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VII EPEA - Encontro Pesquisa em Educação Ambiental Rio Claro - SP, 07 a 10 de Julho de 2013 Realização: Unesp campus Rio Claro e campus Botucatu, USP Ribeirão Preto e UFSCar 1 Tendências das dissertações e teses sobre educação ambiental em áreas protegidas no Brasil Carolina Mandarini Dias Doutoranda do Programa de Pós-Graduação Multiunidades em Ensino de Ciências e Matemática PECIM UNICAMP. Faculdade de Educação Universidade Estadual de Campinas Unicamp. [email protected] Jorge Megid Neto Professor do Depto. de Ensino e Práticas Culturais. Faculdade de Educação Universidade Estadual de Campinas Unicamp. [email protected] Resumo: Considerando o contexto das pesquisas acadêmicas sobre Educação Ambiental (EA) em Áreas Protegidas realizou-se uma pesquisa bibliográfica por meio da análise das informações institucionais e dos resumos das dissertações e teses produzidas sobre a temática, a fim de se obter um panorama da produção acadêmica nesse campo específico. Os resultados apontam para a predominância de dissertações de mestrado acadêmico desenvolvidas principalmente nos anos 2000 em instituições públicas da Região Sudeste. Também foi possível identificar que a maioria das pesquisas possui como temas de estudo Concepções / Representações / Percepções do Formador e/ou Aprendiz em EA, e Programas e Projetos Educacionais. Esses dados são importantes para um mapeamento da pesquisa acadêmica nessa área no país e para a elaboração de políticas públicas tanto no que concerne à descentralização de Programas de Pós- Graduação quanto a políticas específicas que tratem de processos de EA em Áreas Protegidas. Palavras-Chave: Áreas Protegidas, Pesquisa em Educação Ambiental, Estado da Arte Abstract: Given the context of academic research on Environmental Education (EE) in Protected Areas, a bibliographical study was performed by analyzing institutional information and summaries of dissertations and thesis produced on the subject. The aim is to obtain an overview of the academic production in that specific field. The results point to the predominance of academic master dissertations especially during the 2000s in public institutions from the Brazilian Southeastern Region. It was also possible to identify that most researches have Conceptions / Representations / Perceptions of the Tutor and/or Apprentice in EE, and Educational Programs and Projects, as their study themes. These data are important for mapping the academic research in this area of the country and for the elaboration of public policies regarding both the decentralization of Graduate Programs and specific policies dealing with processes of EE in Protected Areas. Keywords: Protected Areas, Research in Environmental Education, State of the Art.

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VII EPEA - Encontro Pesquisa em Educação Ambiental Rio Claro - SP, 07 a 10 de Julho de 2013

Realização: Unesp campus Rio Claro e campus Botucatu, USP Ribeirão Preto e UFSCar

1

Tendências das dissertações e teses sobre educação ambiental em áreas

protegidas no Brasil

Carolina Mandarini Dias Doutoranda do Programa de Pós-Graduação Multiunidades em Ensino de Ciências e Matemática –

PECIM – UNICAMP. Faculdade de Educação Universidade Estadual de Campinas – Unicamp.

[email protected]

Jorge Megid Neto Professor do Depto. de Ensino e Práticas Culturais. Faculdade de Educação

Universidade Estadual de Campinas – Unicamp.

[email protected]

Resumo:

Considerando o contexto das pesquisas acadêmicas sobre Educação Ambiental (EA) em

Áreas Protegidas realizou-se uma pesquisa bibliográfica por meio da análise das

informações institucionais e dos resumos das dissertações e teses produzidas sobre a

temática, a fim de se obter um panorama da produção acadêmica nesse campo

específico. Os resultados apontam para a predominância de dissertações de mestrado

acadêmico desenvolvidas principalmente nos anos 2000 em instituições públicas da

Região Sudeste. Também foi possível identificar que a maioria das pesquisas possui

como temas de estudo Concepções / Representações / Percepções do Formador e/ou

Aprendiz em EA, e Programas e Projetos Educacionais. Esses dados são importantes

para um mapeamento da pesquisa acadêmica nessa área no país e para a elaboração de

políticas públicas tanto no que concerne à descentralização de Programas de Pós-

Graduação quanto a políticas específicas que tratem de processos de EA em Áreas

Protegidas.

