t.kushner_teatro Da Liberdade

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1 O TEATRO DA LIBERDADE por Tony Kushner TONY KUSHNER, UM DOS PRINCIPAIS DRAMATURGOS NORTE- AMERICANOS DA ATUALIDADE, AFIRMA QUE ARTHUR MILLER -AUTOR DE "A MORTE DO CAIXEIRO- VIAJANTE", QUE MORREU EM FEVEREIRO- É UM ESCRITOR POLÍTICO POR EXCELÊNCIA, MAS, CONTRA BRECHT, SEU DRAMA É SEMPRE INDIVIDUAL; EM PEÇA "POLÍTICA" RECÉM-DESCOBERTA E PUBLICADA NESTE ANO, TENNESSEE WILLIAMS CONFRONTA UM MANIFESTANTE SOLITÁRIO DISPOSTO A AGIR E UM CONDENADO SEM VONTADE DE ESCAPAR Arthur Miller morreu no aniversário de Bertolt Brecht. Isso não tem significado algum, de duas maneiras: estou certo de que Arthur não planejou o acontecido, e os dois dramaturgos, além de serem universalmente conhecidos, e de se autodescreverem como "escritores políticos", não têm muita coisa em comum. Mas a diferença entre eles é interessante. A voz de Arthur Miller tinha importância, era uma das mais importantes a clamar em oposição, a pedir resistência, a oferecer escrutínio crítico e lamentação -em outras palavras, ele era progressista em termos políticos, na melhor das acepções para "politicamente progressista" em nossa era sombria. Exigia que fôssemos capazes de responder, no que tange às nossas peças, nossas empreitadas, nossas vidas, uma pergunta realmente difícil, que, em palavras escritas por Arthur, representa a principal, e em certo sentido a única, razão para escrever e falar: "Qual é sua relevância", pergunta, "para a sobrevivência da raça?". "Não", estipula ele, "a raça norte-americana, ou a raça judaica, ou a raça alemã, mas a raça humana". Ele exigia que nosso trabalho e nossas vidas tivessem alguma relevância para a sobrevivência humana. A questão implica ansiedade quanto à sobrevivência, uma recusa à complacência, um reconhecimento de que existe uma comunidade humana pela qual cada um de nós porta responsabilidade, e um alerta de que estamos em perigo. Miller nos diz que aquilo que fazemos, as coisas contra as quais escolhemos lutar, na arte e em outras atividades, podem ter um efeito sobre o resultado do processo. Existe uma razão para esperança, em outras palavras, e é possível mudar. Arthur era um pessimista lastimoso, mas quem não o é, entre os progressistas? "Na Rússia eles não têm nada" Miller era uma dessas pessoas politizadas que recusam identificação com uma raça, ou nação, ou movimento ou partido específico. Certamente não era comunista tampouco socialista. Durante a Grande Depressão, seu avô, a quem Arthur descreve como "um republicano por toda a vida... [com] bolsões sobre os olhos como Von Hindenburg", chocou a família ao se voltar para seu neto desempregado, certa noite, depois do jantar, e dizer: "Você sabe o que deveria fazer? Deveria ir para a Rússia". "O silêncio que caiu" sobre a sala de jantar, escreveu Arthur, "pode ser descrito como um vácuo tão poderoso que acarretava o risco de sugar as paredes. Até o meu pai acordou, no sofá. Perguntei [ao meu avô] por que deveria ir para a Rússia". "Porque", respondeu o avô, "na Rússia eles não têm nada. Aqui, as pessoas têm demais. Não é mais possível vender nada. Indo para a Rússia, você pode abrir uma cadeia de lojas de roupas e ganhar um bom dinheiro; o negócio pode crescer. É um país novo, a Rússia". "Mas", eu disse, "não se pode fazer isso, lá'". "Por que não?", perguntou ele, descrente". "O governo é que é dono das lojas, lá". A cara que ele fez teria apavorado Karl Marx.

