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5 EDITORIAL Durante o período compreendido entre os anos de 1955 e 1975 o Brasil consolidou uma etapa de transformação social jamais vista na história da humanidade. Em apenas 20 anos a sociedade brasileira se transformou, passando do modelo típico de sociedade rural alicerçado em bases agrárias, para o modelo de sociedade urbana, sedimentada em bases industriais. O resultado mais impactante desse famigerado fenômeno social denominado “o milagre brasileiro”, foi sem qualquer sombra de dúvidas o crescimento desordenado das cidades, sobretudo das metrópoles brasileiras. Impulsionados pelo boom de oportunidades propiciado pelos setores metalúrgicos, siderúrgicos, da construção civil, dentre outros, milhares de pessoas se deslocaram do campo para as cidades em busca de melhores condições vida. Ocorre que nesse período o governo das cidades não estava devidamente estruturado para receber essa massa gigantesca de população retirante: De um lado não havia o adequado ajustamento dos serviços essenciais às novas demandas e expectativas da população recém chegada; do outro, a ausência de um planejamento urbano objetivo e consistente, minimamente responsável, favoreceu o início de um processo de ocupação desordenada do solo urbano e, ao mesmo tempo, engendrou dinâmicas econômicas informais. As sucessivas administrações públicas negligenciaram essa realidade composta por dois mundos distintos que compartilhavam o mesmo espaço geográfico. Sob a égide cultural do modelo brasileiro de sociedade hierárquica e relacional, a dinâmica das políticas públicas de natureza assistencial e clientelista ajudou a reproduzir constantes práticas governamentais eleitoreiras, casuisticamente elaboradas, calcadas em uma série de conjuntos de omissões e permissividades por parte do próprio Poder Público. Eis o cenário da cidade partida retratada pelo escritor Zuenir Ventura: O “asfalto” e a favela, dois espaços geográficos distintos, porém inseridos num mesmo contexto geopolítico. Ambos convivendo numa incomum simbiose social, paradoxalmente forjada ao longo dos anos pela desigualdade social que caracteriza a ausência do Poder Público dos conglomerados urbanos e pelo preconceito discriminatório cuja expressão maior pode ser destacada pelas diferentes formas de violência contra o cidadão, praticada pelo próprio Estado. Por muito tempo, esse quadro de aparente anomia diante dos princípios civilizatórios, propiciou a utilização do espaço territorial das favelas e do próprio ambiente sócio-cultural instalado para favorecer a prática criminosa.

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EDITORIAL

Durante o período compreendido entre os anos de 1955 e 1975 o Brasil consolidou

uma etapa de transformação social jamais vista na história da humanidade. Em apenas 20 anos

a sociedade brasileira se transformou, passando do modelo típico de sociedade rural alicerçado

em bases agrárias, para o modelo de sociedade urbana, sedimentada em bases industriais.

O resultado mais impactante desse famigerado fenômeno social denominado “o

milagre brasileiro”, foi sem qualquer sombra de dúvidas o crescimento desordenado das

cidades, sobretudo das metrópoles brasileiras. Impulsionados pelo boom de oportunidades

propiciado pelos setores metalúrgicos, siderúrgicos, da construção civil, dentre outros, milhares

de pessoas se deslocaram do campo para as cidades em busca de melhores condições vida.

Ocorre que nesse período o governo das cidades não estava devidamente estruturado

para receber essa massa gigantesca de população retirante: De um lado não havia o adequado

ajustamento dos serviços essenciais às novas demandas e expectativas da população recém

chegada; do outro, a ausência de um planejamento urbano objetivo e consistente, minimamente

responsável, favoreceu o início de um processo de ocupação desordenada do solo urbano e, ao

mesmo tempo, engendrou dinâmicas econômicas informais. As sucessivas administrações

públicas negligenciaram essa realidade composta por dois mundos distintos que

compartilhavam o mesmo espaço geográfico.

Sob a égide cultural do modelo brasileiro de sociedade hierárquica e relacional, a

dinâmica das políticas públicas de natureza assistencial e clientelista ajudou a reproduzir

constantes práticas governamentais eleitoreiras, casuisticamente elaboradas, calcadas em uma

série de conjuntos de omissões e permissividades por parte do próprio Poder Público. Eis o

cenário da cidade partida retratada pelo escritor Zuenir Ventura: O “asfalto” e a favela, dois

espaços geográficos distintos, porém inseridos num mesmo contexto geopolítico.

Ambos convivendo numa incomum simbiose social, paradoxalmente forjada ao longo

dos anos pela desigualdade social que caracteriza a ausência do Poder Público dos

conglomerados urbanos e pelo preconceito discriminatório cuja expressão maior pode ser

destacada pelas diferentes formas de violência contra o cidadão, praticada pelo próprio Estado.

Por muito tempo, esse quadro de aparente anomia diante dos princípios civilizatórios, propiciou

a utilização do espaço territorial das favelas e do próprio ambiente sócio-cultural instalado para

favorecer a prática criminosa.

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De certa forma, a ausência regular e democrática do Poder Público nesses espaços

urbanos, aliada a prática da opressão por parte do aparelho repressivo do Estado, viabilizou o

domínio territorial armado por parte de diferentes grupos marginais, antagônicos entre si,

movidos por um sentimento de pertencimento e poder, interessados na obtenção de ganhos

fáceis através da venda de drogas ilícitas. Em certo momento, esses grupos meliantes de

quadrilhas organizadas tomaram para si o monopólio da violência e impuseram à população

local regras de convivência social arbitrárias em clara violação aos preceitos constitucionais

que regem o estado de direito brasileiro.

O casamento perverso entre drogas e armas, sobretudo a partir da década de 80,

agravou o cenário de crime e desordem pública, trazendo sérios problemas para a segurança

pública dos cidadãos, além da perda de vidas humanas, investimentos econômicos e da falta de

perspectivas de desenvolvimento social.

No âmbito do cenário das novas ameaças que insurgiram com maior intensidade no

despertar do 3º milênio é consenso internacional que a fórmula para o desenvolvimento social

ética e responsavelmente sustentável passa necessariamente pela consolidação de ambientes

socialmente seguros em todas as suas dimensões.

A expectativa gerada pela agenda internacional por ocasião dos grandes eventos

desportivos que ocorrerão na cidade do Rio de Janeiro (Copa de 2014 e Olimpíadas de 2016)

impõe às autoridades governamentais e ao povo brasileiro o desafio de oferecer à comunidade

mundial espetáculos de qualidade com segurança. Nesse sentido, o conjunto das condições de

infra-estrutura urbana, dos serviços em geral e, principalmente, da segurança pública são

indicadores de primeira magnitude que devem ser reconhecidos e valorizados como vetores

expoentes do bom planejamento e organização.

A concepção das Unidades de Polícia Pacificadora, política pública levada a cabo

pela administração da pasta de segurança pública do atual governo do Estado do Rio de Janeiro,

representa um importante passo em direção ao resgate de territórios, anteriormente sob domínio

armado de grupos criminosos, e à construção de uma cultura de paz voltada para o

desenvolvimento econômico e social. A pacificação, integral, integrada e integradora, também

representa o reconhecimento e a determinação da autoridade política governamental em não

considerar a questão da violência e do crime nos conglomerados urbanos, como sendo um

problema meramente da alçada policial e exclusivamente de responsabilidade estadual.

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Pela primeira vez na recente história do crime violento no Estado do Rio de Janeiro,

observa-se um primordial alinhamento estratégico das três instâncias federativas e dos três

poderes legalmente constituídos, além da integração das ações nas diversas áreas de governo.

Que essa nova atitude, característica básica e intrínseca de uma verdadeira política de Estado

possa frutificar e diluir as disputas internas partidárias. Que seja muito mais do que o mero

prenúncio de uma simples postura visto que a segurança pública exige, particularmente, a

superação suprapartidária de todos os desafios em prol de uma segurança pública democrática

de direito.

A 2ª Revista Científica da Escola Superior de Polícia Militar é uma edição temática

que reúne algumas reflexões preliminares, produzidas no ano de 2010 pelos oficiais-alunos

deste estabelecimento de ensino, na forma de artigos científicos, sobre o trabalho que vem

sendo desenvolvido nas Unidades de Polícia Pacificadora.

Trata-se de um compêndio de práticas, reflexões e saberes policiais militares que

foram adquiridos através dos conhecimentos e das experiências profissionais acumuladas ao

longo da carreira policial, do trabalho de pesquisa de campo e de outras técnicas de

investigação científica.

Esperamos uma boa leitura e que as informações, as idéias, os conceitos e outros

elementos de interesse científico contidos nas páginas seguintes possam de alguma maneira

suscitar novas reflexões e debates sobre a segurança pública no Brasil e também subsidiar a

elaboração de novos trabalhos acadêmicos de interesse institucional e social.

Antonio Carlos Carballo Blanco – Coronel de Polícia

Diretor de Ensino da Escola Superior de Polícia Militar

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CICLO DE ESTUDOS DE CASO DAS UNIDADES DE POLÍCIA PACIFICADORA

APRESENTAÇÃO

As Unidades de Polícia Pacificadora – UPPs – representam uma nova esperança para a

redução da criminalidade nas comunidades em áreas reprimidas pelo tráfico de drogas.

Sedimentado em experiências adquiridas com o trabalho dos Grupamentos de Policiamento em

Áreas Especiais – GPAEs – implementados na região metropolitana do Rio de Janeiro desde o

ano 2000, as UPPs tem apresentado excelentes resultados perante a opinião pública.

A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, sob a coordenação da Secretaria de

Estado de Segurança – SESEG – inaugurou sua primeira UPP na comunidade do Santa Marta

no final do ano de 2008. Apresentando-se como modalidade preventiva de segurança, busca-se

com as UPPs a inserção do policiamento comunitário e a aproximação da ação policial, bem

como o gerenciamento de outros serviços públicos em áreas marcadas por altos índices de

criminalidade e pela ação de grupos criminosos ligados ao comércio ilegal de armas e drogas.

A metodologia para instauração de uma UPP se dá inicialmente com um criterioso

planejamento estratégico realizado pela SESEG, onde são avaliados diversos componentes de

interesse da segurança pública do Estado. Definida a área a ser abrangida pelo serviço, ocorre a

ação policial repressiva de “tomada” do terreno pelas tropas do Batalhão de Operações

Especiais (BOPE). Cessados os riscos de confrontos, sucede a ocupação com efetivo

criteriosamente preparado, acompanhada da chegada de serviços públicos fundamentais, como

instalação de redes de esgoto, melhoria no sistema de iluminação pública, extensão dos serviços

de assistência social, reforço escolar etc.

O ciclo de estudo de caso das Unidades de Polícia Pacificadora promovido pela Escola

Superior de Polícia tem como objetivo diagnosticar o impacto da implantação das Unidades de

Polícia Pacificadoras do Santa Marta, Cidade de Deus, Jardim Batan, Babilônia/Chapéu-

Mangueira, Pavão-Pavãozinho/Cantagalo, Tabajara/Cabritos e Providência, em suas respectivas

comunidades. O trabalho de pesquisa foi realizado pelos alunos do Curso Superior de Polícia

Integrado (CSPI/2010) e Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais (CAO-I/2010) e tiveram como

principais vertentes: 1 – Variação dos quatro indicadores de criminalidade escolhidos pela

SESEG para a premiação por metas desde a instalação das UPPs; 2 – Variação no mercado

imobiliário da localidade e proximidades desde a instalação das UPPs; 3 – Variações no

mercado de seguros na localidade e proximidades desde a instalação das UPPs; 4 – Avaliação

dos indicadores mais específicos para a medição da atuação das UPPs em cada localidade, 5 –

Correções necessárias e propostas (Termo Circunstanciado, mediação de conflitos etc.).

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O presente documento sintetiza o resultado de uma ação estatal envolvendo os diversos

atores da Administração Pública, tendo como objetivo fundamental a promoção da qualidade de

vida e a paz social.

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UNIDADE DE POLÍCIA PACIFICADORA - SANTA MARTA

1. INTRODUÇÃO

A Comunidade do Morro Santa Marta tem uma longa trajetória. Desde o ano de 1965

pensava-se em um modelo de organização interna, seja por influências da Igreja Católica ou por

partidos políticos.

No primeiro projeto de urbanização do Santa Marta, em 1986, no Governo do Prefeito

Saturnino Braga, houve uma colaboração dos moradores, prevendo até o plano inclinado, um

em cada lado do morro. Esse projeto não foi à frente, devido à grande crise do estado e também

da cidade do Rio de Janeiro, bem como o poder do tráfico de drogas. No final do ano de 1999

houve outra discussão em torno da urbanização, com a proposta de se construir edifícios na

favela, desta vez entre o Prefeito Luiz Paulo Conde e o Governador Anthony Garotinho, o que

ensejou a assinatura de um compromisso de intenções. Contudo, logo em seguida, ocorreram às

eleições para a prefeitura, quando Luiz Paulo Conde foi derrotado por César Maia, que desfez o

compromisso supra. Após dois anos, foram retomados os debates sobre urbanização e as obras

iniciaram-se no ano de 2004.

Em dezembro de 2008, com o processo de urbanização e busca de melhorias ainda em

curso, porém em passos lentos, ocorreu a grande entrada do poder público com a implantação

da Unidade de Polícia Pacificadora, por meio do Decreto n° 41.650 de 21 de janeiro de 2009,

tratando-se de um programa de ocupação permanente que transformou a comunidade em um

laboratório de aplicação de políticas de segurança pública e sociais, com parceria dos governos

federal e municipal, além da iniciativa privada para a revitalização da área. Os índices de

violência despencaram, as casas no interior e no entorno da favela foram valorizadas, reduzindo

o risco sobre o valor de seguros, conseqüentemente a comunidade colheu os primeiros frutos do

trabalho de parceria desenvolvido com o poder público. O morro Santa Marta transformou-se

em mais um ponto de atração turística na Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro.

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Antes: 2009

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Agora 2010

Estas fotografias, tiradas dentro da favela em 19 de abril de 2010, são uma clara

demonstração da atuação de diversas áreas do poder público, que produz resultados como ruas

asfaltadas, casas construídas e numeradas, iluminação pública e coleta de lixo.

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2. DESENVOLVIMENTO

Apenas em 2008, na primeira etapa das obras, foram entregues o plano inclinado, uma

creche foi adaptada para a implantação do Posto de Policiamento Comunitário (PPC), uma

creche da comunidade foi reformada, concluído o campo de futebol de grama sintética,

implementadas as redes de distribuição de água tratada, de coleta de esgoto e drenagem,

construídas 65 unidades habitacionais, feitas melhorias em 146 residências e realizada a

adaptação para a internet comunitária. Em andamento estão: construção de 191 unidades

habitacionais, realização de melhorias em 517 residências e um trabalho de reflorestamento em

uma área de dez mil metros quadrados, correspondente a 10 campos de futebol. Serão 2.500

mudas de espécies da Mata Atlântica, providenciadas pela Secretaria Municipal de Meio

Ambiente, essas árvores irão permitir a recomposição da cobertura vegetal da região e criar um

cinturão verde que impedirá a retomada do crescimento da comunidade. Outro dado relevante é

o fato de a comunidade ter sido a primeira de todo o Brasil a receber sinal de internet sem fio

gratuito para todos os seus moradores. Além disso, a comunidade é monitorada por 13 câmeras

de vigilância e possui vários outros projetos sociais e culturais.

Variação dos índices criminais das quatro modalidades escolhidas pela Secretaria de

Estado de Segurança para a premiação por metas, desde a instalação da UPP.

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As metas estipuladas pela Secretaria de Estado de Segurança visam reduzir índices de

homicídio doloso; latrocínio; roubo de veículos e roubos de rua (transeuntes, coletivos e

celulares).

De acordo com matéria publicada no site odia.terra.com.br ¹ em 21 de abril de 2010,

houve queda de 71,4% nos roubos a residências, 46,1% nos de veículos e 15% de rua (a

pedestre, de celular e em coletivo) no bairro de Botafogo, na comparação entre fevereiro de

2010 e o mesmo mês de 2009. A redução dos delitos já contribui para a valorização de imóveis.

No Morro Santa Marta, de 18 de novembro de 2007 a 18 de novembro de 2009, foram

registrados três homicídios na área da favela. Já de 19 de novembro de 2008 a 19 de novembro

de 2010, não ocorreu um caso sequer. No mesmo período, houve queda, de 44%, no número de

roubos de carros, ao seu turno, os registros de apreensões de drogas cresceram 100%.

Os números da violência no Santa Marta:

TOTAL DOS REGISTROS DE OCORRÊNCIAS EM 2009

CÓDIDO DE OCORRÊNCIA QUANTIDADE

120 – Lesões Corporais 16

133 – Rixa 2

151 – Ameaça 4

212 – Furto de auto 1

213 – Furto em Coletivo 1

217 – Furto em Residência 2

219 – Roubo 4

221 – Roubo de Auto 1

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222 – Roubo em Coletivo 1

240 – Dano 2

270 – Receptação 1

311 – Estupro 1

322 – Corrupção de Menores 1

422 – Resistência 1

423 – Desobediência 2

424 – Desacato 14

511 – Incêndio 2

513 – Entorpecentes (Posse e Uso) 21

603 – Vias de Fato 4

642 – Carteado 1

704 – Auto Recuperado 1

714 – Atropelamento 1

721 – Colisão sem Vitima 5

730 – Apreensão/Retenção de Veículo 1

800 – Auxílio ao Policial Militar 3

810 – Auxílio ao CBMERJ 3

851 – Condução de Alienado Mental 1

852 – Comdução de Enfermo 22

853 – Mal Súbito 2

854 – Parturiente 2

901 – Elementos Suspeitos 4

903 – Apreensão de Arma de Fogo 1

904 – Apreensão de Material 6

920 – Encerradas no Local 5

934 – Encaminhamento de Menor Infrator 1

935 – Ocorrência com militar 1

936 – Ocorrência com o Policial Militar 1

938 – Tumulto 4

TOTAL DE OCORRÊNCIAS 147

Fonte: Secretaria da UPP

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Variação no mercado imobiliário da localidade e nas proximidades, desde a instalação da

UPP

Com base em pesquisa realizada junto ao site da Associação dos Dirigentes de

Empresas de Mercado Imobiliário, verificamos que ocorreram grandes benfeitorias com a

implantação da UPP na comunidade do Santa Marta, que determinaram vários benefícios

sociais, tais como a valorização dos imóveis localizados nas imediações da comunidade. Em

anúncio de um site imobiliário, consta o aluguel de um apartamento de 1 quarto, sala, cozinha e

banheiro, custando R$ 700,00 (setecentos reais) localizado na rua Jupira “rua de acesso ao

morro Santa Marta pacificado”.

Pesquisa do Sindicato da Habitação (SECOVI) indica valorização de até 148,89% nos

valores de locação e de até 59,41% nos de venda de imóveis em bairros beneficiados pelas

UPPs na Zona Sul.

Outro exemplo de valorização imobiliária nas imediações da citada comunidade é uma

casa de alvenaria que antes era negociada por no máximo R$ 10.000,00 (dez mil reais), quando

havia o domínio do tráfico; após a pacificação a mesma está estimada em torno de R$ 50.000,00

(cinqüenta mil reais).

Segundo o vice-presidente do SECOVI, Ronaldo Coelho Netto, as UPPs vem mudando

o comportamento do setor imobiliário, que há pelo menos duas décadas tem dificuldades para

alugar ou vender imóveis próximo a favelas:

- “Não temos dúvida de que a valorização (dos imóveis) está diretamente ligada à

presença da UPP. Antes, não adiantava nem anunciar, ainda mais se fosse em rua de acesso a

favela. Agora, a procura por esses imóveis vem aumentando e com isso o valor também. Eles

estão localizados em áreas excelentes, perto de metrô, comércio, serviços” - disse.

De acordo com o gerente geral de imóveis da imobiliária APSA, o aluguel de

apartamentos de um quarto em ruas como Sorocaba e da Matriz, também próximas à

comunidade, passou de R$ 800,00 e R$ 900,00 para R$ 1.200,00, outro grande exemplo da

valorização imobiliária realizada por meio da pacificação da comunidade.

Segundo Rogério Quintanilha, um dos dirigentes da APSA, o investidor demora a

apostar em ações como a da pacificação da favela.

− “Ele desconfia do Estado e observa se vai ser uma ação séria, duradoura, ou só

um balão japonês, que sobe a cai na mesma hora. Como parece haver continuidade, os preços

subiram, mas isso não aconteceu de imediato”.

Rubens Vasconcelos, vice-presidente da Associação dos Dirigentes de Empresas do

Mercado Imobiliário (ADEMI), cita que a presença da polícia e dos serviços públicos, como no

caso do Santa Marta, é um exemplo a ser seguido no Rio de Janeiro.

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− “Em última análise podemos concluir que o processo de pacificação na favela

do Santa Marta realmente afetou o mercado imobiliário, positivamente, atendendo aos anseios

da sociedade residente na localidade, trazendo mais segurança e valorizando os imóveis do

local”.

Variação no mercado de seguros na localidade e proximidades, desde a implantação da

UPP

Outro ponto a ser analisado no presente trabalho é com relação à variação dos valores

das apólices de seguros de veículos automotores na região da UPP Santa Marta, mais

precisamente no bairro de Botafogo.

A expansão das UPPs vai reduzir em até 25% o preço dos seguros de automóveis nos

bairros agraciados com as Unidades de Polícia Pacificadora. Essa previsão foi apontada por

corretores de seguros e confirmada pelo presidente do sindicato dos corretores de seguro

(SINCOR-RJ), Henrique Brandão. Segundo o mesmo, a incidência de sinistros nos bairros onde

foram implantadas as UPPs tem reduzido substancialmente, porém, as seguradoras dependem

de certo lapso temporal para consolidar as informações e identificar as tendências, mas os

preços vão reduzir entre 20% e 25%.

No ano de 2009 foram roubados 2781 carros a menos que em 2008, tais números são

acompanhados de perto pelas seguradoras. Para definir-se o valor do seguro de automóveis,

cada seguradora tem liberdade para avaliar os riscos de cada cliente, e o número de roubos e

furtos à automóveis em determinada área pode representar um aumento de até 30% do valor da

apólice.

Em consulta realizada à seguradora NOVA VIRTUAL CONSULTORIA E

CORRETAGEM DE SEGUROS, situada à Rua Real Grandeza, nº 193/203, foram apresentados

03 valores de apólices de seguros no período compreendido entre fevereiro de 2009 e fevereiro

de 2010 no bairro de Botafogo, que seguem abaixo:

2. GM CELTA Life, ano 2007, classe de bônus 3 Valor: R$ 720,00

Renovação, classe de bônus 4, R$ 774,00

2. FIAT PÁLIO 1.0 Fire, ano 2003, classe de Bônus 1 Valor: R$ 846,91

Renovação, classe de bônus 2, R$ 857,36

3. FIAT PÁLIO ELX 1.0, ano 2000, classe bônus 8 Valor: R$ 935,00

Renovação, classe bônus 9, R$ 843,00

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Segundo a corretora a progressão de classe de bônus reduz o valor da apólice em 10%,

o que faz concluir que os aumentos das apólices dos veículos 1 e 2 poderia ser ainda maior.

Com relação ao veículo 3 foi observada a redução do valor da apólice na ordem dos 10% em

razão dessa progressão de bônus. Ainda segundo a corretora alguns fatores contribuem

diretamente no valor das apólices, tais como perfil do condutor, valor do carro, risco de sinistro

(roubo principalmente) e valor das peças dos veículos para reposição (em caso de colisões). O

que foi percebido no presente trabalho é que embora tenha havido um redução na ordem de

46% no roubo de veículos em Botafogo (entre fev09 e fev10), tal variante ainda não fez reduzir

o valor das apólices no bairro, confirmando a informação prestada pelo SINCOR-RJ.

Avaliação dos indicadores mais específicos para a medição da atuação da UPP

A Fundação Getúlio Vargas – FGV, no primeiro semestre do ano de 2009, realizou uma

pesquisa na Comunidade do Morro Santa Marta, localizada no bairro de Botafogo, cuja

finalidade era medir o nível de satisfação com a presença policial e, ainda, verificar se houve

melhoria da qualidade de vida após a instalação da Unidade de Polícia Pacificadora – UPP.

Naquela oportunidade diversos indicadores foram alvos dos estudos, sendo os mais específicos

aqueles voltados para a atuação da UPP. Nesse giro, comprovou-se uma significativa melhora

nos padrões de atendimento policial militar e a redução crescente dos índices de criminalidade

naquele local.

A força policial, dotada de nova ideologia de atendimento com ênfase nas relações

intrapessoais foi decisiva e proporcionou melhoria significativa nas relações com os cidadãos,

facilitando sobremaneira uma aproximação até então não verificada. Portanto, pode-se afirmar

ser essa a razão principal do sucesso da metodologia empregada, pois nessa relação ganharam

todos, tanto a polícia quanto a comunidade.

3. CONCLUSÃO

Correções necessárias e propostas

Acredita-se que a integração polícia – comunidade é uma eficiente forma de combate à

criminalidade, tanto em sua prevenção quanto na sua repressão, principal foco da filosofia de

Polícia Comunitária.

Portanto, a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro está exatamente iniciando mais

uma história, uma nova era, que na verdade teve seu pontapé, na década de 90, onde os

primeiros passos foram dados com o policial comunitário realizando policiamento a pé em

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alguns bairros da zona sul do Rio.

Conforme a evolução da sociedade, houve também evoluções nas formas e/ou

estratégias de policiamento por parte da PMERJ, sendo então implantada essa estratégia em

favelas do Estado. Desde então, passou-se a ter uma nova oportunidade de mostrar a sociedade

que não somos conforme “nos pintam”. Somos sim uma Instituição forte e competente.

Dessa forma não podemos desperdiçar tal oportunidade e para que melhor ainda seja

desempenhada tal missão nestas Unidades, alguns aprimoramentos são necessários, como em

todo e qualquer projeto, dentre outras:

* Em razão do desafio de manter a qualidade no desempenho e manutenção de uma

tropa treinada e valorizada, há necessidade de instruções periódicas, sobre legislações

específicas, bem como treinamento de armamento e tiro, mesmo que em um primeiro olhar

pareça não ser essencial para o modelo de policiamento, se faz necessário, à medida que, caso

haja a necessidade de usar o armamento, a sociedade e a comunidade esperam que seja da

forma mais técnica possível e para isso o policial tem que estar em condições, bem como evitar

possíveis acidentes em serviço;

* Em eventos que sejam relativos à atividade desempenhada pela tropa das UPPs, como

palestras e seminários, é interessante que alguns policiais participem, ouvindo comentários de

autoridades e críticos, a fim de terem noção da importância de seu papel perante a sociedade e

ainda como representantes do poder público;

* Previsão de um efetivo mínimo para atuar, tendo em vista que não haverá

policiamento sem que haja efetivo suficiente. Adoção de um critério para movimentação de

policiais;

* Reuniões periódicas com Comandantes de UPPs e parte de sua tropa com os

Delegados de Polícia, para que além de estreitar parcerias, os mesmos fiquem atualizados com

os objetivos da estratégia, para que não se dê menos importância à ocorrências de menor

potencial ofensivo, tendo em vista que esta passa a ser a natureza da maioria das ocorrências

policiais. Tal estreitamento aumenta a credibilidade, o respeito e a confiança no serviço policial

independente da instituição, se PMERJ ou PCERJ.

Em particular, a Polícia Militar passa a ganhar à medida que a comunidade coopera nas

ações de caráter investigativo e preventivo, pois, verá o policial como um agente de confiança

em sua comunidade.

* Melhoria nos recursos disponibilizados ao Comando Intermediário das UPPs, para

que possa dar o suporte operacional, já previsto, às Unidades.

* Que seja definida a situação das UPPs na estrutura das OPMs, pois ainda figura como

uma Companhia da Unidade Operacional de sua área de atuação e ao mesmo tempo possui um

Comando Intermediário.

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* Atuação do serviço de inteligência ligado à UPP, a fim de auxiliar o próprio

funcionamento.

* Evitar que os integrantes do efetivo sejam movimentados, pois, o conhecimento

recíproco entre os policiais e a comunidade é fator primordial para a filosofia do policiamento

comunitário. Não só conhecer o morador, mas também seu histórico e seu poder de influência

na comunidade.

NOTAS E REFERÊNCIAS

(1) Publicado no endereço virtual: http://odia.terra.com.br/portalrio/html/2010/4/

bairros_com_upp_tiveram_queda_na_criminalidade_76464.html

Fontes:

Jornal O DIA de 02/5/10, p. 25; ISP; Nova Virtual Consultoria e Corretagem de

Seguros.

Matéria jornalística publicada no site da ADEMI – Associação de Dirigentes de

Empresas do Mercado Imobiliário, em 13 de março de 2010.

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UNIDADE DE POLÍCIA PACIFICADORA - CIDADE DE DEUS

1 – INTRODUÇÃO

O Estado do Rio de Janeiro tem experimentado nos últimos trinta anos inúmeras

transformações, no campo social, econômico, tecnológico, cultural, e político, motivados pelo

fim do autoritarismo, o ressurgimento da democracia, a globalização, a promulgação da nova

constituição em 1988, com a conseqüente consagração de direitos que devem ser observados

por todos, inclusive pelos Estados Federados. A maior produção de riqueza, sem a sua

socialização, a cada vez maior concentração populacional nas metrópoles, com a irregular

ocupação do solo, formaram ingredientes vigorosos a engendrar os conflitos sociais.

A ação neoliberal, de certa forma, disseminou a violência, na medida em que não foi

capaz de diminuir as abissais diferenças sociais brasileiras. Neste diapasão a leniência de

diversos governantes em décadas passadas com os comportamentos desviantes de redutos

eleitorais significativos, permitiram que o fenômeno delitivo se transmutasse de uma

manifestação pontual para uma miríade de locais, com ações escandalosas e midiáticas, que

estabeleceram uma forte e resistente cultura de violência.

