Texto Para a AD a Negociacao Como Ferramenta
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7/23/2019 Texto Para a AD a Negociacao Como Ferramenta
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doi: 10.5102/un.gti.v3i1.2273
Nathalia Kwirant Tatagiba1
Francisco Guirado Bernabeu 2
* Recebido em: 27/03/2012
Aprovado em: 12/05/20131 Formada em Administrao de Empresas pelaUniversidade Federal de Rondnia (2010) e ps--graduada em Gesto de Projetos pelo SENAC--DF (2012). Com experincia na rea financeira,no setor de matrias para construo e na reacartorria. H cinco anos na assessoria parlamen-tar na Cmara dos Deputados. Desde Junho/2012filiada e voluntria ao PMI - DF, auxiliando noPrmio Candango e Projetos de Filiados do 12 Encontro Internacional de Projetos, atualmenteestou como Diretora Adjunta da PMO.
2 Oficial da Fora Area Brasileira, proessor de Ne-gociao da Faculdade SENAC DF, palestrante e
instrutor de Negociao do Instituto de Logsticada Aeronutica (Guarulhos-SP) e atua na gernciade projetos de aquisio de aeronaves.
Gesto de projetos: a negociao comoferramenta para resoluo de conflitos*
Project management: a trading as a tool forconflict resolution
Resumo
A gesto de projetos evolui gradativamente, desde as antigas cons-
trues arquitetnicas; mas, ultimamente, as mudanas tm se tornado mais
constantes, em ambientes altamente competitivos, com recursos materiais
limitados e compartilhados e com diversidades culturais entre os colabora-
dores. Nesse cenrio, torna-se necessrio que o gerente de projetos desen-
volva competncias especficas para obter resultados positivos diante dos
inevitveis conflitos da decorrentes. Com este artigo, pretende-se atender a
essa necessidade, demonstrando como a negociao pode ser utilizada pelogerente de projetos na resoluo de conflitos. Para atender esse objetivo, oi
realizada uma reviso bibliogrfica, por meio de pesquisa bibliogrfica em
livros, artigos e peridicos, chegando-se concluso que, a negociao uma
competncia essencial, por ser possvel aplic-la em vrios momentos do ci-
clo de vida do projeto e proporcionar ao gerente uma poderosa erramenta
para enrentar os conflitos.
Palavras-chave: Gerente de projetos. Conflito. Negociao.
Abstract
Project management evolves gradually, rom the ancient architectural
constructions, but lately the changes have become more constant in highly
competitive environments, with limited material resources and cultural di-
versity and shared among employees. In this scenario, it is necessary that the
project manager to develop the skills to achieve positive results in the ace o
inevitable conflicts arising. With this article, we intend to meet this need, sho-
wing how negotiation can be used by the project manager to resolve conflicts.
To meet this goal, research was conducted on books, articles and periodicals,
coming to the conclusion that negotiation is an essential skill, because youcan apply it several times during the lie cycle o the project and give the ma-
nager a powerul tool to deal with conflict.
Keywords:Project manager. Conflict. Negotiation.
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1 Introduo
A Gesto de Projetos est presente na vida dos
indivduos e das organizaes desde a Antiguidade. As
monumentais pirmides do Egito, amosas pelas suas
complexidades arquitetnicas, j empregavam tcnicas
de engenharia e gerenciamento bem sofisticadas para aconstruo de sistemas de esgoto e de irrigao, embarca-
es e canais (VALLE, 2007).
Com a evoluo da Administrao e de seus pro-
cessos, novas ormas de gerenciamento oram surgindo
no mundo, entre elas, o gerenciamento deprojetos. Alm
de serem requentemente usadas, inormalmente e em
partes, as prticas de gerenciamento de projetos consoli-
daram-se somente na dcada de 1990, sendo menciona-
das por diversos estudiosos como disciplina obrigatria
nas empresas que buscam desenvolver e manter vanta-
gens competitivas (CARVALHO, 2008).
No decorrer de seu progresso, algumas metodo-
logias e prticas oram aparecendo, como a APM (Asso-
ciation for Project Management), da Inglaterra, e a IPMA
(International Project Management Association), orga-
nizao em que participam vrias entidades nacionais
(DINSMORE, 2006); mas, a mais consolidada oi a esta-
belecida pelo PMI (Project Management Institute)
O PMI oi undado em 1969 por cinco pes-soas de vanguarda que entendiam o valor donetworking, do compartilhamento das inor-maes dos processos e da discusso dos pro-blemas comuns de projetos. Aps a primeirareunio oficial, em outubro de 1969, no Ger-gia Institute of Technologyem Atlanta, Gergia,EUA, o grupo constituiu oficialmente a associa-o na Pensilvnia, EUA. PMI, 2007).
