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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PROJETO “A VEZ DO MESTRE” CURSO PÓS-GRADUAÇÃO “LATO-SENSUTHEREZA CHRISTINA AGUILAR A DANÇA COMO FATOR DE INSERÇÃO SOCIAL: PROJETO DANÇANDO PARA NÃO DANÇAR Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

CURSO PÓS-GRADUAÇÃO “LATO-SENSU”

THEREZA CHRISTINA AGUILAR

A DANÇA COMO FATOR DE INSERÇÃO SOCIAL: PROJETO DANÇANDO PARA NÃO DANÇAR

Rio de Janeiro 2010

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RESUMO

A dança tem se mostrado como uma ferramenta eficaz na inserção social.

Alguns projetos têm sido desenvolvidos em comunidades carentes visando inserir

socialmente os moradores. Para tanto, será ilustrado nesse trabalho o projeto

“Dançando para não dançar”.

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METODOLOGIA

A metodologia a ser utilizada neste trabalho é a descritiva e contará com

um levantamento bibliográfico, no qual serão utilizados livros e artigos que versem

sobre o assunto objeto, para melhor fundamentar o mesmo.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 05 CAPITULO I – A INSERÇÃO SOCIAL DE PESSOAS ESPECIAIS ATRAVÉS DA DANÇA 08 CAPITULO II - A INSERÇÃO SOCIAL DE PESSOAS DE COMUNIDADES POPULARES ATRAVÉS DA DANÇA 16 CAPITULO III – ESTUDO DE CASO 21 3.1 Projeto Dançando para não dançar 21 CONCLUSÃO 27 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 30

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INTRODUÇÃO

No contexto do nosso dia-a-dia, estamos habituados a pensar na dança

apenas como uma diversão agradável, como atividade que aparece na escola por

ocasião das festividades ou celebração de datas do calendário escolar, como mais

um produto da moda, lançado por motivos puramente comerciais, de consumo

rápido e fácil digestão, ou ainda como algo desprovido de conteúdos e de

mensagens culturais.

No entanto, a dança, com suas manifestações extremamente diversificadas,

é uma linguagem culturalmente construída e, como tal, impregnada de

significações que retratam a história das relações do homem com o meio - natural

e social - em que vive.

A dança, na verdade, tem sido um fator de suma importância para a

inserção social, tanto de pessoas carentes quanto de pessoas especiais.

Entretanto, antes de iniciarmos a abordagem da dança como fator de

inserção social, se faz necessário fazer uma abordagem sobre a dança como

conteúdo escolar, pois essa inserção social começa muitas vezes dentro da

escola através de atividades como a dança.

Ainda existem muitas dúvidas e muita polêmica em relação à dança

enquanto conteúdo escolar, e o modo como se processa essa relação entre dança

e educação ainda desconhecido.

Podemos dizer, portanto, que a inclusão da dança como modalidade

artística a ser trabalhada dentro do currículo escolar, representa uma valiosa

conquista. Em primeiro lugar, a estruturação de uma proposta para o ensino de

dança representa o reconhecimento de sua importância como linguagem

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culturalmente construída e como atividade essencial no desenvolvimento integral

do ser humano, ratificando, desta forma, as relações entre dança e educação. Por

outro lado, conferindo à dança a seriedade e o rigor acadêmicos merecidos,

estaremos, sem dúvida, contribuindo para ampliar as possibilidades de acesso do

aluno, é ainda considerada por muitos como privilégio de uma minoria.

Familiarizando o aluno com as diversas formas de dança, a escola abre o acesso

ao conhecimento de outras culturas.

Historicamente, a dança sempre esteve presente em todos os momentos da

evolução da humanidade, desde a mais remota antigüidade, como parte integrante

das sociedades. Nas atividades ligadas ao trabalho, nas festividades, na adoração

aos deuses ou celebrando as forças da natureza, o homem sempre fez uso da

dança para atender às suas necessidades de expressão e comunicação.

Podemos dizer, então, que o homem é seu corpo. Um corpo culturalmente

moldado onde estão presentes projetos de vida, sonhos, emoções e as diversas

histórias que retratam a sociedade em que ele está inserido. Portanto, é através

deste corpo, e não apenas pelo intelecto, que o homem entra em contato com o

mundo. Assim, o conhecimento é construído na experiência que acontece na luta

cotidiana com a realidade social e o mundo físico, tendo, indubitavelmente, uma

dimensão sensório-corporal.

A escola, no entanto, não costuma levar em conta este pressuposto. Pelo

contrário, voltada para uma concepção dualista do ser humano, que separa corpo

e mente, emoção e razão, tardou a entender que sua função era a realização de

todas as capacidades humanas e não apenas das cognitivas. Dentro desta visão

fragmentadora,

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A escola tem, portanto, dedicado muito pouca atenção às atividades

relacionadas com o corpo, assim como às dimensões culturais, sociais e afetivas

presentes no corpo das pessoas que interagem e se movimentam em nossa

sociedade. Isto porque, de modo geral, a educação escolar não concebe seus

processos de aprendizagem de maneira a possibilitar experiências sensoriais e

perceptivas.

