TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em...

170
UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL JORNALISMO BACHARELADO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL AMANDA CÁSSIA DOS SANTOS ALYSSON RODRIGUES ÉDIGLEI LEANDRO DE SOUSA DOS SANTOS QUEIROGA RENAN FAGALDE ALVARENGA DA SILVA STEPHANIE IAUSSOGHI FERREIRA TATIANA RUDIGHER MOREIRA TERROR URBANO SÃO BERNARDO DO CAMPO 2016

Transcript of TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em...

Page 1: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

JORNALISMO

BACHARELADO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL

AMANDA CÁSSIA DOS SANTOS

ALYSSON RODRIGUES

ÉDIGLEI LEANDRO DE SOUSA DOS SANTOS QUEIROGA

RENAN FAGALDE ALVARENGA DA SILVA

STEPHANIE IAUSSOGHI FERREIRA

TATIANA RUDIGHER MOREIRA

TERROR URBANO

SÃO BERNARDO DO CAMPO

2016

Page 2: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

AMANDA CÁSSIA DOS SANTOS

ALYSSON RODRIGUES

ÉDIGLEI LEANDRO DE SOUSA DOS SANTOS QUEIROGA

RENAN FAGALDE ALVARENGA DA SILVA

STEPHANIE IAUSSOGHI FERREIRA

TATIANA RUDIGHER MOREIRA

TERROR URBANO

Pré-projeto de Pesquisa apresentado ao

curso de graduação na Faculdade de

Comunicação Social da Universidade

Metodista de São Paulo, como requisito

para a obtenção do grau de Bacharel em

Comunicação Social e ao título de

jornalista.

Orientação Profº. Sérgio Santos.

Coordenação dos Projetos Experimentais

Profª Drª Verônica Patrícia Aravena

SÃO BERNARDO DO CAMPO

2016

Page 3: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

FICHA CATALOGRÁFICA

T278

Terror urbano: memorial de projeto experimental / Amanda

Cássia Santos et al. 2016.

170 p.

Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de

Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2016.

Orientação: Sergio Silva Santos.

1. Violência urbana - Brasil 2. Homicídios - Brasil I.

Santos, Amanda Cássia

CDD 070.4

Page 4: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

O Trabalho de Conclusão de Curso intitulado: “Terror Urbano”, elaborado por

Amanda Cássia, Alysson Rodrigues, Édiglei Leandro de Sousa, Renan Fagalde,

Tatiana Rudigher e Stephanie Iaussoghi foi apresentado e aprovado em 5 de

dezembro de 2016, perante banca examinadora composta pelo Profº. Sérgio Silva

dos Santos (Presidente/UMESP), Profª. Alexandra Gonsalez de Melo Sarasa

Martin (Titular/UMESP) e Agostinho Teixeira (Jornalista/PUC-SP).

Profº Sérgio Silva dos Santos

Orientador e Presidente da Banca Examinadora

Profª Alexandra Gonsalez de Melo Sarasa Martin

Banca examinadora

Agostinho Teixeira

Banca Examinadora

Page 5: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

DEDICATÓRIA

A todos os familiares, amigos, professores e

funcionários da Universidade que apoiaram a

realização deste trabalho. Aos entrevistados,

que dispuseram de seu tempo para nos ajudar

a entender e explicar melhor a situação da

violência no Brasil. Em especial, um

agradecimento ao pai da integrante deste

grupo, Tatiana, Sr. José Carlos Pinto Moreira,

que faleceu no dia 25 de outubro de 2016, por

toda a ajuda financeira, ajuda com transporte

para a realização das externas e de

equipamentos, para realização de reuniões

enquanto ele teve condições físicas e de saúde,

e principalmente, por todo o apoio ao grupo

para concluir esse trabalho da melhor maneira

possível, sem medir esforços para isso.

Page 6: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

RESUMO

O trabalho proposto tem como objetivo expor e discutir os altíssimos níveis de

violência no Brasil, principalmente em áreas urbanas, que evocam na população

um sentimento de terror. Abordando as taxas de homicídios que cresceram 143%

entre 1980 e 2012, com números diários e semanais que superam, às vezes em

muito, os “ataques terroristas” em outros países ocidentais, o objetivo é reorientar

o debate sobre a violência no país, indicando que a violência já atingiu níveis

semelhantes aos do terrorismo. O trabalho busca desnudar a situação do fracasso

da Federação e dos Estados brasileiros na questão das mortes violentas no país –

que em muitos casos são amplificadas pelos próprios agentes do Estado.

Palavras-chave: Terrorismo, violência urbana, homicídios, Brasil, Polícia Militar,

Exército.

Page 7: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

ABSTRACT

The project aims to expose and discuss the extremely high levels of violence in

Brazil, especially in its urban areas, that instills a feeling of terror in the populace.

Touching upon the homicide rate growth of 143% between 1980 and 2012,

registering daily death tolls that dwarfs the worst “terrorist acts” in other Western

countries, the objective is to redirect the debate about violence in the country and

to point out that the problem has achieved the threshold for being considered on

par with terrorism. The product seeks to show the concrete situation of the

Brazilian Union and States’ failure in regards to violent deaths in the country – that

many times are aggravated by the government’s own agents.

Keywords: terrorism, urban violence, murders, Brazil, Military Police, Army.

Page 8: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

SUMÁRIO

1. APRESENTAÇÃO ..................................................................................................................... 5

2. O TERROR DA VIOLÊNCIA BRASILEIRA ................................................................................ 8

2.1 CRIME E VIOLÊNCIA NO BRASIL ................................................................................................. 8

2.2 CONSTRUÇÃO DO TERRORISMO .............................................................................................. 10

2.3 TERRORISMO NA HISTÓRIA .................................................................................................... 17

2.4 COMUNIDADE INTERNACIONAL E OPINIÃO PÚBLICA SOBRE TERRORISMO ...................................... 20

2.5 TERRORISMO CONTEMPORÂNEO ............................................................................................. 22

2.6 PARADOXOS BRASILEIROS ..................................................................................................... 25

2.7 NÚMEROS, CONFIANÇA E MEDO .............................................................................................. 27

2.8 ARMAS DE FOGO NO BRASIL ................................................................................................... 32

2.9 DIREITOS HUMANOS.............................................................................................................. 33

2.10 DIREITOS (IN)EXISTENTES .................................................................................................... 35

2.11 IMPRENSA SENSACIONALISTA ............................................................................................... 38

2.12 CRIANÇAS NO FOGO CRUZADO ............................................................................................. 42

2.13 REPRESSÃO POLICIAL .......................................................................................................... 43

2.14 ESQUADRÕES E SUAS ORIGENS ............................................................................................ 46

2.15 LEI ANTITERRORISMO .......................................................................................................... 50

3. TERROR URBANO ................................................................................................................. 53

3.1 PROPOSTA ........................................................................................................................... 53

3.2 OBJETIVO ......................................................................................................................... 54

4. TRAJETÓRIA DE REALIZAÇÃO E PESQUISA DO TCC ........................................................ 55

4.1 PESQUISA ......................................................................................................................... 58

4.2 QUESTÕES ÉTICAS E RESPONSABIIDADE SOCIAL ....................................................... 59

4.3 AVALIAÇÃO GERAL .......................................................................................................... 60

4.4 PÚBLICO-ALVO ................................................................................................................. 61

4.5 PROJETO EDITORIAL ....................................................................................................... 62

4.6 DESCRIÇÃO DO PRODUTO .............................................................................................. 63

4.7 FONTES E ENTREVISTADOS ........................................................................................... 64

4.8 EQUIPAMENTOS UTILIZADOS ......................................................................................... 64

4.8.1 Gravação ..................................................................................................................... 64

4.8.2 Transporte ................................................................................................................... 65

4.8.3 Edição ......................................................................................................................... 65

4.9 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ........................................................................................ 65

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................ 67

ANEXOS ..................................................................................................................................... 73

ANEXO A – PESQUISA DE CAMPO ......................................................................................... 88

Page 9: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

5

1. APRESENTAÇÃO

A websérie Terror Urbano, composta por 5 episódios com cerca de 30 minutos

cada, tem como foco discutir a violência no Brasil e transformar a própria

discussão do fenômeno em algo mais aprofundado, mostrando que a aguda e

crônica violência brasileira chegou a um nível em que pode ser equiparada mais

ao terrorismo do que com mera violência cotidiana. Com a maior quantidade de

homicídios em números absolutos do mundo, o país ainda tenta o “combate” à

violência da mesma maneira que há 25 anos, sem conseguir qualquer êxito na

questão já que o número de corpos deixados para trás nessa eterna “não-guerra”

civil cresce a cada ano – por mais que as estatísticas oficiais sejam manipuladas

por um ou outro agente do Estado para tentar esconder o fato.

O formato escolhido, de websérie, é o que melhor universaliza a comunicação, já

que apresenta o maior número potencial de espectadores – algo que será

discutido em profundidade neste trabalho.

Os efeitos desse nível de violência que vem se sustentando há anos na sociedade

brasileira são vastos e praticamente impossíveis de serem analisados por um só

trabalho, mas selecionamos os aspectos que consideramos mais graves para um

aprofundamento maior na série documental para web. Contrastando o mito do

brasileiro cordial, termo hoje tomado quase ipsis literis sem leitura crítica e

reflexão sobre a obra de Buarque de Hollanda, e pacífico com os números da

violência e as opiniões sobre direitos humanos no país, os diferentes tipos de

terrorismo e as ações das polícias e das Forças Armadas no Brasil, passando

também pelos grupos de extermínio, esquadrões da morte, milícias e facções

criminosas até os diversos relatórios de organizações internacionais condenando

a política de segurança pública brasileira – inclusive em relação a crianças.

Após a análise da realidade da violência brasileira e dos dados expostos na

discussão do tema e pesquisa, o grupo se debruçou sobre o problema de como

universalizar tais informações de modo impactante o suficiente para fomentar

debates aprofundados na sociedade e auxiliar na busca de soluções possíveis

para a questão. Valem, entretanto, algumas considerações a priori.

Page 10: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

6

Impressiona que a sociedade brasileira considere o atual nível de violência no país

como normal e corriqueiro. Por mais aterrorizadas que estejam pelos índices

criminais e especialmente de homicídios, ano após ano, as pessoas seguem seus

dias rotineiramente, sem pensar muito sobre a questão – fora se vão chegar em

casa vivos ao final do dia. Homicídios são focos de atenção apenas quando a

mídia “adota” um caso para estampar suas manchetes, pois em um universo de

cerca de 167 assassinatos por dia na média é estranho que apenas um ou outro

caso chame atenção pelas circunstâncias presentes.

O jornalismo claramente tem sua parcela de responsabilidade na atual situação,

pois pouco pressiona as autoridades por soluções concretas para o problema e

dificilmente dão o tratamento necessário à questão. As grandes emissoras e os

grandes jornais brasileiros não abordam a necessidade da reforma e

desmilitarização das PMs, nem das outras medidas necessárias exceto uma – o

reforço no combate à violência.

Ora, se durante todo este período democrático no país o combate à criminalidade

foi claramente intensificado sem resultados positivos concretos, é um desserviço

ao público e à ética jornalística não explicitar tais fatos. Continuar fomentando

partes da população com bordões como “bandido bom é bandido morto” ao ódio

pelo “outro” – que na verdade é tão brasileiro quanto – e apoiar a repressão

violenta como única forma e solução para conter a criminalidade é a antítese do

que o jornalismo representa: a busca da verdade em serviço do grande público.

O produto nasceu da necessidade explícita na sociedade brasileira de que uma

abordagem honesta sobre o problema é necessária. A dissonância cognitiva na

sociedade brasileira é profunda – somos o país de pessoas mais pacíficas e que

mais matam no mundo - e precisa ser abordada para que a violência e suas

cicatrizes no tecido social possam ser tratadas.

Contudo, não apenas seremos pautados pela ética jornalística. O trabalho tem

como uma de suas bases o humanismo, necessário no tratamento da questão,

pois não advogamos simplesmente que se mate menos “bandidos” para que as

Page 11: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

7

taxas de homicídios caiam – defendemos que é necessário que os brasileiros se

comprometam seriamente a parar de erradicarem-se uns aos outros, não importa

o aparente “lado” de qualquer pessoa. Fazendo uma exposição séria das

consequências de uma morte, quanto mais de 60 mil por ano, e do feudo de

sangue presente por toda a sociedade brasileira – com exemplos das chacinas de

vingança por mortes tanto de policiais quanto de criminosos – queremos oferecer

as informações necessárias para que a sociedade reflita e aja para interromper o

ciclo de violência.

Page 12: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

8

2. O TERROR DA VIOLÊNCIA BRASILEIRA

2.1 Crime e violência no Brasil

Em seu artigo “O direito humano à segurança pública e a responsabilidade do

estado”, a pesquisadora do Núcleo de Estudos da Tutela Penal e Educação em

Direitos Humanos (NETPDH), Marisa Helena D’Arbo Alves de Freitas, considera

que é estendida ao âmbito público a ação preventiva e repressiva exercida por

órgãos e agentes públicos para a proteção dos direitos fundamentais das pessoas,

e pressupõe a garantia de um Estado seguro, de convivência social pacífica, com

preservação e manutenção da ordem pública e a segurança das pessoas e de

seus patrimônios. (FREITAS, 2013, P. 03)

A afirmação de Freitas se baseia no capítulo três, artigo 144 da Constituição

Federal de 1988 que coloca “segurança pública como dever do Estado, direito e

responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da

incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: polícia

federal; polícia rodoviária federal; polícia ferroviária federal; polícias civis e polícias

militares”. Sendo assim, deve reprimir o crime, que para a autora é fator de

desestruturação social e empecilho para o desenvolvimento e progresso da

sociedade.

A questão da violência extrema em solo brasileiro é um fenômeno paradoxalmente

muito e pouco abordado. Todos os dias, em praticamente todos os meios de

comunicação, relatos sobre casos de violência são veiculados, repercutidos e logo

esquecidos para serem substituídos por outros, num rol sem fim de vítimas,

suspeitos e mortos. Ao mesmo tempo, poucas são as discussões aprofundadas

sobre o tema na mídia, normalmente reduzindo-se sempre à defesa da

necessidade de um “combate” maior ou mais duro à violência.

O enfrentamento da violência com violência tem sido o caminho escolhido pelas

políticas públicas com o apoio da sociedade em geral. Para citar um exemplo,

segundo dados mais recentes do IBGE na Pesquisa de Informações Básicas

Estaduais de 2014 (Estadic), o Brasil tinha, em 2013, um efetivo de 542.890

Page 13: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

9

policiais militares e civis, sendo 425.248 PMs e 117.642 policiais civis. O número

ultrapassa o efetivo de policiais nos Estados Unidos contabilizados para o mesmo

ano, que somava 477 mil de acordo com dados do Departamento de Estatísticas

de Justiça, do Departamento de Justiça dos EUA.

No artigo “Construir a delinquência, articular a criminalidade: um estudo sobre a

gestão dos ilegalismos na cidade de São Paulo”, a socióloga Alessandra Teixeira

cita uma pesquisa de opinião realizada em São Paulo sobre a segurança pública

em 1978 que revelou que a militarização aguda das forças de segurança, já então

em curso, era tida como opção eficaz de enfrentamento à criminalidade. A opção

pela pena de morte era apoiada por 55% dos entrevistados, chegando a 60% de

apoio dentre participantes da classe A.

Se é enquanto representação social que a violência se apresenta, como

colocar a questão de sua emergência no contexto urbano no Brasil

apenas em meados de anos 60 do século XX, se ela tem desempenhado

na sociedade brasileira um protagonismo nas relações sociais desde a

colonização, atravessando diferentes regimes e processos históricos? A

violência, em suas múltiplas formas, segundo Adorno (1996),

permaneceu no país “enraizada como modo costumeiro,

institucionalizado e positivamente valorizado de solução de conflitos”.

(TEXEIRA, 2012, p. 108)

Contudo, analisando o crescimento do número de homicídios a cada ano, e

principalmente a cifra alcançada em 2014, fica patente que a intensificação da

violência institucional não resultou na diminuição da violência.

De acordo com dados publicados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública

(FBSP) em seu anuário mais recente sobre segurança pública, no ano de 2014

foram registrados 51.035 casos de homicídios dolosos, com 53.240 vítimas; 2.061

latrocínios e 773 lesões corporais seguidas de morte. Os crimes violentos letais

intencionais (CVLI), categoria que agrega as ocorrências de homicídio doloso,

latrocínio e lesão corporal seguida de morte somaram 56.074 casos, com ao

menos 58.497 vítimas de mortes violentas intencionais. Apenas para comparação,

os Estados Unidos, que têm população e extensão territorial superiores ao Brasil,

possui um efetivo policial inferior e também um número menor de registros de

homicídios - 13.280 casos em 2014.

Page 14: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

10

Torna-se questionável então a eficácia das policias brasileiras. Outro ponto que

merece atenção é qual seria o termo correto para o nível a que chegou a violência

no Brasil que se era difundida no começo dos anos 1980, regionalizada nos anos

90 a 2000 e hoje faz mais vítimas por ano do que países em guerra civil e Estados

falidos, não é apenas um tipo de “violência” comum a qualquer país. A proposta do

presente projeto é de discutir como verdadeiro terror urbano, ou terrorismo, a

situação vivida no país por sua população, o povo que mais mata compatriotas e

que ao mesmo tempo ainda crê ser pacífico, de modo parecido ao descrito por

Sérgio Buarque de Hollanda em 1936 quando discorreu sobre o “brasileiro cordial”

– exceto que a crítica contida na obra é descartada, e o termo foi tomado de

maneira literal pela sociedade.

A socióloga Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança

Pública (FBSP), capturou quão sério é o problema da violência no Brasil em

entrevista concedida ao portal UOL1 em 2015 sobre os dados de homicídios

revelados pelo 9º Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2015), dizendo “[...]

Nós concentramos 2,8% da população do mundo e 11% dos homicídios. Somos

um país extremamente violento”.

Todavia, para propormos o tratamento da questão da violência urbana brasileira

como terrorismo, é necessário antes discutir a definição e os diferentes tipos de

terrorismo.

2.2 Construção do terrorismo

O terrorismo é descrito pela versão online do dicionário Michaelis (2016) da

seguinte maneira:

sm (terror+ismo) 1 Sistema governamental que se impõe por meio do

terror, sem respeito aos direitos e às regalias dos cidadãos. 2 Uso

sistemático da violência como meio de repreensão. 3 Ato de violência

contra um indivíduo ou uma comunidade, com o objetivo de provocar

transformação radical da ordem estabelecida: “Num segundo movimento,

a Operação Condor passou a limpar não apenas o terreno da subversão

1 Citação retirada de matéria publicada em 10 de outubro de 2015 no portal do UOL, com o título

“Brasil registra 58,5 mil assassinatos em 2014, maior número em 7 anos”

Page 15: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

11

e do terrorismo, mas o próprio terreno, numa operação de queima de

arquivo que atingiria a polícia e os serviços secretos dos três

países” (CA). 4 POR EXT Atitude de intolerância por parte de indivíduo

ou grupo de indivíduos com aqueles que não compartilham suas

convicções políticas, artísticas, religiosas etc.

Ampliando um pouco a definição, trata-se do uso da violência psicológica ou física

através de ataques localizados contra elementos previamente definidos, como o

assassinato do arquiduque austríaco Francisco Fernando da Áustria-Hungria em

1914, contra instalações militares ou até mesmo civis, com o objetivo de incutir

pânico, medo e incumbir efeitos psicológicos que ultrapassem o círculo das

vítimas imediatas, incluindo, antecipadamente, o resto da população do território.

O ataque terrorista é utilizado por uma diversa gama de entes como organizações

políticas, governos no poder e grupos separatistas. Tal é a realidade, ainda que

trate também da violência urbana em geral. Para o filósofo Regis de Morais

[...] a violência é típica do ser humano. Ao longo de toda a história ela

tem se feito presente. Ele sempre se originou de necessidades e

interesses antagônicos geradores de um clima de disputa, de mediação

de forças. Todos percebem, porém, que jamais esta coisa do homem

atingiu limites tão desumanos quanto agora – e marcadamente nas

cidades grandes. (MORAIS, 1981, p.79)

Ainda assim, o termo é fluido. Uma ação considerada terrorista por um Estado

pode ser considerada como uma manobra militar válida, de sabotagem ou até

mesmo de resistência por outro país ou um grupo – sem entrar no mérito de

“operações de bandeira falsa” que podem ser utilizados por agentes.

Os bombardeios das cidades de Dresden e Tóquio na Segunda Guerra Mundial

tiveram como alvo as cidades inteiras, com o objetivo reconhecido de reduzir a

moral da nação combatente inimiga mesmo com a grande maioria das vítimas

sendo civis. Os famosos foguetes alemães V2 lançados contra Londres também

não tinham alvos estritamente militares, tendo como objetivo maior incutir terror na

população – mas era algo válido do ponto de vista militar para os estrategistas

nazistas à época.

Page 16: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

12

Nos tempos modernos, por exemplo, bombas lançadas por drones americanos

contra instalações civis não são considerados pela opinião pública e a mídia

internacional ataques terroristas, mas sim ataques militares válidos – “cirúrgicos” –

mesmo quando a maioria ou a totalidade das vítimas são civis e edifícios não

militares.

Para compreender ainda mais a fluidez do termo, grupos como o exército

guerrilheiro FARC são considerados terroristas por diversos países, mesmo sem

praticar atos mais estritamente ligados ao termo como é conhecido hoje: bombas

e ataques em centros civis. No entanto, a “guerra de guerrilha” acaba associada

ao terrorismo por dispor de um pequeno contingente para atingir grandes fins,

fazendo o uso da violência para combater forças maiores. Apesar do alvo deste

tipo de tática ser as forças armadas adversárias, procurando minimizar danos

colaterais aos civis para conseguir o apoio destes, a flexibilidade do termo e a falta

de consenso na comunidade internacional permite a interpretação.

De certa maneira, é mais a uma “tática” militar que se aplica a definição de

terrorismo.

[…] o termo ‘terrorismo’ evoca, em linguagem corrente, uma violência

extrema, vítimas inocentes, um clima de angústia. Ele remete ao

fanatismo e à barbárie. Desde então, ele é frequentemente utilizado para

desqualificar o adversário e mobilizar a opinião pública a seu encontro.

Devido a este fato, torna-se difícil defini-lo sem condenar ou absolver,

como testemunham os debates concernentes à ação dos movimentos de

libertação nacional e de secessão ou as discussões sobre o terrorismo de

Estado. (GUILLAUME, 2004, p.28)

Depois da Segunda Guerra Mundial, no fim da década de 1960 e durante a

década de 1970, o terrorismo sempre foi visto como uma peça do contexto

revolucionário. O uso desse termo foi expandido – tanto na mídia como no

entendimento da comunidade internacional - para poder integrar grupos étnico-

separatistas e nacionalistas fora do contexto neocolonial ou colonial. Assim,

grupos que lutam pela separação, autonomia ou revolução política de um território,

como as FARC, acabam classificados como “grupos terroristas” ao lado de

organizações como a Al-Qaeda e Estado Islâmico, cometam ou não atos

estritamente considerados como tais.

Page 17: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

13

De acordo com informações coletadas por Gary LaFree e equipe do Global

Terrorism Database, exibidas na tabela abaixo, de 2010 a 2014 os ataques

terroristas tiveram um forte aumento, com mais de 15 mil mortes apenas no último

ano - uma mudança notável antedados para 1970. Números finais para os ataques

ocorridos em 2015 ainda não foram disponibilizados.

Segundo os pesquisadores, a definição de ataque terrorista inclui desde os

ataques às Torres Gêmeas até a explosão de uma bomba caseira na sede da

Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) no Rio de Janeiro.

Tabela 1. Ataques terroristas registrados por ano

Fonte: Global Terrorism Database 2015

A distribuição dos ataques terroristas pelo mundo nas últimas cinco décadas,

seguindo a classificação dada por estes pesquisadores, que inclui também alguns

tipos de assassinatos (como de jornalistas ou figuras religiosas), sequestros e

ataques contra instituições do governo, é explicitada nos mapas abaixo:

Page 18: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

14

Ataques terroristas nos anos 70

Figura 1. Informações da Global Terrorism Database 2015

Ataques terroristas nos anos 80

Page 19: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

15

Figura 2. Informações da Global Terrorism Database 2015

Ataques terroristas nos anos 90

Figura 3. Informações da Global Terrorism Database 2015

Ataques terroristas nos anos 2000

Page 20: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

16

Figura 4. Informações da Global Terrorism Database 2015

Ataques terroristas de 2010 a 2014

Figura 5. Informações da Global Terrorism Database 2015

Page 21: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

17

Analisando os mapas, vemos uma migração de focos de ataques terroristas da

Europa na década de 70 para o Oriente Médio, Ásia e África entre 2010 e 2014.

No Brasil, a questão da definição do que constitui um ato terrorista vem à tona

analisando o número aparentemente maior na década de 90 e a aparente

diminuição nos anos subsequentes: afinal, os ataques do PCC em 2006 contra

polícia e meios de transporte, por exemplo, constituem um só episódio? Das

depredações de ônibus nos anos subsequentes, todas seriam atos terroristas ou

apenas protestos?

O desafio, então, é tentar entender a evolução da definição do terrorismo na

história mundial.

2.3 Terrorismo na História

As primeiras menções aos termos terrorista e terrorismo são relativamente

recentes, datando do Período do Terror da Revolução Francesa, com a primeira

definição em dicionário surgindo em 1798 na 5ª edição do Dictionnaire de

l’Académie française. O terrorismo (terrorisme) era definido como “sistema, regime

do Terror” (CHEZ J. J. Smits et al., 1798, pág. 775) e o agente, o terrorista

(terroriste), era “agente ou partisão do regime do Terror que se manteve através

dos abusos das medidas revolucionárias”. Difundido junto com as repercussões da

Revolução Francesa, o termo ganhou um significado mais amplo nos dicionários

como um sistema de terror, e um terrorista passou a ser qualquer pessoa que

tentasse implementar sua agenda através de um sistema de intimidação coercitiva

(LAQUER, 2012, pág. 6).

Com a amplitude dada por esta definição, é possível classificar muitos

acontecimentos históricos como sendo de natureza terrorista, ou cometidos por

terroristas. Desde assassinatos de inimigos políticos em cortes da Antiguidade, a

repressões brutais de revoltas e guerras de camponeses – não apenas no período

Feudal, claro – passando também por disputas trabalhistas e até à formação de

quadrilhas, cartéis e governos, movimentos e tribulações terroristas existem desde

muito antes da definição moderna, apenas respondendo por termos diferentes.

Page 22: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

18

Mesmo assim, Laquer argumenta que “não há definição de terrorismo que seja

capaz de cobrir todas as variedades de terrorismo que surgiram na história”,

dizendo que diversos episódios da história foram acompanhados de terror

sistemático: “inimigos, reais e imaginários, foram eliminados por imperadores

romanos, sultões otomanos, czares russos e muitos outros” (2012, pág. 7).

O autor, porém, faz a distinção de terrorismo “[vindo] de baixo” e “de cima”, ou

seja, terrorismo de Estado e terrorismo de facções ou grupos à margem do poder

estatal. Um dos casos mais antigos conhecidos do que é possível classificar como

terrorismo “de baixo”, citado por Laquer, é o dos sicários durante a ocupação

romana da antiga Judeia em 70 D.C., pouco antes da destruição de Jerusalém.

Um grupo altamente organizado de religiosos judeus de baixo clero realizava

assassinatos com adagas chamados sica em plena luz do dia, principalmente em

dias em que multidões se concentravam em Jerusalém, usando o caos e a

multidão para voltarem a se esconder após o ato – além de sabotagens,

destruição de palácios, arquivos públicos onde ficavam os títulos dos banqueiros

da época, etc.

Estratégias terroristas iguais às modernas, se não tão chocantes quanto uma

bomba em um mercado, já existiam então em outras eras. Contudo, é possível

argumentar que até os tempos modernos a escala do terrorismo era sempre local,

atrelada de modo quase intrínseco à guerra de guerrilha, guerras civis, revoluções

ou mesmo protestos. Um dos atos terroristas mais conhecidos e que demonstra o

poder global destas ações é o assassinato de Francisco Fernando da Áustria-

Hungria em 1914, em Sarajevo, que acaba por servir como estopim para a

Primeira Guerra Mundial.

Novamente, é preciso chamar atenção para a fluidez do termo, pois em outro

caso, os radicais que assassinaram o czar Alexandre II da Rússia, em 1881, um

grupo chamado “Vontade do Povo”, realizava atos de “violência revolucionária” na

própria concepção do grupo, mas eram considerados terroristas por quem não

partilhava de suas ideias ou objetivos.

Esta dicotomia apresentada pelo terrorismo, na qual os principais agentes se

veem e são vistos por alguns como mártires, salvadores e/ou os únicos dispostos

a ir até as últimas consequências em nome de uma causa, ideal ou projeto

Page 23: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

19

enquanto são tidos por outros como vândalos, antipatriotas, bandidos e/ou atrozes

revolucionários ultraviolentos tem sido cada vez mais estudada, principalmente

nos dias atuais de guerras descentralizadas contra grupos insurgentes

transfronteiriços.

Assim, grupos com as mais diversas agendas, de separatistas a revolucionários a

reintegralistas, das mais diversas regiões e momentos históricos, como o Pátria

Basca e Liberdade (ETA), as Brigadas Vermelhas da Itália e o Exército

Republicano Irlandês (IRA) executaram atos classificados como terroristas em

defesa de suas causas, sendo rotulados como tais pelas autoridades legítimas de

seus países e de outros, mas nem sempre se autointitulavam ou consideravam

seus atos como terroristas.

A ligação entre luta revolucionária e o do terrorismo é tão forte na história que,

como no caso dos sicários em Jerusalém, é possível haver certa confusão quando

se tenta aplicar um dos dois termos a diferentes acontecimentos datando de antes

do surgimento da definição de terrorismo. Casos de organizações pequenas

contra o aparato estatal de segurança – em caso de grupos ou facções

suficientemente grandes e organizadas, em uma simplificação, a situação derroca

em uma guerra civil – que precisam usar de subterfúgio e sabotagem, tanto para

atingir seus objetivos quando para aumentar a percepção do público sobre a

bandeira defendida e assim possivelmente atrair mais pessoas para seus quadros,

podem ser simultânea e igualmente terroristas e revolucionários.

Como exemplos temos as diversas lutas de autodeterminação no pós-colonialismo

da metade do século XX, marcadas por atos considerados terroristas por uns e de

resistência ou revolução por outros – quando os vitoriosos eram os rotulados

“terroristas” e a revolução era aplicada, tais grupos e pessoas passavam a ser

considerados heróis revolucionários.

O mesmo ocorreu no Brasil durante o período da ditadura militar. Diversos grupos

de resistência à ditadura foram classificados como terroristas, como a Aliança

Libertadora Nacional (ALN) e o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8).

Posteriormente, com a queda da ditadura, tais movimentos são reclassificados

como movimentos de luta ou guerrilha armada contra a ditadura militar então

posta.

Page 24: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

20

Em nenhum outro lugar a vida está sendo um jogo tão perigoso como nas

grandes cidades. Eis uma afirmação óbvia com a qual precisamos iniciar

este escrito. E “jogo” é bem a expressão, pois que o elemento do “azar”

está muito presente nas angústias do cidadão. (MORAIS, 1981, P. 11)

Ao mesmo tempo, no entanto, a ditadura planejava explodir gasômetros no Rio de

Janeiro com bombas, consciente de que acarretaria a morte de até milhares de

inocentes, para colocar a culpa em “subversivos” – em ataques de bandeira falsa

– no caso Para-SAR. Também houve o Atentado ao Riocentro, que deveria plantar

bombas durante um show no Pavilhão Rio Centro na noite de 30 de abril de 1981,

por ocasião das comemorações do Dia do Trabalho, para refrear a abertura

política da época e dar início a uma nova onde de repressão, mas que falhou

quando um dos artefatos explodiu ainda dentro do carro em que estavam os dois

militares que os instalariam. Tais casos, entre outros, mostram que não apenas

grupos de oposição ou de minorias cometem atos terroristas, o que deixa ainda

menos claro exatamente o que é o terrorismo moderno.

2.4 Comunidade internacional e opinião pública sobre terrorismo

As primeiras resoluções da ONU acerca do tema, que ajudam a mostrar as

tentativas de construção de consenso da comunidade internacional, só

começaram a ser debatidas em 1972 quando pela primeira vez o termo

“terrorismo” é incluído nos debates da Assembleia Geral.

A primeira resolução sobre o tema chamava por medidas por combate ao

terrorismo internacional e também pelo estudo das causas das formas do

terrorismo, mas já adiantava que tais causas jaziam na miséria, frustração e

desespero, culminando em atos que tentavam colocar em efeito mudanças

radicais.

Mais tarde, em 1985, ocorre a primeira condenação internacional de terrorismo por

consenso, na resolução 40/61 da Assembleia Geral das Nações Unidas. O

Page 25: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

21

terrorismo passa a ser não mais considerado um ato legítimo pela comunidade

internacional, qualquer que seja a motivação política.

De fato todo o problema residia na distinção entre a condenação do

fenômeno do terrorismo e o recurso ao uso da força legitimado pela ação

dos movimentos de libertação nacional. Diante da dificuldade em se

superar este impasse inicial, a ideia de uma Convenção universal e geral

foi abandonada e o comitê foi extinto em 1979. (BRANT, 2005, p.264).

De modo algum, porém, a condenação pela comunidade internacional interrompeu

a onda de ataques que, como mostra a tabela 1, continuaram crescendo entre

1980 e 1990. Só nos Estados Unidos, ataques a bombas no museu da Estátua da

Liberdade, em 3 de junho de 1980, e no Capitólio norte-americano em 7 de

novembro de 1983, além do primeiro ataque ao World Trade Center em Nova

York, em 26 de fevereiro de 1993, trouxeram cada vez mais o termo terrorismo à

tona para a opinião pública e ao cotidiano das pessoas.

O tema só começa a ganhar maior atenção da opinião pública, porém, com os

ataques duplos às embaixadas norte-americanas no Quênia e na Tanzânia, em 7

de agosto de 1998, segundo o pesquisador do departamento de estudos de

defesa do King’s College em Londres, Pascal Carlucci, em entrevista concedida

ao jornal britânico Telegraph.

Eles foram o primeiro ataque complexo contra os Estados Unidos – uma

superpotência global – por uma rede terrorista transnacional chamada al-

Qaeda. Estes ataques foram o primeiro capítulo do que mais tarde seria

chamada de ‘Guerra contra o Terror’. Atacar simultaneamente duas

embaixadas dos EUA em dois países africanos diferentes deu

profundidade geopolítica à estratégia que Osama bin Laden tinha em

mente: atrair os EUA para um conflito prolongado que acabará por

reduzir seu poder na região. Os EUA responderam com bombardeios no

Sudão e no Afeganistão, e a opinião pública foi apresentada pela primeira

vez ao terrorismo global.2

Com cerca de 220 mortos e milhares de feridos, os ataques realizados pela al-

Qaeda contra a única superpotência restante da Guerra Fria deram início a uma

nova fase do terrorismo no mundo contemporâneo, com ataques realizados por

2 Matéria publicada no jornal britânico Telegraph

Page 26: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

22

células nos principais países ocidentais, na África e no Oriente Médio, e também

uma nova etapa nas medidas de segurança adotada contra tais atos, com cada

vez mais espaço para medidas mais repressivas que acabam por não impedir

outros ataques.

Os ataques de 11 de setembro de 2001, principalmente contra as Torres Gêmeas,

marcam uma profunda alteração na postura mundial em relação ao terrorismo

internacional, com consequências imediatas e de longo prazo que estão se

desenrolando até os dias atuais. A invasão do Afeganistão e as subsequentes

guerras no Oriente Médio – tanto regulares como civis – tiveram o terrorismo como

pano de fundo, quando não o tema central. O terrorismo passa não só a popular o

cotidiano das notícias, pessoas e nações, como também a servir como casus belli

para o início de diversos conflitos. Portanto apesar de separados por quase um

século, não é algo muito diferente do que aconteceu com Francisco Fernando da

Áustria-Hungria em Sarajevo – diversos grupos retomam a exploração das

consequências globais do terrorismo na tentativa de implantar suas agendas.

Além dos efeitos geopolíticos imediatos, o 11 de setembro serve como uma marca

divisória sobre o terrorismo na opinião pública e seus efeitos no cotidiano das

pessoas. A escalada nas medidas antiterrorismo se acelera, desde medidas

jurídicas e legislativas ao cotidiano das pessoas. A segurança em aeroportos é

mais que redobrada, passa a ser cada vez mais comum ver militares altamente

armados perto de pontos estratégicos como estações de metrô na Europa e o

temor de ataques começa a fazer parte do dia-a-dia, intensificando o medo na

população principalmente do mundo ocidental – efeito que não deixou de ser

sentido no Brasil, apesar da menor intensidade, já que o tema passa a fazer parte

das notícias no mundo todo.

2.5 Terrorismo contemporâneo

O terrorismo dos dias atuais tem como uma de suas características a

descentralização de suas atividades, ou seja, é transnacional e utiliza uma

hierarquia de células quase, ou totalmente, autônomas para perpetrar atos

Page 27: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

23

terroristas, com cadeias de comando flexíveis o bastante para absorver a morte e

a substituição de líderes rapidamente. Ataques terroristas têm a probabilidade de

desencadear transições súbitas para guerra ou conflito. Devido à sua natureza

anônima e, frequentemente, autossacrificial, não é incomum que as razões para o

atentado permaneçam desconhecidas por um período considerável de tempo.

Atos terroristas incluem explosões de bombas, assassinatos, chacinas

indiscriminadas, aparelhamento, linchamentos e raptos. É uma estratégia não-

militar e política usada por grupos para promover ataques abertos e chamativos,

sendo utilizados em época de paz, guerra e conflito. A intenção mais comum do

terrorismo é causar medo na população ou em setores específicos dela, com o

objetivo de provocar em um inimigo, ou em seu governo, uma mudança de

comportamento. Porém, existem ainda outros tipos, segundo a Relatora Especial

do documento Terrorismo e Direitos Humanos de 1998 a 2004, da Subcomissão

de Prevenção à Discriminação e de Proteção às Minorias da Comissão de Direitos

Humanos da ONU, Kalliopi K. Koufa:

● Terrorismo de Estado - Recurso usado por governos ou grupos para

manipular uma população conforme seus interesses.

● Terrorismo econômico - Subjugar economicamente uma população por

conveniência própria.

● Terrorismo físico - Uso de violência, assassinato e tortura para impor seus

interesses.

● Terrorismo psicológico - Indução do medo por meio da divulgação de

noticias em benefício próprio.

● Terrorismo religioso - Quando o incentivo do terrorismo vem de alguma

religião.