O Brasil oi um dos primeiros pases a valorizar
a prtica de gerenciamento de projetos estabelecida pelo
PMI. No final dos anos de 1990, sucedeu-se a iniciativade se criar uma entidade nacional, que se expandiu pelos
estados por meio de entidades denominadas Chapters, ou
captulos (http://www.pmisp.org.br/institucional/pmi/
pmi-no-brasilPMI, 2012).
Para dar consistncia aos profissionais da rea de
projetos, o PMI reuniu voluntrios que criaram um con-
junto de conhecimentos em gerenciamento de projetos,
o PMBOK: um guia que indica a aplicao de conheci-
mentos, processos e habilidades, alm de um vocabulrio
comum na profisso. Esse guia oi divido em nove reas
de conhecimento: gerenciamento da integrao, do es-
copo, do tempo, dos custos, da qualidade, dos recursos
humanos, das comunicaes, dos riscos e das aquisies
(PMI, 2008).
Mas, de nada adianta uma boa organizao, com
recursos e equipe qualificada, se no houver quem aa
com que as coisas aconteam. O grande maestro dessaorquestra o gerente de projetos: [...] a pessoa designada
pela organizao executora para atingir os objetivos do
projeto (PMI, 2008, p. 13).O gerente de projetos o res-
ponsvel em azer com que pessoas com tcnicas, compe-
tncias e habilidades dierentes trabalhem em conjunto
para atingir um objetivo final, como ilustrado por Jardini
(2009, p. 15 apud KERZNER, 2004, p. 469):
Quando um pesquisador ala com um pesquisa-dor, o entendimento de 100 por cento. Quan-
do um pesquisador conversa com a produo,o entendimento de 50 por cento. Quando opesquisador ala com o pessoal de vendas, oentendimento zero. O gerente de projetos, noentanto, tem que se entender com todos eles.
O que az com que um projeto, um programa ou
um portlio ocorra, o ator humano. As pessoas esto
no centro dos projetos em todos os tipos de indstrias,
incluindo deesa, inormtica, servios, engenharia, ar-
quitetura, telecomunicaes, eletrnica e utilidade pbli-
ca (DINSMORE, 2006, p. 2). As pessoas azem com as
coisas aconteam, mas, junto com elas, vm as dierenasculturais, os valores e as competncias dierentes e, em
ambientes onde as mudanas tendem a ser contnuas, os
conflitos acontecero diariamente.
Os conflitos podem existir de diversas maneiras:
em disputas por terras, em guerras entre pases, na com-
pra ou na venda de um produto, na orma de realizar uma
tarea ou na simples dierena de opinio, que muitas
pessoas e organizaes consideram como ator negativo.
Hoje em dia, no entanto, se os conflitos orem percebi-dos, controlados e resolvidos a tempo, eles podem trazer
grandes benecios s organizaes. Um gerenciamento
de conflitos bem-sucedido resulta em uma maior produ-
tividade e em relacionamentos de trabalhos positivos
(PMI, 2008, p. 239).
H diversas maneiras de se conceituar os conflitos.
Alguns autores o veem de orma mais amigvel, consi-
derando conflito como [...] a percepo das dierenas
de interesses entre as pessoas (BURBRIDGE, 2007, p. 9
apud THOMPSON, 1998, p. 23); outros, de orma mais
competitiva, veem o conflito como uma disputa entre
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indivduos, cada um buscando o melhor para si. Nessa
viso, quando um alcana seu objetivo, impede o outro de
conseguir o seu, resultando, assim, em hostilidade entre
as partes (LIKERT, 1980).
O conflito pode ser visto sobre duas escolas:a tra-
dicional, que considera o conflito como um ator negativoe que deve ser evitado; e a contempornea, que acredi-
ta que o conflito inevitvel e, se or bem administrado,
pode produzir bons resultados (DINSMORE, 2006). Ro-
bbins (2009), por sua vez, acrescenta mais uma viso, a
interacionista, em que o conflito necessrio para que o
grupo interaja e obtenha assim um desempenho eficaz.
Carvalhal (2006) compreende dois tipos de confli-
tos que causam impacto no cotidiano das organizaes:
os interpessoais, que intererem diretamente no perfil
de comportamento dos colaboradores; e os intergrupais,
nos quais, o ambiente e a cultura da empresa originam os
conflitos. Dinsmore (2006) adiciona mais dois: o intra-
pessoal, em que ocorre uma briga interna no individuo a
partir das rustraes da vida pessoal e da vida profissio-
nal, causando, com o tempo, problemas no rendimento
do trabalho; e o intergrupal, que pode ocorrer entre di-
erentes grupos.
