Texto e Textualidade

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TEXTO E TEXTUALIDADE TEMA

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CRÉDITOS

Copyright © 2010, Universidade Camilo Castelo Branco – UNICASTELO.Nenhuma parte desse material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, por fotocópia

e outros, sem a prévia autorização, por escrito. Algumas imagens utilizadas neste trabalho estão livres de direitosautorais, de acordo com a licença Creative Commons.

ReitorJosé Carlos Pettorossi Imparato

Pró-Reitora de Graduação e ExtensãoElaine Marcílio Santos

Pró-Reitor de Pós-Graduação e PesquisaRenato Amaro Zangaro

Pró-Reitor AdministrativoDarcy Gamero Marques Filho

Pró-Reitora Adjunta de Graduação Mara Regina Rösler

Diretores AcadêmicosGustavo Duarte Mendes

Professor(a) Autor(a)Gerson Tenório dos Santos

Equipe do Núcleo de Educação a Distância - NEaD Coordenação Geral

Adriana Aparecida de Lima Terçariol

Diagramação e Montagem - NEaD

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SUMÁRIO

TEMA: TEXTO E TEXTUALIDADE

Texto e textualidade__________________________________________________________ Noção do texto____________________________________________________________ Textualidade_____________________________________________________________ Intencionalidade__________________________________________________________ Aceitabilidade_____________________________________________________________ Situacionalidade__________________________________________________________ Informatividade___________________________________________________________ Intertextualidade__________________________________________________________

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DESTAQUES

SAIBA MAIS: Serve para apresentar conteúdos, explicações e observações a fim de que você compreenda melhor o tema estu-dado.

IMPORTANTE: Indica conceitos ou ex-plicações que merecem destaque. Fique atento!

ANOTAÇÕES: Espaço destinado para suas anotações a res-peito do tema estudado.

REFLITA: São questionamentos acerca de aspectos centrais do texto.

OBJETIVOS: Indicam os conheci-mentos a serem desen-volvidos por você durante o estudo de cada tema.

Durante o texto, você encontrará algumas informações em destaque. Preste atenção:

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Iniciando nosso diálogo

Prezado aluno:

Nesta unidade serão discutidos os conceitos de texto e textualidade a fim de que se possa ter consciência dos fatores que fazem um texto ser um texto e não um amontoado de palavras e frases.

Vamos iniciar nosso aprendizado!

• Conceituar texto e textualidade;

• Compreender quais são os fatores que perfazem a textualidade de um texto;

• Praticar, por meio de exercícios, os conceitos apresentados.

OBJETIVOS

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TEXTO E TEXTUALIDADE

Em nosso dia-a-dia nos comunicamos usando os mais diferentes tipos de linguagem, mas a mais importante, do ponto de vista de nossa organização social, é a linguagem verbal.

A linguagem verbal se caracteriza pelo uso de palavras e possui duas modalidades: uma oral e outra escrita. Todas as sociedades humanas do passado e do presente se utilizam da lingua-gem oral, que está na base da cultura humana, porém nem todas as sociedades desenvolveram a linguagem verbal escrita. Mesmo em sociedades em que a escrita desempenha um papel importante – como a nossa – , muitas vezes é a modalidade oralizada que se destaca. Muitos dos chamados “erros de português” na verdade são imposições feitas especialmente por parte dos gramáticos normativos da modalidade escrita sobre a oral.

O caso da pontuação, por exemplo, só adquire pleno sentido na escrita, pois ao falarmos não usamos ponto, virgula, ponto e vírgula ou outros elementos, pois o que está em jogo é a entonação, pausas, altura da voz, velocidade, pronúncia, etc. Assim, por exemplo, quando falamos a frase “Joãozinho, venha cá!”, normalmente não fazemos nenhuma pausa entre “Joãozinho” e “venha cá”, uma vez pela velocidade da fala tendemos a “colar” todas as palavras formando um todo. Este não é o caso da escrita. Obrigatoriamente, temos que colocar uma vírgula depois de “Joãozinho”, pois se trata de um vocativo, um chamamento, que não pertence à mesma estrutura da frase “venha cá”. Ou seja, ao contrário do que dizem as gramáticas, a vírgula não representa uma pausa, já que isto só pode ocorrer na fala, mas um sinal usado pela escrita para construir sentido. Pense no que acon-teceria se no texto escrito não houvesse nenhum sinal de pontuação, parágrafo, maiúscula, acento, etc.

Assim, ao trabalharmos com a língua não podemos menosprezar estas duas modalidades, bem como o fato de há uma gramática específica da fala – da qual não nos ocuparemos neste cur-so – e outra específica da escrita, que será trabalhada neste curso em suas várias faces. Antes de discutirmos a especificidade da escrita, faz-se necessário compreender o que entendemos por texto e textualidade, uma vez que estes conceitos recobrem tanto a oralidade quanto a escrita.

