TIPOS DE EMPREENDEDORES EM SHOPPING CENTERS...

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FUNDAÇÃO DOM CABRAL MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO TIPOS DE EMPREENDEDORES EM SHOPPING CENTERS POPULAR E CONVENCIONAL: Um estudo comparativo de casos com base na Teoria da Ação Prática de Bourdieu Gilmar Chagas da Silva Nova Lima 2018

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FUNDAÇÃO DOM CABRAL

MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO

TIPOS DE EMPREENDEDORES EM SHOPPING CENTERS POPULAR

E CONVENCIONAL:

Um estudo comparativo de casos com base na Teoria da Ação Prática de Bourdieu

Gilmar Chagas da Silva

Nova Lima 2018

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Gilmar Chagas da Silva

TIPOS DE EMPREENDEDORES EM SHOPPING CENTERS POPULAR

E CONVENCIONAL:

Um estudo comparativo de casos com base na Teoria da Ação Prática de Bourdieu

Dissertação apresentada ao Programa de

Mestrado Profissional em Administração da

Fundação Dom Cabral como requisito parcial à

obtenção do título de Mestre em Administração.

Área de concentração: Gestão Contemporânea

das Organizações

Linha de Pesquisa: Liderança

Orientador: Prof. Dr. Anderson de Souza

Sant'Anna.

Co-orientador: Prof. Dr. Ricardo Augusto Alves

de Carvalho.

Fundação Dom Cabral

Nova Lima

2018

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FICHA CATALOGRÁFICA

Elaborada pela Biblioteca Walther Moreira Salles

Fundação Dom Cabral

Silva, Gilmar Chagas da

S586t Tipos de empreendedores em shopping centers popular e convencional: um

estudo comparativo de casos com base na Teoria da Ação Prática de Bourdieu/

Gilmar chagas da Silva. Nova Lima, 2018.

116 f.: il.

Orientador: Anderson de Souza Sant’Anna

Co-orientador: Ricardo Augusto Alves de Carvalho Dissertação (Mestrado) – Fundação Dom Cabral. Programa de Mestrado

Profissional em Administração.

1. Empreendedorismo. 2. Centros comerciais. 3. Teoria da ação. I. Sant’Anna,

Anderson de Souza. II. Carvalho, Ricardo Augusto Alves de. III. Fundação Dom

Cabral. Programa de Mestrado Profissional em Administração. IV. Título.

CDU: 005.332

Bibliotecária: Mônica dos Santos Fernandes Rodrigues – CRB 6/1809

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a Deus, tudo por Ele, nada sem Ele, só gratidão aos meus passos e meu

caminhar, força, fé, persistência e determinação.

In memórian (31 de janeiro de 2004) a Sebastião Rufino da Silva, meu pai, embora nos

deixou muito cedo fisicamente, suas lições de homem sério, planejado, firme e empreendedor,

ficaram como presentes e legados em mim e em meus irmãos.

In memórian (Recente 26 de janeiro de 2018) à minha rainha, amada, modelo de inspiração,

persistência, fé e determinação, a Sra. Dona Nair Chagas da Silva. Nessa mulher há um “quê”

de tudo em mim, suas digitais são visíveis. Ela, humilde, pobre, separada do marido, criou

sozinha seis filhos numa cidade pequena do Estado do Pará (Castanhal), onde faltava de tudo

em casa, menos o amor dela, o respeito, a persistência, a saga em desejar e de lutar para que

os filhos crescessem e estudassem para ser alguém na vida. Mamãe trabalhou duro como dona

de casa (faxineira), foi balconista de lanchonete, bares da cidade, fez jogo do bicho (passava

parte do dia andando sob o sol escaldante do Pará), foi lavadeira, vendeu comida... Seu

esforço era para dar o caderno, a caneta, o lápis e não deixar faltar o básico em casa. Eu

sonhava em ter um Faber-Castell, um lápis famoso dessa marca ao escutar na infância a

música Aquarela do Toquinho na televisão. E uma das coisas que minha mãe falava era: -

Filho, estuda, não desanime pela falta do que não temos, não passe por cima das pessoas para

conquistar seus sonhos, lute pelos seus, aonde deseja chegar e o que quer ser na vida. Eu

entendi a mensagem, embora tudo muito confuso na minha cabeça pela falta de maturidade,

era uma criança. Então sai aos 18 anos e fui para Goiânia, lá fiz Administração na UEG,

trabalhei duro em várias atividades, anos depois fui para São Paulo, fiz o MBA na USP, e

após, já morando em Minas Gerais, entrei no mestrado da Fundação Dom Cabral, esse era o

meu maior desejo. Sonho esse que hoje virou fato através dessa dissertação que pelo tema,

penso que nada acontece por acaso, tocar nos capitais culturais e simbólicos de Bourdieu (A

distinção), na Teoria dos dois circuitos da economia de Milton Santos e na abordagem

Effectuation de Sara, talvez tenha algo da minha vida impregnado nisso ou seria uma mera

coincidência?

Pois bem, essa é apenas uma sinopse da minha vida, continuarei a história no meu livro em

que estou esboçando: A Saga de um Vencedor, título preliminarmente escolhido por mim ao

narrar histórias de pessoas que saem de casa para tentar a vida em outras cidades, lugares,

países. Entendo que o modo como encaramos as dificuldades é que faz a diferença e tudo isso

aflora quando as circunstâncias exigem, quando se sabe que existe um objetivo maior a ser

alcançado.

Dedico também à pessoa que mais foi sacrificada pelas minhas ausências durante o mestrado,

minha esposa e parceira, Fabíola Nogueira Porto Casarin. Gratidão, carinho e amor!

E à minha flor e filha Liz Chagas Casarin que também esteve comigo no ventre de sua mãe

durante esse período de muito estudo, ausência e dedicação. Foram muitas noites, tardes,

manhãs, madrugadas e feriados sem a minha presença para lhe acalentar no ventre materno.

Um dia ela entenderá, nada foi por acaso, tudo terá sentido, o amor maior, pelo presente e

futuro que quero lhe dar, e muito mais, por um propósito, um legado.

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“Diante de mim havia duas estradas, eu escolhi a

estrada menos percorrida, e isso fez toda a

diferença”.

Robert Frost

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AGRADECIMENTOS

Aqui eternizará o meu apreço e respeito aos meus pares que contribuíram direta e indiretamente para a

realização deste estudo e a minha saga desde a matrícula no mestrado da Fundação Dom Cabral, em

especial:

Ao meu orientador Anderson Sant’Anna, que foi além desse papel, foi amigo e mentor. O seu

acompanhamento foi fundamental da ideia à concepção desse projeto, às vezes que eu ia à Belo

Horizonte, Sant’Anna não media esforços para combinar a sua agenda à minha. Só elogios, palmas e

reconhecimento;

Ao meu co-orientador, professor Dr. Ricardo Alves Carvalho, que se interessou pelo meu trabalho e

me acompanhou até aqui desde a qualificação, suas considerações foram levadas a cabo;

Ao Prof. Reed Elliot Nelson, pelas contribuições em minha banca de qualificação mostrando como o

meu projeto poderia ficar melhor e mais interessante. E também por ter aceitado o convite para

compor a mesa de professores para a defesa de dissertação;

À professora Dra. Daniela Martins Diniz da Universidade Federal de São João Del Rei (UFSJ), por ter

aceitado o convite para compor a mesa de professores para a defesa de dissertação;

Aos amigos do mestrado FDC/MPA, foram momentos e micromomentos vividos. Destaco em especial

o empresário nato Bruno Correia e ao amigo Rener Gregório, essa dupla se fez presente em todos os

momentos dessa dura trajetória. Fica aqui o meu apreço e admiração pelos seres humanos que são;

Ao colega de mestrado, Ramon Batista, que foi parceiro de estrada. Foram tantas idas e vindas para o

mestrado, viagens divertidas, perigosas, reflexivas e cansativas, porém, de muito aprendizado;

Aos professores Sigmar Malvezzi, Rosileia Milagres, Samir Lotfi, Hugo Tadeu, Paulo Renato, Paulo

Tarso, Paulo Vicente, Rodrigo Zeidan, Ana Massa, meu apreço;

À equipe da biblioteca da Fundação Dom Cabral, sempre muito solícita e pronta para nos ajudar;

À diretoria e gerência do SEBRAE-MG, Marden Magalhães, Roberto Marinho, Afonso Rocha e

Anderson Cabido, que na hora de eu decidir por fazer o mestrado na FDC, tive total apoio, valeu por

tudo estimados;

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Ao meu líder/gestor Cláudio Oliveira da Regional Norte Montes Claros que sempre me jogou para

cima, tive apoio, mentoria e feedbacks. Chefe, meu apreço e gratidão;

Aos parceiros de trabalho do Sebrae Montes Claros: Yuri Rodrigo, Jácyle Souza, Albertino Filho,

Débora Negrão, Hebbe Mendes, Cláudia Martins que quando eu mais precisei de ajuda financeira para

honrar as mensalidades do mestrado, foram fundamentais, estenderam as mãos. Fica o meu carinho e

reconhecimento eterno aqui registrado para sempre, vocês foram anjos;

Aos Analistas da Regional Norte que facilitaram as minhas agendas e deram apoio e liberdade para

que eu conseguisse conciliar com o estudo. Muito obrigado, reconheci tudo dando o meu melhor para

gerar resultados em cada microrregião: Salinas, Pirapora, Janaúba, Januária e Montes Claros;

Créditos à fotógrafa Montesclarence Silvana Mameluque, que gentilmente resgatou vários momentos

da expansão do Montes Claros Shopping e cedeu as imagens para esse trabalho;

Agradeço também à Cida Santana da agência ideia.com assessoria de imprensa, por colaborar com

várias matérias sobre a história do Quarteirão do Povo;

Dedico também aos meus irmãos: Haroldo Gomes, Dalva Patrícia, Silvana Moraes, Denise Chagas e

Ivo Gomes;

E já ao final da jornada, o cansaço e reverses da vida foram inevitáveis e incontroláveis. De repente,

eis que surgem amigos como o Pedro Viana, Elder da Silva de Almeida, Jonas Bovolenta e João

Ricardo de Oliveira (todos do SEBRAEMG), estenderam suas mãos para me auxiliar. Foram

contribuições pertinentes, relevantes e efetivas. De coração, obrigado!

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RESUMO

Este estudo tem como propósito investigar, a partir de marco teórico estabelecido em

Bourdieu (2008), diferentes capitais - econômicos, sociais, culturais e simbólicos -

mobilizados por empreendedores em dois centros de compras da cidade de Montes Claros

(MG): o Quarteirão do Povo e o Montes Claros Shopping. O objetivo é melhor compreender

diferenças e semelhanças entre essas duas modalidades de centros comerciais no que tange

aos empreendimentos e perfis de seus empreendedores, incluindo a consideração dos modelos

de negócios, estilos de gestão e estratégias utilizadas com vistas ao domínio dos campos em

que se inserem. Para tal, é adotada pesquisa de abordagem qualitativa, conduzida por meio da

adoção de entrevistas semiestruturadas e em profundidade, contemplando as categorias de

análise alvo do estudo, em particular as noções de Campo, Habitus e Capital – Social,

Econômico, Cultural e Simbólico – conforme estabelecidas pela Teoria da Ação Prática de

Boudieu (2008). Como sujeitos de pesquisa foram considerados trinta empreendedores

instalados nas duas espacialidades estudadas. De acordo com os achados, constata-se uma

diversidade de tipos de empreendimentos, faixas etárias dos proprietários, níveis de

experiência, origens e histórias familiares, graus de escolaridade, disposição para inovar, bem

como atributos comumente associados ao perfil empreendedor, tais como: capacidade de

planejamento, de persuasão, iniciativa, comprometimento com o negócio e autoconfiança. Em

ambos os espaços registra-se, também, como valor reiteradamente manifesto pelos

pesquisados, a persistência diante de dificuldades, destacando-se, como forma de superá-las, a

adoção de parcerias, a capacidade de mobilização dos recursos disponíveis à mão e o senso de

oportunidade. Em suma, a partir do conjunto dos dados, constata-se a predominância de dois

tipos de empreendedores, conforme propostos por Sant’Anna et al. (2011): os

Empreendedores Tradicionais e os Empreendedores Modernos. No caso do Quarteirão do

Povo, predominando ambos os tipos e no Shopping Montes Claros, dominando o tipo

Empreendedor Moderno. Ademais, cabe destacar o Quarteirão do Povo como lócus em que

procura reproduzir, no contexto da região central da cidade, a lógica de negócios dominante

no Shopping Montes Claros, como a ênfase no embelezamento arquitetônico e paisagístico,

bem como na introdução de dispositivos “modernos” de gestão. Como resultante, registra-se

traços de gentrificação do espaço integrado pelo Quarteirão, com impactos em variáveis de

vitalidade, segurança e sustentabilidade, conforme preconizado por Jacobs (2011).

Palavras-Chave: Empreendedorismo, Tipos de Empreendedores, Teoria da Ação Prática,

Bourdieu, Effectuation.

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ABSTRACT

This study aims to investigate from a theoretical framework established by Bourdieu (2008)

different types of capitals like economic, social, cultural and symbolic mobilized by

entrepreneurs in two shopping centers in the city of Montes Claros, State of Minas Gerais,

Brazil: the Quarteirão do Povo - People Street Block and the Montes Claros Shopping. The

purpose of this research is to understand the differences and similarities between these two

purchasing center modalities in relation to their entrepreneur’s ventures and profiles including

consideration of business models, management styles and strategies used to master the fields

in which one. To insure this study a qualitative research was adopted conducted through the

adoption of semi-structured and in-depth interviews. The script was planned and organized in

order to contemplate the categories of analysis included in this study. In particular, the notions

of Campo, Habitus and Capital: Social, Economic, Cultural and Symbolic recommended in

Boudieu's practical action theory (2008). The research subjects are consisted by thirty

entrepreneurs installed in the two different commercial places. According to the findings,

there are several types of entrepreneurship, owners’ age groups, experience’s levels, family

origins and life histories, degrees of education and willingness to innovate increasing these

attributes commonly associated with the entrepreneurial profile, such as: planning capacity,

persuasion, initiative, commitment to the business and self-confidence. In both analyzed

commercial areas we can find, as a value repeatedly expressed by the respondents, the

persistence in face difficulties highlighting as a way to overcome it the adoption of

partnerships, the ability to mobilize available resources by hand and the sense of opportunity.

In summary, from the data set we can see the predominance of two types of entrepreneurs as

proposed by Sant'Anna et al. (2011): Traditional Entrepreneurs and Modern Entrepreneurs.

In the case of the People Street Block there is a predomination of both types of entrepreneurs

and in the Montes Claros Shopping there is a domination of the Modern Entrepreneur type. In

addition, it is possible to emphasize in the People Street Block a king of reproduction in the

context of the central region in Montes Claros city the dominant business logic of Montes

Claros Shopping like the emphasis on the architectural and landscape embellishments, as well

as in the introduction of "modern management devices". As a result, there are traces of

gentrification of the space integrated by the People Street Block with impacts on variables of

vitality, safety and sustainability, as recommended by Jacobs (2011).

Keywords: Entrepreneurship, Types of Entrepreneurs, Practical Action Theory, Bourdieu,

Effectuation.

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RÉSUMÉ

Cette étude vise à étudier à partir d'un cadre théorique établi par Bourdieu (2008) différents

types de capitaux économiques, sociaux, culturels et symboliques mobilisés par des

entrepreneurs dans deux centres commerciaux de la ville de Montes Claros, État du Minas

Gerais, Brésil: Quarteirão do Povo - Quartier populaire et le Montes Claros Shopping. Le but

de cette recherche est de comprendre les différences et les similitudes entre ces deux

modalités du centre d'achat par rapport aux entreprises et aux profils de leurs entrepreneurs, y

compris les modèles économiques, les styles de gestion et les stratégies utilisées pour

maîtriser les domaines. Pour assurer cette étude, une recherche qualitative a été menée à

travers l'adoption d'entretiens semi-structurés et approfondis. Le scénario a été planifié et

organisé afin de contempler les catégories d'analyse incluses dans cette étude. En particulier,

les notions de Campo, Habitus et Capital - Social, Economique, Culturel et Symbolique ont

été recommandées dans la théorie de l'action pratique de Boudieu (2008). Les sujets de

recherche sont constitués d'une trentaine d'entrepreneurs installés dans deux lieux

commerciaux différents. Selon les résultats, il existe plusieurs types d'entrepreneuriat, groupes

d'âge des propriétaires, niveaux d'expérience, origines et antécédents familiaux, degrés

d'éducation et volonté d'innover qui augmentent les attributs généralement associés au profil

entrepreneurial, tels - capacité de planification, persuasion, initiative, engagement envers

l'entreprise et confiance en soi. Dans les deux zones commerciales analysées, nous pouvons

trouver, comme une valeur exprimée à maintes reprises par les répondants, la persistance dans

les difficultés rencontrées soulignant comme moyen de surmonter l'adoption de partenariats,

la capacité à mobiliser les ressources disponibles à la main et le sens des opportunités. En

résumé, à partir de l'ensemble de données, nous pouvons voir la prédominance de deux types

d'entrepreneurs comme proposé par Sant'Anna et al. (2011): Entrepreneurs traditionnels et

entrepreneurs modernes. Dans le cas du Quartier populaire, il y a une prédominance des deux

types d'entrepreneurs et dans le Montes Claros Shopping il y a une domination du type

Entrepreneur Moderne. En outre, il est possible de souligner dans le Quartier populaire un roi

de la reproduction dans le contexte de la région centrale dans la ville de Montes Claros la

logique commerciale dominante de Montes Claros Shopping comme l'accent sur les

embellissements architecturaux et paysagers, ainsi que l'introduction de "dispositifs de gestion

modernes". En conséquence, il existe des traces de gentrification de l'espace intégré par le

Quartier populaire avec des impacts sur les variables de vitalité, de sécurité et de durabilité,

tel que recommandé par Jacobs (2011).

Mots-clés: Entrepreneuriat, Types d'entrepreneurs, Théorie de l'action pratique, Bourdieu,

Effectuation.

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ABSTRACTO

El objetivo de este estudio es investigar desde un marco teórico establecido por Bourdieu

(2008) diferentes tipos de capitales como el económico, social, cultural y simbólico

movilizado por empresarios en dos centros comerciales en la ciudad de Montes Claros, Estado

de Minas Gerais, Brasil: el Quarteirão do Povo – Distrito Popular y Montes Claros Shopping.

El objetivo de esta investigación es comprender las diferencias y similitudes entre estas dos

modalidades de centro de compras en relación con las iniciativas y perfiles de sus

emprendedores, incluida la consideración de los modelos comerciales, los estilos de gestión y

las estrategias utilizadas para dominar los campos en los que se basa. Para asegurar este

estudio, se adoptó una investigación cualitativa realizada mediante la adopción de entrevistas

semiestructuradas y en profundidad. El guión se planificó y organizó para contemplar las

categorías de análisis incluidas en este estudio. En particular, las nociones de Campo, Habitus

y Capital: Social, Económico, Cultural y Simbólico recomendado en la teoría de la acción

práctica de Boudieu (2008). Los sujetos de investigación están conformados por treinta

empresarios instalados en los dos lugares comerciales diferentes. Según los resultados, hay

varios tipos de emprendimiento, grupos de edad de los propietarios, niveles de experiencia,

orígenes familiares e historias de vida, grados de educación y voluntad de innovar,

aumentando estos atributos comúnmente asociados con el perfil emprendedor, tales como:

capacidad de planificación, persuasión, iniciativa, compromiso con el negocio y

autoconfianza. En ambas áreas comerciales analizadas podemos encontrar, como un valor

reiteradamente expresado por los encuestados, la persistencia en las dificultades de cara a

destacar como una forma de superarlo la adopción de alianzas, la capacidad de movilizar

recursos disponibles a mano y el sentido de oportunidad. En resumen, del conjunto de datos

podemos ver el predominio de dos tipos de empresarios según lo propuesto por Sant'Anna et

al. (2011): Emprendedores tradicionales y Emprendedores modernos. En el caso del Distrito

Popular predominan ambos tipos de emprendedores y en Montes Claros Shopping existe una

dominación del tipo Emprendedor Moderno. Además, es posible destacar en Distrito Popular

a un rey de la reproducción en el contexto de la región central de la ciudad de Montes Claros,

la lógica empresarial dominante de Montes Claros Shopping como el énfasis en los adornos

arquitectónicos y paisajísticos, así como en la introducción de "dispositivos de gestión

modernos". Como resultado, hay rastros de gentrificación del espacio integrado por Distrito

Popular con impactos en las variables de vitalidad, seguridad y sostenibilidad, según lo

recomendado por Jacobs (2011).

Palabras clave: Emprendimiento, Tipos de emprendedores, Teoría de la acción práctica,

Bourdieu, Effectuation.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Estudos Teóricos Referenciais sobre Educação Empreendedora SEBRAE – Modelo

Effectuation ......................................................................................................................... 40 Figura 2 - Rua Simeão Ribeirão (Quarteirão do Povo). ......................................................... 48

Figura 3 - Mini praça após revitalização do Quarteirão do Povo. .......................................... 51 Figura 4 - Rua Simeão Ribeiro, Quarteirão do Povo – Café Galo. ........................................ 52

Figura 5 - Empreendedores do Quarteirão do Povo em visita a Santa Catarina. .................... 52 Figura 6 - Loja de artigos para recém-nascidos situado à rua Simeão Ribeiro. ...................... 53 Figura 7 - Rua fechada: Comércio do Quarteirão do Povo. ................................................... 54

Figura 8 - Ação de treinamento e desenvolvimento de vendedores de lojas do Quarteirão do

Povo. ................................................................................................................................... 55

Figura 9 - Quarteirão do Povo: Loja com produtos em promoção. ........................................ 59 Figura 10 – Loja do varejo de confecção situada à rua Simeão Ribeiro ................................. 67

Figura 11 – Joalheria tradicional situada à rua Simeão Ribeiro ............................................. 68 Figura 12 - Corredor do Shopping Montes Claros ................................................................ 72

Figura 13 – Expansão do Montes Claros Shopping ............................................................... 78 Figura 14 – Loja do Varejo de confecção e acessórios .......................................................... 80

Figura 15 – Loja de produtos de informáticas dentro do shopping ........................................ 83 Figura 16 – Box de Crossfit situado dentro do estacionamento do shopping ......................... 84

Figura 17 – Quiosque de Churros situado dentro do shopping .............................................. 85

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Características dos dois circuitos da economia urbana dos países

subdesenvolvidos ................................................................................................................. 23 Quadro 2 - Capitais, conforme definições de Bourdieu (2008). ............................................. 35

Quadro 3 - Tipologia de Empreendedores segundo habitus e capitais mobilizados. .............. 37 Quadro 4 - Princípios do pensamento Effectual. ................................................................... 39

Quadro 5 - Sujeitos de pesquisa: Quarteirão do Povo. .......................................................... 44 Quadro 6 - Sujeitos de pesquisa: Montes Claros Shopping ................................................... 44 Quadro 7 - Categorias Analíticas .......................................................................................... 46

Quadro 8 - Princípios e respectivos relatos dos empreendedores do Quarteirão do Povo. ...... 56 Quadro 9 - Características do comportamento empreendedor EMPRETEC. ......................... 58

Quadro 10 - Perfil do Empreendedor Entrevistado – Quarteirão do Povo ............................ 65 Quadro 11 – Capitais mobilizados no Quarteirão do Povo de acordo com o habitus ............. 69

Quadro 12 - Tipologia de empreendimentos e de empreendedores segundo os capitais. ........ 69 Quadro 13 - Relação de empreendimentos (Montes Claros Shopping Center) ...................... 73

Quadro 14 - Vantagens e Desvantagens de ser um franqueado e franqueador ....................... 77 Quadro 15 - Princípios do Effectuation presentes no Montes Claros Shopping ..................... 87

Quadro 16 – Perfil do Empreendedor Entrevistado do Montes Claros Shopping ................... 89 Quadro 17 - Síntese dos capitais presentes no Montes Claros Shopping ............................... 91

Quadro 18 - Tipologia de empreendimentos e de empreendedores segundo capitais

mobilizados.......................................................................................................................... 92

Quadro 19 - Resumo comparativo entre espaços pesquisados ............................................... 95

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 15

REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................. 21 2.1 O espaço dividido: os dois circuitos da economia urbana ................................................ 21 2.1.1 O circuito superior ....................................................................................................... 24

2.1.2 O circuito inferior ........................................................................................................ 26 2.2 A sociologia de bourdieu ................................................................................................ 28

2.2.1 A teoria da ação prática de bourdieu ............................................................................ 28 2.3 A teoria da efetuação ...................................................................................................... 37

METODOLOGIA .............................................................................................................. 42 3.1 Características básicas da pesquisa ................................................................................. 42

3.2 Sujeitos de pesquisa ....................................................................................................... 43 3.3 Estratégia de coleta de dados .......................................................................................... 45

3.4 Tratamento e análise de dados ........................................................................................ 45

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS .................................................................. 47 4.1 O Quarteirão do Povo ..................................................................................................... 47 4.1.1 O campo ...................................................................................................................... 47

4.1.2 O habitus ..................................................................................................................... 53 4.1.3 Os empreendedores e capitais mobilizados .................................................................. 64

4.2 Montes Claros Shopping ................................................................................................ 71 4.2.1 O campo ...................................................................................................................... 71

4.2.2 O habitus ..................................................................................................................... 78 4.2.3. Perfil do empreendedores e capitais mobilizados ........................................................ 88

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 93

REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 101

APÊNDICE ...................................................................................................................... 109

APÊNDICE A.................................................................................................................... 109

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15

Capítulo 1

INTRODUÇÃO

Esta dissertação tem como proposta investigar a composição de diferentes capitais -

econômicos, sociais, culturais e simbólicos -, mobilizados por empreendedores instalados em

shopping centers popular e convencional, localizados na cidade de Montes Claros (MG).

Com ruas estreitas, sem estacionamento, com comércios de todos os tipos, trânsito intenso,

diversidade de públicos, céu aberto e com caráter estritamente “bricoler” (Baker & Nelson,

2005; Strauss, 1966), o shopping center popular localiza-se na região central da cidade. Já o

outro grupamento de empreendedores investigado, instala-se em bem montada estrutura, com

ampla gama de requisitos e atributos favoráveis à atração de clientes que visam experiências

satisfatórias de compra.

