Terapia Familiar Sistêmica.doc

3
Terapia Familiar Sistêmica - Prática e epistemolgia O advento da Terapia Familiar foi marcado pela interdiciplinariedade, iniciando-se nos anos 40 . Compartilhava a visão do homem considerado como um sistema de personalidade ativa, que deve ser analisado como um todo unificado, incluindo o contexto que está inserido, bem como suas interações. Casado com a cibernética, originária das idéias de Wiener, a terapia familiar sistêmica derivou-se de campos distantes da psicoterapia e até mesmo da psicologia. Enquanto a teoria geral dos sistemas propunha-se a estudar as correspondências ou isomorfismos entre os sistemas de todo o tipo, a cibernética ocupava-se dos processos de comunicação e controle nestes sistemas. Embora a teoria geral dos sistemas, em parceria com a cibernética, tenha configurado os limites dos paradigmas para uma teoria clinica de psicoterapia, na prática diferentes sistemas de crenças resultaram em distintos modelos de terapia familiar. Os diferentes modelos desde o principio de sua evolução até a década de 70, que coexistiram foram: *Comunicacional - Bateson, Haley, Satir e Jackson. *Interacional, ou Terapia Estratégica Breve – desenvolvido em Palo Alto no Mental Institute Research. *Estrutural - Minuchin *Experiencial Simbólico – Whitaker *Intergeracional – Bowen *Psicanalítica – Kohut, Winnicott, Melanie Klein *Cognitivo-Comportamental – Watson, Pavlov, Skinner, Wolpe *Os modelos com suas distintas maneiras de definir o que vem a ser o problema, a teoria da mudança e a prática psicoterapêutica preocuparam os estudiosos do campo da terapia familiar quanto a precisão conceitual que então, consideraram as práticas da terapia familiar como sistêmicas e a epistemologia como cibernética O terapeuta familiar na pós-modernidade As contribuições de uma epistemologia sistêmico-cibernética para a prática da psicoterapia implicaram: 1- na mudança paradigmática que enfatizou a importância do contexto para a compreensão dos problemas do ser-humano, que esta em inter-relação com o outro. 2- na organização da prática em torno do conceito de causalidade circular e não mais linear, de causa e efeito, portanto entende-se que os seres vivos organizam seus comportamentos dentro de uma trama de relações. Se pelo aspecto teórico a terapia familiar permitiu muitas contribuições, no âmbito das práticas gerou um novo olhar sobre o terapeuta desmistificando como expert, que passou a assumir um papel de facilitador, cujo conhecimento, como qualquer outro conhecimento esta livre de um status privilegiado e, é auto-referencial. A escuta feita pelo terapeuta pressupõe sua formação teórica e prática e sua bagagem transportada por sua própria história de vida, isto implica na formação como

Transcript of Terapia Familiar Sistêmica.doc

Page 1: Terapia Familiar Sistêmica.doc

Terapia Familiar Sistêmica - Prática e epistemolgia

O advento da Terapia Familiar foi marcado pela interdiciplinariedade, iniciando-se nos anos 40 . Compartilhava a visão do homem considerado como um sistema de personalidade ativa, que deve ser analisado como um todo unificado, incluindo o contexto que está inserido, bem como suas interações.

Casado com a cibernética, originária das idéias de Wiener, a terapia familiar sistêmica derivou-se de campos distantes da psicoterapia e até mesmo da psicologia. Enquanto a teoria geral dos sistemas propunha-se a estudar as correspondências ou isomorfismos entre os sistemas de todo o tipo, a cibernética ocupava-se dos processos de comunicação e controle nestes sistemas.

Embora a teoria geral dos sistemas, em parceria com a cibernética, tenha configurado os limites dos paradigmas para uma teoria clinica de psicoterapia, na prática diferentes sistemas de crenças resultaram em distintos modelos de terapia familiar.Os diferentes modelos desde o principio de sua evolução até a década de 70, que coexistiram foram:

*Comunicacional - Bateson, Haley, Satir e Jackson.*Interacional, ou Terapia Estratégica Breve – desenvolvido em Palo Alto no Mental Institute Research.*Estrutural - Minuchin *Experiencial Simbólico – Whitaker *Intergeracional – Bowen *Psicanalítica – Kohut, Winnicott, Melanie Klein*Cognitivo-Comportamental – Watson, Pavlov, Skinner, Wolpe

*Os modelos com suas distintas maneiras de definir o que vem a ser o problema, a teoria da mudança e a prática psicoterapêutica preocuparam os estudiosos do campo da terapia familiar quanto a precisão conceitual que então, consideraram as práticas da terapia familiar como sistêmicas e a epistemologia como cibernética O terapeuta familiar na pós-modernidade As contribuições de uma epistemologia sistêmico-cibernética para a prática da psicoterapia implicaram:1- na mudança paradigmática que enfatizou a importância do contexto para a compreensão dos problemas do ser-humano, que esta em inter-relação com o outro.2- na organização da prática em torno do conceito de causalidade circular e não mais linear, de causa e efeito, portanto entende-se que os seres vivos organizam seus comportamentos dentro de uma trama de relações.