Terroristas, sejam eles estatais ou não, operam obviamente às margens de leis

locais, contudo também desrespeitam tratados internacionais básicos como a

Declaração Universal dos Direitos Humanos na busca de seus objetivos. Sobre os

vastos efeitos do terrorismo sobre direitos humanos fundamentais, Koufa diz que:

Page 28: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

24

As ações terroristas, tanto se são cometidas pelos Estados como por

atores não estatais, podem violentar o direito à vida, o direito de não ser

objeto de torturas nem de detenção arbitrária, os direitos das mulheres,

os direitos das crianças, o direito à saúde, à subsistência (alimentação), à

ordem democrática, à paz e à segurança, o direito à não discriminação e

todas as demais normas de proteção dos direitos humanos. Na realidade,

não existe provavelmente um só direito humano que não esteja exposto

aos efeitos do terrorismo. (KOUFA, 2001)

Atos terroristas clássicos incluem o assassinato de Francisco Fernando, que deu

início à Primeira Guerra Mundial, o Domingo Sangrento, os ataques de 11 de

setembro de 2001, como também ataques a bomba na Irlanda do Norte, Reino

Unido, França, Oklahoma, Líbano e Palestina. O alto número de vítimas, a

destruição causada e a ideologia aparentemente são os três principais pontos que

um ataque deve possuir para ser classificado como um ato terrorista – mesmo que

às vezes os planos sejam descobertos antes de sua execução resultando em um

número menor ou zero de vítimas.

Contudo, comparando os ataques terroristas em diversas partes do mundo e a

violência endêmica no Brasil e descartando o fator da ideologia, é possível

observar uma ambiguidade na definição de terrorismo – pelo número de mortos, o

terror incutido na população pelos repetidos atos em um determinado período de

tempo e a desestabilização do Estado, é questionável o por quê da violência

brasileira não ser também classificada de terrorismo.

Além disso, tendo em vista os atos planejados durante a ditadura brasileira e o

terrorismo de Estado, é possível afirmar que o governo brasileiro já cometeu – ou

ao menos planejou nos dois casos especificados – atos terroristas. Por outro lado,

também cometeram atos assim as guerrilhas de esquerda durante a ditadura, as

facções criminosas como PCC e Comando Vermelho e milícias no período

democrático, com assassinatos, sequestros realizados para a troca de presos,

ataques de represália após a morte de algum integrante dos grupos, etc.

A questão do terror no Brasil, porém, é complexa e precisa ser mais aprofundada.

O que aterroriza a sociedade brasileira não são ataques a bombas por extremistas

religiosos em lugares movimentados, mas algo aparentemente mais simples:

tiroteios, homicídios, latrocínios.

Page 29: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

25

A violência comum, problema que parece corriqueiro no cotidiano de qualquer

cidade ou área metropolitana no mundo, mas que no país é muito mais que

exacerbado – o Brasil é campeão em números absolutos de homicídios por ano.

[...] Depois de muitos assaltos, não se vê mais nas ruas carros

entregadores de gás, bebidas ou cigarros. Não só pelas dificuldades de

trafegar pelas ruas esburacadas, muitas delas de difícil ou quase

impossível acesso. Achou-se melhor ter depósitos de gás, bebidas e

cigarros. E os comerciantes aprenderam a viver entrincheirados,

preocupados com a segurança e sobrevivência. (SOUZA, 1980, p. 41)

O país, porém, parece ter estagnado no que diz respeito às tentativas de diminuir

os números de violência.

2.6 Paradoxos brasileiros

De 2000 a 2012, a economia brasileira experimentou um período de estabilidade e

melhora principalmente na desigualdade social, que é sempre apontada como um

dos fatores que geram violência.

Na contramão do esperado, a violência no país não diminuiu no período. Como

constatou o sociólogo, cientista político e professor da Universidade do Estado do

Rio de Janeiro, Emir Sader, no artigo intitulado Violência e desigualdade social

para o El País, publicado em 5 de fevereiro de 20143,

A América Latina - e o Brasil dentro dela - tem sido o continente que mais

diminui a desigualdade, a pobreza e a miséria, melhorando

consideravelmente a situação social do continente mais desigual do

mundo. Porém, isso não tem levado à diminuição da violência,

demonstrando que, embora o vinculo entre os dois planos seja real, sua

relação não é mecânica

Se a melhora econômica e a redução da desigualdade não conseguem diminuir a

violência no país, no âmbito legislativo e policial os cenários não são melhores. As

iniciativas para tentar confrontar o problema do terror urbano que afeta a

3 Artigo pode ser acessado em:

http://brasil.elpais.com/brasil/2014/02/05/sociedad/1391629439_112697.html

Page 30: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

26

sociedade brasileira que têm ganhado mais espaço dizem respeito à volta do

armamento da população civil, para a redução da maioridade penal e medidas

antiterrorismo, como o Projeto de Lei 499 do Senado Federal.

O Brasil ratificou acordos e relatórios de convenções internacionais sobre o

terrorismo, como os da ONU, tanto sobre a definição do que é e de compromissos

ao seu combate. Ainda assim, mesmo com o “terrorismo” citado na Lei de

Segurança Nacional e na própria Constituição, não existe – ainda, apesar da nova

lei - uma definição concreta de terrorismo na legislação brasileira.

O PL 499 foi apresentado foi apresentado em 2013 e sancionado em 2016,

definindo crimes de terrorismo e estabelecendo a competência da Justiça Federal

para o seu processamento e julgamento. No início de 2016, a “Lei Antiterrorismo”

é aprovada sob críticas de diversas organizações como ONU, Anistia Internacional

e da sociedade civil, por ser muito ampla e vaga, possibilitando a incriminação de

movimentos sociais legítimos como protestos e manifestações.

O Brasil, então, entre seus pares, considera terrorismo algo diferente. Segundo a

Anistia, centenas de manifestantes foram duramente reprimidos ainda em 2013,

ou seja, antes da lei atual, pelo aparato de segurança enquanto participavam de

manifestações no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Desde meados de 2013, centenas de pessoas foram presas e

interrogadas no contexto dos protestos. Na grande maioria dos casos, os

manifestantes foram soltos sem que fossem acusados formalmente,

algumas vezes depois de investigações da polícia civil concluírem que as

acusações contra eles eram infundadas. Até o momento, sabe-se de

apenas um indivíduo que foi condenado por delito relativo a

comportamento criminoso durante os protestos, sendo que a acusação

contra ele é questionável. (HOUSE, 2014 p.12)

Isso também serve para mostrar o problema de como opera a polícia e o aparato

de segurança no Brasil. Segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de

2014, mais de 60% dos policiais consideravam não ter recebido treinamento

adequado para atuar em grandes manifestações. Não sendo assim anormal,

Page 31: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

27

portanto, que recorram à força excessiva para conter manifestações legítimas, e

que também usem da mesma brutalidade em diversas outras situações.

A pesquisa realizada pelo grupo, que será analisada mais à frente, mostra que a

consequência de uma força policial bruta e despreparada é que a maior parte da

população simplesmente não confia na polícia.

Paralelamente, no Brasil não existe uma norma regulamentadora para o uso de

armas menos letais, o que torna o uso excessivo por policiais algo ainda mais

difícil de ser controlado, supervisionado e investigado. A simples regulamentação,

porém, não seria o suficiente para a brutalidade policial em manifestações

diminua, já que as armas letais, que têm regulamentação estrita, são abusadas

por policiais dentro e fora de serviço.

Existem outros fatores para a ineficiência policial no Brasil que vai além dos

armamentos, tantos dos policiais quanto de criminosos. A falta de treinamento,

uma controladoria fraca e o uso cada vez maior de táticas repressivas quando

estas já mostraram, ao longo das últimas 3 décadas, não serem capaz de debelar

a violência contribuem para o alto número de homicídios no país, que continua

crescendo.

2.7 Números, confiança e medo

O número de mortes violentas no Brasil é alarmante, e tem sido assim há vários

anos seguidos. A escalada da violência no país durante pelo menos as três

últimas décadas – para as quais é possível, ainda que com ressalvas, ter dados

mais confiáveis – é palpável no tecido social, gerando forte sensação de medo na

população a ponto de que a maioria das pessoas sente-se pouco segura para sair

em seu próprio bairro durante a noite, de acordo com a pesquisa coordenada por

Nancy Cardia do Núcleo de Estudos da Violência da USP, “Atitudes, normas

culturais e valores com relação à violação de direitos humanos e violência – 2010”.

Na pesquisa realizada em 11 capitais, 37,66% responderam que se sentem pouco

seguras em andar à noite sozinho pela própria vizinhança; outros 22,6%

responderam que não sentem qualquer segurança. Entre os pesquisados que se

sentem seguros, 26,83% disseram sentir-se protegidos, enquanto apenas 5,28%

afirmaram que se sentem muito seguros.

Page 32: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

28

A pesquisa realizada pelo próprio grupo, nas 7 cidades do ABCD e na capital

paulista, corrobora os resultados da pesquisa da USP significativamente. Quando

questionados sobre a sua sensação de segurança, 67,42% disseram não se

sentirem seguros; 30,85% responderam que se sentem seguros e 2,28% não

quiseram ou não responderam à questão; questionados se consideravam o Brasil

um país perigoso para se morar, 72,57% disseram que sim; 24,14% disseram não

considera-lo perigoso para se morar; enquanto 3,28% não quiseram ou não

responderam.

Já sobre a polícia, 66% das respostas válidas ouvidas – excluindo quem não quis

ou não sabia responder – afirmavam que não confiam na polícia contra apenas

33% que confiam na instituição pública.

A pesquisa do grupo mostrou ainda quão enraizado é o terror na sociedade

brasileira. Ao questionar as pessoas sobre se acreditavam que população vive

uma situação de terror urbano, 80% das pessoas ouvidas afirmaram acreditar que

a população brasileira está aterrorizada ou em pânico por conta da violência.

Outros 17% disseram não acreditar nessa possibilidade e 3% não souberam ou

não quiseram responder.

O medo exposto nas pesquisas está ancorado nos números de homicídios e

mortes violentas no país.

Pedro Abramovay, diretor da Open Society Foundations para a América Latina e o

Caribe, afirma no anuário do FBSP que “[...] em nenhum país do mundo, sem

guerra declarada, mais seres humanos mataram outros seres humanos do que no

Brasil. Quase 60.000 pessoas foram assassinadas em nosso país.” (2015, p. 20)

Chama atenção o uso do “quase” por Abramovay. Os dados produzidos no

território brasileiro não são totalmente confiáveis. O mesmo relatório separa as

informações enviadas pelos Estados em três grupos:

● Grupo 1: maior qualidade das informações;

● Grupo 2: menor qualidade das informações;

● Grupo 3: não há como atestar a qualidade dos dados.

O primeiro grupo é composto por Alagoas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito

Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará,

Page 33: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

29

Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do

Sul, Roraima, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe. Deste grupo, o maior número

de vítimas de homicídios em 2014 foi registrado na Bahia, com 5.663 mortos,

enquanto a maior taxa de homicídios foi a de Alagoas, com 61,9 por cada 100 mil

habitantes – apesar de uma variação negativa de 5 por cento em 2014 ante 2013.

Os Estados cujos dados têm menor qualidade são Acre, Amapá, Paraíba,

Rondônia e Tocantins. Dentre eles, a Paraíba registrou ao menos 1.478 vítimas de

homicídios – número já alto que pode ser ainda maior.

O terceiro grupo é composto ainda por um único Estado: Amazonas. Em 2014,

segundo o Estado, foram registradas 934 vítimas de homicídios com uma taxa de

24,1 para cada 100 mil habitantes.

Mesmo assim, há diferenças entre o número de casos e o número de ocorrências,

que tanto podem sugerir chacinas quanto a falta do registro mais atencioso da

ocorrência, ocorrências registradas em categorias diferentes de homicídios, como

autos de resistência policial. São Paulo, por exemplo, teve 4.526 vítimas de

homicídios dolosos em 2014 para apenas 4.293 ocorrências.

Já o Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais e sobre

Drogas (SINESP), com dados compilados pela Secretaria Nacional de Segurança

Pública (SENASP), dá números diferentes para homicídios dolosos no país no

mesmo ano. Segundo seu relatório de 2014, foram apenas 46.402 vítimas de

homicídios, com uma taxa de 23,41 para cada 100 mil habitantes.

A discrepância de 10 mil vítimas a menos registradas pelo órgão governamental

vem ainda acompanhada de duas particularidades. A primeira é de que o Estado

de Goiás não informou dados, sem que se encontre uma justificativa para tal falta.

A segunda, de acordo com texto da própria página de estatísticas da SENASP:

[...] até 2012, as estatísticas criminais eram geradas somente com dados

dos municípios com população superior a 100 mil habitantes, a partir de

janeiro de 2013, já é possível o tratamento e análise de dados de todos

os municípios brasileiros.

Page 34: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

30

Apesar do problema grave de não poder contar com dados de todos os municípios

antes de 2012, a agência disponibiliza a taxa de homicídios por 100 mil habitantes

até 2011.

Estes problemas são graves e persistentes na sociedade brasileira, endêmicos

como a própria violência, à luz do que fez, por exemplo, o governo do Estado de

São Paulo em 2015, com a manobra estatística de retirar sem qualquer aviso do

número de homicídios dolosos as mortes causadas por policiais militares de folga

em legítima defesa. Com essa simples alteração o total de casos de homicídios

dolosos caiu de 1.861 para 1.759 entre abril e setembro de 2015, quando o

assunto veio à tona na grande mídia.

Além disso, o governo de São Paulo vem tentando dificultar o acesso aos dados,

num claro retrocesso sobre a transparência e supervisão dos dados por entidades

externas. Em 5 de fevereiro de 2016, o governador Geraldo Alckmin decretou, via

Diário Oficial, que as informações sobre polícias civil e militar voltariam a ser

secretas e impondo sigilo de até 25 anos. Apesar dos dados em questão não

envolverem números de homicídios, foi preciso uma grande movimentação da

imprensa e da sociedade para que o governo estadual recuasse um pouco sobre

sua posição, prometendo reavaliá-la. Se o Estado que historicamente tem mais

dados, e cujas informações vinham sendo consideradas entre as mais confiáveis,

busca ativamente esconder informações, chega a ser impossível supor o que

fazem as outras unidades da Federação.

Essas questões deixam enevoado um quadro que pode ser muito mais grave do

que se imagina. Se com dados oficiais não confiáveis e que diminuem o número

de homicídios registrados, o Brasil foi o país com maior número absoluto de

homicídios na listagem do Instituto Igarapé com base em informações de 2012,

com 56.337 casos, à frente da segunda colocada Índia, que tinha 1 bilhão a mais

de pessoas e “apenas” 34.434 homicídios – 2012 foi selecionado por ser o ano

que permite a comparação direta no estudo.

O Brasil ainda foi considerado em 2015 como o 15º lugar mais perigoso do planeta

com base em taxas de homicídios por 100 mil habitantes, e caso os dados

fidedignos fossem coletados o cenário certamente seria ainda pior.

Page 35: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

31

Joseph Murray et al. (2013) estimam, em estudo que analisou diversos artigos e

trabalhos acadêmicos sobre a violência, que a taxa de homicídios por cada 100

mil habitantes tenha atingido 31,5 – ante 26,2 para cada 100 mil pessoas segundo

estatísticas oficiais, reconhecendo o problema com a dados. De fato, as

estimativas destes autores ultrapassam as taxas de homicídio registradas em pelo

menos 5 para todos os anos que há estimativas, de 1995 a 2010.

Outro dado trazido pelos autores no estudo é de que as vítimas no país têm

maiores chances de serem jovens negros com baixa escolaridade.

[...] têm maior probabilidade de serem jovens, do sexo masculino, negros

e com poucos anos de educação [...] Em 2009, a taxa de homicídio de

homens (51,1 por cada 100 mil) foi mais de 10 vezes maior que a taxa de

mulheres (4,3 por cada 100 mil) (MURRAY et al. 2013).

Estas informações são confirmadas por outros estudos, como o Mapa da Violência

2014 – Os jovens do Brasil (Brasília, 2014), coordenado por Julio Jacobo

Waiselfisz, que foi entrevistado para a realização da websérie:

Ao longo dos diversos mapas que vêm sendo elaborados desde 1998,

emerge uma constante: a elevada proporção de mortes masculinas nos

diversos capítulos da violência letal do país, principalmente quando a

causa são os homicídios. Assim, por exemplo, nos últimos dados

disponíveis, os de 2012, pertenciam ao sexo masculino: 91,6% das vítimas

de homicídio na população total e ainda mais entre os jovens: 93,3%. [...]

historicamente, essas proporções diferem pouco de ano para ano. A

participação masculina no total de homicídios do país, nos 32 anos

computados, passou de 90,3% para 91,6%, e a feminina caiu de 9,7% para

8,4%. Entre os jovens, essa estabilidade é bem semelhante.

(WAISELFISZ, 2014, p. 70.)

A ONU, assim como a Anistia Internacional e outras instituições, tem demostrado

preocupação com o grande número de mortos e os altos índices de violência no

país. Para a ONU e suas agências, o Programa das Nações Unidas para o

Desenvolvimento (PNUD), o Comitê sobre os Direitos da Criança das Nações

Unidas e Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

(UNESCO) a situação é classificada como epidêmica, que é quando se registra

mais de 10 casos de mortes para cada 100 mil habitantes, sendo que no Brasil o

índice é de 28,8 mortes para cada 100 mil.

Page 36: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

32

Em 2011, as Nações Unidas já tinham lançado um alerta sobre a questão, no

artigo publicado em seu site Violência no Brasil tem endereço, faixa etária e raça,

apontam especialistas em seminário no Rio. No painel em questão, sobre

Desarmamento, Controle de Armas e Prevenção à Violência, a Coordenadora da

Área de Minorias, Movimentos Sociais e Cidadania do Centro de Estudos de

Segurança e Cidadania (CESeC), Silvia Ramos, declarou que a violência no Brasil

tem diferenças geográficas, de faixa etária e de raça. Exemplificando esse perfil

de violência brasileira com a cidade do Rio de Janeiro, declarou que

Na zona sul, região carioca cuja população possui um alto poder

aquisitivo, as taxas de homicídio variam de 2 a 12 por cada 100 mil

habitantes, índices próximos aos da Europa. Já nas regiões pobres, as

taxas chegam a 75 para cada 100 mil habitantes. É como se existissem

dois países dentro de uma cidade4

2.8 Armas de fogo no Brasil

Entre as preocupações da organização está o uso de armas. No Mapa da

Violência: Mortes Matadas por Arma de Fogo (Brasília, 2015), também

coordenado por Waiselfisz, o número de mortos por disparo de armas no Brasil

chegou em 2012, a mais de 42 mil pessoas, o equivalente a cerca de 120 óbitos

por dia. Essa cifra é ainda mais acentuada entre os jovens, que correspondem a

cerca de 59% das estatísticas.

Segundo estimativas reproduzidas no Mortes Matadas por Arma de Fogo,

levantadas por Dreyfus e Nascimento (DREYFUS, P͖; NASCIMENTO, M.S. Small

Arms Holdings in Brazil: Toward a Comprehensive Mapping of Guns and Their

Owners. FERNANDES, R. ed. Brazil: The Arms and the Victims. Rio de Janeiro: 7

Letras/Viva Rio/ISER, 2005), o país contava com um vasto arsenal de armas de

fogo, sendo 15,2 milhões em mão privadas, com 8,5 milhões destas sem registros

e ainda 3,8 milhões em mãos criminais. Segundo Waiselfisz:

4 Reproduzido a partir de artigo que pode ser acessado em: https://nacoesunidas.org/violencia-no-

brasil-tem-endereco-faixa-etaria-e-raca-apontam-especialistas-em-seminario-no-rio/

Page 37: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

33

A magnitude desse arsenal guarda estreita relação com a mortalidade

que essas armas originam. Os registros do Serviço de Inspeção

Municipal permitem verificar que, entre 1980 e 2012, morreram no Brasil

mais de 880 mil pessoas vítimas de disparo de algum tipo de arma de

fogo. Nesse período, as vítimas passam de 8.710 no ano de 1980 para

42.416 em 2012, um crescimento de 387%. Temos de considerar que,

nesse intervalo, a população do país cresceu em torno de 61%. Mesmo

assim, o saldo líquido do crescimento da mortalidade por armas de fogo

no Brasil, já descontado o aumento populacional, ainda impressiona, e

será aprofundado adiante, no tratamento das taxas de mortalidade. Entre

os jovens de 15 a 29 anos, esse crescimento foi ainda maior: passou de

4.415 vítimas em 1980, para 24.882 em 2012: 463,6% de aumento nos

33 anos decorridos entre as datas. (WAISELFISZ, 2015, p.21)

Em 22 de dezembro de 2003 a população aprovou por meio do plebiscito, o

Estatuto do Desarmamento - Lei 10826/03, que foi responsável por, segundo

dados divulgados em julho de 2015 no 9º Encontro do Fórum Brasileiro de

Segurança Pública, evitar 121 mil mortes entre 2003 e 2012 em todo o Brasil.

Apenas no Estado São Paulo, uma queda de cerca de 12,6% no número de

homicídios entre 2004 e 2007 pode ser atribuída à lei federal que dispõe sobre o

registro, posse e comercialização de armas de fogo e munição. Entretanto, os

governos estaduais não se demostraram eficazes no combate ao crime

organizado e muito menos na retirada de armas de facções e criminosos.

Com tantas armas e homicídios em crescimento, é necessária uma reflexão sobre

o estado dos Direitos Humanos Universais no país, e a atuação do Estado para

garantí-los.

2.9 Direitos Humanos

Os direitos humanos constituem direitos fundamentais de todos os seres humanos

e a sua afirmação está vinculada ao reconhecimento de que todas as pessoas são

livres, e em razão desta condição, têm direitos e atributos que lhe são inerentes.

No âmbito jurídico, a segurança é direito fundamental dos indivíduos,

Page 38: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

34

imprescindível ao natural desenvolvimento da personalidade humana e ao

aperfeiçoamento da vida em sociedade.

Um problema crônico de direitos humanos aflige o Brasil, pois existem diversos

casos, de conhecimento público e não, de homicídios ilegais, torturas, maus-tratos

e até violações e alterações de cenas de crimes cometidos por policiais. Muitas

prisões e cadeias brasileiras estão superlotadas, e a falta de controle estatal

adequada facilita o recrutamento de membros para gangues e facções. Existem

ainda outros exemplos de problemas de direitos humanos como: o

“mascaramento” dos dados estáticos a respeito da violência no país, a violência

contra ativistas, profissionais de imprensa, negros e moradores de regiões

periféricas das grandes cidades.

Somado a essa conjuntura, os crescentes índices de criminalidade colocam o

Brasil em 11° lugar dos países mais inseguros do mundo no ranking da Social

Progress Imperative, à frente de países como Colômbia, Estados Unidos, Iêmen,

Irã e Ucrânia, por exemplo, que sofrem ataques de diversos tipos: terroristas, do

narcotráfico ou até guerras civis. Parece ser este o reconhecimento pelas mais de

58 mil mortes registras no ano de 2014, o que em média significou uma pessoa

assassinada a cada meia hora, segundo dados do supracitado FBSP no 9º

Anuário Brasileiro de Segurança de 2015.

Esse cenário reforça a ideia de que o modelo tradicional de combate à violência

está desgastado. Em artigo publicado no jornal Folha de São Paulo, intitulado A

ineficiência do Estado perante a barbárie, o psicólogo judiciário, Paulo Fernando, e

a psicanalista, Maria Rita Kehl, descrevem a insegurança pública da seguinte

forma5:

Nas guerras, nas ditaduras, nas crises, a experiência da dor também

segue um padrão previsível. É o caso dos pais do adolescente

assassinado depois de entregar seu celular ao assaltante; dos familiares

da dentista queimada viva porque tinha pouco dinheiro no banco; dos

pais do jovem atropelado e morto pelo motorista alcoolizado na Vila

5 Artigo pode ser acessado em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/.../109439-infelicidades-

ordinarias.shtml

Page 39: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

35

Madalena; dos órfãos de mulheres assassinadas por maridos ciumentos.

[...] A infelicidade dessas pessoas tem muitos elementos em comum:

desamparo, lutos irreparáveis, medo de sofrer retaliações, revolta e

sentimento de injustiça - este, inconsolável. Suas lembranças, seus

corpos precocemente envelhecidos compartilham para sempre o

conhecimento silenciado de que somos mortais, desprotegidos, frágeis e

impotentes. Mesmo em tempos de paz permanecerá neles, latente, a

possibilidade de eclosão do medo do imprevisível. (KEHL, Maria Rita e

SOUZA, Paulo Fernando Pereira de, 2013, p. 1-2)

Entre os direitos humanos está também o direito à dignidade da pessoa, que trata-

se de um atributo que todo ser humano possui independentemente de qualquer

requisito ou condição, seja ele de nacionalidade, sexo, religião, posição social ou

orientação sexual. Tal direito impede que qualquer pessoa seja colocada em

situação vexatória ou humilhante.

2.10 Direitos (in)existentes

Com essas informações, é possível concluir que não está em discussão se devem

existir direitos humanos também para bandidos, já que direitos são para humanos

— e deles ninguém se exclui ou pode ser excluído. A questão é de outra natureza,

de que o Estado está sendo omisso e ineficiente já que, por hora, não é capaz de

garantir segurança e outros direitos básicos à população.

Assim como durante o ano que antecedeu a Copa do Mundo de 2014, houve em

2015 grandes protestos no país. Dezenas de pessoas foram feridas em confrontos

entre manifestantes e polícia, incluindo jornalistas. Em vários incidentes, a polícia

fez uso excessivo da força, espancando manifestantes que não resistiam à prisão

e lançando bombas de gás lacrimogêneo contra manifestantes à curta distância,

como visto em imagens veiculadas pelas redes de televisão.

O Comitê sobre os Direitos da Criança das Nações Unidas, em comunicado

publicado em outubro de 20156, demonstrou-se também preocupado “com as 250

6 Comunicado pode ser acessado em: https://nacoesunidas.org/comite-da-onu-sobre-os-diretos-

das-criancas-critica-violencia-policial-e-discriminacao-estrutural-no-brasil/

Page 40: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

36

mil remoções forçadas nas comunidades carentes do Rio de Janeiro em

consequência da Copa do Mundo em 2014 e das Olimpíadas de 2016, sem dar

aos moradores suas justas compensações, afetando seus meios de vida e o bem-

estar e desenvolvimento das crianças”, além de também a aceleração das

operações de paz nos morros cariocas para tentar amenizar a violência local para

os Jogos. Entretanto, o apoio dado ao Rio de Janeiro à ocupação militar dos

morros cariocas provocou enorme discussão sobre o papel das Forças Armadas

na segurança pública. Houve críticas quanto à súbita presença do Estado, tanto o

Rio quanto a União, através do uso da força, quando historicamente deixou de

cumprir com seu papel de agente regulador e garantidor de direitos. Antes de

garantir direitos básicos como água, luz, esgoto, educação e moradia digna,

chegaram as armas.

Como prevê a Declaração Universal dos Direitos Humanos, os princípios das

Nações Unidas, e a Constituição Federal, além de acordos assinados em tratados

internacionais pelo Brasil, é de todo homem o direito à liberdade de expressão,

educação, saúde, respeito à pessoa, segurança pessoal, igualdade e moradia.

Como definido no artigo 5º:

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a

inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à

propriedade, nos termos seguintes: [...] II - ninguém será obrigado a fazer

ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; [...] IV - é livre a

manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; [...] XVI -

todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao

público, independentemente de autorização, desde que não frustrem

outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo

apenas exigido prévio aviso à autoridade competente; (BRASIL, 1988)

O direito à moradia digna foi reconhecido e implantado como pressuposto para a

dignidade da pessoa humana, desde 1948, com a Declaração Universal dos

Direitos Humanos e foi recepcionado e propagado na Constituição Federal de

1988, por advento da Emenda Constitucional nº 26/00, em seu artigo 6º.

Page 41: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

37

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o

trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a

proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na

forma desta Constituição.

Como consequência econômica mais imediata o país assistiu, na segunda metade

dos anos 50 a um crescimento significativo tanto do valor da produção industrial

como do PIB, marcando ainda o início do que Francisco Oliveira (2000) denomina

“processo de predominância da estrutura produtiva de base urbano-industrial”,

segundo a Doutora em Sociologia, Alessandra Teixeira, que diz também que:

Assim, ao lado de uma industrialização crescente, também o processo de

urbanização se tornaria mais frenético, impactando em novos fluxos

migratórios e no redesenho agrário-urbano do país. A cidade de São

Paulo, por exemplo, saltará de 1,3 milhão de habitantes em 1940 para

2,2 milhões em 1950, ganhando quase o dobro de habitantes em apenas

uma década. Esse contexto implicará numa transformação e

complexificação das relações sociais estabelecidas até então em bases

mais tradicionais e hierárquicas –, a exemplo do que aponta Misse para a

capital carioca, com o que se desenharão novos padrões de

conflituosidade social. (TEIXEIRA, 2012, p. 79)

Uma influência que também chegou ao âmbito da criminalidade propriamente dita,

ao lado do aumento das taxas de crimes patrimoniais urbanos, à emergência da

violência urbana como um fenômeno que dirá respeito tanto à criminalidade como

a seu enfretamento. Além “das medidas de caráter urbanístico, que importarão

uma vez mais no deslocamento e remoção de populações indesejáveis das áreas

objeto de intervenção política e econômica, também se verifica uma aparente

expansão do controle às populações pobres”, o que vale dizer aumento dos

centros urbanos precários e violentos, segundo Teixeira.

O Estado, por sua vez, “se ausenta, onde tudo falta, quem tem algo, vira

referência, o poder seduz. Quem tem o poder na favela? Quem dita as regras na

favela? Na verdade o poder seduz e transforma as pessoas em qualquer escala,

sem distinção”, colocam o Doutor em Direito, Thiago M. Mináge, e o advogado

Page 42: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

38

criminalista, Alberto S. Júnior, no artigo Quando a arte imita a vida e nos faz crer

que a vida é um conto: o faroeste caboclo (parte 1)7. Para os autores, “o Estado,

representação mais perceptível do Poder, quando entra na favela, não é para dar

bom dia, e sim para dar tiro”.

Ao se eximir da responsabilidade de levar segurança pública, o Estado também

foge a responsabilidade de garantir saúde, educação, limpeza urbana e outros

serviços às favelas e morros. A solução encontrada pelo Estado é, portanto,

reconhecer sua falha e pedir socorro à União e o envio de tropas para operações

de Garantia da Lei e da Ordem, ou seja, tanques, soldados e fuzis subindo morros

e vitimando inocentes.

2.11 Imprensa sensacionalista

O papel do jornalismo na sociedade é interpretar e traduzir informações. Não cabe

a ele apenas informar. Devido à saturação da informação, cabe ao jornalista

interpretá-la, atribuindo-lhe sentido e precisão na produção de um bem intelectual

que dê ao receptor a possibilidade de refletir e, também, de interpretar, afirma o

jornalista Tiago Lobo do Observatório da Imprensa no artigo Sobre o papel social

do jornalismo (2013)8.

Responder a todas as perguntas na abertura de uma matéria é um

desserviço ao leitor. Pensa-se que ele não possui tempo para ler jornais.

Até parece uma afirmação acertada. Mas será mesmo? Ou será que os

textos jornalísticos (salvo o brilho de poucos mestres) são frios,

imprecisos, burramente objetivos e o leitor já se acostumou com essa

estética técnica e industrial? Ora, o jornalismo se nutre da vida e história

humana, portanto sua narrativa não deveria desumanizar as personagens

das suas tramas de não ficção. O excesso da objetividade aborta a

humanidade de um texto (LOBO, 2013).

7 Artigo pode ser acessado em: http://canalcienciascriminais.com.br/artigo/quando-a-arte-imita-a-

vida-e-nos-faz-crer-que-a-vida-e-um-conto-o-faroeste-caboclo-parte-1/ 8 Artigo pode ser acessado em: http://observatoriodaimprensa.com.br/feitos-

desfeitas/_ed743_sobre_o_papel_social_do_jornalismo/

Page 43: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

39

Além desta responsabilidade, temos a asseveração que nosso trabalho deve ser

pautado sobre o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, tendo como base o

direito fundamental do cidadão à informação, que abrange direito de informar, de

ser informado e de ter acesso à informação. Como o acesso à informação de

relevante interesse público é um direito fundamental, os jornalistas não podem

admitir que o acesso seja impedido por nenhum tipo de interesse, razão pela qual

a divulgação da informação precisa e correta é dever dos meios de comunicação e

deve ser cumprida.

A produção e a divulgação da informação devem se pautar pela veracidade dos

fatos e ter por finalidade o interesse público; a liberdade de imprensa, direito e

pressuposto do exercício do jornalismo, implica compromisso com a

responsabilidade social inerente à profissão; a prestação de informações pelas

organizações públicas e privadas, incluindo as não-governamentais, deve ser

considerada uma obrigação social; a obstrução direta ou indireta à livre divulgação

da informação, a aplicação de censura e a indução à autocensura são delitos

contra a sociedade, devendo ser denunciadas à comissão de ética competente,

garantido o sigilo do denunciante.

Contudo, a imprensa sensacionalista desvia-se deste modelo. Ela explora, quase

que diariamente, a imagem de pessoas ainda na situação de suspeitos de delitos.

A espetacularização e o sensacionalismo no jornalismo televisivo embasam o

debate sobre espetacularização da informação, entretenimento na mídia televisiva

e cultura de massa. Para ilustrar esse quadro, temos os programas policiais Brasil

Urgente, da Rede Bandeirantes, o Cidade Alerta, da Rede Record de Televisão, e

os comentários da Jornalista Raquel Sherazade do Jornal do SBT, Sistema

Brasileiro de Televisão.

Em outro trecho do artigo supracitado da Folha de S. Paulo, Maria Rita Kehl e

Paulo Fernando Pereira de Souza falam da falta de sensibilidade dos profissionais

de imprensa.

Imagens como as do tênis no chão, manchas de sangue no capô

amassado de um carrão, o sofá incendiado, o vídeo que flagra o tiro

Page 44: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

40

gratuito contra a vítima já rendida, as expressões dos familiares em

momentos de extremo sofrimento são exibidas sem pudor. Tal exposição

desconsidera os sentimentos das vítimas e revela uma morbidez coletiva

pela qual ninguém se responsabiliza. São os sentimentos de injustiça, a

certeza de que tais aberrações não deveriam acontecer e a indignação

com nossa falta crônica de políticas de segurança pública [...]

A mestra em comunicação, Marcela Miranda Félix dos Reis, em sua tese O

Espetáculo e Sensacionalismo no Telejornal, cita Patias (2006), para explicar que

o sensacionalismo no jornalismo é

[...] um gênero, no seu estilo e forma, tende a explorar o extraordinário,

anormal, o fait divers, utilizando-se da linguagem do espetáculo e

imagens chocantes que prendem a atenção do público, criando grande

expectativa, mas perde o seu impacto inicial logo que a história é

mostrada e consumida pelo telespectador. O não comprometimento ético

social é uma das características do sensacionalismo que por meio de

formas sádicas expõe pessoas ao ridículo, abusa de fatos violentos,

desagradáveis e assuntos apelativos. Além disso, o sensacionalismo

sempre esteve ligado à questão mercadológica, em que a notícia é tida

como um produto de consumo, para atrair a clientela e atender os

anseios dos anunciantes. O telejornal sensacionalista, além de vender a

violência, vende a ilusão de resolver os problemas. Na verdade, estamos

diante de mais um produto de consumo e uma sensação de frustração e

vazio a ser preenchida pela aquisição de outros bens descartáveis,

criando um círculo vicioso de dependência e repetição numa sociedade

de espetáculo.

Isso resulta em um desgaste do público, e por consequência a perda em números

expressivos de audiência. Porém, este tipo de pseudojornalismo não apenas

divulga de maneira equivocada informações a respeito à violência, como também

incita o combate cada vez maior à violência, com bordões e lemas como “bandido

bom é bandido morto”, separando a sociedade (para seus telespectadores) entre

“gente de bem” e “bandidos”. Junto à ineficácia do Estado, é possível argumentar

que a espetacularização feita pela mídia a respeito da violência no país ajudou a

Page 45: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

41

criar um movimento de “justiceiros” que compartilham os lemas e bordões. Os

casos noticiados em 2014 corroboram a tese.

A maioria dos casos de “justiças com as próprias mãos” ocorreu em bairros

pobres, onde os alvos eram suspeitos de crimes que lideram as estatísticas

nacionais: roubos, estupros, homicídios, atropelamento, agressões a mulheres e

crianças. Houve muitos casos de linchamentos e mortes, e as justificativas

encontradas para os acontecimentos eram sensação de insegurança, impotência

e ausência do Estado.

Esse pensamento se mostrou comum à população em pesquisa realizada pelo

Datafolha em julho de 2015, encomendado pelo Fórum Brasileiro de Segurança

Pública, que revelou que 50% da população das grandes cidades brasileiras

concordavam com a afirmação de que “bandido bom é bandido morto”. A ideia de

justiça com as próprias mãos revoltou especialistas, pesquisadores, entidades e

autoridades, como José Eduardo Cardozo, Ministro da Justiça, que em entrevista

coletiva disse9:

Temos que perceber que justiça com as próprias mãos nunca resolveu

nem resolverá. As pessoas têm que ter direito de defesa, onde o

judiciário julga. Não podemos voltar à barbárie. Conquistamos isso com

muito esforço na história da humanidade. O Estado está aí para atuar, o

Estado está aí para julgar. Obviamente, que tem falhas no sistema

jurisdicional e vamos lutar para melhorar. Mas não é com a violência, com

a justiça com as próprias mãos que as coisas se resolvem. Isso só

agudiza um processo perverso que temos que lutar para resolver.

(PASSARINHO, G1, 5 de maio de 2014)

A pesquisa realizada pelo próprio grupo também contemplou questões neste

sentido. Perguntando se “você concorda com a afirmação de que direitos

humanos no Brasil é apenas para bandidos”, 56% das respostas válidas

concordavam, enquanto apenas 34% discordavam, afirmando aos pesquisadores

do grupo ora que valiam para todos, ora que na verdade não valiam para ninguém.

9 Artigo pode ser acessado em http://g1.globo.com/brasil/noticia/2014/05/justica-com-proprias-

maos-e-volta-barbarie-diz-ministro-da-justica.html

Page 46: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

42

Para o autor de A Imprensa e o Dever da Verdade, Rui Barbosa, um país de

imprensa degenerada ou degenerescente é, portanto, um país cego e um país

miasmado, um país de ideias falsas e sentimentos pervertidos, um país, que,

explorado na sua consciência, não poderá lutar com os vícios, que lhe exploram

as instituições.

2.12 Crianças no fogo cruzado

A Unesco por sua vez, também preocupa-se com a relação do alto número de

participações de crianças no conflito armado e em organizações criminosas. Para

a elaboração do documento, 18 peritos independentes levaram em conta as

informações fornecidas pelo governo brasileiro e a sociedade civil apresentados

no monitoramento periódico dos Estados que ratificaram a Convenção sobre os

Direitos da Criança. O comitê ressalta a discriminação estrutural no país contra

negros, indígenas, crianças com deficiência e outras minorias. Apesar do

Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte

(PPCAAM), o Brasil apresenta uma das maiores taxas de homicídio infantil do

mundo, sobretudo de jovens homens e negros.