Existem vrias erramentas para se lidar com con-
flitos. Uma delas a negociao. Negociao e conflitoesto ligados como irmos siameses, e a combinao en-
tre eles uma parte irreutvel de nossa realidade exis-
tencial (SANER, 2004, p. 23). Cabe ao gerente saber o
momento certo de entrar em acordo, azendo com que
ambas as partes saiam satiseitas e tenham suas necessi-
dades atendidas.
O Estudo de Benchmarkingem Gerenciamento de
Projetos, realizado em 2009 pelo PMI-BRASIL, demons-
tra que, nos setores de tecnologia da inormao, con-sultoria, servios, indstria, governo, engenharia e EPC,
as habilidades que as organizaes consideram mais de-
ficientes nos profissionais de gerenciamento de projetos
so: conhecimento em gerenciamento de projetos, comu-
nicao, iniciativa, gerenciamento de conflitos e negocia-
o (PMI, 2009).
Por esse motivo, este estudo se torna relevante: h
no mercado de trabalho uma enorme presso por pro-
dutividade e por retorno; e a preocupao com a orma
com que o gerente de projetos se comporta perante os
conflitos e como ele lida com esse problema, dentro dos
projetos, imprescindvel., tornando-se pertinente anali-
sar como a negociao pode ser utilizada pelo gerente de
projetos para a resoluo de conflitos.
Nesta reviso da literatura, o mtodo de pesquisa
utilizado para atingir o objetivo ser o de pesquisa bi-
bliogrfica porque [...]a pesquisa bibliogrfica procuraexplicar um problema a partir de reerncias tericas pu-
blicadas em artigos, livros, dissertaes e teses (SILVA,
2007, p. 60).
A proeminncia se comprova, por existirem pou-
cas produes acadmicas e cientficas com esse tema: ne-
gociao e conflitos na gesto de projetos. Sendo ainda um
ponto de partida para as organizaes se aproundarem
na orma de gerir conflitos por intermdio da negociao.
No primeiro captulo, ser mostrada a importn-cia da habilidade de gesto de conflitos para o gerente de
projetos, os conflitos existentes nos projetos e suas causas,
como gerenci-los, como descobrir suas razes e qual es-
tilo adotar para lidar com eles durante o ciclo de vida do
projeto.
O segundo captulo apresentar a importncia da
negociao como erramenta para o gerente lidar com os
conflitos que aparecerem durante o ciclo de vida do pro-
jeto, quais as ormas de negociao, o processo de nego-ciao e as habilidades que o gerente precisa possuir para
lidar com eles.
O terceiro captulo mostrar as consideraes fi-
nais reerentes ao artigo.
2 A importncia da habilidade de gesto deconflitos para o gerente de projetos
No ambiente de projetos, o aparecimento de con-
flitos inevitvel, sendo responsabilidade do gerente de
projetos saber como identificar, como avaliar e como tra-
balhar os pontos positivos e negativos do conflito, contro-
lando at que ponto a dierena de ideias est melhorando
o desempenho da equipe do projeto (ANDRADE, 2010).
O gerente de projetos deve, dessa orma, preparar-
se para enrentar os conflitos, estudando o problema,
buscando o mximo de inormaes necessrias, definin-
do as prioridades, analisando a abordagem e a metodolo-
gia que ser utilizada e estabelecendo um clima propcio
(KERZNER, 2006).
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Alm disso, precisa compreender a importncia de
adotar determinadas atitudes, como: pensar antes de rea-
gir, construir uma relao de confiana, tentar entender os
motivos do conflito, ouvir todas as partes, alar com muito
tato sobre os pontos de vistas e saber o momento de dizer
que est errado (KERZER, 2006). Para entender as causas
do conflito, o negociador precisa conhecer a outra parte:
Compreender o pensamento da outra parte no meramente uma atividade til que ir ajud-loa solucionar o seu problema. O pensamento dooutro lado o problema. [...] Em ltima instn-cia, porm, o conflito no est na realidade ob-jetiva, a realidade, tal como cada lado a v que,em ltima instncia, constitui o problema de umanegociao e abre caminho para uma soluo(BALVERDE, 2006, p. 57 apud FISHER; URY;PATTON, 1994, p. 40-41).
Dessa orma, torna-se necessrio, por parte do ne-gociador, identificar alguns aspectos importantes, como a
cultura que refletir a orma de agir do oponente. O estudo
da cultura revela que os grupos humanos e categorias pen-
sam, sentem e agem de orma dierente, mas no existem
parmetros cientficos que permitam considerar um grupo
superior ou inerior a outro (OLIVEIRA, 2004, p. 63).
