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1 Introdução
O objetivo do presente trabalho é apresentar um modelo de simulação para
um compressor hermético alternativo operando em regime transiente.
Compressores herméticos consistem de um conjunto motor-compressor
hermeticamente selado numa carcaça de aço soldada (Dossat, 1986). Os principais
componentes são o motor elétrico, as muflas de sucção e as de descarga para
reduzir o ruído, a linha de descarga, o compressor alternativo, formado pelas
câmaras de sucção e de descarga, o pistão, o cilindro e o eixo (Anelli, 1995). A
principal vantagem do compressor hermético sobre o compressor (aberto)
convencional é a possibilidade de se reduzir a fuga de gás. Alguns fatores
importantes que credenciam o compressor hermético incluem: a relativa facilidade
de fabricação, a disponibilidade, o baixo custo, a operação silenciosa e o baixo
consumo de energia (ASHRAE, 1994).
Figura 1: Representação esquemática do compressor hermético.
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Gás, à pressão de sucção, é admitido na carcaça do compressor. Parte é
recirculado no interior da própria carcaça, removendo o calor do motor elétrico,
antes de ser admitido na mufla de sucção. A fração do gás recirculante depende,
logicamente, da geometria e características de escoamento de cada modelo do
compressor. O gás entra através da mufla de sucção até a bomba onde ocorre o
processo de compressão propriamente dito. O gás, à alta pressão, deixa a carcaça
do compressor pelas muflas de descarga e pela linha de descarga (serpentina).
Durante a operação de partida (ou de parada), o compressor hermético e
todos os equipamentos que compõem o sistema de refrigeração, são influenciados
pelas condições externas. Conseqüentemente as operações destes equipamentos
não podem ser analisadas como se ocorressem em regime estacionário (Hafner &
Gaspersic, 1990). Assim, o comportamento dinâmico do compressor durante a
etapa de partida ou parada deve ser estudada cuidadosamente enquanto na fase do
projeto (Erol et al., 1996). O desenvolvimento de ferramentas matemáticas para
prever este comportamento dinâmico economiza tempo e reduz um número
desnecessário de protótipos assim como custos.
Existem diferentes modelos de simulação para compressores herméticos,
que podem ser classificados como:
a) modelos empíricos que resultam de testes experimentais em calorímetros.
Dados obtidos nos testes são correlacionados de maneira a se poder construir
curvas que predizem o comportamento do compressor em diferentes condições.
São modelos simples porém aproximados; precisam de muitos testes e
normalmente são os fabricantes que apresentam estes ábacos, já que se exige
normalização (ARI, 1999).
b) modelos termodinâmicos semi-empíricos que utilizam a técnica de
volumes de controle onde se aplica a primeira lei da termodinâmica, e alguns
parâmetros são desconhecidos: a geometria e os coeficientes de transferência de
calor. Estes são obtidos mediante avaliação de dados em ensaios em calorímetros.
Domanski & Didion (1993) desenvolveram este tipo de modelo para o
funcionamento do compressor em regime permanente, Todescat et al.(1992) o
utilizaram para o estudo do transiente na bomba.
c) modelos fluido-termodinâmicos utilizam também a técnica de volumes de
controle e aplicam a primeira lei da termodinâmica, acrescidos do estudo do
escoamento, considerando-o unidimensional. Nestes modelos é necessário
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conhecer a geometria do compressor (Escanes, et al., 1994 e outros artigos do
mesmo grupo de trabalho da Universidade Politécnica da Catalunya).
Observa-se a partir da literatura existente que no estudo do transiente de
funcionamento de compressores herméticos substancial avanço foi alcançado
desde o trabalho pioneiro de Dhar (1978) que considerava o volume de controle
abrangendo o compressor na sua totalidade. Todescat et al.(1992), Cavallini et al.
(1998), Escanes et al.(1994) adotaram vários volumes de controle. E Pérez-
Segarra et al. (2002) incluíram a queda de pressão no modelo.