Segundo o comitê, a violência policial de órgãos como a Unidade de Polícia

Pacificadora (UPP) e o Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE)

“notavelmente se volta contra as crianças moradoras de rua e das favelas, entre

outras, durante operações de ‘pacificação’, as operações militares na Maré no Rio

de Janeiro e as do ’Choque de Ordem’” (2015, pág 8). A remoção forçada de

crianças da rua para instituições de jovens infratores sem provas concretas

contradiz o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e também é alvo de

críticas do Comitê.

De acordo com o órgão, o alto número de execuções extrajudiciais por parte da

polícia militar, milícias e polícia civil aumenta conforme a impunidade diante

Page 47: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

43

dessas violações se generaliza. A tortura e desaparecimento forçado de crianças

por meio desses agentes também foram reprovados pela organização. O comitê,

no mesmo relatório, pede a investigação de todos os casos, “incluindo os

chamados ‘autos de resistência’ vindos de agentes do Estado” (2015, pág 8).

Porém, não só através de “autos de resistência” policiais agem fora da lei. Muitas

vezes juntam-se em grupos de extermínio – os Esquadrões da Morte – ou mesmo

milícias.

2.13 Repressão policial

Antes de entrar no mérito dos grupos de extermínio, é necessário analisar um fato

- a polícia brasileira mata, e mata muito. Segundo o FBSP, a cada 3 horas uma

pessoa foi morta pela polícia em 2014, totalizando 3.009 vítimas, um aumento de

37,2% em relação à letalidade policial registrada em 2013.

O Estado, portanto, intensificou bastante o combate à violência. Isso não foi

apenas na brutalidade de seus agentes como também nos investimentos em

segurança, que cresceram 16,6% para 71,2 bilhões de reais em 2014 ante 2013,

ainda de acordo com o Fórum.

Maior investimento e maior repressão, porém, não suscitaram uma resposta de

queda nos níveis de violência, que subiu 3,8% entre os mesmos anos segundo os

dados do Fórum. A repressão, portanto, é no mínimo ineficaz.

Assim, a confiança do brasileiro na polícia e no Estado para garantir a segurança

é baixa,

O honesto leitor desta Folha, pacato espectador do "Jornal Nacional" está

informado de que, em maio de 2006, em retaliação aos crimes do PCC,

493 pessoas (algumas sem antecedentes criminais) foram assassinadas

pela polícia de São Paulo, e os corpos de muitos delas continuam

desaparecidos. Sabe que seus familiares são ameaçados quando tentam

localizar os corpos. Estão informados de que, só no ano de 2008, o

número de homicídios cometidos por policiais em confrontos no Estado

Page 48: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

44

de São Paulo 397, segundo a ONG Human Rights Watch (HRW). Por

serem públicas é que essas questões polêmicas deveriam tocar a todos,

sobretudo ao Estado. Esperar que o Estado cumpra sua função

reguladora é um fator indispensável à vida social (KEHL e SOUZA, 19 de

maio de 2013)

Como refletido na nossa pesquisa e em outras como o Índice de Confiança na

Justiça no Brasil – ICJBrasil, da Fundação Getúlio Vargas, apenas 33% dos

entrevistados disseram confiar na polícia, número próximo ao encontrado pelo

ICJBrasil - 25% ao final do primeiro semestre de 2016.

Isso não quer dizer necessariamente que a população se oponha ao combate

violento da criminalidade ou às táticas de repressão usadas.

Contudo, é preciso fazer uma reflexão já um tanto batida na análise da violência

geral da sociedade brasileira e a policial por sociólogos, historiadores e outros

intelectuais – a repressão é necessária ou ela precisa acabar, e de que modo?

O que é normalmente defendido, de que não é possível resolver a questão da falta

de segurança ou ineficiência do Estado no assunto sem antes adotar reformas de

longo prazo (como melhorar a educação, desigualdade social), e de que sem tais

reformas de longo prazo qualquer projeto de curto prazo será inútil – enxugar gelo

– não é tão verdadeiro atualmente, por pura observação. Os índices de violência

continuaram subindo mesmo enquanto a desigualdade social caiu e a educação

do brasileiro melhorou, como exposto no artigo supracitado de Sader.

Luiz Eduardo Soares, ex-secretário nacional de segurança pública, no artigo

“Segurança Pública: Presente e futuro”, argumenta que políticas preventivas para

a violência criminal não podem ser apenas de longo prazo, e que, de fato, existem

diversas políticas possíveis e que devem ser adotadas no curto prazo se o objetivo

é reduzir a criminalidade e a violência. Parece estar nesta mistura de soluções de

curto, médio e longo prazo alguma solução plausível para a violência.

Soares elenca alguns pontos que acredita importantes e de curto prazo, como

análises locais da criminalidade, já que não há dois lugares iguais, consórcios e

gestões participativas, para envolver a população local no processo de melhoria e

Page 49: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

45

segurança de seus próprios territórios, e, dentre outros, também a

interssetorialidade da polícia.

Em seu diagnóstico sobre as instituições de segurança do Estado, Soares diz:

As polícias brasileiras, de um modo geral, são ineficientes na prevenção

e na repressão qualificada, na investigação e na conquista da

indispensável confiança da população. Problemas ligados à corrupção e

à brutalidade ultrapassam qualquer patamar aceitável. São refratárias à

gestão racional, não avaliam a própria performance, nem se abrem a

controle e monitoramento externos. Não se organizam com base em

diagnósticos sobre os problemas a enfrentar, o modo de fazê-lo, as

prioridades a definir e as metas a identificar. Não planejam sua prática, a

partir de diagnósticos, fundados em dados consistentes, nem corrigem

seus erros, analisando os resultados de suas iniciativas – os quais,

simplesmente, ignoram. São máquinas reativas, inerciais e fragmentárias,

inscritas num ambiente institucional desarticulado e inorgânico, regido por

marcos legais rígidos e inadequados. Os profissionais não são

apropriadamente qualificados e valorizados e as informações não são

ordenadas de acordo com orientação uniforme, que viabilize a

cooperação. Há ainda o dramático sucateamento da perícia e o conjunto

de dificuldades que derivam da dicotomia: polícia civil-PM. (SOARES,

2006, pág. 100)

É evidente, então, a necessidade da reforma das polícias no curto prazo

principalmente sobre a fragmentação da polícia. Segundo Soares, caso políticas

públicas inteligentes não sejam adotadas num futuro próximo, “[...] as

consequências só podem ser o agravamento do atual quadro de violência criminal,

que já constitui uma tragédia, particularmente quando afeta a juventude pobre e

negra, do sexo masculino, provocando verdadeiro genocídio.

Ele acrescenta ainda que:

Esse quadro negativo tende a agravar-se, sobretudo, se persistirem duas

condições: a) um sistema institucional de segurança pública fragmentado,

ineficiente, corrompido, desacreditado, brutal, racista, alimentador do

circuito da violência e da própria criminalidade, que não valoriza seus

profissionais; b) o empreendedorismo do tráfico de armas e drogas, que,

ativamente, tira proveito da precariedade das condições de vida e da

Page 50: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

46

vulnerabilidade dos processos subjetivos dos jovens com ralas e raras

oportunidades e perspectivas de integração. (SOARES, 2006, pág. 102)

O sistema institucional do qual fala o autor, no entanto, não deve ser visto apenas

como a somatória dos diferentes órgãos incorpóreos que ocupam prédios

públicos. A sociedade brasileira, da estrata social pouco mais elevada, apoia o

status quo, como exemplificado pelas falas do delegado Hélio Luz, no

documentário Notícias de uma Guerra Particular (Katia Lund, João Moreira Salles,

1999). Uma das falas mais marcantes de Hélio, na entrevista: ”Como você

mantém dois milhões de habitantes [nas favelas] sob controle [...] com repressão,

claro!” Depois, ele complementa, “Há interesse na sociedade em ter uma polícia

não corrupta? [...] Vai ter mandado de segurança e pé na porta em Delfim Moreira,

não é isso? [...] A sociedade vai conseguir segurar isso?”

Analisando alguns dos expoentes maiores da repressão policial, os grupos de

extermínio à margem da lei, a resposta a essa pergunta é não.

2.14 Esquadrões e suas origens

O primeiro “Esquadrão da Morte”, que deu origem ao termo, foi uma organização

paramilitar criada no final dos anos 1960 com o objetivo manifesto de “perseguir e

matar criminosos tidos como perigosos para a sociedade” (JUNQUEIRA et al,

2004, p. 625).

Com início no antigo Estado da Guanabara e sob o comando de Mariel Mariscot,

integrante do grupo de elite da polícia civil fundado pelo então Secretário de

Segurança da Guanabara, Luís França, os "12 Homens de Ouro”10, o modelo de

unidade paramilitar acabou se espalhando rapidamente pelo país. Em geral, os

integrantes dos esquadrões da morte eram políticos, membros do Poder

Judiciário, policiais civis e militares, com apoio de empresários.

10

Artigo de Alexandre Leitão, intitulado “Faca na caveira”, publicado no portal Revista de História em 16/07/2014

Page 51: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

47

Uma das organizações mais famosas da década de 60 foi o esquadrão da morte

autointitulado "Scuderie Le Cocq", em homenagem ao detetive Milton le Cocq. O

esquadrão foi ativo até a década de 1990, passando então a perder importância e

o apoio popular devido à ação de integrantes que agiam fora de controle. Porém,

existem indícios de que a organização atue ainda hoje no Espírito Santo11.

Outra organização que se encaixa, portanto, no conceito de esquadrão da morte e

que atingiu fama nacional é a Liga da Justiça, também de origem carioca. Com

modus operandi parecido, porém com atuação concentrada na zona oeste da

capital carioca, o grupo foi uma das primeiras organizações de “milicianos” da

cidade. Não só as atividades do grupo contemporâneo são parecidas como

também os membros do grupo mantêm as mesmas características – em 2009, o

Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro condenou um ex-vereador, Jerominho

Guimarães, e seu irmão e ex-deputado estadual, Natalino Guimarães, por

participar da formação da quadrilha armada12.

Segundo definição de Bruce B. Campbell e Arthur D. Brenner, no livro Esquadrões

da Morte em uma Perspectiva Global13,

[...] um esquadrão da morte é uma esquadra paramilitar armada, que

pode ser composta por policiais, insurgentes, terroristas que conduzem

execuções extrajudiciais, assassinatos e desaparecimentos forçados de

pessoas como parte de uma guerra, campanha de insurgência ou terror.

Essas mortes são muitas vezes conduzidas de forma significativa para

garantir o sigilo das identidades dos assassinos, de modo a evitar a

prestação de contas.

O número de organizações paramilitares desde a década de 1960 vem crescendo

e as áreas onde atuam se espalhando pelo país, o que trouxe o aumento não só

da violação de direitos humanos básicos como o da violência como um todo. Pior,

dificilmente os homicídios cometidos por essas forças paramilitares ou milicianas

são completamente investigados – afinal, seus integrantes são muitas vezes os

11

Segundo coluna publicada no jornal Folha de Vitória, em 22 de janeiro de 2015. 12

Artigo do portal G1, intitulado “Ex-deputado Natalino é condenado a 15 anos de prisão”, publicado em 02/03/2010 13

Death Squads in Global Perspective: Murder with Deniability, 2000, MacMillan Press.

Page 52: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

48

próprios policiais que deveriam investigar o caso – o que traz ainda mais

problemas para a verificação do número de mortes violentas no Brasil.

As execuções sumárias sempre fizeram parte das formas de violência

praticadas durante a história da humanidade em todo o mundo, por

esquadrões da morte e demais grupos de extermínio (organizações

totalitárias voltadas para a eliminação de pessoas e para a instituição de

terror social). (MENEGHETTI, 2011, pág. 1)

Os esquadrões originados durante o período em referência contêm elementos

comuns, segundo trabalho acadêmico de Meneghetti (2011), Doutor em Educação

pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná. O autor define que os grupos

de extermínio são criados e sustentados em situações econômicas que favorecem

a exploração de atividades ilegais, além de serem também parasitas do poder

político uma vez que dependem de ao menos certa parte da sociedade para o

acobertamento e aprovação das suas atividades.

Em muitas situações, recebem apoio popular e associam-se direta e

indiretamente com o poder jurídico, por interesses mútuos, pela omissão

ou mesmo por coação e intimidação. Portanto, os fundamentos dos

esquadrões da morte constituem-se nessa relação simbiótica com a

exploração de contravenções como tráfico de drogas e armas, roubo de

carros, venda de proteção policial, exploração de jogos ilegais,

prostituição, tráfico de influência e outras, associando-se com o poder

político em benefício recíproco e de proteção por meio do corporativismo

policial e político em solidariedade criminosa. (MENEGHETTI, 2011,

pág. 1)

Segundo a Human Rights Watch (HRW), no Relatório Mundial 2015, facções

criminosas violentas e práticas policiais abusivas são problemas significativos em

muitas cidades brasileiras (2015, pág 115). Nos últimos anos, os governos dos

Estados de São Paulo e Rio de Janeiro adotaram medidas para melhorar o

desempenho das polícias e diminuir os abusos, mas falsos registros policiais e

outras formas de acobertamento persistem.

Page 53: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

49

Em sua análise, Meneghetti afirma que os esquadrões da morte são prova de que

o “fenômeno regressivo”, ou seja, a manifestação da violência como mediação das

relações sociais pelo Estado esteve presente no período do Regime Militar e

continua presente na sociedade brasileira atual, apesar de possuir características

distintas – como as milícias do Rio de Janeiro, que têm uma relação menos

simbiótica com o poder público.

Segundo o autor, dois anos antes da formalização do esquadrão da morte no

Estado de São Paulo em 1960, os índices de criminalidade no estado paulista

eram altos. Usando do elevado grau de violência para intimidar a população, as

ações do esquadrão eram legitimadas com a premissa da necessidade de se

partir na ofensiva para controlar a situação, como se fosse uma “guerra” – o que,

consigo, traz uma conotação de que o problema é tão grave que se faz necessária

uma urgência no julgamento e execução da pena, sendo esta a sumária.

No início, suas ações trouxeram a sensação de maior segurança social,

sendo visto como um mal necessário, uma vez que parte considerável da

população apoiava esses grupos exterminadores de criminosos que

espalhavam tanto pânico na sociedade, atribuindo aos seus integrantes

um caráter heroico e tornando-os praticamente intocáveis pela justiça

(BICUDO, 1976, p. 21 apud MENEGHETTI, 2011)

O autor também destaca como fator importante que a Polícia Civil, à época,

encontrava-se em situação precária, com problemas de falta de recursos suas

diligências, citando também a falta de preparo dos policiais e das lideranças no

comando dessas forças, além da desarmonia com a Polícia Militar – fatores que

podem ser observados no Brasil contemporâneo.

De modo geral, a imagem de eficácia, apesar de ilegal, no enfrentamento do crime

que os Esquadrões de Morte procuraram estabelecer desde suas respectivas

criações camuflam o fato de que, na verdade, são contraproducentes para a

diminuição do nível de violência em qualquer lugar que atuem ou se constituam. A

advogada e doutoranda de Sociologia pela USP, Alexandra Teixeira, diz que:

Page 54: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

50

Com o Esquadrão da Morte a violência alcançou patamares até então

desconhecidos, tanto por parte dos aparatos policiais como também da

criminalidade. Daí porque ele desempenha um papel ímpar para a

emergência da violência urbana, porque diferentemente de como se

convencionou tratar, o fenômeno do esquadrão da morte não acabou por

repercutir o fenômeno da violência criminal, mas, em certa medida, em

constituí-la (TEIXEIRA, 2015, p. 105)

2.15 Lei Antiterrorismo

Para concluir, o último ponto de análise é de que está cada vez mais nítido que

além de ineficiente em garantir direitos e suprir necessidades básicas, o Estado

passou a negar garantias civis à população. Se de um lado remove forçosamente

antes das novas moradias estarem prontas, de outro cerceia o direito à

manifestação, como faz o “Projeto de Lei 2016/15, de autoria do Poder Executivo,

que prevê a alteração da Lei nº 12.850, de 2 de agosto de 2013, e da Lei nº

10.446, de 8 de maio de 2002, para dispor sobre organizações terroristas, onde se

pretender reformular o conceito de organizações e ações terroristas”. O projeto foi

sancionado este ano.

O projeto de lei define como crime de terrorismo “atos que atentem contra

pessoas, mediante violência ou grave ameaça, motivado por extremismo político,

intolerância religiosa ou preconceito racial, étnico, de gênero ou xenófobo, com o

objetivo de provocar pânico generalizado. Considera ainda terrorismo por

extremismo político qualquer ato que atentar gravemente contra a estabilidade do

Estado Democrático, com o fim de subverter o funcionamento de suas

instituições”.

No Senado Federal, a principal divergência entre os senadores se deu sobre a

garantia de que movimentos sociais não possam ser enquadrados na nova lei. Na

Câmara, os deputados incluíram um parágrafo em que se explicitava que a norma

não se aplicaria à "conduta individual ou coletiva de pessoas em manifestações

Page 55: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

51

políticas, movimentos sociais, sindicais, religiosos, de classe ou categoria

profissional".

O dispositivo, no entanto, foi retirado da proposta pelo relator, senador Aloysio

Nunes Ferreira (PSDB-SP), por considerar que a medida criava exceções amplas

que poderiam acabar por inviabilizar a punição de crimes de terrorismo de fato,

segundo reportagem de Mariana Haubert, da Folha de S. Paulo14. O senador

argumentou que, para ser considerado um terrorista, a pessoa passará por uma

definição rigorosa sobre o seu ato, considerando a definição do crime de

terrorismo.

A Anistia Internacional do Brasil criticou duramente o projeto de lei, em

comunicado publicado em seu site15 quando da aprovação do PL, convocando

inclusive uma ação urgente para que seus apoiadores enviassem e-mails à então

Presidente Dilma Rousseff, afirmando que:

[...] o projeto de lei tipifica o crime de terrorismo, mas o faz com uma

linguagem muito ampla e vaga, ficando totalmente sujeito a uma

interpretação subjetiva por parte de juízes e integrantes do sistema de

justiça. O PL também aborda crimes que já são tipificados pela lei penal

brasileira. Não haveria, portanto, a necessidade de um novo projeto de

lei. O que há de novo mesmo nesse PL é a margem que ele dá para uma

maior criminalização de manifestantes e movimentos sociais. As

manifestações públicas e a atuação dos movimentos sociais sempre

foram fundamentais para o avanço da democracia e a luta por direitos no

Brasil. Nossas leis não podem permitir que ativismo seja confundido com

terrorismo. (ANISTIA, 2015)

O diretor executivo da Anistia Internacional do Brasil, Átila Roque, afirmou que a

nova lei significa que “a democracia está sendo manipulada contra a democracia”,

de acordo com comunicado divulgado pela própria ONG em fevereiro de 2016, por

ocasião do lançamento do relatório O Estado de Direitos Humanos no mundo

2015/2016. No relatório, a Anistia vê deputados federais e senadores como os

14

Reportagem pode ser acessada em: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/10/1699904-senado-aprova-lei-antiterrorismo-proposta-voltara-a-camara.shtml 15

Comunicado pode ser acessado em: https://anistia.org.br/noticias/agenda-legislativa-desafia-avanco-de-direitos-humanos-pais/

Page 56: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

52

principais vilões nestas e outras pautas polêmicas que representam, segundo a

entidade, um retrocesso na pauta dos direitos humanos no País.

Roque pontua ainda no comunicado:

[...] na ditadura, os atos institucionais legislavam contra as liberdades,

mas neste momento, vemos a Constituição ser manipulada para restringir

direitos e marginalizar setores da sociedade. As políticas de segurança

pública pautadas pela guerra às drogas e a indignação seletiva resultam

em um alto número de mortes principalmente de jovens negros

moradores de favelas e periferias; no campo, o modelo de

desenvolvimento é sustentado pela violência e exploração desenfreada

de recursos naturais colocando em risco populações tradicionais.

(ANISTIA, 2016)

O relatório pontua que a impunidade é uma realidade quando o assunto são os

grupos de extermínio formados por policiais e as torturas dentro de prisões por

todo o País. Esses, e outros casos, foram documentados pela Anistia Internacional

no relatório Eles usam uma estratégia de medo - Proteção do direito ao protesto

no Brasil (2014). São explícitas tentativas de reprimir de forma ampla e sistemática

esses movimentos, taxando manifestantes como criminosos. Como exemplo, o

artista plástico e grafiteiro de São Paulo foi enquadrado na Lei de Segurança

Nacional por participar de um protesto. No Rio de Janeiro, diversos manifestantes

foram enquadrados na Lei 12.850 de 2013, que trata sobre o crime organizado

internacional e as milícias, por estarem se manifestando pacificamente.

Page 57: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

53

3. TERROR URBANO

3.1 Proposta

A websérie tem como proposição central suscitar um debate aprofundado sobre a

violência no Brasil e seus fatores, colocando principalmente o fato do país ter o

maior número absoluto de homicídios no mundo à frente das discussões, além de

também oferecer opiniões de especialistas sobre quais seriam soluções ou

caminhos possíveis a serem seguidos para que o cenário da violência possa ser

revertido.

Dividimos a websérie em cinco episódios, que abarcam respectivamente:

Introdução e Lei Antiterrorismo; Rio de Janeiro e Direitos Humanos; Polícias

brasileiras, números, investimentos e violência direcionada; Produção e tráfico de

armas, Estatuto do Desarmamento e PL discutida atualmente no Congresso

Nacional e; Soluções. Isso tanto para que os assuntos abordados pudessem mais

aprofundados, quanto para facilitar que o espectador escolha o momento de

assistir, parar e retomar a websérie quando quiser. A distribuição de forma gratuita

pela Internet é o modal que atende o princípio ético do jornalismo de serviço ao

público com informações de qualidade sobre algo que afeta a sociedade.

Para garantir a qualidade da informação, buscamos um número elevado de fontes

que foram confrontadas com as pesquisas mais atuais à época sobre o nível de

homicídios no Brasil e os diferentes fatores dos quais tratamos.

No entanto, para que tais fatores, que são realmente subtemas do tema principal

do número de assassinatos no país, pudessem ser abordados em sua maioria

tivemos que agrupá-los nos episódios, com o cuidado para que não houvesse

prejuízo ao entendimento de cada um nem à igualdade da abordagem de cada.

Page 58: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

54

3.2 OBJETIVO

A websérie documental tem como objetivo retratar o nível de violência no Brasil,

principalmente em suas regiões metropolitanas mais densas, comparando-o com

outros países, para fomentar o debate na opinião pública. Como objetivos

específicos temos:

● Expor e debater o nível e formas da violência no Brasil;

● Propor à sociedade civil a reclassificação do nível de violência enfrentado no

Brasil como “terrorismo” devido às enormes proporções alcançadas;

● Contrastar o nível de violência no Brasil com níveis de outros países,

expondo o fracasso do Estado brasileiro no tratamento do problema;

● Abordar o controle do comércio de armamentos e o tráfico de armas no país;

● Discutir a lei antiterrorismo em debate no Congresso;

● Discutir a problemática da desmilitarização da PM, dos “esquadrões da

morte”, milícias e grupos de extermínio;

● Debater o aval da sociedade brasileira à excessiva letalidade policial,

exemplificada tanto pela conhecida frase “bandido bom é bandido morto”,

quanto por programas televisivos sensacionalistas que conseguem grandes

audiências;

● Apresentar soluções realistas e alcançáveis para o problema;

● Discutir a presença militar em grandes cidades;

● Desenvolver um produto de caráter documental que possa servir como fonte

de pesquisa, tanto em sua parte audiovisual quanto pela parte escrita.

Page 59: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

55

4. TRAJETÓRIA DE REALIZAÇÃO E PESQUISA DO TCC

A ideia por trás do projeto nasceu ainda em 2015, durante a Escola de

Correspondentes de Assuntos Militares (Ecam) do Exército Brasileiro. Renan

Fagalde e Ediglei Leandro dos Santos acabaram se encontrando por acaso, entre

os poucos alunos da Metodista, e nas voltas para casa discutiram diversas ideias

sobre um projeto de TCC para o ano seguinte. Afunilando as possibilidades do

que teria impacto ou seria interessante, a disputa ficou entre duas opções: um

documentário biográfico sobre a família imperial brasileira, ou um documentário

sobre terrorismo no Brasil.

As discussões foram retomadas em 2016 e o tema escolhido foi o de terrorismo,

com o nome provisório de “Terror no Brasil”. Porém, em conversas com

professores, especialmente com a professora Alexandra Gonzales, ficou aparente

que o tema não vingaria. A ideia foi adaptada então para um documentário sobre o

número de homicídios no país, trocando o nome para “Terror Urbano”.

A próxima etapa foi a construção de um grupo em torno da ideia. Contudo, a

formação final só seria acertada em julho. Apenas com três membros iniciais -

com Amanda Cássia já no grupo - foi feita uma pesquisa com 700 pessoas em

São Paulo e no ABC, como anexo a este memorial. Seguindo na mesma tradição

de adiantar o que fosse possível, a escolha do Dr. Sérgio Santos como orientador

e o começo das gravações aconteceram ainda em março.

Os percalços foram muitos durante a realização do TCC. Devido à volatilidade

econômica e do cenário político, por várias vezes a logística planejada do grupo

era frustrada por eventos ou acontecimentos repentinos - a Força Aérea, por

exemplo, interrompeu quase todos os voos do Correio Aéreo Nacional uma

semana antes da viagem que havíamos planejado à Bahia e que acabou não se

realizando. Fontes, também sujeitas a intempéries, ficaram indisponíveis

justamente perto de suas entrevistas, como a Anistia Internacional, que cancelou a

entrevista cinco dias antes alegando não poder conceder entrevista apenas para

liberar uma porta-voz para falar à Al Jazeera pouco depois. Outras se recusavam

Page 60: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

56

a marcar uma data com certa antecedência, só para recusar terminantemente e

desaparecer quando precisávamos fazer a entrevista.

Estas, como obviamente testemunha o trabalho concluído, foram apenas algumas

fontes. Apesar de terem sido as mais frustrantes, como a ONUDC, também

tiveram sua serventia como aprendizado para todo o grupo. As outras fontes mais

do que compensaram o trabalho perdido, tanto no atendimento ao grupo e

principalmente às respostas dadas à sociedade brasileira.

Não esquecemos em nenhum momento, por mais divertida ou frustrante que fosse

a execução do trabalho em si, que nosso trabalho é estritamente jornalístico.

Tentamos sempre dar direito de resposta ou de indagar à todas as nossas fontes,

e tentamos construir perguntas mais neutras sempre que possível - a não ser

quando julgamos de interesse público ser mais incisivo - para evitar influenciar as

respostas.

O cenário político não foi apenas desafiador para conseguirmos fontes: os dados

sobre homicídios também sofreram. Em pleno ano eleitoral, as autoridades

públicas restringiram bastante o acesso a dados, como exemplificado pelo Mapa

da Violência 2016 - que não traz qualquer dado sobre 2015, apenas refina as

informações de 2014 e elimina tudo o que não foi morte por arma de fogo. Falando

com outras fontes, como o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, descobrimos

que o acesso a dados realmente foi sendo dificultado.

Julio Jacobo Waiselfisz, também entrevistado para a websérie, foi uma das

entrevistas mais elucidativas. Entrevistamos o especialista depois do lançamento

do Mapa da Violência 2016, que não traz dados novos nem dados de homicídios

em 2015. Perguntamos o motivo da ausência dos dados mais recentes, e ele

respondeu com críticas contundentes, como pode ser visto na transcrição da sua

entrevista – os dados demoram cerca de 2 anos para serem produzidos e

liberados pelo Ministério da Saúde. Este foi um dos fatores que levou à não

atualização das referências utilizadas para a produção da websérie documental.

Page 61: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

57

A outra foi que o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que também se faz

presente no documentário, lançou o 10º anuário sobre violência no Brasil apenas

no dia 3 de novembro de 2016 – após o período previsto para edição da websérie.

Uma questão que sempre esteve presente com os membros do grupo foi o alto

risco envolvido nas gravações sobre o tema. Diversas fontes simplesmente se

recusaram a dar entrevistas ou a falar sobre o assunto de qualquer modo - exceto

em off absoluto, das quais acatamos o pedido de apenas duas - e as nossas

próprias viagens tiveram uma leve tensão no ar. Buscamos sempre evitar riscos

desnecessários, e contamos com o nosso anonimato para nos livrar do pior,

porém quase todas as nossas fontes já receberam ameaças graves por

trabalharem com o assunto no cotidiano - jornalistas ou não.

Isso apenas reforçou nosso desejo de concluir o trabalho e a nossa determinação

de estarmos fazendo um trabalho realmente jornalístico. A certeza de que

estávamos contrariando interesses poderosos, que querem manter um certo

status quo, é a mesma que nos alimentava a prosseguir com o TCC. Como disse

melhor George Orwell, “Jornalismo é publicar algo que alguém não quer

publicado; o resto é relações públicas”.

Dentre as entrevistas merecem destaque a de Valmir Salaro, jornalista da Globo

que cobriu violência por muito tempo, conhecido tanto pelo caso da Escola Base

quanto pelas coberturas de chacinas emblemáticas (como a do “Rambo” na

Favela Naval), e a de Djamila Ribeiro, secretária-adjunta de Direitos Humanos da

Prefeitura de São Paulo. Ambos falaram não apenas eloquentemente sobre os

temas abordados, mas fizeram afirmações contundentes. Salaro mostrou-se cético

em relação a existir qualquer tipo de solução para o problema da violência no

Brasil, que ele descreveu como uma sociedade “doente”, enquanto Djamila

afirmou categoricamente que a situação no país é um tipo de terrorismo, de guerra

civil, principalmente contra a população negra e periférica. Essas, entre outras

afirmações de ambos, serviram também para reforçar a importância do nosso

trabalho. Não se pode aceitar nem uma situação como a descrita por Djamila, nem

é possível aceitar que se perca de vista a possibilidade de mudança como no caso

Page 62: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

58

de Salaro - apesar de perfeitamente compreensível, uma sociedade séria precisa

enfrentar seus problemas sejam eles quais forem, e no caso brasileiro o problema

é o número absurdo de homicídios que acaba com sonhos, projetos, futuros

progressistas, atletas, enfim, pessoas.

O trabalho previa inicialmente que familiares de vítimas de homicídios e fontes

ligadas mais diretamente à Polícia Militar fossem procuradas e participassem do

documentário, contudo as próprias fontes acabaram mudando de ideia sobre dar

entrevistas devido ao perigo inerente em fazer certas afirmações em vídeo. As

“Mães de Maio”, um grupo de mães de vítimas das chacinas ocorridas em maio de

2006, tinham concordado em conceder entrevista inicialmente, porém conforme a

data foi se aproximando algumas das mães se mostraram demasiadamente

preocupadas com processos sobre o assunto que ainda correm na Justiça – não

desejando “dar munição para os advogados deles (policiais que acusam)”. De

modo parecido, militares e PMs da ativa ou já aposentados não se mostraram tão

abertos a dar entrevistas em vídeo, mesmo no formato de rosto oculto e voz

distorcida – como usado para o investigador – por também temerem algum tipo de

represália de superiores ou colegas, já que a websérie não mostraria a PM em

uma luz tão favorável ao ver deles.

4.1 PESQUISA

A trajetória da pesquisa foi muito embasada na literatura existente, nacional e

estrangeira, sobre os diferentes assuntos abordados. Primeiramente tivemos de

elencar o que seria mais útil e atual, na medida do possível, sobre o assunto.

Como a violência brasileira é um assunto que vem chamando cada vez mais

atenção, existem estudos e tratados sobre as mais diferentes facetas do

problema. No entanto, no decorrer da pesquisa inicial decidimos focar sobre o alto

número de homicídios, que a literatura e os dados mais confiáveis disponíveis

apontavam como sendo o maior do mundo – algo que passa em grande parte

despercebido pela população em geral.

Page 63: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

59

Como o objetivo do grupo era condensar e apresentar o problema da maneira

mais clara o possível à sociedade, os dados e as raízes dos problemas atuais que

enfrentamos tinham de ser muito bem entendidos. Uma boa parte da pesquisa

também foi feita para justificar a equalização da situação da violência brasileira

com o terrorismo.

As entrevistas com os representantes dos diferentes institutos e autores das

pesquisas referenciadas no trabalho serviram tanto para elucidar alguns pontos

mais claramente ao público no produto final quanto para confirmar as conclusões

às quais o grupo chegou em relação ao problema.

4.2 QUESTÕES ÉTICAS E RESPONSABIIDADE SOCIAL

No decorrer do trabalho diversas questões éticas foram discutidas. Por se tratar de

um assunto de alta periculosidade para todos os envolvidos, principalmente para

as fontes, tivemos de determinar até onde a ética jornalística exigia que fossemos,

por assim dizer, e onde o risco falava mais alto e impedia uma gravação ou

entrevista.

Vimos-nos diversas vezes em situações em que uma fonte só falaria à câmera em

uma situação que garantisse seu anonimato completamente. Apenas duas fontes

acabaram aceitando – o ex-executivo da CBC e o investigador – enquanto outras

só aceitavam falar em off total, principalmente militares e PMs da ativa e familiares

de vítimas. Principalmente em relação aos familiares de vítimas, a questão de até

onde era ético questionar e tentar fazer a fonte contar a história se fez muito

presente, afinal recontar a história da perda de um familiar para a violência sem

sentido é algo doloroso demais.

Outra questão ética também importante foi a de dar o direito de resposta às

pessoas públicas e instituições governamentais acusadas pelos entrevistados.

Diversas vezes ao longo da produção da websérie o contato foi tentado, com

diferentes órgãos, mas só realmente rendeu frutos com a Secretaria de Segurança

Pública da Bahia – nota que acabou reproduzida em destaque na websérie. Vale a

Page 64: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

60

ressalva de que 2016 foi um ano atípico na política brasileira, com impeachment e

eleições ocasionando diversas trocas nas pastas estaduais e federais, o que pode

ter colaborado para a falta de retorno das instituições e órgãos que não

responderam diretamente a nós – outras nos direcionaram a entrevistas recentes

concedidas por seus representantes em coletivas, enquanto algumas ainda

colocaram barreiras no caminho à obtenção de uma resposta por ainda sermos

estudantes.

Também houve o dilema sobre mostrar ou não corpos de vítimas de homicídios no

produto audiovisual. O argumento que prevaleceu, pela exibição de alguns corpos

em momentos-chave, foi de que se algum espectador sentir-se desconfortável ao

ver um corpo estirado na tela, o momento será usado para tentar conscientizá-lo

de algum modo que outros 58 mil, ao menos, existem no país - e que ele e outros

“brasileiros médios” normalmente não se importam. Mostrar, portanto, que se um

corpo causa desconforto, é do interesse de todos que menos mortes ocorram no

Brasil.

Como diz o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, a produção e

disseminação de informações devem ser pautadas pela verdade dos fatos com a

finalidade de servir o interesse público, e nosso trabalho foi norteado todo o tempo

por essa diretriz. Realizamos nosso produto com o objetivo de conscientizar e

mover à ação o maior número possível de pessoas pela diminuição da violência

no Brasil, que já é mais do que absurda, sendo a maior em números absolutos em

todo o planeta.

4.3 AVALIAÇÃO GERAL

Já citamos o fato do Brasil ser o país mais violento do mundo. A pequena

exposição que esse fato – não a violência rotineira nem a cobertura

sensacionalista de um caso ou outro - tem na mídia e a baixa conscientização

sobre o tema entre a população serve de terreno fértil para que um produto como

o produzido seja um pivô de discussões.

Page 65: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

61

O formato escolhido, o modo de distribuição e a linguagem utilizada colaboram

para que o público alcançado seja o maior possível. O audiovisual, como

demonstrado anteriormente pelos dados trazidos da PBM 2015, ainda é a

preferência do brasileiro para obtenção de informações.

O trabalho nos desafiou e nos colocou em contato com um formato que poucos

tentam, ainda mais com essa duração total. O crescimento acadêmico e

profissional do grupo após a realização do documentário, em todos os aspectos da

atividade de jornalista, é palpável. Além disso, a execução do projeto ajudou cada

integrante a conhecer suas limitações, suas preferências e nichos de atuação.

Por se tratar de um projeto ambicioso, tanto em escopo como pauta, com um outro

olhar sobre um problema real de toda a sociedade brasileira, a websérie servirá

como um portfólio como poucos para seus integrantes.

4.4 PÚBLICO-ALVO

Apesar de ambicioso, tivemos como público-alvo em mente durante a realização

do trabalho a sociedade brasileira como um todo, independente de classe social,

maior de 18 anos (por conta do tema e das cenas fortes). A violência brasileira

permeia classes sociais, credos, idades e estados civis, e embora os números de

homicídios estejam bem concentrados em um estrato social particular – negros,

jovens e pobres – o número de assassinatos que ocorre no país é traumático. Tal

realidade precisa ser enfrentada por toda a sociedade, para que a sangria seja

contida.

Assim, adotamos uma linguagem que pudesse ser a mais universal possível.

Como já citamos, a PBM 2015 mostrou que a modalidade vídeo é a que mais tem

audiência e alcance, enquanto os outros modais tem menor penetração. Segundo

a PBM 2015, 95% dos entrevistados afirmaram ver TV, sendo que 73% têm o

hábito de assistir diariamente. A preferência do brasileiro pelo audiovisual é clara

Page 66: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

62

ante 55% que disseram ouvir rádio (30% responderam que ouvem rádio

diariamente), 21% que disseram ler jornais e 13% que responderam ler revistas.

Novamente, conforme a pesquisa da Secom, 48% dos brasileiros já utilizam a

internet. A rede aglutina diversas vantagens em comparação à produção e

distribuição de um documentário de modo tradicional, pois permite que o

espectador veja o conteúdo na hora que desejar, onde quiser e em qualquer

aparelho que preferir. A hospedagem do conteúdo também é gratuita em sites

como YouTube, e a viralização da websérie pode ser alcançada tanto de modo

espontâneo quanto com estratégias bem aplicadas.

4.5 PROJETO EDITORIAL

A linha editorial do documentário foi pautada na conscientização do brasileiro

sobre a realidade da violência, da estratégia atual e seus resultados, e do que

realmente precisa ser feito para conter a alta dos números. Buscamos também

aprofundar ainda mais o debate em torno da questão, por julgarmos que a atenção

dada pela mídia tradicional é insuficiente, superficial ou do tipo sensacionalista.

Com pesquisadores, intelectuais, testemunhas e personagens de alguma forma

envolvidos com a evolução da brutalidade da violência brasileira, a websérie é

composta por seus depoimentos e uma narrativa que expõe dados, induz o

telespectador a um questionamento mais amplo ou ação e monta o quadro geral

da violência no Brasil.

A preocupação com a melhor contextualização dos depoimentos e a apresentação

de dados tornou a presença de uma narrativa em off absolutamente necessária.

