TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf ·...

96
qwertyuiopasdfghjklzxcv bnmqwertyuiopasdfghjkl zxcvbnmqwertyuiopasdfg hjklzxcvbnmqwertyuiopa sdfghjklzxcvbnmqwertyui opasdfghjklzxcvbnmqwer tyuiopasdfghjklzxcvbnmq wertyuiopasdfghjklzxcvb nmqwertyuiopasdfghjklzx cvbnmqwertyuiopasdfghj klzxcvbnmqwertyuiopasd fghjklzxcvbnmqwertyuiop asdfghjklzxcvbnmqwerty TERRÀVISTA NIVALDO RIBEIRO 2011 A HISTÓRIA DO BRASIL E OUTRAS HISTÓRIAS

Transcript of TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf ·...

Page 1: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

qwertyuiopasdfghjklzxcvbnmqwertyuiopasdfghjklzxcvbnmqwertyuiopasdfghjklzxcvbnmqwertyuiopasdfghjklzxcvbnmqwertyuiopasdfghjklzxcvbnmqwertyuiopasdfghjklzxcvbnmqwertyuiopasdfghjklzxcvbnmqwertyuiopasdfghjklzxcvbnmqwertyuiopasdfghjklzxcvbnmqwertyuiopasdfghjklzxcvbnmqwertyuiopasdfghjklzxcvbnmqwerty

TERRÀVISTA

NIVALDO RIBEIRO

2011

A HISTÓRIA DO BRASIL E OUTRAS HISTÓRIAS

Page 2: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

2

NIVALDO RIBEIRO

A AGÊNCIA BRASILEIRA

1ª. edição

São Paulo Edição do Autor

2011

Page 3: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

3

TERRÀVISTA Terràvista reescreve a história do Brasil por meio da poesia, desde o seu achamento até a atualidade. Fala também de amor e outros ingredientes... Escrito numa linguagem simples e descontraída, certamente agradará aos leitores com assuntos pertinentes ao gosto de todos os amantes da boa literatura nacional.

Nivaldo Ribeiro 2011

Page 4: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

4

ÍNDICE I – TERRÀVISTA 08 – Os Lusíadas 09 – Aldeia Brasil 10 – A Carta de Caminha 13 – A Colonização 17 – A República 19 – Senzala e Capoeira 22 – Os Bandeirantes 23 – São Paulo de Piratininga 27 – Observatório 28 – O Barulho das Coisas 31 – Sensibilidade 33 – Canção da Minha Terra 34 – Autofagia 35 – Os Sertanejos 37 – Caboclinha 39 – Manuela 40 – Nossos Sabores 41 – Fala Brasileira 42 – Cidade Maravilhosa 43 – Baianidade 44 – Os Idealistas

Page 5: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

5

II – PALAVRAS SOLTAS 46 – Verbo Comer 47 – Os Mundos 49 – A Idade da Pedra 50 – O Pêndulo da Matriz 51 – Palavras Soltas 53 – O Quadro 54 – Fruto Dourado 55 – O Grãozinho de Areia 56 – Poemia 57 – Absorção 58 – Sob o Luar III – NO ESPELHO 60 – Nobres Sonhos 61 – A Arte de Ser Feliz 62 – Da Costela do Poeta 63 – O Poema que Não Escrevi 64 – Quem foi Carlos de Itabira 65 – Tudo é Possível 67 – Náuseas 69 – Os Excluídos 71 – Domingo 73 – O Vendedor de Sonhos 74 – E Agora? 75 – O Moinho o Tempo 76 – O Vaso da Solidão 78 – Mar Adentro 79 – No Espelho

Page 6: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

6

80 – Aventura IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos os Sonhos 86 – Deste Amor que Sonhei 88 – Nas Estrelas 89 – Romantismo 90 – A Dança 91 – O Jantar 92 – Delírios 93 – A Carta 94 – Despedida 95 – A Viagem 96 – virgem aos 40

Page 7: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

7

PARTE I - TERRÀVISTA

Page 8: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

8

OS LUSÍADAS

Camões Vasco da Gama Pedro Álvares Cabral Fernando Pessoa Manuel, Maria Bacalhau e padaria

Page 9: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

9

ALDEIA BRASIL

O Brasil já era Brasil sem nome onde abundavam índios e verde.

Haviam tantos e tantos índios no mato virgem embrenhados com pernas, arcos e raízes...

De Deus desconhecidos tais homens esquecidos eram pardos, nus e sem vergonha. Depois chegaram as caravelas com brancos e negros e os italianos fugidos da guerra. Brasil sempre Brasil arlequinal e próprio!

Page 10: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

10

A CARTA DE CAMINHA

MANUELINAS Certo dia, Dom Manuel acordou inconsolável... - Chamem o Cabral! Foram para a Torre de Belém.

PARTIDA DE BELÉM Segunda-feira. Cabral ansioso, acena do Tejo, para El-Rei Dom Manuel, o venturoso.

MAR PORTUGUÊS Cabral vinha na marinhagem d'uma nau novíssima importada da Inglaterra.

Cabral suava singrando os mares dantes navegados por Vasco da Gama. Lançando-se ao mar de longo rumavam à Índia buscar pimenta e noz moscada.

Page 11: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

11

Às oitavas de Páscoa a viagem deu para o torto. Sem tempo forte nem contrário Vasco de Ataíde se perdeu... - Adeus!

TERRÀVISTA Houvemos vista de terra: Uma ilha saída do mar longe onde o sol se levanta cedo. Topamos grande quantidade de ervas compridas rabos de asno e aves fura-buxos. AS VÊNIAS Cabral nervoso, passeia pela proa: - Onde estamos Caminha? - Acho que são índios senhor! - Então façamos as vênias. OS SILVÍCOLAS

Trazendo arcos nas mãos subiram todos ao barco e rijamente ficaram ali com cara de fome.