De modo geral, os espaços da rua e do mercado têm sido submetidos a distintas lentes de

interpretação. As contribuições da sociologia de Pierre Bourdieu são, nessa direção,

paradigmáticas, em particular ao permitir elementos concretos à leitura de espacialidades,

incluindo jogos de competição e colaboração, que permitem evidenciar relações entre

diferentes agentes, contribuindo com elementos significativos à produção de conhecimentos

associados a contextos de diversidade, inovação e mudança.

Isso, na medida em que a produção da cidade e seus diversos lugares e dinâmicas encontram-

se intrinsecamente relacionados à (re-)produção de discursos, relações e práticas sociais

(Sant’Anna, 2016). Sob tal ótica, o arcabouço teórico de Bourdieu (2009; 2010) oferece

dispositivos expressivos para a compreensão das arenas em que se inserem tais agentes e dos

modos como cada um mobiliza diferentes capitais, tendo em vista a constituição de lugares

distintivos em seus respectivos campos de atuação.

Além das diferenças visíveis, do ponto de vista teórico, o foco deste estudo é na maior

compreensão de características desses atores – suas semelhanças e diferenças – no processo

de produção dos espaços em análise. Recorrendo a Santos (2000), a organização e a divisão

do espaço urbano em espacialidades de países economicamente menos desenvolvidos

evidenciam dois circuitos principais: o superior e o inferior.

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Além disso,

[...] a sociedade e a cultura brasileira são conformadas como variantes da versão lusitana da tradição civilizatória europeia ocidental, diferenciadas por coloridos

herdados dos índios americanos e dos negros africanos. O Brasil emerge, assim,

como um renovo mutante, remarcado de características próprias, mas atado

geneticamente à matriz portuguesa, cujas potencialidades insuspeitadas de ser e de

crescer só aqui se realizariam plenamente (Ribeiro, 1995).

Sob tal diferenciação, no Brasil sertanejo, as práticas, os habitus e os capitais mobilizados

adquirem coloridos intensos na “princesinha” do Norte: Montes Claros (MG). Por suas vias se

plasmam diversos modos rústicos de ser do brasileiro, distinguindo-os, como sertanejos do

nordeste, caboclos da Amazônia, crioulos do litoral, caipiras do sudeste e do centro do país,

gaúchos das campanhas sulinas, além dos ítalo-brasileiros, teuto-brasileiros, nipo-brasileiros.

Todos esses tipos marcados pelo que têm de comum, como brasileiros, pelas diferenças e

adaptações regionais, funcionais ou de miscigenação e aculturação, emprestam fisionomia

própria a uma ou outra parcela da população (Ribeiro, 1995).

Nessa seara, seu espaço é multipolarizado, submetido e pressionado por múltiplas influências

e diversidade. Ademais, quanto menor a escala do lugar, mais numerosos são os impactos, o

que permite uma decomposição do tempo à escala local (Santos, 1973). O comportamento do

espaço acha-se, assim, afetado por disparidades de situações históricas, geográficas, temporais

e individuais. No entanto, enquanto novos gostos são introduzidos e se difundem, gostos

tradicionais subsistem, requerendo aos aparatos econômicos se adaptar tanto aos imperativos

de uma “modernização” poderosa quanto às realidades sociais localmente instituídas. Outra

característica do lugar é a desigualdade de renda entre os diversos segmentos sociais e, por

conseguinte, as diferenças em relação às possibilidades de consumo, motivo pelo qual, a

cidade “não pode mais ser estudada como uma máquina maciça” (Santos, 1973, p. 21).

Conforme também observa Santos (1973), cabe acrescentar que o circuito superior da

economia nesses contextos se origina diretamente da “modernização tecnológica”, sendo seus

elementos mais representativos, os grandes monopólios internacionais. O essencial de suas

relações se dá, portanto, fora da cidade e da região que as abrigam. Já o circuito inferior,

formado por atividades de pequena dimensão e endereçado principalmente às populações

pobres é, ao contrário, bem enraizado, mantendo relações privilegiadas com a sua região.

Ao exigir a formulação do postulado da conversibilidade das diferentes espécies de capital,

condição da redução do espaço à unidimensionalidade, a construção de um espaço com duas

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dimensões permite-nos evidenciar que a taxa de conversão das diferentes espécies de capital

constitui significativo pretexto nas lutas entre as diferentes frações de “classe”, cujo poder e

privilégios estão relacionados com uma ou outra e, em particular, à luta sobre o princípio de

dominação (Bourdieu, 2008).

Em linhas gerais, a divisão em “classes” operada pela ciência, conduz à raiz comum de

práticas classificáveis, produzidas por diferentes agentes, bem como por julgamentos

classificatórios sobre as práticas dos outros ou suas próprias. O habitus resultante é, com

efeito, princípio gerador de práticas objetivamente classificáveis e, ao mesmo tempo, sistema

de classificação - principium divisionis - de tais práticas (Bourdieu, 2008).

Para Calvelli (2001), desse processo decorre a constituição de pessoas capacitadas a exercer

certos tipos de serviços por serem “detentores exclusivos da competência específica

necessária à reprodução de um corpus deliberadamente organizado de conhecimentos”

(Bourdieu, 1984, p. 39). Soma-se a isso, a produção de valores simbólicos. Em outros termos,

a divisão não é só de trabalho, porque a própria divisão do trabalho expressa uma divisão

social entre “fazedores” e “consumidores”.

Se não se pode afirmar radicalmente que, nos casos estudados, categorias sociais distintas se

colocam em posições polares quanto à produção e ao consumo de bens simbólicos, eles pelo

menos nos levam a observar que a posição de “produtoras” recebe dados marcadores sociais.

Nesse sentido, a divisão de trabalho não tem apenas uma função prática relativa à reprodução

das condições materiais e racionais dos bens mágico-religiosos, mas desempenham, também,

a função simbólica de expressar distinções sociais entre seus produtores e consumidores.

Logo, produzem e consumem mantendo marcas da distinção.

Para Bourdieu (2008) é essa relação entre as capacidades que se definem os habitus, ou seja, a

capacidade de produzir obras e práticas classificáveis, assim como a capacidade de as

diferenciar e as apreciar (gosto), constituindo o mundo social representado; ou seja, os

espaços dos estilos de vida (Bourdieu, 2008). Disso pode-se derivar que os estilos de vida são

produtos sistemáticos do habitus, que percebidos em suas relações mútuas e segundo seus

esquemas, tornam-se sistemas de sinais socialmente qualificados – como “distintos”,

“vulgares”, “sofisticados”. Em outros termos, a dialética das condições e dos habitus é

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fundamento da “alquimia” que transforma a distribuição do capital em sistema de diferenças

percebidas, de propriedades distintivas, ou seja, em distribuição de capitais.

Ainda de acordo com Bourdieu (2008), considerando a impossibilidade de se justificar as

práticas, a não ser pela revelação sucessiva das séries de efeitos que se encontram na sua

origem, uma análise superficial das relações em jogo faz desaparecer, em primeiro lugar, a

estrutura do estilo de vida característico de um agente ou de uma classe de agentes; isto é, a

unidade que se dissimula sob a diversidade e a multiplicidade do conjunto das práticas

realizadas em campos dotados de lógicas diversas e, portanto, capazes de impor formas

múltiplas de realização segundo a fórmula: [(habitus) (capital)] + campo = prática. Faz

desaparecer, também a estrutura do espaço simbólico delineado pelo conjunto dessas práticas

estruturadas, de todos esses estilos de vida distintos e distintivos, que se definem sempre

objetivamente – e, às vezes, subjetivamente – nas e pelas relações mútuas.

Como alternativa, um primeiro passo consiste em definir cada circuito da economia urbana,

suas relações recíprocas e com a sociedade, assim como com o espaço circundante.

Reconhece-se, desse modo, que as dinâmicas no urbano são condicionadas pelas dimensões

qualitativas e quantitativas de cada circuito. Cada circuito mantendo, com o espaço de

relações do espaço, tipos particulares de relações: cada espacialidade tem, portanto, suas

zonas de influência (Santos, 1973).

Assim sendo, parte-se da premissa que um dado “ecossistema empreendedor” é forjado por

uma rede de agentes, com interesses plurais, operando em diferentes escalas e mobilizando

distintos capitais – econômicos, sociais, culturais e simbólicos –, que se diferenciam,

produzindo vantagens competitivas específicas (Sant’Anna et al., 2011).

Sob tal perspectiva, Sant’Anna et al. (2001), ao investigarem processo contemporâneo de

reconversão de funções econômicas vivenciado pela cidade histórica de Tiradentes (MG), a

qual se desloca de cidade “esquecida”, após exaustão de ciclo econômico baseada na

mineração aurífera, para configurar-se em polo de turismo e da indústria criativa aponta para

uma diversidade de clusters de empreendedores, cada qual buscando o domínio do campo

empreendedor, por meio da mobilização de capitais disponíveis. Para a categorização dos

diferentes tipos de empreendedores emergentes, contribuição fundamental foi aportada pela

“Teoria da Ação Social”, proposta por Pierre Bourdieu.

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Associando a perspectiva aportada por esses autores, este estudo também incorpora

contribuições da noção de Effectuation ou Abordagem Efetiva, a qual compreende processo

dinâmico e criativo que tem por objetivo o desenvolvimento de novas ideias em um dado

ambiente, tendo por base o “aprender fazendo” sob a lógica da “tentativa e erro”, conforme

delineada por Sarasvathy (2000, 2008).

Posto isso, ampliar e dar sequência aos estudos desenvolvidos por tais autores, envolvendo a

investigação da dinâmica das relações que se estabelecem na comercialização de produtos e

serviços entre empreendedores em distintas espacialidades – a céu aberto e em espaços

privados – parece relevante e significativo. Afinal, como se dão as relações entre os agentes

que compõem esses grupamentos de empreendedores? O que os caracteriza e os distingue?

Sob tal perspectiva, deriva a pergunta central de investigação que orientou a condução da

pesquisa que subsidiou os resultados desta dissertação: De que forma diferentes capitais -

econômicos, sociais, culturais e simbólicos - são mobilizados por empreendedores localizados

em shoppings centers popular e convencional, tendo por base tipologia desenvolvida por

Sant’Anna et al. (2011), com base no arcabouço teórico de Bourdieu (2008)?

Dessa problemática, tem-se como propósito central investigar diferenças e semelhanças

entre capitais mobilizados por empreendedores com estabelecimentos localizados em

um shopping center popular vis-à-vis shopping center convencional, tendo por base o

arcabouço teórico de Bourdieu (2008). Já, como objetivos específicos, propõe-se:

1. Descrever os espaços físico, social, econômico, cultural e simbólico dos centros de

compras alvo do estudo;

2. Investigar capitais - sociais, econômicos, culturais e simbólicos - mobilizados pelos

empreendedores pesquisados em ambos os centros de compra objeto da pesquisa;

3. Analisar diferenças e semelhanças entre os capitais suas formas de mobilização e

implicações sócio-organizacionais, em ambos os tipos de centros de compra pesquisados.

Quanto à sua justificativa, em nível teórico, o estudo visa ampliar pesquisas desenvolvidas

sobre o tema, iniciadas por Sant’Anna e colaboradores. Espera-se, também, que contribua

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para a produção acadêmica nas áreas de empreendedorismo e liderança empreendedora. Em

consonância, igualmente, ampliar os olhares e contribuições teórico-conceituais-

metodológicas que favoreçam a construção de espacialidades mais aderentes à diversidade.

Já em termos práticos, se propõe a contribuir com subsídios ao desenvolvimento de políticas

públicas direcionadas ao espaço urbano estrategicamente ocupado por agentes que visam

interesses pessoais, coletivos e de diferentes tipos de capitais. Outra contribuição é a

possibilidade de aportar elementos a programas de formação e desenvolvimento de

empreendedores, tendo em vista os espaços geográficos e humanos em que se inserem.

Assim sendo, no capítulo seguinte será abordado o referencial teórico adotado.

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Capítulo 2

REFERENCIAL TEÓRICO

Como marcos teórico para a realização deste estudo foi adotada a Teoria da Ação Prática,

desenvolvida pelo pensador francês Pierre Bourdieu, com destaque para suas noções de

campo, habitus e capital (Bourdieu, 2010, 2009, 2009a, 1990), direcionadas a analisar,

estudar, decodificar e ilustrar lógicas socioculturais e econômico-simbólicas que caracterizam

as relações que se estabelecem entre diferentes agentes da cena social. Com vistas a se atingir

os objetivos propostos, procede-se também a revisão de literatura envolvendo diferentes

tipologias - nacionais e internacionais - de empreendedores, assim como suas relações com a

dimensão espacial, com ênfase em estudos empíricos sobre o tema conduzidos com base na

sociologia de Bourdieu.

2.1 O ESPAÇO DIVIDIDO: OS DOIS CIRCUITOS DA ECONOMIA URBANA

Descontínuo, instável, o espaço, notadamente em contextos de economias menos

desenvolvidas, é igualmente multipolarizado, ou seja, submetido e pressionado por múltiplas

influências e diferenciações oriundas de distintos níveis de decisão. E, conforme salienta

Santos (1973), tão polarização tende a se acentuar quanto menor a escala do lugar. O

comportamento do espaço acha-se, desse modo, afetado por disparidades de situação

geográfica, temporal, histórica e simbólica. Afinal, como “gostos” novos se difundem,

enquanto aqueles tradicionais subsistem, o aparelho econômico deve se adaptar ao mesmo

tempo aos imperativos de uma modernização poderosa e às realidades sociais, novas ou

herdadas.

Outro traço desses espaços periféricos é a grande desigualdade de renda entre seus diversos

segmentos sociais e, por conseguinte, as diferenças em relação às possibilidades de consumo.

Assim, complementa Santos (1973, p. 21), as espacialidades “não podem mais ser estudadas

como uma máquina maciça. Elas, ao contrário, compõem-se de diferentes circuitos em

constante interação: o circuito superior e o circuito inferior.

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De acordo com esse autor, o circuito superior origina-se diretamente da modernização

tecnológica e seus elementos mais representativos são os monopólios econômicos. O

essencial de suas relações ocorre fora da cidade e da região que os abrigam e têm por cenário

o seu exterior. O circuito inferior, por sua vez, é constituído por atividades de pequena

dimensão, endereçado principalmente às populações pobres, caracterizando-se pelo enraizado

e por relações privilegiadas com a região.

De acordo com Santos (1973), qualquer análise espacial deve partir da compreensão da

interação entre tais circuitos, suas relações internas, recíprocas e com a sociedade, assim

como o espaço circundante. A vida urbana é condicionada pelas dimensões qualitativas e

quantitativas de cada circuito. Cada circuito mantendo um tipo particular de relação: cada

espacialidade tendo, portanto, suas zonas de influência (Santos, 1973).

Para Santos (1979), esse dualismo não existe porque têm a mesma origem precípua ou mesmo

um conjunto de causas interligados. Segundo ele, o que existe é uma aparente

interdependência que se constrói entre os circuitos, em que o inferior depende do superior e

vice-versa. Assim, as atividades informais são consequências diretas da posição hegemônica

do circuito superior. Desse modo, as principais diferenças entre os circuitos se identificam nas

formas de organização, na tecnologia, no capital, conforme sugerem os dados do Quadro 1.

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Quadro 1 - Características dos dois circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos

Circuito Superior Circuito Inferior

Tecnologia Capital intensivo Trabalho intensivo

Organização Burocrática Primitiva

Capitais Importantes Reduzidos

Emprego Reduzido Volumoso

Assalariado Dominante Não-obrigatório

Estoques Grande quantidade e/ou alta

qualidade

Pequena quantidade/qualidade

Preços Fixos (em geral) Submetidos à discussão entre

comprador e vendedor

Crédito Bancário institucional Pessoal não institucional

Margem de lucro Reduzida por unidade, mas

importante pelo volume de

negócios (exceção produtos de

luxo)

Elevada por unidade, mas pequena

em relação ao volume de negócios.

Relações com a clientela Impessoais e/ou com papéis Diretas, personalizadas

Custos Fixos Importantes Desprezíveis

Publicidade Necessária Nula

Reutilização dos bens Nula Frequente

Overhead capital Indispensável Dispensável

Ajuda governamental Importante Nula ou quase nula

Dependência direta do exterior Grande, atividade voltada para o

exterior

Reduzida ou nula.

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Santos (1979)

Dada a desigualdade de oportunidades de acesso a níveis de vida mais adequados, o espaço,

ou seja, o espaço dividido da economia resulta em lugares de consumos diferenciados, tendo-

se essas diferenças ampliadas na medida em que se aprofundam as desigualdades sócio-

territoriais. Assim, cada local terá duas zonas de influência, uma comandada pela dinâmica de

seus circuitos superior e inferior. Importante ressaltar que não há uma rigidez entre tais zonas,

principalmente quando se refere aos consumidores. Esses transitam nos dois circuitos,

eventual ou parcialmente, dependendo da acessibilidade oferecida. Segundo Corrêa (2001,

p.75):

Os dois circuitos da economia são facilmente revelados através da paisagem das

grandes cidades do terceiro mundo: modernos shoppings centers que, muitas vezes,

não estão distantes de um conjunto de biroscas, ruas onde convivem lojas

departamentais, pertencentes às grandes organizações capitalistas, ou lojas

especializadas em artigos de luxo e vendedores ambulantes com sucedâneos mais

baratos dos artigos vendidos nas lojas.

Mais especificamente, cabe salientar que o circuito inferior é composto pelo comércio de

pequena dimensão, não só o comércio e serviços, mas também pela pequena produção

manufatureira. Seus componentes, habitualmente trabalham com um volume de capital muito

pequeno, o que os torna altamente dependentes do dinheiro líquido. Assim, enquanto no

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circuito inferior o trabalho é o fator mais destacado, no circuito superior é o capital que

prevalece. Vejamos, a seguir, uma melhor caraterização dos circuitos.

2.1.1 O CIRCUITO SUPERIOR

De acordo com Santos (1979), o circuito superior envolve principalmente as atividades

decorrentes do progresso tecnológico e todos os setores e pessoas que se beneficiam dele. Por

isso, esse circuito também é denominado de circuito moderno. Nele estão incluídos os bancos,

o comércio, a indústria de exportação e indústria urbana moderna.

Santos (1979) enfatiza que três atividades o caracterizam: as atividades puras, as impuras e as

mistas. O autor denomina de atividades puras o comércio e os serviços modernos da indústria

e ao mesmo tempo atividades específicas das cidades e do circuito superior. Já as atividades

impuras envolvem a indústria e o comércio de exportação instalados na cidade, mas cujo

interesse é ser negociado fora do centro urbano. Por fim, as atividades mistas, como o próprio

nome já indica, compreendem a duplicidade, mantendo dupla ligação com os circuitos, como

os atacadistas e os transportadores, atendem tanto ao comércio e indústria não moderna, como

ao comércio moderno e à indústria moderna.

De acordo com Santos (1979), os atacadistas estão no topo de uma cadeia decrescente de

intermediários, que chega frequentemente no nível do feirante ou do simples vendedor

ambulante. Dessa forma, o atacadista contribui para que os produtos do circuito superior

cheguem aos níveis inferiores das atividades comerciais e consequentemente dos

consumidores.

O comércio no circuito superior caracteriza-se, desse modo, por extrapolar as fronteiras

locais, ele apresenta-se em um circuito extrarregional. Os shoppings centers, as grandes

cadeias de lojas especializadas, os supermercados, os hipermercados são exemplos de

comércio moderno do circuito superior, abrangendo número significativo de consumidores.

Esses consumidores, comumente recorrem a dispositivos bancários para efetuar suas compras,

sendo tal modalidade de negócios amplamente suportada, a jusante e a montante, por formas

institucionalizadas de crédito e financiamento.

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Assim sendo, o sistema financeiro suporta as atividades comerciais e, geralmente, está ligado

a instituições sediadas nos grandes centros urbanos ou em metrópoles globais. Desse modo,

suas transações são comandadas por um aparelho centrado eminentemente no lucro e na

acumulação:

Ora, um crescimento harmonioso do circuito superior só pode ocorrer a partir do

momento em que sua política for elaborada no âmbito da cidade e do país. É a partir

do momento em que eles se articulam que os laços de dependência locais se criam e

tendem a se fortalecer (Santos, 1979, p. 123).

De acordo com Santos (1979), outra característica do circuito superior é seu caráter imitativo.

Além disso, o Circuito Superior possui um conjunto de características que facilitam a

compreensão de seu funcionamento:

1. No circuito superior, a quantidade de mercadoria produzida e comercializada é enorme.

Essas quantidades reduzem, somente no caso de lojas especializadas, onde os preços são

elevados, devido à qualidade do produto, à moda e ao tipo de clientela;

2. Nesse circuito, o emprego é resultado da combinação das seguintes variáveis: capital e

tecnologia, ou seja, os capitais são volumosos em relação com a tecnologia utilizada,

empregam poucas pessoas quando comparados com o valor e o volume da produção, e

existe uma tendência da diminuição do emprego na indústria;

3. Em tal circuito, enquanto na indústria há uma tendência da diminuição do emprego, nos

serviços existe um aumento significativo dos empregos, tanto empregos proporcionados

pelo governo (serviços públicos), como também serviços relacionados diretamente à

atividade econômica (serviços privados). Esse último localiza-se em sua maioria nas

grandes cidades e nas regiões mais desenvolvidas do país. A relação de trabalho

predominante no Circuito Superior é o assalariado;

4. No circuito superior, os preços geralmente são fixos e planejados com uma margem de

lucro contabilizável por um prazo maior, mas nunca estão abaixo do preço de mercado;

5. Já os lucros no circuito superior contribuem para acumular capitais que são necessários

para dar continuidade às atividades e também para acompanhar as inovações

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tecnológicas. São reduzidos por unidade produzida e elevados no que corresponde ao

volume da produção;

6. A publicidade é um dos meios utilizados pelo circuito superior para influenciar os gostos

dos consumidores e mudar o perfil da demanda;

7. Por sua vez, os custos fixos das atividades produtivas do circuito superior são importantes

e aumentam de acordo com o porte, o lugar e o ramo de fabricação;

8. O consumo, por seu turno, é seletivo porque está diretamente relacionado ao poder de

compra das pessoas;

9. Em nível governamental, as atividades do circuito superior recebem apoio total do

Estado, através de financiamentos, da construção de infraestruturas caras, legislações

fiscais discriminatórias, subsídios à produção, dentre outras. Percebe-se, pela análise do

autor, que as atividades do Circuito Superior controlam a economia da cidade ou do país

onde está inserido, seja diretamente, seja por intermédio do Estado, cria as oportunidades

ao invés de se adaptar a elas.

2.1.2 O CIRCUITO INFERIOR

Em se tratando de circuito inferior, Santos (1979, p. 39) salienta parecer:

[...] difícil chamá-lo tradicional, não somente porque é um produto da modernização,

mas também porque está em processo de transformação e adaptação permanente e

ainda porque, em todas as cidades, uma parte de seu abastecimento vem, direta ou

indiretamente, dos setores ditos modernos da economia.

De acordo com o autor, o que existe é uma dependência do circuito inferior em relação ao

circuito superior. Assim, o setor informal e as formas de atividades que a ele se ligam, como o

trabalho informal, o comércio informal, são uma consequência dessa posição de dependência

do circuito inferior. Tal conexão não é somente em relação ao circuito superior. O circuito

inferior é também dependente de todo um sistema econômico, por isso muito difícil de ser

geograficamente delimitado. Por exemplo, enquanto alguns habitantes das favelas não se

enquadram no perfil do circuito inferior, outros que não moram nesse local estão ligados a ele

(Santos, 1979).

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O circuito inferior da economia apresenta outros aspectos bem diferentes da realidade do

circuito superior:

1. No circuito inferior, as atividades trabalham com pequenas quantidades de mercadorias;

2. Nele, os preços são passíveis de mudanças; existe, nesse circuito, o que popularmente é

chamado de pechinchar, com o objetivo de reduzir os preços das mercadorias;

3. Já os lucros não têm a função de acumular capitais, trata-se na verdade de sobreviver e

assegurar a manutenção da família e, se possível, tomar parte de certas formas de

consumo particulares à vida moderna;

4. Além disso, o circuito inferior não dispõe de recursos para investir em publicidade, isso

porque a margem de lucro vai diretamente para a subsistência do trabalhador e de sua

respectiva família; a publicidade restringe-se apenas ao contato direto com os

consumidores;

5. Seus custos fixos são irrisórios, pois o que se destaca nesse circuito é trabalho intensivo;

6. Já o apoio governamental raramente se apresenta significativo. Ao contrário,

frequentemente são mesmo perseguidas, como no caso dos vendedores ambulantes em

numerosas cidades;

7. Por fim, o consumo no circuito inferior não é seletivo, ele resulta da demanda.

O Circuito Inferior constitui, portanto, mecanismo de integração permanente, que interessa

em primeiro lugar a toda uma massa de excluídos e migrantes insolventes e não qualificados.

Fornece uma quantidade de empregos máxima para uma imobilização mínima de capital.

Responde, ao mesmo tempo, às necessidades do consumo e à situação geral do emprego e da

renda (Santos, 1979, p. 260).

Tal distinção apresentada por Santos (1979) revelar-se-à significativa à compreensão das

espacialidades alvo da pesquisa que subsidia os resultados deste estudo, apresentando-se

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significativa notadamente quando articulada com o arcabouço teórico em Bourdieu, sobre o

qual se discorrerá no próximo tópico.

2.2 A SOCIOLOGIA DE BOURDIEU

Neste tópico serão aportados, como forma de evidenciar o ser humano em seus

comportamentos e ações, sendo esse, produto do meio social, práticas e julgamentos. A partir

da exposição sobre suas fontes epistemológicas de habitus (constitui nossa maneira de pensar,

agir, perceber, julgar, valorizar o mundo), o conceito de campo (em que os agentes atuam

conforme suas posições relativas no campo de forças, conservando ou transformando a sua

estrutura (Bourdieu, 1999, p. 50) e noções de capitais econômico, social, simbólico e cultural.

2.2.1 A TEORIA DA AÇÃO PRÁTICA DE BOURDIEU

Os estudos desenvolvidos por Bourdieu têm-se mostrado, ao longo do tempo, uma importante

vertente na área das ciências sociais, influenciando pesquisas nos campos da Sociologia,

Antropologia, História e dos estudos organizacionais e urbanos em diversos países. Isto, na

medida em que o autor dá uma nova roupagem às relações entre os agentes sociais e a

sociedade, estabelecendo uma mediação focada no produto das relações entre eles, que se

descontroem e se reconstroem de forma dinâmica, ativa e mútua.