A noção de texto

Note que quando falamos ou escrevemos nunca produzimos palavras soltas ou isoladas. Mesmo quando falamos ou escrevemos palavras simples como “olá”, “socorro”, nunca o fazemos fora de um contexto, de uma situação comunicativa. A situação comunicativa como um todo, que envolve os interlocutores, o assunto, o espaço e o tempo da comunicação, é chamada de enun-ciação e se relaciona com o discurso, que é a faceta dinâmica, viva do ato comunicativo. Já as palavras faladas ou registradas por escrito constituem o enunciado e o texto. Ou seja, enunciado e texto são produtos de uma situação comunicativa mais ampla. Pensem que a expressão “Bom dia” é dita milhões de vezes todos os dias, sempre a mesma expressão. Mas todas as vezes em que é dita se reporta a uma situação diferente. A construção do sentido depende, de um lado, do contexto situacional e, de outro, de um conjunto de enunciados mais ou menos fixos partilhado por todos para

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se comunicarem. Ou seja, depende uma enunciação e de um texto. O texto enquanto produto – que pode ser gravado, registrado, fixado – reporta-se a uma situação que é sempre única, nunca repetí-vel. Por isso, todo texto deve ser interpretado para que o sentido seja alcançável. O texto oral, por sua dinamicidade, sua imediaticidade, adquire sentido no próprio ato de produção, pois texto e con-texto estão intimamente relacionados. Já o texto escrito depende de um conjunto bem mais amplo de fatores (convenções gráficas, conhecimento de mundo, intertextualidade, regras de funcionamento do texto, etc.), pois o contexto não é dado de imediato e muitas vezes o texto foi escrito há muitos séculos e mesmo milênios do momento em que é lido (pensemos, por exemplo, na Odisséia, no Ba-ghavad Ghita, nos textos dos primeiros filósofos gregos, etc.).

Todo texto é relacional e coletivo. É produzido num determinado tempo histórico por um enun-ciador para um enunciatário real ou virtual com base em toda a experiência textual que aquele tem e na projeção que faz de seu interlocutor. Por outro lado, a interpretação do texto depende também do cálculo de sentido feito pelo enunciatário a partir de sua experiência de leitor e produtor de textos. Muitos problemas de comunicação derivam da distância existente entre estes dois atos: muitas ve-zes, o interlocutor não interpreta adequadamente o texto ou por desconhecer os termos, o assunto, os pressupostos e outros elementos presentes no texto ou por não entender direito a relação entre texto e contexto, como é o caso da ironia, da ambiguidade e outros fatores de comunicação. Por isso, para interpretar adequadamente um texto, temos que ir muito além da mera decodificação das palavras e frases que constituem o texto. O fato de, por exemplo, conhecermos muito bem o interlo-cutor nos faz perceber que um enunciado dito com toda a seriedade pode ser um mera brincadeira, devendo, assim, não ser interpretado ao pé da letra.

Podemos a partir do que dissemos até aqui destacar algumas propriedades básicas de todos os textos:

1- Unidade de sentido2- Dialogismo3- Delimitação4- Historicidade5- Contextualidade6- Aspectos formais

Textualidade

Além destas, há ainda outras propriedades do texto, chamadas pelos linguistas de textuali-dade. Textualidade é tudo aquilo que faz com que um texto seja um texto e não um amontoado de frases e orações. Consideremos aqui os sete fatores que constituem a textualidade. Dois deles, a coerência e a coesão, são fatores linguísticos, pois estão relacionados aos elementos materiais que constituem o texto. Estudaremos estes dois especificamente no módulo 2 e 3 e por isso não os discutiremos pormenorizadamente aqui. Os outros cinco são denominados fatores pragmáticos por estarem relacionados às situações de significação, ao uso da linguagem em contextos reais de

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• Textualidade: Os fatores que serão discutidos foram for-mulados pelos lin-guistas alemães Be-augrande e Dressler e bastante utilizados por vários linguistas brasileiros, como COSTA VAL.

• Pragmáticos: Pragmática é parte da linguística que estuda o sentido do texto, oral ou escri-to, em seu uso. Por exemplo, se alguém diz “A luz, por favor”, antes da projeção de um filme, está que-rendo dizer “Apague a luz, por favor”. Já a mesma frase dita quando do término da projeção quer di-zer “Acenda a luz, por favor”. Nestes casos, o sentido de-pende da situação, do contexto em que usamos tais pala-vras.

SAIBA MAISprodução de sentido. São eles a intencionalidade, a aceitabilidade, a situacionalidade, a informatividade e a intertextualidade. Discutiremos abaixo cada um deles para que possamos nos aprofundar no assunto.

Intencionalidade

Ao produzirmos um texto temos em mente um objetivo, uma in-tenção. Num dado momento, desejamos convencer alguém de alguma coisa, noutro levantamos questões, fazemos sugestões, damos nossa opinião. Cada um dos objetivos que temos em mente determinará o tex-to que produziremos. Se nosso objetivo é obter informações, fazemos certos tipos de questões às pessoas que julgamos serem as mais aptas a responderem. Uma questão sobre física estelar, por exemplo, dificil-mente faremos ao padeiro ou ao açougueiro, a menos que tenhamos conhecimento de que estes são estudiosos ou experts no assunto (por exemplo, um professor de física que teve que trabalhar como padeiro ou um padeiro estudioso da física). Se, por outro lado, desejamos ex-pressar nossa opinião por escrito sobre um determinado assunto, pro-duziremos um artigo de opinião pautado em convincentes argumentos organizados de uma determinada forma e, para tanto, teremos que fa-zer pesquisas.

Note o famoso prólogo do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas, escrito por Machado de Assis em 1881. Brás Cubas, ou o “defunto autor” do texto, ao dirigir-se ao leitor pressupõe que ele não seja o leitor comum da época em que Machado escreve (os “graves ” e “frívolos”), mas talvez alguns dos cinco que pode-riam ler o romance. Ou seja, ao dirigir-se a um determinado tipo de leitor ainda não existente, o texto é responsável por criá-lo. Claramente o texto admite que não haverá muitos capazes de in-terpretá-lo, ou de aceitá-lo, conforme veremos no próximo tópico. Assim, para interpretar um tipo de texto como este o leitor terá que expandir seu conhecimento de gênero, seu gosto formado pela literatura de uma época, suas expectativas enquanto leitor médio, etc., pois a intenção do autor é constituir um determinado tipo de leitor que possa cooperar com a leitura que ele propõe.

