Tendências e formas de enfrentamento da formação...

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UNIVERSIDADE DO GRANDE RIO UNIGRANRIO PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROPEP Programa de Pós-Graduação em Letras e Ciências Humanas CARINE CAMARA BIZERRA Tendências e formas de enfrentamento da formação continuada, como profissionalização docente: um estudo em Representações Sociais DUQUE DE CAXIAS 2012

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UNIVERSIDADE DO GRANDE RIO – UNIGRANRIO

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA – PROPEP

Programa de Pós-Graduação em Letras e Ciências Humanas

CARINE CAMARA BIZERRA

Tendências e formas de enfrentamento da formação continuada,

como profissionalização docente: um estudo em Representações

Sociais

DUQUE DE CAXIAS

2012

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UNIVERSIDADE DO GRANDE RIO – UNIGRANRIO

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA – PROPEP

Programa de Pós-Graduação em Letras e Ciências Humanas

CARINE CAMARA BIZERRA

Tendências e formas de enfrentamento da formação continuada,

como profissionalização docente: um estudo em Representações

Sociais

DUQUE DE CAXIAS

2012

Texto de dissertação apresentada à Banca de Defesa de Mestrado em Letras e Ciências Humanas da Pós-Graduação Stricto Sensu da UNIGRANRIO como requisito parcial à Avaliação para grau de Mestre. Orientador: Profª. Drª. Cristina Novikoff

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B574t Bizerra, Carine Camara. Tendências e formas de enfrentamento da formação continuada, como profissionalização docente: um estudo em representações sociais / Carine Camara Bizerra. – 2012. 115 f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (mestrado em Letras e Ciências Humanas) – Universidade do Grande Rio “Prof. José de Souza Herdy”, Escola de Educação, Ciências, Letras, Artes e Humanidades, 2012.

“Orientadora: Prof.ª Cristina Novikoff”.

Bibliografia: f. 95.

1. Educação. 2. Representações sociais. 3. Professores – Formação. 4. Educação permanente. 5. Professor – Orientação profissional. I.Novikoff, Cristina. II. Universidade do Grande Rio “Prof. José de Souza Herdy”. III. Título. CDD – 370

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Dedico este trabalho ao meu

eterno amor: Caio Camara.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pelo dom da vida e pela oportunidade de, a cada novo amanhecer, crescer

a cada dia.

Ao meu filho, Caio Camara, por todas as vezes que teve, mesmo tão pequenino, que

compreender a minha ausência motivada pela busca do crescimento intelectual.

Ao meu amor e grande companheiro, Dereck Silva, por tudo.

À minha família, pelo incentivo.

À minha amada Professora Doutora Cristina Novikoff, por exercer o seu trabalho de

forma justa e acima de qualquer coisa HUMANA. Por ser professora, companheira,

amiga, por me encantar com sua inteligência e magnífico dom de ensinar.

Ao Instituto de Educação Santo Antônio e ao CIEP 404 – Clarice Lispector, pela

oportunidade de exercer minha profissão.

Aos meus amados alunos/amigos, pela admiração, respeito e por me ensinar a cada

novo encontro.

A quem direta ou indiretamente esteve presente nesta caminhada e que de alguma

forma contribuiu para a realização de um grande sonho profissional.

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O professor, como expansão

de sua profissionalidade, precisa

compreender sua inserção no

contexto sociopolítico, significando

isso uma necessidade de análise

sobre a abrangência e valor da

prática professor no contexto

educativo social.

Papi (2005, p.42)

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RESUMO

A presente dissertação visou o estudo das representações sociais sobre a profissionalização do professor de professores da Educação Básica na Baixada Fluminense. Sendo as representações sociais formas de saberes do senso comum construídos nas relações entre os indivíduos que mobilizam práticas, vale estudar esta forma de conhecimento para compreender as tendências de profissionalização atual que ainda carecem de estudos. Ao levantar os estudos que relacionam os indexadores “representações sociais”, “profissionalização do professor” e “formação de professores”, no banco de teses da CAPES (1990 a 2000), dentre vinte e sete trabalhos, apenas um trata de representações sociais. Cabe abranger os estudos para verificar o pensamento pedagógico na última década, período de surgimento de três novas regulamentações acerca do curso de Pedagogia. É diante deste cenário, acrescido da vivência experienciada da autora do reconhecimento do não exercício da autonomia enquanto professora, que se traça o estudo sobre o tema desde a origem das ideias/pensamentos sobre a profissionalização do professor. Assim, busca-se a compreensão da trajetória profissional dos professores e suas práticas. Portanto, questiona-se: quais as representações sociais de profissionalização do professor e quais práticas são adotadas na sua atuação? Objetiva-se compreender as representações sociais sobre a profissionalização do professor para os professores da Educação Básica da Baixada Fluminense. Daí intentar delinear as implicações dessas representações para a sua formação. Acredita-se que o estudo das representações sociais em foco possibilitará a compreensão de formas de enfrentamento da carreira docente, contribuindo assim, para a discussão acerca da formação dos professores. Para dar conta do pretendido, esta pesquisa ancora-se nas obras de Moscovici (2003), Jodelet (2005), Gatti e Barreto (2009); Gatti (2010), Silva (2003); Facci (2004); Martelli e Manchope (2004); entre outros. A metodologia desta pesquisa de abordagem quanti-qualitativa é delineada sob as dimensões Novikoff (2010) e usa como técnica, pesquisa bibliográfica, o Teste de Associação Livre de Palavras (ABRIC, 1999) e o Inventário de Valoração e Enfrentamento (CAN0-VINDEL; MIGUEL TOBAL, 1992). Os resultados apontam primeiro para avanços e retrocessos legais quanto à normalização dos cursos de formação; segundo indicam uma representação centrada no problema de disciplina, causador da violência e não aprendizagem, o que isenta o professor de buscar conhecimentos para a melhoria do ensino; terceiro mostra uma profissionalização como sendo institucionalização sem a valoração da autonomia; sendo assim, desloca a valoração da profissionalidade para o contexto eximindo-se da responsabilidade de assumi-la. Em síntese, as representações são carregadas de valores emocionais e geradores de enfrentamento, apesar de pouco passivo e quase sempre relevante, não recorrem ao conhecimento científico.

PALAVRAS-CHAVE: Representações Sociais. Profissionalização do Professor. Formação Continuada de Professores.

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ABSTRACT

This dissertation aimed at studying social representations about the teacher’s professionalization of teachers of Basic Education in the Lowlands. Being social representations forms of commonsense knowledge constructed in relations between individuals who mobilize practical worth studying this form of knowledge to understand the current trends of professionalization that still lack studies. By raising the studies that relate indexers "social representations", "teacher professionalization" and "teacher training" in the CAPES thesis database (1990 to 2000), among twenty-seven projects, only one comes to social representations. It covers studies to verify the pedagogical thinking in the last decade, a period of emergence of three new regulations about the Faculty of Education. It is against this backdrop, plus the experience of the author experienced the recognition of non-exercise of autonomy as a teacher, which traces the study of the subject since the origin of ideas / thoughts about the professionalization of teachers. Thus, we seek to understand the trajectory of teachers and their practices. So, the question is: what are the social representations of teacher professionalization and what practices are adopted in their actions? It aims to understand the social representations about the professionalism of the teacher for teachers of basic education in the Fluminense. Hence bringing outline the implications of these representations for their training. It is believed that the study of social representations allow focus on understanding ways of coping with the teaching career, thus contributing to the discussion of teacher training. To realize the desired, this research is anchored in the work of Moscovici (2003), Jodelet (2005), Gatti and Baker (2009); Gatti (2010), Silva (2003), Facci (2004); Martelli and Manchope (2004), among others. The methodology of this research approach is quantitative and qualitative dimensions outlined under Novikoff (2010) and uses it as art, literature, Test Free Word Association (Abric, 1999) and the Inventory Valuation and Combat (CAN0-Vindel; MIGUEL Tobal, 1992). The results point to the first legal advances and setbacks as the standardization of training courses; indicate a second representation centered on discipline problem, not cause violence and learning, which exempts the teacher to seek knowledge for the improvement of teaching, third shows professionalization and institutionalization without being the valuation of autonomy, therefore, shifts the valuation of professionalism to the context absolving themselves of the responsibility to take it. In summary, the representations are laden with emotional values and generators coping despite little passive and almost always relevant, do not resort to scientific knowledge.

KEYWORDS: Social Representations. Professionalization of the Teacher. Continuing Education of Teachers.

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ÍNDICE DE SIGLAS

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CIEP – Centro Integrado de Educação Pública

CFE – Conselho Federal de Educação

CNPq – Coordenação Nacional de Pesquisa

CNE – Conselho Nacional de Educação

DCN – Diretrizes Curriculares Nacionais

IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

LDB – Lei de Diretrizes e Bases da educação Nacional

PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais

PNE – Plano Nacional de Educação

RCN – Referenciais Curriculares Nacionais

MEC – Ministério da Educação

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 11

DIMENSÃO TEÓRICA 16

CAPÍTULO I – Teoria das Representações Sociais 18

1.1 Da origem, do conceito e entendimentos atuais 19

1.2 Abordagem Estrutural e Processual da Teoria das Representações

Sociais

25

1.2.1 A Teoria do Núcleo Central (ABRIC , 1976) 25

1.2.2 Os processos de Objetivação e Ancoragem 28

1.3 As Representações Sociais e as práticas professores 30

CAPÍTULO II – Formação de Professores 32

2.1 A história brasileira da formação de Professores: um breve relato 33

2.2 O curso de Pedagogia e seus marcos políticos 41

2.3 Um olhar sobre os cursos de formação de professores 46

2.4 Algumas considerações acerca do cenário educacional brasileiro 51

CAPÍTULO III – Profissionalização Professor 54

3.1 A profissão professor 55

3.2 A identidade profissional dos professores 60

3.3 As novas exigências educacionais da profissão professor 65

3.4 Profissão Professor: Formação inicial e contínua 69

3.5 Encontro da profissão professor com as representações sociais 72

DIMENSÃO TÉCNICA 75

CAPÍTULO IV – Valores: alguns entendimentos 76

CAPÍTULO V – Procedimentos Metodológicos 79

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5.1. Sujeitos da Pesquisa 80

5.2 O Local Pesquisado 81

5.3 Instrumentos de Coleta de Dados 81

5.3.1 Inventário de Valoração e Enfrentamento 82

5.3.2 Teste de Associação Livre de Palavras 83

DIMENSÃO MORFOLÓGICA 85

CAPÍTULO VI – Conhecendo o CIEP 048 – Infraestrutura 85

6.1 O estudo do conhecimento 89

DIMENSÃO ANALÍTICO-CONCLUSIVA 91

CAPÍTULO VII – Análise 92

CONCLUSÕES 98

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 100

APÊNDICE

ANEXO I – CARTA CONVITE AOS PARTICIPANTES

ANEXO II – INVENTÁRIO DE VALORIZAÇÃO E AFRONTAMENTO

ANEXO III – TESTE EVOC

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INTRODUÇÃO

Iniciada pela investigação denominada “As Representações Sociais sobre

Formação de Professores (Inicial) para os professores dos cursos de Pedagogia e

de Licenciaturas” (LAGERES/ UNIGRANRIO/ CNPq – 2010 a 2012), esta pesquisa

nasceu da inquietação da pesquisadora a respeito da sua prática docente e da sua

valoração, enquanto professora, tanto da rede pública estadual quanto da rede

particular de ensino. Neste contexto, observou-se a própria incapacidade de

reconhecer o valor da autonomia profissional para inovar e enfrentar os problemas

do cotidiano escolar. Daí questionar a profissionalização de professores, do que se

trata e como esta vem se configurando ao longo da história e suas tendências. Para

então pensar o impacto desta na formação do professor em seus aspectos

cognitivos, sociais e afetivos.

Considerando, as representações sociais como formas de saberes do senso

comum construídos a partir da eleição de valores e nas relações entre os indivíduos

que mobilizam práticas (MOSCOVICI, 1979, 2003; JODELET, 2003), é que se

entende a importância de se estudar os valores. Estes, enquanto percepção do/e

sobre a natureza e das coisas, configuram as escolhas e prioridades (ROS;

GOUVEIA, 2006; NOVIKOFF, 2006) que, por sua vez, organizam as representações

sociais.

Assim, os valores como instituição imaginária vêm forjando as

representações sociais, ou seja, as formas de conhecimentos sobre a profissão

professor ao longo da história e delineando um complexo fenômeno que implica

formas de se enfrentar as demandas legislativas, normativas, pedagógicas e afetivas

no cotidiano escolar.

Franco (2003) aponta que a Teoria das Representações Sociais nos permite

uma melhor compreensão das relações que sustentam a sociedade. O estudo se

justifica no sentido de que, reconhecendo as representações sociais de

profissionalização de professores da Educação Básica pode-se identificar a

tendência de uma carreira imprescindível para a formação da sociedade. Vale

lembrar que o IDEB de Duque de Caxias é um dos mais baixos do Estado do Rio de

Janeiro.

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Neste sentido, é de suma importância reconhecer qual/quais as

representações sociais que estes professores têm à respeito da profissionalização,

considerando que esta representação é a visão real do conhecimento que estes têm

e que levarão para suas práticas e forjarão estes conhecimentos nos seus alunos.

A profissão professor, durante muito tempo, esteve relacionada a um

trabalho de vocação, interpretada com um olhar que a associava ao

assistencialismo, sem necessidade de reconhecer o professor como profissional

(FERREIRA, 1999; PAPI, 2005; BRITO, 2009).

Em contradição a esta perspectiva, a preocupação dos professores quanto à

profissionalização é um movimento que vem crescendo desde os anos setenta com

as repressões policial e legislativa, desencadeada pela ditadura militar após a edição

do Ato Institucional (AI-5), em dezembro de 1968. Entender a profissionalização do

professor como um processo que supõe a autonomia profissional para além de seu

envolvimento e engajamento, significa reconhecer as características da profissão em

favor da compreensão da identidade e da valorização profissional.

Inicia-se este estudo com o levantamento do estado do conhecimento no

banco de teses da CAPES1 (1990 a 2000), no qual se encontraram estudos que

relacionam os indexadores representações sociais, profissionalização do professor e

formação de professores, sendo que, dentre vinte e sete trabalhos, apenas um trata

de representações sociais. Cabe abranger os estudos para verificar o pensamento

pedagógico na última década, período de surgimento de três novas

regulamentações acerca do curso de Pedagogia.

É diante deste cenário que se traça o estudo sobre o tema, desde a origem

das ideias/pensamentos sobre a profissionalização do professor, em busca da

compreensão da trajetória profissional dos professores da Educação Básica e suas

representações sociais. Portanto, questiona-se: quais são as representações sociais

de profissionalização do professor e quais práticas são adotadas na formação,

decorrentes destas representações sociais? A discussão proposta neste trabalho

permite analisar a relação entre valores, as representações sociais de

1 Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – A CAPES realiza um sistema de avaliação,

continuamente aperfeiçoado, servindo de “instrumento para a comunidade universitária na busca de um padrão de excelência acadêmica para os mestrados e doutorados nacionais” (CAPES, História e missão. Disponível em: http://www.capes.gov.br/sobre-a-capes/historia-e-missao)

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profissionalização e as práticas instituídas pelo professor da Educação Básica da

Baixada Fluminense e suas tendências.

É com o objetivo de compreender as representações sociais sobre a

profissionalização do professor para os professores da Educação Básica da Baixada

Fluminense que este estudo conta com a Teoria das Representações Sociais como

apoio teórico-metodológico, acreditando que um estudo à luz desta teoria

possibilitará a compreensão das formas de enfrentamento do abandono da carreira

professor, contribuindo assim, para a discussão acerca da formação dos

professores.

Nesta pesquisa, buscamos mapear e discutir os valores que norteiam as

representações sociais de profissionalização do professor de professores da

Educação Básica, compreender as formas de enfrentamento da profissionalização

do professor para professores formadores e contribuir para a discussão acerca da

profissionalização para o enfrentamento da formação dos professores.

Optamos como estratégia metodológica, por apresentar o “design” das

Dimensões Novikoff (2010). A saber: a) epistemológica; b) teórica; c) técnica; d)

morfológica e analítico-conclusiva. Na epistemológica é desenhado o objeto de

pesquisa e perpassa todas as outras dimensões. Já a teórica demarca a base

conceitual e epistemológica do estudo; a dimensão técnica descreve todo o

procedimento metodológico para coletar dados, apontando os sujeitos e o lócus da

pesquisa; na morfológica apresentamos os dados coletados e na analítico-

conclusiva é estabelecido o diálogo entre dados e teoria para finalmente se discutir

os mesmos na dimensão analítico-conclusiva. Vale apontar que este desenho nos

permite ir e vir ao texto, alterando-o ou aprofundando qualquer parte do trabalho.

A organização textual se dá em 7 capítulos. Inicialmente, com a dimensão

epistemológica apresenta-se a introdução, norteando todo o texto. Segue para a

dimensão teórica onde se encontram três capítulos. O primeiro versa sobre a origem

e o conceito das representações sociais, mencionando também suas funções e, em

seguida, apresentam alguns elementos que configuram sua abordagem estrutural e

processual, relacionando-se, então, a Teoria das Representações Sociais de

Moscovici (1979).

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Seguimos para o segundo capítulo com a apresentação de alguns

elementos históricos que permeiam o contexto de formação de professores e sua

contribuição atual.

Buscamos o apoio teórico de Ribeiro (1992), Romanelli (1991, 1997), Silva

(2003) e Xavier (1994), Gatti (2009, 2010, 2011) com outros estudiosos, para tratar

das questões que se referem à Formação de Professores. Neste sentido, cabe a

este tópico, pontuar marcos importantes na construção histórica da educação

brasileira, relatando o contexto de oficialização do curso de Pedagogia no Brasil e

mapeando algumas propostas comuns dos cursos formadores.

Acreditamos que a necessidade de crítica e análise da docência é constante

e portanto, a proposta deste capítulo constitui elemento inicial para esta análise que,

produzida em ambiente acadêmico, auxilia na definição das políticas educacionais

de formação do(a) educador(a) no contexto educacional.

Objetivando compreender e identificar elementos que contribuem para a

formação de professores, constrói-se o terceiro capítulo descrevendo e discutindo a

profissionalização do professor.

Sabemos que a compreensão do processo de profissionalização do

professor exige um olhar atento às tensões que o atravessam e que se

movimentam, assumindo formas e identidades que constantemente vão se

reconstruindo e reconfigurando. Neste sentido, o último tópico do capítulo teórico

desta pesquisa trata da profissionalização do professor.

Abordamos, inicialmente, o conceito de profissionalização, tendo como

continuidade a apresentação de elementos que se relacionam com a identidade

profissional do professor, apontando, em seguida, algumas exigências e habilidades

requeridas para o exercício da profissão professor no cenário atual. Comenta-se,

então, a necessidade de uma formação inicial e contínua e, por fim, expõe-se o valor

do estudo da profissionalização professor calcado na Teoria das Representações

Sociais.

Na dimensão técnica, o quarto capítulo versa sobre os valores e no quinto

capítulo apresenta-se os caminhos que foram seguidos para a realização desta

pesquisa, explicando a base teórica da natureza de pesquisa eleita e as técnicas

usadas para coleta de dados.

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Acreditamos, portanto, que por meio da abordagem metodológica, é possível

conhecer os sujeitos, o contexto, os instrumentos de pesquisa, a fim de conhecer os

métodos desta investigação.

A dimensão morfológica compõe o sexto capítulo e se configura por meio da

apresentação do ambiente em que foi realizada a pesquisa, descrevendo de modo

distinto os dados levantados nos diferentes instrumentos de sua coleta. Esta é

seguida pela dimensão analítico-conclusiva, o sétimo capítulo, em que é

apresentada a análise geral dos dados coletados.

É acreditando que um estudo acerca das representações sociais sobre a

profissionalização do professor possibilita uma análise crítica do cenário educacional

brasileiro, apontando para a necessidade de uma formação continuada pragmática,

no sentido rotiniano, ou seja, uma formação crítica, que raciocina e considera os

conhecimentos historicamente construídos, superando o esvaziamento desta

formação com pacotes fechados e herméticos de oficinas ou seminários com pouca

ou nenhuma inferência do professor.

Definida como pesquisa quanti-qualitativa, diante de sua proposta, analisa-

se criticamente a formação do professor e sua relação com a prática, apontando

para a necessidade de uma formação contínua, a partir da compreensão das

representações sociais do professor a quem se pretende oferecer formação

continuada.

Assim sendo, parte-se do pressuposto de que o estudo das Representações

Sociais acerca da profissionalização do professor para professores formadores

contribuirá com a discussão sobre a temática e possibilitará a criação de proposta de

intervenção, segundo a filosofia de trabalho do Laboratório do Grupo de Estudos e

Pesquisas em Representações Sociais na/para Formação de Professores –

LAGERES.

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DIMENSÃO TEÓRICA

A dimensão teórica de uma pesquisa tem como finalidade apresentar as

teorias que cercam a problemática em estudo (NOVIKOFF, 2006; 2010). Com o

objetivo de fundamentar a pesquisa, cabe a esta parte do trabalho apresentar a base

teórica que possibilitou a análise dos dados.

Nesta dimensão descrevem-se o estudo das representações sociais; a

formação de professores e a profissionalização do professor como estratégia

argumentativa para subsidiar as análises dos dados na compreensão sobre a

profissionalização professor de professores da Educação Básica na Baixada

Fluminense.

Vale apontar que educar está estruturado em um movimento dialético que se

encontra em constante modificação, pois a educação é influenciada pela sociedade

e a sociedade é influenciada pela educação. É neste processo que o sujeito

apropria-se do conhecimento historicamente e socialmente construído.

Compreende-se aqui o homem como ser ativo, agente das mudanças

sociais. Cabe ressaltar que a abordagem dialética compreende criticamente a

relação entre a realidade externa e a realidade interna do homem/mundo.

Segundo Novikoff (2010, p. 222),

A realidade externa é dada em função da demanda política e econômica, ou de condições de trabalho do pesquisador (apoio institucional, financeiro, recursos físicos, etc.)

A realidade interna diz da condição particular do pesquisador, como o conhecimento, experiência e disponibilidade afetiva para a realização da pesquisa.

