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ISSN 2236-4366 ANAIS

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ISSN2236-4366

ANAIS

Anais do XII SIMCAM

Simpsio Internacional de Cognio e Artes Musicais

Marcos Nogueira, editor

Anais do XII SIMCAM

Simpsio Internacional de Cognio e Artes Musicais

Universidade Federal do Rio Grande do Sul Regina Antunes Teixeira dos Santos, Coordenadora Geral

Porto Algre, 24 a 27 de maio de 2016

Anais do XII Simpsio Internacional de Cognio e Artes Musicais 2016

Realizao: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL - UFRGS

Reitor Carlos Alexandre Netto Pr-Reitor de Pesquisa Jos Carlos Frantz Pr-Reitora de Extenso Sandra de Deus Diretora do Instituto de Artes Lucia Becker Carpena Chefe do Departamento de Msica Luciana Prass Coordenador do PPGMUS Daniel Wolff Coordenadora do Programa de Extenso do DEMUS Regina Antunes Teixeira dos Santos

Promoo: ASSOCIAO BRASILEIRA DE COGNIO E ARTES MUSICAIS

Presidente Rosane Cardoso de Arajo Vice-Presidente Maurcio Dottori Secretrio Luis Felipe Oliveira Tesoureira Clara Mrcia de Freitas Piazzetta Relaes Pblicas Beatriz Raposo de Medeiros Web Designer Rael Gimenes Toffolo

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COMIT CIENTFICO SIMCAM12 Diretor Marcos Nogueira Comit Cientfico Antenor Ferreira Corra Beatriz Raposo de Medeiros Clara Piazzetta Luis Felipe Oliveira Rael Gimenes Toffolo Rosane Cardoso Arajo Pareceristas Aline Guterres Morim, lvaro Borges, Ana Cristina Tourinho, Andr Sinico, Anna Rita Addessi, Antenor Ferreira Corra, Beatriz Ilari, Beatriz Raposo de Medeiros, Camila Siqueira Golva Acosta Gonalves, Carla Ladeira Pimentel guas, Christian Benvenuti, Clara Mrcia Piazzetta, Claudia Regina Zanini, Cristiane Nogueira, Cristiane Otutumi, Cristina Wolffenbttel, Danilo Ramos, Diana Santiago, Edwin Pitre-Vsques, Elena Patersotti, Evandro Higa, Geraldo Lima, Graziela Bortz, Gregrio Queiroz, Hugo Leonardo Ribeiro, Jos Davison da Silva, Jos Eduardo Fornari, Liliam Barros Cohen, Luis Felipe Oliveira, Luiz Naveda Marcela Lichtensztejn, Marcelo Fernandes Pereira, Marcelo Gimenes, Marcos Nogueira, Maria Bernadete Castelan Pvoas, Marlia Nunes-Silva, Maurcio Dottori, Noemi Ansay, Rael Gimenes Toffolo, Regina Antunes Teixeira dos Santos, Renato Sampaio, Ricardo Dourado Freire, Rosane Cardoso de Arajo, Rosemyriam Cunha, Sandra Rocha, Sheila Volpi, Sonia Ray, Tais da Silva, Tereza Raquel Alcantara Silva, Valria Cristina Marques, Viviane Beineke

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XII SIMPSIO INTERNACIONAL DE COGNIO E ARTES MUSICAIS SIMCAM12

Coordenao Geral Regina Antunes Teixeira dos Santos Diretor do Comit Cientfico Marcos Nogueira Comisso Executiva Regina Antunes Teixeira dos Santos Rosane Cardoso Arajo Marcos Nogueira Clara Mrcia Piazzetta Rael Gimenes Toffolo Comisso Artstica Marcos Nogueira Regina Antunes Teixeira dos Santos Rosane Cardoso Arajo Webmaster Rael Gimenes Toffolo Designer Grfico Paula Ebert Harsteln Bolsistas PROEXT Pedro Paulo Leal Medeiros Beatriz DominguesMartin Weiler Assistentes de Produo Alexandre Alves (funcionrio do CME-IA-UFRGS) Didon Perius Elisa Cunha Murilo Bordignon Nikolas Gomes Ferranddis Rafael Bueno Suelen Garcia Melo Willian Lovato Produo do Caderno de Programao Marcos Nogueira (Digitao e diagramao) Regina Antunes Teixeira dos Santos (Reviso) Rosane Cardoso de Arajo (Reviso) Paula Ebert Harsteln (Capa)

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Apresentao Bem-vindos ao SIMCAM 2016!

m nome do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), temos o prazer de recepcion-los no XII Simpsio Internacional de Cognio e Artes Musicais SIMCAM12, que estar

ocorrendo nessa instituio no perodo de 24 a 27 de maio de 2016, em Porto Alegre/RS.

Acolher a dcima segunda edio do SIMCAM tem sido um desafio cotidiano de aprendizado em termos de organizao e gerenciamento deste tipo de evento acadmico-cientfico. Neste sentido, gostaria de agradecer o convite e a confiana da Associao Brasileira de Cognio e Artes Musicais (ABCM) pela oportunidade proporcionada. Gostaria tambm de realar o suporte e a disposio da ABCM em ajudar, orientar e atuar em parceria para a realizao deste evento. Desta forma, agradeo especialmente presidente desta associao, Prof. Dr. Rosane Cardoso que esteve incondicionalmente presente e atuante em todos os trmites deste evento, e ao Prof. Dr. Marcos Nogueira, pelo direcionamento e aconselhamento seguro e generoso, assim como pela atuao de liderana frente ao comit cient- fico deste evento.

Tendo recebido mais de 100 trabalhos e contando com cerca de 80 trabalhos aceitos, gostaramos de agradecer aos autores nacionais e estrangeiros em compartilhar seus conhecimentos neste evento. Esperamos que essa semana seja uma excelente oportunidade para discutirmos tanto resultados, como proposies terico-conceituais no campo da cognio musical, que vem cada vez mais se consolidando com uma vertente de investigao consistente para a rea de Msica no Brasil.

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Finalmente, agradeo ainda direo do Instituto de Artes e ao Departamento de Msica (DEMUS-UFRGS) pela infraestrutura e apoio na realizao deste evento; Capes, FAPERGS, assim como ao Programa de Extenso em Msica do DEMUS, ao PPGMUS e COMPESQ desta intituio (UFRGS) pelos financiamentos concedidos.

Desejamos a todos um produtivo, agradvel e profcuo simpsio. Regina Antunes Teixeira dos Santos

Coordenadora Geral SIMCAM12

m nome da diretoria da ABCM (Associao Brasileira de Cognio e Artes Musicais) quero dar as boas vindas a todos os convidados, pesquisadores, professores, alunos e colaboradores de diferentes instituies do Brasil e do

exterior, que vm participar do SIMCAM 12 com o objetivo de divulgar estudos e pesquisas acadmicas que contribuem para a ampliao da rea da cognio musical no Brasil e no mundo.

O SIMCAM de 2016 marca uma nova etapa na histria de nossa associao, pois est sendo realizado aps a consolidao de duas parcerias internacionais muito importantes: a assinatura dos convnios com a SACCoM (Sociedad Argentina para las Ciencias Cognitivas de la Msica) e a AEPMIM (Asociacin Espaola de Psicologa de la Msica y la Interpretacin Musical). Com estas aes a ABCM busca, cada vez mais, fortalecer e promover as parcerias internacionais e estreitar laos de amizade e colaborao com pesquisadores e instituies no brasileiras.

Aproveito tambm nesta saudao para agradecer especialmente o empenho da coordenadora geral do evento, a Prof. Dr. Regina Antunes que dirigiu brilhantemente a parceria da ABCM com o Instituto e Artes e o Programa de Ps-Graduao em Msica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Agradeo, por fim, a todos os professores convidados, pareceristas, pesquisadores, performers, alunos de graduao e ps-graduao, alunos monitores, enfim, a todos aqueles que contriburam de algum modo para que o evento fosse organizado e

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realizado, em 2016, com grande xito, incluindo a colaborao institucional de UFRGS, Ca- pes e FAPERGS.

Saudaes a todos!

Rosane Cardoso de Arajo Presidente da ABCM

com imensa satisfao que vemos, mais uma vez, o Simpsio Internacional de Cognio e Artes Musicais, SIMCAM, agora em sua 12 edio, trazer a pblico um conjunto importante de comunicaes de pesquisa nas diferentes subreas da Cognio Musical. Em 2016, o evento ultrapassou

pela primeira vez o nmero de 100 trabalhos submetidos, seja de pesquisadores experientes, seja de resultados de pesquisa de doutorado, mestrado ou iniciao cientfica. O principal frum brasileiro de pesquisa em cognio musical recebeu contribuies de instituies de todas as regies do pas, alm de contribuies de pesquisadores vinculados a instituies da Argentina, Colmbia, Inglaterra e Itlia.

O estreitamento dos laos da pesquisa em cognio musical brasileira com a de centros de pesquisa estrangeiros, com especial destaque para os de pases vizinhos, vem, a cada ano, se tornando mais consistente. No toa este ano marca o incio de um processo de formalizao de convnios e acordos de cooperao da Associao Brasileira de Cognio e Artes Musicais (ABCM) com instituies da Amrica do Sul, como a Sociedad Argentina para las Ciencias Cognitivas de la Msica (SACCoM) e a Asociacin Colombiana de Investigadores en Psicologa de la Msica y Educacin Musical (PSICMUSE), bem como com a Asociacin Espaola de Psicologa de la Msica y la Interpretacin Musical (AEPMIM), dedicadas pesquisa na rea. Essa rede de colaboraes e intercmbios representa, certamente, um passo decisivo para uma maior visibilidade e internacionalizao da produo cientfica dos pases envolvidos.

