Tele Medicina

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371 ARTIGO Engenharia de software em Telessaúde: aplicações e desafios AUTORES Elder Cirilo Doutor em Informática PUC-Rio Ingrid Nunes MSc em Informática PUC-Rio Darlinton Carvalho MSc em Informática PUC-Rio Gustavo Carvalho Doutor em Informática PUC-Rio Alfredo Veiga MSc em Informática PUC-Rio Carlos Lucena Doutor em Ciência da Computação - Universidade da Califórnia em Los Angeles 1. INTRODUÇÃO Tecnologias da informação e comunicação (TIC) vêm sendo amplamente exploradas na prática de Saúde. Além da grande variedade de ferramentas que foram desenvolvidas no auxílio à prevenção e tratamento de doenças, também

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Engenharia de software em Telessaúde:aplicações e desafios

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    ARTIGO

    Engenharia de software em Telessade: aplicaes e desafiosAUTORES

    Elder Cirilo Doutor em Informtica PUC-Rio

    Ingrid Nunes MSc em Informtica PUC-Rio

    Darlinton Carvalho MSc em Informtica PUC-Rio

    Gustavo Carvalho Doutor em Informtica PUC-Rio

    Alfredo Veiga MSc em Informtica PUC-Rio

    Carlos LucenaDoutor em Cincia da Computao - Universidade da Califrnia em Los Angeles

    1. INTRODUO

    Tecnologias da informao e comunicao (TIC) vm sendo amplamente

    exploradas na prtica de Sade. Alm da grande variedade de ferramentas que

    foram desenvolvidas no auxlio preveno e tratamento de doenas, tambm

  • 372

    j se encontram usos mais inovadores de TIC ainda pouco explorados, como

    por exemplo, na aquisio de dados e suporte anlise de comportamento

    social acerca de doenas epidemiolgicas. Neste contexto, a engenharia de sis-

    temas de Telessade est associada a resoluo de diversos problemas prticos

    da rea de Sade, que so investigados dentro da Cincia da Computao no

    mbito da Engenharia de Software. A Engenharia de Software 1 uma disciplina

    que se preocupa com todos as aspectos da produo (ex.: especificao, valida-

    o, desenvolvimento e evoluo) e uso de sistemas de software.

    Figura 1. Sistemas de Informao aplicados rotina do profissional da sade e da populao em geral.

    Neste captulo, diversos dos desafios relacionados engenharia de siste-

    mas voltados Telessade sero discutidos atravs de aplicaes de software

    deste domnio. A identificao desses desafios resultou de uma vasta experin-

    cia no desenvolvimento e uso de sistemas de Telessade pelo Laboratrio de

  • 373

    Engenharia de Software (LES) da Pontifcia Universidade Catlica do Rio de

    Janeiro (PUC-Rio), em associao com diferentes hospitais e unidades de trata-

    mento, no mbito de projetos financiados por diversas agncias financiadoras

    tais como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

    (CNPq), Fundao Carlos Chagas Filho de Amparo Pesquisa do Estado do Rio

    de Janeiro (FAPERJ) e Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). A Figura 1

    ilustra como as aplicaes de software construdas e estudadas se aplicam no

    dia a dia tanto do profissional da Sade, quanto da sociedade em geral.

