Texto de Moura Filha

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EMBELEZAR A CIDADE : A CONCEPÇÃO DE UM NOVO PADRÃO ESTÉTICO PARA AS CIDADES BRASILEIRAS NO SÉCULO XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX. Maria Berthilde Moura Filha Universidade Federal da Paraíba. Departamento de Arquitetura. Centro de Tecnologia. Campus I. João Pessoa. PB. O objetivo que se persegue é analisar a formação de uma nova concepção estética para as cidades brasileiras, ao longo do século XIX e início do século XX, observando-se, particularmente, quais os princípios introduzidos para a construção de cenários urbanos esteticamente compatíveis com o ideário de modernização e progresso que era defendido naquela época. Pretende-se, também, verificar como foi crescente a associação entre a qualidade da arquitetura produzida e a valorização estética da cidade. Para tanto, estuda-se diversas propostas de intervenção urbana, feitas para o Rio de Janeiro no período em estudo, observando o discurso sobre o embelezamento da cidade e analisando as medidas voltadas para valorização estética da paisagem urbana. Este trabalho é parte da dissertação desenvolvida durante o Mestrado em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia. Seu objetivo é analisar a construção de um novo padrão estético para as cidades no Brasil da segunda metade do século XIX e início do século XX, identificando a introdução de princípios que visavam a valorização da paisagem urbana. Pretende-se, também, verificar como foi crescente a associação entre a qualidade da arquitetura produzida e o desejo de “embelezar e aformosear” a cidade. A fim de fazer esta análise, optou-se por estudar diversos projetos de intervenção urbana concebidos para o Rio de Janeiro, procurando extrair desses as propostas voltadas para o embelezamento da cidade. Foram analisados projetos e normatizações elaboradas no período em estudo, encontrados em arquivos do Rio de Janeiro, além de realizar-se uma revisão de títulos já publicados sobre esta temática, mas sempre direcionando a leitura para a questão aqui abordada.

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EMBELEZAR A CIDADE : A CONCEPÇÃO DE UM NOVO

PADRÃO ESTÉTICO PARA AS CIDADES BRASILEIRAS NO

SÉCULO XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX.

Maria Berthilde Moura Filha

Universidade Federal da Paraíba. Departamento de Arquitetura. Centro de Tecnologia. Campus I.

João Pessoa. PB.

O objetivo que se persegue é analisar a formação de uma nova concepção estética para as cidades

brasileiras, ao longo do século XIX e início do século XX, observando-se, particularmente, quais

os princípios introduzidos para a construção de cenários urbanos esteticamente compatíveis com o

ideário de modernização e progresso que era defendido naquela época. Pretende-se, também,

verificar como foi crescente a associação entre a qualidade da arquitetura produzida e a

valorização estética da cidade. Para tanto, estuda-se diversas propostas de intervenção urbana,

feitas para o Rio de Janeiro no período em estudo, observando o discurso sobre o embelezamento

da cidade e analisando as medidas voltadas para valorização estética da paisagem urbana.

Este trabalho é parte da dissertação desenvolvida durante o Mestrado em

Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia. Seu objetivo é

analisar a construção de um novo padrão estético para as cidades no Brasil da

segunda metade do século XIX e início do século XX, identificando a introdução

de princípios que visavam a valorização da paisagem urbana. Pretende-se,

também, verificar como foi crescente a associação entre a qualidade da arquitetura

produzida e o desejo de “embelezar e aformosear” a cidade.

A fim de fazer esta análise, optou-se por estudar diversos projetos de intervenção

urbana concebidos para o Rio de Janeiro, procurando extrair desses as propostas

voltadas para o embelezamento da cidade. Foram analisados projetos e

normatizações elaboradas no período em estudo, encontrados em arquivos do Rio

de Janeiro, além de realizar-se uma revisão de títulos já publicados sobre esta

temática, mas sempre direcionando a leitura para a questão aqui abordada.

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Estuda-se o Rio de Janeiro, uma vez que, sendo o principal centro econômico e

político do Brasil naquela época, constituía também o foco das novas idéias sobre a

cidade. Sabe-se que o Rio, devido a sua condição de sede do poder político e

principal centro comercial e financeiro do país, teve um crescimento da população,

superior à capacidade de absorção do seu espaço edificado. Diante dos problemas

urbanos desencadeados por este fato, foi adotado um discurso sobre a cidade

dominado pelo trinômio sanear, circular e embelezar, que iria orientar todas as

propostas que visavam a melhoria do meio urbano e a construção de uma imagem

de cidade moderna para o Rio de Janeiro, e que serviria de modelo para muitas

outras cidades do Brasil no final do século XIX e início do século XX.

Cada um dos fatores desse trinômio foi trabalhado de forma mais ou menos enfática

pelas propostas de intervenção urbana elaboradas nesse período, sobressaindo-se, a

cada instante, aquele que parecia mais pertinente diante dos objetivos a serem

alcançados. Num primeiro período, o saneamento vai ser o ponto central das

propostas. Considerando os problemas existentes então, os higienistas vão

difundir a idéia de que a saúde da população fazia parte da construção de uma

nação saudável e desenvolvida, alertando o poder público para a necessidade de

sanear as cidades. A partir da assimilação dessas idéias, a medicina teve que

ampliar sua atuação, não se limitando a tratar apenas o “corpo físico”, mas

intervindo também no “meio físico que coincidia com a cidade”.1

Mas verifica-se que apesar do centro das atenções ser a questão da insalubridade

da cidade, cresciam em paralelo as preocupações com a estética urbana.

