Tifo aviário - Engormix

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2/10/2014 Tifo aviário - Engormix http://pt.engormix.com/MA-avicultura/saude/artigos/tifo-aviario-alerta-vermelho-t292/165-p0.htm 1/4 Tifo aviário em alerta vermelho Publicado o: 07/07/2010 Autor/s. : Edir Nepomuceno Silva (Presidente da Facta - Fundação Apinco de Ciência e Tecnologia Avícolas) Os olhos do antigo veterinário, experimentado e treinado em centenas de necropsias de aves, não poderiam estar enganados naquela tarde quando assistia a um dos seus clientes; integração de frangos, bem organizada e com excelente controle de biosseguridade. O quadro clínico, os sintomas, e, agora, as lesões, particularmente as dos fígados... Tudo lembrava uma doença há muito erradicada da moderna industria avícola. Mas, sua segurança e experiência eram suficientes para afirmar: É Tifo Aviário. Esta história já seria grave se ficasse somente neste caso. Acontece que - embora guardado em forma de segredo sepulcral em função das graves conseqüências comerciais, econômicas e de imagem da empresa -, outros relatos recentes começaram a aparecer, tanto no Brasil como em outros países da America Latina. Estas informações ocultas e silenciosas escondem uma grave situação que se pretende levantar neste texto. Um pouco sobre o Tifo Aviário Tifo aviário é uma das poucas salmoneloses causadas por um sorovar extremamente adaptado ao hospedeiro:Salmonella Gallinarum. Somente as aves adoecem. A boa notícia nesta salmonelose - se é que se pode dizer "boa" para doença -, é que ela não constitui problema de saúde publica, pois não infecta o homem. Os sintomas nada têm de específicos. Sonolência, apatia, possíveis fezes brancas aderidas a penas da cloaca, posição postural de pingüim em algumas aves adultas em produção. Estas mostram mais os sinais clínicos que as aves jovens. Mortalidade muito variável, mas constante. Pode ser observada em frangos a partir de 30 dias de idade, mas, é mais comum em reprodutoras e poedeiras adultas. O que chama a atenção, mesmo, no Tifo são as lesões, particularmente as do fígado (Fig. 1). Quase sempre aumentado de volume e com uma coloração mais escura, quase negra em alguns casos. Pontos branco-amarelados podem ser observados na sua superfície e se aprofundam no parênquima do órgão. Estas lesões se reproduzem no baço. O ovário pode apresentar alterações com a presença de gemas murchas, liquefeitas, hemorrágicas, desfeitas. Nódulos cardíacos e no peritônio podem ser esporadicamente observados. A infecção por S. Gallinarum é, sempre, sistêmica. Sua presença intestinal é transitória - ao contrário das infecções paratifoides das aves -, resultante da eliminação da mesma na luz intestinal via bile. Portanto, há pouca excreção fecal da bactéria, e sua sobrevivência na cama ou meio ambiente é por curto período de tempo. Assim, sua transmissão é, essencialmente, via ovos ou transovariana. Mesmo assim, apenas alguns poucos ovos de lotes infectados albergam esta salmonela. A razão é que as galinhas infectadas deixam de botar ovos, rapidamente, pelas lesões ovarianas provocadas pela bactéria. Teste de Pulorose. Aves infectadas desenvolvem elevados títulos de anticorpos que são facilmente detectados na prova de soroaglutinação rápida (SAR) frente ao antígeno produzido com a bactéria íntegra inativada. Esta foi a base racional para o desenvolvimento do "Teste de Pulorose". Este teste consiste na realização do teste de SAR realizado sobre uma placa usando uma gota de sangue total e outra do antígeno colorido inativado produzido com cepa de S. Pullorum (tem a mesma composição antigênica somática da S. Gallinarum). Este teste era realizado na própria granja em 100% das aves dos nos lotes de reprodutoras antes do inicio do aproveitamento de ovos para incubação. As aves reagentes eram eliminadas do lote até completa negatividade comprovada por exames bacteriológicos. Usando deste procedimento, a avicultura livrou-se do Tifo há décadas. Vacinação para S. Enteritidis e o Tifo Aviário Nos últimos anos com a situação provocada pela S. Enteritidis (SE) na avicultura mundial, várias vacinas foram desenvolvidas e licenciadas para uso em poedeiras e reprodutoras em todo o mundo. A maioria delas fabricada com cepas íntegras lisas, e para aplicação injetável. Acontece que - embora móvel como todas as demais salmonelas -, SE tem a composição antigênica somática idêntica a de S. Gallinarum. Assim, com o uso da vacina de SE, o teste de pulorose teve que ser abolido pelas reações cruzadas causadas pela vacinação. Como o Tifo estava erradicado e as infecções por SE graves e emergentes, priorizou-se o controle deste último. Na verdade, o teste de pulorose já vinha sendo paulatinamente reduzido e abolido nos planteis reprodutores. E, para piorar, praticamente todos os exames de monitoria para salmonelas oficialmente aprovados falham na detecção de S. Gallinarum. Desta maneira, o cenário para o retorno do Tifo estava perfeito. Falhas no diagnóstico do Tifo Aviário Abstendo-se dos sintomas clínicos e lesões - somente visíveis em quadros graves e agudos -, o diagnóstico do Tifo requer, (8791) (3)

