Tempos difíceis (rev IV)

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Círculo do Graal PORTUGAL 2012 Alma Lusa TEMPOS DIFÍCEIS * OS FATORES DE DECADÊNCIA O luxo, o ceticismo, o cansaço e a superstição, são constantes. A civilização de uma época torna-se o esterco da próxima! Cyril Connolly

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Círculo do Graal

PORTUGAL

2012

Alma Lusa

TEMPOS DIFÍCEIS

* OS FATORES DE DECADÊNCIA

O luxo, o ceticismo, o cansaço e a superstição, são constantes. A civilização de uma época torna-se o esterco da próxima!

Cyril Connolly

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Tempos difíceis

De crise em crise a Humanidade evolui e faz História!

*

Artigos generalistas sobre o comportamento do homem face à crise

de valores da sociedade política, económica e espiritual.

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INDICE

Introdução ………………………………………………………… Pág 04

01 – Um homem chora .……………………………………………. Pág 05

02 – Crise; esperança! ………………………………………………. Pág 10

03 – As Flores da guerra …………………………………………… Pág 15

04 – Eras foram, Eras virão ………………………………………. Pág 19

05 – Esperança ……………….................................................. Pág 23

06 – O Homem está só? ………………………………………………. Pág 27

07 – De crise em crise ………………………………………………… Pág 29

08 – Tempos difíceis ………………………………………………….. Pág 32

09 – Espiritualidade e política ……………………………………… Pág 35

10 – Arrogância ………………………………………………………… Pág 38

11 – Relações interpessoais ………………………………………… Pág 41

12 – Natureza e consumo ……………………………………………. Pág 43

13 – Ecologia vs Sustentabilidade ……………………………….. Pág 45

14 – Mitologia …………………………………………………………… Pág 48

15 – Deuses ou Enteais? Mito ou realidade? ………………… Pág 51

16 – Religiões …………………………………………………………….. Pág 57

17 – Europa ……………………………………………………………….. Pág 60

Epílogo …………………………………………….……………........ Pág 64

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Introdução

Desde o alvorecer da humanidade que a busca se

intensifica na demanda profícua do homem, consigo e

com a sua espiritualidade.

Quem sou?

De onde venho?

Para onde vou?

Por quê?

Na nossa contemporaneidade temos um manancial de

informação vivencial histórica que pode e deve ser

utilizado para a construção de um mundo melhor, numa

sociedade mais equilibrada, isenta de maus pensamentos

e outros estados de alma, que não se sujeita à evolução do

indivíduo como tal.

A ligação com a sua espiritualidade, apesar das muitas

intolerâncias, crenças e descrenças, não foi cortada, e o

tempo se encarregará de consolidar a vontade e a lei do

Criador, naturalmente.

O homem está só neste trabalho de Sísifo? Estará?

Alma Lusa

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01

Um homem chora (*)

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade. Declaração dos direitos do homem

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“Deixai, ó vós que entrais, toda a esperança! - Dante”

m homem chora e grande é o seu sofrimento,

acontecimentos que ultrapassam as convenções sociais,

erguidas ao longo do tempo, marcando gerações em

gerações. A espiritualidade não se acomoda a convenções ou outros

estados de alma, de nível material e convenientes, mas tão só vibra

no sentido da lei.

Diz-se em voz corrente, expressão dos fortes, “ dos fracos não reza a

História”, é verdade, mas não reza no sentido individual, reza no

sentido coletivo, lembrando nos seus registos de memória

acontecimentos que recordados deveriam evitar a repetição (¹).

Apesar de tudo, e de estar bem documentada, a humanidade pouco

ou nada alterou o seu comportamento, que continua a orientar-se

pelos mais baixos instintos de espécie primária, adaptados a um

meio de sobrevivência selvática.

A História dos homens regista os grandes feitos individuais, lembra

os seus nomes, mesmo pelas piores razões; eles marcaram a sua

época e deixaram atrás de si um caminho cuja lembrança, muitos

querem esquecer e outros lembrar na ignomínia.

Perante tal cenário, choram as mulheres de Atenas e um homem

também chora.

* * *

“Mostrei-lhe a gente, que por má padece; mostrar-lhe intento os que ora estão purgando pecados no lugar que te obedece. - Dante”

Sobressai neste teatro negro, nomes que brilham e engrandecem a

perseverança e a misericórdia (²), cultivando valores que, adotados,

U

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fariam engrandecer o homem e o seu semelhante (³), numa

ascensão universal.

E onde os desafortunados e oprimidos labutam, sujeitos aos

caprichos dos mandadores sem lei, e a leis mais elevadas, brilham

crepúsculos cintilantes de indivíduos, que pela sua cultura altruísta,

constroem pontes que ligam a misericórdia ao auxílio prestimoso e

ao discernimento lúcido da verdadeira atuação pelo equilíbrio

necessário (⁴).

São atitudes refrescantes num meio desprovido da dignidade,

devida ao ser humano, estabelecido pela carta das Nações Unidas,

símbolo de uma sociedade que se deseja construída no valor e

respeito pelos direitos humanos. Escreve Abdruschin (⁵):

“Todos vós em conjunto dependeis da Terra. Cada qual tem aqui

direito de atuar e desenvolver-se. Não só direito, como também

sagrado dever! Não um em baixo do outro, mas um ao lado do

outro. Prestai atenção aos sons. Cada som é indizível, permanece

sozinho, não se deixa confundir. Somente no lugar certo, ao lado

de sons de tonalidades diferentes, resultará a harmonia, dando

melodia.”

O ser humano esqueceu-se de olhar para o lado, onde está o seu

próximo, e segue ufano no consolo dos direitos adquiridos, como se

tal fosse o único objetivo de sua vivência, oprimindo pela sua

atuação egoística povos inteiros e degradando relações levando-as à

exaustão da decadência e sofrimento:

“Aquele que estiver vivendo na riqueza ou mesmo em posição de

liderança, deve servir-se daquilo que experimentara na vida,

como advertência para que administre acertadamente tudo isso,

no sentido das leis divinas, a fim de que resulte em benefícios para

os seus semelhantes e não faça seguir mais uma vez o caminho em

declive, que forçosamente terá de ligá-lo à futura existência de

sofrimentos nesta Terra, mas sim o deve elevar pela gratidão

daqueles que, graças à sua atividade, puderam encontrar paz e

felicidade.” (⁵)

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* * *

“À glória de quem tudo, aos seus acenos, move, o mundo

penetra e resplandece, em umas partes mais em outra

menos. - Dante”

O homem deveria centrar a sua busca em dois valores intrínsecos:

Humanismo, no respeito pelos valores e dignidade do homem,

centro fulcral do universo e polinizador de mundos, capaz dos

maiores feitos de abnegação e suporte de sociedades equilibradas

no respeito pela diferença, “liberdade, Igualdade, Fraternidade”.

Amor ao próximo, regra básica e orientativa de convivência sã.

Inverter valores obsoletos e egoísticos que têm sido sustentáculo

das ações humanas e criar a mudança, mudança de atitude e

comportamento.

Conhecimento, a cultura alivia a carga do obscurantismo e auxilia o

homem a progredir material e espiritualmente, por experiência

vivencial, pesquisa e enquadramento do ser nas leis cósmicas, das

quais faz parte e está sujeito, para seu desenvolvimento e felicidade.

Uma sociedade é limpa se for culta, cívica, respeitadora da lei e

equitativa.

* * *

Consulta bibliográfica:

(*) Drama vivido no período da II Grande Guerra; perseguição das minorias. Realizador: Sally Potter, 2000. Filme. (¹) Abusos e barbaridades que não deveriam ser esquecidos tão depressa, mas que se devia fazer voltar à memória como advertência, sempre de novo… (Mensagem do Graal, dissertação Conceito humano e Vontade de Deus na lei da reciprocidade – Vol. II) (²) Mas a sabedoria que do Alto vem é, primeiramente, pura, depois, pacifica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia. Ora o fruto da justiça semeia-se na paz, para os que exercitam a paz. (Bíblia, Tiago:3, 17-18)

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(³) Ouvistes que foi dito: amarás o teu próximo e aborrecerás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo; Amai os vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; (Sermão da Montanha; Mateus: 5, 43, 44) (⁴) Por toda a parte a harmonia é a única coisa certa. E unicamente o caminho do meio proporciona harmonia em tudo. (Mensagem do Graal, Dissertação Aprendizado do ocultismo, alimentação de carne ou alimentação vegetal -Vol. II) (⁵) Autor da obra Na Luz da Verdade – Mensagem do Graal, editada por Ordem do Graal na Terra.

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02

Crise; esperança!

”Nem empregador nem os empregados têm culpa disso, nem o

capital nem a sua falta, nem a igreja nem o Estado, nem as

diferentes nações, mas tão-somente a sintonização errada das

pessoas, individualmente, fez com que tudo chegasse a tanto!”

Abdruschin

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Europa, democrática e solidária, geme sob os lamentos de

Ophelia, sufocados pelo grito indignado dos injustiçados,

tiranizados pelo jugo cego e egocêntrico de um liberalismo

económico, carrasco do espírito social, que construiu e uniu uma

Europa tirana e devastada, numa Europa moderna e social.

Com o tempo que muda, também muda a humana vontade,

alimentando valores ancestrais, nem sempre dignos, mas

repetindo-se num ciclo vicioso, em que a experiência serve para

aprimorar o que de mau foi feito para mau continuar.

