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VII EPEA - Encontro Pesquisa em Educação Ambiental Rio Claro - SP, 07 a 10 de Julho de 2013
Realização: Unesp campus Rio Claro e campus Botucatu, USP Ribeirão Preto e UFSCar
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Tendências das dissertações e teses sobre educação ambiental em áreas
protegidas no Brasil
Carolina Mandarini Dias Doutoranda do Programa de Pós-Graduação Multiunidades em Ensino de Ciências e Matemática –
PECIM – UNICAMP. Faculdade de Educação Universidade Estadual de Campinas – Unicamp.
Jorge Megid Neto Professor do Depto. de Ensino e Práticas Culturais. Faculdade de Educação
Universidade Estadual de Campinas – Unicamp.
Resumo:
Considerando o contexto das pesquisas acadêmicas sobre Educação Ambiental (EA) em
Áreas Protegidas realizou-se uma pesquisa bibliográfica por meio da análise das
informações institucionais e dos resumos das dissertações e teses produzidas sobre a
temática, a fim de se obter um panorama da produção acadêmica nesse campo
específico. Os resultados apontam para a predominância de dissertações de mestrado
acadêmico desenvolvidas principalmente nos anos 2000 em instituições públicas da
Região Sudeste. Também foi possível identificar que a maioria das pesquisas possui
como temas de estudo Concepções / Representações / Percepções do Formador e/ou
Aprendiz em EA, e Programas e Projetos Educacionais. Esses dados são importantes
para um mapeamento da pesquisa acadêmica nessa área no país e para a elaboração de
políticas públicas tanto no que concerne à descentralização de Programas de Pós-
Graduação quanto a políticas específicas que tratem de processos de EA em Áreas
Protegidas.
Palavras-Chave: Áreas Protegidas, Pesquisa em Educação Ambiental, Estado da Arte
Abstract:
Given the context of academic research on Environmental Education (EE) in Protected
Areas, a bibliographical study was performed by analyzing institutional information and
summaries of dissertations and thesis produced on the subject. The aim is to obtain an
overview of the academic production in that specific field. The results point to the
predominance of academic master dissertations especially during the 2000s in public
institutions from the Brazilian Southeastern Region. It was also possible to identify that
most researches have Conceptions / Representations / Perceptions of the Tutor and/or
Apprentice in EE, and Educational Programs and Projects, as their study themes. These
data are important for mapping the academic research in this area of the country and for
the elaboration of public policies regarding both the decentralization of Graduate
Programs and specific policies dealing with processes of EE in Protected Areas.
Keywords: Protected Areas, Research in Environmental Education, State of the Art.
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Introdução
As Áreas Protegidas são áreas naturais demarcadas, criadas com o intuito de
proteger e conservar a fauna e a flora do local e de propiciar um manejo adequado de
espécies pertencentes a determinado ecossistema. No Brasil, elas começaram a se
constituir na década de 1930 tendo como ideal o pensamento conservacionista,
acentuado pelo conceito de wilderness, originado na América do Norte no século XIX.
Atualmente, estimamos que o Brasil possua mais de 1770 Áreas Protegidas abrangendo
aproximadamente um quinto do território nacional.
As principais políticas públicas que regulamentam essas áreas no Brasil são o
Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), promulgado por
meio da lei 9.985 de 18 de julho de 2000, o Plano Nacional Estratégico para Áreas
Protegidas (PNAP), de 2006 e a Estratégia Nacional de Comunicação e Educação
Ambiental no Âmbito do Sistema Nacional e Unidades de Conservação (ENCEA), que
teve início a partir de um diagnóstico das ações de Comunicação e Educação Ambiental
nas Unidades de Conservação brasileiras, elaborado a partir da devolutiva a dois
questionários respondidos principalmente pelos gestores das respectivas áreas. O
diagnóstico em questão revelou algumas das fragilidades e potencialidades postas em
curso no Brasil e, em seguida, a ENCEA propôs “caminhos para superação das
dificuldades e sistematização e difusão dos êxitos, gerando conhecimento a ser
aproveitado para a gestão das UCs” (BRASIL, 2010).