Se pelo aspecto teórico a terapia familiar permitiu muitas contribuições, no âmbito das práticas gerou um novo olhar sobre o terapeuta desmistificando como expert, que passou a assumir um papel de facilitador, cujo conhecimento, como qualquer outro conhecimento esta livre de um status privilegiado e, é auto-referencial.

A escuta feita pelo terapeuta pressupõe sua formação teórica e prática e sua bagagem transportada por sua própria história de vida, isto implica na formação como especialista em terapia familiar e de casal e na vivência da terapia individual, supervisão e consultoria clínica. Partindo da auto-referência propõe-se o conceito de ressonâncias que indica uma intersecção entre as histórias de vida pessoal do terapeuta e da família ou dos clientes atendidos

A terapia propõe que o cliente seja o especialista no que diz respeito ao conteúdo, isto quer dizer que ele sabe sobre suas própria vida e dos motivos que o trouxeram para a terapia, enquanto que o terapeuta é o especialista no processo, permitindo por sua especialidade criar um contexto propiciador e facilitador para uma conversação que permita a reconstrução dos significados da história de vida do cliente.

Neste sentido também o sistema terapêutico, passa da família para ser definido como aqueles que estão envolvidos em conversação em torno de um problema. Estes sistemas não são determinados por sua estrutura ou seu papel social, mas por uma dinâmica relacional que se organiza em torno dos significados compartilhados, nos quais estão os problemas que levam as pessoas a buscarem terapia.

concepção em primeiro plano coloca ênfase sobre a linguagem e a pessoa do terapeuta, e segundo estende o território da terapia sistêmica, originalmente uma terapia de família como um sistema, para além das fronteiras, ao incluir o indivíduo, as comunidades e outras organizações sociais, envolvidos numa trama significativa. O que é a terapia familiar e para quem servem as terapias familiares?

Page 2: Terapia Familiar Sistêmica.doc

Embora não se possa deixar considerar a interdiciplinariedade da terapia familiar e a diversidade de modelos de atuação nesta área acredita-se que a compreensão sobre o que se entende por família e sistema é fundamental para a discussão sobre a atuação clínica da terapia familiar. Conceitos BásicosGlobalidade - um todo coeso é como se comporta um sistema, o que implica que a mudança de uma parte altera todas as outras partes e o sistema como um todo.Não-somatividade - um sistema não pode ser considerado como a soma de suas partes. Contudo, qualquer mudança nas relações entre as partes constituintes de um sistema implica numa mudança no funcionamento do todo. O todo em detrimento de suas partes.

Homeostase - processo de auto-regulação que mantém a estabilidade do sistema, protegendo das mudanças que podem destruir sua organização, preservando funcionamento.Morfogênese - capacidade do sistema em absorver inputs do meio e mudar sua organização (sistemas abertos). Opõe-se à homeostase.Circularidade - a relação entre quaisquer dos elementos do sistema é bilateral, o que pressupõe uma interação que manifesta-se como sequência circular. Um todo não possui começo nem fim. As partes unidas estão em relação circular, cada pessoa afeta e é afetada pelo comportamento de outra pessoa e do contexto que está inserida.Retroalimentação - garante o funcionamento circular pelo mecanismo de circulação da informação entre os componentes do sistema por princípio de feedback (negativo funciona para manutenção da homeostase e o positivo que responde pela mudança sistêmica) Equifinalidade – independentemente de qual for o ponto de partida, um sistema aberto apresenta uma organização que garante os resultados de seu funcionamento. Conseguir um objetivo à partir de vários meios diferentes. Significa que certo estado final pode ser realizado de muitas maneiras e desde vários pontos de partida diferentes.

*A terapia familiar sistêmica estruturada em torno desses conceitos entende a família como um sistema aberto que se auto-governa através de regras que definem o padrão de comunicação mantendo uma interdependência entre os membros e com o meio no que diz respeito a troca de informações e usa de recursos de retroalimentação para manter o grau de equilíbrio em torno das transações entre os membros.

*O aspecto fundamental é a de que o ser “doente” ou a pessoa que apresenta problemas, é apenas um representante circunstancial de alguma disfunção no sistema familiar. Enquanto o modelo tradicional de práticas psicoterapêuticas diria que o transtorno mental se manifesta pela força dos conflitos internos ou intra-psíquicos, tendo sua origem no próprio indivíduo, o modelo sistêmico daria ênfase a tal transtorno como expressão de padrões inadequados de interações familiares

Assim sendo considera-se relevante priorizar o trabalho direto e efetivo com as necessidades da família e do meio ambiente, sendo que esta família é definida pelos seus padrões de interação, em detrimento de rebuscar somente os dificuldades de ordem intra-psíquica individuais.

Na terapia são consideradas todas as informações levando em conta até três gerações da família envolvidas no tratamento o que caracteriza mais do que um trabalho de remediação às possibilidades preventivas, mas na transformação dos padrões transacionais que constituem a estrutura familiar

O tratamento possibilita que mais de uma pessoa seja atendida por um profissional ou uma equipe de profissionais que compartilham da mesma visão de homem e de mundo permitindo o vínculo e a linguagem comum com todos os membros da família, possibilitando uma re-construção dos significados que giram em torno do problema.