Os sistemas mudam, a indigência espiritual e humana mantém-se,

e o ciclo da história repete-se, não nas mesmas ações, mas nos

efeitos.

Assim são os ciclos económicos e os sistemas que os sustentam,

erros do passado a repetirem-se numa espiral estratificada na

aspereza do comportamento humano, que a tudo corrói e conduz

para a destruição.

O homem é prisioneiro do sistema, organizado ao pormenor,

qualquer ato de liberdade está sujeito aos parâmetros da sua lei,

enredado no turbilhão do consumismo e dependência, gerador de

desperdício e angústia, em verdade, o homem vive infeliz. Quem é

dependente não é livre e a sociedade, através do sistema, criou essa

dependência, retirando ao indivíduo a dignidade do trabalho

participativo e criando o estatuto de trabalho automatizado,

esforçado e obediente, autómatos numa linha de produção

sistemática e repetitiva, descartável e numerada.

O olhar não contempla o horizonte na busca do sonho, mas sim o

vazio cinzento, nublado, num mar de incertezas e sem porto de

abrigo à vista. Quem não é verdadeiramente livre, não é feliz; mas

liberdade pressupõe responsabilidade e olhar altruísta para com o

outro, um sopro de espiritualidade e infinidade.

O legado da Europa ao mundo deveria aprimorar-se para benefício

e exemplo de uma humanidade sedenta de valores espirituais e

A

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civilizacionais; as eras que personificam o pensamento filosófico

mudam ao sabor da necessidade do conhecimento, da intrínseca

humanização do meio natural, na pacificação da ciência com a

espiritualidade, ciclos que catapultam o homem para o

cumprimento do seu destino.

O planeta reage aos flagelos que a raça humana lhe inflige, o avanço

urbano e demográfico, assinatura indelével de progresso, rodeado

de bairros indigentes, sufocam o espaço vital das espécies

autóctones, criando uma convivência perigosa para estes, já que o

predador humano progressista, senhor de recursos que o outro

animal não tem, sai sempre a ganhar, de vítima passa a assassino

num ápice.

A poluição, a pesca intensiva e selvagem, alimento para uma

indústria ávida de produto, desequilibra as espécies e cria

devastação nos oceanos e seus recursos marinhos.

Salvem os oceanos!

A necessidade de alimentar tantas bocas e o sistema, criaram uma

agricultura e pecuária, intensiva e reclamadora de espaço vital, de

uma indústria transformadora e tecnológica altamente eficiente,

tudo preparado para satisfazer os desejos de classes abastadas e

criar anseio nos desvalidos. Os novelos de fumo negro e tóxico são

expelidos para a atmosfera como símbolo da inteligência humana,

os altos edifícios apontam aos céus os seus dedos ameaçadores,

qual torre de Babel que no mundo antigo fez história, numa atitude

grotesca de vaidade e soberba.

Salvem o planeta!

A política não se comove e, em nome de valores democráticos, [os

antigos gregos surpreender-se-iam deste estado de coisas com o

nome democracia, que eles criaram, exatamente para que o

exercício da convivência pudesse ser mais equilibrado] zurzem

impostos e outras taxas para o contribuinte pagar os desvarios

orçamentais que eles, políticos, no passado criaram, por motivos

eleitoralistas, satisfação de clientelas, corrupção, oportunismos e

também incompetência. Nada de novo, pois já na república romana

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estes desvairados cresciam como cogumelos, venenosos e dignos de

cuidados.

Salvem a política!

“A origem de todo o mal provém da propriedade privada”¹, nem

tanto, mas também. A posse jaz ancorada na espiritualidade

humana, personifica o egoísmo, que devidamente equilibrado

torna-se fruto de desenvolvimento e progresso, sustentável numa

sociedade partilhada e humanista.

Não é o que se passa! O anseio pelo poder e o domínio sobre o seu

semelhante, leva ao desequilíbrio relacional criando eventos de

tensões que descambam, mais tarde ou mais cedo, em episódios

violentos e fraturantes criando épocas negras no livro do legado da

História.

“Liberdade, Igualdade, Fraternidade”², um anseio genuíno no

coração de muitos, conspurcado pelo sibilar da vingança e atos

menos próprios da dignidade humana, por outros. Um sopro

refrescante numa sociedade balofa e desumanizada, onde o

conceito de amor ao próximo se lia nos templos de maneira

metódica e sem alma, como mero exercício do dever e espirito de

resignação, mas arredado dos círculos nobres e burgueses, cujo

olhar se focava para dentro, onde a abundância se sentava à mesa

do rei.

“Considerando afinal que tudo, mas tudo mesmo, só fora erigido

sobre o dinheiro, sobre o poder e os valores terrenos, chegar-se-á

à conclusão de que a miséria atual nada tem de surpreendente e

que o atual desmoronamento está condicionado pelas próprias

leis da Criação!”³

“Nem só de pão vive o homem”⁴, mas numa sociedade equitativa,

em que o pão que alimenta o corpo é também o pão que alimenta a

alma. A persecução da espiritualidade é uma necessidade ancestral

do homem, desde o seu estado primitivo ao seu estado de

intelectualidade contemporânea.

A ciência não se desassocia dessa ligação e procura-a,

afincadamente, no seu pesquisar, e vão-se desenrolando os

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mistérios e o desconhecido, dando voz às leis naturais, como elo

unificador do universo, resplandecentes no seu atuar, “a formação

de todos os sistemas ordenados são contingência da vontade de

Deus”⁵, demanda cósmica absorvida pelo anseio do homem de

encontrar o caminho que o leva a entender a obra e a sua origem,

“se as outras estrelas são o centro de outros sistemas como o

nosso, tendo sido formados de acordo com o sábio conselho,

devem estar todos sujeitos ao domínio do Uno.”⁵.

O pensamento racional e lógico a fazer a ponte para a

espiritualidade, libertado de dogmas e conceitos religiosos que

danificaram a imagem do ser e o libertaram para uma nova época.

“Assim, pois, é incompleta a atividade de um cérebro, essa pedra

fundamental e instrumento da ciência; e essa limitação se faz

sentir logicamente também através das obras que constrói, isto é,

através de todas as ciências. Por conseguinte, a ciência é útil como

complemento, para uma compreensão melhor, para subdividir e

classificar tudo quanto ela recebe pronto da força criadora

precedente, tendo porém que malograr incondicionalmente, se

pretender se arrogar a guia ou crítica, enquanto se prender, como

até agora, tão firmemente ao raciocínio, isto é, à faculdade de

compreensão do cérebro.”³

Numa sociedade altamente complexa, dinamizada e gerida pelo

comportamento humano, a mudança nunca se fará de livre

vontade, algures, o ciclo vicioso [ação, culpa, remissão] deverá ser

quebrado e o equilíbrio restabelecido; enquanto a chama da

fogueira se mantiver acesa, o homem anseia, o homem sonha.

Senhor, falta cumprir-se a hora.

Perseguir o sonho no horizonte não é loucura, é caminhar pela

eternidade!

¹ Jean-Jacques Rousseau

² Revolução francesa

³ Abdruschin

⁴ Jesus

⁵ Isaac Newton

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03

As flores da guerra *

Eis que o semeador saiu a semear.

E, quando semeava, uma parte da semente caiu ao pé do caminho,

e vieram as aves, e comeram-na; e outra parte caiu em pedregais,

onde não havia terra bastante, e logo nasceu, porque não tinha

terra funda; mas, vindo o sol, queimou-se, e secou-se, porque não

tinha raiz.

E outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram, e sufocaram-

na.

E outra caiu em boa terra, e deu fruto: um a cem, outro a sessenta,

e outro a trinta.

Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.

Jesus

(Mateus 13, 3-9)

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s valores humanos não se medem pelas ações e

comportamento de uma vida¹. Pessoas frívolas e com baixo

índice de cultura cívica podem dar exemplos de abnegação

e amor ao próximo, que muitos que praticam os bons costumes e se

impõem regras de conduta não seriam capazes em tempos de

guerra e outras calamidades, teatros humanos onde se despem os

preconceitos e outros artifícios comportamentais; a nu está o ser

humano diante da realidade efetiva!

O comportamento humano é imprevisível e, por consequência,

insondável, ele contém o fruto do universo, a espiritualidade, que

germina nos campos da materialidade por onde peregrina², com

seus afetos, criadores de emoções e sentimentos, conflitualidades

inerentes ao desempenho do livre-arbítrio, misto de progresso e

evolução na boa vontade, tão só, assim deveria ser!³.

A história tem exemplos aterradores de genocídios que mancharam

a mácula da espiritualidade humana [e não são poucos], relegaram

o homem para o nível mais baixo da Criação e viceja em campo

escuro, alimentando cada vez mais esse ensejo.

Nem só de pão vive o homem, mas também do alimento para a

alma que o lançará para fora do lodaçal onde se envolveu, tão logo

seja capaz de se livrar dos muitos liames que ainda o sufocam em

questiúnculas e atitudes meramente intelectivas, imbuídas de falsa

espiritualidade, hipocrisia farisaica, que domina e esconde no seu

colo o sono de Morfeu, com face beatífica e atitude repousante.