    O projeto que resultou no Sistema Unificado de Assistncia Pr-natal

    (SUAP) foi realizado em parceria com ginecologistas e obstetras do Hospital

    Universitrio Antnio Pedro (HUAP), Niteri/RJ. O SUAP consiste em um sis-

    tema com funcionalidades autnomas que suportam e monitoram a assistncia

    pr-natal. O termo unificado devido unificao dos dados em uma base de

    dados central, que pode ser acessada de diferentes instituies de sade. Em

    parceira com o Instituto de Responsabilidade Social do Hospital Srio-libans

    (IRSSL), foi realizado um estudo, a partir do contedo disponvel em sites de

    redes sociais na internet, sobre as motivaes que levam ao incio e ao fim do

    uso de drogas, especialmente o crack. O resultado desse estudo serviu como

    tema para discusso em um seminrio organizado pelo IRSSL, que envolveu

    mais de 50 autoridades e especialistas de todas as esferas de governo, associa-

    es e academia. Para viabilizar a realizao desse estudo, foi desenvolvido um

    conjunto de ferramentas que auxiliam no estudo por especialistas. Finalmen-

    te, o LES tambm vem conduzindo diversos estudos em relao aplicao

    de tecnologias no apoio rotina hospitalar e ao treinamento de profissionais

    da Sade. Em um primeiro estudo as tecnologias SANA Mobile2 e OpenMRS3

    foram aplicadas em conjunto por mdicos na construo e disponibilizao de

    pronturios, respectivamente. Um segundo estudo conduzido no contexto de

    uma turma de Clnica Mdica da Escola de Medicina e Cirurgia da Universidade

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    do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) avaliou o uso da plataforma de aprendizado

    baseada em comunidades online Youknow4.

    Durante a execuo destes projetos identificou-se uma srie de desafios,

    principalmente no que diz respeito ao entendimento do domnio de aplicao

    e a adaptao das tecnologias existentes. No caso do SUAP, por exemplo, ape-

    sar da ampla expertise no desenvolvimento de sistemas multiagentes, tinha-se

    somente uma vaga ideia do que poderia ser feito para melhorar a relao entre

    mdicos e pacientes, devido s particularidades dos protocolos de acompanha-

    mento pr-natal. Alm disso, os especialistas do domnio tambm no tinham

    noo do que o sistema podia fazer a mais por eles, alm de prover uma infor-

    matizao do que era feito manualmente. Neste sentido, tecnicamente, tam-

    bm foi desafiador construir uma modelagem do domnio, bem como entender

    e representar os protocolos de acompanhamento. Tambm observou-se uma

    srie de resultados interessantes a partir da aplicao das tecnologias SANA e

    OpenMRS na rotina hospitalar. Pode-se mencionar a partir das novas expe-

    rincias alcanadas pelos estudantes de medicina do Hospital Universitrio

    Gaffre e Guinle: a necessidade de padronizao dos pronturios encontrados

    no hospital; o nmero reduzido de opes pr-prontas de pronturios ofereci-

    dos pelo SANA; a dificuldade na criao de novos pronturios para atender os

    mais diversos cenrios de atendimento; falta de uma ferramenta agregada ao

    OpenMRS para anlise colaborativa dos pronturios publicados. Resultados

    positivos tambm foram alcanados na aplicao do YouKnow como ferramen-

    ta de aprendizado de clnica mdica, uma vez que os alunos deixaram de lado o

    modelo tradicional de aprendizado e passaram a tirar suas prprias concluses

    acerca do assunto abordado nas disciplinas atravs do incentivo realizao

    de pesquisas e divulgao colaborativa do conhecimento pesquisado.

    O restante desde captulo est organizado como se segue. A Seo 2 apre-

    senta as principais aplicaes de Engenharia de Software realizadas nos proje-

    tos de pesquisa em Telessade vinculadas ao LES. Tambm so apresentados,

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    nesta seo, os desafios que surgiram durante a execuo dos projetos. A Seo

    3 apresenta dois estudos de aplicao de tecnologias de software realizadas em

    parceria com estudantes de Medicina de duas universidades. Ao final tambm

    so apresentados os principais resultados e lies aprendidas. Finalmente, a

    Seo 4 conclui esse captulo.

    2. ENGENHARIA DE SOFTWARE EM TELESSADE

    2.1. Sistema Unificado de Assistncia Pr-natal

    A maioria das mortes relacionadas gravidez ocorre em pases recente-

    mente industrializados (do ingls, Newly Industrialized Countries NIC). A fim

    de se reduzir esse problema, foram identificadas deficincias na assistncia

    pr-natal no sistema pblico de sade do Brasil que poderiam ser assistidas

    por sistemas computacionais, em associao com ginecologistas e obstetras do

    Hospital Universitrio Antnio Pedro (HUAP), Niteri/RJ. Essas deficincias

    esto principalmente relacionadas com protocolos que devem ser seguidos nas

    unidades primrias de sade e com o processo de referenciamento que deve

    ser realizado quando uma gravidez de alto risco identificada, alm de outras

    funcionalidades que podem ser automatizadas com uma aplicao de software.

