TEORIA DO CONHECIMENTO E UNIDADE DO HOMEM SEGUNDO RAMON LLULL

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    Teoria do conhecimento e unidade dohomem segundo Raimundo Llio

    Llio unifica as esferas da realidade pelo ato. Llio faz umalgica real. Tudo individual, mas h realidades comuns. Aunidade do homem. Pode humanizar apenas o homem

    humanizado.

    A boa interculturalidade. O direito. Os costumes. A liberdade.O dilogo inter-religioso. O respeito conscincia do outro. Ospovos. Os valores. O papel da Igreja e do Estado.

    Talvez parea estranho a alguns de vocs comearmos un congressosobre a interculturalidade falando da Teoria do Conhecimento. Mas, defato, para levar a cabo uma boa interculturalidade temos de saber o que a pessoa, o que a cultura, quais so os costumes e os modos de serdos povos e, sobretudo, como tratamos uns aos outros, que nisto radica acultura.

    A histria nos mostra como desde a dominao mais brutal at aindiferena mais desumana, passando pela mtua compreenso, oshomens se trataram de muitas maneiras, isto , passamos por muitas

    culturas. Fazemos isso sempre, mas todas as vezes de acordo com a idiaque formamos dos outros (noma).

    Por outro lado, as leis que escolhemos para organizar a convivnciaso expressas por palavras e proposies (lgos), de modo que, sequeremos falar de interculturalidade, no podemos fugir de tocar nosgrandes temas da significao, da possibilidade de conhecer osindivduos, da universalidade dos pensamentos, da verdade etc., isto ,no podemos deixar nas mos dos polticos e dos comerciantes oentendimento mtuo entre os povos.

    ooOOoo

    Llio sabia disso.Antes de definir aquelas realidades que compem a verdadeira

    interculturalidade, o ser humano, os povos, os seus costumes, leis,instituies etc. , dediquemos alguns minutos a fazer uma rpida

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    reviso de como a lgica luliana, porque Llio acessa a realidadediferentemente de Aristteles.

    Quando Llio se props resolver a questo do dilogo intercultural,a primeira coisa que fez foi unificar as trs esferas da realidade: os entesfsicos (phsis), os pensamentos (noma) e o mundo da linguagem (lgos).

    Se temos de chegar a um acordo sobre o modo de nos comportar com osoutros, estas trs esferas tm de estar bem ligadas entre si. claro quequando pensamos sozinhos nas coisas, temos menos possibilidade de errardo que quando queremos chegar ao que so as realidades com a ajuda dodilogo, porque este ltimo se baseia nos pensamentos e nas palavras, nossos e alheios , enquanto que quando estamos ss dirigimos os nossospensamentos diretamente sobre as coisas. Porm, de nada serviriaorganizar bem o nosso pensar se aquelas trs esferas estivessemseparadas. De fato, uma mera forma de pensar no nos obriga a nenhumcomportamento determinado, e justamente isto o que procuramos.

    Llio unifica as esferas da realidade pelo ato

    Quando Llio, na sua Arte, descreve os Princpios Generalssimos,diz que so tanto princpios do ser como do conhecer. Creio que nopercebemos de todo com a profundidade necessria o que quer dizer estaafirmao. Llio diz na sua Arte que os Princpios so primeiros,generalssimos e universalssimos, ativos, princpios da realidade e doconhecimento1, isto , princpios das formas fsicas e tambm das formas

    lgicas. Por tanto, como os princpios so sempre diferentes do queprincipiam, dos principiados , Llio se pe ao lado de Aristteles esupera Plato, quando, ao defini-los deste modo, afirma que os Princpiosda Arte no so formas lgicas2.

    De fato, o mundo da natureza, segundo Llio, no to-somenteum reflexo do mundo dos pensamentos, como afirmava Plato. serfsico. As coisas fsicas da natureza so entes, isto , exercem a atividadede ser. Tambm o so os pensamentos e os nomes, por isso Llio podeunificar essas trs esferas. Faz isto a partir da perspectiva do ato. O que

    1 Os princpios so universais entitativos, que segundo a definio aristotlica, soaquelas entidades que tm o ser noutros e se predicam destes outros: id quodhabetesse in multis et de multis.

    2 Poder-se-ia dizer ainda, a partir desta afirmao luliana, que o nosso conhecimentodepende de Deus porque Ele o que faz tanto as coisas como os nossospensamentos. De fato, os Princpios, que so princpios de toda a realidade,tambm o so de Deus. No esqueamos, porm, que quando os consideramos emDeus so infinitos e cada um deles se identifica com o Ser de Deus. Llio ento osdenominar Dignidades.

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    acontece que o ato de ser diz-se de muitas maneiras e por isso nossairo diferentes lgicas, mas sempre as poderemos unificar.

    Por outro lado, se os Princpios lulianos so princpios das formasfsicas e lgicas tambm sero do conhecimento prtico, isto , daqueleconhecimento que tem como finalidade a conduta. Por isso essa questo

    dos Princpios tem relao tambm com a interculturalidade.No obstante, o ato das formas pensadas no o ato das formasfsicas. Nos entes individuais do mundo fsico, alm das formasdeterminadas que os atualizam, encontramos as indeterminadas, queesto em potncia3. Por isso esses entes esto em movimento. Almdisso, esto imersos na matria. Ao contrrio, as formas pensadas notm movimento nem matria. Por isso, nunca chegaremos a acessar omundo da realidade fsica a partir dos pensamentos, porque nospensamentos no h nem movimento nem matria. Por este motivo, aarticulao das formas pensadas nunca nos revelar como se estrutura a

    realidade fsica, porque as conexes e diferenas dos entes individuaisfsicos no so iguais s conexes e diferenas das formas pensadas. Issoj vira o Estagirita, e sugeriu diferentes alternativas, mas acaboumontando todas as categorias dos entes a partir da predicao lgica4.

    O universo luliano um conjunto de atos imersos uns nos outros.Tudo est em movimento, mas uns movimentos sustentam os outros. Unsatos sustentam os outros e tudo fica sustentado pela atividade divina 5.Este o cosmos luliano6.

