texto-animacao-melissa

download texto-animacao-melissa

of 7

Transcript of texto-animacao-melissa

  • 8/3/2019 texto-animacao-melissa

    1/7

    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SULBACHARELADO EM ARTES VISUAIS

    ATELIER DE DESENHO IProf. Nico Rocha

    ANIMAO SEM TTULO

    Melissa WebsterPorto Alegre, 2011

  • 8/3/2019 texto-animacao-melissa

    2/7

    Esse trabalho um aperfeioamento de uma animao que fiz no semestre passado para a cadeira

    Tpicos Especiais em Desenho. A minha tcnica baseou-se em desenhar com grafite sobre papel e

    tirar fotos desses desenhos para transferir as imagens para o computador. Utilizei o software Adobe

    Photoshop CS4 para tratar as imagens e o Adobe Premiere CS4 para editar a animao. Os

    movimentos da mesma foram feitos da forma mais simples possvel: movimentar a cmera virtual, e

    no os desenhos em si.

    O resultado no me foi satisfatrio, mas eu aprendi coisas importantes sobre a produo de uma

    animao. Dentre elas: o planejamento um fator essencial e deve ser lembrado e repensado

    durante todo o processo; no perder tempo caprichando um desenho se o tempo curto e existem

    muitos outros para serem feitos; a economia de tempo uma preocupao inevitvel, pois o

    trabalho sempre maior do que se imagina.

    Uma grande diferena que agora estou fazendo os desenhos inteiramente no computador ao invs

    de desenh-los no papel para depois digitalizar. Eu antes insisti em fazer no papel porque no tinha

    ideia do trabalho que isso me causaria para ter pouco resultado e por ter gosto pelas animaes

    tradicionais (tambm por ter conhecido o belo trabalho de William Kentridge).

    Com os recursos digitais minha disposio, posso fazer algo to ou mais satisfatrio que no leve

    anos de trabalho. Alm disso, uma produo desse tipo geralmente conta com um grupo de pessoas,

    cada uma responsvel por um trabalho especfico, e estou fazendo sozinha todos eles. Se um dia eu

    vier a trabalhar em um estdio de animao, essa experincia sem dvida vai ter contribudo para

    meu desempenho.

    O fluxo de trabalho que organizei para a produo da minha animao foi o seguinte:

    Etapa 1 (escrita) Etapa 2 (desenho) Etapa 3 (animao)

    Argumento Storyboard Edio

    Roteiro Backgrounds Finalizao

    Personagens

    A etapa do desenvolvimento do argumento e do roteiro me foi longa. Detalhei mais a histria,

    repensei alguns aspectos que no ficaram legais no semestre passado, imaginei a narrativa na

    prtica. No decorrer das outras etapas, modifiquei, adicionei e exclu alguns planos que estavam no

  • 8/3/2019 texto-animacao-melissa

    3/7

    roteiro. Isso comum e previsvel que acontea, pois novas ideias surgem no decorrer do desenho

    dos planos. Notei que outros ngulos de cmera ficariam melhores, ou que uma determinada

    transio contribuiria com a narrativa.

    A etapa dos desenhos dos backgrounds (fundos) foi a mais extensa. No total, so 35. No incioestava fazendo os planos em uma resoluo de 1280x720 pixels, que o formato HD de sites que

    hospedam vdeos como o Vimeo, onde pretendo armazen-lo quando estiver pronto. Pensei que

    diminuindo para 640x360 pixels, a metade do tamanho original, gastaria menos tempo fazendo as

    texturas. De certa forma, fez sentido: o vdeo se manteve na mesma proporo (16:9) e os desenhos

    ficaram mais bonitos em tamanho menor.

    Comecei a fazer a edio em paralelo com os desenhos. Para mim o melhor momento, quando sev o resultado de horas de trabalho, por isso devo ter antecipado. Mas no final das contas serviu

    para corrigir e repensar a narrativa, evitando perda de tempo com desenhos que depois eu no

    utilizaria.

    As tcnicas de animao que o vdeo contm so duas. A primeira, que a mais fcil, rpida e

    bsica, se utilizar de um desenho esttico e mover a cmera virtual do software de edio, dando a

    impresso de movimento. A segunda, que trabalhosa mas eu quis experimentar, foi a tradicional

    quadro-a-quadro. Apesar de ter planejado, no utilizei software especfico de animao 2D por no

    t-lo estudado suficiente para unir esse tipo de animao com a edio do Premiere.