AO LEITOR

QUE STENDHAL confessasse haver escrito um de seus

EXEMPLO

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Aceitabilidade

É o complemento da intencionalidade. Se todo texto produzido se dirige a alguém, é preciso que o destinatário ou alocutário dê sentido a ele, o considere útil e relevante. O texto recebido pre-cisa produzir conhecimentos ou qualquer outro tipo de efeito que mobilize o interlocutor a cooperar com produtor. Ou seja, o texto precisa produzir um circuito comunicativo a fim que de as intenções do produtor sejam aceitas pelo recebedor. Isto ocorre tanto no texto oral quanto no escrito. Mas a dificuldade maior se encontra neste último, pois o produtor de um texto escrito virtualiza seu leitor, isto é, pressupõe que um conjunto de dados presentes no texto serão entendidos e aceitos pelo des-tinatário para que haja cooperação. Muitos alunos universitários iniciantes, por exemplo, ao lerem um texto muito denso comumente dizem que o texto não tem sentido. Isto ocorre porque o produtor do texto já pressupõe um leitor mais maduro, com maior nível de informação e conhecimentos so-bre o assunto que está sendo tratado. Para que o leitor deste tipo de texto coopere com o produtor é preciso que ele faça pesquisas sobre os dados do texto, como terminologia, conceitos, situações históricas, condições de produção, experiências produzidas, etc. Para tanto, deve-se recorrer a di-cionários, enciclopédias, livros introdutórios, palestras sobre o assunto, perguntas ao professor da disciplina, resenhas, fichamentos e várias outras formas de se obter conhecimento.

livros para cem leitores, cousa é que admira e consterna. O que não admira, nem provavelmente consternará é se este outro livro não tiver os cem leitores de Stendhal, nem cinqüenta, nem vinte, e quando muito, dez. Dez? Talvez cinco. Trata-se, na verdade, de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma livre de um Sterne, ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algu-mas rabugens de pessimismo. Pode ser. Obra de finado. Escrevi-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, e não é difícil antever o que poderá sair desse conúbio. Acresce que a gente grave achará no livro umas aparências de puro romance, ao passo que a gente frívola não achará nele o seu romance usual, ei-lo aí fica privado da estima dos graves e do amor dos frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião.

Mas eu ainda espero angariar as simpatias da opinião, e o primeiro remédio é fugir a um prólogo explícito e longo. O melhor prólogo é o que contém menos cousas, ou o que as diz de um jeito obscuro e truncado. Conseguintemente, evito contar o processo extraordinário que empreguei na composição destas Me-mórias, trabalhadas cá no outro mundo. Seria curioso, mas nimiamente extenso, e aliás desnecessário ao entendimento da obra. A obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus.

Brás Cubas

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Situacionalidade

Como já ressaltamos acima, todo texto depende do contexto em que é interpretado. Nenhum texto é autossuficiente, pois é produzido ou utilizado por alguém com certos propósitos claramente vinculados a uma dada situação comunicativa. Inúmeros podem ser os sentidos produzidos por um texto, mas ao se considerar o contexto em que foi produzido ou para o qual se destina esse ganha significados específicos para seus utilizadores. Isto é comum em textos literários ou poéticos, que são bastante abertos à interpretação. Mas ao se considerar o propósito de quem o utiliza e o contex-to ao qual está vinculado, o texto ganha uma sentido mais restrito, embora seu caráter polissêmico continue a existir. Pense, por exemplo, na utilização do trecho de um texto literário como epígrafe de um artigo científico ou na utilização de um poema ou letra de música numa propaganda. Muitas vezes o sentido que o poeta quis dar a seu texto no contexto em que foi escrito se altera ao ser utilizado no novo contexto em que foi utilizado. Isto significa que, no mínimo, temos que considerar tanto o contexto de produção quanto o contexto de recepção ao procurar determinar a extensão do significado de um texto.

Temos, ainda, que considerar que o sentido do texto pode ser dar tanto da relação do texto com o contexto quanto do contexto com o texto. O anúncio “Vende-se esse carro” só terá sentido na relação texto/contexto: se estiver afixado em automóvel ou próximo a ele, fará sentido para seu leitor; se estiver afixado em qualquer outro objeto ou solto na rua, não fará o menor sentido. Já um depoimento sobre algo que aconteceu (para um boletim de ocorrência, por exemplo) se dá numa relação contexto/texto. Em situações nas quais há uma comunicação face a face, as informações costumam ser mais lacônicas, breves e truncadas, pois o contexto funciona como esclarecedor ou ampliador do significado. Já em comunicações a distância, como carta, e-mail, bilhetes, o texto precisa incluir e aclarar o contexto a fim de que a mensagem seja interpretada adequadamente.

A crônica abaixo de Luís Fernando Veríssimo só adquire graça quan-do o leitor relaciona tanto seu conhecimento de textos (classificados, roman-ces, bíblia) e meios de comunicação (jornal, cinema, etc.) com outro tipo de conhecimento que pertence aos anais da história. Isto é, se não conhecermos o contexto histórico ao qual cada um dos “anúncios” abaixo se refere, não se-remos capazes de darmos sentido ao texto e, consequentemente, não perce-beremos a brincadeira efetuada pelo autor. Por exemplo, o sentido de “prefixo 1”, no anúncio TELEFONE só terá sentido para o leitor se souber que Alexander Graham Bell foi o inventor do telefone e, portanto, dono do primeiro prefixo cria-do. Da mesma forma, só seremos capazes de interpretar TORRO TUDO como ambíguo e engraçado se soubermos que o anunciante, o imperador Nero, é conhecido historicamente por ter tocado fogo em Roma.

