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ESUD 2011 – VIII Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância Ouro Preto, 3 – 5 de outubro de 2011 - UNIREDE 1 CONVERGÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS DO MEDIADOR PEDAGÓGICO DA EAD Cláudia Valéria Nobre 1 , Keite Silva de Melo 2 1 Interativo Educacional/LANTE-UFF/UERJ-CEDERJ, [email protected] 2 Interativo educacional/LANTE-UFF/UNICARIOCA, [email protected] Resumo A Educação a Distância é uma modalidade de educação que tem conquistado o seu espaço a cada dia. Principalmente em cursos de nível superior, o potencial desta modalidade que caminha rumo à convergência presencial-distância se mostra cada dia mais eficaz. Mas um personagem essencial para qualidade de cursos se destaca, aproximando professor e os cursistas: o mediador pedagógico em EAD. Neste trabalho, analisamos a convergência de competências requeridas pelo mediador pedagógico em cursos a distância na graduação, pós-graduação ou formação continuada, a partir da análise de artigos publicados nos anais de dois eventos: XV Endipe de 2010 e I Seminário Web Currículo PUC-SP de 2008. O XV Endipe é um evento nacional e o I Web currículo, local. Ao todo, analisamos onze artigos que tratavam especificamente do mediador pedagógico em suas diversas nomenclaturas (professor online, professor-tutor, tutor, tutor virtual etc). Com estas escolhas, cremos que os dados nos oferecem rica possibilidade de análise acerca da mediação pedagógica em cursos a distância. Consideramos que estes eventos que discutem educação e Educação a Distância contemplam um universo amplo de debate, socialização de experiências, ensaios teóricos e reflexões entre pesquisadores da área. A partir dos dados analisados, notamos uma predisposição dos autores a destacar o aspecto afetivo como uma competência mais essencial dentre outras, também importantes. Acreditamos que a adesão às competências afetivas se deve à especificidade da modalidade, já que o modelo de educação presencial é a base de nossa formação e ao fato de os cursistas que estão ingressando em um curso na modalidade EAD precisarem de maior acompanhamento do mediador até que conquistem maior autonomia. As competências afetivas do mediador neste sentido são essenciais. As demais competências, embora também essenciais, se aproximam do senso comum quase como uma obviedade às funções educativas da modalidade. Palavras-chave: competências essenciais; mediador pedagógico; EAD. Abstract Distance education is a form of education that has earned its place every day. Especially in upper-level courses, the potential of this mode moving towards the convergence-distance face every day proves more effective. But a character essential to quality of courses stands out, bringing teacher and students: the

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CONVERGÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS DO MEDIADOR PEDAGÓGICO DA EAD

Cláudia Valéria Nobre1, Keite Silva de Melo2 1Interativo Educacional/LANTE-UFF/UERJ-CEDERJ, [email protected]

2Interativo educacional/LANTE-UFF/UNICARIOCA, [email protected]

Resumo – A Educação a Distância é uma modalidade de educação que tem conquistado o seu espaço a cada dia. Principalmente em cursos de nível superior, o potencial desta modalidade que caminha rumo à convergência presencial-distância se mostra cada dia mais eficaz. Mas um personagem essencial para qualidade de cursos se destaca, aproximando professor e os cursistas: o mediador pedagógico em EAD. Neste trabalho, analisamos a convergência de competências requeridas pelo mediador pedagógico em cursos a distância na graduação, pós-graduação ou formação continuada, a partir da análise de artigos publicados nos anais de dois eventos: XV Endipe de 2010 e I Seminário Web Currículo PUC-SP de 2008. O XV Endipe é um evento nacional e o I Web currículo, local. Ao todo, analisamos onze artigos que tratavam especificamente do mediador pedagógico em suas diversas nomenclaturas (professor online, professor-tutor, tutor, tutor virtual etc). Com estas escolhas, cremos que os dados nos oferecem rica possibilidade de análise acerca da mediação pedagógica em cursos a distância. Consideramos que estes eventos que discutem educação e Educação a Distância contemplam um universo amplo de debate, socialização de experiências, ensaios teóricos e reflexões entre pesquisadores da área. A partir dos dados analisados, notamos uma predisposição dos autores a destacar o aspecto afetivo como uma competência mais essencial dentre outras, também importantes. Acreditamos que a adesão às competências afetivas se deve à especificidade da modalidade, já que o modelo de educação presencial é a base de nossa formação e ao fato de os cursistas que estão ingressando em um curso na modalidade EAD precisarem de maior acompanhamento do mediador até que conquistem maior autonomia. As competências afetivas do mediador neste sentido são essenciais. As demais competências, embora também essenciais, se aproximam do senso comum quase como uma obviedade às funções educativas da modalidade.

Palavras-chave: competências essenciais; mediador pedagógico; EAD.

