TESE DO ESTÁGIO DE MESTRES DE EQUITAÇÃO 2007 · estando encurvado para a outra – importa...

11
TESE DO ESTÁGIO DE MESTRES DE EQUITAÇÃO 2007 Pelo SMor Cav Luís Pedro G. S. Machado

Transcript of TESE DO ESTÁGIO DE MESTRES DE EQUITAÇÃO 2007 · estando encurvado para a outra – importa...

TESE DO ESTÁGIO

DE MESTRES DE EQUITAÇÃO

2007

Pelo SMor Cav Luís Pedro G. S. Machado

lpm 2

O TRABALHO NO CIRCULO

TESE DO 1º ESTÁGIO

DE MESTRES DE EQUITAÇÃO – 2007

Pelo Sargento Mor

Luís Pedro G. S. Machado

lpm 3

O TRABALHO NO CIRCULO

INTRODUÇÃO

Tema cuja designação é bastante familiar aos cavaleiros e sugestivo até

para os que o não são, abrange uma multiplicidade de exercícios, com os

inerentes benefícios, que o tornam incontornável quando se trata do trabalho do

cavalo. No entanto se observarmos, quer nas provas de ensino, quer nos

picadeiros durante o trabalho diário, a pouca rectitude e aparente dificuldade na

execução dos círculos, passagens dos cantos, mudanças de direcção, ou dito de

outra forma, todos os exercícios que exigem o deslocamento do cavalo

encurvado, somos levados a concluir da pouca importância ou incorrecta prática

que merece.

A equitação pode ser definida, no sentido lato, como a arte de regular e

dirigir os movimentos e gestos do cavalo montado. Para atingir este fim é

necessário, por um lado estabelecer uma linguagem compreendida por ambos,

cavaleiro e cavalo, e por outro, desenvolver a capacidade física, destreza e

habilidade necessárias à execução dos exercícios ou movimentos desejados.

Se em equitação de lazer as solicitações não requerem senão uma

elementar capacidade de resposta e execução, já na competição de alto nível, por

exemplo, a resposta deve ser tão imediata quanto possível e a execução exige

uma capacidade física ao mais elevado grau.

Assim, para atingir o fim em vista, o equitador, deve seguir uma

sequência por etapas que respeite a integridade física e moral do cavalo.

lpm 4

OS PRINCIPIOS

Os PRINCÍPIOS – CALMO, PARA DIANTE, DIREITO e LIGEIRO

(General l’Hotte) – resumem e indicam de forma precisa o rumo e etapas a

perseguir. Hoje, a ESCALA de TREINO, preconizada pela Federação Equestre

Internacional – RITMO, FLEXIBILIDADE, CONTACTO, IMPULSÃO,

RECTITUDE e CONCENTRAÇÃO – mantém o rumo, estabelecendo novas

etapas mais de acordo com os vários graus das actuais provas de ensino.

O equitador dispõem assim de um rumo seguro e faseado, resta-lhe

escolher os meios para o seguir. Estes são muitos e diversificados, a sua escolha

deve ter em conta quer as características pessoais do cavaleiro, quer do cavalo.

O trabalho, agora proposto, é um meio para iniciar o rumo e que, creio,

satisfaz um leque alargado de cavaleiros e cavalos - É simples, não requer

profundos conhecimentos, não exige elevado grau de tacto equestre, é fácil

dosear o grau das exigências e estabelece, desde o início, uma linguagem

perfeitamente clara e simples mas, simultaneamente, completa.

«Não existe outro processo para obter e desenvolver a flexibilidade lateral

da linha de cima, que comanda a sua flexibilidade no sentido vertical, que o

trabalho de encurvação sobre o circulo, …» (General Decarpentery).

As dificuldades apresentadas pelo cavalo no ajustamento da sua

encurvação às linhas curvas estão directamente relacionadas com a sua

assimetria natural. Assim, para o lado côncavo, tem tendência a adoptar uma

encurvação maior do que a figura exige e para o lado convexo dificilmente

atinge o grau de encurvação desejado.

lpm 5

O trabalho descrevendo círculos ou arcos de círculo, tendencialmente

diminuindo o diâmetro para o lado convexo, favorecem a capacidade de

encurtamento intercostal desse mesmo lado e, simultaneamente, o alongamento

do lado oposto.