Sem desprezar as conquistas obtidas ao longo do tempo, a verdade é que a alternância

de ações repressivas e preventivas isoladas, não foi capaz de reverter o contínuo crescimento do

crime e dos seus protagonistas, tampouco alteraram a insensata noção de guerra urbana

estabelecida, com sucessivas e expressivas perdas de vidas humanas de brasileiros, o que é

bastante desprezível.

Não se busca depreciar os inúmeros argumentos antropológicos que prosperam nos

mais diversos locais, alguns baseados no intuicionismo, seja empírico ou racional. Especialistas

de ocasião reduziam-se ao simples maniqueísmo. Contudo não se pode desvalidar os insucessos

recentes. São ingredientes significativos na construção de novas propostas.

Ao abandonar a visão de que cabe exclusivamente às polícias o controle do crime,

promovemos um grande avanço, pois vivenciamos um quadro social denso e comprometido,

onde o Estado não cumpre seu papel mais elementar, o de provedor e indutor de políticas

públicas de erradicação da pobreza e da miséria.

Não se pode olvidar que a demanda por segurança cresceu muitíssimo nas últimas três

décadas, sendo responsabilidade do Estado federado garanti-la ao cidadão, em qualquer local e

a qualquer tempo. A par das conseqüências de sua inação neste campo com sérios reflexos nas

urnas eleitorais. Amplia seu valor as políticas públicas neste setor, mormente se os resultados

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preliminares acenam com a possibilidade concreta de mitigação do fenômeno delitivo e a

retomada de valhacoutos e o resgate da confiança da população no aparelho estatal.

Neste contexto surge um novo modelo de gestão de segurança pública que abarca ações

da Polícia Militar, mas também um conjunto de esforços cooperativos do Estado e da sociedade

organizada como um todo, com o escopo de restituir a “ordem sob a lei”.

Se a angústia do confronto que ceifa vidas pode ter um rompimento com as Unidades

de Polícia Pacificadora, o decurso inexorável do tempo responderá. Por hora acena como uma

alternativa cabal e factível que merece crédito e estudo meticuloso, a fim de aperfeiçoá-lo e

entendê-lo, ao segundo se presta este humilde e dedicado trabalho.

1.1 – HISTÓRICO

Pelo último censo (2000) na Cidade de Deus moram 38 mil pessoas, em área

compreendida de 120,59 hectares, entretanto, informações da subprefeitura de Jacarepaguá dão

conta de que atualmente 130 mil pessoas vivem na comunidade.

No início da década de 1960 a região de Jacarepaguá era praticamente deserta. E foi no

meio deste ‘nada’ que surgiu a Cidade de Deus. O então governador Carlos Lacerda deu o

primeiro passo de um projeto para erradicação das favelas, principalmente as da zona sul,

removendo famílias de comunidades pobres para uma área nova. Os primeiros foram

moradores de favelas da Praia do Pinto, no Leblon, e de Macedo Sobrinho, no Humaitá. Em

dez anos, já havia um aglomerado de gente de pelo menos 30 comunidades. Dentro deste

contexto a Cidade de Deus cresceu, mas o crescimento não foi acompanhado por infra-

estrutura, saúde, saneamento e transporte. Os que já moravam na comunidade à época, contam,

por exemplo, que era preciso fazer uma caminhada de até três horas para chegar ao ponto de

ônibus mais próximo.

Atualmente a Cidade de Deus tem um dos menores índices de desenvolvimento

humano do Rio de Janeiro. O chamado IDH, avalia a qualidade da saúde, da educação e da

renda de uma região. O da Barra da Tijuca, por exemplo, bairro vizinho é 27% maior, o que

demonstra um desenvolvimento desproporcional.

A Unidade de Polícia Pacificadora da Cidade de Deus foi implantada no dia 16 de

fevereiro de 2009, com o nome de Companhia de Policiamento Comunitário da Cidade de Deus

com efetivo de 180 policiais militares, dentre os quais três oficiais, sendo 01 Capitão, 01

Primeiro Tenente e 01 Segundo Tenente. Inicialmente limitava-se a policiar a área da Avenida

Cidade de Deus até a Avenida Marechal Miguel Salazar Mendes de Moraes com a Rua Edgar

Werneck, compreendo as localidades conhecidas como Quadra 13 e Quadra 15, excluindo-se as

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áreas conhecidas como Apartamentos e Karatê, que à época eram ocupados respectivamente

pelo 18º BPM e Batalhão de Operações Especiais – BOPE.

Em agosto de 2009, com o aumento de efetivo de 180 para 276 policiais militares a

UPP da Cidade de Deus passou a atuar em toda a comunidade, trabalhando em subáreas com

características distintas e com um histórico de rivalidades entre si. Muitas dificuldades foram

encontradas inicialmente, como podemos observar neste trecho do relatório enviado em 30 de

julho de 2009, pelo Capitão PM Felipe Gonçalves ROMEU, então Comandante da UPP da

Cidade de Deus, ao Comando de Policiamento Comunitário:

“No primeiro momento a nossa presença não foi receptiva tendo até mesmo fatos em

que houve retaliações como danos nas viaturas, “xingamentos” aos policiais, muitas

ocorrências de desacato, vale ressaltar que o histórico nesta comunidade era de

confrontos entre a polícia e o tráfico local. Dessa forma o meio de angariar a confiança

da população foi agir de forma discreta com ações e respostas rápidas às ocorrências de

maneira educada e quebrando os paradigmas no qual é a base do policiamento

comunitário. Hoje temos uma população mais confiante nas ações da policia na qual

denunciam os ilícitos, vêem a sede da companhia para denuncias e ligam mesmo

anonimamente”.

Atualmente a Unidade de Polícia Pacificadora da Cidade de Deus conta com um efetivo

de 320 policiais militares, distribuídos por toda a área da comunidade.

1.2 – CONSIDERAÇÕES SOBRE EFETVO E LOGÍSTICA

A UPP da Cidade de Deus está provisoriamente instalada na Travessa Aroer número 9,

numa casa de dois andares, alugada para servir de sede até a construção da sede definitiva em

local ainda a ser definido. Tal estrutura mostra-se incapaz de suportar um efetivo de 320

policiais militares, bem como inadequada para atender todas as necessidades logísticas e

administrativas decorrentes da demanda de serviços executados pela Unidade. As instalações

estão aquém de atenderem de forma básica as necessidades de uma unidade policial de tal

porte, deste modo, mostra-se imperiosa a construção de uma sede definitiva, de modo a não

comprometer ainda mais as atividades desenvolvidas pela Unidade de Polícia Pacificadora da

Cidade de Deus.

De acordo com a Secretaria de Estado de Segurança existe um projeto modelo de sede

para todas as Unidades de Polícia Pacificadora.

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Existem atualmente, na UPP da Cidade de Deus, 27 viaturas

blindadas e um efetivo de 320 policiais militares para o desenvolvimento das atividades de

polícia pacificadora. Segundo orientações da ONU, o número ideal de policiais é de um policial

para cada 300 habitantes. Se considerarmos o último censo realizado (

Cidade de Deus, que estimou a população local em aproximadamente 38 mil pessoas temos a

proporção de um policial militar para cada 118 habitantes; considerando a projeção atual da

Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, que estima que atualmente a população local é

composta de 130 mil pessoas, temos a proporção de um policial para cada 406 habitantes.

1.3 – OBJETIVO

As Unidades de Polícia Pacificadora foram criadas tendo como principais objetivos a

retomada do controle estatal sobre comunidades até então sob forte influência da criminalidade,

ostensivamente armada; a devolução à população local da paz e da tranqüilida

necessárias ao exercício e desenvolvimento integral da cidadania, bem como a contribuição

para a quebra lógica de “guerra” existente no Estado do Rio de Janeiro. A erradicação do

Existem atualmente, na UPP da Cidade de Deus, 27 viaturas policiais, três cabines

blindadas e um efetivo de 320 policiais militares para o desenvolvimento das atividades de

polícia pacificadora. Segundo orientações da ONU, o número ideal de policiais é de um policial

ltimo censo realizado (2000) na comunidade da

Cidade de Deus, que estimou a população local em aproximadamente 38 mil pessoas temos a

proporção de um policial militar para cada 118 habitantes; considerando a projeção atual da

Janeiro, que estima que atualmente a população local é

composta de 130 mil pessoas, temos a proporção de um policial para cada 406 habitantes.

As Unidades de Polícia Pacificadora foram criadas tendo como principais objetivos a

retomada do controle estatal sobre comunidades até então sob forte influência da criminalidade,

ostensivamente armada; a devolução à população local da paz e da tranqüilidade públicas,

necessárias ao exercício e desenvolvimento integral da cidadania, bem como a contribuição

para a quebra lógica de “guerra” existente no Estado do Rio de Janeiro. A erradicação do

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tráfico de drogas e da criminalidade não é objetivo das Unidades de Polícia Pacificadora,

tampouco apresentar-se como solução para todas as comunidades ou transformar-se na

panacéia para todos os seus problemas sócio-econômicos.

Segundo a Secretaria de Estado de Segurança busca-se “Pacificar um número possível

de comunidades no período de 2009 a 2010, com uma estratégia de ocupação definitiva

através das UPP, utilizando policiais militares recém formados e treinados na filosofia de

polícia comunitária, em uma ação coordenada com os Governos Federal, Estadual e

Municipal” (DPF Roberto Alzir Dias Chaves, Superintendente de Planejamento Operacional,

SSPIO/ SESEG).

2 – DESENVOLVIMENTO

2.1 – VARIAÇÃO DOS ÍNDICES CRIMINAIS

Trataremos, neste trabalho, de analisar a variação dos índices criminais na comunidade

da Cidade de Deus antes e após a implantação da Unidade de Polícia Pacificadora, em 16 de

fevereiro de 2009. Procuraremos também analisar o seu reflexo nos índices criminais da décima

oitava AISP (Área Integrada de Segurança Pública).

2.1.1 – VARIAÇÃO DOS ÍNDICES CRIMINAIS NA CIDADE DE DEUS

De acordo com dados colhidos junto ao ISP (Instituto de Segurança Pública), pode-se

concluir que houve considerável decréscimo de delitos na Cidade de Deus. Fazendo um

comparativo dos crimes ocorridos de novembro de 2007 a novembro de 2008 com os crimes

ocorridos de novembro de 2008 a novembro de 2009, concluímos que houve uma diminuição

de 82% nos homicídios dolosos, 83% nos encontros de cadáveres, 88% nos roubos a

estabelecimentos comerciais, 84% nos roubos de veículos, 100% nos roubos de cargas, 49%

nos roubos a transeuntes e 71% nos roubos em coletivos.

Fonte: ISP – Instituto de Segurança Pública

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No que tange à atividade policial, podemos perceber que houve aumento de 532% nas

apreensões de drogas, 243% nas prisões e 328% nas ocorrências em flagrante. Também se

verificou diminuição de 90% nos autos de resistência.

Fonte: ISP – Instituto de Segurança Pública

2.1.2 – VARIAÇÃO DOS ÍNDICES CRIMINAIS NA ÁREA DA DÉCIMA OITAVA

AISP

Para efeito de análise utilizaremos como referencial os delitos ocorridos entre os meses

de fevereiro e dezembro de 2008 comparados com os delitos compreendidos entre fevereiro e

dezembro de 2009, servindo de parâmetro as modalidades delituosas de roubo a transeuntes,

roubo em coletivos, roubo e furto de veículos, apreensão de armas de fogo, apreensão de drogas

e prisões.

2.1.2.1 - ROUBO EM COLETIVOS

No que se refere a roubo em coletivos, podemos perceber que no período compreendido

entre fevereiro e dezembro de 2009 houve uma redução de 25,98% em relação ao mesmo

período no ano anterior.

Fonte: ISP – Instituto de Segurança Pública

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2.1.2.2 - ROUBO A TRANSEUNTES

Em relação a roubo a transeuntes, podemos perceber que no período compreendido

entre fevereiro e dezembro de 2009 houve um aumento de 2,72% em relação ao mesmo período

de 2008.

Fonte: ISP – Instituto de Segurança Pública

2.1.2.3 - ROUBO E FURTO DE VEÍCULOS

Em relação a roubo e furto de veículos, podemos perceber que no período

compreendido entre fevereiro e dezembro de 2009 houve uma diminuição de 23,02% em

relação ao mesmo período no ano de 2008.

Fonte: ISP – Instituto de Segurança Pública

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2.1.2.4 - APREENSÃO DE ARMAS DE FOGO

Em relação à apreensão de armas de fogo, podemos perceber que no período

compreendido entre fevereiro e dezembro de 2009 houve uma diminuição de 22,01% em

relação ao mesmo período de 2008.

Fonte: ISP – Instituto de Segurança Pública

2.1.2.5 - APREENSÃO DE DROGAS

Em relação à apreensão de drogas, podemos perceber que no período compreendido

entre fevereiro e dezembro de 2009 houve aumento de 354,31% em relação ao mesmo período

do ano anterior.

Fonte: ISP – Instituto de Segurança Pública

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2.1.2.6 – PRISÕES

No que se refere a prisões, podemos perceber que no período compreendido entre

fevereiro e dezembro de 2009 houve aumento de 158,66% em relação ao mesmo período do

ano anterior.

Fonte: ISP – Instituto de Segurança Pública

2.2 – VARIAÇÃO NO MERCADO IMOBILIÁRIO

Dados recolhidos junto ao sindicato de habitação (SECOVI – RJ) indicam que existe

uma extrema valorização dos imóveis na Zona Sul do Rio de Janeiro, nos bairros de Ipanema,

Copacabana, Flamengo, Botafogo e Leme, entre outros. Segundo o SECOVI – RJ, podemos

atribuir vários fatores a essa valorização, dentre eles: a implantação das Unidades de Polícia

Pacificadora a nova Lei do Inquilinato; a facilidade de acesso ao crédito imobiliário, bem como

o aumento dos prazos de financiamento e as Olimpíadas do Rio 2016. O SECOVI aponta uma

valorização de até 126% no valor dos imóveis.

Em relação ao bairro de Jacarepaguá, constatamos junto à Ética Imobiliária, que os

imóveis estão em um processo de desvalorização já há algum tempo, isto em razão de diversos

fatores. Com a criação da UPP da Cidade de Deus o processo inverso iniciou-se, verificando-se

valorização de cerca de 40% nos preços dos imóveis próximos à comunidade.

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2.3 – VARIAÇÃO NO MERCADO DE SEGUROS

Para análise deste item procuramos coletar dados junto a profissionais da área de

seguros. Em consulta ao Sr. Anadyr José de Souza, Corretor oficial de seguros com registro

ativo na SUSEP ( Superintendência de Seguros Privados ) e membro do Sindicado dos

Corretores de Seguros ( SINCOR ) do Estado do Rio de Janeiro, obtivemos alguns

esclarecimentos que possibilitaram a análise da variação do mercado de seguros em áreas

próximas às Unidades de Polícia Pacificadora.

“A expansão das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) vai reduzir em

até 25% o preço dos seguros de carros e de imóveis nos bairros em que o programa

de ocupação de comunidades dominadas pelo tráfico for implantado”.

A previsão apontada por corretores ouvidos pelo jornal é confirmada pelo presidente

do Sindicato dos Corretores de Seguros (Sincor-RJ), Henrique Brandão, e soa como música aos

ouvidos de moradores de Ipanema, Copacabana, Leme, Botafogo, Jacarepaguá, Tijuca e

Centro, onde a pacificação já está implantada. Alimenta de esperanças ainda, moradores do

trecho que vai do Catumbi ao Engenho Novo, passando por Estácio, Rio Comprido, Andaraí,

Grajaú, Vila Isabel e Mangueira, que serão atendidos por UPPs até o fim do ano.

“Quem investe em seguros para proteger seu patrimônio tem a cada dia

condições melhores para contratar o serviço e, em breve, poderá aproveitar

vantagens adicionais resultantes do cerco à violência, como gastos menores com

apólices e segurança. A incidência de sinistros nos bairros onde estão as UPPs

reduziu substancialmente. As seguradoras têm um tempo para consolidar as

informações e identificar tendências, mas os preços vão baixar”, avalia Brandão.

Para Brandão a consolidação da política de ocupação é que vai definir o tamanho do

corte, que deve ficar entre 20% e 25%. Em 2009, foram roubados 2.781 carros a menos do que

no ano anterior. O número de furtos de veículos também caiu em relação a 2008. As estatísticas

são acompanhadas de perto pelas seguradoras. “Não interessa a elas cobrar caro. O que

encarece é o sinistro, quando o carro é roubado ou furtado”, diz Brandão, que recomenda que o

consumidor prestes a renovar a apólice negocie.

“A redução de roubos e furtos gera impacto no preço, mas não é o único fator que

influencia”, alerta Neival Rodrigues Freitas, diretor da Federação Nacional de Seguros Gerais

(FENSEG). Ele acredita que o corte será repassado caso os índices de segurança mantenham-se

positivos.

Para definir o valor do seguro, cada operadora tem liberdade para avaliar riscos e perfis

de seus clientes. O peso dos índices regionais de Roubos e Furtos pode chegar a 30% da

prestação. “Seguros de automóveis e residenciais estão mais sujeitos à regionalidade”, explica

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Eugênio Velasques, da Bradesco Seguros, que lançou o primeiro seguro popular contra

acidentes, incluindo ferimentos à bala, vendido na Rocinha, conforme matéria jornalística

veiculada no periódico “O DIA” em 02/05/2010).

Atualmente a contratação de seguros de veículos, de residências e mesmo de carga

passa por uma avaliação dos riscos decorrentes da proximidade com comunidades consideradas

como “áreas de risco”. Mais especificamente, o seguro de veículos, que ocorre mediante

avaliação criteriosa do perfil do segurado/condutor do veiculo, entre as quais podemos

citar: estado civil, sexo, idade dos condutores, tempo de habilitação, existência de garagem na

residência e local de trabalho, quilometragem anual do veículo e, em especial, o CEP da

residência do segurado.

Por meio do CEP do domicílio do segurado e fundamentado nas estatísticas de roubos

no local, as seguradoras tendem a não aceitar o seguro do veículo ou, quando aceitam esse

seguro, praticam aumentos dos custos em até 30%, comparando-se a ruas do mesmo bairro.

Vale assim dizer que quanto mais próximo às comunidades, maiores serão as probabilidades

das seguradoras majorarem o risco, ou praticar aumentos nos custos do seguro de veículos ou

residências. As empresas de monitoramento de veículos de transporte impedem que os

motoristas trafeguem por algumas ruas próximas às comunidades, sob pena de as seguradoras

das cargas e dos veículos, por imposições impostas na contratação do seguro, não cobrirem as

indenizações decorrentes de sinistros nessas localizações.

O mercado de seguro por meio de sua representação de classe FENASEG – Federação

Nacional das Empresas de Seguro mantém-se atento e, desenvolve pesquisas de mercado

voltadas para a redução dos custos de seguros nas ruas e bairros que já contam com as

Unidades de Polícia Pacificadora; o que se espera é que o valor das apólices de seguro nas ruas

dos bairros onde já existam essas unidades possa decrescer em curto prazo, em descontos nos

custos de até 20%, bem como demover as restrições de trânsito de veículos de carga nessas

localidades.

As estatísticas estão em curso, entretanto, o mercado de seguros já sente uma reversão

na curva de sinistros ocorridos nas ruas próximas às localidades onde estão as Unidades

Pacificadoras de até 70%. Logo, prevalecendo esses índices, as seguradoras irão oferecer custos

atrativos aos segurados e incentivar a cultura de seguros populares nas comunidades do Rio de

Janeiro.

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2.4 – AVALIAÇÃO DOS INDICADORES MAIS ESPECÍFICOS PARA A MEDIÇÃO

DA ATUAÇÃO DAS UNIDADES DE POLÍCIA PACIFICADORA EM CADA

LOCALIDADE.

Para a avaliação de indicadores mais específicos seria necessário que fossem realizadas

pesquisas com o intuito de avaliar o grau de satisfação da comunidade, avaliação da satisfação

dos policiais militares no desempenho de suas funções, avaliar se houve aumento na freqüência

escolar na rede pública na área da UPP, avaliar se com a implantação da UPP houve uma

melhoria na prestação de serviço por parte das empresas públicas, avaliar se houve diminuição

nas ocorrências que envolvam violência doméstica e grau de desenvolvimento do policiamento

comunitário.

2.5 – CORREÇÕES NECESSÁRIAS E PROPOSTAS

* Construção da nova sede da UPP, que atualmente é uma casa cuja compartimentação

não atende às necessidades básicas do efetivo, no que se refere a vestiários, armários,

sanitários, administração, sala de reuniões e auditório;

* Criação de uma diretriz, que possa estabelecer o que se espera em termos de

implantação, organização, funcionamento, missões e objetivos das UPPs;

* Implementação de atividades culturais que promovam a desconstrução de estigmas

ainda arraigados nas comunidades, bem como a criação de cursos profissionalizantes e geração

de postos de trabalho para os integrantes da própria comunidade, por meio amplo e vigoroso

conjunto de programas sociais;

* Manutenção do Comandante da UPP por um período mínimo de 18(dezoito) meses,

tempo considerado necessário para o desenvolvimento do trabalho pautado nas diretrizes: maior

aproximação e conhecimento da comunidade;

* Estimular que o efetivo aplicado nas Unidades de Polícia Pacificadora seja voluntário,

em consonância com os cânones do policiamento comunitário em todo mundo, de que o

policial tenha interesse e perfil para atuar junto à comunidade;

* Perenizar os canais de comunicação existentes da UPP com a comunidade e, valendo-

se das novas tecnologias da informação, ampliá-las, buscando uma permanente troca de

informações e privilegiando o diálogo dos personagens do processo de pacificação.

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3 – CONCLUSÃO

As Unidades de Polícia Pacificadora materializam uma estratégia de reconquista

definitiva de comunidades outrora sob marcante influência do narcotráfico, com excessivas e

ostensivas ações violentas. Em que pesem as outras propostas anteriormente desenvolvidas por

outros governos, não alcançaram por completo as transformações atualmente conquistadas, de

imposição da paz permanente e ampla no território conflagrado. Percebendo-se o envolvimento

das comunidades atingidas pelas UPPs no desejo de mudança de paradigmas, com um amplo

leque de ações e programas sociais que buscam a participação e a integração das comunidades,

resgatando a cidadania.

Neste descortinar de um novo modelo de integração da Polícia Militar com estas

comunidades, percebe-se que o processo não está acabado e perfeito, antes, precisa de reparos e

lapidações, para o seu constante aprimoramento.

Dentro deste contexto a construção de uma sede permanente para a UPP da Cidade de

Deus; a criação de uma diretriz reguladora que possa estabelecer o que se espera em termos de

implantação, organização, funcionamento, missões e objetivos das UPPs; a manutenção do

Comandante da UPP por um período mínimo de 18 (dezoito) meses; são algumas das propostas

listadas no presente trabalho, que tem por objetivo contribuir para o sucesso e a perenidade dos

serviços a que se destina a Unidade de Polícia Pacificadora da Cidade de Deus.

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UNIDADE DE POLÍCIA PACIFICADORA – JARDIM BATAN

I - INTRODUÇÃO

De acordo com relatos dos mais antigos moradores, em meados da década de 1950, o

Jardim Batan na verdade era uma grande fazenda, nela havia criação de gado em uma vasta

área de vegetação típica, inclusive o nome “Batan” é derivado do nome da árvore “ubatan”,

bastante comum à época e não mais encontrada atualmente na região. Nos anos seguintes, a

população foi ocupando, desordenadamente, a região quem em pouco tempo transformou-se em

um grande sub-bairro, muito carente em termos de urbanização e saneamento básico. As

décadas de 1970 e 1980 marcaram-se por haver um acelerado crescimento da população do

Batan. Como conseqüência verificou-se a “favelização” do local, com a tomada ilegal da posse

de terrenos particulares e construção de casas de forma precária, sem aval de qualquer órgão

fiscalizador.

Durante muito tempo a comunidade ficou conhecida pelos confrontos violentos entre as

facções criminosas “Amigos dos Amigos” - ADA e “Terceiro Comando Puro” – TCP, que

procuravam controlar o tráfico de drogas que se instalou na região. Estes confrontos geralmente

aconteciam entre a comunidade Batan e sua vizinha “Fumacê”. No ano de 2007 um grupo de

milicianos invadiu o Batan e expulsou o tráfico de drogas do local, “dominando” a comunidade

à partir daí. Em maio de 2008, uma equipe do jornal “O Dia” realizava uma série de

reportagens sobre a milícia no local quando foi descoberta pelos milicianos, que torturaram os

jornalistas da equipe. Após liberados pelos milicianos os jornalistas publicaram matéria no

periódico dando conta do ocorrido, o que determinou a realização de operações policiais para a

expulsão dos milicianos. Hoje há ocupação permanente da PMERJ, que no dia 18 de fevereiro

de 2009 inaugurou uma Unidade de Polícia Pacificadora naquele local.

2. CARACTERÍSTICAS DA ÁREA

DIMENSÃO: A área de atuação da Unidade de Polícia Pacificadora do Jardim Batan é

de aproximadamente 06 (seis) quilômetros quadrados;

POPULAÇÃO: A população residente na área da UPP/Batan é de aproximadamente

50.000 (cinqüenta mil) habitantes;

LIDERANÇAS: O Jardim Batan conta com uma Associação de Moradores,

atualmente presidida pelo Tenente da PMERJ Wolney, lotado no BOPE.

2.1. ORGÃOS PÚBLICOS E PRESTADORES DE SERVIÇO

Há apenas uma unidade de saúde, o posto de saúde municipal; o hospital mais próximo

é o Hospital Albert Schweitzer, localizado a 4 km de distância da comunidade. A única escola

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que existe no Batan é a Escola Municipal Costa do Marfim, mais conhecida como Brizolinha,

por haver sido inaugurada pelo então Governador do Estado do Rio de Janeiro, Leonel de

Moura Brizola. Apenas os quatro primeiros anos do ensino fundamental são contemplados pelo

“Brizolinha”. Há ainda uma Creche Comunitária, que ocupa o mesmo espaço destinado ao

Posto de Saúde da Prefeitura.

Considerável número de moradores da comunidade é evangélico, estes se dividem entre

os cerca de quarenta templos que existem no local. Há igrejas evangélicas de diversas

denominações, entre as quais se destacam a Igreja Batista, a Assembléia de Deus, a Universal e

a Comunidade Evangélica. Alguns fiéis também costumam se encontrar na localidade mais alta

do Batan, conhecida como Pedra, para fazerem Vigília e grupos de Oração. No Batan há ainda

uma Paróquia da Igreja Católica, um Centro Espírita e algumas casas que realizam rituais de

Umbanda e Candomblé;

3. CARACTERÍSTICAS DA UPP

3.1. POLICIAMENTO

O policiamento na área da UPP/Batan é realizado por 04 (quatro) viaturas. A primeira

destas, com guarnição composta por três policiais, permanece baseada na Estrada do Engenho

Novo, esquina com Av. Brasil, permanentemente; a segunda viatura funciona como

radiopatrulha – RP, e cobre toda área de policiamento comunitário – APC; a terceira viatura é

empenhada no serviço de patrulhamento motorizado especial – Pamesp, e também cobre toda

APC, realizando o descrito na diretriz n° 001, no que se refere ao policiamento comunitário

(visitas à residências, escolas, demais estabelecimentos públicos ou privados etc.). A quarta

viatura é empregada no serviço de supervisão de graduado, que além de supervisionar, patrulha

toda a APC. Há ainda, uma dupla de policiamento ostensivo geral - POG, que é deslocada

diariamente para áreas de grande concentração de pessoas, cobrindo áreas delimitadas da APC

e uma dupla de policiais que realizam policiamento em bicicletas, intensificando a ronda

escolar.

3.2. EFETIVO

O efetivo da Unidade de Polícia Pacificadora é composto por 03 (três) Oficiais, sendo

01 (um) Capitão, 13 (treze) Graduados, sendo 05 (cinco) Sargentos e 08 (oito) Cabos, e ainda

36 (trinta e seis) Soldados, totalizando 52 (cinquenta e dois) policiais.

3.3. VIATURAS

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A UPP/Batan possui cinco viaturas, todas em uso, havendo necessidade de acrescer o

número em duas, que apoiarão as cabinas blindadas e ainda realizarão o policiamento

ostensivo;

3.4 LOGÍSTICA

Uma antiga casa há muito abandonada, funciona como sede da unidade; para a

instalação da UPP reformas foram promovidas, entretanto, problemas estruturais como

infiltrações nas paredes, banheiros sem descarga ou chuveiro ou mesmo água disponível não

foram sanados. A sede da unidade conta ainda com uma instalação anexa, completamente

abandonada, entretanto, tal construção poderia ser utilizada pela UPP para servir como sala de

instrução, alojamento, almoxarifado, dentre outras. Destaque-se ainda, que a UPP não possui

aparelho condicionador de ar em nenhuma de suas dependências, bem como não possui

qualquer linha telefônica funcional, embora várias solicitações já tenham sido encaminhadas. A

UPP possui apenas um computador com impressora, sendo necessário pelo menos mais um,

para melhor dinamizar o serviço.

4. RELACIONAMENTO DA UPP COM A COMUNIDADE

4.1 PROJETOS REALIZADOS

Na última sexta-feira de cada mês ocorre na UPP um “café comunitário”, nestes

eventos faculta-se à população a oportunidade de expor suas sugestões, críticas e elogios em

relação aos serviços prestados.

Aulas de natação são realizadas três vezes por semana na piscina da UPP; as atividades

são desenvolvidas de acordo com classificação etária e, atualmente, conta com

aproximadamente cem crianças matriculadas, que nos intervalos das atividades recebem

lanches gratuitamente.

A Companhia de Polícia Comunitária mantém aulas de futebol três vezes por semana,

para cerca de cento e cinqüenta crianças e adolescentes.