Page 12: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

12

BUSINESS Cabral e seus homens assentados numa alcatifa por estrado acesas as tochas, negociavam...

O índio esperto, fazia oferta pelo colar de ouro do capitão-mor. Cabral pedia as terras do sul e as árvores de Pau-Brasil.

Cabral mostrou fogo ofereceu galinha, espelho e só conseguiu em troca um monte alto e redondo o qual chamou: Monte Pascoal.

O TRATADO

Numa luta renhida o índio vencido passou a ser chamado ‘cidadão’ da Terra de Vera Cruz. Assim nasceu o primeiro entreposto Brasil-Portugal.

(No ano de 1.500 de Nosso Senhor.)

Page 13: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

13

A COLONIZAÇÃO PRIMEIRO FADO Céu aberto sol dourado árvores por cima do chão rios correndo o cerrado toquemos o fado então.

CERTÃO DO PÁO BRASIL

Da nova e Real Fazenda os escambos carregavam às caravelas do velho mundo toneladas de valiosa madeira em troca de bugigangas.

ASSENTAMENTO

Na aldeia Tupinambá o Caramuru Diogo Álvares se apaixonou pela índia Catarina Paraguaçu e saíram fazendo mamelucos...

OS DONATÁRIOS

Os donatários reais das Capitanias Hereditárias se tornaram

Page 14: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

14

os primeiros latifundiários do Governo-Geral do Brasil.

GOVERNO GERAL Chegou Tomé de Souza pela Ponta do Padrão para fundar São Salvador capital do dendê da capoeira e do samba de roda. Havia outra Bahia no grande Rio de Janeiro; Bahia de Guanabara das águas profundas e lindas. Estácio de Sá, chamou-lhe então, São Sebastião.

A CONJURAÇÃO

Liberdade ainda que tardia!

Tiradentes, reunia-se em Vila Rica para não pagar a derrama; ele desejava um país livre mas, não Joaquim Silvério dos Reis. O REINO NO RIO Com Napoleão batendo

Page 15: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

15

na porta da frente, D. João fugiu pela frente dos fundos. No palácio da família Real do Reino Unido do Brasil Algarves e Portugal; D. João mandou plantar um horto de palmeiras reais e descansou na sombra grande. IN-DEPENDÊNCIA Despedida de D. João VI - Adeus minha Real Fazenda meus cavalos, meus vassalos minhas concubinas, adeus! Chegada do carteiro real: - Blá-blá-blá... Dom Pedro: Fico! Dom Pedro viajava em sua mula vagarosa. Às margens plácidas do Ipiranga, outra carta: - Blá-blá-blá... Dom Pedro reage: - Independência ou morte! Depois da raiva Dom Pedro I emprestou

Page 16: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

16

dois milhões de libras da Inglaterra. Nossa primeira dívida externa!

Page 17: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

17

A REPÚBLICA MAIORIDADE Com o golpe da maioridade D. Pedro ascendeu ao trono aos 15. Plantou café construiu ferrovias fez guerra no Paraguai. ALVÍSSARAS DE 1888 Era 13 de maio... Na ausência de Pedro II a princesa Isabel sancionou a Lei Áurea. EXÍLIO Ao perceber a república na porta do império Pedro de Alcântara partiu com a família para a Europa. 15 DE NOVEMBRO DE 1889

O Marechal Deodoro reuniu a elite oligárquica e proclamou a república dos Estados Unidos do Brasil.

Page 18: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

18

A REPÚBLICA A república tinha bigodes curvos voz de cardeal donzelas de ferro e latifúndios no quintal. DEMOCRACIA Mortos os Czares depostos os militares nasce a democracia brasileira. Entretanto, ansioso estou entre a multidão enlouquecida gritando: diretas já!!! OS OPERÁRIOS

Com o voto da maioria e o peito rasgado de esperança o povo sobe ao poder e se lambuza sem qualquer vergonha.

Page 19: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

19

SENZALA E CAPOEIRA

OS EXILADOS Através dos mares bravios tremulavam as bandeiras dos bárbaros navios. Aprisionados lá dentro viajavam legiões de escravos famintos e sedentos. Como cama, tinham o assoalho do convés escuro, em lugar das esteiras macias de caniço. Para as chagas das correntes frias, o sal das águas do oceano imenso.

OS PREGÕES Nos mercados escravagistas desconfiados os barões olhavam as canelas e os dentes da "mercadoria" subjugada.

AS SENZALAS Em choupanas de barro com telhados de sapé, apinhados viviam lá dentro

Page 20: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

20

dezenas de magros escravos; em volta do fogo no escuro da noite cantavam e dançavam a capoeira. CASA GRANDE Os malungos de estimação e as mães-pretas eram as mãos e os pés dos senhores de engenho.

SONHO DE LIBERDADE Muitos, fugindo, encontravam a morte nas armas dos capitães-do-mato outros, doentes, caíam febris; mas, os valentes guerreiros vencendo o cansaço, corriam ligeiro para escapar do tronco e do laço.

PELOURINHO Nos troncos prostrados os olhos fitos no céu os pés nus e inchados as mãos presas às argolas e os dedos sem circulação; homens retalhados cobertos de sangue sentiam a dor cruel

Page 21: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

21

do chicote e do ferrão dos terríveis feitores.

ZUMBI Zumbi fugido cedo desceu saudar o mar depois subiu a serra juntou gente juntou gente e construiu Palmares. PALMARES No quilombo dos Palmares resistência de Zumbi milhares chegavam famintos sem alforria para conquistar a liberdade com pólvora e espada. MARTÍRIO Em troca da liberdade de milhares de irmãos Zumbi enfrentou Domingos Jorge Velho armado de fuzil e canhão.

