Teste rápido de retenção de fio com 3 canivetes

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Teste rápido de retenção de fio Como fiz bastante alarde dos canivetes chineses que comprei e alguns amigos mostraram interesse, estava aqui paradão com o tempo fechado e armando uma chuvinha e pretendendo torrar umas castanhas de caju amanhã; ai olhei para uma caixa de papelão e pensei que seria um bom iniciador do fogo. Cortei “réguas” do papelão com cerca de 12cm de largura cada e efetuava 5 cortes de cada vez com cada um dos canivetes do teste, fazendo “palitos de papelão” de 0,5 a 1cm de largura cada. Quando completados 25 cortes com cada canivete o fio era avaliado cortando papel fino, depois sendo observado sob uma magnificação de 20x e finalmente tentando rapar cabelo. Os canivetes foram o Enlan EL-08, o Ganzo G-710 e para os amigos poderem ter um parâmetro usei o meu SAK Victorinox Solo. Todos os canivetes estavam com meu fio padrão atual: desbaste de alívio de 5 graus de cada lado, seguido de um de 10 graus de cada lado e finalmente um micro-fio de 20 graus de cada lado. Após os primeiros 25 cortes o SAK já apresentava vários pontinhos minúsculos refletindo luz e sentia-se ma aspereza e pequenos “trancos” ao cortar papel fino e rapava cabelo mascando. Os dois chineses nada de pontos reflexivos e continuavam cortando papel normalmente. Rapavam cabelo sem problemas. Após 50 cortes o SAK apresenta grande quantidade de pequenos pontos e início de pequena linhas saltiadas reflexivos; a sensação ao cortar papel é de uma nano serra e a “aspereza” é acentuada. Não rapa mais cabelo. O Ganzo apresenta uns poucos pontos reflexivos e se percebe que não é tão suave mais ao cortar papel, mas ainda rapa cabelo. O Enlan apresenta 2 no máximo 3 pontinhos muito miúdos e corta papel de forma mais suave que o Ganzo. Rapa cabelo

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Teste rápido de retenção de fio

Como fiz bastante alarde dos canivetes chineses que comprei e alguns amigos mostraram interesse, estava aqui paradão com o tempo fechado e armando uma chuvinha e pretendendo torrar umas castanhas de caju amanhã; ai olhei para uma caixa de papelão e pensei que seria um bom iniciador do fogo.

Cortei “réguas” do papelão com cerca de 12cm de largura cada e efetuava 5 cortes de cada vez com cada um dos canivetes do teste, fazendo “palitos de papelão” de 0,5 a 1cm de largura cada.

Quando completados 25 cortes com cada canivete o fio era avaliado cortando papel fino, depois sendo observado sob uma magnificação de 20x e finalmente tentando rapar cabelo.

Os canivetes foram o Enlan EL-08, o Ganzo G-710 e para os amigos poderem ter um parâmetro usei o meu SAK Victorinox Solo.

Todos os canivetes estavam com meu fio padrão atual: desbaste de alívio de 5 graus de cada lado, seguido de um de 10 graus de cada lado e finalmente um micro-fio de 20 graus de cada lado.

Após os primeiros 25 cortes o SAK já apresentava vários pontinhos minúsculos refletindo luz e sentia-se ma aspereza e pequenos “trancos” ao cortar papel fino e rapava cabelo mascando. Os dois chineses nada de pontos reflexivos e continuavam cortando papel normalmente. Rapavam cabelo sem problemas.

Após 50 cortes o SAK apresenta grande quantidade de pequenos pontos e início de pequena linhas saltiadas reflexivos; a sensação ao cortar papel é de uma nano serra e a “aspereza” é acentuada. Não rapa mais cabelo. O Ganzo apresenta uns poucos pontos reflexivos e se percebe que não é tão suave mais ao cortar papel, mas ainda rapa cabelo. O Enlan apresenta 2 no máximo 3 pontinhos muito miúdos e corta papel de forma mais suave que o Ganzo. Rapa cabelo sem problemas.