A partir do SNUC, as diversas tipologias e categorias de Áreas Protegidas
foram normatizadas e classificadas em dois grandes grupos: as Unidades de
Conservação de Proteção Integral e as de Uso Sustentável1. As Unidades de Proteção
Integral têm como objetivo assegurar a integridade dos ecossistemas ali existentes e de
proteger a flora e fauna, bem como sua utilização para objetivos educacionais e
científicos. Já as Unidades de Uso Sustentável têm como objetivo básico o uso múltiplo
e sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em métodos para
exploração sustentável de florestas nativas, além de admitir a permanência de
populações tradicionais que habitam a região quando de sua criação.
As Unidades de Conservação de Proteção Integral compõem cinco categorias de
manejo: Estação Ecológica, Reserva Biológica, Parque, Monumento Natural e Refúgio
da Vida Silvestre. Já as Unidades de Conservação de Uso Sustentável possuem sete
categorias de manejo: Área de Proteção Ambiental, Área de Relevante Interesse
Ecológico, Floresta, Reserva Extrativista, Reserva de Fauna, Reserva de
Desenvolvimento Sustentável e Reserva Particular do Patrimônio Natural (MACHADO,
2006).
Após a aprovação da lei que estabelece o SNUC, um dos objetivos das Unidades
de Conservação é o de promover condições para a realização de atividades de Educação
Ambiental, sendo que cada área deve seguir as diretrizes previstas no seu Plano de
Manejo2. Dentro dos Planos de Manejo, a Educação Ambiental se coloca normalmente
1 Cabe salientar que as Áreas de Proteção Permanente (APP), as Reservas Legais (RL), as Reservas da
Biosfera (RB) e as Terras Indígenas são Áreas Protegidas, mas como não estão incluídas no SNUC não
podem receber a terminologia de Unidade de Conservação. 2 Os Planos de Manejo são documentos técnicos que contêm as normas que devem presidir o uso e o
manejo dos recursos naturais das Unidades de Conservação. Estes documentos se tornaram obrigatórios a
todas as Unidades de Conservação após o ano de 2000. Sua elaboração é feita por meio de estudos
técnicos e oficinas com diversos segmentos da sociedade na qual a área está inserida.
3
como um subprograma do Programa de Uso Público das Unidades de Conservação e,
em alguns Planos, os principais objetivos presentes nos trabalhos de Educação
Ambiental estão relacionados à sensibilização e tentativa de promover um envolvimento
da comunidade com a Unidade de Conservação e a valorização e conservação destas
Áreas (DIAS, 2008).
No que diz respeito às pesquisas sobre Educação Ambiental em Áreas
Protegidas, na segunda metade do século XX, particularmente a partir das décadas de
1970 e 1980, houve um grande aumento do número dessas Áreas no Brasil, num
momento histórico em que a Educação Ambiental se consolidava enquanto campo de
pesquisa acadêmica.
É possível que este seja um dos motivos que incentivou pesquisadores e
funcionários públicos estaduais de Instituições de Pesquisa responsáveis pela gestão de
Áreas Protegidas a realizar trabalhos educativos nesses locais. Como exemplo, citamos
as publicações de Dias et al. (1986) e de Valentino et al. (1982). Em tais trabalhos, as
ações educativas se restringiram à visitação de trilhas interpretativas e ao
reconhecimento de espécies animais e vegetais presentes no ecossistema da Área
Protegida, além de procurar explicar a importância da preservação dos ecossistemas
naturais para a manutenção da vida na Terra.
Atualmente existe um grande número de pesquisas acadêmicas desenvolvidas
sob a forma de teses e dissertações que versam sobre Educação Ambiental em Áreas
Protegidas. No entanto, não encontramos na literatura específica nenhum trabalho que
buscasse categorizar e sistematizar as dissertações e teses que trabalhem
especificamente com essas áreas.