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    O TEATRO DA LIBERDADE por Tony Kushner

    TONY KUSHNER, UM DOS PRINCIPAIS DRAMATURGOS NORTE- AMERICANOS DA

    ATUALIDADE, AFIRMA QUE ARTHUR MILLER -AUTOR DE "A MORTE DO CAIXEIRO-

    VIAJANTE", QUE MORREU EM FEVEREIRO- UM ESCRITOR POLTICO POR

    EXCELNCIA, MAS, CONTRA BRECHT, SEU DRAMA SEMPRE INDIVIDUAL; EM PEA

    "POLTICA" RECM-DESCOBERTA E PUBLICADA NESTE ANO, TENNESSEE WILLIAMS

    CONFRONTA UM MANIFESTANTE SOLITRIO DISPOSTO A AGIR E UM CONDENADO

    SEM VONTADE DE ESCAPAR

    Arthur Miller morreu no aniversrio de Bertolt Brecht. Isso no tem significado algum,

    de duas maneiras: estou certo de que Arthur no planejou o acontecido, e os dois

    dramaturgos, alm de serem universalmente conhecidos, e de se autodescreverem como

    "escritores polticos", no tm muita coisa em comum. Mas a diferena entre eles

    interessante.

    A voz de Arthur Miller tinha importncia, era uma das mais importantes a clamar em

    oposio, a pedir resistncia, a oferecer escrutnio crtico e lamentao -em outras

    palavras, ele era progressista em termos polticos, na melhor das acepes para

    "politicamente progressista" em nossa era sombria. Exigia que fssemos capazes de

    responder, no que tange s nossas peas, nossas empreitadas, nossas vidas, uma

    pergunta realmente difcil, que, em palavras escritas por Arthur, representa a principal, e

    em certo sentido a nica, razo para escrever e falar: "Qual sua relevncia", pergunta,

    "para a sobrevivncia da raa?". "No", estipula ele, "a raa norte-americana, ou a raa

    judaica, ou a raa alem, mas a raa humana". Ele exigia que nosso trabalho e nossas

    vidas tivessem alguma relevncia para a sobrevivncia humana.

    A questo implica ansiedade quanto sobrevivncia, uma recusa complacncia, um

    reconhecimento de que existe uma comunidade humana pela qual cada um de ns porta

    responsabilidade, e um alerta de que estamos em perigo. Miller nos diz que aquilo que

    fazemos, as coisas contra as quais escolhemos lutar, na arte e em outras atividades,

    podem ter um efeito sobre o resultado do processo. Existe uma razo para esperana, em

    outras palavras, e possvel mudar. Arthur era um pessimista lastimoso, mas quem no

    o , entre os progressistas?

    "Na Rssia eles no tm nada" Miller era uma dessas pessoas politizadas que recusam identificao com uma raa, ou

    nao, ou movimento ou partido especfico. Certamente no era comunista tampouco

    socialista. Durante a Grande Depresso, seu av, a quem Arthur descreve como "um

    republicano por toda a vida... [com] bolses sobre os olhos como Von Hindenburg",

    chocou a famlia ao se voltar para seu neto desempregado, certa noite, depois do jantar,

    e dizer: "Voc sabe o que deveria fazer? Deveria ir para a Rssia".

    "O silncio que caiu" sobre a sala de jantar, escreveu Arthur, "pode ser descrito como

    um vcuo to poderoso que acarretava o risco de sugar as paredes. At o meu pai

    acordou, no sof. Perguntei [ao meu av] por que deveria ir para a Rssia".

    "Porque", respondeu o av, "na Rssia eles no tm nada. Aqui, as pessoas tm demais.

    No mais possvel vender nada. Indo para a Rssia, voc pode abrir uma cadeia de

    lojas de roupas e ganhar um bom dinheiro; o negcio pode crescer. um pas novo, a

    Rssia".

    "Mas", eu disse, "no se pode fazer isso, l'".

    "Por que no?", perguntou ele, descrente".

    "O governo que dono das lojas, l". A cara que ele fez teria apavorado Karl Marx.

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    "Que bastardos", disse, e voltou ao jornal".