Abstract – Distance education is a form of education that has earned its place every day. Especially in upper-level courses, the potential of this mode moving towards the convergence-distance face every day proves more effective. But a character essential to quality of courses stands out, bringing teacher and students: the

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mediator in distance education. In this paper we analyze the convergence of skills required by the mediator in distance education courses in undergraduate, graduate or continuing education, from the analysis of articles published in two events: XV 2010 Endipe and I Seminario Web Curriculo PUC-SP 2008. The XV Endipe is a national event and I Web curriculo site. Altogether, we analyzed eleven articles that dealt specifically with the mediator in its various educational classifications (online teacher, teacher-tutor, tutor, virtual tutor, etc.). With these choices, we believe that we offer rich data analysis concerning the possibility of mediation in distance learning courses. We believe that these events discussing distance education and include a broad universe of discussion, socialization experiences, theoretical essays and reflections among researchers. From the data analyzed, we noted a willingness of authors to emphasize the affective aspect as a skill most essential among others, also important. We believe that adherence to affective skills is due to the specificity of the modality, as the classroom model of education is the foundation of our education and the fact that students are entering a course in the form of distance education need further monitoring until the mediator gain greater autonomy. The emotional skills of the mediator in this sense are essential. The other abilities, but also essential, common sense approach almost like a truism to the educational functions of modality.

Keywords: core competencies; mediator for learning, Distance education

1. Introdução

Alguns autores conceituam a modalidade Educação a Distância como uma modalidade que pressupõe distanciamento físico e geográfico entre professor e cursistas. Não discordamos completamente desta definição, mas acreditamos que ela não contempla todos os modelos de Educação a Distância (EAD), que sabemos, são diversos.

Educação a Distância é antes de tudo, Educação. Não uma metodologia paralela, mas uma modalidade que se utiliza de outra linguagem, espaço e forma de comunicação entre professor e cursistas, mediados pelos recursos das Tecnologias da Informação e da Comunicação, as TIC.

No documento “Referenciais de qualidade para cursos a distância” há sugestão de se observar a EAD como “Educação independente de distâncias”. Demo (2010) também sugere que a EAD que estamos construindo dia-a-dia receba outra nomenclatura, retirando-lhe o “a distância” que segundo este autor, não é pedagógico.

Como uma modalidade de educação que é, a EAD se apoia nas concepções e teorias que fundamentam a educação presencial. Aos poucos, a literatura comprometida com esta modalidade de educação vem adquirindo e ousando mais ensaios em busca da atualização destas concepções e teorias frente à especificidade da EAD.

Relatos de experiências, relatórios de pesquisas, publicações diversas, colóquios, seminários, congressos entre outros eventos, convergem para discutir modelos de EAD de qualidade e apresentam os seus pontos de vista do essencial a se observar nesta modalidade. Em um número considerável de comunicações, a mediação pedagógica conquista sua

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relevância nos discursos, dada a sua importância no processo de ensino-aprendizagem.

Neste trabalho analisamos as competências requeridas pelo mediador pedagógico em cursos a distância de nível superior apresentadas em artigos publicados nos anais de dois eventos de grande repercussão nos últimos anos. Um evento é o XV Endipe - Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino – ocorrido em abril de 2010 em Belo Horizonte/MG e o outro é I Seminário Web Currículo PUC-SP, ocorrido em setembro de 2008 em São Paulo.

Consideramos que estes eventos que discutem educação e Educação a Distância contemplam um universo amplo de debate, socialização de experiências, ensaios teóricos e reflexões fundamentadas. O XV Endipe é um evento nacional e o I Web currículo, local. Com estas escolhas, cremos que os dados nos oferecem rica possibilidade de análise acerca da mediação pedagógica em cursos a distância no atual contexto brasileiro.

2. O Mediador pedagógico da EAD

O mediador pedagógico de cursos a distância, quando possui experiência docente na modalidade presencial, traz em sua bagagem várias estratégias de intervenção de sucesso. No entanto, entendemos que a especificidade desta modalidade demanda outras competências para mediar cursos. Estas competências precisam contemplar uma linguagem e postura pedagógica peculiares e proficiência tecnológica para usufruir do potencial do ambiente virtual de aprendizagem (AVA) e dos recursos da Web 2.01. Entendemos que esta postura pedagógica deve incluir também uma mediação atenta, sensível e provocativa.

O mediador pedagógico precisa lidar ao mesmo tempo com a gestão do conhecimento de sua turma, acompanhar e participar proativamente das discussões com sua coordenação, manusear com desenvoltura o AVA escolhido pela instituição, gerenciar possíveis conflitos explícitos e implícitos no calor das discussões e no desenrolar dos trabalhos, estimular: a colaboração, a interatividade (SILVA, 2001), o clima cordial e estimulante. São várias as ações que este ator precisa contemplar.

Entendemos que em médio prazo, as modalidades de educação presencial e EAD vão convergir e se complementar. Há uma tendência à “educação combinada” 2, que alia o que de melhor cada modalidade possui.

A partir desta previsão, voltamos nosso olhar para o perfil profissional de quem atua ou atuará como mediador de cursos a distância e vivenciou uma formação baseada no paradigma da transmissão, baseado no falar-ditar do mestre. Como este mediador pode superar e atualizar esta formação e em que direção? Quais são as competências demandadas por este mediador, responsável pela aprendizagem do aluno e um dos responsáveis pelo

1 Web 2.0 é a utilização da internet como plataforma, incluindo aplicativos e softwares que rodam em qualquer computador e aproveitam a inteligência coletiva para seu constante aperfeiçoamento. Também é conhecida como mídias sociais. 2 Referenciais de qualidade para cursos a distância.