Palavras-Chave: Áreas Protegidas, Pesquisa em Educação Ambiental, Estado da Arte

Abstract:

Given the context of academic research on Environmental Education (EE) in Protected

Areas, a bibliographical study was performed by analyzing institutional information and

summaries of dissertations and thesis produced on the subject. The aim is to obtain an

overview of the academic production in that specific field. The results point to the

predominance of academic master dissertations especially during the 2000s in public

institutions from the Brazilian Southeastern Region. It was also possible to identify that

most researches have Conceptions / Representations / Perceptions of the Tutor and/or

Apprentice in EE, and Educational Programs and Projects, as their study themes. These

data are important for mapping the academic research in this area of the country and for

the elaboration of public policies regarding both the decentralization of Graduate

Programs and specific policies dealing with processes of EE in Protected Areas.

Keywords: Protected Areas, Research in Environmental Education, State of the Art.

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Introdução

As Áreas Protegidas são áreas naturais demarcadas, criadas com o intuito de

proteger e conservar a fauna e a flora do local e de propiciar um manejo adequado de

espécies pertencentes a determinado ecossistema. No Brasil, elas começaram a se

constituir na década de 1930 tendo como ideal o pensamento conservacionista,

acentuado pelo conceito de wilderness, originado na América do Norte no século XIX.

Atualmente, estimamos que o Brasil possua mais de 1770 Áreas Protegidas abrangendo

aproximadamente um quinto do território nacional.

As principais políticas públicas que regulamentam essas áreas no Brasil são o

Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), promulgado por

meio da lei 9.985 de 18 de julho de 2000, o Plano Nacional Estratégico para Áreas

Protegidas (PNAP), de 2006 e a Estratégia Nacional de Comunicação e Educação

Ambiental no Âmbito do Sistema Nacional e Unidades de Conservação (ENCEA), que

teve início a partir de um diagnóstico das ações de Comunicação e Educação Ambiental

nas Unidades de Conservação brasileiras, elaborado a partir da devolutiva a dois

questionários respondidos principalmente pelos gestores das respectivas áreas. O

diagnóstico em questão revelou algumas das fragilidades e potencialidades postas em

curso no Brasil e, em seguida, a ENCEA propôs “caminhos para superação das

dificuldades e sistematização e difusão dos êxitos, gerando conhecimento a ser

aproveitado para a gestão das UCs” (BRASIL, 2010).

A partir do SNUC, as diversas tipologias e categorias de Áreas Protegidas

foram normatizadas e classificadas em dois grandes grupos: as Unidades de

Conservação de Proteção Integral e as de Uso Sustentável1. As Unidades de Proteção

Integral têm como objetivo assegurar a integridade dos ecossistemas ali existentes e de

proteger a flora e fauna, bem como sua utilização para objetivos educacionais e

científicos. Já as Unidades de Uso Sustentável têm como objetivo básico o uso múltiplo

e sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em métodos para

exploração sustentável de florestas nativas, além de admitir a permanência de

populações tradicionais que habitam a região quando de sua criação.

As Unidades de Conservação de Proteção Integral compõem cinco categorias de

manejo: Estação Ecológica, Reserva Biológica, Parque, Monumento Natural e Refúgio

da Vida Silvestre. Já as Unidades de Conservação de Uso Sustentável possuem sete

categorias de manejo: Área de Proteção Ambiental, Área de Relevante Interesse

Ecológico, Floresta, Reserva Extrativista, Reserva de Fauna, Reserva de

Desenvolvimento Sustentável e Reserva Particular do Patrimônio Natural (MACHADO,

2006).

Após a aprovação da lei que estabelece o SNUC, um dos objetivos das Unidades

de Conservação é o de promover condições para a realização de atividades de Educação

Ambiental, sendo que cada área deve seguir as diretrizes previstas no seu Plano de

Manejo2. Dentro dos Planos de Manejo, a Educação Ambiental se coloca normalmente

1 Cabe salientar que as Áreas de Proteção Permanente (APP), as Reservas Legais (RL), as Reservas da

Biosfera (RB) e as Terras Indígenas são Áreas Protegidas, mas como não estão incluídas no SNUC não

podem receber a terminologia de Unidade de Conservação. 2 Os Planos de Manejo são documentos técnicos que contêm as normas que devem presidir o uso e o

manejo dos recursos naturais das Unidades de Conservação. Estes documentos se tornaram obrigatórios a

todas as Unidades de Conservação após o ano de 2000. Sua elaboração é feita por meio de estudos

técnicos e oficinas com diversos segmentos da sociedade na qual a área está inserida.