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    Tifo avirio em alerta vermelhoPublicado o: 07/07/2010

    Autor/s. : Edir Nepomuceno Silva (Presidente da Facta - Fundao Apinco de Cincia e Tecnologia Avcolas)

    Os olhos do antigo veterinrio, experimentado e treinado em centenas de necropsias de aves, no poderiam estarenganados naquela tarde quando assistia a um dos seus clientes; integrao de frangos, bem organizada e com excelentecontrole de biosseguridade. O quadro clnico, os sintomas, e, agora, as leses, particularmente as dos fgados... Tudolembrava uma doena h muito erradicada da moderna industria avcola. Mas, sua segurana e experincia eramsuficientes para afirmar: Tifo Avirio.

    Esta histria j seria grave se ficasse somente neste caso. Acontece que - embora guardado em forma de segredosepulcral em funo das graves conseqncias comerciais, econmicas e de imagem da empresa -, outros relatosrecentes comearam a aparecer, tanto no Brasil como em outros pases da America Latina. Estas informaes ocultas esilenciosas escondem uma grave situao que se pretende levantar neste texto.

    Um pouco sobre o Tifo Avirio

    Tifo avirio uma das poucas salmoneloses causadas por um sorovar extremamente adaptado aohospedeiro:Salmonella Gallinarum. Somente as aves adoecem. A boa notcia nesta salmonelose - se que se pode dizer"boa" para doena -, que ela no constitui problema de sade publica, pois no infecta o homem. Os sintomas nada tmde especficos. Sonolncia, apatia, possveis fezes brancas aderidas a penas da cloaca, posio postural de pingim emalgumas aves adultas em produo. Estas mostram mais os sinais clnicos que as aves jovens. Mortalidade muito varivel,mas constante. Pode ser observada em frangos a partir de 30 dias de idade, mas, mais comum em reprodutoras epoedeiras adultas.

    O que chama a ateno, mesmo, no Tifo so as leses, particularmente as do fgado (Fig. 1). Quase sempre aumentadode volume e com uma colorao mais escura, quase negra em alguns casos. Pontos branco-amarelados podem serobservados na sua superfcie e se aprofundam no parnquima do rgo. Estas leses se reproduzem no bao. O ovriopode apresentar alteraes com a presena de gemas murchas, liquefeitas, hemorrgicas, desfeitas. Ndulos cardacos eno peritnio podem ser esporadicamente observados.

    A infeco por S. Gallinarum , sempre, sistmica. Sua presena intestinal transitria - ao contrrio das infecesparatifoides das aves -, resultante da eliminao da mesma na luz intestinal via bile. Portanto, h pouca excreo fecal dabactria, e sua sobrevivncia na cama ou meio ambiente por curto perodo de tempo. Assim, sua transmisso ,essencialmente, via ovos ou transovariana. Mesmo assim, apenas alguns poucos ovos de lotes infectados albergam estasalmonela. A razo que as galinhas infectadas deixam de botar ovos, rapidamente, pelas leses ovarianas provocadaspela bactria.

    Teste de Pulorose.

    Aves infectadas desenvolvem elevados ttulos de anticorpos que so facilmente detectados na prova de soroaglutinaorpida (SAR) frente ao antgeno produzido com a bactria ntegra inativada. Esta foi a base racional para odesenvolvimento do "Teste de Pulorose". Este teste consiste na realizao do teste de SAR realizado sobre uma placausando uma gota de sangue total e outra do antgeno colorido inativado produzido com cepa de S. Pullorum (tem a mesmacomposio antignica somtica da S. Gallinarum). Este teste era realizado na prpria granja em 100% das aves dos noslotes de reprodutoras antes do inicio do aproveitamento de ovos para incubao. As aves reagentes eram eliminadas dolote at completa negatividade comprovada por exames bacteriolgicos. Usando deste procedimento, a avicultura livrou-sedo Tifo h dcadas.