Com a narração em apoio, pudemos também direcionar os especialistas e

testemunhas a falar daquilo que tinham mais conhecimento.

Para atrair e segurar a atenção do espectador, buscamos e conseguimos um

narrador que já dominasse técnicas de dicção e narração, além de uma voz

adequada e conhecida, e assim chegamos a Felipe Bueno, jornalista e radialista

Page 67: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

63

do Grupo Bandeirantes. Com pouco direcionamento necessário, Bueno conseguiu

produzir uma narrativa envolvente e mais do que adequada ao tema, produto e

público.

4.6 DESCRIÇÃO DO PRODUTO

A websérie será composta por cinco episódios de cerca de 26 minutos cada,

divididos para que os problemas apresentados possam ser discutidos com uma

profundidade maior do que normalmente se faz na mídia.

O primeiro episódio, portanto, além de introduzir o tema geral e contrastar o por

que da nossa violência não ser chamada de terrorismo, também aborda a questão

da lei antiterrorismo aprovada neste ano e a violência nos protestos.

O segundo episódio pega o tema do Rio de Janeiro que, inclusive de acordo com

um de nossos entrevistados e autor de uma das principais pesquisas sobre o

tema, Júlio Jacobo, é muito sui generis para a discussão da violência no país. O

episódio usa o cenário das Olimpíadas para expor que o esquema especial de

segurança e os altos investimentos extraordinários não impediram o Rio de

decretar calamidade pública e pedir reforços da União para garantir um semblante

de segurança durante os eventos – que ainda viram um alto número de corpos.

Os outros dois episódios focam na produção e tráfico de armas, sobre como as

fronteiras não são o principal problema e sim o tráfico interno por corrupção, o

Estatuto do Desarmamento e como nunca foi totalmente cumprido; e a letalidade

policial, com os problemas das polícias civis, militares e a relação com integrantes

de comunidades pobres, negros, grupos de extermínio além de expor que a

estratégia atual de combate ao crime não funciona.

Reservamos ao último episódio a exposição das soluções dos problemas, como

expostos e defendidos pelas fontes, após uma rápida recapitulação de quais são.

Page 68: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

64

4.7 FONTES E ENTREVISTADOS

1. Armando Novaes – Delegado em São Paulo

2. David Marques – Pesquisador do Fórum Brasileiro De Segurança Pública

3. Rafael Custódio– Coordenador da Área de Justiça da Conectas

4. Luiz Carlos dos Santos – Conselheiro do CONDEPE

5. Felippe Angeli – coordenador de Advocacy do Sou da Paz

6. Djamila Ribeiro – Secretária-Adjunta de Direitos Humanos de São Paulo

7. Ex-executivo da CBC (fonte anônima)

8. Investigador (fonte anônima)

9. Valmir Salaro – Jornalista da Rede Globo

10. Bruno Paes Manso – Coordenador do núcleo de violência do NEV-USP

11. Julio Jacobo Waiselfisz – Sociólogo e autor do Mapa da Violência

12. Gabriela Biló – Fotojornalista do Estado de S. Paulo

13. Eduardo Matarazzo Suplicy – ex-Senador da República

14. Bruno da Silva Cardoso – morador do Rio de Janeiro

15. Marília Rosário – moradora do Rio de Janeiro

16. Luciano Silveira Eifler – morador do Rio de Janeiro

17. Eloisio da Silva – morador do Rio de Janeiro

18. Leonardo Souza Dos Santos – Estudante de Filosofia PUC-SP / Vítima de

violência policial em manifestações

19. Manifestantes em durante protesto na Avenida Paulista

4.8 EQUIPAMENTOS UTILIZADOS

4.8.1 Gravação

1. Câmera de filmagem

2. Microfone Boom

3. Microfone Lapela (com e sem fio)

4. Set lights

Page 69: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

65

5. Tripé de câmera

6. Pilhas e baterias – câmeras e microfone

7. Câmeras GOPRO Hero3

8. Gravadores de áudio

4.8.2 Transporte

1. Carros – propriedade dos alunos do grupo

2. Transporte público – em geral

4.8.3 Edição

1. Final Cut Pro – programa de edição de vídeo

2. Ilustrator – programa de edição de imagens

3. Photoshop – programa de edição de imagens

4. Adobe Premiere Pro CC 2015 – programa de edição de vídeo

4.9 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

Elaboramos um pré-projeto embasando toda a pauta do produto com pesquisas

nacionais e internacionais. Além disso, o pré-projeto contava com histórico,

justificativa, abordagem e objetivos específicos. Projetamos e executamos uma

pesquisa de campo sobre o tema com 700 pessoas.

Após a aprovação do pré-projeto, montamos o cronograma e a roteirização das

perguntas às fontes. Partimos então, na pré-produção, à viabilização das

entrevistas com as fontes escolhidas e que disponibilizaram tempo para participar

da websérie.

Page 70: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

66

Durante a produção, todas as gravações de entrevistas foram feitas por

integrantes do grupo. As entrevistas foram decupadas em sua totalidade.

Foram feitos roteiros para cada episódios, que foram narrados por Felipe Bueno. A

edição dos episódios foi feita nos estúdios da UMESP.

Algumas imagens utilizadas na websérie não foram produzidas pelo grupo e

recebem os devidos créditos ao final de cada episódio do produto.

Page 71: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANISTIA INTERNACIONAL. “Eles usam uma estratégia de medo” Proteção do

direito ao protesto no Brasil. In: Anistia Internacional do Brasil. Disponível em:

<https://anistia.org.br/wp-content/uploads/2014/07/Eles-usam-uma-

estrat%C3%A9gia-de-medo-Prote%C3%A7%C3%A3o-do-direito-ao-protesto-no-

Brasil.pdf> Acesso em: 27 fev. 2016.

ANISTIA INTERNACIONAL. Você matou meu filho. 2015. Disponível em: <

https://anistia.org.br/wp-content/uploads/2015/07/Voce-matou-meu-filho_Anistia-

Internacional-2015.pdf >. Acesso em: 27 fev. 2016.

DA SILVA, Luiz Antonio Machado, LEITE, Márcia Pereira. Violência, crime e

polícia: o que os favelados dizem quando falam desses temas? Scielo. 2007.

Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/se/v22n3/04.pdf>. Acesso em: 27 fev.

2016.

CAMPBELL, Bruce. “Dead Squads in Global Perspective: Murder With

Deniability”. MacMillian Press. 2000. Acesso em: 28 de abr. 2016.

DE MORAIS, Regis. O que é Violência Urbana. Brasiliense Editora. 1981. 2ª

Edição.

DE SOUSA, Reginaldo Canuto, ALMEIDA DE MORAIS, Maria do Socorro. Polícia

e sociedade: uma análise da história da segurança pública brasileira.

Disponível em:

<http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2011/cdvjornada/jornada_eixo_2011/po

der_violencia_e_politicas_publicas/policia_e_sociedade_uma_analise_da_historia

_da_seguranca_publica_brasileira.pdf> Acesso em: 27 fev. 2016.

DE SOUZA, Percival. A Maior Violência do Mundo: Baixada Fluminense Rio de

Janeiro, Brasil. Traço Editora. 1980.

Page 72: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

EL PAÍS. Violência e Desigualdade Social: Sociedade. Publicado: 5 de fev.

2014. Disponível em: <

http://brasil.elpais.com/brasil/2014/02/05/sociedad/1391629439_112697.html>

Acesso em: 2 de maio. 2016

FOLHA DE SÃO PAULO. “A ineficiência do Estado perante a barbárie”.

Publicado: 19 de maio. 2013. Disponível: <

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2013/05/1280567-a-ineficiencia-do-

estado-perante-a-barbarie.shtml> Acesso em: 2 de maio. 2016

FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO. Pesquisa de opinião, segurança pública.

2015. Disponível em: < http://www.fpabramo.org.br/pesquisasfpa/wp-

content/uploads/2015/04/lay-pesquisa-segurancapublica-ok.pdf> Acesso em: 27

fev. 2016.

FOUCAULT, Michel. Subjetividade e verdade. Disponível em: FOUCAULT,

Michel. Resumo dos cursos do Collège de France (1970-1982). Rio de Janeiro:

Jorge Zahar Editor, 1997. p. 107-115.

G1 Brasil. “Ex-deputado Natalino é condenado a 15 anos de prisão”.

Publicado: 02 de março. 2010. Disponível: <

http://g1.globo.com/noticias/rio/0,,mul1511920-5606,00-

exdeputado+natalino+e+condenado+a+anos+de+prisao.html> Acesso em: 28 de

abr. 2016

G1 Brasil. “Justiça com as próprias mãos e volta barbárie, diz ministro da

justiça”. Publicado: 08 de maio. 2014. Disponível: <

http://g1.globo.com/brasil/noticia/2014/05/justica-com-proprias-maos-e-volta-

barbarie-diz-ministro-da-justica.html> Acesso em: 28 de abr. 2016

GUILLAUME, Gilbert. Terrorismo e Justiça Internacional. In: BRANT, Leonardo

Nemer (Coord.) O Brasil e os Novos Desafios do Direito Internacional. Rio de

Janeiro: Forense, 2004, p. 27-37.

Page 73: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

HUMAN RIGHTS WATCH. World Report 2015. 2015. Disponível em <

https://www.hrw.org/sites/default/files/world_report_download/wr2015_web.pdf >

Acesso em: 27 fev. 2016.

IBGE. CENSO 2010. Brasília: IBGE, 2010. Disponível em:

<http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/uf.php?lang=&coduf=35&search=sao-paulo

> Acesso em: 14 mar. 2016.

IBGE. Vamos conhecer o Brasil: nosso povo, sua migração e deslocamento.

2010. Disponível em: <http://7a12.ibge.gov.br/vamos-conhecer-o-brasil/nosso-

povo/migracao-e-deslocamento.html > Acesso em: 14 mar. 2016.

IEP. Global Peace Index 2015. Institute for Economics and Peace, junho de 2015.

Disponível em <

http://static.visionofhumanity.org/sites/default/files/Global%20Peace%20Index%20

Report%202015_0.pdf > Acesso em: 14 mar. 2016.

IEP. Global Terrorism Index 2015. Institute for Economics and Peace, novembro

de 2015. Disponível em <

http://static.visionofhumanity.org/sites/default/files/2015%20Global%20Terrorism%

20Index%20Report_2.pdf > Acesso em: 27 mar. 2016.

INSTITUTO IGARAPÉ. Observatório de Homicídios. 2015. Disponível em <

http://homicide.igarape.org.br/ > Acesso em: 14 mar. 2016.

IPEA. Trajetos da violência, da segurança pública e da sociedade civil na

cidade do Rio de Janeiro. 2013. Disponível em: <

http://www.ipea.gov.br/participacao/images/pdfs/participacao/td_1821.pdf> Acesso

em: 27 fev. 2016.

KING’S COLLEGE LONDON. How did these terror attacks during the last 20

years change the world? Londres: Telegraph, julho de 2015. Disponível em: <

http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/islamic-state/11729063/How-did-

Page 74: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

these-terror-attacks-during-the-last-20-years-change-the-world.html > Acesso em:

15 abr. 2016

KOUFA, Kalliopi K. Terrorismo e Direitos Humanos. Relatório apresentado à

Comissão de Direitos Humanos em 07 de junho de 1999

(E/CN.4/Sub.2/1999/27). Disponível em: <http://www.un.org> Acesso em 05 de

março de 2016.

LEAL FILHO, Laurindo L. As raízes da espetacularização da notícia.

Observatório da Imprensa. 2005. Disponível em: <

http://observatoriodaimprensa.com.br/tv-em-questao/as-raizes-da-

espetacularizacao-da-noticia/> Acesso em: 14 mar. 2016.

LEITÃO, Alexandre. Faca na Caveira. Artigo. 2014. Disponível em: <

http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/faca-na-caveira> Acesso em: 28

de abr. 2016

LOPES, Victor Silva. Iniciação ao jornalismo audiovisual. Imagem impressa.

Rádio. TV. Cinema. Lisboa: dina livro, s.d.

META. Relatório Pesquisa Quantitativa hábitos de Informação e Formação de

Opinião do Governo Federal. 2010. Disponível em: <

http://www.fenapro.org.br/relatoriodepesquisa.pdf> Acesso em: 14 mar. 2016.

MINISTÉRIO DA DEFESA. Manual de Garantia de Lei e de Ordem. 2014; 2ª ed.

Disponível em

<http://www.defesa.gov.br/arquivos/2014/mes02/md33_m_10_glo_2ed_2014.pdf >

Acesso em: 10 fev. 2016.

CERQUEIRA, Joseph; KAHN, Tulio. Crime and violence in Brazil: Systematic

review of time trends, prevalence rates and risk factors. US National Library of

Medicine, 2013. Disponível em: <

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3763365/> Acesso em: 27 fev. 2016.

Page 75: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

NEXO JORNAL. “O terrorismo desde 70, segundo o maior banco de dados

sobre o tema” - Disponível em: <

https://www.nexojornal.com.br/grafico/2016/01/27/O-terrorismo-desde-70-

segundo-o-maior-banco-de-dados-sobre-o-tema> Acesso em: 14 mar. 2016.

NEWSER (Read Less Know More) - Congress: US Wasting Billions in War on

Drugs – Disponível em < http://www.newser.com/story/120578/congress-us-

wasting-billions-in-war-on-drugs.html> Acesso em: 05 mar. 2016.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Resolutions adopted on the reports

of the Sixth Committee. ONU, 1972, p. 119. Disponível em <

http://www.un.org/en/ga/search/view_doc.asp?symbol=A/RES/3034(XXVII)&Area=

RES > Acesso em: 27 fev. 2016

REIS, Marcela Miranda Félix dos. O espetáculo e sensacionalismo no

telejornal piauiense bom dia meio norte. 2012. Disponível em: <

http://www.unigran.br/mercado/paginas/arquivos/edicoes/3/8.pdf> Acesso em: 14

mar. 2016.

SALLES, João Moreira e LUND, Katia. Notícias de uma Guerra Particular. Rio

de Janeiro, 1999.

SECRETARIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA.

Pesquisa brasileira de mídia 2015: hábitos de consumo de mídia pela

população brasileira. 2015. Disponível em: <

http://www.secom.gov.br/atuacao/pesquisa/lista-de-pesquisas-quantitativas-e-

qualitativas-de-contratos-atuais/pesquisa-brasileira-de-midia-pbm-2015.pdf>

Acesso em: 14 mar. 2016.

SOARES, Luiz Eduardo. Segurança pública: presente e futuro. In: Estudos

avançados v.20 n.56 São Paulo: USP, jan./abr. 2006, p. 91-106. Disponível em: <

http://www.scielo.br/pdf/ea/v20n56/28629.pdf > Acesso em: 8 mar. 2016

Page 76: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

UOL. “Brasil registra 58,5 mil assassinatos em 2014, maior número em 7

anos”. Disponível em: < http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-

noticias/2015/10/08/brasil-registra-585-mil-assassinatos-em-2014-maior-numero-

em-7-anos.htm> Acesso em: 28 de abr. 2016

WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da violência. São Paulo, 2015. Disponível em:

< http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2015/mapaViolencia2015.pdf> Acesso

em: 27 fev. 2016.

LAQUER, Walter. A History of Terrorism. EUA, 7ª ed, Transaction Publishers,

2012.

CHEZ J. J. Smits et al. Dictionnaire de l’Académie française, França, 1798.

TEIXEIRA, Alessandra. Construir a delinquência, articular a criminalidade: um

estudo sobre a gestão dos ilegalismos na cidade de São Paulo. 2012. Tese

(Doutorado em Sociologia) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,

Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. Disponível em:

<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8132/tde-14092012-091625/>.

Acesso em: 4 de jun. de 2016.

MINAGÉ, Thiago M. e JÚNIOR, Alberto S. Quando a arte imita a vida e nos faz

crer que a vida é um conto: o faroeste caboclo (parte 1). 19 de maio de 2015.

Canal Ciências Criminais, 2015. Disponível em:

http://canalcienciascriminais.com.br/artigo/quando-a-arte-imita-a-vida-e-nos-faz-

crer-que-a-vida-e-um-conto-o-faroeste-caboclo-parte-1/. Acesso em: 10 de abr. de

2016.

Page 77: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

ANEXOS

ANEXO A – PESQUISA DE CAMPO

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este capítulo apresenta as principais etapas do processo de planejamento, coleta

e processamento de informações realizadas na pesquisa pelo grupo, e pretende

retratar um panorama do estudo do ponto de vista metodológico. Serão abordados

os seguintes pontos: perguntas realizadas; instrumento de coleta; plano amostral;

coleta de dados e processamento de dados.

Foram feitas as seguintes perguntas aos entrevistados:

Você se sente seguro?

Você acha o Brasil um país perigoso para se morar? Você confia nas forças

policiais?

Você acredita que a população vive uma situação de terror ou pânico

urbano?

Você acha que o Estado é ineficiente para garantir segurança pública?

Você costuma assistir, ouvir ou ler noticias ou reportagens jornalísticas

sobre violência e insegurança?

Você costuma assistir a algum dos seguintes programas: Cidade Alerta da

Rede Record, Brasil Urgente da Rede Bandeirante ou algum outro similar?

Você concorda com a afirmação de que Direitos Humanos no Brasil é

apenas para bandido?

Você assistiria a um documentário que abordasse com profundida questões

ligadas a segurança pública?

A coleta de dados foi realizada por meio de questionário estruturado com

perguntas pré-elaboradas e de possibilidade de resposta fechada, onde as únicas

Page 78: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

possibilidades de respostas eram: “sim”, “não”, e “não sei ou não quero

responder”, aplicado por meio de formulários impressos, em entrevistas face a

face nas ruas na região do ABCD e São Paulo Capital.

Para o desenho amostral da pesquisa foram utilizados os dados do Censo

Demográfico Brasileiro de 2010 do IBGE, que estima a população das cidades,

citadas a cima, em 13 milhões 856 mil e 293 habitantes. Isso permitiu garantir a

representatividade do universo da população de 16 anos ou mais. O tamanho total

da amostra foi fixado em 700 entrevistas, ou 0,072% da população distribuídas em

todos os municípios pesquisados.

A escolha dessas cidades também não foi à revelia, já que dados do Censo 2010

mostram que 35,4% da população não reside no município natal, sendo que

14,5% (26,3 milhões) moravam em outro estado. O Estado de São Paulo tem o

maior percentual deste número, principalmente nas regiões do ABC e da Capital,

com 30,41% (8 milhões). Essa informação permite dizer que conseguimos obter

representação, ainda que pequena, da opinião e dos hábitos de consumo de

brasileiros de diferentes estados e municípios.

Resultados da pesquisa

A seguir serão apresentados os resultados da pesquisa realizada por meio de

gráficos, a fim de facilitar a compreensão das informações dispostas nesse

trabalho. Antes, apresentaremos o perfil das pessoas que responderam as oito

perguntas da pesquisa de campo. Para tanto, essa seção foi dividida em três

tópicos, a saber: gênero dos entrevistados; faixa etária; e escolaridade.

Page 79: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

Dentre as 700 pessoas ouvidas pela equipe, 55,57% delas eram mulheres

enquanto 44,43% eram homens.

Page 80: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

O perfil das 700 pessoas entrevistas divide-se da seguinte maneira, quanto à faixa

etária: cerca de 30% das pessoas tinham idade entre 16 a 25 anos, 30,71%

tinham idade entre 26 a 35 anos; seguidas por 18,42% com idade entre 36 a 45;

12,57% com 46 a 55 anos; e 8,28% das pessoas tinham idade igual ou superior a

56 anos.

Page 81: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

Os resultados permitiram saber que: 0,28% dos entrevistados eram analfabetos;

9,71% tinham apenas o ensino básico; 38,85% tinham estudado até o ensino

médio; 0,14% concluíram o ensino técnico; 49,42% estavam estudando ou tinha

concluído o ensino superior; 1,57% concluíram a pós-graduação ou mestrado.

Page 82: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

Abaixo, apresentam-se as respostas dadas pelas pessoas que responderam as

oito perguntas da pesquisa de campo.

Quando questionados sobre a sua sensação de segurança, 67,42% disseram não

se sentirem seguros; 30,85% responderam que se sentem seguros e 2,28% não

quiseram ou não responderam à questão.

Page 83: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

Quando questionados se consideravam o Brasil um país perigoso para se morar,

72,57% disseram que sim; 24,14% disseram não considera-lo perigoso para se

morar; e 3,28% não quiseram ou não responderam a esta questão.

Page 84: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

Ao serem interpeladas quanto à confiança que tinha nas forças policiais, 59,71%

responderam que não confiavam na polícia, contra 29,85% que confiavam. Porém,

10,42% não quiseram responder ou não sabiam opinar sobre o assunto abordado,

e por este motivo usamos em um segundo gráfico apenas as respostas validas

(sim ou não) com o seguinte resultado:

Page 85: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

Nessa composição 66% das pessoas ouvidas responderam que não confiavam na

polícia contra 33% que diz confiar na instituição pública.

Page 86: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

Sobre esta questão, 80% das pessoas ouvidas afirmaram acreditar que a

população brasileira está aterrorizada ou em pânico por conta da violência. Outros

17% disseram não acreditar nessa possibilidade e 3% não souberam ou não

quiseram responder a perguntar.

Page 87: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

Cerca de 86,57% das pessoas ouvidas, consideraram o Estado ineficiente para

garantir segurança pública, enquanto outros 10,14% discordaram e 3,28% não

souberam ou não quiseram responder a perguntar.

Page 88: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

Quanto aos hábitos de consumo de noticiários e informações jornalísticas, 74,42%

disseram assistir, ouvir ou ler algum tipo de reportagem sobre segurança e

violência. 23,42% disseram que não assistem, ouvem ou leem reportagens sobre

o assunto e 2,14% não souberam ou não quiseram responder à pergunta.

Page 89: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

Quanto aos hábitos de consumo sobre programas policiais como Cidade Alerta da

Rede Record, Brasil Urgente da Rede Bandeirantes ou similares: 48,28%

disseram assistir, 50% disseram que não assistem e 1,71% não souberam ou não

quiseram responder a perguntar. Entretanto, deve ser feita uma ressalva sobre

esta questão, já que durante a análise dos dados foi observado que 38,91% das

pessoas que afirmaram não assistir programas jornalísticos na pergunta 6

responderam que assistem aos programas citados na pergunta 7. Isso pode

levantar questões sobre a percepção do público sobre tais programas – são eles

considerados “jornalísticos” por todos?

Page 90: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

Quando perguntados se concordavam com a afirmação de que Direitos Humanos

no Brasil se aplicava apenas para bandidos: 51,71% responderam concordar com

a afirmação, 41,28% discordavam da afirmação e 7% não sabiam ou não

quiseram responder à pergunta.

Page 91: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

Novamente, fazendo uso apenas das respostas válidas o cenário fica assim:

Nessa composição 56% das pessoas ouvidas responderam que concordam com a

afirmação, enquanto que 44% discordam da afirmação.

Page 92: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

A nona e última pergunta tinha como objetivo compreender se o documentário,

aqui proposto, teria espectadores que permitiriam sua produção. Como visto, 92%

responderam que assistiriam a um documentário que abordasse com profundida

questões ligadas a segurança pública, outros 7% responderam que não

assistiriam e 1% disse não saber ou não quiseram responder.

Page 93: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

ANÁLISE DA PESQUISA DE CAMPO

Na análise do perfil dos entrevistados, o grupo já esperava que as mulheres

fossem maioria na pesquisa, tendo em vista que o Censo, conjunto de dados

estatísticos do IBGE 2010, mostra que a população feminina no Brasil é superior à

masculina, com 51% da totalidade da população. A presença de grupos de

diversas faixas etárias, assim como a presença de pessoas com distintos níveis de

escolaridade corrobora a afirmação de que a pesquisa conseguiu garantir a

representatividade de todas as camadas da sociedade brasileira.

A respeito dos resultados entende-se que a população brasileira aqui

representada não se sente segura e de fato considera o Brasil um país perigoso

no qual viver. Os dados revelam uma população amedrontada, aterrorizada e

insegura, o que reforça o clima de violência e coloca o país entre os mais

perigosos do mundo. Porém, esta mesma população não demostra confiança nas

instituições governamentais responsáveis por garantir segurança e ordem pública.

A falta de informação é outra questão a ser destacada, com mais de 20%

respondendo que não assistem, ouvem ou leem conteúdo jornalístico sobre o

assunto. Quase a metade dos que se informam, afirmaram o contrário – apesar de

não ter sido auferido se exclusivamente - por meio de programas sensacionalistas

que glamorizam e exageram aspectos da violência em busca de audiência,

contribuindo muitas vezes para amplificar o sentimento de temor e pânico na

população, sem preocupação com os objetivos do jornalismo de informar com

responsabilidade, e fomentar o debate na opinião pública. Esse cenário resulta em

um país descrente em direitos humanos, cuja maioria da população acredita que

um direito universal “vale apenas para bandidos”.

Analisando especificamente a última pergunta, notou-se que as pessoas que

responderam discordar da afirmação de que direitos humanos só eram aplicados a

bandidos, tinham como características principais a baixa idade e a falta de hábito

de assistir a programas policiais.

Page 94: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

ANEXO B – LAUDAS ROTEIRIZADAS

RETRANCA: EPISODIO 1

PAUTA: TERROR URBANO

EDITOR: RENAN FAGALDE/ ALYSSON RODRIGUES/ÉDIGLEI LEANDRO

TEMPO: 28’28’’

**COBRE COM IMAGENS ILUSTRA GIRO

CIDADES**

Tempo:0’40”

**IMAGENS PESSOAS, RIO, ARMAS,

VIATURAS, MORTOS**

**RODA VHT **

Tempo: 0’25”

Trilha branca 22

**IMAGENS TV VIOLÊNCIA**

ESSA É UMA SÉRIE QUE VAI TRATAR DE UM

PROBLEMA PRÓXIMO DE TODOS OS

BRASILEIROS: A VIOLÊNCIA/ ASSUNTO QUE

MUITOS ACHAM QUE CONHECEM A FUNDO,

DAS RAÍZES ÀS SOLUÇÕES/ E NÃO É BEM

ASSIM//

VAMOS FALAR DA SITUAÇÃO DO RIO DE

JANEIRO E DE OUTROS PONTOS DO PAÍS/

VAMOS ABORDAR O TRÁFICO DE ARMAS, DE

DROGAS/ IREMOS FALAR DAS POLÍCIAS E

DESMILITARIZAÇÃO, ABUSO DE DIREITOS

HUMANOS, ESTATÍSTICAS E MEA CULPAS/ E

VAMOS TENTAR MOSTRAR UMA LUZ NO FIM

DO TÚNEL//

TÚNEL ESSE QUE É A ROTINA NO BRASIL,

CHEIA DE MORTES, CHEIA DE SANGUE E

CHEIA DE APATIA/

DESSE BRASIL/ MEU BRASIL BRASILEIRO/ MEU

MULATO INZONEIRO/ TERRA DE NOSSO

SENHOR/ E DE SANGUE E TIROTEIO//

O BRASIL QUE VEMOS NA PROPAGANDA DA

TV, É LINDO, PACÍFICO, UMA TERRA CHEIA DE

SORRISOS./ VISTA COMO A TERRA DO SAMBA

PELOS ESTRANGEIROS.// MAS OS

BRASILEIROS SABEM QUE VIVER NESSE PAÍS

Page 95: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**ILUSTRA BANDEIRA DO

BRASIL/BRASÍLIA**

**ILUSTRA STF/FRONTEIRA PARAGUAI**

**ILUSTRA BRASÍLIA**

GC: Nº HOMICÍDIOS MAPA DA VIOLÊNCIA

**ILUSTRA ASSASSINATOS**

**ILUSTRA IMAGENS HISTÓRICAS

DITADURA**

**ILUSTRA PESSOAS ANDANDO**

**SOBE SOM**

ESTÁ BEM LONGE DISSO//.

NO HINO DO BRASIL, SOMOS UM POVO QUE

NÃO FOGE À LUTA/ A VERDADE É QUE ESSE

POVO PARECE BUSCAR A LUTA COM SEDE

CADA VEZ MAIOR DE SANGUE.//

TODO MUNDO ACHA QUE CONHECE SOBRE A

VIOLÊNCIA NO BRASIL/ QUE O PROBLEMA É A

IMPUNIDADE/ AS ARMAS QUE VÊM DO

PARAGUAI/ QUE A SITUAÇÃO AQUI É RUIM MAS

QUE EM ALGUM OUTRO PAÍS CERTAMENTE É

PIOR//

SEGUNDO DADOS CONFIÁVEIS FORAM CERCA

DE CINQUENTA E OITO MIL HOMICÍDIOS NO

BRASIL EM 2014/ E PRESTE ATENÇÃO QUE

DISSEMOS “DADOS CONFIÁVEIS” E “CERCA

DE”/ A BAIXA QUALIDADE DOS DADOS AQUI

DIFICULTA SABER UM NÚMERO PRECISO//

E AS MORTES NO PAÍS NÃO VÃO PARAR DE

CRESCER TÃO CEDO/ DESDE A DITADURA A

TÁTICA DE COMBATE AO CRIME CONTINUA

BASICAMENTE A MESMA/ E NESTE PERÍODO O

NÚMERO DE CORPOS NAS RUAS NÃO PARA

DE CRESCER//

VOCÊ PROVAVELMENTE JÁ SE PERGUNTOU

SE VOLTARIA VIVO AO FINAL DO DIA PARA

CASA.. //

Page 96: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**ILUSTRA ENTREVISTADOS/PESSOAS**

**IMAGENS MANIFESTAÇÃO PAULISTA**

**IMAGENS PONTOS TURÍSTICOS**

**Sonora JULIO JACOBO 1**

GC Julio Jacobo Waiselfisz

Pesquisador e autor do Mapa da Violência

Deixa inicial: “Meus mapas têm um

levantamento...”

Deixa final: “...gente que 40 conflitos armados

no mundo somados”

TC IN: 14:30

TC OUT: 20:23

GC: VIA INTERNET

FALAMOS COM PESSOAS COMUNS, FALAMOS

COM ESPECIALISTAS, FIZEMOS PESQUISAS E

ESTUDOS DO TEMA/ O BRASILEIRO É UM

POVO ATERRORIZADO/ É O PAÍS QUE POSSUI

O MAIOR NÚMERO DE HOMICÍDIOS NO

MUNDO//

E POUCA GENTE SABE/ POUCOS PROTESTAM/

A VIOLÊNCIA JÁ VIROU COTIDIANO//

MAS O BRASIL NÃO É UM BOM LUGAR DE SE

VIVER, NÃO É UMA TERRA ABENÇOADA POR

DEUS E BONITA POR NATUREZA?/ NÃO É

EXAGERO PENSAR QUE É TÃO RUIM ASSIM?//

Meus mapas têm um levantamento dos conflitos

armados no mundo, sempre faço essa comparação,

e há um instituto da paz na Suécia, da universidade

de Uppsala, que vem produzindo trabalhos desde a

segunda guerra mundial, que está referenciado no

meu trabalho. Instituto dos conflitos e da paz. Eles

fazem um levantamento anual dos conflitos

armados no mundo e o número de mortes que

houve. Em 2013, por exemplo, se registraram 40

conflitos armados no mundo: síria, Iraque,

Bangladesh etc., onde houve conflitos armados, ou

internos ou entre países. Em 40 conflitos armados

morreram aproximadamente 25-29, 20 e poucas mil

pessoas. No Brasil, sem conflitos armados com

ninguém, sem conflitos de fronteira, sem conflitos

religiosos – pelo menos não conflitos armados –

sem conflitos devido à língua, como em alguns

países como o Canadá. Sem nenhum desses tipos

de conflitos consegue matar muito mais gente que

40 conflitos armados no mundo somados.

Page 97: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**ILUSTRA BANDEIRA/ASSASSINATOS**

**IMAGENS FRONTEIRA**

GC: Felipe Angelli

Coordenador de Advocacy – SOU DA PAZ

**SONORA SOU DA PAZ**

TC IN: 03:57:20.00

(CLIP 3)

TC Out: 04:07:54.03

VEJA SE VOCÊ CONHECE O BRASIL MESMO: O

NOSSO PAÍS MATA MAIS QUE TODAS AS

GUERRAS JUNTAS POR ANO/ MORRE GENTE

DE TODOS AS MANEIRAS, EM BRIGA DE

FAMÍLIA, VIZINHOS, NAMORADOS, NO

TRÂNSITO/ TEM A GUERRA ETERNA CONTRA O

CRIME E AS DROGAS//

E CERTAMENTE AS ARMAS QUE VÊM DO

PARAGUAI TÊM UM PAPEL GRANDE NISSO

CERTO?//

...temos problemas de fronteira, não tenho a menor

dúvida em relação à isso, existe contrabando, seja

de armas, cigarros, existe contrabando, não tenha a

menor dúvida, algumas armas vem do Paraguai,

inclusive algumas voltam, só para fazer uma

triangulação e fazer um nível de rotatividade, mas

essa não é a melhor parte, de fato, uma coisa que a

gente acompanhou, o tema...um dos grandes

problemas um dos grandes problemas das armas

de fogo está relacionada a cenas institucionais, das

cenas de policiais, das cenas de empresas de

vigilância, isso e um grande problema, um grande

foco de desvio de armas de fogo, armas

apreendidas por exemplo, foi outra coisa que nunca

saiu do papel exatamente no estatuto do

desarmamento. O que que o estatuto diz? Teve um

crime específico, a polícia apreendeu uma arma

associada a um crime específico, a arma fica

disponível pra justiça, pra fazer a perícia e utilizar

como prova. Uma vez, o estatuto determina, que a

justiça utilizou aquela arma, não há mais serventia

pro processo, ela tem que ser imediatamente

destruída, o que não acontece. Elas ficas

armazenadas em salas muitas vezes com

cadeadinhos, milhares de armas não registradas,

sem o menor levantamento, sem o menor

inventariamento daquela arsenal. Arsenais

Page 98: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**ILUSTRA AÉREAS

MINISTÉRIOS/ARMAS**

**ILUSTRA POLÍCIA**

**ILUSTRA CORPOS/PESSOAS**

**SONORA JACOBO**

DEIXA INICIAL: Não tem país com maior

densidade ou com maior número de

população...

DEIXA FINAL: ... são as instituições que

primeiro violam essa lei.

TC IN: 09:46

TC OUT: 13:26

imensos. É óbvio que isso se desvia, qualquer

pessoa entra lá e pega a arma que quiser, enfim.

OS MINISTÉRIOS PÚBLICO FEDERAL E O DA

JUSTIÇA FORAM PROCURADOS MAS NÃO

QUISERAM SE PRONUNCIAR./ ENQUANTO ISSO

AS ARMAS CONTINUAM CIRCULANDO E GENTE

VAI CONTINUAR MORRENDO//

NO ENTANTO ISSO NÃO É SINTOMA DE FALTA

DE INVESTIMENTO EM SEGURANÇA/ TODO

ANO O ORÇAMENTO DE SEGURANÇA CRESCE/

COM OU SEM A CRISE/ COM A PROMESSA DE

QUE COM MAIS INVESTIMENTO A VIOLÊNCIA

SERÁ CONTIDA//

SÓ QUE O NÚMERO DE HOMICÍDIOS NÃO PARA

DE CRESCER, E NÃO VAI PARAR TÃO CEDO//

E PORQUE NÃO PARA DE AUMENTAR? QUE

FATORES IMPEDEM QUE O BRASILEIRO VIVA

COM MENOS VIOLÊNCIA?//

ANTES, PRECISAMOS SABER COMO

CHEGAMOS A ESSE NÍVEL DE VIOLÊNCIA//

[...] em números absolutos 59 mil homicídios, quase

60 mil homicídios em 2014, [o Brasil] é o Estado

que mais mata quantitativamente no mundo. Não

tem país com maior densidade ou com maior

número de população, os Estados Unidos são

maiores, Paquistão é maior, Índia é maior, assim,

estes países não chegam perto do número de

mortes do Brasil.

O que acontece no Brasil? Criou-se uma mitologia

fundante, justificante, através da sociologia, das

entidades da sociedade civil, a teoria do brasileiro

cordial. (Sérgio) Buarque de Holanda tem um

trabalho que diz que o brasileiro é puro coração, é

Page 99: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**SONORA DJAMILA**

GC: DJAMILA RIBEIRO

SECRETÁRIA-ADJUNTA DE DIREITOS

HUMANOS

DEIXA INICIAL: Uma das justificativas que a

gente ouviu ...

DEIXA FINAL: ...acha que a justificativa é

matar essas pessoas né.

**COBRIR COM IMAGENS PESSOAS

COMUNIDADES**

boa praça. E outra, Gilberto Freire em Casa Grande

& Senzala, divulga a teoria da democracia racial do

Brasil, que no Brasil reina a democracia racial. Que

sim, houve a escravatura, é inegável, mas que o

senhor era bonzinho, boa praça etc., e que o

escravo era um escravo alegre, tanto que dançava,

fazia capoeira etc. e assim, não havia segregação

racial que existia, por exemplo, na África do Sul,

nos EUA. Quer dizer, o Brasil quis vender a imagem

através da sociologia, através da música...,

exaltando a negritude, exaltando a sua democracia

racial para vender para o mundo. Só que essa

democracia racial era realmente fachada. Os

negros não pensam que houve democracia racial

nem que existe hoje democracia racial no Brasil.

No Brasil morre muito negro porque tem uma

categoria de população que é matável. Tem seres

humanos no Brasil que são matáveis sem

problemas. Mendigos, meninos de rua, etc. etc. são

matáveis, ninguém vai lamentar muito e é melhor

para a sociedade porque vai gerar processo, vai

gastar muita grana, então para que vamos entrar

nisso? Então aparecem grupos de extermínio nas

próprias instituições que deveriam fazer cumprir a

lei, são as instituições que primeiro violam essa lei.

É uma resposta bem demagógica né na verdade,

né não querem assumir a responsabilidade nesse

extermínio da população negra, e aí trata a questão

da desigualdade pra um olhar politivista que

descriminaliza a pobreza. Na verdade, essas

pessoas que estão numa situação de

vulnerabilidade, de pobreza, ela já tem a ausência

do estado desde o início, o estado já falhou com

essas pessoas, ai depois esse estado vai e mata

essas pessoas ou encarcera em massa essas

pessoas né. Então eu acho que a falta de olhar, e

de assumir a responsabilidade dessa ilegalidade do

Page 100: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**SONORA CONDEPE**

GC: LUIZ CARLOS

Conselheiro do CONDEPE-SP

DEIXA INICIAL: A gente chegou dessa forma,

entendo né

DEIXA FINAL: ...ai ela volta pra sociedade e

ela não tem apoio da sociedade.