3

como um subprograma do Programa de Uso Público das Unidades de Conservação e,

em alguns Planos, os principais objetivos presentes nos trabalhos de Educação

Ambiental estão relacionados à sensibilização e tentativa de promover um envolvimento

da comunidade com a Unidade de Conservação e a valorização e conservação destas

Áreas (DIAS, 2008).

No que diz respeito às pesquisas sobre Educação Ambiental em Áreas

Protegidas, na segunda metade do século XX, particularmente a partir das décadas de

1970 e 1980, houve um grande aumento do número dessas Áreas no Brasil, num

momento histórico em que a Educação Ambiental se consolidava enquanto campo de

pesquisa acadêmica.

É possível que este seja um dos motivos que incentivou pesquisadores e

funcionários públicos estaduais de Instituições de Pesquisa responsáveis pela gestão de

Áreas Protegidas a realizar trabalhos educativos nesses locais. Como exemplo, citamos

as publicações de Dias et al. (1986) e de Valentino et al. (1982). Em tais trabalhos, as

ações educativas se restringiram à visitação de trilhas interpretativas e ao

reconhecimento de espécies animais e vegetais presentes no ecossistema da Área

Protegida, além de procurar explicar a importância da preservação dos ecossistemas

naturais para a manutenção da vida na Terra.

Atualmente existe um grande número de pesquisas acadêmicas desenvolvidas

sob a forma de teses e dissertações que versam sobre Educação Ambiental em Áreas

Protegidas. No entanto, não encontramos na literatura específica nenhum trabalho que

buscasse categorizar e sistematizar as dissertações e teses que trabalhem

especificamente com essas áreas.

Sendo assim, no âmbito dos estudos do tipo de estado da arte, este trabalho

busca mapear, descrever e analisar as principais tendências do conjunto de dissertações

e teses brasileiras que trabalharam com Educação Ambiental em Áreas Protegidas. O

texto aqui apresentado é parte de uma tese de doutorado em andamento, em que

analisaremos, mais especificamente, as pesquisas que estudaram e/ou desenvolveram

práticas pedagógicas ou algum tipo de ação educativa nas Áreas Protegidas.

Todo esse estudo integra, por sua vez, um projeto interinstitucional mais

amplo, envolvendo grupos de pesquisa da UNICAMP, UNESP – Rio Claro e USP –

Ribeirão Preto, denominado “A Educação Ambiental no Brasil: Análise da Produção

Acadêmica (Dissertações e Teses)” – EArte. O projeto EArte vem sendo realizado com

essa conformação interinstitucional desde março de 2008, envolvendo 14 pesquisadores

doutores e cerca de 30 alunos de mestrado, doutorado ou iniciação científica. O projeto

teve uma fase inicial desenvolvida entre 2006 e 2008, coordenada pelos Profs. Hilário

Fracalanza e Ivan Amorosino do Amaral (UNICAMP) e envolvia pesquisadores da

Faculdade de Educação da UNICAMP3. Posteriormente, integraram-se pesquisadores

da UNESP, USP e UFSCar e passou-se ao desenvolvimento da 2ª fase do projeto. Entre

março de 2009 a dezembro de 2012, o projeto teve a coordenação dos Profs. Luiz

Marcelo de Carvalho (UNESP) e Jorge Megid Neto (UNICAMP)4. Os objetivos do

projeto EArte são: recuperar os documentos que constituem a produção acadêmica e

científica sobre Educação Ambiental (EA) no Brasil; organizar o acervo dos

documentos referenciados (dissertações e teses); classificar estes documentos conforme

3 Edital MCT/CNPq Ciências Sociais e Humanas 61/2005, processo n

o 401289/2006-0.

4 Edital MCT/CNPq Universal 14/2010, processo n

o480328/2010-2. Atualmente o projeto EArte adentra

na 3a Fase, também financiada pelo CNPq e que se estenderá até meados de 2015.