Outro aspecto importante so os valores de cada
envolvido no projeto e na negociao; um mtodo simples
[...] solicitar a uma pessoa que ale com suas prprias
palavras sobre seus valores (OLIVEIRA, 2004, p.72). Mas,um ator importante na habilidade de gerenciar conflitos
analisar a causa que originou esse conflito, [...] as causas
so divididas em reais e emocionais. As reais dizem respei-
to a recursos, atividades, normas e polticas. J as emocio-
nais envolvem sentimentos negativos entre os envolvidos
(CARVALHAL, 2006, p. 28).
Os conflitos dentro das organizaes podem se ori-
ginar de vrias maneiras: em grupo ou individualmente,
por recursos limitados ou compartilhados, por disputa de
cargos, recompensas, cumprimento de metas, dierena depersonalidade, de percepo e inormao (MARTINELLI,
2006, p. 46). O gerente de projetos deve proporcionar um
ambiente seguro, onde as pessoas possam compartilhar
suas ideias sem medo de represlias (VITAL, 2010, p. 10).
Mais especificamente na rea de projetos, os con-
flitos tambm podem surgir por opinies dierentes a res-
peito do sequenciamento de execuo das atividades, pela
alta de entendimento dos participantes do projeto sobre os
objetivos, pela m separao de unes na equipe, pelas di-
vergncias sobre gerenciamento, pontos de vistas dierentes
sobre qualidade, especificaes, estimativas de custo, utili-
zao de pessoal e prazo (DINSMORE, 2006, p. 87).
O conflito pode ocorrer no gerenciamento deprojetos, por meio da distribuio e do compar-tilhamento de recursos, do entrelaamento deatividades, da definio de metas dierentes daestrutura hierrquica da empresa, das dierenasde personalidade e da percepo de cada indi-viduo sobre uma mesma ao. O conflito em si,no pode ser visto com negativo ou positivo, naverdade sua administrao que pode gerar maus
resultados (CARVALHAL, 2006, p. 126).
Valeriano (2005) destaca as potenciais causas de
conflitos em projetos, como podem ser observadas no qua-
dro abaixo:
Quadro 1:Causas do Conflito em projetos
Potenciais Causas Caractersticas
Cronogramas Desacordos que se desenvolvem em torno de ocasies, sequenciamento e cronogramas.
PrioridadesDivergncias quanto s sequencias de atividades e tareas que poderiam ser adotadas para que
o projeto seja concludo com sucesso.
Recursos HumanosDivergncias que surgem sobre a ormao da equipe do projeto com o pessoal de outras reas
uncionais, de assessoramento ou de pessoas de outros departamentos.Opinies tcnicas e de
desempenho
Conflitos que surgem particularmente em projetos orientados para tecnologia, em questes
tcnicas, nveis de desempenho, ajustamentos tcnicos etc.Procedimentos
administrativos
Conflitos voltados para a gerncia e a administrao: como o projeto ser gerenciado,
relacionamento com o gerente do projeto, definies de responsabilidades, negociaes etc.
CustosConflitos que se desenvolvem sobre estimativas de custos, das reas de apoio s diversas partes
do projeto.Conflitos de
personalidade
Desacordos que tendem a girar em torno de dierenas pessoais, em vez de questes tcnicas.
Esses conflitos s vezes so ego-centrados.
Fonte: VALERIANO, 2005, p. 224.
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Como pode ser percebido no quadro acima, a
maioria dos conflitos surge nos projetos pela divergncia
na orma de azer as atividades e pelos conflitos de per-
sonalidade. De acordo com a viso interacionista de Ro-
bbins (2009, p. 192), existem trs classes de conflito: de
tarea, que est relacionada ao contedo e aos objetivosdo trabalho; de relacionamento, que envolve as relaes
interpessoais dos indivduos; e de processo, que indica a
orma que o trabalho ser eito.
Alm das causas, importante reconhecer que os
graus de intensidade dos conflitos podem variar de acor-
do com o ciclo de vida do projeto. Os gerentes acreditam
que os mais requentes so sobre prazos, porm os mais
prejudiciais so de personalidade (KERZNER, 2006).
O conflito mal gerido pode levar baixa produti-vidade ou desempenho da equipe e ao aumento do estres-
se; porm, se or gerido de orma construtiva, promove a
criatividade, a inovao e melhora a comunicao (VI-
LAX, 2010, p. 2).
Reconhecendo a necessidade de se lidar com os
conflitos, independentemente de qualquer natureza, tam-
bm importante que o gerente de projetos conhea os
estilos de se tratar com os conflitos, podendo aplicar um
s, ou vrios, para lidar com pessoas e equipes dierentes.