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    O ser das substncias e o das formas so atos, por isso no podemos reduzir o ato aoser da forma. Cf. GARAY, Jess de, [1987], p. 106: El acto no se reduce al ser de laforma, porque el movimiento es tambin de un modo particularmente privilegiado acto; y el movimiento es siempre otro, mientras que la forma es siempre lamisma. El acto de la forma no se ha de buscar en la mismidad de la idea ni ensus determinaciones siempre idnticas. As pues, la forma es acto, pero el acto nose reduce a forma, sino que tambin es acto el movimiento.

    4 Cf. GARAY, Jess de, [1987], p. 10: As pues, la substancia es la primera de lascategoras, las cuales son en tanto que son substancias. Pero la distincincategorial es una distincin que se establece desde el lenguaje y la estructurapredicativa: segn las categoras la realidad se nos muestra agrupada y clasificadaen unos gneros.

    5 No Brasil h a capoeira, uma dana de origem africana que tambm uma luta,mas principalmente uma dana e danada ao som de uma msica. Aqueles quea danam necessitam possuir dois hbitos, o da luta e o da dana, e expressam -nosem um nico movimento. So dois hbitos, um sustentado pelo outro, mas se osdanarinos no tivessem a preparao fsica da luta no a poderiam danar. Temosaqui um exemplo de um ato sustentado por outro.

    6 Considerar a realidade como um conjunto de atos imersos em outros permite-lhetambm dar realidade um carter copulativo, abrindo -lhe desta maneira umaporta para a predicao, e at pr a realidade como fundamento da atribuio

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    Llio constri toda uma teoria sobre o ato que a sua conhecidateoria dos correlativos. Com a sua ajuda estuda tanto os entes materiais,compostos de matria e forma, como os espirituais, compostos de ato epotncia, sendo esta ltima o ato dos entes que esto em potncia. Issolhe permite unificar os entes que so compostos de matria e esprito,

    como o caso do ser humano. Tambm explica com a teoria correlativacomo os entes da natureza, que se movem, continuam sendo o que somesmo que no o sejam plenamente7.

    Llio faz uma lgica real

    Como nunca chegaremos a acessar o mundo da realidade fsica apartir dos pensamentos, por este motivo Llio faz com a sua Arte umalgica que se poderia denominar lgica real8. Diz que preciso acessar as

    coisas a partir das prprias coisas, isto , a partir da natureza. Como asprimeiras formas que se apresentam ao nosso conhecimento so as formassensveis, Llio comea por elas, mas as v sempre imersas dentro deoutra atividade mais profunda, at chegar aos Primeiros Princpios. Lliov as coisas como sendo fruto de uma mltipla atividade conexa.

    Para definir as realidades, pois, buscar os seus atos, definir cadaente pela sua atividade prpria e ser a partir desta atividade queexercitar a predicao. O ato permite-lhe passar, no mundo fsico, dosindivduos aos grupos de indivduos que tm uma mesma atividade, e, nomundo lgico, dos pensamentos particulares aos universais.

    De fato, Llio faz com a sua Arte um novo tipo de cincia, noaristotlica , porque se baseia na atividade dos entes naturais. Assubstncias se constituem por uma atividade primitiva, tambmdenominada prpria9. As suas definies baseiam-se no ato; a predicao

    lgica. A lgica luliana tem uma pretenso legtima de verdade sobre a realidade .Cf. GARAY, Jess de, [1987], p. 165.

    7 Cf. LULL, Ramon, [2008] passim.8 Cf. LULLI, Raymundi, Introductoria artis demonstrativae, MOG iii, II, i (55):

    Metaphysica enim considerat res, quae sunt extra animam, prout conveniunt inratione entis; logica autem considerat res secundum esse, quod habent in anima,

    quia tractat de quibusdam intentionibus, quae consequuntur esse rerumintelligibilium, scilicet de genere, specei & talibus, & de iis, quae quae consistuntin actu rationis, scilicet de syllogismo, consequentia & talibus; sed haec Arstanquam suprema omnium humanarum Scienciarum indifferenter respicit enssecundum istum modum & secundum illum; & sic patet, quod in modo considerandiex parte subjecti defferant.

    9 Cf. LLULL, Ramon,[1998], p. 51: Si acci e forma se converteixen en lo subjet enqu sn. E responem d[i]visn, so s que s acci primitiva (actes propis) e accisecundria (actes apropiats). Primitiva s substancial o substantiva qui ab si

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    tambm. No h dvida alguma de que a cincia luliana uma novamaneira de acessar a realidade. preciso acessar a realidade a partirdela mesma e no do mundo lgico do pensamento. Llio sabe que aspropriedades lgicas, universal e singular so propriedades das coisaspensadas, isto , so propriedades lgicas, se baseiam em propriedades

    reais, e no o contrrio.Dir tambm que a maior ou menor universalidade dos conceitos sebaseia em uma propriedade real, em um ato. Segundo a maior ou menorcontrao do ato que constituir a coisa, obter-se- uma maior ou menoruniversalidade do seu conceito. Por exemplo, o ato de substantivar,considerado no animal e no homem, mais comum em animal doque em homem. O ato de sentir, por exemplo, encontra-se nassubstncias, nos animais e no homem, mas mais comum na substncia,menos no animal e ainda menos no homem, mesmo que no deixe de sera atividade comum que tm estes dois extremos, substncia e homem.

    Llio, por este motivo, pensa que nos silogismos o ato de sentir pode sertermo de comparao. De fato, Llio sempre constri os silogismos comtermos mdios que so verdadeiros meios reais entre as coisas assinaladaspelos extremos dos silogismos. Ele diz que busca um termo natural, real,primitivo, interno e necessrio s coisas etc., e o acha no ato10.

    A lgica aristotlica no funciona assim. A maior ou menoruniversalidade dos termos depende da posio que o conceito tem naproposio mental. Assim, se o termo est na posio de predicado sersempre universal se a proposio for negativa e sempre particular se aproposio for afirmativa, isto , a universalidade do termo depende de

    uma propriedade lgica, da posio no pensamento.O sujeito ltimo da predicao, em Llio, , pois, a atividade de umente individual existente, e por isso chega ao fundamento das coisas,porque so os atos que constituem as coisas. Por este motivo, apredicao da lgica real luliana comporta uma maior necessidade que ada lgica aristotlica, cuja predicao tem apenas a necessidade que tmos sujeitos pensados.

