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Til José de Alencar 1 1 - (FUVEST 2013) Ao comentar o romance Til e, inclusive, a cena do capítulo “O samba”, aqui reproduzida, Araripe Jr., parente do autor e estudioso de sua obra, observou que esses são provavelmente os textos em que Alencar “mais se quis aproximar dos padrões” de uma “nova escola”, deixando, neles, reconhecível que, “no momento” em que os escreveu, “algum livro novo o impressionara, levando-o pelo estímulo até superfetar* a sua verdadeira índole de poeta”. Alguns dos procedimentos estilísticos empregados na cena aqui reproduzida indicam que a “nova escola” e o “livro novo” a que se refere o crítico pertencem ao que historiadores da literatura chamaram de: (*) “superfetar” = exceder, sobrecarregar, acrescentar- se (uma coisa a outra). a) Romantismo-Condoreirismo. b) Idealismo-Determinismo. c) Realismo-Naturalismo. d) Parnasianismo-Simbolismo. e) Positivismo-Impressionismo. 2 - (FUVEST 2013) Considerada no contexto histórico a que se refere Til, a desenvoltura com que os escravos, no excerto, se entregam à dança é representativa do fato de que a) a escravidão, no Brasil, tal como ocorreu na América do Norte e no Caribe, foi branda. b) se permitia a eles, em ocasiões especiais e sob vigilância, que festejassem a seu modo. c) teve início nas fazendas de café o sincretismo das culturas negra e branca, que viria a caracterizar a cultura brasileira. d) o narrador entendia que o samba de terreiro era, em realidade, um ritual umbandista disfarçado. e) foi a generalização, entre eles, do alcoolismo, que tornou antieconômica a exploração da mão de obra escrava nos cafezais paulistas. (FUVEST 2012) Leia o texto para as questões a seguir: V — O samba À direita do terreiro, adumbra-se* na escuridão um maciço de construções, ao qual às vezes recortam no azul do céu os trêmulos vislumbres das labaredas fustigadas pelo vento. (...) É aí o quartel ou quadrado da fazenda, nome que tem um grande pátio cercado de senzalas, às vezes com alpendrada corrida em volta, e um ou dois portões que o fecham como praça d’armas. Em torno da fogueira, já esbarrondada pelo chão, que ela cobriu de brasido e cinzas, dançam os pretos o samba com um frenesi que toca o delírio. Não se descreve, nem se imagina esse desesperado saracoteio, no qual todo o corpo estremece, pula, sacode, gira, bamboleia, como se quisesse desgrudar-se. Tudo salta, até os crioulinhos que esperneiam no cangote das mães, ou se enrolam nas saias das raparigas. Os mais taludos viram cambalhotas e pincham à guisa de sapos em roda do terreiro. Um desses corta jaca no espinhaço do pai, negro fornido, que não sabendo mais como desconjuntar-se, atirou consigo ao chão e começou de rabanar como um peixe em seco. (...) (José de Alencar, Til) (*) “adumbra-se” = delineia-se, esboça-se. 3 - Para adequar a linguagem ao assunto, o autor lança mão também de um léxico popular, como atestam todas as palavras listadas na alternativa: a) saracoteio, brasido, rabanar, senzalas. b) esperneiam, senzalas, pincham, delírio. c) saracoteio, rabanar, cangote, pincham. d) fazenda, rabanar, cinzas, esperneiam. e) delírio, cambalhotas, cangote, fazenda. 4 - Na composição do texto, foram usados, reiteradamente, I. sujeitos pospostos; II. termos que intensificam a ideia de movimento; III. verbos no presente histórico. Está correto o que se indica em a) I, apenas. b) II, apenas. c) III, apenas. d) I e II, apenas. e) I, II e III. 5 - Considerada no contexto histórico a que se refere Til, a desenvoltura com que os escravos, no excerto, se entregam à dança é representativa do fato de que: a) a escravidão, no Brasil, tal como ocorreu na América do Norte e no Caribe, foi branda. b) se permitia a eles, em ocasiões especiais e sob vigilância, que festejassem a seu modo. c) teve início nas fazendas de café o sincretismo das

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Exercícios do livro Til, de José de Alencar