TC IN: 01:59:19.06

(CLIP 00005)

TC OUT: 02:02:10.03

**ILUSTRA IMAGENS PAÍSES**

GC: COMPARAÇÃO MORTALIDADE

**IMAGENS

estado que já trata essas pessoas de forma

desigual, e quando se por um acaso, essas

pessoas tendem a ir para alguns caminhos, acha

que a justificativa é matar essas pessoas né. Então

acho que é um pouco da falta do quanto que o

debate racial sério no Brasil, é essa ausência do

debate social faça que temos conversas como

essas, porque a gente ta em um país,

extremamente racista, onde as pessoas não

querem discutir racismo, não querem entender que

o racismo tá na base dessa sociedade e não

querem, onde o estado não quer assumir a sua

responsabilidade, pela sua omissão em relação a

essas pessoas.

A gente chegou dessa forma, entendo né, tem

outras pessoas que tem outras opiniões, mas

acredito que é tudo fatores que contribuíram para

isso, o problema de desemprego, a questão social,

a questão de você não ter saúde, não ter escola, a

criminalidade começa de uma forma pequena e vai

crescendo, a pessoa ela vai presa, aí ela volta pra

sociedade e ela não tem apoio da sociedade. Uma

vez que o nome dela fica registrado no sistema de

polícia, criminaliza, muitos deles não conseguem

voltar pra sociedade, voltam pro mundo crime

porque não têm outra alternativa.

PARA COMPLETAR, O BRASIL VEM

QUEBRANDO RECORDES EM RELAÇÃO À

VIOLÊNCIA.//

O PAÍS MATA DUZENTOS E SETENTA E

QUATRO VEZES MAIS QUE HONG KONG./

MORREM CENTO E TRINTA E SETE VEZES O

NÚMERO DA INGLATERRA E NOVENTA E UMA

Page 101: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

HOSPITAL/ESCOLA/POLICIAIS**

**ILUSTRA PRESÍDIO**

SOBE SOM

**IMAGENS DITADURA**

**IMAGENS FACHADA CBC**

**SONORA**

**ARTE ANONIMO**

TC IN: 8:21

TC OUT: 9:16

**ILUSTRA DITADURA**

VEZES MAIS QUE A SÉRVIA, POR EXEMPLO//

OS PROBLEMAS NAS AREAS DE SAÚDE,

EDUCAÇÃO E SEGURANÇA NÃO SÃO

NOVIDADE PARA NINGUÉM/ QUE QUEM VAI

PRESO TENDE A PIORAR TAMBÉM É SENSO

COMUM NA SOCIEDADE//

E AÍ VOCÊ JÁ PODE TER OUVIDO QUE NA

DITADURA ERA BEM MELHOR/ QUE O QUE

FALTA É UMA PUNIÇÃO SEVERA, UM

TRATAMENTO DE CHOQUE//

COMO ESSE EX-EXECUTIVO DA INDÚSTRIA DE

ARMAS, QUE ENTREVISTAMOS SOB A

CONDIÇÃO DE ANONIMATO//

Sonora: Tem muitos crimes horrendos, horrendos,

mataram criança, mataram família, que não tem a

menor dúvida, faz a sessão terror. Sábado de

madrugada, acorda, (...) nos presídios. Bota um

projetor daqueles Full HD, e vai lá e “esse aqui é o

fulano, ele estuprou, matou, não sei o que coisa e

tal”. E vai lá, faz uma sessão terror? (Tipo Laranja

Mecânica?) Tipo um Laranja Mecânica. Faz uma

sessão terror, vai picando o cara devagarzinho. Eu

to sendo exagerado porque se não for no choque,

vai acontecer o mesmo que no rio ontem. Você viu

o que aconteceu no Rio ontem? As instituições tão

perdendo força pros malandros cara.

QUEM REPETE ESSE SENSO COMUM ERRADO

NUNCA EXPLICA PORQUE A VIOLÊNCIA SÓ

CRESCE DESDE A ÉPOCA EM QUE TORTURA

Page 102: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**CORTE**

**SONORA BRUNO PAES MANSO**

GC BRUNO PAES MANSO

PESQUISADOR DO NÚCLEO DE ESTUDOS

DA VIOLÊNCIA-USP

DEIXA INICIAL: Esse é um problema que

começou principalmente em SP

DEIXA FINAL:... a gente tem visto que é uma

falácia.

TC IN: 00:19:20.04

TC OUT: 00:22:29.05

**COBRIR COM DITADURA**

**COBRIR COM IMAGENS RIO

OCUPAÇÕES**

EXISTIA AQUI//

PODEMOS TRAÇAR O INÍCIO DO ALTO

NÚMERO DE HOMICÍDIOS NA DITADURA/

NESSA ÉPOCA ACONTECERAM VÁRIAS

COISAS IMPORTANTES PARA QUE POSSAMOS

ENTENDER COMO VIRAMOS O PAÍS COM O

MAIOR NÚMERO TOTAL DE ASSASSINATOS.//

A MILITARIZAÇÃO DA POLÍCIA/ A DIVISÃO

ENTRE POLICIA CIVIL E MILITAR/ E OS

PROBLEMAS QUE TROUXERAM//

Sonora: Esse e um problema que começou

principalmente em SP, RJ foi um dos temas mais

discutidos aqui (NEV) desde os meados dos anos

70, a violência foi iniciada, a ROTA também foi

iniciada em 70, a militarização da polícia nos

moldes a partir de uma nova legislação em 69, a

ditadura militar a polícia começou a ser treinada no

combate à guerrilha. Na época a guerrilha urbana

era muito forte aqui em SP no decorrer dos anos

começou os inimigos, os comunistas foram

vencidos, mas o bandido virou o grande inimigo da

cidade e do Estado e muito das formas de

extermínio que foi aplicado nesta forma continuam

sendo aplicadas aqui em SP. Você tem uma

questão de estrutura policial, que e problemática e

você tem o problema da polícia militar e civil. E

muitas vezes muitas pessoas acham que o

extermínio e a violência acabam sendo uma forma

de controlar o crime. Isso de alguma forma foi

tolerado em alguns anos, no judiciário, no MP. Na

Constituição de 88 também conseguiu de alguma

forma, fazendo vistas grossas. Ai no RJ, uma outra

dinâmica, e você ter visto as grandes facções onde

Page 103: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**SONORA GABRIELA BILO**

GC: GABRIELA BILO

Fotojornalista

DEIXA INICIAL: Mas quem é bandido,

entendeu?

DEIXA FINAL: ...foi impregnada pra

realmente dar esse aval de violência

TC IN: 08:38:02.04

TC OUT: 08:39:45.16

**COBRIR IMAGENS ASSASSINATOS**

as operações policiais, eram verdadeiras incursões

de guerra. Você tinha uma dinâmica mais

acentuada, com mais mortes que aconteceu em SP

e isso de alguma forma era tolerado e aplaudido,

era punido esse tipo de ação, porque ficava muito

explícito. Isso começou a ocorrer nos estados

brasileiros, porque isso e muito nos anos 2000 com

crescimento da violência no nordeste e do tráfico de

drogas nestes lugares. Isso, eles (moldes) foram

replicados em outros lugares, que policiais e grupos

de outros lugares de seguranças e comércios

passam a ser consolidados como fenômeno (...)

Então além dessas violências você também tem

milícias formadas e sempre acreditando que a

violência e uma solução, ao invés de um problema.

A violência pode controlar o crime, a gente tem

visto que e uma falácia.

A CRENÇA NO “BANDIDO BOM É BANDIDO

MORTO” TAMBÉM COMEÇOU LÁ ATRÁS/ MAS

VAMOS DEIXAR A GABRIELA BILO EXPLICAR

UM POUCO MELHOR O PROBLEMA DESSA

LÓGICA//

Mas quem é bandido, entendeu? É aí que tá! Isso

aí é... quando você vê um cara gritando na

televisão que tem que pegar mesmo, aí o policial

executa alguém ao vivo e o povo aplaude. Isso aí é

uma falta de educação de base, sabe? Po, quem é

o bandido? O bandido poderia ser seu filho que não

é bandido, entendeu? Quem é o bandido? Quem é

essa pessoa? Ela não é um bandido, ela é um ser

humano, né? É um pouco diferente. Acho que a

partir do momento que você começar a comunicar

para as pessoas que bandido bom não é bandido

morto, que não existe pena de morte no brasil, que

na verdade existe. Que não existe pena de morte

Page 104: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**IMAGENS DITADURA**

**SONORA SUPLICY**

GC: EDUARDO SUPLICY

Vereador por SP e Ex-Senador da República

DEIXA INICIAL: Olha, eu não estava no Rio

Centro quando houve o estouro daquela

bomba.

DEIXA FINAL: ...para lutarem ainda mais pela

democracia.

TC IN: 07:59:00.29

TC OUT: 08:03:44.25

no Brasil por algum motivo, digo, algum motivo

entre aspas porque existe. A opinião publica muda,

sabe? É tudo uma questão de como você transmite

a informação. Então, bandido bom é bandido morto

é uma coisa que foi impregnada pra realmente dar

esse aval de violência

PRA QUE FIQUEM MAIS CLARAS AS TÁTICAS

PERVERSAS ADOTADAS NAQUELA ÉPOCA,

VAMOS PARTIR AO TERRORISMO//

O GOVERNO MILITAR DA DITADURA PINTAVA

OS COMUNISTAS, OS REBELDES E AQUELES

QUE LUTAVAM CONTRA O REGIME DE

TERRORISTAS/ LUTAR PARA SER LIVRE E

LUTAR PELA DEMOCRACIA ERA TERRORISMO//

A RESISTÊNCIA SEQUESTRAVA E MATAVA,

DIZIAM//

ROUBAVA A RIQUEZA DAS PESSOAS//

E TAMBÉM ESTOURAVA BOMBAS//

SÓ ESQUECERAM DE CONTAR QUE MILITARES

TAMBÉM FIZERAM TUDO ISSO E PIOR//

[...] No Rio Centro quando houve o estouro daquela

bomba. Acompanhei a apuração dos fatos e

obviamente quando se descobriu que os próprios

militares que haviam de alguma forma preparado ali

um atentado para atrapalhar aquela manifestação

musical de jovens, era uma manifestação artística.

Aquilo foi algo que inclusive elevou o grau de

consciência das pessoas para lutarem ainda mais

pela democracia. Então os abusos (tosse) que

foram cometidos pelo regime militar casos como a

prisão tortura e morte de Vladimir Herzog... quando

se soube que Vladimir Herzog que então era um

ótimo jornalista da TV cultura havia sido torturado e

Page 105: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**IMAGENS CONFLITOS ORIENTE

MÉDIO/DITADURA MILITAR**

**IMAGENS MORROS CARIOCA**

**IMAGENS CORPOS**

morto, mas acharam lá que ele havia sido

dependurado numa corda junto a grade da cela, e

foi evidenciado que os militares tentaram dizer que

ele havia se suicidado. Aquilo lá provocou uma

comoção enorme. Tanto que houve um ato

ecumênico na catedral da sé. O Vladimir Herzog

era Israelita, né? Então, mas estavam lá o Henry

Sobel, o Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns rezando,

fazendo, dirigindo a cerimônia, mas com pessoas

de todas as religiões. A catedral ficou lotada, e a

própria praça da Sé cheia de pessoas, e foi uma

cerimônia muito comovente. São episódios que

fizeram com que mais e mais crescessem a

indignação das pessoas com respeito aos episódios

de prisões, tortura e mortes de pessoas que

combatiam a ditadura militar.

QUEM ESTOURA BOMBA NO MEIO DE UM

PARQUE, DE UM SHOPPING, EM UM SHOW

NÃO É PIPOQUEIRO. É TERRORISTA//

MAS MESMO ASSIM ALGUMAS NARRATIVAS

HERDADAS DAQUELA ÉPOCA PERSISTEM//

POR EXEMPLO, SÃO MAIS DE TRINTA ANOS DE

COMBATE DURO À VIOLÊNCIA/ COM

INVESTIMENTOS CADA VEZ MAIORES/ COM UM

NÚMERO DE CORPOS ESTIRADOS EM

NECROTERIOS CADA VEZ MAIOR//

UM COMBATE CUSTE O QUE CUSTAR//

E QUE RESULTADO ISSO DE FATO TRAZ? /

SERÁ QUE É TUDO EM VÃO OU SE

Page 106: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

*SONORA CONECTAS**

GC: RAFAEL CUSTÓDIO

Coordenador da área de Justiça da

CONECTAS

DEIXA INICIAL:

DEIXA FINAL:

TC IN: 01:21:23.12

(CLIP 00001)

TC OUT: 01:23:10.26

**IMAGENS MANIFESTAÇÃO**

**ILUSTRA ONU**

GC: LEI ANTITERRORISMO

AGUENTARMOS MAIS UM POUCO COM ESSA

ESTRATÉGIA VAMOS VENCER A VIOLÊNCIA?//

Sonora: O cenário é por exemplo, aumentar ainda

mais a vitalidade? Claro que não..uma resposta

possível para esse tipo de raciocínio é diante dos

60 mil homicídios do Brasil, os bandidos “estão

sendo mortos”, tá melhorando a situação de

segurança brasileira, ou seja, matar, a torto e

direito, tem transformar nossa sociedade em uma

sociedade mais segura? Não.. na verdade é o

contrário, é uma espiral de violência que vai se

retroalimentando, que a gente precisa romper isso

[...]

UM RECURSO QUE A POPULAÇÃO TEM PARA

CAUSAR MUDANÇAS NUMA DEMOCRACIA É SE

MANIFESTAR, ALGO QUE NESTE ANO FICOU

MAIS DIFÍCIL DEPOIS DA SANÇÃO DA LEI

ANTITERRORISMO//

EM DEZESSEIS DE MARÇO DE DOIS MIL E

DEZESSEIS, A LEI FOI PUBLICADA NO DIÁRIO

OFICIAL DA UNIÃO E ENTROU EM VIGOR/ A LEI,

DE NÚMERO TREZE MIL DUZENTOS E

SESSENTA, FOI DURAMENTE CRITICADA POR

DIVERSAS ORGANIZAÇÕES COMO ONU E

ANISTIA//

AS CRÍTICAS SE CONCENTRAM NO FATO DE

QUE O TEXTO É VAGO E AMPLO DEMAIS, O

QUE PODERIA PERMITIR QUE

MANIFESTAÇÕES LEGÍTIMAS FOSSEM

ENQUADRADAS COMO ATOS TERRORISTAS/

Page 107: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

ARTE NOTA ANISTIA

**ILUSTRA VÍDEO PRESIDENTE ANISTIA**

**ARTE NOTA ANISTIA**

**SONORA**

Leonardo Souza dos Santos –

MANIFESTANTE

TC IN: 09:34:04.16

TC OUT: 09:35:39.18

ISSO MESMO APÓS A INCLUSÃO, APÓS

PRESSÃO DE MOVIMENTOS SOCIAIS, DE UMA

RESSALVA NA LEI QUE BUSCOU GARANTIR

QUE MOVIMENTOS SOCIAIS E POLÍTICOS NÃO

FOSSEM CARACTERIZADOS COMO

TERRORISTAS//

A ANISTIA EXPLICOU EM UMA NOTA PÚBLICA O

PROBLEMA/ ABRE ASPAS, A RESSALVA QUE

VISA PROTEGER MOVIMENTOS SOCIAIS,

SINDICATOS E MANIFESTAÇÕES NÃO É

GARANTIA DE QUE A LEI ANTITERRORISMO

NÃO SERÁ USADA CONTRA ESSES GRUPOS,

FECHA ASPAS/ ATILA ROQUE, DIRETOR

EXECUTIVO DA ANISTIA INTERNACIONAL, DIZ

NO TEXTO QUE NA ATUAL CONJUNTURA

BRASILEIRA EM QUE LEIS TOTALMENTE

INADEQUADAS AO CONTEXTO DE PROTESTOS

FORAM USADAS NA TENTATIVA DE

CRIMINALIZAR MANIFESTANTES EM

PROTESTOS DESDE DOIS MIL E TREZE, É

MUITO GRAVE A APROVAÇÃO DE UM PROJETO

DE LEI “ANTITERROR” QUE PODERÁ

APROFUNDAR AINDA MAIS O CONTEXTO DE

CRIMINALIZAÇÃO DO PROTESTO EM GERAL//

A gente não tem problema de terrorismo no país,

sinceramente. Essa lei e bizarra, grotesca. Não tem

como discutir, o país não tem um problema de

terrorismo. A gente tem problemas de violência,

sim. Mas, terrorismo não. Manifestantes não são

terroristas. E falta de dialogo politico com quem

esta no poder e uma organização que esta surgindo

de reivindicações. [...]

O REPRESENTANTE DO ESCRITÓRIO PARA

Page 108: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

IMAGENS ONU

GC: FRASE

**CORTE**

*SONORA RAFAEL CONECTAS**

GC: RAFAEL CUSTÓDIO

Coordenador da área de Justiça da

CONECTAS

TC IN: 01:55:17.10

(CLIP 00003)

TC OUT: 01:59:24.25

AMÉRICA DO SUL DO ALTO COMISSARIADO

DAS NAÇÕES UNIDAS PARA OS DIREITOS

HUMANOS, AMERIGO INCALCATERRA,

AFIRMOU EM NOTA PUBLICADA NA MÍDIA E NO

SITE DA AGÊNCIA QUE AS DISPOSIÇÕES DO

PROJETO POR SI SÓ NÃO GARANTEM QUE

ESSA LEI NÃO SEJA USADA CONTRA

MANIFESTANTES E DEFENSORES DE DIREITOS

HUMANOS//

O nosso posicionamento é ali quando houve a

proposta de lei para criar o crime de terrorismo ao

Brasil foi, continua sendo desnecessária por

natureza de qualquer ato que seja praticado por

uma célula terrorista ou qualquer que seja na

legislação penal, então só de pensar nos casos

mais notórios de atentado terrorista no Brasil e no

mundo, todos aqueles atos eles vão ter aquele

equivalente no código penal brasileira. Então é

homicídio, é sequestro, é quadrilha, é uso de

explosivo, tudo de lesão corporal, já existe tudo

isso, então é uma inverdade muitas vezes um

discurso que sem a criação do tipo penal do

terrorismo nós não conseguimos processar o

terrorismo. Isso não é verdade, eles responderiam

por esses crimes por exemplo que eu falei, esse é o

primeiro ponto. O Segundo ponto é que não há uma

definição clara nem no Brasil nem no mundo sobre

o que é o ato terrorista, não é um desses crimes em

que a definição é muito clara, por exemplo o

homicídio, a definição do código penal brasileiro é

que o homicídio é tirar a vida de alguém. Então tirei

a vida de alguém é homicídio, ponto. Você não tem

subjetividades nisso, se eu tentei tirar a vida de

alguém é tentativa de homicídio, o terrorismo não.

O terrorismo você não tem uma definição clara,

nem no direito internacional, nem no brasileiro do

que seria um ato de terror e por isso ele

necessariamente vai ser subjetivo e aí entra o

Page 109: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

GC: ARMANDO NOVAES

CARGO: DELEGADO

TC IN: 08:57:36:24

TC OUT: 08:58:38:04

**SONORA**

GC: DJAMILA RIBEIRO

CARGO: SECRETÁRIA-ADJUNTA DE

DIREITOS HUMANOS

TC IN: 00:41:06.04

TC OUT: 00:41:59.15

**ILUSTRA IMAGENS MANIFESTAÇÃO**

perigo dessa lei ser usada para criminalizar

movimentos sociais, estudantes, movimentos

reivindicatórios, de qualquer natureza que esteja

querendo pautar mudanças nos seus grupos, nas

suas vidas e que eventualmente até possam dentro

desse contexto cometer algum ilícito por exemplo

uma manifestação da Paulista dentre aquelas

milhares de pessoas vamos supor se algum grupo

começou a depredar a bancos públicos, isso é

crime de patrimônio é, mas pode ser usado e hiper

dimensionado para uma prática de terrorismo já que

eles estão quebrando patrimônio, reivindicar

mudanças etc.

A lei antiterrorismo... eu não vejo ela como uma

interferência, porque ela foi feita mais em razão da

Copa... da Copa não, das Olimpíadas. Foi uma

resposta do governo brasileiro a uma preocupação

exterior. Mas eu não vejo aqui... o terrorismo

brasileiro... [...] Então, essa lei antiterrorismo foi

mais política, no sentido de trazer menos

preocupação ao turista, aos governos estrangeiros.

É, isso fica muito mais difícil né, só prova o quanto

a gente ta movendo um momento muito difícil que

até querem nos privar do nosso direito a

manifestação. Isso pra mim é ditadura, a gente não

poder se manifestar, a gente não poder mostrar a

nossa indignação em relação ao que acontece, é

viver em um período de ditadura, eu não consigo

dar um outro nome pra isso. Mas eu acho que é

justamente por isso que a gente tem que se

organizar e não aceitar né, porque como diria Santo

Agostinho, uma lei injusta não é lei né, uma lei que

é injusta ela não deve ser seguida né, ela não deve

ser respeitada, uma vez que essa lei é... Atinge

Page 110: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**ILUSTRA IMAGENS P/B BRASIL**

SOBE SOM

CRÉDITOS

diretamente os nossos direitos enquanto cidadãos

de (gaguejada) se manifestar

PODE SER QUE VOCÊ TENHA COMEÇADO A

ASSISTIR ESSA SÉRIE ACREDITANDO

CONHECER O QUADRO DA VIOLÊNCIA NO

BRASIL/ OU MESMO ATÉ SOUBESSE PARTE

DELE//

NOS PRÓXIMOS EPISÓDIOS VAMOS

APROFUNDAR A DISCUSSÃO SOBRE O

TRÁFICO DE ARMAS/ O ESQUEMA DE

SEGURANÇA NO RIO DE JANEIRO DURANTE

OS JOGOS OLIMPICOS E OS DIREITOS

HUMANOS/ AS POLÍCIAS, AS ESTATÍSTICAS E

DISCUTIR A DESMILITARIZAÇÃO DA PM//

E QUE MEDIDAS PODEMOS ADOTAR PRA

CONTER E REDUZIR O NÚMERO DE MORTOS

NO BRASIL.//

Page 111: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

RETRANCA: Episodio 2

PAUTA: Terror Urbano Editor: EDITOR: RENAN FAGALDE/ ALYSSON RODRIGUES/ÉDIGLEI LEANDRO

TEMPO: 25’31’’

**OFF IMAGENS: ABERTURA OLIPIADAS/

VIOLÊNCIA DO RIO **

Tempo: 1’14”

Trilha: Cidade Maravilhosa – Caetano Veloso

GC: INSTITUTO ETHOS

**RODA VHT **

Tempo: 0’25”

Trilha: Cidade Maravilhosa elevada

** SOBE SOM **

**OFF IMAGENS: GIRO PELO

BRASIL/SAMBISTAS/CAPOEIRA **

** SOBE SOM **

**OFF IMAGENS DA CIDADE DO RJ**

DEPOIS DE ANOS DE PLANEJAMENTO, AS

OLIMPÍADAS VIERAM PARA O RIO DE JANEIRO.

39 BILHÕES DE REAIS FORAM INVESTIDOS,

MUDANÇAS E MELHORIAS FORAM

ARQUITETADAS PARA QUE O PÚBLICO,

ESPECIALMENTE OS ESTRANGEIROS, QUE

VIESSEM PARA CÁ SE SENTISSEM SEGUROS.

AFINAL, SOMOS UM POVO QUE GOSTA DE

ACOLHER AS PESSOAS E TEMOS A FAMA DE

TRATAR MUITO BEM NOSSOS HOSPEDES.

NÃO?//

PERCORREMOS VÁRIAS CIDADES,

ENTREVISTAMOS DIVERSAS AUTORIDADES E

ESPECIALISTAS PARA TENTAR REVELAR UMA

SOCIEDADE QUE CONTINUA INERTE A

VIOLÊNCIA QUE ASSOLA O PAÍS. //

É IMPOSSÍVEL DAR VOZ A TODOS QUE LUTAM

POR SEGURANÇA E JUSTIÇA NO BRASIL. ALIÁS

NÃO EXISTE SÓ UM BRASIL, E SIM VÁRIOS

COM CULTURAS, CARACTERÍSTICAS, POVOS

QUE ACABAM VIRANDO APENAS

Page 112: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

** FALA POVO **

** FALA POVO MARIA FLOR BRAZIL (109)**

TIME 05:24:01.15

TIME 05:24:32.08

** SOBE SOM **

**OFF IMAGENS DE PMS E MILITATES RJ**

GC INVESTIMENTOS RJ

ESTATÍSTICAS EM RELATÓRIOS DE VIOLÊNCIA.

//

VAMOS, ENTÃO, COMEÇAR ESSA VIAGEM

PELA CIDADE MARAVILHOSA, O RIO DE

JANEIRO. //

O CRISTO REDENTOR É VISITADO

ANUALMENTE POR MAIS DE 1 MILHÃO DE

TURISTAS. É O MAIOR PONTO TURÍSTICO DA

AMÉRICA LATINA. O RIO DE JANEIRO ESBANJA

CULTURA DO SOTAQUE CARIOCA ÀS PELADAS

NAS AREIAS DE COPACABANA. //

** SOBE SOM **

DEIXA INICIAL: EU CRESCI NUM PAÍS MUITO...

DEIXA FINAL: ... É RETUMBANTE. //

A REGIÃO RECEBEU INVESTIMENTOS EM

SEGURANÇA NA ORDEM DE 3 BILHÕES E 500

MILHÕES DE REAIS NOS ÚLTIMOS 2 ANOS. E

COM ISSO, ESPERAVA-SE QUE A CIDADE

CARIOCA FOSSE O LOCAL MAIS SEGURO DO

PLANETA DURANTE OS JOGOS E DEIXASSE

UM LEGADO EM SEGURANÇA PÚBLICA. PELO

MENOS, ERA QUE ESPERA O PREFEITO DO

RIO DE JANEIRO, EDUARDO PAES NO DIA 15

JULHO 2016 EM AFIRMAÇÃO FEITA AOS

JORNALISTAS NA SEDE DO COMITÊ

ORGANIZADOR DA, UM DIA APÓS O ATENTADO

Page 113: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**ILUSTRA PAES**

** IMAGEM: REPORTAGEM DA CNN **

**ILUSTRA IMAGENS DA CIDADE E

JOGOS**

**ILUSTRA EXÉRCITO**

** GC: FONTE: INSTITUTO DE

SEGURANÇA PÚBLICA (ISP) **

** FALA POVO MARIA FLOR BRAZIL (109)**

TIME: 05: 24:45.00 - TIME: 05:25:20.02

TERRORISTA QUE MATOU MAIS DE 70

PESSOAS NA FRANÇA.

PORÉM, ISSO FOI ALGO QUE NÃO

ACONTECEU. EM ENTREVISTA A REDE TV

AMERICANA CNN, O PREFEITO DO RIO

DESTACOU AS GRAVES FALHAS EM

SEGURANÇA. //

EDUARDO PAES DISSE A TV QUE ESSE É O

ASSUNTO MAIS SÉRIO DO RIO, E O ESTADO

ESTÁ FAZENDO UM TRABALHO TERRÍVEL,

HORRÍVEL. O GOVERNO ESTÁ FALHANDO

COMPLETAMENTE EM SEU TRABALHO DE

POLICIAR E CUIDAR DAS PESSOAS". E

COMPLETA DURANTE OS JOGOS O EXÉRCITO,

A MARINHA E TODOS ESTARÃO AQUI. AINDA

BEM QUE O ESTADO NÃO VAI SER O

RESPONSÁVEL PELA SEGURANÇA DURANTE

ESSE PERÍODO", AFIRMOU O PREFEITO AO

CANAL AMERICANO

O RIO JÁ EXISTE HA MAIS DE QUATROCENTOS

E CINQUENTA ANOS E DURANTE ESSE TEMPO

JÁ FOI A CAPITAL DO PAÍS, SEDE DOS JOGOS

PAN-AMERICANOS E UMA DAS SEDES DA

COPA DO MUNDO DE FUTEBOL E,

RECENTEMENTE, AS OLIMPÍADAS. MAS COMO

EXPLICAR ESSE DESASTRE NA ÁREA DA

SEGURANÇA PÚBLICA? COMO EXPLICAR QUE

A CADA DIA, EM MÉDIA, 16 PESSOAS SÃO

ASSASSINADAS EM TODO O ESTADO? //

DEIXA INICIAL: AS OLIMPIADAS SÃO UM...

DEIXA FINAL: ... MOMENTO MUITO TRISTE. //

Page 114: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**ILUSTRA ASSASSINATO**

**SONORA DJAMILA**

GC: DJAMILA RIBEIRO

SECRETÁRIA-ADJUNTA DE DIREITOS

HUMANOS

**ILUSTRA IMAGENS DE CARROS E

MILITARES NAS RUAS DA CIDADE**

NA CIDADE MARAVILHOSA A SEGURANÇA VEM

SENDO FEITA DE UM JEITO: MATAMOS UM

GRUPO MUITO ESPECÍFICO, AQUILO QUE A

ANISTIA INTERNACIONAL CHAMA DE

VIOLÊNCIA E SEGURANÇA SELETIVA. //

bom, a gente tá em num país que mais de três

séculos tratou o grupo negro como se fosse

mercadoria, isso tá muito na raiz da sociedade né,

durante mais de três séculos, as pessoas negras

eram vendidas, eram mortas, eram açoitadas, eram

perseguidas, eram tratadas como meros objetos,

como meras coisas, então isso está muito ligado

com a forma que esse país foi constituído. Esse

país foi constituído na violência... Então o que a

gente vive hoje nada ta fora de contexto né, tudo

que a gente vive hoje simplesmente está

contextualizado com a forma pelo qual esse país foi

constituído... Pra um país que tem 516 anos, vai

fazer o brasil, 354 anos foi de escravidão. Quer

dizer, a gente encontra um país, tem mais tempo de

escravidão, de que não escravidão. //

SE VOCÊ ESTEVE NO RIO DE JANEIRO

DURANTE A OLIMPÍADA PODE CONCORDAR

QUE OS ESFORÇOS PARA DEMONSTRAR UMA

SEGURANÇA EFETIVA NA CIDADE ERAM

NÍTIDOS: BASTAVA UMA CAMINHADA NA ORLA

DE COPACABANA PARA ESBARRAR COM

MILITARES FARDADOS UTILIZANDO

ARMAMENTO PESADO, OU AINDA, NA CIDADE

OLÍMPICA ONDE O ESQUEMA DE

POLICIAMENTO POR LÁ ERA MAIS FORTE. //

PORÉM, PARA ALÉM DOS CENÁRIOS DOS

Page 115: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**ILUSTRA IMAGENS DE VIOLÊNCIA E

MORRO CARIOCAS **

** ARTE: TEXTO DA NOTA**

**ILUSTRA IMAGENS DE VIOLÊNCIA**

** FALA POVO **

GC: BRUNO DA SILVA CARDOSO

** FALA POVO **

GC: LUCIANO SILVEIRA EIFLER

JOGOS, A ANISTIA INTERNACIONAL

DENUNCIOU OUTRA REALIDADE NA CAPITAL

CARIOCA. //

DE ACORDO COM O RELATORIO DO ÓRGÃO,

UM LEGADO DE VIOLÊNCIA NA RIO 2016, EM

DIVERSAS ÁREAS DA CIDADE, OS DIAS DE

JOGOS TIVERAM COMO SALDO AS

OPERAÇÕES POLICIAIS EXTREMAMENTE

VIOLENTAS E INTENSOS TIROTEIOS, COM

PESSOAS FERIDAS E MORTAS. //

"HÁ PELO MENOS 8 CASOS CONFIRMADOS DE

MORTES EM OPERAÇÕES POLICIAIS, E CASOS

AINDA NÃO CONFIRMADOS EM DIVERSAS

FAVELAS DO RIO DE JANEIRO. MORADORES

DESSAS ÁREAS RELATAM OUTROS ABUSOS

COMO INVASÃO DE DOMICÍLIO, AMEAÇAS, E

AGRESSÕES FÍSICAS E VERBAIS", DIZ O

DOCUMENTO. //

NOS ÚLTIMOS ANOS PRESENCIAMOS UM

BOOM NO NÚMERO DE HOMICÍDIOS E ÍNDICES

DE VIOLÊNCIA NUNCA ANTES VISTO, EM

RITMO SUPERIOR AOS INTERNACIONAIS. MAS

PARA ALGUM MORADORES ISSO NÃO PARECE

ACONTECER //

DEIXA: NO CASO DE VIOLÊNCIA, TEM ALGUNS

FURTOS MAS A CIDADE É TRANQUILA. DA PRA

SE VIVER.

DEIXA: ME SINTO, ME SINTO SEGURO AQUI NO

RIO. PRINCIPALMENTE NA REGIÃO DA ZONA

SUL, IPANEMA, A GENTE VÊ A PRESENÇA DA

POLÍCIA COMO A GENTE VÊ LÁ NO FUNDO. A

POLÍCIA, A GUARDA MUNICIPAL.

Page 116: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

** OFF: COBRIR COM IMAGENS DO

ENTREVISTADO (FALA POVO) **

** FALA POVO **

GC: MARÍLIA ROSÁRIO

** FALA POVO **

GC: ELOISIO DA SILVA

**ILUSTRA CRISTO/PÃO-DE-AÇÚCAR**

**ILUSTRA

SAÚDE/EDUCAÇÃO/FAVELA/ESGOTO/

SEGURANÇA

** GC: FONTE: INSTITUTO PEREIRA

PASSOS (IPP)

GC: SECRETARIA DE ESTADO DE

PLANEJAMENTO E GESTÃO (SEPLAG) **

**SONORA RAFAEL**

GC: RAFAEL CUSTÓDIO

COORDENADOR DE JUSTIÇA DO

CONECTAS

TIME: 01: 40:31.01

TIME: 01:43: 56.21

MAS HÁ QUEM DISCORDE...

DEIXA: NA ZONA SUL SIM. NAS DEMAIS ÁREAS

NÃO.

DEIXA: NÃO! A VIOLÊNCIA NO RIO DE JANEIRO

É UMA COISA MUITO ESPECÍFICA.

TÃO MARCANTES COMO O CRISTO OU O PÃO

DE AÇÚCAR NA PAISAGEM CARIOCA, SÃO AS

FAVELAS ESPALHADAS PELO CENÁRIO DO

RIO. HÁ CERCA DE 120 ANOS DESDE QUANDO

SURGIU A PRIMEIRA DAS 763 FAVELAS DA

CIDADE ATÉ HOJE POUCO OU NADA SE VIU EM

INVESTIMENTOS EM SAÚDE, EDUCAÇÃO,

SANEAMENTO BÁSICO E SEGURANÇA POR

PARTE DO ESTADO. NOS ÚLTIMOS OITO ANOS

A CURVA DE INVESTIMENTOS CAIU CERCA DE

54% SE COMPARADO HÁ DOIS MIL E SETE. //

A população que historicamente é privada de vários

direitos que o estado deveria prover, a saúde

adequada, educação, lazer, emprego e também

segurança, voltando a ideia de que a segurança

também é um direito constitucional e o estado

também ao não prover a segurança, as pessoas se

sentem extremamente atingidas, extremamente

abandonadas ....

Page 117: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**SONORA LUIZ**

GC: LUIZ CARLOS

PRES. CONDEPE DA SEC. DA JUSTIÇA

TIME: 01:59:19.06

TIME: 02:02:10.03

**SONORA DJAMILA**

GC: DJAMILA RIBEIRO

SECRETÁRIA-ADJUNTA DE DIREITOS

HUMANOS

**ILUSTRA IMAGENS MANIFESTAÇÃO E

VIOLÊNCIA POLICIAL”**

**SONORA RAFAEL**

GC: RAFAEL CUSTÓDIO

COORDENADOR DE JUSTIÇA DA ONG

CONECTAS

TIME: 01:21:23.12

Acredito que é tudo fatores que contribuíram para

isso, [...] a criminalidade começa de uma forma

pequena e vai crescendo, a pessoa ela vai presa, ai

ela volta pra sociedade e ela não tem apoio da

sociedade. uma vez que o nome dela fica registrado

no sistema de polícia criminaliza, muitos deles não

conseguem voltar para a sociedade, volta para o

mundo do crime, porque não tem outra alternativa

[...] esses órgãos de sistema de segurança,

começam a criminalizar, porque sabem que aquela

pessoa foi presa. [...]a criminalidade se estenda em

todas as suas regiões, bairros, municípios e

estados e cresce o índice de assassinatos, ou é

grupos de extermínios, ou é crime organizado que

começam a se proliferar em todo o país.

Falta de olhar, e de assumir a responsabilidade

dessa ilegalidade do estado que já trata essas

pessoas de forma desigual, e quando se por um

acaso, essas pessoas tendem a ir para alguns

caminhos, acha que a justificativa é matar essas

pessoas. //

HISTORICAMENTE, A POLÍTICA DO BRASIL FOI

DE GARANTIR SEGURANÇA PÚBLICA POR

MEIO DA REPRESSÃO POLICIAL. E NÃO DE

UMA POLICIA CIDADÃ QUE PROTEGE A

POPULAÇÃO, BEM COM A SUA CIDADE. //

A gente não pode esquecer que de fato, grande

parte da população brasileira, também a população

mais vulnerável, de fato sofre com a violência, as

pessoas são vitimas de roubo, de furto, de

homicídio, de outros tipos de crime. é claro que é

importante esclarecer e chamar essas pessoas

para um debate mais racional sobre a segurança,

Page 118: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

TIME: 01:23:10.26

**ILUSTRA PRAIAS RJ E MORROS

CARIOCAS**

**SONORA: JULIO JACOBO**

GC JULIO JACOBO WAISELFISZ

PESQUISADOR E AUTOR DO MAPA DA

VIOLÊNCIA

GC: VIA INTERNET

TIME: 00:09:46.00

TIME: 00:13:26.01

sobre a necessidade de defender parâmetros de

atuação da polícia, de defender direitos de qualquer

acusado, de qualquer cidadão contra a polícia, mas

também e de fato que a população se sente

vulnerável de graus de violência que são muito

altos no brasil que a gente não pode negar, a

questão é o que fazer durante esse cenário. o

cenário é por exemplo, aumentar ainda mais a

vitalidade? claro que não...uma resposta possível

para esse tipo de raciocínio é diante dos 60 mil

homicídios do brasil, os bandidos “estão sendo

mortos”, tá melhorando a situação de segurança

brasileira, ou seja, matar, a torto e direito, tem de

transformar nossa sociedade em uma sociedade

mais segura? não... na verdade é o contrário, é

uma espiral de violência que vai se

retroalimentando, que a gente precisa romper isso

urgente. //

FECHAR OS OLHOS É APENAS O PRIMEIRO

PASSO PARA PERMITIR ESSE CENÁRIO, ESSA

VIOLÊNCIA PODE LEVAR MUITOS A ENXERGAR

ESSA CARNIFICINA COMO UMA FORMA DE

LIMPEZA URBANA ONDE FALA MAIS ALTO A LEI

DO MAIS FORTE. //

No brasil morre muito negro porque tem uma

categoria de população que é matável. Tem seres

humanos no brasil que são matáveis sem

problemas. Mendigos, meninos de rua, etc. Etc.