Sendo assim, no âmbito dos estudos do tipo de estado da arte, este trabalho
busca mapear, descrever e analisar as principais tendências do conjunto de dissertações
e teses brasileiras que trabalharam com Educação Ambiental em Áreas Protegidas. O
texto aqui apresentado é parte de uma tese de doutorado em andamento, em que
analisaremos, mais especificamente, as pesquisas que estudaram e/ou desenvolveram
práticas pedagógicas ou algum tipo de ação educativa nas Áreas Protegidas.
Todo esse estudo integra, por sua vez, um projeto interinstitucional mais
amplo, envolvendo grupos de pesquisa da UNICAMP, UNESP – Rio Claro e USP –
Ribeirão Preto, denominado “A Educação Ambiental no Brasil: Análise da Produção
Acadêmica (Dissertações e Teses)” – EArte. O projeto EArte vem sendo realizado com
essa conformação interinstitucional desde março de 2008, envolvendo 14 pesquisadores
doutores e cerca de 30 alunos de mestrado, doutorado ou iniciação científica. O projeto
teve uma fase inicial desenvolvida entre 2006 e 2008, coordenada pelos Profs. Hilário
Fracalanza e Ivan Amorosino do Amaral (UNICAMP) e envolvia pesquisadores da
Faculdade de Educação da UNICAMP3. Posteriormente, integraram-se pesquisadores
da UNESP, USP e UFSCar e passou-se ao desenvolvimento da 2ª fase do projeto. Entre
março de 2009 a dezembro de 2012, o projeto teve a coordenação dos Profs. Luiz
Marcelo de Carvalho (UNESP) e Jorge Megid Neto (UNICAMP)4. Os objetivos do
projeto EArte são: recuperar os documentos que constituem a produção acadêmica e
científica sobre Educação Ambiental (EA) no Brasil; organizar o acervo dos
documentos referenciados (dissertações e teses); classificar estes documentos conforme
3 Edital MCT/CNPq Ciências Sociais e Humanas 61/2005, processo n
o 401289/2006-0.
4 Edital MCT/CNPq Universal 14/2010, processo n
o480328/2010-2. Atualmente o projeto EArte adentra
na 3a Fase, também financiada pelo CNPq e que se estenderá até meados de 2015.
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descritores apropriados; identificar algumas das lacunas existentes na produção
acadêmica e científica, as quais permitirão o incentivo à produção de novos estudos;
divulgar as informações obtidas mediante o emprego de diferentes mídias; descrever e
analisar os documentos obtidos produzindo estudos do tipo “estado da arte” conforme
focos de interesse; e, por fim, colaborar com a definição de políticas públicas sobre EA
e sobre pesquisa nesta área no país (CARVALHO et al., 2009).
Para a pesquisa relatada no presente texto, buscamos identificar a produção
acadêmica brasileira em nível de pós-graduação e referente à Educação Ambiental em
Áreas Protegidas desde 1981, ano da publicação da primeira dissertação de mestrado em
Educação Ambiental (MEGID NETO, 2009), até 2009, ano limite do levantamento de
dados da 2ª fase do EArte. Para tanto, a busca foi feita a partir da leitura das
informações institucionais e dos resumos das dissertações e teses presentes no catálogo
do Projeto EArte (CARVALHO et al., 2012). Em seguida, procuramos descrever os
trabalhos de acordo com a sua distribuição geográfica, data de publicação, grau de
titulação e dependência administrativa da instituição de origem, bem como buscamos
identificar os principais temas de estudo presentes nessas pesquisas. Por fim,
procuramos relacionar os dados acima mencionados com a quantidade e distribuição das
Áreas Protegidas nas regiões brasileiras.