A comunidade cientfica encontrar nesta edio do Simpsio a publicao de pesquisas em crenas de autoeficcia, autodeterminao, motivao, autorregu-lao da aprendizagem, experincia de fluxo, msica e linguagem, aprendizagem e

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tecnologia, prtica deliberada, imagtica musical, metacognio, desenvolvimento cognitivo, msica e emoo, prticas musicoteraputicas, memria e ateno, percepo auditiva, dentre inmeros outros objetos de estudo e mtodos em cognio da msica. Os trabalhos foram programados em sesses de comunicao oral e de psteres, durante o evento, considerando-se alguns critrios de afinidade temtica. Assim, os textos completos so aqui apresentados levando-se em conta esta ordem de apresentao. O contedo do presente volume, apresentado durante o evento, estar permanentemente disponibilizado no stio eletrnico da ABCM.

Merecem todo o nosso respeito e agradecimento a equipe organizadora do IA-UFRGS, representada por sua coordenadora geral, Dr. Regina Antunes Teixeira dos Santos, pela iniciativa e esforo para realizar este evento to significativo para o desenvolvimento da rea no pas, e a diretoria da ABCM, na pessoa de sua presidente, Dr. Rosane Cardoso de Arajo, que vem obtendo conquistas importantes para a consolidao da entidade promotora da pesquisa em Cognio Musical no pas. Agradeo, pessoalmente, o convite para dirigir o comit cientfico do Simpsio, assim como a generosidade com que diretores de avaliao e pareceristas aceitaram a tarefa de examinar os trabalhos submetidos.

Marcos Nogueira Diretor do Comit Cientfico do SIMCAM12

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Sumrio PROGRAMAO GERAL, 18

CONFERNCIAS - Resumos, 23 Peter Webster (USC United State of America)

Seven big ideas in music teaching and learning: Implications for cognitive research and practice

Isabel Cecilia Martnez (UNLP Argentina) Msica, cuerpo y significado: El giro epistemolgico en el camino hacia el encuentro de la experiencia musical

Eugenia Costa-Giomi (OSU United State of America) The sounds of early childhood

MESAS REDONDAS Resumos, 29

COMUNICAES ORAIS Camila Betina Rpke

Crenas de autoeficcia dos professores de msica que atuam na educao infantil: Uma pesquisa em andamento, 39

Fernanda Krger O perfil de formao musical do professor que trabalha com msica no ensino mdio e a sua relao com as crenas de autoeficcia, 47

Aline Seligson Werner Professores dos anos iniciais e suas crenas de autoeficcia, 54

Gina Samoa Neves O perfil e as crenas de autoeficcia dos professores de msica que atuam nos anos finais do ensino fundamental, 61

Cristina Mie Ito Cereser, Mrio Andr Wanderley Oliveira, Liane Hentschke Um estudo sobre crenas de autoeficcia de professores de msica para utilizar as TIC no ensino pblico brasileiro, 70

Francine Kemmer Cernev O desenvolvimento da autonomia dos alunos para a aprendizagem musical em sala de aula: Uma pesquisa sob a perspectiva da Teoria da Autodeterminao, 78

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Flvia de Andrade Campos Rosane Cardoso de Arajo Um estudo sobre motivao e estado do fluxo em aulas de musicalizao, 87

Marina Maugeri Santos, Luiz B. P. Amato, Adriana N. A. Mendes A motivao para Shinichi Suzuki e o ensino baseado na promoo de autonomia, 96

Tais Dantas da Silva Motivao e Licenciatura em Msica: Um estudo dos processos motivacionais a partir da Teoria da Autodeterminao, 104

Anna Rita Addessi, Luisa Bonfiglioli, Nick Clough The impact of teachers music training on flow experience and emotion regulation of students and teachers in the framework of LINK project, 112

Reginaldo Carvalho Neves, Roanny Phannuelly Marinho Silva Teoria das inteligncias mltiplas no ensino e aprendizagem da msica: A aprendizagem musical em diferentes perfis intelectuais, 121

Maria Luiza Santos Barbosa, Diana Santiago Msica e linguagem: Uma reviso integrative, 130

Djenane Vieira Jovens, mdias e msica: Rap e identidade cultural, 138

Milson Casado Fireman Medidas de leitura musical: Construo do Teste de Flashes, 148

Ana Cristina Gama dos Santos Tourinho, Roberta Gurgel Azzi Crenas de autoeficcia de violonistas para atuao professional, 156

Luciana Hamond A natureza do feedback na aprendizagem e ensino de piano de nvel avanado com uso de tecnologia: Um estudo de caso, 164

Sara Cohen, Salomea Gandelman Contribuies da psicologia experimental e da prtica pedaggica de professores de piano para a performance da polirritmia, 173

Elsa Rene Perdomo Guevara Do the meanings that performers attribute to performance predict the quality of their performance experience?, 182

Lucas Ferreira Piccoli varivel: A utilizao de estratgias de planejamento de sesses de estudo por alunos universitrios de violo, 191

Juliana Lima Verde Ricardo Dourado Freire Desenvolvimento da expressividade no violino: Estudo de caso de

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composies de uma criana, 199 Celio Roberto Eyng, Magda Floriano Damiani

Imagtica musical: Entre o "corpo sem mente" e a "cognio incorporada", 208

Marcelo Rodrigues de Oliveira, Michele de Almeida Rosa Rodrigues Relato de experincia: Processo criativo musical no contexto formal do ensino regular, 217

Jos Antnio Silva, Claudia Oliveira Zanini Cognio musical: Relaes entre a teoria sociointeracionista e os conceitos de enculturao e treino para o ensino musical escolar, 224

Aline Lucas Guterres Morim Compreendendo a construo meldica de Daniel: Processo de composio musical, 233

Bruno Felix da Costa Almeida, Cristina Rolim Wolffembttel Msica e pesquisa-ao em uma escola de ensino fundamental de Montenegro-RS, 242

Aluizio Barbosa de Oliveira Neto, Arcia Ferigato, Thiago de Almeida Campolina, Ravi Shankar Viana Domingues, Mauricio Alves Loureiro

Ferramentas de anlise emprica e metacognio no processo de interpretao musical, 250

Igor Mendes Krger, Veridiana de Lima Gomes Krger Modelo de sistemas para a criatividade e Teoria Social Cognitiva: Uma relao complexa de complementaridade, 258

Pedro de Alcntara Senra de Oliveira Neto Criao e validao de instrumentos de pesquisa: Conscincia intervalar e proficincia em solfejo, 267

Marcos Botelho Lage O ensino de trombone nas universidades do Brasil: Resultados preliminaries, 274

Cesar Augusto Pereira da Silva, Ricardo Goldemberg Anlise da entoao praticada por flautistas profissionais: Um estudo de caso a partir de performances da Partita para flauta solo, BWV 1013, de J. S. Bach, 283

Heitor Marques Marangoni, Ricardo Dourado Freire Uma discusso entre os conceitos de ouvido interno, representao mental, imagtica, audiao e prtica mental e suas implicaes para a cognio musical, 292

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Veridiana de Lima Gomes Krger, Igor Mendes Krger O papel da experincia vicria na motivao para desenvolvimento musical: O caso El Sistema, 301

Ricardo Dourado Freire Utilizao da srie harmnica e da srie sub-harmnica como recurso pedaggico em aulas de percepo musical e solfejo, 311

Camilla dos Santos Silva, Fabio Scarduelli Aprendendo a aprender: O ensino de instrumento musical com base na autorregulao da aprendizagem, 320

Roberto Marcos Gomes de Onofrio O professor como agente motivador em cursos de violo em ambientes digitais: Uma pesquisa comparative, 329

Roberto Marcos Gomes de Onofrio O repertrio popular de violo para iniciantes como agente motivador: Um estudo comparativo entre o aprendizado nos ambientes presencial e digital, a partir da opinio dos alunos, 337

Eduardo de Carvalho Torres Estudos em motivao: A perspectiva da performance musical, 346

Rebecca Rodrigues, Regina Antunes Teixeira dos Santos A comunicao de nuances da emoo triste em Ponteios de Camargo Guarnieri: Relaes entre a estrutura musical e recursos expressivos segundo a percepo de estudantes universitrios, 354

Luis Antonio Braga Vieira Junior Autorregulao da aprendizagem: Possibilidades para estudos da aprendizagem musical, 363

Luiz Naveda, Cssio Campos Representaes do patrimnio imaterial como estratgias cognitivas incorporadas, 371

Gustavo Schulz Gattino, Igor Rodrigues, Gustavo Araujo A musicoterapia improvisacional em ensaios controlados randomizados no Brasil: Uma reviso de literature, 383

Aline Moreira Andre, Cristiano Mauro Assis Gomes, Cybelle Maria Veiga Loureiro Escalas Nordoff Robbins: Reviso bibliogrfica, 392

Vernica MagalhesRosrio, Cybelle Maria Veiga Loureiro Estudo sobre imagem musical e habilidades visuais, 400

Felipe de Souza, Gustavo Schulz Gattino Musicoterapia para educadores: Uma atuao dentro da viso orgnica

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da escolar, 408 Marlia Nunes-Silva, Pedro Henrique Santos Abreu, Flvia Neves Almeida, Vitor Geraldi Haase

A cognio musical em adolescentes com Sndrome de Williams: Anlise de uma srie de casos clnicos, 415

