Tópicos em Conservação Preventiva - Caderno 6

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    Edifcios que abrigam colees

    Tpicos em Conservao Preventiva-6

    Willi de Barros Gonalves, Luiz Antnio Cruz Souza e Yacy-Ara Froner

    BELO HORIZONTE

    ESCOLA DE BELAS ARTES UFMG

    2008

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    Tpicos em Conservao Preventiva-6 Edifcios que abrigam colees

    Copyright LACICOREBAUFMG, 2008

    PROGRAMA DE COOPERAO TCNICA:

    INSTITUTO DO PATRIMNIO HISTRICO E ARTSTICO NACIONAL IPHAN

    Departamento de Museus e Centros Culturais DEMU

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS UFMG

    Escola de Belas Artes EBA

    Centro de Conservao e Restaurao de Bens Culturais Mveis CECOR

    Laboratrio de Cincia da Conservao LACICOR

    Av. Antnio Carlos, 6627 Pampulha CEP: 31270-901 Belo Horizonte MG [email protected]

    PATROCNIO:

    Departamento de Museus e Centros Culturais DEMU/IPHAN

    PROJETO:Conservao preventiva: avaliao e diagnstico de coleesLuiz Antnio Cruz Souza, Wivian Diniz, Yacy-Ara Froner e Alessandra Rosado

    COORDENAO EDITORIAL:Luiz Antnio Cruz Souza, Yacy-Ara Froner e Alessandra Rosado

    Reviso:Ronald Polito

    Projeto Grfico:Ndia Perini Frizzera

    Ficha Catalogrfica:Maria Holanda da Silva Vaz de Mello

    G635e Gonalves, Willi de Barros, 1970

    Edifcios que abrigam colees / Willi B. Gonalves, Luiz Antnio Cruz Souza,Yacy-Ara Froner.Belo Horizonte: LACICOREBAUFMG, 2008.

    45p. : il. ; 30 cm.(Tpicos em conservao preventiva ; 6)

    Projeto: Conservao preventiva: avaliao e diagnstico de colees

    Programa de Cooperao Tcnica: Instituto do Patrimnio Histrico e ArtsticoNacional e Universidade Federal de Minas Gerais

    ISBN: 9788588587076

    1. EdicaesMateriaisConservao preventiva I. Souza, Luiz AntnioCruz, 1962II. Froner, Yacy-Ara, 1966- III.Ttulo IV. Titulo: Conservao preventiva:avaliao e diagnstico de colees V. Srie.

    CDD: 702.88

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    Willi de Barros Gonalves, Luiz Antnio Cruz Souza e Yacy-Ara Froner

    1. INTRODUO

    Este caderno aborda conceitos relativos ao uso de edifcios anti-

    gos e contemporneos como ambiente de guarda e exposio de

    colees.

    Na dcada de sessenta, com a Carta de Veneza(1964), a ateno

    dada ao patrimnio edicado procurou alertar sobre a problemtica

    do crescimento urbano descontrolado. As instituies nacionais e

    internacionais passaram a buscar solues para problemas espec-

    cos relativos preservao, ocupao, uso e visibilidade de edifcios

    histricos.

    Desse perodo em diante, as discusses sobre o patrimnio edicado

    passaram a contemplar conceitos referentes adequao ao lugar,

    particularmente o lugar urbano, envolvendo questes de uso, inser-

    o urbana e impactos scio-econmico-ambientais, mas igualmente

    abordando a sua dimenso simblica e de formao de uma identi-

    dade cultural local, reetindo desse modo as caractersticas culturais

    da sociedade. Encontramos as razes das discusses relacionadas

    revitalizao, restaurao e uso do patrimnio cultural arquitetnico

    na trade formulada por Vitrvio na Antigidade (I sc. a.C.): utilitas

    (funcional); rmitas(tecnolgico) e venustas(esttico-formal).

    No Brasil, alm da Carta de Veneza, outros documentos de referncia

    para as atividades que envolvem a preservao dos edifcios hist-

    ricos so: a Carta internacional sobre conservao e restaurao dos

    monumentos e lugares (1964), a Carta de Lisboa- Carta da reabilitao

    urbana integrada (1995), a Conveno de Paris- Conveno relativa

    proteo do patrimnio mundial, cultural e natural (1972), o Decreto-

    lei n. 25, de 30 de novembro de 1937, e o Decreto n. 1.494, de 17

    de maio de 1995. (VIUALES, 1990; CONFEA, 2007)

    Historicamente, podem-se localizar as razes da temtica da revita-

    lizao, restaurao e uso do patrimnio cultural arquitetnico na

    Edifcios que abrigam colees

    Tpicos em

    Conservao

    Preventiva-6

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    trade formulada por Vitrvio (I sc. a.C.): utilitas(funcional); rmitas

    (tecnolgico) e venustas (esttico-formal). Contemporaneamente, a

    problemtica da concepo, e, conseqentemente, da conservao

    dos edifcios est mais voltada para a soluo dos aspectos ambien-

    tais, de sustentabilidade, ciclo de vida e ecincia energtica, exigindo

    abordagens multi e transdisciplinares.

    A maioria das instituies que abrigam acervos etnogrcos, arque-

    olgicos, artsticos, histricos ou documentais situa-se em edifcios

    que originalmente cumpriam outra funo: palcios, palacetes, cma-

    ra e cadeia, e at mesmo escolas e hospitais. A apropriao desses

    espaos para se tornarem arquivos, bibliotecas ou museus pode ser

    explicada de vrias maneiras. Muitos edifcios antigos convertem-se

    naturalmente em marcos identicadores de um lugar, constituindo

    centralidades urbanas. Os edifcios pblicos ociais freqentementecumprem um papel de instrumentos ideolgicos de armao cultural,

    em diversos nveis, do local ao nacional e at mesmo mundial. Como

    exemplo, poderamos citar o conjunto arquitetnico da Pampulha, em

    Belo Horizonte, a Praa dos Trs Poderes, em Braslia, ou o Museu da

    Incodncia, em Ouro Preto..

    A implantao de um museu nesse tipo de edifcio implica, suposta-

    mente, numa economia de recursos. consenso que o uso e a ocu-

    pao so pr-requisitos para a preservao dos edifcios histricos,abrindo inclusive para a possibilidade da sustentabilidade quanto aos

    recursos necessrios a sua manuteno. Por outro lado, a adaptao

    de um edifcio para a tipologia Museu envolve uma problemtica com-

    plexa, particularmente quanto aos mltiplos aspectos envolvidos na

    conservao preventiva do acervo, podendo exigir grande soma de

    investimentos iniciais na reforma do edifcio para adequ-lo s exign-

    cias que as diversas atividades realizadas em um museu impem.

    Apesar dessas relaes engendradas desde o sculo dezenove, a partirda segunda metade do sculo vinte os movimentos de arte moderna

    passam a solicitar projetos arquitetnicos mais arrojados, visando a

    adequao de galerias, museus e centros artsticos s novas lingua-

    gens visuais. Do Museu de Arte de So Paulo (MASP) projetado por

    Lina Bo Bardi em 1958 ao projeto de 1992 do Museu Guggenheim

    situado na cidade basca de Bilbao, as instituies museais vinculadas

    s artes modernas e contemporneas demandam para sua construo

    questes de uso atreladas s propostas desenvolvidas: minimal art;

    site specic; land art; happening; performance; arte conceitual e novastecnologias impem um espao mais verstil, mutante e adaptvel ao

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    novo contexto; por sua vez, a prpria estetizao do edifcio o torna

    por si s um objeto artstico, tornando indispensvel a correspon-

    dncia entre o desenho do edifcio e a sua funo utilitria enquanto

    espao de exposio, investigao e guarda de acervos.

    Contemporaneamente, o eixo da questo tende a integrar-se ava-

    liao dos aspectos ambientais, de sustentabilidade, ciclo de vida

    e ecincia energtica dos edifcios, superando as metodologias de

    projeto puramente funcionais e utilitrias, num extremo, ou esteti-

    zantes e decorativas, no outro.

    Nesse contexto, na dcada de oitenta, a publicao de The Museum

    Environment (THOMSON, 1994) introduziu uma nova abordagem

    para a preservao: a conservao preventiva. Nesse modelo, a

    salvaguarda do acervo implica a considerao de um contexto

    mais complexo, exigindo a compreenso, na totalidade do edifcio,

    dos fatores de desempenho ambiental temperatura, umidade,

    iluminao, poluio e ataque biolgico bem como das condies

    fsicas do edifcio, includas a as questes relativas aos materiais e

    tcnicas de construo.

    Seja em um edifcio adaptado ou em uma construo nova, projetada

    especicamente para essa nalidade, as relaes de uso do Museu

    so denidas por diversos parmetros correlacionados: o entorno

    (caractersticas geogrcas e climticas); a estrutura material da

    edicao e suas condies; as caractersticas tipolgicas do acervo

    que abriga e suas relaes de uso (pesquisa, exposio e guarda).

    Mais contemporaneamente, a metodologia de projeto em conserva-

    o tem buscado atender tambm outras questes ligadas ao uso e

    operao do edifcio ao longo do seu ciclo de vida, como consumo de

    energia, gua e outros recursos naturais (combustveis, por exemplo)

    e seus impactos scio-econmico-ambientais na vizinhana, custos

    de manuteno e operao, reciclagem de materiais etc. Essa pro-

    blemtica complexa tem sido abordada atravs de estratgias de

    projeto multidisciplinares, no campo da engenharia simultnea e da

    gesto do processo de projeto, superando uma perspectiva linear

    de produo na arquitetura.

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    2. PLANEJAMENTO E PROJETO COMO INSTRUMENTOS PARA A CON-

    SERVAO PREVENTIVA

    2.1. Equipes multidisciplinares para a elaborao de

    projetos

    Os museus, arquivos e bibliotecas so edifcios complexos. O projeto

    de um edifcio novo ou a reforma, ampliao ou adaptao de um edi-

    fcio existente para uma dessas nalidades envolve uma grande gama

    de informaes e consideraes tcnicas, que vo desde o correto

    planejamento das atividades e funes que o edifcio dever cumprir,

    at a denio dos espaos e instalaes que essas atividades iro

    demandar, passando por inmeros detalhes envolvendo materiais,

    componentes, equipamentos e sistemas construtivos.