Dançar é vivenciar e exprimir, com o máximo de intensidade, a sua relação

com a natureza, com a sociedade. A prática da dança permite o desenvolvimento

e o enriquecimento das qualidades físicas, mentais e emocionais.

A relevância desse trabalho se justifica no fato de que a Integração e a

comunicação com os outros por meio de gestos e movimentos, tornam possível

uma integração social independente da condição social ou física.

Este trabalho objetiva abordar a dança como fator de inclusão social e

apresentará um estudo de caso mencionando o Projeto “Dançando para não

dançar”.

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CAPITULO I

A INSERÇÃO SOCIAL DE PESSOAS ESPECIAIS

ATRAVÉS DA DANÇA

“A educação através da dança é uma forma de intervenção no mundo”.

Paulo Freire, 1996, p. 110).

Considerada como um dos conteúdos da Educação Física, a dança é uma

linguagem da arte que expressa diversas possibilidades de assimilação do mundo.

Para Tarkoviski (1988), o papel indiscutível da arte encontra-se na idéia de

conhecimento. A dança é uma das expressões significativas que integra o campo

de possibilidades artísticas, contribuindo para a ampliação da aprendizagem e a

formação humana. O que buscamos compreender é por que esse conteúdo ainda

é considerado apenas como uma atividade extracurricular nas escolas, sendo

desvinculado do projeto pedagógico e até mesmo negado. Verifica-se hoje uma

série de estudos que vem apontando novos caminhos onde a dança esteja

presente no currículo e na perspectiva das teorias críticas, comprometendo-se

com a transformação da escola.

No que se refere aos portadores de necessidades especiais, este estudo

constituiu-se de elementos para reavaliar nossos preconceitos e pensar na

“deficiência” como uma potencialidade a ser desenvolvida e não estigmatizada.

Como ressalta Carmo (1991, p. 21), “os problemas sociais que envolvem os

‘deficientes’ acompanham os homens desde os tempos mais remotos da

civilização”.

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Primeiro, entendemos a deficiência como uma categoria historicamente

construída, que traz relações diversas do homem com seu meio social/cultural.

Portanto, a diversidade e as diferenças não são apenas obstáculos para o

cumprimento da ação educativa, mas, ao contrário, constituem fator de

enriquecimento e formação da sociedade.

Historicamente, a dança assumiu várias formas e tem se transformado,

assim como a sociedade. Ela vem favorecendo a nós, educadores, com um

universo de possibilidades a serem trabalhadas, em especial no contexto escolar.

Não é mais considerada como um ato mecânico, ou apenas reproduzido pela

mídia, mas como uma proposta educativa a ser desenvolvida com criatividade,

expressão e comunicação, em virtude de uma intensa possibilidade de linguagem

corporal. Como já afirmava há mais de vinte anos Maurice Béjart, um coreógrafo

sensível ao significado da dança na educação das crianças, dançar é tão

importante para uma criança quanto falar, contar ou aprender geografia. É

essencial para a criança, que nasce dançando, não desaprender essa linguagem

pela influência de uma educação repressiva e frustrante. É preciso que cada um

de nós, ao sair de um espetáculo de dança que o tenha entusiasmado, se debruce

sobre esse problema e o encare em nível da existência e não apenas no do

espetáculo, transpondo desse modo a satisfação interior para o plano da

participação duradoura. O lugar da dança é nas casas, nas ruas, na vida.

(BÉJART, apud por GARAUDY, 1980, p. 10).

Diante dessa afirmação, percebe-se que o universo artísticoeducativo

presente na dança justifica sua presença como agente transformador de práticas

corporais a serem vivenciadas e refletidas no cotidiano. A tensão permanente

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entre a prática e a teoria, como explica Gamboa (1995), está na inter-relação

dinâmica e complexa de ambas, as quais são expressões da ação social humana.

Portanto, os conflitos reforçam um dos papéis instigantes da dança como

linguagem. A relação da arte como conhecimento gera ligações possíveis entre a

crítica, a política, a estética, o educativo, entre outros.

A dança é um campo vivenciado de muitas experiências do movimento

humano e, também, um campo de resgate cultural e social do ser humano na

sociedade contemporânea. Mas vale lembrar que ensinar dança na escola vai

muito além de reproduzir o que se vê na mídia, ou o que o professor traz de casa

pronto para passar aos seus alunos. Ensinar e aprender a dança é vivenciar, criar,

expressar, brincar com o próprio corpo; é deixar-se levar pela descoberta de

inimagináveis movimentos, é descobrir no corpo que o que é certo pode estar

errado e o que é errado pode estar certo. Com relação ao belo, não existe para ele

uma regra, uma visão unilateral, e sim multiplicidades, polissemias, diálogos e

dialéticas.