Clara Mrcia Piazzetta, Fernanda Zaguini Intervenes musicoteraputicas para o trabalho de reabilitao neurolgica e suas bases tericas, 425

Rafael Moreira Vanazzi de Souza, Vilson Zattera Anlise da cognio musical de leitores de musicografia Braille, 435

Patricia M. Vanzella, Joana B. Balardin, Rogrio A. Furucho, Joo R. Sato Correlatos neurais de processos cognitivos envolvidos na performance de duos de violinistas: Relato de pesquisa em fase de coleta de dados, 444

Fabiana Bonilha, Vilson Zattera, Jos Eduardo Fornari Modelos computacionais para a musicografia Braille, 452

Luiz Carlos Martins Loyola Filho O desenvolvimento da leitura rtmica primeira vista a partir do mtodo O Passo, 461

Jssica de Oliveira Sabino, Lucyanne de Melo Afonso Princpios metodolgicos do ensino de violino para crianas com deficincia visual: Uma abordagem sobre o Mtodo Suzuki, 470

Ceclia Paulozzi De Melo, Vilson Zattera, Adriana do Nascimento Arajo Mendes A aquisio de habilidades musicais: Caminhos para o desenvolvimento de crianas com deficincia, 479

Darcy Alcantara Neto Anlise e categorizao de melodias para a leitura cantada primeira vista: Consideraes para a implementao de um algoritmo computacional

Yuri Prado Padronizao no samba-enredo: Uma abordagem cognitive, 496

Jorge Csar de A. Pires, Silvia S. D. Pillotto, Jane M. R. Voigt, Mirtes A. L. Strapazzon Sentidos e experincias na docncia: Experimentando a embocadura na flauta transversal, 504

Danilo Ramos, Fernando Kinach Loureiro Mapeamento de estudos sobre a aquisio de expertise em performance de msica popular instrumental brasileira publicados nos anais do SIMCAM

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entre 2006 e 2015, 514 Danilo Ramos, Gabriel Moreira Machado, Vinicius Bastos Gomes

Estratgias cognitivas empregadas na preparao da performance do Frevo de Egberto Gismonti para piano solo, 523

Marcos Mesquita Segmentation and juxtaposition: Subtlety of musical procedures, 532

Bernardo Aguiar de Souza Penha, Jos Eduardo Fornari Um estudo introdutrio sobre a transmisso do significado simblico em msica, 541

Hctor Garcs, Guilherme Bertissolo Aproximaes ao espao musical, 550

Nilo Rafael Mello Tempo da msica: Perspectivas subjetivas de movimento, 558

Rafael Puchalski, Regina Antunes Teixeira dos Santos A percepo de cadncias musicais sob a ptica cognitiva: Um estudo exploratrio, 564

Cybelle Maria Veiga Loureiro, Vernica Magalhes Rosrio Estudos dos conceitos neuropsicolgicos de imagem musical e visual, 571

Cassius Roberto Dizar Bonfim, Anahi Ravagnani, Renata Franco Severo Fantini Educao musical, neurocincias e cognio: Uma reviso bibliogrfica dos anais do SIMCAM, 578

Marcos Nogueira O sentido do inesperado: Resposta de orientao em msica, 587

Pedro Omar Baracaldo Sistema para la representacin grfico-esquemtica de alturas y duraciones musicales, 598

Genoveva Salazar Hakim Las prcticas auditivas musicales en escenarios de formacin universitaria, 604

Diones Ferreira Correntino A pedagogia Third Stream como caminho para aquisio de vocabulrio musical nas prticas de improvisao ao piano, 613

Joao Batista Costa de Souza, Daniel Wolff Memria e aprendizagem de obras para violo em afinaes no usuais, 622

Jos Davison da Silva Jnior, Diana Santiago A utilizao da entrevista autobiogrfica no estudo das memrias

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autobiogrficas evocadas pela msica, 631 Mnica Cajazeira Santana Vasconcelos, Diana Santiago

Memria autobiogrfica, histrias de vida e processos de criao, 640 Julio Cesar Vieira Merlino

A memria como condicionante do sentido musical na improvisao, 652

PSTERES Vernica Penteado Siqueira, Beatriz Raposo de Medeiros

Abordagens tericas entre a lingustica e a cognio musical, 663 Ingrid Torres Barbosa

Jogos didticos na educao musical, 672 Flvio Denis Dias Veloso, Rosane Cardoso De Arajo

Processos autorregulatrios na prtica instrumental: Contribuies da Teoria Social Cognitiva para a formao do percussionista sinfnico, 679

Clia Regina Vieira de Albuquerque Banzoli Um estudo sobre motivao de crianas em aulas de instrumentos musicais sob a perspectiva da teoria do fluxo, 689

Vanessa de Souza Jardim, Paulo Roberto Affonso Marins O uso das tecnologias da informao e comunicao (TIC) como estratgia motivacional no ensino da msica no contexto da educao bsica, 698

Jorge Alberto Falcn, Daniel dos Santos Benelli, Srgio Borges Affornali Projeto Musicverse: Complexidade, blended cognition, PBL e aplicativos para educao e percepo musical, 706

Susan Emanuelle Volkmann A elaborao de um programa de modelao de domnio para a aprendizagem de habilidades performticas no violin, 714

Pablo Victor Marquine, Heitor Marques Marangoni Imagtica musical aplicada Sonata 1942 de Claudio Santoro, 721

GRUPOS DE ESTUDO Msica, Cognio e Musicoterapia, 733 Criao Musical e Cognio, 734 Msica e Teorias da Cognio, 736 Neurocincias e Performance Musical, 737 Semntica Cognitiva e Msica, 739

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Programao Geral

Horrio 24 de maio Tera-feira 25 de maio Quarta-feira

09:00

Grupos de Estudo (1)Cognio, msica e musicoterapia; (2)Criao musical e cognio; (3)Msica e teorias da cognio; (4)Neurocincias e performance musical; (5)Semntica cognitiva e msica

10:30 Reunio da Diretoria da ABCM Comunicaes Orais Sesses: A, B, C e D

12:30 Almoo Almoo

14:30 Credenciamento

Mesa Redonda 1 Rael Gimenes Toffolo (UEM) Rodolfo Coelho de Souza (USP) Celso Loureiro Chaves (UFRGS)

16:30 Abertura Intervalo

17:00

Conferncia 1 Seven big ideas in music teaching and learning: Implications for cognitive research and practicePeter Webster (USC/EUA)

Conferncia 2 Msica, cuerpo y significado: El giro epistemolgico en el camino hacia el encuentro de la experiencia musicalIsabel Cecilia Martnez (UNLP/Argentina)

19:00 Concerto 1 Concerto 2

20:00

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Horrio 26 de maio Quinta-feira 27 de maio

Sexta-feira

09:00

Grupos de Estudo (1)Cognio, msica e musicoterapia; (2)Criao musical e cognio; (3)Msica e teorias da cognio; (4)Neurocincias e performance musical; (5)Semntica cognitiva e msica

Grupos de Estudo (1)Cognio, msica e musicoterapia; (2)Criao musical e cognio; (3)Msica e teorias da cognio; (4)Neurocincias e performance musical; (5)Semntica cognitiva e msica

10:30

Mesa Redonda 2 Maria Bernardete C. Pvoas (UDESC) Sonia Ray (UFG) Cristina Capparelli Gerling (UFRGS)

Comunicaes Orais Sesses: J, K, L e M

12:30 Almoo Almoo

14:30 Assembleia da ABCM

Conferncia 3 The sounds of early childhoodEugenia Costa-Giomi (OSU/USA)

17:00 Comunicaes Orais Sesses: E, F, G, H e I

Mesa redonda 3 Graziela Bortz (UNESP) Luiz Felipe Oliveira (UFMS) Marcos Nogueira (UFRJ)

19:00 Psteres Sesso N Encerramento Concerto 3

20:30 Jantar de Confraternizao

Conferncias

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Conferncia 1 Seven big ideas in music teaching and learning:

Implications for cognitive research and practice (apresentao on line)

Peter Webster

This presentation describes seven big ideas in music teaching and learning that play a role in any reform efforts to improve music in the schools. The talk has implications for practice as well as research. These are important issues too for any redesign of music teacher education at the college/ university level. Central to the talk are notions about the importance of creative thinking in music for students and teachers and a shift from teacher-centered to student-centered learning.

Peter Webster is a Scholar-in-Residence in Music Education at the Thornton School with special expertise in music creative thinking, assessment, and music technology. He is an Emeritus Professor at the Bienen School of Music, Northwestern University, where he was a music professor and administrator for 25 years prior to his work at USC. Webster holds degrees in music education from the University of Southern Maine (BS) and the Eastman School of Music at the University of Rochester (MM, PhD). He was a public school music teacher in Maine, Massachusetts, and New York before moving to Cleveland to teach in the Department of Music at Case Western Reserve University for 14 years; he moved to Northwestern in 1988 where he served as the John Beattie Professor of Music Education, lead the Ph.D. Program in Music Education, and worked as an Academic Studies Department Chair and Associate Dean for Academics. His published work includes over 80 articles and book chapters on technology, music education practice, and creative thinking in music which have appeared in journals and handbooks in and outside of music. He is an editorial board member for several prestigious journals and has severed as an editor for several projects, including co-editing of the MENC Handbook of Research on Music Learning published by Oxford University Press (2012). Webster is co-author of Experiencing Music Technology, 3rd edition Updated (Cengage, 2008), a standard textbook used in introductory college courses in music technology. He is the author of Measures of Creative Thinking in Music, an exploratory tool for assessing music thinking using quasi-improvisational tasks.