    Esse tipo de edifcio descrito na legislao como agrupamento deedicaes projetadas, construdas e ou ampliadas em uma mesma

    rea, obedecendo a um mesmo planejamento fsico integrado, ou seja,

    um edifcio para atividades especcas com utilizao de tecnologia

    complexa, sendo o resultado da organizao de espaos construdos

    (abertos ou fechados) em uma mesma rea fsica. (CREA-PR, 2007;

    CREA-MG, 2001).

    O planejamento de um museu e a elaborao de um projeto arquitet-

    nico para um edifcio complexo novo ou para uma reforma, ampliaoou adaptao de um edifcio ou grupo de edifcios complexos existentes

    um trabalho multidisciplinar. Ele pode demandar a colaborao de

    prossionais de muitas reas, como por exemplo:

    Arquitetos;

    Historiadores;

    Muselogos, curadores e marchands;

    Arquelogos;

    Conservadores e restauradores (oriundos de diversas reas, como

    a fsica, qumica ou belas-artes);

    Bibliotecrios e outros prossionais da rea da Cincia da Informa-

    o;

    Artistas plsticos;

    Fotgrafos;

    Designersgrcos e de mobilirio;

    Engenheiros:

    Civis;

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    Mecnicos;

    Eletricistas;

    Administradores de empresas e outros prossionais ligados ges-

    to;

    Publicitrios, prossionais de relaes pblicas e outros da rea de

    Comunicao.

    No Brasil, a Lei dene que o especialista que detm as atribuies

    prossionais para o planejamento e o projeto de edifcios complexos

    atravs da coordenao, superviso e sntese das contribuies de

    equipes multidisciplinares como as listadas acima o arquiteto, devido

    sua formao prossional transdisciplinar, no campo das Cincias

    Sociais Aplicadas, envolvendo contedos especcos das Cincias

    Humanas e das Cincias Exatas.

    A prosso do arquiteto em nosso pas scalizada pelo Conselho

    Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia CONFEA, o qual

    articula um sistema de Conselhos Regionais CREAs. A legislao, a

    esse respeito, composta de quatro documentos principais:

    O Decreto federal n. 23.569, de 11/12/1933, que regula o exerccio

    das prosses de engenheiro, arquiteto e agrimensor.

    A Lei n. 5.194, de 24/12/1966, que regula o exerccio das pros-

    ses de engenheiro, arquiteto e engenheiro agrnomo e d outrasprovidncias.

    A Resoluo CONFEA n. 218, de 29/06/1973, que discrimina as

    atividades das diferentes modalidades prossionais da engenharia,

    arquitetura e agronomia.

    A Resoluo CONFEA n. 1.010, de 22/08/2005, que dispe sobre

    a regulamentao da atribuio de ttulos prossionais, atividades,

    competncias e caracterizao do mbito de atuao dos prossio-

    nais inseridos ao Sistema Confea/Crea, para efeito de scalizao

    do exerccio prossional.

    Alm disso, conforme a legislao acima, so tambm atribuies

    profissionais exclusivas do arquitetoo planejamento e elaborao de

    projetos arquitetnicos e obrasrelativos ao patrimnio cultural edifi-

    cado, monumentos ou restaurao de obras artsticas monumentais,

    envolvendo restaurao, revitalizao, reabilitao, consolidao,

    estabilizao, e interveno em bens tombados ou de interesse para

    a preservao de intervenes em municpios e ou regies tombadas

    ou de interesse para a preservao.

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    Recentemente, o CONFEA publicou a Deciso Normativa n. 80, de

    25/05/2007 (CONFEA, 2007), dispondo sobre procedimentos para

    a scalizao do exerccio e das atividades prossionais referentes a

    patrimnio cultural, a elaborao de projeto e a execuo de servios

    e obras de conservao, reabilitao, reconstruo e restaurao em

    monumentos, stios de valor cultural e seu entorno ou ambincia, en-fatizando que tais atividades so atribuies profissionais exclusivas

    do arquiteto.

    Esse documento esclarece procedimentos de aplicao da legislao

    vigente, denindo com preciso termos como ambincia, bem cultu-

    ral, entorno, monumento, patrimnio cultural e stio de valor cultural.

    Dene, ainda, o signicado e abrangncia das aes envolvidas na

    atividade prossional do arquiteto no campo de patrimnio: conserva-

    o, manuteno, reparao, preservao, reabilitao, reconstruo,reforma ou restaurao.

    A legislao brasileira dene, portanto, que o arquiteto deve atuar

    como coordenador das equipes multidisciplinares, nas atividades de

    elaborao de projeto e execuo de servios e obras relativos ao

    patrimnio cultural edicado, monumentos ou restaurao de obras

    artsticas monumentais.

    Assim, o arquiteto o prossional responsvel pelos projetos arquite-

    tnicos de qualquer edicao museolgica, porm nem sempre atua

    como coordenador em projetos relacionados Conservao Preventiva

    de colees de museus, uma vez que para essa tipologia de projeto, a

    experincia e a qualicao especcas so determinantes. De qual-

    quer modo, para projetos especcos direcionados adaptao, ade-

    quao ou restaurao de edifcios, este o prossional indicado.

    2.2. Aspectos sobre preservao a serem considerados

    no processo de projeto dos edifcios que abrigamcolees

    O projeto de um museu, arquivo ou biblioteca envolve um grau de

    complexidade que exige a interao dos prossionais envolvidos

    visando elaborar solues tcnicas integradas para problemas que

    inter-relacionam diversos campos do conhecimento. Particularmente

    nos processos de projetos que envolvem adaptao, reabilitao,

    reconstruo, reforma ou restaurao, uma questo central a ser dis-

    cutida como o projeto altera ou preserva as caractersticas originaisda construo, com vistas a atingir aquelas solues.

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    Nesse sentido, as diretrizes gerais de preservao (RAMALHO LES-

    SA, 2004) a serem discutidas pela equipe multidisciplinar envolvem

    questes como:

    Preservao do uso histrico do edifcio ou sua adaptao a uma

    nova nalidade, considerando as conseqncias em termos de

    alteraes nas caractersticas fsicas do edifcio e de seu entorno

    ou ambincia;

    Sendo o edifcio onde ser feita a interveno um registro fsico de seu

    tempo e cultura, alterar suas caractersticas gera impactos em termos

    da perspectiva ou leitura histrica pela qual ele percebido;

    A remoo de materiais histricos, elementos arquitetnicos ou de

    caractersticas construtivas de edicaes antigas deve ser evitada,

    bem como a adio de elementos arquitetnicos emprestados deedifcios caractersticos de outras pocas;

    Elementos arquitetnicos degradados devem ser preferencialmente

    recuperados. Em casos extremos, o elemento novo deve ser o mais

    semelhante possvel em termos de projeto, material, textura, cor,

    acabamento e outros atributos fsicos. Elementos perdidos podem

    ser incorporados edicao, desde que inequivocamente identi-

    cados;

    Ampliaes, anexos ou alteraes externas no devem interferir coma personalidade histrica do monumento;

    Por outro lado, alguns dos procedimentos condenados acima po-

    dem ser necessrios para atender algumas funes ou atividades

    planejadas (por exemplo, se for necessrio vedar uma abertura

    de ventilao permanente ou impermeabilizar um piso ou parede

    originalmente permevel). Alm disso, o contraste de materiais ou

    tcnicas construtivas em certas situaes pode ressaltar os mate-

    riais e tcnicas originais. Como exemplo, podemos citar o projetode restaurao do Colgio do Caraa, em Santa BrbaraMG (Arq.

    Rodrigo Meniconi, 1990);

    Novas adies devem ser bem diferenciadas, mas compatveis em

    tamanho, escala e caractersticas arquitetnicas, de forma a respei-

    tar a integridade histrica da edicao;

    Tratamentos fsicos ou qumicos extremos, como jateamento de areia

    ou uso de cidos, podem causar danos irreparveis ao monumento,

    tanto pela ao direta quanto residual no longo prazo, bem como

    contribuir para criao de uma atmosfera agressiva, prejudicial

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    conservao das obras de arte, devendo, portanto, ser evitados;

    Os edifcios sofrem mudanas estticas e de uso ao longo do tempo

    e cabe discutir se esta nova signicao histrica que deve ser

    preservada;

    Na elaborao do projeto arquitetnico, a equipe coordenada peloarquiteto dever considerar:

    a misso institucional e as caractersticas do acervo que o edifcio

    ir abrigar;

    a localizao urbana e o impacto social da construo, bem como a

    segurana do entorno em relao s condies dos servios siste-

    mas de drenagem, alimentao eltrica, segurana e transporte;

    os referenciais culturais e estticos que agregam signicado ao

    projeto;

    a articulao e adequao interna dos espaos no atendimento ao

    Programa Arquitetnico de Necessidades1;

    a denio dos materiais de construo e do sistema construtivo

    em relao aos seus aspectos arquitetnicos, funcionais, estruturais

    e dos sistemas de suporte de automao e segurana do edifcio,

    eltrico, hidrulico, de comunicao (telefonia, internet, cabeamento

    estruturado etc.), de condicionamento de ar;

    o custo exponencial da obra.

    Do ponto de vista especco da Conservao Preventiva, a equipe

    multidisciplinar deve avaliar o edifcio adaptado em relao aos se-

    guintes aspectos:

    a relao do edifcio com o entorno, considerando os aspectos

    ambientais (particularmente os aspectos geogrcos e climticos),

    mas tambm os aspectos sociais e econmicos;

    uxograma de atividades e sua relao com o Programa Arquitetnico

    de Necessidades a ser implantado;

    1 Um Programa Arquitetnico de Necessidades constitudo por uma lista de espaos, comsuas respectivas funes e atividades, que devem ser atendidas pelo edifcio. Essa lista podeincluir detalhes relativos a pessoas, materiais, equipamentos e instalaes, bem como deniesrelativas s dimenses necessrias aos espaos. O programa de um museu composto resu-midamente de espaos para exposies, espaos de guarda do acervo, reservas e laboratriostcnicos e cientcos, rea administrativa e de servios gerais. Contemporaneamente, o museu

    tem adquirido outras funes que extrapolam a conservao, guarda e exposio do acervo,incorporando com freqncia elementos do Programa de Necessidades de outras tipologias,como as escolas, os centros culturais e os teatros.