    Sistemas multi-agentes (SMAs)5 podem ser usados para auxiliar profissio-

    nais de sade altamente especializados com a informao correta, em tempo

    adequado e adaptada aos pacientes6. Nesse contexto, o projeto que teve como

    resultado o Sistema Unificado de Assistncia Pr-natal (SUAP)7 foi realizado, pro-

    vendo um SMA para dar suporte e monitorar a assistncia pr-natal. O termo

    unificado devido unificao dos dados em uma base de dados central, que

    pode ser acessada de diferentes instituies de sade. O projeto foi desen-

    volvido pelo LES da PUC-Rio em associao com ginecologistas e obstetras

    do HUAP. O SUAP utiliza a tecnologia de agentes para gerenciar registros de

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    sade, agir como um sistema de suporte a decises clnicas, e para lidar com

    a logstica de casos de gravidez de alto risco. Ele oferece funcionalidades com

    um comportamento pr-ativo, o qual visa a solucionar questes relacionadas

    a recursos limitados disponveis no sistema de sade pblico em NICs.

    As principais funcionalidades do SUAP incluem: (i) armazenamento e

    acesso eletrnico de registros de sade de gestantes, de forma que essa in-

    formao possa ser usada em qualquer estgio dos protocolos da assistncia

    pr-natal; (ii) identificao e monitorao do uso de protocolos de assistncia

    pr-natal, agindo como um sistema especialista que atua por trs dos panos

    para auxiliar profissionais da Sade. importante ressaltar que, em alguns

    casos, um protocolo deve ser adaptado para ser mais efetivo. Em tais situaes,

    o sistema de monitoramento pode ser usado para mostrar a efetividade de

    um protocolo para o profissional, de forma que ele possa pensar a respeito de

    mudanas; e (iii) suporte ao acesso contextualizado de servios relacionados

    ao atendimento pr-natal. Gestantes de alto risco devem ser referenciadas s

    unidades secundrias de sade. Este processo de referenciamento depende de

    diversas questes, tais como a localizao da gestante, as condies clnicas

    da me e do feto, etc.

    O SUAP principalmente um sistema baseado na web. Entretanto, alguns

    aspectos do sistema requerem um comportamento autnomo e pr-ativo, tais

    como a indicao de situaes do uso de protocolos e a monitorao dos mes-

    mos. Assim, o SUAP dividido em duas partes principais: (i) ele tem mdulos

    que representam a aplicao web; e (ii) ele integrado com um SMA. Essa inte-

    grao leva a alguns desafios no desenvolvimento do sistema.

    A fim de se resolver essa questo, o SUAP foi desenvolvido seguindo o pa-

    dro arquitetural Web-MAS8, que permite a construo de sistemas baseados

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    na web com comportamento autnomo provido por agentes de software. Esse

    padro estende o padro arquitetural em camadas, o qual um padro lar-

    gamente adotado para estruturar aplicaes web9. O padro Web-MAS oferece

    uma integrao com baixo impacto de agentes de software a arquiteturas de

    aplicao web. Alm da aplicao web, o padro Web-MAS tem trs mdulos:

    (i) Monitor da Camada de Negcios, que monitora a execuo de servios de ne-

    gcio e os propaga para agentes do sistema ele representa o ambiente do

    SMA; (ii) Fachada da Camada de Agentes, que o ponto de acesso para a aplica-

    o web interagir com o SMA; e (iii) Camada de Agentes, que composta pelos

    agentes do sistema.

    Figura 2. Arquitetura e Tecnologias do SUAP.

    Durante o desenvolvimento do SUAP, foi utilizado um conjunto de tecno-

    logias que prov uma infraestrutura apropriada para a aplicao. A Figura 2

    ilustra a estrutura da arquitetura e tecnologias do SUAP. Foi usado o Seam1, um

    framework para a construo de aplicaes web ricas em Java, juntamente com

    o servidor de aplicaes JBoss. Agentes de software foram desenvolvidos com o

    1 http://seamframework.org

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    framework JADE2. A nica camada que foi implementada de fato da aplicao web

    a camada de aplicao, devido ao uso do Seam. No foi necessrio estruturar

    o sistema usando as tradicionais trs camadas (apresentao, negcio e dados)

    porque o Seam fornece o encapsulamento e implementao das outras camadas.