    O neto acreditava firmemente em democracia, em auto-suficincia e em qualquer coisa

    conducente a e benfica para a dignidade e integridade humana individual. Sua

    dramaturgia era a dramaturgia da integridade, inteireza ou completude humana diante

    do poder irresponsvel -ou talvez se pudesse defini-la como uma dramaturgia do

    indivduo versus a histria. E uma das formas pelas quais o teatro e a posio poltica de

    Arthur Miller diferem de um escritor como Brecht que Arthur focalizava seu olhar

    crtico e definia como ponto de sua luta poltica a arena de uma conscincia individual

    e, em um sentido importante, sua prpria conscincia individual.

    Seria correto dizer que ele no aderia a partidos ou adotava identidades grupais porque,

    leal apenas espcie humana, manifestava essa lealdade sendo fiel a si mesmo? Ainda

    que tivesse claro interesse em histria, no se sentia confortvel escrevendo sobre ela.

    "As Bruxas de Salem" [Ediouro] e "Incident at Vichy" no so, em ltima anlise, peas

    histricas. Ambas desenvolvem suas tramas como parte de um crime histrico em

    curso, mas no demora para que o grande dramaturgo que Arthur Miller foi desvie sua

    inteligncia impiedosa, atenta e terna do horror em grande escala para a situao de um

    nico ser humano. No importa tudo aquilo que existe l fora, por mais esmagador que

    seja. Mesmo diante do horror, continua a ser necessrio perguntar a si mesmo, e por

    mais difcil que isso seja voc sabe que pode se fazer a pergunta: o que voc significa

    para voc mesmo, o que voc sabe ser? Em outras palavras, qual a sua relevncia para

    a sobrevivncia da raa?

    O drama da integridade Ele no estava interessado no exame da histria como oportunidade para iluminar

    metateorias sobre a direo definitiva em que a comunidade humana estava se

    encaminhando. Arthur Miller era uma dessas pessoas raras para quem a poltica

    inseparvel do drama da integridade pessoal. Ele administrava seu prprio campo de

    testes; sentia que seus sucessos e fracassos como ser humano tinham importncia para

    um fim maior do que ele, e por isso os examinava em pblico; na verdade, em certo

    sentido, eles eram a nica coisa sobre a qual valia a pena falar. No estava certo de que

    um indivduo isolado tivesse relevncia para a nossa sobrevivncia coletiva, mas no

    considerava que qualquer outra questo fosse digna de ateno.

    Certa vez escreveu que abandonara o estudo de economia, na faculdade, porque

    economia, como era e continua sendo ensinada, "pode medir os passos do gigante, mas

    incapaz de olh-lo nos olhos". A observao de Miller reflete sua dvida para com a

    anlise poltica de esquerda -da qual um dos preceitos centrais a considerao crtica

    dos significados humanos, ticos e polticos do dinheiro, em lugar do simples

    prognstico quanto s suas mars e correntes- e tambm reflete sua convico, ou talvez

    predileo, ou inclinao natural, mesmo quando estudava o gigante, de que

    necessrio procurar pela verdade olhando-o nos olhos, as janelas da alma.

    Arthur Miller sofria da maldio da empatia: era capaz de simpatizar at mesmo com a

    posio de seu inimigo. Os seres humanos se justificam diante de si mesmos, at os

    maus seres humanos, e o dramaturgo Arthur sempre queria saber por que, e como. Olhar

    o gigante nos olhos.

    Miller deixou claro em suas peas e ensaios que seu pensamento crtico e conscincia

    social nasceram da poltica vermelha que era onipresente na era em que ele estava

    amadurecendo, uma viso poltica cujo catalisador foi o sofrimento que ele viveu e

    observou durante a Grande Depresso, uma viso poltica desenvolvida em resposta

    irritante e txica valorizao permanente da cobia, que sempre ressurge na histria dos

    Estados Unidos como um dos preceitos essenciais da direita poltica. Ainda que tivesse

    recusado o determinismo mecanicista e automtico da esquerda marxista, criou na maior

    de suas peas um drama em que impossvel deixar de pensar sobre a economia -

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    dinheiro- em qualquer tentativa de emprestar coerncia tragdia que se desenrola

    diante de nossos olhos.