Suas contribuições se mostram inovadores também ao investigar objetos empíricos pouco

pesquisados, como sociedades tribais, sistemas de ensino, processos de reprodução e os

integram em diferentes áreas de conhecimento, buscando alcançar uma ciência social

transdisciplinar. Por meio de seu arcabouço teórico, o autor também visa superar dicotomias

tradicionais no campo científico, como macro e microssociologia, perspectivas “objetivistas”

e “subjetivistas”, ao incorporar constructos práticos, operatórios, como habitus, reprodução,

poder simbólico, capital, distinção e campo (Bourdieu, 2010).

De modo geral, um dos principais conceitos propostos por Bourdieu (2004) é a noção de

habitus, compreendida como sistema de disposições adquirido pela experiência e nos

processos de socialização, que variam segundo o lugar e o momento. Trata-se, desse modo, de

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formas de agir, fazer, perceber, sentir e pensar interiorizadas como resultado das condições de

sua existência:

Os condicionamentos associados a uma classe particular de condições de existência

produzem habitus, sistemas de disposições duráveis e transponíveis, estruturas

estruturadas predispostas a funcionar como estruturas estruturantes, ou seja, como

princípios geradores e organizadores de práticas e de representações que podem ser

objetivamente adaptadas ao seu objetivo sem supor intenção consciente de fins e o

domínio expresso das operações necessárias para alcançá-los (Bourdieu, 2009, p. 87).

Junto do habitus, o conceito de campo ocupa lugar de destaque na Teoria da Ação Prática.

Como um espaço multidimensional, o campo não deve ser tratado unicamente pela dimensão

econômica, devendo considerar também as lutas simbólicas que ocorrem em seu interior

(Bourdieu, 2010).

Nesse sentido, para Bourdieu, a sociedade deve ser entendida como um conjunto de campos

sociais atravessados por lutas entre grupamentos. Cada campo é, desse modo, marcado por

agentes sociais providos de mesmos habitus, sendo a relação entre habitus e campo uma

relação de condicionamento: o campo estrutura o habitus. Bourdieu (2010) busca sintetizar a

noção de campo como:

[…] um espaço multidimensional de posições tal que qualquer posição atual pode

ser definida em função de um sistema multidimensional de coordenadas cujos

valores correspondem aos valores das diferentes variáveis pertinentes: os agentes

distribuem-se assim nele, na primeira dimensão, segundo o volume global do capital

que possuem e, na segunda dimensão, segundo a composição do seu capital – quer

dizer, segundo o peso relativo das diferentes espécies no conjunto das duas posses

(BOURDIEU, 2010, p. 135).

Ou seja, cada elemento do campo é um agente que comunga de interesses e capitais similares.

Logo, os campos se organizam hierarquicamente a partir de capitais, símbolos de poder e de

dominação. Em outros termos, as diferentes formas de capital permitem estruturar o espaço

social. Desse modo, para compreender como se organiza tal espaço, torna-se relevante uma

análise dos diferentes tipos de capitais mobilizados.

Uma vez que a luta no interior de um dado campo é motivada pelo desejo de acúmulo de

capital simbólico, o campo, além de ser um espaço social de conflitos e negociações,

incorpora uma dimensão simbólica (Bourdieu, 2010). Portanto, ele é organizado segundo a

lógica da diferença, isto é, de um traço distintivo ou certa qualidade que só existe em relação a

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outras propriedades. Assim sendo, os indivíduos de um dado campo buscam se distinguir e

preservar uma identidade social própria, seja por meio do nome da família, da profissão, da

posse de bens, do cargo que ocupam, das instituições a que se vinculam, entre outros.

A sociologia de Bourdieu também contribui na superação do antagonismo entre abordagens

“objetivistas” e “subjetivistas”, criando uma teoria mais integrada e, segundo o autor, baseada

no “conhecimento praxiológico” (Bourdieu, 2009), notoriamente focada na práxis e no plano

da realidade, se afastando do subjetivismo e, com foco, como dito anteriormente, nas relações

estabelecidas entre o sujeito e o ambiente, sendo esse sujeito produto e produtor de sua

história. Por fim, o autor sintetiza dessa forma suas premissas epistemológicas:

Se eu tivesse que caracterizar o meu trabalho em duas palavras, (...) eu falaria de

constructivist structuralism ou de structuralism constructivist. Por estruturalista ou

estruturalismo quer-se dizer que existem no próprio mundo social e não apenas nos

sistemas simbólicos – linguagem, mito – estruturas objetivas independentes da

consciência e da vontade dos agentes, as quais são capazes de orientar ou coagir suas

práticas ou representações. Já por construtivismo, reconhece-se que há, de um lado,

uma gênese social dos esquemas de percepção, pensamento e ação que são

constitutivos do que chamo de habitus e, de outro, estruturas sociais, em particular,

campos e grupos (Bourdieu, 1994, p. 149).

A busca da objetividade por Bourdieu, de forma articulada com a subjetividade para superar a

dicotomia dita acima, se dá pelas noções de habitus e campo social. De forma geral, Bourdieu

traz à tona o entendimento de que os atores sociais, dotados de habitus similares ou distintos,

e de capitais distribuídos de modo desigual, se inter-relacionam no interior de um espaço

social, em que se desenrolam conflitos e alianças, na busca da manutenção ou transformação

do estado vigente de poder.

Tal consideração coloca em evidência, portanto, importantes conceitos propostos pelo autor:

habitus, campo e capital (Bourdieu 2009; 2010). Bourdieu (1996, 2010) define habitus como

um sistema de disposições e princípios duráveis, que permanecem no tempo em determinado

ambiente e regram os comportamentos nesses, funcionando, portanto, como estruturas

estruturantes, isto é, como esquemas geradores e organizadores de ações coletivas e

individuais. O habitus se define, assim, como um conjunto de princípios de visão de mundo,

gostos e preferências que orientam a escolha dos indivíduos e ações dos indivíduos em

determinado campo. Atores sociais dotados de habitus distintos tendem, em decorrência, a se

comportar de forma diferente.

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Sob tal entendimento, o habitus seria então incorporado por indivíduos mediante a

interiorização das estruturas sociais reproduzidas em determinado ambiente que facilitariam a

ambientação nesse. Ao se socializarem, é provável que os habitus sejam incorporados de

forma quase que inconsciente, regidos pelas leis de funcionamento de seu grupo e se

comportem de acordo com essas disposições, homogeneizando comportamentos de pessoas

dentro de um mesmo grupo social. Já o campo, compreende um espaço multidimensional,

dinâmico, composto por posições distintas, lutas econômicas, simbólicas e culturais, e

determinadas pelo volume de capitais detidos por cada um de seus agentes e forças (Bourdieu,

1994).

De fato, por intermédio das condições econômicas e sociais que elas pressupõem, as

diferentes maneiras, mais ou menos separadas ou distantes, de entrar em relação com as

realidades e as ficções, de acreditar nas ficções ou nas realidades que elas simulam, estão

estritamente associadas às diferentes posições possíveis no espaço social e, por conseguinte,

estreitamente inseridas nos sistemas de disposições (habitus) características das diferentes

classes e frações de classe. O gosto classifica aquele que procede à classificação: os sujeitos

sociais distinguem-se pelas distinções que eles operam entre o belo e o feio, o distinto e o

vulgar; por seu intermédio, exprime-se ou traduz-se a posição desses sujeitos nas

classificações objetivas.

E, desse modo, a análise estatística mostra, por exemplo, que oposições de estrutura

semelhante às que se observam em matéria de consumo cultural encontram-se, também, em

matéria de consumo alimentar: a antítese entre a quantidade e a qualidade, a grande comilança

e os quitutes, a substância e a forma ou as formas, encobre a posição, associada a

distanciamentos desiguais à necessidade, entre o gosto de necessidade – que, por sua vez,

encaminha para os alimentos, a um só tempo, mais nutritivos e mais econômicos – e o gosto

de liberdade – ou de luxo – que, por oposição à comezaina popular, tende a deslocar a ênfase

da matéria para a maneira (de apresentar, de servir, de comer, etc.) por um expediente de

estilização que exige à forma e às formas que operem uma denegação da função (Bourdieu,

2008).

Ainda de acordo com Bourdieu (2008), a disposição estética é a dimensão de uma relação

distante e segura com o mundo e com os outros que pressupõe a segurança e a distância

objetivas; a manifestação do sistema de disposições que produzem os condicionamentos

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sociais associados a uma classe particular, de condições de existência quando eles assumem a

forma paradoxal da maior liberdade concebível, em determinado momento, em relação às

restrições da necessidade econômica. No entanto, ela é, também, a expressão distintiva de

uma posição privilegiada no espaço social, cujo valor distintivo determina-se objetivamente

na relação com expressões engendradas a partir de condições diferentes.

Como toda a espécie de gosto, ela une e separa: sendo o produto dos condicionamentos

associados a uma classe particular de condições de existência, ela une todos aqueles que são o

produto de condições semelhantes, mas distinguindo-os de todos os outros e a partir daquilo

que tem de mais essencial, já que o gosto é o princípio de tudo o que se tem, pessoas e coisas,

e de tudo o que se é para os outros, daquilo que serve de base para se classificar a si mesmo e

pelo qual se é classificado.

Segundo Bourdieu (1990) é também nesse ambiente em que se desenrolam lutas e alianças

entre tais agentes em busca da manutenção ou transformação do estado vigente de forças.

Essas lutas e alianças se dariam uma vez que a posse de capital tende a ser desigual entre

atores sociais dentro de um mesmo campo, favorecendo a ação em busca do maior domínio de

capitais possível, gerando um conflito permanente em que os grupos dominantes buscam

manter seus privilégios e os demais tentam alterar a distribuição de capital vigente (Bourdieu,

2010).

Cada campo, portanto, tem sua história, seu próprio objeto (artístico, educacional, político) e

mecanismos específicos. Esse campo ainda sofreria influência de campos distintos, que

afetariam sua dinâmica. Ainda que cada campo apresente atributos peculiares, é possível

destacar algumas características universais: 1. Inserção num campo exige a internalização de

suas leis de funcionamento; 2. A estrutura do campo é reflexo das diferentes posições

ocupadas pelos agentes e do volume de capital detidos por eles e; 3. A sua natureza dinâmica

(Bourdieu, 2010).

Ademais, o entendimento do conceito de capital é fundamental para a compreensão da obra de

Bourdieu. Este, é definido como a principal forma de poder no interior de um campo sendo,

simultaneamente, instrumento e objeto de disputa. Bourdieu pressupõe a existência de três

tipos de capital (econômico, social, cultural e simbólico), superando, segundo Sant´Anna et

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al. (2012, p. 385) “abordagens anteriores que reduzem o mundo social à perspectiva

econômica”, em uma clara referência à teoria marxista.

Além disso, Bourdieu (2010) propõe que as formas de capital podem ser conversíveis umas

nas outras. O capital cultural, por exemplo, pode ser reconhecido socialmente em determinado

campo e, com isso, ser transformado em capital simbólico e vice-versa. Em linhas gerais, os

capitais podem-se ser caracterizados, conforme a seguir:

1. Capital econômico: recursos associados aos fatores de produção (terra) e aos ativos

econômicos, como os bens materiais;

2. Capital social: envolve a manutenção das relações sociais, baseada na obtenção de

benefícios obtidos por determinado sujeito ou grupo ao estabelecer tais relações;

3. Capital cultural: conjunto de conhecimentos e qualificações intelectuais transmitidas pela

família e pelas instituições escolares ao longo da vida do sujeito. Esse capital pode

adquirir três formas: o estado incorporado, como uma característica durável do corpo (a

forma de falar, hábitos familiares); o estado objetivo, como a posse de bens culturais

(obras de arte); o estado institucionalizado, como títulos acadêmicos;

4. Capital simbólico: relacionado à acumulação de prestígio e reconhecimento social por um

indivíduo que preserva sob seu domínio os recursos considerados essenciais num

determinado campo.

Segundo o autor, os bens culturais possuem, também, uma economia, cuja lógica específica

tem de ser bem identificada para escapar ao economicismo. Neste sentido, deve-se trabalhar,

antes de tudo, para estabelecer as condições em que são produzidos os consumidores desses

bens e seu gosto; e, ao mesmo tempo, para descrever, por um lado, as diferentes maneiras de

apropriação de alguns desses bens considerados, em determinado momento, obras de arte e,

por outro, as condições sociais da constituição do modo de apropriação, reputado como

legítimo. (Bourdieu, 2008).

Ainda segundo Bourdieu (2008), as lutas, cujo pretexto consiste em tudo o que, no mundo

social, se refere à crença, ao crédito e ao descrédito, à percepção e à apreciação, ao

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conhecimento e ao reconhecimento – nome, reputação, prestígio, honra, glória e autoridade -,

em tudo o que torna o poder simbólico em poder reconhecido, dizem respeito forçosamente

aos detentores “distintos” e aos pretendentes “pretensiosos”. As lutas simbólicas sobre o ser e

o parecer, sobre as manifestações simbólicas que o sentido das conveniências e

inconveniências, tão estrito quanto as antigas leis suntuárias, atribui às diferentes condições –

“Quem ele pensa que é? ” – Ao estabelecer a separação, por exemplo, entre o verdadeiro

“chique” (feito de facilidade, naturalidade e desenvoltura) e a simples “chiqué”, desvalorizada

pela suspeita de premeditação e afetação, portanto, de usurpação, tem como fundamento e

pretexto a parcela de liberdade em relação à condição fornecida pela lógica própria das

manifestações simbólicas.

As diferentes espécies de capital – cuja posse define o pertencimento à classe e cuja

distribuição determina a posição nas relações de força constitutivas do campo do poder e, por

conseguinte, das estratégias suscetíveis de serem adotadas nessas lutas (em outras épocas,

“nascimento”, “fortuna” e “talentos”; atualmente, capital econômico e capital escolar) – são,

ao mesmo tempo, instrumentos de poder e pretextos de luta pelo poder, desigualmente

poderosos de fato e desigualmente reconhecidos como princípios de autoridade ou sinais de

distinção da hierarquia entre as frações ou, o que dá no mesmo, a definição dos princípios de

hierarquização legítimos, ou seja, dos instrumentos e dos pretextos de luta legítimos é, em si

mesma, um pretexto de lutas entre as frações. Bourdieu (2008). Essas diferenças podem ser

sintetizadas conforme apresentadas no Quadro 2.

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Quadro 2 - Capitais, conforme definições de Bourdieu (2008).

Fonte: Sant´Anna et al., 2016, p. 79.

Por fim, as diferenças existentes no interior de um campo entre os diversos capitais geram a

divisão do espaço em classes sociais ou posições de classe, as quais estão associadas a um

habitus específico. Ao optarem por um estilo de vida, os indivíduos acabam se auto

classificando como membros de uma dada classe social ou posição de classe (Bourdieu,

2010).

Dessa forma, seriam produzidas as distinções entre os indivíduos presentes no campo.

Bourdieu (2008), ao relatar a forma como a educação é passada aos indivíduos de

determinada sociedade, fala de uma “sociologia interpretativa”, na qual o desenvolvimento

dos gostos de determinado sujeito passa pelo entendimento de sua trajetória sócio-histórica.

Sendo assim, as instituições responsáveis pela educação, como a família e a escola,

participariam de um jogo de poder, tentando incorporar, em seus educandos, valores culturais

Capitais Escopo Exemplos

Econômico

Recursos associados aos fatores de produção (terra, fábrica e

trabalho) e aos ativos econômicos, como a renda e os bens

materiais. Pode ser acumulado e reproduzido por meio de

estratégias de investimento econômico e de outros mecanismos

associados à obtenção ou à manutenção de relações sociais que podem possibilitar o estabelecimento de vínculos

economicamente úteis.

Terra, trabalho,

dinheiro, patrimônio,

bens materiais

Cultural

Corresponde ao conjunto de conhecimentos, habilidades e

qualificações intelectuais transmitidas pela família e pelas

instituições escolares ao longo da vida do indivíduo. O capital

cultural pode adquirir três formas: 1. O estado incorporado,

como uma característica durável do corpo (a forma de falar); 2.

O estado objetivo, como a posse de bens culturais; 3. O estado

institucionalizado, decretado por instituições de ensino.

Valores familiares,

obras de arte, títulos

acadêmicos e os títulos

nobiliários no contexto

de sociedades

aristocráticas.

Social

O capital social corresponde à agregação de recursos atuais ou

potenciais que têm estreita conexão com a rede de relações

institucionalizadas de reconhecimento e de Inter

reconhecimento entre indivíduos e grupos. Envolve a manutenção das relações sociais individuais e coletivas,

acumulando-se pelo processo de socialização.

Rede de

relacionamentos e os

recursos que podem ser

acessados a partir dessas conexões.

Simbólico

Está relacionado à acumulação de prestígio, honra e de

reconhecimento social por um indivíduo/grupo que preserva

sob seu domínio os recursos considerados essenciais num

determinado campo. A posse do capital simbólico não implica,

necessariamente, domínio de uma propriedade “objetiva”, e

sim de um recurso simbólico que foi legitimado pelos atores

sociais num campo específico, podendo não ser relevante em

outro espaço social. Deter e manter a posse sobre esses

recursos simbólicos requer muito investimento, tempo e

disposição pessoal para reafirmar as visões de mundo e sistemas classificatórios vigentes.

Síntese dos capitais

econômicos e culturais

que foram reconhecidos

como legítimos em

determinado campo

social.

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e simbólicos tidos por elas como importantes, de forma a desenvolver nessas pessoas habitus

específicos.

Compreende-se que, por intermédio do habitus, que define a relação com a posição

sincronicamente ocupada e, as tomadas de posição práticas ou explícitas sobre o mundo

social, a distribuição das opiniões políticas entre a direita e a esquerda corresponde

intimamente à distribuição das classes e das frações de classe no espaço definido, em sua

primeira dimensão, pelo volume do capital global e, na segunda, pela estrutura desse capital: a

propensão para votar à direita cresce à medida que aumenta o volume global econômico na

estrutura do capital, ao passo que a propensão para votar à esquerda aumenta, nos dois casos,

em sentido inverso.

A homologia entre as oposições que se estabelecem sob essas duas relações, a oposição

secundária entre as frações dominantes e as frações dominadas da classe dominante, tende a

facilitar os encontros e as alianças entre os ocupantes de posições homólogas em espaços

diferentes: a mais visível dessas coincidências paradoxais estabelece-se entre as frações

dominadas da classe dominante – intelectuais, artistas ou professores – e as classes dominadas

que têm em comum o fato de exprimir sua relação (objetivamente bastante diferente) com os

dominantes (comuns) em uma propensão particular para votar à esquerda.

De acordo com Bourdieu (2008), a adaptação a uma posição dominada implica uma forma de

aceitação da dominação. Em outros termos, os efeitos da mobilização política têm

dificuldades de contrabalançar completamente as consequências da dependência inevitável da

autoestima em relação aos sinais do valor social, tais como o estatuto profissional e a renda,

antecipadamente legitimados pelas sanções do mercado escolar. Seria fácil enumerar os traços

do estilo de vida das classes dominadas que, por meio de sentimentos da incompetência,

fracasso ou indignidade cultural, contêm uma forma de reconhecimento dos valores

dominantes.

Frente a isso, um conjunto recente de estudos junto a processos contemporâneos de

reconversão de funções econômicas de cidades (Sant’Anna et al., 2011; Oliveira et al., 2012;

Sant’Anna et al., 2015), bem como de requalificação de espaços urbanos (Sant’Anna et al.,

2016; Oliveira et al., 2016) tem procurado investigar, a partir da sociologia de Bourdieu, de

que formas distintos agentes e grupamentos socioeconômicos, se interagem buscando o

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domínio de seu campo de atuação, por meio da mobilização de diferentes capitais em

contextos de interação entre circuitos superior e inferior da economia. Desses estudos, revela-

se significativa a construção de tipologia de empreendedores, desenvolvida a partir dos

capitais bourdeusianos (Quadro 3).

Quadro 3 - Tipologia de Empreendedores segundo habitus e capitais mobilizados.

CATEGORIA SUB-CATEGORIA CAPITAIS DISTINTIVOS

Empreendedores

Tradicionais

Empreendedores

Remanescentes

Simplicidade, sabedoria, conhecimento tácito,

naturalidade, emoção, recato, família, conservadorismo.

Empreendedores

Pioneiros

Erudição, cultura, requinte, sofisticação, nobreza,

refinamento, bom gosto, estilo, beleza, distinção,

elaboração, respeito, justiça, bravura, coragem, dignidade,

postura, atitude, elegância, charme, etiqueta, classe,

discrição, essência, prestígio, reputação.

Empreendedores Modernos

Empreendedores

Negociais

Curto prazo, lucro imediato, marketing, agressividade,

competitividade, resultado financeiro, crescimento,

expansão, diversificação, negócios.

Empreendedores

Profissionais

Qualificação, profissionalismo, gestão, cientificidade, qualidade, certificação, competência, modernidade,

responsabilidade social, preservação ambiental, ecologia,

cidadania empresarial, desenvolvimento sustentável,

politicamente correto.

Empreendedores

Pós-modernos

Empreendedores

Camaleões

Improvisação, imitação, informalidade, cópia, “jeitinho

brasileiro”, senso de oportunidade, aventura, risco,

flexibilidade, adaptabilidade.

Empreendedores

Vanguardistas

Arte, criação, novo, originalidade, subjetividade,

sensibilidade, independência, vanguarda, intelectualidade,

autonomia, liberdade, polêmica, visão crítica,

transgressão, desconstrução, provocação, contestação,

sensibilidade, desprendimento.

Fonte: Sant’Anna et al., 2011, p. 397.

Além das contribuições desses autores, cabe salientar a pertinência de maior aproximação

com a noção de Effectuation. Originada da tese de doutorado de Read S. Sarasvathy (2001a),

a ideia de Effectuation adota pressupostos diferentes daqueles utilizados pela lógica causal,

predominantes nos estudos sobre o empreendedorismo, tendo, por isso, ganhado relevância e

abrangência desde a última década (Fisher, 2012).

2.3 A TEORIA DA EFETUAÇÃO

A lógica causal e a lógica effectual são duas abordagens alternativas e não excludentes

utilizadas por empreendedores no processo de criação e desenvolvimento de novos negócios

(Sarasvathy, 2001a, 2008). É importante que se reconheça que os indivíduos utilizam tanto

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uma quanto outra e as duas podem acontecer simultaneamente, de maneira sobreposta ou

intercalada.

Como alternativa ao modelo de racionalidade causal, o modelo do Effectuation, apresenta um

processo de racionalidade que se desenvolve a partir dos meios disponíveis, trazendo

resultados emergentes e delineando objetivos que se tornam evidentes apenas no desenrolar

da ação no tempo (Sarasvathy, 2001).

Dessa forma, enquanto o raciocínio causal assume objetivos pré-determinados, enfatiza as

tarefas a partir de objetivos pré-determinados e utiliza estimativas para explorar e desenvolver

mercados latentes e já existentes; o effectuation parte de uma lógica reversa (Sarasvathy,

2001). A partir destes pressupostos, o modelo de decisão na lógica do Effectuation se define

por quatro princípios:

1. Perdas toleráveis ao invés de retornos esperados: enquanto a lógica causal concentra-se

em maximizar os retornos potenciais de uma decisão, o effectuation parte de um valor de

perda tolerável e centra-se na experimentação das estratégias possíveis dentro do limite

imposto pelos meios;

2. Alianças estratégicas em lugar de análise competitiva: modelos causais de análise do

mercado enfatizam a necessidade de neutralizar forças competitivas (Porter, 1980).

Contudo, a lógica do effectuation prioriza a formação alianças estratégicas e

compromissos com stakeholders (partes interessadas), como forma de reduzir ou eliminar

a incerteza e para criar barreiras de entrada;

3. Exploração de contingências ao invés de exploração de conhecimento: o modelo causal

pode ser indicado na exploração do conhecimento, contudo, na incerteza que caracteriza

o effectuation, a capacidade de explorar contingências que aparecem ao longo do tempo é

mais valiosa;

4. Controlar do futuro imprevisível em lugar de prever o futuro incerto: processos causais se

concentram nos aspectos previsíveis de um futuro incerto, na lógica de que na medida em

que se pode prever o futuro, seria possível controlá-lo. No effectuation o foco concentra-

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se nos aspectos controláveis de um futuro imprevisível, na lógica de que na medida em

que se pode controlar o futuro, não é necessário prevê-lo (Sarasvathy, 2001).

Nesse sentido, o Quadro 4 apresenta significativa contribuição para uma síntese da aplicação

do pensamento Effectual de Sarasvathy baseado em cinco princípios. Eles permitem que o

empreendedor comece a visualizar os recursos que poderá perder, suas metas, listar o que já

possui, possibilidades e parceiros.

Quadro 4 - Princípios do pensamento Effectual.

Ordem Princípio Premissa

1

Comece com o que você

tem

Se você já tentou empreender, pode ter parado porque não

tinha dinheiro suficiente, faltava conhecimento técnico ou

clientes. É assim que um não empreendedor pensa. Se

esperar o momento ideal, correrá o risco de manter suas

ideias presas no papel. Empreender pede que você execute logo seus projetos, a partir do que já tem. Lembre-se:

comece listando quem você é, o que você sabe e quem

você conhece.

2

Defina as perdas aceitáveis

Estabeleça seus limites [até quanto e até quando? ]. Pense

e enumere quais perdas você conseguiria suportar. De que

você estaria disposto a abrir mão para empreender?

3

Explore as possibilidades

Imagine as inúmeras possibilidades que seu negócio

poderia ter, seja para seus clientes ou para você. Listar

possibilidades permite que você sempre tenha “cartas na

manga” caso algo não funcione.

4

Cresça por meio de

parcerias

Ninguém cresce sozinho. Pense nas pessoas que você

conhece e que estariam dispostas a colaborar com você.

Ter bons parceiros é fundamental para empreender.

5

O futuro é imprevisível

Um dos achados mais incríveis de Sarasvathy é como uma

pessoa Causal e uma Effectual veem o futuro. O Causal pensa: como sou eu quem decide o caminho para o futuro,

eu posso prevê-lo. O Effectual pensa: como sou eu quem

constrói o futuro, então, eu não preciso prevê-lo. Achar

que é possível controlar o futuro é ilusão. Estabeleça metas

de curto e médio prazo para dar pequenos passos na

construção de um futuro de sucesso.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Dentre os meios disponíveis para o empreendedor, três categorias se ressaltam: a identidade

(“quem é o empreendedor”), o conhecimento (“o que ele sabe”) e a rede de relacionamentos

(“quem ele conhece”) (Sarasvathy, 2001).