Saneamento e estética são dois aspectos evidentes no projeto de posturas que,

José Pereira Rego, médico e vereador, apresentou em 1866, à Câmara do Rio de

Janeiro, “visando impedir a proliferação de cortiços no perímetro da cidade velha

e em suas adjacências”, lançando, também, normas legais bem definidas para

controle e padronização da “fisionomia arquitetônica” da cidade, pois considerava

que “os defeitos e irregularidades de nossas edificações (...) contribuem para

destruir todo embelezamento da principal e talvez primeira cidade da América

Meridional, concorrem igualmente para empiorar o seu estado higiênico”.2 Com

o objetivo de uniformizar a arquitetura da cidade, Pereira Rego determinava a

Maria Moura
1 - PECHMAN, Robert Moses. A cidade dilacerada : ordem e urbanismo. In : Encontro Nacional da ANPUR, 5, Belo Horizonte, 1993. P. 15/16.u
Maria Moura
2 - Arquivo Geral da cidade do Rio de Janeiro. Códice 44-2-7. F. 9-14. Apud. BENCHIMOL, Jaime Larry. Pereira Passos : um Haussmann tropical. Rio de Janeiro : Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Esportes, Departamento Geral de Documentação e Informação Cultural, 1992. P. 131/2.
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altura das casas de diversos logradouros, as quais deveriam também obedecer aos

modelos previamente designados pela câmara. (esse projeto foi arquivado)

Duas questões ganham relevância nesse projeto de Pereira Rego, devido à

permanência e ênfase que vão adquirir em todas as propostas subsequentes para o

Rio. A primeira é a intenção civilizadora e moralizadora dessas propostas que

colocavam o saneamento da cidade como pré requisito e símbolo de progresso e

aperfeiçoamento do povo. O segundo ponto é o estabelecimento de uma relação

direta entre a salubridade do meio urbano e as questões referentes ao

embelezamento, nesse caso associado em particular, aos “defeitos e irregularidades”

da arquitetura existente na cidade. Verifica-se que o item embelezamento vai ter

uma ascensão marcante nesse período, como reflexo das obras de remodelação de

Paris, empreendidas por Haussmann, fazendo-se presente em todos os discursos,

projetos e decretos referentes à modernização das cidades.

A partir da década de 1870, o saneamento do Rio de Janeiro vai passar a fazer

parte do debate político nacional. Para ganhar a credibilidade dos investidores, era

preciso que o país demonstrasse prosperidade, principiando por sua capital que

deveria estampar “para efeito externo, uma imagem que não mais a associasse

com o atraso, a doença, tal como o Rio era conhecido na Europa”.3

No entanto, o estado de insalubridade que tomava conta do Rio de Janeiro, não era

em nada favorável à construção dessa imagem de prosperidade. A situação exigia

medidas de maior alcance, levando a Câmara Municipal, em 1870, a editar um

novo código de posturas, determinando um plano a partir do qual seriam

projetadas as ruas, praças e edifícios. Este plano estabelecia a largura mínima das

vias, as dimensões das edificações e das suas portas e janelas, proibia o uso de

rótulas, postigos, cancelas, balcões, portas e janelas de abrir para a parte de fora.4

Adotavam-se medidas que, ao mesmo tempo em que serviam para melhorar a

salubridade do meio urbano, possibilitando uma melhor ventilação e insolação,

também transformavam a imagem citadina, uma vez que interferiam na forma já

tradicional de construir as edificações e configurar o espaço urbano, que

caracterizava as cidades brasileiras, há muito tempo.

Em 1874, o governo imperial nomeou uma “Comissão de Melhoramentos da

Cidade do Rio de Janeiro”, que não atuou sobre o núcleo mais antigo da cidade,

Maria Moura
3 - PECHMAN, Sérgio & FRITSCH, Lilian. A reforma urbana e seu avesso : algumas considerações a propósito da modernização do Distrito Federal na virada do século. Revista Brasileira de História. V.5. n.8/9. São Paulo ; ANPUH/Marco Zero, set/1984, abr/1985. P. 174.
Maria Moura
4 - Código de Posturas da Illustrissima Camara Municipal do Rio de Janeiro e Editaes da mesma Camara. Rio de Janeiro : Eduardo & Henrique Laemmert, 1870. Secção segunda. Título Primeiro. Parágrafos 1 a 14.
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apesar desse ser considerado como o grande foco de insalubridade do Rio,

tornando-se o objetivo do seu plano, a ordenação das áreas de expansão urbana

mais importantes.

Segundo os membros dessa Comissão, o Rio “(...) devia não apenas sofrer

profundas transformações em sua estrutura urbanística - a fim de que estivesse em

condições de suportar as demandas geradas pelo seu acelerado processo de

crescimento - mas também modificar a imagem inestética que ela projetava sobre

os que a contemplavam”.5

Neste sentido, os engenheiros da Comissão apresentaram alguns princípios a partir

dos quais se construiria uma nova imagem para o Rio. Sobre as ruas propõem que

conservassem a “direção retilínea”, tanto quanto o permitido pelos acidentes do

terreno e pelas construções existentes, mas advertem :

“extensas ruas em linha recta nem sempre produzem bom effeito, (...) Algumas

inflexões de alinhamento são necessarias para produzir variedade e mostrar os edificios

sob angulos diversos, e determinam igualmente effeitos de sombra e de luz, que

contribuem para realçar a belleza do panorama, offerecendo novos pontos de vista”.6