Também é desenvolvido um trabalho de reforço escolar, onde as crianças podem tirar

suas dúvidas com professores e se tornarem alunos melhores. Cabe ressaltar que todo o material

didático é fornecido gratuitamente.

É desenvolvido o cultivo comunitário de hortaliças e plantas medicinais na sede da

Unidade, esta prática tem por objetivos o resgate da cultura popular e o estímulo ao amor à

natureza e, consequentemente, a necessidade de cuidar e preservar o meio ambiente.

Bimestralmente a UPP edita e distribui para a comunidade um informativo com o nome

de “JORNAL DA COMPANHIA”; nele são expostas as ocorrências realizadas pela UPP, os

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projetos desenvolvidos, as melhorias na comunidade que tiveram participação da UPP, dicas de

cidadania e segurança, dentre outras informações.

5. ÍNDICES CRIMINAIS

A incidência criminal antes da implantação da UPP, havida em fevereiro de 2009,

registrou no período compreendido entre fevereiro e dezembro de 2008 a ocorrência de 07

homicídios, 14 roubos de autos e 25 roubos a transeuntes. No mesmo período do ano seguinte

foram registrados 02 homicídios, 02 roubos de autos e 06 roubos a transeuntes. Verifica-se

expressivas quedas nessas modalidades de delitos, conseqüentes da paz proporcionada pelos

trabalhos da Unidade de Polícia Pacificadora, com o engajamento dos representantes da

sociedade.

6. CONSEQUÊNCIAS DE ORDEM ECONÔMICA

A paz proporcionada pelas atividades do poder estatal, por meio do policiamento

comunitário, influenciou de forma contundente na especulação imobiliária, determinando que

os valores dos imóveis da comunidade e de zonas periféricas fossem elevados em até 100%,

bem como, acarretando significativos 80% de aumento na procura. Um fator que contribui para

a efetivação das negociações é a paz e a tranqüilidade experimentadas pelos corretores e

clientes ao transitar pela comunidade, quando em visita aos imóveis a serem vendidos ou

locados.

Quanto à influência nos valores dos seguros de autos, informa o Ilmo Sr. Presidente da

Federação Nacional de Seguros Privados (FENSEG) que os preços dos seguros dos veículos

automotores não se modificaram na área onde se implantou a UPP Batan, em razão da

diversidade dos critérios considerados, sendo, contudo, ponto positivo para que, agregado à

outras circunstâncias, venha a contribuir para a diminuição dos preços dos seguros dos veículos

na área considerada.

7. CRÍTICAS E SUGESTÕES

SEDE PRÓPRIA: Convém que a UPP possua sede própria; o prédio que a abriga atualmente,

por meio de contrato de locação, não possui estrutura apropriada para as atividades ali

desenvolvidas e não possui telefone fixo. Verifica-se ainda, precárias condições de ocupação,

como o alojamento dos graduados (com infiltrações e mofo) e número insuficiente de sanitários

para o efetivo diariamente empregado, apenas um as praças.

NORMATIZAÇÃO DA LOGÍSTICA: Independentemente dos recursos logísticos para

manutenção da UPP serem oriundos do 14º BPM, convém estabelecer regras que confiram ao

Comandante da UPP o conhecimento do que lhe cabe administrar, em espécie, quantidade e

qualidade, fortalecendo sua posição frente sua a tropa, bem como se evitando gastos pessoais.

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Também interessante mostra-se que não haja necessidade de deslocamento do efetivo para que

façam suas refeições.

APOIO TÉCNICO: Convém fornecer às UPP, em rotatividade, apoio técnico de profissionais

que possam avaliar, sugerir e/ou assessorar os trabalhos desenvolvidos junto à comunidade,

principalmente aqueles que envolvem crianças e idosos em programas de práticas desportivas.

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UNIDADE DE POLÍCIA PACIFICADORA DO CHAPÉU MANGUEIRA/BABILÔNIA

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho busca responder ao anseio do Governo do Estado do Rio de Janeiro

em avaliar o desempenho da política de segurança pública implementada ao longo de quatro

anos, realizado notadamente nas comunidades carentes. Visa também verificar se as metas de

desempenho estabelecidas foram cumpridas dentro dos padrões estipulados pela Secretaria de

Estado de Segurança, principalmente, diante dos reflexos da nova forma de policiamento

introduzido com as denominadas Unidades de Polícia Pacificadora.

A Polícia Militar sensível a esta necessidade, idealizou na Escola Superior de Polícia

Militar por meio do Curso Superior de Polícia Militar e do Curso de Aperfeiçoamento de

Oficiais do ano de 2010, a consecução de diversos estudos sobre o tema. Nesta divisão da

pesquisa, este grupo restringiu o seu campo de atuação às localidades conhecidas como Chapéu

Mangueira e Babilônia.

Formado por Oficiais Superiores e Intermediários, o grupo buscou extrair o máximo de

informações dos órgãos oficiais e também estabeleceu parâmetros alternativos, não usuais,

traduzidos em novos critérios de avaliação, que servirão de ponto de partida para a melhoria do

serviço policial militar prestado à população carioca.

Criada em 10 de junho de 2009, a Unidade de Polícia Pacificadora dos morros do

Chapéu Mangueira e Babilônia trás uma nova concepção de prevenção da ordem pública

obedecendo à função constitucional da PMERJ, traduzida em uma aproximação da população

com vistas ao resgate da cidadania pelo Estado, diante do quadro de abandono verificado na

ausência completa dos serviços públicos essenciais para a população destas comunidades,

situadas em pontos chaves da cidade.

2. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA DE CAMPO

2.1 - Avaliação dos índices criminais das quatro modalidades escolhidas pela SESEG para

premiação por metas, desde a instalação da UPP

Com base em estatísticas oficiais da Secretaria de Estado de Segurança do Rio de

Janeiro disponibilizadas na página virtual daquele Órgão, verificou-se os indicadores criminais

correspondentes aos delitos homicídio doloso, roubo de veículos, roubo a transeunte, roubo de

celulares e roubo a coletivo. Os valores estão equacionados no gráfico da figura ¨a¨ e

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representam o período compreendido entre os meses de janeiro e abril dos anos de 2007 a

2010, na área da 12˚ Delegacia Policial, distrito policial que integra a 19˚ AISP (Área Integrada

de Segurança Pública).

Figura “a”

Fonte NuPESP - ISP

O entendimento do grupo a cerca dos valores expostos no gráfico da figura “a”,

demonstra que os valores relativos ao índice roubo de veículos sofreu uma acentuada queda,

chegando em valores absolutos ao número ¨zero¨.

Também merece registro o percentual de 36,84% de redução nos valores pesquisados

no quesito roubo de celulares para o citado período.

No quesito roubo a coletivo observamos uma redução 29,41% para período em

referência.

Em relação aos roubos a transeuntes, verificamos que houve um aumento de 3,4%, vale

ressaltar, entretanto, que tal índice pode estar associado a outros fatores não identificados até a

presente data que podem corroborar com o valor obtido.

Analisando o quadro estatístico apresentado para homicídio doloso, destacamos que o

índice obtido para o período no ano de 2008 chegou à zero. Tal valor demonstra que mesmo

sem a instalação da UPP na localidade, o índice de incidência desta modalidade criminosa não

acompanhava os índices dos demais delitos. Em uma avaliação criteriosa, este valor poderia

influir nos dados da pesquisa. Desta maneira o grupo deixa de oferecer a avaliação quanto ao

aumento ou diminuição nos valores absolutos para o crime de homicídio.

510

202

27 29

09

216

29 28

413

203

2028

1 0

214

16 20

0

50

100

150

200

250

JAN-ABR07 JAN-ABR08 JAN-ABR09 JAN-ABR10

19ª AISP (12ª DP) PERÍODO JAN-ABR 07 A JAN-ABR 10

HOMICÍDIO DOLOSO

ROUBOS DE VEÍCULO

ROUBO A TRANSEUNTES

ROUBO DE CELULARES

ROUBO A COLETIVOS

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Como critério de avaliação, o grupo de pesquisa utilizou a seguir indicado. Obteve-se a

média dos valores relativos aos meses de janeiro a abril dos anos de 2007 a 2009, período em

que a UPP ainda não havia sido instalada.

De posse deste valor, realizamos uma comparação percentual com valor identificado no

gráfico para o período compreendido entres os meses de janeiro a abril de 2010.

A figura ¨b¨ indica os indicadores criminais, ainda para os delitos mencionados,

entretanto, mede-se a ocorrência dos delitos no período compreendido entre os meses de julho

a dezembro, relativos aos anos de 2007 a 2009, tanto para a circunscricional citada quanto para

a Área Integrada de Segurança Pública.

Figura “b”

Fonte NuPESP - ISP

Os integrantes do grupo de estudo identificaram como mudança significativa a redução

de roubo a veículos, a celulares e a transeuntes.

Iniciamos a discussão mencionando que houve um aumento do número de homicídios

na ordem de 100%, mas este valor deve ser observado com ressalvas. Os índices indicam para

o período entre os anos de 2007 e 2008, um número de homicídio, no ano de 2009, o valor sobe

para dois homicídios, destaque-se que são valores extremamente baixos para se poder dizer que

efetivamente ocorreu um aumento.

118

239

4533

116

361

32 31

2 11

342

29 27

0

50

100

150

200

250

300

350

400

JUL-DEZ 07 JUL-DEZ 08 JUL-DEZ 09

19ª AISP (12ª DP) 2º SEM 2007 a 2009 + JAN-ABR 2010

HOMICÍDIO DOLOSO

ROUBOS DE VEÍCULO

ROUBO A TRANSEUNTES

ROUBO DE CELULARES

ROUBO A COLETIVOS

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No quesito roubo a veículos, observamos uma queda percentual na ordem de 35,3%

para o citado período, compreendido entre a ausência da UPP e a sua instalação.

No delito tipificado como roubo na modalidade a transeunte ocorreu um aumento de

14% para o citado período, compreendido entre a ausência da UPP e a sua instalação.

Com relação aos roubos a celulares, avaliamos uma queda de 24, 67%, para o período

em destaque, compreendido entre a ausência da UPP e a sua instalação.

No que se refere aos coletivos, os roubos sofreram uma redução de 15,62%, para o

período compreendido entre a ausência da UPP e a sua instalação.

Destacamos que tais índices podem estar associados a outros fatores não identificados

até a presente data que podem corroborar com o valor obtido, seja para aumento ou para

diminuição dos valores.

Como critério de avaliação, o grupo de pesquisa utilizou a seguinte fórmula:

Obtivemos a média dos valores relativos aos meses de julho a dezembro dos anos de 2007 e

2008, período em que a UPP ainda não havia sido instalada, de posse deste valor, realizamos

uma comparação percentual com valor identificado no gráfico para o período compreendido

entres os meses de julho a dezembro do ano de 2009.

2.2 - Avaliação do mercado imobiliário da localidade (Chapéu Mangueira / Babilônia) e

nas proximidades, desde a instalação da UPP

Com base nos índices disponibilizados pelo Sindicato da Habitação (SECOVI) cuja

tabela se encontra na figura ¨c¨, a variação no valor dos imóveis situados no bairro de

Copacabana, ofertados para venda no período compreendido entre o mês de outubro de 2008 e

janeiro de 2010 obedeceu aos seguintes percentuais de valorização, conforme o abaixo

estabelecido:

• 01 (um) quarto – Variação positiva de 34,03%;

• 02 (dois) quartos – Variação positiva de 30, 38%;

• 03 (três) quartos – Variação positiva de 11,39%; e

• 04 (quatro) quartos – Variação positiva de 43,78%.

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Figura “c”

Copacabana - Venda Venda Var (%)

Out / 08

1 Quarto Jun/09

Jan/10

R$ 194.675 -

R$ 189.652 - 2,58%

R$ 254.199 34,03%

Out / 08

2 Quartos Jun/09

Jan/10

R$ 366.326 -

R$ 299.609 -18,21%

R$ 390.630 30,38%

Out / 08

3 Quartos Jun/09

Jan/10

R$ 408.106 -

R$ 539.411 32,17%

R$ 600.826 11,39%

Out / 08

4 Quartos Jun/09

Jan/10

R$ 603.571 -

R$ 861.473 42,73%

R$ 1.238.623 43,78%

Fonte: SECOVI Rio

Uma análise mais acurada dos valores expostos possibilita a conclusão de que desde a

instalação das Unidades de Polícia Pacificadora, os imóveis destinados à venda sofreram uma

valorização média de 29,89%.

Com base nos índices disponibilizados pelo Sindicato da Habitação (SECOVI) cuja

tabela se encontra na figura ¨d¨, a variação no valor dos imóveis ofertados para locação situada

em Copacabana no período compreendido entre o mês de outubro de 2008 e janeiro de 2010

obedeceu aos seguintes percentuais de valorização, conforme o abaixo estabelecido:

• 01 (um) quarto – Variação positiva de 3,31%;

• 02 (dois) quartos – Variação positiva de 5,44%;

• 03 (três) quartos – Variação positiva de 1,23%; e

• 04 (quatro) quartos – Variação positiva de 37,39%.

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Figura “d”

Copacabana – Locação Locação Var (%)

Out / 08

1 Quarto Jun/09

Jan/10

R$ 1.250 -

R$ 1.087 -13,04%

R$ 1.123 3,31%

Out / 08

2 Quartos Jun/09

Jan/10

R$ 1.794 -

R$ 1.598 -10,93%

R$ 1.685 5,44%

Out / 08

3 Quartos Jun/09

Jan/10

R$ 2.592 -

R$ 2.692 3,86%

R$ 2.725 1,23%

Out / 08

4 Quartos Jun/09

Jan/10

R$ 3.232 -

R$ 4.156 28,59%

R$ 5.710 37,39%

Fonte: SECOVI Rio

Em nova análise realizada, relativa aos valores de locação de imóveis, obtém-se a

conclusão de que desde a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora, os imóveis

destinados a locação sofreram uma valorização média de 11,84%.

2.3. Avaliação do mercado de seguros na citada localidade e proximidades, desde a

instalação da UPP

Louvado no conteúdo do ofício de renomada empresa atuante no ramo de seguros,

conhecida por MARKEDAV Monitoramento e Recuperação de veículos, o grupo deixa de

oferecer uma conclusão sobre os índices questionados, em razão da empresa se pautar nas

informações oriundas de sites oficiais para fins de cálculo de sinistralidade, que pode acrescer

em até 30% o valor total do seguro. No caso em comento, a citada aguardava os dados do site

da Secretaria de Estado de Segurança do Rio de janeiro, cujos valores encontram-se

desatualizados, inviabilizando uma conclusão sobre queda ou aumento nos índices de roubo ou

furto de veículos. A falta de parâmetro ocasionou a manutenção dos valores cobrados para o

ano de 2009.

Este óbice detectado nos traz a leitura de que só a manutenção dos valores representa

um ganho sobre a inflação compreendida para o ano citado. Com fulcro nos dados oficiais do

Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), índice oficial do Governo Federal

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para medição de metas inflacionárias, pode-se dizer que houve uma redução de 4,31% nos

valores dos seguros cobrados para roubo e furto de veículos.

2.4. Avaliação dos indicadores mais específicos para UPP, para medição da atuação da

UPP

O grupo visitou a comunidade piloto no projeto, realizou diversos contatos com os

moradores e com as instituições estabelecidas e em funcionamento. Neste quesito destacamos

que a Fundação de Apoio a Escola Técnica (FAETEC) responsável pelo ensino técnico-

profissionalizante apresentou um aumento de 20% no número de funcionários e de alunos.

Também houve destaque no atendimento do posto de saúde comunitário que culminou

com o aumento no seu horário de funcionamento.

2.5. Outros dados julgados importantes

Durante a pesquisa de campo, o grupo constatou a presença das seguintes parcerias do

serviço público com a comunidade: Creche Dona Marcela com aproximadamente cinqüenta

crianças, Posto de Saúde Comunitário no Chapéu Mangueira, Escola Comunitária Tia Percilia,

Creche Babylônia, Escola Municipal Santo Tomas de Aquino e a Fundação de Apoio a Escola

Técnica (FAETEC).

Das representações visitadas somente a Escola Municipal Santo Tomas de Aquino não

destacou qualquer mudança com a implementação da Unidade de Polícia Pacificadora com

relação à Segurança Pública.

Dentro do programa de aproximação com a comunidade somente a Escola Municipal

Santo Tomas de Aquino e o Posto de Saúde Comunitário Chapéu Mangueira não participaram

das medidas de segurança adotadas pela Unidade de Polícia Pacificadora.

Vale destacar que a pesquisa deixou neste item de oferecer os índices de aumento ou

diminuição, pois os responsáveis ao serem entrevistados não possuíam tal informação, bem

como não havia projeto para obtê-las.

2.6. Correções necessárias e propostas

* Melhoria das instalações físicas que já se encontram deterioradas pelo tempo. Tal

óbice pode ser constatado por meio das rachaduras, infiltrações e falta de água em alguns

cômodos;

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* Como melhoria na qualidade de vida dos policiais militares pertencentes ao efetivo da

UPP sugerimos a concessão de alguns benefícios tais como Riocard; e

* Como proposta o grupo entende como pertinente que os próximos policiais militares

sejam voluntários para o trabalho nesta nova concepção de policiamento, bem como também

sejam voluntários para participar no trabalho de capacitação para o policiamento comunitário e

respeito aos direitos humanos.

ANEXOS

FOTO 1 e 2– SEDE DA UPP

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FOTO 3 – SEDE DA UPP

FOTO 4 – SEDE DA ASSOCIAÇÃO DE MORADORES DA COMUNIDADE BABILÔNIA

FOTO 5 – GABINETE DA PRESIDENCIA DA ASSOCIAÇÃO DOS MORADORES

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FOTO 6 – ESCOLA TIA PERCÍLIA

FOTO 7 - FAETEC

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FOTO 8 – SEDE DA ASSOCIAÇÃO DE MORADORES DO CHAPÉU MANGUEIRA

FOTO 9 – POSTO DE SAÚDE COMUNITÁRIO

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FOTO 10 – VISTA DA UPP CHAPÉU MANGUEIRA - BABILÔNIA

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UNIDADE DE POLÍCIA PACIFICADORA PAVÃO-PAVÃOZINHO/CANTAGALO

1. INTRODUÇÃO

As Unidades de Policiamento Pacificadoras (UPP) representam uma importante

estratégia do Governo do Estado do Rio e da Secretaria de Segurança para recuperar territórios

perdidos para o tráfico e levar a inclusão social à parcela mais carente da população.

A UPP é um modelo de policiamento comunitário que busca aproximar a população e a

polícia, aliada ao fortalecimento de políticas sociais a serem implementadas pelo governo do

Estado nas comunidades.

Ao recuperar tal território ocupado há décadas por traficantes, a UPP leva a paz às

comunidades dos Morros Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, no bairro de Ipanema beneficiando

cerca de vinte mil habitantes, bem como dá mais um passo no plano de ampliação do cinturão

de segurança na Zona Sul.

2. HISTÓRICO DO COMPLEXO COMUNITÁRIO

O Pavão-Pavãozinho e Cantagalo formam um conjunto de favelas vizinhas dos bairros

de Copacabana e Ipanema na cidade do Rio de Janeiro. Segundo os indicadores oficiais as três

comunidades possuem oito mil habitantes, ou vinte mil, segundo a associação de moradores.

Menos de 10% dos domicílios são atendidos pela coleta de lixo, quase metade dos

chefes de famílias tem no máximo quatro anos de estudo, não há posto de saúde.

O Morro do Cantagalo é a sexta favela em expansão territorial, segundo levantamento

encomendado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, comparando-se com

outras setenta e nove comunidades do centro e zona sul. Entre os anos de 2002 e 2007, os

barracos avançaram três mil metros quadrados sobre as áreas de preservação ambiental.

No início da década de 30, surgiram os primeiros barracos, a região tinha, então, “ar

rural”, com pequenas hortas e criações. Uma das criações era a de pavões feita num lugar do

morro conhecido como “Matinha”. As pessoas costumavam dizer que iam pegar um atalho para

o morro “pelo pavão”.

O Pavão-Pavãozinho é habitado em muito por nordestinos. Os primeiros chegaram em

1938, fugindo da seca do Nordeste. As moradias da época eram feitas de tábuas de caixote e

cobertas de pedaços de lata que serviam de telhado. O aumento populacional trouxe problemas

como o acúmulo de lixo, que provocou a tragédia, como a da noite de natal de 1984, deixando

um saldo de mortos e feridos.

O Cantagalo, no início da sua ocupação, recebeu moradores de origem mineira. Os

primeiros barracos eram feitos de estuque. O seu nome também surgiu em virtude de uma

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grande criação, mas de galos, e as pessoas costumavam dizer “onde canta o galo”. Não há um

consenso sobre a história. Muitos moradores hoje chamam a favela de “Galo”. O próprio

sambista Bezerra da Silva, filho ilustre, canta na música “Aqueles Morros”, “Gosto de todos,

mas o Morro do Galo que é o meu lugar”.

No Cantagalo, foi erguido na década de 1960, o que seria o Hotel Panorama, nunca

inaugurado. Acabou funcionado ali, o restaurante Berro D`água, que tinha entre os atrativos a

vista para a Lagoa Rodrigo de Freitas. O restaurante deu lugar à TV Rio e a academia Lagoa

Sport Center, entretanto em 1986 o prédio foi desapropriado pelo então Governador Leonel

Brizola para abrigar o CIEP João Goulart.

Atualmente nas comunidades Pavão- Pavãozinho e Cantagalo, funcionam mais de vinte

organizações não governamentais, entre as quais o Afro Reggae, Dançando para Não Dançar,

Criança Esperança, em cujas oficinas estão matriculadas duas mil crianças, academia de boxe

(frequentada, inclusive, pelo “povo do asfalto”), rádio comunitária, escola de surfe, entre outros

projetos.

Para subir o Pavão- Pavãzinho existem duas maneiras. A primeira é andar a pé por

mais de 500 degraus até o topo; a segunda é cortar a metade do caminho por um bondinho que

tem cinco estações.

Foto: Gilson Camargo

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No ano de 2007, o Presidente Luis Inácio Lula da Silva e o Governador Sérgio Cabral

inauguraram as obras de urbanização do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

O Cantagalo foi pioneiro na modalidade de policiamento de proximidade, que aposta na

proximidade dos policiais com os moradores, recebendo o Grupamento de Policiamento em

Áreas Policiais – GPAE, porém este modelo criou situações ambíguas, como o posto policial a

poucos metros de bocas-de-fumo, bem como não conseguiu resolver algumas situações que os

moradores consideram abusivas, como a questão do “gato-net”, e o ágio cobrado sobre os

preços dos botijões de gás e da água.

Em 23 de dezembro de 2009, as comunidades do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo

sofreram nova ocupação da Polícia Militar, desta vez pelo BOPE, o objetivo era expulsar

traficantes e implantar a quinta Unidade de Polícia Pacificadora, que foi inaugurada em 23 de

dezembro de 2009, sob o comando do Capitão Leonardo Nogueira.

(Fontes: O Globo, Favela Tem Memória).

3. INSTALAÇÃO DA UPP

O levantamento, que mediu o impacto do tráfico naquele local, foi realizado por

integrantes de uma força tarefa que reuniu representantes das subsecretarias de Inteligência e

Planejamento e Integração Operacional da Secretaria de Estado de Segurança, Polícia Civil,

Polícia Militar e do Instituto de Segurança Pública (ISP).

Na manhã do dia 30 de novembro de 2009, cerca de 300 policiais iniciaram o processo

de ocupação dos morros Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, na Zona Sul do Rio, nesta

oportunidade foram apreendidos oito granadas, um fuzil, duas submetralhadoras, uma pistola

9mm e carregadores de vários calibres.

No dia 23 de dezembro de 2009 foi inaugurada a Unidade de Polícia Pacificadora

Cantagalo e Pavão-Pavãozinho, a quinta UPP da Capital e a terceira implantada na Zona Sul do

Rio, ao lado da UPP Santa Marta e da UPP Babilônia/Chapéu Mangueira.

O golpe nas finanças do tráfico foi significativo. Segundo dados da Inteligência, as

bocas-de-fumo da facção criminosa que dominava o local – entre os bairros de maior poder

aquisitivo da Zona Sul – rendiam cerca de R$ 220 mil por mês (em baixa temporada) e até R$

330 mil (em períodos de fim de ano, como réveillon e Carnaval).

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Foto: Gilson Camargo

A Foto 1 apresenta a demarcação da região do Pavão-Pavãozinho/Cantagalo, no bairro

de Ipanema, Zona Sul da Cidade.

Área de Ocupação da UPP

Fonte: SESEG

Um estudo que antecedeu a ocupação das comunidades do Cantagalo e Pavão-

Pavãozinho, realizado pela Secretaria de Estado de Segurança e pela Polícia Militar, revela a

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área dos bairros de Ipanema e de Copacabana que poderia ser alvo de uma bala de fuzil

disparada por traficantes a partir de pontos diversos das duas favelas, conforme a Foto 2.

Distância de alcance do disparo de fuzil.

Fonte: SESEG

Foram avaliados pela SESEG os índices de criminalidade, tais como o homicídio

doloso, encontro de cadáver, crimes contra o patrimônio, roubos de veículo, roubos de rua, auto

de resistência e furto, como também outros fatores que poderiam contribuir na decisão da

ocupação da comunidade em questão.

Com a implantação da UPP e consequente redução de alguns indicadores de violência

no entorno das comunidades do Cantagalo e Pavão-Pavãozinho, as áreas adjacentes e a orla

marítima voltaram a ser ponto de atração turística, melhorando a circulação de turistas

nacionais e internacionais, o que era praticamente inimaginável tempos atrás.

Foto: Gilson Camargo

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4. VARIAÇÃO DOS ÍNDICES CRIMINAIS

Gráfico 1 – Variação de Homicídio Doloso em Números Absolutos

Fonte: ISP

O gráfico 1 indica a incidência de homicídio doloso desde a implantação da UPP

Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, comparado ao mesmo período do ano anterior à sua

implantação. Nos meses de dezembro de 2009 e janeiro de 2010 houve um caso de homicídio

doloso, voltando nenhum caso nos meses de Fevereiro e Março de 2010.

Gráfico 2 – Variação de Roubo de Veículos em Números Absolutos

Fonte: ISP

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O gráfico 2 nos mostra o índice de roubo de veículo desde a implantação da UPP

Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, comparado ao mesmo período do ano anterior à sua

implantação. Nos meses de Fevereiro e Março de 2010 não houve casos de roubo de veículos.

Gráfico 3 – Variação de Roubo de Rua em Números Absolutos

Fonte: ISP

O gráfico 3 apresenta o índice de roubo de rua desde a implantação da UPP Pavão-

Pavãozinho e Cantagalo, comparado ao mesmo período do ano anterior à sua implantação. Nos

meses considerados de dos anos de 2009 e 2010 os casos de roubo de rua permaneceram

estáveis.

Destaque-se que no período mensurado não houve qualquer ocorrência de latrocínio.

A melhor técnica de análise de indicadores de roubo e furtos de veículos recomenda a

ponderação do número absoluto de casos pela frota existente, no caso específico a ponderação

deve ser da taxa de roubos de veículos por 10.000 (dez mil) veículos. Como a casuística é

muito baixa tal análise não foi possível.

A melhor técnica de análise de indicadores de roubo de rua e de homicídio doloso

recomenda a ponderação do número absoluto de casos pelo número de habitantes, no caso

específico a ponderação deve ser da taxa de roubos de rua e/ou de homicídio por 100.000 (cem

mil) habitantes. Como a casuística é pequena, tal análise não foi possível.

5. VARIAÇÃO NO MERCADO IMOBILIÁRIO

A valorização de um imóvel comercial ou residencial se dá por meio de vários fatores,

podemos destacar alguns: proximidade de clubes e praças; bons colégios e outras instituições

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culturais como biblioteca, teatro, cinemas; oferta de transportes e de fácil acesso como metrô,

ponto de táxi ou de ônibus; localização fora da área de poluição sonora e ambiental; em rua

exclusivamente residencial, bem iluminada e arborizada, ou em local de frente para o mar,

lagoa, baía, montanhas ou, pelo menos, com vista voltada para esses locais.

Atualmente, o mercado imobiliário considera além dos fatores acima, a estabilidade da

economia, as alterações promovidas na Lei do Inquilinato, que permite a retomada mais rápida

do imóvel, por falta de pagamento, e no caso, especificamente, da cidade do Rio de Janeiro, a

instalação das Unidades de Polícia Pacificadora. Segundo Rubem Vasconcellos, diretor da

Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Rio de Janeiro (Ademi-RJ),

quando se oferece segurança, o aumento das vendas é quase imediato.

Em 23 de dezembro de 2009, as comunidades do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo foram

contempladas com a quinta Unidade de Polícia Pacificadora, gerando uma valorização dos

imóveis da região. Levantamento feito pelo Centro de Pesquisa e Análise da Informação

(CEPAI) do Sindicato da Habitação do Rio de Janeiro (SECOVI) registrou uma valorização dos

imóveis usados de até 126%, na comparação com o mesmo mês do ano anterior. O destaque foi

para Ipanema, Copacabana, Botafogo. Um imóvel residencial de quatro quartos em Ipanema

subiu 126,63%. Os imóveis localizados nas ruas Saint Roman, em Ipanema, e Sá Ferreira, em

Copacabana foram os mais valorizados.

Antes da ocupação, os moradores e comerciantes da comunidade, bem como das

adjacências sofriam com a violência e percebiam ano a ano a desvalorização dos seus imóveis,

mas com a UPP este quadro mudou, provando o sucesso desta nova modalidade de

policiamento. (Fonte: O Globo, SECOVI RIO, Ademi-RJ)

6. VARIAÇÃO DO MERCADO DE SEGUROS

Prejudicada. Até o final deste trabalho não recebemos quaisquer informações a

respeito da variação do mercado de seguro, apesar das solicitações realizadas junto aos Órgãos

competentes.