Diante de situações de verdadeiro sofrimento humano,

sobrepujam-se aqueles que, pela sua vida difícil e mundana [ou

fácil, também os há], poderiam passar incólumes, já que a

experiência da vida assim os ensinou, no entanto, detêm-se ante a

dor e a necessidade de auxílio do seu próximo e agiganta-se no seu

íntimo o que de mais belo têm, a espiritualidade altruísta. São estes

exemplos que a história da humanidade não regista, acabam por se

O

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perder na voragem das calamidades e dos muitos martírios

humanos, exemplos anónimos que valem mais do que muitas flores

bem-nascidas, a que a vida reservou um berço dourado, não

souberam ou não quiseram, pelo facto de terem merecido uma

graça, aproveitar o seu património espiritual para auxílio e amparo

do seu próximo; porque assim o Senhor clama pela misericórdia,

que na consumação da lei da Reciprocidade alivia a dor e dá alento

para uma nova vida a quem em verdade o ansiar, chamas

bruxuleantes que brilham no caos escuro da ignomínia humana,

onde tantos outros se perdem⁴.

A análise histórica ao passado do património e legado da

humanidade não nos deixa dúvida quanto ao comportamento

passado e futuro da mesma, já que os sentimentos e afetos

prevalecem na alma humana, num misto de ansiedade e

prossecução de objetivos.

É este o nosso valor e é este o nosso porvir, cumprir o destino que

Deus fez num ciclo eterno de fazer e desfazer de ações e

comportamentos, até que, cumprida a peregrinação sejamos

absorvidos à vida eterna num misto de nirvana que nos acalentará

a espiritualidade de eternidade em eternidade, em evolução

permanente.

Não é fácil contextualizar a sociedade humana numa simbiose de

progresso e sustentabilidade, se a evolução espiritual e boa vontade

assim não o entenderem. Enquanto o individuo mantiver e

alimentar a sua complexa espiritualidade em desequilíbrio, jamais

o altruísmo poderá exercer o papel que lhe cabe no atuar humano

na compensação do egoísmo.

“A existência terrena deve ser realmente vivenciada, se é que deva

ter uma finalidade. Somente o que for experimentado no íntimo de

modo vivencial em todos seus altos e baixos, quer dizer, sentido

intuitivamente, torna-se algo próprio⁵.”

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Consulta bibliográfica * Invasão da China pelo Japão em 1937; o massacre de Nanquim. Realizador: Zhang Yimou, 2011. Filme. ¹ Essa livre resolução precedeu cada ação de retorno, portanto, cada destino! Com cada querer inicial o ser humano produziu e criou algo, no qual ele mesmo, mais tarde, em prazo curto ou longo, terá que viver. É, no entanto, muito variável quando isso ocorrerá. Pode ser ainda na mesma existência terrena em que teve início esse primeiro querer, assim como também pode ser depois de despir o invólucro de matéria grosseira, já portanto no mundo de matéria fina, ou então ainda mais tarde, novamente numa existência terrena na matéria grosseira. (Mensagem do Graal, Dissertação O Destino-Vol. II) ² Parábola do semeador: Mateus 13, 1-23 ³ Cada intuição forma imediatamente uma imagem. Nessa formação de imagem participa o cerebelo, que deve ser a ponte para domínio do corpo. É aquela parte do cérebro que vos transmite o sonho. Essa parte se acha por sua vez em ligação com o cérebro anterior, de cuja atividade se originam os pensamentos, mais ligados ao espaço e ao tempo, e dos quais, por fim, é composto o raciocínio! (Mensagem do Graal, Dissertação Intuição-Vol. II) ⁴ Muitos se assustam com isso e temem aquilo que segundo essas leis ainda têm que esperar de outrora, nos efeitos retroativos. No entanto, são preocupações desnecessárias para aqueles que levam a sério a boa vontade, pois nessas leis automáticas reside também ao mesmo tempo a segura garantia da graça e do perdão! (Mensagem do Graal, Dissertação Destino-Vol. II) ⁵ Mensagem do Graal, Dissertação O Mistério do Nascimento-Vol. II

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04

Eras foram, Eras virão!

A realidade é séria e inexorável. Os desejos humanos não podem, a tal respeito, provocar alterações de espécie alguma. Férrea se mantém a lei: “Aquilo que o ser humano semeia, colherá multiplicadamente!” Abdruschin

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ois milénios de história condicionaram a humana vontade

na sua evolução comportamental e civilizacional. Anseios

que a história registou em clamores débeis dos desvalidos e

gritos desvairados dos poderosos numa simbiose egocêntrica de

evolução cultural e espiritual.

Apesar de tudo o homem evoluiu no pensamento, iluminou-se no

conhecimento, desbravou o oceano largo e a sua capacidade neural,

saiu da época das trevas para a época das luzes, agigantou-se na sua

formação… e manteve-se em desequilíbrio!

Entranhámo-nos na Era da Religião desfiando as contas de um

rosário de atitudes beatíficas, condicionámos o conhecimento e a

ciência em prol da condução das almas para o caminho da

construção do Reino de Deus na Terra; numa mão a espada, na

outra o livro sagrado, evangelizamos povos para sustento da nossa

visão religiosa e dos nossos desejos e anseios, sempre no

cumprimento do dever e em boa vontade.

Tornaram-se poderosas as organizações eclesiásticas deste e do

outro lado, moldaram-se civilizações e povos, nasceram impérios, a

Terra ficou mais pequena na proximidade humana. A intolerância,

em nome de uma causa justa, sentou-se no trono da ignomínia e

reinou.

Mas a humanidade não se conformou e as grilhetas da história

rebentaram.

A Era da Razão nasceu, opulenta no seu conhecimento e filosofias e

os protagonistas de outrora foram relegados para plano secundário,

minimizados e com novo olhar para os novos tempos, perseguidos

mas não derrotados.

Vibra a Razão, o conhecimento, a intelectualidade, a ciência faz

escola nos laboratórios, a filosofia floresce, a economia desponta

em novos preceitos liberais, a tudo a luz da Razão ilumina:

“Liberdade, Igualdade, Fraternidade”.

Onde fica a espiritualidade?

D

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Este grito de esperança desvanecer-se-á lentamente nas filosofias

do iluminismo, liberalismo, socialismo, que não tiveram a

capacidade de construir uma sociedade equilibrada para sustento

do homem entre a religião e a ciência; castraram a espiritualidade

do homem em nome da Razão, liberalizaram a economia em nome

do progresso, socializaram em nome da igualdade, e o que resta

hoje dos anseios filosóficos dos visionários do passado, prenhes de

esperança e utopia?

Uma sociedade tecnologicamente evoluída e frágil, uma economia

relegada ao lucro excessivo e ao poder, cheia de desperdício, um

brutal atentado à natureza para satisfação de anseios egocêntricos e

uma classe dirigente igual à que tinha sido destronada em nome da

liberdade, da igualdade e fraternidade.

A transparência ficou ofuscada pela opacidade do ser humano

intelectualizado e desprovido de espiritualidade.

Se a Era da Religião não ajudou a humanidade a encontrar o

caminho do equilíbrio e bem-aventurança do homem em sociedade,

tão pouco o conseguiu a Era da Razão.

A obscuridade espiritual continua o seu penoso caminho

arrastando as grilhetas da sua vontade…

Dois mil anos se passaram, duas eras emolduraram a humanidade

e o seu anseio de construir uma sociedade justa e equilibrada.

Virá a Era da Espiritualidade e o anseio do homem, experimentado

com as suas ações do passado como património inalienável, tomará

nova forma e brilhará qual farol em noite tempestuosa.

¹“O passado foi religioso e anticientífico; o presente é científico e

antirreligioso; o futuro será religioso e científico.”

Não se tornarão vãos e vazios de sentimento e ação os pensamentos

profundos que nos conduzem ao equilíbrio, “o que semeares

colherás”, “ama o teu próximo como a ti mesmo” e tantas outras

asseverações que nos dias de hoje são badaladas frequentemente,

sem emoção, de modo intelectivo e oportuno.

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O respeito pelo meio ambiente, o trabalho em prol da comunidade,

a educação cívica e intelectual, não serão uma imposição por força

de lei ou de práticas egocêntricas, mas um atuar de modo natural,

quão natural é o correr da vida.

O homem não pode ser separado da sua espiritualidade por

filosofias religiosas ou liberais, é integrante do eu, é ele como ser

espiritual que peregrina nas planícies na procura incessante do seu

destino, no cumprimento do Graal!

Uma nova realidade, uma nova geração, uma nova Era.

²”Não está longe a hora em que os seres humanos terão que

reconhecer que não será difícil viver de maneira diversa de até

agora, conviver em paz com o próximo! O ser humano tornar-se-á

lúcido porque lhe será tirada por Deus toda a possibilidade do

atuar e do pensar errado de até agora.”

Eras foram, Eras virão… e o ciclo do homem cumprir-se-á na Lei e

na Vontade!

¹ Ernest Renan

² Na luz da Verdade - Mensagem do Graal, dissertação “Vê o que te é útil” –

Volume III

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05

Esperança

“ Enquanto houver sobre a Terra alguém que procure levantar o

Céu, quer dizer, implantar um pouco de bondade e de beleza sobre

a Terra, restabelecer equilíbrios, perdoar ofensas, respeitar o “Céu”,

renunciar ao poder, plantar uma árvore e regá-la todos os dias,

vibrar com uma cantata de Bach, arriscar a vida para matar a fome

a alguém, comover-se com o riso de uma criança, sentir-se

interpelado pelo mistério de Jesus Cristo no Getsémani como

Aquele que carrega os pecados do mundo – enquanto houver

alguém que teime em entregar-se à Vida, sem pensar em si mesmo,

mas tendo em mente os seus semelhantes – não é insensato manter

a esperança. “

José Mattoso

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nquanto houver esperança, o ser humano dará mais um

passo na longa jornada, que é a sua vivência experiencial, no

sentido da vida individual e nos equilíbrios da vida em

comum.