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sucesso do curso? Quais são as essenciais?

O mediador pedagógico precisa incluir o potencial da comunicação bidirecional em sua atuação na EAD, assim como o exercício cuidadoso, ético e profissional, pois ele é quem faz o elo entre o professor-autor (representado através das aulas e material didático), as mídias disponíveis e os cursistas.

Masetto (2000) utiliza a metáfora da “ponte rolante” para ilustrar a especificidade da mediação pedagógica:

Por mediação pedagógica entendemos a atitude, o comportamento do professor que se coloca como um facilitador, incentivador ou motivador da aprendizagem, que se apresenta com a disposição de ser uma ponte entre o aprendiz e sua aprendizagem – não uma ponte estática, mas uma ponte ‘rolante’, que ativamente colabora para que o aprendiz chegue aos seus objetivos.

Esta metáfora elucida bem a ideia do trabalho do mediador que precisa estar sensível e com a percepção apurada em relação às demandas e necessidades dos seus cursistas, estimulando-os e despertando-os para novos olhares, novos pontos de vista e reflexão de suas práticas. A menção à “ponte rolante” e não à “ponte fixa” nos remete ao cuidado com a individualidade e abordagens diferenciadas nas relações interpessoais na sala de aula virtual.

Outra possibilidade de leitura subjacente à “ponte rolante”, enquanto ponte móvel, ativa e dinâmica, é que o mediador é o complemento significativo à autoria do professor-autor, constituindo-se em uma ponte de comunicação bidirecional entre o professor-autor, o material didático e os cursistas.

Aretio (2001, apud Giannella, Struchiner e Ricciardi, 2003) aponta quatro principais qualidades para o mediador enquanto orientador de aprendizagem na modalidade EAD. O autor considera que sem estas qualidades, as demais tendem ao fracasso:

Cordialidade: fazer com que os alunos se sintam “bem-vindos”, respeitados e confortáveis; Aceitação: aceitar/compreender a realidade do aluno que, em seus contatos com o tutor/orientador, deve se sentir participante ativo do processo; Honradez: ser verdadeiro e autêntico; não deixar que o aluno crie expectativas falsas sobre o que se pode oferecer; manifestar honestidade, não assumindo uma postura de “professor dono da verdade”; Empatia: colocar-se no lugar do outro; envolver-se com os sentimentos dos alunos, aproximando as relações. (ARETIO apud GIANNELLA, STRUCHINER e RICCIARDI, 2003)

Estas qualidades podem e precisam ser desenvolvidas pela mediação pedagógica que respeita e considera o seu aluno como um sujeito corresponsável e ativo da aprendizagem.

Aprendizagem Cursistas

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em:

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Mediador pedagógico

Figura 1: Mediador pedagógico como ponte rolante

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Embora estas qualidades possam nos parecer princípios próprios de um indivíduo, entendemos que elas podem ser desenvolvidas quando houver comprometimento com o trabalho a que se propôs.

Quando desenvolvidas, estas qualidades se constituem como competências e habilidades essenciais ao mediador pedagógico da EAD.

2.1 - Competências e a mediação pedagógica na EAD

O termo competências demanda o nosso posicionamento para esclarecer ao leitor, nossa perspectiva. Deluiz (2001) denuncia que o modelo de competências profissionais no mundo do trabalho está baseado nos modelos taylorista e fordista, adequando-se ao mercado interno e externo e à competitividade. A autora também nos chama a atenção que o modelo de competências do capitalismo flexível remete às características individuais e também delega ao profissional a responsabilidade por “atualizar e validar regularmente sua ‘carteira de competências’ para evitar a obsolescência e o desemprego.”.

Reconhecemos esta perspectiva como ainda atual no mundo do trabalho, mas a perspectiva de competências que estamos tratando possui um sentido mais flexível, mais voltado ao fazer pedagógico, à formação humana, visando superar a fragmentação herdada do modelo newtoniano-cartesiano. Nossa fundamentação principal do conceito de competências se apoia em Perrenoud (2000), que baseando-se nos princípios de Piaget, definiu as competências como:

... faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações etc) para solucionar com pertinência e eficácia uma série de situações, podendo desta forma abranger a competência para o trabalho e a competência para a vida”

Esta noção de competência também está de acordo com a mobilização de saberes, postos em prática e demandando discernimento para situações de complexidade. Esta relação pertinente entre os saberes construídos e a resolução de problemas é que permite a construção de uma competência, que poderá ser adotada em outras situações.

Perrenoud (2000) enumerou pelo menos dez grandes famílias de competências ou competências de referência orientadoras do trabalho e da formação contínua de professores do Ensino Fundamental. Como estamos tratando especificamente do mediador pedagógico, que possui suas peculiaridades, destacamos na Tabela 1, na primeira coluna a seguir, apenas as que consideramos mais próximas ao perfil do mediador. E na segunda coluna, apresentamos as nossas considerações sobre a contribuição de Perrenoud (2000), adequando-as à especificidade do mediador pedagógico.

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Tabela 1- Competência de referência e nossa releitura para o mediador pedagógico

Competência de referência

(Perrenoud)

Releitura considerando o mediador pedagógico3

1. Organizar e dirigir situações de aprendizagem

O mediador precisa ser conhecedor do conteúdo que está dinamizando; Ele precisa articular o material didático com os saberes trazidos pelos cursistas; Precisa envolver os cursistas em atividades de pesquisa.