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7. AVALIAÇÃO DOS INDICADORES MAIS ESPECÍFICOS PARA MEDIÇÃO DA

ATUAÇÃO DA UPP

Gráfico 4 – Avaliação, em percentuais, da segurança após a implantação das UPPs

Fonte: IBPS

O gráfico 4 aponta que em relação à segurança 93% da comunidade hoje se sente

segura ou muito segura.

Gráfico 5 - Percepção da segurança após a implantação das UPPs em percentuais

comparando-se ao ano anterior

Fonte: IBPS

Do gráfico 5 pode-se verificar que para 86% da comunidade a segurança está melhor ou

muito melhor após a instalação das UPPs, isto em relação ao ano anterior.

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Gráfico 6 – Avaliação, em percentuais, da ocorrência de delitos nas comunidades com

UPPs

Fonte: IBPS

O gráfico 6 indica as constatações dos moradores das comunidades onde estão

instaladas as UPPs, no que se refere à incidência de ilícitos. Dos moradores, 18% ainda vêem

homens circulando armados, 30% ainda constatam a venda de drogas, 30% ainda verificam o

consumo de drogas, 12% ainda observam a existência de tiroteios e 11% ainda vêem a

existência de execuções.

Gráfico 7 – Avaliação sobre acesso a serviços básicos após implantação das UPPs

Fonte: IBPS

O gráfico 7 salienta que mais de 80% dos moradores das comunidades consideradas já

tinham acesso à energia elétrica, saneamento e coleta de lixo antes das instalações das UPPs.

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Gráfico 8 – Avaliação de desempenho para a guarnição da UPP de sua comunidade

Fonte: IBPS

O gráfico 8 apresenta a avaliação que as comunidades fazem sobre a atuação das UPPs,

numa escala de 0 a 10. Interessante observar que 77% das notas estão entre 7 e 10.

Fonte: Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS).

Pesquisa realizada com 600 moradores das sete comunidades (Cidade de Deus (44%),

Babilônia (4%), Chapéu Mangueira (2%), Santa Marta (5%), Jardim Batam (33%),

Cantagalo (6%), Pavão-Pavãozinho (6%)) nas quais já se encontram em operação as UPPs.

A amostra foi definida em função do sexo, idade e local de moradia dos respondentes com

seleção aleatória de entrevistados. A margem de erros é de 4,0%.

8. CORREÇÕES NECESSÁRIAS E PROPOSTAS

* Características Gerais da UPP: A Unidade de Polícia Pacificadora responsável pelo

policiamento nas comunidades do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo conta com 203 policiais

militares para uma área de atuação que abrange aproximadamente 9.500 moradores e foi

inaugurada no dia 23 de dezembro de 2009, é a quinta UPP e a terceira implantada na zona sul

do Rio de Janeiro, passando a formar um corredor de segurança ao longo da orla, do Leme à

praia de Ipanema. A UPP é comandada desde a sua inauguração pelo CAP PM Leonardo

Nogueira.

* Correções e Propostas: Implantação de UPPs em comunidades localizadas em áreas que não

a zona sul da cidade do Rio de Janeiro; até o momento, foram contempladas com UPPs as

seguintes comunidades: Santa Marta (zona sul), Pavão-Pavãozinho-Cantagalo (zona sul),

Tabajaras-Cabritos (zona sul), Babilônia-Chapéu Mangueira (zona sul), Providência (centro),

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Jardim Batam (zona oeste), Cidade de Deus (zona oeste) e Borel (zona norte). Sendo que a

primeira UPP inaugurada na zona norte contempla uma área de classe média, adjacente ao

centro e zona sul e uma área com características semelhantes, havendo, portanto, necessidade

de uma distribuição mais heterogênea, em regiões mais carentes da zona norte e baixada

fluminense. Há o risco de uma migração do crime organizado, das regiões ocupadas para as

regiões desocupadas, aumentando os índices de violência dessas regiões;

* “Rodízio” do efetivo das UPPs: A polícia com características de proximidade, trás como

consequência alto grau de intimidade entre as pessoas; em muitos casos tal intimidade

determina atritos entre policiais e moradores como podemos verificar no crescimento de

ocorrências de desacato à autoridade;

* Maior fiscalização do Poder Público: Para coibir construções irregulares e cumprimento da

obrigatoriedade de registrar o imóvel com planta, mapeando de forma detalhada todas as

habitações das comunidades ocupadas, proibindo expansões desordenadas no futuro. A

implantação das UPPs, como já dito, traz como consequencia à diminuição da violência nas

áreas contempladas, havendo valorização dos imóveis para locação e venda, ocasionando maior

exploração imobiliária com o crescimento vertical e desordenado de suas construções com

objetivos comerciais, o que em longo prazo representará um gasto social muito alto;

* Utilização de armamento não-letal para os policiais das UPPs: Em razão da proximidade

dos policiais com a comunidade, estes, muitas vezes são acionados para mediação de conflitos

como brigas em bares e brigas domésticas; há a necessidade de treinamento para que o policial,

em determinadas situações, disponha de armamento não-letal para a resolução de conflitos de

menor potencial ofensivo diminuindo o risco para pessoas não envolvidas;

* Instalação de câmeras de segurança: Nas localidades da comunidade onde não há a

presença permanente do policial, faz-se necessário tal recurso, facilitando, deste modo, o

deslocamento do policial para qualquer problema naquele local, bem como também nas vias de

acesso à comunidade;

* Maior interação entre as UPPs e Associações de Moradores: Com o intuito de promover

projetos sociais voltados para a educação, esportes e artes, bem como, maior interação com os

demais órgãos públicos a fim de dispor de serviços que antes os moradores não tinham acesso

como coleta de lixo periódica, manutenção da iluminação pública, investimento em postos de

saúde, áreas de lazer, monitoramento constante da defesa civil a fim de evitar futuros

deslizamentos com as chuvas, entre outros.

9. PROJETOS DESENVOLVIDOS PELA UPP PAVÃO-PAVÃOZINHO/CANTAGALO

* Escolinha de Futsal: Desenvolvido por iniciativa da UPP em parceria com os moradores da

comunidade onde os próprios policiais da Unidade, formados em educação física, dão instrução

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para 100 crianças na faixa etária de 4 à 15 anos, às terças e quintas-feiras, na quadra interna do

Espaço Criança Esperança. Busca-se maior interação da comunidade com a Polícia Militar e

principalmente, contribuir para o desenvolvimento social das crianças, dando novas

perspectivas de vida e, ainda, contribuindo para a imagem positiva da atuação policial junto à

comunidade;

* Aula de Música: Por iniciativa do próprio Comandante da UPP Pavão-

Pavãozinho/Cantagalo, formado em percussão na Escola de Música Villa-Lobos, crianças da

comunidade vem recebendo aulas de percussão, sendo a música também utilizada como uma

ferramenta para combater a exclusão social.

10. CONCLUSÃO

Sem dúvida, as UPPs constituem uma forma inovadora de prevenção ao crime. De

modo geral, elas têm apresentado bons resultados, melhorando significativamente a sensação de

segurança entre os moradores diretamente beneficiados. A divulgação pela mídia da atuação

das UPPs tem ampliado as expectativas positivas quanto à segurança da população de toda a

cidade.

Tudo isso é positivo e faz das UPPs uma aposta que pode vir a se consolidar e continuar

tendo bons resultados, mas, como qualquer outra iniciativa, precisa ser acompanhada, criticada

e orientada e, se necessário, receber os devidos ajustes tanto na sua concepção como na prática

a fim de atender as demandas da sociedade, para se estabilizar como uma forma de intervenção

pública democrática, eficiente e eficaz.

Em última análise, pode-se constatar que a UPP Pavão-Pavãozinho/Cantagalo vem

desempenhando um excelente papel como polícia comunitária, há interação entre a segurança

pública e a comunidade, por meio de projetos sociais pioneiros, entretanto, como em outras

UPPs, há a necessidade de ajustes, principalmente, na atuação policial militar e na interação

com os demais órgãos públicos, para que por meio dessas ações seja possível a diminuição cada

vez maior dos índices criminais e consequentemente, com a redução da violência, um maior

desenvolvimento social nessas comunidades mais carentes.

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UNIDADE DE POLÍCIA PACIFICADORA – TABAJARA/CABRITOS

HISTÓRICO

Copacabana significa “olhador do azul” em língua quechua, descendentes dos incas que

habitavam a região do sul do lago Titicaca.

Até o final do século XIX, Copacabana não passava de uma área ainda bastante isolada

do resto da cidade, principalmente do Centro e de Botafogo.

Copacabana ainda era um areal deserto quando, no século XVII, pescadores levantaram

uma capela no extremo sul da praia e introduziram nela uma reprodução da imagem de Nossa

Senhora de Copacabana, de origem boliviana. Levada ao Brasil por mercadores de prata

peruanos, a imagem terminou por dar nome à praia e ao bairro. Mais tarde, com a construção

do forte de Copacabana, a histórica capela foi demolida.

Em 1858, a notícia de que duas enormes baleias brancas jaziam nas areias de

Copacabana despertou a curiosidade dos cariocas, o que começou a atrair a atenção dos

habitantes da cidade para a praia.

A urbanização da região começou com a abertura do Túnel Velho e a chegada da linha

de comboios da linha da Companhia Ferro-Carril Jardim Botânico, em 1892. Duas empresas

imobiliárias começaram a lotear os terrenos do bairro e, em 1917, Copacabana já tinha 45 ruas,

uma avenida, quatro praças e dois túneis. A Avenida Atlântica foi inaugurada em 1906 pelo

prefeito Francisco Pereira Passos e alargada em 1819, durante a gestão de Paulo de Frontin.

LADEIRA DOS TABAJARAS

Em meados do século XIX, D. Pedro costumava passar por uma trilha conhecida como

“caminho do boi” para encurtar o percurso entre o Jardim Botânico e a região litorânea. Por

obra de José Martins Barroso, em 1855, morador de Botafogo, tomou a iniciativa de construir

outra opção de acesso - a maior parte seria feita nas suas terras. Reuniu assinaturas de

moradores das ruas Real Grandeza, Berquó, São Clemente, Jardim Botânico e Rua do Pasmado

(mais tarde Rua da Passagem) e enviou à Câmara. Os vereadores não só autorizaram como

também forneceram a Barroso quatro operários e oito escravos. Já as ferramentas e refeições

ficariam por conta de José Martins Barroso. A trilha logo se transformou na primeira estrada de

meia rodagem ligando os bairros de Copacabana e Botafogo. Em homenagem ao seu fundador,

o caminho passou a se chamar Ladeira do Barroso. Apenas 62 anos mais tarde é que o nome

Ladeira dos Tabajaras veio a ser adotado, como uma homenagem aos índios Tabajaras. Essa

tribo vinda do nordeste habitava os morros de São João e da Saudade, ambos cortados pela

Ladeira.

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Os índios tabajaras, “... oriundos da bacia do Rio São Francisco, chegaram em 1584

após batalhas e perseguições sofridas por aquelas bandas” (cf José Octávio de Arruda Mello

em sua “História da Paraíba - Lutas e Resistência”). Os tabajaras tinham certa experiência no

convívio com os portugueses desde quando, na Capitania da Bahia, lhes auxiliaram em lutas e

até mesmo na captura de outros indígenas para trabalhos forçados. Mas era uma relação do tipo

“um olho no gato e outro no peixe”, pois também tiveram muitos da sua tribo capturados e

mortos pelos “perós”, como os chamavam. Em 1585, entraram em desentendimento com os

potiguaras. O fato ensejou um acordo do cacique Piragibe (Braço de Peixe) com o capitão João

Tavares, possibilitando a união de forças que resultaria na derrota dos índios potiguaras e a

tomada do seu território. Ao se estabelecerem na região, ocuparam todo o baixo da margem

direita do Rio Sanhauá, onde atualmente está o bairro da Ilha do Bispo. Hoje, na Paraíba,

encontram-se alguns descendentes em grupos sem qualquer identidade nos municípios de

Alhandra, Conde, Gramame e Santa Rita.

POPULAÇÃO

O bairro tem 147.021 habitantes estáveis, dos quais 61.515 são homens e 85.506

mulheres. A proporção de gênero em Copacabana é de 71,92 homens para cada 100 mulheres,

o que constitui o menor índice de presença masculina nos bairros do Rio de Janeiro.

Apresenta uma densidade populacional de 358,51 habitantes por hectare. Há 61.807

domicílios (encontra-se na terceira posição entre os bairros de Rio com mais domicílios), dos

quais 18.416 têm um único morador; 19.589 são habitados por duas pessoas e 11.780 com três

pessoas.

Copacabana é a principal área de concentração de pessoas em situação de rua (sem

domicílio) da Zona Sul. Cerca de 29% das pessoas que vivem nas ruas de Copacabana são

mulheres, e o número de meninos e adolescentes é maior que a média da cidade, chegando a

21,2%. A maioria (27,6%) terminou vivendo na rua por conflitos familiares, enquanto cerca de

25,9% alegou desemprego e 5,3% por fazer pelo uso de drogas.

Segundo dados de 2004, as favelas localizadas em Copacabana ocupavam 159.955,5

metros quadrados, o que representa um crescimento de 3.091,4 metros quadrados se comparado

ao ano de 1999. As comunidades da Ladeira dos Tabajaras e Cabritos contam atualmente com

cerca de 3.000 (três mil) moradores. O Bairro de Copacabana conta atualmente com um

Batalhão convencional da Polícia Militar (19º BPM), cujo efetivo é de 372 policiais militares,

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além do Batalhão de Policiamento em Áreas Especiais (BPTur), com efetivo de 218 policiais

militares. Possui ainda, duas Delegacias de Polícia Civil (12ª e 13ª DPs). Em 15 de janeiro de

2010, foi inaugurada a Unidade de Polícia Pacificadora da Ladeira dos Tabajaras e Cabritos,

ainda em condições precárias, com policias alojados em um conteiner. A unidade é comandada

pela Capitão Policial Militar Rosana Alves de Souza e conta com 132 (cento e trinta e dois)

policiais militares.

1. VARIAÇÃO DOS ÍNDICES CRIMINAIS DAS QUATRO MODALIDADES

ESCOLHIDAS PELA SESEG

A unidade possui apenas 6 meses desde que foi implantada, não havendo ainda dados

concretos sobre a variação dos índices criminais apontados pelo sistema de metas,

implementados pelo Governos do Estado, no interior da comunidade. Contudo, a 19ª AISP,

que é a área de segurança integrada que abrange as comunidades do Tabajara e Cabritos

registrou as seguintes melhorias nos indicadores de criminalidade:

Último trimestre de 2009 Homicídio 03

Latricínio 01

Roubo de

veículos

12

Roubo de rua 356

Primeiro trimestre de 2010

Homicídio 01

Latricínio 00

Roubo de

veículos

02

Roubo de rua 341

2.VARIAÇÃO DO MERCADO IMOBILIÁRIO

Não obstante, o Sr. Alexandre Lopes, Diretor do Departamento de Avaliação

Imobilárias da Bolsa de Negócios do Rio de Janeiro, atestar que as Unidades de Polícia

Pacificadoras vêm ocasionando a valorização nas comunidades de forma gradativa, como

exemplo a UPP no Morro Santa Marta, inaugurada em dezembro de 2008, no qual após um ano

de sua implantação registrou uma valorização que chegou a 100% nos imóveis da comunidade

e, no entorno, de cerca de 30% nos imóveis próximos (logradouros de acesso e adjacentes),

acredita-se que tal fenômeno só se dará na Ladeira dos Tabajaras após um ano de implantação

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da unidade. Ainda segundo Alexandre, a tendência de valorização para os imóveis da Ladeira

dos Tabajaras deverá seguir a mesma lógica que ocorre atualmente no Morro Santa Marta.

Já a pesquisa realizada pelo Sindicato da Habitação do Rio de Janeiro (Secovi-RJ), feita

para a TV Brasil, atesta que a valorização chegou a marca de 149% a mais no preço de um

apartamento de quatro quartos em Copacabana, fato ocorrido depois que as UPPs se tornaram

vizinhas destes endereços.

Um exemplo da valorização dos imóveis no Morro dos Cabritos e na vizinha Tabajaras

é o apartamento, no segundo andar, do prédio em frente à sede da associação – com três

quartos, sala, cozinha, banheiro e varanda. Depois de meses oferecido por R$ 50 mil, foi

vendido, na semana passada, por R$ 72 mil, graças à presença da UPP na Rua Euclides da

Rocha, a principal da favela.

Outro fator determinante para o aquecimento do mercado imobiliário nas favelas, onde

está presente a polícia pacificadora, é a expectativa de melhoria de vida de um modo geral,

como explica Hilda Cardoso, corretora informal de imóveis, procurada por comerciários,

ambulantes e outros profissionais de classe média baixa que vivem distantes da zona sul.

3. VARIAÇÃO DO MERCADO DE SEGUROS

O mercado de seguro, por meio de sua representação de classe FENASEG – Federação

Nacional das Empresas de Seguro está atenta e desenvolveu uma pesquisa de mercado voltada

à redução dos custos de seguros nas ruas e bairros que já contam com as Unidades de Polícia

Pacificadora, e esperam em curto prazo que os seguros nas ruas dos bairros onde já existam

essas unidades possam reverter em descontos nos custos de seguro de até 20% (vinte por cento)

e remover as restrições de trânsito de veículos de carga nessas localidades.

Estatísticas estão em curso, mas o mercado de seguros já sente uma reversão na curva

de sinistros ocorridos nas ruas próximas às localidades onde estão as Unidades de Polícia

Pacificadora em até 70% (setenta por cento). A prevalecer esses índices, as seguradoras devem

promover ofertas a custos mais atrativos aos segurados e incentivar a cultura de seguros

populares nas comunidades do Rio de Janeiro.

4. AVALIAÇÃO DOS INDICADORES MAIS ESPECÍFICOS PARA A MEDIAÇÃO DA

ATUAÇÃO DAS UPPs

Após pesquisas realizadas pelo grupo não foi constatado outro indicador que servisse

como parâmetro para mediação da atuação da UPP, tendo em vista o pouco tempo de

implementação da mesma na comunidade.

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5. CORREÇÕES NECESSÁRIAS E PROPOSTAS

* Melhoria das instalações físicas;

* Implementação de programas sociais do governo do Estado, bem como da própria

Corporação, como o PROERD;

* UPP verde;

* Atendimento às mulheres vítimas de violência doméstica;

* Atendimento às crianças e adolescentes vítimas de maus-tratos;

* Confecção de Termo Circunstanciado;

* Realização de pesquisa de opinião sobre a atuação da UPP;

INAUGURAÇÃO DA UPP LADEIRA DOS TABAJARAS/CABRITOS

- 15 de janeiro de 2010 -

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UNIDADE DE POLÍCIA PACIFICADORA - PROVIDÊNCIA

1. INTRODUÇÃO

Considerada oficialmente a primeira favela do Rio de Janeiro, o Morro da Providência,

que fica atrás da Central do Brasil, foi batizado no final do século 19 como Morro da Favela,

daí também a origem do nome, que se espalhou depois por outras comunidades carentes do Rio

de Janeiro e do Brasil. Os primeiros moradores do Morro da Favela foram ex-combatentes da

Guerra de Canudos que se fixaram no local por volta de 1897. Cerca de 10 mil soldados foram

para o Rio com a promessa do Governo de ganhar casas na então capital federal. Como os

entraves políticos e burocráticos atrasaram a construção dos alojamentos, os ex-combatentes

passaram a ocupar provisoriamente as encostas do morro e por lá acabaram ficando.

Tanto a origem do nome “favela” quanto “Providência” remetem à Guerra de Canudos,

travada entre tropas republicanas e seguidores de Antônio Conselheiro no sertão baiano. Favela

era o nome de um morro que ficava nas proximidades de Canudos e serviu de base e

acampamento para os soldados republicanos. Faveleiro é também o nome de um arbusto típico

do sertão nordestino.

Quando os soldados desembarcaram no Rio de Janeiro, após a sangrenta e vitoriosa

campanha contra os seguidores de Antônio Conselheiro, o Morro da Favela era tomado por

uma vegetação rasteira. Segundo relatos, entre os arbustos da região eles poderiam ter

encontrado o mesmo faveleiro típico do sertão, daí a inspiração do nome favela continua a ser

usado até hoje por moradores antigos. A primeira associação de moradores da comunidade, por

exemplo, fundada nos anos 60, ainda adota em seus estatutos o nome oficial de Associação Pró-

melhoramento do Morro da Favela.

Já o nome Providência, que passou a ser usado a partir dos anos 1920 e 1930, seria uma

referência a um rio nas proximidades de Canudos.

O fato de ter sido a primeira favela do Rio, no entanto para muitos, deve-se ao fato de,

pela localização, o Morro da Favela ser a comunidade mais visível. Nessa mesma época, final

do século XIX, já existiam núcleos de mesmas características em outras partes da cidade, como

no Morro do Castelo e no Morro de Santo Antônio, ambos no Centro.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1. Instalação da UPP do Morro da Providência

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No dia vinte e dois de março de 2010 deu-se inicio a instalação da Unidade

Pacificadora do Morro da Providencia. Na primeira fase participam da ação 335 homens - 150

homens do Batalhão de Choque; 95 homens do BOPE e outros 90 homens do Grupamento de

Policiamento em Áreas Especiais - GPAE.

2.2. Área de atuação

A área de atuação da UPP da Providencia beneficiará três comunidades: Morro da

Providência, Favela Pedra Lisa e Favela Moreira Pinto. A instalação da UPP beneficiará

diretamente estas comunidades.

2.3. - Área de influência

As áreas próximas ao Morro da Providência, tais como a Central do Brasil e toda área

da zona portuária, onde circulam aproximadamente 600 mil pessoas, serão beneficiadas

indiretamente.

2.4. População beneficiada

Segundo senso do IBGE realizado no ano 2000 existem cerca de dez mil moradores no

Morro da Providência, Favela Pedra Lisa e Favela Moreira Pinto.

2.5. Principais Índices de Violência verificados na região

O Morro da Providência pela sua proximidade com a área da Central do Brasil e zona

portuária tem como seus principais crimes o tráfico de drogas e o crime contra o patrimônio,

principalmente na modalidade roubo de rua que envolve principalmente roubos de celular e

também o roubo a transeunte. A instalação da UPP cria uma expectativa positiva em relação à

diminuição dos índices de criminalidade nestas áreas.

2.6. Expectativas de valorização dos imóveis com a instalação da UPP

A instalação das UPPs tem determinado considerável valorização dos imóveis

localizados nas suas imediações, entretanto, devido ao pouco tempo de instalação da UPP da

Providência não foi possível verificar junto ao Centro Estatístico do Sindicato da Habitação do

Rio de Janeiro (SECOVI), esta valorização, como mostra a entrevista com o Sr. Mauricio Eiras

Mesquita diretor daquele órgão.

2.6.1. ENTREVISTA

Esta entrevista foi realizada em 13 de maio de 2010, com o Sr. Maurício Eiras

Mesquita, Estatístico do Sindicato de Habitação do Rio de Janeiro (SECOVI).

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O objetivo da entrevista foi verificar se a implantação da Unidade de Polícia

Pacificadora (UPP) da Comunidade da Providência acarretou alguma mudança no mercado

imobiliário na comunidade ou em seu entorno.

Foi abordado pelo Sr. Maurício que foi verificada alguma alteração, especificamente

nas áreas contempladas pelas UPP, principalmente nas mais antigas como a da comunidade de

“Santa Marta”, destacou o entrevistado que não só modificou o valor dos imóveis da

comunidade, mas também os de seu entorno, no bairro de Botafogo, especificamente.

Esclareceu que a UPP da Providência foi inaugurada há pouquíssimo tempo,

aproximadamente 01(um) mês e que tal tempo não é suficiente para que haja alteração nesse

tipo de mercado. Sendo este um mercado que envolve quantias consideráveis e às vezes longos

financiamentos, é necessário que haja estabilidade no cenário apresentado e, ainda, que os

resultados sejam produtivos e sustentáveis em médio e longo prazo, a partir daí sim, essa ação

governamental se traduzirá em valorização imobiliária.

Por fim, colocou-se à disposição para que com o decorrer do tempo, forneça os dados

necessários, que não puderam ser avaliados nesse momento.

2.7. Expectativas de diminuição valor de seguros de carros e imóveis com a instalação da

UPP

A instalação da UPP no Morro da Providência criou uma expectativa positiva com

relação às companhias de seguros que prestam serviços naquela região. Devido ao pouco tempo

de instalação da UPP não é possível ainda mensurar o impacto positivo que a nova unidade

trará na variação dos preços de seguros de imóveis e automóveis.

Essas posições ficaram bem definidas a partir da entrevista com o diretor da federação

nacional de seguros, Sr Neival Rodrigues Freitas, como abaixo se verifica.

2.7.1. ENTREVISTA

A entrevista ao Sr. Neival Rodrigues Freitas, Diretor de Seguros da Federação Nacional

de Seguros (Fenseg) foi realizada no dia 10 de maio de 2010.

Durante a entrevista foram abordados temas relativos aos impactos sociais decorrentes

da implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), mais precisamente sobre a

possível diminuição dos valores de seguros de veículos automotores no entorno das

comunidades atendidas por esta nova modalidade de policiamento.

O Sr. Neival deixou claro que a simples implantação de uma UPP ou qualquer outro

fato que, em tese, atenuariam fatores de risco, por si só, não são suficientes para reduzir valores

de seguros de automóveis. O importante é que os efeitos positivos de redução desses fatores de

risco se prolonguem no tempo.

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Tal prolongamento se faz necessário uma vez que as seguradoras não têm suas práticas

de mercado reguladas por qualquer ente estatal, mas, ao contrário, as regulam de acordo com

critérios técnicos próprios de cada uma delas. Por outro lado, o mercado se auto-regula, devido

à alta competitividade entre as seguradoras, o que faz com que todas elas observem atentamente

o mercado com o fito de aferir a possibilidade técnica de alteração de suas práticas. A

capacidade de auto-regulamentação ocasionaria um efeito cascata no segmento dos seguros de

automóveis se uma determinada seguradora optasse por reduzir seus valores, uma vez que as

demais tentariam se adequar à nova prática.

O entrevistado explicou que existem vários fatores de risco que são analisados pelas

seguradoras, como por exemplo: gênero e idade do segurado, condições de guarda do veículo

(se em garagem ou em via pública), motoristas habituais etc. O índice de roubo e furto de

veículos é somente um dos fatores de risco e é preciso, como já foi dito, que o mercado perceba

que suas eventuais reduções não são pontuais e, sim, tenham caráter definitivo.

Em resumo, o Sr. Neival nos informou que é possível que ocorram reduções nos valores

cobrados pelas seguradoras em função da implantação das UPPs, porém, em virtude do fato do

pequeno período de implantação das mesmas, ainda não é possível posicionar-se a respeito de

tal possibilidade.

2.8. Grau de confiabilidade da população em relação a Policia Militar com a instalação da

UPP Providência

A partir de um questionário distribuído a 600 moradores no Morro da Providencia, foi

possível avaliar o grau de confiabilidade da população daquele local em relação á Policia

Militar; foi verificado que o trabalho sério e competente, pautado no princípio da polícia de

proximidade, um dos pilares da polícia comunitária e o grau de confiabilidade e segurança que

serão transmitidos pelos policiais da UPP só tende a crescer.

QUESTIONÁRIO PARA APLICAÇÃO À COMUNIDADE DA PROVIDÊNCIA

Gostaríamos de solicitar a colaboração de Vossa Senhoria no sentido de responder este

questionário da melhor maneira possível, uma vez que o mesmo tem por finalidade a produção

de conhecimento científico à respeito das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).

1) O (a) Sr.(a) percebeu alguma melhora imediata na comunidade após a inauguração da UPP,

no que diz respeito à segurança pública?

( ) Melhora radical

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( ) Melhora

( ) Melhora aparente

( ) Pequena melhora

( ) Nenhuma melhora

2) Quais são as expectativas na comunidade após a inauguração da UPP, no que diz respeito à

segurança pública?

( ) A criminalidade se extinguirá e serviços de utilidade pública serão disponibilizados à

comunidade

( ) A criminalidade se reduzirá a pequenos delitos

( ) A criminalidade continuará a existir, porém em níveis aceitáveis

( ) A criminalidade continuará a existir

( ) A criminalidade se fortalecerá e serviços de utilidade pública não serão disponibilizados à

comunidade

3) Após a inauguração da UPP, o (a) Sr.(a) verificou a existência de criminosos armados na

comunidade?

( ) Nunca

( ) Raramente

( ) Às vezes

( )Freqüentemente

( ) Sempre

4) Como o (a) Sr.(a) classifica a atuação da Polícia Militar na comunidade?

( ) Excelente

( ) Muito boa

( ) Boa

( ) Ruim

( ) Péssima

5) Já foi iniciado algum serviço social na comunidade após a inauguração da UPP?

( ) Vários

( ) Alguns

( ) Poucos

( ) Muito poucos

( )Nenhum

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6) Enumere de 01 a 05, em ordem de prioridade, os tipos de serviços sociais que o (a) Sr.(a)

considera mais importantes.

( ) Iluminação Pública

( ) Saneamento básico

( ) Implantação de creches

( ) Cursos profissionalizantes

( ) Implantação de postos de saúde

7) O (A) Sr.(a) concorda que, após a inauguração da UPP, a comunidade tornou-se mais

atraente a ponto de mais pessoas a procurarem para fixar moradia?

( ) Concorda totalmente

( ) Concorda mais do que discorda

( ) Indeciso

( ) Discorda mais do que concorda

( ) Discorda totalmente

8) O (A) Sr.(a) confia na Polícia Militar em todas as ocasiões?

( ) Sempre

( ) Freqüentemente

( ) Algumas vezes

( ) Raramente

( ) Nunca

2.9. Sugestões

Sem dúvida o policiamento da UPP é o mais vitorioso modelo de policiamento

implantado no Rio de Janeiro nos últimos 30 anos, trazendo paz e tranqüilidade em áreas antes

dominadas pelo tráfico de drogas e criminosos de todas as espécies.