Este exemplo pode ser adaptado à realidade do professor. É válido ressaltar,

dentro desta discussão, que a abordagem sócio-histórica se propõe a “converter-se

num método que possibilita estudar o homem como unidade de corpo e mente, ser

biológico e ser social, membro da espécie humana e participante do processo

histórico” (SILVA, 2010, p. 1).

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Ao entender as representações sociais como formas de saberes do senso

comum construídos nas relações entre os indivíduos que mobilizam práticas

(JODELET, 2001), acredita-se que estudar esta forma de conhecimento possibilita

compreender as tendências de profissionalização atual.

Partindo desta perspectiva, esta parte do trabalho inicia-se, dentro da

abordagem histórica e epistemológica com o estudo da “Teoria das Representações

Sociais”. Acreditando que, a partir da compreensão das representações sociais dos

professores da educação básica acerca da profissionalização do professor, serão

reconhecidos os conhecimentos e valores que inferem na práxis do professor,

revelando o pensamento consensual e, a partir deste, um pensamento científico.

É ancorado nas obras de Moscovici, Jodelet e Abric somada à categorização

de valores constituída na pesquisa realizada por Novikoff (2006) que, inicialmente,

apresenta-se o conceito de representações sociais, identificando a motivação e a

criação da abordagem teórico-metodológica de Moscovici (1961): a Teoria das

Representações Sociais.

Entende-se que é na interação dos sujeitos que se estabelecem as

representações sociais, sendo estas produto e processo da construção do homem.

Apoiando-se nesta concepção, esta dimensão inicia-se com a apresentação da

Teoria das Representações Sociais. Em seguida, pontua-se os marcos históricos da

educação brasileira, abordando a fundamentação da formação de professores

estabelecida em documentos oficiais e mapeando as propostas comuns em cursos

formadores de professores, as licenciaturas. Por fim, aborda-se a questão da

profissionalização do professor, pontuando algumas tendências desta profissão.

Ao discutir a profissão professor no cenário brasileiro, faz-se importante

aprofundar esta discussão levando em conta que a identidade representada na

profissionalização do professor está em constante reconstrução. Pode-se afirmar,

portanto, que o encontro da Teoria das Representações com a prática professor

possibilitará a compreensão das formas de enfrentamento do abandono da carreira

professor, contribuindo assim, para a discussão acerca da formação dos

professores.

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CAPITULO 1 – TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

A Teoria das Representações Sociais – TRS é a teoria que estuda as

representações sociais. Assim, é a partir do estudo desta com sua abordagem

teórico-metodológica que este trabalho procura revelar o pensamento consensual e,

a partir deste, elaborar um pensamento científico sobre as representações sociais

acerca da profissionalização dos professores da Educação Básica.

Esta teoria, uma criação de Serge Moscovici (1979), critica a dualidade entre

as representações individuais e as representações coletivas e mostra outro caminho,

não apenas uma visão crítica, mas uma abordagem teórico-metodológica que nutre

os saberes do senso comum e trata de situar este como “teia de significados capaz

de criar efetivamente a realidade social” (SPINK, 1993, p. 303). Neste sentido,

acredita-se que, à luz desta teoria é possível observar, coletar, analisar e interpretar

o pensamento consensual a respeito da profissionalização do professor, trabalho

que esta pesquisa se propôs a realizar. Já que as representações sociais “procuram

superar a clivagem entre a ciência e o senso comum, tratando ambas as

manifestações como construções sociais sujeitas às determinações sócio-históricas

de épocas específicas” (SPINK, 1993, p. 302).

Neste sentido, este capítulo apresenta elementos básicos para o

entendimento e a aplicação desta teoria, com o objetivo de entender suas origens e

sua aplicação, relacionando algumas implicações no contexto educacional, em

especial, frente à profissionalização do professor.

Inicialmente, conceitua-se a Teoria das Representações Sociais, ancorado

nas considerações de alguns pesquisadores desta teoria. A partir daí, menciona-se

algumas funções das representações sociais no estudo destas enquanto forma de

conhecimento, em seguida, apresentam-se elementos que configuram sua

abordagem estrutural e processual e, por fim, relacionando esta teoria ao tema

proposto nesta pesquisa, profissionalização do professor, e acreditando que o

conhecimento estudado via representações sociais é um conhecimento prático,

apontam-se alguns pensamentos acerca da contribuição dos estudos das

representações relacionados ao trabalho do professor.

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1.1 Da origem, do conceito e entendimentos atuais

A Teoria das Representações Sociais (TRS) é originada na Europa, mais

especificamente na França, em 1961 com a publicação de La Psychanalyse: son

image et son public, de Serge Moscovici, que pode ser considerada uma forma

sociológica da Psicologia Social, visto que é a partir deste trabalho, que surge o

interesse no pensamento constituído nas relações sociais.

Jodelet classifica a obra que deu origem a TRS de Moscovici como fecunda,

visto que, a partir desta, é possível extrair “um grande potencial de intuições, de

descobertas, de orientações teóricas e empíricas, algumas das quais tiveram um

desenvolvimento considerável nos trabalhos posteriores de Moscovici ou em autores

que nele se inspiraram” (JODELET, 2011, p. 199). A autora ainda acrescenta que,

nesta obra, Moscovici foi além da descoberta e elaboração de um novo conceito,

que “forneceu uma nova teoria, a Psicologia Social” e introduziu “o que poderíamos

chamar de uma nova disciplina, a Psicologia Social do Conhecimento”. (idem, p.

203).

Segundo Palmonari e Cerrato (2011, p. 308) a Psicologia Social “pode ser

considerada uma ciência social, cujo objeto será o estudo das relações cotidianas

que se produzem na realidade social, dos fenômenos relacionados à comunicação e

ideologia”. Em outras palavras, é possível compreender que esta é uma ciência

autônoma. A Psicologia Social é, portanto, o estudo do conhecimento, das

representações elaboradas socialmente ou intersubjetivamente, que se nutre de

saberes do senso comum.

Segundo Jodelet (2009) a esfera de intersubjetividade

[...] remete às situações que, em um dado contexto, contribuem para o estabelecimento de representações elaboradas na interação entre os sujeitos, apontando em particular as elaborações negociadas e estabelecidas em comum pela comunicação verbal direta. São numerosos os casos que ilustram o papel da troca dialógica de que resultam a transmissão de informação, a construção de saber, a expressão de acordos ou de divergências a propósito de objetos de interesse comum, a interpretação de temas pertinentes para a vida dos participantes em interação, a possibilidade de criação de significações ou de ressignificações consensuais. (JODELET, 2009, p. 698)

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Calcado, ainda, nas pontuações de Palmonari e Cerrato (2011, p. 308),

acredita-se que no processo de interação com os outros se desenvolvem

[...] pensamentos, sentimentos e motivações humanas: a Psicologia Social, como tal, deve superar a oposição entre o nível de análise individual (tradicionalmente considerado como próprio da Psicologia) e o nível de análise centrado na sociedade (característica própria da Antropologia, Sociologia e Economia)

Moscovici, segundo Costa e Almeida (1999), mostra em seu estudo

epistemológico sobre as representações que ciências como a sociologia,

antropologia e a própria psicologia, seja a clínica ou a social, procuram compreender

o pensamento, as ações dos indivíduos e as transformações que estes sofrem com

o passar do tempo, mas destaca que este olhar se faz fragmentado,

comprometendo, assim, o olhar para a realidade como um todo. Aqui, se faz

importante compreender que a Educação, em razão de sua natureza interdisciplinar

exige uma abordagem, de igual natureza. Assim, deve-se buscar nas diferentes

disciplinas a compreensão dos processos de construção do pensamento de modo a

superar a fragmentação do ser e do saber e propor a junção e inter-relação de

saberes para agregar conhecimentos, métodos e teorias frente a educação.

Diante deste cenário, busca-se compreender o conceito de representações

individuais e representações coletivas, visto que, é na inquietação acerca desta

dicotomia que Moscovici iniciou seus estudos sobre as representações sociais.

Sandra Jovchelovitch (1995, p. 63) explica que a teoria das RS,

[...] nasceu – e cresceu – sob a égide de interrogações radicais, que repõe contradições e dilemas que ainda hoje precisamos responder. Talvez a principal dessas contradições seja a relação indivíduo-sociedade e como esta relação se constrói. Se de um lado sofremos os equívocos de uma compreensão demasiado individualizante, psicologista nos seus parâmetros de compreensão da subjetividade, por outro, muitas vezes as tentativas de introduzir conceitos sociológicos à Psicologia Social sucumbiram à tentação maniqueísta do inverso. Assim, ou ficávamos no individual fechado no âmbito de um Eu abstraído do mundo que o constrói, ou travávamos a sociedade e a história como abstração. Uma sociedade sem sujeitos

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ou sujeitos sem uma história social são parte de problemas que todos nós conhecemos muito bem – e recuperar essa conexão é uma das tarefas cruciais que temos pela frente.

Partindo da inquietude a respeito do conceito de representações individuais e

coletivas, enfatizados, respectivamente, por Freud e Durkheim, “a perspectiva de

Moscovici responde a um imperativo epistemológico: superar a dicotomia entre as

abordagens sociológicas e psicológicas do comportamento humano” (JODELET,

2011, p. 203), dentro da perspectiva da Psicologia Social.

Seguindo este olhar, pode-se afirmar que a Teoria das Representações

Sociais oferece caminhos para o estudo dos fenômenos sociais e psicossociais

reconhecendo o homem como agente nas relações sociais, acreditando na natureza

social e histórica das ciências, atribuindo à ação humana e à natureza dialética da

realidade social a importância merecida. Os estudos baseados na TRS buscam a

natureza social do conhecimento científico. Para Moscovici, as representações

seriam de natureza tanto prática quanto simbólica,2 dependendo desta inserção,

diferenciando-se, assim, dos conceitos elaborados por Durkheim e Freud, já que

esta teoria possui um caráter dinâmico e interdisciplinar.

O conceito de representações sociais, como foi apresentado por Moscovici

inicialmente, criticava as dicotomias dentro do cenário da Psicologia. Palmonari e

Cerrato (2001, p. 313) afirmam que o autor da TRS “criticava as dicotomias

tradicionais sujeito/objeto, teoria/método, individual/social, postulando que as

características da sociedade constituem a base dos fenômenos psicossociais e lhes

dá significado”.

De acordo com Moscovici, toda representação é uma representação de

alguma coisa e mesmo o pesquisador tem representações. Jodelet (2001, p. 22)

apresenta uma definição de representações sociais bastante aceita entre os

teóricos:

2 Moscovici, em sua Teoria das Representações Sociais, procura relacionar interações sociais,

processos simbólicos e condutas. Os processos simbólicos são aqui entendidos como um sistema que inclui cultura, representações, modelos, valores, etc. (SCOTT, 2001).

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[...] é uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e compartilhada, com um objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social. Igualmente designado como saber de senso comum ou ainda saber ingênuo, natural, essa forma de conhecimento é diferenciada entre outras do conhecimento científico. Entretanto, é tida como um objeto de estudo tão legítimo quanto este devido à sua importância na vida social e à elucidação possibilitadora dos processos cognitivos e das interações sociais.

Logo, as Representações Sociais são saberes do senso comum, construídos

nas relações entre os indivíduos.

Jodelet (2001) afirma, ainda, ser válido pensar na representação como uma

forma de saber que liga um sujeito a um objeto, ou seja, é sempre uma

representação de um objeto e de um sujeito. Como explica, Moscovici, “toda

representação social é de alguém tanto quanto de alguma coisa. É uma forma de

conhecimento por meio da qual aquele que conhece se substitui no que é

conhecido” (MOSCOVICI, 1969,apud JODELET, 2001, p.11).

É necessário mencionar que os aspectos cognitivos das representações

estão subordinados aos processos de comunicação e aos processos de linguagem.

Jodelet (2011, p. 216) explica que o papel da comunicação está na origem das

representações e tem uma relação dupla: “as representações se forjam na

comunicação e as representações tinham como finalidade orientar a comunicação”.

Neste sentido, as representações sociais têm como produto a comunicação e têm

um poder pragmático.

As representações sociais, assim entendidas, como conhecimento do sujeito

sobre mundo, coisas, o outro, a ciência e etc., são comunicadas de modo singular e

com a função de tornar familiar qualquer tema, permitem compreender suas

funções.

Para Abric (1998), “a representação é um guia para a ação, ela orienta as

ações e as relações sociais. Ela é um sistema de pré-decodificação da realidade

porque ela determina um conjunto de antecipações e expectativas” (ABRIC, 1998, p.

28). É concordando com este autor que Spink (1993) acredita que as

representações sociais têm papel fundamental na dinâmica das relações sociais e

nas práticas, portanto, possui algumas funções.

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Desta forma, compreende-se a função de saber que tem como característica

a orientação da conduta e das comunicações, permitindo que autores sociais

(ABRIC, 1998) adquiram conhecimentos e as integrem de forma assimilável e

compreensível para eles próprios. Noutras palavras, a função basilar das

representações sociais será atribuir sentido às “coisas” 3 ou organizar o real em sua

mente para possibilitar a comunicação. Cabe esclarecer que a “coisa”, segundo

Castoriadis (2000, p. 410),

[…] a coisa é uma significação imaginária instituída (evidentemente com um conteúdo muito variável) por todas as sociedades conhecidas. Esta instituição coloca em ação […] os esquemas operativos essenciais do legein (separação/reunião/identidade, “continuidade” etc), ou seja, as figuras operantes do imaginário social, mas também sempre outros componentes imaginários.

Para Abric (1998, p. 29),

[...] elas facilitam – elas são, quiçá, a condição necessária para a existência da comunicação social. Elas definem o quadro de referência que permite as trocas sociais, a transmissão e a difusão deste saber “ingênuo”. Elas são a manifestação do esforço permanente do homem para compreender e comunicar.

Para definir este esforço, apontado na citação, Abric tem como base as

palavras de Moscovici (1981, apud ABRIC, 1998), afirmando acreditar ser a

essência mesma da cognição social.

A função identitária, por sua vez, objetiva a proteção e legitimação das

identidades sociais. Além da função citada anteriormente, para Mugny et Carugati

(1985, apud ABRIC, 1998, p. 29),

As representações sociais têm por função situar os indivíduos e os grupos dentro do campo social (permitido) e elaboração de uma

3 CF. Heidegger apresenta suas determinações como resultados de uma análise existencial: a noção

de coisa é esclarecida por ele como um elemento da existência humana enquanto "ser-no-mundo". Ser no mundo significa ocupar-se com alguma coisa e a coisa é sempre um instrumento (Zeug), um meio para... Enquanto tal, o modo de ser da coisa é o da instrumentalidade, e "a instrumentalidade é a determinação ontológico-categorial do ente como ele é em sf. Quer dizer: a instrumentalidade não se acrescenta como uma qualidade secundária ou extrínseca à realidade da coisa, mas a constitui, é

essa mesma realidade. In: http://www.filoinfo.bem-vindo.net/filosofia/modules/lexico/entry.php?entryID=3096

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identidade social e pessoal gratificante, ou seja, compatível com o sistema de normas e de valores socialmente e historicamente determinados.

A identidade de um grupo pode ser entendida por meio de uma avaliação de

suas características ou de suas produções. É esta função das representações

sociais que garante uma imagem positiva do grupo de inserção. Defendendo, assim,

um papel importante no controle social “exercido pela coletividade sobre cada um

dos membros de seus membros, e, em especial, nos processos de socialização”.

(ABRIC, 1998, p. 29).

A função de orientação define o aceitável e inaceitável em um determinado

contexto social, em outras palavras, ela tem o caráter de orientação das condutas,

um guia para a ação, é denominada “função de orientação”. Este processo, segundo

Abric (1998, p. 29), resulta de três fatores essenciais: (1) define a finalidade da

situação, determinando, assim, o tipo de relação pertinente para os sujeitos. (2)

determina diretamente o tipo de estratégia cognitiva adotada pelo grupo, bem como

a maneira como este se comunica, (3) produção de um sistema de expectativa.

A função justificadora intervém na avaliação da ação. Neste sentido, a

função justificadora permite a justificativa das tomadas de comportamentos e

decisões. É, portanto, uma relação entre grupos.

Nas palavras de Doise (1973 apud ABRIC 1998, p. 30),

[...] as representações intergrupais têm por função essencial a justificativa dos comportamentos adotados face ao outro grupo. Em função da natureza das relações, mantidas com este último e da evolução dessas mesmas relações, constata-se que as representações do outro grupo evoluem. Deste modo, dentro de uma situação de relações competitivas, representações do grupo adversário vão ser progressivamente elaboradas, visando justificar um comportamento hostil face a ele.

Em poucas palavras, a representação justifica e preserva a diferenciação

social. Ela pode propor o perfil das relações entre grupos, contribuir para a

manutenção da distância ou para a discriminação.

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Compreender os diversos significados construídos sobre a profissionalização

do professor, a partir das Representações Sociais, envolve ir além dos limites que a

questão aparentemente impõe. Pensar o assunto com base nessa teoria implica

aceitar que o sentido atribuído a um determinado objeto, é uma construção

psicossocial do indivíduo (MOSCOVICI, 2003), que contém em sua bagagem o

conhecimento do grupo ao qual pertence.

É neste sentido que busca-se vislumbrar as contribuições no contexto

professor a partir do estudo das Representações Sociais, em que há possibilidade

de se localizar a raiz de situações problemas e, com isso, de se transformar a

realidade dos mais diversos contextos sociais.

1.2 Abordagem Estrutural e Processual da Teoria das Representações

Sociais

Considerando que as representações sociais são manifestações do

pensamento social e desta forma são produzidas coletiva e historicamente, são

fundamento dos modos de vida e garantem, portanto, a identidade e a permanência

de um grupo social; Abric apresentou a abordagem estrutural da Teoria das

Representações Sociais, desenvolvendo a Teoria do Núcleo Central.

Por outro lado, entende-se as representações sociais não como

processamento de informações, mas como produto e processo da construção do

homem. São apresentados dois processos sociocognitivos construtores das

representações sociais: a objetivação e a ancoragem. Aqui, descreve-se,

inicialmente, a abordagem estrutural, seguida da abordagem processual.

1.2.1 Os processos de Objetivação e Ancoragem

Novikoff (2010, p.87) assinala a necessidade de compreender o sentido de

sujeito e sociedade para que haja o entendimento das representações sociais.

Apoiada nas palavras de Castoriadis, a autora afirma que

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toda sociedade é um sistema de interpretação do mundo: e, ainda aqui, o termo “interpretação” é medíocre e impróprio. Toda sociedade é uma construção, uma constituição, uma criação de um mundo, de seu próprio mundo. Sua própria identidade nada mais é que esse “sistema de interpretação”, esse mundo que ela cria. É por isso que (da mesma forma que qualquer indivíduo) ela percebe como um perigo mortal qualquer ataque a esse sistema de interpretação; ela o percebe como um ataque a esse sistema de interpretação; ela o percebe como um ataque contra sua identidade, contra ela mesma. (CASTORIADIS apud NOVIKOFF, 2006, p. 87).

A partir da citação acima é possível concluir que as representações sociais

só são sociais porque são instituídas e compartilhadas pelo coletivo, encontram-se

na sociedade e esta última, por sua vez, está em constante mutação.

Spink (1995, p. 120) afirma que as representações sociais são “estruturas

estruturadas ou campos socialmente estruturados”. Segundo este olhar, é

necessário mencionar que o sujeito não é um ser isolado, mas uma entidade social.

Nas palavras de Jodelet, o estudo das representações sociais deve se dar por meio

das articulações de elementos “afetivos, mentais, sociais, integrando a cognição, a

linguagem e a comunicação às relações sociais que afetam as representações

sociais e à realidade material, social e ideativa sobre a qual elas intervêm”

(JODELET, 1989, p. 41).

Tomando como ponto de partida a função de organizar e manter a ordem

social e, ao entender as representações sociais como práxis, acredita-se que o

estudo destas não se dá mais como interpretação de conteúdos, mas como

processo. Neste sentido, dois processos estão envolvidos na elaboração de uma

representação social, segundo Moscovici (2010) são postulados: objetivação e

ancoragem.

Concebida como um processo intra-individual, a ancoragem, que se relaciona

à inserção do estranho no pensamento já constituído (SPINK, 1995), é definida por

Moscovici (2010, p. 61) como:

[...] um processo que transforma algo estranho e perturbador, que nos intriga, em nosso sistema particular de categorias e o compara com um paradigma de uma categoria que nós pensamos se apropriada. É quase como que ancorar um bote perdido em um dos boxes (pontos

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sinalizadores) de nosso espaço social. [...] Ancorar é, pois, classificar e dar nome a alguma coisa.

A ancoragem é entendida como processo que configura sentido, torna o não

familiar em familiar e organiza as relações sociais, e é um processo simultâneo a

objetivação. Nas palavras de Novikoff (2010, p. 93),

[...] como processo de configuração de sentido, está relacionada com a rede de significações externas que incidem sobre as relações estabelecidas entre os diferentes elementos da representação, considerando que os conteúdos de uma representação estão vinculados à significação de um dado objeto, fato, fenômeno ou ideia, associados a determinados grupos sociais. Daí dizer que um mesmo objeto é percebido por diferentes perspectivas, encarnando diferentes valores, dependendo do contexto histórico-social e cultura dos indivíduos.

Enquanto ancorar é o processo que permite familiarizar com o pensamento

implícito, a objetivação significa materializar as significações. É a cristalização de

uma representação que nos remete a este processo.

Neste sentido, a objetivação é o processo no qual as “noções abstratas se

tornam concretas” (SPINK, 1993, p. 306), formando imagens e tornando-a quase

tangível. Este processo, por sua vez implica três etapas: inicialmente,

descontextualiza-se a informação através de critérios normativos e culturais, em

seguida, forma-se uma estrutura que reproduz de maneira figurativa uma estrutura

conceitual. A última etapa é a naturalização, momento em que as imagens são

transformadas em elementos da realidade.

Os estudos de Jodelet (2001) enfatizam os processos de ancoragem e

objetivação. Segundo esta estudiosa, este último sinaliza formas para a realização

de interpretação da realidade, o que proporciona a construção de valores,

necessidades e interesses de um mesmo grupo.