Um manto de névoa cobre a sociedade dos homens na época atual,

nada de extraordinário, já que, em tempos idos, outras épocas de

nevoeiro obscureceram a nossa visão humanista e o sofrimento se

abateu sobre nós; no histórico da sabedoria popular, podemos

usufruir do seu património cultural e educacional, “não há mal que

sempre dure nem bem que não acabe”.

Sabemos ser fortes diante das muitas adversidades com que a vida

nos contempla, dos muitos sofrimentos que nos afligem, das

injustiças com que nos deparamos, perante situações

verdadeiramente complexas, doenças, calamidades, guerras,

pobreza e um rosário de outras aflições…

“ No dia em que eu clamei, escutaste-me; alentaste-me,

fortalecendo a minha alma. ”

Salmos 138 – 3

A viragem do século trouxe um (des) ajustamento aos fatores

socioeconómicos criando estados de tensão, suscetíveis na

mudança; mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.

A globalização dos mercados e o seu enquadramento a nível social e

produtivo acentuou a fraqueza de regiões, antes prósperas e agora

em crise, e o crescimento de outras, antes pobres e agora prósperas,

mas não eliminou a fome, o empobrecimento e o sofrimento

inerente, os fatores sociais são ajustados ao ritmo de políticas

liberais e egocêntricas com a premissa de que só os capazes podem

evoluir no sistema, os outros… são sustentáveis.

Qualquer mudança traz consigo o bloqueio do novo, os poderes

instituídos movimentam-se no sentido de não permitir alterações

E

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ao seu status quo, só o tempo e a perseverança poderão permitir a

mudança, sem violência, do velho para o novo sistema; as

alterações climáticas, o controlo dos bens naturais, tal como a água

e o petróleo, o controlo financeiro do dinheiro, a má repartição da

riqueza, a degradação do ambiente, a violência organizada, tais são

os pontos de conflito latente no milénio que ainda agora começou.

As assimetrias entre povos e no próprio povo geram

conflitualidades que nos conduzirão a um quadro de instabilidade

social que a qualquer momento pode explodir em caos

incontrolável.

As medidas de ajustamento orçamental na governação e adaptação

aos novos desafios levam a criar ondas de pobreza entre os

desvalidos que do pouco que têm muito lhes é tirado.

E os senhores do mundo, acantonados nos seus sistemas de gestão,

analisam situações de recurso para este quadro, a fim de manter os

contribuintes em estado socialmente aceitável e estável, até lá, a

ignomínia permanece.

Entretanto, os senhores da politica e finanças fazem os seus jogos

de poder e domínio, que em tempo levaram os países ao estado em

que agora se encontram, e o povo paga os desvarios dos poderosos,

ontem e hoje, e o futuro?

Valerá a pena perguntar pelo futuro?

Certamente que sim, porque há esperança… e onde houver

equilíbrio será restabelecida a paz e o progresso no cumprimento

do dever e cultivo da beleza!

“ O fruto do justo é árvore de vida, e o que ganha almas,

sábio é. Eis que o justo é punido na Terra; quanto mais o

ímpio e o pecador. ”

Provérbios 11-30,31

O quadro que se depara à humanidade não tem cores bonitas, estão

empalecidas pela ação do tempo, tempo apocalítico, não no sentido

escatológico, mas na realidade dos acontecimentos!

Perante este quadro, sentimo-nos frágeis e abandonados,

injustiçados e duvidosos... A sustentabilidade do sistema político,

económico e social, deve introduzir uma nova variável na equação,

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o altruísmo, e o valor x, como resultado, certamente será diferente,

mais equitativo e equilibrado, enquadrado nos parâmetros das leis

naturais que só dando se pode receber.

No olhar de uma criança, descobrimos o futuro e sentimos

esperança; ao passar a invernia, descobre-se o desabrochar da

natureza e o sol brilha mais quente, sentimos esperança; no consolo

do nosso semelhante, companheiro de aflição e alegrias, sentimos

esperança…

Enquanto o sol raiar no horizonte, dia após dia… dia após dia

sentiremos a esperança de um novo começo, de um novo dia.

“ Olhai para os lírios do campo, como eles crescem: não trabalham, nem fiam; e eu vos digo que, nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. “ Jesus Enquanto o homem peregrinar nas planícies da matéria com o olhar no céu, haverá esperança… e o horizonte será a meta!

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06

O homem está só?

Aqueles que não podem lembrar o passado estão condenados a

repeti-lo.

George Santayana

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a sociedade de hoje as palavras mais comuns e que

traduzem toda uma preocupação e nova cultura são a

democracia, laicismo, finanças, bolsa, ecologia,

desenvolvimento sustentável, toda uma cultura virada para o

desenvolvimento material; onde está a palavra Deus nesta

sociedade? Foi confinada aos templos e nos templos é pregada,

dissociou-se do quotidiano humano preocupado com a sua

sustentabilidade material.

Mesmo os homens que tratam dos assuntos da sociedade não

pensam em Deus na sua vida diária, relegam-No para o culto

dominical. Atitude que não lhes faculta o sentido de amor ao

próximo e da promessa de entrega e louvor Àquele que o criou e o

alimenta com a Sua Obra e Vontade.

A história revela-se no passado, e no presente o homem podia

tomá-la como exemplo para não repetir os mesmos erros. O que o

faz caminhar nessa direção? Repetir a história no que ela tem de

pior? O que o faz perseguir e repetir ações que não surtiram efeito

no passado e que se pautaram sempre por desastres para si e para

os seus povos? A loucura? Somos loucos! A ignomínia? Somos

pérfidos!

Quando o homem esquece ou ignora a história os erros repetem-se,

não esqueças o passado para não repetir os mesmos erros.

O homem está só e só enfrenta os desafios da sociedade que pesam

na sua alma como o trabalho de Sísifo. Ele não será capaz de vencer

tão árduo trabalho, ele precisa de ajuda, e tem-na, dentro de si, a

sua espiritualidade, falta-lhe a ligação humilde com as centrais de

força que estão à sua disposição, com os fiéis servos do Altíssimo

disponíveis para seu auxílio nesta grande empresa, basta pedir;

pede e ser-te-á dado!

Construir o presente com conhecimento do passado para memória

futura!

N

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07

De crise em crise…

“De crise em crise a Humanidade evolui e faz História!”

Alma Lusa

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homem, por força da sua natureza, é um ser sociável, a

liberdade, fruto do livre arbítrio, é a ferramenta certa para a

sua evolução como ser criativo, nas artes, nas ciências, na

política… a livre expressão e o caudal do pensamento permitem que

o homem evolua no Conhecimento.

A espiritualidade molda o comportamento primário e aprimora-o

no sentido da sensibilidade e refinamento do trato, é uma

conjugação importante que define o estado do ser, a espiritualidade

e o raciocínio como um todo, atuando em benefício e equilíbrio,

assim fomos criados, assim seremos até ao fim dos tempos, no

cumprimento da Vontade do Altíssimo.

A sobreposição de um destes estados, espiritual e material, em

relação ao outro, traz consequências trágicas fruto do desequilíbrio

implantado, criando sociedades totalitárias e fundamentalistas,

amordaçando a livre expressão individual, seja na política ou na

religião. O raciocínio frio passa a dominar, o egoísmo toma

contornos epidémicos, as ações de domínio, a falta de respeito pela

dignidade humana e a hipocrisia dominante de quem, “de barriga

cheia, fala moralmente sobre a fome!”.

As sociedades constroem-se com modelos políticos e económicos

baseados na produção e consumo, capital e trabalho, numa relação

conflituosa e desequilibrada, riqueza em excesso para uns, controlo

de ganhos para outros, miséria e incerteza para a maioria.

Manipulação e influências, falta de conhecimento e de cultura, falta

de tudo. Passo a passo, devagar, mas firme, a sociedade humana

caminha para o descalabro; excedentes de produção consomem as

matérias-primas, e cada vez mais a máquina do consumo exige

novos produtos num ciclo interminável de satisfação altamente

inflacionado. Povos industrializados alimentam-se de povos

deficitários, compram as suas riquezas naturais, transformam-nas e

geram riqueza, criadoras de desigualdades e beneplácito de

O

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futilidades. De crise em crise a Humanidade evolui e faz História. O

passado ensina a sua história… a Humanidade não aprende com os

seus erros e a História repete-se!

Entretanto, aparecem os arautos da salvação na crença; condutores

de almas em alta voz apregoam os benefícios do seu culto e

utilizando as modernas ciências de gestão comportamental

humana, recrutam mais e mais crentes para a causa, desvalidos e

necessitados de esperança, de salvação. Intolerantes, praticam uma

guerra surda de influências e medos. Novamente a manipulação

dos anseios e dos medos daqueles que, desorientados, procuram

auxílio e estendem a mão a quem lhes oferecer ajuda, a fé, essa,

vem em segundo lugar. A procura da Verdade e de valores perenes

ficaram soterrados na ânsia de poder e domínio, necessidade e

medo, em tudo grassa a mentira e a ilusão.