EXEMPLO

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O Classificado Através da História

SÍTIO - Vendo. Barbada. Ótima localização. Água à vontade. Árvores frutíferas. Caça abundante. Um paraíso. Antigos ocupantes despejados por questões morais. Ideal para casal de mais idade. Negócio de Pai para filhos. Tratar com Deus.

CRUZEIRO - Procuram-se casais para um cruzeiro de 40 dias e 40 noi-tes. Ótima oportunidade para fazer novas amizades, compartilhar alegre vida de bordo e preservar a espécie. Trazer guarda-chuva. Tratar com Noé.

ELEFANTES - Vendo. Para circo ou zoológico. Usados mas em bom estado. Já domados e com baixa do exército. Tratar com Aníbal.CAVALO - Troco por um reino. Tratar com Ricardo III.CISNE -Troco por qualquer outro animal de porte, mais moço. Deve ser macho. Tratar com Leda. LEÃO - Oferece-se para shows, aniversários, quermesses, etc. Fotogê-nico, boa voz, experiência em cinema. Tem referências da MGM, para a qual trabalhou até a aposentadoria compulsória.

ÓRGÃO - Compro qualquer um. À vista. Também a audição, o sistema linfático, etc. Tratar com Dr. Frankestein, no Castelo.

CABEÇAS - Compro para coleção. Tenho as de João Batista, Maria Antonieta e todo o bando de Lampião.

COZINHEIRA - Procuro. Para família de fino trato. Deve ter experiências em banquetes e uma boa mão para venenos. Se falhar, pode dormir no empre-go, para sempre. Tratar com Lucrecia Borgia.

TORRO TUDO - E toco cítara. Tratar com Nero.

BARBADA - Vendo ótima residência por preço de ocasião. Motivo força maior. 117 qtos., 80 banhs., amplos salões, lustres, tapetes, deps. compls. p/ 200 empreg., 50 vagas na estrebaria. Centro de terreno ajardinado. Tratar com Luís XVI, em Versalhes, antes que seja tarde.

TELEFONE - Pouco usado. Prefixo 1. Tratar com A.G. Bell.

CASAMENTO - Homem só, boa aparência, situação estável. Procura moça para ser companheira pelo resto da vida dela. Procurar Barba Azul.

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CORRESPONDÊNCIA - Quero me corresponder com qualquer pessoa em qualquer lugar. Escrever para Robinson Crusoé com urgência.

CHICOTE - Correntes, arreios, chapa quente, Cadeirinha de Afrodite, Ca-brito Mecânico, grande seleção de alicates, uma prensa, ferros para marcação. Vendo tudo com manual de instrução. Motivo prisão. Tratar com Marquês de Sade. ASSISTENTE DE PINTOR - Deve ter prática em pintar de costas. Preciso de assistente porque estou momentaneamente impossibilitado de trabalhar. Caiu pingo no meu olho. Procurar Michelangelo, na Capela Sistina.

ENGENHEIRO - Precisa-se, urgente, para substituir elemento demitido motivo embriaguês. Tratar prefeitura de Pisa, Itália.

TRIPULANTES - Preciso para excursão marítima. Jogo tudo nesta emprei-tada. Tentaremos provar que se pode chegar à índia viajando para o Oeste. Se conseguirmos, seremos famosos. Se não, a história nos esquecerá. Tratar com Cristóvão Colombo.

VERÍSSIMO, Luís Fernando. Comédias para se ler na escola. São Paulo: Obje-tiva, 2001.

Informatividade

Muitos textos com os quais lidamos diariamente não apresentam grande dificuldade em ser interpretado pela maior parte das pessoas, porém há outros bastante formais e complexos que exi-gem de seus leitores um alto nível de conhecimento. Ou seja, há textos altamente previsíveis, como os diálogos de telenovela, letras de música de axé, bilhetes de familiares, propagandas de produtos comerciais, etc. No entanto, há outros de difícil leitura como bula de remédio, textos acadêmicos, petição judicial, etc. Isto ocorre devido ao grau maior ou menor de previsão por parte do leitor, o que depende, sobremaneira, do conhecimento sobre o tema, os conceitos, o contexto que o leitor tem do texto que está lendo, assim como de sua experiência de leitura tanto no que tange ao gênero ao qual pertence o texto que está lendo, por exemplo um ensaio filosófico de Hegel, quanto de outros que dialogam com aquele texto, como por exemplo um verbete de enciclopédia sobre Hegel, um artigo científico sobre alguns conceitos de Hegel, biografias sobre o autor, etc.

Desta forma, quanto menor o grau de previsibilidade do texto maior será sua informatividade. Isto significa que o leitor de um texto de alta informatividade terá muito mais trabalho para proces-sar as informações e compreender o texto. Mas é justamente isso que faz com que ele aumente seu conhecimento textual. Um texto de baixa informatividade não exige muito do leitor, pois não há nenhuma novidade. Um texto de alta informatividade tende a ser rejeitado pelo leitor devido à dificuldade de intepretação. O ideal é que a informatividade do texto seja média, ou seja, que haja

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conhecimentos novos, desconhecidos do leitor, mas apoiados em conhecimentos que este já tenha. Daí a importância da metalinguagem, um recurso linguístico que permite dizer com outras palavras a informação nova ou desconhecida, como é o caso de sinônimos, explicações, paráfrases, etc.