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Conferncia 2 Msica, cuerpo y significado:

El giro epistemolgico en el camino hacia el encuentro de la experiencia musical

Isabel Cecilia Martnez

En la reciente produccin artstica se vuelve cada vez ms difcil de evaluar los limites. Luego de ms de una dcada de desarrollo de la investigacin en cognicin musical corporeizada, en el marco de un programa que predica que la base del conocimiento musical se encuentra en el modo en que sonido y movimiento se entraman en la continuidad del complejo mente-cuerpo-entorno, es tiempo de considerar el camino recorrido y algunos de los resultados alcanzados al abordar las relaciones entre msica, cuerpo y significado. En esta conferencia se consideran problemas, limitantes, desafos y posibilidades que presenta el giro epistemolgico actual de la investigacin en cognicin musical corporeizada. Se discuten sus implicancias para la elaboracin de una epistemologa musical con bases ecolgicas, centrada en el desarrollo de prcticas de significado intersubjetivo y culturalmente situado, con el fin de interpelar aspectos crticos de la teora y prctica de la formacin musical.

Isabel Cecilia Martnez es doctora en Psicologa de la Msica de la Universidad de Roehampton Surrey, Reino Unido. Es Licenciada y Profesora en Educacin Musical egresa- da de la UNLP. Es Profesora Titular de Metodologa de las Asignaturas Profe- sionales y Audioperceptiva 1 y 2 en la Facultad de Bella Artes de la UNLP. Es Docente Investigadora Categora I y Directora del LEEM (Laboratorio para el Estudio de la Experiencia Musical UNLP). Dirige un equipo de investi- gadores en el Proyecto Cognicin Musical Corporeizada: Ontognesis, Per- cepcin y Performance (UNLP-MEN). Es Presidente actual de SACCoM. In- vestiga aspectos de la cognicin musical corporeizada y el pensamiento imaginativo en msica. Ha publicado y difundido su investigacin en el mbito nacional e internacional.

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Conferncia 3 The sounds of early childhood

Eugenia Costa-Giomi

Mestre em Compared to previous generations, young children today hear music that differs not only in its content but also in its source of production, mode of transmission and integration with other activities. Music jumps out of crib mobiles, toys, phones, and and digital applications, and soothes children to sleep through specially designed music. It is difficult to understand the value, uses, and effects of these new music experiences in young childrens lives considering that we know so little about their home music environment. In this presentation I will present recent research on young childrens home soundscapes and the opportunities for musical engagement and development they encounter in their daily lives.

Eugenia Costa-Giomi focuses on music perception and cognition during childhood, the non-musical benefits of music instruction, and the relationship between specific abilities and behaviors and musical achievement. She chaired the third International Conference in Music Perception and Cognition with Dr. Pennycook (1996), the 13th Symposium for Research in Music Behavior (1999), the Music Perception Interest Group of the Music Educators National Association (1998), is part of the editorial committees of the Journal of Research in Music Education and Musicae Scientiae. She has taught music to children in Argentina, Mexico, Canada and the United States and was Associate Professor of Music Education at McGill University, Canada (1991- 2002). Her areas of expertise: music perception and cognition in childhood; non-musical benefits of music instruction; music education.

Mesas Redondas

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Mesa Redonda 1 Anlise musical e os aspectos

cognitivos dos sentidos da msica Resumos

Rael Gimenes Toffolo (UEM) Os desafios da Anlise Musical e da cognio musical no contexto da msica enquanto prtica fronteiriaNa produo artstica recente torna-se cada vez mais difcil demarcar quais so as fronteiras que delimitam cada uma das linguagens. A msica tornou-se muito mais cnica, corporal, tecnolgica e performtica. As artes visuais tornaram-se mais sonoras, corporais e performticas e cada uma das linguagens enche-se mais das outras a cada dia. Nesse contexto h que se direcionar os esforos da Cincia Cognitiva e tambm da anlise musical para campos que contemplem esse novo horizonte artstico. Se antes se preocupava com a busca dos fundamentos cognitivos para melhor compreender o fenmeno musical agora h que se ampliar tais horizontes para fronteiras onde a cognio de enveredar-se pela seara das inter-relaes entre as diversas linguagens artsticas. Como se d o processo de significao no campo das intermodalidades artsticas? Como diferentes modalidades se relacionam e fazem emergir um novo campo de possibilidades interpretativas? Estas so questes cruciais a serem enfrentadas pela Cincia Cognitiva e que, por consequncia, fazem ampliar o campo de atuao da Anlise Musical. Diversos autores comearam a esboar possibilidades tericas que tentam dar conta de tais zonas fronteirias (cf. Linson et al, 2012; Couter, 2010). Pretendemos, nesta apresentao, considerar de que formas o conceito de deteco de invariantes de J. J. Gibson (1966, 1979) e sua expanso para o de Redundncia Perceptual, tal qual proposto por Bahrick (2000) a partir do trabalho de E. Gibson (1969), pode fornecer bases para a investigao dos fenmenos artsticos que se localizam em sistemas perceptuais diversos, ajudando a dar respostas s questes esboadas acima e a outras que, com certeza, surgiro no caminho.

Rodolfo Coelho de Souza (USP) A sinestesia como condio para a linguagem A cincia frequentemente avana nossa compreenso do mundo quando focamos nossa ateno em fenmenos aparentemente irrelevantes. O bolor que

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estragou uma cultura de bactrias permitiu a descoberta da penicilina, sonhos inteis revelaram o pensamento inconsciente, um incuo sinal de rdio, ubquo no universo, provou o Big Bang. A sinestesia um desses fenmenos que aparecem nos rodaps dos tratados cientficos. primeira vista seria uma extravagncia da natureza que acomete uma pequena parcela da humanidade, causando transtornos e nenhum ganho palpvel. Trata-se, como se sabe, de interferncias entre sinais no processamento cerebral de funes perceptivas: sons que induzem cores, sabores que estimulam sons, cores que estimulam cheiros, etc. Oliver Sacks (2007, p.260) observa que a ligao entre os sistemas auditivo e motor parece ser universal nos humanos, e surge espontaneamente no incio da vida. Em nota de rodap observa ainda que os humanos, ao que parece, so os nicos primatas que exibem este acoplamento entre os sistemas cerebrais motor e auditivomacacos no danam, e apesar de que algumas vezes batem tambores, (...) no sincronizam seus movimentos a uma batida do mesmo modo que os humanos. De fato, as pesquisas indicam que nosso crebro nasce com diversas conexes sinestsicas que so desfeitas medida que crescemos. Entretanto, por alguma razo, todos os humanos conservam, em maior ou menor grau, a capacidade sinestsica de conectar sons e movimentos. Baseando-nos nessa obser vao propomos a conjectura de que tal resqucio sinestsico foi preservado devido vantagem evolutiva de ser uma condio necessria para o desenvolvimento da linguagem. A gnese da linguagem verbal est intimamente ao ritmo da fala que articula por repetio os movimentos dos msculos do corpo responsveis pela emisso vocal. Vemos esse processo evolutivo se replicar em todos os bebs. Por outro lado, macacos no danam e no falam, mas papagaios danam e falam, assim como golfinhos. Espcies que conservaram a sinestesia som/movimento so capazes de articular algum tipo de linguagem, mesmo tendo graus diferentes na capacidade de simbolizao. Esses fatos parecem indicar que a msica, como conjuno de ritmo e entoao de alturas, no um mero subproduto da civilizao, mas a prpria condio para a existncia de todas as linguagens, e consequentemente da civilizao. Em outras palavras, os povos primitivos cantam e danam, porque na articulao sinestsica entre sons e movimentos que nasce a linguagem verbal, como suporte do simblico. Nas artes, e em particular na msica, sinestesias de diversos tipos emergiram ao longo da histria em diversos projetos. O movimento simbolista, por exemplo, renovou a pera romntica propondo a obra de arte total que re- alizaria a conexo sinestsica entre todos os estmulos perceptivos. O cinema, principal manifestao artstica de nosso tempo, herdeiro direto do projeto operstico wagneriano, assim como o vdeo-clip.

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Celso Loureiro Chaves (UFRGS) O processo criativo na clave da crtica gentica Este trabalho parte dos princpios norteadores da crtica gentica propostos por Grsillon (2007) e chega s discusses recentes de Lroux (2010) e Donin (2016) e suas transposies para a msica. Neste percurso, so descritos trs enfoques de processos criativos em composio musical, trs processos de tomada de deciso que a crtica gentica possibilitou a este autor delineara msica de Armando Albuquerque, como recuperao de um processo criativo j extinto; a cano de Vitor Ramil, como aproximao a um repertrio ainda em formao; e a minha prpria Esttica do Frio III, como avaliao de um processo composicional recm passado. Assim procedendo, busca-se exemplificar aqui um enfoque terico-composicional que deixa de circunscrever a anlise matria morta e prope enfrentar a tomada de decises ainda em formao e o processo criativo ainda em processo.

Mesa Redonda 2 Abordagens cognitivas na

pesquisa em performance musical Resumos

Maria Bernardete Casteln Pvoas (UDESC) Desempenho msico-instrumental: Um processo cognitivo de interao Entende-se a ao instrumental como o conjunto de meios e processos que determinam o desenvolvimento do desempenho musical. Tendo como meta o alcance da excelncia, msicos, professores e pesquisadores vm procurando, seno novos meios e recursos que otimizem a relao homem-ferramenta de trabalho, entender a funcionalidade de evidncias seculares. Acredita-se que tal busca estaria na base da excelncia que depende, sobremaneira, da interao entre a utilizao de tcnicas instrumentais e de sua operacionalizao, sempre em funo dos elementos da construo musical e de seus objetivos sonoros. Esta interao seria resultante da permanente considerao da relao consciente entre o corpo/movimento (questes de ordem fsico-mecnicas) e a produo sonora e interpretativa resultante durante o treinamento ou prtica.