São matáveis, ninguém vai lamentar muito e é

melhor para a sociedade porque vai gerar processo,

vai gastar muita grana, então para que vamos

entrar nisso? Então aparecem grupos de extermínio

nas próprias instituições que deveriam fazer cumprir

a lei, são as instituições que primeiro violam essa

lei. Aparecem grupos de extermínio, milícias destas

Page 119: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**ILUSTRA IMAGENS MORROS E

PESSOAS**

** GC: FONTE: IBGE **

**ARTE NOTA DIREITOS HUMANOS**

instituições, etc., cujo objetivo é fazer justiça pelas

próprias mãos substituindo diretamente a justiça. //

OS MORROS CARIOCAS TÊM MAIS

MORADORES DO QUE PEDRAS. ALGUMAS

COMUNIDADE, COMO A MARÉ, CHEGAM A TER

MAIS DE 130 MIL HABITANTES. MUITOS AINDA

A ESPERA DE UM ESTADO PRESENTE //

** SOBE SOM **

MAS TEM UM ASSUNTO QUE DIZ RESPEITO A

TODOS NÓS. O DIREITO À VIDA E AS

OBRIGAÇÕES DO BRASIL E DE SEUS ESTADOS

DIANTE DO DIREITO INTERNACIONAL E DOS

DIREITOS HUMANOS. //

OBSERVANDO O ARTIGO 6º DO PACTO

INTERNACIONAL DOS DIREITOS CIVIS E

POLÍTICOS, ASSIM COMO O ARTIGO 4º DA

CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS

HUMANOS, QUE ESTABELECEM A OBRIGAÇÃO

DOS ESTADOS DE PREVENIR, PROTEGER,

RESPEITAR E GARANTIR O DIREITO À VIDA. O

BRASIL RATIFICOU AMBOS ACORDOS

INTERNACIONAIS EM 1992. //

O DIREITO À VIDA É FUNDAMENTAL. //

**SOBE SOM**

Page 120: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**ILUSTRA PESSOAS**

**ILUSTRA IMAGEM DA ONU - SEDE **

TIME: 00: 00:35:00 – 00:00:44.00

**SONORA DJAMILA**

GC: DJAMILA RIBEIRO

SECRETÁRIA-ADJUNTA DE DIREITOS

HUMANOS

AS OBRIGAÇÕES DOS ESTADOS DERIVADAS

DO DIREITO À VIDA PRESSUPÕEM NÃO

APENAS QUE NENHUMA PESSOA PODE SER

PRIVADA DE SUA VIDA ARBITRARIAMENTE,

MAS TAMBÉM REQUEREM QUE OS ESTADOS

TOMEM TODAS AS MEDIDAS APROPRIADAS

PARA PROTEGER E PRESERVAR ESSE

DIREITO. //

O COMITÊ DE DIREITOS HUMANOS DA ONU JÁ

RECONHECEU QUE O DIREITO À VIDA DEVE

SER ENTENDIDO COMO O MAIS ESSENCIAL

DOS DIREITOS. E COBRA DO BRASIL MEDIDAS

MAIS ENÉRGICAS COMO, POR EXEMPLO,

MELHORIAS NO SISTEMA PRISIONAL,

PROTEÇÃO A DEFENSORES DE DIREITOS

HUMANOS, APRIMORAR O SISTEMA

JUDICIÁRIO E GARANTIR A INDEPENDÊNCIA DE

JUÍZES E A PROTEÇÃO A JORNALISTAS E

PROFISSIONAIS DA IMPRENSA PARA EVITAR

AS GRAVES VIOLAÇÕES DE DIREITOS

HUMANOS OCORRIDAS NÃO SOMENTE NO RIO,

MAS EM TODO O PAÍS. //

Falta um entendimento de que ele vai perder os

direitos civis, mas isso não pode significar que ele

vai perder os direitos humanos. E acho que falta o

entendimento de perceber que trabalhar na questão

dos direitos humanos, significa que a gente ta

pautando, de estar lutando contra a violência [...]

Então falta o entendimento da pessoa entender o

que qui é direitos humanos, então a pessoa não ter

acesso a alimentação, não poder comer é uma

questão de direito humano, direitos humanos,

direito de alimentação, o direito a moradia, o direito

Page 121: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**SONORA RAFAEL**

GC: RAFAEL CUSTÓDIO

COORDENADOR DE JUSTIÇA DA ONG

CONECTAS

TIME: 01:25:04.26

TIME: 01:26:27.23

*SOBE SOM*

**OFF IMAGENS DA CIDADE **

Tempo: 15”

**ILUSTRA IMAGENS DAS RUAS E

AVENIDAS **

**ILUSTRA FOTOS DO MURRO / IMAGENS

há ter uma educação de qualidade, então eu acho

que falta pras pessoas o entendimento do que é, do

que significa garantir esses direitos.

Muitas vezes o movimento de direitos humanos se

sente um pouco refratária ao discutir segurança

pública, a polícia militar por ser tão violenta e por

representar tanto essa violência do estado. [...] Mas

acho importante lembrar que no artigo 5º, nos

direitos e garantias individuais, ali no núcleo da

fundação brasileira, ta lá o direito à segurança. A

segurança é um direito individual garantida

fundamental de todos o brasileiros. Respondendo

sua pergunta, esse modelo de segurança pública,

tem conseguido defender e proteger esse direito

constitucional à segurança? Não! Certamente não.

São 60 mil homicídios, são centenas de roubos,

prisioneiros (...) Não conseguem transformar essas

pessoas de um modo mais humano. Então o estado

está muito longe de conseguir cumprir esse

dispositivo constitucional.

A AVENIDA BRASIL E A LINHA VERMELHA SÃO

ALGUNS DOS EPICENTROS DA VIOLÊNCIA DO

RIO, MARGEADA POR QUASE 20

COMUNIDADES, A MAIORIA DELAS DOMINADAS

PELO TRÁFICO DE DROGAS. //

DURANTE OS JOGOS OLÍMPICOS A

PREFEITURA DA CIDADE E O COMITÊ

ORGANIZADOR RIO 2016, USARAM DE UMA

TÁTICA PARA MASCARAR A REALIDADE DESSA

REGIÃO. SE UTILIZANDO DE TAPUMES,

Page 122: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

DA RIO2016**

**ILUSTRA ABERTURA OLIMPIADAS/

IMPRENSA INTERNACIONAL E TURISTAS

NAS RUAS DO RIO**

** ARTE JORNAL IBT E THE GUARDIAN**

**ILUSTRA IMAGENS DA CIDADE E

EXÉRCITO**

ESCONDERAM OS MORROS, OS ESGOTOS A

CÉU ABERTO, AS ARMAS E TRÁFICO DE

DROGAS. //

ENTRETANTO, A ARTIMANHA NÃO DE CERTO.

OS GRINGOS NÃO FICARAM SATISFEITOS

APENAS COM A LINDA CERIMONIA DE

ABERTURA E DE ENCERRAMENTO DOS

JOGOS. ACABARAM CONHECENDO UM POUCO

MAIS DO QUE ISSO. //

COM O TEMPO, OS ESTRANGEIROS E A MÍDIA

INTERNACIONAL SE DEPARARAM COM UMA

PALAVRA TIPICAMENTE BRASILEIRA,

“GAMBIARRA”. QUE FOI TEMA DO EVENTO. O

JORNAL IBT ONLINE, TENTOU EXPLICAR O QUE

ERA A PALAVRA EM UMA MATÉRIA. //

“GAMBIARRA, UMA PALAVRA EM PORTUGUÊS

QUE NÃO POSSUI EQUIVALENTE NO INGLÊS, É

A ARTE BRASILEIRA DE CRIAR COISAS A

PARTIR DO IMPROVISO — USANDO

ESTRATÉGIAS SIMPLES PARA REPARAR OU

CRIAR O QUE VOCÊ PRECISA COM O QUE

VOCÊ TEM”, EXPLICA. JÁ O SITE DO JORNAL

BRITÂNICO THE GUARDIAN FOI MAIS SUCINTO,

POÉTICO E ESTRANHO: “GAMBIARRA

SIGNIFICA CONTENTAR-SE”. //

A PERGUNTA É: SERÁ QUE OS GOVERNOS

MUNICIPAL, ESTADUAL E FEDERAL ESTÃO

PROMOVENDO UMA GAMBIARRA NA

SEGURANÇA PÚBLICA OU ESPERAM APENAS

QUE OS HABITANTES SE CONTENTEM? //

Page 123: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**SONORA BRUNO PAES MANSO**

GC BRUNO PAES MANSO

PESQ. DO NÚCLEO DE ESTUDOS DA

VIOLÊNCIA-USP / NEV

TIME: 00:27:55.14

TIME: 00:30:35.00

** ILUSTRA ARTE: DECRETO **

**ILUSTRA IMAGENS DA OCUPAÇÃO DO

Eu acho que é uma tragédia, você sair na rua com

medo de ser morto e assaltado, mas por outro lado

você tem uma percepção de violência talvez maior

que a violência que de fato existe na cidade e no

estado. [...] Tem uma sensação de pânico e de

repente você for ver as estatísticas não

correspondem com a realidade, então essa questão

de trabalhar com os fatos é uma questão política de

se trabalhar mesmo, e o que existe muitas vezes é

mais um discurso. //

O PRÓPRIO GOVERNO DO RIO DE JANEIRO

DECRETOU ESTADO DE CALAMIDADE PÚBLICA

49 DIAS ANTES DO INICIO DA OLIMPIADA.

SEGUNDO DECRETO, PUBLICADO EM EDIÇÃO

EXTRAORDINÁRIA DO DIÁRIO OFICIAL DO

ESTADO NO DIA 17 DE JULHO, A CRISE QUE

AFLIGE O ESTADO IMPEDIRIA O

CUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÕES COM A

OLIMPÍADA. A VERDADE ERA QUE O GOVERNO

TEMIA, COMO TEME, UM 'TOTAL COLAPSO' NA

SAÚDE, SEGURANÇA, EDUCAÇÃO E

MOBILIDADE. //

DE ACORDO COM O TEXTO, FICAM AS

AUTORIDADES COMPETENTES AUTORIZADAS

A ADOTAR MEDIDAS EXCEPCIONAIS

NECESSÁRIAS À RACIONALIZAÇÃO DE TODOS

OS SERVIÇOS PÚBLICOS ESSENCIAIS, COM

VISTAS À REALIZAÇÃO DOS JOGOS", DIZ O

ARTIGO 2° DO DECRETO. //

ESSE CENÁRIO LEVOU O GOVERNO FEDERAL

A DISPONIBILIZAR E UTILIZAR HOMENS DAS

FORÇAS ARMADAS E DA NACIONAL PARA

Page 124: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

ALEMAO E DO EXERCITO **

**SONORA LUIZ**

GC: LUIZ CARLOS

PRES. CONDEPE DA SEC. DA JUSTIÇA

TIME: 02:20:40.00

TIME: 02:23:04.23

**SONORA DELEGADO**

**SONORA DJAMILA**

GC: DJAMILA RIBEIRO

SECRETÁRIA-ADJUNTA DE DIREITOS

ATUAREM NA SEGURANÇA PRECÁRIA DO RIO

DE JANEIRO DURANTE OS JOGOS OLÍMPICOS.

//

O EXÉRCITO JÁ FOI USADO QUATRO ANOS

ANTES NAS OCUPAÇÕES DAS FAVELAS DO

RIO DE JANEIRO. //

MAS O EMPREGO DE FORÇAS MILITARES

RECEBEU CRÍTICAS...//

Já tivemos uma experiência no rio de janeiro, foi

quando as forças armadas invadiram alguns

complexos das favelas lá do rio de janeiro. Nós

vamos ter o mesmo cenário do que aconteceu só

que agora de uma forma diferente por causa das

olimpíadas ser lá, o que vai acontecer lá é um

direcionamento de segurança pública, com

segurança nacional. Para dar proteção e para tentar

tapar toda a questão de falhas de segurança que

acontece no rio de janeiro, para poder dar uma

proteção para aqueles que vão estar lá. Depois

quando sair, vai voltar tudo da mesma forma que

estava, porque não se resolve problema lá, no

tráfico de drogas, das mortes, das brigas e agora

vão colocar as forças armadas de uma forma de

criar um cordão de proteção para esse megaevento

que vai acontecer. //

DEIXA INICIAL: EU NÃO SOU MUITO A FAVOR...

DEIXA FINAL: ...MATAR O INIMIGO.//

Essa lógica de criminalização da pobreza e de

controle social. Acha que a população pobre, que

nessa maioria é negra, tem que ficar controlada,

então, eles só podem ocupar esse determinado

espaço, é uma forma dessas pessoas não terem

Page 125: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

HUMANOS

**ILUSTRA MINISTRO DA DEFESA **

**ILUSTRA IMAGENS DA

CIDADE/POLICIAIS/EXÉRCITO **

**SONORA JULIO JACOBO**

GC Julio Jacobo Waiselfisz

Pesquisador e autor do Mapa da Violência

TC IN: 14:30

TC OUT: 20:23

direito a cidade por exemplo. É uma visão de

controle social de criminalização da pobreza, mais

uma vez né, não pensando o quanto esse estado é

omisso em relação a essas pessoas. Então, você

vai fazer um grande evento, então tira esses

pobres, uma visão extremamente higienista né, de

achar que essas pessoas não tem que fazer parte,

sendo que foi usado muito dinheiro público pra isso

né, e essas pessoas muitas vezes não vão

participar porque esbarra numa questão de classe

porque muitas vezes ela não tem dinheiro pra

participar e não há preocupação que elas

participem, então é uma visão de criminalizar a

pobreza, de achar que a questão da pobreza tem

que ser tratada de forma diferente, de forma

militarizada, que pessoas pobres e pessoas negras,

devem ser exterminadas e dizimadas porque não

são consideradas se quer humanas nessa

sociedade.//

O MINISTRO DA DEFESA, RAUL JUNGMANN, EM

ENTREVISTA COLETIVA DISSE VER COM

SUCESSO A ESTREITA COLABORAÇÃO ENTRE

AS FORÇAS DE DEFESA, A SEGURANÇA

PÚBLICA E A INTELIGÊNCIA.

AS SECRETÁRIAS DE SEGURANÇA PÚBLICA

DO ESTADO E DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO,

POR SUA VEZ, NÃO RESPONDERAM AOS

NOSSOS QUESTIONAMENTOS E PREFERIRAM

NÃO SE MANIFESTAR. //

DEIXA INICIAL: OBVIAMENTE QUE AS TRÊS...

DEIXA FINAL: ... PORQUE NÃO HÁ NENHUMA

LEGALIDADE

Page 126: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

GC: VIA INTERNET

**ILUSTRA IMAGENS DO SECRETARIO **

** FALA POVO

MARIA FLOR BRAZIL (109)**

**ILUSTRAS IMAGENS DE VIOLENCIA DO

RIO/OBRAS DO METRÔ/VILA OLIMPÍCA **

**SONORA SALARO**

GC: VALMIR SALARO

REPÓRTER POLICIAL DA REDE GLOBO

TIME: 09:45:27.10

TIME: 09:46:15.01

VALE DESTACAR QUE O SECRETÁRIO DE

ESTADO DE SEGURANÇA PÚBLICA DO RIO,

JOSÉ MARIANO BELTRAME, PEDIU DEMISSÃO

DO CARGO UM MÊS APÓS O FIM DOS JOGOS.

SEGUIDO DO CHEFE DE POLÍCIA CIVIL,

FERNANDO VELOSO.

DEIXA INICIAL: NÃO TEM RAZÃO NEM...

DEIXA FINAL: PAIS TÃO DESIGUAL. //

AS PRESSÕES SOBRE A CIDADE SÃO MUITAS,

GRANDES OBRAS DE ESTRUTURA E

INVESTIMENTOS EM DIVERSAS ÁREAS SÃO

ESPERADAS. //

MAS, HOJE NINGUÉM DEFENDE

PUBLICAMENTE QUE A VIOLÊNCIA

DISSEMINADA ESTA SOBE CONTROLE OU

SOLUCIONADA, FAZER ISSO SERIA DEFENDER

UM CRIME. //

É uma guerra entre, quer dizer, o exemplo no rio de

janeiro, só neste ano morreram mais de 70 policiais

executados por criminosos. A polícia militar do rio

de janeiro acho que também matou muito mais do

que isso. Isso prova que tem perda dos dois lados.

Muitas vezes, e na maioria das vezes, quem morre

mais são os chamados criminosos, e os supostos

criminosos, que entram na frente da polícia, tentam

enfrentar a polícia, se negam a se entregar. Tem o

tráfico de drogas também que estimula essa ação

contra a polícia. Tem uma guerra urbana de

categorias, quer dizer, policiais e bandidos, e no

Page 127: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

** ILUSTRA JOGOS DO RJ **

**SOBE SOM**

**CRÉDITOS**

TRILHA INICIAL

meio a população desarmada e cada vez mais com

medo. //

MAS, A PERGUNTA AINDA FICA: COMO

EXPLICAR TANTOS HOMICÍDIOS? //

Page 128: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

RETRANCA: EPISÓDIO 3

PAUTA: TRÁFICO DE ARMAS

EDITOR: ALYSSON RODRIGUES/RENAN FAGALDE/EDIGLEI LEANDRO

TEMPO: 25’:39”

**SOBE SOM** **ILUSTRA IMAGENS GUERRA –

SÍRIA/FÁBRICA DE ARMAS** 24”

**RODA VHT - PADRÃO** 25”

**ILUSTRA IMAGENS ARMAS**

**ILUSTRA IMAGENS PLANALTO CENTRAL**

**ILUSTRA IMAGENS ARMAS E BANDEIRA DO BRASIL/PALÁCIO DA PRESIDÊNCIA**

**ILUSTRA SEDE ONU E BANDEIRAS DOS PAÍSES **

O BRASIL NÃO PARTICIPA DE UM CONFLITO

DESDE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL. NO

ENTANTO, A PRODUÇÃO DE ARTIGOS

BÉLICOS NUNCA PAROU DE CRESCER E HOJE

SOMOS UM DOS MAIORES EXPORTADORES

DE ARMAS LEVES E MEDIAS, ALEM DE TODO O

ARSENAL QUE CIRCULA NO PAÍS. MAS

PORQUE TANTA ARMA SE SOMOS

PACÍFICOS?//

ARMAS DE DIVERSOS TIPOS E CALIBRES

CIRCULAM E SÃO USADAS DIARIAMENTE NO

PAÍS. //

PARTE DESSE PODER DE FOGO EM

CIRCULAÇÃO É ILEGAL//

ENTRETANTO, PARA ENTENDER MELHOR A

SITUAÇÃO DO TRÁFICO, PRECISAMOS

ABORDAR O COMÉRCIO LEGAL DE ARMAS NO

BRASIL//

PARA ISSO TEMOS DE ENTENDER ALGUNS

TRATADOS QUE REGULAM O COMÉRCIO DE

ARMAMENTOS NO PAÍS E FORA DELE//

EM SETEMBRO DE DOIS MIL E TREZE, O

BRASIL E OUTROS CINQUENTA E NOVE

PAÍSES FORAM CONVIDADOS PELAS NAÇÕES

UNIDAS A ASSINAR TRATADO DA ONU SOBRE

O COMÉRCIO INTERNACIONAL DE ARMAS.// O

ACORDO TINHA COMO OBJETIVO AJUDAR A

REGULAR O COMÉRCIO PARA IMPEDIR O

Page 129: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**ILUSTR IMAGENS DOS LOGOS ONGS**

**ILUSTRA IMAGENS DO CONGRESSO/TANQUES/JATOS/

MILITARES**

**ARTE – NOTA-SOU DA PAZ**

EMPREGO DE ARMAS LETAIS NA VIOLAÇÃO

DE DIREITOS HUMANOS//

PORÉM, COMO EXPLICA A COALIZÃO PELA

EXPORTAÇÃO RESPONSÁVEL DE ARMAS,

FORMADA PELAS ORGANIZAÇÕES CONECTAS,

SOU DA PAZ, ANISTIA INTERNACIONAL,

INSTITUTO IGARPÉ E DESHARME, O BRASIL

ATÉ AGORA NÃO RATIFICOU O DOCUMENTO

DA ONU, OU SEJA, O BRASIL NÃO O SEGUE//

O DOCUMENTO ESTÁ PARADO ATÉ HOJE NO

CONGRESSO NACIONAL SEM NEM TER SIDO

APRECIADO PELOS PARLAMENTARES// O

ACORDO PREVE MAIOR CONTROLE SOBRE A

PRODUÇÃO E VENDA DE ARMAMENTOS QUE

VÃO DESDE ARMAS LEVES ATÉ LANÇA-

MÍSSEIS, TANQUES, JATOS E PORTA-AVIÕES//

MEDIANTE A ISSO, O SOU DA PAZ LANÇOU

NOTA DIZENDO: ABRE ASPAS EMBORA O

BRASIL SEJA O QUARTO MAIOR EXPORTADOR

DE ARMAS LEVES, COM VENDAS NO VALOR

DE QUASE US$ 3 BILHÕES ENTRE 2001 E 2012,

O PAÍS POSSUI UM DOS PROCESSOS DE

EXPORTAÇÕES DE ARMAMENTOS MAIS

SECRETOS DO MUNDO: ESTAMOS NA 43ª

POSIÇÃO EM MATÉRIA DE TRANSPARÊNCIA

NAS EXPORTAÇÕES DE ARMAS, ATRÁS DE

RÚSSIA, PAQUISTÃO, TAILÂNDIA E

ARGENTINA. ESSA FALTA DE TRANSPARÊNCIA

TEM ORIGEM EM UMA POLÍTICA CRIADA PELA

DITADURA MILITAR CHAMADA POLÍTICA

NACIONAL DE EXPORTAÇÃO DE MATERIAL DE

EMPREGO MILITAR, FECHA ASPAS//

COMO EXPLICA O SOU DA PAZ, A INDÚSTRIA E

O MERCADO DE ARMAMENTOS NO BRASIL

SÃO MUITO POUCO TRANSPARENTES//

Page 130: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**SONORA** GC FELIPPE ANGELI

CARGO: Coord. advocacia Sou da Paz

TEMPO: 03:47:50.00 03:53:48.10

*ILUSTRA IMAGENS SEDE DA CBC**

**SONORA/ARTE** GC: ex-executivo da Companhia Brasileira

de Cartuchos - CBC TEMPO:

11:35 - 12:27

**ILUSTRA IMAGENS ARMAS/ EXERCITO/ FÁBRICA DE ARMAS**

...de fato é extremamente opaco, extremamente

nebuloso essas informações sobre exportações de

arma de fogo que é muito perigoso. A gente por

exemplo, recentemente, identificou armas

brasileiras sendo utilizadas pela Arábia Saudita

contra a população do Iêmen, uma situação muito

provável de ataque de Direitos Humanos e são

áreas brasileiras, pouco se falam nisso [...] É um

tratado muito básico, é um tratado que estabelece

elementos mínimos para dar o mínimo de

transparência para impedir que armas, transportam

armas para outras forças que possa colocar em

risco direitos humanos, ou seja, não vou vender

uma arma para uma Ditadura usar essa arma que

estou vendendo para essa população ou para esse

país e ainda assim temos algumas dificuldades

como você explicou, isso é uma coisa. A outra

coisa é o mercado interno, primeira coisa: é uma

situação difícil (...) a arma Taurus (tem duas

empresas CBC e Taurus) a CBC comprou a

Taurus.. é monopólio, protegido do exército.

EM RESPOSTA ÀS CRÍTICAS, UM EX-

EXECUTIVO DA CBC QUE CONCEDEU

ENTREVISTA SOB A CONDIÇÃO DE NÃO SER

IDENTIFICADO, AFIRMOU QUE O PROBLEMA É

OUTRO//

Nós não vendemos pra bandido. Nós vendemos

pra quem tem registro. O exército libera, o exército

fiscaliza. O que acontece é que a malandragem é

tão grande que eles roubam dentro do exército. E o

pior não é isso, trazem do Paraguai, nós não temos

gente pra cuidar da fronteira.

MAS EXATAMENTE QUANTAS ARMAS ESSA

EMPRESAS PRODUZEM?// INFORMAÇÕES

SOBRE A INDÚSTRIA DE ARMAS SÃO TÃO

BLINDADAS QUE NEM MESMO EQUIPES DE

Page 131: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**ILUSTRA IMAGENS CBC E IMAGENS CBC INTERROMPIDA**

**ILUSTRA IMAGENS ARMAS E FRONTEIRAS **

**SONORA** GC VALMIR SALARO

Repórter policial – TV Globo 10:21:31.00 - 10:23:17.06

**IMAGENS FISCALIZAÇÃO FRONTEIRA**

REPORTAGEM PODEM SE APROXIMAR DAS

FÁBRICAS//

DURANTE AS GRAVAÇÕES DESSE

DOCUMENTÁRIO, NOSSA EQUIPE FOI

CENSURADA POR PARTE DOS FUNCIONÁRIOS

DA COMPANHIA BRASILEIRA DE CARTUCHOS,

CONHECIDA COMO CBC.

EM DETERMINADO MOMENTO A GRAVAÇÃO E

INTERROMPIDA// QUANDO NOSSOS

JORNALISTAS CAPTAVAM IMAGENS FORAM

ABORDADOS POR SEGURANÇAS ARMADOS

QUE EXIGIAM QUE AS IMAGENS FOSSEM

APAGADAS, ALEGANDO SER ÁREA DE

CONTROLE DO EXÉRCITO// SEM SAÍDA OS

REPÓRTERES FORAM OBRIGADOS A DEIXAR

O LOCAL//

SE O MERCADO INTERNO DE ARMAMENTOS É

TÃO RIGOROSAMENTE FECHADO, ENTÃO O

QUE FALAR DO CONTROLE DAS ARMAS QUE

ENTRAM NO PAÍS PELAS FRONTEIRAS?//

PARA O JORNALISTA VALMIR SALARO,

ESPECIALISTA EM COBERTURA POLICIAL, A

SITUAÇÃO DAS FRONTEIRAS É OUTRA//

(...) você tem uma fronteira seca que facilita a

entrada de armas. Acho que ali, sabe ali os

criminosos trazem armas. Usam o mesmo corredor

do tráfico de drogas, do contrabando de cigarros,

você usa o mesmo caminho. Por onde passou a

maconha, cocaína você traz arma ali. Que ali você

sabe o caminho, você pode corromper autoridades,

não só policiais, sabe. É uma fronteira extensa, me

lembro uma vez que estava passando pela fronteira

em uma das matérias que eu fui fazer, não sei se

era Bolívia, não sei, era não sei aonde, um desses

lugares assim, e o que me chamou muita atenção e

Page 132: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**SONORA** GC LUIZ CARLOS SANTOS

CARGO: Pres. CONDEPE Sec. Justiça

TEMPO: 02:09:54.26 - 02:11:56.00

**SONORA** GC BRUNO MANSO

CARGO: pesq. do Núcleo de Estudos da Violência - NEV

TEMPO: 00:40:18.00 - 00:42:42.50

**ILUSTRA IMAGENS BRASÍLIA E CONGRESSO**

GC: CPI

**IMAGENS PORTOS**

da nossa equipe, foi o fato da gente ao final da

tarde tinha uma guarita de policiais toda crivada de

bala. E não tinha ninguém. Aí mais pra frente a

gente parou num posto policial e perguntou, “não

ali não pode ficar ninguém, porque os criminosos

passam atirando. Se a gente quer fazer uma

segurança precisa ficar escondido no meio do

mato”. Isso já tem muito tempo, mais de 15 anos. E

nada mudou.

(...) Quando há um encontro dessas armas, que

são apreendidas, elas acabam retornando

novamente, de uma forma ou policial, ou por algum

agente do estado e acaba voltando para essa

climatizar, então ela fica assim (gesto com a mão)

circulando, ela tem uma rotatividade no

país...né...que acaba circulando em toda essa

esfera ilegalmente.

(...) No Brasil a arma em circulação é um contextual

sério, então quando a gente pensa em políticas

públicas, a gente pensa no que estamos lidando e

no caso do Brasil o problema de acesso a arma de

fogo sem dúvida é um problema vital para esse

desequilíbrio territorial que existe nesses lugares

com a taxa alta de homicídios, então existe uma

vasta discussão porque em alguns países a arma

produz violência.

SEGUNDO LEVANTAMENTO DA CPI SOBRE O

TRÁFICO DE ARMAS DE 2006, AS PRINCIPAIS

ROTAS DE ENTRADA DE ARMAS ILEGAIS NO

PAÍS SÃO AS FRONTEIRAS COM ARGENTINA,

BOLÍVIA, COLOMBIA, PARAGUAI, SURINAME E

URUGUAI, ALÉM DO TRÁFICO QUE CHEGA

NOS PORTOS DE SANTOS, RIO DE JANEIRO E

PARAGUÁI//

Page 133: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

GC FELIPPE ANGELI CARGO: coord. advocacia Sou da Paz

TEMPO: 03:47:50.00 - 03:53:48.10

**IMAGENS PMs/VIATURAS/ARMAS**

**SONORA** GC LUIZ CARLOS SANTOS

CARGO: Pres. CONDEPE Sec. Justiça

02:05:40.00 - 02:09:52.08

**IMAGENS

MILITARES/ARMAS/FORUM/TRIBUNAL DE JUSTIÇA/VIATURAS**

(...) temos problemas de fronteira, não tenho a

menor dúvida em relação à isso, existe

contrabando, seja de armas, cigarros, existe

contrabando, não tenha a menor dúvida, algumas

armas vem do Paraguai, inclusive algumas voltam,

só para fazer uma triangulação e fazer um nível de

rotatividade, mas essa não é a melhor parte, de

fato, uma coisa que a gente acompanhou, o

tema...um dos grandes problemas das armas de

fogo está relacionada a cenas institucionais, das

cenas de policiais, das cenas de empresas de

vigilância, isso é um grande problema, um grande

foco de desvio de armas de fogo, armas

apreendidas por exemplo, foi outra coisa que não

foi saída do papel exatamente.

Da mesma forma que um policial ele vende essas

armas, alguns desses policiais, muitas vezes tem

denúncias que soldados do exército roubam armas,

dentro de quartéis e vendem pro crime organizado.

Esse ciclo de...dessa criminalidade que acontece

na corporação policial e nos exércitos, que

acontecem muito, eles sempre vão continuar

vendendo estes tipos de armas. Porque são

pessoas que entram ali e roubam. Roubam e levam

para essas comunidades. Essas armas que

aparecem nas cenas do crime, são armas que são

roubadas, muitas vezes a gente vê, vira e mexe

fogos são roubados, são roubadas armamentos de

fogo, somem armas dentro de corporações,

policiais...somem armas do Exército, são raspadas

essa numeração, é...acabam aparecendo uma mão

de favelas, de milícias perícias e muitas vezes

aparece na mão de quem é executada.

Page 134: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**ILUSTRA IMAGENS DE ARMAS DE

TODOS OS TIPOS**

**IMAGENS CONECTAS RAFAEL**

GC RAFAEL CUSTÓDIO

CARGO: coord. da área de justiça – CONECTAS

01:30:31.01 - 01:34:49.50

**IMAGENS STF/PRÉDIOS BRASILIA**

APÓS TREZE ANOS EM VIGOR, O CONGRESSO

NACIONAL PLANEJA AFROUXAR O ESTATUTO

DO DESARMAMENTO.//

EM RESPOSTA, O COORDENADOR DA ÁREA

DE JUSTIÇA DO CONECTAS RAFAEL

CUSTÓDIO DESTACA COMO O ESTATUTO

CONTÉM PONTOS POSITIVOS E CONTRA AS

ALTERAÇÕES PROPOSTAS.//

O ministro que diz que não precisamos de

pesquisa, não precisamos de mais armas, ele acha

que acaba aderindo ideias muito pouco

inteligentes, essa me parece uma ideia distante da

realidade. No estatuto de desarmamento, que é

essa lei que ele quer mexer, trazer essas armas, é

um estatuto que é parâmetro, não só nacional

como internacional de boa política em

desarmamento. O estatuto de desarmamento

apresentou ao criar incentivos as armas, um

controle melhor da posse de armas, representou

estatisticamente uma redução de homicídios por ter

reduzido o número de armas, está provado não só

no brasil mas o brasil conseguiu fazer também

essa política e provar que menos armas em

circulação significa menos violência né e o estatuto

de desarmamento significa uma grande pedra no

sapato da indústria, é um estatuto que sempre foi

alvo de ‘lob’ de alimentícia, ‘lob’ de forças militares,

sempre há um ataque, desde seu nascimento ao

ataque à sua concepção, agora a novidade é com o

ministério da justiça se coloca alinhado à esses

grupos e que enxergam no estatuto um problema

de segurança pública.

A DISCUSSÃO EM TORNO DO ASSUNTO É

ACIRRADA POR DIVERSOS MOTIVOS//

Page 135: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**SONORA/ ARTE CBC**

GC: ex-executivo CBC

TC IN: 11:35 TC OUT: 12:27

**IMAGENS INVESTIGADOR**

**SONORA INVESTIGADOR**

GC: investigador – polícia civil

01:20:05:01 - 01:20:16:03

**SONORA DELEGADO** GC ARMANDO NOVAES

CARGO: delegado de área Civil

TEMPO: 09:31:00.00 - 09:21:00

**SONORA CONDEPE**

GC LUIZ CARLOS SANTOS CARGO: Pres. CONDEPE Sec. Justiça

02:12:53.10 - 02:13:43.00

(...) as empresas tanto que fazem munição, a

imbel, a cbc, a taurus, fomos pra cima dizendo que

vocês tão enganado. (...) Então, o direito de defesa

das pessoas, isso não pode ser tirado cara. Então

nós vamos tirar o carro, vamos tirar as cachaças,

vamo tirar as facas, porque tem muito crime por

causa disso.

UM INVESTIGADOR, QUE TAMBÉM PEDIU PARA

NÃO SER IDENTIFICADO POR MEDO DE

SOFRER REPRESÁLIAS, CONCORDA COM A

POSIÇÃO DO EX-EXECUTIVO//

DEIXA INICIAL: O ARMAMENTO DA

POPULAÇÃO...

DEIXA FINAL: ... NÃO É A SOLUÇÃO

Estados Unidos teve aquela época dos caubóis né,

todo mundo andava armado, mas ninguém ficava

se matando né, e até hoje as pessoas podem

adquirir armas lá e não ficam se matando. Agora

vai liberar arma aqui no Brasil pra você ver, aí vira

um faroeste aí na rua, qualquer briga de trânsito

nego vai sair se matando. Por isso sou contra até

esse negócio de liberar arma pra população que

não dá certo. É essa coisa explosiva né, não sei,

daí o cara briga e já pega a arma, lá eles sabem se

controlar. E é o que eu falo, acredito que vem

dessa parte de você ter uma formação, educação,

alguém que acompanha, alguém que te mostra o

que é certo o que errado.

Eu não concordei. Porque eu percebi que no futuro

o mercado negro ia ser muito mais caro. Naquela

época, você tinha um mercado negro, mas não era

tão restrito. Hoje você tem uma coisa proibida, e

Page 136: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**ILUSTRA CONGRESSO NACIONAL**

**ARTE : CONGRESSO**

que um outro mercado negro precisa dessas

armas. Então acabou se custando mais caro ter

uma arma, ilegal, porque o que é ilegal é bom né,

então você acaba percebendo que a proibição, ela

causou outro efeito colateral. Que são as armas

ilegais.

A DISCUSSÃO GIRA EM TORNO DA PL 3722/22,

QUE AFROUXARIA OS CRITÉRIOS PARA QUE

UM CIDADÃO COMPRE UMA ARMA

LEGALMENTE DA SEGUINTE MANEIRA://

TER VINTE E UM ANOS;

APRESENTAR RG E CPF OU CNPJ;

COMPROVANTE DE RESIDÊNCIA E EMPREGO;

ATESTAR CONDIÇÕES PSICOLÓGICAS E

TÉCNICAS;

DEPUTADOS E SENADORES TERIAM ACESSO

POR FORÇA DO CARGO;

PORTE DE ARMAS VÁLIDO POR DEZ ANOS//

A MEDIDA AINDA SUSTENTA QUE O

CADASTRAMENTO DOS PORTADORES SEJAM

GRATUITOS E QUE PESSOAS QUE ESTEJAM

RESPONDENDO A INQUÉRITO OU PROCESSOS

CRIMINAIS AINDA POSSAM TER ARMAS//

HOJE AS NORMAS EXIGEM QUE O CIDADÃO

TENHA VINTE E CINCO ANOS DE IDADE, NÃO

TENHA ANTECEDENTES CRIMINAIS, ALÉM DA

TAXA DE SESSENTA REAIS//

A NOVA PROPOSTA VAI PERMITIR QUE

Page 137: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**ILUSTRA HOMICÍDIOS/ARMAS** GC: PORTE DE ARMAS

**SONORA FELIPPE ANGELI** GC FELIPPE ANGELI

CARGO: coord. advocacia Sou da Paz

03:26:00.25 - 03:30:13.05

**IMAGENS HOMICIDIOS/POPULAÇÃO**

03:30:25.00 - 03:40:35.17

**ILUSTRA ARMAS**

BRASILEIROS POSSAM TER NOVE ARMAS E

ATÉ SEISCENTAS MUNIÇÕES AO ANO.

ATUALMENTE O LIMITE É DE CINCO ARMAS E

CINQUENTA MUNIÇÕES AO ANO.//

PORÉM, O QUE NÃO ESTÁ SENDO DISCUTIDO

É O RESULTADO QUE O ESTATUTO TEVE

SOBRE A TAXA DE HOMICÍDIO//

Em 2003, quando foi aprovado final de 2003, de

fato, você, a gente tinha, se você pegar dez anos

atrás anteriores ao estatuto, 93 mais ou menos 94,

a taxa de homicídio por arma de fogo, crescia em

media sete por cento ao ano, todo ano sete por

cento a mais de homicídio, seis virgula nove para

ser preciso, na virada do ano de 2003 , 2004, e

aprovado o estatuto e tem a primeira queda em

décadas em números de homicídios, queda

concreta do numero de homicídios depois de uma

estabilização dos dez anos posteriores, entre 2004

e 2014...Os números de homicídios... a taxa de

homicídios por armas de fogo continua crescendo

só que zero virgula três por cento, ou seja, e muito

claro que acontece essa queda (gesto com a mão)

em 2003, e aqui ela estabiliza e passa a ficar

praticamente numa reta [...] tem uma serie de

iniciativas, dentro do desarmamento que ele nunca

foi implementado, então ate nos que somos

defensores do armamento da legalidade da arma

de fogo e não e questão ideológica, não ha indicio

cientifico, não há evidencia acadêmica alguma que

aponte na direção contraria, não existe qualquer

informação seria produzida de forma (...) precisa de

fato, de forma acadêmica irrelevante que aponte a

maior circulação de armas de fogo representa

qualquer beneficio a população e justamente ao

contrario. Nos que lutamos tanto para esse controle

de armas, a gente muitas vezes se coloca numa

posição esquizofrênica pois a gente defende algo

que nunca foi implementado na sua totalidade e

Page 138: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**ILUSTRA IMAGENS DO SENADO**

**SONORA RENAN CALHEIROS** GC: PRES. DO SENADO FEDERAL

**ILUSTRA IMAGENS FOTOS E VÍDEOS DO MASSACRE – ORLANDO**

**ILUSTRA VIATURAS POLICIAIS AMERICANAS**

tem problemas (...) tem Estatuto, e o Estatuto esta

cheio de problemas (...) problemas porque qualquer

legislação sempre passiva de aprimoramento e

porque tem coisas que nunca saiu do papel.