No que se refere às regras para construção de edifícios particulares, a Comissão

julgava que deveria limitar-se àquelas referentes à salubridade das habitações,

determinando os materiais de construção mais adequados, o sistema sanitário, as

relações entre a altura das fachadas e a largura das ruas, e também entre a

dimensão dos vãos de iluminação e a área dos cômodos. Quanto à “fisionomia”

das edificações, a Comissão não achava conveniente “marcar para os edifícios de

cada rua um tipo de fachada”, dando liberdade aos proprietários para construírem

segundo “seus gostos, seus hábitos e suas conveniências pessoais” uma vez que “a

uniformidade na apparencia seria prejudicial á belleza das construcções”.7

As regras ditadas pela Comissão de Melhoramentos da Cidade foram alvo de muitas

críticas. O Engenheiro Vieira Souto, por exemplo, considerava que os princípios

definidos para as construções particulares iam de encontro às doutrinas dos tratados

de arquitetura, prejudicando a proporção e a beleza dos edifícios. Achava também

inadequada a relação estabelecida entre a altura das edificações e a largura das vias,

uma vez que tendia a repetir sobre quem as observava, a mesma sensação de

“profunda vala” causada pelos estreitos becos existentes na cidade velha.8

Maria Moura
5 - PECHMAN & FRITSCH. Op. Cit. P. 150. Grifo nosso.
Maria Moura
6 - 1° Relatório da Commissão de Melhoramentos da Cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro : Typographia Nacional, 1875. P. 17. Grifo nosso.
Maria Moura
7 - Id. Ibid. P.18/19.
Maria Moura
8 - Melhoramento da Cidade do Rio de Janeiro. Critica dos trabalhos da respectiva comissão. Collecção de artigos publicados no “Jornal do Commercio” de 23 de Fevereiro a 15 de Abril de 1875 por L. R. Vieira Souto. Rio de Janeiro : Lino C. Teixeira, 1875. P. 75/107.
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Apontava-se a melhoria da qualidade das construções urbanas, como um dos requisitos

necessários para fazer delas uma expressão de progresso, sendo comuns críticas como a

de Vieira Souto que dizia : “(...) não há entre nós architectura, salvo honrosas, porém

poucas excepções.” 9 Na verdade, vai haver uma crescente associação entre a imagem

da cidade e o papel que a arquitetura cumpria enquanto parte da paisagem urbana. Para

Vieira Souto, era preciso adotar medidas que garantissem o padrão das edificações,

cabendo à Câmara a organização de um minucioso código que disciplinasse a

construção dos prédios particulares, e a regulamentação dos profissionais atuantes na

cidade, exigindo a qualificação dos mesmos.

Ao aproximar-se o final do século XIX, higiene e bem estar da população

continuavam a ser os argumentos centrais utilizados por todos aqueles que

defendiam mudanças para o meio urbano no Rio de Janeiro. No discurso já

existente sobre a cidade, eram cada vez mais exploradas as idéias opostas de limpo

e sujo, saúde e doença, ordem e desordem, belo e feio, com a intenção de condenar

tudo que dizia respeito à cidade antiga, julgada como o lugar da doença, sujeira e

desordem, e justificar a substituição dessa por uma nova cidade saudável, ordenada

e, principalmente, bela. Difundia-se, cada vez mais, a idéia de que sanear o Rio,

significava não só a erradicação do meio insalubre que comprometia o bem estar da

população, mas também “a renovação da estética da cidade, cuja expressão eram as

fachadas de seus prédios, o aspecto de seus logradouros públicos”. 10

Tudo isso dava espaço para projetos de intervenção, como o proposto pelo

arquiteto italiano, Giuseppe Fogliani, em 1884, para execução de uma grande

avenida no centro do Rio de Janeiro. Essa avenida reuniria estabelecimentos do

alto comércio, bancos, companhias de seguro e de navegação, que se

empenhariam em construir edifícios compatíveis com o padrão oferecido pela

avenida, onde já estavam previstos espaços para dois grandes hotéis, um teatro

lírico e um teatro dramático. Não se tratava de uma intervenção levada a cabo pelo

poder público, mas de um empreendimento imobiliário a ser executado por

alguma empresa que o adquirisse.

Se esta área da cidade era então considerada inqualificável quanto à higiene e

padrão da arquitetura, o projeto de Fogliani trazia a preocupação de valoriza-la

com prédios monumentais, incentivando a melhoria da qualidade da arquitetura,

Maria Moura
9 – Id. Ibid.. P. 71.
Maria Moura
10 - PECHMAN & FRITSCH. Op. Cit. P. 174.
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através da execução de alguns edifícios bem elaborados. Dizia ele : “A nova rua

dará à cidade um aspecto elegante que nunca teve e despertará o gosto pelas belas

construções arquitetônicas”.11

Fogliani tratava a cidade como um cenário, fazendo uso de edifícios monumentais

e jardins para fechar a perspectiva da avenida proposta. A intenção estética no seu

projeto era evidente :

“Para se ter uma ligeira idéia da beleza desta rua basta imaginar-se o espetáculo de

que gozará o indivíduo colocado na Rua Primeiro de Março, que estender a vista por

uma larga avenida ladeada de construções elegantes e altas, terminando no vasto

jardim do Campo da Aclamação, ou daquele que, colocado neste último ponto,

considerar ao fundo do quadro os dois majestosos edifícios do Correio e da Bolsa” 12

É interessante observar a distância que havia entre as propostas do poder público,

enquanto normatizador da higiene e da estética da cidade, e o projeto ambicioso

desse empreendimento imobiliário, muito mais preocupado com o embelezamento

da cidade, como forma de viabilizar um investimento lucrativo do setor. Nesse

caso, era a beleza da cidade que predominava.

Apesar da maior presença do Estado enquanto regulador das concessionárias de

serviços públicos e normatizador do espaço urbano, da estética e da saúde pública,

verifica-se que as grandes intervenções reformadoras, embora desejadas, não

aconteceram na época do Império, uma vez que todas as atenções estavam então

voltadas para manutenção da unidade política e da ordem social do país.13

Por fim, proclamada a República, era preciso construir a imagem do novo regime

e uma identidade coletiva para o país. É sob a divisa “Ordem e Progresso” que a

República vai construir sua imagem junto à sociedade, manipulando com idéias,

símbolos e representações capazes de atrair a simpatia e a aceitação do povo.

