TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em...
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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
JORNALISMO
BACHARELADO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL
AMANDA CÁSSIA DOS SANTOS
ALYSSON RODRIGUES
ÉDIGLEI LEANDRO DE SOUSA DOS SANTOS QUEIROGA
RENAN FAGALDE ALVARENGA DA SILVA
STEPHANIE IAUSSOGHI FERREIRA
TATIANA RUDIGHER MOREIRA
TERROR URBANO
SÃO BERNARDO DO CAMPO
2016
AMANDA CÁSSIA DOS SANTOS
ALYSSON RODRIGUES
ÉDIGLEI LEANDRO DE SOUSA DOS SANTOS QUEIROGA
RENAN FAGALDE ALVARENGA DA SILVA
STEPHANIE IAUSSOGHI FERREIRA
TATIANA RUDIGHER MOREIRA
TERROR URBANO
Pré-projeto de Pesquisa apresentado ao
curso de graduação na Faculdade de
Comunicação Social da Universidade
Metodista de São Paulo, como requisito
para a obtenção do grau de Bacharel em
Comunicação Social e ao título de
jornalista.
Orientação Profº. Sérgio Santos.
Coordenação dos Projetos Experimentais
Profª Drª Verônica Patrícia Aravena
SÃO BERNARDO DO CAMPO
2016
FICHA CATALOGRÁFICA
T278
Terror urbano: memorial de projeto experimental / Amanda
Cássia Santos et al. 2016.
170 p.
Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de
Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade
Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2016.
Orientação: Sergio Silva Santos.
1. Violência urbana - Brasil 2. Homicídios - Brasil I.
Santos, Amanda Cássia
CDD 070.4
O Trabalho de Conclusão de Curso intitulado: “Terror Urbano”, elaborado por
Amanda Cássia, Alysson Rodrigues, Édiglei Leandro de Sousa, Renan Fagalde,
Tatiana Rudigher e Stephanie Iaussoghi foi apresentado e aprovado em 5 de
dezembro de 2016, perante banca examinadora composta pelo Profº. Sérgio Silva
dos Santos (Presidente/UMESP), Profª. Alexandra Gonsalez de Melo Sarasa
Martin (Titular/UMESP) e Agostinho Teixeira (Jornalista/PUC-SP).
Profº Sérgio Silva dos Santos
Orientador e Presidente da Banca Examinadora
Profª Alexandra Gonsalez de Melo Sarasa Martin
Banca examinadora
Agostinho Teixeira
Banca Examinadora
DEDICATÓRIA
A todos os familiares, amigos, professores e
funcionários da Universidade que apoiaram a
realização deste trabalho. Aos entrevistados,
que dispuseram de seu tempo para nos ajudar
a entender e explicar melhor a situação da
violência no Brasil. Em especial, um
agradecimento ao pai da integrante deste
grupo, Tatiana, Sr. José Carlos Pinto Moreira,
que faleceu no dia 25 de outubro de 2016, por
toda a ajuda financeira, ajuda com transporte
para a realização das externas e de
equipamentos, para realização de reuniões
enquanto ele teve condições físicas e de saúde,
e principalmente, por todo o apoio ao grupo
para concluir esse trabalho da melhor maneira
possível, sem medir esforços para isso.
RESUMO
O trabalho proposto tem como objetivo expor e discutir os altíssimos níveis de
violência no Brasil, principalmente em áreas urbanas, que evocam na população
um sentimento de terror. Abordando as taxas de homicídios que cresceram 143%
entre 1980 e 2012, com números diários e semanais que superam, às vezes em
muito, os “ataques terroristas” em outros países ocidentais, o objetivo é reorientar
o debate sobre a violência no país, indicando que a violência já atingiu níveis
semelhantes aos do terrorismo. O trabalho busca desnudar a situação do fracasso
da Federação e dos Estados brasileiros na questão das mortes violentas no país –
que em muitos casos são amplificadas pelos próprios agentes do Estado.
Palavras-chave: Terrorismo, violência urbana, homicídios, Brasil, Polícia Militar,
Exército.
ABSTRACT
The project aims to expose and discuss the extremely high levels of violence in
Brazil, especially in its urban areas, that instills a feeling of terror in the populace.
Touching upon the homicide rate growth of 143% between 1980 and 2012,
registering daily death tolls that dwarfs the worst “terrorist acts” in other Western
countries, the objective is to redirect the debate about violence in the country and
to point out that the problem has achieved the threshold for being considered on
par with terrorism. The product seeks to show the concrete situation of the
Brazilian Union and States’ failure in regards to violent deaths in the country – that
many times are aggravated by the government’s own agents.
Keywords: terrorism, urban violence, murders, Brazil, Military Police, Army.
SUMÁRIO
1. APRESENTAÇÃO ..................................................................................................................... 5
2. O TERROR DA VIOLÊNCIA BRASILEIRA ................................................................................ 8
2.1 CRIME E VIOLÊNCIA NO BRASIL ................................................................................................. 8
2.2 CONSTRUÇÃO DO TERRORISMO .............................................................................................. 10
2.3 TERRORISMO NA HISTÓRIA .................................................................................................... 17
2.4 COMUNIDADE INTERNACIONAL E OPINIÃO PÚBLICA SOBRE TERRORISMO ...................................... 20
2.5 TERRORISMO CONTEMPORÂNEO ............................................................................................. 22
2.6 PARADOXOS BRASILEIROS ..................................................................................................... 25
2.7 NÚMEROS, CONFIANÇA E MEDO .............................................................................................. 27
2.8 ARMAS DE FOGO NO BRASIL ................................................................................................... 32
2.9 DIREITOS HUMANOS.............................................................................................................. 33
2.10 DIREITOS (IN)EXISTENTES .................................................................................................... 35
2.11 IMPRENSA SENSACIONALISTA ............................................................................................... 38
2.12 CRIANÇAS NO FOGO CRUZADO ............................................................................................. 42
2.13 REPRESSÃO POLICIAL .......................................................................................................... 43
2.14 ESQUADRÕES E SUAS ORIGENS ............................................................................................ 46
2.15 LEI ANTITERRORISMO .......................................................................................................... 50
3. TERROR URBANO ................................................................................................................. 53
3.1 PROPOSTA ........................................................................................................................... 53
3.2 OBJETIVO ......................................................................................................................... 54
4. TRAJETÓRIA DE REALIZAÇÃO E PESQUISA DO TCC ........................................................ 55
4.1 PESQUISA ......................................................................................................................... 58
4.2 QUESTÕES ÉTICAS E RESPONSABIIDADE SOCIAL ....................................................... 59
4.3 AVALIAÇÃO GERAL .......................................................................................................... 60
4.4 PÚBLICO-ALVO ................................................................................................................. 61
4.5 PROJETO EDITORIAL ....................................................................................................... 62
4.6 DESCRIÇÃO DO PRODUTO .............................................................................................. 63
4.7 FONTES E ENTREVISTADOS ........................................................................................... 64
4.8 EQUIPAMENTOS UTILIZADOS ......................................................................................... 64
4.8.1 Gravação ..................................................................................................................... 64
4.8.2 Transporte ................................................................................................................... 65
4.8.3 Edição ......................................................................................................................... 65
4.9 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ........................................................................................ 65
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................ 67
ANEXOS ..................................................................................................................................... 73
ANEXO A – PESQUISA DE CAMPO ......................................................................................... 88
5
1. APRESENTAÇÃO
A websérie Terror Urbano, composta por 5 episódios com cerca de 30 minutos
cada, tem como foco discutir a violência no Brasil e transformar a própria
discussão do fenômeno em algo mais aprofundado, mostrando que a aguda e
crônica violência brasileira chegou a um nível em que pode ser equiparada mais
ao terrorismo do que com mera violência cotidiana. Com a maior quantidade de
homicídios em números absolutos do mundo, o país ainda tenta o “combate” à
violência da mesma maneira que há 25 anos, sem conseguir qualquer êxito na
questão já que o número de corpos deixados para trás nessa eterna “não-guerra”
civil cresce a cada ano – por mais que as estatísticas oficiais sejam manipuladas
por um ou outro agente do Estado para tentar esconder o fato.
O formato escolhido, de websérie, é o que melhor universaliza a comunicação, já
que apresenta o maior número potencial de espectadores – algo que será
discutido em profundidade neste trabalho.
Os efeitos desse nível de violência que vem se sustentando há anos na sociedade
brasileira são vastos e praticamente impossíveis de serem analisados por um só
trabalho, mas selecionamos os aspectos que consideramos mais graves para um
aprofundamento maior na série documental para web. Contrastando o mito do
brasileiro cordial, termo hoje tomado quase ipsis literis sem leitura crítica e
reflexão sobre a obra de Buarque de Hollanda, e pacífico com os números da
violência e as opiniões sobre direitos humanos no país, os diferentes tipos de
terrorismo e as ações das polícias e das Forças Armadas no Brasil, passando
também pelos grupos de extermínio, esquadrões da morte, milícias e facções
criminosas até os diversos relatórios de organizações internacionais condenando
a política de segurança pública brasileira – inclusive em relação a crianças.
Após a análise da realidade da violência brasileira e dos dados expostos na
discussão do tema e pesquisa, o grupo se debruçou sobre o problema de como
universalizar tais informações de modo impactante o suficiente para fomentar
debates aprofundados na sociedade e auxiliar na busca de soluções possíveis
para a questão. Valem, entretanto, algumas considerações a priori.
6
Impressiona que a sociedade brasileira considere o atual nível de violência no país
como normal e corriqueiro. Por mais aterrorizadas que estejam pelos índices
criminais e especialmente de homicídios, ano após ano, as pessoas seguem seus
dias rotineiramente, sem pensar muito sobre a questão – fora se vão chegar em
casa vivos ao final do dia. Homicídios são focos de atenção apenas quando a
mídia “adota” um caso para estampar suas manchetes, pois em um universo de
cerca de 167 assassinatos por dia na média é estranho que apenas um ou outro
caso chame atenção pelas circunstâncias presentes.
O jornalismo claramente tem sua parcela de responsabilidade na atual situação,
pois pouco pressiona as autoridades por soluções concretas para o problema e
dificilmente dão o tratamento necessário à questão. As grandes emissoras e os
grandes jornais brasileiros não abordam a necessidade da reforma e
desmilitarização das PMs, nem das outras medidas necessárias exceto uma – o
reforço no combate à violência.
Ora, se durante todo este período democrático no país o combate à criminalidade
foi claramente intensificado sem resultados positivos concretos, é um desserviço
ao público e à ética jornalística não explicitar tais fatos. Continuar fomentando
partes da população com bordões como “bandido bom é bandido morto” ao ódio
pelo “outro” – que na verdade é tão brasileiro quanto – e apoiar a repressão
violenta como única forma e solução para conter a criminalidade é a antítese do
que o jornalismo representa: a busca da verdade em serviço do grande público.
O produto nasceu da necessidade explícita na sociedade brasileira de que uma
abordagem honesta sobre o problema é necessária. A dissonância cognitiva na
sociedade brasileira é profunda – somos o país de pessoas mais pacíficas e que
mais matam no mundo - e precisa ser abordada para que a violência e suas
cicatrizes no tecido social possam ser tratadas.
Contudo, não apenas seremos pautados pela ética jornalística. O trabalho tem
como uma de suas bases o humanismo, necessário no tratamento da questão,
pois não advogamos simplesmente que se mate menos “bandidos” para que as
7
taxas de homicídios caiam – defendemos que é necessário que os brasileiros se
comprometam seriamente a parar de erradicarem-se uns aos outros, não importa
o aparente “lado” de qualquer pessoa. Fazendo uma exposição séria das
consequências de uma morte, quanto mais de 60 mil por ano, e do feudo de
sangue presente por toda a sociedade brasileira – com exemplos das chacinas de
vingança por mortes tanto de policiais quanto de criminosos – queremos oferecer
as informações necessárias para que a sociedade reflita e aja para interromper o
ciclo de violência.
8
2. O TERROR DA VIOLÊNCIA BRASILEIRA
2.1 Crime e violência no Brasil
Em seu artigo “O direito humano à segurança pública e a responsabilidade do
estado”, a pesquisadora do Núcleo de Estudos da Tutela Penal e Educação em
Direitos Humanos (NETPDH), Marisa Helena D’Arbo Alves de Freitas, considera
que é estendida ao âmbito público a ação preventiva e repressiva exercida por
órgãos e agentes públicos para a proteção dos direitos fundamentais das pessoas,
e pressupõe a garantia de um Estado seguro, de convivência social pacífica, com
preservação e manutenção da ordem pública e a segurança das pessoas e de
seus patrimônios. (FREITAS, 2013, P. 03)
A afirmação de Freitas se baseia no capítulo três, artigo 144 da Constituição
Federal de 1988 que coloca “segurança pública como dever do Estado, direito e
responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da
incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: polícia
federal; polícia rodoviária federal; polícia ferroviária federal; polícias civis e polícias
militares”. Sendo assim, deve reprimir o crime, que para a autora é fator de
desestruturação social e empecilho para o desenvolvimento e progresso da
sociedade.
A questão da violência extrema em solo brasileiro é um fenômeno paradoxalmente
muito e pouco abordado. Todos os dias, em praticamente todos os meios de
comunicação, relatos sobre casos de violência são veiculados, repercutidos e logo
esquecidos para serem substituídos por outros, num rol sem fim de vítimas,
suspeitos e mortos. Ao mesmo tempo, poucas são as discussões aprofundadas
sobre o tema na mídia, normalmente reduzindo-se sempre à defesa da
necessidade de um “combate” maior ou mais duro à violência.
O enfrentamento da violência com violência tem sido o caminho escolhido pelas
políticas públicas com o apoio da sociedade em geral. Para citar um exemplo,
segundo dados mais recentes do IBGE na Pesquisa de Informações Básicas
Estaduais de 2014 (Estadic), o Brasil tinha, em 2013, um efetivo de 542.890
9
policiais militares e civis, sendo 425.248 PMs e 117.642 policiais civis. O número
ultrapassa o efetivo de policiais nos Estados Unidos contabilizados para o mesmo
ano, que somava 477 mil de acordo com dados do Departamento de Estatísticas
de Justiça, do Departamento de Justiça dos EUA.
No artigo “Construir a delinquência, articular a criminalidade: um estudo sobre a
gestão dos ilegalismos na cidade de São Paulo”, a socióloga Alessandra Teixeira
cita uma pesquisa de opinião realizada em São Paulo sobre a segurança pública
em 1978 que revelou que a militarização aguda das forças de segurança, já então
em curso, era tida como opção eficaz de enfrentamento à criminalidade. A opção
pela pena de morte era apoiada por 55% dos entrevistados, chegando a 60% de
apoio dentre participantes da classe A.
Se é enquanto representação social que a violência se apresenta, como
colocar a questão de sua emergência no contexto urbano no Brasil
apenas em meados de anos 60 do século XX, se ela tem desempenhado
na sociedade brasileira um protagonismo nas relações sociais desde a
colonização, atravessando diferentes regimes e processos históricos? A
violência, em suas múltiplas formas, segundo Adorno (1996),
permaneceu no país “enraizada como modo costumeiro,
institucionalizado e positivamente valorizado de solução de conflitos”.
(TEXEIRA, 2012, p. 108)
Contudo, analisando o crescimento do número de homicídios a cada ano, e
principalmente a cifra alcançada em 2014, fica patente que a intensificação da
violência institucional não resultou na diminuição da violência.
De acordo com dados publicados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública
(FBSP) em seu anuário mais recente sobre segurança pública, no ano de 2014
foram registrados 51.035 casos de homicídios dolosos, com 53.240 vítimas; 2.061
latrocínios e 773 lesões corporais seguidas de morte. Os crimes violentos letais
intencionais (CVLI), categoria que agrega as ocorrências de homicídio doloso,
latrocínio e lesão corporal seguida de morte somaram 56.074 casos, com ao
menos 58.497 vítimas de mortes violentas intencionais. Apenas para comparação,
os Estados Unidos, que têm população e extensão territorial superiores ao Brasil,
possui um efetivo policial inferior e também um número menor de registros de
homicídios - 13.280 casos em 2014.
10
Torna-se questionável então a eficácia das policias brasileiras. Outro ponto que
merece atenção é qual seria o termo correto para o nível a que chegou a violência
no Brasil que se era difundida no começo dos anos 1980, regionalizada nos anos
90 a 2000 e hoje faz mais vítimas por ano do que países em guerra civil e Estados
falidos, não é apenas um tipo de “violência” comum a qualquer país. A proposta do
presente projeto é de discutir como verdadeiro terror urbano, ou terrorismo, a
situação vivida no país por sua população, o povo que mais mata compatriotas e
que ao mesmo tempo ainda crê ser pacífico, de modo parecido ao descrito por
Sérgio Buarque de Hollanda em 1936 quando discorreu sobre o “brasileiro cordial”
– exceto que a crítica contida na obra é descartada, e o termo foi tomado de
maneira literal pela sociedade.
A socióloga Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança
Pública (FBSP), capturou quão sério é o problema da violência no Brasil em
entrevista concedida ao portal UOL1 em 2015 sobre os dados de homicídios
revelados pelo 9º Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2015), dizendo “[...]
Nós concentramos 2,8% da população do mundo e 11% dos homicídios. Somos
um país extremamente violento”.
Todavia, para propormos o tratamento da questão da violência urbana brasileira
como terrorismo, é necessário antes discutir a definição e os diferentes tipos de
terrorismo.
2.2 Construção do terrorismo
O terrorismo é descrito pela versão online do dicionário Michaelis (2016) da
seguinte maneira:
sm (terror+ismo) 1 Sistema governamental que se impõe por meio do
terror, sem respeito aos direitos e às regalias dos cidadãos. 2 Uso
sistemático da violência como meio de repreensão. 3 Ato de violência
contra um indivíduo ou uma comunidade, com o objetivo de provocar
transformação radical da ordem estabelecida: “Num segundo movimento,
a Operação Condor passou a limpar não apenas o terreno da subversão
1 Citação retirada de matéria publicada em 10 de outubro de 2015 no portal do UOL, com o título
“Brasil registra 58,5 mil assassinatos em 2014, maior número em 7 anos”
11
e do terrorismo, mas o próprio terreno, numa operação de queima de
arquivo que atingiria a polícia e os serviços secretos dos três
países” (CA). 4 POR EXT Atitude de intolerância por parte de indivíduo
ou grupo de indivíduos com aqueles que não compartilham suas
convicções políticas, artísticas, religiosas etc.
Ampliando um pouco a definição, trata-se do uso da violência psicológica ou física
através de ataques localizados contra elementos previamente definidos, como o
assassinato do arquiduque austríaco Francisco Fernando da Áustria-Hungria em
1914, contra instalações militares ou até mesmo civis, com o objetivo de incutir
pânico, medo e incumbir efeitos psicológicos que ultrapassem o círculo das
vítimas imediatas, incluindo, antecipadamente, o resto da população do território.
O ataque terrorista é utilizado por uma diversa gama de entes como organizações
políticas, governos no poder e grupos separatistas. Tal é a realidade, ainda que
trate também da violência urbana em geral. Para o filósofo Regis de Morais
[...] a violência é típica do ser humano. Ao longo de toda a história ela
tem se feito presente. Ele sempre se originou de necessidades e
interesses antagônicos geradores de um clima de disputa, de mediação
de forças. Todos percebem, porém, que jamais esta coisa do homem
atingiu limites tão desumanos quanto agora – e marcadamente nas
cidades grandes. (MORAIS, 1981, p.79)
Ainda assim, o termo é fluido. Uma ação considerada terrorista por um Estado
pode ser considerada como uma manobra militar válida, de sabotagem ou até
mesmo de resistência por outro país ou um grupo – sem entrar no mérito de
“operações de bandeira falsa” que podem ser utilizados por agentes.
Os bombardeios das cidades de Dresden e Tóquio na Segunda Guerra Mundial
tiveram como alvo as cidades inteiras, com o objetivo reconhecido de reduzir a
moral da nação combatente inimiga mesmo com a grande maioria das vítimas
sendo civis. Os famosos foguetes alemães V2 lançados contra Londres também
não tinham alvos estritamente militares, tendo como objetivo maior incutir terror na
população – mas era algo válido do ponto de vista militar para os estrategistas
nazistas à época.
12
Nos tempos modernos, por exemplo, bombas lançadas por drones americanos
contra instalações civis não são considerados pela opinião pública e a mídia
internacional ataques terroristas, mas sim ataques militares válidos – “cirúrgicos” –
mesmo quando a maioria ou a totalidade das vítimas são civis e edifícios não
militares.
Para compreender ainda mais a fluidez do termo, grupos como o exército
guerrilheiro FARC são considerados terroristas por diversos países, mesmo sem
praticar atos mais estritamente ligados ao termo como é conhecido hoje: bombas
e ataques em centros civis. No entanto, a “guerra de guerrilha” acaba associada
ao terrorismo por dispor de um pequeno contingente para atingir grandes fins,
fazendo o uso da violência para combater forças maiores. Apesar do alvo deste
tipo de tática ser as forças armadas adversárias, procurando minimizar danos
colaterais aos civis para conseguir o apoio destes, a flexibilidade do termo e a falta
de consenso na comunidade internacional permite a interpretação.
De certa maneira, é mais a uma “tática” militar que se aplica a definição de
terrorismo.
[…] o termo ‘terrorismo’ evoca, em linguagem corrente, uma violência
extrema, vítimas inocentes, um clima de angústia. Ele remete ao
fanatismo e à barbárie. Desde então, ele é frequentemente utilizado para
desqualificar o adversário e mobilizar a opinião pública a seu encontro.
Devido a este fato, torna-se difícil defini-lo sem condenar ou absolver,
como testemunham os debates concernentes à ação dos movimentos de
libertação nacional e de secessão ou as discussões sobre o terrorismo de
Estado. (GUILLAUME, 2004, p.28)
Depois da Segunda Guerra Mundial, no fim da década de 1960 e durante a
década de 1970, o terrorismo sempre foi visto como uma peça do contexto
revolucionário. O uso desse termo foi expandido – tanto na mídia como no
entendimento da comunidade internacional - para poder integrar grupos étnico-
separatistas e nacionalistas fora do contexto neocolonial ou colonial. Assim,
grupos que lutam pela separação, autonomia ou revolução política de um território,
como as FARC, acabam classificados como “grupos terroristas” ao lado de
organizações como a Al-Qaeda e Estado Islâmico, cometam ou não atos
estritamente considerados como tais.
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De acordo com informações coletadas por Gary LaFree e equipe do Global
Terrorism Database, exibidas na tabela abaixo, de 2010 a 2014 os ataques
terroristas tiveram um forte aumento, com mais de 15 mil mortes apenas no último
ano - uma mudança notável antedados para 1970. Números finais para os ataques
ocorridos em 2015 ainda não foram disponibilizados.
Segundo os pesquisadores, a definição de ataque terrorista inclui desde os
ataques às Torres Gêmeas até a explosão de uma bomba caseira na sede da
Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) no Rio de Janeiro.
Tabela 1. Ataques terroristas registrados por ano
Fonte: Global Terrorism Database 2015
A distribuição dos ataques terroristas pelo mundo nas últimas cinco décadas,
seguindo a classificação dada por estes pesquisadores, que inclui também alguns
tipos de assassinatos (como de jornalistas ou figuras religiosas), sequestros e
ataques contra instituições do governo, é explicitada nos mapas abaixo:
14
Ataques terroristas nos anos 70
Figura 1. Informações da Global Terrorism Database 2015
Ataques terroristas nos anos 80
15
Figura 2. Informações da Global Terrorism Database 2015
Ataques terroristas nos anos 90
Figura 3. Informações da Global Terrorism Database 2015
Ataques terroristas nos anos 2000
16
Figura 4. Informações da Global Terrorism Database 2015
Ataques terroristas de 2010 a 2014
Figura 5. Informações da Global Terrorism Database 2015
17
Analisando os mapas, vemos uma migração de focos de ataques terroristas da
Europa na década de 70 para o Oriente Médio, Ásia e África entre 2010 e 2014.
No Brasil, a questão da definição do que constitui um ato terrorista vem à tona
analisando o número aparentemente maior na década de 90 e a aparente
diminuição nos anos subsequentes: afinal, os ataques do PCC em 2006 contra
polícia e meios de transporte, por exemplo, constituem um só episódio? Das
depredações de ônibus nos anos subsequentes, todas seriam atos terroristas ou
apenas protestos?
O desafio, então, é tentar entender a evolução da definição do terrorismo na
história mundial.
2.3 Terrorismo na História
As primeiras menções aos termos terrorista e terrorismo são relativamente
recentes, datando do Período do Terror da Revolução Francesa, com a primeira
definição em dicionário surgindo em 1798 na 5ª edição do Dictionnaire de
l’Académie française. O terrorismo (terrorisme) era definido como “sistema, regime
do Terror” (CHEZ J. J. Smits et al., 1798, pág. 775) e o agente, o terrorista
(terroriste), era “agente ou partisão do regime do Terror que se manteve através
dos abusos das medidas revolucionárias”. Difundido junto com as repercussões da
Revolução Francesa, o termo ganhou um significado mais amplo nos dicionários
como um sistema de terror, e um terrorista passou a ser qualquer pessoa que
tentasse implementar sua agenda através de um sistema de intimidação coercitiva
(LAQUER, 2012, pág. 6).
Com a amplitude dada por esta definição, é possível classificar muitos
acontecimentos históricos como sendo de natureza terrorista, ou cometidos por
terroristas. Desde assassinatos de inimigos políticos em cortes da Antiguidade, a
repressões brutais de revoltas e guerras de camponeses – não apenas no período
Feudal, claro – passando também por disputas trabalhistas e até à formação de
quadrilhas, cartéis e governos, movimentos e tribulações terroristas existem desde
muito antes da definição moderna, apenas respondendo por termos diferentes.
18
Mesmo assim, Laquer argumenta que “não há definição de terrorismo que seja
capaz de cobrir todas as variedades de terrorismo que surgiram na história”,
dizendo que diversos episódios da história foram acompanhados de terror
sistemático: “inimigos, reais e imaginários, foram eliminados por imperadores
romanos, sultões otomanos, czares russos e muitos outros” (2012, pág. 7).
O autor, porém, faz a distinção de terrorismo “[vindo] de baixo” e “de cima”, ou
seja, terrorismo de Estado e terrorismo de facções ou grupos à margem do poder
estatal. Um dos casos mais antigos conhecidos do que é possível classificar como
terrorismo “de baixo”, citado por Laquer, é o dos sicários durante a ocupação
romana da antiga Judeia em 70 D.C., pouco antes da destruição de Jerusalém.
Um grupo altamente organizado de religiosos judeus de baixo clero realizava
assassinatos com adagas chamados sica em plena luz do dia, principalmente em
dias em que multidões se concentravam em Jerusalém, usando o caos e a
multidão para voltarem a se esconder após o ato – além de sabotagens,
destruição de palácios, arquivos públicos onde ficavam os títulos dos banqueiros
da época, etc.
Estratégias terroristas iguais às modernas, se não tão chocantes quanto uma
bomba em um mercado, já existiam então em outras eras. Contudo, é possível
argumentar que até os tempos modernos a escala do terrorismo era sempre local,
atrelada de modo quase intrínseco à guerra de guerrilha, guerras civis, revoluções
ou mesmo protestos. Um dos atos terroristas mais conhecidos e que demonstra o
poder global destas ações é o assassinato de Francisco Fernando da Áustria-
Hungria em 1914, em Sarajevo, que acaba por servir como estopim para a
Primeira Guerra Mundial.
Novamente, é preciso chamar atenção para a fluidez do termo, pois em outro
caso, os radicais que assassinaram o czar Alexandre II da Rússia, em 1881, um
grupo chamado “Vontade do Povo”, realizava atos de “violência revolucionária” na
própria concepção do grupo, mas eram considerados terroristas por quem não
partilhava de suas ideias ou objetivos.
Esta dicotomia apresentada pelo terrorismo, na qual os principais agentes se
veem e são vistos por alguns como mártires, salvadores e/ou os únicos dispostos
a ir até as últimas consequências em nome de uma causa, ideal ou projeto
19
enquanto são tidos por outros como vândalos, antipatriotas, bandidos e/ou atrozes
revolucionários ultraviolentos tem sido cada vez mais estudada, principalmente
nos dias atuais de guerras descentralizadas contra grupos insurgentes
transfronteiriços.
Assim, grupos com as mais diversas agendas, de separatistas a revolucionários a
reintegralistas, das mais diversas regiões e momentos históricos, como o Pátria
Basca e Liberdade (ETA), as Brigadas Vermelhas da Itália e o Exército
Republicano Irlandês (IRA) executaram atos classificados como terroristas em
defesa de suas causas, sendo rotulados como tais pelas autoridades legítimas de
seus países e de outros, mas nem sempre se autointitulavam ou consideravam
seus atos como terroristas.
A ligação entre luta revolucionária e o do terrorismo é tão forte na história que,
como no caso dos sicários em Jerusalém, é possível haver certa confusão quando
se tenta aplicar um dos dois termos a diferentes acontecimentos datando de antes
do surgimento da definição de terrorismo. Casos de organizações pequenas
contra o aparato estatal de segurança – em caso de grupos ou facções
suficientemente grandes e organizadas, em uma simplificação, a situação derroca
em uma guerra civil – que precisam usar de subterfúgio e sabotagem, tanto para
atingir seus objetivos quando para aumentar a percepção do público sobre a
bandeira defendida e assim possivelmente atrair mais pessoas para seus quadros,
podem ser simultânea e igualmente terroristas e revolucionários.
Como exemplos temos as diversas lutas de autodeterminação no pós-colonialismo
da metade do século XX, marcadas por atos considerados terroristas por uns e de
resistência ou revolução por outros – quando os vitoriosos eram os rotulados
“terroristas” e a revolução era aplicada, tais grupos e pessoas passavam a ser
considerados heróis revolucionários.
O mesmo ocorreu no Brasil durante o período da ditadura militar. Diversos grupos
de resistência à ditadura foram classificados como terroristas, como a Aliança
Libertadora Nacional (ALN) e o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8).
Posteriormente, com a queda da ditadura, tais movimentos são reclassificados
como movimentos de luta ou guerrilha armada contra a ditadura militar então
posta.
20
Em nenhum outro lugar a vida está sendo um jogo tão perigoso como nas
grandes cidades. Eis uma afirmação óbvia com a qual precisamos iniciar
este escrito. E “jogo” é bem a expressão, pois que o elemento do “azar”
está muito presente nas angústias do cidadão. (MORAIS, 1981, P. 11)
Ao mesmo tempo, no entanto, a ditadura planejava explodir gasômetros no Rio de
Janeiro com bombas, consciente de que acarretaria a morte de até milhares de
inocentes, para colocar a culpa em “subversivos” – em ataques de bandeira falsa
– no caso Para-SAR. Também houve o Atentado ao Riocentro, que deveria plantar
bombas durante um show no Pavilhão Rio Centro na noite de 30 de abril de 1981,
por ocasião das comemorações do Dia do Trabalho, para refrear a abertura
política da época e dar início a uma nova onde de repressão, mas que falhou
quando um dos artefatos explodiu ainda dentro do carro em que estavam os dois
militares que os instalariam. Tais casos, entre outros, mostram que não apenas
grupos de oposição ou de minorias cometem atos terroristas, o que deixa ainda
menos claro exatamente o que é o terrorismo moderno.
2.4 Comunidade internacional e opinião pública sobre terrorismo
As primeiras resoluções da ONU acerca do tema, que ajudam a mostrar as
tentativas de construção de consenso da comunidade internacional, só
começaram a ser debatidas em 1972 quando pela primeira vez o termo
“terrorismo” é incluído nos debates da Assembleia Geral.
A primeira resolução sobre o tema chamava por medidas por combate ao
terrorismo internacional e também pelo estudo das causas das formas do
terrorismo, mas já adiantava que tais causas jaziam na miséria, frustração e
desespero, culminando em atos que tentavam colocar em efeito mudanças
radicais.
Mais tarde, em 1985, ocorre a primeira condenação internacional de terrorismo por
consenso, na resolução 40/61 da Assembleia Geral das Nações Unidas. O
21
terrorismo passa a ser não mais considerado um ato legítimo pela comunidade
internacional, qualquer que seja a motivação política.
De fato todo o problema residia na distinção entre a condenação do
fenômeno do terrorismo e o recurso ao uso da força legitimado pela ação
dos movimentos de libertação nacional. Diante da dificuldade em se
superar este impasse inicial, a ideia de uma Convenção universal e geral
foi abandonada e o comitê foi extinto em 1979. (BRANT, 2005, p.264).
De modo algum, porém, a condenação pela comunidade internacional interrompeu
a onda de ataques que, como mostra a tabela 1, continuaram crescendo entre
1980 e 1990. Só nos Estados Unidos, ataques a bombas no museu da Estátua da
Liberdade, em 3 de junho de 1980, e no Capitólio norte-americano em 7 de
novembro de 1983, além do primeiro ataque ao World Trade Center em Nova
York, em 26 de fevereiro de 1993, trouxeram cada vez mais o termo terrorismo à
tona para a opinião pública e ao cotidiano das pessoas.
O tema só começa a ganhar maior atenção da opinião pública, porém, com os
ataques duplos às embaixadas norte-americanas no Quênia e na Tanzânia, em 7
de agosto de 1998, segundo o pesquisador do departamento de estudos de
defesa do King’s College em Londres, Pascal Carlucci, em entrevista concedida
ao jornal britânico Telegraph.
Eles foram o primeiro ataque complexo contra os Estados Unidos – uma
superpotência global – por uma rede terrorista transnacional chamada al-
Qaeda. Estes ataques foram o primeiro capítulo do que mais tarde seria
chamada de ‘Guerra contra o Terror’. Atacar simultaneamente duas
embaixadas dos EUA em dois países africanos diferentes deu
profundidade geopolítica à estratégia que Osama bin Laden tinha em
mente: atrair os EUA para um conflito prolongado que acabará por
reduzir seu poder na região. Os EUA responderam com bombardeios no
Sudão e no Afeganistão, e a opinião pública foi apresentada pela primeira
vez ao terrorismo global.2
Com cerca de 220 mortos e milhares de feridos, os ataques realizados pela al-
Qaeda contra a única superpotência restante da Guerra Fria deram início a uma
nova fase do terrorismo no mundo contemporâneo, com ataques realizados por
2 Matéria publicada no jornal britânico Telegraph
22
células nos principais países ocidentais, na África e no Oriente Médio, e também
uma nova etapa nas medidas de segurança adotada contra tais atos, com cada
vez mais espaço para medidas mais repressivas que acabam por não impedir
outros ataques.
Os ataques de 11 de setembro de 2001, principalmente contra as Torres Gêmeas,
marcam uma profunda alteração na postura mundial em relação ao terrorismo
internacional, com consequências imediatas e de longo prazo que estão se
desenrolando até os dias atuais. A invasão do Afeganistão e as subsequentes
guerras no Oriente Médio – tanto regulares como civis – tiveram o terrorismo como
pano de fundo, quando não o tema central. O terrorismo passa não só a popular o
cotidiano das notícias, pessoas e nações, como também a servir como casus belli
para o início de diversos conflitos. Portanto apesar de separados por quase um
século, não é algo muito diferente do que aconteceu com Francisco Fernando da
Áustria-Hungria em Sarajevo – diversos grupos retomam a exploração das
consequências globais do terrorismo na tentativa de implantar suas agendas.
Além dos efeitos geopolíticos imediatos, o 11 de setembro serve como uma marca
divisória sobre o terrorismo na opinião pública e seus efeitos no cotidiano das
pessoas. A escalada nas medidas antiterrorismo se acelera, desde medidas
jurídicas e legislativas ao cotidiano das pessoas. A segurança em aeroportos é
mais que redobrada, passa a ser cada vez mais comum ver militares altamente
armados perto de pontos estratégicos como estações de metrô na Europa e o
temor de ataques começa a fazer parte do dia-a-dia, intensificando o medo na
população principalmente do mundo ocidental – efeito que não deixou de ser
sentido no Brasil, apesar da menor intensidade, já que o tema passa a fazer parte
das notícias no mundo todo.
2.5 Terrorismo contemporâneo
O terrorismo dos dias atuais tem como uma de suas características a
descentralização de suas atividades, ou seja, é transnacional e utiliza uma
hierarquia de células quase, ou totalmente, autônomas para perpetrar atos
23
terroristas, com cadeias de comando flexíveis o bastante para absorver a morte e
a substituição de líderes rapidamente. Ataques terroristas têm a probabilidade de
desencadear transições súbitas para guerra ou conflito. Devido à sua natureza
anônima e, frequentemente, autossacrificial, não é incomum que as razões para o
atentado permaneçam desconhecidas por um período considerável de tempo.
Atos terroristas incluem explosões de bombas, assassinatos, chacinas
indiscriminadas, aparelhamento, linchamentos e raptos. É uma estratégia não-
militar e política usada por grupos para promover ataques abertos e chamativos,
sendo utilizados em época de paz, guerra e conflito. A intenção mais comum do
terrorismo é causar medo na população ou em setores específicos dela, com o
objetivo de provocar em um inimigo, ou em seu governo, uma mudança de
comportamento. Porém, existem ainda outros tipos, segundo a Relatora Especial
do documento Terrorismo e Direitos Humanos de 1998 a 2004, da Subcomissão
de Prevenção à Discriminação e de Proteção às Minorias da Comissão de Direitos
Humanos da ONU, Kalliopi K. Koufa:
● Terrorismo de Estado - Recurso usado por governos ou grupos para
manipular uma população conforme seus interesses.