Os coeficientes de transferência de calor eram calculados a partir de dados
experimentais nos modelos semi-empíricos (Domanski & Didion, 1983) ou
medidos experimentalmente (Meyer & Thompson, 1988a). Atualmente os dois
procedimentos são adotados.
Diversas tentativas de modelagem do compressor hermético em regime
transiente apareceram na literatura. Winandy (1999) e Oliveira et al. (2002), por
exemplo, estudaram o transiente térmico do compressor considerando todas as
superfícies como se fossem uma única parede fictícia que representava toda sua
capacitância térmica. Braum (1999) desenvolveu um modelo semelhante no qual
toda a capacitância térmica do compressor estava concentrada na carcaça.
O grupo de pesquisa da Universidade de Catalunya (Escanes et al., 1994;
Rigola et al., 2002) vem desenvolvendo modelos para transientes térmicos
discriminando diferentes volumes de controle cujos coeficientes de transferência
de calor são calculados por tentativa e erro para estudos parâmetros chave tais
como eficiência volumétrica, coeficiente de desempenho (COP), etc.
Outro aspecto que ainda não foi modelado, e que no momento da partida do
compressor pode resultar num problema grave, é o da formação de espuma. A
literatura especializada sobre o fenômeno de formação de espuma pela
desabsorsão de gás refrigerante do líquido lubrificante devido à queda abrupta de
pressão é relativamente escassa (Goswani et al. 1998) e modelos para simulá-la
ainda não foram desenvolvidos.
Uma área que tem sido estudada experimentalmente por Srikanth & Doyle
(1988) mas de difícil modelagem é o escoamento desde a entrada do compressor
hermético até a entrada da mufla de sucção. Este escoamento pode ser estudado
mediante modelos multidimensionais, como por exemplo, sugerem Chikurde et al.
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(2002) onde o escoamento de todo o compressor (inclusive na descarga) é levado
em conta e considerado como incompressível.
O presente trabalho visa contribuir para o desenvolvimento de modelos de
simulação de compressores herméticos, ampliando o conhecimento em áreas
específicas pouco exploradas, e apresentando um modelo próprio para
compressores herméticos alternativos operando em regime transiente.
Neste sentido, o capítulo 2, descreve a análise experimental do fenômeno de
formação de espuma por queda abrupta de pressão. Resultados experimentais
considerando a forma como a espuma é produzida dentro do compressor
hermético são apresentados. Diferentes concentrações iniciais de gás refrigerante
em óleo lubrificante e diferentes quedas de pressão resultando na formação de
espuma foram monitoradas. Um modelo adaptado da literatura (desabsorção de
CO2, Jeelani, et al. 1990) foi utilizado para correlacionar os dados
experimentalmente obtidos.
No capítulo 3 apresenta-se o estudo do escoamento do gás refrigerante
desde sua passagem pelo duto de admissão até a entrada na mufla de sucção do
compressor com a ajuda de um pacote computacional (FLUENT). Com esta
análise pretende-se determinar a razão de recirculação de gás no interior da
carcaça e estimar os coeficientes de transferência de calor que serão utilizados no
modelo de simulação.
No capítulo 4, um modelo de simulação para compressores herméticos
operando em regime transiente é apresentado. O modelo visa estudar o transiente
térmico do compressor e é aplicado a todas as suas paredes metálicas. Considera-
se que o regime cíclico de funcionamento da bomba já tenha se completado
quando então se inicia o transiente térmico dos componentes do compressor
(Braun, 1999). E que o escoamento do gás refrigerante acompanhe o regime de
funcionamento da bomba. Divide-se, então, o compressor em volumes de
controle que coincidem com sua geometria e aplica-se a primeira lei da
termodinâmica a cada um deles. O modelo permite prever o funcionamento do
compressor hermético desde a partida até atingir o regime permanente de
operação.
Finalmente, no capítulo 5, conclusões e comentários finais, bem como
sugestões para trabalhos futuros, são sucintamente expostos.