    A Figura 3 mostra uma captura de tela do SUAP, que apresenta o passo de regis-

    tro de um atendimento tpico da gestao. Ele ilustra a situao na qual o peso

    no adequado atual idade gestacional. Portanto, pode ser visto na Figura 3

    o alerta indicando essa inconformidade.

    Figura 3. Alerta de baixo peso durante o atendimento.

    2.1.1 Desafios do Domnio

    No LES, sistemas baseados em agentes tm sido desenvolvidos nos lti-

    mos anos. Com tais sistemas, os principais objetivos envolvem a avaliao de

    certas abordagens da pesquisa orientada a agentes. O domnio destes estudos

    de caso tipicamente o utilizado na literatura de SMA, tal como sistemas de

    gerenciamento de conferncias e e-commerce. Alm disso, funcionalidades t-

    2 http://jade.tilab.com

  • 379

    picas de agentes destes sistemas, i.e. , aquelas com comportamento pr-ativo

    e autnomo e/ou que requerem capacidade de raciocnio e aprendizado, so

    bem definidas.

    A principal diferena entre estes estudos de caso e o SUAP que no se tinha

    um conhecimento anterior sobre o domnio, e tinha-se uma vaga ideia do que

    poderia ser feito para melhorar a assistncia pr-natal. Alm disso, os especia-

    listas do domnio tambm no sabiam do que precisavam eles no sabiam o

    que o sistema poderia fazer para eles, alm de prover uma informatizao do

    que era feito manualmente. Acredita-se que esta situao ocorreu porque os

    stakeholders no eram familiarizados com sistemas que automatizam tarefas

    e capazes de raciocinar sobre dados. Portanto, um primeiro grande desafio

    enfrentado foi descobrir como se pode melhorar a assistncia pr-natal, i.e., que tarefas

    podem ser automatizadas e delegadas para o sistema.

    Outro problema enfrentado foi a identificao do escopo da automatiza-

    o de tarefas. Ter agentes agindo em nome de usurios pode trazer a falsa

    ideia de que automatizar tudo o que possvel bom. Concluiu-se que isso no

    verdade, baseando-se em discusses com stakeholders. Durante a elicitao dos

    requisitos do SUAP, profissionais da medicina mostraram um alto interesse

    na maioria das sugestes feitas, e inferiu-se que eles tambm queriam um

    sistema que usasse raciocnio baseado em casos para sugerir diagnsticos.

    Esta funcionalidade muito comum em sistemas especialistas do domnio da

    sade. Contudo, profissionais da Medicina no quiseram esta funcionalidade

    no SUAP. Quando se lida com o sistema pblico de sade, profissionais da Me-

    dicina devem seguir estritamente os protocolos e o sistema deve identificar

    quando um protocolo deve ser aplicado e indicar qual ao deve ser realizada.

    Nenhum protocolo pode ser alterado automaticamente pelo sistema, mesmo

    que ele no esteja sendo efetivo.

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    Estas duas questes esto relacionadas com a elicitao dos requisitos

    focando na identificao de funcionalidades que automatizam a assistncia

    pr-natal, ou requerem tcnicas de raciocnio e aprendizado. Alm disso, foi

    desafiante encontrar uma soluo de como este comportamento autnomo, i.e., agen-

    tes, deve interagir com usurios. No SUAP, agentes devem expressar notificaes

    sobre protocolos, medicamentos, exames e outros, mas ao mesmo tempo no

    podem ser inconvenientes. Alguns profissionais da Sade so especialistas e,

    portanto, no precisam de um sistema que lhes d notificaes. No SUAP todas

    as notificaes so dadas atravs de um alerta na tela (veja Figura 3), com uma

    mensagem correspondente que mostrada apenas se o usurio aponta para o

    cone deste alerta.

    2.1.2 Desafios Tcnicos

    Do ponto de vista de Engenharia, o principal desafio enfrentado a mode-

    lagem do domnio, bem como entender e representar protocolos (engenha-

    ria do conhecimento). A informao que se tinha a respeito de aes a serem

    realizadas para cada aspecto de preocupao (peso, altura uterina, etc.) e o

    contexto da sua aplicao era muito especfica, e foi difcil encontrar conceitos

    genricos para serem utilizados na representao dos protocolos. O objetivo

    era modelar os protocolos de forma genrica a fim de reduzir o impacto da

    criao e atualizao dos protocolos.