Autores como Carvalhal (2006), Dinsmore (2006), San-
ner (2004), Martinelli (2006) e Kerzner (2006) acreditam
que h cinco ormas de se lidar com os conflitos, com no-
mes dierentes, mas, com significados iguais:
1 Colaborativo [...] nesse estilo, a pessoabusca atender tanto seus interesses, como os daoutra parte. Busca-se garantir resultados e rela-cionamentos duradouros, o objetivo que am-bas as partes saiam satiseitas (CARVALHAL,2006, p. 126).
2 Prestativo no estilo prestativo a pessoa abre
mo de seus interesses em prol dos da outraparte. Pretende-se, dessa orma, [...] manter apaz e evitar situaes de conflito aberto. Comotem natureza apenas provisria, tambm noproporciona uma soluo duradoura para oconflito (DISNMORE, 2005, p. 90).
3 Competitivo Esse comportamento utilizatodos os meios disponveis para atingir a metavisada, sejam eles poder de persuaso, vanta-gem social ou simplesmente superioridade eco-nmica (SANER, 2004, p. 130).
4 Evasivo Em alguns casos, a evaso consi-
derada como uma soluo temporria para umconflito poder crescer e no ter mais como serresolvido sem causar transtornos. Essa atitude
pode ser vista por algumas pessoas da equipecomo covardia ou ainda alta de disposio pararesponder a uma situao (KERZER, 2006, p.300).
5 Conciliador nesse estilo, uma das partesabre mo de alguns de seus interesses, na espe-rana de que a outra tambm adote a mesma
postura. um estilo do meio o que equilibra osdois lados (MARTINELLI, 2006, p. 215).
Embora possam ser utilizados diversos estilos e se-
jam necessrias medidas preventivas e corretivas para li-
dar com o conflito, o planejamento a chave para manter
o conflito em nveis administrveis (DINSMORE, 2006 p.
93). Em qualquer projeto, todos os recursos, atividades e
acontecimentosdevem ser planejados e gerenciados. Isso
prev o surgimento de conflitos, por antecipar possveis
pontos de discordncia entre os principais indivduos en-
volvidos no projeto,estabelecendo-se um ambiente cola-
borativo e mais eficaz (MEKELBURG, 2010, p. 2).
Assim, lidar com conflitos uma das grandes habi-
lidades do gerente de projetos. Quando o gerenciamento
adequado, as dierenas de opinio podem resultar em
aumento da criatividade e melhoria no processo decis-
rio (PMI, 2008, p. 239). O gerente que trata esse conflito
de orma adequada traz inmeros ganhos ao projeto.
3 A importncia da negociao
Para o PMI (2008, p. 239) [...] o xito dos gerentes
de projetos no gerenciamento das suas equipes de proje-
tos, com requncia, dependem muito da capacidade para
solucionar conflitos.
Para superar uma situao de conflito, um ge-
rente de projetos tem sua disposio dierentes erra-
mentas. A principal a comunicao. Muitos conflitos
ocorrem porque uma das partes envolvidas no compre-ende exatamente o que a outra deseja, gerando tenses
desnecessrias e a percepo, s vezes incorreta, de que
os interesses entre as duas so conflitantes. Nesse caso, a
melhor orma de abordar o conflito esclarecendo a si-
tuao, mostrando com riqueza de detalhes e a partir de
diversas abordagens o que est sendo proposto. A parte
que se sentir prejudicada pode tambm realizar pergun-
tas, questionando determinados aspectos e os motivos de
certas aes (BERNABEU, 2012).
Outra orma de superar um conflito simples-
mente pedindo que a outra parte aa alguma coisa. Mui-
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tos indivduos entram em conflito com outras pessoas ao
perceberem que seus interesses no so atendidos, mes-
mo que esses interesses nunca tenham sido explicitados.
Esperam que as pessoas tenham bolas de cristal. A me-
lhor erramenta a ser utilizada, nesse contexto, pedir
que a outra parte aa alguma coisa (BERNABEU, 2012).Se essa erramenta no surtir eeito, resta ainda a
persuaso, que consiste na adio de argumentos a um
pedido, para convencer a outra parte de que o pedido em
questo justo, necessrio, importante, eficiente ou eficaz
(BERNABEU, 2012).
Se, mesmo assim, o conflito no or resolvido, o
gerente pode buscar a negociao como orma de resol-
ver o conflito, erramenta indispensvel em cenrios nos
quais deva ocorrer o trabalho em equipe, e em que os co-laboradores precisem trabalhar entre si, sem relao de
hierarquia entre eles e, muitas vezes, compartilhamento
chees dierentes (ROBBINS, 2009).
Nesse cenrio, a negociao pode ser compreendi-
da como o [...] processo de comunicao interativo, no
qual duas ou mais partes buscavam um acordo, durante
uma transao, para atender a seus interesses (BERNA-
BEU, 2008).