Um dos símbolos mais importantes, adotado pelo ideário republicano, foi a

cidade. O processo de construção da “ordem e progresso” do Brasil estava

diretamente relacionado com a urbanização : a cidade modernizada, higienizada e

bela apresentava-se como o “lugar de construção dos paradigmas da ordem

moderna, baseado nas idéias de ciência, progresso e civilização”.14

Trabalhava-se com o imaginário social para fazer da cidade esse símbolo dos

novos tempos do país, tirando partido dos elementos que alimentavam esse

Maria Moura
11 - FOGLIANI, Giuseppe. Projeto de Melhoramentos na Cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro : Tip. E Lit. F. Borgonovo, 1903. Apud. BENCHIMOL. Op. Cit. P. 198.
Maria Moura
12 – FOGLIANI. Op. cit. P. 13/4. Id. ibid. P. 199. Grifo nosso.
Maria Moura
13 - CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas : o imaginário da República no Brasil. São Paulo : Companhia das Letras, 1990. P. 23.
Maria Moura
14 – PECHMAN. Op. cit. P. 1.
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imaginário coletivo - os serviços, os transportes, o incremento do consumo e do

lazer citadino - para favorecer a assimilação da cidade, como o centro irradiador

da novidade, da civilização, do progresso. Para tanto, o meio urbano precisava,

cada vez mais, atender a requisitos de higiene, estética, funcionalidade e

rentabilidade, adequados à nova ordem capitalista e burguesa.15

Persistia a intenção de transformar o Rio de Janeiro, agora capital da República,

em uma cidade moderna, que representasse o país com dignidade. Assim, a tônica

de todos os discursos sobre a cidade vai continuar a ser a regeneração sanitária e a

questão do embelezamento e construção de uma nova imagem urbana, que vai se

fazer cada vez mais evidente, ainda que as ações, nesse sentido, aparecessem

muitas vezes camufladas pelo discurso higienista e moralizador, aplicado,

também, no tocante à formação de uma sociedade civilizada, compatível com a

cidade modernizada.

Constata-se que nesse período, as propostas de intervenção urbana serão sempre

baseadas em justificativas técnicas e orientadas por profissionais com formação

acadêmica, informados sobre os caminhos que vinham sendo trilhados para impor

às cidades um crescimento racional e sistematizado. Vão ser esses profissionais

que vão lançar alguns projetos de intervenção urbana, para o Rio de Janeiro e,

também, para outras cidades em todo o país.

Em 1890, o engenheiro Joaquim Galdino Pimentel, lente da Escola Politécnica,

expôs ao público, na Casa Moncada à Rua do Ouvidor, seu “Projeto de

Melhoramento e Embellezamento da cidade do Rio de Janeiro”. Tendo

conhecimento da “feição moderna” que as cidades antigas da Europa vinham

ganhando, Galdino Pimentel procurou adaptar para o Rio, o plano de Paris, por ser

esse “reconhecidamente modelo sob os pontos de vista artistico e hygienico”.16

Submetido à apreciação do público e da imprensa, o projeto foi aprovado e

elogiado por todos, uma vez que lançava propostas condizentes com os ideais de

modernização da época. Sobre as vantagens resultantes da sua execução, disse o

“Correio do Povo”, de 16 de novembro de 1890 :

“Seja elle levado a effeito e esta Rio de Janeiro, pesada e feia, cortada de ruas

estreitas e tortuosas, apresentando umas construcções sem gosto, impossiveis,

Maria Moura
15 - PESAVENTO, Sandra Jatahy. Um novo olhar sobre a cidade : a nova história cultural e as representações do urbano. In : Seminário de História Urbana, 2, Salvador, 1993.. P. 9/11.
Maria Moura
16 - Projeto de Melhoramento e Embellezamento da Cidade do Rio de Janeiro pelo Dr. Joaquim Galdino Pimentel, Engenheiro Civil. Rio de Janeiro : Typ. De G. Leuzinger & Filhos, 1891.
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ver-se-há dentro em pouco transformada em uma das capitaes mais bellas do

mundo civilisado, em uma Paris americana”. 17

Assim pensava também, o engenheiro civil Tito Barreto Galvão : “Na nossa

opinião a importancia e a riqueza de Pariz, que excede á do Brazil, são devidos ás

despezas que forão feitas para o seu embellezamento”.18 Tito Galvão usava esse

argumento para justificar sua proposta para abertura de uma grande avenida, em

substituição da antiga Rua Sete de Setembro. Dizia ele : “A avenida servirá de

passeio, embellezará, saneará e facilitará grandemente o transito do centro da

cidade; enfim, será de uma utilidade immediata, enorme, constante”. 19

Retomava com isso, o trinômio sanear, circular e embelezar, com grande ênfase

sobre esse último ponto, já que era intenção apagar a imagem da cidade antiga e

anti-estética. Nesse sentido, apontava as vantagens da sua proposta :

“Cumpre notar que o projecto que estudamos redunda em um beneficio duplo

para a nossa capital, porquanto não se trata sómente da construcção de uma

grande obra ou monumento, mas ao mesmo tempo, da suppressão de uma

deformidade : em vez de um aleijão ( a actual rua Sete de Setembro ) uma

ornamentação monumental”. 20

É possível identificar, no discurso do Eng. Tito Galvão, as palavras chave que

traduziam os objetivos a serem alcançados e também, os artifícios que utilizava

para chegar a tais objetivos : abertura de largas avenidas articuladas às praças, a

imponência dos edifícios e beleza da sua arquitetura, ressaltando-se cada vez mais

a contribuição das belas edificações como fator de embelezamento da cidade.