    A lgica luliana com que constri a Arte no fundo uma novamaneira de argumentar a partir da realidade ativa dos entes. Comoanalisa e integra os atos, isto , os seus movimentos, pode demonstrar

    que muitas das contradies que descobre nos entes no so, de fato,

    matexa e ab la sua prpia matria constituex substncia general, constituda deforma e de matria substancial. E aytal acci s dita sser convertida ab la suaforma. Enper lacci secundria que s actus de la primera forma, en genre deaccidens posada, ab forma accidental se convertex, ax con calor ques convertexab la sua acci, so s ab la sua activitat.

    10 Cf. LLULL, Ramon,[1978], p. 251-275.

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    isso. Por este motivo, definiu uma nova falcia, a falcia da contradio,que emprega, junto com os silogismos contraditrios, como instrumentopara ultrapassar essas contradies aparentes. Isso lhe permitir dizer emmuitas ocasies, aos averrostas e aos infiis, que no estamos emcontradio, e sim em equivocao.

    Tudo individual, mas h realidades comuns

    Na natureza encontram-se apenas entes individuais. Na IdadeMdia, at 1250, duvidava-se de que existisse alguma inteleco dosentes individuais. Depois, com Rogrio Bacon e Toms de Aquino, admite-se una inteleco indireta. A partir de 1275, medida que se aceita ateoria aristotlica da abstrao, comea-se a admitir a inteleco direta,culminando essa teoria com Duns Escoto. Llio admite a inteleco direta

    das formas individuais, mas se diferencia de Duns Escoto no fato de queeste ltimo, se bem admite a inteligibilidade per seprimo do indivduomaterial, no cr que seja possvel ao ser humano no estado atual da suavida11. Llio, como se baseia no fato de que conhecemos os atosindividuais, muito claro: Conhecemos intelectualmente os indivduos, eexplica isso pela conjuno do ato do sentido com o ato doentendimento12.

    Descobre que entre os indivduos h alguns que exercem a mesmaatividade e por isso podemos agrup-los em classes. A eles corresponde,no mundo lgico, a universalidade. Como se pode deduzir por tudo o que

    se disse at agora, os universais lulianos no so idnticos aosaristotlicos, porque tm um fundamento diferente. A universalidadearistotlica uma propriedade devida a um ato do entendimento, que vque aquilo que se pensa se pode predicar de muitos, portanto, umapropriedade puramente lgica, uma propriedade das coisas pensadas13. A

    11 Cf. BRUB, Camille, [1964]. p. 157, nota (2): Ad argumenta contra intellectionemsingularium, quae fiunt super librum primum, patet quod nunc numquamintelligitur; unde perfectissima scientia nunc nobis possibilis est de speciespecialissima, ibi status. Das imagens podemos tirar conceitos da individualizao,mas sero sempre conceitos universais.

    12 Cf. LLULL, Ramon, Liber de modo natvrali intelligend i,[1978], p. 189: Intellectushumanus per se habet naturam intelligendi, cum intelligere sit suus actus. Potentiaautem visiva per se habet naturam uidendi pari ratione. Et quia istae duaepotentiae sunt coniunctae, oritur naturaliter communis actus, per quem intellectusattingit obiectum coloratum, mouendo potentiam uisiuam ad obiectum uisibilie. Etde hoc experientiam habemus; et contra hoc non est dare instantiam.

    13 De fato, a universalidade aristotlica uma propriedade que o nosso entendimentoconfere s coisas quando as pensa. Ao pens-las, v que o que se pensou tambmse poderia predicar de muitas outras, e forma uma relao entre o pensado e

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    universalidade luliana, porm, baseia-se na comunidade de um atocompartilhado por vrios entes, uma propriedade real, baseada em umaprimeira inteno da mente14.

    Os predicveis lulianos so reais, porque no so os aristotlicos,que no tm uma correspondncia real na realidade. Aos predicados

    lulianos corresponde na realidade uma atividade comum, devida atividade permanente dos Primeiros Princpios, que persiste inclusive seforem destrudos todos os indivduos ou todas as espcies15.

    Finalmente, Llio define os entes tambm pela sua atividade, peloato prprio de cada substncia. Se queremos definir o homem, vemosnele o ato de sentir, o ato da vida sensitiva, mas esta comum a todos osanimais. No homem, o ato de sentir se contrai em um sentir maisespecfico, que no fundo a sua ltima diferena em relao aos animais.As ltimas diferenas que definem as coisas so tambm atos. Qual a dohomem? Llio o define como o animal que humaniza. O homem um

    ser que humaniza a si mesmo, o seu entorno, a sua comunidade, a suanao, todo o mundo16.

    muitos outros. Isto a universalidade aristotlica. Embora se fundamente nascoisas, uma propriedade lgica.

    14 Cf. LLULL, RAMON, [1998] ROL XXIII, 16, Ln. 13-19: Verumtamen quia logiciconsideratio circa intenciones versatur secundas, quas perfecte cognoscere nequit,primis intentionibus ignoratis. Ideo in hoc nostro compendioso et novo opere,

    ponentes, deficientes et demonstrantes, in aliquibus passibus naturaliter etphilosophice procedemus, ut primarum et secundarum intentionum notitianaturaliter et logice a scientibus hunc librum plenarie ac clarissime habeatur.

    15 Cf. LLULL, Ramon, Liber de modo natvrali intelligendi,[1978], p. 189: Factahypothesi quod omnia individua essent destructa, quaeritur: Vtrum species essetens reale? Respondendum est, quod sic. Aliter no esset dare medium intersuperiore et inferiora. Ipsa uero species sic esset in genere, si cut planta est inpotentia in grano. Sed si quaeritur: Vtrum destructis omnibus speciebus genus sitens reale? Dico, quod sic. Aliter praedicta, inconuenientia, quae de speciesequuntur, etiam sequerentur de genere. Et si quaeratur: Vbi est sustentatumgenus ipsum? Dico, quod in principis primis, quae sunt decem et octo, ut patet inArte generali. Quae sunt: Bonitas, magnitudo, duratio, potestas etc. secundum

    quod patet ibidem. Quae principia appeterent, ut genus esset actu.16 Cf. LLUL, Ramon, [1985], Logica nova, p. 31: Homo est animal homificans. Et ista

    definitio est magis specifica, et magis convertitur cum definito, quam ista: Homoest animal rationale et mortale; quia de genere rationalitatis est angelus, et degenere mortalitatis est leo et equus, etc. Hoc quidem de Deo dici potest, et deceteris entibus. Sicut Deus est ens deitans, et sua aeternitas aeternans, suainfinitas infinitans; ignis est igniens, leo leonans, planta plantificans, faber homofabricans. Et ideo definitio magis propria est, cum sit maioris proprietatisimmediate subiecti.