No nevoeiro dos pensamentos clamam vozes débeis… Senhor,

onde estás?

A verdadeira fé está no espírito humano consoante o nível de

confiança que ele depositar na sua crença. A intranquilidade

espiritual absorve energias e incentiva ao confronto ideológico e

intolerância, fruto da falta de confiança. Na diversidade está a

diferença e na diferença a avaliação do conteúdo. Deve cada um

seguir o seu caminho no cumprimento da Vontade do Altíssimo e

cultivar na diferença e em respeito a sua cultura.

Em prol da Paz, do Conhecimento e da Verdade,

levantem os olhos ao alto… e peçam auxilio!

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08

Tempos difíceis!

Decorrente da lei eterna, uma força obrigatória de expiação

inalterável pesa sobre vós, a qual nunca podereis passar para

outros. O que carregais mediante vossos pensamentos, palavras ou

ações, ninguém mais, senão vós próprios, podeis resgatar! Ponderai

bem, pois de outro modo a Justiça Divina seria apenas uma

vibração oca, reduzindo tudo o mais consigo a ruínas.

Abdruschin

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Humanidade está a passar por tempos difíceis! Os

empregados perdem os seus empregos e vão engrossar as

fileiras dos que dependem da Ação Social; os empregadores

fecham as suas empresas aumentando o número de falências ou

tomam medidas restritivas para manterem os postos de trabalho;

as igrejas continuam a pregar as mesmas palavras repetitivas,

clamando por mais fiéis, apáticos e chorosos, mas obedientes no

cumprimento dos dogmas; os políticos procuram soluções para

debelar a crise e manter a coesão social, evitando assim as

manifestações populares de desagrado e indignação, mais ou

menos hostis, que, indubitavelmente vão despontar.

De quem é a culpa desta crise? Do sistema ou dos que o mantém a

funcionar?

*”Nem empregador nem empregados têm culpa disso,

nem o capital nem a sua falta, nem a Igreja nem o

Estado, nem as diferentes Nações, mas tão-somente a

sintonização errada das pessoas, individualmente, fez

com que tudo chegasse a tanto!”

Abdruschin.

Os homens alimentam o sistema com ganância e despotismo e

perdem o seu controlo! Os sistemas são, de base, exequíveis e bons

para a sociedade, trazendo progresso e bem-estar, educação e

cultura, tolerância para retificar desvios e adequá-los aos preceitos

do amor ao próximo. Quando o ser humano é dominado pela

ganância introduz uma variável no sistema que traz desequilíbrio e

desordem. É a vontade do ser humano, individualmente e no

coletivo, que faz com que o sistema progrida favoravelmente ou

não; as lutas politicas que sustentam a fraude e a corrupção, com

discursos humanistas e sempre a falar do bem-estar das

populações, são o que de pior a hipocrisia humana consegue criar, a

desigualdade e a falta de equilíbrio nas relações humanas,

A

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profissionais, politicas etc., levam a que o sistema, mais tarde ou

mais cedo imploda. A culpa é do ser humano, por não procurar o

sentido da vida, da verdade e do amor, se assim fora, certamente

teríamos uma sociedade diferente.

O querer saber melhor do que o outro, o ter sempre razão, defender

altos valores como se de um clube se tratasse, conduz o ser

humano para o caminho da intolerância que tanto mal faz, tanta

dor provoca e que nos priva da liberdade, bem precioso que nos foi

outorgado pelo Criador no livre arbítrio.

Animem-se os desvalidos porque à responsabilidade ninguém se

furta e a Justiça Divina cumpre-se inexoravelmente. Profetas

trouxeram para os seus povos, em épocas certas e diferentes, uma

doutrina de tolerância e amor, transmitida conforme o seu estado

de evolução; que fizeram os seres humanos dessas doutrinas?

Criaram religiões com os seus dogmas e introduziram filosofias e

complexas teorias intelectivas que ensombram esses mesmos

profetas, fecharam as suas portas uns aos outros e alimentam no

seu seio a intolerância em nome do Altíssimo; sacrilégio! A História

tudo regista e o tempo tudo guarda!

“Pai perdoai-lhes, pois não sabem o que fazem!”

Culpados? Somos nós, humanidade. Perante o tribunal Divino, só

nos podemos considerar: culpados!

* Excerto da dissertação “Pai perdoai-lhes pois não sabem o que fazem! “ da

obra “Mensagem do Graal”, Na Luz da Verdade, volume II de Abdruschin.

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09

Espiritualidade e Politica

Faz, eu te peço, Senhor, que saboreie por amor o que saboreio pelo

conhecimento; faz que sinta pelo afeto o que sinto pela razão.

Anselmo de Cantuária

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spiritualidade é o caminho que o homem tem de seguir para alcançar a bem-aventurança, o Paraíso, sua Pátria, de onde veio e para onde deve voltar. Este caminho não pode ser

desvirtuado pelo homem e suas ações sem sofrer as consequências inerentes por força da Lei, ninguém foge ao seu destino. Fazemos parte da Espiritualidade porque de origem espiritual somos, é um caminho natural a percorrer em consciência, conhecimento e em Equilíbrio.

Na espiritualidade cumprem-se, rigorosamente, as Leis do Altíssimo, o Reino de Deus, esse reino que na oração pedimos “Venha a nós o Teu Reino, seja feita a Tua vontade assim na Terra como no Céu”.

Religião é um conjunto de ditames, dogmas e outras convenções cuja estrutura foi organizada pelo homem para regular a sua espiritualidade. Tem como pressuposto principal interpretar as Leis do Altíssimo e fazê-las cumprir. Aqui, ao invés da Espiritualidade, entram em campo os pensamentos e as interpretações próprias do ser humano para condução do seu semelhante conforme a sua vontade e proveito, seja individual ou no benefício da estrutura eclesiástica, por arrogância ou desconhecimento, dando origem a descontentamentos e dissensões cuja base está no desequilíbrio.

Política é um conjunto de ações que visam regular a convivência em sociedade e a sua organização a níveis estruturais e educacionais. A organização é necessária para o bom funcionamento das instituições. O homem por si desenvolve as estruturas e cria as leis que irão regulamentar esta convivência, de ordem prática e material, fruto da sua vontade e dos interesses que, entretanto se instalam.

O homem está só nesta tarefa, por vontade própria, a espiritualidade é relegada para plano secundário e a religião, cujos interesses são semelhantes, é combatida como concorrente ao poder e, por consequência, separada do Estado pela via constitucional, política para um lado, religião para o outro. Assim, as leis do Homem, embora com base de equidade e valores

E

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humanitários é fria, cega e permeável na sua constituição a ser defraudada pelos seus executantes em favor das classes superiores, endinheiradas digamos, mas com base legal, as classes inferiores, indigentes digamos, olham para a lei, receosas, porque esta é pesada para si e os conhecedores da lei não se dão ao trabalho da defesa consistente que deveriam ter, apesar de a lei ser tendencialmente gratuita, porque aos poderosos tudo é permitido.

O mesmo se passa na saúde e na educação, imperam os valores da sociedade, dita democrática e como antes, os senhores e os plebeus ou, melhor dito, a mão-de-obra, essa mão-de-obra que cria a riqueza com as suas mãos calejadas para que os senhores possam ter brancura e finura de pele, rendas e outros predicados que os diferenciam.

Se a educação e o ensino fossem de início ministrados às gerações mais novas com base na evolução cultural e cívica, essas diferenças atenuar-se-iam e a sociedade seria mais equilibrada. Mas, como no passado, porque o passado faz História, a ambição domina a alma humana degradando a sua espiritualidade e as consequências far-se-ão sentir duramente, como dantes.

Substituímos a espiritualidade e o amor pelo materialismo e pela ganância. Por mais democráticas que sejam as sociedades, nunca irão terminar os desmandos dos homens, pela simples razão que todos aspiram ao mesmo, dinheiro.

A separação da religião da vida política trouxe maior equilíbrio a ambas as instituições, já a separação da espiritualidade da vida do homem não lhe trouxe equilíbrio nem paz.

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Arrogância

Mateus 6-28,29.

“Olhai para os lírios do campo, como eles crescem, não trabalham,

nem fiam; E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua

glória, se vestiu como qualquer deles.”

Jesus

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splendorosa e magnífica é a obra do Altíssimo, as Suas leis

regem as Criações em harmonia e equilíbrio em sua

evolução. Altas montanhas de branco vestidas, vales

profundos em aromas de verde, etéreo vibrante em azul iluminado.

Correm rios, nascem cascatas, na procura incessante do abraço

amigo do profundo oceano longínquo, o que esconde no seu seio a

arte e segredos que o vento sussurra às montanhas, e as montanhas

nada nos diz.

E o paraíso circula nos céus de Éfeso, bola azul no espaço negro,

acompanhada de séquito de luz no caminho para o infinito… na

Vontade de seu Criador.

Pequenas e grandes obras formam o Planeta, moldadas por mãos

diligentes de pequenos e grandes mestres, morada de muitos, por

muitos amada!

Tudo vibra em uníssono e sincronia em Sua Vontade e no labor de

Seus servos.