A evidência da intenção estética nesse projeto de intervenção urbana para o Rio de

Janeiro, leva a pensar que para consolidação da ordem e do progresso propostos pela

República, parece, muitas vezes, que a construção de um cenário de cidade moderna

e embelezada, que servisse de pano de fundo para as ações de uma sociedade

civilizada e representasse o progresso do país, ganhava prioridade sobre as demais

questões urbanas, como a higiene e a saúde pública defendidas pela medicina social

como pontos essenciais para construção de uma nação desenvolvida.

Para elaboração desses cenários, tornava-se cada vez mais importante a presença

das avenidas largas, das praças, jardins, passeios, e de uma arquitetura

monumental, que fizesse o enquadramento de toda a cena. A arquitetura,

Maria Moura
17 - Apreciação do jornal Correio do Povo, de 16 de novembro de 1890, sobre o Projeto de Melhoramento e Embellezamento da Cidade do Rio de Janeiro, do Dr. Galdino Pimentel. Id. Ibid. P. 10.
Maria Moura
18 - GALVÃO, Tito Barreto. Saneamento e Embellezamento da Capital Federal. Rio de Janeiro : Typ. De G. Leuzinger & Filhos, 1892. P. 17.
Maria Moura
19 - Id. Ibid. P. 25.
Maria Moura
20 - Id. Ibid. P. 23. Grifo nosso.
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entendida como as faces que definem os espaços urbanos e lhes configura a

imagem, ganhava evidência na concepção desses cenários, sendo alvo de normas

que regulavam sua estética ou, quando se tratavam de edificações de forte

referência para a cidade, eram tratadas com rigor estético e monumentalidade.

Se a intenção de construir um cenário para representar a modernização e civilização

do país, já se mostrava tão evidente nesses projetos elaborados para o Rio de

Janeiro, no final do século XIX, essa intenção vai ser ainda mais marcante, como

veremos, na reforma urbana levada a cabo por Pereira Passos, considerado o grande

paradigma para construção das cidades modernas no Brasil, no início do século XX.

Segundo alguns autores, nesta reforma de Pereira Passos, “a ordem das

prioridades na solução dos problemas da cidade” foi sendo invertida, “colocando

definitivamente em primeiro plano a questão de sua imagem”. 21 Se esta inversão

já era apontada nos projetos anteriormente propostos - verificando-se, cada vez

mais, a utilização dos termos embelezamento e aformoseamento, para justificar as

intervenções - a preocupação com a imagem do Rio era agora evidente, podendo

ser identificada em diversas medidas que compunham o plano do governo.

Tratando-se de um projeto para melhoramento e embelezamento do Rio de

Janeiro, certamente o principal referencial continuava a ser “a Paris de

Haussmann”. Para tanto, “as largas avenidas, os elegantes magazines, os floridos

jardins deveriam moldar a imagem do novo Rio, não mais identificado com suas

tradições, com sua história, mas com as grandes civilizações européias”. 22

A verdade é que se criava grande expectativa em torno da reforma urbana do Rio,

desejando ver soluções para os problemas que a cidade apresentava. Neste sentido,

a crônica publicada pelo periódico Renascença, de abril de 1904, noticiava o início

das obras dizendo : “O mêz de março, que findou, desta vez, por bem aventurada

excepção, sem calores excessivos e sem o tremendo cortejo de molestias e

desolações, viu o inicio das grandes obras que hão de transformar a colonial cidade

do Rio de Janeiro, numa bella, arejada e architectonica metropole moderna”. 23

Na medida em que o projeto elaborado para reforma urbana do Rio de Janeiro

demonstrava uma preocupação especial com a valorização estética da cidade, vê-

se abrir espaço para a formulação de um projeto estético, que consistia em

selecionar, organizar e elaborar arquitetonicamente determinados elementos

Maria Moura
21 - DEL BRENNA, Giovanna Rosso. (org.). Uma cidade em questão II : O Rio de Janeiro de Pereira Passos. Rio de Janeiro : Índex, 1985. P. 8.
Maria Moura
22 - PECHMAN & FRITSCH. Op. Cit. P. 175.
Maria Moura
23 - Chronica. Renascença, abril 1904, p. 41-44. Apud. DEL BRENNA. Op. Cit. P. 173/174. Grifo nosso.
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urbanos, submetendo-os a um processo de composição com o intuito de obter

dessa paisagem construída com base nos princípios componentes desse projeto,

uma cidade valorizada pelas regras da estética. 24

A abertura, alargamento e retificação das ruas e avenidas constituíam os elementos

que, até então, haviam recebido maior atenção, em todos os planos elaborados para

o Rio de Janeiro. Apontava-se como conseqüência dessas ações, uma série de

benefícios para circulação, higiene e estética da cidade : entre as quais, possibilitar a

substituição, em um curto espaço de tempo, dos prédios antigos situados nas ruas

estreitas; vindo “despertar o gosto architectonico, pois, offerecendo as ruas largas e

bem situadas uma renda compensadora aos predios nella edificados, os proprietarios

animar-se-ão a construil-os em melhores condições”. 25

Observa-se que o efeito estético das avenidas estava relacionado com as

dimensões das vias, com o traçado que deveria ser o mais retilíneo possível, com

o tratamento paisagístico e a arquitetura que as delimitava, com as perspectivas

encerradas por construções imponentes, etc.