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Til José de Alencar

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1 - (FUVEST 2013) Ao comentar o romance Til e, inclusive, a cena do capítulo “O samba”, aqui reproduzida, Araripe Jr., parente do autor e estudioso de sua obra, observou que esses são provavelmente os textos em que Alencar “mais se quis aproximar dos padrões” de uma “nova escola”, deixando, neles, reconhecível que, “no momento” em que os escreveu, “algum livro novo o impressionara, levando-o pelo estímulo até superfetar* a sua verdadeira índole de poeta”. Alguns dos procedimentos estilísticos empregados na cena aqui reproduzida indicam que a “nova escola” e o “livro novo” a que se refere o crítico pertencem ao que historiadores da literatura chamaram de:

(*) “superfetar” = exceder, sobrecarregar, acrescentar-se (uma coisa a outra).

a) Romantismo-Condoreirismo. b) Idealismo-Determinismo. c) Realismo-Naturalismo.d) Parnasianismo-Simbolismo.e) Positivismo-Impressionismo.

2 - (FUVEST 2013) Considerada no contexto histórico a que se refere Til, a desenvoltura com que os escravos, no excerto, se entregam à dança é representativa do fato de que

a) a escravidão, no Brasil, tal como ocorreu na América do Norte e no Caribe, foi branda.b) se permitia a eles, em ocasiões especiais e sob vigilância, que festejassem a seu modo.c) teve início nas fazendas de café o sincretismo das culturas negra e branca, que viria a caracterizar a cultura brasileira.d) o narrador entendia que o samba de terreiro era, em realidade, um ritual umbandista disfarçado.e) foi a generalização, entre eles, do alcoolismo, que tornou antieconômica a exploração da mão de obra escrava nos cafezais paulistas.

(FUVEST 2012) Leia o texto para as questões a seguir:

V — O sambaÀ direita do terreiro, adumbra-se* na escuridão um maciço de construções, ao qual às vezes recortam no azul do céu os trêmulos vislumbres das labaredas fustigadas pelo vento.(...)É aí o quartel ou quadrado da fazenda, nome que tem um grande pátio cercado de senzalas, às vezes com alpendrada corrida em volta, e um ou dois portões que

o fecham como praça d’armas.Em torno da fogueira, já esbarrondada pelo chão, que ela cobriu de brasido e cinzas, dançam os pretos o samba com um frenesi que toca o delírio. Não se descreve, nem se imagina esse desesperado saracoteio, no qual todo o corpo estremece, pula, sacode, gira, bamboleia, como se quisesse desgrudar-se.Tudo salta, até os crioulinhos que esperneiam no cangote das mães, ou se enrolam nas saias das raparigas.Os mais taludos viram cambalhotas e pincham à guisa de sapos em roda do terreiro. Um desses corta jaca no espinhaço do pai, negro fornido, que não sabendo mais como desconjuntar-se, atirou consigo ao chão e começou de rabanar como um peixe em seco. (...)(José de Alencar, Til)(*) “adumbra-se” = delineia-se, esboça-se.

3 - Para adequar a linguagem ao assunto, o autor lança mão também de um léxico popular, como atestam todas as palavras listadas na alternativa:

a) saracoteio, brasido, rabanar, senzalas. b) esperneiam, senzalas, pincham, delírio. c) saracoteio, rabanar, cangote, pincham.d) fazenda, rabanar, cinzas, esperneiam.e) delírio, cambalhotas, cangote, fazenda.

4 - Na composição do texto, foram usados, reiteradamente,

I. sujeitos pospostos;II. termos que intensificam a ideia de movimento;III. verbos no presente histórico.

Está correto o que se indica em

a) I, apenas.b) II, apenas. c) III, apenas.d) I e II, apenas.e) I, II e III.

5 - Considerada no contexto histórico a que se refere Til, a desenvoltura com que os escravos, no excerto, se entregam à dança é representativa do fato de que:

a) a escravidão, no Brasil, tal como ocorreu na América do Norte e no Caribe, foi branda.b) se permitia a eles, em ocasiões especiais e sob vigilância, que festejassem a seu modo.c) teve início nas fazendas de café o sincretismo das

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culturas negra e branca, que viria a caracterizar a cultura brasileira.d) o narrador entendia que o samba de terreiro era, em realidade, um ritual umbandista disfarçado.e) foi a generalização, entre eles, do alcoolismo, que tornou antieconômica a exploração da mão de obra escrava nos cafezais paulistas.