2. Administrar a progressão das aprendizagens

Oferecer rápido feedback ao aluno; Problematizar novas perspectivas nos fóruns de discussão, quando o assunto em pauta já estiver próximo do esgotamento; Utilizar a avaliação formativa como opção de avaliação contínua e processual que enriquece a aprendizagem do aluno.

3. Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação

Estimular perspectivas diferenciadas no debate nos fóruns; Desenvolver a cooperação entre os cursistas.

4. Envolver os cursistas em sua aprendizagem e em seu trabalho

Despertar o aluno para sua co-responsabilidade com o curso e sua aprendizagem; Estimular o gosto pela pesquisa; Incluir processos de autoavaliação do aluno e da sua atuação.

5. Trabalhar em equipe Estimular a aprendizagem colaborativa e projetos de trabalho em grupo; Gerir crises ou conflitos entre pessoas; Cuidar da linguagem e postura na mediação; Desenvolver capacidade de resiliência, para oferecer segurança aos seus cursistas.

6. Utilizar novas tecnologias

Buscar fluência tecnológica tanto em relação ao ambiente virtual do curso, quanto das redes sociais que podem auxiliar o seu trabalho; Construir uma mediação incentivadora para os cursistas com mais dificuldade no tocante à fluência tecnológica.

7. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão

Lutar pela organização e regulamentação desta profissão; Analisar situações de constrangimento ocorridas na sala de aula virtual e intervir, na melhor ocasião e com a sutileza que a situação demandar.

8. Administrar sua própria formação contínua

Buscar refletir sobre sua prática e analisar as fragilidades encontradas e possibilidades de superação; Procurar formação contínua tanto na área (concentração de temas e assuntos) em que está mediando, quanto sobre a modalidade, tecnologias atuais e metodologias eficazes para o processo de ensino-aprendizagem.

2.2 - Competências do mediador pedagógico em EAD em dois eventos nacionais

Em nossa investigação, optamos por buscar em pesquisas e relatos de experiências recentes,

3 Adaptação do quadro de Perrenoud (2000) sobre Competências de Referência. Nossa releitura buscou considerar a essência do anunciado por este autor, adequando para o perfil do mediador pedagógico da EAD.

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apresentados em congressos nacionais voltados para área da Educação ou especificamente para a discussão da integração das tecnologias na educação, ocorridos nos anos de 2008 e 2010, como os pesquisadores apresentam em suas análises e conclusões, as competências essenciais ao mediador pedagógico em EAD. Em seguida, ilustramos através de esquemas e fragmentos textuais as competências que encontramos em cada evento e desenhamos a convergências das mesmas

2.2.1- Competências da mediação pedagógica no XV ENDIPE

Iniciamos pelos trabalhos publicados nos ANAIS do XV ENDIPE. Nestes Anais, nos dedicamos a analisar os artigos que tratavam da mediação pedagógica em EAD ou sobre tutoria, já que muitas instituições ainda utilizam esta nomenclatura para o profissional responsável pela mediação. Focamos os artigos que compuseram o sub-tema “Educação a Distância e Tecnologias da Informação e Comunicação”, nos debruçamos sobre aqueles, das modalidades pôster e painel, que investigaram o papel do mediador4 e/ou suas competências e habilidades e destacamos alguns recortes do anúncio destas competências.

“Integrado às importantes inovações tecnológicas, os docentes que atuam (atuarão) em ambientes virtuais de aprendizagem precisam desenvolver uma prática pedagógica alicerçada na construção do conhecimento, que valorize as ideias dos alunos e que os vejam com partícipes no processo ensino/aprendizagem.” (NOBRE, 2010, grifo nosso)

“Os saberes da mediação são ações do professor que colaboram para a dinamização da aprendizagem dos alunos, no sentido de romper com práticas pautadas na transmissão e centradas no isolamento e na autoaprendizagem do aluno próprias da EAD e vislumbrar uma prática pedagógica pautada na interatividade constante. A mediação ocorre em variadas interfaces dos ambientes virtuais de aprendizagem, necessitando de estratégias específicas para cada uma delas: - Os roteiros de aprendizagem devem conter as orientações iniciais que o professor dirige ao aluno, para informar os trajetos que serão propostos no curso/módulo/disciplina online; sintetizam para o aluno a arquitetura de percursos projetada pelo docente ou pela equipe interdisciplinar; (...) - Os chats devem valorizar o interesse na troca e na cocriação da aprendizagem e da comunicação, permitindo discussões temáticas e elaborações colaborativas que estreitam laços e impulsionam a aprendizagem. Além disso, é preciso que o docente online crie situações que propiciem ao grupo o “estar junto online”, a sensação de pertencimento, para incitar a motivação pessoal e potencializar a construção coletiva do conhecimento.” (RODRIGUES, 2010, grifo nosso)

As produções de Nobre e de Rodrigues apontam para competências e habilidades nos mediadores que valorizam os cursistas como sujeitos autônomos, co-autores e coparticipantes do seu próprio processo de aprendizagem. O mediador os auxilia a arquitetar percursos. No trabalho de Rodrigues, a autora enfatiza a mediação das interfaces do AVA (ambiente virtual