Como pode a criatura humana, parte integrante desta obra,

enclausurar por arrogância, as Leis do Criador em dogmas e

opiniões próprias, formando as suas igrejas e os seus séquitos,

pavoneados na sua liderança, seguidos de filas intermináveis de

fiéis vazios de querer e bom entendimento. Olhar evangélico, na

ponta da língua desfiam capítulos e versos dos seus livros sagrados,

interpretados por muitos e mal compreendidos por outros tantos.

E assim, estão divididos, pregando o mesmo mestre, a mesma

Palavra, mas com a intenção própria do bom entendimento que é o

seu. Arrogância de mão dada com a boa intenção.

Na fala do povo, “de boas intenções está o inferno cheio”, e estes

são mais que muitos. Assim estão a generalidade dos fiéis… vazios

de espírito, sagazes de entendimento!

E a natureza segue o seu percurso indiferente a este estado de

coisas e de gentes: Venha a nós o Teu Reino, seja feita a Tua

Vontade, assim na Terra como no Céu… clamam os

humildes, em devota prece e outros sem nada compreender!

E

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Memórias de tempos ancestrais que do passado clamam por

liberdade, agigantam-se no presente para a remissão de ações,

fecha-se o círculo, repõe-se a verdade.

Humildade e verdadeiro amor ao Altíssimo, o caminho que deveria

ser!

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11

Relações interpessoais

“Sei estar abatido, e sei também ter abundância; em toda a

maneira, e em todas as coisas, estou instruído, tanto a ter fartura,

como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer

necessidade. Posso todas as coisas, naquele que me fortalece.”

Epístola de Paulo aos Filipenses (4; 12, 13)

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nossa preocupação diária com os nossos afazeres, manter o

emprego, porque o desemprego é uma “praga”, subir na

carreira profissional, mesmo que às custas de algum colega,

correr para o nosso meio de transporte e fundirmo-nos no seio da

calamitosa rede viária, sentirmo-nos sós, no meio da multidão

solitária…

A angústia e o medo dominam o nosso ser e a reação natural, nas

nossas relações pessoais, familiares, profissionais ou sociais, é a

agressividade e a irritação. É um comportamento de hostilidade e

ataque que caracteriza as pessoas inseguras…

A passagem (4; 12, 13) de Paulo aos Filipenses, traduz a nossa

evolução pessoal, as diversas fases da vida pela qual, de um modo

geral, todos passamos e o último parágrafo “Posso todas as

coisas, naquele que me fortalece” é o consolo e a força que

necessitamos para erguer o rosto, e com dignidade, seguir em

frente, olhando para o lado e sorrir para o nosso próximo e com ele

construir um mundo novo e melhor.

A

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12

Natureza e Consumo

Cumpri e cultivai a beleza!

“Não consumas mais do que necessitas, respeita a Natureza!”

Ghandi

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uantas palavras sábias, pensamentos repletos de bem-

aventurança, são desprezadas pelo homem, na sua estreita

visão dominada pela vaidade e arrogância. Nesta fase de

desenvolvimento da Civilização, a Humanidade deveria ter

consciência do mal que está a fazer à Natureza, com o consumo

desenfreado e sem regras, com a produção de bens sem qualquer

controlo, em nome do progresso e do desenvolvimento económico.

É verdade que a tecnologia trouxe muitos benefícios e bem-estar à

Humanidade, no entanto, esta mesma tecnologia mal usada, para

além dos benefícios que nos trouxe, também nos traz miséria,

destruição do meio natural e seus recursos, paisagens

desagradáveis cheias de lixo, cursos de água poluídos, chuvas

ácidas, etc. …

O respeito pela Natureza começa em cada um de nós, o sentido da

beleza começa em cada um de nós, o sentido da ordem começa em

cada um de nós… Cumpri!

Vamos aderir e por em prática o pensamento de Ghandi e respeitar

a Natureza.

Bem-haja os que respeitam a morada que lhes foi doada para viver,

o planeta Terra.

Q

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13

Ecologia vs Sustentabilidade

A natureza pode suprir todas as necessidades do homem, menos a

sua ganância!

Gandhi

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cologia e sustentabilidade, palavras recentemente

adicionadas à nossa verbosidade e que traduzem o apego do

homem à natureza perdido na neblina do tempo.

Utilizamos os recursos naturais de modo leviano e descuidado,

como se de uma fonte inesgotável se tratasse. Não é assim. Os

recursos são finitos. Convém esperar do ser humano uma “ponte”

de respeito pela natureza, da qual fazemos parte pela nossa

constituição, e usufruirmos dos seus recursos para nosso benefício

de modo regrado.

A ecologia é defendida por duas vias de atuação:

Uma dedicada à natureza na sua simplicidade e beleza e quer

mantê-la tal qual uma adoração enraizada em rituais ancestrais e

enquadrar no meio o homem como parte integrante. O progresso

tecnológico é, por natureza, um entrave e invasor deste pensamento

e desta postura de vida.

Outra dedicada à evolução da sociedade humana por meios

tecnológicos e ao uso intensivo das matérias-primas, recursos

explorados até à exaustão para alimentar uma máquina produtiva e

degradativa do meio ambiente. A necessidade natural do

enquadramento do ser humano na natureza é substituída por

imagens relaxantes e música suave nos ecrãs dos televisores e por

outros meios artificiais.

Pragmaticamente o ser humano procura uma via de consolidação

destas duas vias. Não abandonar a natureza, integrar-se nela, não

abandonar o progresso tecnológico mas moderá-lo na sua atuação e

desenvolvimento numa ação consertada. Procura de meios

alternativos de produção tecnológica sustentável sem prejuízo do

meio ambiente e do modo de vida do ser humano em sociedade.

Quer se trate de uma ou outra convém estabelecer sempre uma

“ponte” de equilíbrio:

E

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Na verdade, as nossas sociedades de evolução materialista,

capitalista e financeira, ditas liberais, com o seu séquito de

profissionais alinhados de visão fria e calculista em que os números

substituem os seres humanos, não permitem devaneios de beleza e

espiritualidade mas, tão-somente o lucro e o crescimento

exponencial das suas empresas em detrimento do bem-estar do

homem. É uma rutura com a ligação do ser humano à sua origem e

o crescente enquadramento na evolução tecnológica cada vez mais

endeusada. O homem olha para dentro de si e repudia o seu

envolvimento natural, desumaniza-se!

O homem deve despertar para a sua espiritualidade, o seu

enquadramento natural no meio ambiente é o caminho, olhar a

natureza como o seu lar e respeitá-lo, olhar para o próximo e

partilhar. Esta sociedade seria, certamente, mais humana, mais

evoluída e mais integrante. Poderemos então ser chamados

infantes de Deus e ocupar o lugar na Pátria que nos é devido.

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14

Mitologia

Lucas, 8 -25

E disse-lhes: Onde está a vossa fé? E eles, temendo, maravilharam-

se, dizendo uns aos outros: Quem é este, que até aos ventos e à água

manda, e lhe obedecem?

Jesus

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relação do homem com o seu meio envolvente, conhecido e

desconhecido, leva-nos a construir imagens fantásticas do

que não é percetível ao olho humano e o que é percetível é

fruto de imagens prolíferas e exageradas do nosso próprio

comportamento.

Apesar de termos capacidade criativa para construirmos um

Mundo melhor e mais evoluído, no respeito pelo meio ambiente,

para nosso benefício, no respeito pelo lugar e liberdade do nosso

próximo, para nosso equilíbrio, preferimos a violência do domínio

sobre o outro, numa manifestação de força e sofrimento, criando

sociedades desequilibradas e em permanente estado de alerta. A

evolução faz-se lentamente e á custa do sofrimento e atraso cultural

dos povos para enriquecimento de classes, privilegiadas e broncas.

O nosso horizonte de conhecimento cinge-se ao nosso meio

material, tal qual antes dos descobrimentos de quinhentos, o

conhecimento situava-se na bacia do Mediterrâneo e por falta de

mobilidade, o mundo de além era perfeitamente desconhecido. As

doutrinas eclesiásticas não permitiam evolução para além do seu

próprio horizonte, mantendo o povo e a cultura numa idade de

trevas e desconhecimento. Hoje, não nos mesmos moldes, mas com

a intelectualidade desenvolvida, caminhamos passo a passo,

devagar, á espera que a ciência nos dê a indicação do caminho,

depois de devidamente “pesado, analisado e comprovado”, porque

o que nos for dado a conhecimento por outros caminhos, que nos

envolvem e do qual somos parte integrante, isso é classificado como

crendice barata, espíritos fracos e literalmente iletrados.

A espiritualidade está sufocada na predominante ação científica do

nosso século; como diz o povo, “nem oito nem oitenta”, no passado,

a religião dominava sobre a ciência, no presente, a ciência domina

sobre a religião, ambas as épocas criaram desequilíbrios. Na época

da espiritualidade, onde a ciência e a religião estarão de mãos

dadas, numa perfeita simbiose de Conhecimento, a espiritualidade

A

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não sufocará a ciência e a ciência aproveitará os conhecimentos da

espiritualidade para evolução além da matéria visível.