● Terrorismo econômico - Subjugar economicamente uma população por
conveniência própria.
● Terrorismo físico - Uso de violência, assassinato e tortura para impor seus
interesses.
● Terrorismo psicológico - Indução do medo por meio da divulgação de
noticias em benefício próprio.
● Terrorismo religioso - Quando o incentivo do terrorismo vem de alguma
religião.
Terroristas, sejam eles estatais ou não, operam obviamente às margens de leis
locais, contudo também desrespeitam tratados internacionais básicos como a
Declaração Universal dos Direitos Humanos na busca de seus objetivos. Sobre os
vastos efeitos do terrorismo sobre direitos humanos fundamentais, Koufa diz que:
24
As ações terroristas, tanto se são cometidas pelos Estados como por
atores não estatais, podem violentar o direito à vida, o direito de não ser
objeto de torturas nem de detenção arbitrária, os direitos das mulheres,
os direitos das crianças, o direito à saúde, à subsistência (alimentação), à
ordem democrática, à paz e à segurança, o direito à não discriminação e
todas as demais normas de proteção dos direitos humanos. Na realidade,
não existe provavelmente um só direito humano que não esteja exposto
aos efeitos do terrorismo. (KOUFA, 2001)
Atos terroristas clássicos incluem o assassinato de Francisco Fernando, que deu
início à Primeira Guerra Mundial, o Domingo Sangrento, os ataques de 11 de
setembro de 2001, como também ataques a bomba na Irlanda do Norte, Reino
Unido, França, Oklahoma, Líbano e Palestina. O alto número de vítimas, a
destruição causada e a ideologia aparentemente são os três principais pontos que
um ataque deve possuir para ser classificado como um ato terrorista – mesmo que
às vezes os planos sejam descobertos antes de sua execução resultando em um
número menor ou zero de vítimas.
Contudo, comparando os ataques terroristas em diversas partes do mundo e a
violência endêmica no Brasil e descartando o fator da ideologia, é possível
observar uma ambiguidade na definição de terrorismo – pelo número de mortos, o
terror incutido na população pelos repetidos atos em um determinado período de
tempo e a desestabilização do Estado, é questionável o por quê da violência
brasileira não ser também classificada de terrorismo.
Além disso, tendo em vista os atos planejados durante a ditadura brasileira e o
terrorismo de Estado, é possível afirmar que o governo brasileiro já cometeu – ou
ao menos planejou nos dois casos especificados – atos terroristas. Por outro lado,
também cometeram atos assim as guerrilhas de esquerda durante a ditadura, as
facções criminosas como PCC e Comando Vermelho e milícias no período
democrático, com assassinatos, sequestros realizados para a troca de presos,
ataques de represália após a morte de algum integrante dos grupos, etc.
A questão do terror no Brasil, porém, é complexa e precisa ser mais aprofundada.
O que aterroriza a sociedade brasileira não são ataques a bombas por extremistas
religiosos em lugares movimentados, mas algo aparentemente mais simples:
tiroteios, homicídios, latrocínios.
25
A violência comum, problema que parece corriqueiro no cotidiano de qualquer
cidade ou área metropolitana no mundo, mas que no país é muito mais que
exacerbado – o Brasil é campeão em números absolutos de homicídios por ano.
[...] Depois de muitos assaltos, não se vê mais nas ruas carros
entregadores de gás, bebidas ou cigarros. Não só pelas dificuldades de
trafegar pelas ruas esburacadas, muitas delas de difícil ou quase
impossível acesso. Achou-se melhor ter depósitos de gás, bebidas e
cigarros. E os comerciantes aprenderam a viver entrincheirados,
preocupados com a segurança e sobrevivência. (SOUZA, 1980, p. 41)
O país, porém, parece ter estagnado no que diz respeito às tentativas de diminuir
os números de violência.
2.6 Paradoxos brasileiros
De 2000 a 2012, a economia brasileira experimentou um período de estabilidade e
melhora principalmente na desigualdade social, que é sempre apontada como um
dos fatores que geram violência.
Na contramão do esperado, a violência no país não diminuiu no período. Como
constatou o sociólogo, cientista político e professor da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro, Emir Sader, no artigo intitulado Violência e desigualdade social
para o El País, publicado em 5 de fevereiro de 20143,
A América Latina - e o Brasil dentro dela - tem sido o continente que mais
diminui a desigualdade, a pobreza e a miséria, melhorando
consideravelmente a situação social do continente mais desigual do
mundo. Porém, isso não tem levado à diminuição da violência,
demonstrando que, embora o vinculo entre os dois planos seja real, sua
relação não é mecânica
Se a melhora econômica e a redução da desigualdade não conseguem diminuir a
violência no país, no âmbito legislativo e policial os cenários não são melhores. As
iniciativas para tentar confrontar o problema do terror urbano que afeta a
3 Artigo pode ser acessado em:
http://brasil.elpais.com/brasil/2014/02/05/sociedad/1391629439_112697.html
26
sociedade brasileira que têm ganhado mais espaço dizem respeito à volta do
armamento da população civil, para a redução da maioridade penal e medidas
antiterrorismo, como o Projeto de Lei 499 do Senado Federal.
O Brasil ratificou acordos e relatórios de convenções internacionais sobre o
terrorismo, como os da ONU, tanto sobre a definição do que é e de compromissos
ao seu combate. Ainda assim, mesmo com o “terrorismo” citado na Lei de
Segurança Nacional e na própria Constituição, não existe – ainda, apesar da nova
lei - uma definição concreta de terrorismo na legislação brasileira.
O PL 499 foi apresentado foi apresentado em 2013 e sancionado em 2016,
definindo crimes de terrorismo e estabelecendo a competência da Justiça Federal
para o seu processamento e julgamento. No início de 2016, a “Lei Antiterrorismo”
é aprovada sob críticas de diversas organizações como ONU, Anistia Internacional
e da sociedade civil, por ser muito ampla e vaga, possibilitando a incriminação de
movimentos sociais legítimos como protestos e manifestações.
O Brasil, então, entre seus pares, considera terrorismo algo diferente. Segundo a
Anistia, centenas de manifestantes foram duramente reprimidos ainda em 2013,
ou seja, antes da lei atual, pelo aparato de segurança enquanto participavam de
manifestações no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Desde meados de 2013, centenas de pessoas foram presas e
interrogadas no contexto dos protestos. Na grande maioria dos casos, os
manifestantes foram soltos sem que fossem acusados formalmente,
algumas vezes depois de investigações da polícia civil concluírem que as
acusações contra eles eram infundadas. Até o momento, sabe-se de
apenas um indivíduo que foi condenado por delito relativo a
comportamento criminoso durante os protestos, sendo que a acusação
contra ele é questionável. (HOUSE, 2014 p.12)
Isso também serve para mostrar o problema de como opera a polícia e o aparato
de segurança no Brasil. Segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de
2014, mais de 60% dos policiais consideravam não ter recebido treinamento
adequado para atuar em grandes manifestações. Não sendo assim anormal,
27
portanto, que recorram à força excessiva para conter manifestações legítimas, e
que também usem da mesma brutalidade em diversas outras situações.
A pesquisa realizada pelo grupo, que será analisada mais à frente, mostra que a
consequência de uma força policial bruta e despreparada é que a maior parte da
população simplesmente não confia na polícia.
Paralelamente, no Brasil não existe uma norma regulamentadora para o uso de
armas menos letais, o que torna o uso excessivo por policiais algo ainda mais
difícil de ser controlado, supervisionado e investigado. A simples regulamentação,
porém, não seria o suficiente para a brutalidade policial em manifestações
diminua, já que as armas letais, que têm regulamentação estrita, são abusadas
por policiais dentro e fora de serviço.
Existem outros fatores para a ineficiência policial no Brasil que vai além dos
armamentos, tantos dos policiais quanto de criminosos. A falta de treinamento,
uma controladoria fraca e o uso cada vez maior de táticas repressivas quando
estas já mostraram, ao longo das últimas 3 décadas, não serem capaz de debelar
a violência contribuem para o alto número de homicídios no país, que continua
crescendo.
2.7 Números, confiança e medo
O número de mortes violentas no Brasil é alarmante, e tem sido assim há vários
anos seguidos. A escalada da violência no país durante pelo menos as três
últimas décadas – para as quais é possível, ainda que com ressalvas, ter dados
mais confiáveis – é palpável no tecido social, gerando forte sensação de medo na
população a ponto de que a maioria das pessoas sente-se pouco segura para sair
em seu próprio bairro durante a noite, de acordo com a pesquisa coordenada por
Nancy Cardia do Núcleo de Estudos da Violência da USP, “Atitudes, normas
culturais e valores com relação à violação de direitos humanos e violência – 2010”.
Na pesquisa realizada em 11 capitais, 37,66% responderam que se sentem pouco
seguras em andar à noite sozinho pela própria vizinhança; outros 22,6%
responderam que não sentem qualquer segurança. Entre os pesquisados que se
sentem seguros, 26,83% disseram sentir-se protegidos, enquanto apenas 5,28%
afirmaram que se sentem muito seguros.
28
A pesquisa realizada pelo próprio grupo, nas 7 cidades do ABCD e na capital
paulista, corrobora os resultados da pesquisa da USP significativamente. Quando
questionados sobre a sua sensação de segurança, 67,42% disseram não se
sentirem seguros; 30,85% responderam que se sentem seguros e 2,28% não
quiseram ou não responderam à questão; questionados se consideravam o Brasil
um país perigoso para se morar, 72,57% disseram que sim; 24,14% disseram não
considera-lo perigoso para se morar; enquanto 3,28% não quiseram ou não
responderam.
Já sobre a polícia, 66% das respostas válidas ouvidas – excluindo quem não quis
ou não sabia responder – afirmavam que não confiam na polícia contra apenas
33% que confiam na instituição pública.
A pesquisa do grupo mostrou ainda quão enraizado é o terror na sociedade
brasileira. Ao questionar as pessoas sobre se acreditavam que população vive
uma situação de terror urbano, 80% das pessoas ouvidas afirmaram acreditar que
a população brasileira está aterrorizada ou em pânico por conta da violência.
Outros 17% disseram não acreditar nessa possibilidade e 3% não souberam ou
não quiseram responder.
O medo exposto nas pesquisas está ancorado nos números de homicídios e
mortes violentas no país.
Pedro Abramovay, diretor da Open Society Foundations para a América Latina e o
Caribe, afirma no anuário do FBSP que “[...] em nenhum país do mundo, sem
guerra declarada, mais seres humanos mataram outros seres humanos do que no
Brasil. Quase 60.000 pessoas foram assassinadas em nosso país.” (2015, p. 20)
Chama atenção o uso do “quase” por Abramovay. Os dados produzidos no
território brasileiro não são totalmente confiáveis. O mesmo relatório separa as
informações enviadas pelos Estados em três grupos:
● Grupo 1: maior qualidade das informações;
● Grupo 2: menor qualidade das informações;
● Grupo 3: não há como atestar a qualidade dos dados.
O primeiro grupo é composto por Alagoas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito
Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará,
29
Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do
Sul, Roraima, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe. Deste grupo, o maior número
de vítimas de homicídios em 2014 foi registrado na Bahia, com 5.663 mortos,
enquanto a maior taxa de homicídios foi a de Alagoas, com 61,9 por cada 100 mil
habitantes – apesar de uma variação negativa de 5 por cento em 2014 ante 2013.
Os Estados cujos dados têm menor qualidade são Acre, Amapá, Paraíba,
Rondônia e Tocantins. Dentre eles, a Paraíba registrou ao menos 1.478 vítimas de
homicídios – número já alto que pode ser ainda maior.
O terceiro grupo é composto ainda por um único Estado: Amazonas. Em 2014,
segundo o Estado, foram registradas 934 vítimas de homicídios com uma taxa de
24,1 para cada 100 mil habitantes.
Mesmo assim, há diferenças entre o número de casos e o número de ocorrências,
que tanto podem sugerir chacinas quanto a falta do registro mais atencioso da
ocorrência, ocorrências registradas em categorias diferentes de homicídios, como
autos de resistência policial. São Paulo, por exemplo, teve 4.526 vítimas de
homicídios dolosos em 2014 para apenas 4.293 ocorrências.
Já o Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais e sobre
Drogas (SINESP), com dados compilados pela Secretaria Nacional de Segurança
Pública (SENASP), dá números diferentes para homicídios dolosos no país no
mesmo ano. Segundo seu relatório de 2014, foram apenas 46.402 vítimas de
homicídios, com uma taxa de 23,41 para cada 100 mil habitantes.
A discrepância de 10 mil vítimas a menos registradas pelo órgão governamental
vem ainda acompanhada de duas particularidades. A primeira é de que o Estado
de Goiás não informou dados, sem que se encontre uma justificativa para tal falta.
A segunda, de acordo com texto da própria página de estatísticas da SENASP:
[...] até 2012, as estatísticas criminais eram geradas somente com dados
dos municípios com população superior a 100 mil habitantes, a partir de
janeiro de 2013, já é possível o tratamento e análise de dados de todos
os municípios brasileiros.
30
Apesar do problema grave de não poder contar com dados de todos os municípios
antes de 2012, a agência disponibiliza a taxa de homicídios por 100 mil habitantes
até 2011.
Estes problemas são graves e persistentes na sociedade brasileira, endêmicos
como a própria violência, à luz do que fez, por exemplo, o governo do Estado de
São Paulo em 2015, com a manobra estatística de retirar sem qualquer aviso do
número de homicídios dolosos as mortes causadas por policiais militares de folga
em legítima defesa. Com essa simples alteração o total de casos de homicídios
dolosos caiu de 1.861 para 1.759 entre abril e setembro de 2015, quando o
assunto veio à tona na grande mídia.
Além disso, o governo de São Paulo vem tentando dificultar o acesso aos dados,
num claro retrocesso sobre a transparência e supervisão dos dados por entidades
externas. Em 5 de fevereiro de 2016, o governador Geraldo Alckmin decretou, via
Diário Oficial, que as informações sobre polícias civil e militar voltariam a ser
secretas e impondo sigilo de até 25 anos. Apesar dos dados em questão não
envolverem números de homicídios, foi preciso uma grande movimentação da
imprensa e da sociedade para que o governo estadual recuasse um pouco sobre
sua posição, prometendo reavaliá-la. Se o Estado que historicamente tem mais
dados, e cujas informações vinham sendo consideradas entre as mais confiáveis,
busca ativamente esconder informações, chega a ser impossível supor o que
fazem as outras unidades da Federação.
Essas questões deixam enevoado um quadro que pode ser muito mais grave do
que se imagina. Se com dados oficiais não confiáveis e que diminuem o número
de homicídios registrados, o Brasil foi o país com maior número absoluto de
homicídios na listagem do Instituto Igarapé com base em informações de 2012,
com 56.337 casos, à frente da segunda colocada Índia, que tinha 1 bilhão a mais
de pessoas e “apenas” 34.434 homicídios – 2012 foi selecionado por ser o ano
que permite a comparação direta no estudo.
O Brasil ainda foi considerado em 2015 como o 15º lugar mais perigoso do planeta
com base em taxas de homicídios por 100 mil habitantes, e caso os dados
fidedignos fossem coletados o cenário certamente seria ainda pior.
31
Joseph Murray et al. (2013) estimam, em estudo que analisou diversos artigos e
trabalhos acadêmicos sobre a violência, que a taxa de homicídios por cada 100
mil habitantes tenha atingido 31,5 – ante 26,2 para cada 100 mil pessoas segundo
estatísticas oficiais, reconhecendo o problema com a dados. De fato, as
estimativas destes autores ultrapassam as taxas de homicídio registradas em pelo
menos 5 para todos os anos que há estimativas, de 1995 a 2010.
Outro dado trazido pelos autores no estudo é de que as vítimas no país têm
maiores chances de serem jovens negros com baixa escolaridade.
[...] têm maior probabilidade de serem jovens, do sexo masculino, negros
e com poucos anos de educação [...] Em 2009, a taxa de homicídio de
homens (51,1 por cada 100 mil) foi mais de 10 vezes maior que a taxa de
mulheres (4,3 por cada 100 mil) (MURRAY et al. 2013).
Estas informações são confirmadas por outros estudos, como o Mapa da Violência
2014 – Os jovens do Brasil (Brasília, 2014), coordenado por Julio Jacobo
Waiselfisz, que foi entrevistado para a realização da websérie:
Ao longo dos diversos mapas que vêm sendo elaborados desde 1998,
emerge uma constante: a elevada proporção de mortes masculinas nos
diversos capítulos da violência letal do país, principalmente quando a
causa são os homicídios. Assim, por exemplo, nos últimos dados
disponíveis, os de 2012, pertenciam ao sexo masculino: 91,6% das vítimas
de homicídio na população total e ainda mais entre os jovens: 93,3%. [...]
historicamente, essas proporções diferem pouco de ano para ano. A
participação masculina no total de homicídios do país, nos 32 anos
computados, passou de 90,3% para 91,6%, e a feminina caiu de 9,7% para
8,4%. Entre os jovens, essa estabilidade é bem semelhante.
(WAISELFISZ, 2014, p. 70.)
A ONU, assim como a Anistia Internacional e outras instituições, tem demostrado
preocupação com o grande número de mortos e os altos índices de violência no
país. Para a ONU e suas agências, o Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD), o Comitê sobre os Direitos da Criança das Nações
Unidas e Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO) a situação é classificada como epidêmica, que é quando se registra
mais de 10 casos de mortes para cada 100 mil habitantes, sendo que no Brasil o
índice é de 28,8 mortes para cada 100 mil.
32
Em 2011, as Nações Unidas já tinham lançado um alerta sobre a questão, no
artigo publicado em seu site Violência no Brasil tem endereço, faixa etária e raça,
apontam especialistas em seminário no Rio. No painel em questão, sobre
Desarmamento, Controle de Armas e Prevenção à Violência, a Coordenadora da
Área de Minorias, Movimentos Sociais e Cidadania do Centro de Estudos de
Segurança e Cidadania (CESeC), Silvia Ramos, declarou que a violência no Brasil
tem diferenças geográficas, de faixa etária e de raça. Exemplificando esse perfil
de violência brasileira com a cidade do Rio de Janeiro, declarou que
Na zona sul, região carioca cuja população possui um alto poder
aquisitivo, as taxas de homicídio variam de 2 a 12 por cada 100 mil
habitantes, índices próximos aos da Europa. Já nas regiões pobres, as
taxas chegam a 75 para cada 100 mil habitantes. É como se existissem
dois países dentro de uma cidade4
2.8 Armas de fogo no Brasil
Entre as preocupações da organização está o uso de armas. No Mapa da
Violência: Mortes Matadas por Arma de Fogo (Brasília, 2015), também
coordenado por Waiselfisz, o número de mortos por disparo de armas no Brasil
chegou em 2012, a mais de 42 mil pessoas, o equivalente a cerca de 120 óbitos
por dia. Essa cifra é ainda mais acentuada entre os jovens, que correspondem a
cerca de 59% das estatísticas.
Segundo estimativas reproduzidas no Mortes Matadas por Arma de Fogo,
levantadas por Dreyfus e Nascimento (DREYFUS, P͖; NASCIMENTO, M.S. Small
Arms Holdings in Brazil: Toward a Comprehensive Mapping of Guns and Their
Owners. FERNANDES, R. ed. Brazil: The Arms and the Victims. Rio de Janeiro: 7
Letras/Viva Rio/ISER, 2005), o país contava com um vasto arsenal de armas de
fogo, sendo 15,2 milhões em mão privadas, com 8,5 milhões destas sem registros
e ainda 3,8 milhões em mãos criminais. Segundo Waiselfisz:
4 Reproduzido a partir de artigo que pode ser acessado em: https://nacoesunidas.org/violencia-no-
brasil-tem-endereco-faixa-etaria-e-raca-apontam-especialistas-em-seminario-no-rio/
33
A magnitude desse arsenal guarda estreita relação com a mortalidade
que essas armas originam. Os registros do Serviço de Inspeção
Municipal permitem verificar que, entre 1980 e 2012, morreram no Brasil
mais de 880 mil pessoas vítimas de disparo de algum tipo de arma de
fogo. Nesse período, as vítimas passam de 8.710 no ano de 1980 para
42.416 em 2012, um crescimento de 387%. Temos de considerar que,
nesse intervalo, a população do país cresceu em torno de 61%. Mesmo
assim, o saldo líquido do crescimento da mortalidade por armas de fogo
no Brasil, já descontado o aumento populacional, ainda impressiona, e
será aprofundado adiante, no tratamento das taxas de mortalidade. Entre
os jovens de 15 a 29 anos, esse crescimento foi ainda maior: passou de
4.415 vítimas em 1980, para 24.882 em 2012: 463,6% de aumento nos
33 anos decorridos entre as datas. (WAISELFISZ, 2015, p.21)
Em 22 de dezembro de 2003 a população aprovou por meio do plebiscito, o
Estatuto do Desarmamento - Lei 10826/03, que foi responsável por, segundo
dados divulgados em julho de 2015 no 9º Encontro do Fórum Brasileiro de
Segurança Pública, evitar 121 mil mortes entre 2003 e 2012 em todo o Brasil.
Apenas no Estado São Paulo, uma queda de cerca de 12,6% no número de
homicídios entre 2004 e 2007 pode ser atribuída à lei federal que dispõe sobre o
registro, posse e comercialização de armas de fogo e munição. Entretanto, os
governos estaduais não se demostraram eficazes no combate ao crime
organizado e muito menos na retirada de armas de facções e criminosos.
Com tantas armas e homicídios em crescimento, é necessária uma reflexão sobre
o estado dos Direitos Humanos Universais no país, e a atuação do Estado para
garantí-los.
2.9 Direitos Humanos
Os direitos humanos constituem direitos fundamentais de todos os seres humanos
e a sua afirmação está vinculada ao reconhecimento de que todas as pessoas são
livres, e em razão desta condição, têm direitos e atributos que lhe são inerentes.
No âmbito jurídico, a segurança é direito fundamental dos indivíduos,
34
imprescindível ao natural desenvolvimento da personalidade humana e ao
aperfeiçoamento da vida em sociedade.
Um problema crônico de direitos humanos aflige o Brasil, pois existem diversos
casos, de conhecimento público e não, de homicídios ilegais, torturas, maus-tratos
e até violações e alterações de cenas de crimes cometidos por policiais. Muitas
prisões e cadeias brasileiras estão superlotadas, e a falta de controle estatal
adequada facilita o recrutamento de membros para gangues e facções. Existem
ainda outros exemplos de problemas de direitos humanos como: o
“mascaramento” dos dados estáticos a respeito da violência no país, a violência
contra ativistas, profissionais de imprensa, negros e moradores de regiões
periféricas das grandes cidades.
Somado a essa conjuntura, os crescentes índices de criminalidade colocam o
Brasil em 11° lugar dos países mais inseguros do mundo no ranking da Social
Progress Imperative, à frente de países como Colômbia, Estados Unidos, Iêmen,
Irã e Ucrânia, por exemplo, que sofrem ataques de diversos tipos: terroristas, do
narcotráfico ou até guerras civis. Parece ser este o reconhecimento pelas mais de
58 mil mortes registras no ano de 2014, o que em média significou uma pessoa
assassinada a cada meia hora, segundo dados do supracitado FBSP no 9º
Anuário Brasileiro de Segurança de 2015.
Esse cenário reforça a ideia de que o modelo tradicional de combate à violência
está desgastado. Em artigo publicado no jornal Folha de São Paulo, intitulado A
ineficiência do Estado perante a barbárie, o psicólogo judiciário, Paulo Fernando, e
a psicanalista, Maria Rita Kehl, descrevem a insegurança pública da seguinte
forma5:
Nas guerras, nas ditaduras, nas crises, a experiência da dor também
segue um padrão previsível. É o caso dos pais do adolescente
assassinado depois de entregar seu celular ao assaltante; dos familiares
da dentista queimada viva porque tinha pouco dinheiro no banco; dos
pais do jovem atropelado e morto pelo motorista alcoolizado na Vila
5 Artigo pode ser acessado em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/.../109439-infelicidades-
ordinarias.shtml
35
Madalena; dos órfãos de mulheres assassinadas por maridos ciumentos.
[...] A infelicidade dessas pessoas tem muitos elementos em comum:
desamparo, lutos irreparáveis, medo de sofrer retaliações, revolta e
sentimento de injustiça - este, inconsolável. Suas lembranças, seus
corpos precocemente envelhecidos compartilham para sempre o
conhecimento silenciado de que somos mortais, desprotegidos, frágeis e
impotentes. Mesmo em tempos de paz permanecerá neles, latente, a
possibilidade de eclosão do medo do imprevisível. (KEHL, Maria Rita e
SOUZA, Paulo Fernando Pereira de, 2013, p. 1-2)
Entre os direitos humanos está também o direito à dignidade da pessoa, que trata-
se de um atributo que todo ser humano possui independentemente de qualquer
requisito ou condição, seja ele de nacionalidade, sexo, religião, posição social ou
orientação sexual. Tal direito impede que qualquer pessoa seja colocada em
situação vexatória ou humilhante.
2.10 Direitos (in)existentes
Com essas informações, é possível concluir que não está em discussão se devem
existir direitos humanos também para bandidos, já que direitos são para humanos
— e deles ninguém se exclui ou pode ser excluído. A questão é de outra natureza,
de que o Estado está sendo omisso e ineficiente já que, por hora, não é capaz de
garantir segurança e outros direitos básicos à população.
Assim como durante o ano que antecedeu a Copa do Mundo de 2014, houve em
2015 grandes protestos no país. Dezenas de pessoas foram feridas em confrontos
entre manifestantes e polícia, incluindo jornalistas. Em vários incidentes, a polícia
fez uso excessivo da força, espancando manifestantes que não resistiam à prisão
e lançando bombas de gás lacrimogêneo contra manifestantes à curta distância,
como visto em imagens veiculadas pelas redes de televisão.
O Comitê sobre os Direitos da Criança das Nações Unidas, em comunicado
publicado em outubro de 20156, demonstrou-se também preocupado “com as 250
6 Comunicado pode ser acessado em: https://nacoesunidas.org/comite-da-onu-sobre-os-diretos-
das-criancas-critica-violencia-policial-e-discriminacao-estrutural-no-brasil/
36
mil remoções forçadas nas comunidades carentes do Rio de Janeiro em
consequência da Copa do Mundo em 2014 e das Olimpíadas de 2016, sem dar
aos moradores suas justas compensações, afetando seus meios de vida e o bem-
estar e desenvolvimento das crianças”, além de também a aceleração das
operações de paz nos morros cariocas para tentar amenizar a violência local para
os Jogos. Entretanto, o apoio dado ao Rio de Janeiro à ocupação militar dos
morros cariocas provocou enorme discussão sobre o papel das Forças Armadas
na segurança pública. Houve críticas quanto à súbita presença do Estado, tanto o
Rio quanto a União, através do uso da força, quando historicamente deixou de
cumprir com seu papel de agente regulador e garantidor de direitos. Antes de
garantir direitos básicos como água, luz, esgoto, educação e moradia digna,
chegaram as armas.
Como prevê a Declaração Universal dos Direitos Humanos, os princípios das
Nações Unidas, e a Constituição Federal, além de acordos assinados em tratados
internacionais pelo Brasil, é de todo homem o direito à liberdade de expressão,
educação, saúde, respeito à pessoa, segurança pessoal, igualdade e moradia.
Como definido no artigo 5º:
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: [...] II - ninguém será obrigado a fazer
ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; [...] IV - é livre a
manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; [...] XVI -
todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao
público, independentemente de autorização, desde que não frustrem
outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo
apenas exigido prévio aviso à autoridade competente; (BRASIL, 1988)
O direito à moradia digna foi reconhecido e implantado como pressuposto para a
dignidade da pessoa humana, desde 1948, com a Declaração Universal dos
Direitos Humanos e foi recepcionado e propagado na Constituição Federal de
1988, por advento da Emenda Constitucional nº 26/00, em seu artigo 6º.
37
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o
trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na
forma desta Constituição.
Como consequência econômica mais imediata o país assistiu, na segunda metade
dos anos 50 a um crescimento significativo tanto do valor da produção industrial
como do PIB, marcando ainda o início do que Francisco Oliveira (2000) denomina
“processo de predominância da estrutura produtiva de base urbano-industrial”,
segundo a Doutora em Sociologia, Alessandra Teixeira, que diz também que:
Assim, ao lado de uma industrialização crescente, também o processo de
urbanização se tornaria mais frenético, impactando em novos fluxos
migratórios e no redesenho agrário-urbano do país. A cidade de São
Paulo, por exemplo, saltará de 1,3 milhão de habitantes em 1940 para
2,2 milhões em 1950, ganhando quase o dobro de habitantes em apenas
uma década. Esse contexto implicará numa transformação e
complexificação das relações sociais estabelecidas até então em bases
mais tradicionais e hierárquicas –, a exemplo do que aponta Misse para a
capital carioca, com o que se desenharão novos padrões de
conflituosidade social. (TEIXEIRA, 2012, p. 79)
Uma influência que também chegou ao âmbito da criminalidade propriamente dita,
ao lado do aumento das taxas de crimes patrimoniais urbanos, à emergência da
violência urbana como um fenômeno que dirá respeito tanto à criminalidade como
a seu enfretamento. Além “das medidas de caráter urbanístico, que importarão
uma vez mais no deslocamento e remoção de populações indesejáveis das áreas
objeto de intervenção política e econômica, também se verifica uma aparente
expansão do controle às populações pobres”, o que vale dizer aumento dos
centros urbanos precários e violentos, segundo Teixeira.
O Estado, por sua vez, “se ausenta, onde tudo falta, quem tem algo, vira
referência, o poder seduz. Quem tem o poder na favela? Quem dita as regras na
favela? Na verdade o poder seduz e transforma as pessoas em qualquer escala,
sem distinção”, colocam o Doutor em Direito, Thiago M. Mináge, e o advogado
38
criminalista, Alberto S. Júnior, no artigo Quando a arte imita a vida e nos faz crer
que a vida é um conto: o faroeste caboclo (parte 1)7. Para os autores, “o Estado,
representação mais perceptível do Poder, quando entra na favela, não é para dar
bom dia, e sim para dar tiro”.
Ao se eximir da responsabilidade de levar segurança pública, o Estado também
foge a responsabilidade de garantir saúde, educação, limpeza urbana e outros
serviços às favelas e morros. A solução encontrada pelo Estado é, portanto,
reconhecer sua falha e pedir socorro à União e o envio de tropas para operações
de Garantia da Lei e da Ordem, ou seja, tanques, soldados e fuzis subindo morros
e vitimando inocentes.
2.11 Imprensa sensacionalista
O papel do jornalismo na sociedade é interpretar e traduzir informações. Não cabe
a ele apenas informar. Devido à saturação da informação, cabe ao jornalista
interpretá-la, atribuindo-lhe sentido e precisão na produção de um bem intelectual
que dê ao receptor a possibilidade de refletir e, também, de interpretar, afirma o
jornalista Tiago Lobo do Observatório da Imprensa no artigo Sobre o papel social
do jornalismo (2013)8.
Responder a todas as perguntas na abertura de uma matéria é um
desserviço ao leitor. Pensa-se que ele não possui tempo para ler jornais.
Até parece uma afirmação acertada. Mas será mesmo? Ou será que os
textos jornalísticos (salvo o brilho de poucos mestres) são frios,
imprecisos, burramente objetivos e o leitor já se acostumou com essa
estética técnica e industrial? Ora, o jornalismo se nutre da vida e história
humana, portanto sua narrativa não deveria desumanizar as personagens
das suas tramas de não ficção. O excesso da objetividade aborta a
humanidade de um texto (LOBO, 2013).
7 Artigo pode ser acessado em: http://canalcienciascriminais.com.br/artigo/quando-a-arte-imita-a-
vida-e-nos-faz-crer-que-a-vida-e-um-conto-o-faroeste-caboclo-parte-1/ 8 Artigo pode ser acessado em: http://observatoriodaimprensa.com.br/feitos-
desfeitas/_ed743_sobre_o_papel_social_do_jornalismo/
39
Além desta responsabilidade, temos a asseveração que nosso trabalho deve ser
pautado sobre o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, tendo como base o
direito fundamental do cidadão à informação, que abrange direito de informar, de
ser informado e de ter acesso à informação. Como o acesso à informação de
relevante interesse público é um direito fundamental, os jornalistas não podem
admitir que o acesso seja impedido por nenhum tipo de interesse, razão pela qual
a divulgação da informação precisa e correta é dever dos meios de comunicação e
deve ser cumprida.
A produção e a divulgação da informação devem se pautar pela veracidade dos
fatos e ter por finalidade o interesse público; a liberdade de imprensa, direito e
pressuposto do exercício do jornalismo, implica compromisso com a
responsabilidade social inerente à profissão; a prestação de informações pelas
organizações públicas e privadas, incluindo as não-governamentais, deve ser
considerada uma obrigação social; a obstrução direta ou indireta à livre divulgação
da informação, a aplicação de censura e a indução à autocensura são delitos
contra a sociedade, devendo ser denunciadas à comissão de ética competente,
garantido o sigilo do denunciante.
Contudo, a imprensa sensacionalista desvia-se deste modelo. Ela explora, quase
que diariamente, a imagem de pessoas ainda na situação de suspeitos de delitos.
A espetacularização e o sensacionalismo no jornalismo televisivo embasam o
debate sobre espetacularização da informação, entretenimento na mídia televisiva
e cultura de massa. Para ilustrar esse quadro, temos os programas policiais Brasil
Urgente, da Rede Bandeirantes, o Cidade Alerta, da Rede Record de Televisão, e
os comentários da Jornalista Raquel Sherazade do Jornal do SBT, Sistema
Brasileiro de Televisão.
Em outro trecho do artigo supracitado da Folha de S. Paulo, Maria Rita Kehl e
Paulo Fernando Pereira de Souza falam da falta de sensibilidade dos profissionais
de imprensa.
Imagens como as do tênis no chão, manchas de sangue no capô
amassado de um carrão, o sofá incendiado, o vídeo que flagra o tiro
40
gratuito contra a vítima já rendida, as expressões dos familiares em
momentos de extremo sofrimento são exibidas sem pudor. Tal exposição
desconsidera os sentimentos das vítimas e revela uma morbidez coletiva
pela qual ninguém se responsabiliza. São os sentimentos de injustiça, a
certeza de que tais aberrações não deveriam acontecer e a indignação
com nossa falta crônica de políticas de segurança pública [...]
A mestra em comunicação, Marcela Miranda Félix dos Reis, em sua tese O
Espetáculo e Sensacionalismo no Telejornal, cita Patias (2006), para explicar que
o sensacionalismo no jornalismo é
[...] um gênero, no seu estilo e forma, tende a explorar o extraordinário,
anormal, o fait divers, utilizando-se da linguagem do espetáculo e
imagens chocantes que prendem a atenção do público, criando grande
expectativa, mas perde o seu impacto inicial logo que a história é
mostrada e consumida pelo telespectador. O não comprometimento ético
social é uma das características do sensacionalismo que por meio de
formas sádicas expõe pessoas ao ridículo, abusa de fatos violentos,
desagradáveis e assuntos apelativos. Além disso, o sensacionalismo
sempre esteve ligado à questão mercadológica, em que a notícia é tida
como um produto de consumo, para atrair a clientela e atender os
anseios dos anunciantes. O telejornal sensacionalista, além de vender a
violência, vende a ilusão de resolver os problemas. Na verdade, estamos
diante de mais um produto de consumo e uma sensação de frustração e
vazio a ser preenchida pela aquisição de outros bens descartáveis,
criando um círculo vicioso de dependência e repetição numa sociedade
de espetáculo.
Isso resulta em um desgaste do público, e por consequência a perda em números
expressivos de audiência. Porém, este tipo de pseudojornalismo não apenas
divulga de maneira equivocada informações a respeito à violência, como também
incita o combate cada vez maior à violência, com bordões e lemas como “bandido
bom é bandido morto”, separando a sociedade (para seus telespectadores) entre
“gente de bem” e “bandidos”. Junto à ineficácia do Estado, é possível argumentar
que a espetacularização feita pela mídia a respeito da violência no país ajudou a
41
criar um movimento de “justiceiros” que compartilham os lemas e bordões. Os
casos noticiados em 2014 corroboram a tese.
A maioria dos casos de “justiças com as próprias mãos” ocorreu em bairros
pobres, onde os alvos eram suspeitos de crimes que lideram as estatísticas
nacionais: roubos, estupros, homicídios, atropelamento, agressões a mulheres e
crianças. Houve muitos casos de linchamentos e mortes, e as justificativas
encontradas para os acontecimentos eram sensação de insegurança, impotência
e ausência do Estado.