4 No caso dos referidos trabalhos, a nomenclatura era tutor.

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de aprendizagem), mas é no relato de Ziede e Nevado (2010) que vimos maior ênfase na importância da fluência tecnológica do mediador:

“ APROPRIAÇÃO TECNOLÓGICA

Nível I: Consciência apenas inicial das características de funcionamento das TICs e das condições ou ações necessárias para alcançar um objetivo. Esse nível inicial de contato dos tutores com as tecnologias é caracterizado por tomadas de consciência ainda muito periféricas, centradas apenas em características imediatamente observáveis das ferramentas e ambientes virtuais, em detrimento das suas ações sobre as ferramentas. Nível II: Avanços na consciência das ações empregadas para alcançar uma finalidade e das variações nos resultados das ações aplicados às TICs. Esse segundo nível evidencia-se mais claramente a partir do segundo eixo do PEAD, ainda que alguns tutores já tenham ingressado no PEAD com uma apropriação tecnológica mais avançada. Nível III: Consciência das ações empregadas, com a compreensão dos funcionamentos e aplicações básicas das TICs. Neste terceiro nível, evidenciado com maior ênfase a partir do final do segundo eixo e no decorrer do terceiro e quarto, a maioria dos tutores passam a elaborar as hipóteses e antecipações que dirigem as suas ações sobre as TICs.” (ZIEDE e NEVADO, 2010)

Nos fragmentos a seguir, destacamos as principais competências e habilidades

anunciadas por seus autores. Santos, Nevado e Lobato enfatizam entre outras, a importância da formação contínua do mediador, enquanto Miranda e Ronsoni anunciam competências que demonstram maior ênfase no conhecimento construído pelo mediador:

“Relacionamos as postagens com as ideias do plano pedagógico do Curso PEAD/UFGRS, quais sejam: formação como processo autônomo; formação profissional orientada para o desenvolvimento da autonomia intelectual e postura crítica reflexiva; interação; cooperação; metodologia interativa e problematizadora; aprendizagem numa postura investigativa.” (SANTOS, NEVADO e LOBATO, 2010, grifo nosso) “O papel de motivador de aprendizagens também é delegado ao tutor a distância, cujas atribuições vão desde ‘o olhar’ atento às mensagens e dúvidas enviadas, até a proposição de atividades que auxiliem a construção dos conceitos e conhecimentos trabalhados, tornando-se imprescindível. (...) Ao passo que estas atividades não possam ser desenvolvidas somente pelo professor, devido ao elevado número de estudantes que compõe o corpo discente, o papel do tutor a distância toma forma, fazendo-se valer desde o acompanhamento de planejamentos até ao apontar possíveis resoluções de dúvidas, sugerindo bibliografias e expondo seus conhecimentos acerca da temática.” (MIRANDA e RONSONI, 2010, grifo nosso)

Velloso já anuncia explicitamente como análise em sua pesquisa, quais as principais

competências do mediador, baseando-se no retorno que os cursistas lhe deram através de coleta de dados.

“... muito importante a relação com o professor, dado que superou todos os itens que constam na tabela como sendo uma atividade importante. Outro dado a ser discutido é em relação ao estímulo à participação do aluno nas discussões. Embora seja um dado que apareça na tabela 2 como sendo muito importante, a tabela 1 mostra que somente a metade realiza esse estímulo muitas vezes e que 13% dos tutores pesquisados realiza poucas vezes. Percebe-se assim, que a constância das interações

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entre tutores e alunos, ponto fulcral para facilitar o processo de construção de conhecimento na perspectiva de uma aprendizagem colaborativa, ainda se constitui como uma dinâmica pouco efetiva nos curso da EAD. (...) Cabe que a ele possuir, além de uma competência técnica, a competência formadora e a gerencial e avaliadora, sendo essas, inclusive, competências exigidas quando da seleção do tutor. Esta pesquisa constatou que a maioria dos tutores pesquisados possui competência técnica relacionada aos saberes das disciplinas e instrumental, relacionada ao uso do computador, competências essas importantes para o exercício da função de tutor.” (VELLOSO, 2010, grifo nosso)

Vargas et al., apresentam-nos em suas análises da coleta de dados realizada, categorias emergentes do retorno oferecido pelos cursistas sobre o papel do mediador. Nossos grifos buscam elucidar estas categorias que tiveram maior adesão dos referidos cursistas.