4

descritores apropriados; identificar algumas das lacunas existentes na produção

acadêmica e científica, as quais permitirão o incentivo à produção de novos estudos;

divulgar as informações obtidas mediante o emprego de diferentes mídias; descrever e

analisar os documentos obtidos produzindo estudos do tipo “estado da arte” conforme

focos de interesse; e, por fim, colaborar com a definição de políticas públicas sobre EA

e sobre pesquisa nesta área no país (CARVALHO et al., 2009).

Para a pesquisa relatada no presente texto, buscamos identificar a produção

acadêmica brasileira em nível de pós-graduação e referente à Educação Ambiental em

Áreas Protegidas desde 1981, ano da publicação da primeira dissertação de mestrado em

Educação Ambiental (MEGID NETO, 2009), até 2009, ano limite do levantamento de

dados da 2ª fase do EArte. Para tanto, a busca foi feita a partir da leitura das

informações institucionais e dos resumos das dissertações e teses presentes no catálogo

do Projeto EArte (CARVALHO et al., 2012). Em seguida, procuramos descrever os

trabalhos de acordo com a sua distribuição geográfica, data de publicação, grau de

titulação e dependência administrativa da instituição de origem, bem como buscamos

identificar os principais temas de estudo presentes nessas pesquisas. Por fim,

procuramos relacionar os dados acima mencionados com a quantidade e distribuição das

Áreas Protegidas nas regiões brasileiras.

Distribuição regional da produção acadêmica sobre Educação Ambiental em Áreas

Protegidas no Brasil

Após a leitura dos 2150 resumos de teses e dissertações presentes no Catálogo

do Projeto EArte, identificamos 181 trabalhos que envolvem processos de Educação

Ambiental em Áreas Protegidas. Desses trabalhos, 7,8% são de instituições da Região

Norte, 11,5% de instituições da Região Nordeste, 14,4% da região Centro-Oeste, 18,8%

da Região Sul e 47,5% dos trabalhos foram desenvolvidos em instituições da Região

Sudeste (Tabela 1). É interessante ressaltar que há uma grande variação da produção

acadêmica entre os estados da federação. Os Estados de Rondônia, Roraima, Amapá,

Alagoas, Ceará e Maranhão não possuem nenhuma dissertação ou tese desenvolvida

sobre a temática, enquanto o Estado de São Paulo possui 32,6% da produção acadêmica

nacional sobre Educação Ambiental em Áreas Protegidas, com 59 trabalhos entre

dissertações e teses.

Tabela 1: Distribuição da produção acadêmica brasileira sobre Educação Ambiental em

Áreas Protegidas.

Região Produção (Dissertações e

Teses)

Norte 14

Nordeste 21

Centro-Oeste 26

Sul 34

Sudeste 86

Total 181

Fonte: Dados retirados do Catálogo do Projeto EArte (CARVALHO et al., 2012).

5

Essa grande diferença regional no que concerne à pesquisa acadêmica brasileira

sobre Educação Ambiental também foi observada em outras pesquisas que versam sobre

a temática, como a de Rink (2009) ao estudar as tendências dos trabalhos apresentadas

nos Encontros de Pesquisa em Educação Ambiental (EPEA), ou em estudos similares

relativos a outras áreas como, por exemplo, Educação em Ciências (MEGID NETO,

2007) ou Ensino de Biologia (TEIXEIRA, 2008).

Ao consultar o banco de dados da CAPES, verificamos que a distribuição dos

programas de Pós-Graduação é desigual entre as regiões do Brasil com a região Sudeste

abrangendo quase metade dos programas brasileiros. De acordo com as informações

presentes no banco de dados da CAPES (Ano Base 2011), os programas de Pós-

Graduação se encontram distribuídos como evidenciados na Tabela 2.

Tabela 2: Distribuição dos Programas de Pós Graduação no Brasil por Regiões.

