Teologia pública uma aproximação a aprtir da crise judeu-palestina

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TEOLOGIA PÚBLICA: UMA APROXIMAÇÃO A PARTIR DO CONFLITO ISRAEL-PALESTINO Eduardo Sales de Lima * ** Resumo: O objetivo desse artigo é propor uma aproximação à teologia pública a partir das provocações do Pós-doutor Mitri Raheb. O contexto é a conflito Israel-palestino como se apresenta, não apenas no contexto mundial, mas principalmente em Israel. Diante da entrevista com Mitri Raheb concedida aos alunos da EST, em viagem de estudos culturais e arqueológicos, percebe-se algumas aproximações sobre o debate Israel- palestino e teologia pública. Em conclusão, a proposta do artigo é ampliar os horizontes do fazer teológico. Por meio da teologia pública pretende-se conhecer o conflito Israel- palestino de uma perspectiva mais justa, sem os extremismos religiosos e nacionalistas. Palavras-chave: Conflito, Israel-Palestino, Teologia pública. Considerações iniciais Não há como estar em Israel sem perceber os impactos do conflito Israel-palestino. É impressionante como vivemos a * Eduardo Sales de Lima ... E-mail: [email protected]. **

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Artigo de apresentação do conflito Judeu-Palestino

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TEOLOGIA PÚBLICA: UMA APROXIMAÇÃO A PARTIR DO

CONFLITO ISRAEL-PALESTINO

Eduardo Sales de Lima*

**

Resumo: O objetivo desse artigo é propor uma aproximação à teologia pública a partir das

provocações do Pós-doutor Mitri Raheb. O contexto é a conflito Israel-palestino como se

apresenta, não apenas no contexto mundial, mas principalmente em Israel. Diante da

entrevista com Mitri Raheb concedida aos alunos da EST, em viagem de estudos culturais e

arqueológicos, percebe-se algumas aproximações sobre o debate Israel-palestino e teologia

pública. Em conclusão, a proposta do artigo é ampliar os horizontes do fazer teológico. Por

meio da teologia pública pretende-se conhecer o conflito Israel-palestino de uma perspectiva

mais justa, sem os extremismos religiosos e nacionalistas.

Palavras-chave: Conflito, Israel-Palestino, Teologia pública.

Considerações iniciais

Não há como estar em Israel sem perceber os impactos do conflito Israel-palestino. É

impressionante como vivemos a parte dessa realidade. Alienados. Será que em pleno século

XXI podemos viver isentos dessa realidade? Como a Igreja deve se posicionar diante desse

conflito? E a teologia? Será que a fé cristã acompanha os padrões de alienação seculares?

Apresento esse artigo como uma proposta de aproximação entre a teologia e o

conflito israel-palestino. Meu objetivo é superar a alienação e as lacunas produzidas pelas

diferenças culturais. Primeiro, essa tese apresenta um breve histórico para elucidação do

conflito israel-palestino. Em seguida são colocadas algumas provocações de Mitri Raheb. O

histórico e as provocações abrem a possibilidade de rever a forma de ver a bíblia, a fé e a

teologia cristãs apelando para a necessidade de construir uma interpretação pública da

teologia.

* Eduardo Sales de Lima ... E-mail: [email protected]. **

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Histórico do Conflito

As tensões entre judeus e árabes começaram a partir da década de 18901. Com o inicio

do movimento sionista e com a migração de judeus da Europa para a Palestina. Para ter uma

idéia, no meio do século XIX, a Palestina era composta de aproximadamente 500 mil

habitantes, sendo que 350 mil eram árabes, 80 mil judeus, e outros grupos diversos2. Em

1917, surge a declaração de Balfour, que encara o estabelecimento de judeus na palestina

como um lar nacional. Essa afirmação alarmou os árabes que, em 1918, foram confortados

com a promessa de não prejudicar os direitos civis e religiosos dos não-judeus. Em 1919 foi

assinado um acordo de cooperação árabe e judaica para o desenvolvimento da terra de Israel.