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    Willi de Barros Gonalves, Luiz Antnio Cruz Souza e Yacy-Ara Froner

    o comportamento dos materiais e sistemas construtivos, conside-

    rando sua capacidade de interao com o ambiente externo, prin-

    cipalmente quanto ao desempenho trmico e luminoso;

    o comportamento dos materiais introduzidos em reformas ou restau-

    raes, considerando sua interao com os materiais originais e seu

    desempenho funcional, estrutural, trmico e luminoso, bem como

    sua apresentao esttica em relao aos componentes originais;

    estanquidade das vedaes e esquadrias em relao gua e ao

    vento;

    minimizao ou eliminao do risco de ataque por pragas e micro-

    organismos;

    aspectos relativos ao ciclo de vida e reciclagem dos materiais utili-

    zados na construo;

    ecincia energtica e sistemas de sustentabilidade do edifcio (re-

    aproveitamento e reutilizao de gua, aquecimento solar, eccia

    da iluminao articial e do sistema de ar-condicionado etc.).

    Por meio dessa avaliao, possvel traar um plano ou estratgia

    para solucionar problemas de ocupao de espao, composio ar-

    quitetnica do edifcio e adequao climtica visando conservao

    preventiva do acervo.

    O Projeto Arquitetnico constitui a sntesede um trabalho de planeja-

    mento, atravs da identicao e discusso de demandas e problemas

    especcos de cada atividade e da proposio de solues tcnicas.

    Essa discusso deve se estender tanto quanto necessrio, na fase de

    projeto, de maneira a garantir que no momento das obras de execuo

    e, posteriormente, durante o funcionamento dos ambientes e das

    atividades previstos, tudo ocorra conforme planejado.

    Esse procedimento metodolgico rigoroso que possibilitar a elabo-

    rao de um planejamento fsico-nanceiro dos custos da obra, bem

    como dos custos de manuteno e operao do edifcio, durante todo

    o seu ciclo de vida.

    Gehbauer (2002) apresenta um protcolo para auxiliar na elaborao

    do Programa de Necessidades a ser atendido pelo projeto do edifcio,

    abrangendo:

    A) Compreenso global visa denir, na fase inicial do projeto, o seu

    tipo e objetivos, bem como a situao da instituio ou empresa

    dona do empreendimento, os grupos de inuncia sobre o projeto

    e seus participantes;

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    B) Condicionantes, objetivos e meios disponveis atravs das deci-

    ses relativas a esse item, a equipe cheada pelo arquiteto poder

    decidir como usar da melhor forma os meios disponveis, dentro do

    quadro de condicionantes existentes, para que sejam atingidos os

    objetivos do projeto;

    C) Requisitos com relao ao anteprojeto dizem respeito s decises

    sobre os aspectos fsicos do edifcio.

    Em relao a consideraes sobre preservao na construo e refor-

    ma de bibliotecas, o Projeto Conservao Preventiva em Bibliotecas e

    Arquivos CPBA2disponibiliza, entre outras fontes de consulta, 53

    ttulos de literatura sobre preservao, traduzidos para o portugus,

    em segunda edio revisada (TRINKLEY, 2001; BECK, 1997).

    2.3. O estado da arte da engenharia simultnea e da

    gesto do processo de projeto aplicada ao projeto de

    edifcios que abrigam colees

    As metodologias de abordagem dos problemas complexos pertinentes

    indstria da construo civil no Brasil tm sido objeto de pesquisa

    de vrias instituies do pas. O estado da arte da pesquisa tem se

    concentrado nos campos da gesto do processo de projetoe da cha-

    mada engenharia simultnea.

    Tendo em vista a coordenao e o aprimoramento dos projetos e a

    otimizao global dos empreendimentos, a pesquisa tem tomado

    como referenciais o conceito e a metodologia de desenvolvimento de

    produtos da Engenharia Simultnea na indstria seriada, analisan-

    do as possibilidades e as adaptaes necessrias para a utilizao

    desta metodologia no setor de construo de edifcios. (FABRCIO e

    MELHADO, 1998)

    A Associao Nacional de Tecnologia no Ambiente ConstrudoANTAC3

    hoje a agremiao acadmica que centraliza o esforo de promoode integrao, intercmbio e difuso de conhecimentos entre as v-

    rias instituies vinculadas produo de pesquisa, ao fomento e

    utilizao de tecnologias na indstria da construo civil brasileira.

    A ANTAC possui, dentre os seus grupos de trabalho, um GT de Gesto

    e Economia da Construo4que promove a cooperao dos prossio-

    nais interessados nessa rea. O primeiro workshopdo grupo ocorreu

    2 www.cpba.net (acessado em 13/11/2007).3 www.antac.org.br (acessado em 13/11/2007).

    4 http://silviobm.pcc.usp.br/ GT-ANTAC.htm (acessado em 13/11/2007).

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    Willi de Barros Gonalves, Luiz Antnio Cruz Souza e Yacy-Ara Froner

    em 1994 e, desde ento, foram organizados vrios eventos nacionais

    relevantes. O principal encontro do grupo ocorre no Simpsio Brasileiro

    de Gesto e Economia da Construo SIBRAGEC.

    O ltimo encontro

    III SIBRAGEC (2003) aconteceu em So Carlos(SP), sob a coordenao da Universidade Federal de So Carlos

    UFSCar, em conjunto com a Escola Politcnica da USP, a Escola de

    Engenharia de So Carlos USP e a Universidade de Campinas. Tam-

    bm entre as atividades desenvolvidas pelo GT, est a promoo do

    Workshop Brasileiro de Gesto do Processo de Projeto na Construo

    de Edifcios, com o objetivo de fomentar a discusso cientco-aplicada

    entre as linhas de pesquisa relacionadas Gesto do Processo de

    Projeto de Edifcios e s experincias desenvolvidas no mercado.

    Essa iniciativa deu origem a uma Rede Brasileira de Pesquisa e Ino-

    vao em Gesto do Processo de Projeto de Edifcios, em cuja home

    pagepodem ser acessadas as informaes dos workshopsrealizados

    pelo grupo desde 2001. Dentre a produo acadmica dos pesquisa-

    dores do grupo, podemos destacar o trabalho dos professores. Slvio

    Melhado6, da Poli-USP, e Mrcio Fabrcio7, da EESC-USP (MELHADO,

    2005; FABRCIO, 2002).

    Ghebauer (2002) apresenta interessantes resultados prticos de

    uma experincia de cooperao tcnica entre Brasil e Alemanha nocampo do planejamento e gesto de obras. O livro contm captulos

    sobre estudo de viabilidade do empreendimento, coordenao de

    projetos, organizao de canteiros de obra, fases da obra (da fun-

    dao aos acabamentos de fachadas e coberturas), planejamento

    da obra, oramento, softwaresde controle para construo civil e

    sistemas de gesto da qualidade nas empresas.

    Quanto a esse ltimo aspecto, as empresas brasileiras de constru-

    o civil tm cada vez mais buscado a certicao de qualidade em

    seus processos e produtos, motivadas por ampliar seus mercados,

    atender a exigncia dos clientes, cumprir exigncias contratuais

    e de licitaes. Com esse intuito, as empresas tm utilizado as

    normas da famlia NBR ISO 9000 (ABNT, 2001) para apoiar a im-

    plementao e operao ecazes de seus sistemas de gesto da

    qualidade. Tambm existem outros modelos especcos de gesto

    da qualidade utilizados no mercado da construo civil brasileira,

    5 http://www.eesc.usp.br/sap/projetar/ (acessado em 13/11/2007).6 http://www.pcc.usp.br/ silviobm/Default.htm (acessado em 13/11/2007).

    7 http://www.eesc.usp.br/sap/docentes/fabricio/Fabricio.htm (acessado em 13/11/2007).

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    Tpicos em Conservao Preventiva-6 Edifcios que abrigam colees

    como o QUALIHAB Programa de Qualidade na Habitao Popular

    e o PBQP-H Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade na

    Construo Habitacional.

    Sperling (2002) analisa como o uso de novas tecnologias de informa-

    o no processo de projeto-produo do espao construdo possibilita

    e requer reexes quanto ao emprego corrente de ferramentas com-

    putadorizadas em arquitetura, ainda mais face ao que j se apresenta

    em termos de engenharia simultnea em campos historicamente mais

    avanados como a engenharia mecnica. A utilizao de sistemas de

    CAD/CAM/CAE, a engenharia reversa e a realizao de prottipos,

    processos utilizados na concepo das inovaes formais do Museu

    Guggenhein, de Bilbao, demonstram uma mudana de paradigma

    no uso das ferramentas de projeto e desenho por computador em

    arquitetura.

    O prximo item discute os aspectos relativos importncia da lingua-

    gem do desenho arquitetnico para a preservao de edifcios que

    abrigam colees e ao tema da representao arquitetnica, que re-

    presenta um campo importante de pesquisa acadmica na arquitetura

    contempornea devido s transformaes impostas pela evoluo dos

    recursos computacionais utilizados pelos arquitetos.

    2.4. A importncia da linguagem do desenhoarquitetnico para a preservao de edifcios que

    abrigam colees estado da arte da pesquisa em

    representao arquitetnica

    As possibilidades da representao arquitetnicatm evoludo em pas-

    so com os recursos de computao grca utilizados pelos arquitetos.

    A discusso envolve, fundamentalmente, problemas de comunicao.

    O desenho arquitetnico, que em determinadas etapas do processo

    se traduz em um desenho tcnico, , na verdade, um recurso de lin-

    guagem, para expresso, registro e transmisso das idias e solues

    geradas no processo de planejamento e projeto.

    Nesse mbito, a questo abrange aspectos de padronizao e ade-

    quaorelativos ao cdigo de representao(por exemplo, quanto ao

    signicado dos smbolos utilizados nos desenhos), ao lxicoutilizado

    (por exemplo quanto s diferenas de nomenclatura para a denomi-

    nao de um mesmo elemento arquitetnico) e tambm em relao

    recepo e decodificao da mensagem por parte de receptor(por

    exemplo, quanto ao nvel de conhecimento necessrio por parte de

    um conservador para ler um projeto arquitetnico).