Segundo Laban (1990), a dança tem por objetivo ajudar o ser humano a

achar uma relação corporal com a totalidade da existência. Por isso, na escola,

não se deve procurar a perfeição ou a execução de danças sensacionais, mas a

possibilidade de conhecimento que a atividade criativa da dança traz ao aluno.

A arte do movimento, além de desenvolver as formas individuais e coletivas

de expressão, de criatividade, de espontaneidade, concentração, autodisciplina,

promove uma completa interação do indivíduo e um melhor relacionamento entre

os homens. (ARRUDA, 1988, p.15).

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Desta maneira, verifica-se que o ensino da dança possui uma diversidade

de elementos a serem desenvolvidos dentro e fora da escola. Como sugere

Arruda (1988), “é importante introduzir a arte do movimento no currículo escolar,

nas creches, fábricas, ruas e bibliotecas”, ou seja, nos diversos espaços

educativos, formais e informais, para os diferentes grupos, de forma que todos

possam vivenciar e experienciar a dança, sentir e conhecer a sua própria história e

expressar sua emoção. Laban, citado por Marques (1999), diz que a dança na

educação permite uma integração entre o conhecimento intelectual do aluno e

suas habilidades criativas, favorecendo a percepção com maior clareza das

sensações contidas na expressão dramática do indivíduo. Ou seja, ao mesmo

tempo em que enfatiza a expressão, a espontaneidade e a criatividade, afirma:

[...] poderíamos dizer que o valor educativo da dança desdobra-se em dois: primeiro, um domínio do movimento saudável e, segundo, através do realce da harmonia pessoal e social promovido pela observação exata de esforço [...]. (LABAN, apud Marques, 1999, p. 73)

Marques (1999) sugere que, ao pensar na dança educativa, estejamos

preparados para partir da realidade e do contexto nos quais o aluno está inserido

para então transformarmos de forma consciente e problematizadora o conteúdo a

ser ensinado. Assim levaremos o aluno a pensar na dança sempre como um

processo individual, coletivo e social em que todos são produtores de saberes e

conhecimentos.

No que se refere às pessoas portadoras de necessidades especiais,

Marques (1999) argumenta que a dança possibilita a integração entre os

indivíduos nos processos criativos e interpretativos de dança em sala de aula,

trabalhando com a pluralidade cultural. Além disso, ela pode propiciar a aceitação,

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a valorização e a experiência de que diferentes corpos criam diferentes danças e

de que não necessitamos de um corpo perfeito, segundo os padrões sociais, para

nos expressar e comunicar.

Na dança, conhece-se o corpo a partir da estética. O significado do que é

belo é relativo, e, pensando nessa perspectiva, percebemos que a identidade, a

igualdade e a noção do “outro” não interessam. As diferenças é que trazem a

riqueza dos inúmeros sabores e dos saberes.

Percorrendo a história da humanidade, verificamos que as pessoas

portadoras de necessidades especiais têm sido discriminadas pela sociedade, que

as julgava improdutivas e incapazes para desempenhar funções na vida social, o

que contribuía para excluídas da sociedade. Porém, na última década, verificamos

que no Brasil essa área tem sido demarcada por uma série de iniciativas

governamentais relacionadas à educação. Em síntese, tais iniciativas explicitam a

necessidade de se consolidar e ampliar o dever do poder público para com a

educação, o acesso a ela e a recuperação da escola fundamental no país.

Podemos constatar isso no Plano Decenal de Educação para Todos (1993-2003),

na nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (nº 9.394, de

20/12/1996) e no Plano Nacional de Educação (1997).

Para melhor compreendermos o processo histórico das pessoas portadoras

de necessidades especiais, torna-se necessário resgatarmos quatro fases

apontadas por Sassaki (1997): fases da exclusão, segregação, integração e

inclusão.

Na fase da exclusão, período anterior ao século XX, a sociedade como um

todo discriminava as pessoas portadoras de necessidades especiais. Elas eram

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repudiadas e perseguidas em razão da crença de que possuíam maus espíritos e

faziam parte de feitiçarias. Portanto, eram consideradas indignas de participar da

sociedade.

Na fase da segregação, ainda excluídas da sociedade e da família, essas

pessoas eram acolhidas em instituições religiosas e filantrópicas, de cunho

assistencialista, as quais não tinham controle criterioso da qualidade de seu

próprio atendimento. Conforme Jonsson, citado por Sassaki (1997), foi nesse

período que surgiram em vários países as instituições de “educação especial”.

Alguns desses deficientes permaneciam dentro dessas instituições durante toda a

sua vida.

Portanto, passavam por um processo de segregação que confirmava a sua

inadaptação social. O trabalho das entidades aproximava-se mais da readaptação

que do educativo propriamente dito.

