde existe uma di-
ferena acentuada entre a temperatura do exterior e a do interior.
Quando a ventilao de um local em uso deciente e no promove
a troca de ar contido no interior, a umidade relativa chega prxima a
valores de saturao; alm disso, muros possuem materiais que tm
pouco isolamento e alta condutividade trmica, tendem a esfriar-se
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(interna e externamente) e, quando o ar toma contato com a superf-
cie fria, condensa a gua em forma de orvalho. As gotas de gua so
absorvidas pelo muro ou se acumulam na superfcie.
As caractersticas principais da umidade produzida por condensao
so: no permanente e aparece em determinadas horas do dia ou
em certas ocasies climticas (chuva e frio); se manifesta na superfcie
e similar em toda a altura (distinta da capilaridade).
3.8.3. Inltrao
Esta uma das causas mais comuns de umidade e advm de nume-
rosas origens, todas relacionadas a erros de projetos, execuo da
obra, falta de manuteno, reformas e usos indevidos.
A chuva uma das principais causas de inltrao; penetra atravsdos telhados e muros, aproveitando-se de qualquer salincia, ruptu-
ra, fresta, buraco, deslocamento de telhas e tijolos, e muitas vezes
manifesta-se em zonas distantes do ponto causal da inltrao. A gua
da chuva pode entrar por cima, a partir de problemas estruturais da
construo, ou penetrar por capilaridade devido a sua concentrao
em desnveis do solo no entorno do edifcio.
A inltrao pode ser proveniente de instalaes defeituosas, como
calhas, esgotos e canos; de problemas na execuo do desenho do
sistema hidrulico e tambm da falta de manuteno e sobrecarga em
seu uso. Rupturas, ssuras e buracos nos canos; m localizao de
calhas e sistemas de esgoto so as causas mais comuns. Nos telha-
dos as principais causas de inltrao so: a decincia das tramas
dos caibros e vigamentos; a m colocao das telhas; a existncia de
telhas quebradas ou deslocadas; forros permeveis e suscetveis a
inltraes; forros impermeveis que dispersam as inltraes pelas
paredes; altura inadequada do declive em relao ao tamanho do
edifcio.
Localizar a causa primordial para que seja possvel executar o re-
paro. H de se observar que normalmente problemas de inltraes
so identicados em perodos de chuvas e que os reparos s podem
ser feitos durante a estiagem; ao localizar os pontos de goteiras, man-
chas e degradao do edifcio, mapeando os pontos crticos, torna-se
possvel encontrar as causas e efetivamente sanar os problemas de
inltrao.
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4. O EDIFCIO COMO UM FILTRO CLIMTICO
4.1. Caracterizao climtica
A existncia de diferentes climas determinada por meio da ao de
diversos fatores, os quais, combinados, promovem resultados distintos.
Esses fatores podem inuenciar o clima desde uma escala globalataescala local. Entre osfatores globaispodemos citar:
a incidncia de radiao solar em funo da latitude:quanto menor
a latitude do local, mais altas as mdias de temperatura, devido
maior incidncia de radiao solar;
a proporo entre as massas de gua e terra:quanto maior a dis-
tncia de massas de gua ou vegetao, maior a amplitude trmica
diria e anual; O hemisfrio sul tem uma proporo oceanos/conti-
nente maior que o hemisfrio norte.
os ventos, que juntamente com as correntes martimas tendem a
equilibrar o aquecimento diferencial das zonas da Terra, congurando
regies de baixa presso atmosfrica que se deslocam ao longo do
ano entre os trpicos, efeito que se soma ao da rotao do planeta,
produzindo correntes de ar globais;
a altitudeest relacionada com as temperaturas mdias, observan-
do-se um decrscimo dessas temperaturas medida que a altitude
aumenta.
Dentre os fatores que inuenciam as condies climticas numa escala
intermediria, temos:
a topograa, que pode canalizar ou barrar as correntes de vento,
modicando o seu teor de umidade e, portanto, interferindo no regi-
me de precipitaes. Alm disso, a declividade e orientao cardeal
das vertentes do relevo determina horrios de incidncia de sol e
sombra em seu entorno;
a superfcie do solo, que em funo de sua permeabilidade deter-
mina a percolao ou o escoamento supercial das guas pluviais
e, em funo do tipo de ocupao, determina o albedo, propriedade
fsica relacionada com a absoro/reexo da radiao solar;
e, por m, a vegetaoatua como uma massa de gua, regulando
o teor de umidade do ar e moderando as variaes climticas, que
so mais extremas na sua ausncia. A cobertura vegetal absorve
parte da radiao solar, utilizando-a para a fotossntese, e reduzindo
os ganhos trmicos.