    Arthur Miller era uma dessas

    pessoas raras para quem a poltica

    inseparvel do drama da integridade

    pessoal

    Considerem os Loman: o que trouxe as trevas vida dessa famlia? Os defeitos que eles

    tm so parte de sua tragdia, mas s parte -todos os defeitos so amplificados,

    distorcidos e tornados fatais pela, bem, alienao, pelo mercado, onde a presso

    desumana e o ser humano descartvel. Considerem o momento em que o nada da

    tragdia enunciado, e anunciado, em "A Morte do Caixeiro-Viajante", a ltima briga

    entre Biff e Willy ("Pai, no sou nada! No sou nada, pai! Voc no consegue entender

    isso? No h mais desdm. Eu simplesmente sou o que sou, e s. Pelo amor de Deus,

    me deixe ir").

    uma negao trgica imensa e esmagadoramente ntima; tudo aniquilado, e ao

    mesmo tempo algo de novo est por nascer. o "nada" das tragdias de Eurpides e

    Shakespeare, e na obra-prima de mercado escrita por Miller nos anos do ps-guerra

    possvel encontrar o eco de outro "nada", trgico mas igualmente poltico, a saber,

    "vocs no tm nada a perder exceto os grilhes que os aprisionam".

    Sem cinismo ou acomodao Se o temperamento maneira de Emerson desenvolvido por Arthur o salvou dos erros

    terrveis da esquerda doutrinria de sua era, se seus escrpulos e sua independncia o

    conduziram a um ceticismo saudvel e imensamente enrgico, se ele recusa vnculos

    partidrios, Miller jamais deixou de nos lembrar de sua dvida, e na verdade de sua

    afinidade, para com a esquerda, o pensamento progressista.

    Jamais se tornou cnico, ou niilista, ou egoanarquista, ou crtico dos utpicos sonhos

    humanistas, ou neoconservador. Sua grande coragem pessoal e sua graciosa confiana

    em sua estatura e seus talentos tornavam desnecessrio a ele se acomodar s elites

    poderosas, e permitiam que retivesse sua simpatia e sua afinidade para com os

    deserdados, os marginalizados e os impotentes. Ele queria que nunca esquecssemos de

    que, sem justia econmica, o conceito de justia social um absurdo e, pior, uma

    mentira.

    Encontrei-me pela primeira vez com Arthur Miller na cerimnia dos prmios Tony em

    1994, quando meu lugar ficava uma fileira atrs do dele, mas eu estava nervoso demais

    para me apresentar. Durante toda a noitada, olhei para a parte traseira de sua cabea, que

    era muito, muito mais interessante para mim do que qualquer coisa que estivesse se

    desenrolando no palco. Dentro desse crnio impressionante, no interior desse domo, eu

    me dizia, Willy Loman foi concebido para um dramaturgo norte-americano, trata-se de

    um lugar sacrossanto comparvel Arca Sagrada, ou rvore Bodhi, ou Manjedoura

    em Belm. Eu queria tocar aquela cabea, mas estava preocupado com a possvel

    objeo de seu proprietrio.

    Sua graciosa confiana em sua

    estatura e seus talentos tornavam

    desnecessrio a ele se acomodar s

    elites

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    As cerimnias se encerraram, e perdi a oportunidade de fazer contato com a presa da

    qual provinha um dos pilares sobre os quais a dramaturgia norte-americana sria do ps-

    guerra repousa.

    Graas ao meu amigo Oskar Eustis, fui apresentado a Arthur anos mais tarde, em

    Providence, Rhode Island, quando lhe entreguei um prmio. Naquela ocasio, tive a

    oportunidade de agradecer pessoalmente, e disse: "Sr. Miller, sua carreira e sua obra

    causam inveja a todos os dramaturgos, que desejariam ter escrito cada uma de suas

    peas. A sua criao o difcil padro contra o qual somos medidos e nos medimos. Eu

    gostaria de agradecer calorosamente pelas muitas noites insones e dias desesperados, e

    por partir e inflamar meu corao vezes sem conta, desde a noite -eu tinha seis anos- em

    que vi minha me interpretar Linda Loman em uma produo de "Morte do Caixeiro-

    Viajante" em um teatro comunitrio da Louisiana, e decidi, creio que naquele exato

    momento, ser dramaturgo".