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    Willi de Barros Gonalves, Luiz Antnio Cruz Souza e Yacy-Ara Froner

    Tratada por alguns autores em obras mais bsicas (LEGGITT, 2004;

    SILVA, 1984), a questo do desenho arquitetnico como linguagem

    constitui um importante tema de pesquisa no campo da arquitetura e

    urbanismo, aparecendo inclusive como tema central de disciplinas em

    cursos de ps-graduao na rea, como o da FAU-USP (MONZEGLIO,

    2007) ou o da UFRJ, que abriga uma linha de pesquisa intitulada Gr-ca Digital, Representao e Urbanismo, inclusive com produo aca-

    dmica voltada para a rea de Patrimnio (PARAIZO, 2004, 2003).

    A discusso nesse campo perpassa a metodologia de ensino das diver-

    sas modalidades de representao arquitetnica atravs de maquetes

    fsicas e dos diversos tipos de desenho, bem como o impacto, sobre

    as metodologias de projeto arqutetnico, de novas tecnologias como

    a disponibilizao, em larga escala, de programas amigveis para

    confeco de maquetes eletrnicas e de equipamentos de realidade

    virtual.

    O frum latino-americano de discusso do tema abrigado pela So-

    ciedade Ibero-americana de Grca Digital SIGRADI , que rene os

    arquitetos, designers, comunicadores e artistas vinculados aos novos

    meios e constitui a congnere de organizaes similares na Europa

    (ECAADE), Amrica do Norte (ACADIA) e sia/Oceania (CAADRIA). A

    SIGRADI realiza um congresso anual, no qual debatido o estado da

    arte no desenvolvimento e aplicaes da computao grca, com a

    participao dos mais importantes especialistas internacionais. Os

    congressos tm sido realizados desde o ano de 1997, ano em que

    a SIGRADI8 foi fundada. O congresso SIGRADI 2005 teve como tema

    viso e visualizao e contou com sesses tcnicas sobre patrimnio

    histrico digital (PARAIZO, 2005).

    2.5. Noes bsicas para leitura de desenhos

    arquitetnicos

    O desenho arquitetnico , em um sentido estrito, uma especializao

    do desenho tcnico normatizado voltada execuo e a representao

    de projetos de arquitetura. Em uma perspectiva mais ampla, porm,

    o desenho de arquitetura poderia ser encarado como todo o conjunto

    de registros grcos produzidos por arquitetos ou outros prossionais

    durante ou no o processo de projeto arquitetnico. O desenho de

    arquitetura, portanto, manifesta-se como um cdigo para uma lin-

    guagem, estabelecida entre o emissor (o desenhista ou projetista) e o

    8 www.sigradi.org.br

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    Tpicos em Conservao Preventiva-6 Edifcios que abrigam colees

    9 http://pt.wikipedia.org/wiki/Desenho_arquitet

    receptor (o leitor do projeto). Desta forma, seu entendimento envolve

    um certo nvel de treinamento, seja por parte do desenhista ou do

    leitor do desenho9.

    Os prossionais envolvidos com o projeto, operao e manuteno

    de museus, arquivos e bibliotecas devem ter o conhecimento bsico

    necessrio para a leitura de projetos arquitetnicos. A bibliograa espe-

    cializada contm muitos livros bsicos sobre o assunto. Recomendam-

    se os livros de Montenegro (2001) e Ching (2000) como referncias

    de introduo para os leigos. Como introduo leitura de projetos

    eltricos indica-se a apostila do SENAI (1996).

    Objetivamente, a representao grca do desenho arquitetnico cor-

    responde a um conjunto de normas internacionais (sob a superviso

    da ISO). No Brasil, as normas so editadas pela Associao Brasileira

    de Normas Tcnicas (ABNT), sendo as principais as duas primeiras

    da lista abaixo, que inclui as normas de desenho dos projetos eltrico

    e hidrulico:

    Cdigo danorma NBR Ttulo da Norma

    6492 Representao de projetos de arquitetura (ABNT, 1994)

    10067 Princpios gerais de representao em desenho tcnico (ABNT,1995)

    5410 Instalaes eltricas de baixa tenso

    5444 Smbolos grcos para instalaes eltricas prediais

    5473 Instalaes eltricas prediais

    5626 Instalaes prediais de gua fria

    7198 Projeto e execuo de instalaes prediais de gua quente

    7808 Smbolos grcos para projetos de estruturas

    8160 Instalaes prediais de esgoto sanitrio

    8196 Emprego de escalas em desenho tcnico

    8402 Execuo de caracter para escrita em desenho tcnico

    8403 Aplicao de linhas em desenhos tipos de linhas largurasdas linhas: procedimento

    10647 Desenho tcnico: terminologia

    10844 Instalaes prediais de guas pluviais

    10897 Proteo contra incndio por chuveiro automtico

    12298 Representao de rea de corte por meio de hachuras em desenhotcnico

    14100 Proteo contra incndio Smbolos grcos para projeto

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    Willi de Barros Gonalves, Luiz Antnio Cruz Souza e Yacy-Ara Froner

    O desenho arquitetnico consiste na representao geomtrica de

    diferentes projees, vistas, ou sees (cortes) do edifcio, em planos

    horizontais ou verticais. Esse conjunto de projees resume-se a plan-

    tas, cortes, elevaes, detalhes.

    Os desenhos tcnicos dos projetos complementares eltrico, hidruli-

    co, estrutural etc. tambm se utilizam dessas projees, empregando

    porm smbolos grcos diferenciados, determinados em norma tc-

    nica, que representam os componentes das respectivas instalaes

    eltricas, hidrulicas, preveno e combate a incndio, proteo contra

    descargas eltricas etc.

    Uma planta uma seo que se obtm passando um plano horizontal

    paralelo ao piso, numa altura tal que esse plano corte janelas, portas,

    paredes etc. A Fig. 1 mostra o conceito do desenho de uma planta:

    O desenho tcnico da planta contm ainda as cotas, que so as medi-

    das da espessura das paredes e das dimenses dos ambientes. So

    tambm identicados os nomes dos ambientes, e o nvelde cada um,

    que se refere altura do piso do ambienteem relao a um nvel dereferncia. Geralmente, os ambientes em um mesmo andar tm um

    mesmo nvel, a menos que haja diferenas na altura de seus pisos.

    De maneira semelhante planta, um corteou seoresulta da passa-

    gem de um plano vertical atravs do edifcio em estudo, indicando-se

    na planta de qual lado do plano feita a representao da projeo

    vista. Os cortes tm a funo de esclarecer e enfatizar detalhes que

    podem car confusos nas plantas devido superposio de projees,

    relativos a diversos elementos importantes na construo como as

    escadas e coberturas. Nos cortes cotado o p-direitodos ambientes,

    que corresponde sua altura, medida entre o piso e o forro.

    Figura 1

    Planta baixa

    de um museu

    com esquema

    de circulao

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    Tpicos em Conservao Preventiva-6 Edifcios que abrigam colees

    A evoluo dos recursos de apresentao do projeto arquitetnico, atra-

    vs de maquetes fsicas ou eletrnicasou de desenhos em perspectiva,

    facilita a compreenso de edifcios com volumetrias s vezes muito

    complexas por parte de pessoas com diculdade de viso espacial.

    Esses recursos so muito teis na fase de projeto porque permitem a

    percepo de problemas relacionados com a forma arquitetnica, que

    s vezes passam despercebidos quando se utiliza somente o desenho

    arquitetnico em plantas e cortes.

    Os atuais recursos computacionais de simulao de desempenho

    ambientaldos edifcios, em relao, por exemplo, iluminao ouventilao naturais, exigem como um dado de entrada uma maquete

    eletrnica tridimensional do ambiente a ser simulado, associando-se

    s envoltrias desse modelo feito em computador as propriedades

    trmicas ou ticas dos materiais de construo.

    Todos os desenhos de projees em planta e corte so desenhados

    em escala. Escala um valor medido no papel que guarda uma rela-

    o de proporo com o tamanho real em verdadeira grandeza dos

    elementos desenhados. Uma escala de 1:1 (um para um), signicaque o desenho foi feito em tamanho natural (cada centmetro no papel

    equivale a um centmetro do prprio objeto). Quando nos referimos

    a uma escala de 1:100 (um para cem), estamos informando que o

    objeto desenhado foi representado com uma reduo de 100 vezes

    ao seu tamanho real; desse modo, 1cm no desenho equivale a 1m no

    tamanho real do edifcio. O instrumento de desenho que se utiliza para

    medir diferentes escalas chamado de escalmetro. Ele tem a forma

    de um prisma triangular, e cada uma de suas trs faces tem duas es-

    calas distintas, normalmente escalas 1:20; 1:25; 1:50; 1:75; 1:100; e1:125. possvel, por meio da utilizao de mltiplos ou submltiplos

    Figura 2 Museu

    da Incondncia

    Ouro Preto MG

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    Willi de Barros Gonalves, Luiz Antnio Cruz Souza e Yacy-Ara Froner

    dessas seis escalas, extrair um grande nmero de outras escalas. Cada

    unidade marcada nas escalas do escalmetrocorresponde sempre a

    um metro no tamanho real. A norma de desenho arquitetnico obriga

    que, ao lado de cada desenho, seja sempre informada a escala, para

    possibilitar a sua leitura.

    3. MATERIAIS, SISTEMAS E TCNICAS CONSTRUTIVOS

    PATOLOGIAS E RISCOS PARA A CONSERVAO PREVENTIVA

    3.1. Arquitetura vernacular x Arquitetura

    contempornea

    Os materiais de construo podem assumir papis e comportamen-

    tos diferentes, dependendo do sistema ou tcnica construtiva em

    que so empregados, podendo assumir funo estrutural ou apenasde vedao ou revestimento nas construes. Conforme o seu uso,

    e as condies ambientais a que so submetidos, podem variar

    as patologias que iro apresentar ao longo do seu ciclo de vida,

    acarretando diferentes conseqncias no mbito da conservao

    preventiva. O conhecimento dos materiais e tcnicas construtivas

    fundamental para a realizao de adaptaes adequadas de edif-

    cios antigos, bem como construes coerentes em relao funo

    dos edifcios novos erigidos com o intuito de abrigar colees.