A objetivação, neste contexto, pode ser entendida como a “construção

formal do conhecimento que orienta as percepções e os julgamentos do indivíduo

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em uma realidade socialmente construída” (NOVIKOFF, 2010, p. 92). Este processo,

por sua vez, mantém uma relação dialética com o processo de ancoragem.

1.2.2 A Teoria do Núcleo Central (ABRIC, 1976)

Dentro da abordagem estrutural da Teoria das Representações Sociais,

Abric desenvolveu a Teoria do Núcleo Central que, apesar de ter sido proposta em

1976, só se concretizou em 1987.

Abric (2003, p. 38) considera uma representação social como “um conjunto

organizado e estruturado de informações, crenças, opiniões e atitudes”. Dentro

desta perspectiva, este conjunto constitui-se “um sistema sociocognitivo particular,

composto de dois subsistemas: um sistema central (ou núcleo central) e um sistema

periférico”.

O núcleo central – ou núcleo estruturante – considerado estável, resistente e

rígido, é o núcleo que resiste à mudança. Este e o sistema periférico têm cada parte

um papel específico e complementar do outro. Abric (1994, p. 4) afirma que,

[…] o sistema central é, portanto, estável, coerente, consensual e historicamente definido. O sistema periférico, por sua vez, constitui o complemento indispensável do qual depende. Isso porque, se o sistema central é essencialmente normativo, o sistema periférico, por sua vez, é funcional. Isto quer dizer que é graças a ele que a representação pode se ancorar na realidade do momento.

No estudo das representações sociais como forma de conhecimento são

destacadas diversas funções, dentre elas, as apresentadas no tópico anterior.

Quanto ao núcleo central, Abric (2003, p. 38) afirma que este assegura três funções

essenciais e que ele determina: “o significado da representação (função

generadora); a organização interna (função organizadora) e a estabilidade (função

estabilizadora)”.

À parte mais flexível, mais acessível e mais viva da representação, o

sistema periférico, Abric (2003, p. 38) atribui cinco funções: “concretização,

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regulação, prescrição de comportamentos, proteção do sistema central e

personalização (individualização das representações coletivas)”.

É através da compreensão dos conceitos de sistema central e sistema

periférico que se torna possível entender Moscovici (1992 apud ABRIC, 2003, p. 39)

quando afirma que: “toda comunicação, toda representação, comporta esta

dualidade entre significados e ideias, das quais umas são negociáveis e outras não-

negociáveis, dentro de um grupo, em um dado momento”.

A representação social, portanto, é organizada em torno de um sistema

central, a raiz, a base comum social que define as normas, os valores, ideologias

neste contexto, não podendo ser vista como ilusão, “mistificação ou falsa

consciência; precisa ser vista como instrumento de dominação” (SPINK, 1995, p.

119) dos indivíduos de um grupo. Flament (1994) considera os elementos periféricos

como esquemas. Este sistema periférico admite adaptação, “uma diferenciação em

função do vivido, uma integração das experiências cotidianas” (ABRIC, 2003, p. 33)

e está ao redor do núcleo central.

Abric (1998) acredita que a modificação do sistema central muda

completamente a representação social. Segundo este autor (ABRIC, 1998, p. 31),

[…] é preciso considerar também que a centralidade de um elemento não pode ser atribuída somente por critérios quantitativos. Ao contrário, o núcleo central possui, antes de tudo, uma dimensão qualitativa. Não é a presença maciça de um elemento que define sua centralidade, mas sim o fato que ele dá significado à representação. Pode-se, perfeitamente, identificar dois elementos, dos quais a importância quantitativa é idêntica e muito forte, que aparecem, por exemplo, muito frequentemente no discurso dos sujeitos, mas, um pode ser central e o outro não.

Pode-se concluir, portanto, que as representações sociais não podem ser

reduzidas apenas ao cognitivo, já que são estruturas cognitivo-afetivas vistas como

formas de conhecimento prático.

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1.3 As Representações Sociais e as práticas professores

A preocupação com a formação do professor e seu trabalho tem sido objeto

de muitas pesquisas no campo educacional. Vários autores (GATTI e BATTETO,

2009; FACCI, 2004; SILVA, 1997; dentre outros) observam a Pedagogia por meio de

um olhar histórico-crítico.

Duarte (2001) cita Saviani no que diz respeito à tarefa da Pedagogia

histórico-crítica, que implica a identificação das formas de expressão do saber

produzido historicamente; a conversão do saber objetivo em saber escolar de modo

a torná-lo assimilável pelos alunos no espaço e tempo escolares e o provimento dos

meios didáticos necessários que levem aos alunos à aprendizagem do processo de

sua produção, bem como às tendências de sua transformação.

Neste trabalho, questiona-se um curso de Pedagogia pragmático e defende-

se uma formação do professor que critica, raciocina e considera os conhecimentos

historicamente produzidos (GATTI, 2010). É necessário mostrar que o atual curso de

Pedagogia tem o papel de preparar o profissional despertando sua consciência para

os aspectos teóricos e metodológicos para o enfrentamento das questões

econômicas, políticas, sociais que determinam a educação.

Educar, dentro desta realidade, é um movimento social que está impregnado

de valores e noções que, consciente ou inconscientemente, são reproduzidos e

multiplicados, em um movimento dinâmico que se encontra em constante

modificação.

Os pensamentos da sociedade acerca do professor e sua profissão não se

mantiveram idênticos aos pensamentos iniciais, quando a profissão professor era

associada a um trabalho de caridade e vocação. Segundo o que Silva (1997)

identifica em sua pesquisa, os estudos educacionais trouxeram, a partir do final dos

anos de 1980, novos conceitos para a compreensão do trabalho professor. Destaca

que as novas abordagens de pesquisa passaram a reconhecê-lo como sujeito de um

saber e de um fazer, fazendo surgir a necessidade de se investigarem os saberes de

referência dos professores sobre suas próprias ações e pensamentos, já que

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[...] a análise dos valores e princípios de ação que norteiam o trabalho dos professores pode trazer novas luzes sobre nossa compreensão acerca dos fundamentos do trabalho professor, seja no sentido de desvendar atitudes e práticas presentes no dia-a-dia das escolas que historicamente foram ignoradas pela literatura educacional (e talvez possam trazer contribuições para o trabalho e a formação de professores) (SILVA, 1997, p. 3).

O estudo das representações, dentro desta perspectiva, contribui

expressivamente no que diz respeito ao entendimento trabalho do professor.

Cabe relembrar que sem a compreensão das representações sociais que

sustentam os ideários alienantes e não alienantes da formação do professor, pouco

se consegue de concreto para se discutir as formas de superação, pois o outro se

pensa se ele mesmo compreender seu pensamento e suas dificuldades. Daí a TRS

que contribui na visibilidade da subjetividade em relação com a inter e

transubjetividade.

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CAPÍTULO II – FORMAÇÃO DE PROFESSORES

O cenário educacional brasileiro vem sofrendo (forma e matéria) diversas

mudanças desde a sua formação inicial. É a partir desta consideração que este

tópico traz como proposta central apresentar alguns elementos históricos que

permeiam o contexto de formação de professores e sua constituição atual. Noutras

palavras, articula-se a história do ensino fundamental (1o ao 9o ano), ensino médio e

ensino superior para entender o lugar da formação do professor.

Diante da necessidade de entender o professor como sujeito importante

dentro da realidade escolar, faz-se necessário buscar elementos históricos que

auxiliem a traçar o contexto da construção da profissão docente. Partindo deste

princípio, apresentam-se os seguintes questionamentos: Que elementos históricos

marcaram a elaboração do curso de formação de professores no Brasil? Quais são

as exigências que norteiam esses cursos?

É importante ressaltar que, com a tentativa de responder a essas questões de

forma sintética, a pesquisa em questão toma como base teórica os estudos

realizados por Ribeiro (1992), Romanelli (1991, 1997), Silva (2003) e Xavier (1994) a

respeito da história da educação no Brasil, apresentando momentos cruciais na

iniciação dos cursos de formação de professores. Conta-se, ainda, com os trabalhos

de Gatti (2009, 2010, 2011) na companhia de outros estudiosos acerca do cenário

educacional brasileiro, propondo um olhar mais amplo e indo além da construção

inicial deste.

Para a estrutura do texto, apresentam-se quatro subtópicos. O primeiro

pontua os marcos importantes na construção histórica da educação brasileira,

seguido de um breve relato do curso de Pedagogia no Brasil, que apresenta o

contexto da oficialização deste curso. Em sequência, aborda-se a fundamentação da

formação de professores estabelecida em documentos oficiais. Por fim, mapeia-se

algumas propostas comuns dos cursos formadores de professores da Educação

Básica, as chamadas, licenciaturas.

O estudo justifica-se a partir da ideia de que a necessidade de crítica e

análise da docência é constante e, portanto, a proposta deste constitui elemento

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inicial para esta análise que, produzida em um ambiente acadêmico, auxilia na

definição das políticas educacionais de formação do(a) educador(a) no contexto

educacional.

2.1 A história brasileira da Formação de Professores: um breve relato

A história é essencialmente poiésis 4(CASTORIADIS, 1987).

Antes de discorrer sobre a história brasileira da Formação de Professores,

cabe elucidar o que se entende sobre a história neste texto, que toma como base de

reflexão a ideia de Castoriadis, ilustrada na epígrafe deste tópico. Assim, a história

aqui é compreendida tanto como espaço-tempo em que se cria, fabrica e se

descreve o pesquisado revelado, dito, explicado sobre algo ou alguma coisa como o

não revelado, dito, e/ou pensado. Daí considerar dez períodos e não oito como a

maior parte dos trabalhos sobre história da educação apresentam.

Nas palavras de Castoriadis (1987, p. 430),

[...] existe também a dimensão socialmente histórica do conhecimento – e da ciência. Aqui, mais uma vez, “histórico” não remete às batalhas, invasões e mudanças de governo – ou à lenta evolução das forças produtivas, dos costumes e da vida cotidiana. Histórica é essencialmente toda sociedade (portanto, também, todo indivíduo), ainda que “pré-histórica” ou “sem história”.

Nesta perspectiva, os períodos que marcam a historicidade da educação

brasileira são sintetizados em razão da sua extensão. Inicia-se descrevendo o

cenário da educação geral para apontar as ideologias de cada período e tentar,

assim, entender o que se esperava do professor. Destaca-se cada período de

acordo com o objetivo de dar acento à formação do professor.

Antes dos portugueses encontrarem as terras brasileiras, nosso território era

ocupado por uma infinidade de sociedades indígenas relativamente complexas que

apresentavam características próprias e rompiam as compreensões de mundo do

4 Poésis é aqui entendida como criação.

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homem europeu. Este período, anterior à chegada dos portugueses, denomina-se

era pré-cabralina.

Este período não é contabilizado para a discussão da formação do professor

nos trabalhos levantados, pois todos iniciam com a chegada dos jesuítas no período

colonial. Importa destacar que esta negação refere-se à zona muda (ABRIC, 1999)

com relação a este período que, somente no século atual, sob o amparo da

legislação, passou a ser considerado parte da história educacional brasileira.

Em 1888, a Constituição Federal dispunha sobre o respeito aos povos

indígenas, afirmando que não cabe aos demais cidadãos interferir na cultura desses

povos, mas aceitá-la. Em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

(Lei 9394/96) prevê o direito a educação desta população. Coube ao Plano Nacional

de Educação (Lei 10.172) afirmar o direito de formação dos professores indígenas.

Em seu tópico intitulado: Objetivos e Metas, o PNE traz como uma de suas

metas,

15. Instituir e regulamentar, nos sistemas estaduais de ensino, a profissionalização e reconhecimento público do magistério indígena, com a criação da categoria de professores indígenas como carreira específica do magistério, com concurso de provas e títulos adequados às particularidades linguísticas e culturais das sociedades indígenas, garantindo a esses professores os mesmos direitos atribuídos aos demais do mesmo sistema de ensino, com níveis de remuneração correspondentes ao seu nível de qualificação profissional. (MEC, 2002, p 72)

Os professores indígenas têm, portanto, o direito à formação a partir da

promulgação desta lei. Desta forma, é possível perceber o reconhecimento tardio do

movimento cultural indígena, incluindo-se a educação.

Segundo os trabalhos encontrados, a primeira abordagem educacional é dada

no período Colonial do Brasil, é possível perceber que esta se deu de forma

incursiva. Isto porque os jesuítas, em 1549, sob a liderança do Padre Manoel da

Nóbrega, vieram ao país com o objetivo de catequizar os índios e ensiná-los a ler e

escrever em Língua Portuguesa, para viabilizar a leitura e a interpretação das

passagens bíblicas e impor o catolicismo como religião. Neste período, portanto,

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desconsiderou-se a historicidade dos indígenas com relação a seus valores, culturas

e conhecimentos.

A partir da construção da primeira escola dos jesuítas na Bahia (1549), o

cenário educacional começou a instituir-se no Brasil, sob os modelos da educação

europeia. Este modelo educacional, considerado repressivo, desempenhou um

papel fundamental em favor dos objetivos do governo português no processo de

colonização e povoamento das terras brasileiras.

A Igreja Católica tinha em sua missão de catequizar e evangelizar as

pessoas, segundo os seguintes princípios: 1) a busca da perfeição humana por meio

da palavra de Deus; 2) a obediência absoluta e sem limites aos superiores; 3) a

disciplina severa e rígida; 4) a hierarquia baseada na estrutura militar; 5) a

valorização da aptidão pessoal de seus membros. Esses princípios deveriam ser

seguidos pelos jesuítas, acreditando que este modelo facilitaria no processo de

colonização portuguesa.

Considerando que os portugueses vieram para a colônia brasileira em busca

de riquezas, desempenhando um papel importante na formação da estrutura social,

administrativa e produtiva da sociedade, acreditava-se que o fenômeno educacional

não é independente e autônomo da realidade social de determinado momento

histórico. Portanto, o modelo educacional proposto pelos jesuítas dizia-se coerente

com as aspirações portuguesas e as necessidades da formação da sociedade

baseada no modelo europeu.

Os jesuítas formularam seu Projeto Educacional, que denominaremos Projeto

Educacional Jesuítico, sendo este o alicerce da nova estrutura social e educacional

da Colônia brasileira. Romanelli (2001) explica que o conceito de educação fazia

referência ao estudo enérgico, enfatizando o pensamento ditador, sem aceitação do

pensamento crítico. Noutras palavras, quando os jesuítas chegaram ao Brasil, não

trouxerem somente seus costumes, ideias, sua moral e religiosidade, mas um

modelo educacional que foi imposto às pessoas que aqui habitavam.

A prática catequética dos jesuítas atendia aos interesses dos que tinham

poder, do estamento mercantil português. A doutrina cristã não se adaptava à

cultura indígena, já que, o conteúdo catequético impunha uma doutrina cristã com

dogmas, princípios morais e de espiritualidade.

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Desta forma, a cultura foi se modificando. Diante da imposição dos modelos

europeus, os povos indígenas passaram a absorver o que desejavam da cultura do

entorno, sem perder a sua própria cultura. Este processo recebe o nome de

transculturação, conceito apresentado por Fernando Ortiz (1881-1969) que trata de

alterações culturais que têm lugar ao longo do tempo. A transculturação implica

conflitos e consiste antes num fenômeno de enriquecimento cultural.

A educação sob o modelo ratio studiorium5 sustentou-se durante o período de

1549 até 1760, impondo uma educação dualista, diferenciada entre ricos e pobres.

Sua queda se deu a partir no momento em que Marquês de Pombal convenceu o rei

de Portugal quanto à inconsistência do trabalho realizado pela Companhia de Jesus

no Brasil e implantou um modelo educativo inspirado nos ideais iluministas

(ROMANELLI, 1997). Entre 1760 e 1808 a educação brasileira foi marcada pelo

ideário de Marquês de Pombal, o que caracterizou o período pombalino. Neste

período Pombal, contrariando a proposta dos Jesuítas de servir aos fieis, organizou

a escola de forma a servir ao Estado.

O ano de 1820 foi marcado com a fundação da primeira Universidade do

Brasil, com a vinda da Família Real, apesar disso, a família não permaneceu aqui,

caracterizando o abandono da educação na época. Este descaso com a educação

permaneceu em 1822, resultando num alto índice de analfabetismo. O período em

que a Família Real permaneceu no Brasil foi denominado Período Joanino.

Durante o período de 1822 até 1889, Período Imperial, instituiu-se um curso

que objetivava a formação de professores, naquela época, a escola normal.

Segundo Romanelli (1997, p. 183), a primeira Escola Normal

[...] foi criada em l835, em Niterói, sendo a pioneira na América Latina e, de caráter público, a primeira de todo o continente, já que nos Estados Unidos as que então existiam eram escolas particulares. Pelo menos uma dezena dessas foram criadas até l881. [...] Além dessas, destacou-se a criação do Pedagogium, em l890, de curta duração que deveria ter funcionado como centro de pesquisas educacionais e museu pedagógico.

5 *Sistematização da pedagogia jesuítica contendo 467 regras cobrindo todas as atividades dos agentes

diretamente ligados ao ensino e recomendava que o professor nunca se afastasse em matéria filosófica de Aristóteles e teológica de Santo Tomás de Aquino.

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Também Tanuri, ao se referir à forma como os professores do ensino público

adquiriam seus conhecimentos, explica que "as primeiras instituições brasileiras

fundadas com o objetivo, embora não exclusivo nem específico de formar o

professor primário, foram as próprias Escolas de Primeiras Letras" (TANURI,1969,

p.14). Tais instituições surgem por força de lei (Lei de 15/10/1827). A partir da

consagração do Método Lancaster (Decreto de 01/03/1823), a compreensão deste

método significava a preparação dos professores, demonstrou-se ampla aplicação

deste em todo país.

Saviani (2008, p. 2) resume em um parágrafo os períodos históricos da

educação brasileira. Buscando valorizar a historiografia da educação no Brasil, ou

seja, a história da história da educação brasileira, este estudioso explica que no

período de 1827 até 1890 houve uma “tentativa de organizar a escola como

responsabilidade do poder público representado pelo governo imperial e pelos

governos das províncias” (SAVIANI, 2008, p. 2), entretanto não faz referência a

alguns momentos marcantes da educação brasileira.

Durante a República Velha (1889 – 1930) foi adotado o modelo político

estadunidense baseado no sistema presidencialista, o que fez com que a educação

sofresse influência. A Reforma de Benjamin Constant (Decreto n. 981 - de 8 de

novembro de 1890) trouxe a proposta de liberdade e laicidade do ensino, princípios

que seguiam o que propunha a Constituição de 1888, visto que esta afirmava a

educação de todos sem fazer referência à religião. Um dos objetivos desta Reforma

era transformar o ensino em formador de alunos para os cursos superiores, também

objetivava a substituição da predominância literária pela científica.

A Segunda República (1920-1936) foi marcada pela Revolução de 1930

quando o modelo capitalista de produção entrou no Brasil. O investimento no

mercado interno e na produção industrial, possibilitados pela acumulação de capital,

do período anterior, impôs uma nova realidade, que exigia mão de obra

especializada e para tal era preciso investir na educação. Para tanto, em 1930, foi

criado o Ministério da Educação e Saúde Pública e, em 1931, assim deu-se o

começo da organização do ensino secundário e das universidades brasileiras, ainda

inexistentes, em forma de decreto, estes, por sua vez, ficaram conhecidos com

“Reforma Francisco Campos” (Lei 5040/68).

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Algumas discussões sobre as questões da educação, iniciadas no período da

Segunda República, foram retomadas no período denominado Estado Novo (1937-

1945). Neste período, iniciou-se a distinção entre o trabalho intelectual e o trabalho

manual, enfatizando o ensino profissional para as classes mais desfavorecidas.

Na República Nova (1946-1963) a nova Constituição, na área da Educação,

prevê a obrigatoriedade de se cumprir o ensino primário e dá competência à União

para legislar sobre diretrizes e bases da educação. Voltando, ainda, ao princípio de

que a educação é direito de todos. É neste período que o Ministério da Educação e

Cultura inicia uma campanha de alfabetização, proposta pelo educador Paulo Freire,

com o objetivo de alfabetizar os adultos analfabetos em quarenta horas.

A incorporação crescente do ideário pedagógico renovador, regulamentando

as escolas superiores, secundárias e primárias, se deu durante o período de 1931

até 1961. A partir daí a regulamentação da escola nacional passou a ser

regulamentada abrangendo a rede pública (municipal, estadual, federal) e redes

particulares, como nos dias atuais.

Durante a Ditadura Militar (1964-1985) houve grande repressão à opinião

pública. Neste período, portanto, a expressão popular foi abafada. Houve também,

por denúncias de corrupção, a extinção do Movimento Brasileiro de Alfabetização,

liderado por Paulo Freire e no seu lugar criou-se a Fundação Educar. É válido

ressaltar que, durante a Ditadura Militar foi instituída a Lei 5.692, Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional, em 1971, esta tinha como uma de suas

características a formação educacional de cunho profissionalizante.

Com o fim do Regime Militar, iniciou-se um novo período denominado Nova

República (iniciado em 1986). Cabe reforçar que a escola do período atual não tem

como um dos seus objetivos atender apenas à elite. Ao contrário, o discurso

educacional atual defende o atendimento a toda a população de forma igualitária.

Ribeiro (1992, p. 174) já defendia a ideia de que,

[...] não é deixando grandes parcelas da população fora da escola que se vai descobrir o modelo que virá atender às necessidades relativas à educação escolarizada de toda a população e não apenas de pequenos grupos. É lutando para que todos ingressem e permaneçam na escola, é lutando, portanto, para que os obstáculos escolares e sociais gerais deixem de existir, que será possível construir uma educação escolar de qualidade.

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Segundo Gatti e Barreto (2009, p.11), é importante considerar o fato de que

só em meados do século XX é que o processo de escolarização básica se expandiu.

Segundo as autoras, “seu crescimento real, em termos de rede pública de ensino,

vai se dar em fins dos anos 1970 e início dos anos 1980” , considerando o número

de alunos cursando o ensino fundamental comparado ao número de crianças e

adolescentes na faixa etária correspondente ou próxima.