Esse pensamento se mostrou comum à população em pesquisa realizada pelo
Datafolha em julho de 2015, encomendado pelo Fórum Brasileiro de Segurança
Pública, que revelou que 50% da população das grandes cidades brasileiras
concordavam com a afirmação de que “bandido bom é bandido morto”. A ideia de
justiça com as próprias mãos revoltou especialistas, pesquisadores, entidades e
autoridades, como José Eduardo Cardozo, Ministro da Justiça, que em entrevista
coletiva disse9:
Temos que perceber que justiça com as próprias mãos nunca resolveu
nem resolverá. As pessoas têm que ter direito de defesa, onde o
judiciário julga. Não podemos voltar à barbárie. Conquistamos isso com
muito esforço na história da humanidade. O Estado está aí para atuar, o
Estado está aí para julgar. Obviamente, que tem falhas no sistema
jurisdicional e vamos lutar para melhorar. Mas não é com a violência, com
a justiça com as próprias mãos que as coisas se resolvem. Isso só
agudiza um processo perverso que temos que lutar para resolver.
(PASSARINHO, G1, 5 de maio de 2014)
A pesquisa realizada pelo próprio grupo também contemplou questões neste
sentido. Perguntando se “você concorda com a afirmação de que direitos
humanos no Brasil é apenas para bandidos”, 56% das respostas válidas
concordavam, enquanto apenas 34% discordavam, afirmando aos pesquisadores
do grupo ora que valiam para todos, ora que na verdade não valiam para ninguém.
9 Artigo pode ser acessado em http://g1.globo.com/brasil/noticia/2014/05/justica-com-proprias-
maos-e-volta-barbarie-diz-ministro-da-justica.html
42
Para o autor de A Imprensa e o Dever da Verdade, Rui Barbosa, um país de
imprensa degenerada ou degenerescente é, portanto, um país cego e um país
miasmado, um país de ideias falsas e sentimentos pervertidos, um país, que,
explorado na sua consciência, não poderá lutar com os vícios, que lhe exploram
as instituições.
2.12 Crianças no fogo cruzado
A Unesco por sua vez, também preocupa-se com a relação do alto número de
participações de crianças no conflito armado e em organizações criminosas. Para
a elaboração do documento, 18 peritos independentes levaram em conta as
informações fornecidas pelo governo brasileiro e a sociedade civil apresentados
no monitoramento periódico dos Estados que ratificaram a Convenção sobre os
Direitos da Criança. O comitê ressalta a discriminação estrutural no país contra
negros, indígenas, crianças com deficiência e outras minorias. Apesar do
Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte
(PPCAAM), o Brasil apresenta uma das maiores taxas de homicídio infantil do
mundo, sobretudo de jovens homens e negros.
Segundo o comitê, a violência policial de órgãos como a Unidade de Polícia
Pacificadora (UPP) e o Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE)
“notavelmente se volta contra as crianças moradoras de rua e das favelas, entre
outras, durante operações de ‘pacificação’, as operações militares na Maré no Rio
de Janeiro e as do ’Choque de Ordem’” (2015, pág 8). A remoção forçada de
crianças da rua para instituições de jovens infratores sem provas concretas
contradiz o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e também é alvo de
críticas do Comitê.
De acordo com o órgão, o alto número de execuções extrajudiciais por parte da
polícia militar, milícias e polícia civil aumenta conforme a impunidade diante
43
dessas violações se generaliza. A tortura e desaparecimento forçado de crianças
por meio desses agentes também foram reprovados pela organização. O comitê,
no mesmo relatório, pede a investigação de todos os casos, “incluindo os
chamados ‘autos de resistência’ vindos de agentes do Estado” (2015, pág 8).
Porém, não só através de “autos de resistência” policiais agem fora da lei. Muitas
vezes juntam-se em grupos de extermínio – os Esquadrões da Morte – ou mesmo
milícias.
2.13 Repressão policial
Antes de entrar no mérito dos grupos de extermínio, é necessário analisar um fato
- a polícia brasileira mata, e mata muito. Segundo o FBSP, a cada 3 horas uma
pessoa foi morta pela polícia em 2014, totalizando 3.009 vítimas, um aumento de
37,2% em relação à letalidade policial registrada em 2013.
O Estado, portanto, intensificou bastante o combate à violência. Isso não foi
apenas na brutalidade de seus agentes como também nos investimentos em
segurança, que cresceram 16,6% para 71,2 bilhões de reais em 2014 ante 2013,
ainda de acordo com o Fórum.
Maior investimento e maior repressão, porém, não suscitaram uma resposta de
queda nos níveis de violência, que subiu 3,8% entre os mesmos anos segundo os
dados do Fórum. A repressão, portanto, é no mínimo ineficaz.
Assim, a confiança do brasileiro na polícia e no Estado para garantir a segurança
é baixa,
O honesto leitor desta Folha, pacato espectador do "Jornal Nacional" está
informado de que, em maio de 2006, em retaliação aos crimes do PCC,
493 pessoas (algumas sem antecedentes criminais) foram assassinadas
pela polícia de São Paulo, e os corpos de muitos delas continuam
desaparecidos. Sabe que seus familiares são ameaçados quando tentam
localizar os corpos. Estão informados de que, só no ano de 2008, o
número de homicídios cometidos por policiais em confrontos no Estado
44
de São Paulo 397, segundo a ONG Human Rights Watch (HRW). Por
serem públicas é que essas questões polêmicas deveriam tocar a todos,
sobretudo ao Estado. Esperar que o Estado cumpra sua função
reguladora é um fator indispensável à vida social (KEHL e SOUZA, 19 de
maio de 2013)
Como refletido na nossa pesquisa e em outras como o Índice de Confiança na
Justiça no Brasil – ICJBrasil, da Fundação Getúlio Vargas, apenas 33% dos
entrevistados disseram confiar na polícia, número próximo ao encontrado pelo
ICJBrasil - 25% ao final do primeiro semestre de 2016.
Isso não quer dizer necessariamente que a população se oponha ao combate
violento da criminalidade ou às táticas de repressão usadas.
Contudo, é preciso fazer uma reflexão já um tanto batida na análise da violência
geral da sociedade brasileira e a policial por sociólogos, historiadores e outros
intelectuais – a repressão é necessária ou ela precisa acabar, e de que modo?
O que é normalmente defendido, de que não é possível resolver a questão da falta
de segurança ou ineficiência do Estado no assunto sem antes adotar reformas de
longo prazo (como melhorar a educação, desigualdade social), e de que sem tais
reformas de longo prazo qualquer projeto de curto prazo será inútil – enxugar gelo
– não é tão verdadeiro atualmente, por pura observação. Os índices de violência
continuaram subindo mesmo enquanto a desigualdade social caiu e a educação
do brasileiro melhorou, como exposto no artigo supracitado de Sader.
Luiz Eduardo Soares, ex-secretário nacional de segurança pública, no artigo
“Segurança Pública: Presente e futuro”, argumenta que políticas preventivas para
a violência criminal não podem ser apenas de longo prazo, e que, de fato, existem
diversas políticas possíveis e que devem ser adotadas no curto prazo se o objetivo
é reduzir a criminalidade e a violência. Parece estar nesta mistura de soluções de
curto, médio e longo prazo alguma solução plausível para a violência.
Soares elenca alguns pontos que acredita importantes e de curto prazo, como
análises locais da criminalidade, já que não há dois lugares iguais, consórcios e
gestões participativas, para envolver a população local no processo de melhoria e
45
segurança de seus próprios territórios, e, dentre outros, também a
interssetorialidade da polícia.
Em seu diagnóstico sobre as instituições de segurança do Estado, Soares diz:
As polícias brasileiras, de um modo geral, são ineficientes na prevenção
e na repressão qualificada, na investigação e na conquista da
indispensável confiança da população. Problemas ligados à corrupção e
à brutalidade ultrapassam qualquer patamar aceitável. São refratárias à
gestão racional, não avaliam a própria performance, nem se abrem a
controle e monitoramento externos. Não se organizam com base em
diagnósticos sobre os problemas a enfrentar, o modo de fazê-lo, as
prioridades a definir e as metas a identificar. Não planejam sua prática, a
partir de diagnósticos, fundados em dados consistentes, nem corrigem
seus erros, analisando os resultados de suas iniciativas – os quais,
simplesmente, ignoram. São máquinas reativas, inerciais e fragmentárias,
inscritas num ambiente institucional desarticulado e inorgânico, regido por
marcos legais rígidos e inadequados. Os profissionais não são
apropriadamente qualificados e valorizados e as informações não são
ordenadas de acordo com orientação uniforme, que viabilize a
cooperação. Há ainda o dramático sucateamento da perícia e o conjunto
de dificuldades que derivam da dicotomia: polícia civil-PM. (SOARES,
2006, pág. 100)
É evidente, então, a necessidade da reforma das polícias no curto prazo
principalmente sobre a fragmentação da polícia. Segundo Soares, caso políticas
públicas inteligentes não sejam adotadas num futuro próximo, “[...] as
consequências só podem ser o agravamento do atual quadro de violência criminal,
que já constitui uma tragédia, particularmente quando afeta a juventude pobre e
negra, do sexo masculino, provocando verdadeiro genocídio.
Ele acrescenta ainda que:
Esse quadro negativo tende a agravar-se, sobretudo, se persistirem duas
condições: a) um sistema institucional de segurança pública fragmentado,
ineficiente, corrompido, desacreditado, brutal, racista, alimentador do
circuito da violência e da própria criminalidade, que não valoriza seus
profissionais; b) o empreendedorismo do tráfico de armas e drogas, que,
ativamente, tira proveito da precariedade das condições de vida e da
46
vulnerabilidade dos processos subjetivos dos jovens com ralas e raras
oportunidades e perspectivas de integração. (SOARES, 2006, pág. 102)
O sistema institucional do qual fala o autor, no entanto, não deve ser visto apenas
como a somatória dos diferentes órgãos incorpóreos que ocupam prédios
públicos. A sociedade brasileira, da estrata social pouco mais elevada, apoia o
status quo, como exemplificado pelas falas do delegado Hélio Luz, no
documentário Notícias de uma Guerra Particular (Katia Lund, João Moreira Salles,
1999). Uma das falas mais marcantes de Hélio, na entrevista: ”Como você
mantém dois milhões de habitantes [nas favelas] sob controle [...] com repressão,
claro!” Depois, ele complementa, “Há interesse na sociedade em ter uma polícia
não corrupta? [...] Vai ter mandado de segurança e pé na porta em Delfim Moreira,
não é isso? [...] A sociedade vai conseguir segurar isso?”
Analisando alguns dos expoentes maiores da repressão policial, os grupos de
extermínio à margem da lei, a resposta a essa pergunta é não.
2.14 Esquadrões e suas origens
O primeiro “Esquadrão da Morte”, que deu origem ao termo, foi uma organização
paramilitar criada no final dos anos 1960 com o objetivo manifesto de “perseguir e
matar criminosos tidos como perigosos para a sociedade” (JUNQUEIRA et al,
2004, p. 625).
Com início no antigo Estado da Guanabara e sob o comando de Mariel Mariscot,
integrante do grupo de elite da polícia civil fundado pelo então Secretário de
Segurança da Guanabara, Luís França, os "12 Homens de Ouro”10, o modelo de
unidade paramilitar acabou se espalhando rapidamente pelo país. Em geral, os
integrantes dos esquadrões da morte eram políticos, membros do Poder
Judiciário, policiais civis e militares, com apoio de empresários.
10
Artigo de Alexandre Leitão, intitulado “Faca na caveira”, publicado no portal Revista de História em 16/07/2014
47
Uma das organizações mais famosas da década de 60 foi o esquadrão da morte
autointitulado "Scuderie Le Cocq", em homenagem ao detetive Milton le Cocq. O
esquadrão foi ativo até a década de 1990, passando então a perder importância e
o apoio popular devido à ação de integrantes que agiam fora de controle. Porém,
existem indícios de que a organização atue ainda hoje no Espírito Santo11.
Outra organização que se encaixa, portanto, no conceito de esquadrão da morte e
que atingiu fama nacional é a Liga da Justiça, também de origem carioca. Com
modus operandi parecido, porém com atuação concentrada na zona oeste da
capital carioca, o grupo foi uma das primeiras organizações de “milicianos” da
cidade. Não só as atividades do grupo contemporâneo são parecidas como
também os membros do grupo mantêm as mesmas características – em 2009, o
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro condenou um ex-vereador, Jerominho
Guimarães, e seu irmão e ex-deputado estadual, Natalino Guimarães, por
participar da formação da quadrilha armada12.
Segundo definição de Bruce B. Campbell e Arthur D. Brenner, no livro Esquadrões
da Morte em uma Perspectiva Global13,
[...] um esquadrão da morte é uma esquadra paramilitar armada, que
pode ser composta por policiais, insurgentes, terroristas que conduzem
execuções extrajudiciais, assassinatos e desaparecimentos forçados de
pessoas como parte de uma guerra, campanha de insurgência ou terror.
Essas mortes são muitas vezes conduzidas de forma significativa para
garantir o sigilo das identidades dos assassinos, de modo a evitar a
prestação de contas.
O número de organizações paramilitares desde a década de 1960 vem crescendo
e as áreas onde atuam se espalhando pelo país, o que trouxe o aumento não só
da violação de direitos humanos básicos como o da violência como um todo. Pior,
dificilmente os homicídios cometidos por essas forças paramilitares ou milicianas
são completamente investigados – afinal, seus integrantes são muitas vezes os
11
Segundo coluna publicada no jornal Folha de Vitória, em 22 de janeiro de 2015. 12
Artigo do portal G1, intitulado “Ex-deputado Natalino é condenado a 15 anos de prisão”, publicado em 02/03/2010 13
Death Squads in Global Perspective: Murder with Deniability, 2000, MacMillan Press.
48
próprios policiais que deveriam investigar o caso – o que traz ainda mais
problemas para a verificação do número de mortes violentas no Brasil.
As execuções sumárias sempre fizeram parte das formas de violência
praticadas durante a história da humanidade em todo o mundo, por
esquadrões da morte e demais grupos de extermínio (organizações
totalitárias voltadas para a eliminação de pessoas e para a instituição de
terror social). (MENEGHETTI, 2011, pág. 1)
Os esquadrões originados durante o período em referência contêm elementos
comuns, segundo trabalho acadêmico de Meneghetti (2011), Doutor em Educação
pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná. O autor define que os grupos
de extermínio são criados e sustentados em situações econômicas que favorecem
a exploração de atividades ilegais, além de serem também parasitas do poder
político uma vez que dependem de ao menos certa parte da sociedade para o
acobertamento e aprovação das suas atividades.
Em muitas situações, recebem apoio popular e associam-se direta e
indiretamente com o poder jurídico, por interesses mútuos, pela omissão
ou mesmo por coação e intimidação. Portanto, os fundamentos dos
esquadrões da morte constituem-se nessa relação simbiótica com a
exploração de contravenções como tráfico de drogas e armas, roubo de
carros, venda de proteção policial, exploração de jogos ilegais,
prostituição, tráfico de influência e outras, associando-se com o poder
político em benefício recíproco e de proteção por meio do corporativismo
policial e político em solidariedade criminosa. (MENEGHETTI, 2011,
pág. 1)
Segundo a Human Rights Watch (HRW), no Relatório Mundial 2015, facções
criminosas violentas e práticas policiais abusivas são problemas significativos em
muitas cidades brasileiras (2015, pág 115). Nos últimos anos, os governos dos
Estados de São Paulo e Rio de Janeiro adotaram medidas para melhorar o
desempenho das polícias e diminuir os abusos, mas falsos registros policiais e
outras formas de acobertamento persistem.
49
Em sua análise, Meneghetti afirma que os esquadrões da morte são prova de que
o “fenômeno regressivo”, ou seja, a manifestação da violência como mediação das
relações sociais pelo Estado esteve presente no período do Regime Militar e
continua presente na sociedade brasileira atual, apesar de possuir características
distintas – como as milícias do Rio de Janeiro, que têm uma relação menos
simbiótica com o poder público.
Segundo o autor, dois anos antes da formalização do esquadrão da morte no
Estado de São Paulo em 1960, os índices de criminalidade no estado paulista
eram altos. Usando do elevado grau de violência para intimidar a população, as
ações do esquadrão eram legitimadas com a premissa da necessidade de se
partir na ofensiva para controlar a situação, como se fosse uma “guerra” – o que,
consigo, traz uma conotação de que o problema é tão grave que se faz necessária
uma urgência no julgamento e execução da pena, sendo esta a sumária.
No início, suas ações trouxeram a sensação de maior segurança social,
sendo visto como um mal necessário, uma vez que parte considerável da
população apoiava esses grupos exterminadores de criminosos que
espalhavam tanto pânico na sociedade, atribuindo aos seus integrantes
um caráter heroico e tornando-os praticamente intocáveis pela justiça
(BICUDO, 1976, p. 21 apud MENEGHETTI, 2011)
O autor também destaca como fator importante que a Polícia Civil, à época,
encontrava-se em situação precária, com problemas de falta de recursos suas
diligências, citando também a falta de preparo dos policiais e das lideranças no
comando dessas forças, além da desarmonia com a Polícia Militar – fatores que
podem ser observados no Brasil contemporâneo.
De modo geral, a imagem de eficácia, apesar de ilegal, no enfrentamento do crime
que os Esquadrões de Morte procuraram estabelecer desde suas respectivas
criações camuflam o fato de que, na verdade, são contraproducentes para a
diminuição do nível de violência em qualquer lugar que atuem ou se constituam. A
advogada e doutoranda de Sociologia pela USP, Alexandra Teixeira, diz que:
50
Com o Esquadrão da Morte a violência alcançou patamares até então
desconhecidos, tanto por parte dos aparatos policiais como também da
criminalidade. Daí porque ele desempenha um papel ímpar para a
emergência da violência urbana, porque diferentemente de como se
convencionou tratar, o fenômeno do esquadrão da morte não acabou por
repercutir o fenômeno da violência criminal, mas, em certa medida, em
constituí-la (TEIXEIRA, 2015, p. 105)
2.15 Lei Antiterrorismo
Para concluir, o último ponto de análise é de que está cada vez mais nítido que
além de ineficiente em garantir direitos e suprir necessidades básicas, o Estado
passou a negar garantias civis à população. Se de um lado remove forçosamente
antes das novas moradias estarem prontas, de outro cerceia o direito à
manifestação, como faz o “Projeto de Lei 2016/15, de autoria do Poder Executivo,
que prevê a alteração da Lei nº 12.850, de 2 de agosto de 2013, e da Lei nº
10.446, de 8 de maio de 2002, para dispor sobre organizações terroristas, onde se
pretender reformular o conceito de organizações e ações terroristas”. O projeto foi
sancionado este ano.
O projeto de lei define como crime de terrorismo “atos que atentem contra
pessoas, mediante violência ou grave ameaça, motivado por extremismo político,
intolerância religiosa ou preconceito racial, étnico, de gênero ou xenófobo, com o
objetivo de provocar pânico generalizado. Considera ainda terrorismo por
extremismo político qualquer ato que atentar gravemente contra a estabilidade do
Estado Democrático, com o fim de subverter o funcionamento de suas
instituições”.
No Senado Federal, a principal divergência entre os senadores se deu sobre a
garantia de que movimentos sociais não possam ser enquadrados na nova lei. Na
Câmara, os deputados incluíram um parágrafo em que se explicitava que a norma
não se aplicaria à "conduta individual ou coletiva de pessoas em manifestações
51
políticas, movimentos sociais, sindicais, religiosos, de classe ou categoria
profissional".
O dispositivo, no entanto, foi retirado da proposta pelo relator, senador Aloysio
Nunes Ferreira (PSDB-SP), por considerar que a medida criava exceções amplas
que poderiam acabar por inviabilizar a punição de crimes de terrorismo de fato,
segundo reportagem de Mariana Haubert, da Folha de S. Paulo14. O senador
argumentou que, para ser considerado um terrorista, a pessoa passará por uma
definição rigorosa sobre o seu ato, considerando a definição do crime de
terrorismo.
A Anistia Internacional do Brasil criticou duramente o projeto de lei, em
comunicado publicado em seu site15 quando da aprovação do PL, convocando
inclusive uma ação urgente para que seus apoiadores enviassem e-mails à então
Presidente Dilma Rousseff, afirmando que:
[...] o projeto de lei tipifica o crime de terrorismo, mas o faz com uma
linguagem muito ampla e vaga, ficando totalmente sujeito a uma
interpretação subjetiva por parte de juízes e integrantes do sistema de
justiça. O PL também aborda crimes que já são tipificados pela lei penal
brasileira. Não haveria, portanto, a necessidade de um novo projeto de
lei. O que há de novo mesmo nesse PL é a margem que ele dá para uma
maior criminalização de manifestantes e movimentos sociais. As
manifestações públicas e a atuação dos movimentos sociais sempre
foram fundamentais para o avanço da democracia e a luta por direitos no
Brasil. Nossas leis não podem permitir que ativismo seja confundido com
terrorismo. (ANISTIA, 2015)
O diretor executivo da Anistia Internacional do Brasil, Átila Roque, afirmou que a
nova lei significa que “a democracia está sendo manipulada contra a democracia”,
de acordo com comunicado divulgado pela própria ONG em fevereiro de 2016, por
ocasião do lançamento do relatório O Estado de Direitos Humanos no mundo
2015/2016. No relatório, a Anistia vê deputados federais e senadores como os
14
Reportagem pode ser acessada em: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/10/1699904-senado-aprova-lei-antiterrorismo-proposta-voltara-a-camara.shtml 15
Comunicado pode ser acessado em: https://anistia.org.br/noticias/agenda-legislativa-desafia-avanco-de-direitos-humanos-pais/
52
principais vilões nestas e outras pautas polêmicas que representam, segundo a
entidade, um retrocesso na pauta dos direitos humanos no País.
Roque pontua ainda no comunicado:
[...] na ditadura, os atos institucionais legislavam contra as liberdades,
mas neste momento, vemos a Constituição ser manipulada para restringir
direitos e marginalizar setores da sociedade. As políticas de segurança
pública pautadas pela guerra às drogas e a indignação seletiva resultam
em um alto número de mortes principalmente de jovens negros
moradores de favelas e periferias; no campo, o modelo de
desenvolvimento é sustentado pela violência e exploração desenfreada
de recursos naturais colocando em risco populações tradicionais.
(ANISTIA, 2016)
O relatório pontua que a impunidade é uma realidade quando o assunto são os
grupos de extermínio formados por policiais e as torturas dentro de prisões por
todo o País. Esses, e outros casos, foram documentados pela Anistia Internacional
no relatório Eles usam uma estratégia de medo - Proteção do direito ao protesto
no Brasil (2014). São explícitas tentativas de reprimir de forma ampla e sistemática
esses movimentos, taxando manifestantes como criminosos. Como exemplo, o
artista plástico e grafiteiro de São Paulo foi enquadrado na Lei de Segurança
Nacional por participar de um protesto. No Rio de Janeiro, diversos manifestantes
foram enquadrados na Lei 12.850 de 2013, que trata sobre o crime organizado
internacional e as milícias, por estarem se manifestando pacificamente.
53
3. TERROR URBANO
3.1 Proposta
A websérie tem como proposição central suscitar um debate aprofundado sobre a
violência no Brasil e seus fatores, colocando principalmente o fato do país ter o
maior número absoluto de homicídios no mundo à frente das discussões, além de
também oferecer opiniões de especialistas sobre quais seriam soluções ou
caminhos possíveis a serem seguidos para que o cenário da violência possa ser
revertido.
Dividimos a websérie em cinco episódios, que abarcam respectivamente:
Introdução e Lei Antiterrorismo; Rio de Janeiro e Direitos Humanos; Polícias
brasileiras, números, investimentos e violência direcionada; Produção e tráfico de
armas, Estatuto do Desarmamento e PL discutida atualmente no Congresso
Nacional e; Soluções. Isso tanto para que os assuntos abordados pudessem mais
aprofundados, quanto para facilitar que o espectador escolha o momento de
assistir, parar e retomar a websérie quando quiser. A distribuição de forma gratuita
pela Internet é o modal que atende o princípio ético do jornalismo de serviço ao
público com informações de qualidade sobre algo que afeta a sociedade.
Para garantir a qualidade da informação, buscamos um número elevado de fontes
que foram confrontadas com as pesquisas mais atuais à época sobre o nível de
homicídios no Brasil e os diferentes fatores dos quais tratamos.
No entanto, para que tais fatores, que são realmente subtemas do tema principal
do número de assassinatos no país, pudessem ser abordados em sua maioria
tivemos que agrupá-los nos episódios, com o cuidado para que não houvesse
prejuízo ao entendimento de cada um nem à igualdade da abordagem de cada.
54
3.2 OBJETIVO
A websérie documental tem como objetivo retratar o nível de violência no Brasil,
principalmente em suas regiões metropolitanas mais densas, comparando-o com
outros países, para fomentar o debate na opinião pública. Como objetivos
específicos temos:
● Expor e debater o nível e formas da violência no Brasil;
● Propor à sociedade civil a reclassificação do nível de violência enfrentado no
Brasil como “terrorismo” devido às enormes proporções alcançadas;
● Contrastar o nível de violência no Brasil com níveis de outros países,
expondo o fracasso do Estado brasileiro no tratamento do problema;
● Abordar o controle do comércio de armamentos e o tráfico de armas no país;
● Discutir a lei antiterrorismo em debate no Congresso;
● Discutir a problemática da desmilitarização da PM, dos “esquadrões da
morte”, milícias e grupos de extermínio;
● Debater o aval da sociedade brasileira à excessiva letalidade policial,
exemplificada tanto pela conhecida frase “bandido bom é bandido morto”,
quanto por programas televisivos sensacionalistas que conseguem grandes
audiências;
● Apresentar soluções realistas e alcançáveis para o problema;
● Discutir a presença militar em grandes cidades;
● Desenvolver um produto de caráter documental que possa servir como fonte
de pesquisa, tanto em sua parte audiovisual quanto pela parte escrita.
55
4. TRAJETÓRIA DE REALIZAÇÃO E PESQUISA DO TCC
A ideia por trás do projeto nasceu ainda em 2015, durante a Escola de
Correspondentes de Assuntos Militares (Ecam) do Exército Brasileiro. Renan
Fagalde e Ediglei Leandro dos Santos acabaram se encontrando por acaso, entre
os poucos alunos da Metodista, e nas voltas para casa discutiram diversas ideias
sobre um projeto de TCC para o ano seguinte. Afunilando as possibilidades do
que teria impacto ou seria interessante, a disputa ficou entre duas opções: um
documentário biográfico sobre a família imperial brasileira, ou um documentário
sobre terrorismo no Brasil.
As discussões foram retomadas em 2016 e o tema escolhido foi o de terrorismo,
com o nome provisório de “Terror no Brasil”. Porém, em conversas com
professores, especialmente com a professora Alexandra Gonzales, ficou aparente
que o tema não vingaria. A ideia foi adaptada então para um documentário sobre o
número de homicídios no país, trocando o nome para “Terror Urbano”.
A próxima etapa foi a construção de um grupo em torno da ideia. Contudo, a
formação final só seria acertada em julho. Apenas com três membros iniciais -
com Amanda Cássia já no grupo - foi feita uma pesquisa com 700 pessoas em
São Paulo e no ABC, como anexo a este memorial. Seguindo na mesma tradição
de adiantar o que fosse possível, a escolha do Dr. Sérgio Santos como orientador
e o começo das gravações aconteceram ainda em março.
Os percalços foram muitos durante a realização do TCC. Devido à volatilidade
econômica e do cenário político, por várias vezes a logística planejada do grupo
era frustrada por eventos ou acontecimentos repentinos - a Força Aérea, por
exemplo, interrompeu quase todos os voos do Correio Aéreo Nacional uma
semana antes da viagem que havíamos planejado à Bahia e que acabou não se
realizando. Fontes, também sujeitas a intempéries, ficaram indisponíveis
justamente perto de suas entrevistas, como a Anistia Internacional, que cancelou a
entrevista cinco dias antes alegando não poder conceder entrevista apenas para
liberar uma porta-voz para falar à Al Jazeera pouco depois. Outras se recusavam
56
a marcar uma data com certa antecedência, só para recusar terminantemente e
desaparecer quando precisávamos fazer a entrevista.
Estas, como obviamente testemunha o trabalho concluído, foram apenas algumas
fontes. Apesar de terem sido as mais frustrantes, como a ONUDC, também
tiveram sua serventia como aprendizado para todo o grupo. As outras fontes mais
do que compensaram o trabalho perdido, tanto no atendimento ao grupo e
principalmente às respostas dadas à sociedade brasileira.
Não esquecemos em nenhum momento, por mais divertida ou frustrante que fosse
a execução do trabalho em si, que nosso trabalho é estritamente jornalístico.
Tentamos sempre dar direito de resposta ou de indagar à todas as nossas fontes,
e tentamos construir perguntas mais neutras sempre que possível - a não ser
quando julgamos de interesse público ser mais incisivo - para evitar influenciar as
respostas.
O cenário político não foi apenas desafiador para conseguirmos fontes: os dados
sobre homicídios também sofreram. Em pleno ano eleitoral, as autoridades
públicas restringiram bastante o acesso a dados, como exemplificado pelo Mapa
da Violência 2016 - que não traz qualquer dado sobre 2015, apenas refina as
informações de 2014 e elimina tudo o que não foi morte por arma de fogo. Falando
com outras fontes, como o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, descobrimos
que o acesso a dados realmente foi sendo dificultado.
Julio Jacobo Waiselfisz, também entrevistado para a websérie, foi uma das
entrevistas mais elucidativas. Entrevistamos o especialista depois do lançamento
do Mapa da Violência 2016, que não traz dados novos nem dados de homicídios
em 2015. Perguntamos o motivo da ausência dos dados mais recentes, e ele
respondeu com críticas contundentes, como pode ser visto na transcrição da sua
entrevista – os dados demoram cerca de 2 anos para serem produzidos e
liberados pelo Ministério da Saúde. Este foi um dos fatores que levou à não
atualização das referências utilizadas para a produção da websérie documental.
57
A outra foi que o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que também se faz
presente no documentário, lançou o 10º anuário sobre violência no Brasil apenas
no dia 3 de novembro de 2016 – após o período previsto para edição da websérie.
Uma questão que sempre esteve presente com os membros do grupo foi o alto
risco envolvido nas gravações sobre o tema. Diversas fontes simplesmente se
recusaram a dar entrevistas ou a falar sobre o assunto de qualquer modo - exceto
em off absoluto, das quais acatamos o pedido de apenas duas - e as nossas
próprias viagens tiveram uma leve tensão no ar. Buscamos sempre evitar riscos
desnecessários, e contamos com o nosso anonimato para nos livrar do pior,
porém quase todas as nossas fontes já receberam ameaças graves por
trabalharem com o assunto no cotidiano - jornalistas ou não.
Isso apenas reforçou nosso desejo de concluir o trabalho e a nossa determinação
de estarmos fazendo um trabalho realmente jornalístico. A certeza de que
estávamos contrariando interesses poderosos, que querem manter um certo
status quo, é a mesma que nos alimentava a prosseguir com o TCC. Como disse
melhor George Orwell, “Jornalismo é publicar algo que alguém não quer
publicado; o resto é relações públicas”.
Dentre as entrevistas merecem destaque a de Valmir Salaro, jornalista da Globo
que cobriu violência por muito tempo, conhecido tanto pelo caso da Escola Base
quanto pelas coberturas de chacinas emblemáticas (como a do “Rambo” na
Favela Naval), e a de Djamila Ribeiro, secretária-adjunta de Direitos Humanos da
Prefeitura de São Paulo. Ambos falaram não apenas eloquentemente sobre os
temas abordados, mas fizeram afirmações contundentes. Salaro mostrou-se cético
em relação a existir qualquer tipo de solução para o problema da violência no
Brasil, que ele descreveu como uma sociedade “doente”, enquanto Djamila
afirmou categoricamente que a situação no país é um tipo de terrorismo, de guerra
civil, principalmente contra a população negra e periférica. Essas, entre outras
afirmações de ambos, serviram também para reforçar a importância do nosso
trabalho. Não se pode aceitar nem uma situação como a descrita por Djamila, nem
é possível aceitar que se perca de vista a possibilidade de mudança como no caso
58
de Salaro - apesar de perfeitamente compreensível, uma sociedade séria precisa
enfrentar seus problemas sejam eles quais forem, e no caso brasileiro o problema
é o número absurdo de homicídios que acaba com sonhos, projetos, futuros
progressistas, atletas, enfim, pessoas.
O trabalho previa inicialmente que familiares de vítimas de homicídios e fontes
ligadas mais diretamente à Polícia Militar fossem procuradas e participassem do
documentário, contudo as próprias fontes acabaram mudando de ideia sobre dar
entrevistas devido ao perigo inerente em fazer certas afirmações em vídeo. As
“Mães de Maio”, um grupo de mães de vítimas das chacinas ocorridas em maio de
2006, tinham concordado em conceder entrevista inicialmente, porém conforme a
data foi se aproximando algumas das mães se mostraram demasiadamente
preocupadas com processos sobre o assunto que ainda correm na Justiça – não
desejando “dar munição para os advogados deles (policiais que acusam)”. De
modo parecido, militares e PMs da ativa ou já aposentados não se mostraram tão
abertos a dar entrevistas em vídeo, mesmo no formato de rosto oculto e voz
distorcida – como usado para o investigador – por também temerem algum tipo de
represália de superiores ou colegas, já que a websérie não mostraria a PM em
uma luz tão favorável ao ver deles.
4.1 PESQUISA
A trajetória da pesquisa foi muito embasada na literatura existente, nacional e
estrangeira, sobre os diferentes assuntos abordados. Primeiramente tivemos de
elencar o que seria mais útil e atual, na medida do possível, sobre o assunto.
Como a violência brasileira é um assunto que vem chamando cada vez mais
atenção, existem estudos e tratados sobre as mais diferentes facetas do
problema. No entanto, no decorrer da pesquisa inicial decidimos focar sobre o alto
número de homicídios, que a literatura e os dados mais confiáveis disponíveis
apontavam como sendo o maior do mundo – algo que passa em grande parte
despercebido pela população em geral.
59
Como o objetivo do grupo era condensar e apresentar o problema da maneira
mais clara o possível à sociedade, os dados e as raízes dos problemas atuais que
enfrentamos tinham de ser muito bem entendidos. Uma boa parte da pesquisa
também foi feita para justificar a equalização da situação da violência brasileira
com o terrorismo.
As entrevistas com os representantes dos diferentes institutos e autores das
pesquisas referenciadas no trabalho serviram tanto para elucidar alguns pontos
mais claramente ao público no produto final quanto para confirmar as conclusões
às quais o grupo chegou em relação ao problema.
4.2 QUESTÕES ÉTICAS E RESPONSABIIDADE SOCIAL
No decorrer do trabalho diversas questões éticas foram discutidas. Por se tratar de
um assunto de alta periculosidade para todos os envolvidos, principalmente para
as fontes, tivemos de determinar até onde a ética jornalística exigia que fossemos,
por assim dizer, e onde o risco falava mais alto e impedia uma gravação ou
entrevista.
Vimos-nos diversas vezes em situações em que uma fonte só falaria à câmera em
uma situação que garantisse seu anonimato completamente. Apenas duas fontes
acabaram aceitando – o ex-executivo da CBC e o investigador – enquanto outras
só aceitavam falar em off total, principalmente militares e PMs da ativa e familiares
de vítimas. Principalmente em relação aos familiares de vítimas, a questão de até
onde era ético questionar e tentar fazer a fonte contar a história se fez muito
presente, afinal recontar a história da perda de um familiar para a violência sem
sentido é algo doloroso demais.
Outra questão ética também importante foi a de dar o direito de resposta às
pessoas públicas e instituições governamentais acusadas pelos entrevistados.
Diversas vezes ao longo da produção da websérie o contato foi tentado, com
diferentes órgãos, mas só realmente rendeu frutos com a Secretaria de Segurança
Pública da Bahia – nota que acabou reproduzida em destaque na websérie. Vale a
60
ressalva de que 2016 foi um ano atípico na política brasileira, com impeachment e
eleições ocasionando diversas trocas nas pastas estaduais e federais, o que pode
ter colaborado para a falta de retorno das instituições e órgãos que não
responderam diretamente a nós – outras nos direcionaram a entrevistas recentes
concedidas por seus representantes em coletivas, enquanto algumas ainda
colocaram barreiras no caminho à obtenção de uma resposta por ainda sermos
estudantes.
Também houve o dilema sobre mostrar ou não corpos de vítimas de homicídios no
produto audiovisual. O argumento que prevaleceu, pela exibição de alguns corpos
em momentos-chave, foi de que se algum espectador sentir-se desconfortável ao
ver um corpo estirado na tela, o momento será usado para tentar conscientizá-lo
de algum modo que outros 58 mil, ao menos, existem no país - e que ele e outros
“brasileiros médios” normalmente não se importam. Mostrar, portanto, que se um
corpo causa desconforto, é do interesse de todos que menos mortes ocorram no
Brasil.
Como diz o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, a produção e
disseminação de informações devem ser pautadas pela verdade dos fatos com a
finalidade de servir o interesse público, e nosso trabalho foi norteado todo o tempo
por essa diretriz. Realizamos nosso produto com o objetivo de conscientizar e
mover à ação o maior número possível de pessoas pela diminuição da violência
no Brasil, que já é mais do que absurda, sendo a maior em números absolutos em
todo o planeta.