As UPPs resgataram a cidadania dos moradores das regiões onde estão instaladas, na

medida em que libertaram seus moradores do jugo dos traficantes e marginais que as

“dominavam” anteriormente. Porém, é necessário que o Estado, por meio de seus órgãos

assistenciais também se faça presente nessas comunidades trazendo postos de saúde, coleta de

lixo, água e demais serviços que integrarão estes moradores até então excluídos de uma

cidadania plena.

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3. Conclusão

Com fulcro nas informações contidas no presente trabalho de pesquisa, podemos

concluir que a presença policial no Morro da Providência atuando de forma pacificadora, está

contribuindo decisivamente para a diminuição dos índices de criminalidade no local.

A presença do poder público com o início da urbanização e instalação de serviços

básicos, bem como, de cursos de turismo que aproveitarão a vocação turística do local, serão

decisivos para que aquela população, até certo ponto esquecida, possa agora usufruir da

presença física dos serviços essenciais ao seu bem estar, com tranqüilidade e segurança.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

- Dados estatísticos do IBGE;

- INTERNET;

- Dados do ISP.

EPÍLOGO

A integração Polícia-Comunidade é uma aspiração antiga no Estado do Rio de Janeiro,

remonta a década de 1990 e teve suas primeiras sementes plantadas pelo então Comandante

Geral da PMERJ Cel PM Carlos Magno Nazareth Cerqueira, com a implementação do

policiamento comunitário a pé, em alguns bairros da cidade do Rio de Janeiro.

Desde então, tal proposta tem se mostrado uma forma eficiente de realizar a polícia

preventiva e a preservação da ordem pública, missões constitucionais da Polícia Militar.

As formas e estratégias de policiamento implantadas pela PMERJ tem evoluído de

forma constante, chegando aos dias atuais com a implementação das Unidades de Polícia

Pacificadora em territórios conflagrados e tecnicamente selecionados para recebê-las, até então,

na cidade do Rio de Janeiro.

As UPPs, portanto, materializam uma estratégia de reconquista definitiva de

comunidades que outrora estavam sob marcante influência do narcotráfico, calcada na mudança

de paradigmas, mediante o envolvimento da população que reside em tais comunidades, por

meio da implementação de um amplo leque de ações e programas sociais que possibilitam a

participação e a integração das comunidades, resgatando a cidadania dos moradores.

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VALORIZAÇÃO IMOBILIÁRIA

As comunidades beneficiadas com a instalação das UPPs, especificamente na Zona Sul

da cidade e no bairro de Jacarepaguá, vem apresentando considerável valorização imobiliária,

justificada pela sensação de segurança experimentada pelos moradores cujas comunidades

conflagradas foram ocupadas.

Cumpre esclarecer que a valorização de um imóvel comercial ou residencial ocorre por

meio de vários fatores, dentre eles: proximidade de clubes, praças, bons colégios, bibliotecas,

teatros, cinemas, oferta de transportes, metrô, pontos de táxi ou de ônibus; localização fora da

área de poluição sonora e ambiental, bem iluminada e arborizada, ou em local de frente para o

mar, lagoa, baía, montanhas ou, pelo menos, com vista para esses locais.

Atualmente, o mercado imobiliário considera, além dos fatores acima mencionados, a

estabilidade da economia, as alterações da Lei do Inquilinato, que permite a retomada mais

rápida do imóvel, por falta de pagamento, e no caso, especifico da cidade do Rio de Janeiro, a

instalação das Unidades de Polícia Pacificadora, sendo o fator segurança, portanto, primordial

para alavancar vendas e, em conseqüência, valorizar a área onde o imóvel se encontra.

Dados colhidos junto ao sindicato de habitação (SECOVI – RJ), atestam que vem

ocorrendo uma extrema valorização dos imóveis situados na Zona Sul do Rio de Janeiro,

especificamente, em Ipanema, Copacabana, Flamengo, Botafogo, Leme.

Ainda, segundo o SECOVI – RJ pode-se atribuir várias razões a essa valorização,

dentre elas, a nova Lei do Inquilinato, a facilidade de acesso ao crédito imobiliário, o aumento

dos prazos de financiamento e as Olimpíadas do Rio 2016, e, em especial, a implantação das

Unidades de Polícia Pacificadora. O SECOVI aponta uma valorização de até 126% no valor

dos imóveis.

Segundo o vice-presidente do órgão, Sr. Ronaldo Coelho Netto, as UPPs vem mudando

o comportamento do setor imobiliário, que há pelo menos duas décadas apresenta dificuldades

nas operações de locação e venda de imóveis próximos a favelas.

A valorização dos imóveis nas áreas onde foram instaladas as Unidades de Polícia

Pacificadora, zona sul da cidade do Rio de Janeiro, é da ordem de até 148,89% nos valores para

locação e de 59,41% nos valores de venda.

Em relação a Jacarepaguá, constatou-se junto a grandes imobiliárias da área, que os

imóveis situados próximos a Cidade de Deus estavam em processo de desvalorização já há

algum tempo, por conta de diversos fatores. Com a criação da UPP naquela comunidade,

porém, houve uma revalorização de cerca de 40% nos preços dos imóveis situados naquela

cercania.

VARIAÇÃO DO MERCADO DE SEGUROS

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Com relação aos seguros de veículos, alguns fatores interferem diretamente no valor

das apólices, tais como perfil do condutor, valor do carro, risco de sinistro (roubo

principalmente), valor das peças dos veículos para reposição (em caso de colisões),

regionalidade, endereços de residência e local de trabalho, existência de garagem em ambos os

endereços etc.

Atualmente a contratação de seguros de veículos, de residências e mesmo de carga

passa por uma avaliação dos riscos decorrentes da proximidade de comunidades consideradas

como “áreas de risco”.

A expectativa por parte de Superintendência de Seguros Privados – SUSEP e do

Sindicato dos Corretores de Seguros – SINCOR, é que a expansão das UPP reduza em até 25%

o valor dos seguros de carros e imóveis nos bairros em que o programa for instalado. Tal

previsão baseia-se no fato de que a incidência de sinistros nos bairros onde estão as UPPs haver

diminuído substancialmente, porém, as seguradoras tem um tempo para consolidar as

informações e identificar as tendências duradouras que acarretam a baixa efetiva dos preços.

VARIAÇÃO DOS ÍNDICES CRIMINAIS

Os índices criminais nas localidades onde foram implantadas as sedes das UPPs, de

maneira geral foram reduzidos significativamente, fato este já demonstrado e tratado

detalhadamente nos capítulos específicos de cada UPP, consolidados neste documento.

PROPOSTAS e SUGESTÕES

Face ao desafio de dar continuidade ao projeto das UPPs e primando pela melhoria da

qualidade dos serviços prestados à sociedade, mediante a manutenção de uma tropa bem

treinada e motivada, encontram-se abaixo relacionadas algumas sugestões que foram listadas

pelos grupos responsáveis pela elaboração dos trabalhos.

* Necessidade de melhoria das instalações físicas das UPPs de Chapéu Mangueira – Babilônia

e Cidade de Deus, se necessário com a construção de uma nova sede.

* Extensão do benefício do RIOCARD para o efetivo lotado nas UPPs;

* Recrutamento de policiais militares voluntários para o trabalho nas UPPs, bem como, para

participar da capacitação para o policiamento comunitário e respeito aos direitos humanos;

* Ampliação do número de comunidades contempladas com as UPPs, fora da zona sul da

cidade do Rio de Janeiro, visando evitar o risco de migração do crime organizado, das regiões

pacificadas para as regiões não pacificadas, aumentando os índices de violência dessas regiões;

* Rodízio do efetivo entre as UPPs, a fim de evitar atritos entre policiais e moradores, estes,

decorrentes do excesso de proximidade que com o decorrer do tempo pode acarretar uma

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“pseudo - intimidade”, propiciando o aumento da incidência de ocorrências de desacato à

autoridade;

* Aumento da fiscalização visando coibir construções irregulares e obrigatoriedade do registro

dos imóveis com planta, possibilitando o mapeando de forma detalhada das habitações das

comunidades ocupadas, com vistas a dificultar expansões desordenadas no futuro;

* Utilização de armamento não letal por parte dos policiais militares das UPPs para a resolução

de conflitos de menor potencial ofensivo, a fim de evitar colocar as vidas dos envolvidos em

risco;

* Instalação de câmeras de monitoramento nas localidades da comunidade onde não há

presença permanente do policial, bem como nas vias de acesso, facilitando, o deslocamento de

forma ágil, em caso de necessidade;

* Maior interação entre as UPPs e associações de moradores, a fim de possibilitar a promoção e

divulgação de projetos sociais voltados para a educação, esportes e artes;

* Maior interação com os demais órgãos públicos a fim de disponibilizar os serviços públicos

necessários à comunidade, tais como coleta de lixo periódica, manutenção da iluminação

pública, postos de saúde, áreas de lazer, monitoramento constante da defesa civil, entre outros.

* Criação de uma diretriz reguladora que possa estabelecer os procedimentos alusivos à

implantação, organização, funcionamento, missões e objetivos da UPP;

* Manutenção do Comandante das UPPs por um período mínimo de dezoito meses, a fim de

que este possa desenvolver um trabalho mais consiste;

* Instruções periódicas, sobre legislações específicas e treinamentos específicos para a tropa

lotada nas UPPs;

* Participação dos policiais militares lotados nas UPPs em palestras, seminários e outros

eventos correlatos às mesmas, a fim de que ouvindo comentários de autoridades e críticos

tenham noção da importância de seu papel perante a sociedade e como representantes do poder

público;

* Previsão de um efetivo mínimo para atuar, tendo em vista que não haverá policiamento

eficiente sem que haja efetivo suficiente;

* Estabelecimento de critérios para movimentação;

* Realização de reuniões periódicas com os comandantes das UPPs e parte de sua tropa, com os

Delegados de Polícia, para propiciar o estreitamento de parcerias, atualização de objetivos e

estratégias e conscientização da importância de tratar da mesma forma que as demais as

ocorrências de menor potencial ofensivo, tendo em vista que estas passam a ser a maioria da

natureza das ocorrências policiais militares;

* Aumento dos recursos disponibilizados ao Comando Intermediário das UPPs, possibilitando

que este preste melhor suporte operacional e logístico às Unidades;

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* Definição da situação das UPPs na estrutura organizacional das OPMs; pois estas ainda

figuram como Companhias da Unidade Operacional das respectivas áreas de atuação das UOps,

apesar de subordinarem-se a um Comando Intermediário;

* Atuação do serviço de inteligência ligado a UPP, a fim de auxiliar o seu funcionamento;

* Evitar alterações do efetivo das UPPs, já que o conhecimento mútuo policial militar –

comunidade, comunidade – policial militar é fator primordial para a filosofia do policiamento

comunitário.

CONCLUSÃO

As UPPs constituem, de fato, uma forma pioneira e inovadora de prevenção ao crime,

melhorando significativamente o sensação de segurança junto à sociedade do Estado do Rio de

Janeiro, e em especial entre os moradores das comunidades onde estas foram instaladas, além

de resgatar junto à mídia e a população a imagem institucional da Corporação Policial Militar.

Os resultados alcançados até o momento e a influência positiva em vários setores do

estado, motivam a expansão e o aprimoramento de tal modelo de policiamento, que marca o

limiar de uma nova era para a PMERJ. É importante salientar, entretanto, que como qualquer

outro projeto requer acompanhamento, checagem e implementação dos ajustes necessários de

forma que a sua consolidação seja galgada em uma proposta de gestão administrativa moderna

e eficaz, que atenda concomitantemente aos anseios da sociedade e da Corporação, na busca

por um modelo eficaz que concretize a paz em nosso Estado.

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UNIDADE DE POLÍCIA PACIFICADORA - CIDADE DE DEUS

SUBPRODUTO DA EDUÇÃO INFANTIL PÚBLICA

RESUMO

O artigo científico descreve a experiência inovadora da Unidade de Polícia Pacificadora implantada na comunidade da Cidade de Deus, que se encontrava há mais de quatro décadas sob o domínio de narcotraficantes. O Estado ao fazer-se novamente presente por meio da filosofia de Policia Comunitária, garantiu a retomada da dignidade da população que estava como refém da brutalidade dos criminosos que por ali se homiziavam. O fim do confronto armado, que gerava alto grau de insatisfação, determinou a retomada da tranquilidade e consequentemente a diminuição do medo. Por meio de pesquisas a instituições governamentais e centros de estudos verificou-se que a eficácia da nova ordem proporcionou os melhores resultados dos últimos anos. A baixa nos índices criminais, como também a valorização imobiliária e a queda na evasão escolar local (Rede Pública Municipal) refletem uma resposta rápida e positiva na esperança de resgate do povo abandonado. A ronda escolar foi implementada para estreitar os laços entre pacificação e educação, um canal de comunicação imediata entre a escola e policiais treinados para sanear os problemas do dia-a-dia de forma eficaz, a fim de possibilitar sustentabilidade ao processo de moralidade de forma permanente. A confiança conquistada permitiu a aproximação e conseqüente legitimidade da autoridade em face daquele grupo social que no passado tinha como referência o traficante de drogas. O crescimento econômico e o aumento na frequência escolar foram indicadores de que a presença da Unidade de Polícia Pacificadora da Cidade de Deus solidificou o fim da violência possibilitando um ambiente escolar acessível a alunos e professores.

Palavras Chave: Segurança - Unidade Pacificadora- Frequência Escolar.

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1. INTRODUÇÃO

Este trabalho traça a primeira análise comparativa da implantação da Unidade

de Polícia Pacificadora na Cidade de Deus, os fenômenos sociais que operaram em face

da ruptura de comportamento pré-existente naquela localidade.

A perpetuidade da segurança está pautada em diversos fatores, contudo o mais

importante está dentro de cada cidadão, ou seja, o que é real e o que é difuso. Ter a

sensação de estar seguro está ligado à concepção da imagem da instituição policial

diante do cliente – cidadão – por isso perceber a necessidade de resgatar a imagem da

Polícia Militar junto à comunidade é de suma importância para credibilidade da

população local.

Certo que o Estado Democrático de Direito tem que preservar o equilíbrio entre

o poder e a autoridade, para que a vontade dos representados constitua o verdadeiro

interesse, a filosofia de Polícia Comunitária é um instrumento que se fortalece a medida

que o agente policial em seu dever de servidor saiba de fato desempenhar o seu papel.

O fator histórico da comunidade não poderia deixar de ser estudado, pois por

meio dele é que traçamos o perfil da comunidade local e deste modo mapeamos as

mazelas da localidade. Como no passado não havia de fato investimentos e a política de

segurança era somente a de confronto, sem haver o interesse de não apenas ocupar o

terreno, mas sim com hoje se faz de conquistar o confiança e respeito do cidadão que

ali habita. As antigas políticas de segurança pública eram calcadas em medidas de

cunho eminentemente corretivas e não saneadoras, ao lidar com o problema da

criminalidade. Em especial na comunidade da Cidade de Deus foi criado, de certa

forma, entre a população local, um receio em relação às ações policiais pontuais

realizadas na comunidade antes da implantação da Unidade de Polícia Pacificadora.

Esta modalidade tem por objetivo resgatar a confiança da população local em relação à

PMERJ, bem como desenvolver uma estratégia sólida que tenha resultados duradouros

que reflitam em toda comunidade. Nesta oportunidade, comprova-se que a segurança é

um fator crucial para a educação pública nas comunidades carentes, levando-se em

consideração que a geografia e a história são contundentes em reproduzir o cenário do

descaso.

Muito claramente pode-se observar a diminuição dos índices criminais não só

no interior da comunidade, mas também nas localidades vizinhas.

Ao analisar dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Educação, Secretaria

de Estado de Segurança; matérias jornalísticas e informações colhidas no âmbito da

Polícia Militar, se pode perceber que a insegurança gera medo e com medo as crianças

não freqüentam os bancos escolares de forma ideal, determinando um prejuízo

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imensurável para o futuro destes. Deste modo, sem educação, não existe consciência,

sem consciência não possuímos cidadãos, e sem cidadãos não há cidadania.

A essência do estudo permitiu diagnosticar que a pacificação foi a maior

responsável pela paz local neste período. O fim dos confrontos armados, que afetavam

diretamente as crianças e reduziam a freqüência escolar e o rendimento dos estudantes,

possibilitou um aumento de pelo menos 30% nos registros de freqüência escolar na

maioria das escolas e creches públicas, que abrigam quase 8.000 crianças na Cidade de

Deus.

A pacificação aliada à estratégia da implantação da ronda escolar no mês de

agosto de 2009 foi determinante para a redução dos índices de evasão escolar,

influenciando de modo significativo o aumento da freqüência escolar e o aumento do

número total de matrículas nas escolas e creches municipais da Cidade de Deus.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1. UNIDADE DE POLÍCIA PACIFICADORA

O Estado do Rio de Janeiro, que já foi o cenário da corte real portuguesa e

capital do país, atualmente, na área de segurança pública implanta modelos de

policiamento inovadores para acompanhar a evolução cultural. A Polícia Militar do

Estado do Rio de Janeiro (PMERJ) foi criada em 13 de maio de 1808 com o título de

Guarda Real de Polícia (GRP). Após mais de dois séculos, é uma das instituições mais

antigas do Brasil. A PMERJ em sincronismo com o amadurecimento da sociedade e

demais órgãos públicos, iniciou a implantação do modelo de policiamento denominado

de Polícia Pacificadora. O nascimento destas unidades tem como princípio, a

permanência e continuidade no terreno ocupado, por meio de uma atuação ostensiva no

cotidiano da comunidade. O poder estatal fixará o real interesse de um bom convívio

social, tendo em vista que, no passado, as ações de segurança eram imediatistas,

fundamentadas na repressão (que muitas vezes resultavam no abuso de poder) e no

desrespeito aos direitos humanos. A polícia, em sua nova face, não tem a pretensão

utópica de liquidar o crime, mas, deixá-lo num nível social tolerável, capaz de garantir

o ir e vir das pessoas. Com isso, as crianças começam a freqüentar, de forma contínua,

os bancos escolares e, por conseguinte, a educação passa ser o sustentáculo para a

formação cidadã. A existência da Polícia Comunitária é pautada na condição do

indivíduo como cidadão e afirma que:

“É uma filosofia e estratégia organizacional que

proporciona uma nova parceria entre a população e a

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polícia. Baseia-se na premissa de que tanto a polícia

quanto a comunidade devem trabalhar juntas para

identificar, priorizar e resolver problemas

contemporâneos tais como crime, drogas, medo do

crime, desordens físicas e morais, e em geral a

decadência do bairro, com o objetivo de melhorar a

qualidade geral da vida na área”.

(TROJANOWICZ,1994, p.04)

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 em seu artigo 144 é

taxativa ao conferir obrigação às autoridades devidamente constituídas. “A segurança

pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a

preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio...” A

referida carta atribui a qualquer um do povo uma parcela de contribuição.

2.2. ANÁLISE HISTÓRICA E SOCIAL DA CIDADE DE DEUS

A Cidade de Deus tem uma área de 120,59 hectares, na qual residem mais de 38

mil pessoas (Censo Demográfico de 2000/IBGE). O local teve seu processo de

habitação iniciado na década dos anos 1960 pelo Governador Carlos Lacerda, o qual

projetou a erradicação das favelas no entorno da Zona Sul, removendo as famílias para

uma nova área. O interessante é que em dez anos, já havia um aglomerado de pessoas

de diversas comunidades sem a devida infra-estrutura, o que hoje determina um dos

piores IDH1 da cidade do Rio de Janeiro.

O Brasil tem 56 milhões de miseráveis – 33,15% da população. São pessoas

que vivem com menos de R$ 79,00 (setenta e nove reais) por mês, valor necessário para

garantir a ingestão mínima de alimentos recomendada pela Organização Mundial da

Saúde. Os dados foram divulgados pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação

Getúlio Vargas no ano de 2004 tendo como referência dados do censo demográfico

realizado pelo IBGE no ano 2000. O estudo mostra que a extrema pobreza está

tomando conta das grandes cidades, enquanto antes se concentrava nas periferias. No

Estado do Rio de Janeiro, dos 14.392.106 habitantes, 19,45% são compostos de

miseráveis. A Cidade do Rio de Janeiro tem 14,57% de sua população composta por

miseráveis, já na Cidade de Deus 26,02% de sua população (38.016 habitantes) é

composta por miseráveis em comparação com os 3,99% da Lagoa, que possui

população de 174.062 habitantes (NERI, 2004, p.18).

1 IDH: Índice de Desenvolvimento Humano.

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A Cidade de Deus tem 46,95% de sua população composta por homens,

enquanto que a Rocinha tem 49,9% e a Lagoa 44,84%. A população local possui idade

média de 29 anos, em comparação aos 26 anos na Rocinha e 38,8 anos na Lagoa. A

média de anos de estudo da população local é de 4,99 anos, em comparação com 4,12

anos na Rocinha e 10,14 na Lagoa. Os anos médios de estudo dos ocupados na Cidade

de Deus são de 7,2 anos, contra 5,7 anos da Rocinha e 12,3 anos da Lagoa. A taxa de

formalidade na comunidade é de 71,34%, em comparação aos 73,60% da Rocinha e

75,42% da Lagoa. A renda média local é de R$ 440,00 (quatrocentos e quarenta reais),

enquanto que na Rocinha é R$ 434,00 (quatrocentos e trinta e quatro reais) e na Lagoa

R$ 2.766,00 (dois mil, setecentos e sessenta e seis reais). Há na Cidade de Deus

equivalência em jornada de trabalho em horas igual a da Rocinha, ou seja, 45,8 horas,

enquanto que na lagoa é de 41,2 horas. O salário por hora de trabalho é de R$ 2,17

(dois reais e dezessete centavos), em comparação aos R$ 2,14 (dois reais e quatorze

centavos) da Rocinha e R$ 15,18 (quinze reais e dezoito centavos) da Lagoa. A relação

entre educação e remuneração reflete-se na comparação entre a Cidade de Deus,

Rocinha e Lagoa. No que tange ao salário por ano de escola, na Cidade de Deus é de R$

60,80 (sessenta reais e oitenta centavos), na Rocinha R$ 76,40 (setenta e seis reais e

quarenta centavos) e na Lagoa R$ 224,70 (duzentos e vinte e quatro reais e setenta

centavos). A taxa de desemprego local é de 22,3%, contra 17,2% na Rocinha e 8,7% na

Lagoa. No Estado do Rio de Janeiro esta taxa é de 17,17%.

Em 18 de dezembro de 2008, a localidade conhecida como Santa Marta em

Botafogo recebeu a primeira Companhia de Policiamento Comunitário (orgânica ao

2°BPM). Com o sucesso desta precursora, houve a necessidade de expansão deste tipo

de policiamento. Para validar tal aplicabilidade foi deferido na gestão do

Excelentíssimo Governador Sérgio Cabral o Decreto n° 41.650 de 21 de janeiro de

2009, positivando o resgate de outras áreas ocupadas por marginais: Jardim Batan

(Bairro de Realengo), Cidade de Deus (Bairro de Jacarepaguá), Chapéu

Mangueira/Babilônia (Bairro do Leme), Morro dos Tabajaras/Cabritos (Bairro de

Copacabana) e a Pavão-Pavãozinho/Corte do Cantagalo (Bairro de Copacabana).

Baseado nesta nova ideologia surgiu a necessidade de implantar na comunidade da

Cidade de Deus uma Unidade Pacificadora para liquidar as mazelas que por ali estavam

enraizadas. Por essa razão, a Unidade de Polícia Pacificadora da Cidade de Deus foi

implantada no dia 16 de fevereiro de 2009 com o nome de Companhia de Policiamento

Comunitário da Cidade de Deus que contou com um efetivo inicial de 180 policiais

militares, passando para 276 policiais militares em agosto de 2009. Atualmente a

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Unidade de Polícia Pacificadora da Cidade de Deus possui um efetivo de 320 policiais

militares para atuar em toda a área da comunidade.

A falta de infra-estrutura na Cidade de Deus contribuiu para a desvalorização da

condição humana e a lenta percepção da necessidade policial para pacificação. Há ainda

ajustes a serem feitos, uma vez que a autoridade constituída é implantada e não tem sua

efetividade de forma imediata, porém, em contrapartida, sabe-se que existe um

crescimento em sua aceitabilidade e no aumento gradativo desta credibilidade, o que

contribui de forma direta e positiva na frequência escolar, cujo diagnóstico reflete

sensivelmente ao combate à criminalidade.

As antigas políticas de segurança pública eram calcadas em medidas

eminentemente corretivas e não saneadoras ao lidar com o problema da criminalidade.

Em especial na comunidade da Cidade de Deus foi criado, de certa forma, entre a

população local, um receio em relação às ações policiais pontuais realizadas na

comunidade antes da implantação da Unidade de Polícia Pacificadora. A chave deste

inovador estilo de policiamento está na possibilidade de garantir que a educação não

seja vilipendiada pela criminalidade. Esta modalidade tem por objetivo resgatar a

confiança da população local em relação à PMERJ, bem como desenvolver uma

estratégia sólida que tenha reflexos duradouros para toda a comunidade. Nesta

oportunidade, comprova-se que a segurança é um fator crucial para o bem estar da

educação pública nas comunidades carentes, levando-se em consideração que a

geografia e a história são contundentes em reproduzir o cenário do descaso.

Cabe neste momento reconhecer a importância que a Corporação tem na vida

de cada pessoa enquanto indivíduo de forma qualitativa, diante do determinismo

geográfico como fonte para elaborar questões importantes para desejável aceitabilidade:

“... que é possível e comum existir uma grande diversidade cultural localizada em um

mesmo tipo de ambiente físico” (LARAIA, 2004, p.21).

2.3. PACIFICAÇÃO COMO SUSTENTABILIDADE

A sustentabilidade da segurança pública está no grande esforço em libertar, do

horror dos traficantes, os jovens alunos, para que tais futuros cidadãos tenham

consciência e sejam fortes para resistirem à influência nefasta deste mal. Garantir o

acesso à educação aos milhares de jovens e crianças da comunidade da Cidade de Deus

proporciona a construção de um caminho capaz de liquidar o imoral e a violência.

Qualquer alternativa antibiótica elaborada para combater a criminalidade só se

perpetuará caso seja fortalecida pelo crescimento de uma nova mentalidade. As crianças

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são o principal canal de propagação das mudanças necessárias para quebra de antigos

paradigmas enraizados na comunidade.

A Instituição deve ser entendida, no contexto social, como mecanismo

destinado à prevenção e repressão dos delitos, de forma a garantir a ordem pública, a

estabilidade do Estado, a liberdade e a segurança do indivíduo. Esta, por sua vez tem o

dever de respeitar e internalizar o comportamento que cada pessoa possui dentro de seu

grupo social, a fim de levantar propostas eficazes e ponderantes para abolir qualquer

tipo de empirismo. Neste contexto, a força policial deve procurar saber como é

enxergada pelo “cidadão de bem”, para assim, alcançar o objetivo comum de paz social.

O Excelentíssimo Senhor Desembargador Diodato Lioy Apud Galli entende que

a conduta de um policial deve ser pautada na seguinte premissa:

“A polícia não deve velar senão pelo progresso

da sociedade e dos bons costumes, pelo bem-estar do

povo e pela tranqüilidade geral. Ela foi com justiça,

instituída para assegurar a execução das leis, e não

para as infringir, para garantir a liberdade dos

cidadãos e não para cerceá-la, para salvaguardar a

segurança dos homens de bem, e não para envenenar a

fonte do bem-estar social. Não deve ela transpor os

limites da exigência da segurança pública ou

particular, nem sacrificar o livre exercício das

faculdades do homem e dos direitos civis, por um

violento sistema de precaução.” (GALLI, 1991, p. 58)

Por isso, o surgimento deste tipo de policiamento nada mais é do que uma

resposta às formas antigas de policiamentos que não obtiveram sucesso. Os moradores

antigos do local podem confirmar que ao longo desses anos, sempre existiu na

comunidade a presença policial por meio do Posto de Policiamento Comunitário (PPC)

que tinha apenas o objetivo de fazer-se presente e reprimir qualquer tentativa de

violação aos preceitos legais, limitando-se às operações pontuais. Este novo tipo de

policiamento vai muito além de um modo de operar, pois se trata de uma relação

interpessoal de brio interno, o que se verifica, está em consonância com o entendimento

do Doutor Marco Antonio Azkoul, Professor e Delegado de Policia do Estado de São

Paulo, que em sua obra Teoria Geral do Estado descreve: “Caso contrário, se as

deliberações em uma sociedade não forem acolhidas, teremos a quebra da ordem e,

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consequentemente, a sua substituição por um regime anárquico, contrário à estrutura

de qualquer grupo social” (AZKOUL, 2002, p.53).

A pacificação é uma corrente indispensável à organização da sociedade, e para

que, além da sua eficácia, encontre de fato a efetividade.

Informações da Secretaria Municipal de Educação da Cidade do Rio de Janeiro

indicam que muitos fatores se somam para explicar a baixa qualidade da educação

brasileira, tais como a redução do repertório cultural das famílias e o imediatismo nas

políticas públicas. No caso do Rio de Janeiro e de algumas outras grandes cidades, a

violência dentro e fora da escola soma-se a estes fatores. Uma criança continuamente

exposta à violência imposta pelo narcotráfico tem mais problemas de aprendizagem do

que seus colegas fora de áreas de risco social. Além de bloqueios cognitivos a que está

sujeita, acaba contando também com maior absenteísmo do professor e desorganização

do ambiente escolar.