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    J encontramos aqui o caminho luliano que nos permitir acessar aprtica da boa interculturalidade. Uma interculturalidade quecorresponda verdadeira definio do homem.

    A unidade do homem

    Agora, porm, necessrio ver como essa atividade que permitedefinir o homem como um animal homificans no uma atividadeacidental, mas constitui substancial e intrinsecamente o homem.

    Llio explica que o ato de ser homem um ato superior que unificae mantm unidas a forma comum do homem e a matria comum dohomem17. uma atividade sem a qual no poderiam existir os atos daspartes inferiores do ente humano. O ato de ser homem possibilita estaatividade inferior e a eleva a uma harmonia e unidade superior. Em Llio,

    de fato, o ato constitui o ente, e, portanto, o agir humano, o homemconcreto.Ele , pois, partidrio de que as potncias da alma so partes da sua

    substncia; no so somente algo acidental18, e pensa assim porquedistingue em todos os entes dois tipos de atividade: uma primitiva ousubstancial e outra secundria ou acidental19. A primeira no passa dapotncia no ato, mas permanente e habitual 20, e converte-se com a

    17 Cf. LLULL,RAMON, [1950], Llibre dhome, p. 28: E a mateix dels actus de lnimae del cors, qui sajusten, e de lur conjunyiment ajustament resulta e hix home qui

    passa e est en ter nombre, e s lo tot simple en nombre de home, segons sadiffinici, e ses parts sn la sua forma comuna e matria comuna e lactu com quedit havem. E en aix home est en lo som. preciso no confundirmos essa formacomum do homem com a alma, nem a sua matria comum com o corpo (para umaexplicao mais ampla do ser do ente humano, cf. JAULENT, Esteve, [2004],Antropologia lulliana.)

    18 Era uma famosa querela discutida na Idade Mdia, se as potncias da alma fazemparte da sua substncia ou so somente potncias acidentai s. Diabolicadisputatio chamava-a Le Mysier, cf. HILLGART, J. N., [1998], p. 266.

    19 Cf. LLULL,RAMON, [1951], p. 51: Si acci e forma se convertexen en lo subjet enqu sn. E responem d[i]visn, so s que s acci primitiva e acci secundria.Primitiva s substancial o substantiva qui ab si matexa e ab la sua prpria matria

    constitueix substncia general, constituda de forma e de matria substancial. Eaytal acci s dita sser convertida ab la sua forma. Enper la acci secundria ques actus de la primera forma, en genre de accident posada, ab forma accidental seconvertex, ax con calor ques convertex ab la sua acci, so s ab la sua activitat.

    20 Cf. LLULL,RAMON, [1950], Libre de Home, p. 35: Si en la memria no era coninumembrar, e enteniment entendre, e en la volentat voler, les formes e les matriessperituals de la nima que dites havem en lo captol Com s hom, serien ociosese no haurien ab qus poguesen ajustar, e car les formes no haurien acti ni lesmatries passi sens radicals membrar, entendre e voler, lnima no hauria ab qu

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    substncia do sujeito que age; a segunda, no. Portanto, quando ohomem realiza essa atividade substancial, que tambm chama deprpria , que nunca se interrompe e tem lugar, como diz Llio,durante todo o tempo em que o homem homem, cresce, ou seintensifica, no seu ser. Esta uma teoria muito importante no

    pensamento luliano, que permite explicar tambm, como veremos aseguir, que o acesso do homem maturidade algo que est vinculado aobom exerccio da sua atividade.

    Llio distingue em cada uma das substncias os atos prprios dosapropriados. Explica que os primeiros tm os seus objetos no interior(dedins), enquanto os dos atos apropriados esto no exterior, masesclarece que sempre os objetos exteriores so tidos nos interiores21.Por exemplo, a atividade intelectual externa, que tambm chama deapropriada , isto , o conhecer, querer e lembrar os outros sujeitos queno so ele mesmo, realiza-se sob o amparo da atividade primitiva ou

    substancial da alma, a atividade prpria , e, ao mesmo tempo, temcomo finalidade essa atividade prpria (dedins), ou seja, a atividadeprpria se alimenta da apropriada (externa). Isto explica duas coisas: Aatividade de cada ente construir o prprio ente, e podermos definir osentes pela sua atividade.

    Ou seja, toda a atividade humana, se for bem orientada, pode serconstrutora do homem. Alm disso, a unidade da alma faz o ato deconhecer no ser um ato isolado do entendimento, mas que tambmparticipem nele a vontade e a memria. Llio junta essas trs atividadesde tal maneira que para conhecer adequadamente diz que preciso amar

    e lembrar o que conhecemos; de outro jeito no chegaremos a conhecerbem.Em Llio, pois, a atividade que vai aperfeioando a alma humana

    lembrar, conhecer e amar. O qu? A si mesmo e os entes de fora, massempre a atividade de dentro amparar a de fora, sem esta ltima nocresceria a de dentro.

    Estas explicaes servem tanto para as atividades cognoscitivastericas como para as prticas, ou seja, as destinadas ao construtiva,social ou fsica, externa. Se a atividade prpria se alimenta da apropriadae os objetos externos so tidos nos internos, bvio que ao conhecer o

    mundo externo obtemos simultaneamente um conhecimento de nsmesmos.

    enforms los cors, ni ab qu li dons sser ni vida, e ab ell nos poria ajustar niconjunir. Cov, donchs, quels radicals membrar, entendre e voler sien en continuactu en aquell temps en qu home s home. Cf. Id, p. 28, nota 4.