“...o tutor desempenha um papel social, sendo o responsável pelo desenvolvimento do senso de comunidade da turma, que deve prevalecer sobre as várias características esperadas de um aluno de EAD. (...) Sobre as características que os alunos julgam necessário em um tutor a distância foram listadas cinco opções: Conhecimento – 80% dos alunos acreditam ser esta uma qualidade extremamente importante; Agilidade – apenas 2% julgam ser indiferente esta habilidade; Interesse – cerca de 70% dos estudantes consideram extremamente importante; Companheirismo –apenas 9% acredita ser uma característica indiferente à pessoa do tutor e Acessibilidade – mais de 70% dos alunos acreditam ser de extrema importância esta característica no tutor a distância. (...) Em relação à prontidão do tutor para atendimento online 46% dos alunos consideram como boa e 39% como ótima a disponibilidade dos tutores à distância. Apenas 7% dos alunos consideraram como regular a prontidão dos tutores, este percentual foi verificado em apenas um dos pólos de apoio presencial, sendo considerado um problema pontual a ser resolvido. Os alunos também avaliaram a linguagem utilizada pelos tutores a distância nas diversas ferramentas de interação utilizadas no curso, mais de 70% dos alunos consideraram como suficientemente clara e amigável a linguagem dos tutores (...) A linguagem utilizada pelo tutor a distância é um dos elementos que deve ter atenção redobrada dos coordenadores de tutoria. O fato de grande parte das interações serem realizadas por meio de tecnologias assíncronas (email, fórum) pode prejudicar o entendimento do aluno se não for realizada de forma a evitar ambigüidade.” (VARGAS et al, 2010, grifo nosso)

Antonini se dedicou a investigar a relação dialógica entre professores-autores e mediadores (presenciais e a distância) e a interdependência desta rede, alimentada em encontros de formação e trocas sobre as escolhas realizadas e encaminhamentos de melhoria do curso. Os destaques que realizamos através dos nossos grifos apontam para competências e habilidades relevantes tanto para professores-autores como para mediadores, pois estão relacionadas ao respeito mútuo e bidirecionalidade:

“Fica evidente, dessa maneira, que é no exercício do diálogo que tutores e professores se formam para atuar na EAD. (...) O vínculo que se estabelece entre eles (tutores) e professores é possibilitado pelas reuniões de formação, reuniões específicas para esclarecimento de dúvidas relacionadas ao conteúdo das disciplinas do curso e outras. Nesse sentido, tutores presenciais e a distância se fortalecem e enfrentam suas eventuais fragilidades ou limitações advindas da sua área de formação ou conhecimentos tecnológicos. Para tanto, é preciso o entendimento de

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que a verdade também pode estar com o outro e isto envolve comprometimento, acolhimento das diferenças e ética. Ética compreendida como um esforço de humanização e convivência respeitosa com todos os seres e uma esperança, sempre, e essencialmente, crítica.” (ANTONINI, 2010, grifo nosso)

Buscamos ilustrar a seguir, um esquema que sintetiza as principais competências e habilidades do mediador pedagógico em EAD, sugeridas nos trabalhos analisados no XV Endipe:

ApreA

Imag

em:

Mediador

Antecipa e dirige ações sobre as

TICs

Prática pautada na

interatividade

Sintetiza arquitetura de percursos

Impulsionar cocriação

Formação como processo autônomo

Expõe seus conhecimentos

Motivador de aprendizagem

Constância nas interações

Valoriza os alunos

Relação estreita com o professor

Elabora hipóteses

Postura crítica e reflexiva

Autonomia intelectual

Sugere bibliográficas

Estímulo à participação

Acompanha o curso desde o planejamento

Linguagem clara e amigável

Exercício do diálogo

Acolhimento das diferenças

Convivência respeitosa

Ética

Competência técnica

Desenvolve senso de

comunidade Competência formadora

Competência avaliadora

Competência gerencial

Companheirismo Agilidade

Disponibilidade

Acessibilidade Prontidão

Figura 2 – Competências do mediador pedagógico em E AD pelo XV ENDIPE

2.2.2 – Competências da mediação pedagógica no I Web currículo PUC-SP Nos artigos do I WEB Currículo PUC-SP, também buscamos trabalhos que tratavam da mediação pedagógica em EAD ou docência online ou ainda sobre tutoria. Destacamos a seguir, fragmentos dos autores que ilustram estas competências.

“Cabe então ao tutor o papel de acompanhamento e orientação acadêmica do aluno, principalmente no que diz respeito a: • Organização e Administração do curso.

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• Problemas de ordem pessoal ou emocional. • Orientação dos alunos a buscar soluções cabíveis para cada caso. • Promover o trabalho colaborativo e cooperativo. • Estimular o estudo em grupos. • Estimular o estudante, para evitar a ocorrência de evasão. (...) É o tutor que aproxima o aluno dos conteúdos do curso ministrado e do próprio “conteúdo tecnológico”, necessário ao trânsito autônomo em ambientes virtuais de aprendizagem.” (OLIVEIRA, SANTOS e LOUZADA, 2008, grifo nosso)

Nas sugestões de Oliveira et al., são apresentadas competências e habilidades para o mediador pedagógico em EAD, baseados na perspectiva didática que era o foco dos pesquisadores. Já Rodrigues, na citação a seguir, acrescenta a importância do mediador explorar as interfaces, respeitando o desenho didático, com postura sempre proativa, aberta a coparticipação e problematizadora.

“A mediação pedagógica em ambientes online de aprendizagem precisa contemplar todas as interfaces escolhidas para uso, conforme o planejamento de seu desenho didático. (...) É preciso que o docente online esteja sempre disposto no esclarecimento das dúvidas, que instiga o debate, considere todas as opiniões dos cursistas e, primordialmente incentive a colaboração em sua mediação pedagógica. (...) a postura favorável do docente diante da interatividade influencia seus alunos. As interfaces fórum, chat, correio eletrônico e videoconferência potencializam as práticas docentes, pois possibilitam desenvolver o diálogo, a aprendizagem colaborativa e a autonomia, dimensões fundamentais da interatividade na educação online.” (RODRIGUES, 2008)

Um dos trabalhos analisados apresentou um curso de formação continuada para tutores em exercício na Educação Superior, onde o mediador do curso ocupa o lugar de modelo de qualidade, constantemente avaliado pelos cursistas em suas escolhas e ações. Também seria de competência do mediador, deixar a turma à vontade o suficiente para se expor sem preocupação de possível retaliação.