Região Programas de

Pós Graduação

Porcentagem (%)

Norte 148 4,8%

Nordeste 603 19,5%

Centro-Oeste 237 7,6%

Sul 634 20,5%

Sudeste 1474 47,6%

Total 3096 100%

Fonte: www.capes.gov.br (acesso em 11/03/2013)

Ao comparar as porcentagens das dissertações e teses produzidas por região

brasileira com a distribuição dos programas de Pós-Graduação percebemos que há

correspondência muito forte no que concerne à produção das regiões Sudeste, Sul e

Norte. Já nas outras regiões tal proximidade não foi percebida, pois no Nordeste

encontram-se 19,5% dos Programas de Pós-Graduação e 11,5% dos trabalhos sobre

Educação Ambiental em Áreas Protegidas. Na região Centro-Oeste observamos o

contrário: 14,4% dos trabalhos sobre a temática estudada foram feitos em instituições

dessa região, a qual possui somente 7,6% do total de programas de Pós-Graduação no

Brasil. Provavelmente esse fato é devido à existência de um maior número de grupos de

pesquisa sobre Educação Ambiental no Centro-Oeste comparado com a região

Nordeste.

No que diz respeito ao número de Áreas Protegidas no Brasil e sua distribuição

por regiões, temos até o presente momento os dados referentes às Unidades de

Conservação5, que estão disponíveis no Cadastro Nacional de Unidades de

Conservação6. De acordo com o cadastro, existem no Brasil 1762 Unidades de

Conservação, que abrangem aproximadamente 18% do território nacional. Ainda a

partir dos dados disponíveis no site do Ministério do Meio Ambiente, podemos verificar

que a Região Sudeste é a que apresenta o maior número de Áreas no país com 38,7% do

total de Unidades de Conservação, seguida pelas regiões Nordeste (21,4%), Norte

(17%), Centro-Oeste (12,7%) e Sul (12,5%) respectivamente. Esses dados se referem

5 Os dados apresentados são referentes apenas às Unidades de Conservação e não à totalidade das Áreas

Protegidas no Brasil. 6 www.mma.gov.br/cadastro_uc, acesso em 11/03/2013.

6

apenas ao número de áreas existentes e não às suas respectivas extensões territoriais.

Não encontramos dados exatos sobre a extensão territorial ocupada pelas Unidades de

Conservação em cada região brasileira, mas acreditamos que, apesar de haver um menor

número de Unidades de Conservação na Região Norte comparativamente às regiões

Sudeste e Nordeste, as mesmas devam abranger maior área, uma vez que o bioma

amazônico, característico da Região Norte do Brasil, ocupa 73,2% do total da extensão

territorial das Unidades de Conservação brasileiras, ainda de acordo com os dados do

Cadastro Nacional de Unidades de Conservação.

Assim, percebemos que no que diz respeito à região Sudeste há uma correlação

entre o número de Áreas Protegidas, Programas de Pós-Graduação e dissertações e teses

defendidas, fato que não pode ser percebido se levarmos em consideração a extensão

territorial ocupada pelas Áreas Protegidas e a produção acadêmica em cada região

brasileira.

Caracterização da produção acadêmica sobre Educação Ambiental em Áreas

Protegidas

A Educação Ambiental enquanto campo de pesquisa vem se desenvolvendo

fortemente desde a década de 1980 no Brasil. Segundo Reigota (2007) e Megid Neto

(2009), as primeiras pesquisas acadêmicas em Educação Ambiental, em nível de Pós-

Graduação, foram concluídas na década de 1980, sendo a primeira dissertação de

mestrado defendida em 1981 e a primeira tese de doutorado em 1989. O

desenvolvimento da Educação Ambiental como campo de pesquisa acadêmica e o

crescimento da produção de dissertações e teses sobre este tema no Brasil ocorreu,

portanto, nas últimas três décadas, vindo a se consolidar mais recentemente, devido ao

aporte dessa produção, à existência de veículos de divulgação científica dessa produção

e eventos de amplitude nacional direcionados à divulgação e intercâmbio de

experiências de investigação (MEGID NETO, 2009; CACHAPUZ et al., 2005).

O primeiro programa de pós-graduação stricto-sensu na área foi o Mestrado em

Educação Ambiental da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio Grande do

Sul, criado em 1994. Esta instituição acadêmica também criou o primeiro programa de

Doutorado em Educação Ambiental no ano de 2006. Além da FURG, outras

universidades possuem programas específicos de pós-graduação na área. Porém,

dissertações e teses que versam sobre o tema também são produzidas em programas de

outras áreas como, por exemplo, Educação (MEGID NETO, 2009).