Para o lado côncavo devemos executar as figuras tendencialmente

aumentando o diâmetro e a amplitude do andamento explorando a tendência

para “endireitar” associada aos andamentos mais amplos. Este trabalho tem

ainda a vantagem de exercitar a flexibilidade e a capacidade de distensão dos

posteriores cuja predisposição para flectir ou distender está directamente

relacionada com a concavidade ou convexidade da linha de cima.

Para inscrever o cavalo sobre círculo podem ser utilizados, em teoria, dois

processos (General Decarpentery):

1º - Manter o meio do cavalo sobre o circulo e trazer a cabeça e garupa

para o circulo, de fora para dentro.

2º - Manter a cabeça e garupa no circulo e empurrar o meio para o

circulo, de dentro para fora.

Assim, no primeiro processo e estando a circular para mão direita:

- A rédea direita, com acção de abertura, desloca a cabeça para a

direita e para o círculo.

lpm 6

- A perna direita assegura o movimento para diante, actuando de trás

para diante convida à encurvação e impede que o meio do cavalo

descaia deslocando-se para dentro do círculo.

- A rédea esquerda suporta a acção da rédea direita regulando a

encurvação do pescoço e com efeito de apoio lança as espáduas para

dentro e para sobre o circulo.

- A perna esquerda, de posição, empurra a garupa para a direita e

para sobre o círculo.

No segundo processo o quadro de ajudas é semelhante, no entanto a

perna direita torna-se bastante mais activa para empurrar o meio do cavalo para

fora. A rédea esquerda continua como suporte da rédea direita e a indicar o

caminho à espádua exterior mas agora, mais a permitir do que limitar a

encurvação. A perna esquerda, mantendo o efeito de posição, actua

principalmente como barreira ao deslocamento da garupa para fora do círculo.

O quadro de ajudas não deve sofrer alterações, no entanto a intensidade varia de

acordo com a natureza e força das resistências que o cavalo opõem à

encurvação.

A rédea de abertura deve actuar mais baixa do que alta para que a sua

acção se produza no pescoço e não na ganacha. A rédea reguladora, exterior,

deve actuar mais baixa ou mais alta, nunca cruzando o bordo crinal, para limitar

ou facilitar a encurvação. Convém ainda notar que o efeito “envolvente” da

rédea exterior diminui à medida que esta sobe.

O cavaleiro deve manter o tronco na vertical com a linha dos ombros e a

das ancas paralelas, respectivamente, à das espáduas e à das ancas do cavalo.

lpm 7

O assento deve manter-se activo, convidando ao movimento e

“marcando” o ritmo do andamento, fazer incidir o peso do corpo sobre o lado de

dentro recaindo sobre o estribo interno, consequência do afundamento da coxa

e nunca por inclinação do busto. Este está frequentemente associado ao afundar

da coxa exterior por deficiente execução da perna de posição, quando a acção

parte do joelho.

A escolha entre o primeiro e o segundo processo recairá sobre aquele a

que o cavalo responda melhor, no entanto, nos cavalos “quentes”, cuja

velocidade é por vezes difícil de regular, o primeiro processo afigura-se mais

adequado por a intensidade das ajudas incidir no deslocamento lateral dos

extremos, esta acção tende a cortar movimento contribuindo assim para a

regulação da velocidade. Para os outros, em especial para aqueles que

manifestam pouca vontade de andar, a escolha deverá recair no segundo

processo por ser a perna interior, a que determina o movimento, a mais activa,

e, por isso, ao mesmo tempo que empurra o meio do cavalo para fora está a

exigir o movimento.

A perna de fora por ter um efeito de posição menos activo pode, actuando

um pouco menos recuada, contribuir também como reforço da acção impulsiva

da sua congénere.

A EXECUÇÃO

Tomando por base o trote, o trabalho deve incidir essencialmente nos

círculos largos com frequentes “endireitar” sobre linhas direitas, mudando ou

não de mão. Progressivamente, à medida que a execução dos círculos e, em

especial as mudanças de encurvação associadas às mudanças de mão e de

círculo, se tornam fáceis, é altura de começar a variar o diâmetro destes sempre

ligando o apertar com o encurtar do andamento e o alargar com o alongar.

lpm 8

Pode ser útil associar ao apertar do círculo o trote sentado e ao alargar o

trote levantado sobre a diagonal de fora. Esta associação predispõem a

concentrar ao apertar e a alongar para alargar o círculo.

Durante esta fase inicial, é essencial procurar manter o cavalo direito

quer nas linhas direitas quer nas linhas curvas procurando fazer com que o

movimento e impulsão obriguem as ancas a seguir a pista das espáduas na

direcção determinada pelas rédeas.