    Considero o udio, que geralmente deixado para segundo plano, algo to importante quanto o

    visual. Como sou atualmente incapaz de escrever e gravar uma msica, fui procurar na internet

    alguma sem direitos autorais. Por sorte, encontrei no site FreePlayMusic uma que ficou ideal para a

    animao. Mais adiante tambm vou adicionar sons de fundo.

    DESENHO

    Os meus desenho so em preto e branco, monocromticos. Mesmo que possa parecer, no s por

    uma questo de praticidade ou economia de tempo. Todas as minhas produes artsticas at hoje

    so em preto e branco.

    Para fazer a textura, estou me baseando nos desenhos de Robert Crumb, mais precisamente sua

    histria em quadrinhos Gnesis. O princpio muito simples: so desenhos com caneta nanquim

  • 8/3/2019 texto-animacao-melissa

    4/7

    (digitalmente, no meu caso) com linhas diagonais que se cruzam onde mais escuro, e algumas

    linhas horizontais ou verticais onde mais claro. Meu trao ainda no to rebuscado quanto o do

    artista e no quero gastar muito tempo com um s desenho, por isso o estilo no est ficando to

    parecido.

    Genesis (Robert Crumb)

    EQUIPAMENTOS UTILIZADOS

    Hardware: Mac desktop

    Mesa digitalizadora Wacom Bamboo

    Software: Adobe Photoshop CS4 (desenho)

    Adobe Premiere CS4 (edio)

    ARGUMENTO

    Entre dois grandes edifcios, uma pequena casa com uma rvore e um jardim

    se encontra espremida.

    O PERSONAGEM est deitado em sua cama, olhando atravs da janela o sol

    caindo lentamente em um cu acinzentado. O sol fraco comea a bater em

    seu rosto. Leva a mo at ele e suspira, os olhos fechados. Fecha a

    persiana. Olha para a televiso, que transmite um noticirio anunciando

    desastres naturais e crises econmicas. Nada o surpreende. Ele muda de

    canal com o controle remoto, e medida em que os segundos passam, fica

    assustado com o que assiste.

  • 8/3/2019 texto-animacao-melissa

    5/7

    Sai ligeiramente pelo corredor. Sua sala de estar aconchegante, com

    mveis clssicos, fogueira, tapetes e alguns ursos de pelcia sobre o

    sof. Ao lado da porta que ele sai, vrias ferramentas mecnicas

    penduradas na parede contrastam com o resto da decorao.

    Do seu ptio at a pista, ele empurra uma bicicleta. Monta nela e pedala

    apressado. Percorre uma via movimentada, constituda de engarrafamento de

    carros, em que a maioria est com uma pessoa irritada ou entediada

    dirigindo. As caladas so estreitas e mal cuidadas, com alguns famintos

    atirados. Ele ultrapassa os automveis pelo lado. Passa por um cruzamento

    onde uma ambulncia recolhe uma pessoa atropelada. Em uma das esquinas

    adiante, uma mulher de minissaia e decote caminha em crculos. Se

    entristece quando v o PERSONAGEM, que desmonta da bicicleta e a abraa,

    emocionado. Ela retribui, mas logo o afasta. Aponta para um lado. Sua

    canela e seu p direito so uma prtese metalizada que se apia no salto

    alto.

    Ele sai da cidade por uma rodovia. Segue em alta velocidade, e quando

    some no horizonte, o cu escurece. Entra em uma floresta e deixa a

    bicicleta. Avista um gato e uma coruja sobre um galho de rvore, que o

    encaram. Logo adiante, uma grande pedra lisa e circular com um smbolomstico entalhado est sobre a grama. Ele se deita nela com os braos e

    pernas abertas, de olhos fechados. Uma sombra circular o cobre, e seu

    corpo brilha com muita intensidade. De longe, pode-se ver um feixe de luz

    de dentro da floresta subindo em direo ao cu j escuro. Sobre a mesma

    pedra, um rob jaz em posio fetal.

    H horas atrs, a televiso do PERSONAGEM exibia o noticirio que

    divulgava a procura policial por um rob subversivo e perigoso.