Mas como as promessas não foram cumpridas, iniciou em 1920 a oposição árabe e a

organização da defesa judaica. Começam vários atentados, 1920 Nebi Musa, 1921 Jaffa, um

dos mais marcantes foi o massacre de Hebron em 1929. Diversos outros atentados

percorreram os anos 30 e 40.

Em 29 de novembro de 1947 a recém-criada ONU, através da resolução 181, propõe a

divisão do pais em dois estados, um árabe e um judeu. A divisão passava aos judeus 55% do

território, sendo que 60% seria o deserto. Apenas os judeus aceitaram e em 14 de maio de

1948, declararam a independência do país de Israel. Esse fato marcou o inicio da guerra

árabe-israelense com a intenção de afirmar um estado palestino unido em oposição ao estão

duplo. Essa guerra árabe-israelense e a guerra dos seis dias culminaram na assinatura de um

acordo que formalizou o controle israelita inclusive da área alocada ao estado árabe3.

A ONU estima que cerca de 711.000 árabes tornaram-se refugiados (principalmente

em Gaza) por causa do conflito4. Como não foram aceitos por países árabes e nem puderam

retornar para suas casas, os árabes-palestinos se auto-constituíram povo e passaram a exigir o

seu retorno para suas antigas casas. Até o fim das guerras cerca de 700.000 judeus foram

expulsos dos países árabes e cerca de dois terços desse número se deslocaram para os campos

de refugiados de Israel.

De 1950-67 Israel foi atacado por militantes da faixa de Gaza e conflitos com Egito.

Após esse período começam ondas de ataques de grupos autônomos para libertar a palestina

(1960-70). Em 1973 começa a guerra de Yom Kippur e em 1977-1979 é assinado um tratado

de paz entre Israel e Egito5. Em 1982 Israel invade o Libano e ataca Yasser Arafat, morrem

1 http://pt.wikipedia.org/wiki/Conflito_israelo-palestino2 http://pt.wikipedia.org/wiki/Conflito_israelo-palestino3 http://pt.wikipedia.org/wiki/Conflito_israelo-palestino4 http://pt.wikipedia.org/wiki/Conflito_israelo-palestino5 http://pt.wikipedia.org/wiki/Conflito_israelo-palestino

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20.000 libaneses. Em 1987 começa um levante Palestino de violência em todos os territórios

ocupados, mais de mil pessoas foram mortas.

Em 1993 um acordo de paz cria a Autoridade Palestina, sob comando de Yasser

Arafat, mas nunca foi cumprido por ambas as partes. Em 1999 Bill Clinton tentou

negociações com Yasser Arafat e Ehud Barak, mas fracassaram e iniciou nova onda de

atentados, estima-se o numero de mortos em 3.396 palestinos e 994 israelenses6.

Em 2001 Ariel Sharon foi escolhido primeiro ministro de Israel. Iniciou plano de

retirada da Faixa de Gaza, liderou a construção da barreira israelense na Cisjordania e foi

rígido contra os ataques terroristas. Em 2004 morre Arafat, Israel evacuou os postos

avançados em Gaza e apesar da soberania os palestinos entraram em conflito e o Hamas

(grupo terrorista fundamentalista) tomou o poder na faixa de Gaza7 e paralisam as

negociações de paz.

Em 2006 o Hamas é eleito democraticamente e obtém a maioria no parlamento

palestino. No final de dezembro de 2008 o cessar fogo acabou após Israel ser atacados por

mísseis disparados de Gaza. Israel respondeu com intensos ataques aéreos. Em 3 de janeiro de

2009 Israel entra em Gaza por terra, mas o Hamas manteve o controle da região.

Em 2010, novos conflitos com o anuncio da construção de 1600 casas para judeus no

território reivindicado pelos palestinos como sua capital8. Em 19 de maio de 2011, Barack

Obama pediu a israelenses e palestinos que fizessem concessões e criassem o Estado

Palestino. Em agosto de 2011 Israel dá aprovação final para construção das 1600 moradias na

Jerusalém Oriental.