Distribuição regional da produção acadêmica sobre Educação Ambiental em Áreas
Protegidas no Brasil
Após a leitura dos 2150 resumos de teses e dissertações presentes no Catálogo
do Projeto EArte, identificamos 181 trabalhos que envolvem processos de Educação
Ambiental em Áreas Protegidas. Desses trabalhos, 7,8% são de instituições da Região
Norte, 11,5% de instituições da Região Nordeste, 14,4% da região Centro-Oeste, 18,8%
da Região Sul e 47,5% dos trabalhos foram desenvolvidos em instituições da Região
Sudeste (Tabela 1). É interessante ressaltar que há uma grande variação da produção
acadêmica entre os estados da federação. Os Estados de Rondônia, Roraima, Amapá,
Alagoas, Ceará e Maranhão não possuem nenhuma dissertação ou tese desenvolvida
sobre a temática, enquanto o Estado de São Paulo possui 32,6% da produção acadêmica
nacional sobre Educação Ambiental em Áreas Protegidas, com 59 trabalhos entre
dissertações e teses.
Tabela 1: Distribuição da produção acadêmica brasileira sobre Educação Ambiental em
Áreas Protegidas.
Região Produção (Dissertações e
Teses)
Norte 14
Nordeste 21
Centro-Oeste 26
Sul 34
Sudeste 86
Total 181
Fonte: Dados retirados do Catálogo do Projeto EArte (CARVALHO et al., 2012).
5
Essa grande diferença regional no que concerne à pesquisa acadêmica brasileira
sobre Educação Ambiental também foi observada em outras pesquisas que versam sobre
a temática, como a de Rink (2009) ao estudar as tendências dos trabalhos apresentadas
nos Encontros de Pesquisa em Educação Ambiental (EPEA), ou em estudos similares
relativos a outras áreas como, por exemplo, Educação em Ciências (MEGID NETO,
2007) ou Ensino de Biologia (TEIXEIRA, 2008).
Ao consultar o banco de dados da CAPES, verificamos que a distribuição dos
programas de Pós-Graduação é desigual entre as regiões do Brasil com a região Sudeste
abrangendo quase metade dos programas brasileiros. De acordo com as informações
presentes no banco de dados da CAPES (Ano Base 2011), os programas de Pós-
Graduação se encontram distribuídos como evidenciados na Tabela 2.
Tabela 2: Distribuição dos Programas de Pós Graduação no Brasil por Regiões.
Região Programas de
Pós Graduação
Porcentagem (%)
Norte 148 4,8%
Nordeste 603 19,5%
Centro-Oeste 237 7,6%
Sul 634 20,5%
Sudeste 1474 47,6%
Total 3096 100%
Fonte: www.capes.gov.br (acesso em 11/03/2013)
Ao comparar as porcentagens das dissertações e teses produzidas por região
brasileira com a distribuição dos programas de Pós-Graduação percebemos que há
correspondência muito forte no que concerne à produção das regiões Sudeste, Sul e
Norte. Já nas outras regiões tal proximidade não foi percebida, pois no Nordeste
encontram-se 19,5% dos Programas de Pós-Graduação e 11,5% dos trabalhos sobre
Educação Ambiental em Áreas Protegidas. Na região Centro-Oeste observamos o
contrário: 14,4% dos trabalhos sobre a temática estudada foram feitos em instituições
dessa região, a qual possui somente 7,6% do total de programas de Pós-Graduação no
Brasil. Provavelmente esse fato é devido à existência de um maior número de grupos de
pesquisa sobre Educação Ambiental no Centro-Oeste comparado com a região
Nordeste.
No que diz respeito ao número de Áreas Protegidas no Brasil e sua distribuição
por regiões, temos até o presente momento os dados referentes às Unidades de
Conservação5, que estão disponíveis no Cadastro Nacional de Unidades de
Conservação6. De acordo com o cadastro, existem no Brasil 1762 Unidades de
Conservação, que abrangem aproximadamente 18% do território nacional. Ainda a
partir dos dados disponíveis no site do Ministério do Meio Ambiente, podemos verificar
que a Região Sudeste é a que apresenta o maior número de Áreas no país com 38,7% do
total de Unidades de Conservação, seguida pelas regiões Nordeste (21,4%), Norte
(17%), Centro-Oeste (12,7%) e Sul (12,5%) respectivamente. Esses dados se referem
5 Os dados apresentados são referentes apenas às Unidades de Conservação e não à totalidade das Áreas
Protegidas no Brasil. 6 www.mma.gov.br/cadastro_uc, acesso em 11/03/2013.