(UNICAMP 2013) – Leia o trecho para responder às questões a seguir:

(...) Quando o Bugre sai da furna, é mau sinal: vem ao faro do sangue como a onça. Não foi debalde que lhe deram o nome que tem. E faz garbo disso! – Então você cuida que ele anda atrás de alguém? – Sou capaz de apostar. É uma coisa que toda a gente sabe. Onde se encontra Jão Fera, ou houve morte ou não tarda. Estremeceu Inhá com um ligeiro arrepio, e volvendo em torno a vista inquieta, aproximou-se do companheiro para falar-lhe em voz submissa: – Mas eu tenho-o encontrado tantas vezes, aqui perto, quando vou à casa de Zana, e não apareceu nenhuma desgraça. – É que anda farejando, ou senão deram-lhe no rasto e estão-lhe na cola. – Coitado! Se o prendem! – Ora qual. Dançará um bocadinho na corda! – Você não tem pena? – De um malvado, Inhá! – Pois eu tenho! (José de Alencar, Til, em Obra completa, vol. III. Rio de Janeiro: Aguilar, 1958, p. 825.) 6 - O trecho do romance Til transcrito acima evidencia a ambivalência que caracteriza a personagem Jão Fera ao longo de toda a narrativa. a) Explicite quais são as duas faces dessa ambivalência. b) Exemplifique cada face dessa ambivalência com um episódio do romance

7 - (FUVEST 2013) Leia com atenção o trecho de Til, de José de Alencar, para responder ao que se pede.

[Berta] — Agora creio em tudo no que me disseram, e no que se pode imaginar de mais horrível. Que assassines por paga a quem não te fez mal, que por vingança pratiques crueldades que espantam, eu concebo;és como a suçuarana, que às vezes mata para estancar a sede, e outras por desfastio entra na mangueira e estraçalha tudo. Mas que te vendas para assassinar

o filho de teu benfeitor, daquele em cuja casa foste criado, o homem de quem recebeste o sustento; eis o que não se compreende; porque até as feras lembram-se do benefício que se lhes fez, e têm um faro para conhecerem o amigo que as salvou.

[Jão] — Também eu tenho, pois aprendi com elas; respondeu o bugre; e sei me sacrifi car por aqueles que me querem. Não me torno, porém, escravo de um homem, que nasceu rico, por causa das sobras que me atirava, como atiraria a qualquer outro, ou a seu negro. Não foi por mim que ele fez isso; mas para se mostrar ou por vergonha de enxotar de sua casa a um pobre-diabo. A terra nos dá de comer a todos e ninguém se morre por ela.

[Berta] — Para ti, portanto, não há gratidão?

[Jão] — Não sei o que é; demais, Galvão já pôs-me quites dessa dívida da farinha que lhe comi. Estamos de contas justas! acrescentou Jão Fera com um suspiro profundo.

a) Nesse trecho, Jão Fera refere-se de modo acerbo a uma determinada relação social (aquela que o vinculara, anteriormente, ao seu “benfeitor”, conforme diz Berta), revelando o mal-estar que tal relação lhe provoca. Que relação social é essa e em que consiste o mal-estar que lhe está associado?

b) A fala de Jão Fera revela que, no contexto sócio-histórico em que estava inserido, sua posição social o fazia sentir-se ameaçado de ser identificado com um outro tipo social — identificação, essa, que ele considera intolerável. De que identifi cação se trata e por que Jão a abomina? Explique sucintamente.

Respostas

1. Alternativa cJosé de Alencar foi um dos maiores expoentes do Romantismo no Brasil. Entretanto, no capítulo “O samba”, Alencar associa seu estilo à linguagem e à temática da escola imediatamente posterior ao Romantismo, marcada, por exemplo, pela descrição zoomorfi zada das personagens (“começou de rabanar como um peixe em seco”). Trata-se do Realismo-Naturalismo.

2. Alternativa bA escravidão no Brasil foi marcada, por um lado, pela extrema vigilância, como se observa na construção das senzalas que fi cavam próximas e à vista da casa grande, e, por outro, pela permissão dada aos negros para

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festejarem “a seu modo” datas comemorativas cristãs. O capítulo “samba” se inscreve dentro do contexto da festa cristã de São João, realizada na fazenda das Palmas, na qual os negros, devido ao sincretismo religioso, aproveitavam para dançar segundo suas tradições.