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Em nosso trabalho especfico, a ao pianstica tratada como um ato de construo, propondo-se que suas bases sejam aliceradas no treinamento consciente das relaes entre elementos e meios necessrios realizao musical, um processo cognitivo. Como resultado de procedimentos amalgamados por meio de processos cognitivos realizados de maneira eficiente deve-se alcanar reflexos positivos no desempenho global. Tal orientao depende, sobremaneira, da busca por recursos tcnico-instrumentais e estratgias de estudo apropriadas e adequadas produo do objeto sonoro, da organizao da prtica (treinamento) e da permanente avaliao do processo vivenciado (feedback das aes e resultados), somente assim garantindo o sucesso do investimento. Nesta exposio levantamos estudos tericos e experimentais que evoluem dentro da perspectiva cognitivo/ interdisciplinar da pesquisa em prticas instrumentais, com foco no piano. Sonia Ray (UFG) Aspectos da percepo na avaliao da performance musical A avaliao um dos aspectos mais controversos e complexos da prtica profissional da performance musical. Controvrsias ficam por conta das mltiplas percepes que os profissionais da rea tm de como o processo deve ocorrer e a complexidade concentra-se na amplitude de conceitos que este processo envolve. A percepo aqui tem duas abordagens centrais que se influenciam mutuamente: o aspecto cultural e o contexto no qual se d a audio. Os conceitos esto diretamente relacionados aos mtodos de avaliao e sua falta de padronizao mnima na prtica avaliativa no Brasil. Esta exposio pretende contribuir apresentando um estado atual da questo e propondo uma reflexo sobre possveis caminhos para ampliar a com- preenso do papel do avaliador na prtica de atividades de bancas, concursos e provas de performance musical. A abordagem proposta conceitual e sedimentada na literatura da psicologia da performance musical, sobretudo nos aspectos tocantes a preparao para a performance. Cristina Caparelli Gerling Prtica efetiva e ansiedade de performance musical, APM: Investigao com estudantes de msica e profissionais A performance musical um ato extraordinariamente complexo e, no nvel de excelncia, as presses podem tornar-se constantes e intensas. A situao de performance e o momento de perfomance costumam ser responsabilizados por insucessos mais do que as estratgias adotadas durante as etapas de preparao. Por outro lado, a proliferao recente de manuais de estudo vem fornecendo

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listas e sugestes de estratgias, recursos e procedimentos a serem utilizados e testados durante o aprendizado e antes da apresentao pblica de qualquer natureza (Bruser, 1997, Klicskstein, 2009; Horvarth, 2002). Kenny (2011) e Valentine (2002) insistem na importncia da situao de performance como elemento desencadeador ou impactante no comportamento ansioso do msico. No entanto, como a literatura comprova a relao estreita entre o estresse e a situao de performance, salientamos que poucos estudos se voltam para o papel da preparao. Propomo-nos a relatar os resultados obtidos em estudos recentes com estudantes e profissionais visando etapas de preparao e a aplicao sistemtica de Guias de Execuo de forte contedo analtico (Chaffin et al, 2002; Chaffin, Gerling, Demos, & Melms, 2013; Assis, 2016; Borges, 2016).

Mesa Redonda 3 Percepo e representao

nas interfaces da cognio musical Resumos

Graziela Bortz (UNESP) Percepo meldica produtiva e receptiva: Avaliao e validao de critriosO fato de padres escalares predominarem em tantas culturas tm intrigado msicos e cientistas, o que conduziu realizao de testes com relao percepo intervalar de indivduos. Em msica, a capacidade de categorizar intervalos considerada crucial para o desenvolvimento do conhecimento terico e das habilidades de um msico. necessrio que o msico seja capaz de diferenciar os intervalos chamados maiores, menores, diminutos, aumentados e justos de acordo com as escalas diatnicas. Essa capacidade no restrita ao campo terico. Msicos so treinados a diferenciar os vrios intervalos da escala e suas inverses auditivamente. No entanto, para Covington e Lord (1994), o fato de um estudante ser capaz, por exemplo, de decodificar um intervalo de trtono isolado no significa que ele automaticamente desenvolva a capacidade de diferenciar esse mesmo intervalo em contextos musicais variados. A despeito da necessidade de experimentos para avaliar a efetividade do treinamento em reconhecer intervalos, inexistem testes validados que possam esclarecer se h relao entre a percepo de intervalos meldicos e a percepo da melodia

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como Gestalt. Dessa forma, poucas evidncias podem ser estabelecidas no que tange relao entre o treino musical cujo propsito o de se produzir intervalos meldicos cantados de memria e a capacidade de se solfejar uma melodia desconhecida. Dito de outra forma, no se tem disponvel no mercado um instrumento (teste/escala) que permita mensurar o quo bem tal habilidade de percepo se comporta. Este projeto visa avaliar a dificuldade e discriminao de cada um dos itens das seguintes avaliaes de percepo para msicos: uma receptiva e outra produtiva; e avaliar e validar a concordncia dos critrios para a avaliao produtiva.

Lus Felipe Oliveira (UFMS) O debate sobre o representacionalismo nas cincias cognitivas Uma das noes centrais para se compreender a histria das cincias cognitivas a representao mental. Trata-se de um conceito muito mais antigo que as prprias cincias que constituem essa rea interdisciplinar, presente em inmeras teorias desenvolvidas ao longo da histria da filosofia ocidental. Dentro das teorias e abordagens sobre a mente humana desenvolvidas especificamente nas cincias cognitivas, o debate sobre as formas da representao mental, assim como sobre as suas funes explicativas, acompanham o prprio desenvolvimento dessa cincia. Se entendemos que se pode dividir a histria da cincia cognitiva em trs abordagens centrais, a saber, o cognitivismo clssico, o conexionismo, e o paradigma dinmico da cognio, argumentamos que em cada um existe uma viso distinta sobre a forma da representao mental e sobre a sua necessidade explicativa. Nesse sentido, faremos uma exposio que apresente o debate sobre o representacionalimo ao longo do desenvolvimento das cincias cognitivas, estabelecendo uma relao entre essa discusso e a rea da cognio musical, especificamente.

Marcos Nogueira (UFRJ) Um entedimento no objetivista de forma musical Representao implica atividade simblica, um tipo de atividade que se encontra no centro de nossas experincias semnticas e sintticas. Por isso, fcil pensar que se o crebro pode repetir uma performance, ento representa. Para a neurocincia cognitiva, no entanto, no h mensagem pr-codificada no sinal e por essa razoentre outrasa memria no crebro no pode ser representacional. , de outro modo, um reflexo de como o crebro muda sua dinmica, de modo a permitir a repetio de uma performance. Desse modo, no contexto terico no objetivista da cincia cognitiva incorporada a razo usa e se constitui a partir das capacidades sensrio-motoras do corpo humano: a razo

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surge do corpo, no o transcende, e por isso no pode ser autnoma como props Kant. E se a razo formada pelo corpo e por sua ao no mundo, estritamente restringida pelos limites do nosso sistema conceitual. A complexa rede de contribuies das cincias cognitivas de base enacionista vem demonstrando que a experincia o lugar de toda unidade cognitiva e a percepo o princpio de toda experincia. Perceber um modo de atuar; a percepo uma simulao interior da ao e um exerccio de antecipao dos efeitos da ao. luz deste paradigma contemporneo plausvel investigar os fundamentos idealistas que embasaram o sistema formalista original da Musicologia, a fim de conhecer as potencialidades desse sistema numa tica distinta daquela sob a qual vem sendo abordado e atualizado desde ento, mas principalmente a fim de revelar as lacunas deixadas por suas abordagens tradicionais, que o mantiveram restrito prtica descritiva de uma sintaxe da obra musical.

Comunicaes Orais

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Crenas de autoeficcia dos professores de msica que atuam na educao infantil:

Uma pesquisa em andamento Camila Betina Rpke

[email protected] Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Resumo: Esse artigo apresenta um recorte de uma pesquisa em andamento que visa investigar o perfil e as crenas de autoeficcia dos professores de msica que atuam na educao bsica do Brasil. Para a minha pesquisa, ser utilizada apenas a amostra dos professores que atuam na educao infantil. As crenas de autoeficcia so as percepes que um indivduo possui a respeito de sua prpria capacidade de realizar uma determinada ao. O mtodo utilizado nesta pesquisa um survey autoadministrvel baseado na Internet. A tcnica de coleta de dados um questionrio dividido em duas partes: a primeira visa conhecer o perfil do professor, a segunda um instrumento de avaliao psicolgica intitulado Escala de Autoeficcia do Professor de Msica. Ao investigar o perfil e as crenas de autoeficcia dos professores que atuam na educao infantil podemos diagnosticar se esses profissionais sentem-se autoeficazes para o exerccio da docncia. Atravs desse estudo esperamos compreender melhor esses profissionais e verificar se existe alguma relao entre seu perfil e suas crenas de autoeficcia. Palavras-chave: Autoeficcia, Pedagogia musical, Motivao, Educao infantil Early childhood teachers and self-efficacy beliefs: An ongoing research This paper is a subproject from a large ongoing study that aims to investigate the self-efficacy beliefs of Brazil music teachers who work in regular education. In my study, we will consider only teachers from early childhood education. Self-efficacy beliefs are the self-perception of capacities to perform a specific task. The method will be a self-administered survey based on the internet. The data collection technique will be a questionnaire divided into two parts: the first one aims to know the teacher's profile, the second one is an instrument for psychological assessment entitled "Self-efficacy scale of Music Teacher". By investigating early childhood teachers profile and self-efficacy beliefs, we can diagnose how they feel self-efficacy to teach music. Through this study, we hope to understand better some issues of teaching music in early childhood and verify whether there are correlations between teachers profile and self-efficacy beliefs. Keywords: Self-efficacy, Music pedagogy, Motivation, Early childhood education

A autoeficcia uma teoria que compe uma teoria maior, a Teoria Social Cognitiva desenvolvida por Albert Bandura no final da dcada de 60. As crenas de autoeficcia so as percepes que um indivduo possui a respeito de sua prpria

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capacidade de realizar uma determinada ao (Bandura, 1977, 1993). Segundo Reeve (2011) a auto-eficcia definida como o julgamento que a pessoa faz de quo bem (ou quo mal) ela enfrentar a situao, dadas as suas habilidades e as circunstncias com que se derrapa (p. 147). Desde o surgimento dessa teoria, vrios pesquisadores j adotaram esse referencial terico em estudos em diferentes reas do conhecimento; psicologia, educao, sade, esportes, entre outros.