    21 Cf.LLULL, Ramon,[1950], Llibre dnima racional, p. 206. nima ha los obgects defores en los obgects de dins.

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    Por exemplo, quando conhecemos a verdade dum ente, percebemosao mesmo tempo que estamos conhecendo esse ente, isto , conhecemosque estamos fazendo algo. Ora, quando conhecemos condutas oucomportamentos humanos, virtuosos ou viciosos, percebemos tambmcomo esse nosso ato de conhecer, amar ou lembrar esse

    comportamento, e nos damos conta de que temos hbitos bons ou ruins.Ao conhecer um roubo, exemplifica Llio, se o acharmos deleitoso egostarmos dele, percebemos que estamos desejando incorretamente algosensvel e imaginvel que deleitvel, mas que em si mesmo no inteligvel nem amvel. O nosso conhecimento, neste caso, estdespossudo, portanto, por mor de um hbito vicioso, da sua plenitude. assim que nos elevamos at o conhecimento dos hbitos, bons ou ruins22.

    Llio, pois, pensa que quando fazemos o mal, percebemos que ofazemos. Creio que isto muito importante e j nos d algumaorientao para a prtica da boa interculturalidade.

    A unidade do homem, segundo Llio, completa. um resultado daconexo de uma srie de atos de todas as potncias, sustentada pelo atode ser homem.

    No obstante, apenas quando essa atividade anmica e corporal serealiza segundo a finalidade natural de cada potncia, isto , quando oentendimento conhece a verdade, a vontade conhece o bem e a memrialembra do bem amado e do mal repudiado, ou, com outras palavras,quando as aes so propriamente humanas ou, segundo a sua definiode homem, quando somos humanos, ento chegaremos a conhecercorretamente o nosso entorno e tornaremos possvel a nossa engrenagem

    no mundo, obtendo como um resultado, e unicamente neste caso, ocrescimento no prprio ser.

    Pode humanizar apenas o homem humanizado

    Concluso: Apenas o homem humanizado, o homem que o deverdade, pode humanizar.

    22 Cf. LLULL, RAMON, [1978], O. 204: Homo moralis uidit suspendi latronem. Deinde

    considerat latrocinium et per consequens culpam. Tunc ascendit et considerat,quid est causa culpae, et determinat, quod talis causa est habitus priuatiuusintellectus, uoluntatis, et memoriae, qui obiectant indebite aliquod bonumdelectabile, sensibile et imaginabile contra bonum intelligibile et amabile. Et tuncintellectus considerat culpam et per consequens uindictam. Et tunc transit erobiectat iniuriam. Dum sic intellectus obiectat iniuriam, ascendit ad obiectandumiustitiam. Et cognoscit, quod iustitia est habitus bonus, cum quo agitur recte etiuste et bene, quoniam bonum est punire latronum, ut quilibet possideat in pacehoc, quod suum est.

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    O homem experimentar a unidade com a totalidade que o envolveser possvel apenas se conhecer e amar o mundo tal como criado.Assim sim, realiza-se a conjuno de todos os atos humanos suportadostodos eles pela ao divina. Quando consegue fazer isso, empregandobem a sua liberdade, ento experimenta o mundo corretamente, e vai

    incorporando-o. S ento se humaniza e, humanizado, poder humanizartudo o que tem sua volta.Somente o homem que vive em paz poder levar a paz s

    instituies, ao social e s relaes entre os povos atravs das suasprodues sociais, cientficas, artsticas, tcnicas e estticas.

    A boa interculturalidade

    Para levar a cabo uma boa interculturalidade, j temos, pois, bem

    definidas um par de condies. Primeiro, a definio do homem: umanimal que humaniza. Segundo, um uso da liberdade que respeite asfinalidades das faculdades humanas e a finalidade do homem como umtodo.

    Se o homem individual estiver ordenado e em paz, poder realizaruma ao social destinada a buscar mais o bem geral e pblico que oparticular e especial23. O bem comum maior e mais necessrio que obem especial. claro que so as leis, quando obedecidas pelosintegrantes dum povo, que organizaro esse bem comum.

    O Direito

    Llio foi o primeiro a empregar a expresso Princpios do Direito,referindo-se aos fundamentos do Direito. muito original, pois fazcoincidirem os Princpios do Direito com o Direito Natural. A sua teoria doDireito Natural tambm sai da observao dos atos das criaturas, que sotestemunhos da existncia de um ordenamento natural que, se bemcaptado e obedecido pelo homem, com a ajuda das suas faculdades

    23Cf. LLULL, Ramon, [2000], p359: Fructus arboris imperialis est pax gentium, ut inpace esse possint, Deu metiam recolere, intelligere et amare, honorare et eiservire, quoniam gentes, quae sunt in guerra et inuicem in laboribus, non sunt indispositione, quod Deum multum possint amare, honorare et seruire, nec sibi ipsisnec etiam aliis caritatem habere. I p. 360: Idcirco fructus principis, qui talibusqui talibus fructus habet respondere, est infirmus quando se inclinat ad specialiacontra generalia et publica, sicut princeps malus, qui plus diligit suam utilitatemquam utilitatem sui populi; quaoniam propter infirmitatem fructus principis suntfructus populi infirmi.

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    espirituais , acessar, amando o bem e evitando o mal, ao fim por quefoi criado. Entende por Direito Natural amar a Deus, viver honestamentee dar a cada um o que seu, dando mais importncia ao princpio amara Deus24. Este Direito Natural, segundo Llio, supera todos osordenamentos.

    (Esta comunicao no tem por objetivo resumir toda a teoria sociale poltica de Llio, isto o que faro os outros congressistas medidaque forem se desenvolvendo os trs blocos do Congresso , e sim apenasapresentar o vnculo que une a teoria do conhecimento luliana com asnoes originais do que seria uma boa interculturalidade. Por isso, depoisde explicar como a perspectiva do ato penetra toda a teoria doconhecimento da Arte luliana, vimos a definio do homem e da suafinalidade, e agora estamos vendo como tambm a atividade queexplica as leis, os costumes e os valores que o homem pode adquirir

    durante o tempo que homem25

    .)

    De fato, os Princpios reais da Arte, segundo o que diz Llio, do-nos acesso ao Lgos da Verdade substancial, necessria e eterna, e atodas as outras verdades contingentes, as verdades criadas. Tambmquelas que se referem esfera da vida pblica ou social; os Princpios daArte so formas da justia, e fora deles no pode existir a justiaperfeita. O Direito ser, pois, verdadeiro se se basear neles.