Atente para o texto a seguir, de Beto Holsel, publicado no site do Instituo de Matemática e Estátisca, da USP, que mostra como uma informação altamen-te técnica e científica vai ficando cada vez mais acessível ao leitor que não tem formação científica nas áreas da química, da física, da biologia e da matemáti-ca.

COMO SIMPLIFICAR UM TEXTO CIENTÍFICO Beto Holsel

Muitos textos científicos são escritos numa linguagem de difícil com-preensão para o grande público. Torna-se necessário traduzi-los para torná-los mais acessíveis ou, pelo menos, para uma difusão mais extensiva da profundi-dade do pensamento científico. Isto pode ser feito com aplicação de um método engenhoso que consiste na reunião de conceitos fragmentados em outros mais abrangentes que, numa sucessão progressiva de sínteses - ou estágios - redu-zem a complexidade do texto original até o nível de compreensão desejado.Se estas colocações parecem ainda obscuras ou abstratas - o que mostra que são científicas - um exemplo muito simples ilustrará o método e facultará ao lei-tor esperto praticá-lo em outros textos. O exemplo que daremos a seguir é o de um texto altamente informativo em que são discerníveis elementos de Química, Física, Botânica, Geometria e outras disciplinas.

Como se verificará, entretanto, essa massa de compreensão pode ficar mais próxima. Ao final do quinto estágio, surgirá, clara e límpida, a síntese mais refinada daquele texto, antes incompreensível, que brilhará singela e cristalina, evidenciando a eficácia do nosso método.

TEXTO ORIGINAL

O dissacarídeo de fórmula C12H22O11, obtido através da fervura e da evaporação de H2O do líquido resultante da prensagem do caule da gramínea Saccharus officinarum, Linneu, isento de qualquer outro tipo de processamento suplementar que elimine suas impurezas, quando apresentado sob a forma ge-ométrica de sólidos de reduzidas dimensões e arestas retilíneas, configurando pirâmides truncadas de base oblonga e pequena altura, uma vez submetido a um toque no órgão do paladar de quem se disponha a um teste organoléptico, impressiona favoravelmente as papilas gustativas, sugerindo a impressão sen-

EXEMPLO

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sorial equivalente provocada pelo mesmo dissacarídeo em estado bruto que ocorre no líquido nutritivo de alta viscosidade, produzindo nos órgãos especiais existentes na Apis mellifica, Linneu.

No entanto, é possível comprovar experimentalmente que esse dissa-carídeo, no estado físico-químico descrito e apresentado sob aquela forma ge-ométrica, apresenta considerável resistência a modificar apreciavelmente suas dimensões quando submetido a tensões mecânicas de compressão ao longo do seu eixo em conseqüência da pequena deformidade que lhe é peculiar.

PRIMEIRO ESTÁGIO

A sacarose extraída da cana de açúcar, que ainda não tenha passado pelo processo de purificação e refino, apresentando-se sob a forma de peque-nos sólidos tronco-piramidais de base retangular, impressiona agradavelmente ao paladar, lembrando a sensação provocada pela mesma sacarose produzida pelas abelhas em um peculiar líquido espesso e nutritivo.Entretanto, não altera suas dimensões lineares ou suas proporções quando submetida a uma tensão axial em conseqüência da aplicação de compressões equivalentes e opostas.

SEGUNDO ESTÁGIO

O açúcar, quando ainda não submetido à refinação e, apresentando-se em blocos sólidos de pequenas dimensões e forma tronco-piramidal, tem o sabor deleitável da secreção alimentar das abelhas, todavia não muda suas proporções quando sujeito à compressão.

TERCEIRO ESTÁGIO

Açúcar não refinado, sob a forma de pequenos blocos, tem o sabor agra-dável do mel. Porém não muda de forma quando pressionado.

QUARTO ESTÁGIO

Açúcar mascavo em tijolinhos tem o sabor adocicado, mas não é macio ou flexível.

QUINTO ESTÁGIO

Rapadura é doce, mas não é mole.

Acessível em http://www.ime.usp.br/~vwsetzer/jokes/simpl-texto.html

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Intertextualidade

Não há nenhum texto, oral ou escrito, que não tenha nenhuma relação com outros textos. Quando falamos, nos reportamos a conversas anteriores, a assuntos tratados por outras pessoas, ao que vimos na televisão ou lemos nos jornais, nas revistas, nos livros, etc. O mesmo ocorre quan-do lemos textos: para compreender o texto que lemos precisamos fazer relação com outros textos que estão em diálogo com aquele. O desconhecimento de um texto fonte, por exemplo, muitas vezes torna muito difícil a intepretação de um texto derivado. Citemos por exemplo a canção “Admirável Gado Novo”, de Zé Ramalho, escrita em 1978, que dialoga diretamente com a famosa obra de Al-dous Huxley, “Admirável Mundo Novo”, escrita em 1932. Muitas passagens da letra só tem sentido quando as associamos com o romance, como é o caso do seguinte trecho:

Êeeeeh! Oh! Oh!Vida de gado

Povo marcado, Êh!Povo feliz!

Parece haver na letra uma contradição: como um povo marcado como gado pode ser feliz? A resposta em grande parte está na forma como se constrói uma sociedade hedonista no livro de Aldous Huxley. Ou seja, um tipo de felicidade baseado no condicionamento e no uso de drogas para que todos se ajustem ao sistema social. Há vários tipos de intertextualidade, como a intertextualidade temática, a intertextualidade estilística, a intertextualidade explícita e implícita. Vejamos cada uma delas.