A lógica causal é consistente com conceitos econômicos neoclássicos (Kirzner, 1979),

estratégia deliberada (Ansoff, 1965; Mintzberg, 1978), identificação de oportunidades por

meio de busca sistemática (Fiet & Patel, 2006) e desenvolvimento das oportunidades em

função da previsão de retorno sobre investimentos (Drucker, 1998).

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De posse da lógica causal, o empreendedor define inicialmente os objetivos que pretende

alcançar e identifica oportunidades advindas de fissuras mercadológicas de mercado que lhe

permitam alcançar tais objetivos. Diante disso, decorre que o processo se foca na seleção dos

meios necessários para alcançá-los. A lógica effectual, por sua vez, é consistente com

conceitos da economia comportamental (Simon, 1959), da estratégia emergente (Mintzberg,

1978), da criação de oportunidades por meio da ação humana (Weick, 1979) e do

desenvolvimento das oportunidades em função dos acontecimentos imprevisíveis (March,

1978).

Utilizando a lógica effectual, o empreendedor inicia o processo de criação do negócio com

uma ideia genérica do que pretende fazer e utiliza os recursos existentes para interagir com

potenciais stakeholders e agir sobre elementos que possa influenciar (Figura 1).

Figura 1 - Estudos Teóricos Referenciais sobre Educação Empreendedora SEBRAE – Modelo Effectuation

Fonte: Adaptado de Fischer, 2012.

Em suma, de acordo com Sarasvathy (2001a, 2008), empreendedores que atuam sob a

perspectiva effectual: 1. identificam oportunidades a partir de recursos existentes, 2. tomam

decisões de investimento com base no que estão dispostos a perder, 3. aproveitam as

contingências, 4. estabelecem relações estratégicas com stakeholders.

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Em estudo realizado para validação do construto, Chandler et al. (2011) propõem que

effectuation é formado por quatro dimensões: 1. experimentação, ou seja, a utilização de

diferentes abordagens de negócio para definição do conceito; 2. perda aceitável, isto é,

estabelecimento do valor investido com base no montante que o empreendedor está disposto a

perder; 3. flexibilidade, ou seja, adaptação da ideia inicial às contingências, circunstâncias e

conhecimento adquirido; 4. pré-acordos, isto é, estabelecimento de acordos estratégicos com

stakeholders.

Já Fisher (2012), ao analisar como a teoria Effectuation se traduz em comportamentos

individuais, define comportamentos associados a cada uma das dimensões de Chandler et al.

(2011), bem como para cada um dos quatro comportamentos, tipificando ações que

caracterizam o conteúdo de tais comportamentos.

Uma vez explicitadas as teorias que preliminarmente auxiliarão num melhor entendimento

dos resultados, achados e relatos da pesquisa, a seguir, apresentar-se-á a metodologia

utilizada.

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Capítulo 3

METODOLOGIA

Neste capítulo são descritas as características básicas, os sujeitos de pesquisa investigados,

bem como as estratégias, técnicas e instrumentos adotados para a coleta e tratamento de

dados, incluindo o conjunto dos procedimentos adotados.

3.1 CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DA PESQUISA

A pesquisa que subsidiou os resultados deste estudo pode ser caracterizada como de natureza

qualitativa, recomendada para entender, descrever e explicar fenômenos em maior grau de

aprofundamento que uma abordagem unicamente quantitativa (Neves, 1996). Pode também

ser caracterizada como de caráter descritivo, tendo sido desenvolvida por meio do método de

estudos múltiplos de casos (Yin, 2015). Segundo Triviños (1987), o estudo de caso pode ser

compreendido como uma categoria de pesquisa cujo objeto é uma unidade que se analisa

profundamente. Ainda de acordo com esse autor, pode-se identificar três tipos de estudos de

caso: estudo de caso histórico-organizacional; estudo de caso observacional e história de vida.

Para fins deste estudo, optou-se pelo estudo de caso observacional, envolvendo a realização

de entrevistas semiestruturadas e em profundidade junto a empreendedores das unidades de

investigação alvo do estudo.

Cabe salientar que o roteiro de entrevista foi planejado e organizado a fim de contemplar as

categorias de análise constante do estudo, tendo por base as noções de Campo, Habitus e

Capital – Social, Econômico, Cultural e Simbólico – conforme preconizadas pela Teoria da

Ação Prática de Boudieu (2008).

Para Triviños (1987, p. 146), a entrevista semiestruturada tem como característica fomentar

questionamentos básicos apoiados em teorias e hipóteses que se relacionam ao tema da

investigação levada a cabo. Questionamentos que permitem o delineamento de novas

questões, emergentes das respostas obtidas. O foco principal é, então, colocado no

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investigado, o que “[...] favorece não só a descrição dos fenômenos sociais, mas também sua

explicação e a compreensão de sua totalidade [...]”, além de manter a presença consciente e

atuante do pesquisador no processo de coleta dos dados (Triviños, 1987, p. 152).

De forma similar, Manzini (1990/1991, p.154), evidencia estar a entrevista semiestruturada

focalizada em assunto sobre o qual se elabora roteiro com perguntas principais,

complementadas por outras, inerentes às circunstâncias momentâneas à entrevista. Para o

autor, esse tipo de entrevista permite o emergir de dados de forma mais livre, com respostas

não condicionadas a uma padronização de alternativas previamente estabelecidas. Manzini

(2003) salienta, ainda, ser possível um planejamento da coleta de informações por meio da

elaboração de um roteiro com perguntas que atinjam os objetivos pretendidos. O roteiro se

prestando, além de coletar as informações básicas, como um meio para o pesquisador se

organizar para o processo de interação como os informantes.

Além da realização de entrevistas, também se fez uso de análise de documentos e observação

direta – do tipo não participante -, por meio dos quais foi possível melhor caracterizar os

espaços alvo do estudo.

3.2 SUJEITOS DE PESQUISA

Quanto ao público-alvo, a pesquisa envolveu 15 (quinze) empreendedores com lojas de

diversos segmentos no Quarteirão do Povo (Quadro 5).

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Quadro 5 - Sujeitos de pesquisa: Quarteirão do Povo.

Entrevistado Cargo Natureza do Empreendimento

EP1 Proprietário Aviamento, Confecções e artigo de armarinho

em geral.

EP2 Proprietário Vestuário, acessórios, cosméticos e higiene

pessoal.

EP3 Proprietário Varejo de Calçados

EP4 Proprietário Varejo de Calçados, acessórios, vestuário.

EP5 Proprietário Relojoaria e Joalheria.

EP6 Proprietário Vestuário e Acessórios.

EP7 Proprietário Vestuário e Acessórios.

EP8 Proprietário Vestuário e Acessórios.

EP9 Proprietário Artigos de Joalheria.

EP10 Proprietário Vestuário e Acessórios.

EP11 Proprietário Varejo de Calçados.

EP12 Proprietário Varejo de Calçados e Acessórios.

EP13 Proprietário Acessórios, vestuário, calçados.

EP14 Proprietário Varejo de artigos de viagem.

EP15 Proprietário Artigos de vestuário e acessórios.

Fonte: Elaborada pelo autor.

Igualmente, envolveu 15 empreendedores localizados no Montes Claros Shopping (Quadro

6).

Quadro 6 - Sujeitos de pesquisa: Montes Claros Shopping

Entrevistado Cargo Natureza do Empreendimento

EC1 Proprietário Vestuário e Acessórios.

EC2 Proprietário Atacado e Varejo de informática, escritório e

papelaria em geral.

EC3 Proprietário Vestuário e Acessórios.

EC4 Proprietário Cabeleireiro, Manicure e Pedicure.

EC5 Proprietário Vestuário e Acessórios.

EC6 Proprietário Equipamentos de Telefonia e Comunicação.

EC7 Proprietário Atividades de condicionamento físico.

EC8 Proprietário Reparação e Manutenção de equipamentos de

comunicação.

EC9 Proprietário Vestuário e Acessórios.

EC10 Proprietário Artigos e Acessórios e Óptica.

EC11 Proprietário Vestuário e Acessórios.

EC12 Proprietário Alimentos.

EC13 Proprietário Varejo de Calçados e confecção.

EC14 Proprietário Atividade Odontológica.

EC15 Proprietário Varejo de brinquedos, artigos recreativos,

calçados, vestuário e acessórios.

Fonte: Dados da pesquisa.

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3.3 ESTRATÉGIA DE COLETA DE DADOS

Para a coleta de dados, o roteiro de entrevista foi previamente testado e validado. Incluídas as

adequações requeridas, a versão final (Apêndice A) foi formatada e aplicada, resultando em

30 relatos gravados, por meio de gravador de voz modelo Samsung (áudio), utilizando

aplicativo Rec. Foge II Versão 1.2.5G disponível gratuitamente na Play Store. Posteriormente,

foi procedida a digitalização das entrevistas, permitindo o processamento dos relatos.

As entrevistas no Quarteirão do Povo foram realizadas no período entre 06 a 17 de novembro

de 2017, precedidas por agendamento via aplicativo WhatsApp e conduzidas conforme

comodidade de cada respondente, em seus respectivos estabelecimentos comerciais. Cada

entrevista durou de quarenta a noventa minutos. Durante as entrevistas, não raro, alguns

entrevistados tiveram que interromper para atender no caixa, retornar ligações de

fornecedores ou atender a clientes. Isso, todavia, não afetando de forma significativa a

condução das mesmas. Ao contrário, permitiram, quando verificadas, melhor compreender a

dinâmica dos empreendimentos e estilos de atuação dos empreendedores.

Assim como a observação direta - do tipo não participantes, a análise documental, constituiu

possibilidades significativas para maior inserção do pesquisador no cotidiano dos

respondentes, abrindo espaços para a captura de modos de pensar e agir, estórias e formas de

organização que fundamentam as relações empreendedor-empreendimento-comunidade.

Em relação ao Montes Claros Shopping, as entrevistas foram realizadas no período de 20 de

novembro de 2017 a 05 de janeiro de 2018. Dado ao movimento do shopping, face às datas

comemorativas de Natal e Ano novo, as entrevistas se estenderam para além do prazo

incialmente previsto (20 de dezembro de 2017). De toda forma, as mesmas também tiveram

duração entre 40 a 60 minutos, tendo sido, igualmente, conduzidas nos estabelecimentos

instalados no interior do mall.

3.4 TRATAMENTO E ANÁLISE DE DADOS

O tratamento de dados por meio de entrevistas utilizou-se o método de análise de conteúdo

por categoria (Bardin, 2014; Richardson, 1985). Nesse procedimento são utilizadas técnicas

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de sistematização, interpretação e descrição do conteúdo das informações coletadas. Para

compreender, depurar, analisar, avaliar, aprofundar, extrair e organizar detalhes que são

relevantes ao contexto da pesquisa (Eisenhardt, 1989; Godoy, 1995).

O conjunto dos relatos foi transcrito e cuidadosamente tratado de forma mecânica, tendo por

base os marcos teóricos definidos para este estudo. O Quadro 7 sintetiza as categorias

investigadas, associando-as aos itens do roteiro semiestruturado de pesquisa adotado.

Quadro 7 - Categorias Analíticas

Categorias Dimensões Questões do Roteiro

Campo

Localização do Empreendimento Questões 1, 11, 35

Natureza do Empreendimento Questões 5, 6

Tamanho do Empreendimento Questão 19,20

Habitus

Histórico do Empreendedor Questões 16, 17, 18

Histórico do Empreendimento Questões 1, 4, 15

Características do Empreendimento Questões 21, 22, 23

Modelo de Negócios Questões 5

Modelo de Gestão Questões 6, 16, 36, 37, 38, 39

Capital

Econômico Questões 30, 31

Social Questões 4, 7, 32, 33

Cultural Questões 20, 40, 41, 42, 43

Simbólico Questões 12, 14, 44

Fonte: Elaborado pelo autor.

No que tange à estratégia de coleta de dados, o estudo foi conduzido em três etapas que

compreenderam: visitas in loco, análise documental e a realização das entrevistas, conforme

anteriormente relatado.

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Capítulo 4

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS

Neste capítulo são apresentadas características e peculiaridades dos centros de objetos de

investigação: o Quarteirão do Povo e o Montes Claros Shopping, ambos localizados na cidade

de Montes Claros (MG), a qual conta, atualmente, com população estimada em 336.947

habitantes (IBGE, 2004), tendo desde os primórdios da colonização da região norte mineira se

constituído como importante centro regional de comércio e serviços, em particular por sua

posição geográfica estratégica, favorecida pela abertura de estradas ligando-a aos principais

municípios da região e deles com os principais centros comerciais e industriais do país. Soma-

se a isso, a distância de Montes Claros e região, da capital mineira, reforçando seu o status de

polo regional de compras e serviços.

4.1 O QUARTEIRÃO DO POVO

4.1.1 O Campo

Em linhas gerais, o Quarteirão do Povo resulta de parceria entre comerciantes da Rua Simeão

Ribeiro, no centro de Montes Claros (MG), no intuito de movimentar a economia local por

meio de projeto de “Shopping a Céu Aberto”, iniciativa que se tornou popular em várias

cidades do Brasil. Com o apoio de prefeituras e órgãos do Governo, como o SEBRAE e

associações comerciais locais, o propósito da iniciativa é beneficiar famílias que, por não

terem emprego ou qualquer outra fonte de renda, estabelecem nele seu comércio de bens e

serviços, na sua maioria, produtos a preços populares (SEBRAE, 2018)

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Figura 2 - Rua Simeão Ribeirão (Quarteirão do Povo).

Fonte: Acervo do autor.

A iniciativa de se criar um shopping a céu aberto, teve a parceria entre o SEBRAE Minas e os

lojistas instalados no Quarteirão do Povo. Os trabalhos de sensibilização começaram em

2015, com ações de palestras sobre cooperativismo, associativismo, liderança, além de visitas

e missões a outros centros modelos de shopping a céu aberto no Brasil. Atualmente, o projeto

conta com a adesão de 17 lojistas dos setores de confecções, calçados, joalherias, entre outros,

permitindo aos comerciantes atrair clientes, ao lhes propiciar maior conforto e opções de

compras.

Também visa dinamizar o comércio local, a partir de melhorias na infraestrutura e

revitalização do espaço físico das lojas, da gestão de negócios e do atendimento.

O quarteirão do povo é histórico. A cidade começou aqui no Quarteirão, era uma

área nobre, uma espécie de “Savassi”. As melhores lojas eram aqui. Acredito eu, não

era da minha época. Diria que o QP encolheu, em relação ao que foi e o que é. Uma

função de modismo, os shoppings centers fizeram com que houvesse migração de

lojistas e clientes para esses. Vim estudar em 1978 em Montes Claros, e aqui era o

point de encontro geral, local que frequentavam pela proximidade da igreja, do

centro cultural (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP3).

De acordo com especialista do SEBRAE local entrevistada, com a chegada dos shoppings

tradicionais, os comerciantes da área central perderam vendas. Nesse sentido, salienta ser o

shopping a céu aberto uma estratégia para reconquistar os consumidores: “Lá existem lojas

tradicionais que sempre tiveram uma clientela fidelizada, mas que, ultimamente, migrou para

os shoppings em busca de maior conforto”. Conforme salienta um comerciante entrevistado:

Na verdade, o Quarteirão do Povo foi criado muito antes do Montes Claros Shopping. Eu era criança, a cidade precisava de um espaço para as pessoas

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caminharem e assim foi criado. Quem começou o movimento de franquia, fui eu.

Abri uma loja de franquia no shopping e resolvi abrir uma outro no Quarteirão do

Povo. Pois percebi que o público era diferente do shopping em relação ao centro. Aí

falei com o pessoal da Cacau Show, Arezzo para trazerem suas marcas para cá

(Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP7).

Aqui no Quarteirão do Povo temos um pequeno espaço e bom padrão. Agradável e

com relativa segurança. Com relação a vitalidade do espaço, é um ponto que sempre

está sendo necessária manutenção para conservação, identidade própria. Esses

aspectos são importantes. Para passar a ideia de atual (Relato Empreendedor

Quarteirão do Povo, EP10).

As facilidades de infraestrutura, bem como a disponibilidade de cursos de planejamento de

marketing, gestão e atendimento direcionados aos empreendedores e seus colaboradores,

segundo a entrevistada, permitem mesmo aos “lojistas que ainda não aderiram à iniciativa

perceberem que o conceito promove maior conforto, qualidade e valor aos seus negócios,

atraindo novos clientes” (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP2).

Além disso, o projeto visa propiciar maior visibilidade do espaço, incluindo a promoção de

campanhas como a “Campanha Aqui Tem”. Sob o slogan “Aqui tem”, aos sábados, são

desenvolvidas atividades que despertam a curiosidade de quem passa pelo local, como ações

no atendimento de saúde e beleza. Outra é a “Campanha do Dia dos Pais”, em que se investe

em exposição de veículos em parceria, apresentação da banda do Batalhão da Policia Militar e

exposição de cães visando atrair mais público para o espaço.

Não obstante os avanços, empreendedores ainda relatam a ausência de maior cooperação entre

os comerciantes do local.

Em termos de lições que geram vitalidade e diversidade, é muito difícil quando se

tem muitas pessoas com ideias diferentes. Principalmente na criação da associação

dos lojistas. Pensar no todo não é fácil. Não tenho paciência para ser político, ter de

conquistar as pessoas, convencer (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP12).

Queixas também são apresentadas quanto à iluminação, limpeza, coleta seletiva, jardinagem,

pavimentação, campanha de natal e de capacitação de pessoal. Para um dos coordenadores da

iniciativa junto ao SEBRAE-MG,

[...] a iniciativa tem como objetivo unir forças para melhorar o ambiente comercial

da área central da cidade, em que se encontram as empresas e, consequentemente, aumentar o fluxo de pessoas, melhorar as vendas e aumentar o lucro. O

envolvimento do poder público e das empresas torna possível construir melhorias

para o comércio local. A participação e a união dos empreendedores, todavia, é

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elemento fundamental para que um bom resultado venha a acontecer (Relato

Empreendedor Quarteirão do Povo, EP3).

Embora diferentes níveis de engajamento entre si e com o projeto, o principal interesse dos

empreendedores está em transformar o Quarteirão do Povo em um “importante shopping a

céu aberto”, gerando melhorias tanto para o conjunto dos empreendedores, quanto para a

população local e dos municípios vizinhos.

A impressão que temos, é a variedade e conforto para se locomover. Não há espaço no centro como um todo. No Quarteirão, é uma rua fechada e dá essa flexibilidade

ao cliente (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP4).

De toda forma, o projeto já propicia resultados visíveis como a reestruturação da

pavimentação e da fachada das lojas; ampliação da segurança e da iluminação; aumento do

número de bancos e das lixeiras; padronização do layout das lojas; reabilitação do paisagismo

e da jardinagem; e instalação de cobertura:

Finalmente, com o Quarteirão do Povo, o espaço passa por uma revitalização. Na

verdade, estava passando da hora de se fazer essas melhorias e, não fosse a

mobilização de alguns lojistas junto ao Sebrae e à Prefeitura de Montes Claros, o

local ainda estaria sem as condições ideais para atender a população (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP10).

O espaço tem também se convertido em ponto de encontro e sociabilidade local.

Aproveitando-se dos equipamentos urbanísticos instalados, pessoas de diferentes faixas

etárias e regiões da cidade e de municípios da região têm no local possibilidades, além de

compras, de interações sociais (Figura 3)

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Figura 3 - Mini praça após revitalização do Quarteirão do Povo.

Fonte: Acervo do autor.

Além do grande público anônimo, é possível constatar pelos relatos obtidos, que o espaço se

constitui em “região tradicional da cidade”, frequentada por figuras influentes do cenário local

e nacional. O Café Galo, por exemplo, funciona como uma espécie de bricoler, onde pessoas

de diversas cidades do interior mineiro se confundem com políticos, empresários e jornalistas:

Os locais onde as pessoas costumam se encontrar no Quarteirão do Povo são o café

galo e um barzinho em frente ao Café Galo, esse era ponto de encontro onde

políticos, autoridades se encontravam para conversar, atualizar-se. Tem até

manuscrito e fotografias do JK, ele e outros frequentavam o Café Galo (Relato

Empreendedor Quarteirão do Povo, EP3).

Existe o bar mais antigo, o Café Galo. A tradição no local, isso se perdeu, quem

frequenta é o pessoal mais velho. Lá não se ver mais jovens. Acho que eles se reúnem na praça Dr. Carlos para esperar ônibus. Eu não vou lá, mas meu sogro com

certeza. Não há oxigenação dos jovens nesse lugar (Relato Empreendedor

Quarteirão do Povo, EP15).

O Café Galo, por exemplo, é super tradicional. É uma mistura do público com o

privado. No café galo, por exemplo, encontram-se aposentados, políticos, pessoas

diversas. Ali, dá-se notícia de tudo que acontece na cidade (Relato Empreendedor

Quarteirão do Povo, EP6).

Tem o café Galo e a lanchonete Cristal na esquina do Quarteirão do Povo. As

pessoas mais velhas, chegam entre às 06h e 07h da manhã, vem fofocar, falar de

política, é uma tradição. Aqui tinha um bar tradicional era do seu “Zimbolão”, o café dele era famoso. Fechou, e passou para o café Galo. É interessante, ver o pessoal

mais antigo conversando, os jornalistas veem pegar dicas para elaborar os seus

textos nesse local (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP5).

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Figura 4 - Rua Simeão Ribeiro, Quarteirão do Povo – Café Galo.

Fonte: Acervo do autor.

Em 2017, novas intervenções e ações foram incorporadas, com o apoio da Prefeitura. Para ta,l

foram conduzidas reuniões de alinhamento e construídos com os comerciantes indicadores de

resultados. Ações de revitalização do espaço, consultorias In Company, treinamento de

atendimento e de vendas, capacitação de lideranças, acompanhamento do planejamento de

mídia, programas de cliente oculto, criação de logomarcas e identidades visual foram também

promovidas, contando com o apoio técnico do SEBRAE-MG.

Além disso, missão de empreendedores locais para conhecer modelos de shopping a céu

aberto em Santa Catarina, palestras, criação de campanhas promocionais e de capacitações

foram também realizadas.

Figura 5 - Empreendedores do Quarteirão do Povo em visita a Santa Catarina.

Fonte: Acervo do autor.

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4.1.2 O Habitus

Compreender o sentido e refletir sobre a nossa formação nos remete às origens, à história e

aos modos como um lugar se constitui e se desenvolve. A realidade e achados obtidos

constituem, desse modo, dispositivo privilegiado para se apreender como negócios são

forjados, a partir da influência da cultura, da família e do jeito de ser de um povo. Conforme

observa Ribeiro (1996, p. 19), constitui oportunidade de se apreender como se pode

[...] inaugurar uma forma singular de organização socioeconômica, fundada num

tipo renovado de escravismo e numa servidão continuada ao mercado mundial. Novo, no entanto, pela inverossímil alegria e espantosa vontade de felicidade, num

povo tão sacrificado, que alenta e comove.

Constituído basicamente por pequenos negócios, o Quarteirão do Povo reflete a busca pela

junção entre o tradicional e o moderno, uma conciliação entre jeitinho brasileiro e inovação;

entre informalidade e formalidade; entre desigualdade socioeconômica e competitividade,

entre crescimento econômico e sobrevivência. Por um lado, a evidenciação de um comércio

popular, centrado em modos tradicionais de venda e crédito, na pessoalidade e nas relações de

confiança. Por outro, sistemas pré-formatados de comercialização e negócios, centrados em

tecnologias e mecanismos de atendimento, publicidade e vendas de última geração. E, para

ambos os tipos envolvidos, o ideário de construção de um ambiente de negócios e de

sociabilidade capaz de integrar as duas pontas, por meio da introdução de tecnologias

gerenciais e de comercialização, organização do espaço e modernização dos estabelecimentos

e formas de sua interação com o público vis-à-vis a (re-) significação dos valores, das

tradições e dos laços sociais tradicionais.

Figura 6 - Loja de artigos para recém-nascidos situado à rua Simeão Ribeiro.

Fonte: Acervo do autor.

Concomitantemente, visa promover a convivência de empreendedores por vocação,

por oportunidade e por necessidade, mirando a construção de um espaço em que por

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meio da técnica e práticas de gestão transmitidas por cursos e campanhas

institucionalmente apoiadas a forjar um contexto em que mesmo a necessidade

possa se converter em negócios e quiçá sobrevivência:

Foi obrigatoriedade. Não foi por querer. Foi por necessidade. Aqui era um bar, eu

era cliente desse bar, e o proprietário, futuramente seria o meu esposo, então, depois

nos conhecemos e casamos e tomei de conta do negócio (Relato Empreendedor do

Quarteirão do Povo, Entrevista EP1).

Ter um negócio aqui no Quarteirão do povo há dois lados, o positivo: pioneirismo,

tradição, experiência. E negativo, talvez a perca do espaço para a concorrência de

shoppings centers, comércios centralizados em bairros. A falta de lugar para parar

no centro é um problema (Relato Empreendedor do Quarteirão do Povo, Entrevista EP3).

Figura 7 - Rua fechada: Comércio do Quarteirão do Povo.

Fonte: Acervo do autor.

Nessa direção, desempenha papel relevante a adoção de abordagens como a Effectuation

(Sarasvathy, 2001), a qual tem como ênfase o trabalho junto a três dimensões fundamentais: a

identidade (“quem é o empreendedor”), o conhecimento (“o que ele sabe”) e a rede de

relacionamentos (“quem ele conhece”). Contando com o apoio do SEBRAE-MG, os

empreendedores e suas equipes têm vivenciado diversos programas de capacitação orientados

por tal metodologia, conforme Figura 8, que ilustra ação de treinamento e desenvolvimento de

vendedores de lojas do Quarteirão do Povo, realizado nas dependências do SEBRAE Montes

Claros.

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Figura 8 - Ação de treinamento e desenvolvimento de vendedores de lojas do Quarteirão do Povo.

Fonte: Acervo do autor.

No formato de bootcamps, a transmissão da metodologia adquirida tem ampla capilaridade e

aceitação do público do Quarteirão do Povo, em particular de empreendedores prospects, que

quem têm uma ideia e a quer tirar do papel, ou que já possuem um negócio e querem se

diferenciar. O termo Bootcamp surgiu nos EUA, derivado dos acampamentos de treinamento

militar, em que são realizadas atividades físicas de alta intensidade. No campo da gestão, a

expressão tem sido utilizada para se referir a programas de imersão com ênfase na prática -

aprender fazendo - tarefas a serem desempenhadas.