A partir do final dos anos 50 e início dos anos 60, surge a fase da

integração, que pretende desenvolver

[...] condições que possibilitem aos excepcionais tornarem-se parte integrante da sociedade como um todo. Na ideologia integracionista eventual-mente ignora-se ou idealiza-se a realidade do ensino regular, o que pode levar à supervalorização da integração física ou à compreensão da escola como agência última da reforma social. Sustente-se que é importante sensibilizar e conscientizar a comunidade sobre a exclusão que antecede a boa vontade dos “não-conscientizados”. (Ferreira, 1994, p. 81)

Diante dessa afirmação, nota-se que o modelo de educação pressupunha a

adaptação das crianças portadoras de deficiência ao sistema escolar, embora

aquelas que não se adaptassem fossem excluídas. Havia, portanto, necessidade

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de conscientizar não só o sistema escolar, mas também a sociedade como um

todo.

No final da década de 1980, surgiu a fase da inclusão, que passou a ser

objeto de preocupação ainda na década de 1990. A partir desses últimos anos,

essa fase vem ganhando espaço e forma em nossa sociedade e intensificando os

debates e as reflexões sobre a inclusão.

Esse modelo foi implantado em países avançados, como o Canadá, os

Estados Unidos, a Espanha e a Itália. A idéia básica dele é adaptar a educação

escolar às necessidades das crianças, com ou sem deficiência, entendendo que

todo o ser humano é capaz de desenvolver-se de acordo com as suas

potencialidades.

Conforme Sassaki (1997), trata-se de uma mudança de perspectiva do

trabalho escolar, na medida em que procura atender a todos os alunos, buscando

criar condições para que construam sua autonomia a partir do domínio do

ambiente físico e social. Isso impõe respeito e cria espaço para todos. Implica

ainda traduzir as obrigações que garantam a igualdade de oportunidades para

assegurar que as pessoas portadoras de necessidades especiais tenham os

mesmos direitos e obrigações das demais.

Como verifica-se, o debate a respeito da inclusão, embora tenha se

intensificado nos últimos anos no país, não parece ter sido suficiente para que se

estabelecessem diretrizes políticas capazes de promover uma coerência mínima

nas ações educacionais.

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Em síntese, a inclusão é um processo emergente e cabe à escola, ao

estado e à sociedade buscar novas formas de encarar a realidade e transformá-la

de maneira consciente. Segundo Mazzota (1998), para que a educação inclusiva

de fato aconteça, o fundamental é que ela se firme como espaço privilegiado das

relações sociais para todos, não ignorando, portanto, aqueles que apresentem

necessidades educacionais especiais. Em outros termos, acolhendo crianças com

deficiências e crianças bemdotadas, crianças que vivem nas ruas e crianças que

trabalham. No entanto, a efetivação da educação escolar para todos, mediante

recursos como a educação especial, para os que a requeiram, preferencialmente

na rede regular de ensino, e como a educação inclusiva, em que a diversidade de

condições dos alunos possa ser competentemente contemplada e atendida,

demandará ações governamentais e não-governamentais marcadas pela sinergia,

que algumas vezes parece ser até enunciada. Além disso, a verdadeira inclusão

escolar e social implica, essencialmente, a vivência de sentimentos e atitudes de

respeito ao outro como cidadão.

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CAPITULO II

A INSERÇÃO SOCIAL DE PESSOAS DE COMUNIDADES

POPULARES ATRAVÉS DA DANÇA

Um modo de fazer com que crianças e adolescentes sintam-se

protagonistas de suas histórias é dar meios para fazê-los enxergar o contexto

sócio-cultural em que vivem.

Vários grupos de dança voltados a esse objetivo promovem a inserção

social de jovens e crianças de baixa renda.

É importante que as expressões individuais sejam valorizadas. Mas, o

espírito de coletividade também é despertado. Importante se faz delegar aos

alunos mais antigos a tarefa de serem monitores dos novatos, pois dessa forma,

aprimoram os conhecimentos e colocam em prática o espírito de

companheirismo1.

Segundo Read (2001, p. 12):

A educação é incentivadora do crescimento, mas, com exceção da maturação física, o crescimento só se torna aparente na expressão - signos e símbolos audíveis ou visíveis. Portanto, a educação pode ser definida como o cultivo dos modos de expressão – é ensinar crianças e adultos a produzir sons, imagens, movimentos, ferramentas e utensílios....se consegue produzir boas imagens, é um bom pintor ou escultor; se pode produzir bons movimentos, um bom dançarino ou trabalhador. Todas as faculdades, de pensamento, lógica, memória, sensibilidade e intelecto, são inerentes a esses processos, e nenhum aspecto da educação está ausente deles. E são todos processos que envolvem a arte, pois esta nada mais é que a boa produção de sons, imagens, etc. Portanto, o objetivo da educação é a formação de artistas – pessoas eficientes nos vários modos de expressão.

Para Góis (2004, p.23):

As revelações do cotidiano dessas pessoas são apresentadas de diversas formas e proporcionam as mais diferentes interpretações, as emoções são reveladas em cada gesto, em cada palavra e especialmente em cada ação.