3. Alternativa cSão palavras típicas da variante popular: “saracoteio”, “cangote”, “pincham” e “rabanar” (que significa “agitar o rabo ou a cauda”). Todas as outras alternativas contêm ao menos um vocábulo que indiscutivelmenteintegra a variante culta: “senzalas”, “delírio”, “fazenda”, “cinzas”, “esperneiam” e “cambalhota”.

4. Alternativa eUm dos reiterados recursos linguísticos que caracterizam o trecho do capítulo “O samba” do romance Til é a posposição do sujeito aos verbos, como se pode notar em “adumbra-se na escuridão um maciço de construções”, “É aí o quartel ou quadrado da fazenda” ou “dançam os pretos o samba”. Além disso, o narrador imprime dinamicidade à descrição dos cenários e da dança ao empregar expressões e verbos que intensificam a ideia de movimento, seja pelo significado, seja pela sonoridade, como “trêmulos vislumbres das labaredas fustigadas pelo vento” ou “nem se imagina esse desesperado saracoteio, no qual todo o corpo estremece, pula, sacode, gira, bamboleia”.A análise do tempo verbal predominante no trecho precisa levar em consideração o contexto geral da obra: por se tratar de um romance publicado em 1872 acerca de fatos ocorridos em 1846, o presente do indicativo deve ser entendido em seu sentido metafórico, não literal: trata-se do presente histórico, por meio do qual o narrador torna mais atuais acontecimentos do passado.

5. Alternativa cA escravidão no Brasil foi marcada, por um lado, pela extrema vigilância, como se observa na construção das senzalas que fi cavam próximas e à vista da casa grande, e, por outro, pela permissão dada aos negros para festejarem “a seu modo” datas comemorativas cristãs. O capítulo “samba” se inscreve dentro do contexto da festa cristã de São João, realizada na fazenda das Palmas, na qual os negros, devido ao sincretismo religioso, aproveitavam para dançar segundo suas tradições.

6. Resoluçãoa) A ambivalência da personagem é sugerida pela própria designação com que é referida: Jão Fera. Isso porque seu comportamento na trama se caracteriza, de um lado, pela porção humana (ligada ao nome “Jão”) e, de outro, pela dimensão selvagem e animalesca (que se associa ao apelido “Fera”). A proteção que dedica à menina Berta e o amor que sente pela mãe desta,

Besita, comprovam o traço generoso e humanitário de seu caráter, enquanto seu poder de agressividade e sua condição de assassino profissional evidenciam sua tendência à ação bárbara e violenta.

b) A face humana de Jão Fera é fartamente demonstrada pelos inúmeros episódios da narrativa em que protege Berta dos perigos que a assolam, como o ataque de queixadas (capítulo “A garrucha”) ou a ameaça dos inimigos que encurralam a ambos em uma gruta (“Luta”). Sua dimensão mais agressiva é evidenciada quando assassina violentamente seus inimigos (“Vampiro”), quando estraçalha com as próprias mãos o maior deles, Ribeiro (“O cipó”) e ainda quando se vê vítima de seu próprio desejo por Berta (“Luta”), instinto que será vencido pelo afeto que nutre pela moça.

7. Resoluçãoa) No trecho, a relação de Jão Fera com Afonso, o pai de Luís Galvão, é explicitada por Berta, em expressões como: “teu benfeitor”, “em cuja casa foste criado” e “homem de quem recebeste sustento”. Trata-se, portanto,de uma relação de proteção, de dependência e de apadrinhamento. Essa relação lhe provoca mal-estar, por uma atitude da juventude de Luís Galvão, que seduzira e abandonara a jovem Besita, grande paixão de Jão Fera. Além disso, Jão vê na benevolência do grande proprietário apenas o interesse em “se mostrar” superior.

b) Jão rejeita resolutamente a condição de “escravo de um homem que nasceu rico”. No contexto social em que se insere a personagem, a associação com a escravidão era inaceitável porque o trabalho braçal associadoa ela e representado, no romance, pelo uso da enxada, era visto como diminuidor da dignidade humana.

As resoluções e comentários são do curso Anglo:

http://angloresolve.cursoanglo.com.br/oAngloResolve.asp