    Os costumes

    J vimos como contemplando a pena capital aplicada a um ladro,Llio se ergue at o conhecimento dos hbitos. A seguir, ao se perguntarcomo so constitudos estes hbitos, diz que so semelhanas dosPrincpios Inatos que constituem o universo, e fazem a inteligncia terum justo entender e a vontade um justo amar e a memria um justolembrar, a fim de tenderem ao fim para o qual so feitas, e poderemjustamente regular as potncias inferiores26. O mesmo podemos dizerdos costumes.

    24 Cf. PIA Homs, Roman, [1984], p. 63-64.25Vegeu la nota 15.26 Cf. LLULL, Ramon,Liber de modo natvrali intelligendi, p. 204: Dum sic consideratintellectus, ascendit et quaerit: De quo est habitus iustitiae? E considerat, quod estde similitudinibus principiorum innatorum, ex quibus uniuersum ests contitutum, utputa bonitas, magnitudo, duratio, potestas etc. collectis ab istis principiis perintellectum, uoluntatem et memoriam, ut intellectus habeat iustum intelligere etuoluntas amare et memria recordare, ut tendant ad finem, ad quem sunt, et iusteregulare potentias inferiores possint.

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    Os costumes no so para Llio modos de agir estabelecidos por umlongo uso ou pela repetio de atos semelhantes, e sim to-somente pelasua racionalidade 27. Supera Aristteles com esta afirmao, e toda a altaIdade Mdia, que legitimava o Direito segundo a sua antiguidade. ParaLlio os costumes tambm so fontes do Direito, como as leis e,

    sobretudo, os Princpios do Direito, que, como vimos, identifica com oDireito Natural. Por mais antigos que sejam, os maus costumes, isto , osque vo contra a justia e a liberdade de fazer o bem e evitar o mal, tmde ser combatidos. O povo que os admite age contra si mesmo28.

    A liberdade

    Gostaria de dedicar algumas linhas questo da liberdade de fazero bem e evitar o mal, porque poderemos tirar concluses muito

    importantes para a interculturalidade.Llio diz que a liberdade uma forma intelectual dada ao homem afim de livremente fazer o bem e evitar o mal, e isto assim porque obem algo to nobre que a sua nobreza exige que se faa livremente eno por coao. Assim como o vcio e o pecado so to ruins edesprezveis que no os devemos odiar por constrangimento. Por issoDeus nos fez livres29.

    Conseguir que aqueles que esto errados entrem por caminhos deverdade um grande bem, certamente o bem mais necessrio paraacessar a maturidade humana. Mas isto, por maior que seja o bem, no

    pode ser feito por coao, induzidos pela violncia. verdade tem acessocada um, livremente, ao perceber que estava no erro30.

    O dilogo inter-religioso

    27 Llull, Ramon,[1986], p. 182. 28Cf. Llull, Ramon, [2000], p.349: quia ille populus facit contra semetipsum, qui uult

    quod in ciuitate sint aliquae antiquae consuetudines, quae sunt contra iustitiam etlibertatem bene faciendi et malum euitandi.29 Cf.LLULL,Ramon, [2000], p. 348: Libertas est forma intellectualis data homini, utlibere bonum faciat et libere malum euitet. Quoniam bonum est ita nobile, quod deeius nobilitate est quod libere fiat et non coacte. Et uitium et peccatum tantum estmalum et uile, quod sibi non conuenit quod coacte sit deamatum. Et ideo est datalibertas uoluntati hominum ad faciendum bonum et ad uitandum malum.30 Llio dedica toda a distino XXX do Livro de Contemplao conscincia. So setecaptulos que demonstram como temos conscincia das nossas falhas cometidas pelossentidos corporais e espirituais, das falhas que cometemos com as trs virtudes daalma, quando falamos ou quando nos calamos, ao dar e ao tirar etc.

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    Esta questo tem a sua mais importante aplicao nainterculturalidade, quando se aplica converso religiosa, isto , trocar aprpria religio por outra. Como a religio um dos principais elementosdas culturas, o que mais principalmente causa a unidade do povo,devemos examinar o papel do dilogo inter-religioso na

    interculturalidade, e sobretudo devemos examinar da perspectiva dafilosofia luliana.Gostaria de lembrar aqui um pequeno trabalho escrito por Llio em

    1309, em que, comentando a harmonia que deve existir entre a f e arazo, diz que no se deve querer renunciar a uma f em favor de outra,mas possvel sim renunciar a uma f por uma melhor compreenso31,isto , no devemos abandonar a f que vivemos, a no ser que estejamosconvencidos da maior verdade de outra f. Llio estava convencido destaposio que quando pregava nas sinagogas e nas mesquitas comeava odilogo dizendo que se o conseguissem convencer da verdade do judasmo

    e do islamismo com muito gosto se converteria a estas religies. Noeram as suas palavras um procedimento retrico ou uma ttica parapersuadir, mas se originavam exclusivamente da sua adeso ao Lgos.

    Vemos aqui, bem explicada, a finalidade que, segundo Llio, tem odilogo inter-religioso: Acessar a possibilidade de mudar de religio.

    Para realizar essa mudana fundamental, j vimos isso antes, acapacidade que o homem tem de perceber os seus hbitos, afirmada porLlio constantemente32. Tambm de perceber que se encontra no erro.No comeo da sua carreira de escritor, no ano de 1274, Llio explicava aoseu filho isso mesmo com estas palavras: Muitos judeus e sarracenos

    esto sob a senhoria dos cristos e no tm nenhum conhecimento da fcatlica. Os cristos deveriam permitir que se mostrasse, mesmo comajuda da fora, essa f a alguns filhos dos infiis, para que assim tivessemconhecimento dela, e por este conhecimento tivessem conscincia de seacharem no erro, pela qual conscincia seria possvel a sua converso e aconverso de outros33.

    Temos aqui um compndio que explica a verdadeira postura deLlio diante do problema: Muitos judeus e maometanos, que no tinhamnenhuma notcia da f crist, estavam cativos nas terras reconquistadaspelos cristos. Llio, constatando este fato, diz que se pode obrig-los a

    ouvirem explicaes sobre a doutrina crist a fim de perceberem que seacham no erro, isto , admite a fora to-somente para propiciar oensino, o dilogo, no para vencer as mentes com violncia. Diz isso

    31 Cf. LLULL, Ramon, [1721], vol. 4, XII, p. 2: quia nolunt dimittere credere procredere, sed credere pro intelligere.

    32 Ver a nota n. 26.33Cf. LLULL, Ramon, [1274], p. 154.

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    claramente: Tendo ganho a conscincia de que se acham no erro, possvel converterem-se, e mesmo converterem eles mesmos a outros.