As crenas de autoeficcia exercem uma forte influncia em relao ao resultado esperados, porm ela por si s no um fator determinando da ao. Um indivduo que possui fortes crenas em sua capacidade cognitiva e motora tende a obter melhor resultados em suas aes se comparado a outras pessoas que possuem baixas crenas de autoeficcia (Bandura, 1992, 1993, 1977, 2008). Bandura (2008) aponta que estudantes que possuem maior confiana a respeito do seu desempenho acadmico, geralmente tiram notas mais altas e tendem a ter trabalhos que lhes traga maior satisfao pessoal e profissional. Bandura (1992,1993) afirma tambm que pessoas com que possuem maior confiana em relao as suas habilidades estabelecem metas mais elevadas para si mesmos e so mais comprometidos na busca pela concretizao de seus objetivos.

As crenas de eficcia podem ser fortalecidas, ou enfraquecidas, por meio de quatro fontes diferentes de experincia; experincias de domnio, experincias vicrias, persuaso verbal, estado somticos e emocionais (Bandura, 1977, 2008).

As experincias de domnio so a fonte mais influente para o desenvolvimento das crenas de autoeficcia. Por meio das experincias pessoas de sucesso as pessoas vo desenvolvendo suas crenas pessoais de eficcia (Bandura, 1977). Ao obter resultados positivos de suas atividades os indivduos vo ficando mais confiantes em relao a suas habilidades. O contrrio tambm acontece, os resultados negativos enfraquecem as crenas de autoeficcia para executar determinada ao (Pajares & Olaz, 2008). Se uma pessoa possui fortes crenas em relao a sua eficcia, essas crenas no sero abaladas caso algum fracasso ocorra. Entretendo, um indivduo com baixas crenas de eficcia, possivelmente ir atribuir um resultado bem-sucedido a fatores externos e no a sua prpria habilidade (Reeve, 2011).

As experincias vicrias so outras possveis fontes geradoras de autoeficcia. Quando um indivduo possui pouca experincia em uma atividade ou tem dvidas a respeito de duas habilidades ele pode aumentar ou diminuir suas crenas de autoeficcia atravs da modelao, ou seja, observando experincias bem ou malsucedidas de um modelo (Pajares & Olaz, 2008; Bandura, 1977). Essa fonte de autoeficcia exerce uma influncia maior quando as caractersticas de um modelo so similares a do observador (Reeve, 2011; Bandura, 2008). Um aluno ao observar os

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resultados positivos de um colega de turma pode refletir a respeito de suas prprias habilidades e pensar se ele consegue eu tambm consigo, afinal temos a mesma idade, estamos na mesma turma e temos a mesma professora.

A persuaso verbal muito utilizada para influenciar o comportamento humano, pois um recurso rpido e de pronta disponibilidade (Bandura, 1977). Ouvir reforos positivos ou negativos a respeito das prprias habilidades pode favorecer ou minar as crenas de autoeficcia (Pajares & Olaz, 2008). Bandura (1977) afirma que essa fonte tem menor poder de influencias as crenas pessoais se comparada as demais pois elas no so experincias autnticas de sucesso. Em muitos casos a persuaso verbal no apresenta nenhum resultado no fortalecimento das crenas pessoais pois as pessoas podem no acreditar nas informaes ouvidas, especialmente quando a persuaso verbal contradiz as experincias j vividas por essas pessoas. Desta forma, Pajares e Olaz (2008) apontam que mais fcil enfraquecer as crenas pessoais atravs de crticas negativas, do que as fortaleces atravs do encorajamento.

A ltima das fontes de autoeficcia so os estados somticos e emocionais (Pajares & Olaz, 2008). Se uma pessoa no se sente capaz de realizar determinada tarefa ela poder desenvolver algumas alteraes emocionais tais como; ansiedade, estresse, excitao, depresso, entre outros (Pajares & Olaz, 2008; Reeve, 2011). Desta forma, algumas pessoas podem avaliar sua habilidade baseado em seu estado emocional e no em sua real capacidade para a execuo da ao (Reeve, 2011). Segundo Bandura (1977), os indivduos so mais propensos a obterem sucesso em suas atividades quando no esto envoltos por sensaes de angustia, estresse, ansiedade. Indivduos com baixas crenas de autoeficcia tendem a evitar realizar atividades que gerem angustia, essa evitao em muitos casos impede o desenvolvimento de algumas habilidades. Assim, possvel aumentar o engajamento das pessoas em determinado tipos de atividades diminuindo seus estados emocionas negativos (Bandura, 1977).

A rea da educao tem utilizado de vrias teorias oriundas da psicologia em suas pesquisas. Essa apropriao de teorias vem contribuindo para uma melhor compreenso da educao e possibilitando diagnosticar as causas de certos problemas enfrentados pela rea e dessa forma, buscar meios mais precisos de solucionar esses desafios.

Vrias pesquisas j revelaram a importncia das crenas de autoeficcia para a motivao e para o processo de aprendizagem dos alunos (Bzuneck, 2001; Ross et al 1996; Midgley et al 1989). Outras pesquisas trazem tona a importncia tambm das crenas de autoeficcia dos professores para potencializar esses processos de aprendizagem dos alunos. Segundo esses estudos, os professores com

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altos scores de autoeficcia possuem uma tendncia a criar um ambiente em sala de aula mais favorvel a aprendizagem, sem estresse e com uma maior participao dos alunos (Gibson & Dembo, 1984; Ashton, 1985).

No Brasil, a rea da educao musical iniciou recentemente seus estudos a respeito das crenas de autoeficcia. J foram realizadas pesquisas a referentes das crenas de autoeficcia dos alunos (Gonalves, 2013) e dos professores (Taporosky, 2014; Silva, 2012; Cereser 2011). Entretanto, nenhum desses trabalhos contemplou especificamente os professores de msica que atuam na educao infantil. Desta forma, ainda no temos informaes a respeito das crenas de autoeficcia desses profissionais.

A profisso de professor possui sua regulamentao no artigo 62 da LDB 9394. Este artigo determina que para atuar na educao bsica, faz-se necessrio que o professor seja graduado em licenciatura na modalidade plena. Entretanto, para a atuao na educao infantil e nos primeiros anos do ensino fundamental, a formao mnima exigida o ensino mdio na modalidade normal (Brasil, 1996). Cabe ressaltar que o ensino mdio na modalidade normal diferente do ensino mdio regular. O curso normal voltado especificamente para a formao de professores que iro atuar na educao infantil e nos cinco primeiros anos do ensino fundamental (Brasil, 1999). Ainda conforme a legislao vigente, cabe ao professor unidocente lecionar todo contedo previsto no currculo, desta forma, presena de um profissional formado na rea de msica no obrigatria.

Diversas pesquisas apontam que mesmo sem a presena de um profissional formado na rea, a msica est presente na educao infantil, porm, ela utilizada como mero pano de fundo para outras atividades e para desenvolvimento de hbitos tais como; escovar os dentes, formar fila, lanchar, entre outros (Ribeiro, 2012; Soler, 2012; Diniz, 2005; Stravacas, 2008; Duarte, 2010). Apesar dessa forte presena da msica na educao infantil, pesquisas apontam que ela utilizada com bastante insegurana pelos professores unidocentes. Grande parte desses profissionais recebeu no formao em msica em seus cursos de graduao e poucos tiveram a oportunidade de participar de cursos de formao continuada voltados para a educao musical (Diniz, 2005; Loureiro, 2010; Duarte, 2010; Lombardi, 2010; Gomes, 2011; Ribeiro, 2011; Marques, 2012). Soler (2008) investigou a presena da msica nas escolas de educao infantil da cidade de Indaiatuba, interior de So Paulo. Participaram da pesquisa 97 professores unidocentes e 9 professores de msica. O resultado da pesquisa apontou que mais de 97% destes professores consideram importante a presena de um profissional com formao especfica para lecionar msica na educao infantil.

Muitos cursos de licenciatura por sua vez, no preparam os profissionais para atuar na educao infantil (Gomes, 2011). Marques (2011), em sua pesquisa

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de mestrado traz a fala de uma coordenadora de escola de educao infantil. Essa entrevista ressalta a dificuldade que essa profissional encontra para contratar professores de msica com formao para atuar na educao infantil: os cursos de licenciatura, geralmente, eles no so focados para a Educao Infantil, e trabalhar com criana pequena muito diferente do que se trabalhar com crianas de 10, 12 anos ou adolescentes (p. 77).