Page 22: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

22

OS BANDEIRANTES Os pioneiros foram subindo tateando a serra, volteando o sol e acharam um céu de cristal. Eram sertanistas que saíam ao interior com bandeiras em busca de pedras preciosas em busca de índios ossudos e das índias morenas também. Eles eram todo possível de cedo morrerem tísicos e peste branca; mas achado o caminho chegavam ao topo e marcavam o território. Eles conquistaram os sertões navegaram os rios maiores plantaram vilas e cidades colheram ouro e esmeraldas e transformaram-se em rodovias.

Page 23: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

23

SÃO PAULO DE PIRATININGA A ORIGEM DE SÃO PAULO Por cima do lago claro rodeado de mato-verde estava a lua cheia embaixo do céu azul. Na diversidade existia ba-o-bá, bem te vi tuiuiú, ipê azul palmeiras, pedras vivas a serra do mar um índio velho o Tietê e o Tamanduateí. A garoa era lenta sobre o planalto extenso e as raízes de nossos primeiros habitantes surgiram no planalto de Piratininga. VILA DE SÃO PAULO Nasceu a Vila de São Paulo das nuvens e das enchentes e apesar das incoerências ela cresceu vertical equilibrando-se nos rios.

Page 24: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

24

TUPI OR NOT TUPI Ibirapuera era oca de guardar escravos de guardar monumento aos bandeirantes de pedra. Vale do Anhangabaú rio das assombrações das leniências gordas das mazelas nas urnas das estrelas caídas ao chão. PROGRESSO DE SÃO PAULO Era como Paris brasileira o teatro municipal a faculdade de direito o Vale do Anhangabaú Barão de Itapetininga os Campos Elísios Estação da Luz Brás e Bom Retiro OS IMIGRANTES Os imigrantes que chegavam na Luz iam para a Hospedaria dos Imigrantes; os japoneses Kasato Maru Santos, 18 de Junho de 1908.

Page 25: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

25

MODERNISMO No tempo dos bondinhos, usava-se chapéu dobrado na aba para os homens de terno e as mulheres bem alinhadas, usavam luvas: no largo da Universidade São Francisco nos bares de Mário e Oswald de Andrade na semana moderna de artes de Tarsila. INTRANSITÓRIO Já não há postes da Light nem Mappim nem Adoniram nem Trem das Onze só restaram as Malocas. AS INDÚSTRIAS No Tietê nem se pode pescar: em seu leito não há peixes nem barqueiros navegando. Capivaras passeiam alheias embaixo dum emaranhado de fios. TEATRO MUNICIPAL Ramos de Azevedo escapou ao abandono 74 cortinas trocadas 487 portas restauradas

Page 26: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

26

2,5 mil maçanetas e ferragens 1.595 assentos vermelhos originais e vitrais tantos, dizia o jornal. SAÚDE PÚBLICA O moço de jaleco branco disse que já não atendiam o SUS porque numa enfermaria de 11 se encontravam 30 pacientes. PAULICÉIA Na avenida paulista antenas de tv piscam no alto dos edifícios. Embaixo do viaduto do chá passa um rio de carros novos e velhos. O executivo apressado fala no celular com a secretária. Os ambulantes gritam ordens capitalistas. Até os mendigos com olhares de piedade, pedem! Enquanto escrevo... um helicóptero pousa num edifício qualquer.

Page 27: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

27

OBSERVATÓRIO S´enlonga a cidade presa aos edifícios paralisados. Os cruzamentos, entre buzinas e luzes vermelhas, impõem limites que não desejamos. Passos... um olhar noutro olhar, esbarrões, Barão de Itapetininga, Rua Direita; tudo acontece num momento dentro do tempo. Cada manhã realiza-se noutra e as noites são infinitas na consolação. As manhãs se findam, as tardes ainda permanecem até a noite e embora São Paulo não durma, as pessoas vão para casa (algumas) e Sampa ressurge mais forte sobre o descaso e a sorte. Tudo acontece num lapso e dura eternamente, só o observador do tempo que vigia veladamente no portal, resiste ao óbvio. Piratininga é o sonho que desce a Ladeira Porto Geral com buzinas alarmantes, com lâmpadas de mercúrio agarradas aos cabos elétricos. Piratininga protesta sem voz, para os ouvidos dos surdos e dos novos acendedores de lampiões de gás. Seus defeitos e virtudes se sublimam, vazando pelos nervos e pelos olhos da cidade em doses de sabão e visgos tóxicos até as barrigas do Tietê. Somente o observador do portal da Sé, pode resumir suas dores e suas intransigências ao longo de suas avenidas. Mas, calado está o homem no elevador e o outro novo dia que chega é o mesmo de ontem.

Page 28: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

28

O BARULHO DAS COISAS "As coisas e o barulho que elas fazem... CANTO I Ao raiar do sol revela-se o paraíso iluminado, ameno sensível, moreno. No jardim florido: Suave, a gota d'orvalho cai da fina folha de orquídea; o zumbido insistente das abelhas beijando o néctar dos lírios; o colorido das tulipas e a fragrância da dama da noite; os lilases, o cravo e a rosa... - Quando, um espinho toca a mão pequena da menina. Ao fundo, no pomar: O sabiá come papaia; o fruto verde da palmeira agitado pelo vento, não cai; o esquilo, ligeiro... salta do galho de ingá. - Que delicia...! as manhãs frias da doce Maringá.