Caso o conflito, portanto, no possa ser resolvidopor meio do esclarecimento, de pedidos ormais e inor-
mais e da persuaso, o gerente de projetos deve recorrer
negociao, ou seja, proposio de trocas de interesses
entre as partes envolvidas nesse conflito.
Existe, ainda, outra orma de resolver um conflito:
por meio da imposio do gerente sobre a outra parte,
mas esse um recurso para o qual se necessita deter po-
der de influncia e que, com o tempo, pode acabar des-
gastando relacionamentos (BERNABEU, 2012).A negociao, portanto, uma erramenta na qual
o gerente tem que estar habilitado a usar durante o proje-
to, j que, em vrios momentos, essa habilidade pode ser
requisitada, [...] a negociao ocorre em praticamente
todo o projeto, desde o incio at o encerramento (PMI,
2008, p. 246).
Nos projetos, as negociaes mais relevantesso associadas a uma diversidade de aspec-tos: natureza do projeto, escopo, tempo e cro-nogramas; partes envolvidas, conhecimentosnecessrios, nveis de proficincia requeridos,investimentos e oportunidades, recursos sicose logsticos, hardware, sofware; recrutamento e
seleo, arquitetura das equipes e orma de ges-to, processo decisrio; nveis de qualidade deservios, contratos, aditivos e critrios para di-rimir conflitos; documentao, orma de acom-panhamento e checklist; alm das diversas rene-gociaes necessrias para que o projeto avance(CARVALHAL, 2006 p. 17).
Entre os princpios mais recomendados para um
negociador, destacam-se os seguintes: separe as pessoas dos
problemas, concentre-se nos interesses e no nas posies,
invente opes de ganhos mltiplos e insista em critrios
objetivos (CARVALHO, 2008, p. 244 apud URY 1985).
O gerente de projetos, na hora de negociar, deve
separar as pessoas dos problemas, dierenciando o ato
ocorrido da relao existente entre eles; precisa dar valor
aos interesses reais e tentar ao mximo concili-los; in-
ventar ganhos mltiplos por meio de solues criativas,
separando o ato de julgar do ato de inventar, criar bene-
cios mltiplos, usar sempre critrios objetivos, baseando-
-se em parmetros que apoiem sua deciso (RABECHINI
JNIOR, 2001).
A nova mentalidade do negociador est orienta-
da a gerar compromissos realistas, viveis e duradouros
entre as partes envolvidas para que as implementaes
sejam capazes e as relaes de trabalho proporcionem ga-
nhos mtuos (BALVERDE, 2006).
O gerente de projetos precisa entender que nem
todas as pessoas que iro negociar usaro tticas ticas.
Segundo um modelo proposto por Lewicki (1983,) h
cinco tticas no ticas: 1, oerecer ou demandar, respec-
tivamente, acima ou abaixo da posio real; 2, blear ou
alsificar promessas; 3, alsificar inormaes; 4, raudar
por meio da omisso de inormaes importantes para o
resultado da negociao; e 5, distorcer os atos diante de
terceiros (OLIVEIRA, 2004). Por isso, conhecer o opo-
nente muito importante, saber da sua cultura, de seus
valores e da tica que cada um possui.
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Gesto de projetos: a negociao como ferramenta para resoluo de conflitos
O conhecimento adquirido pelo negociador a
cada negociao importante j que agrega valor nova
negociao, sendo undamental que o conhecimento in-
dividual do negociador sobre as negociaes passadas e
a cultura das outras partes seja gerenciado para que se
construa uma vantagem competitiva (TEIXEIRA, 2011).
No processo de negociao, alguns atores se des-
tacam, como os processos e mtodos, os estilos, as ne-
cessidades, as motivaes de cada negociador e o conhe-
cimento especfico do objeto da transao (TEIXEIRA,
2011).
Para ter sucesso na negociao, precisa-se, antes
de tudo, conhecer e se preparar para o processo de nego-
ciao. Na primeira ase, az-se o planejamento, obtendo
o maior numero de inormaes a respeito do objeto a
ser debatido e dos envolvidos, objetivando criar um cli-
ma amigvel. Na segunda ase, apresenta-se a proposta,
mostra-se o possvel atendimento s necessidades alheias,
esclarecem-se os questionamentos, argumenta-se, e reto-
ma-se ao objetivo. Na terceira ase, encerra-se a negocia-
o e retroalimenta-se o fluxo, para manter um bom rela-
cionamento com a outra parte (TEIXEIRA, 2011).