No geral, o programa oferecido aos empreendedores abrange um curso vivencial e prático,

com 24 horas de duração, realizado ao longo de três dias. Nele, os participantes têm a

oportunidade de aprender a empreender, usando novas ferramentas e técnicas para criar

projetos e negócios, incluindo como conteúdos: Mindset empreendedor; cliente e mercado;

resolução de problemas; prototipagem e mínimo produto viável; canais, vendas e modelos

financeiros; lean canvas; storytelling e construção de pitches.

No Quadro 8 sintetiza-se considerações dos respondentes do Quarteirão do Povo quanto aos

princípios que compõem a abordagem da Effectuation:

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Quadro 8 - Princípios e respectivos relatos dos empreendedores do Quarteirão do Povo.

Princípios Relatos

Cresça por meio de

parcerias

“Essa necessidade de crescimento é real em nossa vida como empreendedor.

Infelizmente poucos empresários se envolveram e buscaram o SEBRAE para ajudar

nesse processo de idealização do Quarteirão do Povo”. (Relato Entrevista EP2).

Explore as

possibilidades

“Se eu começasse do zero hoje, com certeza começaria um outro negócio. Talvez algo

ligado à tecnologia, nicho de mercado. Que tivesse escalabilidade. Com serviços

agregados. ”. (Relato Entrevista EP4).

Comece com o tem

“Essa foto (fachada) nos remete a nossa mudança, nós começamos com distribuição de

cosméticos. E em 2011 migramos para o segmento de moda feminina íntima. Temos a

foto da distribuição de cosméticos e temos da loja atual. Foi uma mudança muito

radical na nossa vida como empreendedores. Ao olhar para essa foto, ela me emociona,

pois começamos bem pequenininha num corredor, sempre quis ter uma loja bonita e minha. Deus nos ajudou. E hoje estamos com três lojas e sou grata e fico emocionada

de falar da nossa história e não tínhamos a condição financeira adequada e mesmo

assim a vontade de empreender era maior e deus está conosco sempre. Juntamos tudo

que tínhamos, planejamos e fomos crescendo aos poucos. “. (Relato Entrevistado EP2)

O futuro é

imprevisível.

“Quem para fica estagnado. Se você não busca, você não modifica, se você não

modifica, é engolido pelo tempo, pela informática, pela tecnologia, pelo progresso. Isso

é tênue, se não busca, você não encontra. É uma coisa muito heterogênea, saia da zona

de conforto. ”. (Relato Entrevista EP5).

Defina as perdas

aceitáveis

“Tenho orgulho de mim mesma como empreendedora. Fracassei várias vezes e levantei

sozinha. Sempre me remete vitória e aprendizado quando olho minha loja. ”. (Relato

Entrevista EP14).

Cresça por meio de

parcerias

“O que mais gostei de tudo e vivenciei foi válido só com o acompanhamento do

SEBRAE, como tinha uma instituição por trás, os empresários não tiveram de deixar os

negócios para se envolver tanto. E outra coisa muito positiva foram os treinamentos

proporcionados por essa instituição. Acho que não deixar os empresários liderar, é uma boa ideia, tem de ter uma instituição para fazer isso. Temos um modelo que foi a visita

técnica a um shopping a céu aberto em Florianópolis. “. (Relato Entrevista EP4).

O futuro é

imprevisível

“Considero-me um empreendedor moderado. Gosto de explorar esse perfil. Tem uma

vantagem de ser assim, pois dá para controlar os recursos, planejar, logo que a

oportunidade aparece, estamos preparados. Antes as pessoas se satisfaziam com

poucos itens. Hoje é preciso ter pouca coisa de tudo para atender às necessidades dos

clientes. As pessoas estão antenadas, e se viu algo no blog ou redes sociais, elas logo

procuram. ”. (Relato Entrevista EP10).

Cresça por meio de

parcerias

“O empreendedor para ser bem-sucedido, primeiro precisa buscar conhecimento,

informação, se preparar profissionalmente, e volto a dizer que o SEBRAE é um bom

lugar para isso. Além de gostar de indicadores. É preciso entender, ter e trabalhar

indicadores. “ (Relato Entrevista EP2).

Explore as

possibilidades

“Eu vejo hoje um só desafio: estão descentralizando o comércio do centro. Com isso,

os bairros terão seus centros de compras, os shoppings centers oferecem mais comodidade de pagar um estacionamento mais barato que o centro. Shopping tem uma

mistura de coisa para fazer lá dentro. Tem tudo perto. Desafio e oportunidade para nós

do Quarteirão do Povo: é de manter o comércio ativo. “. (Relato Entrevista EP3).

Defina as perdas

aceitáveis

“Em se tratando de incertezas, perdas, erros e tentativas, minha visão mudou muito

com o BootCamp do SEBRAE. Antes gastava muito tempo planejando. Tentando

aumentar ao máximo as informações para tomar decisões. Hoje calculo riscos, encaro

perder, prefiro testar e buscar obter o resultado que é o effectuation. ” (Relato

Entrevista EP4).

Explore as

possibilidades

“Tomo decisões baseadas em dados, notícias, tudo isso. A gente ver fatos, usa a

intuição. São muito importantes, apensar das pesquisas, precisamos ter a nossa opinião.

Às vezes fico andando pela rua perambulando, mas observando, analisando, avaliando.

Fico aprendendo com os outros. Participo de feiras, vejo muitas informações e

transformo-as em resultados para o meu negócio. “. (Relato Entrevista EP3).

Fonte: Elaborado pelo autor, com base em Sarasvathy, 2001.

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Considerando a afirmativa de Sarasvathy (2001), de que o empreendedorismo pode ser

desenvolvido, o SEBRAE disponibiliza aos empreendedores outro programa, o EMPRETEC.

Esse programa, fruto de parceria entre o SEBRAE, o Programa das Nações Unidas para o

Desenvolvimento – PNUD, a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e

Desenvolvimento – UNCTAD e a Agência Brasileira de Cooperação – ABC, do Ministério

das Relações Exteriores, direciona-se a desenvolver um conjunto de características que

compõem o perfil ideal de empreendedor.

A metodologia do EMPRETEC inclui palestras, vídeos, dinâmicas individuais e em grupo,

permitindo um estímulo adicional para os empreendedores participantes, além de fortalecer a

estratégia para a condução de seus negócios, de forma competitiva. Por meio dele, os

participantes são orientados a identificar oportunidades, entender seu comportamento ao

assumir riscos calculados, avaliar seu planejamento e sua capacidade para solução de

problemas, entre outros tópicos.

Realizado em imersão, o programa objetiva proporcionar aos participantes ambiências que

incentivem a identificar oportunidades empresariais e a entender o próprio comportamento em

determinadas situações do cotidiano da empresa. Durante os seis dias de sua duração, os

empreendedores são estimulados a aprender, também, a fazer avaliações sistemáticas do

planejamento da empresa, fundamentais para definir metas e objetivos (Quadro 9). Para tal,

são previamente submetidos à entrevista de seleção visando diagnosticar a situação em que se

encontram frente às competências a serem desenvolvidas pelo programa.

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Quadro 9 - Características do comportamento empreendedor EMPRETEC.

Características Comportamentos

Busca de Oportunidade e Iniciativa Antecipar-se aos fatos e criar novas oportunidades de negócios.

Persistência Enfrentar os obstáculos decididamente.

Correr Riscos Calculados Assumir desafios ou riscos moderados e responder pessoalmente por

eles.

Exigência de Qualidade e Eficiência Decisão de fazer sempre as expectativas de prazos e padrões de

qualidade.

Comprometimento Com o cliente e com o próprio empresário.

Busca de Informações Busca pessoalmente, consulta especialistas.

Estabelecimento de Metas Estabelece metas de longo e curto prazo mensuráveis.

Planejamento e Monitoramento

Sistemáticos

Planeja e aprende a acompanhá-lo sistematicamente a fim de atingir

as metas a que se propôs.

Persuasão e Rede de Contatos Saber persuadir e utilizar sua rede de contatos atuando para

desenvolver e manter relações comerciais.

Independência e Autoconfiança Busca autonomia em relação a normas e procedimentos para alcançar

o sucesso.

Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados do Sebrae.

Assim sendo, por meio da requalificação do espaço, com ênfase na qualificação dos imóveis,

vias públicas – sem tráfego de automóveis – e no cuidado com os equipamentos públicos dá-

se ao espaço uma dimensão “higienizada” ao mesmo tempo em que visa mudanças no

comportamento dos empreendedores, por meio de treinamentos de vendas e de atendimento,

capazes de adaptá-los às demandas de um mercado mais “moderno”, centrado na eficiência

econômica:

Não diria implicação da expansão do centro da cidade. Mas modernização (singela).

O comércio de hoje é diferente do antes, do agora e daqui dez anos. Essa

reorganização que foi feita aqui no Quarteirão do Povo dá para explicar em conjunto

as oportunidades, isso é uma nova cultura com muita reserva. Por exemplo, o

shopping já age assim. Aqui ainda está a caminho. As pessoas tendem a esperar

muito do poder público (Relato Entrevista EP7).

Contamos com a ajuda do Sebrae, CDL, ACI. E dos lojistas. Formamos uma

comissão e demos a cara para bater. Gosto das coisas bonitas, bem decoradas, foi

positiva essa parceria. “ (Relato Entrevista EP5).

Há muitos anos, fechou-se a rua Simeão Ribeiro para não transitar carros. Tornou-se um atrativo muito grande para o comércio e pessoas. Desde 2014 que a gente vem

tentando transformar o Quarteirão do Povo em Shopping a Céu Aberto. Mas, foi

com o calçamento da rua, a troca de fachadas, vitrines, tendências, decoração, visual

diferente e novo que essa mudança se deu início por aqui (Relato Entrevista EP5).

Implicações, todavia, podem ser constatadas na perda de referenciais tradicionais. De ponto

de convivência e integração, o centro se torna lócus de negócios. De praça de relações a

espaços de comercialização. De espacialidades de pessoalidade a ambientes de individuação:

Aqui já tivemos integração com as pessoas. Hoje o centro não tem mais essas

características mudaram. É mais comércio. Os moradores estão transformando suas

casas em comércio. Ainda tem, mas são poucos. Um local como a Dr. Veloso era

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uma rua de comadre, de pessoas que se cumprimentavam, hoje não é mais assim, é

uma rua comercial. Tinha novena de natal, as pessoas faziam orações. Hoje não tem

(Relato Entrevista EP5).

Os clientes valorizam aqui no Quarteirão do Povo: atendimento e variedade. Minha

loja não vende, ela serve o cliente (Relato Entrevista EP1).

Figura 9 - Quarteirão do Povo: Loja com produtos em promoção.

Fonte: Acervo do autor.

Em outros termos, são significativos os esforços de modernização do espaço, a partir dos

mesmos dispositivos adotados pelos empreendimentos localizados em shoppings centers

convencionais. A filosofia, igualmente, centra-se em estratégias de crescimento, suportadas

pela requalificação dos espaços, facilitação da mobilidade, introdução de tecnologias de

informação e comunicação e dispositivos gerenciais:

Acho que o que está ocorrendo é um outro movimento, que é o movimento de expansão, criação de áreas comerciais fora do centro. Muitos pontos vagos no centro.

E tempos hoje tipo Jardins, Major Prates, Jardins Palmeiras, Maracanã, Coronel Luís

Maia. Com isso atrai franquias, bancos e outros segmentos para essas novas áreas.

Criação de novos núcleos. Quando o cliente vem ao centro, é uma eventualidade, não

uma coisa rotineira. Em outras metrópoles, ou cidades, o centro vem perdendo força

nesse aspecto. ” (Relato Entrevista EP10).

O papel importante é do Sebrae que é uma entidade que agrega muito nesse processo.

Em contrapartida nós deveríamos ter o apoio da prefeitura. Não culpo só a prefeitura.

Precisamos ter a união e visão dos lojistas, pois embora o centro (Quarteirão do Povo)

seja composta por mais de setenta lojistas, pouco mais de vinte aderiram à associação

Quarteirão do Povo. Com o apoio da prefeitura, a ajuda do SEBRAE e união nossa, a coisa pode fluir por aqui (Relato Entrevista EP2).

O SEBRAE ajudou muito na constituição do Quarteirão do Povo. Várias coisas foram

apoiadas e executadas por essa entidade e principalmente o know-how que ela possui

para fazer acontecer. Pensei, agora vai fluir, pois vi o planejamento. Não tinha alguém

para puxar antes (Relato Entrevista EP4).

“Penso que a cidade não está comportando o trânsito. É negativo. A cidade cresce,

mas o centro não consegue mais absorver o trânsito. E o transporte público não atende

à demanda. ” (Relato Entrevista EP4).

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Uma vez mais, uma consequência parece ser a gentrificação do espaço. Definição cunhada

pela socióloga britânica Ruth Glass, nos anos 1960. Naquele contexto se observava a

transformação da composição social dos residentes de certos bairros centrais de Londres com

a substituição de camadas populares por camadas médias assalariadas, aumentando o valor

imobiliário do espaço (Bidou-Zachariasen, 2006).

O termo vem do inglês gentrification - derivado da palavra gentry, que significa "de origem

gentil, nobre" – portanto, significa o enobrecimento e elitização de um espaço urbano por

meio de uma reestruturação que leva à mudança das dinâmicas sociais e econômicas,

valorizando a região e afetando a população local.

O relato abaixo elucida e traz à luz do conhecimento que pode ser um fenômeno presente em

mais cidades brasileiras, no caso de Montes Claros, o trecho deixa claro que isso é mais um

problema. A visão é negativa de que há uma camada interessada em obter lucro, vantagem e

retorno financeiro, capital econômico de Bourdieu (2008), em que dinheiro, patrimônio, bens

materiais são associados à obtenção ou à manutenção de relações sociais que podem

possibilitar o estabelecimento de vínculos economicamente úteis para alimentar interesses.

Acho que não existe mais interação e integração das pessoas que moram no entorno

do Quarteirão do Povo não. O pessoal antigo foi embora, o centro ficou muito difícil

de morar, o final de semana é morto. As casas não têm garagem, não oferecem

espaços melhores, e essas pessoas foram embora para outros bairros que ofereciam

melhor estrutura. Tem de pagar garagem aqui no centro. A saída desses moradores era para melhorar o padrão de vida (Relato Entrevista EP3).

Conforme salienta Jacobs (2011), tal fenômeno pode, a médio e longo prazos, significar perda

de vitalidade e dinamismo de um dado espaço, ampliando os níveis de insegurança pública e

de isolamento das áreas gentrificadas.

No Brasil, a cidade de Salvador é um caso emblemático de renovação urbana de sérios efeitos

sociais. Este fenômeno é descrito por vários pesquisadores que analisaram os impactos dessa

intervenção no Centro Histórico e no Pelourinho, caracterizando-o, não raro, como modelo

brasileiro de gentrification (gentrificação).

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O termo gentrificação, herdado dos projetos de embelezamento de áreas degradadas e

marginalizadas, inicialmente propostos pelos ingleses, obteve rápida influência em outros

países da Europa e da América do Norte, chegando mais tarde aos países da América Latina.

Vários autores classificam esse movimento como intervenções urbanas voltadas ao city

marketing ou à transformação de degradados sítios históricos em áreas de entretenimento

urbano e consumo cultural, ocasionando mudanças no caráter de ocupação de uma dada área

(Smith, 1996; Zukin, 1995; Featherstone, 1995; Harvey, 1989).

Muitas das vezes, o que acaba ocorrendo, na prática, é o efeito perverso de elevação dos

valores dos bens imobiliários, no caso de sítios históricos, em sua maioria sob a tutela de

órgãos de proteção do patrimônio, e consequente saída de seus antigos moradores,

estimulados pelos altos valores ofertados aos seus imóveis. Além desse fator, o próprio

conceito de enobrecimento proposto para a área é, por si só, uma das razões de mudança,

tendo em vista que, em muitos dos casos, a adequação à nova dinâmica que se instala não

encoraja a permanência.

A solução encontrada por alguns desses projetos em áreas de interesse histórico e artístico por

seu viés gentrificador é a construção e até mesmo aproveitamento de imóveis já existentes

para projetos de habitação de interesse social. Em muito dos casos, no entanto, o poder

público, tendo como mote principal os princípios do desenvolvimento econômico e da atração

de empregos, acaba privilegiando somente os investimentos em empreendimentos comerciais

de suporte à atividade turística.

No caso de Salvador, a questão centrou-se essencialmente na restauração dos imóveis para

atender à crescente demanda turística que a cidade passa a vivenciar a partir da década de

1990. Segundo estudo realizado por Nobre (2003), a maioria dos imóveis foi destinada a

estabelecimentos comerciais (cerca de 65% segundo levantamento realizado em 1999).

Durante as obras de restauração e infraestrutura urbana na área, a população residente recebeu

propostas de realocação com compensação financeira, das quais a grande maioria se

interessou, resultando em queda dramática do número de residentes no centro histórico

(Nobre, 2003).

Esse é, segundo vários autores, um dos casos mais emblemáticos, no Brasil, de enobrecimento

do centro histórico visando atender à demanda turística (Nobre, 2003; Fischer, 1996). De

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acordo com eles, foi um processo que trouxe dividendos a uma população restrita, limitando a

desejável possibilidade de diversificação dos usos do patrimônio, na área.

Fortemente marcado por laços históricos e pela tradição, processos de requalificação, ao não

se atentarem devidamente à construção de ambiências de diversidade, marcadas pela

pluralidade de capitais – econômicos, sociais, culturais, simbólicos – em curso:

Sou do interior, oriundo da cidade de Janaúba, em 1978 vim estudar em Montes

Claros. Era um menino da roça, tenho orgulho de dizer que vim e sou da roça. Estudei na escola técnica de Montes Claros. Trabalhei numa empresa na função de

eletroeletrônico por dez anos. Tinha um emprego nessa área. Fui estudar e graduei-

me em economia pela Unimontes. A primeira loja meu pai abriu em 1952. Dizem

que na época quem ganhava bem era gerente de banco. Meu irmão mais novo

faleceu por uma fatalidade em 1989. Tínhamos algumas lojas, e na época eu morava

em Belo Horizonte, quando esse fato ocorreu, pedi conta e voltei para assumir a

nossa loja em Porteirinha. E de lá expandimos para Espinosa, Monte Azul, Montes

Claros. Todos nós, uma família unida trabalhando, oito irmãos. Cada um assumiu

uma loja (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP3).

É tradição, foi de pai para filho. O negócio existe desde 1949. Eu casei e há 30 anos

estou à frente do negócio. Tenho superior incompleto em pedagogia. Tudo que eu faço é com paixão e dedicação, fui professora da alfabetização. Dei aulas em várias

escolas tradicionais de Montes Claros (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo,

EP5)

Quando eu fiz o curso de economia, fiz um estágio. E o meu pai já tinha um

negócio, sociedade com o meu tio. Trabalhei fora, na época meu pai me deu cinco

mil cruzeiros e achou melhor eu ir para o comércio. Comecei como sacoleira (roupa

feminina), tinha tino comercial, montei uma loja na rua Dr. Santos. Essa loja ficou

seis meses e o meu pai me convidou para tomar conta da loja e estou até hoje

(Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP6).

De pai para filho. Nós, meu pai tinha uma loja no interior, não tinha loja de sapato,

ou de roupa na cidade. Eu vendia bacia, tecido, mala. Na minha época, vendia tecido

para fazer caixão para enterrar pessoas. Então as lojas vendiam as partes e tinham de

montar por exemplo o caixão. E eu fornecia o pano, outro fornecedor vendia a

madeira. Então o carpinteiro ou marceneiro da época montava o caixão. Eu e meus

irmãos tivemos a oportunidade de sair do interior, estudar, fazer curso superior. Hoje

dos sete irmãos, cinco tem lojas e um morreu. Um é político, prefeito de uma cidade

do Norte de Minas (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP3).

Fui bancário por mais de cinco anos, fiz cursos de informática. Trabalhei como

gerente de informática em uma empresa de Montes Claros por um bom tempo.

Sempre gostei de empreender. Queria abrir um negócio. Minha esposa trabalhou um tempo no comércio e unimos nossas forças começando com uma loja de cosméticos

de representação. Não era um negócio. Migramos para roupa feminina na área

íntima. Eu indico muito o Sebrae que me ajudou muito na concepção da loja. Ao ser

atendido no início o consultor disse que eu teria de registrar a marca, levei um susto,

como faria isso? Eu me perguntei. Mas tive os caminhos, vi que era possível,

registrei a marca, criamos um produto que é uma marca roupas íntimas e hoje

estamos satisfeitos (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP2).

Além disso, segundo Jacobs (2011), existem quatro condições espaciais indispensáveis para

gerar uma diversidade “exuberante” nos distritos e ruas. São elas: 1. A rua, e sem dúvida o

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maior número possível de segmentos que a compõem, deve atender a mais de uma função

principal: de preferência, a mais de duas. Estas devem garantir a presença de pessoas que

saiam de casa em horários diferentes e estejam nos lugares por motivos diferentes, mas sejam

capazes de utilizar boa parte da infraestrutura (Jacobs, 2011); 2. A maioria das quadras da rua

deve ser curta; ou seja, as ruas e as oportunidades de virar esquinas devem ser frequentes

(Jacobs, 2011); 3. A rua deve ter uma combinação de edifícios com idades e estados de

conservação variados, e incluir boa porcentagem de prédios antigos, de modo a gerar

rendimento econômico variado. Essa mistura deve ser compacta (Jacobs, 2011); 4. Deve

haver densidade suficientemente alta de pessoas, sejam quais forem seus propósitos. Isso

inclui alta concentração de pessoas cujo propósito é morar lá (Jacobs, 2011).

Para tal, Jacobs (2011) aponta como características-chave de diversidade de um distrito ou

rua: 1. capacidade de atender a mais de um segmento de forma a sempre ter pessoas

transitando; 2. dispor de quadras curtas; 3. contar com uma combinação de edifícios com

idades e estado de conservação variados; 4. dispor de densidade suficiente de pessoas,

principalmente moradores, mas também em trânsito. Segundo a autora, o somatório desses

quatro pontos resulta em combinações de usos economicamente eficazes.

Ademais, a autora ressalta como componentes relevantes para tal efetividade: 1. Necessidade

de usos principais combinados; 2. Atendimento a mais de um segmento principal; 3.

Movimentação de pessoas de forma contínua; 4. Usos que combinem com o perfil da rua e

nunca o contrário; 5. Usos principais como âncoras; 5. Prevalência de escritórios, comércios,

escolas e moradias como tipos comuns de uso principal.

Outro importante elemento diz respeito à vinculação subjetiva dos indivíduos ao espaço.

Quando perguntados sobre o que primeiro lhes veem à mente quando se menciona a

expressão “Quarteirão do Povo”, grande parte dos respondentes o associam a valores

tradicionalmente vinculados ao comércio popular de rua, incluindo significantes como:

movimento, nostalgia, amor pela cidade, história e tradições:

Falar no Quarteirão do Povo é falar de movimento, gente, rapidez, facilidade, diversidade cultural e social (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP11).

Um shopping a céu aberto. Um centro bem estruturado, bonito, felicidade, interação,

movimento de ações, campanhas de natal, de crianças, desfile, glamour. Quero

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Montes Claros viva bonita. Quero mudar isso, mais limpa, mais organizada,

estruturada e o QP ainda melhor (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP5).

Nostalgia. Quando era criança o QP era convivência, tinha sorveteria. Se

conseguíssemos resgatar essa história de tradição naquele espaço, seria o ideal. ”

(Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP7).

É um lugar que tem possibilidades de melhoria e onde a população de Montes

Claros tem opção e referência de variedade, além de história da cidade. Quem está

aqui acaba tendo essa credibilidade por levar o nome do Quarteirão do Povo junto (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP2).

O Quarteirão do Povo é uma área nobre. Centro de Montes Claros. É como se fosse

uma “Savassi” em Belo Horizonte. Tenho ido à Savassi, vejo muitos negócios

fechados já. Acho que assim como lá, aqui empresários estão migrando para

shopping: clientes e lojistas (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP3).

4.1.3 Os Empreendedores e os Capitais Mobilizados

Conforme apresentado no Quadro 10, o Quarteirão do Povo é composto por um conjunto de

empreendedores, com predominância de indivíduos do sexo masculino (73%), com idade

média de (47,8 anos) e com curso superior completo (73%). Em grande parte, já presentes no

local há mais de 20 anos em média (22,5). Como bem observa Ribeiro (1995), como em sua

maioria os pequenos negócios no Norte de Minas veem de origem familiar, predominam a

herança e a figura masculina como representantes do controle dos negócios de família.

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Quadro 10 - Perfil do Empreendedor Entrevistado – Quarteirão do Povo

Nome Sexo Idade Escolaridade

Nome do

Empreendimento

(Fantasia)

Endereço Tempo de

empreendimento

Maria Celina Batista

de Faria F 70

Segundo

Grau Adolar S. Ribeiro 32

Antônio Assis

Cardoso M 51

Superior

completo Lojas Adoro. S. Ribeiro 4

Júlio Freire da Costa

Filho M 37

Superior

Completo Arezzo S. Ribeiro 7

André Martins

Machado M 41

Superior

Completo

Constance Sapatos e

Acessórios. S. Ribeiro 9

Márcio Ferreira

Tiago M 46

Superior

Completo Lojas CRAZE. S. Ribeiro 18

Filogonio Mendes M 57 Superior

completo Futurista Calçados. S. Ribeiro 52

Hyldon Hebert Dias

Mendes M 41

Pós-

Graduação Lojas Gama Esporte Total. S. Ribeiro 28

Rosany Godinho

Nunes Avelar

Coelho

F 55 Superior

Completo Joalheria Coelho Ltda. S. Ribeiro 33

Leonardo Mendel

Martins de Freitas M 43

Superior

Completo Lojas Mães e Filhos. S. Ribeiro 33

Ane Silveira Bastos F 45 Segundo

Grau Shopping das Malas. S. Ribeiro 8

Silvia Sandra

Ribeiro Lopes F 62

Superior

completo O Camiseiro S. Ribeiro 51

Leandro Eustáquio

Candelori de Moraes M 35

Pós-

graduação

Candelori Moraes

Comércio – Roka 78. S. Ribeiro 20

Márcio Ferreira

Tiago M 46

Superior

completo Lojas T D B! S. Ribeiro 8

Wilson Parrela Filho M 51 Superior

completo

Taco (Roma Comercio de

Roupas Ltda - Epp). S. Ribeiro 7

Ricardo Guimarães

Viana M 58

Superior

completo Voga Joias Ltda. S. Ribeiro 28

Fonte: Elaborado pelo autor.