1 Disponível em www.dancandoparanaodancar.org.br. Acesso em 29 de junho de 2010

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Para Garaudy (1980):

"As ciências e as técnicas deram ao homem o domínio de todas as coisas, exceto de si próprio e de seus fins. A DANÇA moderna, invertendo esta perspectiva e ensinando em primeiro lugar o domínio de si, mudando o centro do mundo, é a arte correspondente a uma nova era da civilização".

Vários projetos tem sido implementados com o objetivo de possibilitar que

crianças e adolescentes de famílias de baixa renda econômica possam

desenvolver atividades que proporcionem a aquisição de conhecimentos

complementares à educação formal, usando a dança como agente motivador no

processo de aprendizagem e desenvolvimento social de crianças e adolescentes

classes populares em recursos materiais e afetivos. Oferecem além das aulas de

dança, Apoio Psicológico, Reforço Escolar, Fonoaudióloga, Atividades na

Biblioteca da entidade, palestras educativas, visando estimular o bom rendimento

escolar e a construção da auto-estima através da dança. Também se desenvolve

um Trabalho de Educação Familiar, a fim de que as famílias construam hábitos e

atitudes que promovam o sucesso escolar e pessoal dos seus filhos. Partindo do

princípio de que o talento não escolhe classe social, aspira-se descobri-lo e

incentivá-lo nessas crianças e adolescentes que a partir dela poderão desenvolver

múltiplas atividades, e até mesmo um dia, tornarem-se bailarinos profissionais2.

Esses são alguns dos fatores de relevância, para a criação de Projetos, tais

como o “Dançando para não dançar”, projeto este que será demonstrado no

capitulo 3. Outros projetos existem e todos surgiram da necessidade de colaborar

em busca da paz, de igualdades sociais, de educação, cultura e de uma ação

objetiva de preencher através da dança, enormes lacunas que induzem os nossos

2 Disponível em www.dancandoparanaodancar.org.br. Acesso em 29 de junho de 2010

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jovens a abraçar caminhos autodestrutivos como a droga, o crime, a alienação e a

violência.

Em virtude das profundas dificuldades que passam grande parte da

população, principalmente aquelas que habitam as favelas e as periferias, surgem

alternativas, trazendo aos jovens novas perspectivas, desafiando-os a pensar e

agir, despertando assim sua capacidade criativa.

Os valores estão confusos e contraditórios, porém no bojo desta confusão

generalizada há uma busca e construção de algo novo: A transformação Social

através da arte.

Estes projetos almejam, através da arte, proporcionar aos jovens que se

encontram à margem da sociedade, uma nova esperança, um novo olhar e a

confiança na possibilidade de mudarem a sua realidade. A dança tem o poder de

trabalhar a auto-estima numa relação mútua entre o psico e o social. Ela oferece

uma relação direta com o autoconhecimento, com momentos de muito prazer e

alegria, funcionando ainda como estimuladora da vida e do verdadeiro sentido da

cidadania. Por isso se apresenta como uma alternativa na busca do resgate da

auto-estima e da cidadania, tão enfraquecidas nesse ambiente social conturbado3.

Como o alicerce do ensino é o ambiente - um ambiente que possa acender

no aluno a chama da conquista de novos terrenos do saber e de novos valores da

conduta humana - esse precisa ser redescoberto, para que a alma desse

ambiente possa a vir a ser, novamente, transformado em espírito criador.

3 Disponível em www.dancandoparanaodancar.org.br. Acesso em 29 de junho de 2010

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Através desses projetos, é possível a geração dessas condições; de

prosseguir com as portas abertas, somando com a comunidade, na busca por

esse clima de bem estar.

Desenvolvendo a consciência da possibilidade de realização social e

humana através da dança, pretende-se fazer com que essas crianças venham a

ter contato com a cultura e a arte. O que era, até então, apenas um sonho, pode

converte-se ainda em perspectivas de uma profissão no futuro próximo.

O fato de o projeto ter ido à comunidade em busca dessas crianças já

desenvolveu uma força motivadora na própria comunidade, no que se refere à

união. Ao se reunir crianças de favelas diferentes estaremos reunindo também

famílias de ambientes rivais, que passam a possuir um ponto em comum: A

DANÇA. No início do projeto existiam crianças que não se falavam. Esse fato foi

se desmistificando com o passar dos dias, pois se valoriza o trabalho coletivo e

cada integrante que dele participa. É indispensável um trabalho que respeite e

preserve a cultura da vida cotidiana dessas crianças, e que possibilite o seu

desenvolvimento e expansão4.

O projeto acredita na teoria de criação de valor através da educação, onde

o ensino deve privilegiar a felicidade da criança, obtida por meio da integração

família, comunidade e projeto atuante. Essa tríplice aliança defendida nas ações

do projeto permite que a sua proposta permeie completamente o ambiente no qual

está inserido e, desta forma, tenha total acesso ao universo das crianças

atendidas. Esse acesso permite a continuidade do verdadeiro trabalho de

construção de valores. A partir daí, este tipo de trabalho se confronta com a

4 Disponível em www.dancandoparanaodancar.org.br. Acesso em 29 de junho de 2010

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escalada de violência que tende a aumentar progressivamente movida pelo

consumismo, pela desigualdade social e perda de valores humanísticos5.