Esta expansão se deu por conta das pressões sociais que contribuíram para o

início dos investimentos públicos no ambiente educacional, fazendo com que a

demanda de professores também aumentasse. Nas palavras de Gatti e Barreto

(2009, p. 11), houve várias adaptações no que tange ao suprimento de professores

na escola: “expansão das escolas normais em nível médio, cursos rápidos de

suprimento formativo de professores, complementação de formações de origens

diversas, autorizações especiais para o exercício do magistério e não licenciados,

etc.”.

Em síntese, a educação brasileira sofreu grandes influências externas. Como

Xavier (1994, p.28) destaca, “foi a interação dos interesses externos com os internos

que resultou a formação social brasileira”. E, portanto, as tentativas de implantar

modelos estrangeiros caracterizaram a formação da escola no Brasil. O

detalhamento e explanação de cada momento exige um trabalho mais amplo, coisa

que esta pesquisa não dá conta de fazer.

Apesar disto, a necessidade de comentar, mesmo que de forma superficial,

alguns momentos da história da educação brasileira se faz importante num trabalho

que se insere no campo educacional. Neste campo da construção do conhecimento,

o esquecimento das passagens que contemplam a História da Educação configura

uma postura condenável, porque negligencia o passado, elemento construtivo no

presente.

A importância de estudar e conhecer a história é reconhecida por Saviani

(2008, p. 3) ao afirmar que,

considerando que é pela história que nós nos formamos como homens; que é por ela que nós nos conhecemos e ascendemos à

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plena consciência do que somos; que pelo estudo que fomos no passado descobrimos ao mesmo tempo o que somos no presente e que o que podemos vir a ser no futuro, o conhecimento histórico emerge como uma necessidade vital; de todo ser humano.

Partindo deste olhar, acredita-se que a escola é uma instituição de caráter

dinâmico. Os homens, enquanto indivíduos vivos, sujeitos ativos dentro de uma

realidade histórico-social, fazem a história e, esta última, por sua vez, não pode ser

negligenciada.

Por meio das palavras de Saviani (2009, p. 148) é possível concluir quanto à

educação, no cenário nacional, que

[...] ao longo dos últimos dois séculos, as sucessivas mudanças introduzidas no processo de formação professor revelam um quadro de descontinuidade, embora sem rupturas. A questão pedagógica, de início ausente, vai penetrando lentamente até ocupar posição central nos ensaios de reformas da década de 1930. Mas não encontrou, até hoje, um encaminhamento satisfatório. Ao fim e ao cabo, o que se revela permanente no decorrer dos seis períodos analisados é a precariedade das políticas formativas, cujas sucessivas mudanças não lograram estabelecer um padrão minimamente consistente de preparação professor para fazer face aos problemas enfrentados pela educação escolar em nosso país.

Desta forma, coube a este tópico apresentar de forma sintética alguns

momentos marcantes do cenário histórico da educação brasileira, propondo

subsídios para o entendimento do processo de implantação educacional no Brasil. É

possível, com o que foi apresentado neste tópico, traçar uma linha do tempo da

educação e algumas características. Ao próximo tópico, caberá cumprir a

necessidade de comentar, mesmo que de forma sintética, algumas considerações a

respeito do curso de Pedagogia no Brasil e os marcos políticos que influenciaram,

ou têm influenciado, a sua formação e continuidade.

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2.2 O curso de Pedagogia e seus marcos políticos

A oferta de escolarização em seu processo inicial pode ser considerada bem

escassa e destinada a poucos. A necessidade de maior escolarização, imposta pela

industrialização, auxiliou na expansão do ensino. Neste contexto, o trabalho do

professor no ensino secundário, inicialmente realizado por profissionais liberais e

autodidatas, passou a ter preparação a partir do século XX, visto que a formação de

professor iniciada no século XIX, as Escolas Normais, era destinada a professores

das “primeiras letras”.

Em 1930, iniciou-se no ensino superior o processo denominado 3+1, este

propunha a possibilidade de bacharéis formados acrescentarem mais um ano de

estudos para a obtenção da licenciatura. Seguindo este processo, o curso de

Pedagogia foi iniciado através do decreto-lei n. 1190 de 4 de abril de 1939. Silva

(2003, p.11) explica que,

O curso de Pedagogia foi previsto como o único curso da “seção”, de Pedagogia que, ao lado de três outras – a de filosofia, a de ciências e a de letras – com seus respectivos cursos, compuseram as “seções”, fundamentais da Faculdade Nacional de Filosofia. Como “seção” especial foi instituída a de didática, composta apenas pelos cursos de didática. Foram fixados os currículos plenos e também a duração para todos os cursos. Para formação de bacharéis, ficou determinada a duração de três anos, após os quais, adicionando-se um ano de curso de didática, formar-se-iam os licenciados, num esquema que passou a ser conhecido como “3+1”.

A partir de 1960, a educação brasileira, no que se refere à legislação, teve

como marco legal a Lei n. 4024/61, homologada pelo, então, ministro da Educação e

da Cultura, Darcy Ribeiro, e veio a vigorar em 1963.

Devido às dificuldades apresentadas acerca do curso de Pedagogia, houve

algumas tentativas de aprimorá-lo. Em 1962, algumas alterações foram introduzidas

pelo parecer CFE n. 251 (Conselho Federal de Educação). Neste parecer, seu autor,

Valnir Chagas, explica algumas fragilidades do curso, entre elas, a controvérsia de

mantê-lo ou não. Sem fazer referência ao campo de trabalho do profissional, para

Silva (2003, p. 15), o autor “trata então de fixar o currículo mínimo e a duração do

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curso de Pedagogia. Fica, portanto, muito clara a ideia de provisoriedade com que é

tratada o curso de Pedagogia” e acrescenta que,

A previsão do autor do parecer é que, antes de 1970, nas regiões mais desenvolvidas, esse curso teria que ser redefinido e que, provavelmente, nele se apoiariam os primeiros ensaios de formação superior do professor primário, enquanto a formação do “pedagogista” se deslocaria para a pós-graduação, num esquema aberto aos bacharéis e licenciados de quaisquer procedências que se voltassem para o campo da educação. (SILVA, 2003, p. 16)

Em seguida, o parecer n. 252/1969 trouxe prescrições para a formação do

pedagogo. Gatti e Barreto (2009) explicam que este parecer manteve a formação do

professor para as Escolas Normais no nível de segundo grau.

Após a Lei n. 4024/61 e algumas tentativas em favor da melhoria do curso de

Pedagogia por meio de pareceres, as Leis n° 5540/68, 5692/71 e 7044/82,

apresentaram normatizações em nível federal e estadual.

Com a Lei n. 5692/71, veio à reformulação da Educação Básica no Brasil.

Inicialmente, foi instituído que as Escolas Normais, em nível médio, seriam

destinadas à formação de professores dos anos iniciais do ensino formal e o curso

superior seria pré-requisito para lecionar em nível médio (secundário). A partir da lei

citada, as Escolas Normais foram extintas e a formação que seria responsabilidade

desta passou a ser feita em uma “Habilitação do ensino de segundo grau chamada

Magistério” (GATTI; BARRETO, 2009, p. 38).

Entretanto, em 1982, foi aprovada a Lei n. 7044/82 que alterou o artigo 30 da

Lei n. 5692/71, manteve a formação na Habilitação do Magistério, mas decretou que:

a) No ensino de 1° Grau, da 1ª a 4ª séries, habilitação específica de 2ª Grau; b) no ensino de 1º Grau, da 1ª a 8ª séries, habilitação específica de grau superior, em nível de graduação, representada por Licenciatura de 1º Grau, obtida em curso de curta duração; c) em todo o ensino de 1º e 2º Graus, habilitação específica obtida em curso superior correspondente à Licenciatura plena (BRASIL, 1996).

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É a partir desta lei que se instalaram os cursos de licenciatura curta em nível

superior e de caráter polivalente, isto significa que, por exemplo, a licenciatura em

Ciências tinha como componentes Biologia, Física e Química. Em outras palavras,

formam-se professores por integração de áreas, o que causou grandes polêmicas e

levou o CFE a emitir orientações com o objetivo de tornar “progressivamente plenas

as licenciaturas curtas” (GATTI; BARRETO, 2009, p. 40).

Em 1986, o CFE aprovou o Parecer n. 161, este propunha a reformulação do

curso de Pedagogia, facultando a esses cursos a formação de professores para as

séries iniciais, 1ª a 4ª séries, o que algumas instituições já experimentavam.

É inegável que foram diversas as tentativas de aprimorar o curso de

Pedagogia, entretanto havia muitas fragmentações. Para dar conta destas, fazia-se

necessário a análise mais aprofundada dos documentos já publicados. Para Gatti e

Barreto (2009, p. 42) seria necessário levar em conta:

Necessidades formativas diante da situação existente;

Formas de articulação e relação entre formação em disciplina específica, formação educacional geral e formação didática específica, levando em conta níveis de ensino;

Novas formas de organização institucional que possam dar suporte a essas necessidades e novas formas de articulação; formação dos formadores, ou seja, de pessoal adequadamente preparado para realizar a formação de professores no nível de 3º grau;

Novo conceito de profissionalização dos professores baseado na proposta de um continuum de formação.

É neste cenário de dificuldades, debates e propostas que, em 1996, foi

instituída a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a LDB 9394/96, que

trouxe novas formulações e propostas para a Educação Brasileira, incluindo a

formação professor. Em seu Art. 2o, esta lei, que fixou o prazo de dez anos para que

os sistemas de ensino fizessem as devidas adequações às normas previstas por ela,

propõe um “caráter orgânico para seu funcionamento e flexibilidade de organização

e denominação” (GATTI; BARRETO, 2009, p. 44).

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Art. 2o – Visando assegurar a especificidade e o caráter orgânico do processo de formação profissional, os institutos superiores de educação terão projeto institucional próprio de formação de professores, que articule os projetos pedagógicos dos cursos e integre:

I – as diferentes áreas de fundamentos da educação básica;

II – os conteúdos curriculares da educação básica;

III – as características da sociedade de comunicação e informação.

Art. 3 – Os institutos superiores de educação poderão ser organizados:

I – como instituto superior propriamente dito, ou em faculdade, ou em faculdade integrada ou em escola superior, com direção ou coordenação do conjunto das licenciaturas ministradas;

II – como unidade de uma universidade ou centro universitário, com direção ou coordenação do conjunto das licenciaturas ministradas.

III – como coordenação única de cursos ministrados em diferentes unidades de uma mesma instituição.

Parágrafo único. Em qualquer hipótese, os institutos superiores de educação contarão com uma instância de direção ou coordenação, formalmente constituída, a qual será responsável por articular a formulação, execução e avaliação do projeto institucional de formação de professores, base para os projetos pedagógicos específicos dos cursos.

Esta lei ainda propôs algumas alterações para as instituições formadoras e os

cursos de formação de professores, incluem-se ainda o número de profissionais na

educação superior e suas devidas formações, entretanto, questões curriculares

permaneceram sem alterações durante um período. É, portanto, mediante esta lei

que passa a ser exigida a formação superior para os professores da Educação

Básica. Em seus artigos 62 e 63 estipula-se que,

Art. 62 – A formação de professores para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal.

Art. 63 – Os Institutos Superiores de Educação manterão:

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I – Cursos formadores de profissionais para a educação básica, inclusive o curso normal superior,destinado à formação de professores para a educação infantil e para as primeiras séries do ensino fundamental;

II – Programas de formação pedagógica para portadores de diplomas de educação superior que queiram se dedicar à educação básica;

III – Programas de educação continuada para os profissionais de educação dos diversos níveis.

Em 2002, instituíram-se as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação

de Professores para a Educação Básica, centrando-se a redação no

desenvolvimento de competências pessoais, sociais e profissionais dos professores.

Assim as DCN’s postulam,

[...] que a formação de professores que atuarão nos diferentes níveis e modalidades da educação básica observará alguns princípios norteadores desse preparo para o exercício profissional específico, que considerem, de um lado, a formação de competências necessárias à atuação profissional, como foco do curso, a coerência entre a formação oferecida e a prática esperada do futuro professor, e , de outro, a pesquisa, com foco no ensino e na aprendizagem, para compreensão do processo de construção do conhecimento. (GATTI; BARRETO, 2009, p. 46)

Cabe ressaltar que a Lei 10.639/2003 torna obrigatório o ensino sobre História

e Cultura Afro-Brasileira, incluindo no calendário escolar o “Dia Nacional da

Consciência Negra” e trazendo, em forma de lei, a responsabilidade, em especial,

aos professores das áreas de Educação Artística e de Literatura e História

Brasileiras de ministrar de abordar questões relacionadas às lutas, à cultura negra e

ao negro na formação da sociedade brasileira.

Aprimorar o ensino e a formação de profissionais que nele atuem é objetivo

inquestionável da educação brasileira. As questões legislativas estão, por sua vez,

diretamente relacionadas a esta proposta. Desta maneira, são diversos os marcos

políticos em relação ao curso de Pedagogia no Brasil, mas, ainda é possível

encontrar falhas, um exemplo disto é a permanente questão de que um profissional

da educação básica pode ser formado tanto no ensino superior quanto em nível

médio.

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Desconsiderando a necessidade de formação superior, busca-se uma

formação mais econômica e curta; neste contexto, os professores da educação

infantil e séries iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º ano) fazem opção pela

formação na modalidade Normal, sem analisar o fato de que, o profissional mais

preparado pode contribuir de forma dinâmica e expressiva na construção do

conhecimento.

Neste sentido, é possível considerar que a necessidade de aprimoramento e

analise de algumas questões no campo educacional é incessante e exige grande

esforço por parte das instituições formadoras e do sistema que rege este ambiente

por meios normativos. Desta forma, é possível concluir que este estudo não dá

conta de fazer esta análise, mas menciona alguns marcos que representaram

avanços na busca por melhorias no cenário educacional nacional.

Em síntese, ao interpretar a educação como um processo contínuo, entre

1997 e 1998, foram elaborados os chamados Referenciais Curriculares Nacionais

para a Educação Infantil (RCN) e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para

o ensino fundamental e o ensino médio, que trazem referências tanto para os

discentes quanto para os professores de forma flexível, visto que estes não são

obrigatórios, mas referenciais curriculares básicos, propondo aos sistemas

educacionais estaduais e municipais, inclusive às instituições de ensino, a

autonomia e a possibilidade de fazer uma releitura das orientações propostas.

2.3 Um olhar sobre os cursos de formação de professores

As formas de regulação do currículo na formação e do trabalho do professor

estão ancorados na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96).

A LDB exprime a tentativa de melhorias desta formação. Mas ainda se encontra no

idealizado e não concretizado por razões de ordem política, econômica e cultural. O

foco do presente tópico é tão somente o primeiro, considerando a influência dos

aspectos econômicos e culturais.

As políticas de currículos, segundo Gatti e Barreto (2009, p. 35), “estão

diretamente relacionadas com a maneira como o sistema educacional concebe a

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função social da escola” e o professor, por sua vez, é a pessoa a quem é “atribuída

a autoridade institucional para dar cumprimento a ela”. Diante desta consideração,

cabe mencionar as questões curriculares relacionadas à formação de professor,

principalmente no que tange à formação no ensino superior, já que, após a LDB

9394/96 ser promulgada, houve a obrigatoriedade de formação superior para

professores da segunda fase do ensino fundamental (inicialmente denominada 5ª a

8ª série e, atualmente 6º ao 9º ano) e ensino fundamental.

Como foi mencionado anteriormente, os cursos de Pedagogia oferecem

licenciatura com o objetivo de formar profissionais para atuação na educação infantil

e nos anos iniciais da educação básica, entretanto, cabe ressaltar, que há cursos

que oferecem a licenciatura no Brasil e tem como eixo comum a formação de

professores, estes cursos abrangem as áreas de língua portuguesa, matemática e

ciências biológicas.

Alguns estudos, (GATTI; NUNES, 2009; GATTI; BARRETO, 2009, GATTI,

NUNES, GIMENES, TARTUCE; UNBEHAUM, 2010; entre outros) apontam a

necessidade de análise do currículo das instituições de ensino para estes cursos,

verificando-se o que é proposto como formação de professores para os futuros

professores.

Inicialmente, acredita-se que ainda há pendências em relação aos Estágios.

Em seu trabalho sobre currículos, Gatti e Nunes (2009) apontam a necessidade de

realização de um estudo aprofundado em relação aos estágios para a docência.

Para estas autoras, a falta de explicitação de objetivos, exigências, formas de

validação e documentação, acompanhamento, dentre outros elementos que estão

ausentes na organização desta disciplina sinalizam que podem ser considerados

“totalmente à parte do currículo, o que é um problema, na medida em que devem

integrar-se com as formações específicas de área e com aspectos da educação e da

docência, ou sua realização é considerada um aspecto meramente formal” (GATTI;

NUNES, 2009, p. 8).

Apesar de a LDB 9394/96 trazer, como proposta inicial, a superação do

caráter fragmentado da educação, a relação teoria-prática, enfatizada por vários

documentos oficiais, continua a apresentar um caráter fragmentado.

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Em relação aos currículos propostos pelos cursos analisados na pesquisa de

Gatti e Nunes (2009), foi possível observar que a característica fragmentada persiste

no cenário educacional, visto que o conjunto disciplinar é bastante disperso e, desta

forma, o estudo de referenciais teóricos é predominante em relação às práticas

pedagógicas.

Sobre o currículo do curso licenciatura em Letras, Língua Portuguesa,

segundo dados do INEP (2006), é possível perceber a variedade em relação à

nomenclatura que, em sua maioria, aparece como “formação de professores de

Letras”, mas também encontra-se apenas a denominação “Letras”. Ainda sobre este

curso, os dados coletados por Gatti e Nunes (2009) revelam que houve um aumento

significativo em sua oferta, com crescimento de cerca de 57%, principalmente entre

os anos de 2001 e 2004, já que, entre 2004 e 2006 foi apresentado um aumento de

apenas 6%.

Em análise ao currículo deste curso, Gatti e Nunes (2009) constataram que as

disciplinas de caráter obrigatório ministradas pelas Instituições de Ensino Superior

estão diretamente relacionadas aos “Conhecimentos específicos da área” (p. 65). O

que demonstra o grande valor que se deposita sobre as disciplinas específicas, sem

enfatizar o ofício professor, já que, segundo as autoras, apenas 10,5% das

disciplinas se enquadram na categoria denominada por elas como “Conhecimentos

específicos para a docência”.

Segundo Gatti e Nunes (2009, p. 77), é possível constatar que há

Ausência de consonâncias quanto às disciplinas teóricas dirigidas à formação para a docência. É reduzido o número de disciplinas teóricas da área de Educação (Didática, Psicologia, Filosofia da Educação etc.) que figuram nos currículos de Letras. Em geral, a formação para a docência dá-se, sobretudo por meio de disciplinas aplicadas (metodologias e práticas de ensino) e, quando as primeiras aparecem nas matrizes curriculares, nota-se heterogeneidade na composição do conjunto. A mesma heterogeneidade pode ser notada nos conteúdos e bibliografia das disciplinas aplicadas. Essa ausência de consonâncias faz supor que não está claro o que deva compor essa dimensão da formação do licenciando.

Estas autoras mencionam as fragilidades apresentadas através da análise e

demonstram a falta de equilíbrio entre a formação para a docência e a formação

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específica, revelando a grande tendência das universidades em dedicar maior carga

horária às disciplinas específicas, em detrimento a formação professor. Isto nos leva

a constatar que as diretrizes, em alguns casos, estão mais presentes nos planos, ou

como propostas oficiais do que na ação pedagógica.

Quanto à Licenciatura em Matemática, as autora, Gatti e Nunes (2209, p. 98)

afirmam que,

A análise dos dados das grades curriculares dos cursos de Matemática pesquisados mostra que a maioria das disciplinas obrigatórias oferecidas pelas IES concentra-se em duas categorias: “Conhecimentos específicos da área” e “Conhecimentos específicos para a docência”, 32,1% e 30%, respectivamente. Das demais categorias de análise propostas, 14,7% dizem respeito a: “Outros saberes” – que, como dito, englobam os temas transversais, novas tecnologias e, no caso da Matemática, as disciplinas de Física e Química (9,2%), “Fundamentos teóricos” (13,3%), subdividido em “Sistemas educacionais” (3,6%), “Pesquisa e TCC” (4,6%) e “Atividades complementares” (5,1%).

Apesar desta informação, os dados apresentados ainda demonstram que o

número de horas destinado às disciplinas específicas são maiores do que as de

formação para a docência, demonstrando, diante desta realidade, a ênfase dada à

formação específica. Alguns cursos de Matemática, portanto, deveriam propor uma

formação mais aprofundada em Educação Matemática, “propiciando experiências

aos futuros professores mais contextualizadas e significativas para a construção da

prática pedagógica” (GATTI; NUNES, 2009, p. 110).

Quanto aos cursos de licenciatura em Ciências Biológicas, contatou-se que a

maioria das disciplinas obrigatórias nas Instituições de Ensino Superior refere-se aos

conhecimentos específicos dos cursos, o que, segundo as autoras (GATTI; NUNES,

2009) corresponde a 64,3% do total. Em contrapartida, 10,4% correspondem às

disciplinas de formação para docência. Estes dados demonstram, mais uma vez, a

grande ênfase dos cursos em licenciaturas em favor de uma formação específica.

Em seu trabalho, Gatti e Nunes (2009, p. 151) apresentam algumas

conclusões acerca do estudo realizado e apontam alguns aspectos que se destacam

nas análises realizadas, entre eles:

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Há grande dissonância entre os Projetos Pedagógicos obtidos e a estrutura do conjunto de disciplinas e suas ementas, parecendo que aqueles são documentos que não orientam a realização dos cursos.

Raras instituições especificam em que consistem os estágios e sob que forma de orientação são realizados, se há convênio com escolas das redes, entre outros aspectos.

Na maior parte dos ementários analisados não foi observada uma articulação entre as disciplinas de formação específicas (conteúdos da área disciplinar)e a formação pedagógica (conteúdos da docência).

Saberes relacionados a tecnologias no ensino estão praticamente ausentes.