Os eventos acadêmicos relativos à Educação Ambiental também contribuem

para a consolidação desse campo de pesquisa. Um dos eventos mais representativos da

produção acadêmica na área é o Encontro de Pesquisa em Educação Ambiental (EPEA),

evento bienal idealizado por pesquisadores da UNESP – Rio Claro, USP – Ribeirão

Preto e UFSCar – São Carlos e que teve a sua primeira edição em 2001.

Também é importante considerar que outros eventos acadêmicos de relevância

nacional possuem Grupos de Trabalhos (GT) específicos para discutir a pesquisa em

Educação Ambiental. Um desses eventos é a reunião da Associação Nacional de Pós-

Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade – ANPPAS, que possui desde o seu

primeiro encontro, em 2002, um GT específico para discutir questões relativas à

temática, denominado GT Sociedade, Ambiente e Educação. Outro evento é a Reunião

Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação – ANPEd,

7

no qual as discussões relativas à Educação Ambiental começaram com a criação do

Grupo de Estudo (GE) em 2003. A partir de 2005, o GE de Educação Ambiental foi

transformado em Grupo de Trabalho de Educação Ambiental, permanecendo nessa

configuração nas reuniões posteriores.

No que diz respeito à pesquisa acadêmica sobre Educação Ambiental em Áreas

Protegidas, a primeira dissertação de mestrado defendida data de 1988 e a primeira tese

de doutorado, de 1995. A partir da Tabela 3 é possível observar que aproximadamente

90% da produção acadêmica sobre a temática estudada foi desenvolvida entre os anos

2000 e 2009.

Tabela 3: Dissertações e teses sobre Educação Ambiental em Áreas Protegidas defendidas

de 1981 a 2009.

1981-1989 1990-1999 2000-2009 Total

Mestrado

Profissional

- - 8 8

Mestrado

Acadêmico

1 16 130 147

Doutorado 0 1 25 26

Fonte: Dados retirados do Catálogo do Projeto EArte (CARVALHO et al., 2012).

Acreditamos que tal fato ocorreu primeiramente devido ao próprio

crescimento quantitativo da produção acadêmica em Educação Ambiental, como citado

anteriormente. Outro fator que pode ter aumentado o interesse em se trabalhar com a

temática foram as políticas públicas sobre Áreas Protegidas elaboradas principalmente

nos anos 2000 e que adotam, enquanto um dos papéis dessas Áreas, possibilitar ações

de Educação Ambiental, tanto no âmbito da educação formal quanto no da educação

não-formal. Citamos como exemplos o SNUC (2000), o PNAP (2006) e a ENCEA

(2010).

Devido a esses fatores, entre outros, acreditamos que o número de teses e

dissertações sobre Educação Ambiental em Áreas Protegidas tende a aumentar nos

próximos anos.

No que diz respeito à dependência administrativa das Instituições onde foram

defendidas as pesquisas sobre a temática estudada, verificamos a predominância de

instituições públicas sobre as instituições particulares. Dentre os trabalhos

desenvolvidos em instituições públicas destacam-se, nas Regiões Norte, Nordeste,

Centro-Oeste e Sul as instituições federais. A Região Sudeste é a única que possui um

maior número de dissertações e teses desenvolvidas e defendidas em instituições

públicas estaduais, bem como apenas na Região Sul há a presença de trabalhos

desenvolvidos em instituições municipais de Ensino Superior, como pode ser observado

na Tabela 4.

8

Tabela 4: Produção acadêmica sobre Educação Ambiental em Áreas Protegidas por

dependência administrativa da Instituição.

Região

Norte

Região

Nordeste

Região

Centro-Oeste

Região

Sudeste

Região

Sul

Federal 100% 62% 66,7% 31,4% 67,6%

Estadual 0 33,3% 3,7% 47,7% 14,7%

Municipal 0 0 0 0 3%

Particular 0 4,7% 29,6% 20,9% 14,7%

Fonte: Dados retirados do Catálogo do Projeto EArte (CARVALHO et al., 2012).