• Intertextualidade temática

Quando temas, assuntos, conceitos, terminologias dialogam entre si, temos a intertex-tualidade temática. Isso ocorre, por exemplo, entre áreas científicas que partilham os mesmos conceitos e terminologia; entre matérias jornalísticas sobre um mesmo assun-to; entre canções de um mesmo compositor; entre diversas encenações de uma mesma peça de teatro; entre diversas obras de um mesmo período literário. O tema do herói que salva o mundo, por exemplo, está presente tanto nos mitos e nas revistas em qua-drinhos quanto no cinema e no videogame. Todas as vezes em que o tema aparecer, independentemente do gênero textual, temos a intertextualidade temática.

• Intertextualidade estilística

Este tipo de intertextualidade ocorre quando o texto repete, imita ou parodia estilos ou variedades linguísticas de outros textos. Os programas humorísticos, por exemplo, quando imitam ou parodiam a fala, o jeito de falar, a prosódia, o léxico de certos políti-cos, jogadores de futebol, etc., praticam a intertextualidade estilística.

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A crônica abaixo, de Paulo Mendes Campos, dá-nos um bom exem-plo de como diferentes estilos são utilizados para falar de um mesmo assunto. Cada um desses estilos parodia os textos lhes servem de referência:

Os diferentes estilos

Parodiando Raymond Queneau, que toma um livro inteiro para descre-ver de todos os modos possíveis um episó¬dio corriqueiro, acontecido em um ônibus de Paris, narra-se aqui, em diversas modalidades de estilo, um fato co-mum da vida carioca, a saber: o corpo de um homem de quarenta anos presu-míveis é encontrado de madrugada pelo vigia de uma construção, à margem da Lagoa Rodrigo de Freitas, não existindo sinais de morte violenta.

Estilo interjetivo — Um cadáver! Encontrado em plena madrugada! Em pleno bairro de Ipanema! — Um homem desconhecido! Coitado! Menos de qua-renta anos! Um que morreu quando a cidade acordava! Que pena!

Estilo colorido — Na hora cor-de-rosa da aurora, à margem da cinzen-ta Lagoa Rodrigo de Freitas, um vigia de cor preta encontrou o cadáver de um homem branco, cabelos louros, olhos azuis, trajando calça amarela, casaco pardo, sapato marrom, gravata branca com bolinhas azuis. Para este o destino foi negro.

Estilo antimunicipalista — Quando mais um dia de sofri¬mentos e desmandos nasceu para esta cidade tão mal gover¬nada, nas margens imun-das, esburacadas e fétidas da Lagoa Rodrigo de Freitas, e em cujos arredores falta água há vá¬rios meses, sem falar nas frequentes mortandades de peixes já famosas, o vigia de uma construção (já permitiram, por debaixo do pano, a ignominiosa elevação de gabarito em Ipanema) encontrou o cadáver de um desgraçado morador desta cidade sem policiamento. Como não podia deixar de ser, o corpo ficou ali entregue às moscas que pululam na¬quele perigoso foco de epidemias. Até quando?

Estilo reacionário — Os moradores da Lagoa Rodrigo de Freitas tive-ram na manhã de hoje o profundo desagrado de deparar com o cadáver de um vagabundo que foi logo escolher para morrer (de bêbedo) um dos bairros mais ele¬gantes desta cidade, como se já não bastasse para enfear aquele local uma sórdida favela que nos envergonha aos olhos dos americanos que nos visitam ou que nos dão a honra de residir no Rio. Estilo então — Então o vigia de uma construção em Ipanema, não ten-

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do sono, saiu então para passeio de ma¬drugada. Encontrou então o cadáver de um homem. Resolveu então procurar um guarda. Então o guarda veio e tomou então as providências necessárias. Aí então eu resolvi te contar isto.

Estilo áulico — À sobremesa, alguém falou ao Presi¬dente, que na ma-nhã de hoje o cadáver de um homem havia sido encontrado na Lagoa Rodrigo de Freitas. O Presidente exigiu imediatamente que um de seus auxiliares tele-grafasse em seu nome à família enlutada. Como lhe informassem que a vítima ainda não fora identificada, S. Ex.ª, com o seu estimulante bom humor, alegrou os presentes com uma das suas apreciadas blagues.

Estilo schmidtiano — Coisa terrível é o encontro com um cadáver desco-nhecido à margem de um lago triste à luz fria da aurora! Trajava—se com alguma humildade mas seus olhos eram azuis, olhos para a festa alegre colorida deste mundo. Era trágico vê-lo morto. Mas ele não estava ali, ingressara para sempre no reino inviolável e escuro da morte, este rio um pouco profundo caluniado de morte.

Estilo complexo de Édipo — Onde andará a mãezinha do homem en-contrado morto na Lagoa Rodrigo de Freitas? Ela que o amamentou, ela que o embalou em seus braços carinhosos?

Estilo preciosista — No crepúsculo matutino de hoje, quando fulgia soli-tária e longínqua a Estrela-d’Alva, o atalaia de uma construção civil, que peram-bulava insone pela orla sinuosa e murmurante de uma lagoa serena, deparou com a atra e lúrida visão de um ignoto e gélido ser humano, já eternamente sem o hausto que vivifica.

Estilo Nélson Rodrigues — Usava gravata de bolinhas azuis e morreu!

Estilo sem jeito — Eu queria ter o dom da palavra, o gênio de um Rui ou o estro de um Castro Alves, para des¬crever o que se passou na manhã de hoje. Mas não sei escrever, porque nem todas as pessoas que têm sentimento são ca-pazes de expressar esse sentimento. Mas eu gostaria de deixar, ainda que sem brilho literário, tudo aquilo que senti. Não sei se cabe aqui a palavra sensibilidade. Talvez não caiba. Talvez seja uma tragédia. Não sei escrever mas o leitor poderá perfeitamente imaginar o que foi isso. Triste, muito triste. Ah. se eu soubesse es-crever.