Nesse ecossistema, diferentes capitais - econômicos, sociais, culturais e simbólicos - são

mobilizados por empreendedores localizados em shopping center popular, tendo por base

tipologia desenvolvida e ancorada no arcabouço teórico de Bourdieu (2008).

Sob a perspectiva do empreendedor, um negócio bem-sucedido envolve postura,

comportamento, atitudes, ações. Para tal, apontam uma mescla de diferentes capitais

econômicos (relacionado a bens materiais), sociais (relações sociais estabelecidas no meio

para obter vantagem/benefício), cultural (conhecimentos acumulados, títulos, família de

tradição) e também simbólicos (associados a prestígio, reputação e status).

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Visão baseada no negócio com objetivos e metas. Além disso tudo, está cada vez

mais importante, a presença do dono no negócio, faz a diferença. A presença dele no

balcão. Se antes tínhamos a visão do dono no escritório fechado, não existe mais, é

preciso passar uma vibração positiva ao cliente e ao negócio, é preciso “pôr a mão

na massa”. Ouvir o cliente, perceber o que está acontecendo. Resumindo, o sentir.

Mesmo com o controle remoto, câmeras, sistemas, é preciso passar parte do tempo

dentro do negócio (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP10).

Fizemos curso do SEBRAE o Bootcamp, deu uma sacudida, faz repensar nossa

forma de atuar no cenário. Busco informação constantemente. Consultorias do mercado para compartilhar conhecimento externo. Gosto de trazer conhecimento

para gerar resultado. A equipe fica motivada (Relato Empreendedor Quarteirão do

Povo, EP2).

Impressionante como as pessoas tem a capacidade de relacionar a pessoa com a

empresa. É uma extensão do nome. Então costuma ser a igreja para melhor

relacionar-me, foi dentro de encontro de casais, pois gera uma amizade forte, sincera

e ainda negócios que é consequência (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo,

EP3).

O meu círculo de amizade é a igreja, entidades de classes e público específico de corrida, pois aproveito, sou corredor de rua. Tenho um site “Gamados por corrida”,

fazendo link com a loja (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP4).

É muito amplo o meu círculo. Trabalhei no banco por muitos anos, tive

oportunidade de conhecer muita gente. Mas a igreja, campanhas que são provocadas

pela CDL, ACI. Mas pela padronização da franquia, submetemos tudo a ela (Relato

Empreendedor Quarteirão do Povo, EP7).

Os dados permitem também evidenciar distinções entre o público que frequenta o Quarteirão

do Povo ao longo do tempo. Tais mudanças deixam claras que há espaço para uma

intervenção na área de políticas públicas juntamente com os empresários e entidades de classe

(melhoria da experiência de compra, associação efetiva dos lojistas, campanhas para atração

de negócios, área cultural que possa resgatar a linha do tempo do que foi e o que simbolizou o

Quarteirão do Povo desde a geração passada).

Desde quando entramos, vi que eram pessoas de um poder aquisitivo maior. Porém,

após a chegada do Montes Claros Shopping, foi-se esvaziando o centro da cidade

desse público. Porém, vieram outros públicos, C e demais. Nós mudamos o

posicionamento do produto justamente por isso, mudança de público. E aproveitamos tal oportunidade (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP4).

A rotatividade aqui é enorme. São todos os públicos, por ser um local público. Não é

fácil distinguir. Acho que falar assim em divisão de classes aqui seria um bullying

social (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP5).

É um ponto que não temos certeza. Mas tenho um público cativo que vem

frequentemente à minha loja. Temos clientes rotativos e bastante de fora. O centro

consegue atender a uma gama de clientes variados. De poder aquisitivo, de diversas

idades. Aqui tem de tudo (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP8).

Do Gari ao Prefeito. Todo mundo passa por aqui, da classe A à classe C. Todo

mundo vem aqui. Já no shopping passa a ideia mais elitizada (Relato Empreendedor

Quarteirão do Povo, EP9).

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O público que é caracterizado como A, o top circula aqui, mas não consomem mais

aqui. O Quarteirão do Povo é tipo comparado com a Madona ou Michel Jackson. O

público que curte a Madona a rainha do POP, que era dessa época com certeza já

ouviu ou cantou “Like a Virgin”, aqui todas as classes circulam, por ser pop, não de

popular, mas por ter esse gosto (Relato Empreendedor Quarteirão do Povo, EP15).

Constata-se, desse modo, significativo papel atribuído ao capital simbólico como fator de

distinção dos empreendedores do Quarteirão vis-à-vis ao Montes Claros Shopping. Curioso

observar que, ao mesmo tempo em que se registra a incorporação de formas modernas de

franquia, os quais visam permitir ao comerciante incorporar, mais rapidamente, atributos de

“modernidade”, a dimensão de valores mais típicos aos tradicionais valores associados ao

comércio de rua se mantêm no imaginário dos empreendedores. A tradição, o nome de

família, se constituindo ainda como fatores-chave de proximidade e intimidade com os

clientes e a cidade:

A taco tem uma política nacional de franquia. O atendimento é padrão, a mesma

música, mesmo cheiro, mesma forma de organização. É uma experiência igual, da loja do Rio de Janeiro em relação a de Montes Claros (Relato Entrevistado EP7).

Figura 10 – Loja do varejo de confecção situada à rua Simeão Ribeiro

Fonte: Acervo do autor.

Eu amo o nosso nome “Joalheria Coelho”. Quando eu vejo a fachada, tem um “quê” de esforço, dedicação, tradição. Quando ouço que o cliente ficou feliz, isso me

remete sentimento de gratidão (Relato Entrevista EP5).

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Figura 11 – Joalheria tradicional situada à rua Simeão Ribeiro

Fonte: Acervo do autor.

Tal sentimento também se faz notar em uma série de outros relatos:

Quando olho a loja, sinto-me como parte do negócio, não de posse. Tenho vontade

de criar um plano de carreira para que os meus funcionários tenham condições de

continuar no meu lugar. Tenho orgulho disso, não tenho a sensação de realização e

nem de vaidade por ser o dono (Relato Entrevista EP7).

Quando eu entro na loja, vejo tudo funcionando perfeitamente e ao mesmo tempo tento olhar mais criticamente para ver o que pode ser melhorado. Uso o sentimento

do “odiar” para justamente encontrar defeitos e melhorar sempre. Se eu amar muito

acabo caindo na mesmice e não enxergando a melhoria. ” (Relato Entrevista EP8).

Vamos fazer os quarenta anos da loja, e não guardei fotos, logos antigas. Mas

quando eu entro na loja, desde a fachada, isso remete ao sentimento de gratidão, de

alívio, tipo já fiquei desempregado. Então toda vez que venho para cá, vejo

oportunidades olhando assim. Tenho ânimo, motivação para encarar esse sentimento

positivo (Relato Entrevista EP10).

[...] essa foto da Família perto do computador representa o maior patrimônio, e simboliza meus 50 anos, foi festa para 200 convidados. Então tem minha família,

minha base. Motivação e coragem para trabalhar. Foi feita no estúdio profissional

com máquina profissional (Relato Entrevista EP3).

Esse espaço me passa satisfação, o tanto que a gente sofre. Atender a todas as

pessoas, da humilde a mais exigente, vestir bem, mexe com o ego, a autoestima, a

vaidade. Isso para mim não tem preço (Relato Entrevista EP15).

O quadro abaixo salienta habitus que caracterizam o Quarteirão do Povo, bem como os

principais capitais mobilizados por Bourdieu (2008), levando em consideração a tradição,

história do local e dos empreendedores e o que tudo isso representa para a cidade de Montes

Claros observados no quadro abaixo:

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Quadro 11 – Capitais mobilizados no Quarteirão do Povo de acordo com o habitus

Campo Habitus Principais Capitais

Quarteirão do Povo

No espaço Quarteirão do Povo foi observado

que tais Habitus são muito heterogêneos,

principalmente por ter empreendedores com

muita experiência de vida, histórias diferentes

que ora permite empresário que montou

negócio na raça, sem recursos e com coragem,

ora há casos de transferência de negócio por

herança. A união para criação de campanhas publicitárias para que ser retorno financeiro e

obter vantagem competitiva. Há também a

força política dos empreendedores que se

unem quando precisam atingir resultados

coletivos, tais como a associação Quarteirão

do Povo para a criação de um shopping a céu

aberto no centro da cidade.

Econômico: Este capital foi observado nos

empreendedores por meio de significantes tais

como: trabalho, dinheiro, bens materiais e

patrimônio acumulado. Estratégia de domínio

do campo.

Social: Registra-se uma forte presença desse

capital entre os empreendedores que fazem

reuniões, possuem grupos de WhatsApp.

Porém, quando o assunto é interação com a

comunidade que mora no centro, a relação é fria, poucos ou não se conhecem. Os

empresários revelam postura pessoal e

profissional, valorizam locais frequentam na

cidade no intuito de manter e fazer amizades e

rede de contatos.

Cultural e simbólico: Esses dois capitais tem

forte base no Quarteirão do povo e é percebido

mediante a herança de valores familiares,

dispositivos tradicionais de poder e títulos

acadêmicos.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Os empreendimentos identificados para cada tipo dentro da Tipologia de Bourdieu e

principais capitais mobilizados constam no quadro abaixo, e foram divididos e dois grupos:

empreendedores tradicionais e modernos.

Quadro 12 - Tipologia de empreendimentos e de empreendedores segundo os capitais.

Tipo de Empreendedor Nome do Empreendimento Capitais

Distintivos

Tradicional

Futurista Calçados, Adolar

Aviamentos e Confecções, Gama

Calçados, Joalheria Coelho, Loja

Mães e Filhos acessórios e roupas para crianças, O Camiseiro, Voga

Joias. Shopping das Malas.

Social, Cultural e Simbólico.

Moderno

Lojas Adoro (moda mulher),

Arezzo sapataria e acessórios,

Constance acessórios e sapataria.

Lojas Craze, Roka78 moda e

confecção, Lojas T D B!, Lojas

Taco (roupas e acessórios).

Econômico, Social, Cultural.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Em síntese, à luz dos diferentes tipos de empreendedores identificados por Sant’Anna et al.

(2011), registra-se no Quarteirão uma mescla entre Empreendedores Tradicionais, com

significativo apelo a atributos como emoção, família, simplicidade; e os Empreendedores

Modernos, os quais procuram se distinguir por atributos como o profissionalismo, inovação,

competência e capacidade de gestão). Nesse último caso, aproximando-se dos

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empreendedores do Montes Claros Shopping ou reproduzindo no Quarteirão negócios nele

instalados.

Interessante, salientar, todavia, a pequena participação de Empreendedores Camaleões – ou

Bricolers. Certamente, estratégias direcionadas à requalificação do espaço tenderam a

direcioná-los para outros espaços, senão trabalhado os mais propensos aos padrões de

modernização propostos. Resta, todavia, melhor compreender o destino atribuído aos

ambulantes e comerciantes informais, incluindo os processos adotados para sua exclusão, bem

como os impactos sobre outras espacialidades da região central e mesmo, a construção de

novas espacialidades nas áreas periféricas.

Tais achados revelam-se significativos, em primeiro lugar, ao evidenciar implicações de

processos de revitalização de áreas centrais sobre a gentrificação dos espaços. Em segundo

lugar, os riscos quanto a processos de especulação imobiliária, os quais acabam por expulsar

os pequenos comércios, afetando a diversidade do ecossistema, a imitação e o isomorfismo

espacial. Em terceiro lugar, ao promoverem os processos de concentração de renda e

intensificação da desigualdade social, ao minar possibilidades de sistemáticas de relações de

troca típicas do circuito inferior da economia (Santos, 2011). Finalmente, somam-se os riscos

associados à perda de capitais valiosos à construção de ambiências de diversidade e vitalidade

(Jacobs, 2011).

Em estudo recente à rua Santa Juliana na cidade de Sete Lagoas em Minas Gerais, Jelihovschi

(2017), constatou significativo - e constante - crescimento desse espaço, fruto de sua expansão

à condição de “nova centralidade”. Entre 2001 e 2005, foi registrada a abertura de 98

negócios, com 15 registros de serviços distintos, ainda com o domínio de comércio varejista e

serviços básicos. Diversificação de públicos, massificação dos negócios, movimentação de

pessoas, produtos e serviços são elementos caracterizadores do local.

Nessa mesma linha, o Quarteirão do Povo, situado à rua Simeão Ribeirão, no centro de

Montes Claros, Minas Gerais, possui características e achados semelhantes no que tange às

condições de diversidade e vitalidade, segundo atributos da Jacobs (2011), diversidade de

funções, quadras curtas, combinação de edifícios novos e velhos e densidade de pessoas.

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Outro achado comparativo em ambos os estudos, é a ampla mobilização de capitais sociais e

simbólicos (Bourdieu, 2008), incluindo a confiança, a manutenção das relações sociais, a

valorização das redes informais de contatos; isto, tanto junto aos agentes da Rua Santa Juliana

e os do Quarteirão do Povo, ao que parece estratégias típicas à busca pelo domínio no campo

empreendedor.

O Quarteirão do Povo, no entanto, segue modelo de requalificação planejada (com apoio de

diversos parceiros, bem como dos próprios agentes empreendedores), enquanto a Rua Santa

Juliana constitui processo orgânico, não planejado.

4.2 MONTES CLAROS SHOPPING

4.2.1 O Campo

Inaugurado em 1997, o Montes Claros Shopping está localizado na região centro-sul da

cidade, numa área privilegiada, próximo ao centro, ao lado do maior terminal rodoviário do

Norte de Minas, hospitais, escolas, postos de combustíveis, Câmara Municipal, bancos,

hotéis, Polícia Militar, Prefeitura, tendo como vizinhos, além da região central, bairros

residenciais bem estruturados, inclusive com três parques com grande área verde (Sapucaia,

Milton Prates e Mangueiras).

O acesso é fácil e tranquilo, com avenidas bem sinalizadas e um moderno trevo que recebe

fluxo de trânsito de toda a cidade, e ainda de visitantes de cidades de todo o país. Com um

leque de opções em lazer, cinema, gastronomia em sua praça de alimentação, supermercado,

prestação de serviços, área de eventos e horário que se estende até o final da noite, de segunda

a segunda sempre buscando a comodidade e conforto dos clientes que o frequentam (Figura

12).

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Figura 12 - Corredor do Shopping Montes Claros

Fonte: Acervo do autor.

O Montes Claros Shopping constitui empreendimento administrado pelos grupos SFA Malls,

Grupo Belmont e Administradora Replan, compreendendo a locação de espaços para seis

lojas “âncora”; quatro “mega-lojas”, 25 quiosques e oitenta posições de venda satélites. Isso,

além de 85 lojas e dois centros de lazer. O fluxo mensal de transeuntes é da ordem de 510 mil

pessoas de uma área de influência de 2 milhões e setecentas mil pessoas.

Cabe mencionar, também, que o Montes Claros Shopping ocupa um terreno de 148.803 m²,

com área total construída de 59.434 m². Nesse espaço planejado, conta com amplo

estacionamento para 1.700 vagas (800 cobertas / 900 descobertas); cinco salas de cinema,

sendo duas equipadas com sistema 3D; praça de alimentação com 18 lojas. O Quadro 13

apresenta a relação dos 155 estabelecimentos atualmente integrantes do shopping.

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Quadro 13 - Relação de empreendimentos (Montes Claros Shopping Center)

Relação de Empresas

Ordem Lojas Segmentos/Categoria

1 Açaí Tropical Brasil Alimentação

2 Açaí Twister Alimentação

3 Adrenalina Kart Diversões

4 Aec Serviços

5 Aeroshake Alimentação

6 Airsoft Diversões

7 Alphabeto Moda Infantil

8 Amávia Cosméticos Cosméticos/Perfumaria

9 Americanas Loja Departamento

10 Anacapri Calçado Feminino

11 Angela Ferraz Moda Feminina

12 Arezzo Calçado Feminino

13 Artex Cama, Mesa e Banho

14 Atelier Unhas Bia Queiroz Serviços

15 Banco 24h Agência Bancária

16 Banco Bradesco Agência Bancária

17 Bb Básico Moda Infantil

18 Bella Bárbara Moda Íntima / Moda Praia

19 Bella Bijoux Semi-Jóias, Bijuterias e Acessórios

20 Bem Estar Massagem

21 Bh Cell Manutenção Em Celular

22 Brasil Cacau Bomboniere

23 Brinquedoteca Diversões

24 Burger King Alimentação

25 C&A Loja Departamento

26 Cacau Show Bomboniere

27 Caixa Econômica Federal Agência Bancária

28 Calçados Itapuã Calçado Unissex

29 Cantinho Do Kaká Diversões

30 Caridon Moda Unissex

31 Carmen Steffens Calçado Feminino

32 Casa Da Esfiha Alimentação

33 Casas Bahia Eletrodomésticos

34 Centauro Esportes Artigos e Materiais Esportivos

35 Chili Beans Quiosque Óculos

36 Chilli Beans Óculos

37 Cia. Do Terno Moda Masculina

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38 Cinemais Cinema

39 Claro Telefonia

40 Classic Ternos Moda Masculina

41 Clínica Sorrisus Serviços

42 Clube Melissa Calçado Feminino

43 Coco Belo Alimentação

44 Colmeia Arquitetura Serviços

45 Constance Calçado Feminino

46 Craze Moda Jovem

47 Cris Jóias Requinte Jóias

48 Cvc Viagens Agência de Turismo

49 Donciotto Alimentação

50 Drogaria Minas Brasil Drogaria E Perfumaria

51 Dsiqueira Moda Feminina

52 Ducarmo Semi-Jóias, Bijuterias e Acessórios

53 Educação E Cia Livraria E Papelaria

54 Eletrosom Eletrodomésticos

55 Empório Do Aço Semi-Jóias, Bijuterias E Acessórios

56 Emporium Man Calçado Masculino

57 Faculdade Santo Agostinho Ensino

58 Flor Do Cerrado Alimentação

59 Fragolizia Alimentação

60 Gamma Calçados Calçado Unissex

61 Gamma Esportes Artigos e Materiais Esportivos

62 Giraffas Alimentação

63 Guarda Capacete Serviços

64 Havaianas Calçado Unissex

65 Hering Kids Moda Infantil

66 Hering Store Moda Unissex

67 Hiper Bretas Hipermercado

68 Hope Moda Íntima / Moda Praia

69 Hospital Dos Olhos Serviços

70 Hotel Ibis Hotel

71 Ice Way Alimentação

72 Imaginarium Artigos Diversos

73 Impreshop Gráfica

74 Infopark Acessórios Para Celulares

75 Iplace Informática

76 Jac's Café Alimentação

77 Jac's Fast Food Alimentação

78 Jac's Mix Alimentação

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79 Kelmo Calçados Calçado Unissex

80 Kids Mania Salão de Beleza

81 Laboratório Voumard Laboratório

82 Lacoste Moda Unissex

83 Laçus Semi-Jóias, Bijuterias e Acessórios

84 Levis Moda Unissex

85 Licota Moda Feminina

86 Lider Notebooks Informática

87 Litoraneus Artigos e Materiais Esportivos

88 Livraria Nobel Livraria e Papelaria

89 L'occitane Cosméticos/Perfumaria

90 Loja Do Cabeleireiro Artigos Diversos

91 Lojas Avenida Loja Departamento

92 Lojas Renner Loja Departamento

93 Lotesorte Loteria

94 Lug's Batata Belga Alimentação

95 Lupo Moda Íntima / Moda Praia

96 Madagascar Diversões

97 Manga Rosa Moda Feminina

98 Mardelle Moda Íntima / Moda Praia

99 Marisa Loja Departamento

100 Mc Donald's Alimentação

101 Mega Ótica Ótica

102 Mega Ótica Quiosque Ótica

103 Mercatto Moda Feminina

104 Mmartan Cama, Mesa e Banho

105 Moc Cambio - Wu Serviços

106 Montana Grill Alimentação

107 Montes Claros Vôley Esporte

108 Morana Semi-Jóias, Bijuterias e Acessórios

109 Multicoisas Artigos Diversos

110 Multimarcas Presentes Artigos Diversos

111 Myplace Moda Feminina

112 Nação Fanáticos Artigos e Materiais Esportivos

113 O Boticário Cosméticos/Perfumaria

114 Octoo Beni Alimentação

115 Palimontes Livraria e Papelaria

116 Pinup Store Moda Íntima / Moda Praia

117 Planet Sport Diversões

118 Polishop Artigos do Lar

119 Polo Wear Moda Unissex

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120 Posto Bretas Posto de Combustível

121 Quem Disse, Berenice? Cosméticos/Perfumaria

122 Restaurante Yama Kuria Alimentação

123 Ri Happy Brinquedos

124 Riachuelo Loja Departamento

125 Ricardo Eletro Eletrodomésticos

126 Roka Moda Jovem

127 Sabor Supremum Alimentação

128 Samsung (Quiosque) Informática

129 San Jorge Jeans Moda Feminina

130 Santa Lolla Calçado Feminino

131 Sapazio Calçado Feminino

132 Sapázio Kids Calçado Infantil

133 Sello's Acessórios Semi-Jóias, Bijuterias E Acessórios

134 Shop Tower Moda Masculina

135 Sketch Moda Masculina

136 Sl Store Moda Unissex

137 Smith Hair Studio Salão De Beleza

138 Soavitá Cosméticos/Perfumaria

139 Sóbrancelhas Estética

140 Spoleto Alimentação

141 Subway Alimentação

142 Sunset Street Surf Wear

143 Taco Moda Unissex

144 Tim Celulares Telefonia

145 Toli Moda Feminina

146 Uai Tchê Grill Alimentação

147 Universo Da Empada Alimentação

148 Via Laser Estética

149 Via Mia Calçado Feminino

150 Via Única Moda Unissex

151 Villagio Duomo Moda Masculina

152 Vivo Telefonia

153 Web Lot Negócios Imobiliários

154 Wolver Crossfit Academia

155 World Tennis Artigos e Materiais Esportivos

Fonte: Elaborado pelo autor.

Segundo diversos relatos, montar um negócio e mantê-lo em funcionamento dentro de um

shopping exige do empreendedor foco em várias frentes de trabalho e variáveis que exigem

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profissionalismo no gerenciamento: lucratividade, capacitação de colaboradores, escolha ideal

de fornecedores, rentabilidade, ponto de equilíbrio, margem de lucro, fluxo de caixa, plano de

vendas, merchandising visual, relacionamento com clientes, redes sociais e vendas via

internet.

Esse conjunto de variáveis pode ser definido a partir da escolha do modelo de negócio -

franquia ou loja própria, por exemplo. Em outros termos, adquirir um negócio pronto já

testado, validado e com rotinas e procedimentos definidos (Franquia) ou começar do zero,

planejar, pesquisar, testar e validar (negócio próprio). Dentre esses dois modelos, o

empreendedor deve avaliar o seu perfil para que obtenha sucesso, retorno financeiro e atinja

os resultados esperados. Segundo dados dos entrevistados, um conjunto de fatores positivos e

negativos deve ser ponderado, com destaque para aqueles indicados no Quadro 14.

Quadro 14 - Vantagens e Desvantagens de ser um franqueado e franqueador

VANTAGENS DESVANTAGENS

Para o franqueador:

Desenvolvimento de uma rede de pontos de venda sem investimento;

Utilizar os recursos para o desenvolvimento

da marca e dos produtos e não para seu

escoamento;

Não lhe compete fazer a gestão das lojas

franqueadas.

Para o Franqueado:

Pode aproveitar o know-how de quem já teve

sucesso;

Possibilidade de partilhar as experiências com os demais franqueados de sua rede;

A sua marca é ou poderá vir a ser muito

conhecida no mercado;

Proteção concorrencial, devido ao ganho da

escala da rede.

Para o franqueador:

Pode ser afetado pelos erros do franqueado;

Tem que estar constantemente formando e

informando os franqueados.

Para o Franqueado:

Deve seguir as regras da rede;

Deve pagar as contrapartidas para utilizar a

marca;

Pode ser afetado pelos erros dos outros

franqueados;

Dependência muito forte das decisões do

franqueador.

Fonte: Elaborado pelo autor

Superado esse primeiro desafio – a definição do modelo de negócios – o empreendedor de

shopping deverá se dispor a lidar com uma ampla gama de atrativos a provocar sensações e a

mexer com os sentidos dos clientes e transeuntes, com vistas a despertar sua atenção e atraí-

los ao seu empreendimento: cores, cheiros, músicas que oscilam da bossa nova ao sertanejo,

iluminação, manequins ousados nas vitrines, sinalização, cenários, eventos atrativos, brindes,

cupons, amostras, sorteios, experimentação e degustação, concursos, programas de fidelidade

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e pontuação em compras. Além disso, um conjunto de capitais se faz determinante ao

desenvolvimento de negócios em tais espacialidades

4.2.2 O Habitus

Em sua proposta, o Montes Claros Shopping visa ser um espaço de compras e lazer capaz de

oferecer aos seus frequentadores uma experiência única de conforto, comodidade, luxo,

opções em alimentos, entretenimento, ações de marketing, lojas de diversos setores,

estacionamento, hospedagem, segurança, banheiros limpos, drogarias e, enfim, uma vivência

capaz de torná-lo interessante para o consumo.

Figura 13 – Expansão do Montes Claros Shopping

Fonte: Silvana Mameluque (2011).

Em relação ao perfil e motivação para abertura de um negócio dentro do Shopping Montes

Claros, foi observado também que nem todos os empreendedores estudaram negócios ou

tiveram formação na área, mas enxergaram uma lacuna de mercado ou forma de empreender e

realizar o sonho. Compondo o Habitus do empresário.

A criação dessa loja dentro do shopping não tem nada a ver com a minha área de

formação. Sou psicólogo. Então, morava em Contagem Minas Gerais. Sempre usei

roupa social, tive empatia pelo setor e também tinha contato da empresa que

fabricava. Então resolvi trazer uma franquia para Montes Claros. Agora essa é

multimarcas (Relato Entrevista EC9).

