Tipologia e gêneros textuais

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Márcia Oliveira

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A vidraça e os lençóis

Um casal, recém-casado, mudou-se para um bairro muito tranqüilo. Na primeira manhã que passavam

na casa, enquanto tomavam café, a mulher reparou através da janela em uma vizinha que pendurava

lençóis no varal e comentou com o marido:

- Que lençóis sujos ela está pendurando no varal! Está precisando de um sabão novo! Se eu tivesse

intimidade perguntaria se ela quer que eu a ensine a lavar as roupas!

O marido a tudo escutava, calado.

Alguns dias depois, novamente, durante o café da manhã, a vizinha pendurava lençóis no varal e a

mulher comentou com o marido:

- Nossa vizinha continua pendurando os lençóis sujos! Se eu tivesse intimidade, perguntaria se ela quer

que eu a ensine a lavar as roupas!

E assim, a cada dois ou três dias, a mulher repetia seu discurso, enquanto a vizinha pendurava suas

roupas no varal.

Passado um mês, a mulher se surpreendeu ao ver os lençóis muito brancos sendo estendidos e, toda

empolgada, foi dizer ao marido:

- Veja, ela aprendeu a lavar as roupas! Será que a outra vizinha a ensinou? Porque eu não fiz nada!

O marido calmamente respondeu:

- Não, hoje eu levantei mais cedo e lavei os vidros da nossa janela!

Moral

E assim é. Tudo depende da janela, através da qual observamos os fatos.

Antes de condenar, verifique se você fez alguma coisa para contribuir;

depois, verifique seus próprios defeitos e limitações. E, se necessitar, não se acanhe: lave sua vidraça.

Você jamais será o único a ter de fazê-lo...

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TIPOS DE TEXTOS

De acordo com as diferentes situações de uso, os enunciados seorganizam e se agrupam em tipos, conforme a finalidade dacomunicação. Quando um indivíduo utiliza a língua para se comunicar,sempre o faz por meio de um tipo de texto, conscientemente ou não.Nesse sentido, a língua se realiza por enunciados, orais ou escritos,previamente dominados pelo indivíduo. Caso não fosse assim, acomunicação se tornaria praticamente inviável.

Quando estabelecemos tipologias claras e concisas para os textos,fica mais fácil interpretar e produzir textos que circulam em umdeterminado ambiente social. Por exemplo: ao nos depararmos com otexto a seguir, à primeira vista já sabemos que se trata de umareceita. Pela forma e pela distribuição do texto no papel,identificamos a parte dos ingredientes e a parte do “modo de fazer”.Isso nos prepara para a leitura e, consequentemente, para ainterpretação. Veja:

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Existem muitas formas de classificar os textos de acordo com seus tipos. A cada época da produção textual da humanidade, novas classificações vão surgindo. Isso por causa das novas tecnologias que aparecem ao longo dos anos. Na primeira metade do século XX, por exemplo, não se pensava em textos como e-mail, blog ou homepage.

Alguns pesquisadores classificam os tipos de acordo com sua funcionalidade. Vejamos:

Textos literários conto; novela; obra teatral; poema

Textos jornalísticos notícia; artigo de opinião; reportagem; entrevista

Textos de informação científica definição; nota de enciclopédia; relato de experimento científico; monografia; biografia

Textos instrucionais receita; instrutivo

Textos epistolares carta; solicitação

Textos humorísticos história em quadrinhos

Textos publicitários aviso; folheto; cartaz; outdoor

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Todos os textos que produzimos, orais ou escritos, apresentam umconjunto de características relativamente estáveis, tenhamos ou nãoconsciência delas. Essas características configuram diferentes textos ouGÊNEROS DO DISCURSO, que podem ser caracterizados por trêsaspectos básicos: tema, modo composicional (a estrutura) e o estilo ( usosespecíficos da língua).

Os gêneros do discurso são inúmeros. Vejamos alguns a partir do estudoda tipologia.

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TEXTO NARRATIVO

Esta é uma modalidade textual em que se conta um fato, fictício ou real, ocorrido num determinado tempo e lugar, envolvendo certos personagens. Há uma relação de anterioridade e posterioridade. O tempo verbal predominante é o pretérito perfeito e mais-que-perfeito.

Em geral, a narrativa se desenvolve na prosa. O narrar surge da busca de transmitir, de comunicar qualquer acontecimento ou situação. A narração em primeira pessoa pressupõe a participação do narrador ( narrador personagem) e em terceira pessoa mostra o que ele viu ou ouviu ( narrador observador ).

Na narração encontramos ainda os personagens ( principais ou secundários ), o espaço ( cenário) e o tempo da narrativa.