Um dos instrumentos que contribuíram para a redução da violência nas escolas

da comunidade, bem como para o aumento da freqüência escolar na Cidade de Deus foi

a implementação do serviço de ronda escolar no mês de agosto de 2009, assunto

abordado em matéria publicada no jornal “O Dia”, em 22 de novembro de 2009,

intitulada “Upp testa nova ronda escolar” (MAGALHÃES, 2009, p.25). Nesta matéria,

a professora Gisele Clemência, diretora da Escola Municipal Pedro Aleixo, afirma que

a ronda escolar além de trazer mais segurança, trouxe uma mudança de comportamento

para as crianças. A diretora afirma ainda que antes da implantação da Unidade de

Polícia Pacificadora, por diversas vezes, teve que interromper as aulas ou eventos por

conta dos constantes tiroteios; após a implantação da ronda escolar, quando precisou

acioná-la para resolver problemas relacionados à segurança na escola, o policiamento

mostrou-se eficaz.

Segundo o Capitão Felipe Gonçalves Romeu, ex Comandante da UPP da

Cidade de Deus, a idéia da ronda escolar não é inédita, pois a mesma já existe nos

batalhões da PMERJ. Porém, em algumas unidades, o serviço da ronda escolar não é

levado muito a sério, pois elas muitas vezes são tratadas como mais uma rádio patrulha,

deixando de cumprir seu papel, até mesmo servindo de condutor de expediente, por ser

considerado um serviço de menor importância para a segurança pública.

Segundo Romeu, ao se perceber que na Cidade de Deus existiam 16 escolas

públicas, e que havia dificuldade dos policiais interagirem com a comunidade, a ronda

escolar foi implementada, especificamente no mês de agosto de 2009, com o intuito de

manter a Polícia Militar em constante contato com as crianças da Cidade de Deus, para

ajudar na formação do caráter das mesmas, possibilitando assim que a Polícia Militar

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“entrasse” na casa de cada criança, ajudando, desta forma, a quebrar paradigmas

criados no passado e enraizados na comunidade no que se refere ao trabalho policial

militar. O Capitão Romeu assevera ainda que foram realizadas visitas em todas as

escolas da Cidade de Deus; em todas elas os policiais foram bem aceitos pelas

diretoras, que julgaram importantíssimo tal serviço, pois além de atingir o objetivo

proposto, o policiamento combatia qualquer atividade ilícita que estivesse ocorrendo do

lado externo das escolas. Os policiais militares da ronda escolar disponibilizaram seus

telefones celulares (particulares) para o atendimento de qualquer chamado feito por

alguma diretora, fato que fez aumentar a rapidez no atendimento das ocorrências. Com

a ronda escolar, os policiais, assim como os professores, acabaram se tornando, muitas

vezes referência para as crianças. Em algumas escolas chegou a ser implantado, com a

participação dos policiais militares da ronda escolar, o hasteamento diário dos pavilhões

nacional e estadual, juntamente com o Hino Nacional Brasileiro.

3. METODOLOGIA

Este artigo tem como objetivo descrever a experiência inovadora da Unidade

de Policia Pacificadora implantada na Cidade de Deus, comunidade carente cujo

território foi dominado por narcotraficantes ao longo de muitos anos. Numa nova

faceta de estar totalmente interada com a comunidade foi analisada, por meio de

comparativos, a freqüência nas Escolas da Rede Pública da Cidade de Deus após a

implantação da Unidade de Polícia Pacificadora como um indicador seguro para

medir avanços no que tange ao resgate da cidadania e da dignidade da pessoa

humana por parte do aparato policial. Garantir sem violar a lei, assistir para ser

permitido e entender para receber respeito.

3.1. POPULAÇÃO

Comunidade da Cidade de Deus e Policiais Militares que servem ou serviram

na Unidade de Polícia Pacificadora daquela comunidade.

3.2. AMOSTRA

No dia 29 de junho de 2010 o Capitão da Polícia Militar Felipe Gonçalves

Romeu, comandante da Unidade de Polícia Pacificadora da Cidade de Deus de 16 de

fevereiro de 2009 (data da criação da Unidade) até novembro de 2009, foi entrevistado,

com o intuito de coletar dados que pudessem servir de subsídios para a elaboração do

presente artigo.

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3.3. INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

Entrevista realizada no dia 29 de junho de 2010 com o Capitão da Polícia

Militar Felipe Gonçalves Romeu, ex-comandante da Unidade de Polícia Pacificadora da

Cidade de Deus.

3.4. LOCAL

A pesquisa foi realizada às 14 horas do dia 29 de junho de 2010 na Academia

de Polícia Militar D. João VI.

3.5. ANÁLISE DOS RESULTADOS

A pesquisa foi descritiva, do tipo estudo de caso, norteada por meio de dados

recolhidos junto à Secretaria Municipal de Educação da Cidade do Rio de Janeiro,

Fundação Getúlio Vargas, Secretaria de Estado de Segurança do Rio de Janeiro, bem

como matérias jornalísticas vinculadas a jornais, mídia eletrônica e revistas, embasada

por referencial teórico.

O referencial teórico serviu de suporte para a análise dos dados recolhidos, com

o intuito de legitimar o resultado deste trabalho. Buscou-se demonstrar, por meio da

análise do gráfico 01 (que trata da diminuição da incidência criminal na Cidade de Deus

comparando o período compreendido entre novembro de 2007 e novembro de 2008

com o período compreendido entre novembro de 2008 e novembro de 2009) e da

análise do gráfico 02 (que trata do aumento da atividade policial na Cidade de Deus,

comparando o período compreendido entre novembro de 2007 e novembro de 2008

com o período compreendido entre novembro de 2008 e novembro de 2009), em

comparação com a tabela 01 (que trata do significativo aumento do número de

matrículas em março de 2010 em comparação com o mesmo mês do ano de 2009)

demonstrar a contribuição direta da Unidade de Polícia Pacificadora da Cidade de Deus

para diminuição da evasão escolar das crianças que estudam e moram naquela área.

4. ANÁLISE E DISCUSSAO DOS RESULTADOS

Ao analisar o gráfico abaixo, que trata da diminuição dos índices de

criminalidade na Cidade de Deus, comparando-se o período compreendido entre

novembro de 2007 e novembro de 2008 com o período de novembro de 2008 a

novembro de 2009, poderemos concluir em seguida que:

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GRÁFICO 01

Fonte: ISP – Instituto de Segurança Pública

Como se depreende da análise do gráfico 02, houve um aumento de 650% nas

ocorrências de apreensão de drogas, 342,59% nas prisões, 427,65 nos ocorrências de

flagrantes e diminuição de 90% nas ocorrências de auto de resistência.

GRÁFICO 02

Fonte: ISP – Instituto de Segurança Pública

O gráfico 02 revela ainda que o aumento do número de prisões, de apreensão de

drogas e de ocorrências em flagrantes é inversamente proporcional ao número de

ocorrências que resultaram em autos de resistência, o que evidencia a radical

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diminuição de confrontos entre marginais da lei e policiais. Apesar de haver um

exponencial crescimento no número de apreensões e prisões, houve, em contrapartida

um considerável declínio do confronto armado, resultado determinante para a

considerável melhora na sensação de segurança percebida pelos moradores locais. A

pacificação também refletiu diretamente nos setores econômicos, como na especulação

imobiliária. Segundo a Revista Exame do mês de junho de 2010, “menos crime, mais

valorização”; computou-se um aumento de 25% no valor dos imóveis usados na

Cidade do Rio de Janeiro nos últimos 12 meses. Os especialistas entendem que a

aquisição de um imóvel está ligada à expectativa de valorização em longo prazo em

razão das melhorias. Conforme endossa a Empresa Imobiliária Ética, que tem grande

expressão em negócios no Bairro de Jacarepaguá, afirmando que a pacificação elevou o

segmento de vendas de unidades residenciais, onde o indicador de vendas sobre oferta

(VSO)2 apontou um salto de 10% para os atuais 20% de valorização, e ainda uma

revalorização de cerca de 40% nos preços dos imóveis próximos à comunidade.

Rapidamente a mesma tendência verifica-se no mercado de seguros onde, de

acordo com a análise dos profissionais corretores de seguro, a variação do mercado em

áreas próximas às Unidades de Polícia Pacificadora está contribuindo para uma baixa

proporcional na apólice.

Segundo dados fornecidos pela Secretaria de Estado de Segurança do Rio de

Janeiro, na AISP 18, comparando o primeiro trimestre de 2010 com o mesmo período

de 2009, os delitos que tiveram maior redução absoluta foram: roubo a transeuntes

(com menos 170 casos ou 29,2%), roubo de veículos (com menos 93 casos ou 47,7%) e

roubo em coletivos (com menos 38 casos). No mesmo período se verificou um aumento

absoluto de registros, o que se justifica pela pacificação da Cidade de Deus; até a

instalação da Unidade de Polícia Pacificadora a população temia por sofrer represália

do tráfico quando notificava os ilícitos que ali ocorriam. Para os marginais da lei que

dominavam a Cidade de Deus, quanto menos motivos para a presença da polícia na

comunidade, melhor. As principais ocorrências, outrora subnotificadas e que agora são

registradas são: ameaça (com mais 232 vítimas ou 49,8%), lesão corporal dolosa (com

mais 210 vítimas ou 35,3%) e tentativa de homicídio (com mais 05 vítimas). Em

janeiro, fevereiro e março de 2010 o total de roubos diminuiu em 30,7% ou menos 332

delitos se comparado ao mesmo período do ano anterior. Os furtos diminuíram em

2 VSO (Vendas Sobre Oferta): indicador que mede a velocidade de vendas

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3,4% ou menos 46 delitos. O número de registros de ocorrências aumentou em 124

ocorrências3.

Com o fim dos confrontos armados, que afetavam diretamente as crianças e

reduziam a freqüência escolar e o rendimento dos estudantes, houve um aumento de

pelo menos 30% nos registros de freqüência escolar na maioria das escolas e creches

públicas, que abrigam quase oito mil crianças na Cidade de Deus. Os desenhos feitos

pelos alunos retratando mortes e tiroteios foram substituídos por motivos que lembram

a natureza, a vida em família e o lazer. Pais que matriculavam seus filhos em escolas de

outras regiões por conta da violência, voltaram a matricular seus filhos nas escolas da

comunidade.

Segundo a diretora da Escola Municipal Monsenhor Cordioli, Sandra Barbosa,

a pesquisa para o remanejamento de alunos para 2010 apontou que quase a totalidade

dos pais solicitou a permanência dos seus filhos nas escolas da Cidade de Deus,

enquanto que a diretora da Escola Alberto Rangel, Maria Pifânio, afirma que a sua

unidade está sendo procurada até por moradores de outros bairros, como a Freguesia.

NOME DA UNIDADE

ESCOLAR

MATRÍCULA

MARÇO

2009

MARÇO

2010

AUGUSTO MAGNE 487 552

LEILA B. DE CARVALHO 729 695

AVERTANO ROCHA 501 577

MONSENHOR CORDIOLI 354 241

ALPHONSUS GUIMARÃES 703 835

FREDERICO EYER 436 473

ALBERTO RANGEL 568 568

JOAQUIM FONTES 544 563

JOSÉ CLEMENTE PEREIRA 767 765

PEDRO ALEIXO 791 1.044

CIEP LUIZ CARLOS PRESTES 256 441

CIEP JOÃO BATISTA DOS

SANTOS 584 638

3 ISP (Instituto de Segurança Pública) -18º AISP

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CRECHE MUNICIPAL LUZES

DO AMANHÃ 92 90

CRECHE MUNICIPAL

MARGARIDA GABINAL 91 104

CRECHE MUNICIPAL SEMPRE

VIDA JOSUÉ 35 33

EDI JARDIM DO AMANHÃ ----- 71

TOTAL 6.938 7.619

Ao analisar os dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Educação da

Cidade do Rio de Janeiro constantes na tabela acima, pode-se observar um considerável

aumento no número de matrículas na maioria das escolas da Cidade de Deus. Das

dezesseis escolas e creches municipais da comunidade, dez tiveram um aumento no

número de matrículas, quatro tiveram decréscimo e duas mantiveram o mesmo número

de alunos.

* Unidades que apresentaram decréscimo no número de matrículas

a) Escola Municipal Leila B. de Carvalho - 4,66%;

b) Escola Municipal Monsenhor Cordioli - 31,92%;

c) Escola Municipal José Clemente Pereira - 0,26%.

* Unidades que mantiveram o mesmo número de matrículas

a) Escola Municipal Alberto Rangel;

b) Escola Municipal Jardim do Amanhã.

* Unidades que apresentaram aumento no número de matrículas:

a) Escola Municipal Augusto Magne - 13,34%;

b) Escola Municipal Avertano Rocha - 15,16%;

c) Escola Municipal Alphonsus Guimarães - 18,77%;

d) Escola Municipal Frederico Eyer - 8,48%;

e) Escola Municipal Joaquina Fontes - 3,49%;

f) Escola Municipal Pedro Aleixo - 31,98%;

g) CIEP Luiz Carlos Prestes - 72%;

h) CIEP João Batista dos santos - 9,24%

i) Creche Municipal Margarida Gabinal - 14,28%;

j) Creche Municipal Sempre Vida Josué - 5,71%.

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Comparando o número total de matrículas realizadas em março de 2009 com as

realizadas em março de 2010, houve um salto de 6938 matrículas para 7619, o que

corresponde a um aumento de 9,81%.

5. CONCLUSÕES

A Unidade de Polícia Pacificadora da Cidade de Deus não só reconquistou o

terreno, mas resgatou a chama de esperança que o “cidadão de bem” havia perdido.

Uma política de segurança pública séria, pautada na garantia da dignidade humana e

norteada pelo princípio de continuidade.

De acordo com os estudos realizados, comprovou-se que a Unidade de Polícia

Pacificadora da Cidade de Deus contribuiu de forma significativa para a redução do

índice de evasão escolar na comunidade da Cidade de Deus; apesar de haver um grande

crescimento no número de apreensões e prisões, houve, em contrapartida um

exponencial declínio de confrontos com armas, o que gerou uma considerável melhoria

na sensação de segurança percebida pelos moradores locais.

Pode-se afirmar que as crianças continuamente expostas à violência tem mais

problemas de aprendizagem que seus colegas fora de áreas de risco social; a isto devem

ser somados os bloqueios cognitivos e o maior absentismo do professor e

desorganização do ambiente escolar aos quais acabam sendo sujeitos.

Dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Educação comprovam um

aumento significativo do número de matrículas nas escolas e creches municipais.

Comparando o número total de matrículas realizadas em março de 2009 com as

realizadas em março de 2010, verificou-se salto de 6.938 matrículas para 7.619, o que

corresponde a um aumento de 9,81%. Pais que matriculavam seus filhos em escolas de

outras regiões, por conta da violência, voltaram a matriculá-los nas escolas da

comunidade.

O fim dos confrontos armados, que afetavam diretamente as crianças e

reduziam a freqüência escolar e o rendimento dos estudantes, possibilitou um aumento

de pelo menos 30% nos registros de freqüência escolar na maioria das escolas e creches

públicas, que abrigam quase 8.000 crianças na Cidade de Deus.

A pacificação aliada à estratégia de implantação da ronda escolar em agosto de

2009, foi determinante para a redução dos índices de evasão escolar influenciando de

forma significativa o aumento da freqüência escolar e o aumento do número total de

matrículas nas escolas e creches municipais da Cidade de Deus.

Do exposto, pode-se afirmar que a pacificação da Cidade de Deus aliada à

estratégia da ronda escolar comunitária contribuiu significativamente para a redução

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dos índices de evasão escolar nas escolas e creches municipais da comunidade. A

redução destes índices pode ser considerada como um indicador seguro para a avaliação

dos resultados obtidos pela Unidade de Polícia Pacificadora da Cidade de Deus.

6. REFERÊNCIAS

ABNT. Referências Bibliográficas. Rio de Janeiro: 2001.

ALVES, Francisco Edson. Paz na Cidade de Deus Devolve Um Terço dos

Alunos às Aulas. Rio de Janeiro: Jornal O Dia de 12 jul. 2009.

ARENDT, Hannah. A condição humana. São Paulo: Edusp, 1995.

AZKHOL, Marco Antonio. Teoria Geral do Estado. 1ª ed. São Paulo: Juarez de

Oliveira. 2002.

BRASIL, Constituição da República Federativa do. Constituição da República

do Brasil.10.ed.Porto Alegre:Verbo Jurídico,2009.

CALDEIRA, Tânia Santos Assunção; STASIAK, Wladimir. A Educação como

proposta de controle da criminalidade Disputationes: O Direito em Revista. Rio de

Janeiro: Apucarana, 2004.

Censo Demográfico de 2000

<http://www.fgv.br/cps/MapaFimFomeII/TABELAS >. Acesso em 03 jul. 2010.

COSTIN, Claudia. Educação como Caminho. Disponível em:

<http://www.imil.org.br/autor/claudia-costin/>. Acessado em: junho 2010.

GALLI, Ítalo. Anais do IV Encontro nacional dos Delegados de Polícia. São

Paulo: São Paulo, 1991.

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<http://www.isp.rj.gov.br>. Acesso em março 2010.

LARAIA, Roque Bastos. Cultura um conceito antropológico. 17ª ed. Rio de

Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004.

NERI, Marcelo. Mapa do Fim da Fome – Zoom nas Favelas Cariocas. Rio de

Janeiro: FGV/IBRE, CPS, 2004.

RIO DE JANEIRO (Estado). Decreto n.º41.930 de 25 de junho de 2009. Dispõe

sobre a criação e implantação das Regiões Integradas de Segurança Pública (RISP) e

das Circunscrições Integradas de Segurança Pública (CISP) para todo o Estado do Rio

de Janeiro ISP. Diário Oficial do Governo do Estado do Rio de Janeiro, Poder

Executivo, Rio de Janeiro, RJ, 25 jun. 2009. Seção 1, p.7.

SANTOS, Adilson Garcia dos. Legislação Aplicada para Atividade Policial na

Segurança Pública. 6ª ed. São Paulo: Gráfica Prudent, 1999.

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SILVA, Jorge da. Violência e racismo no Rio de Janeiro. 1ª ed. Rio de Janeiro/

Niterói: EDUFF, 1998.

Revista Exame. Disponível em: <http://www.exame.com.br>. Acesso em junho

de 2010.

7. ANEXO

Entrevista realizada no dia 29 de junho de 2010 com o Capitão Felipe

Gonçalves Romeu, ex-comandante da UPP da Cidade de Deus, criador da ronda escolar

comunitária da Cidade de Deus.

QUESTIONÁRIO

A. Como surgiu a idéia de criar a ronda escolar na Cidade de Deus?

B. De onde foi tirado o modelo para a implantação da ronda escolar na Unidade de

Polícia pacificadora da Cidade de Deus?

B. Quando foi criada e qual é o objetivo da ronda escolar?

C. De que forma foi implantada o ronda escolar?

D. A ronda escolar atendeu aos objetivos propostos?

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PADRONIZAÇÃO DOCUMENTAL DE AÇÕES DE POLÍCIA COMUNITÁRIA

NAS UNIDADES DE POLÍCIA PACIFICADORA

1. INTRODUÇÃO

O presente artigo tem por escopo propor uma padronização documental a ser

implementada nas Unidades de Polícia Pacificadora. A presente proposta surge da necessidade

de se padronizar as ações de polícia nas localidades em que foram implantadas UPPs.

A questão do policiamento comunitário desenvolvido pela Polícia Militar do Estado do

Rio de Janeiro apresenta algumas peculiaridades em sua execução e por conta disso, por vezes

se distancia do idealizado pelos estudiosos do tema. Esta prática pode se traduzir em uma

circunstância perniciosa ao longo dos anos, existindo por corolário a possibilidade de no futuro

vir a ser executada uma modalidade de policiamento totalmente distinta do que a preconizada

pelos ideais de polícia comunitária.

O estudo do policiamento comunitário ganha contorno especial a partir do ano de 2008,

em virtude da implementação das Unidades de Polícia Pacificadora em nosso Estado. Tais

Unidades desenvolvem como principal ideologia as práticas de polícia comunitária. Destarte, se

apresenta como premente e importante que se estabeleça uma homogeneidade nas práticas de

polícia nos âmbitos das UPPs. O presente trabalho buscará estabelecer, por meio de linhas bem

definidas, alguns documentos a serem confeccionados pelos diversos policiais que compõem as

Unidades de Polícia Pacificadora a fim de garantir uma continuidade de execução de

policiamento sempre em consonância com as diretrizes preconizadoras de polícia comunitária.

Para que seja possível definir os formulários que se apresentam como indispensáveis à

execução de um serviço policial comunitário este trabalho analisará os principais modelos de

policiamento comunitário. Avaliará também o histórico do policiamento comunitário em alguns

países do mundo, no Brasil e especificamente no Rio de Janeiro. Posteriormente será feita uma

análise das ações de policiamento comunitário, sob a ótica da Secretaria Nacional de Segurança

Pública, avaliando os sitemas Koban e Chuzaisho. Por derradeiro será apresentada proposta

contendo alguns formulários orientadores para as ações a serem desenvolvidas nas Unidades de

Polícia Pacificadora.

Desta maneira, com o estabelecimento de um elenco de formulários a serem levados a

cabo nas UPPs, se pretende estabelecer uma padronização das ações de polícia pacificadora,

levando-se em consideração a peculiaridade do serviço desenvolvido por tais profissionais.

Viabilizando o permanente desenvolvimento de policiamento compromissado com os

parâmetros de policiamento comunitário, garantindo desta maneira vida longa a esta

modalidade que desde já apresenta sinais de êxito.

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2. DESENVOLVIMENTO

A partir deste momento o presente trabalho irá construir o embasamento teórico no

sentido de se concluir pela necessidade de uma padronização documental das ações de polícia

comunitária nas UPPs. Isto se dará por meio de breve análise do aspecto histórico da criação da

instituição policial; posteriormente analisar-se-á a construção da filosofia de polícia

comunitária e suas principais manifestações em alguns países do mundo, no Brasil e no Rio de

Janeiro.

2.1. POLÍCIA COMUNITÁRIA

A história nos relata que a concepção que temos hodiernamente acerca de uma polícia

moderna reporta-se ao inicio do século XIX, mais precisamente no ano de 1829, com a criação

da Polícia Metropolitana de Londres, por Sir Robert Peel. Neste diapasão a polícia é concebida

como instituição universal, neutra e imparcial, que independe de sistemas de governos para

existir, tendo como objetivo maior a promoção da paz e da ordem pública utilizando meios

pacíficos, sendo autorizado, por essa mesma sociedade, a fazer uso da força física, em sua

defesa, se necessário for (BAYLEY, 2006).

O Primeiro Ministro Inglês Sir Robert Peel, quando da implementação da Polícia

Metropolitana londrina, a estabelece sob a égide de nove princípios, todos em íntima sintonia

com a filosofia de Polícia Comunitária, sendo que um destes princípios estatui o seguinte: “A

polícia deve se esforçar para manter constantemente com o povo (comunidade) um

relacionamento que dê realidade à tradição de que a polícia é o povo e o povo é a polícia”

(AMORIM, 2009).

Destarte, desde então é construído o entendimento de polícia como órgão responsável

pela manutenção da ordem pública. Entre os seus primordiais objetivos é percebido o papel de

promotor de interação com a sociedade, buscando alternativas para solucionar os conflitos

experimentados por dado grupamento social, tendo por bem claro que a condição de existência

desta organização é a defesa dos interesses da coletividade. Desta maneira, concomitante à

criação da instituição policial, está germinada a ideia de polícia comunitária.

O Japão desenvolve um dos mais antigos processos de policia comunitária no mundo,

sua polícia foi claramente estruturada sobre os ideais desta filosofia. O policiamento é fardado e

estruturado em uma ampla rede de postos policiais, totalizando 15.000 em todo país, tais postos

são denominados Kobans e Chusaichos. Este modelo data do ano de 1879. Em razão de sua

substancial importância, durante o desenvolvimento do presente tema, este trabalho abordará o

policiamento desenvolvido no Japão em título próprio.

Tempos depois, esta ótica de uma polícia predominantemente preventiva e voltada à

comunidade passa a ser desenvolvida por países como Malásia, Coréia, China e Cingapura.

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Este fenômeno de ações de polícia, precipuamente sob o viés preventivo, dá origem a uma

filosofia chamada de Escola de Polícia Oriental, sendo que esta linha de atuação se contrapõe à

chamada Escola Anglo-Saxônica (ideologia reativa e de controle social) e à Escola Latina

(ideologia militarista).

Nos Estados Unidos a questão da perspectiva preventiva do policiamento começa a

ganhar contornos a partir do ano de 1914, quando o Comissário de Polícia de Nova York ,

passa a trabalhar a importância social da dignidade e do valor público do trabalho policial. Foi

criado o programa “policial júnior”, no qual eram realizadas visitas às escolas, sendo esta

política apontada como um primeiro procedimento de polícia comunitária nos Estados Unidos

da América.

Apesar desta inicialmente tímida experiência no modelo de policiamento comunitário, o

modelo tradicional de policiamento permaneceu sendo desenvolvido nos EUA. No ano de 1967

a Comissão Presidencial sobre Policiamento e Justiça, reconhecendo a falência do modelo de

policiamento, face ao crescente índice de violência e distúrbios civis, recomenda o

policiamento em grupo, isto como ferramenta para tentar diminuir a distância entre a polícia e a

comunidade.

Brodeur assevera que as autoridades passam a perceber as vantagens do policiamento

comunitário quando notam que estes tipos de ação representam uma diminuição dos fundos

governamentais. Esta percepção se soma à crescente atenção dispensada pela mídia na

abordagem de questões de violência, drogas, atividade de gangues e brutalidade policial. É

neste contexto que as estruturas policiais passaram a sofrer uma pressão cada vez mais

crescente para o desenvolvimento de estratégias mais eficazes (BRODEUR, 2002). Diante

disso vários programas são colocados em prática, tais como o policiamento a pé, solução de

problemas, contatos de porta em porta e a criação de organizações comunitárias voluntárias.

A partir desta prática temos a aproximação da polícia com a sociedade, que passa a

cooperar com as ações daquela, levando a efeito o fenômeno chamado de “comunitarização” da

polícia. Vários foram os departamentos que implementaram esta modalidade de policiamento.

Já no Canadá o processo de policiamento comunitário surgiu de maneira distinta, pois

não houve pressões políticas para tanto, ocorreu, na verdade uma série de programas

experimentais e avaliações científicas. A maioria dos estudiosos aponta que o Canadá, de fato,

apenas fez um resgate às origens do policiamento, com inspiração essencialmente na Polícia

Metropolitana de Londres, idealizada por Sir Robert Peel (BRODEUR, 2002).

Malgrado o processo de implementação da modalidade comunitária no Canadá ter sido

distinta, sob a concepção da interação com a sociedade, a polícia canadense é apontada como

de particular semelhança com a polícia estadunidense, contando com significativa participação

da comunidade, sendo indicada por estudiosos como um dos melhores sistemas do mundo

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(BONDAKARU e SOUZA, 2007). Trabalham com a idéia de “comunidade policiando”, e para

tanto partem de cinco premissas, as quais foram estabelecidas pela Royal Canadian Mounted

Police, sendo concebida sob metodologia do sistema CAPRA. Tal denominação leva em

consideração as iniciais de cada aspecto a ser desenvolvido em tal processo, sendo eles:

Clientes (aproximação com a comunidade e esta participando do planejamento policial);

Análise (analisar os processos pelos quais passam aquela comunidade); Parcerias

(estabelecimento de vínculo de contato com todas as instituições/pessoas que podem participar

da solução das problemáticas daquela comunidade); Resposta (o sucesso do sistema é aferido

na medida em que este procedimento é capaz de dar a resposta necessária aos anseios daquela

coletividade) e Avaliação (acompanhamento crítico, constante de toda sistemática, avaliando a

eficiência e efetividade do sistema).

2.1.1. Polícia Comunitária no Brasil

Em linha gerais, nos países que compõem a America Latina, as polícias vem passando

por uma crise de identidade, a qual é apontada como corolário de sucessivos períodos de

ditadura, ocasião em que tais instituições estavam intimamente vinculadas às Força Armadas

(FREITAS JÚNIOR, 2006).

Um marco para se falar em política de segurança pública no Brasil é o golpe militar de

1964, momento que se dá a criação da Inspetoria Geral das Polícias Militares, IGPM. A partir

de então as polícias militares passam a ser modelo do Exército, sob os aspectos operacional,

doutrinário, hierárquico e disciplinar. A submissão das polícias militares à doutrina militar

também é vista como uma forma de preservar o Exército do desgaste quando da repressão aos

movimentos contrários ao golpe. A militarização das polícias está alinhada às atividades de

preservação da segurança interna, onde prevalecem os preceitos belicistas. A guerra então

estava declarada ao inimigo interno.

A cultura militar, fruto das Forças Armadas, então é plantada no bojo das polícias e até

hoje se travam lutas em favor da ruptura com a cultura belicista, nesta esteira citamos a

escorreita lição de Amaral:

“O militar é treinado para matar e o policial deve ser formado para educar, para civilizar, como

agente do direito que é. O Policial é um profissional do Direito, tanto quanto o juiz, o

advogado, o promotor de justiça, jamais um profissional da guerra” (AMARAL, 2006).

Com a consecução do momento seguinte, com o fulcro de se adaptarem aos respectivos

processos de redemocratização, o papel da polícia passa por uma modificação substancial, até

por conta da ineficiência que é resultado das políticas clássicas de segurança e da truculência no

trato com a população.

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Com o processo de redemocratização do país as estruturas das polícias passam a sofrer

uma reformulação, mormente por ocasião do movimento de eleições diretas para os

governadores dos Estados no ano de 1982, quando se repensa a relação da polícia com a

comunidade. Sendo uma das partes centrais deste processo a institucionalização do Estado de

direitos e dos direitos de cidadania. Outro fator que contribuiu para a conscientização acerca da

filosofia de polícia comunitária foi o 1º Congresso Internacional sobre Policiamento

Comunitário, em 1991, o qual contou com a participação de pesquisadores e comandantes de

várias polícias norte-americanas e canadenses.