    Vacinao para S. Enteritidis e o Tifo Avirio

    Nos ltimos anos com a situao provocada pela S. Enteritidis (SE) na avicultura mundial, vrias vacinas foramdesenvolvidas e licenciadas para uso em poedeiras e reprodutoras em todo o mundo. A maioria delas fabricada com cepasntegras lisas, e para aplicao injetvel. Acontece que - embora mvel como todas as demais salmonelas -, SE tem acomposio antignica somtica idntica a de S. Gallinarum. Assim, com o uso da vacina de SE, o teste de pulorose teveque ser abolido pelas reaes cruzadas causadas pela vacinao. Como o Tifo estava erradicado e as infeces por SEgraves e emergentes, priorizou-se o controle deste ltimo. Na verdade, o teste de pulorose j vinha sendo paulatinamentereduzido e abolido nos planteis reprodutores. E, para piorar, praticamente todos os exames de monitoria para salmonelasoficialmente aprovados falham na deteco de S. Gallinarum. Desta maneira, o cenrio para o retorno do Tifo estavaperfeito.

    Falhas no diagnstico do Tifo Avirio

    Abstendo-se dos sintomas clnicos e leses - somente visveis em quadros graves e agudos -, o diagnstico do Tifo requer,

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    obrigatoriamente, o uso de tcnicas laboratoriais. As amostragens de fezes, ambiente e cama so de pouca valia nadeteco de S. Gallinarum pelas razoes anteriormente mencionadas.

    Como os testes sorolgicos presuntivos ficam prejudicados nos lotes vacinados, o isolamento e identificao passam a serferramenta de fundamental importncia. Entretanto, ela apresenta algumas particularidades singulares. Para a tentativa deisolamento de S. Gallinarum preciso partir de rgos de aves suspeitas. Se o material for mal coletado ou apresentaroutros contaminantes bacterianos competidores, o isolamento fica comprometido. Facilmente, nestes casos, tem-se odiagnstico da presena de Escherichia coli ou Proteus spsem o isolamento do agente primrio causal. E, fica por a.Adiciona-se aqui o fato das colnias de S. Gallinarum, em placas de Agar, crescer mais lentamente e ser bem menoresque as das outras salmonelas. Alem disto, suas reaes bioqumicas nos meios de triagem (pouca produo de H2S eoutros gases) confundem a mente pouco experiente dos bacteriologistas. Como nos casos iniciais de Tifo os achadosclnicos so, na maioria das vezes insignificantes, o problema passa despercebido.

    De onde (re) surgem os casos de Tifo Avirio?

    A grande e importante preocupao gerada pelos problemas de sade pblica devido s salmonelas em produtosavcolas, tanto para o consumo interno e, principalmente, pela exigncia dos importadores, drenou todas as atenes parao controle das infeces paratifoides das aves. Assim, tcnicas sofisticadas de biosseguridade foram desenvolvidas eaplicadas nas granjas avcolas. Mas, bom lembrar que, a adoo destas modernas tcnicas, por si s, no asseguram ocontrole para o Tifo Avirio.

    A (re) emergncia dos casos de Tifo Avirio tem se apresentado sob duas situaes principais: Quadros espordicos emfrangos, na maioria acima de 30 dias de idade, mostrando mortalidade constante e crescente, mas nunca com ndicesmuito elevados. Leses nos rgo abdominais, incluindo fgado, bao e corao levam a suspeita inicial de Colibacilose;muitas vezes erroneamente confirmada nos exames laboratoriais. Resultados parcialmente positivos da aplicao deantibioticoterapia acabam reforando a falsa suspeita clnica. A repetio aleatria do quadro, em diferentes lotes defrangos, acaba despertando para outro problema que no o diagnostico inicial. A rastreabilidade da situao acabalevando a origem para as matrizes, onde a suspeita de Tifo fica mais evidente.

    Em outra situao, a suspeita comea nos lotes de matrizes em produo, com as mesmas observaes descritas para oslotes de frangos e o mesmo encaminhamento. Nas matrizes as leses hepticas so mais evidentes, podendo ou nohaver as clssicas leses nos ovrios. rara a observao de aves doentes na inspeo do lote, embora a mortalidade -aparentemente ocorrendo no perodo noturno -, seja crescente.