    Como foi adotado um processo de desenvolvimento incremental10, uma boa

    modularizao da arquitetura e dos seus mdulos essencial para permitir uma

    evoluo e manutenibilidade do sistema. Isso foi particularmente desafiante

    porque a maioria das aplicaes SMA, mesmo aquelas baseadas em frameworks bem

    conhecidos, no se preocupam com princpios de estabilidade e manutenibilidade

    durante a concepo e implementao de arquiteturas SMA11. Portanto, o objetivo

  • 381

    no s se beneficiar das abstraes SMA para modelar comportamento autnomo

    e pr-ativo, mas tambm levar em considerao princpios da Engenharia

    de Software para permitir o desenvolvimento de arquiteturas SMA estveis e

    manutenveis, logo facilitando a evoluo do sistema.

    Com relao implementao do SUAP, a principal questo foi a escolha da

    plataforma de agentes. Primeiramente, foi considerado o uso de uma platafor-

    ma belief-desire-intention (BDI)12 para prover um mecanismo de raciocnio para

    os agentes. Contudo, aps a identificao dos requisitos, percebeu-se que os

    agentes forneciam um comportamento pr-ativo baseados em um conjunto

    fixo de regras, e a arquitetura BDI no trouxe nenhuma vantagem a eles. Tambm,

    havia uma preocupao com o prvio conhecimento dos programadores.

    Mesmo que eles tivessem grande experincia com tecnologias orientadas a

    objetos, no tinham conhecimento anterior sobre SMA e suas plataformas

    de implementao. Como consequncia, a adoo de plataformas complexas que

    fornecem novas abstraes iria aumentar significativamente os custos de treinamento.

    Outra principal restrio considerada na escolha da plataforma de agentes

    a integrao com tecnologias orientadas a objetos. Muitos frameworks orientados

    a objetos de sucesso tm sido criados para o desenvolvimento de aplicaes

    web, o que reduz o tempo de desenvolvimento significativamente. No caso do

    SUAP, o Seam e o JADE foram utilizados; entretanto, a sua integrao no foi

    trivial. Uma das funcionalidades providas pelo Seam a persistncia, o que tem

    que ser usado pelos agentes. A fim de se obter acesso ao banco de dados atra-

    vs do Seam, agentes tm que ser componentes Seam e serem instanciados sob

    o container dele. Mas, os agentes JADE no funcionavam como componentes

    Seam, e acredita-se que isso ocorria devido ao controle de threads. No foram

    feitas investigaes a respeito disso, j que uma soluo alternativa foi adota-

    da: criou-se um componente Seam como uma instncia nica usada como um

    localizador de componentes que podem acessar a base de dados para agentes.

  • 382

    2.2. Explorando Dados Pblicos Disponveis na Internet para Estudar Sade

    A internet uma poderosa ferramenta de comunicao. Sendo uma mdia

    digital, tem peculiaridades interessantes como, por exemplo, a possibilida-

    de de facilmente persistir s interaes dos usurios acessando sites na web,

    mensagens em sites de redes sociais e discusses sobre comunidades online. H

    um grande debate sobre questes de privacidade e padres ticos em relao

    ao rastreamento do comportamento de usurios na internet e o uso desses

    dados13,14,15, mas h tambm boas fontes de dados disponveis publicamente

    na internet e que podem ser usadas, por exemplo, para pesquisa acadmica15.

    Em uma recente proposta16, apresenta-se uma abordagem prtica sobre como

    usar esses dados sociais valiosos para a realizao de estudos sociais, a fim de

    aumentar a compreenso das questes importantes sobre Sade.

    Figura 4. Abordagem proposta para a realizao de estudos sobre sade baseado em dados pblicos dispon-veis na Internet.

  • 383

    Esta abordagem foi projetada em trs estgios para orientar os pesquisado-

    res na realizao dos estudos, comeando com uma anlise ampla de contedo,

    que visa toda a web, e vai em busca de uma comunidade online em sites de redes

    sociais, at encontrar uma comunidade em que a anlise de seus contedos

    (discusses, por exemplo) parece promissora para responder s questes de

    pesquisa do estudo. A abordagem pode ser vista como um guia para a realiza-

    o destes estudos atravs da utilizao sistemtica de dados gratuitos dispo-

    nveis na web. Este guia apoiado por ferramentas computacionais. A Figura 4

    apresenta uma viso geral da abordagem utilizada na realizao dos estudos.