Estilo feminino — Imagine você, Tutsi, que ontem eu fui ao Sacha´s, legalíssimo, e dormi tarde. Com o Tony. Pois logo hoje, minha filha, que eu es-tava exausta e tinha hora marcada no cabeleireiro, e estava também querendo dar uma passada na costureira, acho mesmo que vou fazer aquele plissadinho,

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como o da Teresa, o Roberto resolveu me telefonar quando eu estava no melhor do sono. Mas o que era mesmo que eu queria te contar? Ah, menina, quando eu olhei da janela, vi uma coisa horrível, um homem morto lá na beira da Lagoa. Estou tão nervosa! Logo eu que tenho horror de gente morta!

Estilo lúdico ou infantil — Na madrugada de hoje por cima, o corpo de um homem por baixo foi encontrado por cima pelo vigia de uma construção por baixo. A vítima por baixo não trazia identificação por cima. Tinha aparente¬mente por cima a idade de quarenta anos por baixo.

Estilo concretista — Dead dead man man mexe mexe Mensch Mensch MENSCHEIT.

Estilo didático — Podemos encarar a morte do desco¬nhecido encon-trado morto à margem da Lagoa em três aspectos: a) policial; b) humano; c) teólógico. Policial: o homem em sociedade; humano: o homem em si mes-mo; teo¬lógico: o homem em Deus. Polícia e homem: fenômeno; alma e Deus: epifenômeno. Muito simples, como os senhores vêem.

(Paulo Mendes Campos)

• Intertextualidade explícita

Quanto houver menção explícita ao texto fonte do intertexto, temos a intertextualidade explícita. Isso ocorre, por exemplo, quando há a presença do fragmento de um texto dentro de outro texto, quando um texto cita o discurso de outro autor, quando, numa en-trevista, a fala do outro é retomada ou repetida, quando numa comunicação face-a-face concordamos, discordamos, discutimos com nosso interlocutor fazendo menção todo o todo ao que o outro diz, etc. Na intertextualidade explícita a fala do outro sempre apare-cerá marcada, isto é, nunca será confundida com a do autor do texto que faz referência ao outro texto. Em textos escritos, essas referências são feitas citando-se o nome do autor ou a fonte utilizada (revista, jornal, institutos de pesquisas, etc.).

No diálogo abaixo, observe como a fala do outro é retomada, seja para concordar, seja para discutir ou duvidar.

― Posso lhe dizer uma coisa?― Dizer pode. Só não sei se vou concordar.― Você tem mania de repetir as palavras dos outros.― Eu? Mania de repetir as palavras dos outros? Ora, faça-me um favor.

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― Viu? Você acabou de repetir minhas palavras.― É mesmo. Nem tinha percebido que repeti suas palavras.― Acabou de repetir novamente.― Novamente? Ah. Isto já é mania de perseguição. Pro seu governo tenho minhas próprias ideias.― Então, tá!― Tá, então!

O texto abaixo é o início de um artigo de Roxane Rojo. Note que o mes-mo começa com um texto atribuído a Ziraldo, que serve como mote para a discussão sobre leitura empreendida pela autora. Em seguida, Rojo cita um depoimento de Miúcha que serve para reforçar a ideia de que a leitura se realiza fora da escola. Ambas as citações são exemplos de intertextualidade explícita.

“Ler é melhor que estudar”. Esta frase de Ziraldo, já famosa, virou botton e foi carregada do lado esquerdo do peito por parte de nossa juventude. Ela nos remete à ineficiência da escola e a sua distância em relação às práticas sociais significativas. Um depoimento de Miúcha, irmã mais velha de Chico Buarque de Hollanda e filha de Sérgio Buarque de Hollanda, historiador de Raízes do Brasil, pode nos esclarecer a razão da unanimidade desta parcela da juventude sobre como se aprende a ler fora da escola:

“Sua [de Sérgio] influência sobre Chico e os outros filhos se dava de forma sutil. As paredes da casa da família eram cobertas por livros, e o pai incentivava a leitura através de desafios. ‘Ele não ficava falando para a gente ler’, conta Miúcha. ‘Mas era um apaixonado por Dostoiévski, con-versava muito sobre ele. Nós todos líamos. E tinha Proust, aquela edição de 17 volumes. Ele dizia, desafiando e instigando: ‘Proust é muito inte-ressante, vocês não vão conseguir ler, é muito grande. Ah, mas se vocês soubessem como era madame Vedurin...’ Aí todo mundo pegava para ler.” (Regina Zappa, Chico Buarque, pp. 93-94).