Aparecem nos currículos muitas horas dedicadas a Atividades Complementares, ou Seminários, ou Atividades Culturais etc., que ficam sem nenhuma especificação quanto a que se referem, se são atividades acompanhadas por professors, seus objetivos etc.

Irrisória também é a participação das disciplinas referentes às modalidades de ensino (Educação especial e EJA) no conjunto das disciplinas oferecidas, com 1,2% nos cursos de Letras e com menos de 1% em Matemática e Ciências Biológicas.

Uma parte dessas licenciaturas promovem especialização precoce em aspectos que poderiam ser abordados em especializações ou pós-graduação.

É mediante estas pesquisas que se torna possível perceber o “lugar

secundário ocupado pela formação de professores” (GATTI; NUNES, 2009, p. 152),

os profissionais que a ela se dedicam encontram-se também em um lugar menos

valorizado, um exemplo disto é a valorização dos profissionais de pós-graduação

que se dedicam a pesquisas e possuem reconhecimento. Já o ensino e a formação

de professores demonstram o desprestígio dos profissionais a estes dedicados.

Nos estudos sobre a formação do professor, Gatti, com outros pesquisadores,

reforça algumas falhas que ainda permanecem no cenário nacional. Sobre o

trabalho comentado e que foi base para compreensão do cenário brasileiro no que

tange às licenciaturas nacionais, é possível concluir que a desfragmentação do

ensino ainda é um desafio no contexto educacional. A busca em favor de uma

relação dialética entre a teoria e a prática, não pode estar apenas nos documentos

oficiais, em outras palavras, não é na dualidade entre documentos oficiais e prática

pedagógica que serão resolvidas as questões do ensino nacional.

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2.4 Algumas considerações acerca do cenário educacional brasileiro

Ao retomar o cenário em que se instalou a educação no Brasil, percebe-se

que ainda há questões a serem resolvidas desde o início do processo educativo.

Entre estas, se encontra a formação de professores.

Nas palavras de Silva Júnior (2010, p. 12), “não formamos professores para a

educação básica, mas para as atividades, as áreas de conhecimento e as disciplinas

que são ensinadas em seu interior”. Neste sentido, é possível perceber a má

formação no ambiente educacional, visto que, diante das análises apresentadas, é

fácil notar o foco disciplinar em relação ao conhecimento, em outras palavras,

dedica-se em grande parte a uma formação específica de cada área da educação, o

que nega a proposta transdisciplinar apresentada nos Parâmetros Curriculares

Nacionais.

Quanto à formação do professor, Saviani (2009) ressalta a intrínseca relação

dos conteúdos específicos na formação e deixa claro que a cultura de formação de

professores ora segue modelo que se esgota na cultura geral e no domínio dos

conteúdos específicos da área em que se deseja lecionar, ora busca a formação do

professor que só se completa com o efetivo preparo pedagógico-didático.

Segundo as considerações de Sánchez (1988 apud FACCI, 2004, p. 20), o

papel do professor está em crise. E, ao encontro desta afirmação, caminha a

formação do professor, que, por sua vez, apresenta um caráter fragmentado.

Em 1998, Libâneo já apresentava preocupações relacionadas à formação do

professor, segundo este estudioso da educação:

[...] a desqualificação profissional do professorado é notória, porque os cursos de formação não vêm acompanhando as mudanças. Junto com isso, vem se acentuando a tendência de desprofissionalização e de descrédito do conceito social da profissão perante a sociedade. [...] há muitas tarefas pela frente, entre elas, a de resgatar a profissionalidade do professor, redefinir as características da profissão, fortalecer as lutas sindicais por salários dignos e condições de trabalho. É preciso, junto com isso, ampliar o leque de ação dos sindicatos envolvendo também a luta por uma formação de qualidade, por uma cultura de profissionalismo, de modo que a

profissão ganhe mais credibilidade e dignidade profissional. (LIBÂNEO, 2008, p.22)

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A afirmação de Libâneo aponta para um desafio que não é recente, a

necessidade de valorização do trabalho do professor e sua continuidade no que

tange à qualificação. Organizar e estruturar a educação em documentos oficiais não

é o bastante para uma mudança significativa em favor do contexto educacional

brasileiro, é necessário ir além, buscar a interseção entre a teoria e a prática.

As omissões apresentadas durante todo o processo de formulação da

educação nacional foram se agravando e, desta forma, acumularam-se os desafios

educacionais. O professor, enquanto profissional agente no processo de formação

humana, deve ser percebido como o elo entre os indivíduos em formação e o

conhecimento socialmente adquirido, sem esquecer que estes também são sujeitos

em constante formação, que sofrem e influenciam o meio em que estão inseridos.

Ao professor, variadas são as tarefas atribuídas, portanto, há grande

necessidade também de atribuir-lhe valor enquanto profissional e em favor de uma

identidade com autoridade reconhecida e respeitada. Portanto, sua formação deve

ser plena, ou seja, norteada com conteúdos e práticas teórico-metodológicas que

permitam pensar para além de reflexões, o contexto sócio-histórico dessa formação.

É necessário perceber a educação como uma tarefa coletiva, que não possui

um único responsável, assim como a formação do professor não deve ser

considerada tarefa do próprio professor, mas tarefa coletiva, social e das políticas

governamentais. Desta forma, haverá a possibilidade de colocar o professor como

protagonista de sua história e organizar sua capacidade de lidar com a profissão. É

neste contexto que o próximo tópico tomará como tema norteador a

profissionalização do professor.

Acreditando nos estudos apresentados aqui e nos desafios apresentados

pelos pesquisadores que os realizaram, aponta-se para a necessidade de

reconhecer o professor enquanto profissional e sua formação, ou má formação,

estará refletida nas suas práticas.

Diante disto, acredita-se que, após constatar os diversos desafios que ainda

são impostos à educação brasileira, a necessidade de uma formação inicial e

contínua possui um caráter obrigatório frente ao objetivo de superar fragilidades.

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Buscar uma formação sólida, polivalente e diversificada de professores, assim

como a busca de novos currículos educacionais, reformulação de documentos

oficiais, as propostas de transdisciplinaridade, de conhecimento em temas

polêmicos, demonstram que o ambiente educacional encontra-se sedento de

alternativas formativas, tanto para os próprios formadores, como para os alunos.

O desafio está em construir um mecanismo que responda a questões,

respeitando os diversos contextos sociais em que a prática educativa está inserida,

ou seja, propicie “ações que conciliem eficácia e reflexibilidade”. (GATTI;

BARRETO, 2009, p.253). Para que isto seja possível, deve haver um grande esforço

social, político e de administração, já que toda nação partilha das angústias

impostas ao cenário educacional e todos sofrem suas consequências.

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CAPÍTULO III – PROFISSIONALIZAÇÃO DO PROFESSOR

Esta parte do trabalho versa sobre a profissionalização do professor,

objetivando compreender e identificar elementos que contribuem para a formação da

profissão professor. Pontua-se que ofício de ser professor, durante algum tempo, foi

interpretado como vocação, realizado por profissionais liberais e autodidatas.

Ideia contrária à de Gatti (2010), originada em sua pesquisa sobre o cenário

em que estão inseridos os professores brasileiros. Segundo esta autora, “a

profissionalização de professores implica a obtenção de um espaço autônomo,

próprio à sua profissionalidade, com valor claramente reconhecido pela sociedade”

(Idem, 1360).

É concordando com Gatti que se acredita, dentro do contexto educacional, na

necessidade de uma base sólida de conhecimentos e formas de ação para a

negação do improviso e da mera vocação para que a profissionalização do professor

esteja bem consistente.

Libâneo (1998), por sua vez, esclarece que a tarefa de ensinar a pensar exige

do professor o conhecimento de estratégias de ensino e o desenvolvimento de

competências de ensinar. O professor necessita, então, aprender a regular as suas

próprias atividades de pensamento e, principalmente, “aprender a aprender”. A partir

desta consideração, questiona-se: Como a profissão professor tem sido interpretada

no cenário educacional brasileiro?

Para dar conta de responder a esta questão toma-se, como base teórica, mais

uma vez, os trabalhos realizados por Gatti e Barreto (2009; 2011), Facci (2004),

Martins (2007), acrescentando Papi (2005). Todos estes estudiosos realizam

pesquisas que tem como tema norteador a profissionalização do professor, portanto,

as considerações destes auxiliarão na compreensão do conceito de profissão no

cenário educacional, a reconhecer a importância da profissionalização na construção

de uma nova postura profissional e, por fim, a apresentar elementos que apontam

para uma formação inicial e contínua.

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Sabe-se que a compreensão do processo de profissionalização exige, portanto

um olhar atento às tensões que o atravessam e que se movimentam, assumindo

formas e identidades que constantemente vão se reconstruindo e reconfigurando.

Este capítulo terá, como organização, cinco tópicos. O primeiro abordará o

conceito de profissionalização, seguido de uma apresentação dos elementos que se

relacionam com a identidade profissional do professor, posteriormente apontam-se

as novas exigências e habilidades requeridas para o exercício da profissão

professor, comenta-se, então, a necessidade de uma formação sólida e contínua na

educação brasileira, por fim expõe-se o valor do estudo sobre a profissão professor

calcado nas representações sociais.

3.1 A profissão professor

Ao fazer referência a um conceito formado pela sociedade, inicialmente, faz-se

necessário recorrer ao Dicionário da Língua Portuguesa para a compreensão do

termo em discussão. Segundo Ferreira (2008, p. 657), o termo “profissão” significa

“ato ou efeito de professar. Atividade ou ocupação especializada, da qual se podem

tirar os meios de subsistência; ofício, mister.” Neste sentido, para se exercer uma

profissão é necessário especialização, realizar uma atividade especial dentro do

contexto social.

Hoyle (apud CONTRERAS, 2002, p. 56), dentro de uma visão funcionalista,

descreve as características de uma profissão:

1. Uma profissão é uma ocupação que realiza uma função social crucial,

2. O exercício desta função requer um grau considerável de destreza,

3. Esta destreza ou habilidade é exercida em situações que não são totalmente rotineiras, mas nas quais há que manipular problemas e situações novas,

4. Por conseguinte, embora o conhecimento seja adquirido por meio da experiência seja importante, este saber prescrito é insuficiente para atender as demandas, e os profissionais deverão dispor de um corpo de conhecimentos sistemáticos,

5. A aquisição deste corpo de conhecimentos e o desenvolvimento de habilidades específicas requer um período prolongado de educação superior,

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6. Esse período de educação e treinamento supõe também um processo de socialização dos valores profissionais,

7. Estes valores tendem a centrar-se na predominância dos interesses dos clientes e em alguma medida tornam-se explícitos em um código ético,

8. Como as destrezas baseadas no conhecimento são exercidas em situações não rotineiras, é essencial para o profissional ter a liberdade para realizar seus próprios juízos com respeito à prática apropriada,

9. Como a prática profissional é tão especializada, a categoria profissional como organização deve ser ouvida na definição das políticas públicas relativas a sua especialização. Também deve ter um alto controle sobre o exercício das responsabilidades profissionais e um alto grau de autonomia em relação ao Estado,

10. A formação prolongada, a responsabilidade e sua orientação ao cliente estão necessariamente recompensadas com um alto prestígio e um alto nível de remuneração.

Dentro desta visão funcionalista de profissão, a de professor deve cumprir uma

série de requisitos para sua formação, organização e exercício profissional. Neste

sentido, alguns autores acreditam que ser professor teria um caráter

semiprofissional, alegando que não atende aos requisitos exigidos para todas as

profissões. Esta concepção, por sua vez, caracteriza a desvalorização do trabalho

professor, já que deixa de levar em conta a complexidade do exercício desta

profissão.

O termo “profissão”, de origem anglo-saxônica, foi traduzido na perspectiva de

descrever, segundo Popkewitz (1995, p. 38) “as formações sociais do trabalho no

contexto da classe média, a importância cada vez maior da especialização no

processo de reprodução e, especificamente, no ensino, o esforço no sentido de um

prestígio profissional crescente.” A partir desta descrição, entender o professor

enquanto profissional significa proporcionar-lhe prestígio social, melhores condições

de atuação e valorização.

A profissão, no entendimento deste autor, “é uma palavra de construção social”

(POPKEWITZ, 1995, p. 38). Em função das condições sociais em que as pessoas o

utilizam este conceito pode se modificar. Este, portanto, tem relação com o modo

como o termo profissionalização é usado no contexto propriamente sociopolítico em

que a prática pedagógica se desenvolve.

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É tomando, como suporte teórico, a abordagem histórico-social de Lev Vigotski

que se torna possível afirmar sobre o conceito de profissionalidade6 professor que

este é dinâmico, sendo constantemente elaborado, já que, no processo de

constituição do sujeito este é constituído em um contexto histórico, social e cultural.

Referindo-se à questão da profissão professor, Sacristán (1995, p. 65) entende

“por profissionalidade a afirmação do que é específico na ação professor, isto é, o

conjunto de comportamentos, conhecimentos, destrezas, atitudes e valores que

constituem a especificidade de ser professor”.

Para Libâneo (1998, p. 90), profissionalismo,

[...] significa compromisso com um projeto político-democrático, participação na construção coletiva do projeto pedagógico, dedicação ao trabalho de ensinar a todos, domínio da matéria e dos métodos de ensino, respeito à cultura dos alunos, assiduidade, preparação de aulas, etc.

Diante dos conceitos expostos, percebe-se que há uma ênfase no que tange à

dinâmica do conceito de profissão, que, dentro desta perspectiva, está em

permanente elaboração pelo fato de ser socialmente partilhado, portanto, é uma

criação (CASTORIADIS, 1987).

Arce (2001) comenta o mito de que os professores da educação infantil e das

séries iniciais do ensino fundamental devem ter instinto maternal. Segundo esta

autora (ARCE, 2001 apud FACCI, 2004, p. 26), a imagem do profissional da

educação infantil tem

[...] estado fortemente impregnada com o mito da maternidade, da mulher como rainha do lar, educadoras nata, cujo papel educativo associa-se necessariamente ao ambiente doméstico, sendo, assim, particularmente importante nos primeiros anos da infância

6 A palavra profissionalidade, apesar de não dicionarizada, portanto, um neologismo que foi usada por Libâneo,

e, também adotada por Rios (1997) e Papi (2005) com o sentido de profissionalismo vem ao encontro das ideias aqui trabalhadas.

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Diante desta realidade, o trabalho do professor é encontrado numa

ambiguidade que vai do doméstico ao científico. Muitos ainda acreditam que para

ser professor das séries iniciais do ensino fundamental, o que mais importa é a

relação de cumplicidade, amor, o professor precisa ser passivo, cordial, sem

importar a formação profissional, ideia responsável pela desqualificação e alienação

do trabalho do professor (FACCI, 2004).

Papi (2005, p. 9) em seu trabalho acerca da formação e da profissionalização

professor, acredita nesta como um “processo amplo, que implica envolvimentos,

decisões, incluindo novas perspectivas a serem definidas desde a formação inicial”.

Para esta estudiosa da educação, a formação inicial é o espaço em que começa a

socialização profissional e no qual são “assumidas determinadas regras práticas e

princípios que orientam o trabalho professor”. Neste sentido, a profissão professor

deve ser entendida desde a formação inicial de professores, visto que é a partir

desta que se inicia o processo de profissionalização e o trabalho do professor é

percebido por meio de um olhar profissional.

A profissionalização, por sua vez, nega o trabalho assistencial, voluntário,

amoroso, associado ao trabalho professor. Pelo contrário, supõe um envolvimento,

iniciativa e engajamento profissional, desenvolvendo-se profissionalmente, numa

perspectiva que ultrapassa a visão maternal, ou o ensino de conteúdos, mas que

exige técnicas, engajamento e por sua vez eleva o caráter moral do indivíduo,

seguindo o olhar de que é pela profissão que o homem se torna útil à sociedade,

que nela se eleva, destaca e se valoriza, sem descartar o compromisso social que

está intrínseco na palavra profissão.

O professor, nas palavras de Papi (2005, p. 42), “como expansão de sua

profissionalidade, precisa compreender sua inserção no contexto sociopolítico,

significando isso uma necessidade de análise sobre a abrangência e valor da prática

professor no contexto educativo social”, esta afirmação confirma a complexidade do

trabalho do professor mencionada anteriormente.

O ensino, neste sentido, é um compromisso social que requer dedicação e

profissionalismo por parte do professor, pois não é um trabalho amoroso que vai

constatar a sua competência profissional. Esta competência, por sua vez, diz

respeito ao saber fazer, à dimensão técnica e política do trabalho professor. O que

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não descarta a dimensão humana, a valorização das relações, a capacidade de

compreensão, respeito e empatia (PAPI, 2005).

É necessário, assim, justificar a profissão professor levando em conta que o

docente é um sujeito social, participante de uma profissão que vem sofrendo

mudanças no que diz respeito à valorização. Estuda-se o professor, mas há uma

tendência em esquecer que este possui toda uma vida que influencia sua atuação

prática, estuda-se o professor, mas a contextualização de sua profissão é

esquecida.

É diante desta consideração que o tópico, “Formação de Professores” propôs

subsídios para o entendimento da instalação do processo educacional no Brasil,

entendendo, assim, o sujeito como integrante de uma sociedade em determinado

tempo, um ser histórico-social (VIGOTSKI, 2001). Para Saviani (2003, p. 13) “o

trabalho professor é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo

singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto de

homens”. Neste sentido, estudar a formação e a atuação professor desvinculada do

processo histórico não faz sentido.

Seguindo este olhar, faz-se necessário mencionar que a profissionalização do

professor foi corporificando-se ao longo da história brasileira através da luta destes

sujeitos, de políticas educacionais e da legislação. Gatti (2010) explica que

profissionalização de professores implica “a obtenção de um espaço autônomo,

próprio à sua profissionalidade, com valor claramente reconhecido pela sociedade”

(GATTI, 2010, p. 1360). A profissionalidade, diante do que foi exposto, refere-se ao

conjunto de características como conhecimentos e habilidades que corroboram para

o exercício profissional criativo e autônomo, de modo intencional e consciente.

Neste sentido, Gatti (2010) defende que é preciso uma base de conhecimentos

e formas de ação para a negação do improviso e da mera vocação para que a

profissionalização deste professor seja consistente. Sendo assim, a autora expõe a

necessidade de uma profissionalização que instrumentalize os profissionais a

confrontarem problemas complexos e variados, tendo condições cognitivas e

afetivas para construir soluções em sua ação.

Vigotski (2001, p. 455), em relação à profissão professor, comenta que,

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[...] o número de procedimentos exigidos tornou-se tão infinitamente diversificado e tão complicado que, se o professor quiser ser um pedagogo cientificamente instruído, deve ter um embasamento cultural vasto. Antes se exigia apenas que conhecesse o seu objeto, um programa e fosse capaz de gritar com a turma em casos difíceis. Hoje a Pedagogia se torna uma verdadeira arte complexa de base científica Assim exige-se do professor um elevado conhecimento do objeto da técnica do seu ramo.

Em síntese, compreender o trabalho do professor enquanto profissão propõe o

rompimento da concepção maternal e de “segundo lar”, o desapego aos estereótipos

formados durante a trajetória sócio-histórica da educação no Brasil. Faz-se

necessário, portanto, resgatar a profissionalidade do professor para que este possua

um novo enquadramento das características de sua profissão em favor de uma

identidade e valorização profissional.

3.2 A identidade profissional dos professores

Alguns trabalhos acadêmicos têm se ocupado de tratar do tema identidade. É

diante da consciência da complexidade que está impregnada neste termo, que este

subtópico apresentará uma definição consensual para tratar do tema em questão: a

identidade profissional professor.

Inicialmente, faz-se necessário tecer um breve comentário sobre a identidade

pessoal, já que esta se encontra interligada à identidade profissional dentro de um

processo dinâmico e de constante modificação.

A identidade pode ser entendida como resultado da interação entre um

processo interno ao indivíduo, chamado “identidade biográfica”, e um processo

externo ao indivíduo, que resulta da interação com o outro, denominado identidade

relacional. Nesta linha de ideia, Pinto (1999, p. 218) explica que, do ponto de vista

relacional, o processo identitário pode ser entendido como,

[...] processo pelo qual os autores sociais se integram em conjuntos mais vastos de pertença ou de referência, com eles se fundindo de modo tendencial, (processo de identificação) e o processo através do qual os agentes tendem a autonomizar-se e diferenciar-se

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socialmente, fixando em relação a outros distâncias ou fronteiras mais ou menos rígidas (processo de identização)

Entretanto, a identidade de um sujeito não pode ser vista somente a partir da

visão relacional, ou apenas pela pertença a um determinado grupo, mas deve levar

em conta a trajetória do indivíduo. Nas palavras de Alves (1992, p. 296),

[...] parece possível equacionar as identidades como uma configuração construída em dado momento pelo sujeito em função da sua trajetória e das suas interações com os outros sujeitos e com a sociedade, sendo que essa configuração é dinâmica, pois está em permanente estruturação e transformação (...) as identidades constituem certamente o produto de um passado em permanente transformação no presente. Contudo, importa salientar que, pelo fato de orientarem representações, práticas, aspirações e expectativas dos sujeitos, as identidades condicionam os projetos e trajetórias do indivíduo no futuro, ou seja, as identidades também são produtoras do futuro.

A articulação dos dois processos identitários – identidade biográfica e

identidade relacional – é, portanto, responsável pela construção da identidade

pessoal de um sujeito. Seguindo este olhar, Dubar (1997) afirma que a identidade

“não é mais do que o resultado simultaneamente estável e provisório, individual e

coletivo, subjetivo e objetivo, biográfico e estrutural, dos diversos processos de

socialização que, em conjunto, constroem os indivíduos e definem as instituições”

(Idem, p. 105).

Dentro deste contexto dinâmico, as identidades profissionais dos professores,

por sua vez, iniciam suas construções, no entender de Tavares (2007),

[...] a partir de um processo que se começa a construir na escola de ensino superior, instância socializadora onde o conjunto dos conteúdos, ideias, valores, papeis, normas e critérios de prática profissional que são transmitidos e interiorizados, assumem contornos específicos. (Idem , p. 36,

Pautado nesta consideração, acredita-se que as lógicas de formação estão

estritamente relacionadas com a construção identitária profissional. Isto não quer

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dizer que a configuração identitária se dá no momento da formação inicial do

professor, nem que é nas universidades que os professores se tornam profissionais

acabados, mas que o processo de formação profissional toma importância ao levar

em conta que é na construção e no “inacabamento” do homem que a aprendizagem

se torna permanente durante a vida.