A educao infantil historicamente um campo de trabalho destinado s mulheres (Paschoal & Machado, 2009) e assim continua at os dias atuais (Diniz, 2005; Istravacas, 2008; Loureiro, 2010; Duarte, 2010; Gomes, 2011, Pereira, 2015, Ribeiro, 2011). Entretanto, quando se trata de msica na educao infantil, alguns estudos apontam que existe uma presena consistente de professores homens. Gomes (2011) em sua pesquisa de mestrado aponta para a grande presena de homens lecionando msica para a educao infantil na cidade de Natal, dos 20 participantes de sua pesquisa, 10 eram homens.

Pereira (2015), entrevistou quatro professores de msica que atuam na educao infantil no municpio de Porto Alegre, deste, trs eram homens. Todos os professores homens entrevistados relataram que eram os nicos homens que trabalhavam em suas respectivas escolas de educao infantil. Segundo esses profissionais, quando comearam a lecionar na educao infantil ouve um certo estranhamento por parte dos alunos, pois eles no estavam habituados a terem uma figura masculina na escola. Um desses professores relata ainda a responsabilidade que sente em relao aos seus alunos, pois em alguns casos ele a nica figura masculina que as crianas tm.

Segundo Bandura (1977, 2008), os fatores pessoais tais como; formao profissional, sexo, idade, experincia profissional, e os fatores ambientas podem fortalecer ou enfraquecer as crenas de autoeficcia dos professores. Partindo deste conceito desenvolvido por Bandura, elaborou-se ento os objetivos desta pesquisa. O objetivo geral: investigar o perfil do professor de msica que atua na educao infantil e suas crenas de autoeficcia. Objetivos especficos: investigar quais os fatores pessoais que afetam a autoeficcia do professor de msica que atua na educao infantil, investigar se os diferentes ambientes escolares afetam as crenas de autoeficcia dos professores de msica que atuam na educao infantil, e por fim, investigar se homens e mulheres se identificam de igual forma com a docncia na educao infantil.

Essa pesquisa um recorte de uma grande pesquisa que vem sendo realizada pelo grupo de pesquisa FAPROM, coordenado pela Professora Dr Liane Hentschke e que est agora em fase de coleta de dados. Far parte da minha pesquisa apenas a amostra dos professores que atuarem na educao infantil. O mtodo empregado

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nesta pesquisa um survey baseado na internet (Cohen et al, 2007). Como instrumento de coleta de dados ser utilizado um questionrio auto administrado baseado na internet. Segundo Cohen e colaboradores (2007), a utilizao da internet vem auxiliando no desenvolvimento de algumas tcnicas de pesquisa tradicionais, tal como os surveys. Atravs da internet o pesquisador tem a possibilidade de localizar mais pessoas, aumentando assim o tamanho da sua amostra, como tambm, obter retornos dos seus materiais de pesquisa de forma mais rpida.

O questionrio est dividido em duas partes: a primeira parte visa conhecer as variveis scio contextuais do professor de msica, tais como: sexo, idade, formao, experincia profissional, entre outros. Essa primeira parte do questionrio foi construda em conjunto pelos integrantes do grupo de pesquisa FAPROM. A segunda parte constituda de uma escala likert de cinco pontos intitulada Escala de Autoeficcia do Professor de Msica, j validada por Cereser (2011). Essa escala visa investigar as crenas de autoeficcia dos professores em cinco dimenses: a) ensinar msica, b) motivar alunos, c) gerenciar o comportamento dos alunos, d) considerar a diversidade dos alunos, e) lidar com mudanas e desafios.

A tcnica de seleo de amostra adotada nesta pesquisa a Bola de Neve. O grupo FAPROM, est enviando o questionrio/escala aos professores de msica atravs de emails e de redes sociais. Estes professores sero por sua vez convidados a repassar o questionrio/escala para outros profissionais de suas listas de contato. Atravs desse tipo de amostragem o pesquisador pode entrar em contato com populaes de difcil acesso (Cohen et al, 2007).

Para a anlise dos dados empregaremos de estatstica descritiva, para descrever a amostra atravs da porcentagem, medidas de tendncia central e desvio padro, e de estatstica inferencial, utilizada para verificar as associaes entre as variveis. Para os clculos estticos, ser utilizado o programa SPSS para Windows.

As informaes que temos a respeito dos professores de msica so escassas, uma vez que as pesquisas realizadas pelo INEP no almejam traar caractersticas dos profissionais de uma rea especfica. Desta forma, faz-se necessria a realizao de um estudo que contemple as especificidades dos professores de msica que atuam na educao infantil. Essa pesquisa trar dados a respeito do perfil dos professores, tais como: sexo, idade, tempo de experincia, formao profissional, entre outras. Como tambm nos fornecer informaes sobre como so as crenas de autoeficcia desses professores para atuar na educao infantil. Atravs desse estudo espera-se compreender melhor esses profissionais e contribuir para o ensino da msica na educao infantil.

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O perfil de formao musical do professor que trabalha com msica no ensino mdio

e a sua relao com as crenas de autoeficcia Fernanda Krger

[email protected] Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Resumo: Este projeto tem como temtica a relao entre o perfil de formao musical e as crenas de autoeficcia do professor que trabalha com msica no ensino mdio. Este construto diz respeito s crenas do indivduo sobre sua capacidade de executar determinados planos de ao para realizar tarefas especficas. Professores que tem slidas crenas de autoeficcia tem mais comprometimento com o ensino, lidam de maneira mais eficaz com problemas de aprendizagem de alunos e com fatores acadmicos estressantes, buscam inovaes em suas prticas de ensino e buscam promover a autonomia e a confiana entre seus alunos. O objetivo principal ser investigar as relaes entre o perfil de formao musical e as crenas de autoeficcia do professor que trabalha com msica no ensino mdio. Como referencial terico, ser utilizada a Teoria da Autoeficcia. Esta pesquisa um survey do tipo baseado na internet, com um questionrio autoadministrado publicado em forma de HTML na web composto por duas partes: a primeira composta por questes objetivas que dizem respeito aos dados pessoais, formao e ao contexto de atuao do professor; a segunda composta pela Escala de Autoeficcia do Professor de Msica. A amostra da pesquisa ser no probabilstica, do tipo bola de neve. Atualmente, a pesquisa se encontra na fase de coleta de dados. Palavras-Chave: Educao musical, Ensino mdio, Crenas de autoeficcia dos professores, Educao bsica The musical training profile of the teacher who works with music in high school and their relationship with the beliefs of self-efficacy Abstract: The thematic of this project is the relationship between the profile of musical training and the self-efficacy beliefs of the teacher who works with music in high school. This construct concerns the individual's beliefs about his/her ability to perform specific tasks. Teachers that has strong beliefs of self-efficacy have more commitment to education, deal better with students with learning problems and stressful academic factors, seek innovations in his/her teaching practices and seek to promote autonomy and trust among their students. The main objective is to investigate relations between the profile of musical training and self-efficacy beliefs of the teacher who works with music for high school. As theoretical reference it will be used the Theory of Self-efficacy. This research is an Internet based survey, with a self-administered questionnaire published in HTML form on the web with two parts: the first is made up of objective questions that pertain to personal data, to

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training and to professional practice context; the second consists of the Self-efficacy scale of the Music Teacher. The sample of this investigation is a non-probability and snow ball sample. Currently, the research is in the data collection phase. Keywords: Music education , High school, Teacher self-efficacy beliefs, Basic education

Este trabalho, um relato de uma pesquisa em andamento, tem como tema a relao entre o perfil de formao musical e as crenas de autoeficcia do professor que trabalha com msica no ensino mdio. Escolhi esta temtica porque o grupo de pesquisa Formao e Atuao de Profissionais em Msica (FAPROM), do qual participo, est realizando um estudo de levantamento para mapear os professores que atuam com o ensino de msica na educao bsica brasileira e suas crenas de autoeficcia, e meu trabalho ser um recorte desta grande pesquisa, tendo como amostra os professores que atuam com o ensino de msica no ensino mdio. Escolhi pesquisar esta etapa da educao bsica porque sou professora de uma instituio pblica de ensino que prioriza o ensino tcnico profissionalizante, com muitos cursos integrados ao ensino mdio e pela existncia de poucas pesquisas que abordam o ensino de msica no ensino mdio pela tica dos professores.

O ensino mdio a ltima etapa da educao bsica e tem alunos que esto geralmente entre os 15 e os 17 anos de idade. Segundo os Parmetros Curriculares Nacionais para o ensino mdio PCNEM (Brasil, 2000, p. 10), esta

a etapa final de uma educao de carter geral, afinada com a contemporaneidade, com a construo de competncias bsicas, que situem o educando como sujeito produtor de conhecimento e participante do mundo do trabalho, e com o desenvolvimento da pessoa, como sujeito em situaocidado.

A arte considerada pelos Parmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Mdio fundamental para a formao e o desempenho social do indivduo como cidado (Brasil, 2000). A sua obrigatoriedade como componente curricular da educao bsica garantida pela Lei de Diretrizes e Bases (Brasil, 1996), e a msica, com a lei 11769/2008, passou a ser um contedo obrigatrio (Brasil, 2008).

Essa obrigatoriedade do ensino de msica, principalmente quando no ensino mdio, traz desafios para a educao musical, pois os grupos de alunos que se encontram nesta etapa so de uma grande diversidade de gneros, idades, etnias, gostos, atitudes, hbitos, opinies, costumes e valores (Santos, 2009; Neto et al.,2014). Isso demanda das escolas e da rea de educao musical novas propostas para o ensino da msica (Del-Ben, 2012; Santos, 2009; Kebach & Leonini, 2010).