4.3 AVALIAÇÃO GERAL
Já citamos o fato do Brasil ser o país mais violento do mundo. A pequena
exposição que esse fato – não a violência rotineira nem a cobertura
sensacionalista de um caso ou outro - tem na mídia e a baixa conscientização
sobre o tema entre a população serve de terreno fértil para que um produto como
o produzido seja um pivô de discussões.
61
O formato escolhido, o modo de distribuição e a linguagem utilizada colaboram
para que o público alcançado seja o maior possível. O audiovisual, como
demonstrado anteriormente pelos dados trazidos da PBM 2015, ainda é a
preferência do brasileiro para obtenção de informações.
O trabalho nos desafiou e nos colocou em contato com um formato que poucos
tentam, ainda mais com essa duração total. O crescimento acadêmico e
profissional do grupo após a realização do documentário, em todos os aspectos da
atividade de jornalista, é palpável. Além disso, a execução do projeto ajudou cada
integrante a conhecer suas limitações, suas preferências e nichos de atuação.
Por se tratar de um projeto ambicioso, tanto em escopo como pauta, com um outro
olhar sobre um problema real de toda a sociedade brasileira, a websérie servirá
como um portfólio como poucos para seus integrantes.
4.4 PÚBLICO-ALVO
Apesar de ambicioso, tivemos como público-alvo em mente durante a realização
do trabalho a sociedade brasileira como um todo, independente de classe social,
maior de 18 anos (por conta do tema e das cenas fortes). A violência brasileira
permeia classes sociais, credos, idades e estados civis, e embora os números de
homicídios estejam bem concentrados em um estrato social particular – negros,
jovens e pobres – o número de assassinatos que ocorre no país é traumático. Tal
realidade precisa ser enfrentada por toda a sociedade, para que a sangria seja
contida.
Assim, adotamos uma linguagem que pudesse ser a mais universal possível.
Como já citamos, a PBM 2015 mostrou que a modalidade vídeo é a que mais tem
audiência e alcance, enquanto os outros modais tem menor penetração. Segundo
a PBM 2015, 95% dos entrevistados afirmaram ver TV, sendo que 73% têm o
hábito de assistir diariamente. A preferência do brasileiro pelo audiovisual é clara
62
ante 55% que disseram ouvir rádio (30% responderam que ouvem rádio
diariamente), 21% que disseram ler jornais e 13% que responderam ler revistas.
Novamente, conforme a pesquisa da Secom, 48% dos brasileiros já utilizam a
internet. A rede aglutina diversas vantagens em comparação à produção e
distribuição de um documentário de modo tradicional, pois permite que o
espectador veja o conteúdo na hora que desejar, onde quiser e em qualquer
aparelho que preferir. A hospedagem do conteúdo também é gratuita em sites
como YouTube, e a viralização da websérie pode ser alcançada tanto de modo
espontâneo quanto com estratégias bem aplicadas.
4.5 PROJETO EDITORIAL
A linha editorial do documentário foi pautada na conscientização do brasileiro
sobre a realidade da violência, da estratégia atual e seus resultados, e do que
realmente precisa ser feito para conter a alta dos números. Buscamos também
aprofundar ainda mais o debate em torno da questão, por julgarmos que a atenção
dada pela mídia tradicional é insuficiente, superficial ou do tipo sensacionalista.
Com pesquisadores, intelectuais, testemunhas e personagens de alguma forma
envolvidos com a evolução da brutalidade da violência brasileira, a websérie é
composta por seus depoimentos e uma narrativa que expõe dados, induz o
telespectador a um questionamento mais amplo ou ação e monta o quadro geral
da violência no Brasil.
A preocupação com a melhor contextualização dos depoimentos e a apresentação
de dados tornou a presença de uma narrativa em off absolutamente necessária.
Com a narração em apoio, pudemos também direcionar os especialistas e
testemunhas a falar daquilo que tinham mais conhecimento.
Para atrair e segurar a atenção do espectador, buscamos e conseguimos um
narrador que já dominasse técnicas de dicção e narração, além de uma voz
adequada e conhecida, e assim chegamos a Felipe Bueno, jornalista e radialista
63
do Grupo Bandeirantes. Com pouco direcionamento necessário, Bueno conseguiu
produzir uma narrativa envolvente e mais do que adequada ao tema, produto e
público.
4.6 DESCRIÇÃO DO PRODUTO
A websérie será composta por cinco episódios de cerca de 26 minutos cada,
divididos para que os problemas apresentados possam ser discutidos com uma
profundidade maior do que normalmente se faz na mídia.
O primeiro episódio, portanto, além de introduzir o tema geral e contrastar o por
que da nossa violência não ser chamada de terrorismo, também aborda a questão
da lei antiterrorismo aprovada neste ano e a violência nos protestos.
O segundo episódio pega o tema do Rio de Janeiro que, inclusive de acordo com
um de nossos entrevistados e autor de uma das principais pesquisas sobre o
tema, Júlio Jacobo, é muito sui generis para a discussão da violência no país. O
episódio usa o cenário das Olimpíadas para expor que o esquema especial de
segurança e os altos investimentos extraordinários não impediram o Rio de
decretar calamidade pública e pedir reforços da União para garantir um semblante
de segurança durante os eventos – que ainda viram um alto número de corpos.
Os outros dois episódios focam na produção e tráfico de armas, sobre como as
fronteiras não são o principal problema e sim o tráfico interno por corrupção, o
Estatuto do Desarmamento e como nunca foi totalmente cumprido; e a letalidade
policial, com os problemas das polícias civis, militares e a relação com integrantes
de comunidades pobres, negros, grupos de extermínio além de expor que a
estratégia atual de combate ao crime não funciona.
Reservamos ao último episódio a exposição das soluções dos problemas, como
expostos e defendidos pelas fontes, após uma rápida recapitulação de quais são.
64
4.7 FONTES E ENTREVISTADOS
1. Armando Novaes – Delegado em São Paulo
2. David Marques – Pesquisador do Fórum Brasileiro De Segurança Pública
3. Rafael Custódio– Coordenador da Área de Justiça da Conectas
4. Luiz Carlos dos Santos – Conselheiro do CONDEPE
5. Felippe Angeli – coordenador de Advocacy do Sou da Paz
6. Djamila Ribeiro – Secretária-Adjunta de Direitos Humanos de São Paulo
7. Ex-executivo da CBC (fonte anônima)
8. Investigador (fonte anônima)
9. Valmir Salaro – Jornalista da Rede Globo
10. Bruno Paes Manso – Coordenador do núcleo de violência do NEV-USP
11. Julio Jacobo Waiselfisz – Sociólogo e autor do Mapa da Violência
12. Gabriela Biló – Fotojornalista do Estado de S. Paulo
13. Eduardo Matarazzo Suplicy – ex-Senador da República
14. Bruno da Silva Cardoso – morador do Rio de Janeiro
15. Marília Rosário – moradora do Rio de Janeiro
16. Luciano Silveira Eifler – morador do Rio de Janeiro
17. Eloisio da Silva – morador do Rio de Janeiro
18. Leonardo Souza Dos Santos – Estudante de Filosofia PUC-SP / Vítima de
violência policial em manifestações
19. Manifestantes em durante protesto na Avenida Paulista
4.8 EQUIPAMENTOS UTILIZADOS
4.8.1 Gravação
1. Câmera de filmagem
2. Microfone Boom
3. Microfone Lapela (com e sem fio)
4. Set lights
65
5. Tripé de câmera
6. Pilhas e baterias – câmeras e microfone
7. Câmeras GOPRO Hero3
8. Gravadores de áudio
4.8.2 Transporte
1. Carros – propriedade dos alunos do grupo
2. Transporte público – em geral
4.8.3 Edição
1. Final Cut Pro – programa de edição de vídeo
2. Ilustrator – programa de edição de imagens
3. Photoshop – programa de edição de imagens
4. Adobe Premiere Pro CC 2015 – programa de edição de vídeo
4.9 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
Elaboramos um pré-projeto embasando toda a pauta do produto com pesquisas
nacionais e internacionais. Além disso, o pré-projeto contava com histórico,
justificativa, abordagem e objetivos específicos. Projetamos e executamos uma
pesquisa de campo sobre o tema com 700 pessoas.
Após a aprovação do pré-projeto, montamos o cronograma e a roteirização das
perguntas às fontes. Partimos então, na pré-produção, à viabilização das
entrevistas com as fontes escolhidas e que disponibilizaram tempo para participar
da websérie.
66
Durante a produção, todas as gravações de entrevistas foram feitas por
integrantes do grupo. As entrevistas foram decupadas em sua totalidade.
Foram feitos roteiros para cada episódios, que foram narrados por Felipe Bueno. A
edição dos episódios foi feita nos estúdios da UMESP.
Algumas imagens utilizadas na websérie não foram produzidas pelo grupo e
recebem os devidos créditos ao final de cada episódio do produto.
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2016.
ANEXOS
ANEXO A – PESQUISA DE CAMPO
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Este capítulo apresenta as principais etapas do processo de planejamento, coleta
e processamento de informações realizadas na pesquisa pelo grupo, e pretende
retratar um panorama do estudo do ponto de vista metodológico. Serão abordados
os seguintes pontos: perguntas realizadas; instrumento de coleta; plano amostral;
coleta de dados e processamento de dados.
Foram feitas as seguintes perguntas aos entrevistados:
Você se sente seguro?
Você acha o Brasil um país perigoso para se morar? Você confia nas forças
policiais?
Você acredita que a população vive uma situação de terror ou pânico
urbano?
Você acha que o Estado é ineficiente para garantir segurança pública?
Você costuma assistir, ouvir ou ler noticias ou reportagens jornalísticas
sobre violência e insegurança?
Você costuma assistir a algum dos seguintes programas: Cidade Alerta da
Rede Record, Brasil Urgente da Rede Bandeirante ou algum outro similar?
Você concorda com a afirmação de que Direitos Humanos no Brasil é
apenas para bandido?
Você assistiria a um documentário que abordasse com profundida questões
ligadas a segurança pública?
A coleta de dados foi realizada por meio de questionário estruturado com
perguntas pré-elaboradas e de possibilidade de resposta fechada, onde as únicas
possibilidades de respostas eram: “sim”, “não”, e “não sei ou não quero
responder”, aplicado por meio de formulários impressos, em entrevistas face a
face nas ruas na região do ABCD e São Paulo Capital.
Para o desenho amostral da pesquisa foram utilizados os dados do Censo
Demográfico Brasileiro de 2010 do IBGE, que estima a população das cidades,
citadas a cima, em 13 milhões 856 mil e 293 habitantes. Isso permitiu garantir a
representatividade do universo da população de 16 anos ou mais. O tamanho total
da amostra foi fixado em 700 entrevistas, ou 0,072% da população distribuídas em
todos os municípios pesquisados.
A escolha dessas cidades também não foi à revelia, já que dados do Censo 2010
mostram que 35,4% da população não reside no município natal, sendo que
14,5% (26,3 milhões) moravam em outro estado. O Estado de São Paulo tem o
maior percentual deste número, principalmente nas regiões do ABC e da Capital,
com 30,41% (8 milhões). Essa informação permite dizer que conseguimos obter
representação, ainda que pequena, da opinião e dos hábitos de consumo de
brasileiros de diferentes estados e municípios.
Resultados da pesquisa
A seguir serão apresentados os resultados da pesquisa realizada por meio de
gráficos, a fim de facilitar a compreensão das informações dispostas nesse
trabalho. Antes, apresentaremos o perfil das pessoas que responderam as oito
perguntas da pesquisa de campo. Para tanto, essa seção foi dividida em três
tópicos, a saber: gênero dos entrevistados; faixa etária; e escolaridade.
Dentre as 700 pessoas ouvidas pela equipe, 55,57% delas eram mulheres
enquanto 44,43% eram homens.
O perfil das 700 pessoas entrevistas divide-se da seguinte maneira, quanto à faixa
etária: cerca de 30% das pessoas tinham idade entre 16 a 25 anos, 30,71%
tinham idade entre 26 a 35 anos; seguidas por 18,42% com idade entre 36 a 45;
12,57% com 46 a 55 anos; e 8,28% das pessoas tinham idade igual ou superior a
56 anos.
Os resultados permitiram saber que: 0,28% dos entrevistados eram analfabetos;
9,71% tinham apenas o ensino básico; 38,85% tinham estudado até o ensino
médio; 0,14% concluíram o ensino técnico; 49,42% estavam estudando ou tinha
concluído o ensino superior; 1,57% concluíram a pós-graduação ou mestrado.
Abaixo, apresentam-se as respostas dadas pelas pessoas que responderam as
oito perguntas da pesquisa de campo.
Quando questionados sobre a sua sensação de segurança, 67,42% disseram não
se sentirem seguros; 30,85% responderam que se sentem seguros e 2,28% não
quiseram ou não responderam à questão.
Quando questionados se consideravam o Brasil um país perigoso para se morar,
72,57% disseram que sim; 24,14% disseram não considera-lo perigoso para se
morar; e 3,28% não quiseram ou não responderam a esta questão.
Ao serem interpeladas quanto à confiança que tinha nas forças policiais, 59,71%
responderam que não confiavam na polícia, contra 29,85% que confiavam. Porém,
10,42% não quiseram responder ou não sabiam opinar sobre o assunto abordado,
e por este motivo usamos em um segundo gráfico apenas as respostas validas
(sim ou não) com o seguinte resultado:
Nessa composição 66% das pessoas ouvidas responderam que não confiavam na
polícia contra 33% que diz confiar na instituição pública.
Sobre esta questão, 80% das pessoas ouvidas afirmaram acreditar que a
população brasileira está aterrorizada ou em pânico por conta da violência. Outros
17% disseram não acreditar nessa possibilidade e 3% não souberam ou não
quiseram responder a perguntar.
Cerca de 86,57% das pessoas ouvidas, consideraram o Estado ineficiente para
garantir segurança pública, enquanto outros 10,14% discordaram e 3,28% não
souberam ou não quiseram responder a perguntar.
Quanto aos hábitos de consumo de noticiários e informações jornalísticas, 74,42%
disseram assistir, ouvir ou ler algum tipo de reportagem sobre segurança e
violência. 23,42% disseram que não assistem, ouvem ou leem reportagens sobre
o assunto e 2,14% não souberam ou não quiseram responder à pergunta.
Quanto aos hábitos de consumo sobre programas policiais como Cidade Alerta da
Rede Record, Brasil Urgente da Rede Bandeirantes ou similares: 48,28%
disseram assistir, 50% disseram que não assistem e 1,71% não souberam ou não
quiseram responder a perguntar. Entretanto, deve ser feita uma ressalva sobre
esta questão, já que durante a análise dos dados foi observado que 38,91% das
pessoas que afirmaram não assistir programas jornalísticos na pergunta 6
responderam que assistem aos programas citados na pergunta 7. Isso pode
levantar questões sobre a percepção do público sobre tais programas – são eles
considerados “jornalísticos” por todos?
Quando perguntados se concordavam com a afirmação de que Direitos Humanos
no Brasil se aplicava apenas para bandidos: 51,71% responderam concordar com
a afirmação, 41,28% discordavam da afirmação e 7% não sabiam ou não
quiseram responder à pergunta.
Novamente, fazendo uso apenas das respostas válidas o cenário fica assim:
Nessa composição 56% das pessoas ouvidas responderam que concordam com a
afirmação, enquanto que 44% discordam da afirmação.
A nona e última pergunta tinha como objetivo compreender se o documentário,
aqui proposto, teria espectadores que permitiriam sua produção. Como visto, 92%
responderam que assistiriam a um documentário que abordasse com profundida
questões ligadas a segurança pública, outros 7% responderam que não
assistiriam e 1% disse não saber ou não quiseram responder.
ANÁLISE DA PESQUISA DE CAMPO
Na análise do perfil dos entrevistados, o grupo já esperava que as mulheres
fossem maioria na pesquisa, tendo em vista que o Censo, conjunto de dados
estatísticos do IBGE 2010, mostra que a população feminina no Brasil é superior à
masculina, com 51% da totalidade da população. A presença de grupos de
diversas faixas etárias, assim como a presença de pessoas com distintos níveis de
escolaridade corrobora a afirmação de que a pesquisa conseguiu garantir a
representatividade de todas as camadas da sociedade brasileira.
A respeito dos resultados entende-se que a população brasileira aqui
representada não se sente segura e de fato considera o Brasil um país perigoso
no qual viver. Os dados revelam uma população amedrontada, aterrorizada e
insegura, o que reforça o clima de violência e coloca o país entre os mais
perigosos do mundo. Porém, esta mesma população não demostra confiança nas
instituições governamentais responsáveis por garantir segurança e ordem pública.
A falta de informação é outra questão a ser destacada, com mais de 20%
respondendo que não assistem, ouvem ou leem conteúdo jornalístico sobre o
assunto. Quase a metade dos que se informam, afirmaram o contrário – apesar de
não ter sido auferido se exclusivamente - por meio de programas sensacionalistas
que glamorizam e exageram aspectos da violência em busca de audiência,
contribuindo muitas vezes para amplificar o sentimento de temor e pânico na
população, sem preocupação com os objetivos do jornalismo de informar com
responsabilidade, e fomentar o debate na opinião pública. Esse cenário resulta em
um país descrente em direitos humanos, cuja maioria da população acredita que
um direito universal “vale apenas para bandidos”.
Analisando especificamente a última pergunta, notou-se que as pessoas que
responderam discordar da afirmação de que direitos humanos só eram aplicados a
bandidos, tinham como características principais a baixa idade e a falta de hábito
de assistir a programas policiais.
ANEXO B – LAUDAS ROTEIRIZADAS
RETRANCA: EPISODIO 1
PAUTA: TERROR URBANO
EDITOR: RENAN FAGALDE/ ALYSSON RODRIGUES/ÉDIGLEI LEANDRO
TEMPO: 28’28’’
**COBRE COM IMAGENS ILUSTRA GIRO
CIDADES**
Tempo:0’40”
**IMAGENS PESSOAS, RIO, ARMAS,
VIATURAS, MORTOS**
**RODA VHT **
Tempo: 0’25”
Trilha branca 22
**IMAGENS TV VIOLÊNCIA**
ESSA É UMA SÉRIE QUE VAI TRATAR DE UM
PROBLEMA PRÓXIMO DE TODOS OS
BRASILEIROS: A VIOLÊNCIA/ ASSUNTO QUE
MUITOS ACHAM QUE CONHECEM A FUNDO,
DAS RAÍZES ÀS SOLUÇÕES/ E NÃO É BEM
ASSIM//
VAMOS FALAR DA SITUAÇÃO DO RIO DE
JANEIRO E DE OUTROS PONTOS DO PAÍS/
VAMOS ABORDAR O TRÁFICO DE ARMAS, DE
DROGAS/ IREMOS FALAR DAS POLÍCIAS E
DESMILITARIZAÇÃO, ABUSO DE DIREITOS
HUMANOS, ESTATÍSTICAS E MEA CULPAS/ E
VAMOS TENTAR MOSTRAR UMA LUZ NO FIM
DO TÚNEL//
TÚNEL ESSE QUE É A ROTINA NO BRASIL,
CHEIA DE MORTES, CHEIA DE SANGUE E
CHEIA DE APATIA/
DESSE BRASIL/ MEU BRASIL BRASILEIRO/ MEU
MULATO INZONEIRO/ TERRA DE NOSSO
SENHOR/ E DE SANGUE E TIROTEIO//
O BRASIL QUE VEMOS NA PROPAGANDA DA
TV, É LINDO, PACÍFICO, UMA TERRA CHEIA DE
SORRISOS./ VISTA COMO A TERRA DO SAMBA
PELOS ESTRANGEIROS.// MAS OS
BRASILEIROS SABEM QUE VIVER NESSE PAÍS
**ILUSTRA BANDEIRA DO
BRASIL/BRASÍLIA**
**ILUSTRA STF/FRONTEIRA PARAGUAI**
**ILUSTRA BRASÍLIA**
GC: Nº HOMICÍDIOS MAPA DA VIOLÊNCIA
**ILUSTRA ASSASSINATOS**
**ILUSTRA IMAGENS HISTÓRICAS
DITADURA**
**ILUSTRA PESSOAS ANDANDO**
**SOBE SOM**
ESTÁ BEM LONGE DISSO//.
NO HINO DO BRASIL, SOMOS UM POVO QUE
NÃO FOGE À LUTA/ A VERDADE É QUE ESSE
POVO PARECE BUSCAR A LUTA COM SEDE
CADA VEZ MAIOR DE SANGUE.//
TODO MUNDO ACHA QUE CONHECE SOBRE A
VIOLÊNCIA NO BRASIL/ QUE O PROBLEMA É A
IMPUNIDADE/ AS ARMAS QUE VÊM DO
PARAGUAI/ QUE A SITUAÇÃO AQUI É RUIM MAS
QUE EM ALGUM OUTRO PAÍS CERTAMENTE É
PIOR//
SEGUNDO DADOS CONFIÁVEIS FORAM CERCA
DE CINQUENTA E OITO MIL HOMICÍDIOS NO
BRASIL EM 2014/ E PRESTE ATENÇÃO QUE
DISSEMOS “DADOS CONFIÁVEIS” E “CERCA
DE”/ A BAIXA QUALIDADE DOS DADOS AQUI
DIFICULTA SABER UM NÚMERO PRECISO//
E AS MORTES NO PAÍS NÃO VÃO PARAR DE
CRESCER TÃO CEDO/ DESDE A DITADURA A
TÁTICA DE COMBATE AO CRIME CONTINUA
BASICAMENTE A MESMA/ E NESTE PERÍODO O
NÚMERO DE CORPOS NAS RUAS NÃO PARA
DE CRESCER//
VOCÊ PROVAVELMENTE JÁ SE PERGUNTOU
SE VOLTARIA VIVO AO FINAL DO DIA PARA
CASA.. //
**ILUSTRA ENTREVISTADOS/PESSOAS**
**IMAGENS MANIFESTAÇÃO PAULISTA**
**IMAGENS PONTOS TURÍSTICOS**
**Sonora JULIO JACOBO 1**
GC Julio Jacobo Waiselfisz
Pesquisador e autor do Mapa da Violência
Deixa inicial: “Meus mapas têm um
levantamento...”
Deixa final: “...gente que 40 conflitos armados
no mundo somados”
TC IN: 14:30
TC OUT: 20:23
GC: VIA INTERNET
FALAMOS COM PESSOAS COMUNS, FALAMOS
COM ESPECIALISTAS, FIZEMOS PESQUISAS E
ESTUDOS DO TEMA/ O BRASILEIRO É UM
POVO ATERRORIZADO/ É O PAÍS QUE POSSUI
O MAIOR NÚMERO DE HOMICÍDIOS NO
MUNDO//
E POUCA GENTE SABE/ POUCOS PROTESTAM/
A VIOLÊNCIA JÁ VIROU COTIDIANO//
MAS O BRASIL NÃO É UM BOM LUGAR DE SE
VIVER, NÃO É UMA TERRA ABENÇOADA POR
DEUS E BONITA POR NATUREZA?/ NÃO É
EXAGERO PENSAR QUE É TÃO RUIM ASSIM?//
Meus mapas têm um levantamento dos conflitos
armados no mundo, sempre faço essa comparação,
e há um instituto da paz na Suécia, da universidade
de Uppsala, que vem produzindo trabalhos desde a
segunda guerra mundial, que está referenciado no
meu trabalho. Instituto dos conflitos e da paz. Eles
fazem um levantamento anual dos conflitos
armados no mundo e o número de mortes que
houve. Em 2013, por exemplo, se registraram 40
conflitos armados no mundo: síria, Iraque,
Bangladesh etc., onde houve conflitos armados, ou
internos ou entre países. Em 40 conflitos armados
morreram aproximadamente 25-29, 20 e poucas mil
pessoas. No Brasil, sem conflitos armados com
ninguém, sem conflitos de fronteira, sem conflitos
religiosos – pelo menos não conflitos armados –
sem conflitos devido à língua, como em alguns
países como o Canadá. Sem nenhum desses tipos
de conflitos consegue matar muito mais gente que
40 conflitos armados no mundo somados.
**ILUSTRA BANDEIRA/ASSASSINATOS**
**IMAGENS FRONTEIRA**
GC: Felipe Angelli
Coordenador de Advocacy – SOU DA PAZ
**SONORA SOU DA PAZ**
TC IN: 03:57:20.00
(CLIP 3)
TC Out: 04:07:54.03
VEJA SE VOCÊ CONHECE O BRASIL MESMO: O
NOSSO PAÍS MATA MAIS QUE TODAS AS
GUERRAS JUNTAS POR ANO/ MORRE GENTE
DE TODOS AS MANEIRAS, EM BRIGA DE
FAMÍLIA, VIZINHOS, NAMORADOS, NO
TRÂNSITO/ TEM A GUERRA ETERNA CONTRA O
CRIME E AS DROGAS//
E CERTAMENTE AS ARMAS QUE VÊM DO
PARAGUAI TÊM UM PAPEL GRANDE NISSO
CERTO?//
...temos problemas de fronteira, não tenho a menor
dúvida em relação à isso, existe contrabando, seja
de armas, cigarros, existe contrabando, não tenha a
menor dúvida, algumas armas vem do Paraguai,
inclusive algumas voltam, só para fazer uma
triangulação e fazer um nível de rotatividade, mas
essa não é a melhor parte, de fato, uma coisa que a
gente acompanhou, o tema...um dos grandes
problemas um dos grandes problemas das armas
de fogo está relacionada a cenas institucionais, das
cenas de policiais, das cenas de empresas de
vigilância, isso e um grande problema, um grande
foco de desvio de armas de fogo, armas
apreendidas por exemplo, foi outra coisa que nunca
saiu do papel exatamente no estatuto do
desarmamento. O que que o estatuto diz? Teve um
crime específico, a polícia apreendeu uma arma
associada a um crime específico, a arma fica
disponível pra justiça, pra fazer a perícia e utilizar
como prova. Uma vez, o estatuto determina, que a
justiça utilizou aquela arma, não há mais serventia
pro processo, ela tem que ser imediatamente
destruída, o que não acontece. Elas ficas
armazenadas em salas muitas vezes com
cadeadinhos, milhares de armas não registradas,
sem o menor levantamento, sem o menor
inventariamento daquela arsenal. Arsenais
**ILUSTRA AÉREAS
MINISTÉRIOS/ARMAS**
**ILUSTRA POLÍCIA**
**ILUSTRA CORPOS/PESSOAS**
**SONORA JACOBO**
DEIXA INICIAL: Não tem país com maior
densidade ou com maior número de
população...
DEIXA FINAL: ... são as instituições que
primeiro violam essa lei.
TC IN: 09:46
TC OUT: 13:26
imensos. É óbvio que isso se desvia, qualquer
pessoa entra lá e pega a arma que quiser, enfim.
OS MINISTÉRIOS PÚBLICO FEDERAL E O DA
JUSTIÇA FORAM PROCURADOS MAS NÃO
QUISERAM SE PRONUNCIAR./ ENQUANTO ISSO
AS ARMAS CONTINUAM CIRCULANDO E GENTE
VAI CONTINUAR MORRENDO//
NO ENTANTO ISSO NÃO É SINTOMA DE FALTA
DE INVESTIMENTO EM SEGURANÇA/ TODO
ANO O ORÇAMENTO DE SEGURANÇA CRESCE/
COM OU SEM A CRISE/ COM A PROMESSA DE
QUE COM MAIS INVESTIMENTO A VIOLÊNCIA
SERÁ CONTIDA//
SÓ QUE O NÚMERO DE HOMICÍDIOS NÃO PARA
DE CRESCER, E NÃO VAI PARAR TÃO CEDO//
E PORQUE NÃO PARA DE AUMENTAR? QUE
FATORES IMPEDEM QUE O BRASILEIRO VIVA
COM MENOS VIOLÊNCIA?//
ANTES, PRECISAMOS SABER COMO
CHEGAMOS A ESSE NÍVEL DE VIOLÊNCIA//
[...] em números absolutos 59 mil homicídios, quase
60 mil homicídios em 2014, [o Brasil] é o Estado
que mais mata quantitativamente no mundo. Não
tem país com maior densidade ou com maior
número de população, os Estados Unidos são
maiores, Paquistão é maior, Índia é maior, assim,
estes países não chegam perto do número de
mortes do Brasil.
O que acontece no Brasil? Criou-se uma mitologia
fundante, justificante, através da sociologia, das
entidades da sociedade civil, a teoria do brasileiro
cordial. (Sérgio) Buarque de Holanda tem um
trabalho que diz que o brasileiro é puro coração, é
**SONORA DJAMILA**
GC: DJAMILA RIBEIRO
SECRETÁRIA-ADJUNTA DE DIREITOS
HUMANOS
DEIXA INICIAL: Uma das justificativas que a
gente ouviu ...
DEIXA FINAL: ...acha que a justificativa é
matar essas pessoas né.
**COBRIR COM IMAGENS PESSOAS
COMUNIDADES**
boa praça. E outra, Gilberto Freire em Casa Grande
& Senzala, divulga a teoria da democracia racial do
Brasil, que no Brasil reina a democracia racial. Que
sim, houve a escravatura, é inegável, mas que o
senhor era bonzinho, boa praça etc., e que o
escravo era um escravo alegre, tanto que dançava,
fazia capoeira etc. e assim, não havia segregação
racial que existia, por exemplo, na África do Sul,
nos EUA. Quer dizer, o Brasil quis vender a imagem
através da sociologia, através da música...,
exaltando a negritude, exaltando a sua democracia
racial para vender para o mundo. Só que essa
democracia racial era realmente fachada. Os
negros não pensam que houve democracia racial
nem que existe hoje democracia racial no Brasil.
No Brasil morre muito negro porque tem uma
categoria de população que é matável. Tem seres
humanos no Brasil que são matáveis sem
problemas. Mendigos, meninos de rua, etc. etc. são
matáveis, ninguém vai lamentar muito e é melhor
para a sociedade porque vai gerar processo, vai
gastar muita grana, então para que vamos entrar
nisso? Então aparecem grupos de extermínio nas
próprias instituições que deveriam fazer cumprir a
lei, são as instituições que primeiro violam essa lei.
É uma resposta bem demagógica né na verdade,
né não querem assumir a responsabilidade nesse
extermínio da população negra, e aí trata a questão
da desigualdade pra um olhar politivista que
descriminaliza a pobreza. Na verdade, essas
pessoas que estão numa situação de
vulnerabilidade, de pobreza, ela já tem a ausência
do estado desde o início, o estado já falhou com
essas pessoas, ai depois esse estado vai e mata
essas pessoas ou encarcera em massa essas
pessoas né. Então eu acho que a falta de olhar, e
de assumir a responsabilidade dessa ilegalidade do
**SONORA CONDEPE**
GC: LUIZ CARLOS
Conselheiro do CONDEPE-SP
DEIXA INICIAL: A gente chegou dessa forma,
entendo né
DEIXA FINAL: ...ai ela volta pra sociedade e
ela não tem apoio da sociedade.
TC IN: 01:59:19.06
(CLIP 00005)
TC OUT: 02:02:10.03
**ILUSTRA IMAGENS PAÍSES**
GC: COMPARAÇÃO MORTALIDADE
**IMAGENS
estado que já trata essas pessoas de forma
desigual, e quando se por um acaso, essas
pessoas tendem a ir para alguns caminhos, acha
que a justificativa é matar essas pessoas né. Então
acho que é um pouco da falta do quanto que o
debate racial sério no Brasil, é essa ausência do
debate social faça que temos conversas como
essas, porque a gente ta em um país,
extremamente racista, onde as pessoas não
querem discutir racismo, não querem entender que
o racismo tá na base dessa sociedade e não
querem, onde o estado não quer assumir a sua
responsabilidade, pela sua omissão em relação a
essas pessoas.
A gente chegou dessa forma, entendo né, tem
outras pessoas que tem outras opiniões, mas
acredito que é tudo fatores que contribuíram para
isso, o problema de desemprego, a questão social,
a questão de você não ter saúde, não ter escola, a
criminalidade começa de uma forma pequena e vai
crescendo, a pessoa ela vai presa, aí ela volta pra
sociedade e ela não tem apoio da sociedade. Uma
vez que o nome dela fica registrado no sistema de
polícia, criminaliza, muitos deles não conseguem
voltar pra sociedade, voltam pro mundo crime
porque não têm outra alternativa.
PARA COMPLETAR, O BRASIL VEM
QUEBRANDO RECORDES EM RELAÇÃO À
VIOLÊNCIA.//
O PAÍS MATA DUZENTOS E SETENTA E
QUATRO VEZES MAIS QUE HONG KONG./
MORREM CENTO E TRINTA E SETE VEZES O
NÚMERO DA INGLATERRA E NOVENTA E UMA
HOSPITAL/ESCOLA/POLICIAIS**
**ILUSTRA PRESÍDIO**
SOBE SOM
**IMAGENS DITADURA**
**IMAGENS FACHADA CBC**
**SONORA**
**ARTE ANONIMO**
TC IN: 8:21
TC OUT: 9:16
**ILUSTRA DITADURA**
VEZES MAIS QUE A SÉRVIA, POR EXEMPLO//
OS PROBLEMAS NAS AREAS DE SAÚDE,
EDUCAÇÃO E SEGURANÇA NÃO SÃO
NOVIDADE PARA NINGUÉM/ QUE QUEM VAI
PRESO TENDE A PIORAR TAMBÉM É SENSO
COMUM NA SOCIEDADE//
E AÍ VOCÊ JÁ PODE TER OUVIDO QUE NA
DITADURA ERA BEM MELHOR/ QUE O QUE
FALTA É UMA PUNIÇÃO SEVERA, UM
TRATAMENTO DE CHOQUE//
COMO ESSE EX-EXECUTIVO DA INDÚSTRIA DE
ARMAS, QUE ENTREVISTAMOS SOB A
CONDIÇÃO DE ANONIMATO//
Sonora: Tem muitos crimes horrendos, horrendos,
mataram criança, mataram família, que não tem a
menor dúvida, faz a sessão terror. Sábado de
madrugada, acorda, (...) nos presídios. Bota um
projetor daqueles Full HD, e vai lá e “esse aqui é o
fulano, ele estuprou, matou, não sei o que coisa e
tal”. E vai lá, faz uma sessão terror? (Tipo Laranja
Mecânica?) Tipo um Laranja Mecânica. Faz uma
sessão terror, vai picando o cara devagarzinho. Eu
to sendo exagerado porque se não for no choque,
vai acontecer o mesmo que no rio ontem. Você viu
o que aconteceu no Rio ontem? As instituições tão
perdendo força pros malandros cara.
QUEM REPETE ESSE SENSO COMUM ERRADO
NUNCA EXPLICA PORQUE A VIOLÊNCIA SÓ
CRESCE DESDE A ÉPOCA EM QUE TORTURA
**CORTE**
**SONORA BRUNO PAES MANSO**
GC BRUNO PAES MANSO
PESQUISADOR DO NÚCLEO DE ESTUDOS
DA VIOLÊNCIA-USP
DEIXA INICIAL: Esse é um problema que
começou principalmente em SP
DEIXA FINAL:... a gente tem visto que é uma
falácia.
TC IN: 00:19:20.04
TC OUT: 00:22:29.05
**COBRIR COM DITADURA**
**COBRIR COM IMAGENS RIO
OCUPAÇÕES**
EXISTIA AQUI//
PODEMOS TRAÇAR O INÍCIO DO ALTO
NÚMERO DE HOMICÍDIOS NA DITADURA/
NESSA ÉPOCA ACONTECERAM VÁRIAS
COISAS IMPORTANTES PARA QUE POSSAMOS
ENTENDER COMO VIRAMOS O PAÍS COM O
MAIOR NÚMERO TOTAL DE ASSASSINATOS.//
A MILITARIZAÇÃO DA POLÍCIA/ A DIVISÃO
ENTRE POLICIA CIVIL E MILITAR/ E OS
PROBLEMAS QUE TROUXERAM//
Sonora: Esse e um problema que começou
principalmente em SP, RJ foi um dos temas mais
discutidos aqui (NEV) desde os meados dos anos
70, a violência foi iniciada, a ROTA também foi
iniciada em 70, a militarização da polícia nos
moldes a partir de uma nova legislação em 69, a
ditadura militar a polícia começou a ser treinada no
combate à guerrilha. Na época a guerrilha urbana
era muito forte aqui em SP no decorrer dos anos
começou os inimigos, os comunistas foram
vencidos, mas o bandido virou o grande inimigo da
cidade e do Estado e muito das formas de
extermínio que foi aplicado nesta forma continuam
sendo aplicadas aqui em SP. Você tem uma
questão de estrutura policial, que e problemática e
você tem o problema da polícia militar e civil. E
muitas vezes muitas pessoas acham que o
extermínio e a violência acabam sendo uma forma
de controlar o crime. Isso de alguma forma foi
tolerado em alguns anos, no judiciário, no MP. Na
Constituição de 88 também conseguiu de alguma
forma, fazendo vistas grossas. Ai no RJ, uma outra
dinâmica, e você ter visto as grandes facções onde
**SONORA GABRIELA BILO**
GC: GABRIELA BILO
Fotojornalista
DEIXA INICIAL: Mas quem é bandido,
entendeu?