Dubar (2003) salienta o valor do tipo de formação na construção de identidades

profissionais ao afirmar que,

A formação é essencial na construção das identidades profissionais porque facilita a incorporação de saberes que estruturam, simultaneamente, a relação com o trabalho e a carreira profissional. Quanto mais o indivíduo se identificar com uma forma identitária coerente, mais dificuldade tem de mudar. (Idem, p. 51)

Na construção da identidade profissional professor, Knowles (1992) identificou

quatro fatores relacionados ao papel do professor: 1 – na base dos traços de

personalidade encontram-se as interações e as exigências familiares, que

caracterizam as competências de socialização, dos hábitos, a conduta face às

situações, a capacidade de organização do trabalho e o sentido de responsabilidade

em sala de aula; 2- os modelos de professor, interiorizados podem repercutir

positivamente ou negativamente dependendo da vivência; 3 – as experiências de

ensino entram, que entram em choque, acabam por construir uma barreira difícil de

negar ou vencer em sala de aula; 4 – imagens apriorísticas do trabalho do professor

são geradas por meio das experiências significativas que marcam os alunos, o que

entra em conflito com a formação inicial, pois, na prática, acabam por fazer aquilo

que concorda com as imagens visando seu reforço e sua validação.

Nesta perspectiva, a identidade profissional do professor tem sido questionada.

Martins (2007, p. 2) acredita que a crise de identidade do professor está relacionada

com o status social ocupado por sua profissão. Em seu trabalho sobre a formação

social da personalidade do professor, esta autora “busca destacar e compreender os

marcos do materialismo histórico os elementos constituintes da formação da

personalidade do professor”, relacionando esta personalização ao fazer pedagógico.

Acreditando que a personalidade do professor interfere diretamente em sua práxis.

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As relações humanas possuem um caráter dialético. Em relação à identidade

pessoal, Papi (2005, p. 49) explica que,

[...] a identidade pessoal possui uma natureza ambígua, pois o homem necessita ser igual aos outros para possuir um sentimento de pertencimento e, ao mesmo tempo, precisa diferenciar-se deles, para não se perder no anonimato, devido a uma exagerada identificação com os papéis estabelecidos.

Moita (1995) acredita que a identidade pessoal é um sistema dinâmico de

diferentes identidades, cuja riqueza está na organização dessa diversidade. A

identidade profissional, por sua vez, é descrita por Papi (2005, p. 51) como uma

“construção que perpassa a vida profissional desde a etapa de escolha da profissão,

passando pela formação inicial e pelos diferentes espaços institucionais onde se

desenvolve a profissão”. A identidade do professor, portanto, é construída por

saberes profissionais e sobre atribuições dentro de um tempo e espaço.

Nas palavras de Moita (1995, p. 116), “o processo de construção de uma

identidade profissional própria não é estranho à função social da profissão, ao

estatuto da profissão e do profissional, à cultura do grupo de pertença profissional e

ao contexto sociopolítico em que se desenrola”. A identidade da profissão professor

é constituída dentro de um contexto em um dado momento histórico e espaço,

articulando teorias e práticas de forma dialética, desta forma, dá se sentido às

atividades exercidas pelo professor. Esta construção, como todo processo social,

não é estática, nem tem como função perpetuar uma identidade, mas sua

importância é reconhecida a partir do momento em que a construção e reconstrução

da identidade profissional se concebem como “[...] instância que perpassa todo

campo simbólico da profissão e do profissional” (SCHAFFEL, 2000, p. 113).

Perrenoud (2001 apud PAPI, 2005, p. 53) também defende o papel e a

importância da formação inicial na construção da identidade profissional, ao

considerar que,

quanto ao desafio da identidade [...]. Ao menos, podemos lutar por debates e por tomadas de consciência. Segundo a fórmula de

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Hameline7, pode-se esperar que a formação desperte os futuros professores, desestimule neles aquela ideia simples de que ensinar é transmitir um saber acima de qualquer suspeita a crianças ávidas por assimilá-lo, independente de sua origem social. [...] a maioria dos futuros professores aborda sua formação com uma visão angelical e individualista da profissão.

O autor demonstra a passividade do professor em relação ao exercício de sua

função. A crítica, dentro deste cenário, constituiu uma lacuna que acaba por não

existir, por conta da aceitação de um caráter angelical para a profissão. Este

estudioso chama atenção para a necessidade de saída da “passividade crítica” dos

profissionais da educação.

Por tudo o que foi exposto, entende-se a identidade professor como uma forma

de ser e fazer uma profissão, pois, significa, também, transformar a si mesmo em e

pelo trabalho, como afirma Tardif (2000). Para o autor, o trabalho modifica a

identidade do trabalhador, pois trabalhar não é somente fazer alguma coisa, mas

fazer alguma coisa de si mesmo consigo mesmo:

Se uma pessoa ensina durante trinta anos, ela não faz simplesmente alguma coisa, ela faz também alguma coisa de si mesma: sua identidade carrega as marcas de sua própria atividade e uma boa parte de sua existência é caracterizada por sua atuação profissional, como também sua trajetória profissional estará marcada pela sua identidade e vida social, ou seja, com o passar do tempo, ela tornou-se – aos seus próprios olhos e aos olhos dos outros – um professor, com sua cultura, seu éthos, suas idéias, suas funções, seus interesses etc. (TARDIF, 2000, p. 2, apud UNESCO, 2004, p.43)

Neste sentido, há uma urgente necessidade de os professores perceberem que

seu trabalho não é um exercício puro e simples da sua “vocação”, mas vai além, ao

constituir-se dentro de um processo em que cada professor é autor, autônomo e

responsável pelo trabalho que desenvolve, sem retirá-lo da vida pessoal e social em

que se insere. Entender a profissão professor e a identidade profissional do

7 Considera 4 (quatro) níveis de generalidade na formulação dos propósitos ou intenções de

formação.

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professor, significa valorizar um trabalho complexo e exige formação contínua e

reformulação de ideias dentro de um contexto dinâmico.

3.3 As novas exigências educacionais da profissão professor

Ao tratar da profissionalização do professor, faz-se necessária uma análise das

atribuições do atual cenário professor, acreditando que são diversas as

responsabilidades que recaem sobre os professores ao longo da sua carreira.

O trabalho do professor encontra-se dentro de um contexto histórico-social.

Seguindo esta perspectiva, Leontiev (apud FACCI, 2004, p. 229) afirma que, “quanto

maior é o progresso da humanidade mais rica é a prática sócio-histórica acumulada

por ela, mais cresce o papel científico da educação e mais complexa é a sua tarefa”.

Tedesco (2006), em seu trabalho intitulado Educar na sociedade do

conhecimento, comenta que, pelo fato de o conhecimento estar presente na

sociedade atual em todos os ambientes, o aluno tem acesso ao conhecimento

concomitantemente à influência das mídias (televisão, internet, revistas, cinema,

vídeos, jornais, etc.).

A escola, diante desta realidade, acaba perdendo o ser prestígio de lugar

exclusivo de conhecimento e passa a ocupar o lugar privilegiado do conhecimento.

Esta constatação demonstra que os desafios impostos pela globalização são

diversos e a escola está inserida neste contexto, portanto, espera-se uma mudança

na escola e na formação e atuação do professor. Saviani (2003) acredita que cabe à

escola identificar os elementos culturais que precisam ser assimilados, assim como,

descobrir as formas mais adequadas para atingir este objetivo.

Seguindo este raciocínio, além de ter de enfrentar novos desafios, na sua

própria profissão, e considerando a função de preparar seus alunos para as

exigências do mundo globalizado em que lhes são exigidas, cada vez mais, uma

visão do todo, que sejam capazes de agir diante desta realidade, o trabalho do

professor inclui a necessidade de um saber docente.

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Nunes (2001, p. 38) considera a importância de repensar a formação de

professores no sentido de que esta, “há pouco objetivava a capacitação destes,

através da transmissão do conhecimento”. Mas esta ideia vem sendo substituída

“pela abordagem de analisar a prática que este professor vem desenvolvendo,

enfatizando a temática do saber professor e a busca de uma base de conhecimento

para os professores, considerando saberes e experiências”. A práxis do professor se

expressa no trabalho de ação, reflexão e transformação do sujeito que dele participa

ativamente, o que auxilia na construção de ideias, atitudes, habilidades, símbolos e

hábitos.

Perrenoud (2001, p. 8) defende a necessidade de reconhecer que,

[...] os professores não possuem apenas saberes, mas também competências profissionais que não se reduzem ao domínio dos conteúdos a serem ensinados, e aceitar a ideia de que a evolução exige que todos os professores possuam competências antes reservadas aos inovadores ou àqueles que precisavam lidar com públicos difíceis.

Pedro Demo (1998) apresenta uma concepção bastante abrangente de

competência, relacionando-a com a capacidade de inovar e inovar com

permanência. Defendendo o caráter dinâmico social, este estudioso acredita que

este conceito está calcado,

[...] na condição de não apenas fazer, mas de saber fazer e sobretudo de refazer permanentemente nossa relação com a sociedade e a natureza, usando como instrumentalização crucial o conhecimento inovador. Mais que fazer oportunidade, trata-se de fazer-se oportunidade. (DEMO, 1998, p. 13)

Há, portanto, a necessidade de que os professores proponham um processo

não só a partir da teoria, mas da prática. Neste processo humano-social, o aluno é

exposto às mais diversas situações com o objetivo de que sejam críticos e criativos,

capazes de desenvolver o pensamento reflexivo e interagindo com todos e tudo o

que está a sua volta para que este possa, então, atingir o conhecimento. Essa busca

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não se limita a descobrir apenas a verdade dos objetos, mas algo bem mais

superior: chegar à contemplação das ideias morais que regem a sociedade.

É partindo desta concepção que se defende a ideia de que a função do

professor encontra-se na mediação do processo de aprendizagem, cooperando para

o desenvolvimento cognitivo, emocional, relacional e cívico de seus educandos. As

competências exigidas deste profissional abrangem diversas dimensões, indo além

de sala de aula.

Rodrigues e Malheiro (2004) sintetizam algumas competências exigidas na

atuação professor, dividindo-as em seis áreas/domínios: auto-formação; relação

currículo/comunidade; relação currículo/escola; relação currículo/turma; relação

currículo/aprendizagem; relação currículo/avaliação.

Não cabe aqui uma exposição ou análise aprofundada das competências

apontadas por estes estudiosos como emergentes, mas uma síntese com o objetivo

de destacar as exigências atuais da carreira professor. Rodrigues e Malheiros

destacam algumas competências que podem ser sintetizadas e verificadas no

quadro 1:

Quadro 1 – Referencial de Competências Emergentes (adaptado Rodrigues e

Malheiro, 2004)

ÁREAS/DOMÍNIOS COMPETÊNCIAS EMERGENTES

AUTO-FORMAÇÃO

Questionar-se refletindo sobre a sua prática, individualmente ou em grupo;

Construir um projeto de formação pessoal, ao longo da vida, dando rumo e continuidade à sua própria formação;

Participar na formação inicial dos futuros professores (ex: professor cooperante na orientação de estágios)

RELAÇÃO

CURRICULO/COMUNIDADE

Habilidade para interpretar o Currículo Nacional;

Habilidade para inovar, isto é, transformar práticas em função dos contextos e das necessidades educativas;

Capacidade de diálogo com a comunidade;

Tomada de consciência do impacto no contexto, na forma e no conteúdo dos materiais curriculares;

Flexibilizar, adequar, contextualizar o currículo formal, contribuindo para o nascer do currículo local;

Corporizar o Currículo Nacional em programas de ação – projetos – orientados para o contexto.

RELAÇÃO Capacidade para trabalhar em equipe pedagógica, relatando práticas, colocando dúvidas, receios, preocupaçõe4s, trocando

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CURRICULO/ESCOLA experiências e materiais, cooperando e dialogando com os colegas;

Ser capaz de aceitar a escola como polo aglutinador de sinergias locais;

Promover a cultura da colegialidade e da colaboração;

Participar ativamente no projeto da instituição a que pertence, tendo “voz ativa”; na construção do Projeto Educativo da Escola e do Projeto Curricular da Escola.

RELAÇÃO

CURRICULO/TURMA

Capacidade de diálogo com os alunos e com as respectivas famílias;

Gerir a diversidade das culturas ou simplesmente das famílias;

Fazer da turma uma micro sociedade multitécnica baseada na tolerância, no respeito, na cidadania em geral.

RELAÇÃO

CURRICULO/APRENDIZAGEM

Construir, implantar, avaliar o Projeto Curricular da Turma, organizando as atividades, gerindo conteúdos, adequando e diferenciando percursos de aprendizagem;

Diferenciar a sua ação pedagógica, organizando os grupos, os saberes, os espaços e os tempos, numa perspectiva de gestão das aprendizagens;

Reforçar ou suscitar o projeto pessoal do aluno;

Desenvolver uma pedagogia ativa e cooperativa fundamentada em projetos, em detrimento das metodologias apresentativas/expositivas;

Ser capaz de produzir materiais curriculares e não exclusivamente consumi-los;

Centrar-se nas competências a serem desenvolvidas nos alunos e nas mais fecundas situações de aprendizagem;

Introduzir as TICs, como instrumentos/ferramentas facilitadores das aprendizagens.

RELAÇÃO

CURRICULO/AVALIAÇÃO

Adequar os instrumentos de avaliação face às competências visadas;

Praticar a avaliação de forma partilhada, informada, contínua, com vista à reformulação das estratégias utilizadas;

Definir e partilhar objetos e critérios de avaliação com os alunos;

Promover a auto, a hetero e a co-avaliação;

Praticar avaliação nas suas três dimensões: formativa, formadora e somativa.

Observa-se que, dentro destas competências exigidas, a capacidade de pensar

criticamente o currículo nacional e as próprias competências não são levadas em

consideração. Outro aspecto relevante é a ausência de se pensar nas políticas de

sustentação do fazer docente, assim, as competências emergentes acabam por

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delinear a profissionalização docente numa perspectiva regulamentadora

funcionalista.

Diante do exposto acima, é possível perceber que as novas exigências

docentes configuram uma complexidade no trabalho do professor. A sociedade

caminha em direção a mudanças e a escola não se exclui deste contexto, pensar o

rumo da atuação/formação dos professores configura elemento indispensável para

que essa mudança seja bem sucedida.

Nas palavras de Gatti e Barreto (2009, p. 202),

As representações, atitudes, motivação dos professores passam a ser vistas como fatores de capital importância a se considerar na implementação de mudanças e na produção de inovações na prática educativa. O protagonismo do professor passa a ser valorizado e a ocupar o centro das atenções e intenções nos projetos de formação continuada.

Neste sentido, aponta-se a importância da profissionalização do professor

dentro da nova realidade, esta, por sua vez, não se torna acabada na formação

inicial, mas na continua busca por evolução e por eliminar o caráter fragmentado da

educação atual. Neste ambiente repleto de aporias, importa reconhecer o valor da

formação, tanto inicial quanto continuada, como elemento fundamental para os

cumprimentos das exigências que têm sido impostas ao trabalho professor.

3.4 Profissão Professor: Formação inicial e contínua

Quando tratamos do tema formação de professores, é indispensável pensar na

formação tanto inicial quanto na formação continuada, levando em consideração a

relação dialética entre estas.

Como foi mencionado no tópico anterior, diversas são as exigências que a

sociedade atual tem imposto ao cotidiano do professor. Ensinar requer estratégias

complexas e demoradas, portanto, há uma necessidade que vai além das

disponibilidades que os cursos de capacitação oferecem aos professores. Neste

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sentido, Gatti e Barreto (2009, p. 200) consideram, sobre o conceito de formação

continuada, que com

[...] problemas crescentes nos cursos de formação inicial de professores, a ideia de formação continuada como aprimoramento profissional foi se deslocando também para a concepção de formação compensatória destinada a preencher lacunas de formação inicial.

Em 2005, foi criada, pelo Ministério da Educação, a Rede Nacional de

Formação Continuada de Professores, integrando várias Universidades ao centro de

pesquisas num esforço de instrumentalização das práticas educativas e avanço das

atividades acadêmicas.

Gatti e Barreto (2009) esclarecem que a formação continuada de professores e

tornou aliada no processo de evolução de estudos e avanços da práxis docente,

com o objetivo de aprofundamento de conhecimentos e atualização dos professores

em ação. No entanto, estas autoras destacam que o não envolvimento dos

professores na formulação dos projetos faz com que estes não se apropriem das

ideias e se sintam meros executores dos projetos formulados por outros, de

propostas externas, o que cria uma postura resistente á mudanças e evolução de

suas práticas.

Esta consideração mostra a necessidade de que os professores estejam

envolvidos na formulação dos projetos para que sua execução seja facilitada e

resultados positivos sejam alcançados, visto que, provavelmente, ao se sentirem

autores os professores se sentem estimulados a modificar sua prática. Dentro desta

perspectiva, Facci (2004, p.15) afirma que

Temos que romper, de modo radical, com essa forma de pensamento hegemônica que não considera, ou melhor, naturaliza a estrutura de classes estabelecida, e esta radicalidade deve estar na negação de um modelo de sociedade que coisifica o homem [...] O silêncio não é inocente. Ao contrário, suas consequências são muito penosas e causam muito sofrimento em todos os indivíduos.

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Neste sentido, motivar o professor e proporciona-lhe o direito de elaboração ou

de interferência na criação de projetos, para que este seja autor, executor,

protagonista de uma mudança positiva dentro do cotidiano escolar, significa

estimulá-lo a pensar e repensar sua prática, questioná-la, e, na concepção de

formação como um processo contínuo, tomar consciência do conceito de educação

continuada subjacente ao conceito de desenvolvimento profissional.

Neste contexto, Gatti e Barreto (2009, p. 203) afirmam que a “formação

continuada como desenvolvimento profissional é base de dois modelos defendidos

na literatura educacional: as oficinas de reflexão sobre a prática e a formação

centrada no fortalecimento institucional”. Estas autoras destacam o como ponto

positivo destes conceitos, o alto valor formativo e seus efeitos interessantes, por

outro lado, a limitação às dimensões de uma unidade escolar, não respondem a

necessidades sistêmicas de “indução de mudanças com certa urgência social e

amplitude para atingir o corpo professor em seu conjunto” (Idem, 2009, p. 203).

É na superficialidade de alguns programas de formação continuada que Gatti e

Barreto (2009) encontram fatores limitadores. Elas destacam que o erro pode não

estar na formação do professor, mas na falta de apoio que este profissional tem.

Muitas vezes, os programas de capacitação têm caráter aligeirado, o que não

proporciona aos professores momentos de exposição em que podem tratar das

angústias e dificuldades de sua vivência. Decorrente disto, muitos professores se

sentem inseguros na mudança de suas práticas e sala de aula.

A falta de articulação entre formação inicial e formação continuada, de apoio

aos professores que iniciam e a dificuldade de se ir além de ensinar as teorias

provocando nos sujeitos o pensar, o fazer e o decidir de maneira crítico- reflexiva

aparecem como o conjunto de impasses mais intenso e complexo que desafia o

processo educativo brasileiro (GATTI; BARRETO, 2009).

A formação continuada, dentro do cenário educativo brasileiro, configura um

processo crítico-reflexivo do saber docente. Neste sentido faz-se importante uma

formação que proponha “ações que conciliem eficácia e reflexibilidade”. (GATTI;

BARRETO, 2009, p.253).

De acordo com Gatti e Barreto (2009, p. 231),

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a nova situação solicita cada vez mais que o professor esteja preparado para exercer uma prática contextualizada, atenta às especificidades do momento, à cultura local, ao alunado diverso em sua trajetória de vida e expectativas escolares. Uma prática não depende apenas de competências cognitivas no ato de ensinar, mas também de valores e atitudes favoráveis a uma postura profissional aberta, capaz de criar e ensaiar alternativas para os desafios que se apresentam.

Modificar a prática do professor, atender as exigências impostas à educação

atual, requer um trabalho em que a distância entre a definição ideal e a realidade da

profissão seja curta.

Cabe destacar que, dentro da dimensão psicossocial da formação continuada,

o trabalho do professor está além do ato de ensinar, exige qualidades, interesses,

paixões, vontades, convicções, criatividade, e muitos aspectos não passíveis de

padrões, nem desenvolvidos em cursos de capacitações formais.

É partindo desta perspectiva que se acredita em mudanças que viabilizem a

possibilidade do professor de se reconhecer como sujeito histórico-crítico e

perceber, na sua práxis, os elementos que corroboram para o encontro entre teoria e

prática, num contexto educacional dinâmico. Neste sentido, cabe ressaltar, o valor

do professor enquanto profissional e o valor da formação como um percurso a se

realizar ao longo da carreira para que se assegure uma formação de qualidade a

seus educandos.

3.5 Encontro da profissão Professor com as Representações Sociais

Ao tratar de sujeitos sociais que partilham espaços, tempos e representações

sociais, neste estudo, particularmente na escola, não se pode deixar de considerar o

contexto em que os sujeitos estão inseridos, suas perspectivas e percepções da

realidade em que se inserem. Portanto, não há como negar, diante do que foi

exposto, que a identidade do professor interfere diretamente na sua atuação

enquanto profissional.

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Seguindo a análise histórica da luta pela identidade do curso de Pedagogia e

do profissional docente não se procura, neste trabalho, em pensar nesta formação

diante de um ecletismo pedagógico. Procura-se pautar a discussão no sentido de

reconhecer como tem sido a formação do professor e seu trabalho frente às

mudanças socioeconômicas que permeiam nosso país e focar-se nas contribuições

das representações sociais em relação ao trabalho do professor.

Tomando as pesquisas de Facci (2004) que observou em investigações sobre

formação de professor a ausência dos entendimentos sobre a subjetividade deseja-

se não só entender como as suas relações inter e transubjetividade para

compreender a profissionalidade do professor no processo educativo. Outro fato

importante deste estudo é considerar as condições histórico-sociais em que a

profissão professor se desenvolve. Facci (2004, p. 77) expõe que o estudo sobre o

homem em geral só existe se partir “da ideia de sua condição humana e na qual a

relação indivíduo-sociedade é encarada como uma relação dialética, em que um

constitui o outro”.