    NARRATIVA

    O roteirista Syd Field, autor do livro Manual do Roteiro utiliza o seguinte paradigma para

    simplificar como a narrativa dos filmes so constitudas:

  • 8/3/2019 texto-animacao-melissa

    6/7

    Apesar dessa paradigma ser baseado em filmes norte-americanos de cerca de 120 minutos

    (rendendo umas 120 pginas de roteiro), a minha animao de pouco mais de 2 minutos pode se

    encaixar nessa estrutura. A temporalidade (inclusive a espacialidade) do meu roteiro facilmente se

    divide em trs partes: o incio quando o personagem est em casa; o Ponto de Virada I quando

    algo na televiso o assusta e ele sai apressado de casa; o meio quando ele percorre pela cidade e o

    contexto em que vive mostrado; o Ponto de Virada II quando a mulher aponta para um lado e ele

    segue seu caminho; o fim quando ele entra na floresta e a moral da histria se revela.

    O narrador da histria omnisciente: tudo v e no participa do enredo, nem faz observaes dos

    personagens com palavras. A cmera persegue o personagem principal em seu caminho, muitas

    vezes de ngulos superiores, divinos, onde no poderia estar outro personagem o observando.

    O antagonista da histria s revelado na ltima cena, sendo que esta uma revelao do que o fez

    se sentir ameaado (Ponto da Virada I) no incio da trama. No um personagem especfico, mas

    leva a crer que se trata dos agentes de poder que o perseguem (governo, polcia, mdia...).

    A histria contada apenas por imagens e uma msica de ar misterioso. O narrador omnisciente no

    fala, apenas observa, e nenhum dos personagens se expressa com palavras. Eu procurei no escrever

    um argumento explcito, que explicasse o porqu de cada ato. Tenho gosto por histrias que no seencerram totalmente, mas deixam algumas coisas em aberto para a imaginao do espectador. Esse

    jeito de contar uma histria pode ser visto como uma forma de interao com o mesmo.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Narratologia

    REFERNCIAS CONCEITUAIS

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Narratologiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Narratologia
  • 8/3/2019 texto-animacao-melissa

    7/7

    Quando comecei a escrever o argumento, no tinha nenhuma referncia clara em mente. Mas

    percebi que na histria h uma crtica ao ambiente urbano, mas talvez mais do que isso.

    Aparentemente, a narrativa nada mais conta do que poucos momentos da vida de um sujeito perdido

    e deslocado. Mas tambm mostra o contexto no qual ele vive, o que est acontecendo no mundo,

    um relacionamento no contado com uma mulher, uma fuga.

    H uma relao conceitual com o filme Metropolis (1927), de Fritz Lang. O filme, cone do

    expressionismo alemo, explora muito mais a fundo a condio humana da poca e do local. Mostra

    de perto o cotidiano da maioria proletria que vive no subsolo, trabalhando de forma puramente

    mecnica, como simples extenses das mquinas. J no meu trabalho, as pessoas quase no

    aparecem. Com exceo de alguns mendigos, todos esto dentro de automveis, inertes, como se

    pouca vida lhes sobrassem. Ao invs do trabalho duro ao redor de uma mquina, se encontram emum melanclico conforto dentro de uma. Acho interessante essa comparao, pois o filme retrata

    um imaginrio do futuro tecnocrata de algum que viveu em uma poca turbulenta do incio do

    sculo XX, e agora eu observo uma verdade atual no relacionamento com as mquinas que pode se

    perpetuar por muito tempo. Na minha animao, quem mais d sinais de humanidade ou

    sensibilidade so os robs, frutos da prpria tecnocracia que desumanizou quem os criou. Essa

    histria no novidade, e tambm depois eu fui me dar conta da influncia. O filme A.I. -

    Inteligncia Artificial (2001), de Steven Spielberg, conta a histria de um menino rob dotado de

    sentimentos que busca sua me adotiva, por quem sente um amor puro. Coincidentemente ou no, o

    meu personagem vai para uma floresta, e envolto de elementos de simbologia pag (rvores, lua,

    gato, coruja, um smbolo da Grande Me entalhado em uma pedra) ele parte para algum lugar,

    deixando apenas sua carcaa metlica que o dava a condio de mquina.