Para que os professores possam encarar esses desafios que o ensino da

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msica no ensino mdio traz tona, eles precisam acreditar em suas capacidades para ensinar msica para estes alunos, ou seja, precisam ter fortes crenas de autoeficcia. As crenas de autoeficcia so aquelas que o indivduo tem sobre suas capacidades para executar um curso de ao em um domnio especfico. Segundo a literatura, a relao entre professor e aluno e tambm o desempenho e as atitudes deles so influenciadas pelas crenas de autoeficcia do professor (Bzuneck, 2003; Cereser, 2011; Morales & Maldonado, 2013; Gimenez & Tonelloto, 2007; Goddard, Hoy & Woolfolk-Hoy, 2004).

Professores que tem fortes crenas de autoeficcia, segundo Bzuneck (2003, p. 4),

apresentam nveis mais elevados de comprometimento com o ensino; adotam procedimentos mais eficazes para lidar com alunos portadores de algum problema na aprendizagem; so mais propensos a introduzir prticas inovadoras; assumem uma postura mais democrtica em classe, promotora de autonomia e confiana; e administram eficazmente fatores acadmicos estressantes mediante estratgias de soluo de tais problemas.

Portanto, professores com fortes crenas de autoefoccia esto mais preparados para lidar com estes desafios e novas propostas que o ensino da msica no ensino mdio demanda.

A partir disto, cheguei seguinte questo de pesquisa: qual a relao existente entre o perfil de formao musical e as crenas de autoeficcia do professor para trabalhar com o ensino de msica no ensino mdio? Para poder responder a esta questo, meu objetivo geral investigar a relao existente entre o perfil de formao musical e as crenas de autoeficcia do professor que trabalha com msica no ensino mdio. Meus objetivos especficos so investigar o perfil do professor que trabalha com msica no ensino mdio, bem como suas crenas de autoeficcia.

Conhecer as crenas de autoeficcia dos professores que atuam com o ensino de msica no ensino mdio e seu perfil de formao musical permitir saber qual o julgamento que os docentes tm em relao s suas capacidades para ensinar msica na escola e como sua formao e atuao podem ter influenciado nestes julgamentos. J sabido, como foi exposto na introduo por meio das referncias citadas, que um professor com fortes crenas de autoeficcia tem um maior comprometimento com o que ensina, lida melhor com os possveis problemas de aprendizagem dos alunos, tem a tendncia de promover a autonomia e a confiana dos alunos, entre outros aspectos. Essas atitudes do professor aumentam o comprometimento e o engajamento dos alunos com as atividades escolares.

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O mapeamento proposto pelo grupo de pesquisa FAPROM, do qual minha pesquisa ser um recorte, fornecer um panorama sobre as crenas dos professores em atuar com o ensino da msica dentro da escola a partir de diferentes dimenses da sua atuao. Tambm trar tona a situao da insero da msica na escola aps a aplicao da Lei 11.769, de 18 de agosto de 2008 que estabeleceu que a msica deve ser contedo obrigatrio do componente curricular Artes nos diversos nveis da educao bsica (Brasil, 2008). Assim, tais dados podem fornecer dados importantes para as licenciaturas e cursos de formao continuada para professores, buscando a melhoria da qualidade do ensino e aprendizagem musicais no contexto escolar brasileiro.

Utilizarei como referencial terico a Teoria da Autoeficcia, por meio dos textos de Bandura, Reeve, e Pajares e Olaz. A autoeficcia, segundo Reeve (2006, p. 147), uma capacidade de ordem mais geradora, com a qual o indivduo organiza e orquestra suas habilidades de modo a enfrentar as demandas e circunstncias que se lhe impem. As crenas de autoeficcia so julgamentos, percepes ou expectativas prprias do indivduo de que ele ter xito ou no em determinada ao que realiza (Reeve, 2006). Pessoas com fortes crenas de autoeficcia persistem perante os desafios e se esforam mais para a realizao de tarefas, mesmo para as mais difceis.

Estas crenas so alimentadas por quatro tipos de fontes, que so selecionadas, integradas, interpretadas e recordadas para form-las (Pajares & Olaz, 2008). A primeira das fontes a experincia de domnio, que compreende as experincias prvias do indivduo e interpretao dos resultados de suas aes anteriores. A segunda, a experincia vicria, a observao da ao de outras pessoas para servir de modelo para sua prpria ao. As persuases sociais, a terceira das fontes, o estmulo verbal feito por outras pessoas. A ltima fonte so os estados somticos e emocionais, como o estresse, a ansiedade, a excitao e os estados de humor, que permitem a avaliao do grau de confiana da pessoa enquanto pensa em determinada ao.

Este trabalho um recorte da pesquisa realizada pelo grupo FAPROM, coordenado pela Prof. Dra. Liane Hentschke, intitulada Mapeamento dos professores que trabalham com msica na educao bsica, um estudo de levantamento realizado com as escolas de educao bsica do Brasil. Este estudo um survey, uma maneira de coletar dados que, para Cohen, Manion e Morrison (2007, p. 224, traduo nossa) permite descrever a natureza de condies existentes ou identificar padres contra os quais as condies atuais possam ser comparadas, ou determinar as relaes que existem entre eventos especficos. do tipo baseado na internet, com a amostra no probabilstica do tipo bola de neve, composta por professores que trabalham com o

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ensino de msica do ensino mdio, com ou sem formao na rea, atuantes nas cinco regies brasileiras. Estes professores, como previsto no tipo bola de neve, sero usadas como informantes para que tenhamos contato com outros professores que tambm possam participar da pesquisa.

Por meio da plataforma Survey Monkey est sendo proposto como instrumento de coleta de dados um questionrio composto de duas partes: dados pessoais e uma escala de autoeficcia do Professor de Msica (adaptada e validade por Cereser, em 2011) que avaliar por meio de uma escala likert as cinco dimenses das crenas de autoeficcia do professor de msica para atuar na Educao Bsica. Primeiramente, foi realizado um estudo piloto, para testagem do instrumento de coleta de dados. O questionrio foi enviado para 128 professores da educao bsica e se obteve 36 respostas completas ao questionrio. A partir da anlise parcial destas respostas, foi discutido no grupo FAPROM a necessidade de algumas mudanas na parte de dados pessoais do questionrio: na questo 6, que trata da trajetria de aprendizagem musical do professor, foi inserida a opo curso de graduao e curso tcnico; na questo 12, na qual o professor dever indicar a quantidade de escolas onde trabalha, foi colocada uma barra de rolagem ao invs de itens numricos; na questo 15, que aborda as atividades musicais desenvolvidas pelo professor, incluiu-se a opo musicalizao; na questo 16, que trata do vnculo do professor com a escola, foi acrescida a opo concursado e efetivo na rede pblica de ensino30 horas; e todas as questes de mltipla escolha foram ser explicitadas com mais clareza, pois suscitaram dvidas nos respondentes.

Atualmente, o projeto se encontra na etapa da coleta de dados. O questionrio foi disponibilizado a possveis respondentes por e-mail e atravs das redes sociais. Estima-se que a coleta terminar em maio de 2016, para uma posterior anlise dos dados, que se dar em duas etapas. Na primeira, ser feita uma estatstica descritiva da amostra para a caracterizao da mesma. J na segunda, por meio da estatstica inferencial, ser feito um estudo sobre as relaes entre as variveis.

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Professores dos anos iniciais e suas crenas de autoeficcia

Aline Seligson Werner [email protected]

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Resumo: Este trabalho reporta a uma pesquisa de mestrado em andamento ao qual, foca nas crenas de autoeficcia dos professores, que ensinam msica nos anos iniciais do ensino fundamental. Este estudo de abordagem quantitativa, um recorte e est vinculado ao projeto de mapeamento de professores que ensinam msica na educao bsica, desenvolvido pelo grupo de pesquisa FAPROM (Formao e Atuao de Profissionais em Msica) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Portanto, esta pesquisa visa conhecer os professores que ensinam msica neste nvel, como identificar suas crenas de autoeficcia para ensinar e se seu perfil interfere nas suas prprias perspectivas ao exerccio da docncia de msica. O objetivo desta pesquisa ento, investigar as crenas de autoeficcia dos professores dos anos iniciais do ensino fundamental, e a relao destas com as variveis de sexo, formao e tempo de atuao. A presente investigao baseada e traz como referencial a Teoria da Autoeficcia de Albert Bandura, a qual possui como princpio, as crenas de autoeficcia. Estas crenas so denominadas pelo prprio autor, como julgamentos das capacidades prprias do indivduo em desempenhar uma especfica atividade. Este um estudo de levantamento, tendo como metodologia o survey baseado na internet, constando de amostra no probabilstica e de modalidade bola de neve. Como instrumento para coleta, dentro desta investigao, um questionrio dividido em duas partes: a) dados pessoais e b) Escala de Autoeficcia dos Professores de Msica. Os resultados apresentados so os dados obtidos atravs estudo piloto desta pesquisa. Palavras-chave: Motivao, Autoeficcia, Comportamento, Ensino fundamental, Educao musical Elementary school teachers and their self-efficacy beliefs Abstract: This work reports about a masters degree research that focuses on self-efficacy beliefs of elementary school teachers, who teach music. This quantitative study is a sub project of music teachers mapping in basic education, it developed by FAPROM research group of Federal University of Rio Grande do Sul. Therefore, this investigation aims to know this professors, their self-efficacy beliefs and if their pro