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Exalta-se, também, no comportamento do perfil empreendedor e habitus dos empresários de

visualizar a mudança e fazer acontecer, aos moldes do princípio cunhado por Sarasvathy

(2001), associado ao lema “explores as possibilidades”:

Inicialmente tivemos uma loja de rua, no shopping popular. Era uma loja de periféricos. Sempre acompanhava a família. Meu irmão era o proprietário. Surgiu a

oportunidade no MOC Shopping e tudo começou como degrau a mais.

Reconhecimento dos clientes e fornecedores. Mudança que simbolizou um avanço. ”

(Relato Entrevista EC2).

A intenção de montar uma loja no Montes Claros Shopping, foi que a cidade não

tinha marcas famosas para atender ao público A, e o mesmo se deslocava até Belo

Horizonte para comprar, então foi aí que resolvemos trabalhar com esse ramo. ”

(Relato Entrevista EC15).

Observa-se também, a herança familiar, legados, aprendizados e também a transferência de

bens às gerações, bem como a presença do capital econômico, Bourdieu (2008), e ao mesmo a

conversão de enxergar possibilidades, aprendizado, sucesso e oportunidade.

A família que montou visualizou muitas dificuldades, aluguel alto e muitos

contratempos. Mudaram de ponto e reduziram para esse em que está hoje. Penso que

o público do shopping é um pessoal que tem menos tempo e é mais exigente, estão

em busca de conforto que o shopping oferece. ” (Relato Entrevista EC1).

Antigamente, fazia-se feira de orquídeas bem na frente da minha loja, pois dava

muito fluxo. Eu cresci vindo para cá e via além de pessoas, muito lucro e retorno

financeiro e não somente fluxo de pessoas como está hoje. ” (Relato Entrevista

EC5).

A forma de pensar, agir, sentir, realizar ou mesmo se frustrar pela condição de “estar

empreendedor”, forjado no relato abaixo, o habitus denota a busca pela superação de desafios

e pelo “sucesso”, marcado, dentre outros aspectos, pelas expectativas de retorno financeiro,

nem sempre dentro do esperado:

Não foram boas as minhas experiências aqui no shopping. Acredito que o momento da crise e de economia muito ruim o que vejo são as pessoas indo para o shopping

para passear e não para comprar. ” (Relato Entrevista EC12).

De forma coerente, consta-se pelos relatos uma mistura de sentimentos e capitais,

principalmente o social (rede de relacionamento) e o cultural (modernas práticas de gestão,

uso de tecnologia e tendências como fatores que os distinguem e os diferenciam), levando

diversos empreendedores a “filtrarem os clientes que devem frequentar o Shopping”,

priorizando aqueles que visam experiências de consumo que valorem atributos como

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comodidade, limpeza, decoração, experiência de consumo e produtos de qualidade superior

com renomadas marcas:

É uma mistura de tudo, observo que nos últimos meses, tem vindo lojas mais

populares. Não vejo mais aquele capricho, aquele zelo, talvez a administração do

shopping poderia buscar lojas mais sofisticadas que atraia mais o público A.” (Relato Entrevista EC1).

Aqui é uma mistura de tudo. O próprio shopping deveria estar atento. Por ser o

maior da região, não deixar qualquer loja ou construção dentro. ” (Relato Entrevista

EC4).

Tem diversificação de lojas. Aqui tem muita rotatividade. É uma vitrine, mas isso

tem um preço muito alto por estar aqui. Sobreviver é difícil. ” (Relato Entrevista

EC9).

Dentro do shopping vejo um pouco de tudo. Levando em consideração a cidade e para o padrão de Montes Claros, é excelente. Mas em suma, tudo tem regras,

precisam obedecer às regras. ” (Relato Entrevista EC14).

Relatos evidenciam, nesse sentido, papel de relevo dos elementos físicos e arquitetônicos do

Shopping e das lojas, incluindo os cuidados com a marca, a logo, os móveis e equipamentos,

os quais visam transmitir valores de sofisticação e diferenciação, trabalhando de forma

significativa as instâncias de autoestima e senso de realização dos empreendedores.

Figura 14 – Loja do Varejo de confecção e acessórios

Fonte: Acervo do autor.

Ver a fachada da minha loja, isso me dá um orgulho, prazer. Embora não tenha sido

idealizado por mim, mas suei para comprar e dá sequência. Tenho felicidade, por

saber que não subi nas costas de ninguém. Foi adquirida com muita luta, só e

somente só, por mim, sou muito religiosa, acredito em deus (Relato Entrevista EC1).

Essa loja me remete orgulho. Ela é um case de sucesso. Satisfação. Tive altos e

baixos, na loja do centro e aqui. Preciso melhorar. Quando olho para a minha loja,

para as coisas, o quadro, os detalhes. Isso vale a pena (Relato Entrevista EC6).

O primeiro deles é satisfação, um patrimônio que construí com o meu sócio. Realização, oportunidade que veio agregar à Montes Claros. Como empregador, isso

representa muito para a minha vida e opção para os clientes por atender muitas

cidades do norte de minas. Somos lembrados em Terno. Vejo a necessidade de

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melhorar, penso que uma reforma geral, mudar o layout, já pedi um projeto

arquitetônico para que possa implementar mudanças (Relato Entrevista EC9).

Vejo a sete anos atrás, quando tudo começou, meu irmão dando o primeiro passo e

eu vim de Belo Horizonte para somar, enxergo com muito orgulho. Minha empresa

conhecida nacionalmente. Qualquer estado tem a nossa marca. Ver dessa forma sair

do zero e chegar aonde chegamos (Relato Entrevista EC2).

Primeiramente, quando vejo minha loja todos os dias agradeço a deus e penso vamos

à luta, vem à mente sobrevivência, a buscar pelo o melhor (Relato Entrevista EC8).

Olha para minha loja, passa, uma espécie de mudança. Penso que sair daqui. Mas

tenho amor pelo que faço. Não fechar a loja, mas mudar de ponto. Pois não preciso

do shopping. Mas amo o que faço e não preciso ter prejuízo (Relato Entrevista EC3).

Sinto uma satisfação muito grande, essa marca, esse nome já carrego há muito

tempo. Queria muito esse lobo da logomarca, tenho orgulho, sinto confiança na

marca e ela impõe respeito (Relato Entrevista EC7).

É uma alegria tão grande. Ver tudo funcionando. Aqui recebemos o pessoal e

tratamos o ser humano. Na hora que desço a escada e bato o olho na clínica, tenho realização. Buscamos dá o nosso melhor. Aqui é uma experiência. Mudando um

sorriso de cada vez, assim mudamos o mudo (Relato Entrevista EC14).

Felicidade, de ter um sonho realizado. De ter a própria loja, o pai ver isso realizado.

É muito bom, tanto lá em casa, somos cinco. Ver crescer e ser referência na cidade

(Relato Entrevista EC5).

Depoimentos apontam também para a influência do histórico familiar e de vida de diversos

dos empreendedores, os valores pessoais e ideias de realização e ascensão profissionais,

típicos das classes médias tradicionais (sabedoria, simplicidade, conhecimento, estilo de vida,

nobreza, justiça, qualificação, profissionalismo, dignidade, requinte, coragem, bravura,

emoção, razão, fortaleza).

Minha história é engraçada, só tenho um tio comerciante. Então esse tino para

empreender veio de família de professores. Entrei para trabalhar em escola, eu tinha

uma tia que vendia roupa. Sai de Grão Mogol para trabalhar e fiquei em uma

empresa mais de 10 anos no mesmo lugar. Conheci muita gente, trabalhei igual

escrava. Vi o crescimento do comércio, do meu ex-patrão. Não tinha vida nesse

período, mas ganhei em experiência e vivência. Estudar foi para ‘água a baixo’.

Agora lá, aprendi o que fazer e o que não fazer. Sai porque estava “estafada”. Nesse

meio tempo, descansei, e tenho coisas que gosto de fazer, contato com pessoas,

perdi o meu pai, foi doloroso. Tive depressão e aquilo me impulsionou. Fui convidada a trabalhar na nessa loja que estou. Enrolei um tempo, depois vim. Entrei

em contato com as pessoas. Mas tinha um projeto de montar um negócio para mim.

Hoje sou proprietária da loja (Relato Entrevista EC1).

Eu sou do interior. Vim de Itacambira, há 100km daqui. Foi para estudar. Trabalhei

07 anos com fotografia. Descobri o meu dom, cabelo e maquiagem. Ou seja,

trabalhei para outras pessoas, e logo após resolvi montar o meu negócio na raça. Fiz

faculdade e hoje estou aqui na segunda unidade do meu salão (Relato Entrevista

EC4).

“Eu comecei a trabalhar aqui com 16 anos, desde nova, ajudava minha família no

fechamento do caixa, pois era boa em matemática. Um dia um funcionário saiu de

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férias, minha mãe pediu para eu vir para cá cuidar do caixa, aí eu vim e nunca mais

sai da aqui (Relato Entrevista EC5).

Nasci em Montes Claros. Formei na Unimontes, fiz especialização lá também.

Trabalhei muito em academias da cidade, foram várias. Ganhei experiência,

vivência. Depois casei e fui embora para Viçosa e passei cinco anos lá. Tentei fazer

o mestrado, mas não quis seguir, preferi virar empresário. Ter passado pela gestão

de academia, foi a melhor escola da minha vida. Pois não queria uma academia

convencional para mim, então conheci o CROSSFIT. E voltei para Montes Claros e

montei esse box que hoje é minha realização (Relato Entrevista EC7).

Eu era Cônego religioso. Origem rural. Fiquei 10 anos no convento. Comecei aqui

em Montes Claros, depois mudei para Contagem. Fiz Psicologia. Meu curso dá

embasamento para negócios. No convento, também tinha função de gestão

administrativa, então comecei a trabalhar muito cedo em comércio, com 10 anos.

Aos 13 anos entrei para trabalhar na confecção. Tenho um sócio que é o meu

sobrinho. Tenho amadurecido muito no negócio. Quero expandir (Relato Entrevista

EC9).

Sempre morei fora, em outras cidades. Estudei aqui e sai, gosto da área comercial,

vender, conversar. Fiquei em Uberaba. Fiquei cinco anos. Dei aula, trabalhei como vendedor, supervisor comercial. Devido ao tanto de viagem e correria, resolvi entrar

nessa empresa como negociador. Aceitei estar aqui como desafio. Quando entrei

aqui era estável, hoje está bem melhor. Quero vender mais, ajudar o cliente,

incentivando as pessoas a terem uma experiência com a nossa marca. Quem é

atendido aqui traz a família inteira. Assumi o cargo aqui para tirar as pessoas da

zona de conforto. ” (Relato Entrevista EC14).

Ainda segundo entrevistados do Montes Claros Shopping, para se diferenciarem e obter

vantagens competitivas, busca-se constantemente inovar e criar ações que sejam perceptíveis

aos olhos dos clientes, a seus ideais, a suas crenças, ao que pensam (habitus), mobilizando-se

para tal todo um aparato de capitais econômicos, culturais, sociais e simbólicos:

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Figura 15 – Loja de produtos de informáticas dentro do shopping

Fonte: Acervo do autor.

Penso que trabalhamos com as principais marcas do segmento eletrônico (HP, Dell,

Acer...), marcas renomadas que levam credibilidade. Atendimento diferenciado, vejo que o cliente não sai insatisfeito hoje de nossa loja. Há casos em que assumimos um

pequeno prejuízo do que ver o cliente insatisfeito. Às vezes até arcamos com isso

(Relato Entrevista EC2).

Todo dia a gente inova, com vitrine, em redes sociais, sempre estamos colocando,

mexendo em alguma coisa aqui. Fazendo desfile de moda, estamos em constante

mudança (Relato Entrevista EC1).

Tentamos trazer uma ação com incentivo à solidariedade que na verdade não

tivemos sucesso. Mas percebi que não planejamos. Foi para uso de um aplicativo, e

não deu certo. Foi uma inovação, facilidade e também aprendizado (Relato Entrevista EC4).

Estamos na troca digital, venda online, tipo somente para empresários. Ele compra

comigo eu compro com ele, para criar vínculo de negócios, acredito que isso é

inovador (Relato Entrevista EC5).

Com o crescimento da cidade, maior individualização das relações sociais, via expansão de

condomínios fechados, gentrificação de áreas centrais, aumento dos níveis de insegurança,

pública, problemas de mobilidade e expansão das tecnologias pessoais, os entrevistados

relatam novas oportunidades junto aos modelos de negócios em shoppings centers. Em outros

termos, mudanças no comportamento dos consumidores reforçam para o deslocamento de

atividades outdoor, para aquelas cada vez mais realizadas em espaços fechados e mais

seletivos, incluindo academias de fitness, praças de alimentação, salões de festas e de jogos

privados:

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Figura 16 – Box de Crossfit situado dentro do estacionamento do shopping

Fonte: Acervo do autor.

O Montes claros shopping virou uma “bagunça”, não sei qual o termo que você

utilizará para traduzir o que hoje ele representa. Não tem mais um público certo. Na minha loja, é mais seletivo, tenho médicos, advogados. Classificação aqui vai de A a

Z. Misturou demais os públicos. Tem de criar ações para não popularizar demais as

lojas. ” (Relato Entrevista EC1).

Vejo mudança de dia e horário. Durante a semana, pela manhã, o público vem

consumir, pela tarde e noite vem para andar. No final da semana, vem para passear e

talvez comprar, assistir a um filme e comer. Antigamente no sábado à noite era

muito bom. Há um tempo nossos clientes vinham com a família pela noite do

sábado, agora veem pelo sábado pela manhã. ” (Relato Entrevista EC5).

Não tem interação, acho que a falha nossa é justamente de não fazermos uma

comunicação voltada para esse público que mora aqui nas redondezas shopping. ” (Relato Entrevista EC6).

Desconheço alguma relação amigável. A população ao redor reclama muito do

shopping por vazamento de água, ou queda de energia, nós somos julgados. É bem

chata a situação. ” (Relato Entrevista EC7).

Tem muitas pessoas que moram aqui ao lado do shopping em condomínios, prédios

e que frequentam aqui por ser um centro de compra, por ter estacionamento, praça

de alimentação, lojas e comodidade. (Relato Entrevista EC4).

Observamos muitas pessoas dos bairros vizinhos que frequentam aqui para comprar, usar serviços, comprar produtos. A localização influenciou bastante (Relato

Entrevista EC14).

Em diversos aspectos, a adaptação dos empreendimentos aos padrões do Montes Claros

Shopping possibilita a emergência de oportunidades, mas, simultaneamente, os desafiam a

lidar em contextos de maior competitividade e individuação. Conforme observa Santos

(1979), as tentativas de atuação nas franjas dos circuitos superior e inferior da economia são

responsáveis por implicações não somente no nível econômico, mas também nas formas de

organização do espaço. A definição de cada circuito está relacionada a um conjunto de

atividades, valores e regras realizadas em certo espaço, levando em conta o setor da

população que se liga pela atividade e pelo consumo.

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Como sintoma, as interações sociais - Capital Social -, no contexto do Montes Claros

Shopping são pequenas, tendentes a superficiais e marcadas por maior competitividade; isto,

associado ao vasto e diversificado cardápio de opções de todos segmentos da economia e

também pela pluralidade de públicos:

Figura 17 – Quiosque de Churros situado dentro do shopping

Fonte: Acervo do autor.

Como a população vê o shopping, talvez com o olhar de crítica, dúvida. Penso que o

shopping é um patrimônio para a cidade, gera emprego, é uma das poucas atrações

para as pessoas. Representa muito, evolução (Relato Entrevista EC9)

A cidade é grande. Mas o shopping era simples, então, com a expansão do mesmo,

vieram mais marcas, tivemos muita interação. Ou seja, abriu as oportunidades para fomentar o empreendedorismo aqui (Relato Entrevista EC14)

Acho que foi muito boa a expansão do shopping, benéfico demais. Até então, muita

gente nem sabia o que era um shopping aqui na nossa região. Vamos ressaltar as

atividades para dá acesso às pessoas. Tem gente aqui de Montes Claros que sai para

ir ao Iguatemi em São Paulo, assim como tem gente que nem conhece o shopping

cidade em Belo Horizonte (Relato Entrevista EC1)

Ao analisar fatores que distinguem gostos, percepção, preferências ou mesmo exclusão,

existem sim, dentro do Shopping Montes Claros forte presença dos capitais econômico,

cultural e simbólico de Bourdieu (2008), o que outrora, delineia e, na maioria dos casos,

compõe o Habitus. Tal relato evidencia as exigências tanto do empreendedor quando da

clientela que frequenta esse espaço e que valoriza o conforto, o status, a presença de marcas

famosas e ambiente mais requintado.

Penso que o cliente dá valor ao preço em Montes Claros. Porém, o que são

oferecidos aqui no shopping são muito semelhantes ao que outros centros avançados

têm. Aqui tem estacionamento, segurança, tranquilidade, música ambiente, acho que

aqui vem pessoas bonitas, consegue resolver tudo aqui, tem sombra, não sai

transpirando. Quando a pessoa vem para o shopping ela se preocupa em se arrumar.

No centro as pessoas tendem a ir mais espontâneas (arrumadas e desarrumadas), tem calor, trânsito puxado (Relato Entrevista EC4).

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Comece com o que está na sua mão: quem é você? O que você sabe? Quem você conhece? O

que aprendeu? Que recursos tem? Qual é sua rede de contatos? Eis os princípios de

Sarasvathy (2008) que de alguma forma parecem inseridos na fala dos entrevistados do

Montes Claros Shopping e ao mesmo tempo tais questionamentos trazem reflexões acerca do

que o empreendedor também pensa, sente, age, o que legitima o habitus prevalente (Bourdieu,

2008), em suas histórias de vida, de fazer, de ser reconhecido naquele campo (capital

simbólico), bem como a sua posição aos demais agentes (Quadro 15).

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Quadro 15 - Princípios do Effectuation presentes no Montes Claros Shopping

Princípio Relatos

Comece com o que você tem

“Montamos na raça esse negócio. Tive indicação do ponto no piso superior,

isso foi muito bom. Mas a luva do shopping era muito alta o valor. Quase

botamos os pés pelas mãos. Não ter o capital para honrar com os

compromissos e contar com a venda para avançar e crescer, não é fácil.

Tudo sem capital no começo. ” (Relato Entrevista EC2).

“Quando abrimos a primeira loja, foi em 19 dias, pois o shopping ia abrir

imediatamente, usei toda a experiência, fiz sem planejamento. ” (Relato

Entrevista EC13).

Defina as perdas aceitáveis

“ Em relação a desafios para o futuro o Montes Claros Shopping, no geral é de grande valia para a cidade. Por mais que ainda tenha a comodidade do e-

commerce. Tenho um exemplo em que procurei uma agenda numa papelaria

famosa da cidade e não encontrei, fui até à internet e achei a que eu queria e

comprei. Hoje tudo que é de informática tem na internet. É válido sim para o

mercado refletir, enquanto para o meu negócio fico receoso, vejo queda nas

vendas, perco muitos clientes para o e-commerce. ”. (Relato Entrevista

EC2).

“Lidar com incertezas, perdas, erros e tentativas são coisas que nos fazem

sofrer, ou seja, traz angustias. Acho que são desafios. Conseguimos chegar a

conclusões quando estudamos. Faço como o meu trajeto. ” (Relato

Entrevista EC9).

Explore as possibilidades

“Eu acho que a minha decisão, foi a mesma da minha família quem fundou. Eles fizeram um estudo. Então, vimos a oportunidade de roupa masculina

boa qualidade, beleza, famosa, marcas diferenciadas. Até então, na cidade

não tinha essas marcas. E todo mundo quer ganhar dinheiro. ” (Relato

Entrevista EC1).

“O que nos levou a montar um negócio dentro do Montes Claros shopping,

foi ter horário diferenciado. Qualquer clínica que se for aqui da cidade é

aberta no horário convencional, de 08h às 18h. Aqui fica aberto até 22h,

horário do shopping. Possibilita que qualquer pessoa que trabalhe durante o

dia possa ser atendida a qualquer horário com flexibilidade e comodidade. ”

(Relato Entrevista EC14).

Cresça por meio de parcerias

“Sempre fui muito apaixonada com boutique. Minha família tinha comércio em Brasília de Minas e morei em Mirabela. Fiz faculdade de Filosofia. E me

ajudou e muito, nunca tive dinheiro, só a vontade. Chamei uma amiga para

abrir comigo uma lanchonete e ela foi. Da lanchonete, foi para a boutique.

Vendi a lanchonete, o meu irmão me emprestou dinheiro e apostou em mim.

Eu tinha uma terra, e disse que se eu perdesse tudo, eu daria a terra no lugar.

Houve uma credibilidade, então eu queria arriscar. E arrisquei. Meu irmão

era gerente de banco. Na luta na raça, não tinha horário para almoçar, era

muito difícil. Tropeço e quedas, mas deu certo. Tenho várias marcas

famosas, mas não quero expandir por franquia. ” (Relato Entrevista EC3).

O futuro é imprevisível

“Foram várias experiências de sucesso no começo e agora de desafios.

Observo uma considerável queda nas vendas devido à internet (e-

commerce), isso vem balançando a gente. ” (Relato Entrevista EC2).

“Incerteza temos o tempo todo. Tudo é incerto. Previsão é necessária. Perdas

é lutar, corrigir, tem que vencer. Aí entra a correção no erro para superarmos

e atingir os resultados. ” (Relato Entrevista EC1).

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Sarasvathy, 2008.

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4.2.3. Perfil do Empreendedores e os Capitais Mobilizados

Já no Quadro 16 apresenta-se um extrato geral dos empreendimentos inseridos atualmente

presentes no Montes Claros Shopping.

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Quadro 16 – Perfil do Empreendedor Entrevistado do Montes Claros Shopping

Nome Sexo Idade Escolaridade Nome do

Empreendimento Endereço Bairro

Tempo do

empreendimento

Maria Lúcia de

Oliveira

Aquino

F 27 Segundo grau Bh Cel

Montes

Claros

Shopping

C.

Nova 3

Delci

Rodrigues

Pego

M 46 Pós-

graduação

Di Pego Camisaria –

Classic Ternos

Montes

Claros

Shopping

C.

Nova 2

José Flávio de

Oliveira Filho M 38

Pós-

graduação Líder Notebook

Montes

Claros Shopping

C.

Nova 7

Ana Paula

Ferreira Maciel F 35

Mestrado

completo

APFN Comércio de

produtos Ópticos Ltda

– Mega Ótica

Montes

Claros

Shopping

C.

Nova 1

Benie Mendes

Oliveira F 46

Superior

Completo

My Place – Franquia

Carioca

Montes

Claros

Shopping

C.

Nova 7

Ana Heloisa

Batista F 32

Superior

completo

Quiosque Olha o

Churros

Montes

Claros

Shopping

C.

Nova 1

Silvana Simões

Oliveira F 55

Superior

completo Sapazio

Montes

Claros

Shopping

C.

Nova 20

Maria do

Socorro

Gonçalves de Souza

F 57 Superior

completo SL Store

Montes

Claros

Shopping

C.

Nova 6

Jonh Smith

Amaral Lima M 40

Superior

Completo

SN cabeleireiros e

Noivas

Montes

Claros

Shopping

C.

Nova 1

Victor Luís

Quintino

Spinor

M 28 Superior

Completo

LSM MIRANDA -

CLÍNICA SORRISUS

Montes

Claros

Shopping

C.

Nova 2

Raquel Martins

de Oliveira

Souza

F 41 Superior

Completo Tutti Bambini

Montes

Claros

Shopping

C.

Nova 7

Layne

Gabryelle

Antunes Mota

F 23 Superior

incompleto

Moda Ágape – Via

Única

Montes

Claros

Shopping

C.

Nova 20

Ronilda Soares

Nascimento F 44 Segundo grau

Ronilda Soares –

Vilaggio Duommo

Montes

Claros

Shopping

C.

Nova 9

Cristiane Santos Laetane

F 40 Superior completo

Delta Telecom Vivo Shopping

Montes Claros

Shopping

C. Nova

10

Márcio Pereira

de Oliveira M 34

Pós-

graduação Wolver CrossFit

Montes

Claros

Shopping

C.

Nova 2

Fonte: Dados da pesquisa.

Pelos dados do Quadro 16, tem-se, de forma similar ao registrado no Quarteirão do Povo, a

prevalência de empreendedores com curso superior completo. Incluem-se egressos de

programas de MBAs, no Brasil classificados como especializações, porém focadas em

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negócios, e de programas de especialização, com carga horária mínima de 360 horas. Chama a

atenção a valorização de títulos, e experiências vividas na academia, em particular associadas

à transferência de conhecimentos em Management vis-à-vis à rede de relacionamentos que se

pode obter por esses meios.

Quanto ao sexo, registra-se o oposto do Quarteirão do Povo. No Montes Claros Shopping há a

prevalência de mulheres empreendedoras. Por ter em sua maioria lojas de moda, roupas, joias,

bolsas, sapatos, isso pode explicar a maior atração a esse público.

Já quanto à faixa etária, registra-se, igualmente diferenças comparativamente aos

empreendedores do Quarteirão do Povo. Embora heterogêneo, os empreendedores do Montes

Claros Shopping apresentam uma média etária mais baixa, com maior número de jovens, mais

escolarizados e influenciados pelas novas tecnologias de gestão e espírito de modernização.

O tempo de empreendimento é também um fator a ser considero com atenção. Em sua

maioria, os empreendedores apontam, ao longo de suas entrevistas, para a elevada

rotatividade dos negócios, marcada pelos preços dos alugueis, pelo “modelo engessado” e

dificuldades de mão de obra qualificada, apta aos padrões de atendimento e exigências quanto

aos horários de trabalho.

Em suma, a mobilização dos diferentes capitais, de diferentes formas, embasa o elemento

central à distinção Bourdieu (2008), notadamente no quadro síntese abaixo evidenciados

durante a entrevista aos empreendedores do Montes Claros Shopping (Quadro 17).

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Quadro 17 - Síntese dos capitais presentes no Montes Claros Shopping

Campo Habitus Principais Capitais

Montes

Claros

Shopping

No espaço Montes Claros shopping foi notado a

prática de diversos estilos de vida dos

empreendedores em forma de julgar que é certo e

o que é errado em suas visões e percepções de

mundo. Há uma tentativa dos empreendedores do shopping em retomar o que a figura do mesmo

representava há 10 ou 20 anos, quando era

frequentado por um público de classe A. Isso fica

claro nos relatos da entrevista que hoje o fato de o

mesmo ser referência no norte de minas, a fama, a

propaganda, tudo contribuiu para ser mais

“popular” e ter heterogeneidade de pessoas, gostos

e lojas que talvez ao olhar dos empreendedores

pioneiros que ali instalaram empreendimentos,

não foi visto com bons olhos.

