The Good Wife, 5 Temporada.
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Transcript of The Good Wife, 5 Temporada.
THE GOOD WIFE, 2013-2014. 5ª TEMPORADA.
The Good Wife é uma série norte-americana exibida pelo canal CBS. Estreou em
setembro de 2009 e está atualmente em sua 6ª temporada. Alicia Florrick (Julianna
Margulies), a personagem principal, teve sua vida revirada após o escândalo das traições
do seu marido, Peter Florrick (Chris Noth) e passou a viver um embaraçoso dilema: ou
ela permanece ao lado do marido, o perdoando; ou ela dá às costas a tudo e tenta
recomeçar do zero. E a saída encontrada por ela é um misto dessas opções: Alicia se
mantém ao lado do marido em cena incômoda na qual Peter declara publicamente seus
encontros com prostitutas, pede perdão e se defende das acusações de subornos. E, por
outro lado, deixa de lado a vida construída no subúrbio para enfrentar a cidade e
conseguir emprego para manter sua família.
A personagem é introduzida como a "Boa Esposa". Aquela que dá suporte ao marido
em qualquer situação deixando de lado seus sentimentos em prol da manutenção de sua
família. Mas o título de boa esposa não se encaixa sem resistência. Ao caminhar em
direção ao palanque para se juntar ao marido na conferência de imprensa no episódio
piloto, Alicia vacila. Estremece. Parece tentar avaliar as consequências do ato futuro.
Cede, mas permanece impassível. O impacto a paralisa. Ela é realmente a esposa
submissa?
Só por este pequeno trecho do episódio piloto já vale toda a empreitada com a série.
Mas The Good Wife acabou perdendo um pouco dessa força inicial, dessa simplicidade
impactante ao lidar com os sentimentos de sua personagem principal. Ao final da
primeira temporada Alicia não só se desvinculou do seu marido como acabou criando
uma relação dependente com outro homem no show. Se o caminho pretendido (e
desejado por algumas espectadoras femininas) era o de desvencilhar a personagem da
dominação masculina, a tomada de rédeas por Alicia não acontece completamente. E
assim segue, até a quinta temporada que presenteou os espectadores como um virada
narrativa mais do que pertinente; necessária.
Pelo direito de recomeçar.
Desde os impactos da primeira temporada, The Good Wife não apresentava a Alicia
Florrick nenhuma oportunidade de renovação. A personagem cresceu, sem dúvida,
durante as quatro temporadas iniciais. Mas em nenhum momento o desenvolvimento da
personagem da dedicada "mãe de família" alcançou caminhos que lhe incumbisse maior
autonomia. Que não fosse apenas um resultado, uma reação.
Alicia se separou do marido e deu início a um promissor affair com seu companheiro de
trabalho Will Gardner (Josh Charles). Contudo, o relacionamento deles prendeu o
destino da personagem a situações de dependência ainda maiores do que a já conflituosa
relação com o então ex-marido. Isto porque a figura masculina de Will Gardner guiava
o destino de Alicia seguindo seus próprios interesses pessoais. E Alicia, uma
personagem que já havia experimentado a traição do marido, sua prisão e acusações de
corrupção e, especialmente, a difamação de sua figura após constantes exposições
forçadas pela mídia não era capaz de enxergar os jogos de Will dentro do próprio
ambiente de trabalho.
O relacionamento dos dois chega ao fim após outra iminência de escândalo (o que de
certa forma deixa imaculada a imagem do manipulador Will. Ele queria preservar Alicia
de mais uma situação de desconforto? É posto como altruísta nesse ponto?). E então
Alicia começa a refletir sobre o affair. Ela não estava apaixonada. O seu desejo
enquanto mulher não foi suprimido em prol de um romance qualquer. Finalmente Alicia
não era mais exposta pela ótica das personagens masculinas da série. Mas nada disso
persiste e Alicia mais uma vez sucumbe ao charme de Will Gardner e se torna a "boa
esposa" manipulável mais uma vez. O que lança um incômodo insolúvel: a personagem
principal da série, uma mulher que deveria ascender a cada episódio em vias de se
fortalecer em meio a um ambiente masculino acabou deixando clara a sua aceitação aos
esquemas dos homens de seu ambiente de trabalho.