O trabalho, até agora, descrito vai permitir o controle da encurvação

indispensável para começar a passar correctamente os cantos do picadeiro,

inicialmente deve ser encarado como um exercício específico, devendo ser

abordado gradualmente, como um exercício novo, com o evoluir do trabalho a

passagem correcta dos cantos deverá passar a fazer parte da forma normal de

andar no picadeiro.

A passagem dos cantos requer alguns cuidados por o cavalo,

tendencialmente, inverter a encurvação, sobrecarregando a espádua interior

para aliviar o esforço do posterior interno. Dado tratar-se apenas de um quarto

de círculo, o cavaleiro dispõe de poucos passos para definir e dosear o quadro e

intensidade das ajudas adequadas, as mesmas do círculo, só que neste dispõem

de muito tempo, até por puder continuar a circular e não existir o factor

psicológico da “teia a pela frente”.

A evolução do trabalho, nesta altura, já permitirá começar a descrever

arcos de círculo e posteriormente círculos completos, em contra encurvação.

Estes são fundamentais para completar a ginástica e “afinar” a sujeição às

ajudas nesta fase, elementar, que antecede o inicio dos trabalhos laterais.

Devido à especificidade deste exercício – o cavalo circula para uma mão

estando encurvado para a outra – importa lembrar a importância de manter o

peso do lado da encurvação com o busto bem dirigido para a pista que o cavalo

percorre evitando a tendência para atrasar o ombro exterior ao circulo.

lpm 9

A rédea interior “de apoio” pede a encurvação – apoios sucessivos

coordenados com o avanço da espádua – actua, reforçando a acção da perna de

encurvação, sempre adiante do garrote, não devendo em caso algum cruzar o

bordo crinal.

O trabalho até agora descrito deve também ser executado a galope, no

entanto as mudanças de mão só devem ser abordadas mais tarde, depois de o

cavalo aprender a passar de mão.

Durante toda a sessão de trabalho o cavaleiro deve estar atento aos sinais

de fadiga, em especial no galope, na qual residem grande parte das resistências

e manifestações de má vontade por parte do cavalo.

CONCLUSÃO

Do trabalho agora exposto, resulta uma sequência ginástica que contribui

para endireitar o cavalo num primeiro grau, igualizando a capacidade de flexão

e distensão de ambos os lados do cavalo.

Desenvolve e favorece a sobrecarga, com a consequente flexão, do

posterior interno permitindo aligeirar a espádua do mesmo lado.

Desenvolve a amplitude do bípede lateral externo, obrigado a percorrer a

pista exterior e por isso mais longa.

lpm 10

O Quadro de Ajudas

- A rédea interior que indica e pede a direcção e encurvação do pescoço.

- A perna interior “à cilha” que determina o movimento, encurva o meio

do corpo do cavalo “empurrando-o” para a espádua de fora.

- A rédea exterior suporta a acção da interior regulando a encurvação do

pescoço.

Dirige as espáduas na direcção desejada.

Pelo efeito envolvente que exerce sobre todo o lado de fora do cavalo

pode actuar sobre toda a massa para regular a velocidade e, mais tarde, o

equilíbrio.

- A perna exterior “atrás da cilha” mantém a posição do pós-mão,

impedindo a perca de encurvação deste.

Contribui para reforçar a acção impulsiva da perna interior.

Deste quadro de ajudas resultam as seguintes vantagem:

- Fácil de executar pelo cavaleiro não exigindo um longo período de

aprendizagem.

- Fácil de entender pelo cavalo por permitir um posicionamento bem

definido da acção de cada uma das pernas e das mãos.

- Permite abordar os trabalhos laterais, que se seguem numa sequência

lógica e evolutiva da ginástica do cavalo, variando apenas a intensidade –

maior ou menor acção – de cada uma das pernas e mãos.

- Não se esgota nas figuras simples de picadeiro pois pode ser combinado

e executado, com vantagem, com os trabalhos laterais quer na linha

direita, quer no círculo.

lpm 11

BIBLIOGRAFIA

CAVENDISH, William – méthode et Invention Nouvelle de Dresser les Chevaux

CHAMBRY, Pierre - Equitation

DECARPENTERY – Equitation Académique

DE LA GUÉRINIÈRE – Ecole de Cavalerie

L’HOTTE, Alexis – Questions Equestres

D. A. C. – Manual de Equitação

PODHAJSKY, Alois – L’Equitation

KLIMKE, Reiner – Dressage

STEINBRECHT, Gustav – Le Gymnase du Cheval