A Polícia Militar do Estado de São Paulo, considerando-se o Brasil, é precursora nos

movimentos de polícia comunitária. Há relatos que dão conta que no Estado de São Paulo, no

ano de 1985 já eram promovidos Conselhos Comunitários de Segurança. Na década de 1990

são promovidas mudanças organizacionais no sentido de garantir mais viabilidade ao

policiamento comunitário. Havia um Conselho Geral da Comunidade, o qual funcionava junto

ao comando geral da Polícia Militar, tendo este conselho, inclusive, confeccionado um projeto

de polícia comunitária em 1993.

No ano de 1997 a polícia paulista passa por grave crise, em razão da divulgação na

imprensa de imagens de violência e corrupção policial ocorrida em Diadema, região

metropolitana. Logo em seguida o governo daquele Estado adota a filosofia de polícia

comunitária. É criada a Comissão de Assessoramento para Implantação do Policiamento

Comunitário, em 2002 esta Comissão é reestruturada e passa a se chamar Comissão Estadual de

Polícia Comunitária, sendo concomitantemente criado o Departamento de Polícia Comunitária

e Direitos Humanos. A partir do ano de 2004 a Polícia Militar passa a instalar Bases

Comunitárias de Segurança, nos moldes das Kobans, conforme pratica a polícia japonesa. É

também estabelecida parceria com o governo japonês sendo alocada uma equipe de Consultoria

japonesa, que acompanhou o processo de implementação e o desenvolvimento dos trabalhos.

Recentemente o acordo com o governo japonês foi renovado, por intermediação da SENASP,

fazendo a inclusão de mais onze unidades federativas, sendo a polícia de São Paulo intitulada

como órgão difusor.

Além de São Paulo existem outros Estados da Federação que contam com experiência

em Polícia Comunitária, tais como Espírito Santo, Pará, Paraná, Sergipe, Rio Grande do Norte,

Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Ceará, Pernambuco, Paraíba, Minas Gerais, Santa Catarina

e Bahia (CERQUEIRA, 1998). No Estado do Ceará, em 1986 já havia iniciativa de índole

comunitária; em Minas Gerais isto ocorre em 1993, ocasião em que aquele Estado busca a

filosofia de polícia comunitária nos níveis estratégicos e práticos de policiamento. No Espírito

Santo em 1993 é implementado o programada da Polícia Interativa.

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Existe um modelo idealizado pela Polícia Militar do Pará, o Projeto Povo –

Policiamento Ostensivo Volante, que associa atendimento comunitário ao policiamento

tradicional. O Estado do Paraná desenvolve, entre outros projetos, o projeto de Policiamento

Solidário. No Distrito Federal, em 1995 foi operacionalizado o primeiro projeto de

Policiamento Comunitário. Também em 1995 a Bahia leva a efeito um projeto de Polícia

Comunitária, sob a nomenclatura “Polícia Cidadã”. Em Santa Catarina, em 1998, há o “Plano

de Implementação da Segurança Interativa".

2.1.2. Polícia Comunitária no Rio de Janeiro

No Estado do Rio de Janeiro, quem introduz a idéia de Polícia Comunitária é o Coronel

Carlos Nazareth Cerqueira, e o faz em suas duas passagens pelo comando geral da Corporação.

Em 1983 implementou no 18º BPM o Centro Integrado de Policiamento Comunitário (CIPOC)

que atuava na comunidade da Cidade de Deus e tinha o fulcro maior da Polícia Comunitária,

qual seja, a busca da interação entre a polícia e a comunidade com vistas à manutenção da

ordem pública.

Em 1984 levou a cabo o projeto “Vigilantes Comunitários”, o qual era formado por

cidadãos vinculados à associação de moradores da Barra da Tijuca e tinha como proposta a

colaboração da sociedade civil junto à Polícia Militar, por ocasião da realização de eventos em

geral. No decorrer dos anos os Vigilantes Comunitários estenderam suas ações para auxiliar na

parte operacional da Unidade, e para tanto receberam orientações quanto ao manuseio do rádio,

telefone, entre outros, auxiliando na área de policiamento do 18º BPM.

Em 1986 foi implementado o programa “Policiamento de Bairro”. Até o Nu/COE,

antecessor do que hoje é o Batalhão de Operações Especiais, foi ambientado sob tal filosofia,

sendo estabelecidos alguns objetivos específicos para aquela Unidade, todos em consonância

com a atuação democrática da polícia, entre eles: “Dar apoio a comunidade, estreitando o

contato com a mesma” (CERQUEIRA, 2001).

Neste primeiro momento as medidas de Polícia Comunitária não chegam a se

consubstanciar em modificações relevantes nas estratégias de trabalho. De 1991 a 1994 há nova

investida sob o viés de Polícia Comunitária. É criado o Programa de Proteção ao Turista, atual

Batalhão de Polícia de Turismo; e o Programa Educacional de Resistência às Drogas

(PROERD) com vistas à prevenção ao uso de drogas por parte de crianças e adolescentes; outra

ação de índole preventiva é a instituição de Centros Comunitários de Defesa da Cidadania

(CCDC), que num mesmo local reunia PM e serviços assistenciais.

Em 1993 o Coronel Cerqueira produz um caderno sobre o policiamento comunitário e

em seguida traduz para o português o livro “Policiamento Comunitário: Como Começar” de

Trojanowicz. Entre 1993 e 1994 a organização “Viva Rio” promoveu uma experiência de

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policiamento comunitário em Copacabana. Os objetivos eram implementar estratégias

preventivas, no sentido de minimizar situações de risco e informar acerca dos limites da

atuação policial. Ainda neste interregno temporal é criado o GAPE – Grupamento de Aplicação

Prático Escolar, cuja primordial atribuição era prestar a segurança pública dentro das

comunidades carentes. Em 1999 temos o “Mutirão da Paz”, implementado na comunidade do

Pereirão, em Laranjeiras, cujo objetivo era atender as demandas locais, trabalhando em parceria

com várias secretarias governamentais. Tal projeto durou onze meses.

Inspirado nestes dois últimos projetos, no ano de 2000 é criado o GPAE – Grupamento

de Policiamento em Áreas Especiais. São enunciados sete princípios básicos para atuação deste

grupamento: legalidade e direitos humanos, integração, inteligência, estratégia diferenciada,

prevenção pró-ativa, repressão qualificada e uso seletivo da força. Paralelo a isso foi fundado

um conselho de entidades e lideranças comunitárias para que houvesse um planejamento da

segurança local.

A mais nova empreitada da Polícia Militar, sob o signo da ideologia comunitária, são as

Unidades de Polícia Pacificadora – UPPs. Em 2009 o Governador Sérgio Cabral editou o

decreto número 41.650, regulamentando a criação da UPP do Morro Dona Marta. A referida foi

inaugurada em 19 de dezembro de 2008. Esta nova Unidade de Polícia visava pacificar aquela

comunidade por meio da ocupação permanente, buscando sempre a aproximação entre polícia e

comunidade.

Após a implantação da UPP Dona Marta outras foram inauguradas, entre as quais:

Jardim Batan, Cidade de Deus, Chapéu Mangueira/Babilônia, Pavão/Pavãozinho/Cantagalo,

Ladeira dos Tabajaras/Cabritos, Formiga e Boréu. O governo promete a instalação de outras

Unidades em diversas comunidades, em um futuro próximo (OGLOBO, 2010).

Até o presente momento as UPPs instaladas dão sinais de êxito. Inúmeras são as

referências elogiosas a tal modalidade de policiamento, tanto por meio da mídia quanto por

relatos dos moradores das localidades assistidas por tal modalidade de policiamento

(OGLOBO, 2010).

2.2. A POLÍCIA COMUNITÁRIA E O POLICIAMENTO COMUNITÁRIO

Sobre policiamento comunitário, um dos conceitos mais conhecidos e repetidos sobre o

assunto é de autoria de Trojanowicz e Bucqueroux, os quais afirmam:

“Policiamento comunitário é uma filosofia e estratégia profissional que proporciona uma nova

parceria entre a população e a polícia. Baseia-se na premissa que tanto a polícia quanto a

comunidade devem trabalhar juntas, para priorizar, identificar e resolver problemas

contemporâneos tais como o crime e drogas, medo do crime, desordem física e moral, e em

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geral a decadência do bairro, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida na área”

(TROJANOWICZ e BUCQUEROUX, 1994).

Esta então é a premissa maior do policiamento comunitário: a interação com a

comunidade. Junto a isso há a construção de um corpo de servidores conscientes dos problemas

recorrentes na área em que atuam, os quais juntamente com a população local trabalharão a fim

de comporem estas problemáticas. Ressalte-se que tais conflitos não necessariamente

significam a ocorrência de uma infração penal, antes, tudo o que possa afetar as pessoas deve

passar pelo exame da polícia e da comunidade. Sendo a Polícia Comunitária considerada uma

atitude, na qual o policial como cidadão, aparece a serviço da comunidade e não como uma

força, é um serviço público, antes de ser uma força pública (FREITAS, 2006).

É inafastável ainda, para que haja a compreensão da presente obra em sua inteireza, que

o conceito de policiamento comunitário seja contraposto com o de Polícia Comunitária. Em um

sem número de vezes tais conceitos são aplicados indistintamente, não sendo esta posição a

tecnicamente mais correta, na medida em que os estudiosos do tema apresentam definições

distintas para eles.

Polícia Comunitária é o termo que se reporta a uma filosofia, na qual se apregoa o

envolvimento da comunidade em parceria com os órgãos de segurança. Diz respeito na

verdade, a um conjunto de ações, praticadas em parceria com a comunidade visando dar

solução aos problemas de segurança pública. Já policiamento comunitário é a atividade policial

em si, revestida de tal filosofia, pautada sob a estratégia da prevenção e parceria.

Destarte temos a lição do Ten Cel PMPR Bondaruk:

“É importante relembrar a diferença dos conceitos de policiamento e de Polícia Comunitária,

sendo a primeira a atividade desenvolvida pelos órgãos policiais exclusivamente, e a segunda a

atuação de todos os setores da sociedade” (BONDARUK, 2008).

2.3. POLÍCIA COMUNITÁRIA SEGUNDO OS MODELOS KOBANS E CHUSAICHOS

A história relata que o Japão desenvolve um dos processos mais antigos de polícia

comunitária do mundo. Sua polícia é fardada e estruturada em uma ampla rede de postos

policiais, totalizando 15.000 em todo país, tais postos são denominados Kobans e Chusaichos.

Os postos de modelo Chusaichos na maioria das vezes são instalados em bairros

residenciais de baixo índice de criminalidade, onde o policial trabalha inclusive com a

participação de sua família. No modelo Chusaichos o policial realiza rondas comunitárias. Na

ausência deste policial, havendo a necessidade do registro de ocorrência, é o seu cônjuge que o

fará, esta, recebe prévio treinamento para tanto, bem como ajuda de custo.

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Já os postos do tipo Kobans, se aproximam mais dos postos policiais convencionais.

Estes postos são alocados normalmente nos locais de grande concentração de pessoas. Em tal

modelo são formadas equipes com três ou quatro policiais, que atuam 24 horas por dia. São

realizadas rondas a pé ou de bicicletas, com promoção de visitas, registros de ocorrências e até

mesmo prestando assistência a idosos.

O modelo de Kobans e Chusaichos é apontado como o grande responsável pelos baixos

índices de criminalidade no Japão. Neste modelo de policiamento comunitário a atividade

proporciona que os postos possuam o registro de todas as pessoas que convivem naquela

determinada área, havendo a interação constante entre polícia e comunidade.

2.3.1. Polícia Comunitária segundo a SENASP

Atualmente os programas de Polícia Comunitária desenvolvidos em nosso país, em sua

maioria, estão coadunados com o sistema Japonês dos Kobans. O trabalho por esta linha de

atuação primeiramente se deu por meio de políticas governamentais no Estado de São Paulo.

Tal modelo foi adotado pela Secretaria Nacional de Segurança Pública – SENASP. Atualmente

São Paulo funciona como verdadeiro centro propagador dos modelos Kobans. Naquele Estado é

desenvolvido um projeto de cooperação técnica entre Brasil e Japão, fruto de uma parceria

entre a Agência de Cooperação Internacional do Japão- JICA, Polícia Nacional do Japão,

Agência Brasileira de Cooperação-ABC, Polícia Militar do Estado de São Paulo – PMESP e a

Secretaria Nacional de Segurança Pública – SENASP do Ministério da Justiça. Este programa

conta também com a participação de outros países da América do Sul, tais como Costa Rica,

Guatemala e El Salvador.

Segundo o Cel PM PMESP Castro, o policiamento comunitário nos moldes Koban

adaptado ao Estado de São Paulo tem cada vez mais atraído o interesse de diversos países em

desenvolvimento, bem como de países como Canadá, Espanha e Inglaterra, por causa dos

excelentes resultados alcançados (CASTRO, 2010).

A PMERJ também adotou como prática de policiamento comunitário o modelo Koban,

participando do convênio entre a SENASP, PMESP e a Polícia japonesa. Em algumas

oportunidades matricula oficiais para participarem do curso de polícia comunitária do sistema

Kobans. Inclusive, no Boletim Ostensivo da Corporação do dia 21 de junho de 2010 foram

inscritos dois tenentes e um capitão no aludido curso.

2.4. RELATÓRIOS – PADRÃO DE POLÍCIA COMUNITÁRIA

Como já estudado, a Polícia Comunitária é uma filosofia e estratégia organizacional

que oportuniza a parceria entre a população e a polícia e baseia-se na premissa de que tanto a

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polícia quanto a sociedade devem trabalhar juntas para identificar, priorizar e resolver

problemas contemporâneos tais como: crimes, medo do crime, desordens físicas e morais e em

geral a decadência do bairro ou da comunidade. Deste modo, é de extrema importância que a

Corporação Policial Militar desenvolva mecanismos para assegurar a concretização de ações

típicas de Polícia Comunitária, bem como que padronize tais procedimentos.

A forma mais imediata de unificar procedimentos é, sem dúvida, a elaboração e

utilização de documentos-padrão para todas as Unidades de Polícia Pacificadora, que acabarão

também, por dar suporte à aplicação efetiva de ações de Polícia Comunitária nas comunidades

abrangidas por estas Unidades. É importante acrescentar que em pesquisa realizada com os

comandantes das UPPs foi observado que a maioria deles iniciou o trabalho sem possuir curso

ou outras experiências na área de polícia comunitária, o que corrobora a não implantação

imediata das técnicas de polícia comunitária.

A diretriz da PMERJ número 01 de dezenove de fevereiro de 2001 regula a implantação

de Projetos Módulos de Policiamento Comunitário e além de estipular as medidas

administrativas e operacionais a serem desenvolvidas visando o policiamento comunitário nas

áreas abrangidas pelo projeto, também regula a escrituração básica das ações de Polícia

Comunitária. Porém, há de se notar que o trabalho de Polícia Comunitária nas Unidades de

Polícia Pacificadora possui especialidades que devem ser observadas quando da implantação da

filosofia de Polícia Comunitária.

Polícia comunitária difere do policiamento comunitário, pois este é pertinente às ações

efetivas com a comunidade, ou seja, é a aplicação efetiva da filosofia de Polícia Comunitária.

Logo, é de fácil entendimento que sem uma normatização ou padronização destas ações, o

policial na “linha de frente” pode distorcer ou simplesmente não realizar sua função

(policiamento comunitário) adequadamente. Diante do exposto se faz mister a escrituração em

fichas ou formulários de todas as ações desenvolvidas no policiamento das UPPs, pois além de

proporcionar a efetiva implantação das técnicas de Polícia Comunitária, também serve para

criar um banco de dados para elaboração de estatísticas e planejamento do emprego do efetivo.

Uma das principais características da polícia comunitária é que ela é proativa e busca

junto com a comunidade a prevenção de delitos (SILBERMAN, 1988). Neste contexto, a visita

domiciliar torna-se importante mecanismo na busca de informações que possam nortear as

ações policiais e, sobretudo para criar confiança mútua entre população e polícia a fim de

prevenir o acontecimento de crimes.

2.4.1. Formulário de visitas domiciliares

Nas visitas domiciliares, o policial deve preencher uma ficha contendo o endereço do

morador, nome completo do proprietário/locador e o quantitativo de moradores no imóvel,

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informando o telefone de contato, profissão do responsável pelo imóvel e endereço eletrônico,

caso haja. O policial deve indicar reclamações, sugestões ou elogios, bem como a data e o

nome do morador que o atendeu.

As visitas devem seguir cronograma estipulado pelo comando da UPP, entretanto, o

policial deve possuir certa mobilidade quanto ao horário das visitas para que possa atender a

todos os moradores dentro de horários possíveis. O policial-visitador, não deve ser empregado

em outro tipo de serviço, para que seu cronograma de visitas não seja prejudicado.

No anexo “A” da diretriz 01/01 é previsto uma ficha para registro dos moradores,

porém, aquela se difere do apresentado no presente trabalho, pois este busca registrar cada

domicílio por vez, além do nome de todos os moradores da residência e todas as informações

prestadas ao longo das visitas.

2.4.2. Formulário de visita a estabelecimentos públicos e privados

A ficha de visitas a estabelecimentos públicos e privados serve de registro das

características dos serviços existentes na comunidade, traçando um paralelo entre as

necessidades do local e os serviços nela verificados. Nesta ficha é realizado um controle de

todos os funcionários do estabelecimento, bem como seus endereços e contatos. Cabe ressaltar,

que tal medida serve de controle do fluxo de pessoas que não são moradores na comunidade,

diminuindo assim a possibilidade de cometimento de crimes por parte dos que não residem na

localidade. Na aludida ficha existe ainda local destinado às observações que os policiais fazem

sobre o estabelecimento, bem como para anotação das informações prestadas pelo (s)

funcionário (s).

São exemplos de estabelecimentos públicos e privados abrangidos por esta ficha os

postos de saúde, creches, supermercados, padarias, farmácias, loterias, organizações não

governamentais, igrejas, dentre outros.

2.4.3. Formulário de visita a bares

É comum em comunidades carentes um número muito grande de bares, ou mesmo as

chamadas “biroscas”, o que torna necessária a confecção de fichas próprias para estes tipos de

estabelecimentos. É importante lembrar, que alguns destes bares serviram de local de venda de

“drogas” quando do domínio do tráfico, necessitando, portanto, de atenção especial por parte

dos policiais.

2.4.4. Formulário de visita a escolas

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As escolas, por suas especificidades, devem receber especial atenção quando do

policiamento comunitário; além de colher informações sobre a conduta dos alunos e

funcionários, serve também para difusão da imagem positiva da polícia, uma vez que a criança

encontra-se na fase de formação de conceitos, contribuindo para a associação da imagem

policial a fatos positivos. Cabe ressaltar, que em um segundo momento a criança ou

adolescente pode ser difusora de uma boa imagem da polícia militar, pois ela leva essas novas

informações, este novo conceito de polícia a outras pessoas, sobretudo a seus familiares.

Deste modo, a escrituração de ficha de visita a escolas deve ser realizada, pois nela o

policial relatará as informações prestadas pelos funcionários, cabendo ressaltar que é

importante que o policial entreviste tanto o diretor quanto os professores e inspetores de alunos,

devendo consignar todas as informações obtidas em cada visita. É mister acrescentar que cada

escola deve possuir uma ficha própria, pois nela o policial poderá observar a constância das

observações fornecidas por seus funcionários. Por fim, destaque-se que ainda que não exista

escola na área de atuação da UPP é importante que o policial realize as visitas nas escolas

próximas, onde os alunos da comunidade estejam matriculados.

2.4.5. Formulário de assistência às vítimas de crimes

A assistência a vítimas de crimes se torna imprescindível para a obtenção da confiança

da população perante a polícia. A vítima fica fragilizada pelo acontecimento delituoso, devendo

o policial explicar os desdobramentos da ocorrência policial, aconselhá-la à respeito de medidas

para evitar nova incidência e, sobretudo observar as informações prestadas pelo ofendido a fim

de delinear ações preventivas.

O policial deve confeccionar este formulário, no máximo, quarenta e oito horas após o

fato delituoso e descrever sucintamente a ocorrência, relatar as orientações prestadas à vítima e

as providências imediatas adotadas para salvaguardar o vitimado de uma possível reincidência

criminal.

2.4.6. Formulário de solicitações da comunidade

Com a presença efetiva do policiamento em locais que foram desassistidos por vários

anos, a Polícia muitas vezes se torna a instituição que absorve todo tipo de solicitações ou

reclamações da população local, as quais podem ser de esfera policial ou não. Mesmo que não

seja competência policial a resolução de certas demandas da comunidade, faz-se imperioso que

o policial explique o porquê da solicitação não ser atribuição da polícia, ou caso seja, deverá

fornecer a resposta imediata para aquela solicitação, não necessitando, porém, que a situação

seja resolvida naquele instante, mas sim, que seja informado ao cidadão quais medidas serão

adotadas, informando ainda, quais são seus direitos e deveres naquele caso concreto.

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Neste contexto, a confecção da ficha de solicitações da comunidade torna-se necessária

para um controle efetivo das demandas trazidas pelos moradores e permite ao comando da

Unidade traçar um diagnóstico mais confiável de quais são as principais necessidades no campo

da segurança pública ou não, possibilitando assim delinear ações que reforcem principalmente a

sensação de segurança.

Cabe ressaltar que quando uma comunidade está pacificada, as principais reclamações

dos moradores tendem a ser interpretadas como não-policiais, como por exemplo: jogo de

futebol na rua, buraco na via, som alto, iluminação pública, dentre outras. Porém, o que em

primeiro momento pode aparentar não ter grande influência na segurança local, pode

posteriormente acabar se tornando um problema típico de polícia, pois uma simples partida de

futebol pode gerar uma ameaça, uma lesão corporal ou mesmo uma tentativa de homicídio.

Deste modo, todas as solicitações devem ser anotadas em ficha própria, qualificando o nome,

endereço e telefone do solicitante para que sejam informadas as medidas adotadas

posteriormente, caso não possam ser atendidas de imediato.

Outra função que as fichas de solicitações possuem, é servir de subsídio para contatos

com outros órgãos públicos, a fim de que cada instituição possa assumir a responsabilidade na

melhoria de vida da população local.

2.4.7. Formulário de reuniões com moradores

A realização de reuniões periódicas com a comunidade é um importante mecanismo

para debater as principais questões locais e explicar à população as medidas adotadas, bem

como buscar soluções comuns.

A ficha de reunião com a comunidade registra os assuntos debatidos na reunião, e serve

como base histórica das medidas adotadas pela polícia em conjunto com a comunidade.

Cabe lembrar, que as reuniões não precisam ser presididas necessariamente pelo

comando da Unidade de Polícia Pacificadora, pois, em tese, cada policial é capaz de organizar e

presidir os encontros em seus locais de patrulhamento. Para que as informações obtidas nas

reuniões não se percam, faz-se necessário o preenchimento da ficha pelo policial e o

encaminhamento da mesma para arquivo na sede da UPP.

As fichas apresentadas além de permitir a padronização das ações típicas de Polícia

Comunitária, serviriam como fonte de consulta para que novos policiais sejam munidos das

informações à respeito das principais demandas policiais naquela localidade e as medidas até

então adotadas para resolvê-las. As fichas devem receber numeração sequencial e conter data

de início e nome do policial que primeiro escriturou-a, só podendo ser iniciada nova ficha

quando do término da anterior. Para que sejam arquivadas as fichas deverão ser conferidas por

policial responsável pelo controle final e rubricadas pelo comandante da Unidade.

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Na escrituração manual das fichas o policial ao anotar os dados interage com o

morador, e foge da impessoalidade que poderia existir no caso de preenchimento digital.

Ressalte-se que no preenchimento digital as informações poderiam ser utilizadas para objetivos

diversos, como a utilização dos dados pessoais dos moradores para a elaboração de malas

diretas ou spans com objetivos comerciais.

3. METODOLOGIA

O presente artigo tem por escopo propor uma padronização documental a ser

implementada nas Unidades de Polícia Pacificadora.

Foi utilizada a aplicação de um questionário, no qual a população abrangida constitui-se

de policiais militares lotados em UPPs.

Como critério de inclusão na amostra, levou-se em conta o fato de serem os

comandantes de Unidades Pacificadoras os responsáveis imediatos pela condução de ações de

polícia comunitária. Portanto, foram os comandantes e ex-comandantes destas UPPs, os

submetidos a questionários para se perscrutar acerca da realidade nas Unidades Pacificadoras.

No total, foram emitidos sete questionários, destes, cinco respondidos por comandantes e dois

por ex-comandantes.

Como já abordado, o instrumento de coleta de dados utilizado foi questionário, o qual

contém onze perguntas. Dos oito oficiais que estão atualmente comandando UPPs, cinco foram

questionados. Três responderam as perguntas nas respectivas Unidades Pacificadoras, enquanto

dois que estão cursando o Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais 2010/1, responderam ao

questionário na sala de aula da ESPM (Escola Superior de Polícia Militar). Um dos ex-

comandantes respondeu em sua Unidade e o outro na sala de aula da ESPM.

Desenvolveu-se uma pesquisa do tipo descritiva-estudo descritivo (VERGARA, 2009).

A análise foi feita de forma quantitativa. Os dados colhidos, entre outras informações

relevantes, revelam que a maioria dos oficiais, ao serem designados para comandar UPPs, não

possuía curso de Polícia Comunitária, e que diversas são as maneiras pelas quais os

comandantes de UPP entendem desenvolver ações de Polícia Comunitária. Nesta esteira, restou

claro que nas UPPs busca-se desenvolver o policiamento comunitário, no entanto, não há uma

padronização documental para tal.

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Neste ponto apresentaremos em gráficos os resultados obtidos com as respostas

aos questionários. Sete oficiais, comandantes e ex-comandantes de Unidades de Polícia

Pacificadora, foram convidados a responder o referido questionário, composto por onze

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perguntas referentes ao tema da presente pesquisa, onde foram obtidos os resultados

abaixo indicados:

Por meio da análise dos dois primeiros quesitos, ficou evidenciado que 57% dos

entrevistados não possuíam curso de polícia comunitária ao assumirem o comando de uma UPP

e que deste total, 50% não possuem o curso mencionado até os dias atuais. Dentre outros, este é

um relevante fator motivacional para padronização documental, tendo em vista que ao não

serem possuidores de curso que rege a filosofia de Polícia Comunitária, os próprios

comandantes inclinam-se a não nortear as ações de suas Unidades Pacificadoras concretamente

direcionadas ao atendimento desta filosofia. Ao constatarmos por meio do quesito 03, que 86%

dos entrevistados afirmam acreditar desenvolver ações de Polícia Comunitária, reafirmamos

que cada UPP tende a adotar procedimentos, em sua maioria, diversos uns dos outros, e não

necessariamente atendendo ao que realmente é imprescindível ser executado em uma

comunidade pacificada.

Demonstrou-se no item 04, que são diversas as maneiras pelas quais os oficiais

questionados entenderam realizar ações de Polícia Comunitária, como se verifica na análise do

gráfico 01.

Gráfico 01 – Exemplo de ações típicas de polícia comunitária (segundo os entrevistados)

A imprescindibilidade de padronização documental é ratificada, no momento em que

os quesitos de 05 a 07 evidenciam que em nenhuma das UPPs estudadas existem fichas ou

qualquer tipo de registro de ações de Polícia Comunitária, bem como que em momento algum

lhes foi determinado elaborar fichas, para controlar tais ações.

Por meio da observação dos itens 08 e 09, constata-se que 71% dos comandantes de

UPPs consideram que seus comandados desconhecem a filosofia de Polícia Comunitária. Em

contrapartida, 86% consideram que seus policiais realizam policiamento comunitário.

Complicado panorama se apresenta, no momento em que a falta de padronização, alinhada ao

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desconhecimento da filosofia de Polícia Comunitária, resulta em práticas consideradas de

policiamento comunitário sem qualquer padrão pré-estabelecido. Conseqüência disto, por

exemplo, como já mencionado, podem ser ações desconexas entre as UPPs, bem como, a perda

do norte da filosofia de Polícia Comunitária determinando que no futuro os policiais acabem

agindo de forma incorreta, com relação às ações da polícia nas comunidades pacificadas.

Na questão 10, ao solicitar que os oficiais indicassem as maneiras pelas quais

entendiam que as ações de Policia Comunitária eram fiscalizadas, ficou evidenciado que na

realidade tais ações, ditas de Polícia Comunitária, não possuem efetiva fiscalização, controle ou

normatização. Resta claro que, em havendo padronização, tal celeuma seria dirimida.

Mais um argumento a somar-se à teoria da necessidade de disponibilização de fichas

para controle de ações de Polícia Comunitária nas Unidades de Polícia Pacificadora, surge

quando por derradeiro constata-se a unanimidade dos oficiais questionados, quanto à

concordância em tal necessidade. Oficiais estes que comandam ou comandaram UPPs,

habilitados, portanto, à substancial opinião à cerca do questionado. A questão 11 finaliza o

questionário, nos remetendo a tal aferição.

5. CONCLUSÃO

Desde a construção moderna do conceito de polícia, temo-la como organização

destinada a manter a ordem social. No passado já se pensou em tentar alcançar este objetivo por

meio da repressão, mediante o emprego de táticas belicistas. Em uma visão mais

contemporânea, foi construída a concepção de que a polícia deve aliar-se à sociedade, a fim de

garantir-lhe meios para que os problemas experimentados em determinado contexto social

sejam dirimidos por aquela mesma comunidade. A partir deste momento são enaltecidos os

caracteres de prevenção e parceria, ocorrendo então a chamada “comunitarização” da polícia.

Em dezembro de 2008, a PMERJ deu um importante passo em direção a política de

segurança pública que fomentou a aproximação entre a Polícia Militar e as comunidades,

inaugurando nesta oportunidade sua primeira Unidade de Polícia Pacificadora. Os sinais de

sucesso de tal empreitada são inúmeros. Deste modo, a partir do momento em que a população

passa a experimentar os benefícios deste projeto exitoso, passa também a clamar pela instalação

de mais UPPs. O que já vem sendo atendido pelo governo do Estado. Começa então neste

ponto a nossa primeira preocupação. É de se imaginar uma crescente instalação de Unidades de

Polícia Pacificadora, em um processo de massificação deste tipo de policiamento. Sendo certo

que se tais Unidades não estiverem muito fortemente ligadas às diretrizes que devem nortear

seu trabalho, há o sério risco de se ter uma modalidade de policiamento se desvirtuando e

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atuando de maneira totalmente diversa da estabelecida pelos princípios de polícia comunitária.