Voltando um pouco primeira ase, importante
que o negociador tenha uma alternativa para proteger o
negociador de uma rejeio e [...] extrair o mximo derecursos de que dispe para que qualquer acordo obtido
satisaa seus interesses (TEIXEIRA, 2011, p. 21). Se o
gerente fizer um bom preparo para a negociao, conhe-
cer o seu oponente, seus valores, sua cultura, e levantar
os objetivos, criando vrias alternativas, ir conseguir, na
maioria das vezes, resultados positivos nas negociaes.
Alm do conhecimento do processo, h tambm
dierentes ormas de negociar. Dentre as vrias maneiras
de tipificar uma negociao, destaca-se a que considera o
nmero de questes envolvidas, classificando as negocia-
es em distributiva e integrativa (RAIFFA, 2002). Existe
ainda um terceiro tipo, baseada na busca de solues que
atendam aos interesses das partes a negociao criativa
(BERNABEU, 2012).
Na negociao distributiva, deve-se considerar
que negociao, muitas vezes, significa distribuio, di-
vidir o bolo que est sendo negociado (SANER, 2004,
p.55). Nesse tipo de negociao, existe apenas uma ques-
to a ser negociada, normalmente relacionada a valores.
Para que um ganhe mais, o outro tem que ganhar menos.
A negociao integrativa permite uma ampla mar-
gem de resultados, dependendo de como os negociadores
a enrentam. Dois negociadores extremamente competi-
tivos podem obter resultados perde-perde. Um negocia-
dor competitivo negociando com algum que adote um
estilo prestativo pode inringir um resultado ganha-perde
a este ltimo, enquanto dois negociadores de estilo co-
laborativo podem obter um resultado que atenda, pelo
menos, aos interesses parciais das partes, em uma relao
bem prxima ao ganha-ganha (BERNABEU, 2012).
Situaes tpicas em que a negociao integrativa
aplicvel, em projetos, so encontradas na negociao
de clusulas contratuais, durante os processos relaciona-
dos s aquisies; na elaborao de requisitos, em que
as partes devem abrir mo de certos interesses, a fim de
acomodar os de outros stakeholders; e nos processos re-
lacionados elaborao do cronograma, principalmente
no tocante distribuio de recursos no tempo e entre as
tareas necessrias conduo do projeto.
Alm da negociao distributiva e da integrativa, a
outra orma de negociao a criativa. Nessa negociao,
as partes buscam identificar os interesses de cada uma
e, a partir deles, encontrar solues que os satisaam
plenamente. Muitas vezes, essas solues so completa-
mente dierentes do que cada negociador pretendia obter
inicialmente; mas, devido ao dilogo e ao entendimento
mtuo, conseguem alcanar uma soluo original e ino-
vadora (BERNABEU, 2012).
A negociao uma erramenta valiosa para a re-
soluo de conflitos; e como pode ser observado no qua-
dro abaixo, os conflitos existem em todas as ases do pro-
jeto e podem ser solucionados por meio da negociao.
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Quadro 2 -Causas do conflito em projetos e ormas de negociao
Fases do Projeto Processos do Projeto Causas do Conflito Tipo de Negociao
INICIAO
Desenvolver termo deabertura.
Analisar stakeholders.
Divergncia de interesses e depersonalidade nos primeiroscontatos com o patrocinador
para fechar o escopo e asprincipais entregas.
Divergncia de interesses ede mtodos de trabalho na
identificao dos stakeholderse na definio da estratgia a
ser utilizada com cada um.
Criativa e Integrativa
Criativa e Integrativa
PLANEJAMENTO
Estimar custos e determinaroramento.
Gerenciar tempo.
Elaborar plano degerenciamento do projeto.
Divergncia de interessesao defender os custos e
oramentos do projeto parao patrocinador e os para osstakeholders interessados
(VALERIANO, 2005).
Divergncia na definio deprioridades das atividades do
projeto. (VALERIANO, 2005)
Divergncia entre pontos devista da equipe do projeto
sobre como o projetoser gerenciado, quais as
metodologias sero usadas,conflito entre o gerente e aequipe de gerenciamento.
(VALERIANO, 2005)
Integrativa
Criativa
Criativa e Integrativa
EXECUO
Adquirir equipe do projeto.
Desenvolver equipe deprojeto
Gerenciar equipe de projeto
Gerenciar expectativas destakeholders.
Conduzir aquisies
Divergncias sobre a formaoda equipe do projeto(VALERIANO, 2005).
Divergncias com gerentesfuncionais para liberao de
recursos humanos.
Divergncias entre membrosda equipe de projeto nos
estgios iniciais de formaode um grupo.
Informaes desencontradas,atividades no enquadradas
nos projetos e climaorganizacional no favorvel.