PARA O PRESIDENTE DO SENADO, RENAN

CALHEIROS, A IDEIA DA NOVA PROPOSTA NÃO

VAI PARA FRENTE. EM DISCURSO NO

PLENÁRIO ELE COMENTOU OS MOTIVOS POR

QUAIS NÃO SE CONCRETIZARIA TAL

MUDANÇA NO ESTATUTO.

Pelo que nós conhecemos do senado federal, essa

matéria não tem absolutamente nenhuma

possibilidade de prosperar nesta casa, pela

contradição que significa, num momento como

esse de muita dificuldade, numa sociedade

caracterizada pela necessidade de conviver com

ódios, fanatismos de

Grupos. Mais uma vez, assistimos nos estados

unidos ao mal que a sociedade armada significa.

O FATO A QUE ELE SE REFERE É O

MASSACRE NA BOATE PULSE, EM ORLANDO,

NOS ESTADOS UNIDOS, EM JUNHO DE 2016.

QUANDO UM ATIRADOR ASSASSINOU CERCA

DE CINQUENTA PESSOAS E FERIU OUTRAS

CINQUENTA E TRÊS, ANTES DE MORRER EM

TROCA DE TIROS COM POLICIAIS.//

O CASO FOI CONSIDERADO O PIOR ATAQUE A

TIROS DA HISTÓRIA COM UM ÚNICO

ATIRADOR, SEGUNDO OS AGENTES FEDERAIS

AMERICANOS.//

Page 139: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

GC BRUNO MANSO

CARGO: pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência - NEV

00:40:18.00 - 00:42:42.50

**ILUSTRA FERNANDO HENRIQUE CARDOSO**

**SONORA FERNANDO HENRIQUE**

GC – EX PRESIDENTE DA REPÚBLICA/SOCIÓLOGO

30” GC: VIA INTERNET

**ILUSTRA IMAGENS TURISTAS RJ**

No caso dos eua é um problema também, hoje vem

sendo discutido isso, principalmente pelos

massacres que acontecem nas escolas, pessoas

que tem problemas mentais e deram várias

demonstrações de distúrbios e processos em arma

que acabam matando vários estudantes que você

toda vez que acontece nos eua. Agora é no brasil e

na américa latina o problema dos homicídios é

crônico, um dos cinquenta países mais violentos do

mundo, quarenta estão na américa latina, das

cinquenta cidades mais violentas, vinte e um está

(sic) no brasil. O brasil é o país mais violento do

mundo. Então você tem que pensar no contexto

que produz esses problemas. No brasil a arma em

circulação é um contextual sério, então quando a

gente pensa em políticas públicas, a gente pensa

no que estamos lidando e no caso do brasil o

problema de acesso a arma de fogo sem dúvida é

um problema vital.

O EX-PRESIDENTE DO BRASIL FERNANDO

HENRIQUE CARDOSO, QUE TAMBÉM É

SOCIOLOGO, EM VIDEO PUBLICADO NA

INTERNET, REPREENDEU ESSA REFORMA DO

ESTATUTO.//

O estatuto do desarmamento foi uma construção

política feita com a sociedade. E teve efeitos.

Reduziu o número de mortos que continua sendo

um absurdo. Como vamos agora derrubar esse

estatuto e

Permitir que até criminosos tenham legitimamente

armas? Isto é um escândalo! Por isso, faço um

apelo: que se recuse essa votação e que o plenário

mantenha o estatuto do desarmamento.

AFINAL, O BRASIL É UM PAÍS ACOLHEDOR E

PACIFÍCO, OU SERIA ISSO SÓ PRA GRINGO

VER?//

Page 140: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

GC DAVID MARQUES

CARGO: pesq. do Fórum Brasileiro de Seg. Pública

11:19:36:16 -11:22:08:24

** ILUSTRA ASSASSINATOS**

**ILUSTRA IMAGENS DE ARMAS**

GC: NÚMERO DE ARMAS

**ILUSTRA ARMAS DE FOGO/ SEDE UNESCO/ ASSASSINATOS**

GC: NUMÉRO DE TOTAL DE MORTES

FONTE: UNESCO/MAPA DA VIOLENCIA -2015

**ILUSTRA DIVERSOS TIPOS DE ARMAS** GC: NÚMEROS DE ARMAS

Desde as campanhas pelo desarmamento no

começo dos anos 2000. O ipea tem alguns estudos

sobre isso e a conclusão é clara: mais armas, mais

crimes, mais violência. Esse sentimento de

insegurança leva muitas vezes as pessoas a

imaginar que portar uma arma vai te tornar mais

seguro, vai te prevenir, ou vai possibilitar que você

reaja a um assalto e não tenha seu bem furtado,

não tenha seu bem roubado. Isso é falso, a gente

estudos dos anos 90 aqui em são paulo analisar os

casos de latrocínio, por exemplo, e vão apontar que

nos casos em que a pessoa tem uma arma ela é

mais vitimada letalmente do que nos casos de

quando você não tem uma arma. Então as

evidências empíricas estão aí, os estudos

sociológicos eles estão ai. No entanto, a gente tem

pressão de grupos políticos que estão associados a

essa questão mais militarizadas, (...) Por outro lado

você tem interesses político-econômico também

né? A indústria bélica no brasil ela cresceu muito...

SEGUNDO A PESQUISA DA ‘VIVA RIO’

PUBLICADA PELO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, EM

2010, O NÚMERO DE ARMAS DE FOGO ILEGAIS

NO PAÍS ULTRAPASSA SETE MILHÕES..//

EM RELAÇÃO A ISSO, A UNESCO LEVANTOU

DADOS DE QUE CENTO E DEZESSEIS

BRASILEIROS MORREM TODOS OS DIAS POR

ARMA DE FOGO. AINDA SEGUNDO A ONU, O

BRASIL É O PAIS COM O MAIOR NUMERO DE

MORTES POR BALAS PERDIDAS ENTRE OS

PAISES DA AMERICA LATINA E O CARIBE.//

HOJE, SEGUNDO O MAPA DA VIOLÊNCIA DE

2015, O BRASIL TEM CERCA DE QUINZE

MILHÕES DE ARMAS NAS MÃOS, SENDO

DESTAS, POUCO MAIS DE OITO MILHÕES NÃO

Page 141: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**SONORA**

GC investigador – polícia civil

00:37:58:23 - 00:38:38:16

**ILUSTRA SP AÉREO**

GC VALMIR SALARO CARGO: repórter policial – TV Globo

10:21:31.00 - 10:23:17.06

**ILUSTRA ARMAS/POLICIAS**

GC ARMANDO NOVAES CARGO: delegado de área pol. Civil

09:14:13:10 – 09:15:55:26

09:15:55:26 - 09:18:02:08

REGISTRADAS E PRÓXIMO DOS QUATRO

MILHÕES EM CONTROLE DOS CRIMINOSOS.//

Qual a coisa mais rentável no mundo? Tráfico.

Tráfico internacional. Quem acha que traficante

mora na favela ta errado. Líder do tráfico não mora

na favela tá. É em alguma região do brasil que não

é banhada por mar, é no centro-oeste, uma região

bem central do brasil, e tem fortes ligações

políticas. Então você tem interesse político em

minar o poder da polícia, desgastar a polícia,

desarmar a população, e deixar o crime prevalecer.

Até mesmo porque uma população com medo, é

muito mais fácil ser dominada.

PARA SALARO O CONTROLE DO TRÁFICO DE

ARMAS É ALGO COMPLEXO E FALTA UM

RECOLHIMENTO PADRONIZADO DE ARMAS

APREENDIDAS.//

A polícia quando apreende uma arma, essa arma

teria que ser levada pra delegacia, feita um

registro, e mandada pro fórum, né, pra saber a

origem, pra saber se essa arma foi usada em

algum crime. No mundo do crime chama de cabrito.

Então muitas vezes os policiais apreendem essas

armas e acabam negociando com os próprios

criminosos. Então, quer dizer, existe um tráfico

interno de armas aqui no brasil, porque tem muita

arma circulando, muita arma, e a arma que vem de

fora.

O que a gente sabe é que é algo meio aleatório,

tanto vem do paraguai, mas vem de outros lugares.

Arma roubada (tosse) da pm, arma do exército

desviada. Eu vi esses dias um caminhão do

exército traficando drogas. Tem três tenentes do

exército envolvidos. E o caminhão do exército

Page 142: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**ILUSTRA ARMAS E CIDADES

BRASILEIRAS MAIS FRONTEIRAS E

EXERCITO***

SOBE SOM

**ILUSTRA MANIFESTAÇÃO E IMAGENS AÉREAS**

TRILHA FALCÃO

SOBE CRÉDITOS

quem vai abordar na rua, e tava traficando drogas.

Então você vê arma do exército que vai parar na

mão de bandido, armas que já ouvi dizer que vem

pelo mar. Lá em santos eles pegam esses navios

que vêm de petróleo e etc, e muitos deles baixam

as armas em lanchas. [...] Mas essa história da

fronteira eu não sei, né? O governo estadual quer

jogar a culpa no federal que fiscaliza a fronteira,

isso é um jogo mais político né? Mas esse das

armas é muito aleatório. Você vê armas de

diversos lugares chegando aqui. Em tese eles

teriam que encaminhar pro exército né? Já que é

obrigatório encaminhar essas armas para o

tribunal. A função do exército é destruir essas

armas, agora o porquê do não encaminhamento é

questão da magistratura se pronunciar, porque eu

não tenho como entender porque eles não dão

esse destino final, essa destruição, que é o certo.//

Page 143: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

RETRANCA: EPISODIO 4

PAUTA: TERROR URBANO

EDITOR: EDITOR: RENAN FAGALDE/

ALYSSON RODRIGUES/ÉDIGLEI LEANDRO

TEMPO: 30’28”

**ILUSTRA IMAGENS

POLÍCIAIS/ASSASSINATOS** 31”

** IMAGENS DE POLICIAIS **

**RODA VHT **

25”

**IMAGENS PESSOAS/POLICIAIS**

FALAR SOBRE OS PROBLEMAS POLICIAIS NO

BRASIL É NECESSÁRIO E CONTROVERSO//

NA ETERNA GUERRA DESSE MUNDO CÃO,

HOMENS E MULHERES ARRISCAM A VIDA

DIARIAMENTE PARA MANTER UM SEMBLANTE DE

LEI E ORDEM PELO BRASIL AFORA//

AO MESMO TEMPO ESTES HOMENS E MULHERES

MUITAS VEZES SÃO OS PRIMEIROS A QUEBRAR A

LEI QUE DEVERIAM RESPEITAR//

A CONFIANÇA NA POLÍCIA É BAIXA E TEM RAZÃO

DE SER//

O BRASILEIRO AS VEZES PRECISA DA POLÍCIA/ O

BRASILEIRO AS VEZES É VÍTIMA DA POLÍCIA// A

POLÍCIA, MUITAS VEZES, É VÍTIMA DELA PRÓPRIA//

PARA MUITOS A POLÍCIA É UMA INSTITUIÇÃO

FORMADA POR HERÓIS MAL PAGOS QUE

ARRISCAM A VIDA PELO NOSSO BEM-ESTAR. E

COMO QUALQUER OUTRO TRABALHADOR SÓ

QUEREM VOLTAR PARA CASA NO FINAL DO

EXPEDIENTE// UM INVESTIGADOR QUE NOS DEU

ENTREVISTA SOB CONDIÇÃO DE ANONIMATO, POR

TEMER REPRESÁLIAS, CONTA O QUE SE PASSA NA

CABEÇA DE UM POLICIAL//

Page 144: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**SONORA**

GC: Investigador 00:03:45 - 00:04:08:13

**ILUSTRA ABORDAGEM

POLICIAL/VIATURAS**

**SONORA MANIFESTANTE**

**ILUSTRA IMAGENS MANIFESTAÇÃO/POLÍCIA**

**SONORA**

GC: DJAMILA RIBEIRO Secretária-Adjunta de Direitos

Humanos de São Paulo

00:22:33.06 - 00:23:33.05 ** ILUSTRA POLICIAIS/ÁGUIA –

PM/VIOLÊNCIA POLICIAL**

Deixa inicial: [...] você tem hoje em dia uma teoria...

Deixa final: quer voltar pra casa vivo simplesmente.

PARA MUITOS OUTROS A POLÍCIA,

PRINCIPALMENTE A MILITAR, É SINÔNIMO DE

MEDO, CORRUPÇÃO, AMEAÇAS, CHACINAS E

TRUCULÊNCIA DIRECIONADA CONTRA A

POPULAÇÃO NEGRA E POBRE //

Porque historicamente toda a democracia –estado de

direito (?) – não precisa de uma polícia militar, porque

militar você pressupõe um inimigo interno ou externo e a

população não é inimigo né. Então uma polícia civil bem

treinada pra lidar com a população seria o ideal mas...

no nosso país tá difícil o ideal né.

A polícia não funciona. Eu acho... Minha pauta é muito

pela questão da desmilitarização da polícia, a forma que

ela foi constituída não tem como né, porque já foi

pensada justamente no sentido de exterminar, por esse

olhar... Eu acho que a gente tem que pautar, pensar na

segurança de outras formas né. De formas mais

comunitárias, como cada comunidade pode pensar

isso...Porque pensar por esse viés da polícia não resolve

né, então as pessoas falam pra melhorar a segurança,

que a gente ta sendo assaltado e tal, vai falar isso para

um jovem negro da periferia, o que que é ter mais

polícia. Esses jovens eles sabem como eles são tratados

pela polícia né, então eu acho que não vai dar pra gente

pensar nesse país, mudar essa lógica, enquanto a gente

tiver polícia militar, enquanto a polícia militar estiver

agindo, ser o grande agente responsável pelo extermínio

dessa população, porque ta dentro da ideologia né,

dessa instituição.

Page 145: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**ILUSTRA IMAGENS

INVESTIGADOR**

**SONORA**

INVESTIGADOR 00:03:10 - 00:03:39

**ILUSTRA POLICIAIS/MORTES**

GC: FONTE

**SONORA JULIO JACOBO**

GC: Julio Jacobo Waiselfiz Pesq e autor - Mapa da Violência

22:08 - 22:46

**SONORA** FALA POVO

GC: Eloisio da Silva 06:53:48:26 - 06:54:00:26

É O CLICHÊ DO POLICIAL BOM E POLICIAL RUIM, E

VOCÊ PODE JÁ TER ENCONTRADO ALGUNS QUE

SE ENCAIXAM NESSES EXEMPLOS//

VAMOS COMEÇAR FALANDO DOS INVESTIMENTOS

EM SEGURANÇA//

Deixa inicial: a infraestrutura tá fraca, isso você vê..

Deixa final: ...pouca gente na rua

SEGUNDO DADOS DO ANUÁRIO DOIS MIL E QUINZE

DO FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA,

FORAM GASTOS SETENTA E UM BILHÕES E

DUZENTOS MILHÕES DE REAIS EM SEGURANÇA

EM DOIS MIL E QUATORZE, UM AUMENTO DE

DEZESSEIS VÍRGULA SEIS POR CENTO ANTE DOIS

MIL E TREZE//

ENTRETANTO, O NÚMERO DE HOMICÍDIOS NO

BRASIL NÃO CAIU//

(...) já há vários anos que se está investindo

maciçamente, se construíram cárceres, um nível de

encarceramento feroz, há uma guerra na rua que todos

os dias malandro metralha polícia e polícia metralha

malandro. Não está dando nenhum resultado. Então

porque continuar insistindo na mesma estratégia se já se

comprovou que não dá resultado? Porque há interesses

em jogo, tem muita grana ai em jogo, e onde tem grana

você sabe mais ou menos qual é a questão.

[...] a maioria dos policiais, dos funcionários não

recebem. O governo não tem dinheiro, pra onde foi esse

dinheiro? Eu falo mesmo, o dinheiro foi roubado, o

dinheiro é trambique deles, eu não admito isso...

Page 146: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**SONORA DELEGADO**

GC: Armando Novaes

Delegado de área da pol. Civil 08:56:30 - 08:57:37

** ARTE

Anuário FBSP 2015 **

**ILUSTRA IMAGENS DO

BRASIL/FRANÇA/ALEMANHA/ ESPANHA/ REINO UNIDO **

GC: INVESTIMENTOS

GC: MORTES

** ILUSTRA IMAGENS DE HOMICIDIOS/CIDADES **

GC: MORTES

**SONORA**

GC: Julio Jacobo Waiselfiz Pesq. e autor - Mapa da Violência

09:46 - 13:26 14:30 - 20:23

Deixa inicial: [...] eu acho que o foco é errado...

Deixa final: ...é investigação.

DE ACORDO COM UM COMPARATIVO FEITO PELO

FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA

SOBRE O NÍVEL DE INVESTIMENTOS, O BRASIL

DESEMBOLSOU EM DOIS MIL E QUATORZE, EM

RELAÇÃO AO PRODUTO INTERNO BRUTO, UMA

SOMA MAIOR QUE A FRANÇA EM SEGURANÇA

PÚBLICA, UM VÍRGULA TRÊS POR CENTO DO PIB

CONTRA UM VÍRGULA DOIS POR CENTO GASTOS

PELOS FRANCESES//

NA MESMA COMPARAÇÃO INVESTIMOS POUCO

MENOS QUE A ESPANHA, APESAR DO PIB NOMINAL

BRASILEIRO SER MAIOR/ OS ESPANHÓIS

GASTARAM UM VÍRGULA CINCO DO PRODUTO

INTERNO BRUTO COM SEGURANÇA PÚBLICA,

MESMO NÍVEL QUE OS BRITÂNICOS//

EM DOIS MIL E QUATORZE A FRANÇA TEVE

APENAS SETECENTOS E SETENTA E SETE

HOMICÍDIOS, A ESPANHA SÓ TREZENTOS E DOIS E

O REINO UNIDO SEISCENTOS E DOIS//

O BRASIL, COMO JÁ DISSEMOS, É O CAMPEÃO

ISOLADO COM MAIS DE CINQUENTA E OITO MIL

VÍTIMAS DE MORTES VIOLENTAS POR ANO,

SEGUNDO O ANUÁRIO E O MAPA DA VIOLÊNCIA DE

DOIS MIL E QUINZE//

Exatamente, o Brasil, em 59 mil homicídios, quase 60

mil homicídios em 2014, [o Brasil] é o Estado que mais

mata quantitativamente no mundo.

[...] Em 2013, por exemplo, se registraram 40 conflitos

armados no mundo: Síria, Iraque, Bangladesh etc., onde

houve conflitos armados, ou internos ou entre países.

Page 147: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**ILUSTRA IMAGENS GUERRAS**

**SOBE SOM: TIROS**

**SONORA VALMIR SALARO**

GC: Valmir Salaro Repórter policial – TV Globo

09:50:50 - 09:52:29

Em 40 conflitos armados morreram aproximadamente

25-29, 20 e poucas mil pessoas. No Brasil, sem conflitos

armados com ninguém, sem conflitos de fronteira, sem

conflitos religiosos – pelo menos não conflitos armados –

sem conflitos devido à língua, como em alguns países

como o Canadá. Sem nenhum desses tipos de conflitos

consegue matar muito mais gente que 40 conflitos

armados no mundo somados

[...] ali vocês citam 60 mil homicídios, são 164 casos por

dia, quer dizer não tem guerra no mundo que mata isso.

Você tem varias países em guerra no Oriente (Médio)

que não mata isso. A pesquisa e a comparação que

vocês fizeram no trabalho de vocês eu concordo

plenamente. Quando eu converso com as pessoas eu

sempre cito isso. Quer dizer, você tem no Brasil um

número elevado de homicídios sem que o país esteja em

guerra. E além do número altíssimo, que é chocante,

você tem um outro dado que a polícia não chega a

esclarecer nem 8% dos homicídios. Quer dizer, acho

que estou até exagerando nessa porcentagem, mas a

polícia não esclarece. Então muitos assassinos estão

hoje impunes. A questão dos latrocínios que são os

criminosos que matam pra roubar. Só essa semana, por

coincidência, nessa semana do 7 de setembro, acho que

foram 4 casos de domingo até agora em São Paulo. A

gente não sabe em outras cidades do Estado, em outras

capitais, em outros lugares do Brasil, que são mais

violentos que São Paulo. Hoje São Paulo já não está

mais entre as cidades mais violentas do Brasil, é uma

das, mas hoje o Nordeste lá não existe lei, lá existe a lei

do mais forte. Quer dizer, quem pode pega uma arma e

mata e não tá preocupado com justiça, com

investigação, em ser preso, quer dizer absolutamente

nada né.

NO NORDESTE FICA A CIDADE MAIS PERIGOSA DO

Page 148: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**ILUSTRA SIMÕES FILHO**

GC: MAPA DA VIOLÊNCIA

INSERIR ARTE NOTA SSP-BA

**ILUSTRA HOMICÍDIOS**

BRASIL SEGUNDO O MAPA DA VIOLÊNCIA DOIS MIL

E QUINZE: O MUNICÍPIO BAIANO DE SIMÕES FILHO,

A MENOS DE TRINTA QUILÔMETROS DE

SALVADOR//

COM UMA TAXA DE HOMICÍDIO DE CENTO E VINTE

E SEIS ASSASSINATOS POR CEM MIL HABITANTES

E APENAS UMA DELEGACIA, OS NÚMEROS DA

PEQUENA CIDADE COM POUCO MAIS DE CEM MIL

PESSOAS SÃO ATERRADORES//

A SECRETARIA DE SEGURANÇA DA BAHIA,

ENTRETANTO, QUESTIONOU POR MEIO DE NOTA A

METODOLOGIA DOS ESTUDOS QUE CHEGARAM A

ESSES NÚMEROS//

DIZENDO QUE DIFERENÇAS NAS METODOLOGIAS

USADAS PARA CONTABILIZAR O NÚMERO DE

HOMÍCIDIOS EM CADA ESTADO INDUZEM A UM

ERRO GROSSEIRO, A SECRETARIA AFIRMA QUE

ISSO PREJUDICA ESTADOS TRANSPARENTES NA

DIVULGAÇÃO DE DADOS E PROTEGE AQUELES

QUE USAM MANOBRAS PARA MASCARAR A

REALIDADE//

ABRE ASPAS, PROVA DISSO É A UTILIZAÇÃO DA

CATEGORIA “MORTES A ESCLARECER”, POR

PARTE DE ALGUNS ESTADOS, QUANDO DA

OCORRÊNCIA DE CRIMES CONTRA A VIDA SEM

ELUCIDAÇÃO. NA BAHIA, TODOS AS OCORRÊNCIAS

ENVOLVENDO MORTES, INDEPENDENTE DA

INVESTIGAÇÃO OU ELUCIDAÇÃO, SÃO

CONSIDERADOS CRIMES VIOLENTOS LETAIS

INTENCIONAIS. O MESMO ACONTECE COM

OCORRÊNCIAS QUE ENVOLVEM MAIS DE UMA

VÍTIMA. CADA MORTE É CONSIDERADA UMA CVLI,

DIFERENTE DE OUTROS ESTADOS QUE

CONSIDERAM CHACINAS COMO UM CRIME ÚNICO.

FECHA ASPAS//

Page 149: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**SONORA**

JULIO JACOBO

TC IN: 06:53

TC OUT: 09:11

**ILUSTRA CIDADE**

**SONORA**

GC: David Marques

FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA

TC IN: 11:01:25

A SECRETARIA DA BAHIA AFIRMA ENTENDER QUE

ENQUANTO NÃO HOUVER UM PADRÃO PARA A

CONTABILIZAÇÃO DE HOMICÍDIOS NÃO HÁ COMO

FAZER COMPARATIVOS FIEIS AOS FATOS, E

TAMBÉM QUE O PRÓPRIO MAPA DA VIOLÊNCIA

CHAMA ATENÇÃO PARA A DIFERENÇA DA COLETA

REALIZADA PELOS ESTADOS//

LEVAMOS O QUESTIONAMENTO FEITO PELA

SECRETARIA DE SEGURANÇA ATÉ O AUTOR DO

ESTUDO//

É claro, qual é o questionamento sobre Simões Filho?

Geralmente esse questionamento sai dos três ou quatro

que estão em primeiro lugar (no ranking de violência).

[...] Nossos dados não coincidem com os dados e se fala

abertamente isso, não coincidem com os dados da

Secretaria. Por quê? Porque os dados da secretaria são

trabalhados politicamente. O que se quer dizer? Se se

quer aumentar se aumenta, se se quer diminuir, diminui.

Porque não há nenhuma legalidade, enquanto as

certidões de óbito têm leis que estabelecem como são

formuladas etc., o boletim de ocorrência cada um faz o

que bem entender, cada Estado. E fazem o que bem

entendem em muitos casos.

OS DOIS PRINCIPAIS ESTUDOS SOBRE O NÚMERO

DE HOMICÍDIOS NO BRASIL, O MAPA DA VIOLÊNCIA

E O ANUÁRIO DO FÓRUM BRASILEIRO DE

SEGURANÇA PÚBLICA, CRITICAM A FALTA DE

TRANSPARÊNCIA E CONFIABILIDADE DOS DADOS//

[...] tem uma questão em alguns estados de dificuldade

técnica e de pessoal, condições objetivas mesmo pra

produzir esse dado. Você tem situação, como aqui em

São Paulo, que a gente verifica na verdade que os

próprios gestores por considerar que esses dados já

estão sendo publicado, que esse dado já ta público pra

Page 150: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

TC OUT: 11:04:06

**ILUSTRA CONGRESSO**

**ILUSTRA MORTOS/POLÍCIA**

**SONORA**

GC RAFAEL CUSTÓDIO CARGO: coordenador da área de

justiça – CONECTAS TC IN: 01:02:56.24

TC OUT: 01:05:18.20

quem quiser ir atrás procurar e desenvolver. Eles vêm

que essa transparência já ta consolidada por essa

publicação. Na verdade o que a gente tem que apontar

cada vez mais é essa transparência ativa e da

construção desses critérios de comparabilidade entre os

estados. Isso historicamente é uma pauta difícil. No

Brasil principalmente essa pauta da transparência ela é

complicada porque, muitas vezes os interesses políticos,

eleitorais e você mostrar um dado mais transparente

pode ser de fato prejudiciais num primeiro momento

pra... esses políticos entendem dessa forma, né.

NOS DADOS DO FÓRUM CONSTA QUE DO NÚMERO

TOTAL DE MORTOS EM DOIS MIL E QUATORZE,

TRÊS MIL E NOVE PESSOAS FORAM MORTAS PELA

POLÍCIA, UM CRESCIMENTO DE QUASE QUARENTA

POR CENTO DA LETALIDADE POLICIAL EM

COMPARAÇÃO A 2013//

O NÚMERO DE POLICIAIS MORTOS, EM

COMPARAÇÃO, FOI DE TREZENTOS E NOVENTA E

OITO NO MESMO ANO, UMA QUEDA DE DOIS E

MEIO POR CENTO ANTE 2013//

ISSO SIGNIFICA QUE A POLÍCIA MATA QUASE DEZ

VEZES MAIS DO QUE MORRE, E O QUE PODE

EXPLICAR A VIOLÊNCIA DA POLÍCIA BRASILEIRA?//

Acho que são várias...várias causas estruturais que

acabam refletindo neste cenário que você está dizendo,

se a gente pensar em uma perspectiva...é histórica a

criação da polícia no Brasil, a gente vai ver que a polícia

foi criada para lidar de modo violento com populações

mais marginalizadas, principalmente ali no período pós-

escravidão, ou seja, a polícia se organiza naquela época

do Brasil pós império, para controlar essa população

para que ela não cometesse delitos ou perturbasse a

ordem pública das cidades do Brasil. Esse DNA da

corporação, infelizmente se manteve, a gente não viu

Page 151: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**SONORA**

GC INVESTIGADOR

**SONORA NEV**

GC: Bruno Paes Manso

Coordenador do núcleo de violência - NEV

TC IN: 00:19:20.04

TC OUT: 00:22:29.05

**ILUSTRA COM ABORDAGEM**

uma grande reforma desse DNA da polícia brasileira, ou

seja, é uma polícia pensada para lidar e trucar de modo

violento com as populações marginalizadas...

Numa abordagem, uma coisa que é muito ruim numa

abordagem, quando você vai abordar um bandido, você

falou da truculência policial, quando você for abordar

realmente um bandido, se você for na educação, é a

chance dele reagir é de 90%. Por quê? Ele acha que ele

pode, ele fala “puts, esse cara é um coió”, “ele é um

daqueles despreparados”, e ele vai tentar reagir. E é daí

que sai as grandes cagadas porque, ou o policial morre

ou o policial mata. Quando um policial aborda, ele não

pode ir com muita educação, isso é experiência própria

ta, eu já tentei fazer uma abordagem, e fiz essa...

quando eu trabalhava na rua, eu fiz esses dois tipos de

abordagem. Fazer uma abordagem educada, o pessoal

vinha, virava, já começava a discutir, você já tinha que

ficar olhando, um tava com uma faca na cintura, então

você tem isso... Agora quando você chega mais duro,

mais firme, o pessoal já... Ele não reage

ESSE TIPO DE ABORDAGEM, QUE TEM RAÍZES

ANTIGAS, NÃO TEM DADO RESULTADO//

[...] a militarização da polícia nos moldes a partir de uma

nova legislação em 69, na ditadura militar a polícia

começou a ser treinada no combate à guerrilha. Na

época a guerrilha urbana era muito forte aqui em SP no

decorrer dos anos começou os inimigos, os comunistas

foram vencidos, mas o bandido virou o grande inimigo

da cidade e do Estado e muito das formas de extermínio

que foi aplicado nesta forma continuam sendo aplicadas

aqui em SP. Você tem uma questão de estrutura policial,

que e problemática e você tem o problema da polícia

militar e civil. E muitas vezes muitas pessoas acham que

o extermínio e a violência acabam sendo uma forma de

controlar o crime. Isso de alguma forma foi tolerado em

alguns anos, no judiciário, no MP. [...] Então além

Page 152: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**SONORA**

GC: Luiz Carlos

Condepe-SP

TC IN: 01:24:32.00 (CLIP 00003)

TC OUT: 01:26:04.00

**ILUSTRA LINCHAMENTO**

**SONORA**

GC: David Marques

FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA

TC IN: 11:11:49:12

TC OUT: 11:14:20:21

**ILUSTRA

dessas violências você também tem milícias formadas e

sempre acreditando que a violência e uma solução, ao

invés de um problema. A violência pode controlar o

crime, a gente tem visto que é uma falácia.

Se tornou uma cultura, militarismo é engendrado no

Estado de São Paulo, muitas vezes treinado para

guerrilha, treinado para eliminar alvos na sua frente e

acaba matando e essa situação de impunidade que

estamos falando também, isso faz com que traz “isso

não dá nada pra ele então também não vai dar nada pra

mim, eu vou atirar, essa arma vai disparar”, e aí vem a

desculpa que a arma disparou, que foi sem intenção de

matar, a legislação muito frouxa nesse sentido o policial

mata, consegue o habeas corpus para sair, responde em

liberdade, enquanto outros apodrecem na cadeia né,

mas era um policial militar, residência fixa, então ele

acaba não respondendo da forma que tem que

responder. Então isso faz com que a Polícia acabe

matando mais e sempre é a Policia Militar, nós temos

poucas reclamações com a Polícia Civil, mas a polícia

militar toda semana tem ocorrências dela. E aí a gente

vai ver com o familiar o que que aconteceu e não é a

história que tá no boletim de ocorrência.

PARTE DESSES ABUSOS ACONTECE DEVIDO À

CRENÇA QUE MUITOS BRASILEIROS TÊM NA

FRASE “BANDIDO BOM É BANDIDO MORTO” ,

SEGUNDO PESQUISA DO FÓRUM BRASILEIRO DE

SEGURANÇA PÚBLICA E DO DATAFOLHA EM DOIS

MIL E QUINZE, CINQUENTA POR CENTO DOS

BRASILEIROS CONCORDAM QUE BANDIDO BOM É

BANDIDO MORTO.//

eu acho que a gente tem esse processo de uma

dinamização muito grande do crime, as dinâmicas

criminais se pluralizam, elas se intensificam,

principalmente a partir dos anos 90 no Brasil, e as

grandes metrópoles, o crescimento das grandes

Page 153: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

MANIFESTAÇÕES/TROPA**

**ILUSTRA VIOLÊNCIA POLICIAL/ EXECUÇÃO PM**

metrópoles, e uma maior vitimização mesmo da

população gera esse sentimento de insegurança. E pra

isso a gente tem também esses setores sociais que

apostam nessas soluções que são mais autoritárias,

mais violentas para o controle do crime, pra diminuição

da violência. A análise que eu faço é que de fato esse

tipo de controle, esse tipo de resposta a violência ele

gera mais violência e ele não tem dado certo. Então os

nossos homicídios estão crescendo, uma dificuldade

muito grande de reduzir a questão dos roubos a nível

nacional, então esse resposta não vem dando certo.

Esse enunciado do bandido bom é bandido morto ele

dialoga com tudo isso. Uma sensação muito grande de

insegurança apela pra que a violência vai de fato

atenuar esses males, essas mazelas. [...] Há outros,

mas a gente não pode sempre ficar refém de um

discurso de urgência que você vai sempre ali apagando,

apagando você não tem um grande planejamento pra

área de segurança a longo prazo. Isso é uma coisa

muito difícil de se fazer. Você não tem grandes reformas

no sistema, então todas essas questões contribuem

pra... pro reforço da mesma solução que não dá certo,

não vem dando certo e os dados demonstram isso.

A POPULAÇÃO ACUADA ACABA ENTÃO APOIANDO

A VIOLÊNCIA MAIOR POR UM SENTIMENTO QUE

MISTURA ESPERANÇA E VINGANÇA// ESPERANÇA

DE QUE ISSO TALVEZ RESOLVA UM PROBLEMA

IMEDIATO, E VINGANÇA POR TER ALGUM

SEMBLANTE DE JUSTIÇA//

GRUPOS DE EXTERMÍNIO COMO A FAMOSA

ESCUDERIE LE COCQ, O ESQUADRÃO DA MORTE E

AS MILÍCIAS DO RIO SÃO EXEMPLOS DO

RESULTADO DISSO/ POLICIAIS QUE ATUAM FORA

DA LEI CUSTE O QUE CUSTAR, TENTANDO

SILENCIAR QUEM SE OPÕE OU DENUNCIA OS

ABUSOS//

Page 154: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**SONORA**

VALMIR SALARO

TC IN: (CLIP 00016) 09:48:10.00

TC OUT: (CLIP 00016) 09:49:25.00

**SONORA**

Luiz Carlos

TC IN: 01:08:48.00

(CLIP 00003)

TC OUT: 01:10:47.00

**ILUSTRA CORPOS**

Já recebi ameaça. Já recebi ameaça principalmente

quando você denuncia falcatruas, corrupção e violência

de policiais militares. Me lembro, há uns 15 anos atrás,

aqui na própria TV, eu e o Robson Ceranto, que é um

produtor, a gente fez uma série de matérias

denunciando policiais militares de Guarulhos que depois

do trabalho formavam grupos de extermínio a mando de

comerciantes, de pequenos comerciantes da região.

Eles iam pras ruas e sequestravam e matavam jovens,

pequenos delinquentes, pequenos ladrões que

infernizavam a vida desses comerciantes. Quer dizer,

naquela época eu recebi algumas ameaças veladas,

outras “ó toma cuidado, esse assunto é muito delicado,

você tem família”. As ameaças acho que fazem parte de

quem cobre a área policial e quando vai pra uma área

pra denunciar a ação violenta da polícia civil, da polícia

militar ou da violência do Estado contra a população.

[...] durante minha carreira nos direitos humanos foram

mais de 20 ameaças e um sequestro. 2009 eu fui

sequestrado por policiais e esse foi o fato maior e mais

agravante que foi que deu para eu incluir dentro do

programa, de lá pra cá eu não pude ser desligado do

programa de defensores. Eu havia denunciado um grupo

de extermínio na região Sul de São Paulo, e esse grupo

abordou o meu carro e fomos para trás do cemitério, e lá

havia policiais, alguns deles eu conhecia... e foi dado o

recado. A intenção não era matar, a intenção era dar o

recado, e nesse dia foi exposto várias fotos de filhos, de

familiares, dizendo que acidente poderia acontecer. Ai

foi que eu retirei os familiares e acabei entrando dentro

do programa de proteção, porque não é só um fato, era

só uma sequência de denúncias de mais de dez anos

que foram na região, e foi se somando, então chegou

um momento ao fato de se sequestrar.

ALÉM DE AMEAÇAS E SEQUESTROS, EXISTE

TAMBÉM A SIMPLES ALTERAÇÃO DE CENAS DE

Page 155: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**SONORA**

GC DELEGADO

TC IN: 09:10:38

TC OUT: 09:12:00

TC IN: 09:13:31

TC OUT: 09:14:13

**ILUSTRA IMAGENS ACELERADAS/SECRETARIA DE

JUSTIÇA**

**SONORA**

CONDEPE:

TC IN: 01:14:14 (CLIP 0003)

TC OUT: 01:15:03

**SONORA**

DELEGADO

TC IN: 09:08:41

TC OUT: 09:09:50

**ILUSTRA POLICIAIS**

**ILUSTRA CENTRO SP/MANIFESTAÇÃO**

CRIME PARA ESCONDER UMA EXECUÇÃO, POR

EXEMPLO, COMO CONTA O DELEGADO//

Deixa inicial: então é uma situação que eles se veem a

mercê...

Deixa semifinal: ...é uma proteção aos que trabalham

errado. [...] (Obs: ou até socorre o morto, TC vai até

isso)

Deixa reinicio: pro delegado chega sempre essa

historinha...

Deixa final: houve mais essa execução mesmo que a

gente fala.

O PRESIDENTE DO CONSELHO DE DEFESA DOS

DIREITOS DA PESSOA HUMANA DA SECRETARIA

DE JUSTIÇA E O DELEGADO TAMBÉM CRITICAM A

CORREGEDORIA DA PM EM SP//

DX INICIAL: não, até requisitar inquérito policial...

Dx final: ...tenha acesso às investigações.

Dx inicial: o que eu percebo...