Duarte (2001) denuncia que a educação, assim como a formação do professor,

não objetiva as possibilidades de transformações históricas da nossa época e sim à

proliferação dos ideários liberais. Tais ideários que incutem ao indivíduo a

responsabilidade pelos seus avanços e estagnações, inclusive a possibilidade de

estar excluído ou não do mercado de trabalho.

Duarte (2001) cita Saviani no que diz respeito à tarefa da Pedagogia histórico-

crítica, que implica a identificação das formas de expressão do saber produzido

historicamente, a conversão do saber objetivo em saber escolar de modo a torná-lo

assimilável pelos alunos no espaço e tempo escolares e o provimento dos meios

didáticos necessários que levem aos alunos a aprendizagem do processo de sua

produção bem como as tendências de sua transformação.

Muitas concepções educacionais contemporâneas apregoam o contrário do

que a Pedagogia histórico-crítica tem proposto. Estas têm tratado o saber escolar

como algo vinculado somente ao cotidiano simplista do aluno. No ensino superior, foi

possível perceber que não há nada mais que um ensino pragmático, uma adaptação

a uma prática profissional, sem atividades que promovam uma análise crítica

(DUARTE, 2001).

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Diante disso Duarte (2001) critica as propostas atuais para os cursos de

formação de professores. Este considera que tais cursos privilegiam a formação do

professor “prático reflexivo”, realizando um estudo ligeiro das teorias que embasam

suas práticas, sem um aprofundamento real. Transformando, assim, os cursos, e

aqui fazemos um “link” com o curso de Pedagogia brasileiro, em uma “vitrine de

informações precariamente articuladas sobre o chamado cotidiano escolar” (IDEM,

p. 68).

Pensar a profissão docente por meio da teoria das representações sociais

significa reconhecer o valor das representações sociais na relação do homem,

valorizando assim os conhecimentos socialmente elaborados e proporcionando ao

professor a possibilidade de se perceber enquanto sujeito crítico dentro da realidade

social, reconhecendo que as representações sociais compõem sua identidade

profissional.

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DIMENSÃO TÉCNICA

Delimitado o problema e estabelecidos os objetivos propostos neste trabalho

de pesquisa, inicia-se a preocupação com a metodologia a ser empregada, a fim de

responder a questão originada da inquietação a cerca do cenário educacional

brasileiro.

Sabe-se que uma pesquisa social é de natureza complexa, tal qual os

fenômenos sociais, os quais implicam a relação dos homens entre si. Toda interação

pode ser entendida como mutável, inacabada, criativa, daí a origem da

complexidade de um estudo acerca da realidade social.

Distantes de serem fixos, os sujeitos da pesquisa e a interação estabelecida

entre eles, possibilitam um entendimento parcial da realidade, um recorte de

aspectos considerados relevantes pelo pesquisador dentro de um determinado

espaço e momento histórico.

Delineada dentro das Dimensões Novikoff (NOVIKOFF, 2010) esta pesquisa é

considerada de abordagem quanti-qualitativa (CRESWELL, 2006), visto que

entrelaça as análises teóricas e interpretativas. Trabalha-se com a abordagem

estrutural e processual da Teoria das Representações Sociais. Acreditando que esta

teoria nutre-se de saberes do senso comum e trata de situar este como “teia de

significados capaz de criar efetivamente a realidade social” (SPINK, 1993, p. 303).

Neste sentido, é possível considerar que as representações sociais “procuram

superar a clivagem entre a ciência e o senso comum, tratando ambas as

manifestações como construções sociais sujeitas às determinações sócio-históricas

de épocas específicas” (SPINK, 1993, p. 302).

Considerando a complexidade do fenômeno das representações sociais, neste

capítulo descrevem-se os caminhos percorridos para a realização desta pesquisa. A

fim de conhecer os valores e conhecimentos sobre a profissionalização do professor

de professores da Educação Básica da Baixada Fluminense.

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CAPÍTULO IV – VALORES: ALGUNS ENTENDIMENTOS

Entender os valores em uma pesquisa que trata as representações sociais

acerca da profissionalização do professor é de fundamental importância, visto que,

estes constituem “parte do tecido constituidor das representações sociais”

(NOVIKOFF, 2006,p. 97), sendo instituídos e instituintes socialmente. A partir deste

entendimento, os valores são compreendidos como produto e processo da atividade

mental gerando assim, formas sociais.

Cabe neste trabalho, um breve relato sobre o conceito de valores defendido por

Thomas e Znaniecki. (1918-1920) e Parson (1951). Visto que é a partir do

entendimento deste conceito que será possível reconhecer os conhecimentos que

são valorizados e a lógica que os prioriza em busca de identificar as representações

sociais acerca da profissionalização professor dos professores da educação básica,

proposta deste trabalho.

Inicialmente os autores Thomas e Znaniecki. (1918-1920) diferenciam atitudes

e valores, vendo atitude como um “processo o qual alguém capta cognitivamente

uma situação e depois decide como agir” (ROS, 2006, p.25 apud NOVIKOFF, 2006).

Entende-se que, a conexão das atitudes com a estrutura social se dá por meio de

valores. Quanto a estes, por sua vez, Thomas e Znaniecki. (1918-1920, p. 21-22)

entendem como “qualquer dado que tenha conteúdo empírico acessível aos

membros de um grupo social e significado a respeito do qual se seja ou se possa ser

objeto de atitude”.

Parsons (1951) acredita nas pessoas enquanto autores que praticam ações

sociais. Este estudioso busca o conceito de valor de Kluckhohn, quando afirma que

“valor é uma concepção, explícita ou implícita, distintiva de um indivíduo ou

característica de um grupo sobre o desejável, que influencia a escolha das formas,

meios e fins existentes de ações”. Além deste conceito, é importante mencionar que,

os valores são hierarquicamente organizados, para este autor.

Cabe ainda ressaltar as palavras de Grinspun (1999) quando afirma que,

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Em todos os momentos de nossa vida, as ações que praticamos, as situações que participamos, as atitudes que tomamos, os sonhos e desejos que idealizamos estão carregados dos valores eleitos ou sinalizados para a opção que realizamos ou que gostaríamos de realizar. Esses valores, frutos de uma decisão pessoal, na verdade, são em termos escolhidos por nós, uma vez que eles se constituem e são produzidos pela própria cultura e pela sociedade em que vivemos. (GRINSPUN,1999, p.4)

Neste sentido, os valores têm papel importante na organização mental, e este

pode ser compreendido como “elemento de apoio, gerador da organização da

própria atividade mental onde ocorrem, simultaneamente, as construções do

conhecimento e da valoração” (NOVIKOFF, 2006, p.97).

Novikoff (2006) sistematiza a Categorização de Valores, organizando-os em

cinco dimensões. São elas:

Quadro 2: Categorização de Valores (NOVIKOFF, 2006)

Valores Indicadores de valores

Valores Sociorrelacionais

Esta categoria indica os conhecimentos das

relações sociais. Inclui os conhecimentos sobre os

sujeitos partícipes da instituição, relacionado às questões

éticas. Esta categoria aponta a racionalidade estético-

expressiva ou crítico-reflexiva, no pensamento para o

coletivo.

Valores Normativos

Evidenciam os conhecimentos técnicos e

normativos. Estes valores se encontram na racionalidade

moral-prática, com relação aos direitos, e no pensamento

crítico-reflexivo, para as normas legais.

Valores Identitários

Caracterizam os conhecimentos sobre as

emoções, bem como a imagem de si e do outro.

Demonstram os valores éticos espirituais e técnicos em

relação a alteridade. Estes valores se encontram na

racionalidade estético-expressiva ou crítico-reflexiva, no

pensamento para o eu e o outro, como se fossem os

mesmos.

Valores gnosiológico-

pedagógicos

Incluem os conhecimentos sobre os aspectos

didático e pedagógico, inventariando as questões de

ordem de exigências técnicas e acadêmica para o fazer

professor. Esta categoria aponta a racionalidade moral

prática, no pensamento do fazer pedagógico.

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Valores Socioprofissionais

Indicam os conhecimentos das condições de

trabalho. Dizem respeito a racionalidade técnico-

instrumental.

Fonte: Novikoff, 2006,p. 70-71

Diagrama 1: Categorização de Valores (NOVIKOFF, 2006)

É a partir da Categorização de Valores (NOVIKOFF, 2006) que se dará a

análise dos dados coletados no Inventário de Valoração e afrontamento. Dentro

deste contexto, apresenta-se no quadro a seguir, o quadro que relaciona a

Categorização de Valores com as representações sociais acerca da

profissionalização do professor. Cabe assinalar que inventário de valoração e

afrontamento tem por finalidade identificar os conhecimentos e traduzir as

dimensões valorativas configuradas nas e pelas suas representações sociais

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CAPÍTULO V – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Esta pesquisa foi delineada a partir das Dimensões Novikoff (2010). Diante do

que se propõe realizar. Ela é definida como quanti-qualitativa, que, segundo

Creswell (2007) é aquela em que o pesquisador faz uso de estratégias quantitativas

e qualitativas para abordar/estudar um assunto.

Spink (1993, p. 89) explica que

[...] a complexidade do fenômeno das representações sociais e as possibilidades metodológicas e interdisciplinares que a mesma oferece têm levado inúmeros pesquisadores à combinação de diferentes níveis de análises, resultando daí estudos bastante diversificados.

Neste sentido, a análise apresentada na pesquisa se deu por meio da

combinação da abordagem estrutural e da processual da Teoria das

Representações Sociais. Buscou-se a compreensão das estruturas e dos

comportamentos sociais em relação aos manifestos na linguagem, que

compreendem o contexto histórico-social dos acontecimentos.

Ao adotar a expressão histórico-social, explica-se o entendimento das

representações sociais em desenvolvimento, num determinado espaço social e em

determinado tempo.

Seguindo a proposta deste trabalho, a abordagem quanti-qualitativa permitiu

apontar e estudar as representações sociais acerca da profissionalização do

professor de professores da Educação Básica, levando em conta o contexto

histórico social, apresentando os dados por meio de gráficos e tabelas, bem como a

descrição de narrativas.

Considerando que a lógica representacional se configura na produção

discursiva, utilizou-se de diferentes instrumentos de coleta de dados para captar

“linguagem” dos sujeitos em estudo.

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[...] a linguagem é o meio que leva as coisas a produzirem sentido, onde os significados são criados e traçados e ainda onde os pensamentos, as ideias e os sentimentos são representados na cultura, para poderem ser compreendidos. Ao funcionar como uma prática significante, a linguagem fornece um modelo de funcionamento da cultura e da representação, através da semiótica. Por sua vez é a semiótica que analisa a forma pela qual a linguagem e a representação produzem significados (HALL, 1997). É esta produção discursiva utilizando a linguagem que se pretende utilizar na recolha de dados para a representação social. (PEREIRA, in MOREIRA etal 2005, p. 28)

Nesta perspectiva que se adota a linguagem escrita como base para agrupar

os discursos dos professores sobre profissionalização professor e neste corpus

analisar as representações sociais e seus valores.

5.1 Sujeitos da Pesquisa

O interesse por estudar aspectos constituintes do cotidiano escolar durante a

formação professor-aluno configura motivação inicial desta pesquisa.

Neste sentido, busca-se ouvir o professor, enquanto sujeito importante dentro

da realidade escolar. Portanto, a aplicação dos instrumentos de pesquisa foi

realizada numa instituição de ensino básico da rede pública estadual de ensino do

Rio de Janeiro.

Os sujeitos são 27 (vinte e sete) professores do CIEP 098 – Hilda do Carmo

Siqueira , que faz parte da Metropolitana V da Secretaria de Educação do Estado do

Rio de Janeiro, que atuam na Educação Básica, mais especificamente, 6o ao 9o ano

do Ensino Fundamental e Ensino Médio.

No primeiro contato, os sujeitos foram convidados a participar de uma reunião

de professores e estes estiveram presentes voluntariamente. Então, houve alguns

esclarecimentos a respeito da pesquisa, pessoalmente, pelo pesquisador

acompanhado da professora orientadora da Pesquisa, Doutora Cristina Novikoff e

alguns membros do LAGERES – Cnpq/UNIGRANRIO, parceiros que atuam neste

local.

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Nesta reunião de professores falou-se da pesquisa e foi feito um convite aos

professores para participação da pesquisa em questão, esclarecendo da

necessidade de assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

A partir do esclarecimento da pesquisa e aceitação do convite por parte dos

professores os instrumentos de pesquisa foram aplicados, no intuito de reconhecer o

significado atribuído à profissionalização professor pelos professores.

5.2 O Local Pesquisado

O CIEP 098 – Hilda do Carmo Siqueira, no qual foi realizado a pesquisa, é uma

instituição da Rede Pública Estadual de Ensino, faz parte da Metropolitana V – Polo

II situado à Rodovia Washington Luiz. Esta unidade escolar funciona em três turnos,

possuindo turmas desde as primeiras séries do Ensino Fundamental até o Ensino

Médio.

Seguindo a proposta de Darcy Ribeiro, este CIEP (Centro Integrado de

Educação Pública), surgiu com o intuito de levar educação de qualidade para todas

as camadas sociais.

5.3 Instrumentos de Coleta de Dados

A pesquisa em questão procurou estudar as representações sociais acerca da

profissionalização do professor. Utilizaram-se, portanto, como instrumentos de

pesquisa: 1. Inventário de Valoração de Enfrentamento (NOVIKOFF, 2006) e 2.

Teste de Associação Livre de Palavras (2010).

A análise dos dados sofreu a análise de conteúdo (FRANCO, 1999) e a

estandardização pelo EXCELL. Os dados serão apresentados em forma de gráficos

e tabelas, bem como descrição de narrativas.

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5.3.1 Inventário de Valoração e Enfrentamento

A primeira coleta de dados (APÊNDICE 1) foi realizada por meio do Inventário

de Enfrentamento e Valoração (CAN0-VINDEL; MIGUEL TOBAL, 1992). Este

instrumento permite avaliar os tipos de enfrentamentos em situações especificas. A

classificação se dá por meio de 42 itens que permitem a identificação das

estratégias de enfrentamentos cognitivas, condutas motoras, passivas e evitativas.

Antes de apresentar Inventário de Valorização e Afrontamento cabe

esclarecer que este tem duas tarefas. A primeira de se descrever uma situação

problemática que o professor venha enfrentando. A partir desta situação, o professor

elege a melhor resposta para cada uma das 42 questões que são expostas no IVA.

O IVA apresenta 42 itens, distribuídos nas suas nove categorias. A saber:

Valoração da Situação como Ameaçadora (VSA); 2. Valoração da Situação como

Desafio (VSD); 3. Valoração da Situação como Irrelevante (VSI); 4. Estratégias

Cognitivas Centradas na Situação (ACS); 5. Estratégias Cognitivas Centradas na

Emoção (ACE); 6. Estratégias de Conduta Motora Centradas na Situação (ACMS);

7. Estratégias de Conduta Motora Centrada na Emoção (ACME); 8. Afrontamento

Passivo (AP); 9. Afrontamento Evitativo (AE).

Todas as questões têm as seguintes opções de respostas: quase nunca,

poucas vezes, umas vezes sim outras vezes não, muitas vezes, quase sempre.

Trata-se de uma forma de inventariar com base na escala tipo Likert. Assim, os

professores além de apontarem se concordaram ou discordaram das afirmações,

também tecem informações sobre qual o grau de concordância/discordância:

Desse modo, a cada resposta foi dado um peso na ordem crescente para

cada item. O peso reflete a direção da atitude do respondente em relação a cada

afirmação. Os pontos de cada item foram distribuídos da seguinte forma:

Quase nunca = 1; Poucas vezes = 2; Umas vezes sim outras vezes não = 3;

Muitas vezes = 4 e; Quase sempre = 5.

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Conforme Novikoff (2006, p. 151), os pesos de cada resposta,

individualmente, foram tabulados, gerando categorias e estas foram balizadas em

dados relativos.

A distribuição dos percentuais pelo total de respostas franqueou que se

verificasse o grau de concordância e discordância, consoante ao quadro 3:

Quadro 3: Descrição do Grau de Concordância e Discordância das Situações-

Problema.

% GRAU DE CONCORDÂNCIA GRAU DE DISCORDÂNCIA

0 – 15 baixo grau de concordância baixo grau de discordância

16-35 leve grau de concordância leve grau de discordância

36-55

intermediário grau de

concordância

intermediário grau de

discordância

56-75 bom grau de concordância bom grau de discordância

ACIMA DE 75 alto grau de concordância alto grau de discordância

O grau de concordância apontou a sua tendência.

5.3.2 Teste de Associação Livre de Palavras

A técnica de evocação ou associação livre das palavras ao termo indutor

consiste em uma técnica de pesquisa em representações sociais.

O teste de Associação Livre Palavras de Abric (1999) consiste na apresentação

de palavras indutoras aos sujeitos da pesquisa, solicitando que expusessem em um

papel cinco palavras, expressões ou adjetivos que lhes viessem à mente a partir da

palavra indutora, cada uma a seu tempo. Logo após, o sujeito era orientado a

marcar a palavra, dentre as cinco que escreveu, como a que ele considera de maior

importância.

Segundo Sá (1996) a evocação livre de palavras é uma técnica para coleta de

dados constitutivos de uma representação já que permite ao sujeito falar e escrever

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vocábulos que lhe venham à mente, após ser estimulado por uma palavra indutora

que caracteriza o objeto de estudo.

Por possibilitar identificar a frequência e a ordem média de evocações de

palavras, aproximando os elementos de uma representação e proporcionando a

compreensão das distâncias estabelecidas entre as representações distribuídas

sobre o plano gráfico, esta técnica tem se mostrado útil nos estudos de percepções

e atitudes, estes, por sua vez, são elementos da estrutura e/ou organização das

representações sociais, é dentro desta ideia que se percebe a importância desta

técnica em um estuda da natureza deste, calcado na Teoria das Representações

Sociais.

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DIMENSÃO MORFOLÓGICA

Neste capítulo pretende-se apresentar todo o trabalho realizado durante a

este trabalho de pesquisa no CIEP 048.

CAPÍTULO VI – CONHECENDO O CIEP 048 - Infra-Estrutura

Para a descrição do CIEP098, seguem figuras de 4 a 11, com imagens da

estrutura física desta Escola. Todas guardam a organização, limpeza e estética de

bem cuidada.

Fig. 4

Sala dos professores - escaninho

Fig. 5

Sala dos professores – armários e mesa

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Fig. 6

Sala dos professores – Quadro de avisos

Fig. 7

Sala dos professores – mesa do café, TV e quadro de avisos livre

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Fig. 8

Divulgação da atividade de Formação professor pelo SEDERJ.

Fig. 9

Divulgação de capacitação professor do SEDERL – prazos e disciplinas.

Fig. 10

Auditório

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Fig. 11

Sala de Leitura e Jogos

É possível observar que os cuidados do espaço físico é resultado de dois

processos. O primeiro da gestão escolar em manter os funcionários bem orientados

quanto ao tratamento a ser dispensado em cada canto da escola. Porém, observa-

se que os estudantes, também cuidam do espaço e quando perguntados sobre a

escola, eles apontaram que gostam, mas que gostariam de criar “coisas” para

colocar na escola.

A enquete levantou a discussão da relação entre “limpeza”, “ordem”;

“liberdade” e “criação”. O que acabou gerando o termo “silêncio artístico”, entendido

como a não intervenção/participação do aluno nos espaços físicos da escola. A

discussão longe de terminar esta por ser feita junto aos professores do CIEP 098.

A finalidade deste tema é propor a ampliação da manifestação artístico-

cultural dos alunos na escola, deixando outras marcas, além do que denominamos

de silêncio artístico.

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6.1 Estudo do conhecimento

A partir da proposta de promover o estudo da arte quanto à formação de

professores, foram catalogadas mais de 500 pesquisas que sinalizaram o interesse

dos pesquisadores em estudar a formação e a Teoria das Representações Sociais.

Assim, perseguido os descritores: formação de professores; representações

sociais; profissionalização professor, fez-se a análise de cada resumo contido no

banco de teses da CAPES (1996-2010) para dar visibilidade ao estado do

conhecimento.

A base junto à pesquisa no portal da CAPES teve uma busca isolada pelo

tema “Formação de professores”, como descritor de todas as pesquisas. Assim,

optou-se por gerar um gráfico para as discussões iniciais sobre as pesquisas no

Brasil.

Optou-se por gerar um gráfico para as discussões iniciais sobre as

pesquisas no Brasil, segundo a tabela 1.

Tabela 1: Levantamento estatístico (Doutorado): 1996-2010

Título (Representações Sociais) 11,11%

Objeto (Representações Sociais) 11,11%

Palavras-chave (Formação de professores) 55,60%

Objetivos (Profissionalização professor) 11,11%

Questão (Formação de professores) 33,33%

Hipótese (Formação de professores) 11,11%

Fundamentação Teórica (Representações Sociais) 22,22%

Resultado (Formação de professores) 22,22%

Gráfico 1: Levantamento estatístico (Doutorado): 1996-2010

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Observa-se que o uso do termo “representações sociais” no título dos 580

textos, aparece em 11,11%. Igual situação se dá com o mesmo termo enquanto

objeto de estudo. Já como palavra-chave, é o termo “formação de professores”, que

aparece e em 55,60% dos textos. Nos objetivos dos mesmos textos aparece o termo

“profissionalização professor” com 11,11%. Como questão norteadora aparece a

“formação de professores” em 33,33%; Como hipótese, a “formação de professores”,

é representada por 11,11%; Sendo parte da fundamentação teórica, a expressão

“representações sociais” aparece em 22,22%; No resultado, o termo “formação de

professores” se faz presente em 22,22% dos textos analisados.

Outro trabalho de verificar as palavras em conjunto no mesmo texto foi

desenhado e o termo “formação de professores” e “profissionalização docente” é

reduzido (9%) frente a “formação de professores” e outro termo. Assim, também o é,

a combinação entre “formação de professores” e “representações sociais”, com

apenas 21%.