6
apenas ao número de áreas existentes e não às suas respectivas extensões territoriais.
Não encontramos dados exatos sobre a extensão territorial ocupada pelas Unidades de
Conservação em cada região brasileira, mas acreditamos que, apesar de haver um menor
número de Unidades de Conservação na Região Norte comparativamente às regiões
Sudeste e Nordeste, as mesmas devam abranger maior área, uma vez que o bioma
amazônico, característico da Região Norte do Brasil, ocupa 73,2% do total da extensão
territorial das Unidades de Conservação brasileiras, ainda de acordo com os dados do
Cadastro Nacional de Unidades de Conservação.
Assim, percebemos que no que diz respeito à região Sudeste há uma correlação
entre o número de Áreas Protegidas, Programas de Pós-Graduação e dissertações e teses
defendidas, fato que não pode ser percebido se levarmos em consideração a extensão
territorial ocupada pelas Áreas Protegidas e a produção acadêmica em cada região
brasileira.
Caracterização da produção acadêmica sobre Educação Ambiental em Áreas
Protegidas
A Educação Ambiental enquanto campo de pesquisa vem se desenvolvendo
fortemente desde a década de 1980 no Brasil. Segundo Reigota (2007) e Megid Neto
(2009), as primeiras pesquisas acadêmicas em Educação Ambiental, em nível de Pós-
Graduação, foram concluídas na década de 1980, sendo a primeira dissertação de
mestrado defendida em 1981 e a primeira tese de doutorado em 1989. O
desenvolvimento da Educação Ambiental como campo de pesquisa acadêmica e o
crescimento da produção de dissertações e teses sobre este tema no Brasil ocorreu,
portanto, nas últimas três décadas, vindo a se consolidar mais recentemente, devido ao
aporte dessa produção, à existência de veículos de divulgação científica dessa produção
e eventos de amplitude nacional direcionados à divulgação e intercâmbio de
experiências de investigação (MEGID NETO, 2009; CACHAPUZ et al., 2005).
O primeiro programa de pós-graduação stricto-sensu na área foi o Mestrado em
Educação Ambiental da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio Grande do
Sul, criado em 1994. Esta instituição acadêmica também criou o primeiro programa de
Doutorado em Educação Ambiental no ano de 2006. Além da FURG, outras
universidades possuem programas específicos de pós-graduação na área. Porém,
dissertações e teses que versam sobre o tema também são produzidas em programas de
outras áreas como, por exemplo, Educação (MEGID NETO, 2009).
Os eventos acadêmicos relativos à Educação Ambiental também contribuem
para a consolidação desse campo de pesquisa. Um dos eventos mais representativos da
produção acadêmica na área é o Encontro de Pesquisa em Educação Ambiental (EPEA),
evento bienal idealizado por pesquisadores da UNESP – Rio Claro, USP – Ribeirão
Preto e UFSCar – São Carlos e que teve a sua primeira edição em 2001.
Também é importante considerar que outros eventos acadêmicos de relevância
nacional possuem Grupos de Trabalhos (GT) específicos para discutir a pesquisa em
Educação Ambiental. Um desses eventos é a reunião da Associação Nacional de Pós-
Graduação e Pesquisa em Ambiente e Sociedade – ANPPAS, que possui desde o seu
primeiro encontro, em 2002, um GT específico para discutir questões relativas à
temática, denominado GT Sociedade, Ambiente e Educação. Outro evento é a Reunião
Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação – ANPEd,
7
no qual as discussões relativas à Educação Ambiental começaram com a criação do
Grupo de Estudo (GE) em 2003. A partir de 2005, o GE de Educação Ambiental foi
transformado em Grupo de Trabalho de Educação Ambiental, permanecendo nessa
configuração nas reuniões posteriores.