5 Disponível em www.dancandoparanaodancar.org.br. Acesso em 29 de junho de 2010

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CAPITULO III

ESTUDO DE CASO

3.1 Projeto “Dançando para não dançar”

O projeto “Dançando para não dançar” começou a dar seus primeiros

passos em 1994. Hoje ensina balé a 480 crianças de doze comunidades pobres

da cidade do Rio de Janeiro.

Esse projeto é comprometido com a criação de uma sociedade humanitária

e socialmente mais justa e vem proporcionando às crianças, moradoras de favelas

cariocas, o acesso à educação, à cultura, à saúde, e, especialmente, à

profissionalização, através do ensino do balé clássico, uma profissão que

tradicionalmente pertencia às classes sociais de maior poder aquisitivo.

Ele está formando cidadãos conscientes do poder de transformação do

meio em que vivem, revelando talentos capazes de projetar o Brasil no cenário

internacional do balé clássico.

O objetivo principal deste projeto é impedir que crianças e adolescentes

"dancem" na vida, na marginalidade, no trabalho e na prostituição infanto-juvenil

ou que sejam vítimas da violência e da ação do tráfico de drogas, em suas

comunidades.

As 480 crianças atendidas atualmente pertencem a dez favelas da cidade

do Rio de Janeiro (Cantagalo, Pavão-Pavãozinho, Rocinha, Mangueira, Chapéu-

Mangueira, Babilônia, Macacos, Tuíuti, Jacarezinho, Santa Marta, Borel e

Salgueiro).

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O trabalho inclui suporte sócio-educativo às crianças, incentivando a

participação do núcleo familiar, fundamental para o desenvolvimento de uma

consciência cidadão e melhor qualidade de vida.

Além das aulas de dança, as crianças têm aulas de teoria e práticas

musicais e espanhol. É oferecido ainda assistência médica, dentária,

acompanhamento psicológico e fonoaudiológico, além de assistência social.

Um dos grandes orgulhos do projeto é que foi possível integrar 85 crianças

à Escola de Dança Maria Olenewa, do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, onde

seis desses alunos foram encaminhados para especialização em Companhias e

Escolas de dança no exterior.

Apesar de saber que nem todos os jovens assistidos pelo projeto

ingressarão no mercado de trabalho como bailarinos, pelo menos, são garantidos

a eles, direitos e oportunidades iguais, onde sobressairão aqueles em que o

desempenho e o talento nato estiverem como metas em suas vidas. Além do

mais, os alunos poderão utilizar os conhecimentos adquiridos ao longo da

aprendizagem, em profissões ligadas às demais atividades artísticas ou em

atividades que possam melhorar a qualidade de vida de suas comunidades.

Em 1994, quando o projeto iniciou, as crianças dos morros do Cantagalo e

Pavão-Pavãozinho foram apresentadas ao balé clássico. Posteriormente o projeto

se expandiu para os morros da Rocinha, Mangueira, Chapéu Mangueira,

Babilônia, Morro dos Macacos, Tuiutí, Jacarezinho e Salgueiro.

O projeto também desenvolve um trabalho corporal através da dança

clássica, com crianças especiais, onde se busca integrá-las à sociedade de forma

lúdica, através de atendimento especializado.

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Um grande exemplo que deve ser citado, são duas jovens bailarinas, dos

morros da Mangueira e Cantagalo, que recentemente ganharam bolsa de estudos,

por um período de 4 anos, para estudar ballet na Escola de Staatliche

Ballettschule, na Alemanha.

Além das aulas de dança, o projeto tem como objetivo orientar as crianças

sob outros aspectos: higiene, disciplina e respeito às diferenças. Exige que o

aluno esteja matriculado em escola e que apresente o boletim, com média igual ou

superior a 5 para poder freqüentar as aulas. Caso contrário esse aluno estará

suspenso, até que recupere a média escolar. Com isso o projeto contribui para o

desempenho dessas crianças, buscando torná-los cidadãos atuantes na

sociedade.

Tal forma de ação tem se mostrado eficiente. Crianças com médias baixas, e

conseqüentemente excluídas do projeto, passam a se esforçar mais e, na maioria

dos casos, contar com o apoio dos próprios pais nessa empreitada de

recuperação. O apoio dos pais, estudando com elas, aumenta o vínculo familiar e

permite que elas retornem às aulas de dança e ao ensino escolar, melhores ainda.

Quando os pais estão do nosso lado o objetivo se multiplica.

Fala-se em cidadania como se fosse algo que cai do céu na consciência

das pessoas. Na verdade, cidadania é uma forma de se sentir possível, de

acreditar que você pode realizar seus sonhos, que pode batalhar para chegar

aonde quiser. Esse processo começa no corpo. O projeto demonstra às meninas

que é possível ser limpa, saudável, sem doenças.