    Nessa rea, constituem referncias bibliogrcas os trabalhos de

    VILLALBA (1995) e PETRIGANI (1979); e no tocante ao patrimnio

    arquitetnico do nosso perodo colonial, VASCONCELLOS (1979).

    Uma viso panormica das inter-relaes entre as patologias

    construtivas e o desempenho ambiental dos edifcios pode ser en-

    contrada em GONZLES (1997), PARICIO (1997) e ALLEN (2000).

    A extensa gama de tcnicas e sistemas construtivos utilizados nos

    edifcios que constituem o patrimnio edicado pode ser, grosso

    modo, subdividida em dois grupos: os sistemas e tcnicas tradicionais

    ou vernacularese os sistemas e tcnicas contemporneos.

    Figura 3 Escalmetro

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    Tpicos em Conservao Preventiva-6 Edifcios que abrigam colees

    O patrimnio construdo tradicional ou vernacular representa, funda-

    mentalmente, a expresso cultural de comunidades mais ligadas ao

    stio onde se localizam e que ao longo do tempo conseguiram preservar

    suas tradies, apesar de inuncias culturais externas. Ele constitui

    o modo natural com que tais comunidades produziram seu prprio

    habitatao longo do tempo. Faz parte de um processo contnuo, emque as mudanas scio-ambientais necessrias so paulatinamente

    incorporadas tradio construtiva. Essa arquitetura vernacular est

    intimamente relacionada com um tipo de arquitetura que hoje deno-

    minamos bioclimtica ou sustentvel, por otimizar as relaes entre

    o edifcio e o meio externo, proporcionando conforto aos usurios,

    minimizando o consumo de energia e recursos naturais.

    A permanncia das tcnicas e sistemas construtivos vernaculares

    tem sido cada vez mais ameaada por processos de homogeneizaocultural e arquitetnica. A proteo dessas culturas e, por conseguin-

    te, dos fatos materiais e imateriais produzidos por elas, enfatiza a

    necessidade de aes diversas de Preservao, num sentido amplo.

    A preservao desse patrimnio, incentivada pela educao e por pro-

    gramas multidisciplinares conjuntos, objetiva manter vivas as tcnicas

    construtivas tradicionais, resistindo massicao globalizante dos

    mtodos e at mesmo das formas construtivas.

    Ao se reconhecer a importncia de um vocabulrio tecnolgico prpriode certas comunidades, rearma-se a competncia e a capacidade

    dessa comunidade de encontrar seus caminhos, a partir do conceito

    de sustentabilidade. Por meio da arquitetura tradicional possvel

    apreender a histria tcnica, dos smbolos e viso de mundo prprios

    de determinada cultura, bem como o seu estilo de interao com o

    meio ambiente.

    A partir da segunda metade do sculo XIX, ocorrem mudanas signi-

    cativas nos processos de construo, impulsionadas pela Revoluo

    Industrial. Aparecem novos materiais de construo produzidos em

    srie: inicialmente, o ferro e o vidro; posteriormente, o cimento, que

    viria inaugurar uma nova era tecnolgica sob a gide do concreto

    armado. As engenharias civil, mecnica e eltrica garantem clculos

    mais precisos. No bojo das transformaes, d-se uma alterao

    nos conceitos bsicos da Arquitetura: em um processo de cultura

    de massas, ocorre a perda da identidade dos edifcios gerada pela

    padronizao, necessidade de reduo de custos e otimizao na

    ocupao dos espaos. A produo em escala tambm gera uma vidatil limitada, alm de uma dependncia energtica e tecnolgica cada

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    Willi de Barros Gonalves, Luiz Antnio Cruz Souza e Yacy-Ara Froner

    vez maior. Como conseqncia, no raro que a manuteno dos

    edifcios novos, construdos no decorrer do sculo XX, seja mais cara

    e constante. Some-se a essas consideraes o alto custo energtico

    e ambiental envolvido na produo dos materiais, decorrente da pro-

    duo de resduos e da padronizao nos modelos construtivos, que

    desconhece a diversidade criativa do artesanal.

    Nesse contexto, projetos complementares de instalaes eltricas,

    hidrulicas, sanitrias, telefnicas, preveno e combate a incndio,

    sistema de proteo a descargas atmosfricas (spda), sonorizao,

    segurana agregam ao custo da edicao um montante que, no

    raramente, multiplica o valor inicial da construo.

    Villalba (1995), ao estudar a histria da evoluo das tcnicas e

    sistemas construtivos, sistematiza suas observaes, considerando

    inicialmente, em cada perodo analisado, questes relativas ao cenrio

    sociocultural de cada poca, para, em seguida, organizar o estudo em

    torno dos materiais e tcnicas agrupados em termos de estrutura, pa-

    redes de vedao constitudas por elementos aglomerantes e blocos

    ou aglomerados, bem como os acabamentos, sistema de cobertura

    e vos, pisos e fundaes. De maneira similar, Vasconcellos (1979)

    organiza seu estudo, tratando de estruturas, vedaes, pisos, forros,

    vos, coberturas e escadas.

    A identicao e o conhecimento dos materiais que compem os

    elementos de uma edicao auxiliam na compreenso das caracte-

    rsticas de um prdio em relao ao seu comportamento estrutural e

    sua qualidade ambiental.

    3.2. Fundaes

    Na arquitetura vernacular brasileira, os alicerces so feitos em alve-

    naria de pedra argamassada com barro, aparecendo em alguns raros

    exemplos a argamassa de cal. A alvenaria praticamente a mesmadas paredes de pedra que aoram do cho, diferenciando-se por

    empregar pedras maiores, bem assentadas e caladas com pedras

    menores. A altura e espessura varivel em funo da carga a su-

    portar. Vasconcellos (1979) ressalta ainda sua evoluo ao longo do

    tempo, tornando-se mais rasos.

    comum o uso de alicerces ensoleirados, com vistas minimizao

    da umidade ascendente do terreno. Sendo que os esteios, elemen-

    tos estruturais, se assentam sobre essa soleira, no penetrando nos

    alicerces.

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    Tpicos em Conservao Preventiva-6 Edifcios que abrigam colees

    No caso de pavimentos elevados do solo, so encontrados embasamen-

    tos de alvenaria, cantaria ou ensilharia10. Podem acontecer tambm

    falsos alicerces, apenas de vedao do espao entre o baldrame11 e

    o alicerce, nas edicaes com estrutura autnoma.

    Patologias e riscos: As patologias construtivas ligadas s fundaes

    podem decorrer de recalques, inltrao de umidade e eventualmente

    infestaes de pragas e crescimento de microorganismos. Os recal-

    ques acontecem por movimentaes do terreno sob a fundao, seja

    por uma acomodao natural ou um fator externo, como, por exemplo,

    eroso, contraes e dilataes por variaes de temperatura; ventos;

    vibraes; impactos; variaes estticas de cargas; aes dinmicas

    por abalos ssmicos etc. O recalque da fundao pode resultar em

    danos estrutura e s vedaes do edifcio. As falhas se manifes-

    tam geralmente pelo aparecimento de ssuras, perdas estruturais

    e desprendimentos. Dentre essas manifestaes, as ssuras so

    as mais importantes, ainda que no sejam as mais graves, pois so

    Figura 4 Alicerce enso-

    leirado, assentamento de

    esteios. Fonte: VASCON-

    CELLOS, 1979.

    Figura 5 Casa de

    cmara e cadeia Ouro Preto (MG).

    Ensilharia na base da

    edicao.

    10 A alvenaria constituda por pedras aglomeradas por uma argamassa. Na cantaria, as pedras

    maiores so caladas por pedras menores e a ensilharia composta por blocos de pedra cortadosregularmente e encaixados.

    11 Baldrame - pea horizontal de madeira que sustenta a parede, apoiando-se nos esteios.

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    Willi de Barros Gonalves, Luiz Antnio Cruz Souza e Yacy-Ara Froner

    sintomas de alteraes relacionadas distribuio de carga (peso)

    citadas acima, ou podem tambm ser causadas por movimentos de

    contrao e dilatao ocasionados por utuaes de umidade.

    importante diferenciar ssuras ativas das estveis, pois no primeiro

    caso as falhas estruturais podem resultar em danos mais srios, como

    desmoronamento. Desse modo, indispensvel identicar a causa deseu aparecimento. Sua preveno est relacionada com a garantia de

    estabilidade do terreno onde se localiza a edicao e com a minimi-

    zao das variaes de umidade na estrutura do edifcio.

    3.3. Paredes estruturais

    As paredes estruturais compem os elementos portantes fundamentais

    nas tipologias construtivas tradicionais; sustentam as cargas verticais

    da edicao e ocasionalmente as horizontais; realizam a funo de

    limite exterior e diviso dos cmodos no interior. Os materiais utilizados

    so os mais diversos, incluindo terra crua em variaes distintas; pedra

    em estado natural ou desbastada; barro cozido em forma de tijolos,

    ladrilhos; madeira e vegetao local.

    3.3.1. Taipa de pilo

    Paredes de taipa de pilo empregadas na arquitetura vernacular, com

    espessura entre 40 e 80cm, so construdas com formas paralelas,

    entre as quais se compacta a terra por camadas. Empregadas ainda

    hoje em diversos tipos de edicaes pela sua simplicidade e baixo

    custo, revelam-se bastante resistentes (desde que bem isoladas),

    atingindo facilmente esta condio em climas quentes e secos com

    baixos ndices de chuva. Tradicionalmente so isoladas com cal, em

    aplicaes repetidas com regularidade, podendo ainda ser revestidas

    com pedras.

    O barro empregado deve ser escolhido e a proporo de mistura de

    terra, areia e argila determina o grau de aglutinao, minimizando

    a desintegrao por rachaduras e fendas. Por esse motivo, aparece

    misturado com o barro o estrume de curral, as bras vegetais ou a

    Figura 6 Paredes

    de terra taipa,

    adobe, taipa de

    mo (pau-a-pique)

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    crina animal. H tambm a tradio de juntar sangue de boi como

    aglutinante.

    Em construes especiais, como nas cadeias pode ocorrer o reforo

    interno com tbuas de madeira transversais. Numa outra modalidade,

    conhecida como formigo, o barro misturado com pedregulhos,

    feio de um concreto.