    "Vendo "Incident at Vichy" na televiso, anos mais tarde, admiti a mim mesmo a

    deciso que havia tomado. Assistindo a esplndidas montagens recentes de "View From

    the Bridge", "Morte do Caixeiro-Viajante" e "As Bruxas de Salem", voltei para casa

    para reconsiderar humildemente todas as minhas suposies quanto ao que

    dramaturgia, e como se deve proceder ao trabalhar nesse campo. E por sempre estar l,

    em minha estante, quando as pessoas dizem que a verdadeira arte no pode ser poltica,

    ou que um verdadeiro artista no pode ser tambm um ativista poltico; sua vida e obra

    servem como lembrete de o quanto essas distores so insultuosas -por tudo isso, eu

    gostaria de agradecer muito ao senhor."

    Dvida e silncio Para os dramaturgos norte-americanos que surgiram depois de Arthur Miller, existe

    evidentemente uma dvida impossvel de saldar. Aqueles dentre ns que procuram o

    domnio da narrativa dramtica realista tm suas peas como exemplo e inspirao.

    Cena aps cena, elas representam possivelmente as nossas mais bem construdas peas,

    obras de um mestre de carpintaria perfeita. Aqueles de ns que no procuram o domnio

    de uma forma, mas novas maneiras de fazer teatro, deveriam emular sua recusa de

    repousar confortavelmente no trono que o "Caixeiro-Viajante" propiciou.

    Arthur certa feita elogiou Tennessee Williams "por um desconsolo incansvel quanto s

    suas solues, inevitvel em um genuno escritor" e por "conduzir um ataque ao seu

    prprio ponto de vista em uma tentativa de dissolv-lo e reform-lo em circunferncia

    mais ampla".

    E os dramaturgos norte-americanos tm muito a aprender com o som da voz de Arthur

    Miller. Humildade, decncia, generosidade eram suas marcas registradas. Abandonem

    os bramidos do ego, ela nos diz, reduzam o volume do entretenimento, o zurro da

    sensualidade pornogrfica e lrida, abandonem a prtica de promulgar juzos como uma

    expresso de isolamento, superstio e terror e procurem por um juzo mais profundo, a

    espcie de juzo que conduz uma pessoa alm de seu alcance esperado, em direo de

    algo maior do que um animal humano isolado seria capaz em direo de algo

    compartilhado, comunitrio, talvez at mesmo de algo universal, quem sabe, at, de

    Deus.

    Esse o caminho para o conhecimento que cabe como direito aos dramaturgos e aos

    "escritores genunos". Parece-me uma estrada difcil porque uma estrada solitria, e

    judaica em sua introspeco exigente. igualmente judaica em sua f de que as

    palavras tm um poder, fora, peso espantosos, quase sagrados. Deus, ou o mundo, est

    ouvindo; nos lembra Arthur Miller, e quando voc fala, quando voc escreve, Deus, ou

    o mundo, tambm est falando e escrevendo. "Um grande drama uma grande

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    jurisprudncia", escreveu Arthur.

    "O equilbrio tudo. E nos escapar at que possamos uma vez mais ver o homem como

    um todo, at que sensibilidade e poder, justia e necessidade estejam face a face

    inexoravelmente, at que as justificativas da autoridade, como tambm as da rebelio,

    sejam acompanhadas at mesmo s alturas onde a respirao falha, onde -porque o mais

    amplo e tambm o mais modesto dos pontos de vista tenham falado- efetivamente s

    reste o silncio."

    Este texto, um discurso proferido por Tony Kushner em cerimnia para celebrar a memria de Arthur

    Miller, no Majestic Theater, em Nova York, foi publicado originalmente na revista "The Nation".

    Copyright - 2005 The Nation.

    Publicado no Caderno Mais, Folha de So Paulo, 24 de julho de 2005.

    Traduo de Paulo Migliacci.