Entre todas as intervenções realizadas no Rio de Janeiro, certamente, a Avenida

Central pode ser apontada como o grande cenário do Brasil moderno, já que foi

idealizada para ser o mais importante cartão postal do país. Diante disso, era

redobrada a atenção para com os aspectos da estética, chegando a imprensa a

referir-se à Avenida Central como uma das “avenidas projetadas para o

embelezamento da capital”. 26

A fim de que a Avenida Central se apresentasse à altura das expectativas

colocadas, foi promovido um “concurso de fachadas”, com o objetivo de impedir

que aí se manifestasse a antiga forma de construir sem arte, selecionando os

prédios condizentes com a grandiosidade da Avenida e garantindo espaço para as

construções artísticas. A repercussão desse concurso foi logo percebida, dizendo

a imprensa : “Já os capitalistas e o publico em geral começam a convencer-se de

que os edificios da avenida devem ter esthetica e devem dar testemunho publico

do nosso adiantamento artistico e intellectual”. 27

Para aqueles que desejavam ver surgir o novo Rio de Janeiro, mais belo e

moderno, a reforma urbana parecia ser a oportunidade ideal. Por isso, surgiam as

manifestações de apoio ao projeto do prefeito Pereira Passos :

Maria Moura
24 - Cf. GREGOTTI, Vittorio. Território da Arquitetura. São Paulo : Perspectiva, 1994. P. 12.
Maria Moura
25 - Prefeitura do Districto Federal. Melhoramentos da Cidade projectados pelo Prefeito do Districto Federal Dr. Francisco Pereira Passos. Rio de Janeiro : Typographia da Gazeta de Noticias, 1903. Apud. DEL BRENNA. Op. Cit. P. 43/44.
Maria Moura
26 - Embellezamento da cidade. Correio da Manhã, 17/4/1903. Apud. DEL BRENNA. Op. Cit. P. 50.
Maria Moura
27 - O concurso architectonico. Jornal do Brasil, 31/3/1904. Apud. DEL BRENNA. Op. Cit. P. 162.
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“(...) Então V. Ex. traçará á vontade as novas artérias sobre os escombros do

antigo coração da metrópole, tendo o cuidado de exigir construcções em

harmonia com a grandeza da reforma, todas attendendo ás modernas exigencias

da hygiene e conforto e aos requisitos da arte de architectura, (...)

E se V. Ex. estimular essa reforma benemerita, estabelecendo premios annuaes,

embora modestos, recompensando as casas mais bellas, as villas operárias mais

hygienicas e confortáveis, em breve haverá ahi uma verdadeira febre de esthetica

urbana (...)”. 28

Está claro que a qualidade estética das edificações era um dos elementos que

requeria grande atenção do poder público e da própria população. Esta mesma

preocupação fazia surgir, também, outras propostas, como a da criação de “um

imposto especial para as casas cujo aspecto não obedecesse a um certo numero de

regras : o imposto sobre a feiura, o imposto esthetico. Quem quizesse construir

esses abominaveis caixões que constituiam a architectura colonial tradicional

podia fazêl-o; mas pagaria o enfeiamento das nossas ruas.” 29

As medidas que contribuíam para o embelezamento e engrandecimento das

cidades, eram aclamadas como demonstração de patriotismo daqueles que

acreditavam no Brasil moderno. Dizia-se : “(...) o verdadeiro e são amor á patria é

esse que lhe imprime os vestigios do esforço e da dedicação de seus filhos, da

vontade que elles têm de alindal-a, de enobrecel-a, de fazel-a tão importante e tão

bella como as mais bellas e importantes”. 30

O embelezamento das praças e a concepção arquitetônica dos espaços urbanos

surgiam como outro fator desse projeto estético para a cidade moderna. O

tratamento paisagístico das praças já existentes e a abertura de outras, vão ser

medidas destinadas a valorizar a cidade. Nesses espaços, surgiam equipamentos

públicos artisticamente projetados, muitos desses destinados ao lazer da população.

Em Botafogo, por exemplo, o projeto da Avenida Beira Mar, incluía algumas

construções dispostas da seguinte forma : “Ao meio d'estes ajardinados ficarão

collocados um restaurante, um theatrinho para crianças, chalets de abrigo, e no

extremo da Avenida um pavilhão para musica, no centro de um bello bosque, que

certamente se tornará um ponto concorridíssimo. (...)”. 31 Era a valorização da

cidade como “vitrine da civilização” que gerava as modificações dos espaços

urbanos e incentivava o surgimento desses novos equipamentos que deveriam,

Maria Moura
28 - Carta aberta ao Prefeito. Gazeta de Notícias, 6/3/1903. Apud. DEL BRENNA. Op. Cit. P. 33/4.
Maria Moura
29 - R. Singapura. Notas. A Notícia, 16/7/1904. Apud. DEL BRENNA. Op. Cit. P. 203.
Maria Moura
30 - Avenida Central. Jornal do Brasil, 14/11/ 1905. Apud. DEL BRENNA. Op. Cit. P. 391.
Maria Moura
31 - Souza Rangel. Melhoramentos do Rio. Renascença, dez/1904. Apud. DEL BRENNA. Op. Cit. P. 283.
Page 12: Texto de Moura Filha

12

também, estar de acordo com a grandeza e a beleza da cidade, sendo alvo de

críticas, aqueles que não atingiam tal objetivo.

Começavam a proliferar, também, edifícios públicos que surgiam para atender

funções decorrentes do desenvolvimento econômico, político e social, mas que

deveriam também marcar presença na cidade com sua monumentalidade. Na

Avenida Central, ao lado de edifícios destinados às melhores casas de comércio,

às grandes companhias, aos clubes e hotéis, o governo construiu a Escola de Belas

Artes, a Biblioteca Nacional, o Supremo Tribunal, o Teatro Municipal e o Palácio

Monroe, todos tratados como monumentos que se impunham no meio urbano

como importantes referenciais da cidade modernizada.