No que diz respeito à pesquisa acadêmica sobre Educação Ambiental em Áreas
Protegidas, a primeira dissertação de mestrado defendida data de 1988 e a primeira tese
de doutorado, de 1995. A partir da Tabela 3 é possível observar que aproximadamente
90% da produção acadêmica sobre a temática estudada foi desenvolvida entre os anos
2000 e 2009.
Tabela 3: Dissertações e teses sobre Educação Ambiental em Áreas Protegidas defendidas
de 1981 a 2009.
1981-1989 1990-1999 2000-2009 Total
Mestrado
Profissional
- - 8 8
Mestrado
Acadêmico
1 16 130 147
Doutorado 0 1 25 26
Fonte: Dados retirados do Catálogo do Projeto EArte (CARVALHO et al., 2012).
Acreditamos que tal fato ocorreu primeiramente devido ao próprio
crescimento quantitativo da produção acadêmica em Educação Ambiental, como citado
anteriormente. Outro fator que pode ter aumentado o interesse em se trabalhar com a
temática foram as políticas públicas sobre Áreas Protegidas elaboradas principalmente
nos anos 2000 e que adotam, enquanto um dos papéis dessas Áreas, possibilitar ações
de Educação Ambiental, tanto no âmbito da educação formal quanto no da educação
não-formal. Citamos como exemplos o SNUC (2000), o PNAP (2006) e a ENCEA
(2010).
Devido a esses fatores, entre outros, acreditamos que o número de teses e
dissertações sobre Educação Ambiental em Áreas Protegidas tende a aumentar nos
próximos anos.
No que diz respeito à dependência administrativa das Instituições onde foram
defendidas as pesquisas sobre a temática estudada, verificamos a predominância de
instituições públicas sobre as instituições particulares. Dentre os trabalhos
desenvolvidos em instituições públicas destacam-se, nas Regiões Norte, Nordeste,
Centro-Oeste e Sul as instituições federais. A Região Sudeste é a única que possui um
maior número de dissertações e teses desenvolvidas e defendidas em instituições
públicas estaduais, bem como apenas na Região Sul há a presença de trabalhos
desenvolvidos em instituições municipais de Ensino Superior, como pode ser observado
na Tabela 4.
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Tabela 4: Produção acadêmica sobre Educação Ambiental em Áreas Protegidas por
dependência administrativa da Instituição.
Região
Norte
Região
Nordeste
Região
Centro-Oeste
Região
Sudeste
Região
Sul
Federal 100% 62% 66,7% 31,4% 67,6%
Estadual 0 33,3% 3,7% 47,7% 14,7%
Municipal 0 0 0 0 3%
Particular 0 4,7% 29,6% 20,9% 14,7%
Fonte: Dados retirados do Catálogo do Projeto EArte (CARVALHO et al., 2012).
Temas de Estudo presentes nas dissertações e teses sobre Educação Ambiental em
Áreas Protegidas
Para buscar identificar os principais temas de estudo presentes nas dissertações e
teses que trabalham com Educação Ambiental em Áreas Protegidas, procuramos utilizar
a mesma categorização feita no Projeto EArte, com alguns ajustes devido a
particularidades do trabalho em Áreas Protegidas. Os temas de estudo do Projeto EArte
e os utilizados para a elaboração desse trabalho estão descritos na Tabela 5.
No que se refere à produção acadêmica sobre Educação Ambiental em Áreas
Protegidas percebe-se a predominância de trabalhos que têm como temas de estudos
Concepções / Percepções / Representações do Aprendiz e/ou Formador em Educação
Ambiental e Programas e Projetos Educacionais. Esses dois temas abrangem 58,5% das
dissertações e teses sobre a temática de interesse do presente estudo. Os demais temas
estão presentes em menor porcentagem, variando entre 2% a 11% de freqüência
aproximadamente.