    Patologias e riscos: so relacionados sua deteriorao por ero-

    so chuva e vento. No primeiro caso, a umidade que atravessa as

    paredes por capilaridade poder causar uma elevao da umidade

    relativa no interior do ambiente e eorescncias resultantes da car-

    reao de material solvel para a superfcie da parede. No caso do

    vento, a desagregao pode ser um fator gerador de particulados no

    interior do ambiente, os quais, em contato com a umidade ou agentes

    poluentes no ar, so agentes potencialmente danosos aos objetos

    de arte expostos. No recomendvel alterar as caractersticas ori-

    ginais, correndo-se o risco da desagregao das argamassas ou dos

    materiais, bem como da alterao das propriedades de troca com o

    meio, gerando uma maior concentrao de umidade interna, e no

    sua eliminao.

    3.3.2. Adobe

    So peas em forma de prisma, empregadas na arquitetura vernacular,

    geralmente com o comprimento duas vezes maior que a altura para

    facilitar o encaixe. So construdas por meio de moldes nos quais se

    compacta a terra previamente amassada; depois de secos ao sol, os

    tijolos so dispostos e unidos tambm por barro. Pode ser adicionada

    bra vegetal para melhorar suas propriedades. A evoluo das pa -

    redes de adobe resultou no desenvolvimento dos tijolos queimados

    das olarias.

    Patologias e riscos:como as demais construes base de terra, pos-

    suem como caracterstica propriedades capilares que resultam em umcomportamento inadequado diante de solos ou climas midos.

    3.3.3. Alvenaria de pedra

    No princpio do perodo colonial brasileiro, foram utilizadas para essa

    nalidade as pedras importadas de Portugal, trazidas como lastro nos

    navios. Os ornamentos externos dos edifcios eram preferencialmente

    feitos em pedra, devido trabalhabilidade aliada durabilidade. A

    tcnica de aplicao varivel segundo a argamassa com que so

    assentadas, podendo adotar os padres da pedra-seca, da pedra-e-

    barro e do canjicado.

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    Willi de Barros Gonalves, Luiz Antnio Cruz Souza e Yacy-Ara Froner

    Figura 7 Edi-

    cao feita em

    tcnica de pedra-

    seca

    Figura 8 - Edi-cao feita em

    tcnica de pedra-

    e-barro

    Figura 9 -

    Canjicado

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    Patologias e riscos:Risco de ssurao, associado aos recalques,

    conforme descrito para as paredes de taipa de pilo.

    3.3.4. Coroamento das paredes

    Na arquitetura vernacular brasileira, as paredes so geralmente co-

    roadas pela cobertura em beiradas sacadas. Existem tambm coroa-

    mentos monumentais, compreendendo frontes ou platibandas, cujas

    empenas assumem formato triangular, rampantes ou caprichosas. So

    arrematadas com molduras, cimalhas ou tambm com telhas coloca-

    das transversalmente. As platibandas possuem ornamentos diversos,

    ou se apresentam vazadas, com balastres de pedra, geralmente

    divididos em painis que seguem o ritmo dos pilares na fachada.

    3.3.5. Cunhais

    Os cunhais acabamento inferior dos esteios variam conforme o

    sistema construtivo. Quando a estrutura de madeira, os esteios ao-

    rados constituem os cunhais. s vezes so revestidos com tbuas lisas

    ou de rebaixo, com moldura, dando-lhes maior ressalto em referncia

    ao plano das paredes. Quando de pedra, podem ser de alvenaria e

    massa ou de cantaria, porm sempre realados, feio de pilastras.

    H casos na arquitetura vernacular brasileira de esteios imitando

    pilastras, com revestimento de estuque ou de massa.

    Figura 10 Coroa-

    mentos. Fonte: VAS-

    CONCELLOS (1979)

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    Willi de Barros Gonalves, Luiz Antnio Cruz Souza e Yacy-Ara Froner

    3.3.6. Cimento

    O cimento pode ser denido como um p no, com propriedades aglo-

    merantes, aglutinantes ou ligantes, que endurece sob a ao de gua.

    Na forma de concreto, torna-se uma pedra articial, que pode ganhar

    formas e volumes, de acordo com as necessidades de cada obra. Os

    vrios tipos de cimento so indicados para compor argamassas e

    concretos de acordo com as necessidades de cada caso. Alm disso,

    possvel modicar suas caractersticas aumentando ou diminuindo

    a quantidade de gua, cimento e demais componentes agregados

    (areia, pedra britada, cascalho etc.). possvel usar ainda aditivos

    qumicos, a m de reduzir certas inuncias ou aumentar o efeito de

    outras, quando desejado ou necessrio. Os diferentes tipos de cimentos

    normalizados so designados pela sigla e pela classe de resistncia.

    A sigla corresponde ao prexo CP acrescido de algarismos romanos I

    a V, sendo as classes de resistncias indicadas pelos nmeros 25, 32

    e 40. Estas apontam os valores mnimos de resistncia compresso

    (expressos em megapascal MPa), garantidos pelos fabricantes, aps

    28 dias de cura: quanto maior o valor, maior a resistncia.

    3.3.7. Concreto armado

    O concreto um dos materiais mais difundidos nas construes con-

    temporneas; a mistura de materiais inertes como areia e pedras

    de distintas granulometrias, cimento portland e gua, a qual cria a

    amlgama e a reao qumica necessria ao seu endurecimento.

    Quando reforado por barras de ferro, o concreto denominado

    concreto armado. A dosagem dos componentes do concreto e da arga-

    massa conhecida tambm por trao. Portanto, importante encontrar

    a dosagem ideal a partir do tipo de cimento e de agregados escolhidos

    para estabelecer uma composio que d o melhor resultado com o

    menor custo. No basta ter o trao e a dosagem ideais; a etapa de

    execuo fundamental para a obteno de um bom concreto e de

    uma boa argamassa.

    Patologias e riscos: Se os processos de adensamento e cura forem mal

    executados, acabam surgindo patologias, tais como baixa resistncia,

    trincas e ssuras, corroso das armaduras, entre outras. O bom adensa-

    mento obtido por vibrao adequada. J para obter uma cura correta

    importante manter as argamassas e os concretos midos aps a

    pega, molhando-os com uma mangueira ou com um regador, ou ento

    cobrindo-os com sacos molhados (de aniagem ou do prprio cimento),

    de modo a impedir a evaporao da gua por ao do vento e do calor

    Figura 11 cunhais. Fonte:

    VASCONCELLOS (1979)

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    do sol, durante um perodo mnimo de sete dias, ou ainda adotando-se

    o uso de agentes qumicos de cura. A partir da alterao nos modelos

    construtivos do sc. XX, o concreto tornou-se o segundo material mais

    consumido pela humanidade, superado apenas pela gua.

    Esses materiais tm, como caracterstica, baixa porosidade e alta

    condutividade trmica o oposto dos materiais tradicionais. Tais pro-

    priedades implicam em determinados comportamentos em relao ao

    meio ambiente: a baixa porosidade dene uma incapacidade de troca

    de vapor dgua e a condutividade trmica promove um acmulo do

    calor pela incidncia solar que irradia no ambiente interno. Assim, em

    ambos os casos h uma demanda de sistemas mecnicos complexos

    (ar-condicionado) ou simples (desumidicadores, umidicadores,

    exaustores) que ajustem a umidade relativa e a temperatura interna.

    A arquitetura moderna acreditou por muito tempo que estes materiais

    possuam vida-til ilimitada. Os problemas estruturais e a desagrega-

    o de suportes como nas construes de Braslia demonstram

    que no h coerncia nessa proposio.

    3.4. Paredes de vedao

    3.4.1. Pau-a-pique

    Tipo de vedao que consiste em paus colocados perpendicularmen-

    te entre os baldrames e frechais12, neles xados por meio de furos

    ou pregos. Esses paus so freqentemente rolios, inclusive com a

    casca, com um dimetro de 10 a 15cm. A terra amassada aplicada

    sobre uma trama de bambus, caibros ou galhos de madeira exveis,

    cumprindo a funo de revestimento.

    3.4.2. Revestimento das vedaes

    Na arquitetura vernacular, as paredes so em geral revestidas comuma argamassa de barro, qual, por vezes, se adiciona cal e areia.

    A cal, inicialmente importada, depois passou a ser obtida da queima

    de conchas. Para essa nalidade foi tambm utilizada a madeira e

    azulejos.

    3.4.3. Produtos cermicos

    Materiais contemporneos que consistem em peas confeccionadas

    em formato de tijolos, blocos, placas, painis e ladrilhos para a exe-

    12 Frechal: pea de madeira paralela ao baldrame, no coroamento da parede.

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    cuo de paredes estruturais ou revestimentos de pisos e paredes.

    Devido ao processo industrial, tornam-se muito compactos e pouco

    porosos; porm, as cermicas so mais exveis, higroscpicas, poro-

    sas e menos pesadas do que o concreto.

    3.4.4. Materiais metlicos

    As construes contemporneas utilizam os perlados de ao para uso

    estrutural e chapas de diversos metais como zinco, alumnio, cobre

    e ao inoxidvel para ns de revestimento e/ou vedao de paredes

    e coberturas.

    No tocante estrutura, h dois tipos principais de pers: os lami-

    nados a quente (maior capacidade estrutural) e os laminados a frio

    (resistncia maior e custo reduzido). Para cada um desses tipos de

    pers de ao h uma ampla gama de formas e dimenses adaptadass mais diversas necessidades estruturais. Os pers de ao tm uma

    capacidade estrutural alta: so capazes de suportar cargas pesadas

    com um mnimo de material.

    Patologias e riscos: As principais desvantagens desse tipo de material

    so: corroso por oxidao e umidade; perda da capacidade estrutural

    nos incndios; uma vez que o coeciente de dilatao baixo, esta

    propriedade pode gerar incompatibilidade em relao movimenta-

    o de outros materiais nos pontos de vnculo, como juntas de unio,ocasionando ssuras; alto custo energtico para sua produo e pa-

    dronizao formal dos elementos. Outro aspecto a ser considerado

    sua alta condutividade trmica, permitindo a entrada de calor durante

    o dia e a perda trmica noite.

    3.4.5. Plsticos

    Existe uma gama de produtos e aplicaes de materiais plsticos

    e sintticos para a construo contempornea, incluindo pinturas,resinas, impermeabilizantes, divisrias, forros e armaes, onde a

    variedade de textura, resistncia mecnica e cor garantem a diversi-

    dade de sua aplicao.