Page 29: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

29

CANTO II A folha seca despenca na água límpida do rio; os peixes assustados, borbulham com o movimento do feroz jacaré. A cobra d'água, parece flutuar entre as vitórias-régias; o cisne que voa rasante alheio, toca a água com os pés; a garça, deixa cair suavemente uma pena branca no aguapé. Na areia, parte-se o ninho libertando para a vida dezenas de tartaruguinhas. CANTO III Revoa o jacu na mata foge da cobra-verde o rouxinol. Ao balanço da embaúba gorgeia bem alto o sabiá. A onça pintada, preguiçosa adormece à sombra do timburi; enquanto o mico-estrela sobe, agarrado ao cipó d'água. Na savana, o leão ruge feroz;

Page 30: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

30

foge a gazela, o albatroz... O imóvel elefante enrola a tromba no marfim. Tigres, girafas, zebras... - Como é bela a natureza! CANTO IV Quando o sol se perde O vento se esconde O caipira guarda a viola O mundo sonha em azul... Dependurados nas árvores os pássaros adormecem: Na casinha, o João de barro; no tronco seco, o pica-pau outros, entre folhas e ramos. O beija-flor, na leveza do ninho de algodão e os mais rústicos, até mesmo em um buraco no chão. ...Um barulho quase imperceptível toca o silêncio das coisas."

Page 31: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

31

SENSIBILIDADE O DESPERTAR DA AURORA O céu abre suas camadas sobre o vale coberto de neblina; surge um sol sorridente refletindo raios multicores nas águas do ribeiro que corre mansamente entre taboais e aguapés. A LEVEZA DOS SONS Voa o pássaro, na leveza da brisa que agita os galhos da palmeira; salta a gazela, entre as montanhas cravejadas de rochas e pinheirais. ...o estalar dos sapatos nas calçadas o barulho dos carros a se cruzarem o avião que corta o céu azul... Soam como música aos ouvidos como notas de uma sinfonia melodicamente perfeita do maestro que a rege e conduz. CONTRASTES INSUSTENTÁVEIS De repente, lá fora, rompe-se

Page 32: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

32

a ordem natural das coisas: Passa um caminhão de madeira... alheia, cai uma fagulha da janela; o fogo passeia veloz sobre a relva e a fumaça da queimada se espalha. Como me comove a poesia...! Estou comovido com a beleza com a pureza com a desumanidade.

Page 33: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

33

CANÇÃO DA MINHA TERRA Minha terra tem Palmeiras onde canta o sabiá laranjeira. Meu Brasil brasileiro terra de samba e pandeiro. Nosso céu é mais azul nosso mar é mais salgado nossas árvores são mais verdes em nossas vidas há mais amores. De tão azul nosso céu é doce de tão azul nosso mar é verde de tão verde nossa selva é azul lá de cima se vê: azul-azul. Minha terra tem mais verde minha terra tem mais ouro minha terra tem mais vida minha terra tem mais amores.

Page 34: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

34

AUTOFAGIA A águia que voa além tem olhos como ninguém; vê lá do alto as palmeiras com cocos grande e felpudos. Nessa terra de ouro negro incrustado fundo no chão; necessário, o lambari passeia no azul que corre n´amplidão. Tem ferro aos montes e Vale e tudo, bem no meio do caminho. Nessa terra de laranjais polpudos onde ninguém come sozinho...!

Page 35: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

35

OS SERTANEJOS Quando brilha o sol laranja sobre o orvalho da manhã chuvas mornas de verão cobrem a terra com seus grãos. Sinto o cheiro de mato cheiro de poeira molhada das estradas do sertão! Começa o dia pantaneiro: O matuto amola a enxada e o índio acorda distante.

Do outro lado do país o gaúcho faz chimarrão o vaqueiro toca o berrante e o carro de boi corta o chão. Sinto o cheiro de mato cheiro de terra vermelha das estradas do sertão! Suor debaixo do chapéu numa pele morena de sol mãos calejadas de dar dó. Gente valente e nobre ganhando mínimo salário;

Page 36: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

36

semeando de sol a sol suor, sangue e lágrimas.

Page 37: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

37

CABOCLINHA Livre pelos campos e serras como linda e graciosa gazela caminha uma caboclinha donzela com um feixe de flores na mão. Como és meiga, como és bela colhendo flores pelo chão... Te admiram até os passarinhos pequena flor do sertão! Como és linda caboclinha! Tens nos lábios mel de laranjeira nos olhos, a cor negra da noite e nos cabelos, um ramo de palmeira. Quando chega a tardezinha desce à fonte a linda moreninha de moringa na mão; segura numa raiz do barranco e desce por entre as avencas até a foz do ribeirão. Enche seu cântaro de água e vem jorrando pelo caminho. Quando chega em casa com o cântaro na mão apesar de todo o cuidado já molhou todo o vestidinho...

Page 38: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

38

Depois do banho perfumado ela coloca um vestido bordado e vem no alpendre ficar; distraída, não vê que da lua entrando pela janela um raio, beija-lhe a mão.

Page 39: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

39

MANUELA Descendo as escadas do pelourinho de pedra vinha Manuela com o tabuleiro vendendo acarajé. Manuela bela crescia água na boca dos seus admiradores. Se desafiada entrava na roda na roda de samba na roda de capoeira. Quando Manuela ia embora bem de tardezinha levava consigo todo o sol da Bahia.

Page 40: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

40

BRASIL NO PRATO

Ha! Nossos sabores: Que cheirinho de jabuticaba o fino sabor do guaraná e o doce licor do maracujá. Nosso assai selvagem e o creme de cupuaçu; gabiroba, pitanga, acerola goiaba, umbu e graviola. Queijo de minas, doce de leite feijoada, cuscuz com café; churrasco de picanha na brasa tucunaré à moda da casa. Sejam bem-vindos ao melhor sabor do mundo: comam, bebam e alegrem-se e joguem o lixo no lixo!

Page 41: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

41

FALA BRASILEIRA Sou nascido de cá vindo do outro lado, de lá. Estando aqui notariado não tenho outro jeito di falá. Se fui aqui chegado se ainda falo errado dizem que nasci caipira.

Se como as letras se cuspo as palavras se me engasgo com o r... Se por fim termino comendo a palavra inteira dizem que sou antropofágico. Não imito nem incorporo apenas degluto a carne o sangue das palavras novas: Uai, meu, báaa, ôchi, ói... - a fala brasileira.