O conflito não se resolve. Diversos atentados continuam acontecendo como o de 19 de

novembro de 2012, onde pelo menos 90 palestinos foram mortos e mais de 700 feridos. Os

ataques se intensificaram e duraram mais de uma semana. Foi estabelecida uma trégua, mas

os conflitos continuam, assim como as tentativas de negociações de paz9.

Provocações

Em entrevista concedida em 28 de outubro, na cidade de Belém/Israel, ao grupo de

estudos arqueológicos da EST, por Mitri Raheb, presidente do Synod of the Evangelical

Lutheran Church in Jordan & The Holy Land, fundador e presidente do Dar al-Kalima

6 http://pt.wikipedia.org/wiki/Conflito_israelo-palestino7 http://pt.wikipedia.org/wiki/Conflito_israelo-palestino8 http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/09/entenda-os-conflitos-entre-israel-e-palestina.html9 http://exame.abril.com.br/tags/conflito-arabe-israelense?page=2

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College, Pós-Doutor pelo Hartford Seminary e Doutor em Teologia pela Philipps University

Marburg/Alemanha. Pastor luterano, escritor de diversos artigos em que propõe aproximações

entre o povo e cultura palestina com a Bíblia, teologia e o mundo cristão. Nessa entrevista

após uma introdução sobre o conflito Israel-Palestino e sua experiência entre árabes e

palestinos, o entrevistado apresentou uma série de idéias e aproximações à teologia e

interpretação bíblicas. Suas provocações podem ser resumidas em duas questões:

1. Quem são os Palestinos? O entrevistado apresenta uma compreensão ampla do

povo palestino. Fez uma ligação dos palestinos com os excluídos da Bíblia.

Propôs um retorno a leitura bíblica e identificou os palestinos com os cananitas,

com os judeus e com a igreja. Para ele os evangelhos são relatos do povo palestino:

o povo que pergunta por Deus. As pessoas que Jesus atendeu eram palestinos, não

simplesmente judeus e gentios. Cananitas e Palestinos são os legítimos donos da

terra, por isso não é justo que sejam excluídos simplesmente por preceitos

religiosos. É um povo invadido, que ao longo de sua história foi subjugado e desde

então anseia por sua terra. Não são os Judeus, não são os Gentios, são os

Palestinos. Sua terra e sua história devem ser lidas como um quinto e sexto

evangelhos.

2. Como a teologia vê o conflito israel-palestino? Foi apresentada uma crítica a visão

teológica da Igreja na Europa e Américas. Nesses pólos foi desenvolvida uma

tendência, principalmente nos púlpitos pentecostais, de olhar apenas para Israel

como cidade santa e para o judeus como povo de Deus. Liga-se o Israel bíblico

com o estado de Israel atual, validando a promessa da terra, como se a palestina

fosse um local desabitado. Substituem os palestinos pelos judeus ao contar a

historia de apenas um povo. Essa é a visão imperialista: não vê pessoas, não vê os

simples, não vê os outros povos. É uma teologia a serviço do privado, a serviço do

imperialismo. O entrevistado vê o povo palestino como explorados e invadidos,

são as ovelhas, enquanto que Israel é o leão, por isso só haverá paz quando o leão

deitar-se com a ovelha e isso só vai acontecer se o leão virar vegetariano.

3. O antigo testamento apresenta uma clara teologia de unificação, estratificação,

exclusão e separação. (Faz uma leitura desde Abel e Caim, sobre as hegemonias e

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o povo até o novo testamento10) No NT Jesus rompe com essa teologia. Rompe

com o nacionalismo. Inclui samaritanos, pecadores, cobradores de impostos,

publicanos, marginalizados, etc... Com essa inclusão, Jesus vincula diferentes

grupos à terra. Esse é o pré-requisito para a paz.

As provocações são muito relevantes, pois, propõe uma aproximação com a atual

discussão sobre teologia pública.