Destaque-se que já vivenciamos em nosso Estado este desvirtuamento, em circunstância outras.

Desta forma entende-se que o tema abordado no presente artigo científico é de suma

importância para a Corporação Policial Militar, bem como para toda a sociedade. Tal

importância deve-se ao fato de ambos serem afetados, e por que não dizer beneficiados,

diretamente por esta questão.

Buscamos com o presente trabalho evidenciar que o modo mais simples e eficaz de

manter os profissionais que atuam nas Unidades Pacificadoras em permanente sintonia com a

filosofia de Polícia Comunitária é a utilização, em todas as UPPs, de formulários que tratam de

assuntos específicos desta polícia de atendimento ao cidadão, à serem preenchidos pelos

profissionais que atuam nas UPPs. Desta maneira haverá uma padronização documental de

ações de Polícia Comunitária nas Unidades de Polícia Pacificadora. Tal imprescindibilidade foi

claramente abordada por comandantes e ex-comandantes de Unidades Pacificadoras, os quais

unanimemente declararam-se favoráveis à implementação de tais formulários, portanto,

defendendo a padronização.

Também restou comprovado que a maioria dos comandantes de UPPs não possuía

qualquer curso de Polícia Comunitária no momento da assunção do comando das unidades

referenciadas. Claro se mostra que, havendo uma padronização documental, os próprios

comandantes terão embasamento para nortearem as ações de seus subordinados, bem como as

suas próprias ações. Desta forma, já em primeiro momento, estar-se-ia empregando

corretamente a filosofia de Policia Comunitária.

Outra questão relevante reside no fato de que a partir desta padronização documental

haverá um comportamento uníssono entre as UPPs, evitando que em cada uma delas sejam

adotados procedimentos autônomos, o que acarretaria uma atuação policial distinta de uma

UPP para outra, ensejando desprestígio por parte da própria comunidade, ao tomar

conhecimento por meio da imprensa, por exemplo, de benefícios destinados à moradores da

área de uma determinada UPP que porventura não sejam estendidos aos moradores de sua

comunidade.

Outra conseqüência que se almeja por meio da implementação de tal padronização é o

controle de dados; este deverá ser providenciado por policiais alocados em cada uma das

Unidades de Polícia Pacificadora. Os policiais designados para tal função terão um contato

rotineiro com a população da comunidade pacificada, o que por si só é uma conseqüência

bastante positiva, na medida em que cada vez mais vai se desconstruindo a distância entre a

comunidade e a polícia. A coleta de tais dados poderá alimentar uma rede de informações que

estará apta a criação de um arquivo, o qual dará subsídios para que se afira o grau de satisfação

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daquela comunidade, e para que se tenha um controle cadastral dos moradores daquela

localidade, bem como um cadastro dos principais estabelecimentos da região, entre outros.

Cabe ressaltar que esta política de maneira alguma visa engessar o policiamento,

ignorar as particularidades de cada região e muitos menos desprezar a criatividade de cada um

dos policiais componentes das UPPs. Como já indicado exaustivamente, o principal objetivo de

tal padronização documental é assegurar que, de maneira simples e didática, os policiais que

trabalhem em Unidades Pacificadoras estejam desenvolvendo um policiamento minimamente

comprometido com os ideais da filosofia de Polícia Comunitária, o que não impede que estes

profissionais, diante das particularidades de sua região, utilizando-se de sua criatividade, por

exemplo, proponham novos modelos de formulários a serem preenchidos, desde que estejam

pautados sob a égide da polícia comunitária.

Por todo exposto este trabalho demonstrou a importância que deve ser dispensada às

políticas de Polícia Comunitária, e propõe a implementação de formulários-padrão a serem

implementados nas Unidades de Polícia Pacificadora, como ferramenta simples e eficiente de

se garantir a continuidade de tal política, face o dinamismo das demandas sociais e as agruras

do dia-a-dia.

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6. REFERÊNCIAS

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operacional da polícia. Brasília: Consulex, 2006.

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Unisul, 2009.

BAYLEY, David H. Padrões de Policiamento: Uma Análise Internacional

Comparativa. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2006.

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AVM, 2007.

BRODEUR, Jean-Paul. Como reconhecer um bom policiamento. São Paulo: USP,

2002.

CASTRO, Luiz. Reunião de trabalho internacional “Policiamento Comunitário:

Sistema Koban na Policia Militar de São Paulo. Disponível em

<http://www.jica.org.br/br/jicahoje/noticiasint.php?noticia=107>, acesso em 17.6.10.

CERQUEIRA, Carlos Magno Nazareth 1998. As políticas de segurança pública do

governo Leonel Brizola. Rio de Janeiro: Arché, 1998

CERQUEIRA, Carlos Magno Nazareth. Do Patrulhamento ao Policiamento

Comunitário. Rio de Janeiro: Freitas Bastos Editora, 2001

Gabeira elogia UPPs. Disponível em <www.oglobo.globo.com/pais

/mat/2010/06/12/gabeira-elogia-upps-cabral-916865308.asp>. acesso em: 28/6/10.

Governo promete instalação de novas UPPs. Disponível em <

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FREITAS JÚNIOR, Antônio Rodrigues. Mediação de Conflitos: justiça pública não

judiciária e promoção da Cultura da Paz. São Paulo: USP, 2006

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Janeiro: Saraiva, 1988

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Rio de Janeiro: Atlas, 2009.

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7. ANEXOS

ANEXO “A” – FORMULÁRIO DE ASSISTÊNCIA À VÍTIMA

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ANEXO “B” – FORMULÁRIO DE REUNIÃO COM MORADORES

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ANEXO “C” – FORMULÁRIO DE VISITA A BARES

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ANEXO “D” – FORMULÁRIO DE VISITA DOMICILIAR

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OS EFEITOS DA IMPLANTAÇÃO DA UNIDADE DE POLÍCIA PACIFICADORA NO

MORRO SANTA MARTA

RESUMO

O presente artigo representa um estudo que objetiva mostrar os efeitos positivos verificados na

comunidade do morro Santa Marta após a implantação da Unidade de Polícia Pacificadora.

Demonstra que é possível modificar comportamentos e diminuir a violência quando os serviços

públicos são desenvolvidos na comunidade. A UPP representa uma estratégia de atuação de

força policial, na medida em que consegue, por meio do resgate do território, permitir que haja a

atuação dos serviços públicos. São demonstrados estudos levados a efeito pela Fundação

Getúlio Vargas (FGV), os quais comprovam a mudança de percepção dos moradores da

comunidade e de seu entorno, acerca das questões de violência e serviços públicos. Demonstra,

ainda, o grau de confiança da população nas autoridades policiais e na modalidade de

policiamento comunitário, uma vez que consideram que só seria possível a implementação de

políticas sociais com a ocupação prévia da polícia. A especulação imobiliária no entorno da

comunidade teve comportamento positivo, uma vez que houve incremento no valor médio dos

imóveis após a implementação da UPP. A fim de dar sustentabilidade científica ao presente

artigo, foram entrevistados autoridades de segurança pública do estado do Rio de Janeiro e um

membro politicamente ativo da comunidade do morro Santa Marta. Os resultados obtidos foram

comparados ao referencial teórico existente, percebendo-se existir coerência de

posicionamentos. Por derradeiro conclui-se que a comunidade do morro Santa Marta foi

contemplada com vários serviços públicos inexistentes em data pretérita à implantação da UPP

e que esta nova realidade só foi possível em função da presença policial. Conclui-se ainda que a

modalidade de policiamento comunitário trata-se de alternativa eficaz no combate a violência

urbana em comunidades carentes.

Palavras- chave: 1- policiamento comunitário, 2- unidade de polícia pacificadora, 3- Santa

Marta.

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1. INTRODUÇÃO

O Santa Marta é uma favela do Rio de Janeiro que possui uma longa história de

organização interna e certa resistência a que outros se envolvam em sua organização.

Localizada no bairro de Botafogo, ficou conhecida pelo domínio do tráfico de drogas e pelas

características de seus líderes no tocante a forma como se relacionavam com os moradores.

Nas polícias de todo o mundo, particularmente nas da América Latina, enfrenta-se o

desafio de buscar melhorias na questão da segurança pública, de forma a provocar o

envolvimento do policial com a comunidade. Há uma tendência para a discussão de novo

modelo de policiamento, mais eficaz no combate a criminalidade. No Brasil, vários são os

estados que adotam o policiamento baseado na filosofia do policiamento comunitário, entre os

quais, Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso do Sul.

No Rio de Janeiro, o policiamento baseado na filosofia de polícia comunitária, é

realidade desde a década de 1980; inicialmente implementado em alguns bairros da zona sul,

teve como precursor o Coronel da Polícia Militar Carlos Nazareth Cerqueira. Hoje as Unidades

de Polícia Pacificadoras – UPPs deram um novo rumo à forma de atuação da polícia em áreas

definidas como de risco. Sua importância se mede por meio da política de segurança do Estado,

que transformou esta estratégia em discurso oficial, fundamental para a vitória da candidatura

da cidade do Rio de Janeiro à sede das Olimpíadas que ocorrerão em 2016.

Neste diapasão, a iniciativa deste trabalho sobre as melhorias percebidas na comunidade

do morro Santa Marta, relativas aos serviços públicos implantados após a instalação da UPP é

oportuna, pois gera a possibilidade prática de discutir a seguinte problemática: como o

policiamento que é executado pela UPP no morro Santa Marta, por meio da filosofia de

policiamento comunitário, consegue contribuir para que o Estado possa proporcionar à

comunidade os demais serviços públicos a ele inerentes?

Admite-se, hipoteticamente, que a implantação da UPP nesta comunidade transformou-

a em terreno fértil para a instalação de novos equipamentos e serviços públicos voltados à

melhoria da qualidade de vida dos habitantes do local.

Tal linha de pesquisa justifica-se pela relevância perceptiva das reais mudanças que

ocorrem após a instalação de uma UPP em qualquer comunidade do Rio de Janeiro, mais

especificamente na comunidade do morro Santa Marta, uma vez que essa modalidade de

policiamento já está em funcionamento há quase dois anos, e até os dias atuais não há qualquer

estudo publicado pela Polícia Militar neste sentido.

O presente artigo objetiva mostrar os efeitos positivos verificados na comunidade do

morro Santa Marta após a implantação da UPP, objetivando ainda alcançar a definição de

policiamento comunitário e de Unidade de Polícia Pacificadora, bem como listar os

equipamentos públicos implantados na localidade.

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2. DESENVOLVIMENTO

A UPP implantada no morro Santa Marta, foi a primeira experiência da Secretaria de

Estado de Segurança dentro da nova política de proximidade no estado do Rio de Janeiro.

A unidade foi inaugurada em 19 de dezembro de 2008, por meio do Decreto Estadual nº

41.650, com o objetivo primordial, utilizando a filosofia do policiamento comunitário, de

executar um policiamento diferenciado nas áreas sob sua responsabilidade, em parceria com a

população, seguindo os conceitos de Polícia Comunitária, de acordo com a definição de

Cerqueira (2001), não visando apenas a prevenção e redução da criminalidade, sobretudo, a

redução de riscos de danos às vítimas e moradores.

Trata-se de uma estratégia de prevenção que tem por finalidade o bem comum, que

pretende proporcionar uma melhor qualidade de vida à população atendida, recuperando para o

Estado os territórios empobrecidos e dominados por traficantes de armas e drogas. A estratégia

de policiamento comunitário é a mais apropriada para nortear a conduta de uma polícia do

século XXI (CARVALHO, 2010).

A segurança é uma necessidade fundamental do homem (MASLOW, 1998), com base

na pirâmide das necessidades humanas, em que ocupa, entre as cinco necessidades indicadas, a

segunda posição da base para o topo, evidenciando a grande importância, em relação à

qualidade de vida das pessoas, conforme ilustrado pelo a seguir.

Gráfico 01

Grau de importância atribuída à segurança pública frente a outras áreas/ações do

Governo, pelos moradores do morro Santa Marta, bem como de seu entorno.

Fonte: Fundação Getúlio Vargas/2009.

8%

77%

15%

A segurança é mais importante que saúde e educação

A segurança é tão importante quanto saúde e educação

A segurança é menos importante que saúde e educação

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A importância do morro Santa Marta para esta análise é que apesar de toda

diversidade de convivência, de todo tipo de relação social, de todo cenário de

experiências boas e ruins, a lei formal, em especial no que é de competência da polícia,

estava totalmente ausente do contexto, que ainda de certa forma, a hostilidade em

relação à polícia acabava por delimitar as fronteiras da comunidade, tal qual descreve

Shirley (1997), ficando claro para qualquer cidadão que adentrasse no morro, ou até

mesmo ouvisse falar. E isto de forma muito próxima, pois em um momento o cidadão

estaria em uma rua principal em plena zona sul do Rio de Janeiro, em um bairro

tradicional, e após alguns metros, já estaria adentrando a favela.

Seguindo ainda a visão de Shirley (1997), a inversão de valores só consegue ser vista no

cotidiano da favela. Quem a conhece por dentro verifica que são encontrados os mesmos

valores ensinados nas igrejas e bancos escolares como: respeito às diferenças, lealdade e ajuda

mútua, entre outros. Já a autoridade existente se limita a instituições educacionais e também

religiosas.

As relações familiares, no entanto, já estão enfraquecidas. Observa-se que pais passaram

a tratar seus filhos como amigos, perdendo a referência de respeito e autoridade própria dos

pais; quando questionados, transferem tal responsabilidade ao policial militar. Shirley (1997)

leciona que são laços elásticos que são rompidos devido às pressões psicológicas criadas pela

pobreza. Devido a este enfraquecimento, os problemas familiares se tornaram casos de polícia.

Os moradores do morro Santa Marta, como se encontravam praticamente fora do

aparelho legal, acabaram por desenvolver seu próprio sistema de leis e de ordem social, com

base em valores da própria comunidade, prova disso é que levavam uma vida sem contar com a

ajuda da polícia, adequando-se às ordens estabelecidas por quem detinha o poder de solucionar

os problemas verificados na comunidade; esta constatação corrobora os escritos do cientista

social Damatta (1984) e Taylor (1989), mostrando como a ordem social pode ser mantida em

comunidades sem estruturas de Estado.

Na visão de Duarte (1990), uma das variáveis mais relevantes para se medir o nível de

influência do crime em determinada área, parece ser a personalidade de seu líder, alguns se

interessam pela comunidade, outros não, e quando se “interessam”, dificultam ainda mais o

trabalho das instituições policiais, pois conseguem sem esforço, passar a impressão de apoio e

cooperação. No morro Santa Marta, este “interesse” foi verificado em determinada época, de

acordo com o morador Silva (2010), há 45 anos na comunidade. Os marginais da lei faziam

questão de exercer o assistencialismo, faziam doações de caminhões de alimentos, produziam

festas, compravam remédios, gás de cozinha, enfim, a comunidade mesmo por necessidade

ficou condicionada a receber as “doações” e indiretamente se tornou inimiga da Polícia.

(BARCELLOS, 2004).

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Quando da instalação da UPP Santa Marta nada era sistematizado como hoje. O que

havia eram operações policiais, planejadas e executadas sob o comando do Comandante do

Batalhão da área de Botafogo, à época, Tenente Coronel PM Gileade Amaro de Albuquerque,

área da qual a favela fazia parte. Em determinado momento, por não possuir efetivo para dar

continuidade à ocupação policial e pelo natural desgaste do efetivo, aquele Batalhão foi apoiado

pela Secretaria de Estado de Segurança, com o envio de policiais militares, dando início à

sistematização da estratégia da UPP (ALBUQUERQUE, 2010). Desta forma viu-se a

necessidade de agir de forma mais eficaz na prevenção, ou seja, em oposição à tese da

repressividade, bem adequado para explicar a concepção da Polícia Comunitária, a qual não se

preocupa exclusivamente com o crime e o criminoso, antes, a vítima e o controle social também

passam a figurar no elenco das preocupações (CERQUEIRA, 2001).

Entrosar dois grupos distintos em um mesmo cenário, cada qual com seus pré-conceitos

e culturas, e vencer as resistências do público interno, é tarefa imprescindível no contexto das

mudanças de grande impacto e soluções radicais, implicando grande resistência

(NAKAYAMA, BITENCOURT, 1998).

Em 1993, o Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Estado do Rio de

Janeiro (BOPE) ocupou a comunidade do morro Santa Marta por um período de nove meses.

Este período foi percebido negativamente pelos moradores, pois os mesmo se sentiram

abandonados e desprotegidos. Após a saída do BOPE iniciou-se intensa disputa por territórios

entre facções criminosas rivais, ocasião em que vários moradores foram expulsos da

comunidade ou assassinados. Este episódio contribuiu para a construção de uma imagem

negativa da Polícia Militar perante a comunidade (SILVA, 2010), o que foi um dos maiores

obstáculos à implantação da UPP, uma vez que os moradores não foram receptivos.

Com a finalidade de ilustrar a resistência da população à implantação da UPP, pode-se

citar matéria publicada no jornal "O Globo" de 08 de novembro de 2009, a qual descreve

agressão sofrida por um dos policiais que realizava o patrulhamento comunitário na

comunidade, conforme imagem abaixo:

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Figura 1 – Farda rasgada do policial militar agredido

Fonte: www.globo.com

Após um ano e meio da implantação desta UPP, alguns resultados surpreendem o

policiamento, à medida que constatam que os problemas mais sérios da comunidade não se

referem a crimes graves. Briga entre vizinhos, perturbação do sossego e uso de drogas,

igualmente ocorrem em tantos outros lugares que desenvolvem o policiamento baseado na

mesma filosofia comunitária (ROLIM, 2006).

Foi realizada pela Fundação Getúlio Vargas, uma pesquisa de avaliação do impacto do

policiamento comunitário, realizada entre os dias 22 e 24 de maio de 2009 na comunidade Santa

Marta, bem como em seu entorno, seus resultados são apresentados nos gráficos abaixo.

Gráfico 2 – Se os traficantes voltassem a agir livremente na sua comunidade, você apoiaria

uma nova intervenção policial?

Fonte: Fundação Getúlio Vargas/2009.

87%

13%

Sim Não

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Gráfico 3 – Ao tratar com rigor o tráfico e ao implementar o policiamento comunitário em

sua comunidade o governo do estado do Rio de Janeiro está demonstrando:

Fonte: Fundação Getúlio Vargas/2009.

Gráfico 4 –Você acha que essa política de atuação deveria ser estendida para outras

comunidades?

Fonte: Fundação Getúlio Vargas/2009.

97%

3%

Sim Não

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Gráfico 5 – Como você avalia a melhoria da situação geral da segurança em sua

comunidade após a implementação do policiamento comunitário?

Fonte: Fundação Getúlio Vargas/2009.

Gráfico 6 – O policiamento comunitário deve continuar por quanto tempo em sua região?

Fonte: Fundação Getúlio Vargas/2009.

10,88%

30,40%

40,93%

17,79%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

Não houvemelhoraalguma

Razoável Boa Muito boa

90,89%

3,93% 0,89% 4,29%

0,00%10,00%20,00%30,00%40,00%50,00%60,00%70,00%80,00%90,00%

100,00%

Por tempoindefinido

Ao menos 1ano

Mais seismeses

Terminaragora

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Gráfico 7–Após a introdução do policiamento comunitário em sua comunidade, como você

avalia o grau de confiança da população nas autoridades policiais?

Fonte: Fundação Getúlio Vargas/2009.

Gráfico 8 – Em sua opinião, a implementação do policiamento comunitário e de outras

políticas sociais em sua comunidade/bairro somente seria possível com a ocupação prévia

da polícia?

Fonte: Fundação Getúlio Vargas/2009.

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

Sem confiançaalguma

Poucoconfiantes

Razoavelmenteconfiantes

Muito confiantes

74%

26%

Sim Não

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Gráfico 9 – Como você avalia o policiamento comunitário na sua ar

Fonte: Fundação Getúlio Vargas/2009.

Desde o início da pacificação no Morro Santa Marta, iniciou-se também o processo de

implementação de ações governamentais, tais como: construções de um plano inclinado,

construção de casas de alvenaria para substituir os barracos de madeira, acesso grátis à rede

mundial de computadores, reforma das quadras de esporte, criação de um pólo de inclusão

social, reforma da creche comunitária, instalação de uma nova rede de iluminação, implantação

de diversos cursos profissionalizantes, identificação das ruas, possibilitando a comprovação

residencial, dentre outras.

Figura 2 – matéria jornalística

Fonte:www.upprj.com

As melhorias também ocorrem nas áreas que circundam as favelas que tem UPP, como

exemplo, temos a valorização imobiliária dos imóveis próximos ao morro Santa Marta; de

acordo com pesquisa do Sindicato da Habitação (Secovi), houve uma valorização de até

148,89% dos imóveis na região de Botafogo, o que ajuda a comprovar que todo o bairro de

Botafogo foi beneficiado com este novo modelo de policiamento.

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

35,00%

40,00%

45,00%

50,00%

Ruim Regular Bom Muito bom

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3. METODOLOGIA

O presente artigo objetiva mostrar os efeitos positivos causados na comunidade do

morro Santa Marta após a implantação da Unidade de Polícia Pacificadora.

Metodologicamente se adotou os critérios de tipos de pesquisas de Vergara (2009).

Classificou-se a presente pesquisa quanto aos fins e quanto aos meios.

Quanto aos fins, este artigo é descritivo, pois descreve características da comunidade do

morro Santa Marta e o fenômeno social lá observado após a instalação de uma Unidade de

Polícia Pacificadora.

Quanto aos meios, a pesquisa é de estudo de caso e de investigação documental.

Participaram da pesquisa o Cel PM José Vieira de Carvalho Júnior, primeiro

Comandante do Comando de Polícia Pacificadora, Cel PM Gileade Amaro de Albuquerque,

Comandante do 2º Batalhão da Polícia Militar - Botafogo, à época da ocupação do morro Santa

Marta e o Sr. José Mário Hilário da Silva, Presidente da Associação de Moradores do morro

Santa Marta, uma vez que a coleta de dados qualitativa foi levada a efeito por meio de

entrevistas não estruturadas (roteiro com tópicos) a tais autoridades.

Os resultados obtidos por meios de tais entrevistas foram analisados e discutidos se

levando em consideração a pesquisa de opinião desenvolvida pela Fundação Getúlio Vargas.

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

Os resultados dessa investigação foram obtidos por meio da comparação entre o que

consta da pesquisa de opinião levada a efeito pela FGV, demonstrados no corpo do

desenvolvimento e os dados de maior relevância observados nas entrevistas aplicadas, buscando

confirmar ou não as questões apresentadas nos gráficos.

O gráfico 4 afere opiniões à respeito da extensão da modalidade de policiamento

comunitário à outras comunidades carentes, demonstrando que a maioria dos moradores do

morro Santa Marta defende tal extensão. Silva (2010), Carvalho (2010) e Albuquerque (2010)

têm o mesmo posicionamento, pois acreditam na seriedade desta modalidade de policiamento.

O gráfico 5 que trata da avaliação das melhorias após a implementação do policiamento

comunitário, é corroborado por Silva (2010), o qual discorre que antes da UPP a favela era

considerada área de risco e por este motivo os serviços públicos não existiam; após a

implementação ele percebeu o incremento de serviços públicos oferecidos à comunidade, tais

como a reforma da creche comunitária, instalação de rede elétrica, revitalização do posto de

saúde, construção de casas e acesso gratuito a internet.

O gráfico 6 que trata da opinião dos moradores a cerca do tempo que consideram

necessário para a permanência da UPP na comunidade, é ratificado por Silva (2010), uma vez

que o mesmo defende, assim como o resultado da pesquisa aplicada pela FGV, a permanência

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da UPP por tempo indeterminado na comunidade. Acrescenta ainda o episódio negativo

ocorrido no ano de 1993, ocasião em que o BOPE ocupou o morro Santa Marta por um período

de 9 meses, havendo solução de continuidade do serviço policial.

O gráfico 7 trata da avaliação do grau de confiança da população nas autoridades

policiais, concluindo que metade da população passou a confiar razoavelmente na Polícia. Tal

fato é ratificado por Carvalho (2010), que admitiu haver percebido mudanças significativas no

comportamento dos moradores daquela comunidade, pois demonstraram confiar na Polícia a

ponto de auxiliá-la com informações e denúncias, não havendo preocupação com o anonimato.

Silva (2010) posiciona-se de forma semelhante, pois confia no trabalho da Polícia e percebe o

mesmo sentimento em boa parte dos moradores.

O gráfico 8 que afere a opinião dos moradores a respeito da necessidade da presença

policial como fator condicionante à existência de políticas sociais na comunidade, conclui que

74% da população admite tal afirmativa. Silva (2010), Carvalho (2010) e Albuquerque (2010)

concordam que a presença policial é imprescindível à existência de serviços públicos atuantes e

eficientes.

5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

O presente estudo se propôs a mostrar de que forma o policiamento que é executado

pela UPP do morro Santa Marta, por meio da filosofia de policiamento comunitário, consegue

contribuir para que o Estado possa proporcionar à comunidade os demais serviços públicos a ele

inerentes.

Com a implantação da UPP Santa Marta a comunidade foi privilegiada com vários

projetos sociais e com diversas iniciativas do poder público, tais como: Iluminação pública, que

permitiu instalações de postes de luz, antes promovidas pelos próprios moradores e a

comunidade ficava às escuras, dando margem ao fortalecimento de práticas criminosas.

Também foi promovida a Identificação das ruas, possibilitando ao morador, obter

comprovação residencial, que é exigido em qualquer estabelecimento comercial, bem como a

oportunidade de realizar crediários no comércio, antes tal comprovação dependia de declarações

da Associação de Moradores, o que nem sempre era aceito.

Verificou-se a construção de habitações dignas, para substituição dos barracos de

madeira ou aqueles que estavam em situação de risco, principalmente em tempos chuvosos.

Foi inaugurado um Posto de Saúde, composto por equipe de visita domiciliar para

acompanhamento dos moradores em suas residências, bem como atendimento pelo serviço de

Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), que anteriormente não assistia os moradores daquela

comunidade, então considerada de risco. A comunidade dispõe de acesso gratuito à internet,

possibilitando o acesso à informação.

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Houve também um grande investimento em cursos profissionalizantes, contribuindo

para a inserção dos moradores no mercado de trabalho, ainda com a oportunidade de aprender

uma língua estrangeira.

O número de práticas esportivas sofreu sensível aumento, o que impede que crianças e

jovens permaneçam ociosos por longos períodos.

Cabe ressaltar que os benefícios supramencionados geraram a utilização da mão de

obra dos moradores, proporcionando empregos temporários.

Diante do exposto, fica claro que após a implantação da UPP no morro Santa Marta, a

comunidade foi beneficiada com diversas melhorias, sendo a UPP fator primordial para que tais

mudanças fossem desencadeadas.

Atualmente a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro vem iniciando um período

desafiador para a sua história, por meio de ações que sinalizam adentrar em um caminho de

possibilidades em vários aspectos, e neste mesmo sentido se começa a pensar em uma nova

estrutura do verdadeiro e necessário papel da instituição.

A UPP pode ser definida como um modelo de segurança pública e de policiamento que

promove aproximação entre a população e a polícia, aliada ao fortalecimento de políticas

sociais.

A premissa de que somente a presença policial bastará para a transmissão de segurança

toma outro rumo do ponto de vista da percepção humana, dessa forma exige-se um

posicionamento mais aprimorado pelo Estado e por suas instituições, inclusive envolvendo a

sociedade como um todo nas causas de segurança pública.

Cabe também recomendar que por se tratar de uma nova estratégia de policiamento, é

preciso atenção para questões que devem ser preservadas pela Instituição, de modo que este

modelo não sofra solução de continuidade e não se transforme em apenas mais uma tentativa

frustrada, e sim permaneça uma realidade, para isto é fundamental que a manutenção do projeto

seja incluída em planos plurianuais; que fique estabelecido, por meio de lei ou decreto o efetivo

mínimo para o funcionamento das UPPs, treinando e reciclando o efetivo, bem como uma

diretriz da Polícia Militar consolidando a filosofia das UPPs.

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBUQUERQUE, Gileade Amaro. CEL PM, Comandante do 2º BPM, à época da

implantação da UPP, entrevistado por AZEVEDO, Pricilla de Oliveira. Rio de Janeiro, 2010.

BARCELLOS, Claudio Barcelos. Abusado: O Dono do morro Dona Marta. Porto

Alegre, 2004.

CERQUEIRA, Carlos Magno Nazareth. A polícia comunitária: uma visão de polícia

de segurança pública. Rio de Janeiro, 2001.

DAMATTA, Roberto. A casa e a rua, 1984.

DUARTE, Luis Fernando Dias e Barsted. Relatório de Pesquisa. IDAC, Rio de

Janeiro, 1990.

MASLOW, Abraham. A hierarquia das necessidades, 1975.

NAKAYAMA, Mariana Kuko e BITENCOURT, Claudia. Processo de mudança e

estresse ocupacional, 1998.

SHIRLEY, Roberto W. Tempo social-Atitudes com relação à Polícia em uma favela no

Sul do Brasil, 1997.

SILVA, José Mário Hilário. Morador do morro Santa Marta, entrevistado por

AZEVEDO, Pricilla de Oliveira e CARVALHO, Erika. Rio de Janeiro, 2010.

TAYLOR, Michael.Community, anarchy and liberty.Cambridge/New York,

Cambridge University Press. 1985.

VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e Relatórios de Pesquisa em Administração.

11. ed. São Paulo:Atlas, 2009.

7. ANEXOS

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