    Notem a expresso que usa: possvel converterem-se.Em resumo, falso que no final da sua vida Llio tenha optado pela

    fora para converter os maometanos ao cristianismo. O que queria era

    que as pessoas livremente se convertessem, mas aqui j tocamos noutraquesto muito importante, que a do respeito que Llio tinha pelaconscincia das pessoas.

    O respeito conscincia do outro

    Em perfeita continuidade com aquilo que ensinava ao seu filho, em1292 Llio escreve o Tractatus de modo convertendi infideles, deixando-nos um testemunho do seu modo de pensar: Igualmente dizemos dos

    sarracenos cativos entre os cristos. Que se ordene ensinar a nossa f aalguns deles melhor bem preparados e que se lhes mostre os nossosargumentos que destroem o seu sectarismo. Se no quiserem deixar-seconvencer, que se discuta por algum tempo um pouco mais com eles e,em seguida, seja-lhes permitido retornar livremente s suas terras,pagando com cortesia as suas despesas. Eles explicaro aos demaissarracenos como a nossa f, as provas e o modo de crer que ns temos,o que espalhar a dvida entre eles e preparar o caminho da suaconverso34.

    Como podemos ver, Llio, mesmo aceitando a fora que colocou

    alguns maometanos em cativeiro, no quer de modo algum impor-lhescom violncia a f crist, porque a verdade, como sempre diz, apenaspode se impor pela sua prpria fora. O nico caminho que admite o doconvencimento. Caso no se convenerem, recomenda que os deixemretornar aos seus pases pagando-lhes as despesas do retorno.

    Considero que esta a melhor demonstrao de respeito conscincia dos outros. Hoje em dia entende-se que este respeitoconstitui o fundamento da liberdade religiosa. Temos a liberdade demudar de religio se chegarmos concluso de que estvamosequivocados, mas a esta concluso devemos chegar pelas nossas foras,

    nunca por uma violncia imposta de fora. Llio respeita a conscincia dosdemais grupos religiosos, porque sabe que a favor duma f possvelapenas apresentar a quem no a tem argumentos racionais, porque a f um dom de Deus. Se Deus d esse dom, ento a adeso pode ser feita porum ato livre da pessoa no templo da sua conscincia.

    34Cf.LLULL, Ramon, [1954], p. 104-105.

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    Os povos

    Llio percebeu que o papel histrico do imprio estava nas ltimas,e preconizou que se salvasse a unidade da cristandade no contexto novo

    de uma sociedade de naes35

    , mas viu tambm a necessidade de quehouvesse um poder que garantisse a paz. O papa teria na nova sociedadede naes esse poder supremo de arbitragem, mas teria de permanecer margem das questes que afetassem a estrutura do poder civil.

    A arbitragem do papado se realizaria da seguinte maneira (noBlanquerna): Uma vez ao ano, o papa reuniria todas as potestades emalgum lugar determinado, e, em forma de captulo, tratar-se-ia daamizade e corrigir-se-iam uns aos outros. Todas as potestades querdizer as supremas autoridades de todas as naes, sem distino dereligio. Com isso, diferencia-se totalmente de Pierre Dubois, que queria

    que se reunissem apenas as autoridades eclesisticas crists. Com a suafrmula, Llio no quer substituir o poder imperial pelo pontifcio, e simchegar a um entendimento universal com uma estrutura mnima.

    Admite que cada nao pode ter os seus costumes e que o melhorseria as pessoas os conhecerem todos e escolhessem os melhores. NaDoutrina Pueril recomenda ao seu filho: Mais sbio mercador serias tu,filho, se andasses por vrias terras e elegesses os melhores costumes queencontrasses36. Reconhece, pois, que cada povo tem os seus bonscostumes, que deveriam ser conhecidos por todos a fim de facilitar aescolha dos melhores, porque todos os homens so livres para eleger os

    bons costumes, diz ao seu filho37

    .Quando livremente trocamos um costume por outro melhor,fazemos um bem, mas ganhamos tambm o mrito que nos d a liberdadebem empregada, de tal jeito que o bem que alcanamos maior que obem que nos proporciona o novo costume adquirido38.

    Esta a filosofia luliana. Sem dvida alguma, expressa uma cultura.Com essa mudana de costumes, Llio quer nos dizer que as tradiesfilosficas das vrias culturas so expresses complementares da mentehumana e expressam atitudes e modos de pensar que podem se permutar.Somos, pois, capazes de moldar e transformar o que recebemos do

    35 Cf. PIA HOMS,Roman, [1984, p. 71].

    36Cf. LLULL, Ramon, [1986], p. 182.

    37 Cf. LLULL, Ramon, [1986], p. 181.

    38Cf. LLULL, Ramon, [2000], p. 348: Et quoniam homo libertatem habet ad faciendumbonum et euitandum malum, si bonum faciat et malum euitet, habet meritum,ratione cuius maius bonum assequitur, quam bonum quod fecit. Et si faciat malum eteuitet bonum, habet culpam, ratione cuius consequitur maius malum et perdit maiusbonum, quam bonum quod facere noluit.

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    exterior, e se as escolhas forem bem feitas podem persistir at os dias dehoje. Assim umas culturas ajudariam as outras, e por isso as culturasdeveriam se levar em conta em qualquer dilogo a nvel mundial.

    Os valores

    Llio foi o primeiro que falou de valores.Os entes tm diferente valor segundo os lugares e os tempos em que

    os consideramos. Explica isso na Arte quando nos fala das espciesterceira e quarta da regra C. O que uma coisa em outra? E, sobretudo, oque tem uma coisa em outra?

    Quando pomos uma coisa em relao com outra e quando estasegunda uma pessoa, a coisa manifesta um determinado valor paraquem a pensa ou a deseja. Quanto vale um copo dgua para um prncipe

    perdido em uma floresta e que est morrendo de sede? Todas as suasterras, todo o seu patrimnio daria por esse copo dgua. Pois bem,quando relacionamos todas as coisas, todas as aes que realizam oshomens, com Cristo, a pessoa que realiza de modo mais perfeito ahumanizao do universo, obtemos ento o seu verdadeiro valor.