Teologia Pública

Em primeiro lugar é preciso situar o local e compreender o significado de teologia

publica. Sugere-se o início dessa teologia a partir do contexto norte-americano, mas,

independente das diferenças, entende-se que o conceito de esfera pública sempre esteve

presente na Igreja. Entretanto, em nossos dias a teologia desenvolveu uma grande

“dependência” das confissões de fé e das estruturas eclesiais. De forma simplória, pode-se

afirmar que esse movimento eclesiocêntrico abandonou a teologia pública e voltou-se para o

privado, para o particular. A reflexão concentrou-se em “produzir teologia para dentro da

comunidade de fé e nunca, com raras exceções, para fora.”11

“Pois a teologia é, normalmente, entendida como “coisa de igreja” e por isso privada, ou seja, ela não é pública e se a teologia passa, ou pretende ser pública, então ela passa a ser teologia política, religião pública ou mesmo religião civil e, neste caso, ela estaria, aparentemente, contrariando sua função, a princípio única, a de servir à igreja”12.

A teologia pública não é um mistério para “poucos iniciados, ou restrita a pequenos

grupos ou classes sociais”13. O cristianismo, embora possua características que reivindicam

publicidade, sempre se depara com duas alternativas: A primeira trata do ficar quieto e

10http://www.mitriraheb.org/index.php?option=com_content&view=article&id=363:shaping- communities-in-times-of-crises&catid=33:english&Itemid=2011 GONÇALVES, Alonso. Teologia Pública: entre a construção e a possibilidade prática de um discurso. Ciberteologia: revista de Teologia e Cultura, oline, n. 38, p. 63-76, 2012a. Disponível em: <http://ciberteologia.paulinas.org.br/ciberteologia/wp-content/uploads/downloads/2012/03/04-Teologia-Publica.pdf>. Acesso em 9 abr. 2012. 12 CONGRESSO INTERNACIONAL DA FACULDADES EST, 1., 2012, São Leopoldo. Anais do Congresso Internacional da Faculdades EST. São Leopoldo: EST, v. 1, 2012. | p.1521-153813 MAJEWSKI, Rodrigo Gonçalves. Assembleia de Deus e a teologia pública: O discurso pentecostal no espaço público. São Leopoldo: EST/PPG, 2010. 97 fl. Dissertação (Mestrado em Teologia). Disponível em: <http://tede.est.edu.br/tede/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=253>. Acesso em: 21 ago. 2012. p. 12.

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acomodar-se. Aliar-se ao poder, como ocorreu na era constantiniana14. A segunda é a opção

de publicidade da mensagem. A postura dos mártires e testemunhos da igreja. Esta foi a

característica da atuação e fala de Jesus. “ [...] sempre falou com franqueza, em público, mas

nunca procurando o poder nem usando armas ou outra forma de coerção”15. Por isso é preciso

entender que “toda teologia é teologia pública”16.

Esse é o foco da igreja. A provocação de Mitri Raheb, mais que tratar a questão da

palestina, trata da igreja e de seu fazer teológico. É uma crítica inclusive à forma de ser igreja.

O conflito Israel-palestino e diversos outros problemas mundiais como a mortalidade no

trânsito ou como a dificuldade de erradicar a fome no mundo devem voltar á baila teológica,

devem tornar-se a razão do fazer teológico. Parafraseando Enio R. Muller, não da para fazer

teologia centrada em si mesma, sem pensar no outro. Não dá para fazer teologia sem

considerar o acontecido em Auschwitz.

As provocações de Mitri Raheb diante da teologia pública revelam como o

pensamento torna-se cativo de cadeias institucionais. Como facilmente a interpretação é

conduzida pela parcialidade, pelas instituições, pelo privado esquecendo-se do público. Como

diante do conflito facilmente somos conduzidos a orar por Israel e esquecer dos palestinos.

Em seu discurso, Mitri Raheb, afirmou que os palestinos tem tanta legitimação quanto os

judeus. Ele identificou, muito acertadamente, o povo palestino com o contexto bíblico de

ocupação. Foi para esse povo que Jesus e os evangelhos se dirigiram. Mas porque nossas

leituras enxergam apenas os judeus e os gentios? Segundo o entrevistado isso é o resultado de

uma ideologia imperialista, senhora dos meios de comunicação, que não dita apenas os

padrões mundiais, mas também os olhares da igreja, tanto na Europa quanto na América.