Page 42: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

42

CIDADE MARAVILHOSA Terra do sol terra da luz terra do sal terra do céu azul terra dos campos risonhos terra dos grandes sonhos. Terra de praia e Flamengo terra da garota de Ipanema terra do Maracanã em festa terra de samba na Mangueira. Rio de Janeiro Copacabana... Meus olhos encantados do alto do pão de açúcar te vêem, cidade maravilhosa.

Page 43: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

43

BAIANIDADE Bahia minha Bahia Bahia de todos os dias Bahia de todas as cores Bahia de São Salvador Bahia dos meus amores...

Page 44: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

44

OS IDEALISTAS

José Bonifácio não era fácil nem Nabuco Rui águia Barbosa de Haia Castro era boêmio Alves Machado gênio de Assis.

Page 45: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

45

PARTE II - PALAVRAS SOLTAS

Page 46: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

46

VERBO COMER Come comigo amigo! Como? Come comigo amigo? Como!

Page 47: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

47

OS MUNDOS Antes da ordem era o caos e os planetas pendurados no teto.

O espaço era o cemitério das estrelas e o berço dos novos mundos. Depois Deus ordenou as órbitas celestes em seus estados e posições. O sol permanece estático ao redor nossos olhos e dedos apontam o azul infinito. Olhando pela janela da terra está a lua do lado de fora por dentro do lado de fora dum mundo pintado em folha de papel amassado. Orleado por colinas cobertas de nuvens está um mar esquálido e um céu cheio de contrastes onde voam gaivotas brancas. Novos mundos criam-se

Page 48: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

48

e se expandem ao nosso lado. Nós criamos mundos e gentes por todos os lados... Tenho dentro e fora de mim um mundo inteiro... um mar de cidades casas, sol e estrelas.

Page 49: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

49

A IDADE DA PEDRA Hemos rompido rhudes e poentos o milênio.

Alheios... Mapas se abraçam avisto cálices evola-se o sol o sol do norte mar. Homem universo lógico. Pedro pedra ecológica pedra fogo terra água essência da vida. Sem chuva, sem água as folhas caem e a vida acaba na esquina espécies extintas. E como antes serão: O mesmo homem e a mesma pedra sobre a terra!

Page 50: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

50

O PÊNDULO DA MATRIZ

Na matriz, ventos noturnos bólidos passam à porta.

Me espanta o pêndulo oscilante da matriz: Tique-taque tique-taque...

Meu coração imita o pêndulo: Vida vai, vida vem vida vem, vida vai...

Impassível penso: Horas passam dias passam e nada os afectam.

Vai o pêndulo do coração marcando as horas da vida: Tic-tac tic-tac...

Repetem-se os dias: Estou lá estou aqui estamos juntos!

Page 51: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

51

PALAVRAS SOLTAS Sob o céu aberto brilha um novo sol tão belo tão puro tão claro. Lá em cima a vida segue normalmente: O aroma de flores silvestres flutua no azul celeste. Borboletas de ouro voam felizes no céu dos pássaros. Ao passar das vagas despencam lágrimas de prata sobre os novos amores. Cá embaixo, deitado no jardim cochilo novamente... No galho, pássaros azuis. As flores no campo e o rosto dela no banco. Palavras soltas que me enchem os olhos de esperança e sonhos

Page 52: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

52

tão doces tão lindos tão ternos. Então, como criança salto no futuro e descanso...!

Page 53: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

53

O QUADRO O rancho é torto torto e sem teto não tem porta e a Janela pendurada. A escultura olha o céu coberto de sol, lua e de chuva gorda. Um está no parque e o outro no fundo do pasto expondo o artista guardando o sal do gado. E o vento levou... O rancho de palha rodopiou no ar; a cultura e a escultura se gastaram com o tempo. O pasto agora é parque e o rancho, quadro. Lá na parede, um homem no pasto do quadro, olha o rancho torto.

Page 54: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

54

FRUTO DOURADO Já não há sol no céu nem lua atrás da terra; é noite densa no fundo da estrada. As nuvens espalhadas desfazem-se cobrindo a semente plantada e a árvore que nasce produz folhas no escuro da madrugada. Basta raiar o sol no cesto encantado que surge o fruto dourado na janela do meu quarto. Sinto o vento traiçoeiro entrando por baixo da porta misturando o perfume fresco do lençol da nossa cama à fragância do jardim. Vento que corta com lâmina de prata o véu dos sonhos roubados no espelho da nossa memória.

Page 55: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

55

O GRÃOZINHO DE AREIA Um minúsculo grão de areia levado pelas águas do mar entre tantas pedras e algas no fundo, desejava habitar. Então, uma concha distraída abrindo sua boca horizontal pensando ser, areia, comida... engoliu-a com água e sal. E, na concha caprichosa foi ficando escondidinha... até tornar-se uma linda pérola brilhosa e bem branquinha. Mas, pelas ondas e monções foi sendo levada até uma baía onde uma mão caprichosa recolheu-a numa pequena bacia. Depois de limpa e bem polida entre diamantes, ouro e prata estava a pérola numa vitrine exposta, para ser vendida!

Page 56: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

56

POEMIA Vamos descomplicar o poema: ao invés de esquemas vamos tirar o ponto Ao invés de usar a virgula vamos tirar o acento É poema ou poesia? se não e poema se não e poesia melhor dizer: Poemia Assim onde esta o erro? R: no É

Page 57: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

57

ABSORÇÃO A vaca malhada transforma a relva verde em leite. A galinha carijó transforma o milho amarelo em ovo. Eu misturo leite e ovo na farinha e transformo em bolo!

Page 58: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

58

SOB O LUAR Sobre a terra um pé caminha no pó do chão; sob o telhado a mesa continua imóvel sobre as cadeiras.