    Os quadros em frangos e matrizes, quase sempre, ocorrem simultaneamente, embora possam passar desconectados poralgum tempo. Os casos em frangos, sempre, envolvem as matrizes como origem.

    Devido as particularidade de baixa transmissibilidade - mesmo a transovariana - a doena, contudo presente, pode passardespercebida por meses em uma integrao de frangos.

    Rastrear a origem do Tifo em matrizes uma tarefa extremamente complicada e difcil. A principal origem a horizontal,da reprodutora para a sua prognie. Como a infeco raramente revelada em aves jovens; quando ela diagnosticadana vida adulta, fica difcil culpar o fornecedor dos lotes pelo problema. As questes internas dos produtores de materialgentico, para esta questo, so tratadas sob estrito segredo a sete-chaves. Sobra assim, o relacionamento ticocomercial para o encaminhamento da questo, quando o mesmo no desmascarado pela ocorrncia simultnea emvrios lotes e clientes.

    Outras fontes de infeco a considerar so as criaes de aves caipiras, de fundo de quintal, ou mesmo, pequenascriaes no industriais, e aves ornamentais. Estas aves podem funcionar como portadoras ss. A considerar que aexcreo fecal de S. Gallinarum tem taxa baixa, e que o agente vive pouco tempo no meio ambiente, necessrio quelotes industriais tenham ntimo contato com estas criaes, seja atravs do contato direto ave-a-ave, ou atravs das suasfezes contaminando material de cama ou outro que adentre a um galpo sem a necessria desinfeco prvia.

    Como lidar com os (re) emergentes casos de Tifo Avirio

    Uma vez diagnostica a doena atravs do perfeito isolamento e identificao do agente, a conduta clssica a eliminaosumria dos lotes sabidamente confirmados como infectados, e dos seus ovos. Muitas das vezes a empresa, em funoda dimenso do problema diagnosticado e das conseqncias pelas perdas nesta prtica, tem dificuldade em adotar esteprocedimento.

    comum que, nos casos de Tifo, apenas um ou alguns galpes apresentem a infeco. E, mesmo assim, em apenasalguns boxes, no contaminando os demais, o que no muito raro.

    Como nos tempos atuais o uso de vacina inativada de SE tem sido uma prtica comum em matrizes, e que esta vacinaointerfere com o teste de pulorose, a ferramenta diagnstica passa ser a bacteriolgica. Nestes casos recomendamos acoleta assptica e individual de amostras de fgado. Fazer a colheita de aves recm mortas ou moribundas sacrificadas,tendo a precauo de imergi-las em soluo desinfetante antes da abertura de orifcio na cavidade abdominal suficientepara a visibilidade da superfcie do fgado. Os suabes devem ser plaqueados diretamente sobre placas de Agar de baixaimpedincia para salmonelas e colocados em forma de "pool" em caldo de pr-enriquecimento no seletivo por no maisque 12 horas, para os procedimentos posteriores de isolamento.

    Caso os lotes no tenham recebido vacinao para SE, adota-se a conduta clssica que a realizao do teste de

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    pulorose em 100% das aves, eliminando-se as reagentes. Uma amostragem destas deve ser examinada para confirmaodiagnstica. O teste de pulorose deve ser repetido a intervalos de trs a quatro semanas para se considerar o lote negativoe passar ao aproveitamento dos ovos para incubao. Uma empresa com surto de Tifo deve abolir, temporariamente, ouso da vacina inativada de SE.

    A medicao com antibiticos, notadamente as fluorquinolonas, tem bom efeito na reduo da mortalidade. Entretanto, elaprecisa ser repetida a intervalo de tempo. Mas, nenhum tratamento capaz de erradicar a infeco. Em casos extremos,pode ser tentada a vacinao. Neste caso, uma antiga vacina viva denominada de S. Gallinarum 9R ainda o melhorproduto. Ela precisa ser injetada antes que os lotes venham adquirir a infeco. Pelo menos duas doses so necessrias,e, algumas vezes, repeties a cada doze semanas.

    Qualquer que seja a situao, a meta ser, sempre, a erradicao. O retorno da ocorrncia de doenas como o TifoAvirio pode significar negligncia e falhas nos processos bsicos de diagnstico e preveno das graves doenasavcolas.

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    Figura 1. Fgados de matrizes pesadas em produo infectadas pelo Tifo Avirio mostrando aumento de volume,alterao na colocao, leses na sua superfcie (cortesia de Patrcio, I. 2009).