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Os fatores climticos que podem ser controlados no interior do edifcio
atravs da aplicao correta das estratgias so: a temperatura e
umidade do ar, as condies de iluminao e as condies de quali-
dade do ar.
4.2. Temperatura e umidade do ar
Umidade e temperatura so parmetros que devem sempre ser avalia-
dos conjuntamente, pois, alm de denirem as condies climticas,
seu comportamento determina as condies favorveis ou no dos
ambientes em que esto instalados os acervos.
A umidade do ar dependente de caractersticas climticas locais,
como o regime de pluviosidade e a proximidade com massas de gua
ou vegetao.
Para a avaliao das condies ambientais de temperatura e umidade,
vrios equipamentos podem ser empregados: higrmetros, termo-
higrmetros, termohigrgrafos e, recentemente, data loggers.Esses
equipamentos s tm utilidade se houver manuteno e calibragem
peridica (a calibragem ocorre com o uso do psicmetro), alm da co-
leta e anlise dos dados, pois no tm outra funo a no ser efetuar
a medio climtica. Uma medio irregular ou no analisada no
cumpre o papel de compreender o desempenho do ambiente interno;por sua vez, o desempenho do ambiente interno deve ser avaliado
tambm em relao ao ambiente externo. Por meio da anlise dos
dados, os gestores das colees podem:
identicar reas de risco;
propor ocupao ou remanejamento do espao a partir das neces-
sidades dos acervos;
identicar e sanar problemas estruturais, de reforma ou construo,nos ambientes da edicao;
denir estratgias de controle relacionadas abertura e fechamento
de vos;
denir estratgias de controle a partir do uso de equipamentos me-
cnicos simples ou complexos ou do uso de material tampo.
Nesse contexto, para a avaliao do ambiente de uma instituio
recomenda-se a coleta regular (diria) de dados no espao integral de
um ano; a partir desta coleta importante avaliar o comportamento
do ambiente interno em relao ao ambiente externo por meio de
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uma carta psicromtrica. Nessa carta esto traadas as equaes
que regulam os processos de trocas trmicas com o ar mido, e a
plotagem sobre ela dos dados coletados permite analisar os recursos
de climatizao necessrios.
Sempre que medidas de controle forem denidas, importante voltar a
analisar os dados e gerar relatrios que avaliem o impacto das medidas
tomadas, bem como a necessidade de ajustes. O controle peridico
uma ferramenta segura para a vericao de possveis irregularidades
na edicao, nos equipamentos de controle climtico ou nas altera-
es climtico-ambientais provocadas pela ao do homem.
O modelo para o gerenciamento climatolgico parte do seguinte
plano:
a) denio da equipe responsvel pela calibrao, manuteno e
superviso dos equipamentos, bem como levantamento e anlise
dos dados dirios, semanais, mensais, anuais;
b) coleta manual dos dados e sua transposio para programas
estatsticos sob a forma de grcos e tabelas (como Excell) ou
estabelecimento de uma rede informatizada de coleta por meio de
data logger;
c) elaborao de um estudo comparativo entre ambientes; da edica-
o como um todo e do ambiente interno da edicao em relao
ao entorno a partir das medidas de temperatura e umidade mxi-
mas, mnimas e mdias; vericao das utuaes e identicao
das caractersticas sazonais.
A partir desse diagnstico possvel qualicar o ambiente em relao
ao seu desempenho e propor ajustes para sua utilizao.
Outra ao primordial nesse processo o estudo das fontes gera-
doras de umidade ou que determinam a temperatura do ambiente.
Para umidade, as possveis fontes de intensicao podem ser: por
capilaridade, por condensao ou por inltrao.