Os resultados encontrados durante essa análise, se comparados com outros
trabalhos que procuraram estudar os temas de investigação de pesquisas acadêmicas em
Educação Ambiental, apresentam semelhanças e algumas particularidades.
De acordo com os estudos de Reigota (2007), Lorenzetti e Delizoicov (2009) e
Megid Neto (2009), no que se refere aos principais temas de investigação de pesquisas
acadêmicas em Educação Ambiental, há uma maior freqüência de estudos que
trabalham com o levantamento de concepções / representações / percepções de
professores, agentes educadores ambientais, estudantes e público em geral. Tal fato
também se mostrou comum quando se analisam os temas de estudo de trabalhos sobre
Educação Ambiental em Áreas Protegidas, já que os trabalhos sobre Concepções /
Representações / Percepções do Aprendiz e/ou Formador em Educação Ambiental
representaram 34,2% da totalidade das dissertações e teses que tiveram seus resumos
por nós analisados.
No entanto, os estudos citados acima também afirmam que, em seguida,
predominam as pesquisas que tenham como foco principal métodos e estratégias de
ensino, formação inicial ou continuada de professores ou agentes ambientais, e estudos
sobre formação e desenvolvimento de conceitos relativos à Educação Ambiental.
No caso da produção acadêmica sobre Educação Ambiental em Áreas
Protegidas, essa tendência não pode ser observada, uma vez que seguidos dos estudos
de Concepções / Representações / Percepções, os mais freqüentes foram os de
Programas e Projetos Educacionais (24,3%), sendo que os trabalhos que investigaram
9
Métodos e Estratégias de Ensino e Trabalho e Formação de Professores / Agentes
tiveram freqüência de 11,6% e 4,4% respectivamente, e os de Formação de Conceitos
relativos à Educação Ambiental sequer foram encontrados.
Tabela 5: Temas de Estudo das teses e dissertações sobre Educação Ambiental em Áreas
Protegidas.
Nomenclatura dos
Temas de Estudo
utilizados no Projeto
EArte (*)
Nomenclatura dos
Temas de Estudo
adaptada para as
pesquisas em Áreas
Protegidas
Número de Teses e
Dissertações em cada
Tema de Estudo sobre
Áreas Protegidas
Porcentagem
(%)
Currículos, Programas e
Projetos
Programas e Projetos
Educacionais
44 24,3%
Conteúdo e Métodos Métodos e Estratégias de
Ensino
21 11,6%
Concepções /
Representações /
Percepções do formador
em EA
Concepções /
Representações /
Percepções do formador
e/ ou do aprendiz em EA
62 34,2%
Concepções /
Representações /
Percepções do aprendiz
em EA
Recursos Didáticos Recursos Didáticos 4 2,2%
Linguagens /
Comunicação / Cognição
Linguagens /
Comunicação / Cognição
5 2,8%
Políticas Públicas em EA Políticas Públicas em EA 6 3,3%
Organização da Instituição
Escolar
História e Organização
administrativo
educacional
7 3,9%
Organização não
Governamental
Organização
Governamental
Trabalho e Formação de
Professores / Agentes
Trabalho e Formação de
Professores / Agentes
8 4,4%
Movimentos Sociais /
Ambientalistas
Movimentos Sociais /
Ambientalistas
5 2,8%
Fundamentos em EA Fundamentos em EA 7 3,9%
Outros temas Outros temas7 1 0,5%
Teses e Dissertações que
não indicam temas de
estudo8
4 2,2%
Dúvidas9 7 3,9%
Total 181 100%
Fonte: Dados retirados do Catálogo do Projeto EArte (CARVALHO et al., 2012). (*): Nomenclatura retirada do Catálogo do Projeto EArte (CARVALHO et al., 2012).