Temas de Estudo presentes nas dissertações e teses sobre Educação Ambiental em

Áreas Protegidas

Para buscar identificar os principais temas de estudo presentes nas dissertações e

teses que trabalham com Educação Ambiental em Áreas Protegidas, procuramos utilizar

a mesma categorização feita no Projeto EArte, com alguns ajustes devido a

particularidades do trabalho em Áreas Protegidas. Os temas de estudo do Projeto EArte

e os utilizados para a elaboração desse trabalho estão descritos na Tabela 5.

No que se refere à produção acadêmica sobre Educação Ambiental em Áreas

Protegidas percebe-se a predominância de trabalhos que têm como temas de estudos

Concepções / Percepções / Representações do Aprendiz e/ou Formador em Educação

Ambiental e Programas e Projetos Educacionais. Esses dois temas abrangem 58,5% das

dissertações e teses sobre a temática de interesse do presente estudo. Os demais temas

estão presentes em menor porcentagem, variando entre 2% a 11% de freqüência

aproximadamente.

Os resultados encontrados durante essa análise, se comparados com outros

trabalhos que procuraram estudar os temas de investigação de pesquisas acadêmicas em

Educação Ambiental, apresentam semelhanças e algumas particularidades.

De acordo com os estudos de Reigota (2007), Lorenzetti e Delizoicov (2009) e

Megid Neto (2009), no que se refere aos principais temas de investigação de pesquisas

acadêmicas em Educação Ambiental, há uma maior freqüência de estudos que

trabalham com o levantamento de concepções / representações / percepções de

professores, agentes educadores ambientais, estudantes e público em geral. Tal fato

também se mostrou comum quando se analisam os temas de estudo de trabalhos sobre

Educação Ambiental em Áreas Protegidas, já que os trabalhos sobre Concepções /

Representações / Percepções do Aprendiz e/ou Formador em Educação Ambiental

representaram 34,2% da totalidade das dissertações e teses que tiveram seus resumos

por nós analisados.

No entanto, os estudos citados acima também afirmam que, em seguida,

predominam as pesquisas que tenham como foco principal métodos e estratégias de

ensino, formação inicial ou continuada de professores ou agentes ambientais, e estudos

sobre formação e desenvolvimento de conceitos relativos à Educação Ambiental.

No caso da produção acadêmica sobre Educação Ambiental em Áreas

Protegidas, essa tendência não pode ser observada, uma vez que seguidos dos estudos

de Concepções / Representações / Percepções, os mais freqüentes foram os de

Programas e Projetos Educacionais (24,3%), sendo que os trabalhos que investigaram

9

Métodos e Estratégias de Ensino e Trabalho e Formação de Professores / Agentes

tiveram freqüência de 11,6% e 4,4% respectivamente, e os de Formação de Conceitos

relativos à Educação Ambiental sequer foram encontrados.

Tabela 5: Temas de Estudo das teses e dissertações sobre Educação Ambiental em Áreas

Protegidas.

Nomenclatura dos

Temas de Estudo

utilizados no Projeto

EArte (*)

Nomenclatura dos

Temas de Estudo

adaptada para as

pesquisas em Áreas

Protegidas

Número de Teses e

Dissertações em cada

Tema de Estudo sobre

Áreas Protegidas

Porcentagem

(%)

Currículos, Programas e

Projetos

Programas e Projetos

Educacionais

44 24,3%

Conteúdo e Métodos Métodos e Estratégias de

Ensino

21 11,6%

Concepções /

Representações /

Percepções do formador

em EA

Concepções /

Representações /

Percepções do formador

e/ ou do aprendiz em EA

62 34,2%

Concepções /

Representações /

Percepções do aprendiz

em EA

Recursos Didáticos Recursos Didáticos 4 2,2%

Linguagens /

Comunicação / Cognição

Linguagens /

Comunicação / Cognição

5 2,8%

Políticas Públicas em EA Políticas Públicas em EA 6 3,3%

Organização da Instituição

Escolar

História e Organização

administrativo

educacional

7 3,9%

Organização não

Governamental

Organização

Governamental

Trabalho e Formação de

Professores / Agentes

Trabalho e Formação de

Professores / Agentes

8 4,4%

Movimentos Sociais /

Ambientalistas

Movimentos Sociais /

Ambientalistas

5 2,8%

Fundamentos em EA Fundamentos em EA 7 3,9%

Outros temas Outros temas7 1 0,5%

Teses e Dissertações que

não indicam temas de

estudo8

4 2,2%

Dúvidas9 7 3,9%

Total 181 100%

Fonte: Dados retirados do Catálogo do Projeto EArte (CARVALHO et al., 2012). (*): Nomenclatura retirada do Catálogo do Projeto EArte (CARVALHO et al., 2012).