Esses edifícios públicos monumentais se destacavam na cidade, em virtude de

uma representação arquitetônica própria e de uma localização, que os

transformava em pontos focais na estrutura urbana, pois surgiam protegidos por

limites espaciais bem precisos e com posição de destaque em relação às demais

edificações e aos percursos viários.

Analisando o caso do Teatro Municipal do Rio de Janeiro - imponentemente

implantado diante de uma praça, compondo um cenário com outros prédios de

grande porte, como a Biblioteca Nacional e o Palácio Monroe - é possível

entender como essas tipologias requeridas pelo novo modo de vida urbana,

expressavam, através da arquitetura, as aspirações de beleza próprias da época.

Opondo-se às críticas sobre os gastos excessivos decorrentes da construção do

Teatro Municipal, a imprensa dizia : “Naturalmente, lhes parecia muito mais

atilado deixar fazer a Avenida, e depois desapropriar meia duzia de predios para

construir o theatro ou sepulta-lo n'uma qualquer dessas ruas estreitas, onde não

fosse visto nem suspeitado.” 32

Discursos como este, demonstram o desejo de evidenciar esses equipamentos

públicos mais importantes, colocando-os em posição de destaque, valorizando-os

como referenciais no cenário citadino, entendido como uma estrutura urbana

arquitetonicamente elaborada.

É importante atentar que, trabalhando com esses diversos elementos urbanos, o

projeto estético delineado para modernização e embelezamento do Rio, não se

Maria Moura
32 - Theatro Municipal. O Commentario, abril 1904, P. 306. Apud. DEL BRENNA. Op. Cit. P. 173.
Page 13: Texto de Moura Filha

13

destinava à cidade como um todo, sendo aplicado, especificamente, na construção

daqueles cenários planejados para vida cotidiana de uma elite civilizada,

rejeitando toda uma outra realidade urbana, considerada incompatível com os

ideais de progresso da época.

A valorização e o embelezamento da paisagem urbana, sob a orientação desse

projeto estético, era exaltada pelo discurso oficial que via essa ação sobre a cidade

do Rio de Janeiro, como o ponto de partida para um processo semelhante em

outras cidades do país, ampliando, assim, as imagens referenciais do Brasil

moderno. Dizia-se então :

“Que vale, porém, a grita desharmonica desses pequenos sentimentos

subalternos, em face do enthusiasmo, dos applausos e da admiração sem limites

que essa benemerita obra tem despertado nesta cidade e no país inteiro, em cujos

centros de população vae servindo de fecundo estimulo a emprehendimentos

semelhantes ?” 33

Identifica-se o rebatimento deste ideário no discurso do poder público de diversos

estados brasileiros. Como exemplo, o item “Obras Públicas” da mensagem de

governo dirigida à Assembléia Legislativa do Estado da Paraíba, em 1906, fazia o

seguinte comentário :

“Acompanhar cada um dos membros da grande Federação brasileira, nos limites de suas

forças econômicas, o bello exemplo que nos tem dado o eminente estadista Excmo. Sr.

Dr. Rodrigues Alves, cujo programma governamental rigorosamente executado bastante

fomento vai dando ao commercio, ás industrias, á navegação, a todos os ramos da

actividade humana e com especialidade ao saneamento e á belleza da Capital Federal, é

dever de honra, obrigação inherente ao espirito de continuidade que, no dizer expressivo

do preclaro Dr. Affonso Penna, ‘deve caracterizar os governos nas questões que tocam

de perto á honra, á propriedade e á grandesa da Nação e dando impulso conveniente ás

medidas que interessam ao bem estar, ao progresso e á commodidade do povo, de modo

a tornar amada a República’”. 34

Verifica-se que, de fato, ocorreu um processo de transformação da paisagem

urbana que atravessou todo o final do século XIX e início do XX, fazendo surgir, no

meio citadino, espaços concebidos segundo uma nova visão estética de cidade, onde

a arquitetura desempenhava um papel importante. Em todo o país, os governos

estaduais passaram a investir em melhoramentos urbanos visando transformar as

capitais dos seus estados, em cidades saudáveis, ordenadas e belas, a exemplo da

Maria Moura
33 - Discurso proferido pelo Dr. Aureliano Portugal, Secretario do Prefeito do Distrito Federal, no dia 21 de fevereiro de 1906, por occasião de se inaugurar, no Jardim da Praça da Gloria, a Fonte Artistica de marmore, offerecida á cidade do Rio de Janeiro, pelos industriaes portuenses Adriano Ramos Pinto & Irmão. Apud. DEL BRENNA. Op. Cit. P. 458/9.
Maria Moura
34 - Mensagem apresentada á Assemblea Legislativa do Estado em 1o. de setembro de 1906 por occasião da installação da 3a. sessão de 4a. legislatura pelo Presidente do Estado Monsenhor Walfredo Leal. Parahyba do Norte : Imp. Official, 1906. P. 14/5. Grifo Nosso.
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Capital Federal que se firmou como um paradigma de cidade moderna no Brasil do

início do século XX.

NOTAS E REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

1 - PECHMAN, Robert Moses. A cidade dilacerada : ordem e urbanismo. In : Encontro Nacional

da ANPUR, 5, Belo Horizonte, 1993. P. 15/16.

2 - Arquivo Geral da cidade do Rio de Janeiro. Códice 44-2-7. F. 9-14. Apud. BENCHIMOL, Jaime

Larry. Pereira Passos : um Haussmann tropical. Rio de Janeiro : Secretaria Municipal de Cultura,

Turismo e Esportes, Departamento Geral de Documentação e Informação Cultural, 1992. P. 131/2.