As produções dos registros no banco de dados visaram a compreender a

relação entre as representações sociais sobre a profissionalização professor para

professores da educação básica mobilizadas pelos mesmos para o enfrentamento.

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DIMENSÃO ANALÍTICO-CONCLUSIVA

Nesta dimensão apresenta-se a análise dos dados coletados no CIEP 098 e

sua relação com a teoria.

Coube uma análise dos dados dentro da categorização de valores

(NOVIKOFF, 2006) e pela estandardização do Teste de Associação Livre de

Palavras no Excel, por meio desta, foram gerados gráficos e estes, por sua fez, se

fizeram base para a construção de narrativas e análise.

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CAPÍTULO VII – ANÁLISE

A etapa mais árdua e complexa de um trabalho de pesquisa está

justamente na análise dos dados, pois envolve a experiência vivida do pesquisador e

sua prontidão para o diálogo com a teoria e com os próprios pesquisados para se

compreender o dito e o não dito revelados nos dados. Assim, tomando de

empréstimo a ideia de John Powell, maestro, compositor e produtor inglês, de que

“para compreender as pessoas devo tentar escutar o que elas não estão dizendo, o

que elas talvez nunca venham a dizer”, a interpretação de cada registro merece uma

investigação cuidadosa para evitar que em cima das representações sociais

coletadas, criar outras representações, agora dos que analisam estas.

Neste sentido, a proposta da dimensão analítico-conclusiva é discutir o

objeto de estudo, o fenômeno das representações sociais, articulado a cada etapa

anteriormente descrita, sempre trabalhando em grupo de análise, de modo a

apresentar uma conclusão, se não perfeita, próxima da realidade estudada. De outro

modo, interpretar considerando as teorias, a intuição e percepção do outro sobre um

mesmo dado/fato.

Os instrumentos de coleta de dados, conforme descrito anteriormente (IVA e

ALP) mostram os valores e as representações sociais de profissionalização docente,

bem como indicam as tendências destas.

Ao iniciar a fase analítica com a apresentação das palavras evocadas no

teste de evocação livre de palavras, conforme tabela 2, observa que a média das

ordens médias das evocações foi de 3,0 para uma média de frequência de evocação

de 17,33. Isto equivale a apontar que os termos tiveram uma evocação satisfatória,

segundo Vergés (2003) quem aponta a ordem média de evocação entre 3,0 a 1,9

como excelentes. Isto significa que a palavra foi evocada poucas vezes, mas muitas

na mesma posição.

Em relação aos quadrantes, cabe esclarecer que o quadrante superior

esquerdo representa o núcleo central que tem uma função geradora e organizadora

e é mais estável. Trata-se do elemento pelo qual se cria, ou se transforma a

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significação dos outros elementos constitutivos da representação. É por ele que

esses elementos tomam um sentido e apresentam um valor estável.

Os quadrantes periféricos são mais voláteis, se modificam mais facilmente,

com a finalidade de proteger o núcleo central.

Tabela 2: Análise De Evocações Da Palavra Indutora: “Profissionalização”.

3,0

Termo Evocado Frequência Ordem Evocação

Termo Evocado Frequência Ordem Evocação

>=17,33 <3,0 >=17,33 >=3,0

Emprego Capacidade

19 18

2,88 2,78

comprometimento 23 3,40

<17,33 <3,0 <17,33 >=3,0

Investimento 13 2,92 concorrência cotidiano ensino técnico necessidade objetivo escolha companheirismo qualidade

1 1 1 1 3 5 7 7

5,00 3,00 3,00 4,00 4,33 3,00 3,86 3,43

Note-se que o quadrante superior esquerdo, onde representa o núcleo

central das representações sociais, os termos “emprego” e “capacidade” aproximam-

se da ideia de que o profissional deve ter capacidade de. Este termo “capacidade” é

mais representativo da cultura escolar, das políticas públicas sobre educação. Aqui

fica notória a ideia de que para o desenvolvimento de tal capacidade, o

comprometimento aparece como sustentando esta representação que se exige

“investimento”, localizados no terceiro quadrante.

No mais periférico de todos, no quadrante inferior direito, aparecem uma

série de evocações que parecem dispersas, mas numa análise mais cuidadosa vê-

se sua argumentação em favor de um discurso que agrada ao pesquisador e

aproxima do discurso oficial sobre a profissionalização do professor e suas

competências.

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A primeira análise lexicográfica demonstrou que, das 436 evocações, 89

eram constituídas por palavras diferentes. Os cálculos de todas as frequências e as

médias de cada evocação foram estandardizados manualmente com três cortes até

atingir ao agrupamento de 12 termos que representassem o total evocado.

Para tentar compreender a relação entre as representações sociais de

profissionalização e a teoria sobre o mesmo tema, foi elaborada uma categorização

das evocações, considerando os termos que apareceram no teste de evocação de

palavras e no questionário, mesmo sendo esta em pequena frequência. Para tal foi

realizada a análise de conteúdo, resultando em 6 categorias. São elas:

1. Formação;

2. Mercado;

3. Afetividade;

4. Visão Futura;

5. Dedicação e;

6. Ética.

Vale apontar que os termos evocados se enquadravam em mais de uma

categoria, ilustrados no gráfico 1, como por exemplo, o termo “aptidão” se encontra

dentro da categoria ‘formação’ bem como em “mercado”.

Gráfico 1: Categorização das representações sociais de professores do CIEP 098 –

2011.

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A evocação do termo “formação” demonstra a tomada de consciência de que

há uma grande necessidade de uma profissionalização que favoreça o confronto

com problemas complexos e variados tendo condições cognitivas e afetivas para

solucioná-los em seu fazer pedagógico (GATTI, 2010).

Nesta categorização encontramos a força da formação desejada e

necessária para uma profissionalização nos moldes exigidos para os tempos atuais

tatuados nos discursos legais como na prática dos professores que manifestaram

abertamente a dificuldade de ensinar e, em especial o interesse do aluno frente o

ensino. Tal situação, também é percebida no Inventário de Valoração e

Enfrentamento (IVA).

Inicia-se apresentando as categorias das situações-problema descritas pelos

professores.

As diferentes categorias das situações-problema, são elas:

Entre as dificuldades e/ou situações problemas levantados destacam-se três

categorias:

1. Disciplina: aluno desrespeitando o colega e o professor, gerando

violência e não aprendizagem;

2. Falta de estrutura para os alunos desenvolverem atividades

FORMAÇÃO

MERCADO AFETIVIDA

DE VISÃO

FUTURA DEDICAÇÃ

O ÉTICA

Série1 53% 17% 13% 9% 5% 4%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

me

ro d

e E

voca

çõe

s p

or

cate

gori

a

Evocações

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3. Falta de compromisso dos governantes

Os problemas levantados parecem estar fora do controle do professor e a

sua profissionalização parece indicar ausência de tomada de responsabilidade

compartilhada entre professor e contexto histórico-político e social. Este dado

demonstra uma lacuna, o que nos faz atentar para a necessidade, não apenas de

tomada de consciência, mas da saída de “passividade crítica” (PERRENOUD, 2001)

dos professores em sua práxis, em busca de construir soluções para os problemas

apresentados.

Gráfico 2 - Tendência de valoração e enfrentamento dos problemas dos professores

do CIEP 098 – 2011.

O gráfico ilustra a tendência de valoração e enfrentamento dos professores

do CIEP098, com forte indício de que:

1. a situação levantada é considerada muitas vezes como ameaçadora e

como um desafio ;

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2. a situação quase nunca é entendida como irrelevante;

3. poucas vezes eles centram a cognição na situação;

4. muitas vezes eles centram a cognição na emoção;

5. muitas vezes usam de estratégias de conduta motora centradas na

situação;

6. muitas vezes e quase sempre usam de estratégias de conduta motora

centradas na emoção;

7. quase nunca e poucas vezes o enfrentamento é passivo

8. quase nunca o enfrentamento é evitativo.

Observa-se que o enfrentamento dos problemas é poucas vezes passivo e

quase sempre relevante, confirma a ideia de que os professores estão valorando o

significado intra e inter-subjetivo, bem como o extra-subjetivo em relação ao outro,

uma vez que em nenhuma categorização de problemas emergiu questões

direcionadas ao próprio professor.

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Conclusões

Em relação ao CIEP098, observou-se que a abordagem inicial foi vital para o

“contrato” entre a Universidade e a Escola. Coisa que reforça o valor da dialética das

Dimensões Novikoff como elemento fundamental no processo metodológico. No

trabalho realizado pelo LAGERES, a ética com que se empreenderam esforços em

ouvir a todos, alunos, pais, dirigentes, professores e demais funcionários técnicos,

administrativo e de serviços gerais, nos deu uma visão ampla sobre as

representações ali constituídas e constituintes.

O contexto dinâmico da escola permite-nos assinalar que a realização da

pesquisa interdisciplinar foi e continua sendo um aprendizado árduo, uma vez que

exige a dedicação, prontidão para se permitir não saber, ouvir o outro. Esta tem sido

uma luta dos participantes que se veem em estado de defesa de sua área de

conhecimento, superando seus limites cognitivos, afetivos e habilidades na

comunicação, tecnologias e, também nos aspectos pessoais/singulares com suas

próprias representações e alteridade. Foi uma busca pela inteireza humana, na

busca da pausa para leituras de outras áreas para aproximar a linguagem, a

metodologia, e, as atitudes em prol do diálogo entre todos.

Cabe ressaltar que, enquanto sujeitos desta pesquisa, os professores do

CIEP 048 apresentam interesse em uma formação continuada e a escola oferece

oportunidades para que isto se concretize, fato que marca a importância do

pensamento político e filosófico para além das políticas neoliberais que diminuem a

importância do professor em detrimento da necessária ação moral e política que

valora os professores como sendo homens nobres (MARX, 1987).

As representações sociais dos docentes marcados pelos termos “emprego”

e “capacidade” não permitem identificar o “conjunto de características” como

conhecimentos e habilidades que corroboram para o exercício profissional apontado

na literatura.

A valoração dos problemas é de sê-lo centrado na “disciplina” do aluno que,

segundo o grupo estudado, é de desrespeito ao colega e ao professor. Tal problema

é o causador da violência e não aprendizagem, o que isenta o professor de buscar

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conhecimentos para a melhoria do ensino.

O segundo problema diagnosticado, “falta de estrutura para os alunos

desenvolverem atividades”, também desloca a valoração da profissionalidade para o

contexto.

O terceiro problema levantado, “a falta de compromisso dos governantes”,

marca a profissionalização do professor como sendo uma institucionalização a ser

objetivada em prol dos professores.

Em nenhum momento se observou a conscientização da amplitude que a

“profissionalização” carrega e que deve ser tratada pelos próprios professores para a

sua transformação.

A visão do professor tende a ser funcionalista, uma vez que, não apontam

questões de autonomia nem de compromisso com um projeto político-democrático.

Enfim, não suscita o engajamento profissional para além desta visão. O que acaba

por reduzir o papel do professor na construção da identidade de um profissional não

valorozo para a sociedade.

Diante do exposto, a formação como processo de construção das

identidades profissionais vem sendo dada na incorporação de saberes que

estruturam, simultaneamente, a relação com o trabalho e a carreira profissional.

Assim, o professor ao trocar os saberes de que o problema está fora do alcance

dele, a sua forma identitária vai dificultando as transformações necessárias para

uma valoração da profissionalização do professor.

Em síntese, as representações são carregadas de valores emocionais e

geradores de enfrentamento, apesar de pouco passivo e quase sempre relevante, os

professores não recorrem ao conhecimento científico, o que dificulta o exercício da

profissionalidade, entendida como o conjunto de características com conhecimentos

e habilidades que corroboram para o exercício profissional criativo e autônomo, de

modo intencional e consciente.

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APÊNDICE

UNIVERSIDADE DO GRANDE RIO PROFESSOR JOSÉ DE SOUZA HERDY- UNIGRANRIO

Programa de Pós-Graduação em Letras e Ciências Humanas

Laboratório do Grupo de Estudos e Pesquisas em Representações Sociais na/para

Formação de Professores - LAGERES_Unigranrio

TENDÊNCIAS E FORMAS DE ENFRENTAMENTO DA FORMAÇÃO CONTINUADA, COMO PROFISSIONALIZAÇÃO PROFESSOR: UM ESTUDO EM

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

PESQUISA para Conclusão de Curso

ORIENTADORA: Profª. Drª Cristina Novikoff

PESQUISADORA: Carine Camara Bizerra

Caro participante da pesquisa

Este material de coleta de dados/informações faz parte da pesquisa em

desenvolvimento, na UNIGRANRIO, em Duque de Caxias, no curso de Mestrado em

Letras e Ciências Humanas, intitulada “TENDÊNCIAS E FORMAS DE

ENFRENTAMENTO DA FORMAÇÃO CONTINUADA, COMO

PROFISSIONALIZAÇÃO PROFESSOR: UM ESTUDO EM REPRESENTAÇÕES

SOCIAIS”. Sua participação e respostas honestas são importantes para esta

pesquisa, uma vez que elas permitirão discutir as profissionalização professor e

suas implicações na prática professor para a formação de novos professores.

Agradeço, desde já, toda a sua atenção e colaboração neste estudo.

Atenciosamente,

Carine Camara Bizerra

Cristina Novikoff

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Dados Gerais:

Nome:_________________________________________Matrícula:_____________

Sexo: M ( ) F ( ) Idade ____ anos

Escola: _______________________________________

Série de trabalho:_________________________________________

Data: ___/___/ 2011

1.Qual a sua compreensão sobre a Profissionalização Professor?

_________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

2. Você conhece a legislação educacional sobre Profissionalização Professor?

( ) Sim ( ) Não

3. Se conhece, quais os aspectos desta legislação que você gostaria de discutir/aprender para melhorar sua prática na universidade e/ou escola?

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4. O que você considera mais importante para a formação do professor? Comente

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

5. Quais foram os critérios que você utilizou para a escolha da sua formação?

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

6. O que os seus colegas de trabalho pensam sobre a Profissionalização Professor?

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

7. Na sua opinião quais os aspectos positivos e negativos da vida de um professor:

Positivo(s):

_________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

Negativo(s):

_________________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

8. Quais as características de um bom professor?

_________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

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9. Quais as atividades complementares da sua formação, que você mais se interessa em participar? ( ) Palestra única ( ) Seminários ( ) Discussão de grupo de pesquisa ( ) Grupo de estudo ( ) Outro. Descreva: _________________________________________

10. Como você se avalia como professor:

( )Muito Bom ( )Bom ( )Regular ( ) Deficiente

11. Quando você tem alguma dificuldade didático-pedagógica, a quem você recorre?

( ) professor/a : ____________________________________________________

( ) livros:__________________________________________________________

( ) outro:__________________________________________________________

Por quê? __________________________________________________________

12. Quando você tem alguma dificuldade político-adminstrativa, a quem você recorre?

( ) professor/a : ____________________________________________________

( ) livros:__________________________________________________________

( ) sindicato

( ) outro:__________________________________________________________

Por quê? __________________________________________________________

13. Qual seu plano de estudos para os próximos 2 anos?

( ) Mestrado em :___________________________________________________

( ) Doutorado em :__________________________________________________

( ) Aposentar:______________________________________________________

( ) Trocar de carreira:________________________________________________

( ) Ainda não planejei nada.

14. Assinale a área de conhecimento mais relevante para a profissionalização professor:

( ) História ( ) Filosofia ( ) Sociologia

( ) Psicologia ( ) Fundamentos

( ) Outra:_________________________________________________________

15. Comentário e ou sugestões que não apareceram nesta pesquisa, mas que você considera

relevante questionar:

_________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

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ANEXO I

CARTA CONVITE AOS PARTICIPANTES

Prezado(a) Professor(a),

Você está sendo convidado a participar da pesquisa em desenvolvimento, na UNIGRANRIO, em Duque de Caxias, no curso de Mestrado em Letras e Ciências Humanas, intitulada “TENDÊNCIAS E FORMAS DE ENFRENTAMENTO DA FORMAÇÃO CONTINUADA, COMO PROFISSIONALIZAÇÃO PROFESSOR: UM ESTUDO EM REPRESENTAÇÕES SOCIAIS”. Sua participação e respostas honestas serão importantes para esta pesquisa, uma vez que elas permitirão contribuir com/para o processo da profissionalização professor e da formação de professores.

Aguardamos breve retorno para agendarmos a nossa entrevista.

Agradecemos, desde já, toda a sua atenção e colaboração neste estudo,

Carine Camara Bizerra (Coordenadora da pesquisa)

Profa. Dra. Cristina Novikoff (Professora orientadora)

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110

ANEXO II

INVENTÁRIO DE VALORIZAÇÃO E AFRONTAMENTO

copyright 1992 by Antonio Cano Vindel y Juan José Miguel -Tobal

Dpto Psicologia Básica Facultad de Psicología . Univ Complutense de Madrid Adaptación Argentina: Nora B. Leibovich de Figueroa (UBA-CONICET)/ Tradução Cristina Novikoff/ UNIGRANRIO

1. DADOS GERAIS

PROFESSOR (FACULTATIVO) SEXO: Masculino Feminino DATA

_____/_________/_______

Instruções:

Diariamente nos apresentam situações problemáticas. A seguir lhe solicitamos que escreva uma situação problemática que o tenha afetado e ainda continua afetando-o. Se houve mais de uma, escolha a que mais o afetou.

Diante da situação exposta, teve algum pensamento ou tomou alguma atitude. Coloque uma cruz no quadro que corresponda a quantidade de vezes (Quase Nunca, Poucas Vezes, Umas vezes sim outras vezes não, Muitas vezes, Quase sempre) que tenha estes pensamentos ou realiza tais condutas, em relação à situação problemática que citou.

Por favor, responda a todas as frases.

QUANDO PENSO NA SITUAÇÃO PROBLEMÁTICA O QUE ACONTECE

1. VSA

PENSO QUE SE TRATA DE UMA SITUAÇÃO

Quase nunca

I. Poucas vezes

Vezes sim

Vezes não

Muitas vezes

Quase sempre

1. Muito importante em minha vida

2. Que tem muitas conseqüências negativas

3. difícil ou ameaçadora para mim

4. Difícil de controlar ou resolver

5. Que não gosto

6. Na qual reflito acerca de como os outros pensarão

2. VSD

PENSO QUE SE TRATA DE UMA SITUAÇÃO

Quase nunca

II. Poucas vezes

Vezes sim

Vezes não

Muitas vezes

Quase sempre

7. Na qual posso fazer muitas coisas

8. Na que procuro crescer como pessoa

9. Na que posso e devo estar mais pendente dos outros que de mim.

10. Que pode ser um desafio pra mim

11. Na qual poderia ver-me transtornado, mas que posso me controlar.

12. Na qual devo esforçar-me p/ conseguir um resultado positivo

3. VSI

PENSO QUE SE TRATA DE UMA SITUAÇÃO

Quase nunca

III. Poucas vezes

Vezes sim

Vezes não

Muitas vezes

Quase sempre

13. Como outra qualquer

14. A que não dou muita importância

15. Sem conseqüências negativas para mim.

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4. ACS

PENSO QUE SE TRATA DE UMA SITUAÇÃO

Quase nunca

IV. Poucas vezes

Vezes sim

Vezes não

Muitas vezes

Quase sempre

16. Creio que posso enfrentar a situação e fazer coisas que ajudem

17. Procuro não dar-lhe muita importância

18Tento ver a situação da maneira que me cause menos problemas

19. Procuro ver algum aspecto positivo na situação

20. Creio que posso mudar minha visão pessimista sobre a situação

21. Posso tomar decisões que me ajudem a minimizar os problemas

5. ACE

PENSO QUE SE TRATA DE UMA SITUAÇÃO

Quase nunca

V. Poucas vezes

Vezes sim

Vezes não

Muitas vezes

Quase sempre

22. Tento desviar minha atenção dos pensamentos e atitudes que me preocupam

23. Digo coisas positivas para mim mesmo para animar-me

24. Procuro concentrar-me nas coisas que posso fazer, não no medo.

25. Penso que em outras situações fiz o que pude e isto me tranqüiliza

26. Procuro eliminar os pensamentos negativos

27. Procuro melhorar meu estado de ânimo

6. AC-MS

PENSO QUE SE TRATA DE UMA SITUAÇÃO

Quase nunca

VI. Poucas vezes

Vezes sim

Vezes não

Muitas vezes

Quase sempre

28. Trato de agir em vez de ficar sem fazer nada

29. Faço coisas para atrair a atenção dos outros para o problema, buscando soluções.

30. Procuro levar a situação para um terreno onde eu conheça bem

31. Procuro criar uma situação relaxada

32. Trato de conhecer e preparar-me para a situação

33. Busco o contato com as pessoas mais próximas

7. AC-ME

PENSO QUE SE TRATA DE UMA SITUAÇÃO

Quase nunca

VII. Poucas vezes

Vezes sim

Vezes não

Muitas vezes

Quase sempre

34. Faço coisas que me ajudem a relaxar.

35. Faço pequenas coisas que me ajudam a estar ativo e sereno

36. Faço coisa para diminuir o meu nível da tensão

37. Procuro usar minhas melhores habilidades para sentir-me mais seguro

38. Faço coisas que me ajudam a aumentar minha sensação de controle

39. Tento falar de maneira espontânea e suave para acalmar-me

8. AP

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PENSO QUE SE TRATA DE UMA SITUAÇÃO

Quase nunca

VIII. Poucas vezes

Vezes sim

Vezes não

Muitas vezes

Quase sempre

40. Não faço nada especial e tento passar despercebido

41. Trato de falar pouco e não ser o centro da atenção das conversas

9. AE

PENSO QUE SE TRATA DE UMA SITUAÇÃO

Quase nunca

IX. Poucas vezes

Vezes sim

Vezes não

Muitas vezes

Quase sempre

42. Tento fugir ou evitar esta situação ou qualquer outra relacionada a ela

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ANEXO III

TESTE EVOC

1. Favor descrever rapidamente as palavras que lhe ocorrerem na mente após a citação do termo X.

2. Favor circular o mais relevante para descrever o termo X.

TERMO – PROFESSOR

TERMO – PROFISSIONALIZAÇÃO

TERMO ESCOLA