DEIXA FINAL: ...foi impregnada pra
realmente dar esse aval de violência
TC IN: 08:38:02.04
TC OUT: 08:39:45.16
**COBRIR IMAGENS ASSASSINATOS**
as operações policiais, eram verdadeiras incursões
de guerra. Você tinha uma dinâmica mais
acentuada, com mais mortes que aconteceu em SP
e isso de alguma forma era tolerado e aplaudido,
era punido esse tipo de ação, porque ficava muito
explícito. Isso começou a ocorrer nos estados
brasileiros, porque isso e muito nos anos 2000 com
crescimento da violência no nordeste e do tráfico de
drogas nestes lugares. Isso, eles (moldes) foram
replicados em outros lugares, que policiais e grupos
de outros lugares de seguranças e comércios
passam a ser consolidados como fenômeno (...)
Então além dessas violências você também tem
milícias formadas e sempre acreditando que a
violência e uma solução, ao invés de um problema.
A violência pode controlar o crime, a gente tem
visto que e uma falácia.
A CRENÇA NO “BANDIDO BOM É BANDIDO
MORTO” TAMBÉM COMEÇOU LÁ ATRÁS/ MAS
VAMOS DEIXAR A GABRIELA BILO EXPLICAR
UM POUCO MELHOR O PROBLEMA DESSA
LÓGICA//
Mas quem é bandido, entendeu? É aí que tá! Isso
aí é... quando você vê um cara gritando na
televisão que tem que pegar mesmo, aí o policial
executa alguém ao vivo e o povo aplaude. Isso aí é
uma falta de educação de base, sabe? Po, quem é
o bandido? O bandido poderia ser seu filho que não
é bandido, entendeu? Quem é o bandido? Quem é
essa pessoa? Ela não é um bandido, ela é um ser
humano, né? É um pouco diferente. Acho que a
partir do momento que você começar a comunicar
para as pessoas que bandido bom não é bandido
morto, que não existe pena de morte no brasil, que
na verdade existe. Que não existe pena de morte
**IMAGENS DITADURA**
**SONORA SUPLICY**
GC: EDUARDO SUPLICY
Vereador por SP e Ex-Senador da República
DEIXA INICIAL: Olha, eu não estava no Rio
Centro quando houve o estouro daquela
bomba.
DEIXA FINAL: ...para lutarem ainda mais pela
democracia.
TC IN: 07:59:00.29
TC OUT: 08:03:44.25
no Brasil por algum motivo, digo, algum motivo
entre aspas porque existe. A opinião publica muda,
sabe? É tudo uma questão de como você transmite
a informação. Então, bandido bom é bandido morto
é uma coisa que foi impregnada pra realmente dar
esse aval de violência
PRA QUE FIQUEM MAIS CLARAS AS TÁTICAS
PERVERSAS ADOTADAS NAQUELA ÉPOCA,
VAMOS PARTIR AO TERRORISMO//
O GOVERNO MILITAR DA DITADURA PINTAVA
OS COMUNISTAS, OS REBELDES E AQUELES
QUE LUTAVAM CONTRA O REGIME DE
TERRORISTAS/ LUTAR PARA SER LIVRE E
LUTAR PELA DEMOCRACIA ERA TERRORISMO//
A RESISTÊNCIA SEQUESTRAVA E MATAVA,
DIZIAM//
ROUBAVA A RIQUEZA DAS PESSOAS//
E TAMBÉM ESTOURAVA BOMBAS//
SÓ ESQUECERAM DE CONTAR QUE MILITARES
TAMBÉM FIZERAM TUDO ISSO E PIOR//
[...] No Rio Centro quando houve o estouro daquela
bomba. Acompanhei a apuração dos fatos e
obviamente quando se descobriu que os próprios
militares que haviam de alguma forma preparado ali
um atentado para atrapalhar aquela manifestação
musical de jovens, era uma manifestação artística.
Aquilo foi algo que inclusive elevou o grau de
consciência das pessoas para lutarem ainda mais
pela democracia. Então os abusos (tosse) que
foram cometidos pelo regime militar casos como a
prisão tortura e morte de Vladimir Herzog... quando
se soube que Vladimir Herzog que então era um
ótimo jornalista da TV cultura havia sido torturado e
**IMAGENS CONFLITOS ORIENTE
MÉDIO/DITADURA MILITAR**
**IMAGENS MORROS CARIOCA**
**IMAGENS CORPOS**
morto, mas acharam lá que ele havia sido
dependurado numa corda junto a grade da cela, e
foi evidenciado que os militares tentaram dizer que
ele havia se suicidado. Aquilo lá provocou uma
comoção enorme. Tanto que houve um ato
ecumênico na catedral da sé. O Vladimir Herzog
era Israelita, né? Então, mas estavam lá o Henry
Sobel, o Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns rezando,
fazendo, dirigindo a cerimônia, mas com pessoas
de todas as religiões. A catedral ficou lotada, e a
própria praça da Sé cheia de pessoas, e foi uma
cerimônia muito comovente. São episódios que
fizeram com que mais e mais crescessem a
indignação das pessoas com respeito aos episódios
de prisões, tortura e mortes de pessoas que
combatiam a ditadura militar.
QUEM ESTOURA BOMBA NO MEIO DE UM
PARQUE, DE UM SHOPPING, EM UM SHOW
NÃO É PIPOQUEIRO. É TERRORISTA//
MAS MESMO ASSIM ALGUMAS NARRATIVAS
HERDADAS DAQUELA ÉPOCA PERSISTEM//
POR EXEMPLO, SÃO MAIS DE TRINTA ANOS DE
COMBATE DURO À VIOLÊNCIA/ COM
INVESTIMENTOS CADA VEZ MAIORES/ COM UM
NÚMERO DE CORPOS ESTIRADOS EM
NECROTERIOS CADA VEZ MAIOR//
UM COMBATE CUSTE O QUE CUSTAR//
E QUE RESULTADO ISSO DE FATO TRAZ? /
SERÁ QUE É TUDO EM VÃO OU SE
*SONORA CONECTAS**
GC: RAFAEL CUSTÓDIO
Coordenador da área de Justiça da
CONECTAS
DEIXA INICIAL:
DEIXA FINAL:
TC IN: 01:21:23.12
(CLIP 00001)
TC OUT: 01:23:10.26
**IMAGENS MANIFESTAÇÃO**
**ILUSTRA ONU**
GC: LEI ANTITERRORISMO
AGUENTARMOS MAIS UM POUCO COM ESSA
ESTRATÉGIA VAMOS VENCER A VIOLÊNCIA?//
Sonora: O cenário é por exemplo, aumentar ainda
mais a vitalidade? Claro que não..uma resposta
possível para esse tipo de raciocínio é diante dos
60 mil homicídios do Brasil, os bandidos “estão
sendo mortos”, tá melhorando a situação de
segurança brasileira, ou seja, matar, a torto e
direito, tem transformar nossa sociedade em uma
sociedade mais segura? Não.. na verdade é o
contrário, é uma espiral de violência que vai se
retroalimentando, que a gente precisa romper isso
[...]
UM RECURSO QUE A POPULAÇÃO TEM PARA
CAUSAR MUDANÇAS NUMA DEMOCRACIA É SE
MANIFESTAR, ALGO QUE NESTE ANO FICOU
MAIS DIFÍCIL DEPOIS DA SANÇÃO DA LEI
ANTITERRORISMO//
EM DEZESSEIS DE MARÇO DE DOIS MIL E
DEZESSEIS, A LEI FOI PUBLICADA NO DIÁRIO
OFICIAL DA UNIÃO E ENTROU EM VIGOR/ A LEI,
DE NÚMERO TREZE MIL DUZENTOS E
SESSENTA, FOI DURAMENTE CRITICADA POR
DIVERSAS ORGANIZAÇÕES COMO ONU E
ANISTIA//
AS CRÍTICAS SE CONCENTRAM NO FATO DE
QUE O TEXTO É VAGO E AMPLO DEMAIS, O
QUE PODERIA PERMITIR QUE
MANIFESTAÇÕES LEGÍTIMAS FOSSEM
ENQUADRADAS COMO ATOS TERRORISTAS/
ARTE NOTA ANISTIA
**ILUSTRA VÍDEO PRESIDENTE ANISTIA**
**ARTE NOTA ANISTIA**
**SONORA**
Leonardo Souza dos Santos –
MANIFESTANTE
TC IN: 09:34:04.16
TC OUT: 09:35:39.18
ISSO MESMO APÓS A INCLUSÃO, APÓS
PRESSÃO DE MOVIMENTOS SOCIAIS, DE UMA
RESSALVA NA LEI QUE BUSCOU GARANTIR
QUE MOVIMENTOS SOCIAIS E POLÍTICOS NÃO
FOSSEM CARACTERIZADOS COMO
TERRORISTAS//
A ANISTIA EXPLICOU EM UMA NOTA PÚBLICA O
PROBLEMA/ ABRE ASPAS, A RESSALVA QUE
VISA PROTEGER MOVIMENTOS SOCIAIS,
SINDICATOS E MANIFESTAÇÕES NÃO É
GARANTIA DE QUE A LEI ANTITERRORISMO
NÃO SERÁ USADA CONTRA ESSES GRUPOS,
FECHA ASPAS/ ATILA ROQUE, DIRETOR
EXECUTIVO DA ANISTIA INTERNACIONAL, DIZ
NO TEXTO QUE NA ATUAL CONJUNTURA
BRASILEIRA EM QUE LEIS TOTALMENTE
INADEQUADAS AO CONTEXTO DE PROTESTOS
FORAM USADAS NA TENTATIVA DE
CRIMINALIZAR MANIFESTANTES EM
PROTESTOS DESDE DOIS MIL E TREZE, É
MUITO GRAVE A APROVAÇÃO DE UM PROJETO
DE LEI “ANTITERROR” QUE PODERÁ
APROFUNDAR AINDA MAIS O CONTEXTO DE
CRIMINALIZAÇÃO DO PROTESTO EM GERAL//
A gente não tem problema de terrorismo no país,
sinceramente. Essa lei e bizarra, grotesca. Não tem
como discutir, o país não tem um problema de
terrorismo. A gente tem problemas de violência,
sim. Mas, terrorismo não. Manifestantes não são
terroristas. E falta de dialogo politico com quem
esta no poder e uma organização que esta surgindo
de reivindicações. [...]
O REPRESENTANTE DO ESCRITÓRIO PARA
IMAGENS ONU
GC: FRASE
**CORTE**
*SONORA RAFAEL CONECTAS**
GC: RAFAEL CUSTÓDIO
Coordenador da área de Justiça da
CONECTAS
TC IN: 01:55:17.10
(CLIP 00003)
TC OUT: 01:59:24.25
AMÉRICA DO SUL DO ALTO COMISSARIADO
DAS NAÇÕES UNIDAS PARA OS DIREITOS
HUMANOS, AMERIGO INCALCATERRA,
AFIRMOU EM NOTA PUBLICADA NA MÍDIA E NO
SITE DA AGÊNCIA QUE AS DISPOSIÇÕES DO
PROJETO POR SI SÓ NÃO GARANTEM QUE
ESSA LEI NÃO SEJA USADA CONTRA
MANIFESTANTES E DEFENSORES DE DIREITOS
HUMANOS//
O nosso posicionamento é ali quando houve a
proposta de lei para criar o crime de terrorismo ao
Brasil foi, continua sendo desnecessária por
natureza de qualquer ato que seja praticado por
uma célula terrorista ou qualquer que seja na
legislação penal, então só de pensar nos casos
mais notórios de atentado terrorista no Brasil e no
mundo, todos aqueles atos eles vão ter aquele
equivalente no código penal brasileira. Então é
homicídio, é sequestro, é quadrilha, é uso de
explosivo, tudo de lesão corporal, já existe tudo
isso, então é uma inverdade muitas vezes um
discurso que sem a criação do tipo penal do
terrorismo nós não conseguimos processar o
terrorismo. Isso não é verdade, eles responderiam
por esses crimes por exemplo que eu falei, esse é o
primeiro ponto. O Segundo ponto é que não há uma
definição clara nem no Brasil nem no mundo sobre
o que é o ato terrorista, não é um desses crimes em
que a definição é muito clara, por exemplo o
homicídio, a definição do código penal brasileiro é
que o homicídio é tirar a vida de alguém. Então tirei
a vida de alguém é homicídio, ponto. Você não tem
subjetividades nisso, se eu tentei tirar a vida de
alguém é tentativa de homicídio, o terrorismo não.
O terrorismo você não tem uma definição clara,
nem no direito internacional, nem no brasileiro do
que seria um ato de terror e por isso ele
necessariamente vai ser subjetivo e aí entra o
GC: ARMANDO NOVAES
CARGO: DELEGADO
TC IN: 08:57:36:24
TC OUT: 08:58:38:04
**SONORA**
GC: DJAMILA RIBEIRO
CARGO: SECRETÁRIA-ADJUNTA DE
DIREITOS HUMANOS
TC IN: 00:41:06.04
TC OUT: 00:41:59.15
**ILUSTRA IMAGENS MANIFESTAÇÃO**
perigo dessa lei ser usada para criminalizar
movimentos sociais, estudantes, movimentos
reivindicatórios, de qualquer natureza que esteja
querendo pautar mudanças nos seus grupos, nas
suas vidas e que eventualmente até possam dentro
desse contexto cometer algum ilícito por exemplo
uma manifestação da Paulista dentre aquelas
milhares de pessoas vamos supor se algum grupo
começou a depredar a bancos públicos, isso é
crime de patrimônio é, mas pode ser usado e hiper
dimensionado para uma prática de terrorismo já que
eles estão quebrando patrimônio, reivindicar
mudanças etc.
A lei antiterrorismo... eu não vejo ela como uma
interferência, porque ela foi feita mais em razão da
Copa... da Copa não, das Olimpíadas. Foi uma
resposta do governo brasileiro a uma preocupação
exterior. Mas eu não vejo aqui... o terrorismo
brasileiro... [...] Então, essa lei antiterrorismo foi
mais política, no sentido de trazer menos
preocupação ao turista, aos governos estrangeiros.
É, isso fica muito mais difícil né, só prova o quanto
a gente ta movendo um momento muito difícil que
até querem nos privar do nosso direito a
manifestação. Isso pra mim é ditadura, a gente não
poder se manifestar, a gente não poder mostrar a
nossa indignação em relação ao que acontece, é
viver em um período de ditadura, eu não consigo
dar um outro nome pra isso. Mas eu acho que é
justamente por isso que a gente tem que se
organizar e não aceitar né, porque como diria Santo
Agostinho, uma lei injusta não é lei né, uma lei que
é injusta ela não deve ser seguida né, ela não deve
ser respeitada, uma vez que essa lei é... Atinge
**ILUSTRA IMAGENS P/B BRASIL**
SOBE SOM
CRÉDITOS
diretamente os nossos direitos enquanto cidadãos
de (gaguejada) se manifestar
PODE SER QUE VOCÊ TENHA COMEÇADO A
ASSISTIR ESSA SÉRIE ACREDITANDO
CONHECER O QUADRO DA VIOLÊNCIA NO
BRASIL/ OU MESMO ATÉ SOUBESSE PARTE
DELE//
NOS PRÓXIMOS EPISÓDIOS VAMOS
APROFUNDAR A DISCUSSÃO SOBRE O
TRÁFICO DE ARMAS/ O ESQUEMA DE
SEGURANÇA NO RIO DE JANEIRO DURANTE
OS JOGOS OLIMPICOS E OS DIREITOS
HUMANOS/ AS POLÍCIAS, AS ESTATÍSTICAS E
DISCUTIR A DESMILITARIZAÇÃO DA PM//
E QUE MEDIDAS PODEMOS ADOTAR PRA
CONTER E REDUZIR O NÚMERO DE MORTOS
NO BRASIL.//
RETRANCA: Episodio 2
PAUTA: Terror Urbano Editor: EDITOR: RENAN FAGALDE/ ALYSSON RODRIGUES/ÉDIGLEI LEANDRO
TEMPO: 25’31’’
**OFF IMAGENS: ABERTURA OLIPIADAS/
VIOLÊNCIA DO RIO **
Tempo: 1’14”
Trilha: Cidade Maravilhosa – Caetano Veloso
GC: INSTITUTO ETHOS
**RODA VHT **
Tempo: 0’25”
Trilha: Cidade Maravilhosa elevada
** SOBE SOM **
**OFF IMAGENS: GIRO PELO
BRASIL/SAMBISTAS/CAPOEIRA **
** SOBE SOM **
**OFF IMAGENS DA CIDADE DO RJ**
DEPOIS DE ANOS DE PLANEJAMENTO, AS
OLIMPÍADAS VIERAM PARA O RIO DE JANEIRO.
39 BILHÕES DE REAIS FORAM INVESTIDOS,
MUDANÇAS E MELHORIAS FORAM
ARQUITETADAS PARA QUE O PÚBLICO,
ESPECIALMENTE OS ESTRANGEIROS, QUE
VIESSEM PARA CÁ SE SENTISSEM SEGUROS.
AFINAL, SOMOS UM POVO QUE GOSTA DE
ACOLHER AS PESSOAS E TEMOS A FAMA DE
TRATAR MUITO BEM NOSSOS HOSPEDES.
NÃO?//
PERCORREMOS VÁRIAS CIDADES,
ENTREVISTAMOS DIVERSAS AUTORIDADES E
ESPECIALISTAS PARA TENTAR REVELAR UMA
SOCIEDADE QUE CONTINUA INERTE A
VIOLÊNCIA QUE ASSOLA O PAÍS. //
É IMPOSSÍVEL DAR VOZ A TODOS QUE LUTAM
POR SEGURANÇA E JUSTIÇA NO BRASIL. ALIÁS
NÃO EXISTE SÓ UM BRASIL, E SIM VÁRIOS
COM CULTURAS, CARACTERÍSTICAS, POVOS
QUE ACABAM VIRANDO APENAS
** FALA POVO **
** FALA POVO MARIA FLOR BRAZIL (109)**
TIME 05:24:01.15
TIME 05:24:32.08
** SOBE SOM **
**OFF IMAGENS DE PMS E MILITATES RJ**
GC INVESTIMENTOS RJ
ESTATÍSTICAS EM RELATÓRIOS DE VIOLÊNCIA.
//
VAMOS, ENTÃO, COMEÇAR ESSA VIAGEM
PELA CIDADE MARAVILHOSA, O RIO DE
JANEIRO. //
O CRISTO REDENTOR É VISITADO
ANUALMENTE POR MAIS DE 1 MILHÃO DE
TURISTAS. É O MAIOR PONTO TURÍSTICO DA
AMÉRICA LATINA. O RIO DE JANEIRO ESBANJA
CULTURA DO SOTAQUE CARIOCA ÀS PELADAS
NAS AREIAS DE COPACABANA. //
** SOBE SOM **
DEIXA INICIAL: EU CRESCI NUM PAÍS MUITO...
DEIXA FINAL: ... É RETUMBANTE. //
A REGIÃO RECEBEU INVESTIMENTOS EM
SEGURANÇA NA ORDEM DE 3 BILHÕES E 500
MILHÕES DE REAIS NOS ÚLTIMOS 2 ANOS. E
COM ISSO, ESPERAVA-SE QUE A CIDADE
CARIOCA FOSSE O LOCAL MAIS SEGURO DO
PLANETA DURANTE OS JOGOS E DEIXASSE
UM LEGADO EM SEGURANÇA PÚBLICA. PELO
MENOS, ERA QUE ESPERA O PREFEITO DO
RIO DE JANEIRO, EDUARDO PAES NO DIA 15
JULHO 2016 EM AFIRMAÇÃO FEITA AOS
JORNALISTAS NA SEDE DO COMITÊ
ORGANIZADOR DA, UM DIA APÓS O ATENTADO
**ILUSTRA PAES**
** IMAGEM: REPORTAGEM DA CNN **
**ILUSTRA IMAGENS DA CIDADE E
JOGOS**
**ILUSTRA EXÉRCITO**
** GC: FONTE: INSTITUTO DE
SEGURANÇA PÚBLICA (ISP) **
** FALA POVO MARIA FLOR BRAZIL (109)**
TIME: 05: 24:45.00 - TIME: 05:25:20.02
TERRORISTA QUE MATOU MAIS DE 70
PESSOAS NA FRANÇA.
PORÉM, ISSO FOI ALGO QUE NÃO
ACONTECEU. EM ENTREVISTA A REDE TV
AMERICANA CNN, O PREFEITO DO RIO
DESTACOU AS GRAVES FALHAS EM
SEGURANÇA. //
EDUARDO PAES DISSE A TV QUE ESSE É O
ASSUNTO MAIS SÉRIO DO RIO, E O ESTADO
ESTÁ FAZENDO UM TRABALHO TERRÍVEL,
HORRÍVEL. O GOVERNO ESTÁ FALHANDO
COMPLETAMENTE EM SEU TRABALHO DE
POLICIAR E CUIDAR DAS PESSOAS". E
COMPLETA DURANTE OS JOGOS O EXÉRCITO,
A MARINHA E TODOS ESTARÃO AQUI. AINDA
BEM QUE O ESTADO NÃO VAI SER O
RESPONSÁVEL PELA SEGURANÇA DURANTE
ESSE PERÍODO", AFIRMOU O PREFEITO AO
CANAL AMERICANO
O RIO JÁ EXISTE HA MAIS DE QUATROCENTOS
E CINQUENTA ANOS E DURANTE ESSE TEMPO
JÁ FOI A CAPITAL DO PAÍS, SEDE DOS JOGOS
PAN-AMERICANOS E UMA DAS SEDES DA
COPA DO MUNDO DE FUTEBOL E,
RECENTEMENTE, AS OLIMPÍADAS. MAS COMO
EXPLICAR ESSE DESASTRE NA ÁREA DA
SEGURANÇA PÚBLICA? COMO EXPLICAR QUE
A CADA DIA, EM MÉDIA, 16 PESSOAS SÃO
ASSASSINADAS EM TODO O ESTADO? //
DEIXA INICIAL: AS OLIMPIADAS SÃO UM...
DEIXA FINAL: ... MOMENTO MUITO TRISTE. //
**ILUSTRA ASSASSINATO**
**SONORA DJAMILA**
GC: DJAMILA RIBEIRO
SECRETÁRIA-ADJUNTA DE DIREITOS
HUMANOS
**ILUSTRA IMAGENS DE CARROS E
MILITARES NAS RUAS DA CIDADE**
NA CIDADE MARAVILHOSA A SEGURANÇA VEM
SENDO FEITA DE UM JEITO: MATAMOS UM
GRUPO MUITO ESPECÍFICO, AQUILO QUE A
ANISTIA INTERNACIONAL CHAMA DE
VIOLÊNCIA E SEGURANÇA SELETIVA. //
bom, a gente tá em num país que mais de três
séculos tratou o grupo negro como se fosse
mercadoria, isso tá muito na raiz da sociedade né,
durante mais de três séculos, as pessoas negras
eram vendidas, eram mortas, eram açoitadas, eram
perseguidas, eram tratadas como meros objetos,
como meras coisas, então isso está muito ligado
com a forma que esse país foi constituído. Esse
país foi constituído na violência... Então o que a
gente vive hoje nada ta fora de contexto né, tudo
que a gente vive hoje simplesmente está
contextualizado com a forma pelo qual esse país foi
constituído... Pra um país que tem 516 anos, vai
fazer o brasil, 354 anos foi de escravidão. Quer
dizer, a gente encontra um país, tem mais tempo de
escravidão, de que não escravidão. //
SE VOCÊ ESTEVE NO RIO DE JANEIRO
DURANTE A OLIMPÍADA PODE CONCORDAR
QUE OS ESFORÇOS PARA DEMONSTRAR UMA
SEGURANÇA EFETIVA NA CIDADE ERAM
NÍTIDOS: BASTAVA UMA CAMINHADA NA ORLA
DE COPACABANA PARA ESBARRAR COM
MILITARES FARDADOS UTILIZANDO
ARMAMENTO PESADO, OU AINDA, NA CIDADE
OLÍMPICA ONDE O ESQUEMA DE
POLICIAMENTO POR LÁ ERA MAIS FORTE. //
PORÉM, PARA ALÉM DOS CENÁRIOS DOS
**ILUSTRA IMAGENS DE VIOLÊNCIA E
MORRO CARIOCAS **
** ARTE: TEXTO DA NOTA**
**ILUSTRA IMAGENS DE VIOLÊNCIA**
** FALA POVO **
GC: BRUNO DA SILVA CARDOSO
** FALA POVO **
GC: LUCIANO SILVEIRA EIFLER
JOGOS, A ANISTIA INTERNACIONAL
DENUNCIOU OUTRA REALIDADE NA CAPITAL
CARIOCA. //
DE ACORDO COM O RELATORIO DO ÓRGÃO,
UM LEGADO DE VIOLÊNCIA NA RIO 2016, EM
DIVERSAS ÁREAS DA CIDADE, OS DIAS DE
JOGOS TIVERAM COMO SALDO AS
OPERAÇÕES POLICIAIS EXTREMAMENTE
VIOLENTAS E INTENSOS TIROTEIOS, COM
PESSOAS FERIDAS E MORTAS. //
"HÁ PELO MENOS 8 CASOS CONFIRMADOS DE
MORTES EM OPERAÇÕES POLICIAIS, E CASOS
AINDA NÃO CONFIRMADOS EM DIVERSAS
FAVELAS DO RIO DE JANEIRO. MORADORES
DESSAS ÁREAS RELATAM OUTROS ABUSOS
COMO INVASÃO DE DOMICÍLIO, AMEAÇAS, E
AGRESSÕES FÍSICAS E VERBAIS", DIZ O
DOCUMENTO. //
NOS ÚLTIMOS ANOS PRESENCIAMOS UM
BOOM NO NÚMERO DE HOMICÍDIOS E ÍNDICES
DE VIOLÊNCIA NUNCA ANTES VISTO, EM
RITMO SUPERIOR AOS INTERNACIONAIS. MAS
PARA ALGUM MORADORES ISSO NÃO PARECE
ACONTECER //
DEIXA: NO CASO DE VIOLÊNCIA, TEM ALGUNS
FURTOS MAS A CIDADE É TRANQUILA. DA PRA
SE VIVER.
DEIXA: ME SINTO, ME SINTO SEGURO AQUI NO
RIO. PRINCIPALMENTE NA REGIÃO DA ZONA
SUL, IPANEMA, A GENTE VÊ A PRESENÇA DA
POLÍCIA COMO A GENTE VÊ LÁ NO FUNDO. A
POLÍCIA, A GUARDA MUNICIPAL.
** OFF: COBRIR COM IMAGENS DO
ENTREVISTADO (FALA POVO) **
** FALA POVO **
GC: MARÍLIA ROSÁRIO
** FALA POVO **
GC: ELOISIO DA SILVA
**ILUSTRA CRISTO/PÃO-DE-AÇÚCAR**
**ILUSTRA
SAÚDE/EDUCAÇÃO/FAVELA/ESGOTO/
SEGURANÇA
** GC: FONTE: INSTITUTO PEREIRA
PASSOS (IPP)
GC: SECRETARIA DE ESTADO DE
PLANEJAMENTO E GESTÃO (SEPLAG) **
**SONORA RAFAEL**
GC: RAFAEL CUSTÓDIO
COORDENADOR DE JUSTIÇA DO
CONECTAS
TIME: 01: 40:31.01
TIME: 01:43: 56.21
MAS HÁ QUEM DISCORDE...
DEIXA: NA ZONA SUL SIM. NAS DEMAIS ÁREAS
NÃO.
DEIXA: NÃO! A VIOLÊNCIA NO RIO DE JANEIRO
É UMA COISA MUITO ESPECÍFICA.
TÃO MARCANTES COMO O CRISTO OU O PÃO
DE AÇÚCAR NA PAISAGEM CARIOCA, SÃO AS
FAVELAS ESPALHADAS PELO CENÁRIO DO
RIO. HÁ CERCA DE 120 ANOS DESDE QUANDO
SURGIU A PRIMEIRA DAS 763 FAVELAS DA
CIDADE ATÉ HOJE POUCO OU NADA SE VIU EM
INVESTIMENTOS EM SAÚDE, EDUCAÇÃO,
SANEAMENTO BÁSICO E SEGURANÇA POR
PARTE DO ESTADO. NOS ÚLTIMOS OITO ANOS
A CURVA DE INVESTIMENTOS CAIU CERCA DE
54% SE COMPARADO HÁ DOIS MIL E SETE. //
A população que historicamente é privada de vários
direitos que o estado deveria prover, a saúde
adequada, educação, lazer, emprego e também
segurança, voltando a ideia de que a segurança
também é um direito constitucional e o estado
também ao não prover a segurança, as pessoas se
sentem extremamente atingidas, extremamente
abandonadas ....
**SONORA LUIZ**
GC: LUIZ CARLOS
PRES. CONDEPE DA SEC. DA JUSTIÇA
TIME: 01:59:19.06
TIME: 02:02:10.03
**SONORA DJAMILA**
GC: DJAMILA RIBEIRO
SECRETÁRIA-ADJUNTA DE DIREITOS
HUMANOS
**ILUSTRA IMAGENS MANIFESTAÇÃO E
VIOLÊNCIA POLICIAL”**
**SONORA RAFAEL**
GC: RAFAEL CUSTÓDIO
COORDENADOR DE JUSTIÇA DA ONG
CONECTAS
TIME: 01:21:23.12
Acredito que é tudo fatores que contribuíram para
isso, [...] a criminalidade começa de uma forma
pequena e vai crescendo, a pessoa ela vai presa, ai
ela volta pra sociedade e ela não tem apoio da
sociedade. uma vez que o nome dela fica registrado
no sistema de polícia criminaliza, muitos deles não
conseguem voltar para a sociedade, volta para o
mundo do crime, porque não tem outra alternativa
[...] esses órgãos de sistema de segurança,
começam a criminalizar, porque sabem que aquela
pessoa foi presa. [...]a criminalidade se estenda em
todas as suas regiões, bairros, municípios e
estados e cresce o índice de assassinatos, ou é
grupos de extermínios, ou é crime organizado que
começam a se proliferar em todo o país.
Falta de olhar, e de assumir a responsabilidade
dessa ilegalidade do estado que já trata essas
pessoas de forma desigual, e quando se por um
acaso, essas pessoas tendem a ir para alguns
caminhos, acha que a justificativa é matar essas
pessoas. //
HISTORICAMENTE, A POLÍTICA DO BRASIL FOI
DE GARANTIR SEGURANÇA PÚBLICA POR
MEIO DA REPRESSÃO POLICIAL. E NÃO DE
UMA POLICIA CIDADÃ QUE PROTEGE A
POPULAÇÃO, BEM COM A SUA CIDADE. //
A gente não pode esquecer que de fato, grande
parte da população brasileira, também a população
mais vulnerável, de fato sofre com a violência, as
pessoas são vitimas de roubo, de furto, de
homicídio, de outros tipos de crime. é claro que é
importante esclarecer e chamar essas pessoas
para um debate mais racional sobre a segurança,
TIME: 01:23:10.26
**ILUSTRA PRAIAS RJ E MORROS
CARIOCAS**
**SONORA: JULIO JACOBO**
GC JULIO JACOBO WAISELFISZ
PESQUISADOR E AUTOR DO MAPA DA
VIOLÊNCIA
GC: VIA INTERNET
TIME: 00:09:46.00
TIME: 00:13:26.01
sobre a necessidade de defender parâmetros de
atuação da polícia, de defender direitos de qualquer
acusado, de qualquer cidadão contra a polícia, mas
também e de fato que a população se sente
vulnerável de graus de violência que são muito
altos no brasil que a gente não pode negar, a
questão é o que fazer durante esse cenário. o
cenário é por exemplo, aumentar ainda mais a
vitalidade? claro que não...uma resposta possível
para esse tipo de raciocínio é diante dos 60 mil
homicídios do brasil, os bandidos “estão sendo
mortos”, tá melhorando a situação de segurança
brasileira, ou seja, matar, a torto e direito, tem de
transformar nossa sociedade em uma sociedade
mais segura? não... na verdade é o contrário, é
uma espiral de violência que vai se
retroalimentando, que a gente precisa romper isso
urgente. //
FECHAR OS OLHOS É APENAS O PRIMEIRO
PASSO PARA PERMITIR ESSE CENÁRIO, ESSA
VIOLÊNCIA PODE LEVAR MUITOS A ENXERGAR
ESSA CARNIFICINA COMO UMA FORMA DE
LIMPEZA URBANA ONDE FALA MAIS ALTO A LEI
DO MAIS FORTE. //
No brasil morre muito negro porque tem uma
categoria de população que é matável. Tem seres
humanos no brasil que são matáveis sem
problemas. Mendigos, meninos de rua, etc. Etc.
São matáveis, ninguém vai lamentar muito e é
melhor para a sociedade porque vai gerar processo,
vai gastar muita grana, então para que vamos
entrar nisso? Então aparecem grupos de extermínio
nas próprias instituições que deveriam fazer cumprir
a lei, são as instituições que primeiro violam essa
lei. Aparecem grupos de extermínio, milícias destas
**ILUSTRA IMAGENS MORROS E
PESSOAS**
** GC: FONTE: IBGE **
**ARTE NOTA DIREITOS HUMANOS**
instituições, etc., cujo objetivo é fazer justiça pelas
próprias mãos substituindo diretamente a justiça. //
OS MORROS CARIOCAS TÊM MAIS
MORADORES DO QUE PEDRAS. ALGUMAS
COMUNIDADE, COMO A MARÉ, CHEGAM A TER
MAIS DE 130 MIL HABITANTES. MUITOS AINDA
A ESPERA DE UM ESTADO PRESENTE //
** SOBE SOM **
MAS TEM UM ASSUNTO QUE DIZ RESPEITO A
TODOS NÓS. O DIREITO À VIDA E AS
OBRIGAÇÕES DO BRASIL E DE SEUS ESTADOS
DIANTE DO DIREITO INTERNACIONAL E DOS
DIREITOS HUMANOS. //
OBSERVANDO O ARTIGO 6º DO PACTO
INTERNACIONAL DOS DIREITOS CIVIS E
POLÍTICOS, ASSIM COMO O ARTIGO 4º DA
CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS
HUMANOS, QUE ESTABELECEM A OBRIGAÇÃO
DOS ESTADOS DE PREVENIR, PROTEGER,
RESPEITAR E GARANTIR O DIREITO À VIDA. O
BRASIL RATIFICOU AMBOS ACORDOS
INTERNACIONAIS EM 1992. //
O DIREITO À VIDA É FUNDAMENTAL. //
**SOBE SOM**
**ILUSTRA PESSOAS**
**ILUSTRA IMAGEM DA ONU - SEDE **
TIME: 00: 00:35:00 – 00:00:44.00
**SONORA DJAMILA**
GC: DJAMILA RIBEIRO
SECRETÁRIA-ADJUNTA DE DIREITOS
HUMANOS
AS OBRIGAÇÕES DOS ESTADOS DERIVADAS
DO DIREITO À VIDA PRESSUPÕEM NÃO
APENAS QUE NENHUMA PESSOA PODE SER
PRIVADA DE SUA VIDA ARBITRARIAMENTE,
MAS TAMBÉM REQUEREM QUE OS ESTADOS
TOMEM TODAS AS MEDIDAS APROPRIADAS
PARA PROTEGER E PRESERVAR ESSE
DIREITO. //
O COMITÊ DE DIREITOS HUMANOS DA ONU JÁ
RECONHECEU QUE O DIREITO À VIDA DEVE
SER ENTENDIDO COMO O MAIS ESSENCIAL
DOS DIREITOS. E COBRA DO BRASIL MEDIDAS
MAIS ENÉRGICAS COMO, POR EXEMPLO,
MELHORIAS NO SISTEMA PRISIONAL,
PROTEÇÃO A DEFENSORES DE DIREITOS
HUMANOS, APRIMORAR O SISTEMA
JUDICIÁRIO E GARANTIR A INDEPENDÊNCIA DE
JUÍZES E A PROTEÇÃO A JORNALISTAS E
PROFISSIONAIS DA IMPRENSA PARA EVITAR
AS GRAVES VIOLAÇÕES DE DIREITOS
HUMANOS OCORRIDAS NÃO SOMENTE NO RIO,
MAS EM TODO O PAÍS. //
Falta um entendimento de que ele vai perder os
direitos civis, mas isso não pode significar que ele
vai perder os direitos humanos. E acho que falta o
entendimento de perceber que trabalhar na questão
dos direitos humanos, significa que a gente ta
pautando, de estar lutando contra a violência [...]
Então falta o entendimento da pessoa entender o
que qui é direitos humanos, então a pessoa não ter
acesso a alimentação, não poder comer é uma
questão de direito humano, direitos humanos,
direito de alimentação, o direito a moradia, o direito
**SONORA RAFAEL**
GC: RAFAEL CUSTÓDIO
COORDENADOR DE JUSTIÇA DA ONG
CONECTAS
TIME: 01:25:04.26
TIME: 01:26:27.23
*SOBE SOM*
**OFF IMAGENS DA CIDADE **
Tempo: 15”
**ILUSTRA IMAGENS DAS RUAS E
AVENIDAS **
**ILUSTRA FOTOS DO MURRO / IMAGENS
há ter uma educação de qualidade, então eu acho
que falta pras pessoas o entendimento do que é, do
que significa garantir esses direitos.