    Patologias e riscos: produtos plsticos so: impermeveis; quimica-

    mente estveis (no caso de polietileno e polipropileno, pois polies-

    tirenos so degradados pela ao da luz); altamente combustveis,

    dependendo ainda de tratamentos qumicos que reduzem este po-

    tencial. Considerando sua capacidade impermevel, so amplamenteutilizados como forro, pois bloqueiam de maneira ecaz inltraes. Em

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    relao condutividade trmica, dependem da carga e de elementos

    qumicos agregados em sua fabricao.

    3.4.6. Vidros

    Os vidros so materiais usados na arquitetura desde o perodo medie-

    val. Contudo, a tecnologia e a capacidade tica de transmisso de luz

    tornaram o vidro um dos elementos mais empregados nas edicaes

    contemporneas, principalmente aps a consolidao do Estilo Inter-

    nacional (modernismo). As vanguardas arquitetnicas adotaram como

    materiais as esquadrias de vidro, o concreto e os perlados metlicos.

    Existem no mercado diversos tipos de vidros com comportamentos

    termo-luminosos diferenciados.

    Patologias e riscos: No caso dos vidros, agrega-se sua transmissi-bilidade luz, a falta de porosidade e a alta condutividade trmica.

    Esta relao porosidade-condutividade implica a promoo de um

    interior quente, com baixa troca de vapor mido com o exterior, o que

    transforma caixas de vidro em espaos inadequados, uma vez que se

    associa a esse material a passagem da irradiao ultravioleta, quando

    no h barreira ou ltro de proteo. Como na maioria dos materiais

    modernos, h um alto consumo energtico para sua produo. O vidro

    comum, que possui um fator solar13de 86%, provoca o chamado efeito

    estufa: As radiaes ultra-violeta, visvel e infra-vermelho prximo pas-

    sam pelo vidro comum, so absorvidas pelos materiais e superfcies do

    ambiente e reemitidas sob a forma de infra-vermelho de onda longa,

    para o qual o vidro comum opaco. Essa radiao trmica vai sendo

    trocada entre as superfcies do ambiente, que por sua vez transmitem

    o calor para o ar por conveco.

    3.5. Pisos

    Os pisos so muito variados na arquitetura tradicional brasileira, apa-

    recendo desde os de terra socada at o parqu de madeira. O piso de

    terra batida executado por compactao, s vezes com adio de

    terra e gua, e depois apiloado. Foram tambm utilizados ladrilhos

    de barro, de pequena durabilidade. O assoalho em tabuado corrido

    foi empregado com grande variedade de encaixes, com as tbuas

    pregadas nos barrotes, assentados em cima dos baldrames.

    13 O fator solar uma porcentagem que expressa a quantidade total de radiao solar queatravessa o vidro, em relao radiao incidente.

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    Willi de Barros Gonalves, Luiz Antnio Cruz Souza e Yacy-Ara Froner

    Outra modalidade de piso utilizada na arquitetura tradicional no Brasil

    foi o de seixos rolados, formando mosaicos, xados por apiloamento.

    E tambm a chamada calada portuguesa ou p-de-moleque.

    3.6. Forros

    Assim como os pisos, os forros vernaculares brasileiros tambm apre-

    sentam grande variedade quanto forma e ao material de acabamento

    utilizado. Os mais simples so de esteira. Os forros de gamela so

    compostos por 5 painis, 4 painis trapezoidais inclinados, corres-

    pondendo s laterais do cmodo, e sendo fechados no alto por um

    painel horizontal retangular ou quadrangular.

    Patologias e riscos: Os maiores problemas dos entablamentos ou das

    estruturas feitas em madeira sua degradao por ataque biolgico e

    sua desagregao por umidade. Como material altamente combustvel,so suscetveis a incndios.

    Figura 12 piso de

    seixos rolados. Fon-

    te: VASCONCELLOS

    (1979)

    Figura 13 forro

    Nossa Senhora da

    Conceio da Praia

    Salvador BA

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    3.7. Coberturas

    Na arquitetura vernacular brasileira, as coberturas mais simples so

    denominadas de meia-gua, podendo apresentar dois, trs, quatro ou

    mais panos de telhado, caso em que aparecem as tacanias.

    As coberturas apresentam salincias, denominadas beiradas, beiral

    ou sancas. Sua funo proteger as paredes da gua da chuva,

    sendo que a largura do beiral proporcional altura da parede a ser

    protegida. As beiradas podem ser:

    De madeira, com estrutura aparente em cachorrada quando so

    chamadas de beirais;

    Perladas, quando so chamadas cimalhas, de diversos tipos: ma-

    deira, alvenaria e massa, cantaria ou estuque.

    A concordncia entre a inclinao do telhado e a beirada obtida com

    a aplicao de uma pea chamada contrafeito, que se apia no teroinferior do caibro e no tero externo da beirada.

    3.8. Patologias construtivas relacionadas com a

    umidade

    3.8.1. Capilaridade

    A capilaridade o fenmeno conhecido como a ascenso da gua por

    meio de vasos capilares, frestas, ssuras e vos dos componentes

    construtivos das paredes. A umidade por capilaridade se produz geral-

    mente em nveis baixos da edicao como pores, salas localizadas

    em declives, prximas aos muros de arrimo e demais desnveis que

    Figura 15 - Contra-

    feitos e cimalhas.

    Fonte: VASCON-

    CELLOS (1979)

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    colocam a construo em contato direto com o solo.

    A presena de lenol fretico no solo, a presena de reas de des-

    cargas (esgotos, canos, ladres, boca-de-lobo), mau escoamento de

    guas pluviais, a existncia de fontes de gua articiais ou naturais

    e a vegetao abundante na vizinhana (razes) podem gerar um

    ambiente mido no entorno, que tende a penetrar no interior da edi-

    cao atravs dos materiais construtivos. A altura que pode chegar a

    gua na parede depende do equilbrio de trs fatores: suco capilar,

    gravidade e evaporao.

    As caractersticas da umidade por suco capilar so:

    ocorrem nos nveis mais baixos da edicao;

    presena de manchas de umidade escuras em pontos distintos da

    parede;

    algumas vezes ocorre o estufamento da argamassa ou da tinta, oca-

    sionando bolhas e desprendimento; eorescncias esbranquiadas

    causadas pela formao de cristais salinos carregados das camadas

    internas para a superfcie externa da parede; limo ou mofo em con-

    dies extremas devido proliferao de microorganismos.

    H diversos tratamentos contra esse tipo de umidade. Identicada

    a fonte, prossionais qualicados devem ser acionados para a pro-

    posio de alteraes estruturais na edicao. Ao contrrio do que

    se imagina, no recomendado selar ou impermeabilizar a parede,

    mas empregar materiais permeveis que facilitem a evaporao e

    disperso da umidade.

    Para prdios novos, h de se cuidar para que o processo de cura e

    disperso da gua utilizada na modelagem do cimento, concreto, ar-

    gamassa e pintura j tenham ocorrido. Entre a nalizao da obra e

    a ocupao do espao, o intervalo mnimo de um ms. Por sua vez,

    recomenda-se planejar o nal da obra e a ocupao do prdio para

    perodos de estiagem.

    3.8.2.Condensao

    A umidade por condensao ocorre em climas onde existe uma di-

    ferena acentuada entre a temperatura do exterior e a do interior.

    Quando a ventilao de um local em uso deciente e no promove

    a troca de ar contido no interior, a umidade relativa chega prxima a

    valores de saturao; alm disso, muros possuem materiais que tm

    pouco isolamento e alta condutividade trmica, tendem a esfriar-se

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    (interna e externamente) e, quando o ar toma contato com a superf-

    cie fria, condensa a gua em forma de orvalho. As gotas de gua so

    absorvidas pelo muro ou se acumulam na superfcie.

    As caractersticas principais da umidade produzida por condensao

    so: no permanente e aparece em determinadas horas do dia ou

    em certas ocasies climticas (chuva e frio); se manifesta na superfcie

    e similar em toda a altura (distinta da capilaridade).

    3.8.3. Inltrao

    Esta uma das causas mais comuns de umidade e advm de nume-

    rosas origens, todas relacionadas a erros de projetos, execuo da

    obra, falta de manuteno, reformas e usos indevidos.

    A chuva uma das principais causas de inltrao; penetra atravsdos telhados e muros, aproveitando-se de qualquer salincia, ruptu-

    ra, fresta, buraco, deslocamento de telhas e tijolos, e muitas vezes

    manifesta-se em zonas distantes do ponto causal da inltrao. A gua

    da chuva pode entrar por cima, a partir de problemas estruturais da

    construo, ou penetrar por capilaridade devido a sua concentrao

    em desnveis do solo no entorno do edifcio.

    A inltrao pode ser proveniente de instalaes defeituosas, como

    calhas, esgotos e canos; de problemas na execuo do desenho do

    sistema hidrulico e tambm da falta de manuteno e sobrecarga em

    seu uso. Rupturas, ssuras e buracos nos canos; m localizao de

    calhas e sistemas de esgoto so as causas mais comuns. Nos telha-

    dos as principais causas de inltrao so: a decincia das tramas

    dos caibros e vigamentos; a m colocao das telhas; a existncia de

    telhas quebradas ou deslocadas; forros permeveis e suscetveis a

    inltraes; forros impermeveis que dispersam as inltraes pelas

    paredes; altura inadequada do declive em relao ao tamanho do

    edifcio.

    Localizar a causa primordial para que seja possvel executar o re-

    paro. H de se observar que normalmente problemas de inltraes

    so identicados em perodos de chuvas e que os reparos s podem

    ser feitos durante a estiagem; ao localizar os pontos de goteiras, man-

    chas e degradao do edifcio, mapeando os pontos crticos, torna-se

    possvel encontrar as causas e efetivamente sanar os problemas de

    inltrao.

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    Willi de Barros Gonalves, Luiz Antnio Cruz Souza e Yacy-Ara Froner

    4. O EDIFCIO COMO UM FILTRO CLIMTICO

    4.1. Caracterizao climtica

    A existncia de diferentes climas determinada por meio da ao de

    diversos fatores, os quais, combinados, promovem resultados distintos.