A série tornou-se inconstante no sentido de não conseguir lidar com a sua potência
latente (a de contribuir ao pequeno grupo de séries de TV que realmente dedicam
espaço para a voz feminina). E passou a lidar com todos os assuntos expostos com
muita cautela. Não digo que a série se tornou desagradável, pelo contrário, acabou
criando alguns momentos memoráveis ao longo das quatro temporadas. Mas as escolhas
dos criadores (e casal de showrunner's) em manter o show longe de determinadas
polêmicas acabou deixando tudo um pouco inócuo, e até mesmo reacionário.
E é aqui que a quinta temporada se destaca. Para Alicia é oferecida a chance de um
recomeço em seus próprios termos e decisões e para a série, consequentemente, é legada
uma chance de recomeçar e dar um toque mais consistente a tudo que foi explorado ao
longo dos anos do programa. A "boa esposa" finalmente traz um tom irônico ao título de
seu próprio show.
Florrick, Agos & Associados.
Com o nascimento da nova firma de Alicia Florrick e Cary Agos (Matt Czuchry) a série
sofreu algumas mudanças em sua linguagem e narrativa. Se antes os casos explorados
na série serviam apenas para os acontecimentos exclusivos de um episódio, com pouca
repercussão durante uma temporada (com algumas exceções em casos que incidiam no
destino pessoal das personagens principais), na quinta temporada cada caso, cada
acusação é parte viva para a temporada como um todo. Isto porque, com a declarada
batalha entre as duas firmas (Lockhart/Gardner; Florrick/Agos) os casos necessitavam
continuar sendo explorados porque cada decisão final, cada acordo decidia o destino das
firmas de advocacia envolvidas.
Com a cisão da firma, os personagens são colocados em situações de desconforto
constante. E, ponto positivo, não só as personagens masculinas. Um exemplo da
inversão, ainda que contida, da situação de personagem é Diane Lockhart (Christine
Baranski). Ao longo da série, a personagem que representaria uma autonomia e poder
feminino consolidado em ambiente majoritariamente masculino é alvo de constantes
ameaças. Diane não possui poder algum em sua própria firma. Ao contrário, é lembrada
constantemente do poder de seus parceiros em retirá-la de sua posição de gerência. O
que acaba acontecendo na quinta temporada. Contudo, é apresentada a personagem a
possibilidade de retomar sua posição inicial. E a partir do episódio da expulsão de
Alicia e seus companheiros do escritório, Diane não sucumbe mais a autoridade alheia.
As personagens masculinas são depostas de seus pedestais e passam a sofrer todas as
consequências de seus atos. Will Gardner encontra a resistência de Alicia nos tribunais e
o jogo de manipulação rompe a via única: se ele quer jogar, Alicia aceita o embate. E a
cada derrota, a cada tentativa, assistimos a exposição das fragilidades do Sr. Gardner.
Não só as mulheres são despidas de seus sentimentos em cena na quinta temporada.
É introduzida uma tentativa de subjugar Alicia mais uma vez a Will, com seu irmão
reafirmando constantemente que o único motivo para Alicia deixar a parceria com seu
ex-amante era a necessidade de evitar seu amor latente; o que poderia abrir espaço para
uma reconciliação e retomada de uma relação de interesse. Mas o plot não persiste.
Muito porque não havia a alternativa de recuar com os avanços da personagem. Sua
potência se intensifica a cada episódio e se torna indissociável do show. Uma Alicia tola
não poderia mais abitar a série.
Talvez por esta coragem em transformar uma série já consolidada, a quinta temporada
de The Good Wife é tão grandiosa. E não somente pela grande reviravolta narrativa
(não vou ceder este spoiler específico, mas é uma situação bem surpreendente.), mas por
uma constância em todos os episódios. Com a Alicia da quinta temporada eu consigo
me relacionar sem reservas. E The Good Wife permanece na lista das séries esperadas!
Já na metade da 6ª temporada, a série continua no mesmo caminho. Uma excelente
atração.
Nota: 5 estrelas.