    A abordagem proposta comea quando uma pessoa, que possui alguma

    condio mdica, vai para os motores de busca (e.g. Google). um hbito cres-

    cente entre as pessoas pesquisar na web sobre os sintomas e medicaes, mes-

    mo antes de procurar um mdico. Observar como os usurios buscam infor-

    maes na web pode fornecer dados esclarecedores sobre o comportamento da

    populao em geral15. Assim, a ideia da abordagem aproveitar esses sistemas

    e ferramentas que procuram tendncias gerais nas buscas, palavras-chave e

    insights, geralmente oferecidas pelas empresas donas dos motores de busca.

    A segunda etapa da abordagem vai para o universo das comunidades online

    em sites de redes sociais, olhando para as discusses em torno dos temas de

    interesse e visando a identificar um panorama. Um lugar importante para

    os usurios de internet so as comunidades online17, pois onde as pessoas

    podem encontrar seus pares que compartilham interesses em comum, trocar

    informaes e buscar apoio. Um fenmeno mais recente o uso crescente de

    sites de redes sociais21, que tambm apoiam a criao de comunidades online.

    A ideia da abordagem usar os sites de redes sociais para buscar contedo

    relacionado com o estudo, e a identificao de um panorama de comunidades

    online.

    A ltima etapa da abordagem vai fundo na anlise de uma comunidade

  • 384

    online, buscando explicar a realidade da comunidade relacionada s questes

    de pesquisa. Busca-se um estudo exaustivo da discusso apresentada no frum

    da comunidade. A anlise emprega tcnicas de cincias sociais e computacio-

    nais. Uma tcnica importante que pode ser usada para descrever a populao

    o Discurso do Sujeito Coletivo18, pois uma tcnica qualitativa com razes na

    Teoria das Representaes Sociais. Dados dos membros adicionais dispon-

    veis no site de redes sociais tambm podem ser automaticamente analisados,

    gerando grandes agregados de dados como resultados.

    Esta abordagem rene assim disciplinas diferentes, como necessrio

    para realizar tais estudos, alinhada a uma nova rea de pesquisa que vem

    sendo chamada de cincia social computacional19, mas com aplicao direta

    em questes importante de Sade. Para ilustrar o trabalho desenvolvido em

    termos de Engenharia de Software, apresenta-se primeiramente um resumo do

    estudo realizado em parceria com o Instituto de Responsabilidade Social Srio-

    -Libans e logo em seguida so apresentadas duas ferramentas desenvolvidas

    para dar suporte realizao desses estudos, conforme a abordagem descrita

    anteriormente.

    2.2.1. Estudo sobre o Incio e o Fim do Uso de Drogas: o Caso do Crack no Brasil

    Como uma aplicao da abordagem proposta, apresentam-se alguns resul-

    tados de um estudo sobre as motivaes para o uso de drogas (incio e fim), em

    particular o crack no Brasil. As perguntas iniciais da pesquisa foram: 1) por que

    as pessoas comeam a usar drogas, 2) por que continuam usando e 3) por que

    deixam de usar. Todos os trs estgios da abordagem proposta para o estudo

    foram realizados fornecendo informaes para descrever um panorama sobre

    drogas na internet, especialmente sobre a audincia da internet brasileira, e

  • 385

    revelando a realidade de uma comunidade de suporte dos usurios de crack.

    Como resultado da anlise de contedo da comunidade, o relatrio compila

    respostas para as perguntas a seguir: 1) quais so os fatores que levam ao uso

    de crack; 2) quais so os pontos de giro para iniciar um tratamento, 3) que so

    fatores de manuteno da abstinncia; 4) o que favorece o reincio do uso de

    drogas; 5) quais so as crticas sobre o tratamento de sade oficial; e 6) que tipo

    de ajuda os co-dependentes esto procurando.