    Nem sempre as pessoas se comportam dessa maneira, e por essemotivo chegam a construir uma escala de valor imperfeita, que apesar deno coincidir com a escola ontolgica, natural, da realidade ordenada39, a que revela a sua disposio atual: O que lhes parece bom e o que lhesparece ruim. Ora, como a Arte luliana tem a finalidade de nos facilitar o

    acesso verdade, dever tambm ser capaz de nos mostrar tanto averdade quanto o erro dos nossos argumentos, e por este motivo Llio noteve outra sada seno introduzir no seu mecanismo os vcios e as virtudesdo artista.

    De fato, a Arte permite que quem a utilize identifique a qualidademoral das suas adeses intelectuais, isto , tem em suas mos apossibilidade de comparar a verdade de uma proposio que resulte dassuas atuais disposies morais, com a verdade que realmente exigem asrazes necessrias que a combinao dos Princpios Universalssimosmostra. Com efeito, as verdades universais que so obtidas com os

    39 Apenas o ordenamento de valores que constri a pessoa virtuosa coincidir com oordenamento ontolgico e natural do cosmos, como dizem Aristteles e Llio. Esteltimo o experimentara tambm na sua prpria carne. Para este tema, cf. ArsGeneralis ultima de Ramon Llull: Presupuestos metafsicos y ticos, JAULENT, Esteve,Pesquisa apresentada no XII Congresso Internacional de Filosofia Medieval, organizadopela SIEPM - Socit Internationale pour ltude de la Philosophie Med ivale, emPalermo, nos dias 17 a 22 de setembro de 2007. Est no prelo.

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    princpios e regras da Arte so sempre verdades ontolgicas, que nopodem contrariar a ordem do universo.

    A Arte luliana , pois, um bom instrumento para construir ainterculturalidade, porque nos manifesta a verdadeira qualidade dosvalores que so apreciados em cada cultura.

    O papel da Igreja e do Estado

    Finalmente, acabaremos este trabalho com algumas palavras sobreo papel da Igreja e do Estado na ordenao temporal da sociedade.

    Llio reconhece que todo poder tem a sua origem em Deus, mastambm que toda eleio provm do povo, e j vimos que deseja que opapa fique margem das questes que afetam a estrutura do poder civil.Concede, porm, ao papado uma fora moral to grande que lhe permita

    frear as injustias dos reis. Diz no Blanquerna: O papa e os cardeaisordenaram algo tambm muito necessrio, a saber, que por todo o mundohouvessem procuradores que lhes fizessem saber, por cartas ou pormensagens, o estado das naes, por se algo estranho ou algumamudana fosse necessria, ou se de melhora havia mister, quecontinentes pudessem tratar o que fosse para o bem e melhora daquelasterras40. Ou seja, o papa tem de conhecer tudo o que acontece nomundo, o que est bem e o que est mal, a fim de tratar de melhor-lo.

    Mas tratar de como melhorar as coisas no quer dizernecessariamente que se tem o direito de intervir na ordenao direta do

    poder civil. O caminho que encontra aquele, explicado mais acima, dereunir uma vez ao ano todas as potestades, civis e religiosas, e sem fazernenhuma distino entre as religies, discutir como se pode chegar a umacordo sobre a paz e a concrdia.

    Quando Llio fala de ordenar refere-se sempre ao fato de quetudo tem de ser um resultado dos Princpios da Arte. De fato, ele cr quese todo mundo vivesse bem o seu cristianismo, tanto o povo como osprncipes, as leis e as instituies seguiriam a ordem natural querida porDeus, e teramos mais paz. O mundo estaria ordenado, mas isto no querdizer que tem de ser o poder eclesistico a ordenar a sociedade civil.

    Embora critique os maus costumes dos homens da Igreja da suapoca, avisa-lhes da sua responsabilidade e at mesmo lembra-lhes quecomo o mundo est em to grande discrdia e desordem, de se temerser papa, e tornar-se-ia culpado se no usasse de seu poder em ordenar omundo. Seja, portanto, a sua vontade usar todo o poder que Deus lhe deu

    40Livre dEvasteBlanquerna , lib. IV, cap. LXXIX. Ed. Barcelona 1947, vol.II, p.

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    para ordenar o mundo41. Disso no resulta, porm, serem oseclesisticos quem tm de baixar as leis que organizem a sociedade.

    Llio sempre pensou assim. No comeo da sua carreira, por volta de1274, j vimos 42 que escrevia para o seu filho, na Doutrina Pueril queOs cristos deveriam permitir que se mostrasse, mesmo com ajuda da

    fora, a f crist a alguns filhos dos infiis, para que assim tivessemconhecimento dela, e por este conhecimento tivessem conscincia de seacharem no erro, pela qual conscincia seria possvel a sua converso e aconverso de outros. E continua: Dai que os prelados ou os prncipesque no gostam desse procedimento por medo de que os judeus e ossarracenos fujam para outras terras, ama mais os bens deste mundo que ahonra de Deus e a salvao do seu prximo43, ou seja, recrimina aquelesprncipes e prelados que no tentam converter os infiis por medo de,uma vez convertidos, se acharem livres e voltem s suas terras.Lembremos aqui que tanto os judeus quanto os maometanos eram

    frequentemente bastante teis aos cristos. O desejo que Llio tinha defacilitar aos outros a possibilidade da converso fazia que sugerisseprocedimentos contrrios legislao vigente sobre os prisioneiros.

    Vimos tambm a mesma mania, quase vinte anos depois, aotratarmos do tema do respeito conscincia do outro. No Tractatus demodo convertendi infideles sugere que se d a liberdade aos prisioneirosque no querem se converter. Llio no s criticava a pndega e os vciosdas autoridades eclesisticas e civis, mas tambm, repetimos, continuavasugerindo procedimentos que iam contra a ordenao civil, militar eeclesistica da sua poca. Apenas as suas razes necessrias, resultado

    dos Princpios da sua Arte, quando forem implantados em todas aspessoas e em todos os nveis da sociedade podero ordenar em paz aconvivncia entre os homens.

    Esteve JaulentInstituto Brasileiro de Filosofia e Cincia

    Raimundo Llio (Ramon Llull)

    41Livre dEvasteBlanquerna , lib. IV, cap. LXXVIII, p. 135. 42 Veja nota n. 33.43LLULL, Ramon, [1986], p. 154-5.

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