Muitas vezes o movimento de direitos humanos se
sente um pouco refratária ao discutir segurança
pública, a polícia militar por ser tão violenta e por
representar tanto essa violência do estado. [...] Mas
acho importante lembrar que no artigo 5º, nos
direitos e garantias individuais, ali no núcleo da
fundação brasileira, ta lá o direito à segurança. A
segurança é um direito individual garantida
fundamental de todos o brasileiros. Respondendo
sua pergunta, esse modelo de segurança pública,
tem conseguido defender e proteger esse direito
constitucional à segurança? Não! Certamente não.
São 60 mil homicídios, são centenas de roubos,
prisioneiros (...) Não conseguem transformar essas
pessoas de um modo mais humano. Então o estado
está muito longe de conseguir cumprir esse
dispositivo constitucional.
A AVENIDA BRASIL E A LINHA VERMELHA SÃO
ALGUNS DOS EPICENTROS DA VIOLÊNCIA DO
RIO, MARGEADA POR QUASE 20
COMUNIDADES, A MAIORIA DELAS DOMINADAS
PELO TRÁFICO DE DROGAS. //
DURANTE OS JOGOS OLÍMPICOS A
PREFEITURA DA CIDADE E O COMITÊ
ORGANIZADOR RIO 2016, USARAM DE UMA
TÁTICA PARA MASCARAR A REALIDADE DESSA
REGIÃO. SE UTILIZANDO DE TAPUMES,
DA RIO2016**
**ILUSTRA ABERTURA OLIMPIADAS/
IMPRENSA INTERNACIONAL E TURISTAS
NAS RUAS DO RIO**
** ARTE JORNAL IBT E THE GUARDIAN**
**ILUSTRA IMAGENS DA CIDADE E
EXÉRCITO**
ESCONDERAM OS MORROS, OS ESGOTOS A
CÉU ABERTO, AS ARMAS E TRÁFICO DE
DROGAS. //
ENTRETANTO, A ARTIMANHA NÃO DE CERTO.
OS GRINGOS NÃO FICARAM SATISFEITOS
APENAS COM A LINDA CERIMONIA DE
ABERTURA E DE ENCERRAMENTO DOS
JOGOS. ACABARAM CONHECENDO UM POUCO
MAIS DO QUE ISSO. //
COM O TEMPO, OS ESTRANGEIROS E A MÍDIA
INTERNACIONAL SE DEPARARAM COM UMA
PALAVRA TIPICAMENTE BRASILEIRA,
“GAMBIARRA”. QUE FOI TEMA DO EVENTO. O
JORNAL IBT ONLINE, TENTOU EXPLICAR O QUE
ERA A PALAVRA EM UMA MATÉRIA. //
“GAMBIARRA, UMA PALAVRA EM PORTUGUÊS
QUE NÃO POSSUI EQUIVALENTE NO INGLÊS, É
A ARTE BRASILEIRA DE CRIAR COISAS A
PARTIR DO IMPROVISO — USANDO
ESTRATÉGIAS SIMPLES PARA REPARAR OU
CRIAR O QUE VOCÊ PRECISA COM O QUE
VOCÊ TEM”, EXPLICA. JÁ O SITE DO JORNAL
BRITÂNICO THE GUARDIAN FOI MAIS SUCINTO,
POÉTICO E ESTRANHO: “GAMBIARRA
SIGNIFICA CONTENTAR-SE”. //
A PERGUNTA É: SERÁ QUE OS GOVERNOS
MUNICIPAL, ESTADUAL E FEDERAL ESTÃO
PROMOVENDO UMA GAMBIARRA NA
SEGURANÇA PÚBLICA OU ESPERAM APENAS
QUE OS HABITANTES SE CONTENTEM? //
**SONORA BRUNO PAES MANSO**
GC BRUNO PAES MANSO
PESQ. DO NÚCLEO DE ESTUDOS DA
VIOLÊNCIA-USP / NEV
TIME: 00:27:55.14
TIME: 00:30:35.00
** ILUSTRA ARTE: DECRETO **
**ILUSTRA IMAGENS DA OCUPAÇÃO DO
Eu acho que é uma tragédia, você sair na rua com
medo de ser morto e assaltado, mas por outro lado
você tem uma percepção de violência talvez maior
que a violência que de fato existe na cidade e no
estado. [...] Tem uma sensação de pânico e de
repente você for ver as estatísticas não
correspondem com a realidade, então essa questão
de trabalhar com os fatos é uma questão política de
se trabalhar mesmo, e o que existe muitas vezes é
mais um discurso. //
O PRÓPRIO GOVERNO DO RIO DE JANEIRO
DECRETOU ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA
49 DIAS ANTES DO INICIO DA OLIMPIADA.
SEGUNDO DECRETO, PUBLICADO EM EDIÇÃO
EXTRAORDINÁRIA DO DIÁRIO OFICIAL DO
ESTADO NO DIA 17 DE JULHO, A CRISE QUE
AFLIGE O ESTADO IMPEDIRIA O
CUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÕES COM A
OLIMPÍADA. A VERDADE ERA QUE O GOVERNO
TEMIA, COMO TEME, UM 'TOTAL COLAPSO' NA
SAÚDE, SEGURANÇA, EDUCAÇÃO E
MOBILIDADE. //
DE ACORDO COM O TEXTO, FICAM AS
AUTORIDADES COMPETENTES AUTORIZADAS
A ADOTAR MEDIDAS EXCEPCIONAIS
NECESSÁRIAS À RACIONALIZAÇÃO DE TODOS
OS SERVIÇOS PÚBLICOS ESSENCIAIS, COM
VISTAS À REALIZAÇÃO DOS JOGOS", DIZ O
ARTIGO 2° DO DECRETO. //
ESSE CENÁRIO LEVOU O GOVERNO FEDERAL
A DISPONIBILIZAR E UTILIZAR HOMENS DAS
FORÇAS ARMADAS E DA NACIONAL PARA
ALEMAO E DO EXERCITO **
**SONORA LUIZ**
GC: LUIZ CARLOS
PRES. CONDEPE DA SEC. DA JUSTIÇA
TIME: 02:20:40.00
TIME: 02:23:04.23
**SONORA DELEGADO**
**SONORA DJAMILA**
GC: DJAMILA RIBEIRO
SECRETÁRIA-ADJUNTA DE DIREITOS
ATUAREM NA SEGURANÇA PRECÁRIA DO RIO
DE JANEIRO DURANTE OS JOGOS OLÍMPICOS.
//
O EXÉRCITO JÁ FOI USADO QUATRO ANOS
ANTES NAS OCUPAÇÕES DAS FAVELAS DO
RIO DE JANEIRO. //
MAS O EMPREGO DE FORÇAS MILITARES
RECEBEU CRÍTICAS...//
Já tivemos uma experiência no rio de janeiro, foi
quando as forças armadas invadiram alguns
complexos das favelas lá do rio de janeiro. Nós
vamos ter o mesmo cenário do que aconteceu só
que agora de uma forma diferente por causa das
olimpíadas ser lá, o que vai acontecer lá é um
direcionamento de segurança pública, com
segurança nacional. Para dar proteção e para tentar
tapar toda a questão de falhas de segurança que
acontece no rio de janeiro, para poder dar uma
proteção para aqueles que vão estar lá. Depois
quando sair, vai voltar tudo da mesma forma que
estava, porque não se resolve problema lá, no
tráfico de drogas, das mortes, das brigas e agora
vão colocar as forças armadas de uma forma de
criar um cordão de proteção para esse megaevento
que vai acontecer. //
DEIXA INICIAL: EU NÃO SOU MUITO A FAVOR...
DEIXA FINAL: ...MATAR O INIMIGO.//
Essa lógica de criminalização da pobreza e de
controle social. Acha que a população pobre, que
nessa maioria é negra, tem que ficar controlada,
então, eles só podem ocupar esse determinado
espaço, é uma forma dessas pessoas não terem
HUMANOS
**ILUSTRA MINISTRO DA DEFESA **
**ILUSTRA IMAGENS DA
CIDADE/POLICIAIS/EXÉRCITO **
**SONORA JULIO JACOBO**
GC Julio Jacobo Waiselfisz
Pesquisador e autor do Mapa da Violência
TC IN: 14:30
TC OUT: 20:23
direito a cidade por exemplo. É uma visão de
controle social de criminalização da pobreza, mais
uma vez né, não pensando o quanto esse estado é
omisso em relação a essas pessoas. Então, você
vai fazer um grande evento, então tira esses
pobres, uma visão extremamente higienista né, de
achar que essas pessoas não tem que fazer parte,
sendo que foi usado muito dinheiro público pra isso
né, e essas pessoas muitas vezes não vão
participar porque esbarra numa questão de classe
porque muitas vezes ela não tem dinheiro pra
participar e não há preocupação que elas
participem, então é uma visão de criminalizar a
pobreza, de achar que a questão da pobreza tem
que ser tratada de forma diferente, de forma
militarizada, que pessoas pobres e pessoas negras,
devem ser exterminadas e dizimadas porque não
são consideradas se quer humanas nessa
sociedade.//
O MINISTRO DA DEFESA, RAUL JUNGMANN, EM
ENTREVISTA COLETIVA DISSE VER COM
SUCESSO A ESTREITA COLABORAÇÃO ENTRE
AS FORÇAS DE DEFESA, A SEGURANÇA
PÚBLICA E A INTELIGÊNCIA.
AS SECRETÁRIAS DE SEGURANÇA PÚBLICA
DO ESTADO E DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO,
POR SUA VEZ, NÃO RESPONDERAM AOS
NOSSOS QUESTIONAMENTOS E PREFERIRAM
NÃO SE MANIFESTAR. //
DEIXA INICIAL: OBVIAMENTE QUE AS TRÊS...
DEIXA FINAL: ... PORQUE NÃO HÁ NENHUMA
LEGALIDADE
GC: VIA INTERNET
**ILUSTRA IMAGENS DO SECRETARIO **
** FALA POVO
MARIA FLOR BRAZIL (109)**
**ILUSTRAS IMAGENS DE VIOLENCIA DO
RIO/OBRAS DO METRÔ/VILA OLIMPÍCA **
**SONORA SALARO**
GC: VALMIR SALARO
REPÓRTER POLICIAL DA REDE GLOBO
TIME: 09:45:27.10
TIME: 09:46:15.01
VALE DESTACAR QUE O SECRETÁRIO DE
ESTADO DE SEGURANÇA PÚBLICA DO RIO,
JOSÉ MARIANO BELTRAME, PEDIU DEMISSÃO
DO CARGO UM MÊS APÓS O FIM DOS JOGOS.
SEGUIDO DO CHEFE DE POLÍCIA CIVIL,
FERNANDO VELOSO.
DEIXA INICIAL: NÃO TEM RAZÃO NEM...
DEIXA FINAL: PAIS TÃO DESIGUAL. //
AS PRESSÕES SOBRE A CIDADE SÃO MUITAS,
GRANDES OBRAS DE ESTRUTURA E
INVESTIMENTOS EM DIVERSAS ÁREAS SÃO
ESPERADAS. //
MAS, HOJE NINGUÉM DEFENDE
PUBLICAMENTE QUE A VIOLÊNCIA
DISSEMINADA ESTA SOBE CONTROLE OU
SOLUCIONADA, FAZER ISSO SERIA DEFENDER
UM CRIME. //
É uma guerra entre, quer dizer, o exemplo no rio de
janeiro, só neste ano morreram mais de 70 policiais
executados por criminosos. A polícia militar do rio
de janeiro acho que também matou muito mais do
que isso. Isso prova que tem perda dos dois lados.
Muitas vezes, e na maioria das vezes, quem morre
mais são os chamados criminosos, e os supostos
criminosos, que entram na frente da polícia, tentam
enfrentar a polícia, se negam a se entregar. Tem o
tráfico de drogas também que estimula essa ação
contra a polícia. Tem uma guerra urbana de
categorias, quer dizer, policiais e bandidos, e no
** ILUSTRA JOGOS DO RJ **
**SOBE SOM**
**CRÉDITOS**
TRILHA INICIAL
meio a população desarmada e cada vez mais com
medo. //
MAS, A PERGUNTA AINDA FICA: COMO
EXPLICAR TANTOS HOMICÍDIOS? //
RETRANCA: EPISÓDIO 3
PAUTA: TRÁFICO DE ARMAS
EDITOR: ALYSSON RODRIGUES/RENAN FAGALDE/EDIGLEI LEANDRO
TEMPO: 25’:39”
**SOBE SOM** **ILUSTRA IMAGENS GUERRA –
SÍRIA/FÁBRICA DE ARMAS** 24”
**RODA VHT - PADRÃO** 25”
**ILUSTRA IMAGENS ARMAS**
**ILUSTRA IMAGENS PLANALTO CENTRAL**
**ILUSTRA IMAGENS ARMAS E BANDEIRA DO BRASIL/PALÁCIO DA PRESIDÊNCIA**
**ILUSTRA SEDE ONU E BANDEIRAS DOS PAÍSES **
O BRASIL NÃO PARTICIPA DE UM CONFLITO
DESDE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL. NO
ENTANTO, A PRODUÇÃO DE ARTIGOS
BÉLICOS NUNCA PAROU DE CRESCER E HOJE
SOMOS UM DOS MAIORES EXPORTADORES
DE ARMAS LEVES E MEDIAS, ALEM DE TODO O
ARSENAL QUE CIRCULA NO PAÍS. MAS
PORQUE TANTA ARMA SE SOMOS
PACÍFICOS?//
ARMAS DE DIVERSOS TIPOS E CALIBRES
CIRCULAM E SÃO USADAS DIARIAMENTE NO
PAÍS. //
PARTE DESSE PODER DE FOGO EM
CIRCULAÇÃO É ILEGAL//
ENTRETANTO, PARA ENTENDER MELHOR A
SITUAÇÃO DO TRÁFICO, PRECISAMOS
ABORDAR O COMÉRCIO LEGAL DE ARMAS NO
BRASIL//
PARA ISSO TEMOS DE ENTENDER ALGUNS
TRATADOS QUE REGULAM O COMÉRCIO DE
ARMAMENTOS NO PAÍS E FORA DELE//
EM SETEMBRO DE DOIS MIL E TREZE, O
BRASIL E OUTROS CINQUENTA E NOVE
PAÍSES FORAM CONVIDADOS PELAS NAÇÕES
UNIDAS A ASSINAR TRATADO DA ONU SOBRE
O COMÉRCIO INTERNACIONAL DE ARMAS.// O
ACORDO TINHA COMO OBJETIVO AJUDAR A
REGULAR O COMÉRCIO PARA IMPEDIR O
**ILUSTR IMAGENS DOS LOGOS ONGS**
**ILUSTRA IMAGENS DO CONGRESSO/TANQUES/JATOS/
MILITARES**
**ARTE – NOTA-SOU DA PAZ**
EMPREGO DE ARMAS LETAIS NA VIOLAÇÃO
DE DIREITOS HUMANOS//
PORÉM, COMO EXPLICA A COALIZÃO PELA
EXPORTAÇÃO RESPONSÁVEL DE ARMAS,
FORMADA PELAS ORGANIZAÇÕES CONECTAS,
SOU DA PAZ, ANISTIA INTERNACIONAL,
INSTITUTO IGARPÉ E DESHARME, O BRASIL
ATÉ AGORA NÃO RATIFICOU O DOCUMENTO
DA ONU, OU SEJA, O BRASIL NÃO O SEGUE//
O DOCUMENTO ESTÁ PARADO ATÉ HOJE NO
CONGRESSO NACIONAL SEM NEM TER SIDO
APRECIADO PELOS PARLAMENTARES// O
ACORDO PREVE MAIOR CONTROLE SOBRE A
PRODUÇÃO E VENDA DE ARMAMENTOS QUE
VÃO DESDE ARMAS LEVES ATÉ LANÇA-
MÍSSEIS, TANQUES, JATOS E PORTA-AVIÕES//
MEDIANTE A ISSO, O SOU DA PAZ LANÇOU
NOTA DIZENDO: ABRE ASPAS EMBORA O
BRASIL SEJA O QUARTO MAIOR EXPORTADOR
DE ARMAS LEVES, COM VENDAS NO VALOR
DE QUASE US$ 3 BILHÕES ENTRE 2001 E 2012,
O PAÍS POSSUI UM DOS PROCESSOS DE
EXPORTAÇÕES DE ARMAMENTOS MAIS
SECRETOS DO MUNDO: ESTAMOS NA 43ª
POSIÇÃO EM MATÉRIA DE TRANSPARÊNCIA
NAS EXPORTAÇÕES DE ARMAS, ATRÁS DE
RÚSSIA, PAQUISTÃO, TAILÂNDIA E
ARGENTINA. ESSA FALTA DE TRANSPARÊNCIA
TEM ORIGEM EM UMA POLÍTICA CRIADA PELA
DITADURA MILITAR CHAMADA POLÍTICA
NACIONAL DE EXPORTAÇÃO DE MATERIAL DE
EMPREGO MILITAR, FECHA ASPAS//
COMO EXPLICA O SOU DA PAZ, A INDÚSTRIA E
O MERCADO DE ARMAMENTOS NO BRASIL
SÃO MUITO POUCO TRANSPARENTES//
**SONORA** GC FELIPPE ANGELI
CARGO: Coord. advocacia Sou da Paz
TEMPO: 03:47:50.00 03:53:48.10
*ILUSTRA IMAGENS SEDE DA CBC**
**SONORA/ARTE** GC: ex-executivo da Companhia Brasileira
de Cartuchos - CBC TEMPO:
11:35 - 12:27
**ILUSTRA IMAGENS ARMAS/ EXERCITO/ FÁBRICA DE ARMAS**
...de fato é extremamente opaco, extremamente
nebuloso essas informações sobre exportações de
arma de fogo que é muito perigoso. A gente por
exemplo, recentemente, identificou armas
brasileiras sendo utilizadas pela Arábia Saudita
contra a população do Iêmen, uma situação muito
provável de ataque de Direitos Humanos e são
áreas brasileiras, pouco se falam nisso [...] É um
tratado muito básico, é um tratado que estabelece
elementos mínimos para dar o mínimo de
transparência para impedir que armas, transportam
armas para outras forças que possa colocar em
risco direitos humanos, ou seja, não vou vender
uma arma para uma Ditadura usar essa arma que
estou vendendo para essa população ou para esse
país e ainda assim temos algumas dificuldades
como você explicou, isso é uma coisa. A outra
coisa é o mercado interno, primeira coisa: é uma
situação difícil (...) a arma Taurus (tem duas
empresas CBC e Taurus) a CBC comprou a
Taurus.. é monopólio, protegido do exército.
EM RESPOSTA ÀS CRÍTICAS, UM EX-
EXECUTIVO DA CBC QUE CONCEDEU
ENTREVISTA SOB A CONDIÇÃO DE NÃO SER
IDENTIFICADO, AFIRMOU QUE O PROBLEMA É
OUTRO//
Nós não vendemos pra bandido. Nós vendemos
pra quem tem registro. O exército libera, o exército
fiscaliza. O que acontece é que a malandragem é
tão grande que eles roubam dentro do exército. E o
pior não é isso, trazem do Paraguai, nós não temos
gente pra cuidar da fronteira.
MAS EXATAMENTE QUANTAS ARMAS ESSA
EMPRESAS PRODUZEM?// INFORMAÇÕES
SOBRE A INDÚSTRIA DE ARMAS SÃO TÃO
BLINDADAS QUE NEM MESMO EQUIPES DE
**ILUSTRA IMAGENS CBC E IMAGENS CBC INTERROMPIDA**
**ILUSTRA IMAGENS ARMAS E FRONTEIRAS **
**SONORA** GC VALMIR SALARO
Repórter policial – TV Globo 10:21:31.00 - 10:23:17.06
**IMAGENS FISCALIZAÇÃO FRONTEIRA**
REPORTAGEM PODEM SE APROXIMAR DAS
FÁBRICAS//
DURANTE AS GRAVAÇÕES DESSE
DOCUMENTÁRIO, NOSSA EQUIPE FOI
CENSURADA POR PARTE DOS FUNCIONÁRIOS
DA COMPANHIA BRASILEIRA DE CARTUCHOS,
CONHECIDA COMO CBC.
EM DETERMINADO MOMENTO A GRAVAÇÃO E
INTERROMPIDA// QUANDO NOSSOS
JORNALISTAS CAPTAVAM IMAGENS FORAM
ABORDADOS POR SEGURANÇAS ARMADOS
QUE EXIGIAM QUE AS IMAGENS FOSSEM
APAGADAS, ALEGANDO SER ÁREA DE
CONTROLE DO EXÉRCITO// SEM SAÍDA OS
REPÓRTERES FORAM OBRIGADOS A DEIXAR
O LOCAL//
SE O MERCADO INTERNO DE ARMAMENTOS É
TÃO RIGOROSAMENTE FECHADO, ENTÃO O
QUE FALAR DO CONTROLE DAS ARMAS QUE
ENTRAM NO PAÍS PELAS FRONTEIRAS?//
PARA O JORNALISTA VALMIR SALARO,
ESPECIALISTA EM COBERTURA POLICIAL, A
SITUAÇÃO DAS FRONTEIRAS É OUTRA//
(...) você tem uma fronteira seca que facilita a
entrada de armas. Acho que ali, sabe ali os
criminosos trazem armas. Usam o mesmo corredor
do tráfico de drogas, do contrabando de cigarros,
você usa o mesmo caminho. Por onde passou a
maconha, cocaína você traz arma ali. Que ali você
sabe o caminho, você pode corromper autoridades,
não só policiais, sabe. É uma fronteira extensa, me
lembro uma vez que estava passando pela fronteira
em uma das matérias que eu fui fazer, não sei se
era Bolívia, não sei, era não sei aonde, um desses
lugares assim, e o que me chamou muita atenção e
**SONORA** GC LUIZ CARLOS SANTOS
CARGO: Pres. CONDEPE Sec. Justiça
TEMPO: 02:09:54.26 - 02:11:56.00
**SONORA** GC BRUNO MANSO
CARGO: pesq. do Núcleo de Estudos da Violência - NEV
TEMPO: 00:40:18.00 - 00:42:42.50
**ILUSTRA IMAGENS BRASÍLIA E CONGRESSO**
GC: CPI
**IMAGENS PORTOS**
da nossa equipe, foi o fato da gente ao final da
tarde tinha uma guarita de policiais toda crivada de
bala. E não tinha ninguém. Aí mais pra frente a
gente parou num posto policial e perguntou, “não
ali não pode ficar ninguém, porque os criminosos
passam atirando. Se a gente quer fazer uma
segurança precisa ficar escondido no meio do
mato”. Isso já tem muito tempo, mais de 15 anos. E
nada mudou.
(...) Quando há um encontro dessas armas, que
são apreendidas, elas acabam retornando
novamente, de uma forma ou policial, ou por algum
agente do estado e acaba voltando para essa
climatizar, então ela fica assim (gesto com a mão)
circulando, ela tem uma rotatividade no
país...né...que acaba circulando em toda essa
esfera ilegalmente.
(...) No Brasil a arma em circulação é um contextual
sério, então quando a gente pensa em políticas
públicas, a gente pensa no que estamos lidando e
no caso do Brasil o problema de acesso a arma de
fogo sem dúvida é um problema vital para esse
desequilíbrio territorial que existe nesses lugares
com a taxa alta de homicídios, então existe uma
vasta discussão porque em alguns países a arma
produz violência.
SEGUNDO LEVANTAMENTO DA CPI SOBRE O
TRÁFICO DE ARMAS DE 2006, AS PRINCIPAIS
ROTAS DE ENTRADA DE ARMAS ILEGAIS NO
PAÍS SÃO AS FRONTEIRAS COM ARGENTINA,
BOLÍVIA, COLOMBIA, PARAGUAI, SURINAME E
URUGUAI, ALÉM DO TRÁFICO QUE CHEGA
NOS PORTOS DE SANTOS, RIO DE JANEIRO E
PARAGUÁI//
GC FELIPPE ANGELI CARGO: coord. advocacia Sou da Paz
TEMPO: 03:47:50.00 - 03:53:48.10
**IMAGENS PMs/VIATURAS/ARMAS**
**SONORA** GC LUIZ CARLOS SANTOS
CARGO: Pres. CONDEPE Sec. Justiça
02:05:40.00 - 02:09:52.08
**IMAGENS
MILITARES/ARMAS/FORUM/TRIBUNAL DE JUSTIÇA/VIATURAS**
(...) temos problemas de fronteira, não tenho a
menor dúvida em relação à isso, existe
contrabando, seja de armas, cigarros, existe
contrabando, não tenha a menor dúvida, algumas
armas vem do Paraguai, inclusive algumas voltam,
só para fazer uma triangulação e fazer um nível de
rotatividade, mas essa não é a melhor parte, de
fato, uma coisa que a gente acompanhou, o
tema...um dos grandes problemas das armas de
fogo está relacionada a cenas institucionais, das
cenas de policiais, das cenas de empresas de
vigilância, isso é um grande problema, um grande
foco de desvio de armas de fogo, armas
apreendidas por exemplo, foi outra coisa que não
foi saída do papel exatamente.
Da mesma forma que um policial ele vende essas
armas, alguns desses policiais, muitas vezes tem
denúncias que soldados do exército roubam armas,
dentro de quartéis e vendem pro crime organizado.
Esse ciclo de...dessa criminalidade que acontece
na corporação policial e nos exércitos, que
acontecem muito, eles sempre vão continuar
vendendo estes tipos de armas. Porque são
pessoas que entram ali e roubam. Roubam e levam
para essas comunidades. Essas armas que
aparecem nas cenas do crime, são armas que são
roubadas, muitas vezes a gente vê, vira e mexe
fogos são roubados, são roubadas armamentos de
fogo, somem armas dentro de corporações,
policiais...somem armas do Exército, são raspadas
essa numeração, é...acabam aparecendo uma mão
de favelas, de milícias perícias e muitas vezes
aparece na mão de quem é executada.
**ILUSTRA IMAGENS DE ARMAS DE
TODOS OS TIPOS**
**IMAGENS CONECTAS RAFAEL**
GC RAFAEL CUSTÓDIO
CARGO: coord. da área de justiça – CONECTAS
01:30:31.01 - 01:34:49.50
**IMAGENS STF/PRÉDIOS BRASILIA**
APÓS TREZE ANOS EM VIGOR, O CONGRESSO
NACIONAL PLANEJA AFROUXAR O ESTATUTO
DO DESARMAMENTO.//
EM RESPOSTA, O COORDENADOR DA ÁREA
DE JUSTIÇA DO CONECTAS RAFAEL
CUSTÓDIO DESTACA COMO O ESTATUTO
CONTÉM PONTOS POSITIVOS E CONTRA AS
ALTERAÇÕES PROPOSTAS.//
O ministro que diz que não precisamos de
pesquisa, não precisamos de mais armas, ele acha
que acaba aderindo ideias muito pouco
inteligentes, essa me parece uma ideia distante da
realidade. No estatuto de desarmamento, que é
essa lei que ele quer mexer, trazer essas armas, é
um estatuto que é parâmetro, não só nacional
como internacional de boa política em
desarmamento. O estatuto de desarmamento
apresentou ao criar incentivos as armas, um
controle melhor da posse de armas, representou
estatisticamente uma redução de homicídios por ter
reduzido o número de armas, está provado não só
no brasil mas o brasil conseguiu fazer também
essa política e provar que menos armas em
circulação significa menos violência né e o estatuto
de desarmamento significa uma grande pedra no
sapato da indústria, é um estatuto que sempre foi
alvo de ‘lob’ de alimentícia, ‘lob’ de forças militares,
sempre há um ataque, desde seu nascimento ao
ataque à sua concepção, agora a novidade é com o
ministério da justiça se coloca alinhado à esses
grupos e que enxergam no estatuto um problema
de segurança pública.
A DISCUSSÃO EM TORNO DO ASSUNTO É
ACIRRADA POR DIVERSOS MOTIVOS//
**SONORA/ ARTE CBC**
GC: ex-executivo CBC
TC IN: 11:35 TC OUT: 12:27
**IMAGENS INVESTIGADOR**
**SONORA INVESTIGADOR**
GC: investigador – polícia civil
01:20:05:01 - 01:20:16:03
**SONORA DELEGADO** GC ARMANDO NOVAES
CARGO: delegado de área Civil
TEMPO: 09:31:00.00 - 09:21:00
**SONORA CONDEPE**
GC LUIZ CARLOS SANTOS CARGO: Pres. CONDEPE Sec. Justiça
02:12:53.10 - 02:13:43.00
(...) as empresas tanto que fazem munição, a
imbel, a cbc, a taurus, fomos pra cima dizendo que
vocês tão enganado. (...) Então, o direito de defesa
das pessoas, isso não pode ser tirado cara. Então
nós vamos tirar o carro, vamos tirar as cachaças,
vamo tirar as facas, porque tem muito crime por
causa disso.
UM INVESTIGADOR, QUE TAMBÉM PEDIU PARA
NÃO SER IDENTIFICADO POR MEDO DE
SOFRER REPRESÁLIAS, CONCORDA COM A
POSIÇÃO DO EX-EXECUTIVO//
DEIXA INICIAL: O ARMAMENTO DA
POPULAÇÃO...
DEIXA FINAL: ... NÃO É A SOLUÇÃO
Estados Unidos teve aquela época dos caubóis né,
todo mundo andava armado, mas ninguém ficava
se matando né, e até hoje as pessoas podem
adquirir armas lá e não ficam se matando. Agora
vai liberar arma aqui no Brasil pra você ver, aí vira
um faroeste aí na rua, qualquer briga de trânsito
nego vai sair se matando. Por isso sou contra até
esse negócio de liberar arma pra população que
não dá certo. É essa coisa explosiva né, não sei,
daí o cara briga e já pega a arma, lá eles sabem se
controlar. E é o que eu falo, acredito que vem
dessa parte de você ter uma formação, educação,
alguém que acompanha, alguém que te mostra o
que é certo o que errado.
Eu não concordei. Porque eu percebi que no futuro
o mercado negro ia ser muito mais caro. Naquela
época, você tinha um mercado negro, mas não era
tão restrito. Hoje você tem uma coisa proibida, e
**ILUSTRA CONGRESSO NACIONAL**
**ARTE : CONGRESSO**
que um outro mercado negro precisa dessas
armas. Então acabou se custando mais caro ter
uma arma, ilegal, porque o que é ilegal é bom né,
então você acaba percebendo que a proibição, ela
causou outro efeito colateral. Que são as armas
ilegais.
A DISCUSSÃO GIRA EM TORNO DA PL 3722/22,
QUE AFROUXARIA OS CRITÉRIOS PARA QUE
UM CIDADÃO COMPRE UMA ARMA
LEGALMENTE DA SEGUINTE MANEIRA://
TER VINTE E UM ANOS;
APRESENTAR RG E CPF OU CNPJ;
COMPROVANTE DE RESIDÊNCIA E EMPREGO;
ATESTAR CONDIÇÕES PSICOLÓGICAS E
TÉCNICAS;
DEPUTADOS E SENADORES TERIAM ACESSO
POR FORÇA DO CARGO;
PORTE DE ARMAS VÁLIDO POR DEZ ANOS//
A MEDIDA AINDA SUSTENTA QUE O
CADASTRAMENTO DOS PORTADORES SEJAM
GRATUITOS E QUE PESSOAS QUE ESTEJAM
RESPONDENDO A INQUÉRITO OU PROCESSOS
CRIMINAIS AINDA POSSAM TER ARMAS//
HOJE AS NORMAS EXIGEM QUE O CIDADÃO
TENHA VINTE E CINCO ANOS DE IDADE, NÃO
TENHA ANTECEDENTES CRIMINAIS, ALÉM DA
TAXA DE SESSENTA REAIS//
A NOVA PROPOSTA VAI PERMITIR QUE
**ILUSTRA HOMICÍDIOS/ARMAS** GC: PORTE DE ARMAS
**SONORA FELIPPE ANGELI** GC FELIPPE ANGELI
CARGO: coord. advocacia Sou da Paz
03:26:00.25 - 03:30:13.05
**IMAGENS HOMICIDIOS/POPULAÇÃO**
03:30:25.00 - 03:40:35.17
**ILUSTRA ARMAS**
BRASILEIROS POSSAM TER NOVE ARMAS E
ATÉ SEISCENTAS MUNIÇÕES AO ANO.
ATUALMENTE O LIMITE É DE CINCO ARMAS E
CINQUENTA MUNIÇÕES AO ANO.//
PORÉM, O QUE NÃO ESTÁ SENDO DISCUTIDO
É O RESULTADO QUE O ESTATUTO TEVE
SOBRE A TAXA DE HOMICÍDIO//
Em 2003, quando foi aprovado final de 2003, de
fato, você, a gente tinha, se você pegar dez anos
atrás anteriores ao estatuto, 93 mais ou menos 94,
a taxa de homicídio por arma de fogo, crescia em
media sete por cento ao ano, todo ano sete por
cento a mais de homicídio, seis virgula nove para
ser preciso, na virada do ano de 2003 , 2004, e
aprovado o estatuto e tem a primeira queda em
décadas em números de homicídios, queda
concreta do numero de homicídios depois de uma
estabilização dos dez anos posteriores, entre 2004
e 2014...Os números de homicídios... a taxa de
homicídios por armas de fogo continua crescendo
só que zero virgula três por cento, ou seja, e muito
claro que acontece essa queda (gesto com a mão)
em 2003, e aqui ela estabiliza e passa a ficar
praticamente numa reta [...] tem uma serie de
iniciativas, dentro do desarmamento que ele nunca
foi implementado, então ate nos que somos
defensores do armamento da legalidade da arma
de fogo e não e questão ideológica, não ha indicio
cientifico, não há evidencia acadêmica alguma que
aponte na direção contraria, não existe qualquer
informação seria produzida de forma (...) precisa de
fato, de forma acadêmica irrelevante que aponte a
maior circulação de armas de fogo representa
qualquer beneficio a população e justamente ao
contrario. Nos que lutamos tanto para esse controle
de armas, a gente muitas vezes se coloca numa
posição esquizofrênica pois a gente defende algo
que nunca foi implementado na sua totalidade e
**ILUSTRA IMAGENS DO SENADO**
**SONORA RENAN CALHEIROS** GC: PRES. DO SENADO FEDERAL
**ILUSTRA IMAGENS FOTOS E VÍDEOS DO MASSACRE – ORLANDO**
**ILUSTRA VIATURAS POLICIAIS AMERICANAS**
tem problemas (...) tem Estatuto, e o Estatuto esta
cheio de problemas (...) problemas porque qualquer
legislação sempre passiva de aprimoramento e
porque tem coisas que nunca saiu do papel.
PARA O PRESIDENTE DO SENADO, RENAN
CALHEIROS, A IDEIA DA NOVA PROPOSTA NÃO
VAI PARA FRENTE. EM DISCURSO NO
PLENÁRIO ELE COMENTOU OS MOTIVOS POR
QUAIS NÃO SE CONCRETIZARIA TAL
MUDANÇA NO ESTATUTO.
Pelo que nós conhecemos do senado federal, essa
matéria não tem absolutamente nenhuma
possibilidade de prosperar nesta casa, pela
contradição que significa, num momento como
esse de muita dificuldade, numa sociedade
caracterizada pela necessidade de conviver com
ódios, fanatismos de
Grupos. Mais uma vez, assistimos nos estados
unidos ao mal que a sociedade armada significa.
O FATO A QUE ELE SE REFERE É O
MASSACRE NA BOATE PULSE, EM ORLANDO,
NOS ESTADOS UNIDOS, EM JUNHO DE 2016.
QUANDO UM ATIRADOR ASSASSINOU CERCA
DE CINQUENTA PESSOAS E FERIU OUTRAS
CINQUENTA E TRÊS, ANTES DE MORRER EM
TROCA DE TIROS COM POLICIAIS.//
O CASO FOI CONSIDERADO O PIOR ATAQUE A
TIROS DA HISTÓRIA COM UM ÚNICO
ATIRADOR, SEGUNDO OS AGENTES FEDERAIS
AMERICANOS.//
GC BRUNO MANSO
CARGO: pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência - NEV
00:40:18.00 - 00:42:42.50
**ILUSTRA FERNANDO HENRIQUE CARDOSO**
**SONORA FERNANDO HENRIQUE**
GC – EX PRESIDENTE DA REPÚBLICA/SOCIÓLOGO
30” GC: VIA INTERNET
**ILUSTRA IMAGENS TURISTAS RJ**
No caso dos eua é um problema também, hoje vem
sendo discutido isso, principalmente pelos
massacres que acontecem nas escolas, pessoas
que tem problemas mentais e deram várias
demonstrações de distúrbios e processos em arma
que acabam matando vários estudantes que você
toda vez que acontece nos eua. Agora é no brasil e
na américa latina o problema dos homicídios é
crônico, um dos cinquenta países mais violentos do
mundo, quarenta estão na américa latina, das
cinquenta cidades mais violentas, vinte e um está
(sic) no brasil. O brasil é o país mais violento do
mundo. Então você tem que pensar no contexto
que produz esses problemas. No brasil a arma em
circulação é um contextual sério, então quando a
gente pensa em políticas públicas, a gente pensa
no que estamos lidando e no caso do brasil o
problema de acesso a arma de fogo sem dúvida é
um problema vital.