    Seguindo a recomendao da primeira etapa, o Google Insights for Search foi

    usado para obter uma viso geral das tendncias de pesquisa sobre o termo

    crack no Brasil. Por causa da ambiguidade do termo crack, que tambm utili-

    zado por usurios que procuram por software ilegal e licenas na internet, o ser-

    vio de configurao foi criado para recuperar apenas pesquisas relacionadas

    sade da categoria. A Figura 5 mostra o resultado dessa consulta. A maioria

    das pesquisas esto relacionadas ao crack termo geral, algumas pesquisas so

    sobre a reao droga (efeitos de crack), e, como esta figura aponta, as pessoas

    esto procurando informaes sobre o tratamento na internet (tratamento de

    crack) tambm.

    Figura 5. Insights Google para resultados de pesquisa

    Uma vez que a principal fonte de mdia social no Brasil o Orkut da Google,

  • 386

    este site de rede social foi usado como plataforma para a investigao em dois

    estgios. A pesquisa para o termo crack no sistema do Orkut, considerando-se

    filtros para localizao (Brasil) e lngua (Portugus), resultou em 995 ocorrn-

    cias em Setembro de 2011. O prximo passo foi selecionar as comunidades que

    possuem discursos contextualizados sobre a experincia das pessoas relacio-

    nadas ao uso de drogas. A partir de uma categorizao das 995 comunidades

    foi possvel identificar 278 (28%) comunidades de acordo com o objetivo da

    seleo, 360 (36%) comunidades que pareciam no estar relacionadas com o

    objetivo de seleo, e 357 (36%) comunidades que no usaram o termo crack

    relacionado droga (por exemplo, programas e quebra de senha). Reduzindo

    o conjunto de dados, as 278 comunidades identificadas foram filtradas para

    13 comunidades, a partir da considerao de caractersticas da comunidade

    online como: 1) ter mais de 300 membros, 2) ter mais de 6 meses de existncia;

    3) ter atividade recente e 4) ter contedo pblico disponvel. O ltimo passo

    desta etapa foi escolher uma comunidade para ser analisada. A comunidade

    Crack, Nem Pensar AJUDA3 foi escolhida para a anlise em profundidade,

    porque, a partir das 13 comunidades remanescentes, ela a mais antiga e tem

    mais membros do que as outras (11.102 membros). Em uma rpida avaliao de

    seu contedo, a comunidade apresentou uma intensa conversa entre os seus

    membros, o que na medida mostrou depois uma mdia de 3,3 mensagens por

    dia desde sua criao em 16 de julho de 2004.

    A anlise da comunidade foi focada em membros participantes que se

    envolveram em conversas no frum da comunidade. Vale a pena fazer essa

    distino, pois todos os membros tm o potencial para acompanhar as discus-

    ses, mas a maioria deles prefere no participar (i.e. lurkers), mas esta anlise

    baseia-se no contedo dos participantes que postaram mensagens no frum.

    A partir dos dados disponveis dos participantes, foi possvel aferir que 57%

    eram homens e 43% mulheres. A localizao recuperada dos participantes foi

    3 http://www.orkut.com/#Community cmm=175318

  • 387

    consolidada no mapa disponvel online4. Na poca da realizao do estudo, se-

    tembro de 2011, o frum da comunidade tinha 434 participantes, 384 tpicos

    e 8.655 mensagens, totalizando 76.646 palavras, ou 4.515.087 caracteres. S a

    ttulo de comparao, vale comparar com a Bblia de Gutenberg B-42 que tem

    cerca de 3 milhes de caracteres. Considerando o grande volume de dados e

    os esforos necessrios para a anlise de contedo, um recorte dos dados foi

    realizado para focar a investigao em uma anlise de contedo adequado aos

    objetivos do estudo, atravs da tcnica de Anlise do Discurso do Sujeito Coletivo.

    A partir do conjunto de dados original, 39 (10%) tpicos foram escolhidos, com

    129 (30%) participantes e 925 (11%) mensagens, totalizando 107.488 (14%) pa-

    lavras, ou 602.332 (13 %) caracteres.

    A anlise identificou que a comunidade de fala de dependentes e co-depen-

    dentes (dependentes da famlia e amigos) se misturam e se completam, pois

    ambos requerem cuidados e ateno. A realidade dessas pessoas sintetizada

    atravs da transcrio do discurso como respostas para as perguntas de pes-

    quisa. A seguir so apresentadas duas ferramentas desenvolvidas para dar

    suporte realizao deste estudo.