Figura 16 Ventilao cruzada e por efeito chamin (exausto)
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Ventilao e insolao so condicionantes que podem alterar as re-
laes de umidade no ambiente. Por essa razo, importante saber
a direo do vento dominante no local do projeto, pois ela vai deter-
minar a dinmica de circulao do ar no interior do edifcio. O uso de
sistemas de ar-condicionado deve sempre ser pensado em relao
ao custo energtico, manuteno e s reais condies da estruturaconstrutiva do prdio.
Tanto nas tcnicas tradicionais de construo quanto nas construes
modernas, a disposio das portas e janelas determina a ventilao
natural do ambiente. Janelas e portas atuam de maneira integrada nos
processos de circulao do ar, favorecendo a disperso da umidade
interna ou a entrada da umidade externa.
Uma vez que o comportamento trmico e de troca mida normal-
mente eciente, os estudos de abertura e fechamento de portas so,
eventualmente, mais adequados do que a instalao de sistemas de
condicionamento de ar complexos ou o uso de isolantes, como manta
asfltica e resinas impermeveis. Um plano de manuteno peridica
e ocupao inteligente do espao a chave para o uso com qualidade
dessa tipologia de edicao.
4.3. Condies de insolao e desempenho luminoso
do edifcio
Um dos elementos que tem importncia decisiva nas condies clim-
ticas interiores dos edifcios est relacionado s aberturas por onde
entra a luz, como portas, janelas, clarabias etc. A disposio dos vos
e aberturas nos ambientes construdos no se restringem funo
de acesso e viso do exterior, mas garantem questes importantes
de circulao, iluminao e ventilao, fundamentais denio das
caractersticas ambientais internas e interao da edicao com
o ambiente externo.
A quantidade de luz que chega aos ambientes dentro do edifcio depen-de de uma srie de fatores, dentre os quais um dos mais importantes
so as condies de insolao. Alm dessas condies, a iluminncia
interna depende tambm das condies do cu, principalmente a
nebulosidade, bem como de diversos fatores relativos ao ambiente,
como cores das superfcies, e o tamanho, tipo e posio das aberturas
de iluminao.
Para a anlise das condies de insolao de um determinado edifcio
necessrio saber sua orientao, determinada pela direo do norte
geogrco (norte solar).Cabe enfatizar que o norte solar diferente
do norte indicado por uma bssola (norte magntico). A diferena,
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varivel em funo da posio geogrca, chamada de declinao
magnticae pode ser calculada tendo em mos as coordenadas de
latitude e longitude do local14. Com essas informaes, possvel
analisar as condies de implantao do edifcio em relao ao mo-
vimento aparente do sol, varivel ao longo do ano.
O movimento aparente do sol em um determinado local pode ser re-
presentado atravs de uma carta solar.A superposio desse grco
ao desenho arquitetnico permite avaliar as posies do sol ao longo
do ano, determinando os horrios de insolao de cada fachada, bem
como a ecincia de dispositivos de proteo solar das aberturas,
minimizando o consumo energtico do sistema de ar-condicionado
(caso exista) e otimizando o aproveitamento da luz natural.
Concluso
Em qualquer projeto de Conservao Preventiva, indispensvel o
conhecimento da edicao para elaboraes de propostas. Do posi-
cionamento de mobilirio aos protocolos de manuteno; da denio
dos suportes de acondicionamento escolha do sistema de controle
ambiental, tudo demanda o conhecimento exaustivo do prdio e do
seu entorno, bem como das caractersticas das colees instaladas.
Assim, a exeqibilidade, economia e ecincia de um projeto nessa
rea dependem de uma equipe multidisciplinar que possa discutir e
compartilhar problemas e solues no que tange ao uso do edifcio,
a segurana dos acervos e planos diretores.
14 http://www.ngdc.noaa.gov/seg/geomag/mageld.shtml
Figura 17 Diferentes condies de
implantao para um mesmo edif-
cio, que resultam em desempenhos
trmicos diferentes, em funo dos
materiais previstos em cada fachada
e sua exposio radiao solar
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sobre o Palcio Monroe. 2003, 132 p., il. Tese (Mestrado em Urbanismo), Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003. Disponvel em http://www.nitnet.com.
br/~rodcury/dissertacao/sumario.htm
PARAIZO, R. C.A representao do patrimnio urbano em hiperdocumentos: um estudo
sobre o Palcio Monroe