Quando o homem, como tal, se libertar dos dogmas que o

alimentam e sufocam, e livre se lançar no espaço do Conhecimento

vai compreender muitos dos avisos e ensinamentos que no passado

foram transmitidos em frases simples e imagens, próprias da época

e dos conhecimentos de então, dos Universos e da Vida e da

complexa estrutura da Criação, que de tão maravilhosa se

apresenta de simples entendimento. Libertar a Mitologia do

seu cárcere de milénios e entender os supostos deuses, as

suas aventuras e desventuras, os seus sofrimentos

eternos, a sua proximidade humana no nosso dia-a-dia;

entender a sua ação na construção e manutenção dos

mundos, segundo a Vontade do Criador… eis o que

devemos fazer!

* “Entre as criaturas, espírito e ente, não existe em si na

Criação nenhuma diferença de valor. A diferença existe

somente na espécie diversa e disso resulta também o

modo diferente de sua atuação! O espírito, que também

pertence ao grande enteal, pode andar por caminhos de

sua própria escolha e atuar na Criação,

correspondentemente. O ente, porém, se encontra

diretamente no impulso da Vontade de Deus não tendo,

portanto, possibilidade alguma de decisão própria, ou

como se expressa o ser humano, não tem livre arbítrio.

Os enteais são os construtores e os administradores da

casa de Deus, isto é, da Criação.

Os espíritos são nela hóspedes.”

*Obra “Na Luz da Verdade - Mensagem do Graal”, dissertação O Enteal de

Abdruschin.

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15

Deuses ou Enteais? Mito ou Realidade?

“ Vi por mandado da santa & geral inquisição estes dez Cantos dos Lusíadas de Luís de Camões, dos valerosos feitos em armas que os Portugueses fizerão em Asia & Europa, e não achey nelles cousa algűa escandalosa nem contrária â fe & bõs custumes, somente me pareceo que era necessario aduertir os Lectores que o Autor pera encarecer a difficuldade da nauegação & entrada dos Portugueses na India, usa de hűa fição dos Deoses dos Gentios. E ainda que sancto Augustinho nas sas Retractações se retracte de ter chamado nos liuros que compos de Ordine, aas Musas Deosas. Toda via como isto he Poesia & fingimento, & o Autor como poeta, não pretende mais que ornar o estilo Poetico não tiuemos por inconueniente yr esta fabula dos Deoses na obra, conhecendoa por tal, & ficando sempre salua a verdade de nossa sancta fe, que todos os Deoses dos Gentios sam Demonios. E por isso me pareceo o liuro digno de se imprimir, & o Autor mostra nelle muito engenho & muita erudição nas sciencias humanas. Em fe do qual assiney aqui. “

Frei Bertholameu Ferreira.

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poema épico que canta os feitos da lusitana gente, nos idos

gloriosos da época dos descobrimentos, novos mares, terras

e gentes, sob os auspícios da Ordem de Cristo, está imbuído

de uma geração de deuses, antigos mas vivos no imaginário do

poeta, que à época se tornava heresia, não fora o censor da santa

inquisição ter dado um parecer mui diplomático para que a obra

não fosse censurada.

Polémica na aceitação da chamada mitologia, chamada, porque à

luz da narrativa cristã o que se passava nessa mitologia era um

atentado à dignidade humana, histórias que a mitologia sustentava,

um eco contrário ao primeiro mandamento da Lei de Deus, “Não

terás outros deuses a Meu Lado! “; assim sustentavam os

seguidores dos mandamentos, ciosos dos seus compromissos para

com a divindade em público, mas tolerantes no círculo da sua

intimidade.

Estava mais perto o eco do “faz o que te digo, não faças o que eu

faço”.

É de estranhar que a pátria da civilização ocidental, Grécia, que

tanto contribuiu para o florescimento da cultura europeia e através

desta, universal, no campo da democracia, organização e justiça, na

filosofia, lógica e dialética, nas ciências, aritmética e astronomia,

aceitassem uma religião que, paradoxalmente, contribuía com

mitos e superstições na alma culta deste povo, com um panteão

deveras profícuo.

Também é de estranhar que a portentosa Roma que herdou e

adaptou a cultura grega ao seu engenho construtivo e

organizacional, professasse pelas mesmas vias essa cultura

religiosa, que para muitos dos hipotéticos sabedores das novas

realidades da religião não passavam de mitos obscuros de um povo

sem horizontes e por tal, merecedores de evangelização.

O

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Não pertence, contudo, à Grécia e a Roma, o domínio dos deuses,

outros povos, distantes entre si, professavam os mesmos deuses,

com outros nomes, mas com os mesmos conceitos, culturas

diferentes e mitos diversos. É certo que o homem a tudo adultera

no cumprimento do seu anseio de poder, também aqui passou o

halo nefasto desse mau hábito e a deturpação do conceito de

“deuses” e da sua obra foi deturpada por uns e cegamente

combatida por outros.

Nem por isso o Olimpo dos Gregos ou o Valhala dos Germânicos

perdeu o seu lugar na Criação e o seu esplendor no ápice das

criações, logo abaixo do Paraíso espiritual, pátria dos espíritos

humanos, desempenhando o destino ao qual foi ligado desde

tempos imemoriais. O Olimpo permanece o que é e o que sempre

foi, independentemente do querer intelectualizado ou anseio do

homem, para sustento desta ou daquela via filosófica, que no tempo

muda segundo a evolução do bem-querer.

O conhecimento evolui no tempo desmontando conceitos e

adaptando as novas gerações a novos conhecimentos, que originam

outros conceitos… e assim será sempre o ciclo do conhecimento…

Mas nem só de pão vive o homem, e os novos horizontes da

espiritualidade esperaram milénios até desabrochar o

conhecimento acerca dos supostos deuses que afinal não passam de

fiéis servidores do Eterno, contribuindo para a sustentabilidade das

materialidades visíveis e invisíveis, senhores dos elementos e da

natureza, amigos do ambiente e que para ele trabalham

diligentemente para que o homem possa tirar usufruto desse labor

e possa ser feliz no seu meio, meio esse, que os humanos tão

afincadamente destroem para sustentar as suas sociedades

sedentas de consumo cada vez mais célere.

O papel do homem na Criação é destrutivo e degradativo, mais do

que as histórias da assim chamada mitologia, todos os Deoses dos

Gentios sam Demonios, mas o seu lugar deveria ser de hóspede

amado.

Entealidade, o novo horizonte no Milénio!

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O Altíssimo a tudo rege com o Seu halo de vida e sustenta todas as

Suas criaturas, que no cumprimento de Sua Vontade, cumprem o

mandamento, “amai-vos uns aos outros” porque no dar e receber

está a sustentação da vida e o desenvolvimento plural da

comunidade.

Luís de Camões não era cego na sua espiritualidade e a sua obra, Os

Lusíadas, é um canto de louvor a todos esses seres que povoam o

imaginário dos humanos; saíram do reino da mitologia, da

obscuridade, para tomar parte num teatro universal de verdadeiros

acontecimentos, perfeitamente adaptados à sua realidade, cantados

em poesia na história de um povo singular que os levou nas suas

angústias e naufrágios, amores e conquistas, por esse mundo fora,

desbravando os mares que ¹Neptuno dominava, protegidos por

Vénus bela, afeiçoada à gente lusitana, e por Marte, que da deusa

sustentava entre todas as partes em porfia, ou porque o amor

antigo o obrigava.

Mas o infortúnio também perseguia a lusa gente e o Adamastor,

dos filhos aspérrimos da Terra, qual Encélado, Egeu e Centímano,

cobrou em vidas a ousadia de tal gente cantada pelo poeta que

assim agradecia às sereias do Tejo: e vós, tágides minhas, pois

criado tendes em mim um novo engenho ardente.

Vem do fundo do tempo o tempo da deidade, que na aspérrima

humana vontade se mescla para novo tempo e que no tempo se

perpetua em ciclos eternos de cumprimento da divina Vontade.

No Olimpo renasce Zeus no tempo de outrora, tomando novo

alento no tempo hodierno, brilha em luz áurea a figura, que em

vontade cumpre a Vontade do Altíssimo como seu servo, fulgurosos

são os raios que emana para condução de seus súbditos no

cumprimento de leis universais; brilha Apolo em luz etérea que ao

sol confunde a luminescência; Afrodite bela no tempo de agora que

em beleza a tudo ofusca em amor puro e casto; em jardins floridos

as hespérides alimentam e cuidam das flores da vida, de seu néctar

colhido cuidadosamente alimentam as crianças enteais que

despertam, futuras almas que a humana prole em condição geram;

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fulgurosos são os raios de Hefesto na construção do portentoso

planeta Terra para condição humana, vigorosa conduta no

cumprimento da Vontade; Gaia a tudo rege como senhora do

planeta Terra, é mãe e devota ao Altíssimo, na sua condução os

deuses a tudo se obrigam.

Passado que foi o tempo sobre os tempos, novos tempos se nos

afiguram para cumprimento dos resgates do tempo de outrora.

È de realçar para *consulta sobre o tema, os livros que valorizam o

sentido intrínseco dos “deuses”, numa abordagem mais séria e

adaptada a uma nova realidade espiritual que percorre universos,

aqui, no correr da palavra, os deuses tomam vida e o seu lugar

junto aos homens é ressuscitado para uma nova era. Os enteais

sempre estiveram presentes, os homens, no seu aparato religioso e

intelectual, desvirtuaram o sentido e circuncisaram o conhecimento

sobre estes diligentes construtores e mentores da obra Divina

Se até Jesus ordenou aos seres elementares dos ventos e do mar

que se acalmassem:

²Ele lhes respondeu: Por que temeis, homens de pouca fé? Então,

levantando-se repreendeu os ventos e o mar, e seguiu-se grande

bonança. E aqueles homens se maravilharam, dizendo: Que

homem é este, que até os ventos e o mar lhe obedecem?