Exemplos: conto, fábula, crônica, reportagem, relato, romance, piada, anedota, novela, etc.

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No texto narrativo, os fatos são vividos por personagens em determinado lugar e tempo. Além disso, há um narrador que assume duas perspectivas básicas diante do texto agindo como uma personagem ou como um mero observador. Leia o texto abaixo:

O CoveiroMillôr Fernandes

Ele foi cavando, cavando, cavando, pois sua profissão - coveiro - era cavar. Mas, de repente, na distração do ofício que amava, percebeu que cavara demais. Tentou sair da cova e não conseguiu. Levantou o olhar para cima e viu que sozinho não conseguiria sair. Gritou. Ninguém atendeu. Gritou mais forte. Ninguém veio. Enrouqueceu de gritar, cansou de esbravejar, desistiu com a noite. Sentou-se no fundo da cova, desesperado. A noite chegou, subiu, fez-se o silêncio das horas tardias. Bateu o frio da madrugada e, na noite escura, não se ouviu um som humano, embora o cemitério estivesse cheio de pipilos e coaxares naturais dos matos. Só pouco depois da meia-noite é que vieram uns passos. Deitado no fundo da cova o coveiro gritou. Os passos se aproximaram. Uma cabeça ébria apareceu lá em cima, perguntou o que havia: O que é que há?O coveiro então gritou, desesperado: Tire-me daqui, por favor. Estou com um frio terrível! Mas, coitado! - condoeu-se o bêbado - Tem toda razão de estar com frio. Alguém tirou a terra de cima de você, meu pobre mortinho! E, pegando a pá, encheu-a e pôs-se a cobri-lo cuidadosamente.Reflexão: Nos momentos graves é preciso verificar muito bem para quem se apela.

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TEXTO DESCRITIVO

A descrição usa um tipo de texto em que se faz um retrato falado de uma pessoa, animal, objeto ou lugar. A classe de palavras mais utilizada nessa produção é o adjetivo, pela sua função caracterizadora, dando ao leitor uma grande riqueza de detalhes.

A descrição, ao contrário da narração, não supõe ação. É uma estrutura pictórica, em que os aspectos sensoriais predominam. Assim como o pintor capta o mundo exterior ou interior em suas telas, o autor de uma descrição focaliza cenas ou imagens, conforme o permita sua sensibilidade.

Predominam na descrição a adjetivação, o presente e o pretérito imperfeito.

Quanto à descrição de pessoas, podemos atribuir-lhes características físicas ou psicológicas.

Exemplos: cardápio, folheto turístico, anúncio classificado, etc.

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Exemplo de texto descritivo

A casa era grande, branca e antiga. Em sua frente havia um pátio quadrado. Àdireita havia um laranjal onde noite e dia corria uma fonte. À esquerda era ojardim de buxo, úmido e sombrio, com suas camélias e seus bancos de azulejo.A meio da fachada que dava para o pátio havia uma escada de granito cobertade musgo. Em frente dessa escada, do outro lado do pátio, ficava o grandeportão que dava para a estrada. A parte de trás da casa era virada ao poentee das suas janelas debruçadas sobre pomares e campos via-se o rio queatravessa a várzea verde e viam-se ao longe os montes azulados cujos cimosem certas tardes ficavam roxos. Nas vertentes cavadas em socalco crescia avinha. À direita, entre a várzea e os montes, crescia a mata, a mata carregadade murmúrios e perfumes e que os Outonos tornavam doirada.

Sophia de Mello Breyner Andresen, O Jantar do Bispo Calisto

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DISSERTAR é o mesmo que desenvolver ou explicar um assunto, discorrer sobre ele. Dependendo do objetivo do autor, pode ter caráter expositivo ou argumentativo.

TEXTO DISSERTATIVO

Neste tipo de texto há posicionamentos pessoais e exposição de ideias. Tem por base a argumentação, apresentada de forma lógica e coerente a fim de defender um ponto de vista. Assim, a dissertação consiste na ordenação e exposição de um determinado assunto. É a nossa conhecida “redação” de cada dia. É a modalidade mais exigida nos concursos, já que exige dos candidatos um conhecimento de leitura do mundo, como também um bom domínio da norma culta.

Está estruturada basicamente assim:1. Ideia principal ( introdução )2. Desenvolvimento ( argumentos e aspectos que o tema envolve )3. Conclusão ( síntese da posição assumida )

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DISSERTATIVO-EXPOSITIVO

Apresenta um saber já construído e legitimado, ou um saber teórico. Apresenta informações sobre assuntos, expõe, reflete, explica e avalia ideias de modo objetivo. O texto expositivo apenas expõe ideias sobre um determinado assunto. A intenção é informar, esclarecer.Exemplos: aula, resumo, textos científicos, enciclopédia, textos

expositivos de revistas e jornais, etc.

DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO

Um texto dissertativo-argumentativo faz a defesa de ideias ou um ponto de vista do autor. O texto, além de explicar, também persuade o interlocutor, objetivando convencê-lo de algo. Caracteriza-se pela progressão lógica de ideias. Geralmente utiliza linguagem denotativa. É tipo predominante em: sermão, ensaio, monografia, dissertação, tese, ensaio, manifesto, crítica, editorial de jornais e revistas.

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Sou contra a redução da maioridade penal

A brutalidade cometida contra os dois jovens em São Paulo reacendeu a fogueira da redução

da idade penal. A violência seria resultado das penas que temos previstas em lei ou do sistema de

aplicação das leis? É necessário também pensar nos porquês da violência já que não há um único

crime.De qualquer forma, um sistema socioeconômico historicamente desigual e violento só pode

gerar mais violência. Então, medidas mais repressivas nos dão a falsa sensação de que algo estásendo feito, mas o problema só piora. Por isso, temos que fazer as opções mais eficientes e maiscondizentes com os valores que defendemos. Defendo uma sociedade que cometa menos crimes enão que puna mais. Em nenhum lugar do mundo houve experiência positiva de adolescentes e adultosjuntos no mesmo sistema penal. Fazer isso não diminuirá a violência e formará mais quadros para ocrime. Além disso, nosso sistema penal como está não melhora as pessoas, ao contrário, aumentasua violência.

O Brasil tem 400 mil trabalhadores na segurança pública e 1,5 milhão na segurança privadapara uma população que supera 171 milhões de pessoas. O problema não está só na lei, mas nacapacidade para aplicá-la. Sou contra a redução da idade penal porque tenho certeza que ficaremosmais inseguros e mais violentos. Sou contra porque sei que a possibilidade de sobrevivência etransformação destes adolescentes está na correta aplicação do ECA. Lá estão previstas seismedidas diferentes para a responsabilização de adolescentes que violaram a lei. Agora não podemosesperar que adolescentes sejam capturados pelo crime para, então, querer fazer mau uso da lei.Para fazer o bom uso do ECA é necessário dinheiro, competência e vontade.

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Sou contra toda e qualquer forma de impunidade. Quem fere a lei deve ser responsabilizado. Masreduzir a idade penal, além de ineficiente para atacar o problema, desqualifica a discussão. Isso émuito comum quando acontecem crimes que chocam a opinião pública, o que não respeita a dor dasvítimas e não reflete o tema seriamente.

Problemas complexos não serão superados por abordagens simplórias e imediatistas.

Precisamos de inteligência, orçamento e, sobretudo, um projeto ético e político de sociedade que

valorize a vida em todas as suas formas. Nossos jovens não precisam ir para a cadeia. Precisam sair

do caminho que os leva lá. A decisão agora é nossa: se queremos construir um país com mais prisões

ou com mais parques e escolas.

O ARTIGO DE OPINIÃO é um texto argumentativo, opinativo, de caráter persuasivo, o qual dá ao autor maior liberdade de expressão. É claro que o domínio do assunto abordado é imprescindível, além do respeito à linguagem formal.Contudo, é um texto em que se observa a presença de ironias, citações intertextuais, metáforas, provérbios e explicações diversas sobre o ponto de vista do autor em relação ao tema proposto.

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TEXTO INJUNTIVO/INSTRUCIONAL

Este tipo de texto indica como realizar uma determinada ação. Ele normalmente pede, manda ou aconselha. Utiliza linguagem direta, objetiva e simples. Os verbos são, na sua maioria, empregados no modo imperativo.

Bons exemplos deste tipo de texto são receitas médicas, receitas culinárias, manuais e instruções para montagem ou uso de aparelhos e instrumentos, ordens, pedidos, textos com regras de comportamento, textos de orientação (ex: recomendações de trânsito, cartões com votos e desejos (de natal, aniversário, etc.).

PREDIÇÃOCaracterizado por predizer algo ou levar o interlocutor a crer em alguma coisa, a qual ainda estar por ocorrer. É o tipo predominante nos gêneros: previsões astrológicas, previsões meteorológicas, previsões escatológicas/apocalípticas.

DIALOGAL / CONVERSACIONALCaracteriza-se pelo diálogo entre os interlocutores. É o tipo predominante nos gêneros: entrevista, conversa telefônica, chat, etc.