“... nos interessa particularmente a modelagem, pois nela os alunos exploram e experimentam as atividades no ambiente virtual tendo como modelo de qualidade as atuações do mais experiente, que neste momento passa a ser um ideal a ser seguido. O propósito é que ao fazer sem encontrar dificuldades, detendo o poder de analisar e compreender, os alunos passarão a entender talvez a razão de sua atuação, bem como a razão da atuação do orientador e foi justamente isso que ocorreu no curso estudado. (...)é necessário que os alunos sintam-se a vontade para expressarem-se livremente, sem receio do que os colegas ou o professor possam estar pensando sobre eles.” (NOBRE e MELO, 2008)

A seguir, ilustramos através de um esquema, as principais competências e habilidades do mediador pedagógico, que destacamos a partir da análise dos artigos.

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Torna-se ideal a ser seguido

Propicia interatividade

Administra problemas pessoais e emocionais

Considera todas as opiniões

Auxilia o aluno com o conteúdo tecnológico

Promove colaboração e cooperação

Desperta para autonomia

Instiga o debate

Deixa o aluno à vontade

Incentiva colaboração

em sua mediação

Contempla todas

interfaces

Acompanha e orienta o aluno

Respeita o desenho didático

Estimula estudo em grupo

Propicia abertura ao diálogo

2.3 – Retratando a convergência das competências do mediador nos eventos

Notamos que algumas competências sugeridas nos artigos analisados são bem semelhantes, se aproximando em sua essência. Estas são as que entendemos como as mais relevantes nos dados analisados.

Reunimos as competências essenciais sugeridas nos trabalhos analisados dos dois eventos na Tabela 2 a fim de ilustrar a sua convergência:

TABELA 2: Convergência das competências essenciais sugeridas ao mediador pedagógico nos eventos analisados

XV Endipe

I Web currículo PUC-SP 1. Competência formadora 2. Valoriza os cursistas 3. Agilidade 4. Competência técnica 5. Desenvolve sendo de comunidade 6. Antecipa e dirige ações sobre as TIC 7. Ética 8. Relação estreita com o professor 9. Impulsa cocriação 10. Estímulo à participação 11. Acolhimento das diferenças 12. Elabora hipóteses 13. Sugere bibliografias 14. Autonomia intelectual 15. Expõe seus conhecimentos

16. Postura crítica e reflexiva 17. Disponibilidade 18. Acompanha o curso 19. Companheirismo 20. Competência gerencial 21. Exercício do diálogo 22. Acessibilidade 23. Constância nas interações 24. Convivência respeitosa 25. Competência avaliadora 26. Motivador de aprendizagem 27. Sintetiza arquitetura de percursos 28. Prática pautada na interatividade 29. Linguagem clara e amigável 30. Formação como processo autônomo

1. Respeita o desenho didático 2. Considera todas as opiniões 3. Propicia interatividade 4. Torna-se ideal a ser seguido 5. Acompanha e orienta o aluno 6. Administra problemas pessoais e

emocionais 7. Promove colaboração e cooperação 8. Instiga o debate 9. Propicia abertura ao diálogo 10. Estimula estudo em grupo 11. Contempla todas interfaces 12. Auxilia o aluno com o conteúdo

tecnológico 13. Desperta para autonomia 14. Deixa o aluno à vontade

Figura 3: Competências do mediador pedagógico em EA D pelo I Web currículo PUC-SP

Tabela 2: Reunião das competências e habilidades su geridas ao mediador pedagógico nos eventos analisados

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Das competências e habilidades emergidas do estudo, chamamos a atenção para o grande volume de ações e cuidados que o mediador precisa desenvolver em seu exercício cotidiano nos cursos a distância. Muitas destas competências são essenciais e ao mesmo tempo, invisíveis aos olhos tanto dos cursistas como das coordenações. No entanto, a sua ausência pode levar o curso ao insucesso ou levar ao desânimo alguns cursistas, dificultando o enfrentamento de diversos problemas, entre eles a evasão.

Percebemos que as competências de ordem afetiva, que permeiam as relações interpessoais foram mais citadas no conjunto da análise. O princípio sugerido por Valente (2009), o “estar junto virtual”, contempla a qualidade e postura sugeridas pelos diversos autores para o mediador pedagógico em EAD.

Entendemos que o fato de não haver maior destaque para as competências de ordem acadêmica, gerencial, pedagógica e tecnológica não quer dizer que não são relevantes para o mediador. Acreditamos que a adesão às competências afetivas se deve à especificidade da modalidade e ao fato dos cursistas que estão ingressando em um curso na modalidade EAD precisarem de maior acompanhamento do mediador até que conquistem maior autonomia. As competências afetivas do mediador neste sentido são essenciais. As demais competências se aproximam do senso comum quase como uma obviedade às funções educativas.