É difícil fazer com que as crianças envolvidas no projeto percam a

referência da própria realidade, que é muito forte. Mas é essencial que elas

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sonhem e sintam que podem mudar essa realidade. Talvez não consigam

solucionar o problema do alcoolismo do pai, mas podem sair do ciclo que empurra

as famílias para essas formas de fuga, evitando casar-se com um alcoólatra ou

envolver-se com drogas e drogados. Dança não é só virtuosismo, dietas e

exercícios; ela pode ser usada para que as pessoas se redescubram, para criar

novos horizontes. A dança pode ganhar um aspecto mais humano sem perder a

função de espetáculo. A melhor coisa é saber que todas as meninas estão bem

nutridas, felizes, inteligentes, sonhando e realizando seus sonhos.

Outro dado importante a ser abordado é que em 1996, a Empresa Municipal

de Informática e Planejamento (Iplan-Rio) constatou que 17,6% da população

carioca mora em 608 favelas, onde a renda dos chefes de família alcança em

média 1,71 salário mínimo. Apenas 1,07% deles possui mais de quinze anos de

estudo. Segundo o censo de 1991 do IBGE, 16,6% das crianças cariocas vivem

em favelas e 21,8% em famílias com renda inferior a um salário mínimo. Somente

no Morro da Mangueira moram mais 30 000 crianças e adolescentes carentes ou

em situação de risco.

No primeiro ano do projeto cinco de suas alunas foram aprovadas no difícil

exame de admissão da Escola de Dança Maria Olenewa do Teatro Municipal do

Rio de Janeiro. Em 1997, as doze crianças que concorreram obtiveram uma vaga,

competindo com mais de 300 bailarinos de academias particulares. No final de

2003, oitenta alunos se apresentaram ao ar livre debaixo do viaduto do Morro da

Mangueira em um espetáculo que teve a participação de Ana Botafogo e Paulo

Rodrigues, primeiros bailarinos do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

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A intenção maior do projeto é fornecer às crianças pobres a oportunidade

de se profissionalizar como bailarinos, afastando-as do desemprego ou de

subempregos, a que tradicionalmente estariam designados. Com o projeto, a

intenção é evitar que as crianças abandonem a escola e que se envolvam com a

violência e a criminalidade dos morros.

Além de valorizar a parte física e emocional dos meninos e meninas, o

projeto tem encontrado verdadeiros talentos nas comunidades carentes. Um

artista não escolhe lugar para nascer e muito menos classe social.

Um dado importante a ser registrado é a disciplina exigida dos alunos, tais

como assiduidade, empenho e concentração. A disciplina se reflete em outras

áreas de suas vidas - na escola, no comportamento social e até em suas famílias.

As exigências feitas são que os alunos não deixem de freqüentar a escola formal,

que não repitam de ano e que se dediquem muito ao balé, como profissionais.

Eles precisam definir o que querem fazer e aproveitar a chance, porque tem

muitas outras crianças com vontade de participar.

O projeto não se resume ao ensino somente da dança; também procura-se

expandir os conhecimentos dos alunos ao ensinar a eles noções de arte e cultura,

levando-os a apresentações de dança, palestras e exibição de vídeo. Essas

atividades promovem o resgate da cidadania das crianças, integrando-as a um

contexto cultural até então desconhecido. Muitas vezes, elas passam a noite

debaixo da cama ouvindo tiroteio na favela. De manhã colocam o uniforme e vão

dançar. Algumas são até convidadas a fazer aulas nas academias particulares, só

para crianças ricas. Elas aprendem muito rápido a conciliar esses dois mundos.

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Importante também é o fato desses alunos acabarem servindo de exemplo

para outros meninos e meninas dos bairros onde moram e são o orgulho de suas

famílias.

A idéia é que as crianças que se dedicam e têm talento comecem a fazer

aulas com 7 anos e saiam do projeto com uma profissão definida. Assim dá para

evitar que as famílias as coloquem para trabalhar em profissões menos

promissoras, como empregada doméstica, e que elas repitam o ciclo de pobreza

dos pais.

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CONCLUSÃO

Se a música eleva o espírito, o que dizer da dança utilizada como

instrumento de transformação social? A disciplina do balé, aliada a projetos sociais

bem estruturados, não apenas democratiza uma dança que era privilégio das

classes mais abastadas, dá oportunidade e esperança a centenas de crianças e

jovens carentes de vários pontos do país.

Mais do que ocupar as crianças com atividades , com o objetivo de

simplesmente tirá-las das ruas e afastá-las do convívio com tráfico de drogas, a

dança, por intermédio de projetos tem aberto as cortinas de um futuro promissor a

jovens carentes. O principal passo desse espetáculo é uma verdadeira lição de

cidadania e revolução cultural.

O balé é um estímulo para envolver crianças, jovens e família, numa teia de

serviços capaz de provocar a transformação social. Só a aula de balé não resolve.