3 - PECHMAN, Sérgio & FRITSCH, Lilian. A reforma urbana e seu avesso : algumas

considerações a propósito da modernização do Distrito Federal na virada do século. Revista

Brasileira de História. V.5. n.8/9. São Paulo ; ANPUH/Marco Zero, set/1984, abr/1985. P. 174.

4 - Código de Posturas da Illustrissima Camara Municipal do Rio de Janeiro e Editaes da mesma

Camara. Rio de Janeiro : Eduardo & Henrique Laemmert, 1870. Secção segunda. Título Primeiro.

Parágrafos 1 a 14.

5 - PECHMAN & FRITSCH. Op. Cit. P. 150. Grifo nosso.

6 - 1° Relatório da Commissão de Melhoramentos da Cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro :

Typographia Nacional, 1875. P. 17. Grifo nosso.

7 - Id. Ibid. P.18/19.

8 - Melhoramento da Cidade do Rio de Janeiro. Critica dos trabalhos da respectiva comissão.

Collecção de artigos publicados no “Jornal do Commercio” de 23 de Fevereiro a 15 de Abril de

1875 por L. R. Vieira Souto. Rio de Janeiro : Lino C. Teixeira, 1875. P. 75/107.

9 – Id. Ibid.. P. 71.

10 - PECHMAN & FRITSCH. Op. Cit. P. 174.

11 - FOGLIANI, Giuseppe. Projeto de Melhoramentos na Cidade do Rio de Janeiro. Rio de

Janeiro : Tip. E Lit. F. Borgonovo, 1903. Apud. BENCHIMOL. Op. Cit. P. 198.

12 – FOGLIANI. Op. cit. P. 13/4. Id. ibid. P. 199. Grifo nosso.

13 - CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas : o imaginário da República no Brasil.

São Paulo : Companhia das Letras, 1990. P. 23.

14 – PECHMAN. Op. cit. P. 1.

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15

15 - PESAVENTO, Sandra Jatahy. Um novo olhar sobre a cidade : a nova história cultural e as

representações do urbano. In : Seminário de História Urbana, 2, Salvador, 1993.. P. 9/11.

16 - Projeto de Melhoramento e Embellezamento da Cidade do Rio de Janeiro pelo Dr. Joaquim

Galdino Pimentel, Engenheiro Civil. Rio de Janeiro : Typ. De G. Leuzinger & Filhos, 1891.

17 - Apreciação do jornal Correio do Povo, de 16 de novembro de 1890, sobre o Projeto de

Melhoramento e Embellezamento da Cidade do Rio de Janeiro, do Dr. Galdino Pimentel. Id. Ibid. P. 10.

18 - GALVÃO, Tito Barreto. Saneamento e Embellezamento da Capital Federal. Rio de Janeiro :

Typ. De G. Leuzinger & Filhos, 1892. P. 17.

19 - Id. Ibid. P. 25.

20 - Id. Ibid. P. 23. Grifo nosso.

21 - DEL BRENNA, Giovanna Rosso. (org.). Uma cidade em questão II : O Rio de Janeiro de

Pereira Passos. Rio de Janeiro : Índex, 1985. P. 8.

22 - PECHMAN & FRITSCH. Op. Cit. P. 175.

23 - Chronica. Renascença, abril 1904, p. 41-44. Apud. DEL BRENNA. Op. Cit. P. 173/174. Grifo

nosso.

24 - Cf. GREGOTTI, Vittorio. Território da Arquitetura. São Paulo : Perspectiva, 1994. P. 12.

25 - Prefeitura do Districto Federal. Melhoramentos da Cidade projectados pelo Prefeito do

Districto Federal Dr. Francisco Pereira Passos. Rio de Janeiro : Typographia da Gazeta de

Noticias, 1903. Apud. DEL BRENNA. Op. Cit. P. 43/44.

26 - Embellezamento da cidade. Correio da Manhã, 17/4/1903. Apud. DEL BRENNA. Op. Cit. P. 50.

27 - O concurso architectonico. Jornal do Brasil, 31/3/1904. Apud. DEL BRENNA. Op. Cit. P. 162.

28 - Carta aberta ao Prefeito. Gazeta de Notícias, 6/3/1903. Apud. DEL BRENNA. Op. Cit. P. 33/4.

29 - R. Singapura. Notas. A Notícia, 16/7/1904. Apud. DEL BRENNA. Op. Cit. P. 203.

30 - Avenida Central. Jornal do Brasil, 14/11/ 1905. Apud. DEL BRENNA. Op. Cit. P. 391.

31 - Souza Rangel. Melhoramentos do Rio. Renascença, dez/1904. Apud. DEL BRENNA. Op. Cit. P. 283.

32 - Theatro Municipal. O Commentario, abril 1904, P. 306. Apud. DEL BRENNA. Op. Cit. P. 173.

33 - Discurso proferido pelo Dr. Aureliano Portugal, Secretario do Prefeito do Distrito Federal, no

dia 21 de fevereiro de 1906, por occasião de se inaugurar, no Jardim da Praça da Gloria, a Fonte

Artistica de marmore, offerecida á cidade do Rio de Janeiro, pelos industriaes portuenses Adriano

Ramos Pinto & Irmão. Apud. DEL BRENNA. Op. Cit. P. 458/9.

34 - Mensagem apresentada á Assemblea Legislativa do Estado em 1o. de setembro de 1906 por

occasião da installação da 3a. sessão de 4a. legislatura pelo Presidente do Estado Monsenhor

Walfredo Leal. Parahyba do Norte : Imp. Official, 1906. P. 14/5. Grifo Nosso.