Dx final: ...tão na rua trabalhando

ENQUANTO CONTINUAM ESSAS BRIGAS INTERNAS

E OS ABUSOS, O NÚMERO DE HOMICÍDIOS

CONTINUA CRESCENDO//

O BRASILEIRO PAGA IMPOSTO, SOFRE E DEPOIS

MORRE E POUCOS PROTESTAM A VIOLÊNCIA//

Page 156: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**SONORA**

VALMIR SALARO

TC IN 09:53:14

TC OUT 09:54:50

TC IN: 10:00:22

TC OUT: 10:02:14

MUITOS NEM SABEM, NEM LIGAM, E AINDA APOIAM

A VIOLÊNCIA PARA RESOLVER A VIOLÊNCIA, A

GASOLINA PRA APAGAR O FOGO//

[...] o brasileiro se acomodou com isso. É uma

acomodação e aquela sensação de “isso não vai

acontecer comigo, pode acontecer com meu vizinho,

mas não vai acontecer comigo”. E de repente acontece

com alguém da família ou com ele próprio. Então é essa

acomodação, essa falta de cobrança por parte da

sociedade, como você disse, de querer uma polícia

eficiente, menos corrupta, que possa cumprir o papel

dela, que é proteger a sociedade. Vejo não de hoje, mas

de muito tempo, existe um elo entre polícia e bandido. E

esse elo, esse círculo se alimenta entre bandidos e

policiais, e isso leva ao que? Ao aumento da violência,

ao aumento da corrupção, e ao medo das pessoas, mas

o medo das pessoas também não impede que elas

saiam de casa para trabalhar. [...] e a sociedade, por seu

ponto, não cobra e não questiona. Por que que eu pago

meus impostos e a Segurança Pública não é uma

segurança de primeira linha? Como não é também a

questão da saúde, do ensino e de outras questões no

Brasil.

Então, acho que a gente vive uma cultura de extrema

violência. Então é a lei do mais forte e quem, e você tem

uma camada da sociedade brasileira que apoia a ação

desses grupos, não só de policiais violentos, como de

esquadrões da morte, de grupos de extermínio [...] São

crimes que foram cometidos, muitos desses crimes não

foram esclarecidos até hoje, e mesmo assim, com toda

essa violência contra os supostos criminosos, o crime

não cedeu, o crime só aumenta. Então pra quem

defende essa tese de que bandido bom é bandido morto,

acho que é um grande equívoco, porque amanhã ou

depois um filho dessa pessoa pode ser confundida com

um criminoso e ser assassinada. E na verdade é uma

pessoa de bem, um estudante. Porque na hora do

Page 157: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

**ILUSTRA TROPA DE CHOQUE PAULISTA**

CRÉDITOS

tiroteio os policiais não vão parar pra perguntar então

você tem que conter a ação da polícia, entendeu? O

policial, qual que é o papel dele? É proteger a

sociedade, é sair para combater o crime, prender o

suspeito, entregar na delegacia e deixar a justiça fazer o

trabalho dela, entendeu? Porque você teria que cobrar

todo o sistema de segurança do país, né? Que é polícia,

que é justiça, ministério público, e nada funciona.

Page 158: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

RETRANCA: EPISÓDIO 5 -

FINAL

PAUTA: SOLUÇÃO

EDITOR: ALYSSON RODRIGUES/ED LEANDRO/RENAN

FAGALDE

TEMPO: 32’19”

IMAGENS UTLIZADAS NOS EPISÓDIOS

ANTERIORES

IMAGENS DE VIOLENCIA, MORTES E ARMAS

IMAGENS DE VIOLENCIA, MORTES E ARMAS E

BRASIL

*RODA VHT - PADRÃO** 30”

IMAGENS CIDADES BRASILEIRAS

GC: 1Ø ISLANDIA .... 103 BRASIL

FONTE: IGP

IMAGENS DA ISLÂNDIA, BRASIL, COLÔMBIA E

VENEZUELA

IMAGENS DA ISLÂNDIA, BRASIL, COLÔMBIA E

VENEZUELA

GC: ÍNDICE DE VIOLÊNCIA

IMAGENS DE POLICIAIS E ASSASSINATOS

ESTAMOS HÁ QUATRO EPISÓDIOS TRATANDO DOS FATORES

QUE CONTRIBUEM PARA O ALTO NÚMERO DE HOMICÍDIOS NO

BRASIL.//

O BRASILEIRO CONVIVE COM MEDO DE SE TORNAR MAIS UM

NÚMERO ENTRE OS CERCA DE SESSENTA MIL ASSASSINADOS

A CADA ANO//

SERÁ QUE EXISTEM SOLUÇÕES? O QUE PODERIA SER POSTO

EM PRÁTICA PARA QUE A SOCIEDADE BRASILEIRA SEJA MENOS

VIOLENTA?//

QUEM QUISER CONTINUAR ACREDITANDO QUE NOSSO PAÍS É

ABENÇOADO POR DEUS E BONITO POR NATUREZA NÃO PODE

NUNCA OLHAR OS NÚMEROS DA VIOLÊNCIA POR ESTAS

BANDAS//

O BRASIL NÃO VIVE NA MAIS SANTA PAZ HÁ TEMPOS//

EM JUNHO DE DOIS MIL E QUINZE O ÍNDICE GLOBAL DE PAZ

DIVULGOU QUE A ISLÂNDIA É O PAÍS MAIS CORDIAL E PACÍFICO

DE SE VIVER//

O BRASIL, POR SUA VEZ, OCUPA APENAS O CENTÉSIMO

TERCEIRO LUGAR DENTRE CENTO E SESSENTA E DOIS PAÍSES

OUVIDOS.//

NA AMÉRICA DO SUL SÓ VENEZUELA E COLÔMBIA TÊM ÍNDICES

PIORES.//

SEGURANÇA PÚBLICA, VIOLÊNCIA POLICIAL, TAXA DE

Page 159: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

IMAGENS DO FBSP

GC: FSP 58 MIL MORTES

VIOLENTAS

ARTE JORNAL O GLOBO

IMAGENS DE VIOLENCIA BRASILEIRA

GC JULIO JACOBO CARGO: pesquisador

09:46 - 13:26 GC VIA INTERNET

HOMICÍDIOS, JUSTIÇA SOCIAL, TERRORISMO, CONFLITOS

ARMADOS E GASTOS COM ARMAS SÃO OS CRITÉRIOS DE

AVALIAÇÃO.//

OUTROS ESTUDOS COLOCAM O PAÍS COMO SENDO O MAIS

VIOLENTO DO PLANETA EM NUMERO ABSOLUTO DE

HOMICIDIOS, COMO O ANUÁRIO DO FORUM BRASILEIRO DE

SEGURANCA PUBLICA. SEGUNDO A PESQUISA O BRASIL

REGISTROU EM DOIS MIL E QUATORZE CINQUENTA E OITO MIL

MORTES VIOLENTAS//

O PSICANALISTA JOEL BIRMAN EM ENTREVISTA AO JORNAL ‘O

GLOBO’, EM MARÇO DE DOIS MIL E DEZESSEIS, DESBANCA O

MITO DO BRASIL CORDIAL.//

ABRE ASPAS É UM MITO QUE O BRASIL SEJA PACÍFICO. A

VIOLÊNCIA CAMPEIA DE MANEIRA GERAL, APESAR DO MITO DO

HOMEM CORDIAL FORMULADO POR SÉRGIO BUARQUE DE

HOLANDA. NOS REGISTROS POLÍTICO E DOS VALORES, AQUILO

QUE IMPLICA MOVIMENTO EM DIREÇÃO A IGUALDADE PROVOCA

RESISTÊNCIA E VIOLÊNCIA NOS CONSERVADORES. DAÍ A

INTOLERÂNCIA COM OS HOMOSSEXUAIS, AS MULHERES E OS

NEGROS. FECHA ASPAS.//

O que acontece no Brasil? Criou-se uma mitologia fundante,

justificante, através da sociologia, das entidades da sociedade civil, a

teoria do brasileiro cordial. (Chico) Buarque de Holanda tem um

trabalho que diz que o brasileiro é puro coração, é boa praça. E outra,

Gilberto Freire em Casa Grande & Senzala, divulga a teoria da

democracia racial do Brasil, que no Brasil reina a democracia racial.

Que sim, houve a escravatura, é inegável, mas que o senhor era

bonzinho, boa praça etc., e que o escravo era um escravo alegre, tanto

que dançava, fazia capoeira etc. e assim, não havia segregação racial

que existia, por exemplo, na África do Sul, nos EUA, e isso não se

esqueça de que Gilberto escreve na época do pós-guerra, onde há

sérios movimentos nos EUA pela igualdade racial, as grandes

caminhadas etc., Martin Luther King etc., e na África do Sul também,

terrivelmente segregacionista, Mandela funda seu movimento negro

etc., de liberação negra etc.

Era uma época onde o Brasil queria parecer como modelo de transição

Page 160: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

IMAGENS FRANÇA

IMAGENS RIO

GC: 85 MORTES A CADA 5 DIAS

FONTE: ISP

FONTE: FORUM BRASILEIRO DE

SEGURANCA PÚBLICA

IMAGENS SÍRIA

GC Nº MORTOS SÍRIA E

BRASIL

GC JULIO JACOBO CARGO: pesquisador

TC IN: 14:30 TC OUT: 20:23

racial não violenta, porque havia grandes conflitos raciais no mundo.

Quer dizer, o Brasil quis vender a imagem através da sociologia,

através de muita coisa, através de músicas... exaltando a negritude,

exaltando uma série de coisas, exaltando a sua democracia racial que

queria vender para o mundo. Só que essa democracia racial era

realmente fachada. Os negros não pensam que houve democracia

racial nem que existe hoje democracia racial no Brasil.

No Brasil morre muito negro porque tem uma categoria de população

que é matável. Tem seres humanos no Brasil que são matáveis sem

problemas.

POR EXEMPLO, NO MÊS DE JULHO OITENTA E CINCO PESSOAS

FORAM MORTAS EM UM ATENTADO EM NICE, NA FRANÇA. MAS

POUCOS SABEM OU NÃO QUEREM VER QUE NO RIO DE

JANEIRO A CADA CINCO DIAS SÃO RECOLHIDOS OITENTA E

CINCO CORPOS PARA O NECROTÉRIO, DE ACORDO COM

LEVANTAMENTO DO INSTITUTO DE SEGURANÇA PÚBLICA (ISP)

DO RIO DE JANEIRO. NOSSO PAÍS É MAIS VIOLENTO E CAÓTICO

DO QUE SE IMAGINA.//

FICA CLARO QUE MESMO NÃO ESTANDO EM GUERRA CIVIL,

SOMOS UMA SOCIEDADE QUE CONSEGUE MATAR MAIS

PESSOAS DO QUE PAÍSES EM CONFLITOS SANGRENTOS.//

DESDE O INÍCIO DA GUERRA NA SÍRIA MORRERAM AO MENOS

TREZENTOS E DOIS MIL PESSOAS, SEGUNDO O OBSERVATORIO

SIRIO DE DIREITOS HUMANOS.//

NO MESMO PERIODO DE CINCO DE ANOS, O BRASIL

REGISTROU, PELO MENOS, TREZENTOS E QUATRO MIL

MORTES.//

[...] temos que considerar é que existe no Brasil uma cultura da

violência. Assim, geralmente a estrutura, o aparelho de poder bota

100% da culpa nas organizações criminosas e nas drogas. Eu não vou

negar que as organizações criminosas são violentas, que a droga é

uma entidade violenta. Porém, tenho duas perguntas para fazer:

Suécia, Noruega, Dinamarca tem maior consumo de drogas que o

Brasil, porque tem poder aquisitivo maior, porém você não vê essa

guerra da droga. Porque no Brasil a droga é uma guerra e em outros

Page 161: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

IMAGENS DE VIOLENCIA

IMAGENS BAHIA

IMAGENS DE VIOLENCIA

IMAGENS POPULAÇÃO E PONTOS TURÍSTICOS

IMAGENS ASSASSINATOS

países de maior consumo que o Brasil não há guerra da droga nem

mortalidade pela droga?

Segunda questão fundamental. Fora (a questão) das drogas que

existe, há uma pesquisa do conselho nacional do ministério público,

que fundamentou uma campanha, isso foi feito em 2012-2013, em 16

unidades federativas. A pergunta era muito simples, eles trabalharam

com inquéritos policiais de homicídios, e a classificação era: por

motivos fúteis e banais – ou seja, briga de parentes, de vizinhos, briga

dentro da família, briga de boteco para ver quem paga, briga de

trânsito, onde alguém sacou uma arma e matou o próximo – e a outra o

crime profissional – o crime da droga, das organizações criminosas,

queimas de arquivo etc.

Eles conseguiram trabalhar com 16 unidades federativas do Brasil. Das

16, em nove delas o principal é o crime por motivos fúteis e banais, o

crime doméstico, o crime de rua etc. Em duas há empate 50-50, e em

cinco prevalece o crime da droga, com o extremo no rio de janeiro,

onde 20% é crime por motivos fúteis e banais e 80% crime

profissional..

DENTRE OS ESTADOS BRASILEIROS, OS MAIS VIOLENTOS SÃO

DA REGIÃO DO NORDESTE. NO CASO DE CIDADES, ISSO

TAMBÉM SE REPETE.// AO MESMO TEMPO, NO SUDESTE,

EXPLOSIVOS E ARMAMENTOS DE GUERRA SÃO USADOS POR

FACÇÕES CRIMINOSAS COM UMA NATURALIDADE

INQUIETANTE//

O PAÍS VIVE SIM UMA GUERRA DIÁRIA, EM PLENA LUZ DO DIA E

TAMBÉM NOITE ADENTRO.//

NOSSOS GOVERNANTES, ENTRETANTO, QUANDO TRATAM DE

SEGURANÇA NACIONAL OLHAM PRIMEIRO PARA FORA, PARA A

RELAÇÃO DO BRASIL COM OUTROS PAÍSES E A NOSSA RIQUEZA

DE RECURSOS//

ASSIM DIZEM QUE O PAÍS É PACÍFICO, IGNORANDO O QUE

ACONTECE NAS RUAS DO PAÍS, AS VIDAS PERDIDAS E AS

FAMÍLIAS DESTRUÍDAS, COMO A EX-PRESIDENTA DEPOSTA DO

SEU CARGO, DILMA ROUSSEFF//

ABRE ASPAS BRASIL É UM PAÍS PACÍFICO E ASSIM

Page 162: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

ARTE DISCURSO DILMA

**SONORAS**

Ex-executivo – CBC 38:50 - 39:40

IMAGENS SÍRIA

GC DJAMILA RIBEIRO CARGO: sec. Adj. de

Direitos Humanos de São Paulo

00:47:32.06 - 00:49:23.11

IMAGENS HOMICÍDIO

IMAGENS DE VIOLENCIA POLICIAL E MORTES

CONTINUARÁ. ISSO, NO ENTANTO, NÃO SIGNIFICA DESCUIDAR

DE NOSSA DEFESA OU ABDICAR DE NOSSA CAPACIDADE DE

DISSUASÃO. NOSSA CAPACIDADE DE AMPLIAR A DEFESA SERÁ

TANTO MAIOR QUANTO MAIS

BEM EQUIPADAS ESTIVEREM NOSSAS FORÇAS ARMADAS E

MAIS FORTES NOSSA INDÚSTRIA DA DEFESA. TEMOS UM

PATRIMÔNIO MUITO VALIOSO PARA PROTEGER. FECHA ASPAS.//

Claro. Mas aí não sei, uma guerra meia enrustida né, não deixa de ser

pelos números. É um absurdo. Uma cidade do tamanho de ribeirão

pires praticamente todo ano morrer. É um horror.

Eu acho que a gente pode dar vários nomes: [...] realmente a gente

vive em uma guerra civil. Genocídio, o movimento negro usa muito

genocídio na população negra, porque a partir do momento que a

gente tem esses números altíssimos de morte de jovens negros, a

gente pode falar de genocídio, mas ultimamente a gente tem falado

muito em extermínio. O que tem acontecido no Brasil é o extermínio da

população negra né, quando a gente tem esse número massivo de

mortes, esta muito evidente pra nós o quanto que esse estado quer nos

exterminar né. [...] Na verdade, faz parte dessa política desse país,

dessa ideologia racista do Brasil né. Que desde a maneira que a

população negra é trazida pra cá de forma extremamente violenta,

indigna, dos tráficos negreiros, e que aqueles corpos que iam morrendo

ou se adoentavam eram jogados no mar, de quando chegam aqui no

Brasil a forma como é tratado, vivendo em senzalas, de ser acoitado,

esse extermínio, é algo que infelizmente... Esse país foi fundado nessa

violência, nesse extermínio. Hoje é através da PM antes era através da

escravidão, através da perseguição da população negra, destruição

dos quilombos né, então acho que é bom a gente falar que o racismo ta

na base e nos exterminar, nos manter nesse lugar, faz parte dessa

ideologia desse país

NOSSO HINO CANTA QUE O BRASIL É UM GIGANTE PELA

PRÓPRIA NATUREZA, MAS NÃO DIZ O QUANTO ESSE GIGANTE

SANGRA PELAS PRÓPRIAS MÃOS//

A ESTRATÉGIA ATUAL DE COMBATE AO CRIME NÃO FUNCIONA/

A POLÍCIA DIVIDIDA, MAL PAGA, MILITARIZADA AGRAVA AINDA

Page 163: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

GC JULIO JACOBO CARGO: pesquisador

22:08 - 22:46

GC: DJAMILA RIBEIRO CARGO: sec. Adj. de

Direitos Humanos de São Paulo

00:22:33.06 - 00:23:33.05 TEMPO:

GC RAFAEL CUSTÓDIO CARGO: coordenador da

área de justiça – CONECTAS

TEMPO: TC IN: 01:05:19.00 (CLIP

00001) TC OUT: 01:10:14.07

*SONORA** GC BRUNO MANSO

CARGO: pesquisador do Núcleo de Estudos da

Violência - NEV TC IN: 00:19:20.04

TC OUT: 00:22:29.05

IMAGENS POLICIAIS

ARTE G1

ILUSTRA EXÉRCITO E

PMS

GC NÚMERO DE EFETIVO

POLÍCIAS

MAIS O PROBLEMA/ O ÚNICO RESULTADO DESSA GUERRA AO

CRIME É UM NÚMERO CADA VEZ MAIOR DE CORPOS POR

TODOS OS LADOS.//

[...] há uma guerra na rua que todos os dias malandro metralha polícia

e polícia metralha malandro. Não está dando nenhum resultado. [,,,]

A polícia não funciona. Eu acho... Minha pauta é muito pela questão da

desmilitarização da polícia, a forma que ela foi constituída não tem

como né, porque já foi pensada justamente no sentido de exterminar

[...] vamos supor que o Brasil declare guerra no país, o governo pode

chamar a Polícia Militar brasileira para ir para a guerra, como se ela

fosse uma força auxiliar, ela pode ser uma força de apoio ao exército,

para você ter uma ideia do treinamento, do armamento, da ideologia

nessa PM. Agora a questão é, faz sentindo em uma democracia essa

polícia que pode ser usada para fins de guerra patrulhar nossas ruas

diariamente, cuidar da comunidade? Óbvio que não. [...]

[...] Você tem uma questão de estrutura policial, que e problemática e

você tem o problema da polícia militar e civil. E muitas vezes muitas

pessoas acham que o extermínio e a violência acabam sendo uma

forma de controlar o crime. Isso de alguma forma foi tolerado em

alguns anos, no judiciário, no MP. Na Constituição de 88 também

conseguiu de alguma forma, fazendo vistas grossas. Ai no RJ, uma

outra dinâmica, e você ter visto as grandes facções onde as operações

policiais, eram verdadeiras incursões de guerra

SEGUNDO REPORTAGEM DO G1, O BRASIL TINHA EM DOIS MIL E

QUINZE UM EFETIVO DE QUATROCENTOS E TRINTA E UM MIL

PMS E CENTO E VINTE E UM MIL POLICIAIS CIVIS/ O NÚMERO DE

PMS É QUASE O DOBRO DE TODO O EXÉRCITO BRASILEIRO EM

DOIS MIL E DEZESSEIS, QUE TEM EFETIVO TOTAL DE DUZENTOS

E VINTE MIL SEGUNDO O DECRETO OITO MIL SEISCENTOS E

QUARENTA E NOVE, DE JANEIRO DESTE ANO//

Page 164: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

GC DAVID MARQUES CARGO: pesquisador do

Fórum Brasileiro de Segurança Pública TC IN: 10:48:49.09

TC OUT: 10:51:49.05

IMAGENS PELOTÃO PM

**sonora investigador** GC: investigador – polícia

civil TC IN: 00:04:28:22

TC OUT: 00:06:56:03

A PREFERÊNCIA PELA REPRESSÃO OSTENSTIVA E O COMBATE

DIRETO A CRIMES TEM REFLEXOS DIRETOS NA SOCIEDADE//

[...] uma das coisas que a gente precisa questionar quando a gente fala

disso é de fato esse modelo de policiamento ostensivo que a gente tem

hoje. Essa questão quando a gente tem o peso relativo dessas duas

polícias né, essa parte que diz mais respeito, digamos assim, a uma

investigação, a um trabalho mais de inteligência pra tentar prevenir

esses crimes, esse trabalho me parece hoje, por tudo que a gente tem

visto, preterido em relação a esse policiamento mais ostensivo, essa

presença mais marcadamente do policial na rua, desses policiais

tentando fazer o enfrentamento direto dessa criminalidade. [...] Então o

que a gente vê na verdade é que o peso está todo sendo colocado ali.

E eu acho que é hora da gente dar um passo atrás, dar uma olhada

num quadro maior e entender que a gente também precisa, e quando a

gente olha, principalmente os indicadores de elucidação de crimes da

polícia civil por exemplo, o dado um pouco melhor que a gente tem em

relação a elucidação dos crimes de homicídio, vai dar uma média aí de

8% no Brasil. Alguns estudos apontam pra isso, o que é muito pouco.

Se é 8% no caso de homicídio, significa que no caso de roubo por

exemplo ele é próximo de 0. O que é um problema muito grande. Então

a gente tem que dar um passo atrás, entender esse cenário, entender

porque que a gente chegou nessa situação, e também questionar as

outras partes do sistema de justiça criminal.

É, no caso por exemplo de homicídios eu acho que o índice de solução

tá em torno de três por cento, se eu não me engano, não vou te

precisar esse dado hoje, né. Teve época que tava dois por cento. O

que acontece, hoje em dia? Nós temos muitos crimes, uma estrutura

meio arcaica, nós temos uma burocracia muito grande, então você tem,

por exemplo quando vai fazer uma prisão em flagrante, você tem oito

vias de trocentos termos, né, você tem nota de culpa, você tem o B.O.,

você tem a declaração, você tem… então você fica… um B.O. hoje em

dia demora de quatro a seis horas pra ser elaborado, um B.O., um

flagrante aliás. Então pra você imaginar como que é essa burocracia.

Você tem uma falta de pessoal, uma falta de logística, acredito que o

principal detalhe que falta na polícia civil é logística, você não tem

uma… você tem o pessoal da área, né, os crimes que acontecem na

área, só que a quantidade de crime é tão grande, você tem uma chefia

hoje em dia… você tem chefia de seis a dez pessoas pra investigarem

Page 165: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

IMAGENS POLÍCIA

EXTERIOR

**SONORA** GC BRUNO MANSO

CARGO: pesquisador do Núcleo de Estudos da

Violência - NEV TC IN: 00:58:49.17

TC OUT: 00:59:40.18

**SONORA DELEGADO** GC ARMANDO NOVAES

CARGO: delegado TC IN: 08:47:55:10

TC OUT: 08:49:00:22

**SONORA** GC LUIZ CARLOS

SANTOS

crimes que ocorrem numa área inteira de um distrito, que seriam em

torno hoje, até agora, acho que deve ter tido em cada área em torno de

três mil crimes. Então se você pega dez pessoas pra investigar três mil

crimes, cada pessoa investigaria trezentos, só que são de dupla, então

cada dupla investigaria seiscentos. Só que essas duplas, você tem

férias, você tem um turnover disso daí, então você fica meio

incapacitado realmente de dar prosseguimento [...]

A PM, QUE TEM EFETIVO MAIOR, NÃO TEM CAPACIDADE

TÉCNICA PARA AUXILIAR EM INQUÉRITO/ A POLÍCIA CIVIL NÃO

TEM PESSOAL//

OUTROS PAÍSES COMO ESTADOS UNIDOS, INGLATERRA E

JAPÃO TÊM APENAS UMA POLÍCIA UNIFICADA QUE CUIDA

DESDE AS RONDAS ATÉ O INQUÉRITO/ SERIA UMA POLÍCIA

REUNIFICADA UM PASSO PARA COMEÇAR A CONTER A

VIOLÊNCIA BRASILEIRA?//

Eu acho que a desmilitarização da polícia é interessante, porque cria

uma gestão mais moderna que permite que as pontas da polícia tomem

decisões mais rápidas, porque o grande problema da hierarquia militar

é que as decisões não podem ser contestadas por a de um soldado e

quando o soldado está trabalhando na ponta, ele que sabe a dinâmica

do bairro, ele tem que tomar decisões rápidas para ganhar a confiança

da população, só que ele não pode, porque tem toda uma hierarquia,

entrelaçado para lidar com essas dinâmicas, a mudança dessa gestão

ela permite uma confiança da polícia com a população.

[...] na verdade eu vejo com criticas esse militarismo. Eu sou totalmente

contra o treinamento militar porque ele cria o policial pra combater o

inimigo. Por isso que tem essa quantidade de mortes que a gente

chama de derrubadas, porque ele ta na rua pensando que o bandido,

ou quem quer que seja é o inimigo, e não é assim. A polícia foi feita pra

prender. Eu sou contra o militarismo e eu acho que a civil está mais

próxima do cidadão. Igual a policia dos outros lugares né? Igual nos

EUA o policial não usa essa farda, é um uniforme. E todos são

policiais, não existe essa diferença de autonomia civil ou militar. [...]

Seria a solução, mas precisa ver como seria essa solução para acabar

com isso. Eu acredito que não acabe...tem muitos amigos meus que

Page 166: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

CARGO: conselheiro do CONDEPE

TC IN: 01:56:38.00 (CLIP 00005)

TC OUT: 01:57:45.21

IMAGENS ABORDAGEM POLICIAL/DELEGADO

**SONORA DELEGADO** GC ARMANDO NOVAES

CARGO: delegado TC IN: 08:49:00:22

TC OUT: 08:50:03:03

IMAGENS ABORDAGEM

POLICIAL

GC VALMIR SALARO Jornalista – TV Globo

TEMPO: TC IN: (CLIP 00018)

10:30:52.00 TC OUT: 10:32:11.00

**SONORA** GC: GABRIELA BILÓ

CARGO: Foto jornalista – Estado S. Paulo

TC IN: 08:32:01.07 TC OUT: 08:33:23.16

são otimistas em dizer que isso acaba, mas isso só fica aqui em baixo,

lá em cima não existe essa discussão de acabar com o militarismo.

Não acaba, porque se você contabilizar...nós não temos, mas podemos

levantar quantos coronéis tem, quantos majores tem, quantos tenentes

coronéis tem no Estado de São Paulo.. Esse pessoal é o pessoal que

comanda todo esse sistema, desde coronel, desde a patente menor

que tem na Polícia Militar. Esse pessoal, eles formam um conselho

dentro da Polícia Militar que não vê esse lado. Eles não vão querer

ajudar acabar com uma categoria dessa.

NÃO CONSEGUIMOS RESPOSTA DO COMANDO DA PM SOBRE A

QUESTÃO, MAS PERGUNTAMOS AO DELEGADO NOVAES SE A

POLÍCIA CIVIL DEFENDE A REUNIFICAÇÃO DAS POLÍCIAS//

Atualmente, tanto a associação estadual quando a federal dos

delegados nós lutamos pra isso, pela desmilitarização para uma

posterior unificação. Ela não pode unificar sem desmilitarizar, seria

absurdo, vou virar um pm agora? Colocar farda? Então teria que

desmilitarizar e depois unificar. Então nossa luta é nesse sentido nas

entidades de classe

MESMO ASSIM, TER UMA SÓ POLÍCIA NÃO É A SALVAÇÃO PARA

DIMINUIR A VIOLÊNCIA JÁ ENRAIZADA NA SOCIEDADE

BRASILEIRA//

Fala-se muito disso, mas então, alguém vai ter que enfrentar o crime

armado. Quem que vai ser? Os policiais ficam reclamando toda hora

que as armas deles são inferiores às armas dos bandidos sabe, o

exemplo pra mim assim, importante, de que o crime tá vencendo é

aquele caso daquele traficante que morava na fronteira em Pedro Juan

Cabalero. Brasileiro que morava lá que comandava o crime. Lá que ele

foi executado com uma arma que derruba avião. [...] É um crime que

mostra o poder dos bandidos entendeu? Aquilo pra mim foi

impressionante.

[...]A gente tem que tirar essa falta, essa coisa comum, tirar do lugar

comum a violência. Por exemplo como é em muitos países que não é

normal você ver um policial carregando uma arma, sabe? Você no Rio

de Janeiro aquelas cenas do exército ali com uma... porra o que é

aquilo. Você vê tanque na rua. [...]

Page 167: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

IMAGENS DE PESSOAS

GC: DJAMILA RIBEIRO CARGO: sec. Adj. de

Direitos Humanos de São Paulo

00:15:11.00- 00:17:07.19

GC RAFAEL CUSTÓDIO CARGO: coordenador da

área de justiça – CONECTAS

TEMPO: TC IN: 02:02:07.00 (CLIP

0003)

TC OUT: 02:04:36.02

ENTÃO O QUE MAIS PODE SER FEITO PARA QUE O NÚMERO DE

BRASILEIROS VÍTIMAS DE HOMICÍDIOS DIMINUA?/ ONDE

INVESTIR, PARA ONDE DIRECIONAR ATENÇÃO?//

A solução é não focar só com esse olhar só da segurança, é... A gente

precisa pensar em políticas muito mais amplas, de o que... De

educação de qualidade, saúde de qualidade, se as pessoas tem

acesso ao mercado e trabalho, se as pessoas tem acesso a um

trabalho digno, é pensar no amplo. Porque quando essas pessoas

realmente tiverem oportunidades, a gente vai viver menos

desigualdade, a gente vai ter menos violência né. Um país que é

extremamente desigual, um grande reflexo, uma consequência dessa

desigualdade é a violência urbana. [...] Então a gente faz um discurso

totalmente demagogo em relação a guerra as drogas... “A tem que

fazer guerra as drogas, tem que invadir os morros, matar os traficantes,

mata todo mundo”, na verdade esse discurso de guerra as drogas, é só

mais uma forma de justifica o extermínio da população negra porque as

pessoas que mais usam drogas não são as pessoas pobres, são as

pessoas ricas né. Você teve um helicóptero com meia tonelada de

cocaína... O que aconteceu com essas pessoas? Absolutamente nada.

Eu realmente acredito que o desafio seja nem sempre as decipas

mudanças devem começar pelas grandes reformas, que muitas vezes

são difíceis de atingir, a gente tem pequenas mudanças que devem ser

feitas, no Plano de Segurança Pública especificamente, acho que o

debate estrutural desse modelo ela não é impossível, na África do Sul

fez isso, pós regime de apartheid fez uma reforma importante de

modelo policial. Tem vários problemas até hoje ela lidou com essa

questão da militarização, do racismo de uma maneira interessante. O

que podemos fazer? Exigir do Ministério Público também, prestar

contas e ser cobrado de vário sentidos, até judicialmente, para que ele

exerça seu trabalho, um outro fator que eu acho interessante que a

gente fala pouco são os motores da violência no Brasil é a política de

guerra às drogas é a grande catalizadora, incentivadora do tráfico de

armas no Brasil, da corrupção e que acaba ensejando uma reação do

Estado violenta, a gente falou um pouco do Rio de Janeiro, as UPPs

elas nada mais são do que uma resposta do Estado bizarro a guerra às

drogas, um elemento a guerra as drogas no Rio de Janeiro, então a

gente precisa discutir uma reforma profunda também dessa política de

Page 168: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

** ILUSTRA DELEGADO **

GC ARMANDO NOVAES CARGO: delegado

TC IN: 08:54:50:20 - TC OUT: 08:56:28:15

TC IN: 08:53:39:17 TC OUT: 08:54:50:20

**SONORA CONDEPE** GC LUIZ CARLOS

SANTOS CARGO: conselheiro do

CONDEPE

TC IN: 02:27:28.10 (CLIP 00008)

TC OUT: 02:30:56.08

IMAGENS BRASÍLIA

drogas no Brasil

Eu acho educação, aí sim pra baixar. Porque é uma coisa muito há

longo prazo. O governo, os políticos não pensam a longo prazo, né?

Eles querem muito o imediatismo. Mas eu acho que com esse

investimento a longo prazo você consegue diminuir os índices.[...]

Acho que aí é um pouco de falta de investimento em formação, escola.

A educação é a base de tudo. Você tem investimento nisso e consegue

desviar as crianças um pouco da rua. Agora onde não tem seja uma

falha, né? O Brasil apesar de ter tido um crescimento, apesar de

avançar o crime continua o mesmo e até aumenta.

Então essa engenharia que tem que se passar por todos os Estados

ela tem que ser orquestrada em Brasília que tem o controle da questão

de seguranças [..] O Ministério da Justiça, que tem o órgão de

segurança nacional, segurança pública e deveria ter toda essa

dimensão e analisar esses números e programar junto com os Estados,

chamar todos os secretários de segurança pública e falar, o que você

está fazendo para diminuir esses números porque só cresce e o nunca

vi uma reunião do Governo Federal sentar com todos os governos dos

Estados para fazer um cronograma porque não é só você transferir

verbas de segurança pública para os estados e você também não ter a

mão do que: olha vocês estão fazendo isso, o Governo Federal nos

deus tantos milhões para segurança mas o número seu está muito alto

em vista do Estado do Ceará, em vista do Estado do Rio de Janeiro,

em vista do Estado de São Paulo, o que você está fazendo para

diminuir esses índices, então não existe esse controle, então a gente

acaba vendo outros crescer, números e mais números e não existe

uma cobrança, mas a gente percebe que quando a gente entra no

portal transparência a gente verá verbas de Segurança Pública sendo

destinados e os Estados vão gastando, os estados vão investindo

também [...]

MAS NEM TODOS PENSAM ASSIM./ A VERDADE É QUE A

VIOLÊNCIA BRASILEIRA JÁ ATINGIU NÍVEIS MAIS DO QUE

ABSURDOS COM QUASE SESSENTA MIL ASSASSINATOS A CADA

ANO FORA OUTROS CRIMES//

Page 169: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

GC VALMIR SALARO Jornalista – TV Globo

TEMPO: TC IN: (CLIP 00018)

10:33:15.00 TC OUT: (CLIP 00018)

10:34:13.00 TC IN: 10:29:20.00

TC OUT: 10:30:47.00

GC JULIO JACOBO CARGO: pesquisador

23:10 - 25:14

25:21 - 25:40

IMAGENS

BRASÍLIA/HOMICÍDIO

Olha, eu gostaria de ter, sei lá, não uma solução, mas uma primeira

saída, mas não vejo. Não vejo. Não vejo uma saída, não vejo. Porque

nada muda. [...] acompanho essa área há 37 anos, e me lembro

quando no comecinho da minha carreira ia pra zona sul de SP, ia fazer

a violência ali do dia-a-dia, e vi um comerciante, um pequeno

comerciante com uma portinha desse tamanho, já de grade. Ai ele

abriu um espacinho pra passar um botijão de gás. Ele não aguentava

de tanto roubo que acontecia. Voltando lá 20 anos depois, o mesmo

comerciante caso ele não tenha sido morto por assaltantes ele tá lá, ele

mantém a mesma portinha, só que ele colocou câmeras, seguranças

particulares ou muitas vezes PMs pra fazer bico pra tomar conta da

segurança do patrimônio dele. [...] Enquanto que aquele comerciante

que 20 anos atrás sofria com crime, hoje 20 anos depois continua

sofrendo não tem uma saída, não existe saída pra nada.

Nós conseguimos a partir da campanha do desarmamento, nós

conseguimos estagnar aproximadamente, não reverter, mas sim

estagnar os incrementos da violência homicida que cresciam a uma

taxa entre 5, 6, 7% ao ano, uma taxa muito acelerada de crescimento.

A partir de 2004-2005, a taxa mais ou menos se mantém a 29

homicídios para cada 100 mil habitantes. Agora chegou a 29,6, em

2013 estava em 29,2, mais ou menos você vê que tem certa

estagnação. Só que, dá uma olhada. O nosso pensamento

conservador que tem hoje no Brasil quer revogar o estatuto do

desarmamento. Está no congresso, já foi aprovado o relatório da

comissão que revoga o estatuto do desarmamento. [...] Não vamos ter

que criar mais prisões, vamos ter que criar muitos necrotérios se essa

proposta passar. [...] acho que as medidas que estão sendo tomadas,

como a diminuição da maioridade penal, o estatuto do desarmamento,

vão tender a aumentar o nível de homicídio no Brasil. Eu não vejo

medidas que diminuam, vejo medidas que podem aumentar.

A SOCIEDADE SE QUISER VIVER MENOS ATERRORIZADA PELA

VIOLÊNCIA, VAI TER QUE COBRAR MUITO DOS GOVERNANTES/

SE UMA PILHA CADA VEZ MAIOR DE CORPOS, SE TER O BRASIL

COMO PAÍS MAIS VIOLENTO E HOMICIDA DO MUNDO, SE VER

PAIS, MÃES, IRMÃOS, FILHOS, VIZINHOS E CONHECIDOS SENDO

MORTOS NÃO CONVENCER A SOCIEDADE A COBRAR

SOLUÇÕES COMO DEFENDIDAS PELOS ESPECIALISTAS, NADA

MAIS IRÁ//

Page 170: TERROR URBANO - Portal Comunique-se...Cássia Santos et al. 2016. 170 p. Monografia (graduação em Jornalismo) --Escola de Comunicação, Educação e Humanidades da Universidade

GC VALMIR SALARO Jornalista – TV Globo

TC IN:10:36:02.00 TC OUT: 10:38:00.00

IMAGENS VIOLÊNCIA

SOBE SOM

CRÉDITOS

DEDICATÓRIA

É uma sociedade doente. Você vê que é uma sociedade que aceita

isso (...) . Você pode ir agora pra rua brigar pra sair o Temer. Mas você

não vai pra rua pra brigar pelo crime que tá te atormentando no dia-a-

dia. Porque você não sabe de quem cobrar. Obviamente tem que

cobrar diretamente do governador, o governador é o chefe da polícia.

Ele tem algum plano, tem um plano nacional de segurança pública? As

pessoas só discutem depois. Por isso que eu fico pensando, às vezes

eu converso com as pessoas, será que o que eu falo tem interesse,

existe algum interesse? Ou a pessoa só quer saber do caso Nardoni,

dos bastidores, do caso Roger Abdelmassih, do caso da Suzane von

Richthofen, as pessoas veem isso mais como voyeurismo, então fico

alimentando o voyeurismo das pessoas? Contar que a Susanne tá

namorando com uma mulher, depois tá namorando com um homem,

que ela saiu pra passar o dia dos pais fora da cadeia, entendeu? Então

eu não sei, realmente eu não sei.

EM MEIO A ESTA GUERRA URBANA, SOMENTE UM PERDE. O

PAÍS. O BRASILEIRO.//