    Esses fatores podem inuenciar o clima desde uma escala globalataescala local. Entre osfatores globaispodemos citar:

    a incidncia de radiao solar em funo da latitude:quanto menor

    a latitude do local, mais altas as mdias de temperatura, devido

    maior incidncia de radiao solar;

    a proporo entre as massas de gua e terra:quanto maior a dis-

    tncia de massas de gua ou vegetao, maior a amplitude trmica

    diria e anual; O hemisfrio sul tem uma proporo oceanos/conti-

    nente maior que o hemisfrio norte.

    os ventos, que juntamente com as correntes martimas tendem a

    equilibrar o aquecimento diferencial das zonas da Terra, congurando

    regies de baixa presso atmosfrica que se deslocam ao longo do

    ano entre os trpicos, efeito que se soma ao da rotao do planeta,

    produzindo correntes de ar globais;

    a altitudeest relacionada com as temperaturas mdias, observan-

    do-se um decrscimo dessas temperaturas medida que a altitude

    aumenta.

    Dentre os fatores que inuenciam as condies climticas numa escala

    intermediria, temos:

    a topograa, que pode canalizar ou barrar as correntes de vento,

    modicando o seu teor de umidade e, portanto, interferindo no regi-

    me de precipitaes. Alm disso, a declividade e orientao cardeal

    das vertentes do relevo determina horrios de incidncia de sol e

    sombra em seu entorno;

    a superfcie do solo, que em funo de sua permeabilidade deter-

    mina a percolao ou o escoamento supercial das guas pluviais

    e, em funo do tipo de ocupao, determina o albedo, propriedade

    fsica relacionada com a absoro/reexo da radiao solar;

    e, por m, a vegetaoatua como uma massa de gua, regulando

    o teor de umidade do ar e moderando as variaes climticas, que

    so mais extremas na sua ausncia. A cobertura vegetal absorve

    parte da radiao solar, utilizando-a para a fotossntese, e reduzindo

    os ganhos trmicos.

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    Willi de Barros Gonalves, Luiz Antnio Cruz Souza e Yacy-Ara Froner

    Os fatores climticos que podem ser controlados no interior do edifcio

    atravs da aplicao correta das estratgias so: a temperatura e

    umidade do ar, as condies de iluminao e as condies de quali-

    dade do ar.

    4.2. Temperatura e umidade do ar

    Umidade e temperatura so parmetros que devem sempre ser avalia-

    dos conjuntamente, pois, alm de denirem as condies climticas,

    seu comportamento determina as condies favorveis ou no dos

    ambientes em que esto instalados os acervos.

    A umidade do ar dependente de caractersticas climticas locais,

    como o regime de pluviosidade e a proximidade com massas de gua

    ou vegetao.

    Para a avaliao das condies ambientais de temperatura e umidade,

    vrios equipamentos podem ser empregados: higrmetros, termo-

    higrmetros, termohigrgrafos e, recentemente, data loggers.Esses

    equipamentos s tm utilidade se houver manuteno e calibragem

    peridica (a calibragem ocorre com o uso do psicmetro), alm da co-

    leta e anlise dos dados, pois no tm outra funo a no ser efetuar

    a medio climtica. Uma medio irregular ou no analisada no

    cumpre o papel de compreender o desempenho do ambiente interno;por sua vez, o desempenho do ambiente interno deve ser avaliado

    tambm em relao ao ambiente externo. Por meio da anlise dos

    dados, os gestores das colees podem:

    identicar reas de risco;

    propor ocupao ou remanejamento do espao a partir das neces-

    sidades dos acervos;

    identicar e sanar problemas estruturais, de reforma ou construo,nos ambientes da edicao;

    denir estratgias de controle relacionadas abertura e fechamento

    de vos;

    denir estratgias de controle a partir do uso de equipamentos me-

    cnicos simples ou complexos ou do uso de material tampo.

    Nesse contexto, para a avaliao do ambiente de uma instituio

    recomenda-se a coleta regular (diria) de dados no espao integral de

    um ano; a partir desta coleta importante avaliar o comportamento

    do ambiente interno em relao ao ambiente externo por meio de

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    Tpicos em Conservao Preventiva-6 Edifcios que abrigam colees

    uma carta psicromtrica. Nessa carta esto traadas as equaes

    que regulam os processos de trocas trmicas com o ar mido, e a

    plotagem sobre ela dos dados coletados permite analisar os recursos

    de climatizao necessrios.

    Sempre que medidas de controle forem denidas, importante voltar a

    analisar os dados e gerar relatrios que avaliem o impacto das medidas

    tomadas, bem como a necessidade de ajustes. O controle peridico

    uma ferramenta segura para a vericao de possveis irregularidades

    na edicao, nos equipamentos de controle climtico ou nas altera-

    es climtico-ambientais provocadas pela ao do homem.

    O modelo para o gerenciamento climatolgico parte do seguinte

    plano:

    a) denio da equipe responsvel pela calibrao, manuteno e

    superviso dos equipamentos, bem como levantamento e anlise

    dos dados dirios, semanais, mensais, anuais;

    b) coleta manual dos dados e sua transposio para programas

    estatsticos sob a forma de grcos e tabelas (como Excell) ou

    estabelecimento de uma rede informatizada de coleta por meio de

    data logger;

    c) elaborao de um estudo comparativo entre ambientes; da edica-

    o como um todo e do ambiente interno da edicao em relao

    ao entorno a partir das medidas de temperatura e umidade mxi-

    mas, mnimas e mdias; vericao das utuaes e identicao

    das caractersticas sazonais.

    A partir desse diagnstico possvel qualicar o ambiente em relao

    ao seu desempenho e propor ajustes para sua utilizao.

    Outra ao primordial nesse processo o estudo das fontes gera-

    doras de umidade ou que determinam a temperatura do ambiente.

    Para umidade, as possveis fontes de intensicao podem ser: por

    capilaridade, por condensao ou por inltrao.

    Figura 16 Ventilao cruzada e por efeito chamin (exausto)

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    Willi de Barros Gonalves, Luiz Antnio Cruz Souza e Yacy-Ara Froner

    Ventilao e insolao so condicionantes que podem alterar as re-

    laes de umidade no ambiente. Por essa razo, importante saber

    a direo do vento dominante no local do projeto, pois ela vai deter-

    minar a dinmica de circulao do ar no interior do edifcio. O uso de

    sistemas de ar-condicionado deve sempre ser pensado em relao

    ao custo energtico, manuteno e s reais condies da estruturaconstrutiva do prdio.

    Tanto nas tcnicas tradicionais de construo quanto nas construes

    modernas, a disposio das portas e janelas determina a ventilao

    natural do ambiente. Janelas e portas atuam de maneira integrada nos

    processos de circulao do ar, favorecendo a disperso da umidade

    interna ou a entrada da umidade externa.

    Uma vez que o comportamento trmico e de troca mida normal-

    mente eciente, os estudos de abertura e fechamento de portas so,

    eventualmente, mais adequados do que a instalao de sistemas de

    condicionamento de ar complexos ou o uso de isolantes, como manta

    asfltica e resinas impermeveis. Um plano de manuteno peridica

    e ocupao inteligente do espao a chave para o uso com qualidade

    dessa tipologia de edicao.

    4.3. Condies de insolao e desempenho luminoso

    do edifcio

    Um dos elementos que tem importncia decisiva nas condies clim-

    ticas interiores dos edifcios est relacionado s aberturas por onde

    entra a luz, como portas, janelas, clarabias etc. A disposio dos vos

    e aberturas nos ambientes construdos no se restringem funo

    de acesso e viso do exterior, mas garantem questes importantes

    de circulao, iluminao e ventilao, fundamentais denio das

    caractersticas ambientais internas e interao da edicao com

    o ambiente externo.

    A quantidade de luz que chega aos ambientes dentro do edifcio depen-de de uma srie de fatores, dentre os quais um dos mais importantes

    so as condies de insolao. Alm dessas condies, a iluminncia

    interna depende tambm das condies do cu, principalmente a

    nebulosidade, bem como de diversos fatores relativos ao ambiente,

    como cores das superfcies, e o tamanho, tipo e posio das aberturas

    de iluminao.

    Para a anlise das condies de insolao de um determinado edifcio

    necessrio saber sua orientao, determinada pela direo do norte

    geogrco (norte solar).Cabe enfatizar que o norte solar diferente

    do norte indicado por uma bssola (norte magntico). A diferena,

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    varivel em funo da posio geogrca, chamada de declinao

    magnticae pode ser calculada tendo em mos as coordenadas de

    latitude e longitude do local14. Com essas informaes, possvel

    analisar as condies de implantao do edifcio em relao ao mo-

    vimento aparente do sol, varivel ao longo do ano.

    O movimento aparente do sol em um determinado local pode ser re-

    presentado atravs de uma carta solar.A superposio desse grco

    ao desenho arquitetnico permite avaliar as posies do sol ao longo

    do ano, determinando os horrios de insolao de cada fachada, bem

    como a ecincia de dispositivos de proteo solar das aberturas,

    minimizando o consumo energtico do sistema de ar-condicionado

    (caso exista) e otimizando o aproveitamento da luz natural.

    Concluso

    Em qualquer projeto de Conservao Preventiva, indispensvel o

    conhecimento da edicao para elaboraes de propostas. Do posi-

    cionamento de mobilirio aos protocolos de manuteno; da denio

    dos suportes de acondicionamento escolha do sistema de controle

    ambiental, tudo demanda o conhecimento exaustivo do prdio e do

    seu entorno, bem como das caractersticas das colees instaladas.

    Assim, a exeqibilidade, economia e ecincia de um projeto nessa

    rea dependem de uma equipe multidisciplinar que possa discutir e

    compartilhar problemas e solues no que tange ao uso do edifcio,

    a segurana dos acervos e planos diretores.

    14 http://www.ngdc.noaa.gov/seg/geomag/mageld.shtml

    Figura 17 Diferentes condies de

    implantao para um mesmo edif-

    cio, que resultam em desempenhos

    trmicos diferentes, em funo dos

    materiais previstos em cada fachada

    e sua exposio radiao solar

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    Willi de Barros Gonalves, Luiz Antnio Cruz Souza e Yacy-Ara Froner

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