Após 75 cortes o SAK apresenta já uma tênue mas contínua linha reflexiva toda cravejada de pontinhos reflexivos. Cortar papel a sensação é bem áspera e ele dá pequenas travadinhas. Não rapa cabelo. O Ganzo apresenta agora vários pontozinhos reflexivos e corta papel de forma mais áspera mas ainda rapa cabelo dando umas mascadas. O Enlan apresenta alguns pontinhos reflexivos e agora já demonstra uma aspereza maior ( porém inferior ao Ganzo ) ao cortar papel fino. Rapa cabelo mascando menos que o Ganzo.

Após 100 cortes o SAK mostra uma nítida linha reflexiva e bastante pontos bem reflexivos. Ao se cortar papel a sensação é de muita aspereza entretanto o corte é mais uniforme sem tantas travadinhas. Rapar cabelo nem pensar! O Ganzo começa apresentar linhas fininhas e saltiadas e sem aumento significativo nos pontinhos reflexivos. O corte do papel apesar de mais áspero que no início não apresenta travadas. Rapa cabelo com bastante dificuldade e falhando bem. O Enlan começa a apresentar uma linha ainda mais tênue que o Ganzo e sem aumento dos pontinhos reflexivos. A sensação é de aspereza ao cortar papel fino mas ele corre normalmente. Rapa um pouco de cabelo mas tem que

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forçar.

Então resolvi passar todos nas hastes cerâmica finas no ângulo de 20 graus de cada lado, passando 2 vezes de cada lado nas hastes.

Resultado? Todos bem assentadinhos??? Quem ficou mais “feroz” para rapar cabelo foi o SAK!!! Seguido do Enlan e por último o Ganzo.

A minha explicação para isso, e absolutamente não quer dizer que seja a verdade é:

O aço Krupp 1.4116 do SAK com 56 RC de dureza tem um grão pequeno o que lhe conferiria altíssima estabilidade de fio se sua dureza fosse mais alta, algo na casa dos 60/61 RC. Mas com apenas 56 RC as pequenas impurezas no papelão causam pequenos impactos no fio que provocam rolamentos pontuais e com o evoluir dos cortes o rolamento se generaliza. Há algum desgaste mas o mesmo se dá de forma bastante uniforme devido ao tamanho dos grãos. O principal fator de perda do fio é mesmo o rolamento.

O aço 9Cr13MoV do Enlan a 61 RC tem grãos e carbonetos menores que o 9Cr18MoV do Ganzo. Por isso seu fio resiste por bem mais tempo, mas quando começa haver despreendimeno de carbonetos de Cr da matriz e nano fraturas da própria matriz o fio se deteriora e não pode ser retornado de forma eficaz apenas usando uma “chaira lisa” que no caso seriam as hastes cerâmicas finas. Não dá para simplesmente “ voltar à posição inicial” a borda extrema do fio devido ao nível de danos sofridos com perda mais significativa de massa ( arrancamento de carbonetos e nano fraturas da própria matriz ).

No caso do Ganzo a explicação é a mesma do Enlan só que de forma bem mais dramática, já que seus grãos e carbonetos são maiores o que leva à maiores “buracos” por arrancamento e despreendimento de carbonetos assim como de fraturas da própria matriz. Por isso seu fio não pode ser reparado apenas passando em uma “chaira lisa” de cerâmica ( claro que algum desbaste a cerâmica provoca, mas apenas com duas passadas é irrisório e funciona mais como polidor/assentador do que para desgastar ). Um bom percentual de rolamento também com certeza ocorreu.

Só para deixar claro aos amigos, a característica “ estabilidade de fio” não é universalmente aceita. Ela foi cunhada por Veerhoeven ou Landes não me lembro agora e é um conceito em que um dado aço tende a perder de forma lenta, gradual e uniforme o fio, sem apresentar mudanças abruptas neste fio que impliquem em drástica alteração na habilidade de corte do mesmo e por isso mesmo pode ser mais facilmente restaurado. Mas lembrar que tal característica demanda alguns pré-requisitos como volume de médio à baixo de carbonetos, idealmente ausência de carbonetos primários e grãos do aço e dos próprios carbonetos de tamanho bastante reduzido e uma dureza mais alta, no mínimo acima de 59 RC.

Só lembrando que este teste não pode ser correlacionado diretamente ao outro teste de corte de papelão que fiz usando os canivetes da CIMO porque não é o mesmo papelão. A bem da verdade este é mais grosso e mais rígido que o do teste anterior.