Na obra, “Na Luz da Verdade - Mensagem do Graal”, o autor,

Abdruschin, refere:

³Nisso jaz a incomensurável grandeza de Deus, Seu Amor, Sua

Justiça. Isto é, em Sua obra, que Ele legou às criaturas humanas,

ao lado de muitos outros seres, como morada e pátria.

A nova Era desbravará o conhecimento da civilização no mais

recôndito ser espiritual, num equilíbrio espirito-matéria, simbiose

que se faz necessária para evolução e os caminhos dos universos

não se farão desconhecidos, antes abertos por seres prestimosos

que no cumprimento da Vontade a tudo conduzirão no

conhecimento.

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*Consulta bibliográfica:

Na Luz da Verdade – Mensagem do Graal de Abdruschin; Editora

Ordem do Graal

O Círculo do Enteal, Volume III

O Livro do Juízo Final de Roselis Von Sass; Editora Ordem do Graal

Da atuação dos pequenos e grandes enteais da natureza! 1ª e 2ª parte

¹Lusíadas, canto I, 20;42 – Concílio dos deuses

²Mateus, 8-25;27

³Na Luz da Verdade-Mensagem do Graal, dissertação Culto! Volume I

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Religiões

Entre a tolerância e a intolerância não há conciliação possível.

Deus, porém, é um só. O mesmo para judeus, cristãos e

muçulmanos. Só Ele tem direito de julgar, e de salvar ou condenar.

Querer tomar o seu lugar e matar em seu nome é a pior das

blasfémias. A história da humanidade está cheia de blasfémias. Já é

tempo de resgatarmos aquelas que os nossos antepassados

cometeram.

José Mattoso

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s três religiões monoteístas hodiernas, Judaísmo,

Cristianismo e Islamismo, professam a mesma crença no

DEUS Único, Senhor e Criador de todos os Universos, da

Criação visível e invisível.

Sob diferentes conceitos de Deus, cada uma delas interpreta-O com

base nos seus interesses, nos seus conhecimentos, no seu(s)

profeta(s), na sua capacidade e sagacidade intelectual

emoldurando-O no seu contexto de Universo, ou seja, cada uma

delas criou-O à sua semelhança.

Arrogância é uma palavra suave para descrever tal devaneio! Como

pode um ser criado, como é a espécie humana, construir uma

imagem do seu Criador? À semelhança dos nossos conceitos

humano-terrenais, da nossa ciência e erudição, quisemos construir

a imagem de Deus, mas Ele é o Criador e nós somos parte da Sua

Criação.

Tantas imagens, conceitos, erudição, profetas, tantos livros…

E tudo isto para quê?

Ele é o Senhor dos Universos, Deus Único e Criador, alimentai o

espírito com esta alegação e o Universo vibrará em uníssono; fomos

criados à semelhança da Sua Imagem, fazemos parte desta Criação

como hóspedes amados, façamos para merecer este estatuto

integrando-nos na grande obra que é a Criação, vibrando na Sua

vontade, evoluindo para a nossa Pátria, para onde Ele nos

conduzirá se seguirmos o caminho.

Religiões, sinal de separação e hostilidade entre os homens, quando

o caminho para Deus se apresenta à nossa frente de modo simples e

visível, não há necessidade de erudição e conhecimentos secretos,

meandros escuros da alma que a sacrifícios obriga; sacro e

mundano é uma expressão que separa a divindade e sua atuação e a

A

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humanidade e sua atuação, no entanto, esta atuação não é divisível,

ela é una, porque a Criação também o é!

Paremos um momento na nossa correria do dia-a-dia, temos

tempo, a vida de hoje é complicada, é verdade, no entanto podemos

dispor de um momento para pensar no Criador e em nós!

Somos uno com Ele e Sua Vontade é Lei, se cumprimos com a lei

dos homens porque não cumprir com a Lei de Deus que nos dá

direito à vida e à felicidade?

11 de Setembro, data “da vergonha e do horror”, da capacidade do homem

para fazer mal, da loucura que alimenta tantas almas humanas.

Sob o signo da Religião e da defesa dos oprimidos, quanta maldade é

praticada…

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Europa

A Europa jaz, posta nos cotovelos:

De oriente a ocidente jaz, fitando,

E toldam-lhe românticos cabelos,

Olhos gregos, lembrando.

O cotovelo esquerdo é recuado;

O direito é em ângulo disposto.

Aquele diz Itália onde é pousado;

Este diz Inglaterra onde, afastado,

A mão sustenta, em que se apoia o rosto.

Fita, com olhar esfíngico e fatal,

O ocidente, futuro do passado.

O rosto com que fita é Portugal

Fernando Pessoa

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ue herança legaste ao mundo, Europa? A tua filosofia, a tua

organização, a tua temeridade… de herança helénica

recebeste o batismo e Europa foste chamada!

Com olhos gregos filosofaste e de mãos hábeis nasceu o legado da

história, cérebros romanos organizaram, legislaram e construíram

impérios, ao mar te fizeste com espírito lusíada e novos rumos e

terras deste ao mundo… “oh! mare nostrum, quanto do teu sal, são

lágrimas dos meus olhos…”

E após, os teus filhos se espalharam pelos quatro cantos do mundo

desbravando a terra que foi tua e o mar que navegaste, numa

imensa teia de civilização.

Hoje, Europa, que te recolheste às tuas planícies e serranias, na

beleza bucólica de tuas paisagens, verdes em imensos prados no teu

coração, brancas nas escarpas das montanhas a roçar o azul do céu,

morenas nas planícies quentes da Ibéria que espreitam o largo

oceano, na multifacetada cultura que te alimenta a alma e

enriquece o folclore, tentas encontrar o caminho irmanando os teus

povos numa união, que de natural nos separa pelos mundos que

semeamos.

Que valores? Pelos tormentos e guerras passadas. Que exemplo?

Pela história e episódios alimentados.

Europa, quão de ti alimenta a minha alma, nascida e criada nas

tuas entranhas! Clamas por teus filhos, clamas pelo teu passado

que te pesa com o registo da História; ligado estou e separar-me

não desejo, a terra clama por mim e de mim recebe a ligação que do

passado me une. Renasce bem-aventurada mãe de heróis,

portentosos guerreiros, cuja honra valia mais que a vida, e nos

meandros do legado e na conquista de civilizações te alevantaste e

soçobraste em teus devaneios de loucura e glória!

Foste cantada por poetas, filhos teus, escrita por romancistas, filhos

teus, filósofos pensaram-te, filhos teus, construída por simples,

homens rudes, filhos teus… que anseias hoje, Europa?

Q

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Dar novos mundos ao mundo? Já o fizeste.

Espalhar cultura? Já o fizeste?

Transmitir a fé? Já o fizeste.

Que te falta, então?

Olhar para a tua obra no mundo, que já foi teu, e pensar até onde és

digna do que transmitiste e que papel deverás assumir num teatro

globalizante que de imenso se torna cada vez mais pequeno.

Consola-te, que no desespero da falta, não esqueças, que outros

também participaram nesse legado, caminhos que se cruzaram,

enredos que se finalizam. Não estás só!

Falta-te cumprir o desígnio há muito alimentado, por gerações e

homens sós, que pela força da espada sonharam unir os teus filhos

no mesmo propósito e cumprir o destino que te separou e agora

une.

Em tua cultura e espiritualidade está o nosso cumprimento. Edifica

o símbolo da unidade, que na história construíste no legado de

Cristo, vivifica a mensagem que transmitiste ao mundo, qual farol

em noite tempestuosa; no paradigma cristológico alimentaste o

novo mandamento, “Amai o vosso próximo como a vós mesmos”, e

o liberalismo económico e egocentrista que te levou à alimentação

de um caminho tortuoso que te aproxima do abismo e que te afasta

de tua prole, separando-a e alimentando o egoísmo, latente na

condição humana.

Onde está a tua raiz de índole humanista e cristã, cuja unicidade foi

minada por desejos megalómanos de poder e de lutas intestinas no

desejo de “saber melhor”, mas que no tempo se mostraram iguais

aos que lutaram contra ou [o tempo a tudo mostra a sua

experiência] alimentaram novos desígnios que tão perto da verdade

estão como os outros!

Estamos no limiar de uma era temporal histórica e os desafios são

enormes para a sustentabilidade da dignidade humana; criar uma

sociedade cujos valores civilizacionais sejam de raiz naturalmente

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humanista, na economia e no desenvolvimento social. Toma a

dianteira e como no passado cultiva para colher no futuro, Europa.

Multiculturalidade e paradigma do conhecimento!

Cruza o tempo, cumpre o destino!

Europa, mãe de Pátrias! Senhor, falta cumprir-se…

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EPILOGO

evolução global do trabalho e as suas assimetrias, a ganância do homem, o poder financeiro do dinheiro, levaram as sociedades para uma crise cujos contornos ainda estão por

definir. Os erros da História são ignorados e repetem-se. A esperança é a ultima a morrer! O homem afastou-se de Deus, ignorou a sua espiritualidade, ofuscado pelo esplendor do seu progresso material. Um erro que o leva a estar só! Espiritualidade e materialidade em uníssono.

Alma Lusa

Ω

A