Page 59: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

59

PARTE IIII - NO ESPELHO

Page 60: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

60

NOBRES SONHOS Sou pobre - só tenho meus sonhos. Sou nobre - porque ainda sonho...

Page 61: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

61

A ARTE DE SER FELIZ Largado na frente da porta do fundo nasci para ser único no mundo. Cresci pensando ser o último mas, estava a frente do segundo. Na vida, aprendi a arte de ser feliz para ser triste, fiz pausa d'um segundo. Com a cabeça cheia de idéias... tornei-me poeta neste vasto mundo. Minha casa é um castelo de sonhos pela verdade e dignidade murada. Tenho minha piscina cheia de páginas e no portão um cadeado quebrado. Cresce meu jardim por dentro da janela e por dentro de mim cresce o beijo dela. Para ser feliz me basta a família, os amigos o carinho de Deus e uma poesia na panela!

Page 62: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

62

DA COSTELA DO POETA Eu faço poesia na diversidade das coisas. Eu faço poesia da poesia crua das lágrimas rolando do ciúme e de nós. Eu tiro com a mão, poesias do coração. Da janela vejo o céu azul e as estrelas expandindo... Então faço poesia do caos das raízes mortas dos frutos verdes dos beijos cortados das mãos trêmulas. Eu faço poesia com dor dos sonhos despedaçados do olhar inocente e lânguido. Eu faço poesia no sofrimento da vida seca Severina. Eu faço poesia desconstruindo uma vida que ainda não foi gerada. Eu faço poesia... retirando uma parte de mim!

Page 63: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

63

O POEMA QUE NÃO ESCREVI Dormindo, sonhei... Tal era a obra de arte o poema que não escrevi. Com a pena no borrão de tinta trêmulo, suava... era tal a inspiração, que adormeci. Não era a balada do cárcere de Reading nem, vou-me embora pra Pasárgada, o poema que não escrevi. Daí, Homero e Dante, ambos surgiram com Safo de Mitilene, e apagaram o poema que ainda não escrevi. Mas que importa se a vida é torta se metade do mundo está morta e a outra, por detrás, sorri!

Page 64: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

64

QUEM FOI CARLOS DE ITABIRA? Carlos não foi quem pensei: Um herói de capa, e fogo nas mãos. Ele era apenas um homem necessário entre os edifícios e ruas deste mundo. Carlos não tinha asas como os pássaros por isso, ele usava as escadas e reclamava do preço das coisas. Mas, Carlos estava para a vida assim como a vida estava para Carlos Drummond de Andrade, de Itabira. Carlos não será apenas uma rua qualquer ou uma pedra no meio do caminho de uma cidadezinha de interior. Carlos nunca será apenas uma estátua altiva dessas que dormem no meio da praça. Carlos jamais será um livro puído na mão de alguém ou uma imagem apagada na parede que já não diz quem ele foi. Carlos será sempre um mundo de sonhos no mundo de alguém!

Page 65: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

65

TUDO É POSSÍVEL Tudo me é possível quando estou poetando... Posso domar o vento subir numa onda e dropar. Me perco e me encontro num tubo azul do mar. Inteligente... filosofo com os epicureus discurso com Rui Barbosa; ensino e aprendo quando estou poetando. Bom amante envio flores declamo poemas discuto a relação e disfarço meu ciúme. Idealista mato a fome da Etiópia construo mil escolas. Os ricos dão aos pobres - em meus sonhos - asteio bandeira branca na Palestina.

Page 66: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

66

Transformo o mundo quando estou sonhando...!

Page 67: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

67

NÁUSEAS Náusea, náusea, náusea... Stress, pressão interna e cafeína; decepções fracassos esgotamentos e toda fadiga... Brotam das divagações vozes surreais imagens invertidas extremos obscenos olhos por dentro e por fora. A beira do precipício da loucura e das emanações somente a razão separa os neurônios, dos nervos partidos. No bar da esquina gargalhadas e brigas; cachaça na cabeça e saliva no canto da boca. No trânsito empacotado dois carros amassados; xingamentos um homem caído, o sangue fluindo...

Page 68: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

68

Náusea, náusea, náusea... Ventos palatais rolam as brasas para debaixo do tapete de cinzas. No limite do equilíbrio são mais os loucos que ficam do que os poucos que partem! Quando findam os esforços dois são os pólos: Os que choram - os que riem; e no espelho, invertidos desabafa o que chora enlouquece o que ri.

Page 69: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

69

OS EXCLUÍDOS A cidade é como um corpo crescendo embaixo do pescoço e por entre as orelhas; é como um ano fluindo de uma semana incompleta. Fluxos e trânsito agudo onde me afundo em sonhos e zangas; gente de extremos e depressão pisam na faixa esquerda da calçada.

Rostos, entre risos e incompreensões movidos por necessidades e ânsias movem-se nas veias e poros do jardim de árvores de ferro e vidros verticais.

Entre olhos de lágrimas um nariz gripado, derrama lama sobre as raízes da urbe molhada; uma mão toca o sexto andar numa pose de ficção japonesa e a cidade não reclama nem geme.

Aquele olhar de medo, de dúvidas não toca a maçaneta do toilet, nem passa sob os degraus da escada; o pensamento se expande, se encontra na lâmina da psicologia de senso e se esconde no olhar do excluído.

Page 70: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

70

Facetas, esquinas e ruas geradas embaixo dos pés nus e mãos calejadas do indouto ser; alheios às carências e fome do meio alheios às mentes caladas às mãos e pernas mirradas e dor. Celebremos um piscar de olhos um carinho, um sorriso aberto um gesto sociável e um beijo.