3. Considerações finais

Em nossas considerações, podemos inferir que o mediador pedagógico em EAD possui muitas competências e habilidades a serem mobilizadas em sua prática cotidiana e em situações de complexidade. Todos os olhares da equipe multidisciplinar de cursos a distância e dos cursistas estão voltados para este sujeito.

Este agente social (VEIGA, 2009) conquista a cada dia maior autonomia, o desenho de sua identidade profissional e escreve aos poucos a sua história tanto em termos de constituição enquanto categoria reconhecida, como das competências de referência (PERRENOUD, 2000) que orientam seu trabalho.

Através da análise dos artigos dos dois eventos, notamos a real preocupação dos autores com o exercício do mediador. Em alguns modelos, ele possui maior autonomia e participação no repensar do curso, já em outros, o mediador apenas implementa o já concebido. Mas em todos os modelos analisados, vimos que há preocupação com a formação contínua destes profissionais e que ele é um dos principais responsáveis pela aprendizagem e autonomia do aluno.

O mediador pedagógico precisa estar entrosado com o desenho didático, proposta pedagógica e intencionalidades do curso. Quando a instituição formadora está aberta à voz deste profissional, costuma usufruir da experiência e maior adesão do mediador, bem como possibilita um diálogo mais afinado para condução de situações não previstas, que eventualmente exigem segurança e firmeza do mediador.

Competências e habilidades gerenciais, afetivas, cognitivas e tecnológicas são

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mobilizadas em todo o processo de mediação e todas elas são essenciais e só são visíveis aos olhos com a importância que possuem quando nota-se a sua ausência. Evitar esta ausência ou mobilizar saberes que possam substituir a contento, com firmeza, segurança, coerência e rapidez alguma ausência são elementos constitutivos de uma competência maior: a resiliência.

Ao realizar a leitura do conjunto de competências e habilidades a serem atendidas e mais os imprevistos que ocorrem no decorrer da realização de um curso, percebemos o campo de tensão em que o mediador pode se deparar e a habilidade que ele precisará para nortear suas ações e linguagem (representada através da escrita). E esta habilidade/capacidade pode se considerar como resiliência. Manter a tranquilidade, consciência de suas ações e autoregulação, ainda que as emoções estejam conflitantes, superando a adversidade com o menor desgaste emocional possível também é uma competência que o mediador pedagógico em EAD precisa desenvolver.

Encontrar na superação das adversidades, novas aprendizagens para outras situações complexas, é fundamental para todos os profissionais da atualidade, e em particular, de formadores e comunicadores, como os mediadores pedagógicos que atuam na Educação a Distância.

Referências: ANAIS. “ I Seminário Web Currículo PUC-SP” – A Integração de Tecnologias de Informação

e da Comunicação ao Currículo. São Paulo, 2008

ANAIS. “XV ENDIPE – ENCONTRO NACIONAL DE DIDÁTICA E PRÁTICA DE ENSINO” Convergências e tensões no campo da formação e do trabalho docente: políticas e práticas educacionais. Belo Horizonte, 2010

DELUIZ, Neise. O Modelo das Competências Profissionais no Mundo do Trabalho e na Educação: Implicações para o Currículo. “Boletim Técnico do SENAC”. 2001. Disponível em http://www.senac.br/informativo/BTS/273/boltec273b.htm acesso em 17 jul. 2010.

DEMO, Pedro. Palestra proferida A universidade do futuro: autoria pesquisa e comunicação em EAD no “2º Fórum de Pesquisa e Extensão EAD na UNIRIO”. Rio de Janeiro: 8.6.2010.

GIANNELLA, Taís R.; STRUCHINER, Miriam e RICCIARDI, Regina M. Vieira. Lições aprendidas em experiências de tutoria a distância: fatores potencializadores e limitantes. Tecnologia Educacional – ANO XXXI – 161/162 – Abr./03 – Set., 2003

MASETTO, M. T. Mediação pedagógica e o uso da tecnologia. In: MORAN, J. M.; MASETTO M. T.; BEHRENS, M. A. “Novas tecnologias e mediação pedagógica”. 15 ed. São Paulo: Papirus, 2000.

NOBRE, Cláudia V. e MELO, Keite S. Formação continuada on-line de tutores em exercício:

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uma experiência da UAB. In: I Seminário Web Currículo PUC-SP – A Integração de Tecnologias de Informação e da Comunicação ao Currículo. “Anais...” São Paulo, 2008.

PERRENOUD, Philippe. “10 Novas Competências para Ensinar.” Porto Alegre: Artmed Editora, 2000.

RODRIGUES, Tatiana C. dos S. A prática pedagógica do docente online: da formação à ação. In: I Seminário Web Currículo PUC-SP – A Integração de Tecnologias de Informação e da Comunicação ao Currículo. “Anais...” São Paulo, 2008.

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VALENTE, J. A. O “estar junto virtual” como uma abordagem de Educação a Distância. In: VALENTE, J. A. e BUSTAMANTE, Silvia B. V. (orgs.) “Educação a Distância: prática e formação do profissional reflexivo”. São Paulo: Avercamp, 2009.

VEIGA, Ilma P. A. “A aventura de formar professores”. Campinas, SP: Papirus, 2009.