7 Outros temas: trabalho classificado tendo como tema de estudo diagnóstico ambiental.
8 Trabalhos que até o presente momento não apresentam indicação de tema de estudo por parte dos
pesquisadores e alunos do Projeto EArte. 9 Trabalhos indicados como dúvidas pelos pesquisadores e alunos do projeto EArte. Esses trabalhos serão
analisados novamente.
10
Em complemento, salientamos a necessidade de uma investigação mais
aprofundada sobre os referenciais teóricos, metodologias de pesquisa, concepções de
Educação e de Educação Ambiental em que se apoiam o conjunto de dissertações e
teses estudadas, bem como mais particularmente o estudo das práticas educativas
desenvolvidas nessas pesquisas sobre Educação Ambiental em Áreas Protegidas.
Considerações Finais
As Áreas Protegidas se colocam no centro de discussões estratégicas tanto no
que se refere à preservação e conservação de fauna, flora e ecossistemas brasileiros,
quanto na formulação de políticas públicas ambientais e educacionais. As formas de uso
e gestão participativa dessas Áreas são cada vez mais importantes para o entendimento
das relações e valores da sociedade em que vivemos.
Nesse sentido, percebemos a Educação Ambiental enquanto possibilidade de
compreendermos, entre outros aspectos, de que maneira o processo educativo pode
atuar em diversas dimensões dentre as especificidades que envolvem as Áreas
Protegidas. Colocamos como alguns exemplos a possibilidade de se realizarem
trabalhos acadêmicos sobre a compreensão e resolução de conflitos socioambientais, a
identificação de concepções sobre natureza, ambiente e sociedade, e a idealização,
proposição e avaliação de práticas pedagógicas a serem desenvolvidas com diversos
grupos, escolares e não-escolares, em Áreas Protegidas, entre outros.
Desse modo são muitas as possibilidades de se trabalhar com Educação
Ambiental em Áreas Protegidas e as pesquisas sob a forma de dissertações e teses se
colocam como um meio importante para a discussão acadêmica a respeito das diversas
abordagens científicas sobre o tema. Ao verificarmos um grande aumento da produção
acadêmica sobre essa temática, percebemos a necessidade de buscar compreender as
principais tendências dessas pesquisas.
Durante o desenvolvimento do trabalho, procuramos conhecer de quais regiões
brasileiras são essas pesquisas. Percebermos a polarização da produção acadêmica e dos
programas de Pós-Graduação no eixo Sul-Sudeste em detrimento às outras regiões do
Brasil, fato que nos causou preocupação já que as maiores extensões territoriais de
Áreas Protegidas existentes no Brasil se localizam na Região Norte, local onde há a
menor produção acadêmica nesse campo de estudo.
No que diz respeito aos temas de estudo mais freqüentes na produção
acadêmica sobre Educação Ambiental em Áreas Protegidas, gostaríamos de evidenciar a
grande quantidade de trabalhos que se propõem a discutir programas e projetos
educacionais no contexto das Áreas Protegidas. Como apontado, tal fato se coloca como
uma particularidade das pesquisas no campo, e uma análise mais aprofundada desses
dados podem evidenciar quais as características próprias do trabalho com práticas
pedagógicas em Áreas Protegidas.
Assim, finalizamos esse trabalho ressaltando a importância de estudos do tipo
estado da arte para a compreensão das características e evolução de um campo de
pesquisa em ascensão e em consolidação, como é o caso da Educação Ambiental. No
caso particular de trabalhos sobre Educação Ambiental em Áreas Protegidas
salientamos a relevância desses trabalhos para auxiliar não só no entendimento da
dinâmica desse campo específico, mas também para sinalizar quais caminhos podem ser
11
seguidos no delineamento e efetivação de políticas públicas de Educação Ambiental em
Áreas Protegidas.
Referências
BRASIL. Decreto no 5758, de 13 de abril de 2006. Plano Estratégico Nacional de
Áreas Protegidas (PNAP). Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Decreto/D5758.htm. Acesso
em 12/06/2012.
______. Estratégia Nacional de Comunicação e Educação Ambiental no âmbito do
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