Outro resultado das provocações de Mitri Raheb foi a identificação dos palestinos com

o povo a quem Jesus e os evangelhos foram dirigidos. Ele interpretou estes como um

desenvolvimento do povo bíblico. Na entrevista era visível seu esforço para legitimar a

sacralidade do povo palestino como a sacralidade do povo judeu. Assim, mais que

argumentos para vincular os palestinos ao povo bíblico, ficou clara a necessidade de uma

teologia pública, que não vincule apenas os judeus como povo de Deus, como herdeiros da

terra, mas que, as pisadas do evangelho de Lucas17 vincule todos como filhos de Deus. O

14 SINNER, Rudolf von. Apresentação. In: CAVALCANTE, Ronaldo. A cidade e o gueto: Introdução a uma Teologia Pública protestante. São Paulo: Fonte Editorial, 2010. p.13-14. 15 SINNER, Rudolf von. Apresentação. In: CAVALCANTE, Ronaldo. A cidade e o gueto: Introdução a uma Teologia Pública protestante. São Paulo: Fonte Editorial, 2010. p.13-14. 16 TRACY, David. A imaginação analógica: A teologia cristã e a cultura do pluralismo. São Leopoldo: Unisinos, 2006, p.19. 17 Na genealogia de Jesus todos foram feitos filhos de Adão e filhos de Deus Lc 3:23-38

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discurso imperialista parece ver apenas os de nobre nascimento. Esse discurso em que apenas

os judeus são considerados filhos de Deus é oposto ao que os evangelhos revelam ao narrar

Jesus em um nascimento humilde. O discurso elitizado e exclusivista está principalmente em

círculos pentecostais e de escatologia dispensacionalista, muito embora Mitri Raheb tenha

afirmado que até os liberais e histórico-criticos façam essa leitura unilateral, ou seja, privada.

Por isso, diante do conflito israel-palestino, surge a necessidade de pensar teologia

fora de parâmetros privados. Mais que uma crise política-religiosa é crise de interpretações

privadas e absolutistas. O discurso de Mitri Raheb é uma apelo aos teólogos para fazer

teologia relevante, que tenha no outro o centro de seu discurso. Teologia livre das amarras

imperialistas, classicistas e exclusivistas. Teologia capaz de aproximar o discurso bíblico da

realidade, capaz de interferir e construir políticas públicas condizentes com a fé cristã. Por

isso, não é mais possível pensar teologia em esfera privada, egoísta e alienada. A teologia

para cumprir os propósitos bíblicos deve ser pública.

Considerações finais

Primeiro, as provocações de Mitri Raheb são um apelo contra a teologia privada e um

desafio a teologia pública. A teologia pública representa a libertação do pensar teológico das

cadeias dogmáticas e doutrinárias das denominações e suas preocupações privadas. É a

oportunidade de diálogo e construção a partir da interação com a sociedade. Em vista desse

desafio, o conflito Israel-palestino tem um alcance muito maior, o da interpretação da vida.

Em segundo lugar as palavras de Raheb revelam que não há solução objetiva como

uma receita de bolo, principalmente e um mundo dominado pelas estruturas imperialistas. Por

isso tornam-se um apelo contra a alienação. Não há solução enquanto o mundo,

principalmente enquanto os pregadores da paz pensarem apenas em seus próprios problemas e

sua realidade. Assim, as plavras de Mitri Raheb, são um apelo para entender que não existe

teologia inocente, mas que o forte e o fraco estão por trás de todo discurso. São uma

provocação para que os cristãos e o mundo parem de construir muros de separação e exclusão

e comecem a perceber e interceder pela necessidade dos fracos.

Em terceiro lugar as provocações de Raheb são um apelo para que a igreja pare de

fazer teologia para dentro, pare de viver apenas em função de si mesma e assuma o chamado

de Jesus de ser para o outro. Como bem afirmou Dietrich Bonhoeffer, a igreja só é igreja

quando é para o outro!