O EX-PRESIDENTE DO BRASIL FERNANDO
HENRIQUE CARDOSO, QUE TAMBÉM É
SOCIOLOGO, EM VIDEO PUBLICADO NA
INTERNET, REPREENDEU ESSA REFORMA DO
ESTATUTO.//
O estatuto do desarmamento foi uma construção
política feita com a sociedade. E teve efeitos.
Reduziu o número de mortos que continua sendo
um absurdo. Como vamos agora derrubar esse
estatuto e
Permitir que até criminosos tenham legitimamente
armas? Isto é um escândalo! Por isso, faço um
apelo: que se recuse essa votação e que o plenário
mantenha o estatuto do desarmamento.
AFINAL, O BRASIL É UM PAÍS ACOLHEDOR E
PACIFÍCO, OU SERIA ISSO SÓ PRA GRINGO
VER?//
GC DAVID MARQUES
CARGO: pesq. do Fórum Brasileiro de Seg. Pública
11:19:36:16 -11:22:08:24
** ILUSTRA ASSASSINATOS**
**ILUSTRA IMAGENS DE ARMAS**
GC: NÚMERO DE ARMAS
**ILUSTRA ARMAS DE FOGO/ SEDE UNESCO/ ASSASSINATOS**
GC: NUMÉRO DE TOTAL DE MORTES
FONTE: UNESCO/MAPA DA VIOLENCIA -2015
**ILUSTRA DIVERSOS TIPOS DE ARMAS** GC: NÚMEROS DE ARMAS
Desde as campanhas pelo desarmamento no
começo dos anos 2000. O ipea tem alguns estudos
sobre isso e a conclusão é clara: mais armas, mais
crimes, mais violência. Esse sentimento de
insegurança leva muitas vezes as pessoas a
imaginar que portar uma arma vai te tornar mais
seguro, vai te prevenir, ou vai possibilitar que você
reaja a um assalto e não tenha seu bem furtado,
não tenha seu bem roubado. Isso é falso, a gente
estudos dos anos 90 aqui em são paulo analisar os
casos de latrocínio, por exemplo, e vão apontar que
nos casos em que a pessoa tem uma arma ela é
mais vitimada letalmente do que nos casos de
quando você não tem uma arma. Então as
evidências empíricas estão aí, os estudos
sociológicos eles estão ai. No entanto, a gente tem
pressão de grupos políticos que estão associados a
essa questão mais militarizadas, (...) Por outro lado
você tem interesses político-econômico também
né? A indústria bélica no brasil ela cresceu muito...
SEGUNDO A PESQUISA DA ‘VIVA RIO’
PUBLICADA PELO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, EM
2010, O NÚMERO DE ARMAS DE FOGO ILEGAIS
NO PAÍS ULTRAPASSA SETE MILHÕES..//
EM RELAÇÃO A ISSO, A UNESCO LEVANTOU
DADOS DE QUE CENTO E DEZESSEIS
BRASILEIROS MORREM TODOS OS DIAS POR
ARMA DE FOGO. AINDA SEGUNDO A ONU, O
BRASIL É O PAIS COM O MAIOR NUMERO DE
MORTES POR BALAS PERDIDAS ENTRE OS
PAISES DA AMERICA LATINA E O CARIBE.//
HOJE, SEGUNDO O MAPA DA VIOLÊNCIA DE
2015, O BRASIL TEM CERCA DE QUINZE
MILHÕES DE ARMAS NAS MÃOS, SENDO
DESTAS, POUCO MAIS DE OITO MILHÕES NÃO
**SONORA**
GC investigador – polícia civil
00:37:58:23 - 00:38:38:16
**ILUSTRA SP AÉREO**
GC VALMIR SALARO CARGO: repórter policial – TV Globo
10:21:31.00 - 10:23:17.06
**ILUSTRA ARMAS/POLICIAS**
GC ARMANDO NOVAES CARGO: delegado de área pol. Civil
09:14:13:10 – 09:15:55:26
09:15:55:26 - 09:18:02:08
REGISTRADAS E PRÓXIMO DOS QUATRO
MILHÕES EM CONTROLE DOS CRIMINOSOS.//
Qual a coisa mais rentável no mundo? Tráfico.
Tráfico internacional. Quem acha que traficante
mora na favela ta errado. Líder do tráfico não mora
na favela tá. É em alguma região do brasil que não
é banhada por mar, é no centro-oeste, uma região
bem central do brasil, e tem fortes ligações
políticas. Então você tem interesse político em
minar o poder da polícia, desgastar a polícia,
desarmar a população, e deixar o crime prevalecer.
Até mesmo porque uma população com medo, é
muito mais fácil ser dominada.
PARA SALARO O CONTROLE DO TRÁFICO DE
ARMAS É ALGO COMPLEXO E FALTA UM
RECOLHIMENTO PADRONIZADO DE ARMAS
APREENDIDAS.//
A polícia quando apreende uma arma, essa arma
teria que ser levada pra delegacia, feita um
registro, e mandada pro fórum, né, pra saber a
origem, pra saber se essa arma foi usada em
algum crime. No mundo do crime chama de cabrito.
Então muitas vezes os policiais apreendem essas
armas e acabam negociando com os próprios
criminosos. Então, quer dizer, existe um tráfico
interno de armas aqui no brasil, porque tem muita
arma circulando, muita arma, e a arma que vem de
fora.
O que a gente sabe é que é algo meio aleatório,
tanto vem do paraguai, mas vem de outros lugares.
Arma roubada (tosse) da pm, arma do exército
desviada. Eu vi esses dias um caminhão do
exército traficando drogas. Tem três tenentes do
exército envolvidos. E o caminhão do exército
**ILUSTRA ARMAS E CIDADES
BRASILEIRAS MAIS FRONTEIRAS E
EXERCITO***
SOBE SOM
**ILUSTRA MANIFESTAÇÃO E IMAGENS AÉREAS**
TRILHA FALCÃO
SOBE CRÉDITOS
quem vai abordar na rua, e tava traficando drogas.
Então você vê arma do exército que vai parar na
mão de bandido, armas que já ouvi dizer que vem
pelo mar. Lá em santos eles pegam esses navios
que vêm de petróleo e etc, e muitos deles baixam
as armas em lanchas. [...] Mas essa história da
fronteira eu não sei, né? O governo estadual quer
jogar a culpa no federal que fiscaliza a fronteira,
isso é um jogo mais político né? Mas esse das
armas é muito aleatório. Você vê armas de
diversos lugares chegando aqui. Em tese eles
teriam que encaminhar pro exército né? Já que é
obrigatório encaminhar essas armas para o
tribunal. A função do exército é destruir essas
armas, agora o porquê do não encaminhamento é
questão da magistratura se pronunciar, porque eu
não tenho como entender porque eles não dão
esse destino final, essa destruição, que é o certo.//
RETRANCA: EPISODIO 4
PAUTA: TERROR URBANO
EDITOR: EDITOR: RENAN FAGALDE/
ALYSSON RODRIGUES/ÉDIGLEI LEANDRO
TEMPO: 30’28”
**ILUSTRA IMAGENS
POLÍCIAIS/ASSASSINATOS** 31”
** IMAGENS DE POLICIAIS **
**RODA VHT **
25”
**IMAGENS PESSOAS/POLICIAIS**
FALAR SOBRE OS PROBLEMAS POLICIAIS NO
BRASIL É NECESSÁRIO E CONTROVERSO//
NA ETERNA GUERRA DESSE MUNDO CÃO,
HOMENS E MULHERES ARRISCAM A VIDA
DIARIAMENTE PARA MANTER UM SEMBLANTE DE
LEI E ORDEM PELO BRASIL AFORA//
AO MESMO TEMPO ESTES HOMENS E MULHERES
MUITAS VEZES SÃO OS PRIMEIROS A QUEBRAR A
LEI QUE DEVERIAM RESPEITAR//
A CONFIANÇA NA POLÍCIA É BAIXA E TEM RAZÃO
DE SER//
O BRASILEIRO AS VEZES PRECISA DA POLÍCIA/ O
BRASILEIRO AS VEZES É VÍTIMA DA POLÍCIA// A
POLÍCIA, MUITAS VEZES, É VÍTIMA DELA PRÓPRIA//
PARA MUITOS A POLÍCIA É UMA INSTITUIÇÃO
FORMADA POR HERÓIS MAL PAGOS QUE
ARRISCAM A VIDA PELO NOSSO BEM-ESTAR. E
COMO QUALQUER OUTRO TRABALHADOR SÓ
QUEREM VOLTAR PARA CASA NO FINAL DO
EXPEDIENTE// UM INVESTIGADOR QUE NOS DEU
ENTREVISTA SOB CONDIÇÃO DE ANONIMATO, POR
TEMER REPRESÁLIAS, CONTA O QUE SE PASSA NA
CABEÇA DE UM POLICIAL//
**SONORA**
GC: Investigador 00:03:45 - 00:04:08:13
**ILUSTRA ABORDAGEM
POLICIAL/VIATURAS**
**SONORA MANIFESTANTE**
**ILUSTRA IMAGENS MANIFESTAÇÃO/POLÍCIA**
**SONORA**
GC: DJAMILA RIBEIRO Secretária-Adjunta de Direitos
Humanos de São Paulo
00:22:33.06 - 00:23:33.05 ** ILUSTRA POLICIAIS/ÁGUIA –
PM/VIOLÊNCIA POLICIAL**
Deixa inicial: [...] você tem hoje em dia uma teoria...
Deixa final: quer voltar pra casa vivo simplesmente.
PARA MUITOS OUTROS A POLÍCIA,
PRINCIPALMENTE A MILITAR, É SINÔNIMO DE
MEDO, CORRUPÇÃO, AMEAÇAS, CHACINAS E
TRUCULÊNCIA DIRECIONADA CONTRA A
POPULAÇÃO NEGRA E POBRE //
Porque historicamente toda a democracia –estado de
direito (?) – não precisa de uma polícia militar, porque
militar você pressupõe um inimigo interno ou externo e a
população não é inimigo né. Então uma polícia civil bem
treinada pra lidar com a população seria o ideal mas...
no nosso país tá difícil o ideal né.
A polícia não funciona. Eu acho... Minha pauta é muito
pela questão da desmilitarização da polícia, a forma que
ela foi constituída não tem como né, porque já foi
pensada justamente no sentido de exterminar, por esse
olhar... Eu acho que a gente tem que pautar, pensar na
segurança de outras formas né. De formas mais
comunitárias, como cada comunidade pode pensar
isso...Porque pensar por esse viés da polícia não resolve
né, então as pessoas falam pra melhorar a segurança,
que a gente ta sendo assaltado e tal, vai falar isso para
um jovem negro da periferia, o que que é ter mais
polícia. Esses jovens eles sabem como eles são tratados
pela polícia né, então eu acho que não vai dar pra gente
pensar nesse país, mudar essa lógica, enquanto a gente
tiver polícia militar, enquanto a polícia militar estiver
agindo, ser o grande agente responsável pelo extermínio
dessa população, porque ta dentro da ideologia né,
dessa instituição.
**ILUSTRA IMAGENS
INVESTIGADOR**
**SONORA**
INVESTIGADOR 00:03:10 - 00:03:39
**ILUSTRA POLICIAIS/MORTES**
GC: FONTE
**SONORA JULIO JACOBO**
GC: Julio Jacobo Waiselfiz Pesq e autor - Mapa da Violência
22:08 - 22:46
**SONORA** FALA POVO
GC: Eloisio da Silva 06:53:48:26 - 06:54:00:26
É O CLICHÊ DO POLICIAL BOM E POLICIAL RUIM, E
VOCÊ PODE JÁ TER ENCONTRADO ALGUNS QUE
SE ENCAIXAM NESSES EXEMPLOS//
VAMOS COMEÇAR FALANDO DOS INVESTIMENTOS
EM SEGURANÇA//
Deixa inicial: a infraestrutura tá fraca, isso você vê..
Deixa final: ...pouca gente na rua
SEGUNDO DADOS DO ANUÁRIO DOIS MIL E QUINZE
DO FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA,
FORAM GASTOS SETENTA E UM BILHÕES E
DUZENTOS MILHÕES DE REAIS EM SEGURANÇA
EM DOIS MIL E QUATORZE, UM AUMENTO DE
DEZESSEIS VÍRGULA SEIS POR CENTO ANTE DOIS
MIL E TREZE//
ENTRETANTO, O NÚMERO DE HOMICÍDIOS NO
BRASIL NÃO CAIU//
(...) já há vários anos que se está investindo
maciçamente, se construíram cárceres, um nível de
encarceramento feroz, há uma guerra na rua que todos
os dias malandro metralha polícia e polícia metralha
malandro. Não está dando nenhum resultado. Então
porque continuar insistindo na mesma estratégia se já se
comprovou que não dá resultado? Porque há interesses
em jogo, tem muita grana ai em jogo, e onde tem grana
você sabe mais ou menos qual é a questão.
[...] a maioria dos policiais, dos funcionários não
recebem. O governo não tem dinheiro, pra onde foi esse
dinheiro? Eu falo mesmo, o dinheiro foi roubado, o
dinheiro é trambique deles, eu não admito isso...
**SONORA DELEGADO**
GC: Armando Novaes
Delegado de área da pol. Civil 08:56:30 - 08:57:37
** ARTE
Anuário FBSP 2015 **
**ILUSTRA IMAGENS DO
BRASIL/FRANÇA/ALEMANHA/ ESPANHA/ REINO UNIDO **
GC: INVESTIMENTOS
GC: MORTES
** ILUSTRA IMAGENS DE HOMICIDIOS/CIDADES **
GC: MORTES
**SONORA**
GC: Julio Jacobo Waiselfiz Pesq. e autor - Mapa da Violência
09:46 - 13:26 14:30 - 20:23
Deixa inicial: [...] eu acho que o foco é errado...
Deixa final: ...é investigação.
DE ACORDO COM UM COMPARATIVO FEITO PELO
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA
SOBRE O NÍVEL DE INVESTIMENTOS, O BRASIL
DESEMBOLSOU EM DOIS MIL E QUATORZE, EM
RELAÇÃO AO PRODUTO INTERNO BRUTO, UMA
SOMA MAIOR QUE A FRANÇA EM SEGURANÇA
PÚBLICA, UM VÍRGULA TRÊS POR CENTO DO PIB
CONTRA UM VÍRGULA DOIS POR CENTO GASTOS
PELOS FRANCESES//
NA MESMA COMPARAÇÃO INVESTIMOS POUCO
MENOS QUE A ESPANHA, APESAR DO PIB NOMINAL
BRASILEIRO SER MAIOR/ OS ESPANHÓIS
GASTARAM UM VÍRGULA CINCO DO PRODUTO
INTERNO BRUTO COM SEGURANÇA PÚBLICA,
MESMO NÍVEL QUE OS BRITÂNICOS//
EM DOIS MIL E QUATORZE A FRANÇA TEVE
APENAS SETECENTOS E SETENTA E SETE
HOMICÍDIOS, A ESPANHA SÓ TREZENTOS E DOIS E
O REINO UNIDO SEISCENTOS E DOIS//
O BRASIL, COMO JÁ DISSEMOS, É O CAMPEÃO
ISOLADO COM MAIS DE CINQUENTA E OITO MIL
VÍTIMAS DE MORTES VIOLENTAS POR ANO,
SEGUNDO O ANUÁRIO E O MAPA DA VIOLÊNCIA DE
DOIS MIL E QUINZE//
Exatamente, o Brasil, em 59 mil homicídios, quase 60
mil homicídios em 2014, [o Brasil] é o Estado que mais
mata quantitativamente no mundo.
[...] Em 2013, por exemplo, se registraram 40 conflitos
armados no mundo: Síria, Iraque, Bangladesh etc., onde
houve conflitos armados, ou internos ou entre países.
**ILUSTRA IMAGENS GUERRAS**
**SOBE SOM: TIROS**
**SONORA VALMIR SALARO**
GC: Valmir Salaro Repórter policial – TV Globo
09:50:50 - 09:52:29
Em 40 conflitos armados morreram aproximadamente
25-29, 20 e poucas mil pessoas. No Brasil, sem conflitos
armados com ninguém, sem conflitos de fronteira, sem
conflitos religiosos – pelo menos não conflitos armados –
sem conflitos devido à língua, como em alguns países
como o Canadá. Sem nenhum desses tipos de conflitos
consegue matar muito mais gente que 40 conflitos
armados no mundo somados
[...] ali vocês citam 60 mil homicídios, são 164 casos por
dia, quer dizer não tem guerra no mundo que mata isso.
Você tem varias países em guerra no Oriente (Médio)
que não mata isso. A pesquisa e a comparação que
vocês fizeram no trabalho de vocês eu concordo
plenamente. Quando eu converso com as pessoas eu
sempre cito isso. Quer dizer, você tem no Brasil um
número elevado de homicídios sem que o país esteja em
guerra. E além do número altíssimo, que é chocante,
você tem um outro dado que a polícia não chega a
esclarecer nem 8% dos homicídios. Quer dizer, acho
que estou até exagerando nessa porcentagem, mas a
polícia não esclarece. Então muitos assassinos estão
hoje impunes. A questão dos latrocínios que são os
criminosos que matam pra roubar. Só essa semana, por
coincidência, nessa semana do 7 de setembro, acho que
foram 4 casos de domingo até agora em São Paulo. A
gente não sabe em outras cidades do Estado, em outras
capitais, em outros lugares do Brasil, que são mais
violentos que São Paulo. Hoje São Paulo já não está
mais entre as cidades mais violentas do Brasil, é uma
das, mas hoje o Nordeste lá não existe lei, lá existe a lei
do mais forte. Quer dizer, quem pode pega uma arma e
mata e não tá preocupado com justiça, com
investigação, em ser preso, quer dizer absolutamente
nada né.
NO NORDESTE FICA A CIDADE MAIS PERIGOSA DO
**ILUSTRA SIMÕES FILHO**
GC: MAPA DA VIOLÊNCIA
INSERIR ARTE NOTA SSP-BA
**ILUSTRA HOMICÍDIOS**
BRASIL SEGUNDO O MAPA DA VIOLÊNCIA DOIS MIL
E QUINZE: O MUNICÍPIO BAIANO DE SIMÕES FILHO,
A MENOS DE TRINTA QUILÔMETROS DE
SALVADOR//
COM UMA TAXA DE HOMICÍDIO DE CENTO E VINTE
E SEIS ASSASSINATOS POR CEM MIL HABITANTES
E APENAS UMA DELEGACIA, OS NÚMEROS DA
PEQUENA CIDADE COM POUCO MAIS DE CEM MIL
PESSOAS SÃO ATERRADORES//
A SECRETARIA DE SEGURANÇA DA BAHIA,
ENTRETANTO, QUESTIONOU POR MEIO DE NOTA A
METODOLOGIA DOS ESTUDOS QUE CHEGARAM A
ESSES NÚMEROS//
DIZENDO QUE DIFERENÇAS NAS METODOLOGIAS
USADAS PARA CONTABILIZAR O NÚMERO DE
HOMÍCIDIOS EM CADA ESTADO INDUZEM A UM
ERRO GROSSEIRO, A SECRETARIA AFIRMA QUE
ISSO PREJUDICA ESTADOS TRANSPARENTES NA
DIVULGAÇÃO DE DADOS E PROTEGE AQUELES
QUE USAM MANOBRAS PARA MASCARAR A
REALIDADE//
ABRE ASPAS, PROVA DISSO É A UTILIZAÇÃO DA
CATEGORIA “MORTES A ESCLARECER”, POR
PARTE DE ALGUNS ESTADOS, QUANDO DA
OCORRÊNCIA DE CRIMES CONTRA A VIDA SEM
ELUCIDAÇÃO. NA BAHIA, TODOS AS OCORRÊNCIAS
ENVOLVENDO MORTES, INDEPENDENTE DA
INVESTIGAÇÃO OU ELUCIDAÇÃO, SÃO
CONSIDERADOS CRIMES VIOLENTOS LETAIS
INTENCIONAIS. O MESMO ACONTECE COM
OCORRÊNCIAS QUE ENVOLVEM MAIS DE UMA
VÍTIMA. CADA MORTE É CONSIDERADA UMA CVLI,
DIFERENTE DE OUTROS ESTADOS QUE
CONSIDERAM CHACINAS COMO UM CRIME ÚNICO.
FECHA ASPAS//
**SONORA**
JULIO JACOBO
TC IN: 06:53
TC OUT: 09:11
**ILUSTRA CIDADE**
**SONORA**
GC: David Marques
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA
TC IN: 11:01:25
A SECRETARIA DA BAHIA AFIRMA ENTENDER QUE
ENQUANTO NÃO HOUVER UM PADRÃO PARA A
CONTABILIZAÇÃO DE HOMICÍDIOS NÃO HÁ COMO
FAZER COMPARATIVOS FIEIS AOS FATOS, E
TAMBÉM QUE O PRÓPRIO MAPA DA VIOLÊNCIA
CHAMA ATENÇÃO PARA A DIFERENÇA DA COLETA
REALIZADA PELOS ESTADOS//
LEVAMOS O QUESTIONAMENTO FEITO PELA
SECRETARIA DE SEGURANÇA ATÉ O AUTOR DO
ESTUDO//
É claro, qual é o questionamento sobre Simões Filho?
Geralmente esse questionamento sai dos três ou quatro
que estão em primeiro lugar (no ranking de violência).
[...] Nossos dados não coincidem com os dados e se fala
abertamente isso, não coincidem com os dados da
Secretaria. Por quê? Porque os dados da secretaria são
trabalhados politicamente. O que se quer dizer? Se se
quer aumentar se aumenta, se se quer diminuir, diminui.
Porque não há nenhuma legalidade, enquanto as
certidões de óbito têm leis que estabelecem como são
formuladas etc., o boletim de ocorrência cada um faz o
que bem entender, cada Estado. E fazem o que bem
entendem em muitos casos.
OS DOIS PRINCIPAIS ESTUDOS SOBRE O NÚMERO
DE HOMICÍDIOS NO BRASIL, O MAPA DA VIOLÊNCIA
E O ANUÁRIO DO FÓRUM BRASILEIRO DE
SEGURANÇA PÚBLICA, CRITICAM A FALTA DE
TRANSPARÊNCIA E CONFIABILIDADE DOS DADOS//
[...] tem uma questão em alguns estados de dificuldade
técnica e de pessoal, condições objetivas mesmo pra
produzir esse dado. Você tem situação, como aqui em
São Paulo, que a gente verifica na verdade que os
próprios gestores por considerar que esses dados já
estão sendo publicado, que esse dado já ta público pra
TC OUT: 11:04:06
**ILUSTRA CONGRESSO**
**ILUSTRA MORTOS/POLÍCIA**
**SONORA**
GC RAFAEL CUSTÓDIO CARGO: coordenador da área de
justiça – CONECTAS TC IN: 01:02:56.24
TC OUT: 01:05:18.20
quem quiser ir atrás procurar e desenvolver. Eles vêm
que essa transparência já ta consolidada por essa
publicação. Na verdade o que a gente tem que apontar
cada vez mais é essa transparência ativa e da
construção desses critérios de comparabilidade entre os
estados. Isso historicamente é uma pauta difícil. No
Brasil principalmente essa pauta da transparência ela é
complicada porque, muitas vezes os interesses políticos,
eleitorais e você mostrar um dado mais transparente
pode ser de fato prejudiciais num primeiro momento
pra... esses políticos entendem dessa forma, né.
NOS DADOS DO FÓRUM CONSTA QUE DO NÚMERO
TOTAL DE MORTOS EM DOIS MIL E QUATORZE,
TRÊS MIL E NOVE PESSOAS FORAM MORTAS PELA
POLÍCIA, UM CRESCIMENTO DE QUASE QUARENTA
POR CENTO DA LETALIDADE POLICIAL EM
COMPARAÇÃO A 2013//
O NÚMERO DE POLICIAIS MORTOS, EM
COMPARAÇÃO, FOI DE TREZENTOS E NOVENTA E
OITO NO MESMO ANO, UMA QUEDA DE DOIS E
MEIO POR CENTO ANTE 2013//
ISSO SIGNIFICA QUE A POLÍCIA MATA QUASE DEZ
VEZES MAIS DO QUE MORRE, E O QUE PODE
EXPLICAR A VIOLÊNCIA DA POLÍCIA BRASILEIRA?//
Acho que são várias...várias causas estruturais que
acabam refletindo neste cenário que você está dizendo,
se a gente pensar em uma perspectiva...é histórica a
criação da polícia no Brasil, a gente vai ver que a polícia
foi criada para lidar de modo violento com populações
mais marginalizadas, principalmente ali no período pós-
escravidão, ou seja, a polícia se organiza naquela época
do Brasil pós império, para controlar essa população
para que ela não cometesse delitos ou perturbasse a
ordem pública das cidades do Brasil. Esse DNA da
corporação, infelizmente se manteve, a gente não viu
**SONORA**
GC INVESTIGADOR
**SONORA NEV**
GC: Bruno Paes Manso
Coordenador do núcleo de violência - NEV
TC IN: 00:19:20.04
TC OUT: 00:22:29.05
**ILUSTRA COM ABORDAGEM**
uma grande reforma desse DNA da polícia brasileira, ou
seja, é uma polícia pensada para lidar e trucar de modo
violento com as populações marginalizadas...
Numa abordagem, uma coisa que é muito ruim numa
abordagem, quando você vai abordar um bandido, você
falou da truculência policial, quando você for abordar
realmente um bandido, se você for na educação, é a
chance dele reagir é de 90%. Por quê? Ele acha que ele
pode, ele fala “puts, esse cara é um coió”, “ele é um
daqueles despreparados”, e ele vai tentar reagir. E é daí
que sai as grandes cagadas porque, ou o policial morre
ou o policial mata. Quando um policial aborda, ele não
pode ir com muita educação, isso é experiência própria
ta, eu já tentei fazer uma abordagem, e fiz essa...
quando eu trabalhava na rua, eu fiz esses dois tipos de
abordagem. Fazer uma abordagem educada, o pessoal
vinha, virava, já começava a discutir, você já tinha que
ficar olhando, um tava com uma faca na cintura, então
você tem isso... Agora quando você chega mais duro,
mais firme, o pessoal já... Ele não reage
ESSE TIPO DE ABORDAGEM, QUE TEM RAÍZES
ANTIGAS, NÃO TEM DADO RESULTADO//
[...] a militarização da polícia nos moldes a partir de uma
nova legislação em 69, na ditadura militar a polícia
começou a ser treinada no combate à guerrilha. Na
época a guerrilha urbana era muito forte aqui em SP no
decorrer dos anos começou os inimigos, os comunistas
foram vencidos, mas o bandido virou o grande inimigo
da cidade e do Estado e muito das formas de extermínio
que foi aplicado nesta forma continuam sendo aplicadas
aqui em SP. Você tem uma questão de estrutura policial,
que e problemática e você tem o problema da polícia
militar e civil. E muitas vezes muitas pessoas acham que
o extermínio e a violência acabam sendo uma forma de
controlar o crime. Isso de alguma forma foi tolerado em
alguns anos, no judiciário, no MP. [...] Então além
**SONORA**
GC: Luiz Carlos
Condepe-SP
TC IN: 01:24:32.00 (CLIP 00003)
TC OUT: 01:26:04.00
**ILUSTRA LINCHAMENTO**
**SONORA**
GC: David Marques
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA
TC IN: 11:11:49:12
TC OUT: 11:14:20:21
**ILUSTRA
dessas violências você também tem milícias formadas e
sempre acreditando que a violência e uma solução, ao
invés de um problema. A violência pode controlar o
crime, a gente tem visto que é uma falácia.
Se tornou uma cultura, militarismo é engendrado no
Estado de São Paulo, muitas vezes treinado para
guerrilha, treinado para eliminar alvos na sua frente e
acaba matando e essa situação de impunidade que
estamos falando também, isso faz com que traz “isso
não dá nada pra ele então também não vai dar nada pra
mim, eu vou atirar, essa arma vai disparar”, e aí vem a
desculpa que a arma disparou, que foi sem intenção de
matar, a legislação muito frouxa nesse sentido o policial
mata, consegue o habeas corpus para sair, responde em
liberdade, enquanto outros apodrecem na cadeia né,
mas era um policial militar, residência fixa, então ele
acaba não respondendo da forma que tem que
responder. Então isso faz com que a Polícia acabe
matando mais e sempre é a Policia Militar, nós temos
poucas reclamações com a Polícia Civil, mas a polícia
militar toda semana tem ocorrências dela. E aí a gente
vai ver com o familiar o que que aconteceu e não é a
história que tá no boletim de ocorrência.
PARTE DESSES ABUSOS ACONTECE DEVIDO À
CRENÇA QUE MUITOS BRASILEIROS TÊM NA
FRASE “BANDIDO BOM É BANDIDO MORTO” ,
SEGUNDO PESQUISA DO FÓRUM BRASILEIRO DE
SEGURANÇA PÚBLICA E DO DATAFOLHA EM DOIS
MIL E QUINZE, CINQUENTA POR CENTO DOS
BRASILEIROS CONCORDAM QUE BANDIDO BOM É
BANDIDO MORTO.//
eu acho que a gente tem esse processo de uma
dinamização muito grande do crime, as dinâmicas
criminais se pluralizam, elas se intensificam,
principalmente a partir dos anos 90 no Brasil, e as
grandes metrópoles, o crescimento das grandes
MANIFESTAÇÕES/TROPA**
**ILUSTRA VIOLÊNCIA POLICIAL/ EXECUÇÃO PM**
metrópoles, e uma maior vitimização mesmo da
população gera esse sentimento de insegurança. E pra
isso a gente tem também esses setores sociais que
apostam nessas soluções que são mais autoritárias,
mais violentas para o controle do crime, pra diminuição
da violência. A análise que eu faço é que de fato esse
tipo de controle, esse tipo de resposta a violência ele
gera mais violência e ele não tem dado certo. Então os
nossos homicídios estão crescendo, uma dificuldade
muito grande de reduzir a questão dos roubos a nível
nacional, então esse resposta não vem dando certo.
Esse enunciado do bandido bom é bandido morto ele
dialoga com tudo isso. Uma sensação muito grande de
insegurança apela pra que a violência vai de fato
atenuar esses males, essas mazelas. [...] Há outros,
mas a gente não pode sempre ficar refém de um
discurso de urgência que você vai sempre ali apagando,
apagando você não tem um grande planejamento pra
área de segurança a longo prazo. Isso é uma coisa
muito difícil de se fazer. Você não tem grandes reformas
no sistema, então todas essas questões contribuem
pra... pro reforço da mesma solução que não dá certo,
não vem dando certo e os dados demonstram isso.
A POPULAÇÃO ACUADA ACABA ENTÃO APOIANDO
A VIOLÊNCIA MAIOR POR UM SENTIMENTO QUE
MISTURA ESPERANÇA E VINGANÇA// ESPERANÇA
DE QUE ISSO TALVEZ RESOLVA UM PROBLEMA
IMEDIATO, E VINGANÇA POR TER ALGUM
SEMBLANTE DE JUSTIÇA//
GRUPOS DE EXTERMÍNIO COMO A FAMOSA
ESCUDERIE LE COCQ, O ESQUADRÃO DA MORTE E
AS MILÍCIAS DO RIO SÃO EXEMPLOS DO
RESULTADO DISSO/ POLICIAIS QUE ATUAM FORA
DA LEI CUSTE O QUE CUSTAR, TENTANDO
SILENCIAR QUEM SE OPÕE OU DENUNCIA OS
ABUSOS//
**SONORA**
VALMIR SALARO
TC IN: (CLIP 00016) 09:48:10.00
TC OUT: (CLIP 00016) 09:49:25.00
**SONORA**
Luiz Carlos
TC IN: 01:08:48.00
(CLIP 00003)
TC OUT: 01:10:47.00
**ILUSTRA CORPOS**
Já recebi ameaça. Já recebi ameaça principalmente
quando você denuncia falcatruas, corrupção e violência
de policiais militares. Me lembro, há uns 15 anos atrás,
aqui na própria TV, eu e o Robson Ceranto, que é um
produtor, a gente fez uma série de matérias
denunciando policiais militares de Guarulhos que depois
do trabalho formavam grupos de extermínio a mando de
comerciantes, de pequenos comerciantes da região.
Eles iam pras ruas e sequestravam e matavam jovens,
pequenos delinquentes, pequenos ladrões que
infernizavam a vida desses comerciantes. Quer dizer,
naquela época eu recebi algumas ameaças veladas,
outras “ó toma cuidado, esse assunto é muito delicado,
você tem família”. As ameaças acho que fazem parte de
quem cobre a área policial e quando vai pra uma área
pra denunciar a ação violenta da polícia civil, da polícia
militar ou da violência do Estado contra a população.
[...] durante minha carreira nos direitos humanos foram
mais de 20 ameaças e um sequestro. 2009 eu fui
sequestrado por policiais e esse foi o fato maior e mais
agravante que foi que deu para eu incluir dentro do
programa, de lá pra cá eu não pude ser desligado do
programa de defensores. Eu havia denunciado um grupo
de extermínio na região Sul de São Paulo, e esse grupo
abordou o meu carro e fomos para trás do cemitério, e lá
havia policiais, alguns deles eu conhecia... e foi dado o
recado. A intenção não era matar, a intenção era dar o
recado, e nesse dia foi exposto várias fotos de filhos, de
familiares, dizendo que acidente poderia acontecer. Ai
foi que eu retirei os familiares e acabei entrando dentro
do programa de proteção, porque não é só um fato, era
só uma sequência de denúncias de mais de dez anos
que foram na região, e foi se somando, então chegou
um momento ao fato de se sequestrar.
ALÉM DE AMEAÇAS E SEQUESTROS, EXISTE
TAMBÉM A SIMPLES ALTERAÇÃO DE CENAS DE
**SONORA**
GC DELEGADO
TC IN: 09:10:38
TC OUT: 09:12:00
TC IN: 09:13:31
TC OUT: 09:14:13
**ILUSTRA IMAGENS ACELERADAS/SECRETARIA DE
JUSTIÇA**
**SONORA**
CONDEPE:
TC IN: 01:14:14 (CLIP 0003)
TC OUT: 01:15:03
**SONORA**
DELEGADO
TC IN: 09:08:41
TC OUT: 09:09:50
**ILUSTRA POLICIAIS**
**ILUSTRA CENTRO SP/MANIFESTAÇÃO**
CRIME PARA ESCONDER UMA EXECUÇÃO, POR
EXEMPLO, COMO CONTA O DELEGADO//
Deixa inicial: então é uma situação que eles se veem a
mercê...
Deixa semifinal: ...é uma proteção aos que trabalham
errado. [...] (Obs: ou até socorre o morto, TC vai até
isso)
Deixa reinicio: pro delegado chega sempre essa
historinha...
Deixa final: houve mais essa execução mesmo que a
gente fala.
O PRESIDENTE DO CONSELHO DE DEFESA DOS
DIREITOS DA PESSOA HUMANA DA SECRETARIA
DE JUSTIÇA E O DELEGADO TAMBÉM CRITICAM A
CORREGEDORIA DA PM EM SP//
DX INICIAL: não, até requisitar inquérito policial...
Dx final: ...tenha acesso às investigações.
Dx inicial: o que eu percebo...
Dx final: ...tão na rua trabalhando
ENQUANTO CONTINUAM ESSAS BRIGAS INTERNAS
E OS ABUSOS, O NÚMERO DE HOMICÍDIOS
CONTINUA CRESCENDO//
O BRASILEIRO PAGA IMPOSTO, SOFRE E DEPOIS
MORRE E POUCOS PROTESTAM A VIOLÊNCIA//
**SONORA**
VALMIR SALARO
TC IN 09:53:14
TC OUT 09:54:50
TC IN: 10:00:22
TC OUT: 10:02:14
MUITOS NEM SABEM, NEM LIGAM, E AINDA APOIAM
A VIOLÊNCIA PARA RESOLVER A VIOLÊNCIA, A
GASOLINA PRA APAGAR O FOGO//
[...] o brasileiro se acomodou com isso. É uma
acomodação e aquela sensação de “isso não vai
acontecer comigo, pode acontecer com meu vizinho,
mas não vai acontecer comigo”. E de repente acontece
com alguém da família ou com ele próprio. Então é essa
acomodação, essa falta de cobrança por parte da
sociedade, como você disse, de querer uma polícia
eficiente, menos corrupta, que possa cumprir o papel
dela, que é proteger a sociedade. Vejo não de hoje, mas
de muito tempo, existe um elo entre polícia e bandido. E
esse elo, esse círculo se alimenta entre bandidos e
policiais, e isso leva ao que? Ao aumento da violência,
ao aumento da corrupção, e ao medo das pessoas, mas
o medo das pessoas também não impede que elas
saiam de casa para trabalhar. [...] e a sociedade, por seu
ponto, não cobra e não questiona. Por que que eu pago
meus impostos e a Segurança Pública não é uma
segurança de primeira linha? Como não é também a
questão da saúde, do ensino e de outras questões no
Brasil.