Conflitos de opinies tcnicasdiferentes que surgem nodesenrolar das atividades
(VALERIANO, 2005).
Rudos na comunicaorealizada entre os
stakeholders externos einternos.
Divergncias naturaisdecorrentes de seleo de
fornecedores.
Definio de critrios paraseleo de fornecedores.
Criativa e Integrativa
Criativa e Integrativa
Criativa e Integrativa
Criativa e Integrativa
Criativa e Integrativa
Criativa e Integrativa
Integrativa e Distributiva
Criativa e Integrativa
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Gesto de projetos: a negociao como ferramenta para resoluo de conflitos
Fases do Projeto Processos do Projeto Causas do Conflito Tipo de Negociao
CONTROLE EMONITORAMENTO
Gerenciar o tempo.
Gerenciar aquisies.
Desacordo pela no execuodas atividades no tempo
correto (HELDMAN, 2005).
Reclamaes dos usuriosfinais com as empresas
contratadas
Ajustes contratuais
Criativa e Integrativa
Criativa e Integrativa
ENCERRAMENTO Fechar aquisies.
Discordncia de opinio arespeito do que foi entregue
e do que foi acordado(VALERIANO, 2005).
Criativa e Integrativa.
Fonte: Do autor
Como a maioria dos conflitos existentes nos pro-
jetos interna e o resultado esperado o ganha-ganha, os
negociadores devem estabelecer um clima de mtua con-
fiana, se no or assim, as inormaes que uma das
partes requerer podem jamais ter a oportunidade de se-
rem postas na mesa. Se no houver confiana, no pode
haver integrao (SANER, 2004, p. 130). Por esse moti-
vo, os tipos de negociao mais utilizados so: o criativo,
pois busca solues que atendam a todos os stakeholders
envolvidos, e o integrativo, que procura estabelecer uma
relao de ganha-ganha, j que as duas atendem ao mes-
mo objetivo de orma dierente.
Porm, algumas vezes, como no processo de aqui-
sio, deve-se usar a negociao distributiva, indicada nanegociao de preos, nos oramentos, nos custos, nos
prazos, nas taxas ou em qualquer outra situao que en-
volva nmeros sobre os quais as partes tenham percep-
es dierentes dos valores que cada uma deseja obter ou
liberar para o projeto (BERNABEU, 2012).
4 Concluso
Este artigo abordou o gerenciamento de projetos,
conorme preconizado pelo PMBOK; conceitos bsicos
sobre conflitos; a importncia da habilidade de gesto de
conflitos para o gerente de projetos; algumas atividades
dos projetos nos quais est presentes o conflito; e a im-
portncia da negociao como erramenta para o gerente
lidar com os conflitos.
A presente reviso da literatura teve por objetivo,
por meio de pesquisa bibliogrfica, mostrar como a nego-
ciao pode auxiliar o gerente de projetos na resoluo de
conflitos, j que em meio a ambientes turbulentos, com
mudanas constantes, com alta competitividade e com
necessidade de resultados, os conflitos so inevitveis.
A pesquisa demonstrou que a negociao uma
erramenta til ao gerente de projetos na resoluo de
conflitos, j que o maior gargalo na sua utilizao na
identificao dos stakeholders envolvidos, no conheci-
mento por parte do negociador dos seus valores, na cul-
tura, nas crenas, e nos objetivos. E esse um dos primei-
ros trabalhos do gerente ao se iniciar um projeto, ficando
assim, mais cil para ele negociar, por j conhecer o seu
oponente.
Alm desse ator, a negociao proporciona para a
equipe e para o gerente a oportunidade de que os conflitos
sejam resolvidos de orma amena, gerando um ambiente
propcio para o surgimento de novas ideias, em processode benchmarkinginterno positivo, trazendo ganhos or-
ganizao.
Conclui-se, ento, que a negociao sim, um
meio para que o gerente de projetos possa lidar com os
conflitos, j que, por meio dessa erramenta, o gerente
pode encontrar alternativas de soluo, pode utilizar mais
de um estilo e de uma orma de negociar, no fica preso
em uma nica proposta, buscando oportunidades para
solucionar os conflitos. Porm, essa no uma verdadeabsoluta; h outras ormas de solucionar os conflitos, por
meio da comunicao, esclarecendo a situao; pedindo
que a outra parte aa alguma coisa; persuadindo, con-
vencendo a outra parte que a situao importante; ou
ainda, por imposio.
A ausncia de uma pesquisa de campo no per-
mitiu analisar o estilo mais utilizado pelos negociadores
na resoluo de conflitos, nem o tipo de negociao mais
utilizado. Para trabalhos uturos, sugere-se que sejam re-
alizadas pesquisas que contemplem os estilos dos nego-
ciadores.
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