7 Outros temas: trabalho classificado tendo como tema de estudo diagnóstico ambiental.

8 Trabalhos que até o presente momento não apresentam indicação de tema de estudo por parte dos

pesquisadores e alunos do Projeto EArte. 9 Trabalhos indicados como dúvidas pelos pesquisadores e alunos do projeto EArte. Esses trabalhos serão

analisados novamente.

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Em complemento, salientamos a necessidade de uma investigação mais

aprofundada sobre os referenciais teóricos, metodologias de pesquisa, concepções de

Educação e de Educação Ambiental em que se apoiam o conjunto de dissertações e

teses estudadas, bem como mais particularmente o estudo das práticas educativas

desenvolvidas nessas pesquisas sobre Educação Ambiental em Áreas Protegidas.

Considerações Finais

As Áreas Protegidas se colocam no centro de discussões estratégicas tanto no

que se refere à preservação e conservação de fauna, flora e ecossistemas brasileiros,

quanto na formulação de políticas públicas ambientais e educacionais. As formas de uso

e gestão participativa dessas Áreas são cada vez mais importantes para o entendimento

das relações e valores da sociedade em que vivemos.

Nesse sentido, percebemos a Educação Ambiental enquanto possibilidade de

compreendermos, entre outros aspectos, de que maneira o processo educativo pode

atuar em diversas dimensões dentre as especificidades que envolvem as Áreas

Protegidas. Colocamos como alguns exemplos a possibilidade de se realizarem

trabalhos acadêmicos sobre a compreensão e resolução de conflitos socioambientais, a

identificação de concepções sobre natureza, ambiente e sociedade, e a idealização,

proposição e avaliação de práticas pedagógicas a serem desenvolvidas com diversos

grupos, escolares e não-escolares, em Áreas Protegidas, entre outros.

Desse modo são muitas as possibilidades de se trabalhar com Educação

Ambiental em Áreas Protegidas e as pesquisas sob a forma de dissertações e teses se

colocam como um meio importante para a discussão acadêmica a respeito das diversas

abordagens científicas sobre o tema. Ao verificarmos um grande aumento da produção

acadêmica sobre essa temática, percebemos a necessidade de buscar compreender as

principais tendências dessas pesquisas.

Durante o desenvolvimento do trabalho, procuramos conhecer de quais regiões

brasileiras são essas pesquisas. Percebermos a polarização da produção acadêmica e dos

programas de Pós-Graduação no eixo Sul-Sudeste em detrimento às outras regiões do

Brasil, fato que nos causou preocupação já que as maiores extensões territoriais de

Áreas Protegidas existentes no Brasil se localizam na Região Norte, local onde há a

menor produção acadêmica nesse campo de estudo.

No que diz respeito aos temas de estudo mais freqüentes na produção

acadêmica sobre Educação Ambiental em Áreas Protegidas, gostaríamos de evidenciar a

grande quantidade de trabalhos que se propõem a discutir programas e projetos

educacionais no contexto das Áreas Protegidas. Como apontado, tal fato se coloca como

uma particularidade das pesquisas no campo, e uma análise mais aprofundada desses

dados podem evidenciar quais as características próprias do trabalho com práticas

pedagógicas em Áreas Protegidas.

Assim, finalizamos esse trabalho ressaltando a importância de estudos do tipo

estado da arte para a compreensão das características e evolução de um campo de

pesquisa em ascensão e em consolidação, como é o caso da Educação Ambiental. No

caso particular de trabalhos sobre Educação Ambiental em Áreas Protegidas

salientamos a relevância desses trabalhos para auxiliar não só no entendimento da

dinâmica desse campo específico, mas também para sinalizar quais caminhos podem ser

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seguidos no delineamento e efetivação de políticas públicas de Educação Ambiental em

Áreas Protegidas.

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