Econômico: Este capital foi observado nos

empreendedores em formato de: bens

materiais e patrimônio acumulado. O que

confere a cada um seu respectivo espaço, fazer

diferente (inovar, investir, renovar ou mesmo

expandir lojas).

Social: Foi observado pouca ou leve ausência

desse capital entre os empreendedores que

interagem em reuniões, possuem grupos de

WhatsApp. Isso se deve ao fato do modelo de negócio que também contribui, muitos

empresários possuem mais de uma loja no

shopping, na cidade ou na região (filial ou

franquia). Tendo escassez de tempo para tal

interação, ficou claro quando este estudo

buscou interface para entrevistar cada um.

Suas agendas dividem espaços com muitas

atribuições: viagens de negócios

(principalmente em busca de tendências da

moda).

Cultural: Há uma forte presença, e se

evidencia em títulos escolares, acesso a

eventos exclusivos e valores familiares transferidos de pais para filhos (persistência,

família, educação, foco).

Fonte: Elaborado pelo autor.

Levando em consideração contribuições do arcabouço teórico de Bourdieu (2010), na

descrição e compreensão das formas como diferentes agentes sociais mobilizam distintos

capitais, em estudos prévios realizados por Oliveira, Sant’Anna e Diniz (2015), Sant’Anna et

al. (2013); Oliveira, Sant’Anna e Diniz (2012); Sant’Anna et al. (2011), corrobora-se, uma

vez mais, a opção pela utilização do marco teórico proposto.

Tendo por base a “Teoria da Ação Prática” (Bourdieu, 2008), os achados deste estudo

corroboram a importância dos estudos desenvolvidos por esses autores, notadamente, quanto

ao papel das noções de campo, habitus e capitais contempladas na “tipologia” de

empreendedores por eles aplicada.

Isto posto, com base nos estudos citados, o Quadro 18 contempla uma síntese na tipologia de

empreendedores e empreendimentos propostos por Sant’Anna et al. (2011), incluindo

atributos e capitais que caracterizam os habitus de cada um deles, os quais foram utilizados no

confronto com os achados empíricos obtidos da pesquisa empírica que subsidiou este estudo.

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Quadro 18 - Tipologia de empreendimentos e de empreendedores segundo capitais mobilizados.

Empreendedor Empreendimento Capitais

Prevalentes

Tradicional

Líder Notebook, Lojas Sapazio, Sl

Store, Tutti Bambini, Via Única,

Villagio Duommo,

Cultural

Moderno

Bh Cel, Classic Ternos, Mega

Ótica, Olha O Churros, Delta

Telecom Vivo,

Econômico e Cultural

Pós-Moderno

Wolver Crossfit, My Place, SN

Cabeleireiro (Smith Noivas),

Clínica Sorrisus

Social e Cultural

Fonte: Elaborado pelo autor.

A partir dos dados apresentados e discutidos, pode-se caracterizar os perfis de

empreendedores do Montes Claros Shopping, conforme a seguir:

1. 67% mulheres

2. 53% com curso superior completo;

3. Média etária dos respondentes: 39 anos

4. Tempo de atuação no local: 6,5 anos

5. Principais desafios enfrentados no negócio: falta de convergência de interesses entre a

administração do shopping versus lojistas, pois ao se tratar de atração de público para o

consumo de produtos e serviços naquele espaço;

6. Principais atributos de valor percebidos pelos clientes: qualidade e marcas, comodidade,

segurança, estacionamento, experiência de consumo, opções de produtos e serviços.

Vale registrar, no estudo conduzido por Jelihosvschi (2017) junto a shopping center na cidade

de Sete Lagoas (MG), semelhanças quanto ao perfil dos empreendedores e nos atributos

valorizados pelos clientes. Também lá busca-se por conforto, status, horário de atendimento,

movimento de pessoas diferentes, oscilação entre tradição da cidade versus modernidade,

convivência e interação das pessoas que moram nas proximidades.

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Capítulo 6

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Retomando ao objetivo de investigar diferenças e semelhanças entre os capitais mobilizados

por empreendedores com estabelecimentos localizados em um shopping center popular vis-à-

vis shopping center convencional, tendo por base o arcabouço teórico de Bourdieu (2008),

constata-se uma mistura de atributos associados a capitais sociais, econômicos, culturais e

simbólicos em ambos os ambientes alvo deste estudo.

Igualmente, é possível detectar diferenças quanto a gênero, idade, formação escolar e tempo

de atuação dos empreendedores nas espacialidades investigadas. No Quarteirão do Povo, por

exemplo, 73% dos respondentes possuem curso superior completo, igual percentual é do sexo

masculino e a média de idade é de 47,8, com média de 22,5 anos de atuação no local. Já

dentre os respondentes do Montes Claros Shopping, 53% possuem curso superior completo,

67% são do sexo feminino, com média de idade de 39 anos, e tempo médio de atuação no

espaço de 6,5 anos.

Por meio desse conjunto de dados, tem-se que no Quarteirão do Povo, os empreendedores

pesquisados apresentam maior tempo de vivência no mercado, o que cabe inferir mais

experiência, vivência, tradição. Muito provavelmente como segunda geração de

empreendedores, esse grupo atribui forte importância ao capital cultural, denotado no

significado atribuído aos títulos acadêmicos, ao estudo e ao capital intelectual (Bourdieu,

2008), muito embora, certo apego a tradições locais, como o forte valor atribuído ao “caráter

masculino” no controle e gestão dos negócios.

Outrossim, no Montes Claros Shopping, a priori parece se observar o inverso, pelo menos

quanto à predominância de mulheres empreendedoras. O que, todavia, pode ser atribuído a

certo imaginário do shopping como “espaço para o feminino”, “planejado”, “controlado” e,

portanto, mais seguro que o espaço da rua, mais afim ao masculino, “ao cabra macho”, ao

“boiadeiro sertanejo”; aberto à aventura, à liberdade.

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O tempo de atuação em ambas as espacialidades também chama a atenção. A média, no

shopping é baixa, mesmo possuindo 20 anos de existência. Fatores como falta de incentivo da

administração, alta competitividade, alto valor das taxas de condomínio e dos aluguéis, falta

de mão de obra qualificada que atenda aos horários do shopping (noturno, finais de semana e

feriados), contribuem para uma movimentação de abrir e fechar constante de lojas, a maioria

administradas por gerentes e coordenadores com pequena presença direta dos proprietários,

quase sempre detentores de outros negócios na cidade ou região (franquias, filiais).

Em contraponto, o Quarteirão do Povo, apresenta, em sua maioria, empreendedores que além

de, em muitos casos, serem proprietários de seus imóveis, notabilizam-se por serem

conhecidos da população. Muitos deles já constituem segunda ou terceira geração de

empreendedores locais. Nesse sentido, fazem questão de estarem presentes no negócio, em

atender à sua clientela. Não são raros os cumprimentos, o tomar um café ali nas redondezas

em conjunto com amigos e clientes, o tratar as pessoas pelo nome, construindo-se – ou

sustentando-se – laços sociais fortes, por meio de relações pessoais e vínculos afetivos.

A busca por “modernização”, a garra, a determinação, a jovialidade, a tendência, o espírito de

fazer acontecer prevalece, no entanto, como características dos empreendedores de ambos os

espaços. No caso do Quarteirão do Povo, a própria mobilização direcionada à revitalização do

espaço, visando incorporar traços dessa “modernidade” denota a similaridade quanto aos

capitais envolvidos. Diferentemente de outras espacialidades da região central, o Quarteirão

do Povo parece buscar - sem, no entanto, eliminar elementos da tradição local - enfatizar o

capital cultural, bem como atributos associados ao simbólico inerente ao “circuito superior da

economia” (Santos, 2011).

O Quadro 19 sintetiza os principais significantes constantes nos relatos dos respondentes em

ambos os espaços investigados.

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Quadro 19 - Resumo comparativo entre espaços pesquisados

Campo Capitais Significantes

Quarteirão do Povo

Econômico Trabalho, dinheiro, bens materiais, patrimônio acumulado.

Social Amizade, proximidade, presença, rede de contatos,

contato.

Cultural Valores familiares, poder, título acadêmico,

educação, treinamento.

Simbólico Nome de família, tradição, jovialidade, renovação,

revitalização.

Montes Claros Shopping

Econômico Inovação, investimento, renovação, expansão,

estratégia.

Social Mobilidade, superficialidade, consumismo,

entretenimento, visibilidade.

Cultural Marketing, Diploma, Gestão, Modernização.

Simbólico Luxo, sofisticação, diferenciação, comodidade,

conforto, exclusividade.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Quanto aos tipos de empreendedores identificados constata-se, a partir da tipologia

desenvolvida por Sant’Anna et al. (2011), a predominância, no Quarteirão, de dois tipos de

empreendedores: os Empreendedores Tradicionais e os Empreendedores Modernos. Não

obstante o nome “Quarteirão do Povo” não foi possível identificar Empreendedores Pós-

modernos. A ausência desse último grupamento, em particular dos “Camaleões” ou

“Bricolers”, tão comumente presentes nos demais espaços constitutivos da região central da

cidade, deriva muito certamente do processo de revitalização espacial promovido no

Quarteirão.

Como efeitos da “higienização” do espaço, promovida pela remodelação dos edifícios e das

fachadas, da intensificação dos aparatos de segurança pública e privada, registra-se uma

seletividade, tanto no público frequentador do espaço, quanto nos empreendimentos. A

escolha “profissional” dos empreendedores e empreendimentos, as regras, além dos

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investimentos requeridos no aparelhamento dos estabelecimentos revelam-se impeditivos a

empreendedores com menores volumes de capitais econômicos, culturais e simbólicos.

Cabe registrar, ainda, junto aos empreendedores do Quarteirão, relatos associados a

significantes que denotam a valorização do “moderno” como fator fundamental de

lucratividade e realização comercial. Nesse sentido, o efeito mimético, não raro, evidencia-se

como elemento central de diferenciação. A ideia subjacente é que é imperativo “modernizar”

o centro, incorporando a ele características como aquelas consideradas no âmbito do Montes

Claros Shopping. É necessário que o centro da cidade seja um “Shopping a Céu-aberto”,

tomado como sinônimo de eficiência, produtividade e lucratividade.

Curiosamente, no entanto, é na instância do Montes Claros Shopping que se registram os

maiores índices de mortalidade de empreendimentos, de fechamento de negócios e de

iniciativas. Nesse sentido, cabe a outros modelos de negócios - como o Quarteirão do Povo –

sem dúvida buscar se adaptar aos novos tempos, aprimorar seus dispositivos de gestão,

melhorar as condições físicas, instalações e equipamentos. O importante, porém, é se

“modernizar” sem perder as características que distinguem o espaço. Desenvolver

competências modernizantes sem, todavia, alterar sua essência, sem destruir aquelas que lhes

são distintivas.

Nesse cenário, constata-se a importância atribuída pelos empreendedores do Quarteirão à

Effectuation Theory, mecanismo rapidamente incorporado por seus empreendedores para

disseminar, além de mudanças orientadas à requalificação do espaço físico, também as

mudanças no habitus e nos capitais a serem apreendidos e mobilizados, com vistas a torná-los

mais aderentes aos valores preconizados pela lógica empresarial moderna e mais

competitivos.

À forma e ritmo das mudanças, associam-se desafios. Um deles tem a ver com a gentrificação

e com os riscos de perdas de vitalidade do Quarteirão (Jacobs, 2011). Afinal, como assegurar

o equilíbrio entre modernidade e tradição? Como manter o intenso fluxo de pessoas de

diferentes classes sociais e veículos, variedade e diversidade de residências e

estabelecimentos comerciais? A diversidade de usuários associada a idade, escolaridade e

orientações religiosas? E, quanto à heterogeneidade e mistura de prédios novos e antigos?

Elementos, esses, considerados por Jacobs (2011) como fatores centrais de vitalidade.

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A partir da análise desse conjunto de dados, sugere-se diálogo aberto e estudos em torno da

gentrificação e de suas consequências. Esse pode ser um primeiro passo relevante para a

criação de uma consciência coletiva que proponha o desenvolvimento do espaço, integrando

seus agentes e os demais integrantes da região central, ao invés de separá-los, eliminando as

características de lócus tão significativo para a cidade e seus habitantes. Uma região que

carrega uma rica história, o legado de todo um conjunto de pessoas, que coletivamente,

produziram um habitus particular, traduzido em modos singulares de pensar, agir e sentir

(Bourdieu, 2008).

Conforme observa Schumpeter (1934), o empreendedorismo está diretamente ligado à

resolução de um problema ou ao atendimento de uma demanda até então não suprida,

geralmente relacionado com a criação de empresas ou novos produtos. Nesse sentido, esse

autor relaciona o conceito diretamente com o desenvolvimento e realização de novas

combinações, englobando a introdução de novos produtos, criação de novas formas de

produção, surgimento de novos mercados e o surgimento de novas empresas.

O mesmo afirma, ainda, que o empreendedor é um agente de transformação da inovação e

influenciador dinâmico na expansão e desenvolvimento da economia, bem como um ser capaz

de aliar com eficiência novas combinações de recursos, é o agente direto da realização.

Complementando tal perspectiva, para Drucker (1993), empreendedor é quem cria novos

mercados e novos consumidores, através da geração de um novo hábito de consumo em um

novo contexto. O empreendedor deve mudar, transformar os valores existentes. Segundo ele,

a “inovação é o instrumento específico do empreendedorismo. É o ato que dota os recursos

com uma nova capacidade para criar riqueza” (Drucker, 1993, p. 30).

Independente do ramo, atividade ou nicho de mercado, os empreendedores possuem algumas

características em comum para transformar as ideias em oportunidades. No entanto, é preciso

que esteja claro que não existe apenas um tipo ou perfil de empreendedor; isto é, um modelo

que possa ser identificado como único padrão para todos. Conforme já mencionado

anteriormente pela Organização das Nações Unidas – ONU, um conjunto de características do

comportamento empreendedor parece, todavia, ganhar relevância. Diante desse conjunto de

características, como forma de classificar o comportamento empreendedor, parece,

igualmente, evidenciada a necessidade não somente de entender as atitudes que levam o

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empreendedor a tomar decisões, assim como compreender, antes de qualquer coisa, a real

necessidade para criação de um empreendimento.

Para Dornelas (2010), pode-se considerar a existência de dois tipos de empreendedorismo,

aquele que condiciona a uma necessidade ou aquele que configura uma oportunidade de

negócio. De acordo com esse autor, os empreendedores que abrem seu próprio negócio por

necessidade são aqueles que não possuem opções de trabalho, encontram-se desempregados e,

para continuar com seu sustento, aventuram-se em abrir um negócio próprio, comumente sem

nenhum planejamento prévio ou conhecimento de gestão.

No entanto, para compreender melhor as taxas de abertura de empreendimentos, no Brasil,

com base nos tipos de empreendedorismo, conforme delineados por Dornelas (2015), deve-se

levar em consideração fatores influenciadores (drivers), como o nível da educação e o avanço

tecnológico, bem como a existência de instituições de fomento ao tema. Ainda segundo esse

autor, há que se considerar a relevância quanto a se melhor compreender o contexto em que se

inserem os empreendimentos, bem como os capitais - econômicos, sociais, culturais e

simbólicos - aportados e mobilizados por seus proprietários. Relevante, também, a

consideração do “ecossistema empreendedor” em que se inserem (Sant’Anna & Nelson, 2017;

Jelihosvschi, 2017; Nelson & Sant’Anna, 2012, 2011).

Nesse sentido, ações centradas unicamente em fatores extrínsecos, tais como requalificação

do espaço físico e desenvolvimento de ações de capacitação, orientadas a maior

“modernização” de processos e rotinas, podem, uma vez mais, obscurecer a realidade,

destruindo capitais singulares, reforçando processos de gentrificação e a competitividade do

ecossistema (Smith, 1996; Zukin, 1995; Featherstone, 1995; Harvey, 1989).

O estudo no Quarteirão do Povo, desse modo, explicita que há disposição dos

empreendedores envolvidos em se “modernizar”, em buscar novos conhecimentos e

tecnologias de gestão, em desenvolver espaços que visem à experiência agradável dos clientes

no que tange aos influenciadores de compras: limpeza (coleta seletiva do lixo), segurança,

manutenção da estrutura das ruas e praças, iluminação, problemas de origem social,

derivados, por exemplo, da presença de ambulantes que não pagam impostos, pedintes,

número insuficiente de câmeras de segurança, falta de policiamento. É, interessante salientar,

portanto, os esforços de elevação do nível de profissionalismo em negócios e gestão dos

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empreendedores do Quarteirão, bem como a busca pela construção de parcerias com as

entidades representativas do comércio e serviços, na promoção de ações direcionadas à

incorporação da inovação, visando a melhoria dos processos nos estabelecimentos de

comércio e de serviços a que respondem. Parcerias, também, com entidades de ensino e

pesquisa, dentre outras.

De acordo com achados este estudo, tem-se, contudo, que nem todos os antigos moradores e

empreendedores do Quarteirão conseguiram se adaptar ao processo de renovação. Muitos

tiveram que deixar o espaço na direção de áreas periféricas da cidade. Causas desse fenômeno

podem ser associadas à elevação dos valores dos alugueis, à valorização dos imóveis e, por

conseguinte, o estímulo à venda. Como resultante, tem-se, conforme previsto por Jacobs

(2011), o vazio dos espaços à noite e nos finais de semana, deixando-os à mercê de vândalos e

até bandidos que veem aí oportunidades de atuação.

Em suma, uma vez mais, o desafio central evidenciado será a capacidade dos empreendedores

do Quarteirão de se “modernizar”, sem perder os elementos distintivos do local, da tradição e

da história. Como valorar e se qualificar, com metodologias, tecnologias e instrumentos de

gestão que mantenham um equilíbrio dinâmico entre os componentes do ecossistema

empreendedor que compõem o centro da cidade. Essa parece ser a arte do processo de

construção de uma região diversa, vital e sustentavelmente competitiva.

Quanto às suas limitações, ressente-se pelo não aprofundamento neste estudo da análise do

comportamento dos consumidores dos shoppings investigados, a partir da percepção desses

agentes. Nota-se que as mudanças, as atitudes e comportamentos são diretamente

influenciados pelo ambiente, ou seja, economia, cultura organizacional/regional, relações

interpessoais, entre outros, somados ao que foi apreendido pelo indivíduo diante dessas

interações e aliado ao seu repertório existente. Sendo assim, é possível relacionar o processo

de inovação nas pequenas e médias empresas com o desenvolvimento do comportamento de

seus clientes e prospects; isto, na medida em que o cenário de tais agentes também vem

mudando de forma contínua e juntamente com ela, os requisitos que pressupõem um

empreendedor apto a lidar com eles. Desse modo, recomenda-se futuras pesquisas sobre

empreendedorismo, a partir da perspectiva dos clientes e usuários das organizações alvo da

pesquisa, assim como das redes de relações que envolvem o tetraedro empreendedor-

empreendimento-governo-sociedade.

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Não obstante as fragilidades, reitera-se como contribuições do estudo ações de

desenvolvimento, abordagens que fomentem a vitalidade dos espaços, por meio de formas de

atuação que extrapolem a dimensão individual - assim como os “intramuros” dos

empreendimentos e instituições - considerando a construção de competências capazes de

articular, simultaneamente, especificidades e inter-relações entre os principais capitais

envolvidos: econômicos, sociais, culturais, simbólicos e, também, espaciais.

A partir da observação do Quarteirão do Povo, constata-se que o centro de Montes Claros,

embora não possa se acomodar, desconsiderando esforços de requalificação e de

revitalização; às custas de se colocar fadado e vulnerável a fatores associados às práticas

comerciais contemporâneas, não deve ignorar perspectivas mais coletivas de envolver

entidades de diferentes setores e segmentos da sociedade local, além, é claro, dos moradores e

do conjunto dos comerciantes da região central.

Nessa direção, novas pesquisas e estudos poderiam levar em consideração a Teoria da

Bricolagem, desenvolvida por Baker e Nelson (2005), a qual permita a investigação de formas

de acesso a alternativas empreendedoras, a partir de recursos escassos. Por meio dela, poder-

se-ia melhor explorar o contexto empreendedor, em particular, o da região central de Montes

Claros. Entender como evoluíram e como utilizam de recursos, através da improvisação,

informalidade, senso de oportunidade, adaptabilidade ou mesmo cópia, dando um “jeitinho”

nos modos de constituição e desenvolvimento de seus empreendimentos, pode agregar

subsídios significativos a ações de capacitação de empreendedores do “circuito inferior” de

nossa economia (Santos, 2011).

Acredita-se, inclusive, que maior interação entre Bricolagem e Effectuation (Sarasvathy,

2001) possa revelar-se opção sine-qua-non na constituição do que há de mais inovador na

área do empreendedorismo. A contribuição, dependendo do espaço, problema ou contexto,

pode balizar a tomada de decisões e os dispositivos de gestão, permitindo propostas, mais

inclusivas, de melhoria de espacialidades locais, territórios e cidades, além de auxiliar na

compreensão da complexidade de mundo cada vez mais volátil, incerto, complexo e ambíguo.

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APÊNDICES

APÊNDICE A

Roteiro de Entrevista

IDENTIFICAÇÃO

Nome:

Sexo:

Idade:

Cargo:

Escolaridade:

Nome do Empreendimento:

Endereço:

Região:

Há quanto tempo possui o empreendimento:

BLOCO 1 – O ambiente

1. Em sua opinião, quais os principais fatores que levaram à criação do Quarteirão do Povo?

Desde sua criação o Quarteirão do Povo tem vivenciado uma significativa expansão, a que

você atribui esse crescimento?

2. Quais as principais oportunidades e melhorias decorrentes desse processo de crescimento?

3. E quanto às dificuldades decorrentes desse processo, quais você destacaria?

4. Que pessoas (empreendedores, políticos, formadores de opinião etc.) e instituições você

destacaria pela importância nesse processo? Que papel elas desempenharam?

5. Quais as principais atividades econômicas do Quarteirão do Povo? Há alguma atividade

predominante ou é possível observar bastante diversidade?

6. Como você caracterizaria o público que frequenta o Quarteirão do Povo? Você percebe ao

longo do tempo mudanças nesse público?

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7. Como você caracteriza o QP do ponto de vista estético? Você observa a presença de

construções mais antigas, novas, ou há uma mistura de tipos?

8. Em qual horário/dia há maior movimento de pessoas no QP? Há concentração em um

horário específico (manhã, tarde ou noite) ou você observa grande contingente de pessoas em

horários diversificados?

9. Como você caracteriza o tráfego nessa região? É mais intenso em algum período do dia?

10. Quais os locais mais comuns onde as pessoas se encontram e interagem nessa região? São

geralmente espaços públicos ou privados?

11. Como você avalia o nível de integração e interação das pessoas que moram no entorno do

QP?

12. Quais as implicações que a expansão do centro da cidade tem trazido para a cidade de

Montes Claros como um todo?

13. Que lições a experiência do QP pode dar em relação a contextos que geram diversidade e

vitalidade?

14. Em relação ao futuro, quais os principais desafios para o desenvolvimento do QP?

BLOCO 2 – O Empreendedor e seu Empreendimento

15. O que você fazia antes de se instalar no QP? Por que resolveu abrir um negócio aqui?

Conte um pouco de sua história (familiar, escolar, profissional, empreendedora) antes de abrir

este negócio?

16. Quando você ouve a expressão “Quarteirão do Povo”, o que lhe vem, de imediato, à

mente?

17. Em sua opinião, quais são os aspectos positivos de ter um negócio no QP? E os aspectos

negativos?

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BLOCO 3- O Empreendimento

18. Tendo em vista sua experiência no QP, que principais ações você acha que foram

importantes para torná-lo melhor, mais atrativo? E quanto ao seu negócio, o que tem

procurado fazer para torna-lo também mais atrativo?

19. Que principais características você apontaria para que um negócio seja bem-sucedido no

QP?

20. O que os clientes mais valorizam no QP?

21. Qual o papel do proprietário – empreendedor – para que o negócio seja bem-sucedido

(postura, comportamento, atitudes, ações)?

22. O que, na sua opinião, o distingue de outros empreendimentos nessa região (atendimento,

crediário, qualidade do produto, marca, preço, beleza da loja ou outro)?

23. Que empreendimento do QP você apontaria como uma referência?

24. Que características distinguem esse empreendimento?

25. Como você avalia o relacionamento do público com os negociantes do QP?

26. Como você descreveria os consumidores do QP?

27. Os clientes atribuem maior ênfase a que aspectos (atendimento, crediário, qualidade do

produto, marca, preço, beleza da loja ou outro)?

28. Quanto ao atendimento/recepção dos clientes como você o caracteriza? (Proximidade,

formal, personalizado)?

29. Quais os maiores canais de comunicação (divulgação de produtos e serviços) o seu

empreendimento utiliza para se diferenciar da concorrência e obter vantagens competitivas?

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30. Os clientes costumam investir/gastar em média quanto por compras em seu negócio?

(Tíquete médio).

31. Como é o seu ciclo de amizades/relacionamento, são constituídos de pessoas de quais

lugares? (Igreja, trabalho, associações)?

32. Utiliza dos contatos sociais para promover seu negócio?

33. Em relação a outros centros de compra, quais os diferenciais, semelhanças e diferenças

(Montes Claros Shopping), você destacaria em relação ao QP? Por que comprar aqui?

BLOCO 4 – Perfil Empreendedor

34. Como você começou o negócio aqui no QP? (Herança, montou sozinho, fez empréstimo

bancário).

35. Você planejou? Ou teve a ideia e já foi iniciando as atividades?

36. Que principais dificuldades você teve no começo? E hoje? Em algum momento pensou

em desistir? Comente.

37. Quando toma uma decisão de negócios, em que você se baseia? (Intuição, dados, fatos,

notícias, influência de familiares, amigos).

38. Você trabalha com objetivos e metas? Em caso afirmativo, como os traça, comente.

39. Você se considera um negociante moderado, adaptável, resistente, inovador?

40. Se você começasse hoje (do marco zero), seguiria esse mesmo negócio? O que teria feito

de diferente?

41. Como você lida com incertezas, erros, perdas e tentativas?

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42. Qual foi a última inovação que implementou em seu negócio? Que resultados ou

aprendizados ela lhe trouxe?