ROJO, Roxane. Letramento e capacidades de leitura para a cidadania. São Paulo: SEE: CENP, 2004. Texto apresentado em Congresso realizado em maio de 2004. Acessível em http://suzireis.bravehost.com/posgraduacao/artigos/ro-xane_rojo.pdf

EXEMPLO 2

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• Intertextualidade implícita

Ao contrário da intertextualidade explícita, esse tipo de intertextualidade faz menção a outro(s) texto(s) sem citar explicitamente o autor ou a fonte do texto citado. Essas citações implícitas podem ter vários objetivos, como seguir a mesma orientação argu-mentativa do texto-fonte, argumentar em sentido contrário, contraditá-lo, colocá-lo em questão ou ridicularizá-lo. Quando o objetivo é ir na mesma direção apontada pelo texto-fonte, temos a captação. Já quando o objetivo é parodiar, ironizar, inverter, negar o texto que serve de base, temos a subversão. O autor do texto que se utiliza de intertextualidade implícita pressupõe que o leitor ou-vinte do texto será capaz de reconhecer a presença do intertexto ao ativar o texto-fonte em sua memória discursiva. Se isso não ocorrer, naturalmente haverá um prejuízo na interpretação do texto e o leitor/ouvinte acreditará que foi o autor do texto quem produziu aquelas ideias. Porém, há casos em que o autor justamente busca isso. Ou seja, espera que o leitor não seja capaz de reconhecer a fonte. Isso se dá nos casos de plágio, que é um tipo especial e extremo de captação. Note que no mundo acadêmico, isso nunca deve ser feito, pois é considerado antiético e ilegal.

Exemplo de captação

Note que Renato Russo, nessa canção, faz menção a duas fontes bá-sicas que não são explicitadas no texto: um soneto de Camões (Amor é fogo que arde sem se ver, escrito no século XVI, e a carta do apóstolo Paulo aos Coríntios, escrita no século I. Note também que o objetivo do cantor é fazer um diálogo entre a forma como o apóstolo Paulo e Camões entendem ser o amor e, naturalmente, com a qual concorda Russo.

Monte CasteloLegião UrbanaComposição: Renato Russo (recortes do Apóstolo Paulo e de Camões).

Ainda que eu falasseA língua dos homensE falasse a língua dos anjos,Sem amor eu nada seria.É só o amor! É só o amorQue conhece o que é verdade.O amor é bom, não quer o mal,Não sente inveja ou se envaidece.

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O amor é o fogo que arde sem se ver;É ferida que dói e não se sente;É um contentamento descontente;É dor que desatina sem doer.Ainda que eu falasseA língua dos homensE falasse a língua dos anjosSem amor eu nada seria.É um não querer mais que bem querer;É solitário andar por entre a gente;É um não contentar-se de contente;É cuidar que se ganha em se perder.É um estar-se preso por vontade;É servir a quem vence, o vencedor;É um ter com quem nos mata a lealdade.Tão contrário a si é o mesmo amor.Estou acordado e todos dormem.Todos dormem. Todos dormem.Agora vejo em parte,Mas então veremos face a face.É só o amor! É só o amorQue conhece o que é verdade.Ainda que eu falasseA língua dos homensE falasse a língua dos anjos,Sem amor eu nada seria.

Exemplo de subversão

Jô Soares escreveu esse texto na época do governo Collor para mostrar a hipocrisia do defensor dos “descamisados”, que tinha construído em Brasília uma residência luxuosíssima sob suspeita de corrupção. Neste caso, o texto é paródico e irônico, pois o “cá” (Brasília) e “lá” (Maceió) não dizem respeito à pátria e ao exílio em Portugal, como no texto de Gonçalves Dias (Canção do Exílio), mas à ascensão social, política e econômica que necessita ser mantida à revelia da opinião pública contra sua gestão corrupta. Trata-se, portanto, de uma subversão do famoso poema romântico.

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Canção do Exílio às AvessasJô Soares

Minha Dinda tem cascatasOnde canta o curióNão permita Deus que eu tenhaDe voltar pra Maceió.Minha Dinda tem coqueirosDa Ilha de MarajóAs aves, aqui, gorjeiamNào fazem cocoricó.O meu céu tem mais estrelasMinha várzea tem mais cores.Este bosque reduzidodeve ter custado horrores.E depois de tanta planta,Orquídea, fruta e cipó,Não permita Deus que eu tenhaDe voltar pra Maceió.Minha Dinda tem piscina,Heliporto e tem jardimfeito pela Brasil’s Garden:Não foram pagos por mim.Em cismar sozinho à noitesem gravata e paletóOlho aquelas cachoeirasOnde canta o curió.No meio daquelas plantasEu jamais me sinto só.Não permita Deus que eu tenhaDe voltar pra Maceió.Pois no meu jardim tem lagosOnde canta o curióE as aves que lá gorjeiamSão tão pobres que dão dó.Minha Dinda tem primoresDe floresta tropical.Tudo ali foi transplantado,Nem parece natural.Olho a jabuticabeirados tempos da minha avó.Não permita Deus que eu tenha

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De voltar pra Maceió.Até os lagos das carpasSão de água mineral.Da janela do meu quartoRedescubro o Pantanal.Também adoro as palmeirasOnde canta o curió.Nào permita Deus que eu tenhaDe voltar pra Maceió.Finalmente, aqui na Dinda,Sou tartado a pão-de-ló.Só faltava envolver tudoNuma nuvem de ouro em pó.E depoies de ser cuidadoPelo PC, com xodó,Não permita Deus que eu tenhaDe acabar no xilindró.

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REFERÊNCIAS

COSTA VAL, M. G. Redação e textualidade. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Lições de texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 2006.

KOCH, I. V.; ELIAS, V. M. Ler e compreender os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2006.

KOCH, I. G. V.,BENTES, A. C., CAVALCANTE, M. M. Intertextualidade – Diálogos Possíveis. São Paulo: Cortez, 2007.

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Chegou a sua vez!

Aproveite o momento para sintetizar o que foi abordado neste tema, identificando as ideias principais. Lembre-se de que essa é uma atividade de sistematização dos conceitos com-preendidos. Por isso, você pode desenvolvê-la aqui em Anotações, ou, se preferir, em seu Diário Reflexivo, disponível no Ambiente Virtual da Disciplina.

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