A disciplina necessária ao bailarino ajuda, mas se essas crianças não tiverem

acompanhamento de perto, não adianta.

Quando a família percebe que um dos integrantes consegue ascender, isso

serve de estímulo. Existem casos como o da mãe que não trabalhava e começou

a trabalhar ou do irmão que resolveu estudar para ingressar na faculdade.

As razões são muitas e merecem uma análise à parte, mas, mesmo sem

ela, é possível perceber um novo traço se tornando cada vez mais claro nas artes,

especialmente a partir dos anos 90. Não param de surgir projetos artísticos

destinados à educação de comunidades carentes. Aquelas velhas discussões

sobre a arte como discurso político versus a arte pela arte se tornaram obsoletas.

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São muitos os artistas que andam decidindo fazer da sua produção um

instrumento para melhorar a absurda taxa de injustiça social com a qual

convivemos. Não mais fazer do social o assunto, mas sim levar o trabalho

enquanto ação educacional.

Está em construção um outro modo da arte se relacionar com o que a

cerca. Evidentemente, a miséria e os desfavorecidos sempre foram assunto de

todos. O que acontece atualmente, contudo, aponta em outra direção. Artistas, em

número cada vez mais crescente, vêm agindo dentro da sua profissão com um

comprometimento mais direto com aqueles sobre quem as injustiças mais agem.

Vários projetos vêm sendo desenvolvidos, cada qual com uma característica

especial, mas todos partilhando de uma premissa básica: o uso da arte para fins

de ação social.

Na área da dança, ocorrem numerosas atividades nessa perspectiva e a

lição mais importante que podemos tirar é que acima de tudo, deve-se respeitar o

espaço do vizinho, pois a química da dança consegue fazer menores que só

vivem para o agora imediato comecem a enxergar que pode existir um amanhã

para eles.

Usar a dança para difundir valores como disciplina, premiação do esforço e

da dedicação, musicalidade, controle da força, sociabilidade e respeito ao corpo

configura uma possibilidade real de transformar os que são expostos a essa

oportunidade.

Os projetos buscam preparar crianças e adolescentes para a vida por meio

da dança

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A filosofia desses trabalhos de inserção social é recrutar crianças e

adolescentes pobres com a intenção de despertar e aprimorar seus talentos para

a música e dança, enfim as artes em geral e a partir disto colocá-los num caminho

certo para terem um futuro melhor.

É só você querer.

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ANEXOS

Figura 1 – Alunos do Morro do Cantagalo Fonte: www.dancandoparanaodancar.com.br

Figura 2 – Alunos da Rocinha Fonte: www.dancandoparanaodancar.com.br

Figura 3 – Alunos do Morro dos Macacos Fonte: www.dancandoparanaodancar.com.br

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Figura 4 – Alunos do Morro da Mangueira Fonte: www.dancandoparanaodancar.com.br

Figura 5 – Alunos do Morro do Tuiuti Fonte: www.dancandoparanaodancar.com.br

Figura 6 – Alunos do Morro do Jacarezinho Fonte: www.dancandoparanaodancar.com.br

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Figura 7 – Alunos do Morro do Chapéu Mangueira Fonte: www.dancandoparanaodancar.com.br

Figura 8 – Aprovados para a escola de dança do Teatro Municipal Maria Olenewa Fonte: www.dancandoparanaodancar.com.br

Figura 9 – Alunas que estão estudando no exterior Fonte: www.dancandoparanaodancar.com.br

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Figura 10 - Aulas com crianças especiais

Fonte: www.dancandoparanaodancar.com.br

Figura 11 Fonte: O Globo (Segundo Caderno) – A Revolução das Sapatilhas – 23/04/2004

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Figura 12 A bailarina Francisca Josiane no fim de tarde no Morro do Cantagalo, onde o

projeto Dançando para não dançar começou há nove anos Fonte: O Globo (Segundo Caderno) – A Revolução das Sapatilhas – 23/04/2004

Figura 13 Fonte: www.dancandoparanaodancar.com.br

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Figura 14 Fonte: O Globo (Segundo Caderno) – A Revolução das Sapatilhas – 23/04/2004

Figura 15 Fonte: www.dancandoparanaodancar.com.br

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Figura 16 Fonte: www.dancandoparanaodancar.com.br

Figura 17 Apresentação Central do Brasil – Junho de 2003 Fonte: www.dancandoparanaodancar.com.br

Figura 18 Apresentação Central do Brasil – Junho de 2003 Fonte: www.dancandoparanaodancar.com.br

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Figura 19 Apresentação Central do Brasil – Junho de 2003 Fonte: www.dancandoparanaodancar.com.br

Figu0ra 20 Apresentação Fim de Ano 2002- Suíte de Coppélia

Fonte: www.dancandoparanaodancar.com.br

Figura 21 Apresentação Fim de Ano 2002- Suíte de Coppélia

Fonte: www.dancandoparanaodancar.com.br