Page 71: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

71

DOMINGO Caminha a família num domingo qualquer no parque o passeio o sorvete a bola e o suor o sorriso na boca da mulher A tarde é finda caminha ainda a criança cansada satisfeito o homem descem do ônibus subindo o morro de mãos dadas Do beco escuro ecôa o tiro cai o corpo no asfalto duro Fogem os manos no meio do mundo o metal, o pó valem mais que a vida simples Choro, desespero...

Page 72: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

72

Escorre o sangue das dilacerações frágeis da ferida exposta formam coágulos nas artérias mortas A sirene toca a vida é morta só restam lembranças na foto sorrindo Só restam as flores a estrela, a cruz e a dor punindo a inocência finda!

Page 73: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

73

O VENDEDOR DE SONHOS Sou menino sou palhaço malabarista de esquina. Menino de olhar intenso pés descalços, cobertos de terra ventre inchado cabelos desgrenhados. Sou menino ainda assim... é inevitável fugir da sorte é inevitável fugir do sol sobre meu sorriso ingênuo vendedor de sonhos da rua. Sou menino mesmo assim... é inevitável chegar em casa sem ter pisado na escola tirar as moedas da sacola e comer o pão seco da esmola!

Page 74: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

74

E AGORA? E agora, o que fazer? Do tempo não vivido do tempo maduro e óbvio. O que dizer? Das palavras não ditas das palavras sem nexo e das aporias. O que pensar? Dos sonhos irrealizados dos sentimentos frustrados dos dias negados e eflúvios... E agora? Se o dia é pequeno... se no estômago há veneno que fere sem dó. Se no coração há hólons, altruísmos e enzimas. Ao menos, sigamos até ao fim do túnel. Ao menos tentemos viver o não vivido dizer o não dito amar o não amado... E agora... eis a questão: ser agudo ou obtuso?

Page 75: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

75

MOINHO DO TEMPO

Como o fogo soprado pelo vento (ardendo furioso...) consome a erva do campo; assim, me consome esse amor. Como essa anemia falsiforme me consome o sangue (gota a gota...) assim, me consome esse silêncio. Como o moinho de vento girando a mó consome o grão (de grão em grão...) assim, me consome esse chão. Como o relógio de Acaz marcando ligeiro consome o homem (dia e noite...) assim, me consome esse tempo. O moinho do tempo é implacável: Consome o homem consome o mundo consome tudo...!

Page 76: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

76

O VASO DA SOLIDÃO Como num vaso plantado me sinto cercado por terra, água e luz. Terra, na raiz dos meus pés molhados de água medida sob a luz do meu quarto. Meus sentimentos cortados não revelam quem sou... Meus pensamentos cruzados não dizem pra onde vou... Como num vaso plantado com raízes limitadas por um solo de plástico; só cresço o suficiente pra ser aquele tipo de gente que faz tudo sem questionar. Serei ainda colonizado? Morrerei de fósforo branco? - Um dia ainda me libertarão...! Preso num vaso de plástico mesmo com flores contadas espero ainda ser alguém! Me tirem deste vaso-prisão

Page 77: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

77

me coloquem num jardim eu quero produzir também... Meu coração quer dar amor minha vida brilhar em flor... - Ninguém merece a solidão!

Page 78: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

78

MAR ADENTRO Quando eu era menino o mundo era comprido... depois, foi ficando redondo e por fim, acabou quadrado. O mundo acabava no mar onde começava o céu onde morriam os navios de onde nascia o sol. Hoje, estou no cais vendo os navios chegarem devagarzinho no porto e depois partirem... Partem rumo ao além sobre o mar comprido depois descem a curva do oceano redondo. Termina mais um dia... mais um sol se esconde na montanha escura.

Page 79: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

79

NO ESPELHO

Quem me dera estar completo: Fazer amor de qualquer jeito e ainda, gerar um filho nosso; não ter esses pés-de-galinha e essa dor horrível nas costas. Quem me dera olhar no espelho e me ver na escola assustado dar meu primeiro beijo e fugir com o coração acelerado. Mas, o que me resta, que é meu... são esses cabelos brancos são essas mãos cheias de rugas com as quais, afago esse sorriso de quem já viveu intensamente!

Page 80: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

80

AVENTURA Não tenho emprego não tenho nada... só me resta, o pó da estrada!

Page 81: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

81

PARTE IV - ROMANTISMO

Page 82: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

82

CONFESSIONÁRIO Não estou disposto a cooperar basta estar ao teu lado neste banco. Não estou disposto a contar todos os meus segredos neste confessionário basta apenas dizer: Eu te amo!

Page 83: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

83

LITERAL Escrever é tão fácil difícil é dizer: Eu te amo - quando você já se foi... Me doem os rins me doem os olhos me dói o coração Mas, a padaria não é tão longe assim: Eu posso te esperar...!

Page 84: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

84

INSTANTE Entre a manhã e a tarde, o meio-dia; entre o monte e o rio, a água fria. Entre a fé e a dúvida, o norte; entre a vida e a morte, a sorte; Ente eu e você, o ciúme; entre a paz e a guerra, o lume. Entre o céu e o mar, o condor; entre o olhar e o beijo, o amor!

Page 85: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

85

TODOS OS SONHOS Os dias caminham ao contrário se consumindo nas faces e mãos. Meus braços apertam seus braços seus passos escrevem meus sonhos; enquanto o céu povoado de nuvens cobre as dores do mundo inteiro. Todos os meus sonhos se confundem: Fundindo os sorrisos dos meus olhos com as lágrimas dos seus lábios. Todos os meus sonhos, espalhados ao alcance de suas mãos, são colhidos devagarzinho, no bolso de sua blusa. Com os caminhos todos voltando estou indo de volta para o fim.