Então, acho que a gente vive uma cultura de extrema
violência. Então é a lei do mais forte e quem, e você tem
uma camada da sociedade brasileira que apoia a ação
desses grupos, não só de policiais violentos, como de
esquadrões da morte, de grupos de extermínio [...] São
crimes que foram cometidos, muitos desses crimes não
foram esclarecidos até hoje, e mesmo assim, com toda
essa violência contra os supostos criminosos, o crime
não cedeu, o crime só aumenta. Então pra quem
defende essa tese de que bandido bom é bandido morto,
acho que é um grande equívoco, porque amanhã ou
depois um filho dessa pessoa pode ser confundida com
um criminoso e ser assassinada. E na verdade é uma
pessoa de bem, um estudante. Porque na hora do
**ILUSTRA TROPA DE CHOQUE PAULISTA**
CRÉDITOS
tiroteio os policiais não vão parar pra perguntar então
você tem que conter a ação da polícia, entendeu? O
policial, qual que é o papel dele? É proteger a
sociedade, é sair para combater o crime, prender o
suspeito, entregar na delegacia e deixar a justiça fazer o
trabalho dela, entendeu? Porque você teria que cobrar
todo o sistema de segurança do país, né? Que é polícia,
que é justiça, ministério público, e nada funciona.
RETRANCA: EPISÓDIO 5 -
FINAL
PAUTA: SOLUÇÃO
EDITOR: ALYSSON RODRIGUES/ED LEANDRO/RENAN
FAGALDE
TEMPO: 32’19”
IMAGENS UTLIZADAS NOS EPISÓDIOS
ANTERIORES
IMAGENS DE VIOLENCIA, MORTES E ARMAS
IMAGENS DE VIOLENCIA, MORTES E ARMAS E
BRASIL
*RODA VHT - PADRÃO** 30”
IMAGENS CIDADES BRASILEIRAS
GC: 1Ø ISLANDIA .... 103 BRASIL
FONTE: IGP
IMAGENS DA ISLÂNDIA, BRASIL, COLÔMBIA E
VENEZUELA
IMAGENS DA ISLÂNDIA, BRASIL, COLÔMBIA E
VENEZUELA
GC: ÍNDICE DE VIOLÊNCIA
IMAGENS DE POLICIAIS E ASSASSINATOS
ESTAMOS HÁ QUATRO EPISÓDIOS TRATANDO DOS FATORES
QUE CONTRIBUEM PARA O ALTO NÚMERO DE HOMICÍDIOS NO
BRASIL.//
O BRASILEIRO CONVIVE COM MEDO DE SE TORNAR MAIS UM
NÚMERO ENTRE OS CERCA DE SESSENTA MIL ASSASSINADOS
A CADA ANO//
SERÁ QUE EXISTEM SOLUÇÕES? O QUE PODERIA SER POSTO
EM PRÁTICA PARA QUE A SOCIEDADE BRASILEIRA SEJA MENOS
VIOLENTA?//
QUEM QUISER CONTINUAR ACREDITANDO QUE NOSSO PAÍS É
ABENÇOADO POR DEUS E BONITO POR NATUREZA NÃO PODE
NUNCA OLHAR OS NÚMEROS DA VIOLÊNCIA POR ESTAS
BANDAS//
O BRASIL NÃO VIVE NA MAIS SANTA PAZ HÁ TEMPOS//
EM JUNHO DE DOIS MIL E QUINZE O ÍNDICE GLOBAL DE PAZ
DIVULGOU QUE A ISLÂNDIA É O PAÍS MAIS CORDIAL E PACÍFICO
DE SE VIVER//
O BRASIL, POR SUA VEZ, OCUPA APENAS O CENTÉSIMO
TERCEIRO LUGAR DENTRE CENTO E SESSENTA E DOIS PAÍSES
OUVIDOS.//
NA AMÉRICA DO SUL SÓ VENEZUELA E COLÔMBIA TÊM ÍNDICES
PIORES.//
SEGURANÇA PÚBLICA, VIOLÊNCIA POLICIAL, TAXA DE
IMAGENS DO FBSP
GC: FSP 58 MIL MORTES
VIOLENTAS
ARTE JORNAL O GLOBO
IMAGENS DE VIOLENCIA BRASILEIRA
GC JULIO JACOBO CARGO: pesquisador
09:46 - 13:26 GC VIA INTERNET
HOMICÍDIOS, JUSTIÇA SOCIAL, TERRORISMO, CONFLITOS
ARMADOS E GASTOS COM ARMAS SÃO OS CRITÉRIOS DE
AVALIAÇÃO.//
OUTROS ESTUDOS COLOCAM O PAÍS COMO SENDO O MAIS
VIOLENTO DO PLANETA EM NUMERO ABSOLUTO DE
HOMICIDIOS, COMO O ANUÁRIO DO FORUM BRASILEIRO DE
SEGURANCA PUBLICA. SEGUNDO A PESQUISA O BRASIL
REGISTROU EM DOIS MIL E QUATORZE CINQUENTA E OITO MIL
MORTES VIOLENTAS//
O PSICANALISTA JOEL BIRMAN EM ENTREVISTA AO JORNAL ‘O
GLOBO’, EM MARÇO DE DOIS MIL E DEZESSEIS, DESBANCA O
MITO DO BRASIL CORDIAL.//
ABRE ASPAS É UM MITO QUE O BRASIL SEJA PACÍFICO. A
VIOLÊNCIA CAMPEIA DE MANEIRA GERAL, APESAR DO MITO DO
HOMEM CORDIAL FORMULADO POR SÉRGIO BUARQUE DE
HOLANDA. NOS REGISTROS POLÍTICO E DOS VALORES, AQUILO
QUE IMPLICA MOVIMENTO EM DIREÇÃO A IGUALDADE PROVOCA
RESISTÊNCIA E VIOLÊNCIA NOS CONSERVADORES. DAÍ A
INTOLERÂNCIA COM OS HOMOSSEXUAIS, AS MULHERES E OS
NEGROS. FECHA ASPAS.//
O que acontece no Brasil? Criou-se uma mitologia fundante,
justificante, através da sociologia, das entidades da sociedade civil, a
teoria do brasileiro cordial. (Chico) Buarque de Holanda tem um
trabalho que diz que o brasileiro é puro coração, é boa praça. E outra,
Gilberto Freire em Casa Grande & Senzala, divulga a teoria da
democracia racial do Brasil, que no Brasil reina a democracia racial.
Que sim, houve a escravatura, é inegável, mas que o senhor era
bonzinho, boa praça etc., e que o escravo era um escravo alegre, tanto
que dançava, fazia capoeira etc. e assim, não havia segregação racial
que existia, por exemplo, na África do Sul, nos EUA, e isso não se
esqueça de que Gilberto escreve na época do pós-guerra, onde há
sérios movimentos nos EUA pela igualdade racial, as grandes
caminhadas etc., Martin Luther King etc., e na África do Sul também,
terrivelmente segregacionista, Mandela funda seu movimento negro
etc., de liberação negra etc.
Era uma época onde o Brasil queria parecer como modelo de transição
IMAGENS FRANÇA
IMAGENS RIO
GC: 85 MORTES A CADA 5 DIAS
FONTE: ISP
FONTE: FORUM BRASILEIRO DE
SEGURANCA PÚBLICA
IMAGENS SÍRIA
GC Nº MORTOS SÍRIA E
BRASIL
GC JULIO JACOBO CARGO: pesquisador
TC IN: 14:30 TC OUT: 20:23
racial não violenta, porque havia grandes conflitos raciais no mundo.
Quer dizer, o Brasil quis vender a imagem através da sociologia,
através de muita coisa, através de músicas... exaltando a negritude,
exaltando uma série de coisas, exaltando a sua democracia racial que
queria vender para o mundo. Só que essa democracia racial era
realmente fachada. Os negros não pensam que houve democracia
racial nem que existe hoje democracia racial no Brasil.
No Brasil morre muito negro porque tem uma categoria de população
que é matável. Tem seres humanos no Brasil que são matáveis sem
problemas.
POR EXEMPLO, NO MÊS DE JULHO OITENTA E CINCO PESSOAS
FORAM MORTAS EM UM ATENTADO EM NICE, NA FRANÇA. MAS
POUCOS SABEM OU NÃO QUEREM VER QUE NO RIO DE
JANEIRO A CADA CINCO DIAS SÃO RECOLHIDOS OITENTA E
CINCO CORPOS PARA O NECROTÉRIO, DE ACORDO COM
LEVANTAMENTO DO INSTITUTO DE SEGURANÇA PÚBLICA (ISP)
DO RIO DE JANEIRO. NOSSO PAÍS É MAIS VIOLENTO E CAÓTICO
DO QUE SE IMAGINA.//
FICA CLARO QUE MESMO NÃO ESTANDO EM GUERRA CIVIL,
SOMOS UMA SOCIEDADE QUE CONSEGUE MATAR MAIS
PESSOAS DO QUE PAÍSES EM CONFLITOS SANGRENTOS.//
DESDE O INÍCIO DA GUERRA NA SÍRIA MORRERAM AO MENOS
TREZENTOS E DOIS MIL PESSOAS, SEGUNDO O OBSERVATORIO
SIRIO DE DIREITOS HUMANOS.//
NO MESMO PERIODO DE CINCO DE ANOS, O BRASIL
REGISTROU, PELO MENOS, TREZENTOS E QUATRO MIL
MORTES.//
[...] temos que considerar é que existe no Brasil uma cultura da
violência. Assim, geralmente a estrutura, o aparelho de poder bota
100% da culpa nas organizações criminosas e nas drogas. Eu não vou
negar que as organizações criminosas são violentas, que a droga é
uma entidade violenta. Porém, tenho duas perguntas para fazer:
Suécia, Noruega, Dinamarca tem maior consumo de drogas que o
Brasil, porque tem poder aquisitivo maior, porém você não vê essa
guerra da droga. Porque no Brasil a droga é uma guerra e em outros
IMAGENS DE VIOLENCIA
IMAGENS BAHIA
IMAGENS DE VIOLENCIA
IMAGENS POPULAÇÃO E PONTOS TURÍSTICOS
IMAGENS ASSASSINATOS
países de maior consumo que o Brasil não há guerra da droga nem
mortalidade pela droga?
Segunda questão fundamental. Fora (a questão) das drogas que
existe, há uma pesquisa do conselho nacional do ministério público,
que fundamentou uma campanha, isso foi feito em 2012-2013, em 16
unidades federativas. A pergunta era muito simples, eles trabalharam
com inquéritos policiais de homicídios, e a classificação era: por
motivos fúteis e banais – ou seja, briga de parentes, de vizinhos, briga
dentro da família, briga de boteco para ver quem paga, briga de
trânsito, onde alguém sacou uma arma e matou o próximo – e a outra o
crime profissional – o crime da droga, das organizações criminosas,
queimas de arquivo etc.
Eles conseguiram trabalhar com 16 unidades federativas do Brasil. Das
16, em nove delas o principal é o crime por motivos fúteis e banais, o
crime doméstico, o crime de rua etc. Em duas há empate 50-50, e em
cinco prevalece o crime da droga, com o extremo no rio de janeiro,
onde 20% é crime por motivos fúteis e banais e 80% crime
profissional..
DENTRE OS ESTADOS BRASILEIROS, OS MAIS VIOLENTOS SÃO
DA REGIÃO DO NORDESTE. NO CASO DE CIDADES, ISSO
TAMBÉM SE REPETE.// AO MESMO TEMPO, NO SUDESTE,
EXPLOSIVOS E ARMAMENTOS DE GUERRA SÃO USADOS POR
FACÇÕES CRIMINOSAS COM UMA NATURALIDADE
INQUIETANTE//
O PAÍS VIVE SIM UMA GUERRA DIÁRIA, EM PLENA LUZ DO DIA E
TAMBÉM NOITE ADENTRO.//
NOSSOS GOVERNANTES, ENTRETANTO, QUANDO TRATAM DE
SEGURANÇA NACIONAL OLHAM PRIMEIRO PARA FORA, PARA A
RELAÇÃO DO BRASIL COM OUTROS PAÍSES E A NOSSA RIQUEZA
DE RECURSOS//
ASSIM DIZEM QUE O PAÍS É PACÍFICO, IGNORANDO O QUE
ACONTECE NAS RUAS DO PAÍS, AS VIDAS PERDIDAS E AS
FAMÍLIAS DESTRUÍDAS, COMO A EX-PRESIDENTA DEPOSTA DO
SEU CARGO, DILMA ROUSSEFF//
ABRE ASPAS BRASIL É UM PAÍS PACÍFICO E ASSIM
ARTE DISCURSO DILMA
**SONORAS**
Ex-executivo – CBC 38:50 - 39:40
IMAGENS SÍRIA
GC DJAMILA RIBEIRO CARGO: sec. Adj. de
Direitos Humanos de São Paulo
00:47:32.06 - 00:49:23.11
IMAGENS HOMICÍDIO
IMAGENS DE VIOLENCIA POLICIAL E MORTES
CONTINUARÁ. ISSO, NO ENTANTO, NÃO SIGNIFICA DESCUIDAR
DE NOSSA DEFESA OU ABDICAR DE NOSSA CAPACIDADE DE
DISSUASÃO. NOSSA CAPACIDADE DE AMPLIAR A DEFESA SERÁ
TANTO MAIOR QUANTO MAIS
BEM EQUIPADAS ESTIVEREM NOSSAS FORÇAS ARMADAS E
MAIS FORTES NOSSA INDÚSTRIA DA DEFESA. TEMOS UM
PATRIMÔNIO MUITO VALIOSO PARA PROTEGER. FECHA ASPAS.//
Claro. Mas aí não sei, uma guerra meia enrustida né, não deixa de ser
pelos números. É um absurdo. Uma cidade do tamanho de ribeirão
pires praticamente todo ano morrer. É um horror.
Eu acho que a gente pode dar vários nomes: [...] realmente a gente
vive em uma guerra civil. Genocídio, o movimento negro usa muito
genocídio na população negra, porque a partir do momento que a
gente tem esses números altíssimos de morte de jovens negros, a
gente pode falar de genocídio, mas ultimamente a gente tem falado
muito em extermínio. O que tem acontecido no Brasil é o extermínio da
população negra né, quando a gente tem esse número massivo de
mortes, esta muito evidente pra nós o quanto que esse estado quer nos
exterminar né. [...] Na verdade, faz parte dessa política desse país,
dessa ideologia racista do Brasil né. Que desde a maneira que a
população negra é trazida pra cá de forma extremamente violenta,
indigna, dos tráficos negreiros, e que aqueles corpos que iam morrendo
ou se adoentavam eram jogados no mar, de quando chegam aqui no
Brasil a forma como é tratado, vivendo em senzalas, de ser acoitado,
esse extermínio, é algo que infelizmente... Esse país foi fundado nessa
violência, nesse extermínio. Hoje é através da PM antes era através da
escravidão, através da perseguição da população negra, destruição
dos quilombos né, então acho que é bom a gente falar que o racismo ta
na base e nos exterminar, nos manter nesse lugar, faz parte dessa
ideologia desse país
NOSSO HINO CANTA QUE O BRASIL É UM GIGANTE PELA
PRÓPRIA NATUREZA, MAS NÃO DIZ O QUANTO ESSE GIGANTE
SANGRA PELAS PRÓPRIAS MÃOS//
A ESTRATÉGIA ATUAL DE COMBATE AO CRIME NÃO FUNCIONA/
A POLÍCIA DIVIDIDA, MAL PAGA, MILITARIZADA AGRAVA AINDA
GC JULIO JACOBO CARGO: pesquisador
22:08 - 22:46
GC: DJAMILA RIBEIRO CARGO: sec. Adj. de
Direitos Humanos de São Paulo
00:22:33.06 - 00:23:33.05 TEMPO:
GC RAFAEL CUSTÓDIO CARGO: coordenador da
área de justiça – CONECTAS
TEMPO: TC IN: 01:05:19.00 (CLIP
00001) TC OUT: 01:10:14.07
*SONORA** GC BRUNO MANSO
CARGO: pesquisador do Núcleo de Estudos da
Violência - NEV TC IN: 00:19:20.04
TC OUT: 00:22:29.05
IMAGENS POLICIAIS
ARTE G1
ILUSTRA EXÉRCITO E
PMS
GC NÚMERO DE EFETIVO
POLÍCIAS
MAIS O PROBLEMA/ O ÚNICO RESULTADO DESSA GUERRA AO
CRIME É UM NÚMERO CADA VEZ MAIOR DE CORPOS POR
TODOS OS LADOS.//
[...] há uma guerra na rua que todos os dias malandro metralha polícia
e polícia metralha malandro. Não está dando nenhum resultado. [,,,]
A polícia não funciona. Eu acho... Minha pauta é muito pela questão da
desmilitarização da polícia, a forma que ela foi constituída não tem
como né, porque já foi pensada justamente no sentido de exterminar
[...] vamos supor que o Brasil declare guerra no país, o governo pode
chamar a Polícia Militar brasileira para ir para a guerra, como se ela
fosse uma força auxiliar, ela pode ser uma força de apoio ao exército,
para você ter uma ideia do treinamento, do armamento, da ideologia
nessa PM. Agora a questão é, faz sentindo em uma democracia essa
polícia que pode ser usada para fins de guerra patrulhar nossas ruas
diariamente, cuidar da comunidade? Óbvio que não. [...]
[...] Você tem uma questão de estrutura policial, que e problemática e
você tem o problema da polícia militar e civil. E muitas vezes muitas
pessoas acham que o extermínio e a violência acabam sendo uma
forma de controlar o crime. Isso de alguma forma foi tolerado em
alguns anos, no judiciário, no MP. Na Constituição de 88 também
conseguiu de alguma forma, fazendo vistas grossas. Ai no RJ, uma
outra dinâmica, e você ter visto as grandes facções onde as operações
policiais, eram verdadeiras incursões de guerra
SEGUNDO REPORTAGEM DO G1, O BRASIL TINHA EM DOIS MIL E
QUINZE UM EFETIVO DE QUATROCENTOS E TRINTA E UM MIL
PMS E CENTO E VINTE E UM MIL POLICIAIS CIVIS/ O NÚMERO DE
PMS É QUASE O DOBRO DE TODO O EXÉRCITO BRASILEIRO EM
DOIS MIL E DEZESSEIS, QUE TEM EFETIVO TOTAL DE DUZENTOS
E VINTE MIL SEGUNDO O DECRETO OITO MIL SEISCENTOS E
QUARENTA E NOVE, DE JANEIRO DESTE ANO//
GC DAVID MARQUES CARGO: pesquisador do
Fórum Brasileiro de Segurança Pública TC IN: 10:48:49.09
TC OUT: 10:51:49.05
IMAGENS PELOTÃO PM
**sonora investigador** GC: investigador – polícia
civil TC IN: 00:04:28:22
TC OUT: 00:06:56:03
A PREFERÊNCIA PELA REPRESSÃO OSTENSTIVA E O COMBATE
DIRETO A CRIMES TEM REFLEXOS DIRETOS NA SOCIEDADE//
[...] uma das coisas que a gente precisa questionar quando a gente fala
disso é de fato esse modelo de policiamento ostensivo que a gente tem
hoje. Essa questão quando a gente tem o peso relativo dessas duas
polícias né, essa parte que diz mais respeito, digamos assim, a uma
investigação, a um trabalho mais de inteligência pra tentar prevenir
esses crimes, esse trabalho me parece hoje, por tudo que a gente tem
visto, preterido em relação a esse policiamento mais ostensivo, essa
presença mais marcadamente do policial na rua, desses policiais
tentando fazer o enfrentamento direto dessa criminalidade. [...] Então o
que a gente vê na verdade é que o peso está todo sendo colocado ali.
E eu acho que é hora da gente dar um passo atrás, dar uma olhada
num quadro maior e entender que a gente também precisa, e quando a
gente olha, principalmente os indicadores de elucidação de crimes da
polícia civil por exemplo, o dado um pouco melhor que a gente tem em
relação a elucidação dos crimes de homicídio, vai dar uma média aí de
8% no Brasil. Alguns estudos apontam pra isso, o que é muito pouco.
Se é 8% no caso de homicídio, significa que no caso de roubo por
exemplo ele é próximo de 0. O que é um problema muito grande. Então
a gente tem que dar um passo atrás, entender esse cenário, entender
porque que a gente chegou nessa situação, e também questionar as
outras partes do sistema de justiça criminal.
É, no caso por exemplo de homicídios eu acho que o índice de solução
tá em torno de três por cento, se eu não me engano, não vou te
precisar esse dado hoje, né. Teve época que tava dois por cento. O
que acontece, hoje em dia? Nós temos muitos crimes, uma estrutura
meio arcaica, nós temos uma burocracia muito grande, então você tem,
por exemplo quando vai fazer uma prisão em flagrante, você tem oito
vias de trocentos termos, né, você tem nota de culpa, você tem o B.O.,
você tem a declaração, você tem… então você fica… um B.O. hoje em
dia demora de quatro a seis horas pra ser elaborado, um B.O., um
flagrante aliás. Então pra você imaginar como que é essa burocracia.
Você tem uma falta de pessoal, uma falta de logística, acredito que o
principal detalhe que falta na polícia civil é logística, você não tem
uma… você tem o pessoal da área, né, os crimes que acontecem na
área, só que a quantidade de crime é tão grande, você tem uma chefia
hoje em dia… você tem chefia de seis a dez pessoas pra investigarem
IMAGENS POLÍCIA
EXTERIOR
**SONORA** GC BRUNO MANSO
CARGO: pesquisador do Núcleo de Estudos da
Violência - NEV TC IN: 00:58:49.17
TC OUT: 00:59:40.18
**SONORA DELEGADO** GC ARMANDO NOVAES
CARGO: delegado TC IN: 08:47:55:10
TC OUT: 08:49:00:22
**SONORA** GC LUIZ CARLOS
SANTOS
crimes que ocorrem numa área inteira de um distrito, que seriam em
torno hoje, até agora, acho que deve ter tido em cada área em torno de
três mil crimes. Então se você pega dez pessoas pra investigar três mil
crimes, cada pessoa investigaria trezentos, só que são de dupla, então
cada dupla investigaria seiscentos. Só que essas duplas, você tem
férias, você tem um turnover disso daí, então você fica meio
incapacitado realmente de dar prosseguimento [...]
A PM, QUE TEM EFETIVO MAIOR, NÃO TEM CAPACIDADE
TÉCNICA PARA AUXILIAR EM INQUÉRITO/ A POLÍCIA CIVIL NÃO
TEM PESSOAL//
OUTROS PAÍSES COMO ESTADOS UNIDOS, INGLATERRA E
JAPÃO TÊM APENAS UMA POLÍCIA UNIFICADA QUE CUIDA
DESDE AS RONDAS ATÉ O INQUÉRITO/ SERIA UMA POLÍCIA
REUNIFICADA UM PASSO PARA COMEÇAR A CONTER A
VIOLÊNCIA BRASILEIRA?//
Eu acho que a desmilitarização da polícia é interessante, porque cria
uma gestão mais moderna que permite que as pontas da polícia tomem
decisões mais rápidas, porque o grande problema da hierarquia militar
é que as decisões não podem ser contestadas por a de um soldado e
quando o soldado está trabalhando na ponta, ele que sabe a dinâmica
do bairro, ele tem que tomar decisões rápidas para ganhar a confiança
da população, só que ele não pode, porque tem toda uma hierarquia,
entrelaçado para lidar com essas dinâmicas, a mudança dessa gestão
ela permite uma confiança da polícia com a população.
[...] na verdade eu vejo com criticas esse militarismo. Eu sou totalmente
contra o treinamento militar porque ele cria o policial pra combater o
inimigo. Por isso que tem essa quantidade de mortes que a gente
chama de derrubadas, porque ele ta na rua pensando que o bandido,
ou quem quer que seja é o inimigo, e não é assim. A polícia foi feita pra
prender. Eu sou contra o militarismo e eu acho que a civil está mais
próxima do cidadão. Igual a policia dos outros lugares né? Igual nos
EUA o policial não usa essa farda, é um uniforme. E todos são
policiais, não existe essa diferença de autonomia civil ou militar. [...]
Seria a solução, mas precisa ver como seria essa solução para acabar
com isso. Eu acredito que não acabe...tem muitos amigos meus que
CARGO: conselheiro do CONDEPE
TC IN: 01:56:38.00 (CLIP 00005)
TC OUT: 01:57:45.21
IMAGENS ABORDAGEM POLICIAL/DELEGADO
**SONORA DELEGADO** GC ARMANDO NOVAES
CARGO: delegado TC IN: 08:49:00:22
TC OUT: 08:50:03:03
IMAGENS ABORDAGEM
POLICIAL
GC VALMIR SALARO Jornalista – TV Globo
TEMPO: TC IN: (CLIP 00018)
10:30:52.00 TC OUT: 10:32:11.00
**SONORA** GC: GABRIELA BILÓ
CARGO: Foto jornalista – Estado S. Paulo
TC IN: 08:32:01.07 TC OUT: 08:33:23.16
são otimistas em dizer que isso acaba, mas isso só fica aqui em baixo,
lá em cima não existe essa discussão de acabar com o militarismo.
Não acaba, porque se você contabilizar...nós não temos, mas podemos
levantar quantos coronéis tem, quantos majores tem, quantos tenentes
coronéis tem no Estado de São Paulo.. Esse pessoal é o pessoal que
comanda todo esse sistema, desde coronel, desde a patente menor
que tem na Polícia Militar. Esse pessoal, eles formam um conselho
dentro da Polícia Militar que não vê esse lado. Eles não vão querer
ajudar acabar com uma categoria dessa.
NÃO CONSEGUIMOS RESPOSTA DO COMANDO DA PM SOBRE A
QUESTÃO, MAS PERGUNTAMOS AO DELEGADO NOVAES SE A
POLÍCIA CIVIL DEFENDE A REUNIFICAÇÃO DAS POLÍCIAS//
Atualmente, tanto a associação estadual quando a federal dos
delegados nós lutamos pra isso, pela desmilitarização para uma
posterior unificação. Ela não pode unificar sem desmilitarizar, seria
absurdo, vou virar um pm agora? Colocar farda? Então teria que
desmilitarizar e depois unificar. Então nossa luta é nesse sentido nas
entidades de classe
MESMO ASSIM, TER UMA SÓ POLÍCIA NÃO É A SALVAÇÃO PARA
DIMINUIR A VIOLÊNCIA JÁ ENRAIZADA NA SOCIEDADE
BRASILEIRA//
Fala-se muito disso, mas então, alguém vai ter que enfrentar o crime
armado. Quem que vai ser? Os policiais ficam reclamando toda hora
que as armas deles são inferiores às armas dos bandidos sabe, o
exemplo pra mim assim, importante, de que o crime tá vencendo é
aquele caso daquele traficante que morava na fronteira em Pedro Juan
Cabalero. Brasileiro que morava lá que comandava o crime. Lá que ele
foi executado com uma arma que derruba avião. [...] É um crime que
mostra o poder dos bandidos entendeu? Aquilo pra mim foi
impressionante.
[...]A gente tem que tirar essa falta, essa coisa comum, tirar do lugar
comum a violência. Por exemplo como é em muitos países que não é
normal você ver um policial carregando uma arma, sabe? Você no Rio
de Janeiro aquelas cenas do exército ali com uma... porra o que é
aquilo. Você vê tanque na rua. [...]
IMAGENS DE PESSOAS
GC: DJAMILA RIBEIRO CARGO: sec. Adj. de
Direitos Humanos de São Paulo
00:15:11.00- 00:17:07.19
GC RAFAEL CUSTÓDIO CARGO: coordenador da
área de justiça – CONECTAS
TEMPO: TC IN: 02:02:07.00 (CLIP
0003)
TC OUT: 02:04:36.02
ENTÃO O QUE MAIS PODE SER FEITO PARA QUE O NÚMERO DE
BRASILEIROS VÍTIMAS DE HOMICÍDIOS DIMINUA?/ ONDE
INVESTIR, PARA ONDE DIRECIONAR ATENÇÃO?//
A solução é não focar só com esse olhar só da segurança, é... A gente
precisa pensar em políticas muito mais amplas, de o que... De
educação de qualidade, saúde de qualidade, se as pessoas tem
acesso ao mercado e trabalho, se as pessoas tem acesso a um
trabalho digno, é pensar no amplo. Porque quando essas pessoas
realmente tiverem oportunidades, a gente vai viver menos
desigualdade, a gente vai ter menos violência né. Um país que é
extremamente desigual, um grande reflexo, uma consequência dessa
desigualdade é a violência urbana. [...] Então a gente faz um discurso
totalmente demagogo em relação a guerra as drogas... “A tem que
fazer guerra as drogas, tem que invadir os morros, matar os traficantes,
mata todo mundo”, na verdade esse discurso de guerra as drogas, é só
mais uma forma de justifica o extermínio da população negra porque as
pessoas que mais usam drogas não são as pessoas pobres, são as
pessoas ricas né. Você teve um helicóptero com meia tonelada de
cocaína... O que aconteceu com essas pessoas? Absolutamente nada.
Eu realmente acredito que o desafio seja nem sempre as decipas
mudanças devem começar pelas grandes reformas, que muitas vezes
são difíceis de atingir, a gente tem pequenas mudanças que devem ser
feitas, no Plano de Segurança Pública especificamente, acho que o
debate estrutural desse modelo ela não é impossível, na África do Sul
fez isso, pós regime de apartheid fez uma reforma importante de
modelo policial. Tem vários problemas até hoje ela lidou com essa
questão da militarização, do racismo de uma maneira interessante. O
que podemos fazer? Exigir do Ministério Público também, prestar
contas e ser cobrado de vário sentidos, até judicialmente, para que ele
exerça seu trabalho, um outro fator que eu acho interessante que a
gente fala pouco são os motores da violência no Brasil é a política de
guerra às drogas é a grande catalizadora, incentivadora do tráfico de
armas no Brasil, da corrupção e que acaba ensejando uma reação do
Estado violenta, a gente falou um pouco do Rio de Janeiro, as UPPs
elas nada mais são do que uma resposta do Estado bizarro a guerra às
drogas, um elemento a guerra as drogas no Rio de Janeiro, então a
gente precisa discutir uma reforma profunda também dessa política de
** ILUSTRA DELEGADO **
GC ARMANDO NOVAES CARGO: delegado
TC IN: 08:54:50:20 - TC OUT: 08:56:28:15
TC IN: 08:53:39:17 TC OUT: 08:54:50:20
**SONORA CONDEPE** GC LUIZ CARLOS
SANTOS CARGO: conselheiro do
CONDEPE
TC IN: 02:27:28.10 (CLIP 00008)
TC OUT: 02:30:56.08
IMAGENS BRASÍLIA
drogas no Brasil
Eu acho educação, aí sim pra baixar. Porque é uma coisa muito há
longo prazo. O governo, os políticos não pensam a longo prazo, né?
Eles querem muito o imediatismo. Mas eu acho que com esse
investimento a longo prazo você consegue diminuir os índices.[...]
Acho que aí é um pouco de falta de investimento em formação, escola.
A educação é a base de tudo. Você tem investimento nisso e consegue
desviar as crianças um pouco da rua. Agora onde não tem seja uma
falha, né? O Brasil apesar de ter tido um crescimento, apesar de
avançar o crime continua o mesmo e até aumenta.
Então essa engenharia que tem que se passar por todos os Estados
ela tem que ser orquestrada em Brasília que tem o controle da questão
de seguranças [..] O Ministério da Justiça, que tem o órgão de
segurança nacional, segurança pública e deveria ter toda essa
dimensão e analisar esses números e programar junto com os Estados,
chamar todos os secretários de segurança pública e falar, o que você
está fazendo para diminuir esses números porque só cresce e o nunca
vi uma reunião do Governo Federal sentar com todos os governos dos
Estados para fazer um cronograma porque não é só você transferir
verbas de segurança pública para os estados e você também não ter a
mão do que: olha vocês estão fazendo isso, o Governo Federal nos
deus tantos milhões para segurança mas o número seu está muito alto
em vista do Estado do Ceará, em vista do Estado do Rio de Janeiro,
em vista do Estado de São Paulo, o que você está fazendo para
diminuir esses índices, então não existe esse controle, então a gente
acaba vendo outros crescer, números e mais números e não existe
uma cobrança, mas a gente percebe que quando a gente entra no
portal transparência a gente verá verbas de Segurança Pública sendo
destinados e os Estados vão gastando, os estados vão investindo
também [...]
MAS NEM TODOS PENSAM ASSIM./ A VERDADE É QUE A
VIOLÊNCIA BRASILEIRA JÁ ATINGIU NÍVEIS MAIS DO QUE
ABSURDOS COM QUASE SESSENTA MIL ASSASSINATOS A CADA
ANO FORA OUTROS CRIMES//
GC VALMIR SALARO Jornalista – TV Globo
TEMPO: TC IN: (CLIP 00018)
10:33:15.00 TC OUT: (CLIP 00018)
10:34:13.00 TC IN: 10:29:20.00
TC OUT: 10:30:47.00
GC JULIO JACOBO CARGO: pesquisador
23:10 - 25:14
25:21 - 25:40
IMAGENS
BRASÍLIA/HOMICÍDIO
Olha, eu gostaria de ter, sei lá, não uma solução, mas uma primeira
saída, mas não vejo. Não vejo. Não vejo uma saída, não vejo. Porque
nada muda. [...] acompanho essa área há 37 anos, e me lembro
quando no comecinho da minha carreira ia pra zona sul de SP, ia fazer
a violência ali do dia-a-dia, e vi um comerciante, um pequeno
comerciante com uma portinha desse tamanho, já de grade. Ai ele
abriu um espacinho pra passar um botijão de gás. Ele não aguentava
de tanto roubo que acontecia. Voltando lá 20 anos depois, o mesmo
comerciante caso ele não tenha sido morto por assaltantes ele tá lá, ele
mantém a mesma portinha, só que ele colocou câmeras, seguranças
particulares ou muitas vezes PMs pra fazer bico pra tomar conta da
segurança do patrimônio dele. [...] Enquanto que aquele comerciante
que 20 anos atrás sofria com crime, hoje 20 anos depois continua
sofrendo não tem uma saída, não existe saída pra nada.
Nós conseguimos a partir da campanha do desarmamento, nós
conseguimos estagnar aproximadamente, não reverter, mas sim
estagnar os incrementos da violência homicida que cresciam a uma
taxa entre 5, 6, 7% ao ano, uma taxa muito acelerada de crescimento.
A partir de 2004-2005, a taxa mais ou menos se mantém a 29
homicídios para cada 100 mil habitantes. Agora chegou a 29,6, em
2013 estava em 29,2, mais ou menos você vê que tem certa
estagnação. Só que, dá uma olhada. O nosso pensamento
conservador que tem hoje no Brasil quer revogar o estatuto do
desarmamento. Está no congresso, já foi aprovado o relatório da
comissão que revoga o estatuto do desarmamento. [...] Não vamos ter
que criar mais prisões, vamos ter que criar muitos necrotérios se essa
proposta passar. [...] acho que as medidas que estão sendo tomadas,
como a diminuição da maioridade penal, o estatuto do desarmamento,
vão tender a aumentar o nível de homicídio no Brasil. Eu não vejo
medidas que diminuam, vejo medidas que podem aumentar.
A SOCIEDADE SE QUISER VIVER MENOS ATERRORIZADA PELA
VIOLÊNCIA, VAI TER QUE COBRAR MUITO DOS GOVERNANTES/
SE UMA PILHA CADA VEZ MAIOR DE CORPOS, SE TER O BRASIL
COMO PAÍS MAIS VIOLENTO E HOMICIDA DO MUNDO, SE VER
PAIS, MÃES, IRMÃOS, FILHOS, VIZINHOS E CONHECIDOS SENDO
MORTOS NÃO CONVENCER A SOCIEDADE A COBRAR
SOLUÇÕES COMO DEFENDIDAS PELOS ESPECIALISTAS, NADA
MAIS IRÁ//
GC VALMIR SALARO Jornalista – TV Globo
TC IN:10:36:02.00 TC OUT: 10:38:00.00
IMAGENS VIOLÊNCIA
SOBE SOM
CRÉDITOS
DEDICATÓRIA
É uma sociedade doente. Você vê que é uma sociedade que aceita
isso (...) . Você pode ir agora pra rua brigar pra sair o Temer. Mas você
não vai pra rua pra brigar pelo crime que tá te atormentando no dia-a-
dia. Porque você não sabe de quem cobrar. Obviamente tem que
cobrar diretamente do governador, o governador é o chefe da polícia.
Ele tem algum plano, tem um plano nacional de segurança pública? As
pessoas só discutem depois. Por isso que eu fico pensando, às vezes
eu converso com as pessoas, será que o que eu falo tem interesse,
existe algum interesse? Ou a pessoa só quer saber do caso Nardoni,
dos bastidores, do caso Roger Abdelmassih, do caso da Suzane von
Richthofen, as pessoas veem isso mais como voyeurismo, então fico
alimentando o voyeurismo das pessoas? Contar que a Susanne tá
namorando com uma mulher, depois tá namorando com um homem,
que ela saiu pra passar o dia dos pais fora da cadeia, entendeu? Então
eu não sei, realmente eu não sei.
EM MEIO A ESTA GUERRA URBANA, SOMENTE UM PERDE. O
PAÍS. O BRASILEIRO.//