Page 86: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

86

DESTE AMOR QUE SONHEI... Como numa tela com traços de girassol pintaram-te: uma lágrima pendurada um cabelo partido uma dor nos olhos e o brilho de sol rasgado. Como num instante do tempo de nós e num ponto do seu caminho conheço-te: um aperto de mão uma taça de cristal. Como numa nota da música de Bach e num pingo de sua letra conheço-te: sensível ao toque ao olhar desperto mãos entrelaçadas cada vez mais perto. Como numa ponte passo por entre seus olhos e mente e conheço-te, num mundo de mel e pensamentos: mãos se tocam, ao fundo

Page 87: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

87

olhos se focam, profundo uma boca se abre, fala pernas caminham... balançam, cruzam-se e beijam as pontas dos pés. Como num jardim de fugazes noites, amo-te: seus olhos parados seus braços parcos sua nuca ao vento sua boca nua... diz: - Te amo!

Page 88: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

88

NAS ESTRELAS Se eu fosse fincar bandeira - flags - nas dunas da lua cheia, seria loucura sair da nave, os astronautas, a tua procura. Que beijos te daria... sem gravidade nem barulho nos lábios. Que noites teríamos em dias passados que suspiros de cabelos desgrenhados... Que se eu fosse fincar bandeira ( flags ) numa nebulosa, produzir constelações, guiar a Ursa e os atilhos do Órion! Te daria beijos... à porta da sua casa no altar de branco nas bodas de ouro. Quantas mentiras descobertas nas crateras das pelejas infindas das semanas longas... Que se eu fosse fincar bandeira “ flags “ nas descobertas recentes, o que não faço seríamos inimigos íntimos da gente! Que beijos te daria... nas despedidas nos reencontros de lábios mordidos.

Page 89: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

89

ROMANTISMO Tinha aquele céu azul-anil aquele sol estourado de verão coalhado de nuvens brancas Aquelas tardes morenas gordas tardes que trago em mim, que fazem lembrar-me: Viagem marcada to Durban Irish coffee no jardim dos namorados vento ventando do índico seus cabelos tocando em mim as ondas quebrando na calçada Tinha aquele gostinho no coração de quem estava apaixonado!

Page 90: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

90

A DANÇA Era a poesia escancarada nos movimentos leves e insinuantes que ela produzia com seus passos elegantes; era a poesia crua pairando no ar numa fragância de suor com perfume girando, saltando, bailando... Ela era linda! Todos os versos partiam de seus lábios e cabelos soltos; era uma poesia romântica em versos concretos e realistas. Os olhos do poeta não piscavam e as palavras de sua boca emudeciam. Enquanto dançava, fingia seu olhar que não percebia, que estava sendo admirada. Era como um sonho de Casemiro um personagem de Castro Alves. Era um momento sublime como se não existisse o tempo ao redor. Mas o poeta captou o poema, a dança a música que enchia a página... o amor!

Page 91: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

91

O JANTAR O poema está ali na mesa, concreto. Meu coração, servido numa bandeja bate silenciosamente enquanto garfos e facas retinem no ar. Sangue e água escorrem do corte frio e por um instante não estou ali mas, meus olhos teimam em dizer que o amor me deixou assim, esvaindo... Servido em carne crua, sinto o gosto do seu batom e o cheiro da sua pele; seus cabelos roçam em mim. Você sorri, satisfeita e linda... O prato está vazio e os talheres alinhados; você deixa a gorjeta em meus lábios e a porta se fecha sobre você. Permaneço inerte com os olhos fechados: Estar no céu é assim...!

Page 92: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

92

DELÍRIOS Através do espelho do meu quarto vejo um pôr-do-sol lindo no jardim. O poema teima em existir na água do chuveiro que evapora-se no ar no massagear dos cabelos molhados. Ela cobre-se e o chinelo está na porta; aproxima-se, seus olhos se perdem nos meus... Ela encosta-se lentamente no travesseiro macio desliza os dedos sobre meus cabelos e carne. Tudo ao redor deixa de existir!

Page 93: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

93

A CARTA O papel cru absorve o sangue rubro da caneta fria e solitária, que move-se indiferente às lágrimas que caem dos meus olhos avermelhados. Minha alma escorre pelas linhas finas preenchendo, de sentimentos e melancolia a página tecida nas lembranças e saudades da distância imposta pelo tempo. A flecha do cruel cupido rasga meu peito e transpassa minha alma bandida. Meu coração ferido, insiste... em resgatar momentos antes esquecidos. Pousa o pombo-correio no parapeito da janela cinge o biquinho amarelo e voa n'amplidão... ah! seriam tão doces os sonhos... se, uma bolinha de papel não estivesse jogada no chão!

Page 94: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

94

DESPEDIDA A mala estava na porta a espera da despedida o aperto de mão na sala e a última lágrima caída. Eu não choro simplesmente com lágrimas emprestadas minha voz por entre os dentes chora, mesmo embargada. A culpa queima como fogo... minha mente acelerada move-se em direção incerta por estar de volta à estrada. O abraço apertado desenlaça-se e a porta fica entreaberta; o que esperar da vida, agora que a noite fria está lá fora!

Page 95: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

95

A VIAGEM Por cima dela estavam as pernas e a viagem era sossegada. Passavam as árvores velozes nos olhos verdes da menina e já não havia sol na janela. O homem de bigode tinha uma mala enorme! Sozinha, a moça procurava seu assento no bilhete. Todos os sonhos passavam pela minha cabeça; até uma música nova crescia dentro de mim. O trem seguia no trilho... mais um sonho mais uma parada mas eu, desço antes do final!

Page 96: TERRÀVISTA - static.recantodasletras.com.brstatic.recantodasletras.com.br/arquivos/3327284.pdf · IV – ROMANTISMO 82 – Confessionário 83 – Literal 84 – Instante 85 – Todos

[TERRÀVISTA] Nivaldo Ribeiro

96

VIRGEM AOS 40 A virgem, aos 40 nunca tinha sido beijada. Sonhar, sonhava... com o vizinho, da casa ao lado.