    2.2.2 Criao de Mapas de Associao de Comunidades

    A fim de auxiliar no estudo da participao do usurio dentro das comuni-

    dades, foi proposto um processo para anlise baseada no relacionamento en-

    tre comunidades a partir das associaes dos usurios da comunidade objeto

    de estudo (Carvalho, 2012). A adeso de um usurio a uma comunidade pode

    ser vista como o interesse do usurio no tpico da comunidade. O processo

    baseia-se em um modelo de comunidades relacionadas com base no interesse

    4 http://batchgeo.com/map/536db2e5aac00f746005efc6334542c4

  • 388

    dos usurios. Um grfico traado revela afinidades mais fortes, em peso, das

    linhas de ligao entre as comunidades. Esses grficos auxiliam os especia-

    listas a descobrir as tendncias que iro aprofundar o seu conhecimento em

    determinadas questes sociais. Alm disso, os especialistas podem aplicar fil-

    tros sobre os dados previstos para escolher quais os usurios e as comunidades

    interessantes para a anlise. A aplicao do processo limitada s situaes

    em que os usurios sejam tambm membros de outras comunidades.

    O processo tem trs etapas: coleta de dados do modelo, medio e visualiza-

    o. A Figura 6 apresenta uma viso geral do processo. O primeiro passo, a co-

    leta de dados, obtm os dados de mdias sociais em sites de comunidades online.

    Em seguida, construdo um modelo que estabelece o relacionamento entre

    as comunidades a partir das associaes dos usurios com essas comunidades.

    Os dados coletados so processados e organizados em um formato apropriado

    para traar a visualizao de dados na ltima etapa. A etapa de visualizao

    responsvel por exibir dados de uma forma mais atraente, facilitando o traba-

    lho dos peritos.

    Figura 6. Uma viso geral do processo para a gerao do Mapa de Relacionamento de Comunidades.

  • 389

    2.2.3 Seleo de Contedo a partir de Fruns de Comunidades Online

    A abundncia de contedo pblico disponvel na internet, especialmen-

    te nas comunidades online, permite novos mtodos de estudos sociais. Visto

    que a realizao de anlise qualitativa de contedo demanda muito tempo, o

    seguinte problema aparece: como selecionar o contedo a ser analisado? Nes-

    te contexto, apresenta-se um novo processo para auxiliar na resoluo deste

    problema16. Esse processo baseado em tcnicas de aprendizado de mquina

    no supervisionado e proporciona resultados consolidados e estruturados, in-

    cluindo mtricas e um mtodo para explorao de contedo. Uma ferramenta

    que ajuda na utilizao do processo proposto foi criada e tambm apresen-

    tada.

    O problema da seleo de contedo pode ser resumido como a tarefa de

    encontrar, em fruns de discusso da comunidade online, contedo que parece

    promissor para responder a perguntas de pesquisa de estudo. Este problema

    tem dois objetivos distintos, sendo o primeiro maximizar o nmero de participan-

    tes de discusso (i.e. usurios) e o segundo minimizar o nmero de tpicos a serem

    analisados (i.e. quantidade de contedo). importante dizer que a anlise do

    contedo deve ser realizada considerando o contexto do estudo, pois a an-

    lise de uma mensagem (i.e. post) interessante exige a compreenso de toda a

    discusso, tal como apresentado em outras mensagens do tpico. Portanto, a

    soluo do problema de seleo de contedo para anlise um conjunto de

    tpicos selecionados a partir do frum de uma comunidade online.

    Para resolver este problema, prope-se um processo, como introduzido

    anteriormente, baseado em tcnicas de aprendizado no supervisionado de

    mquina, que apresenta resultados processados e estruturados, incluindo me-

    dies e um mtodo de explorao de contedo para apoiar os usurios finais

  • 390

    (i.e. , pesquisadores sociais) na tarefa de seleo de contedo para anlise. Uma

    ferramenta baseada nesse processo foi construda para apoiar os pesquisado-

    res na soluo deste problema. A Figura 7 apresenta uma captura da tela do

    prottipo desenvolvido.

    Figura 7. Captura de tela da ferramenta desenvolvida para apoiar a seleo de contedo de comunidades online.

    A ferramenta de software desenvolvida para apoiar a seleo de contedo de

    comunidades online uma extenso da Tocha-Hierarquias Tpico20. Esta ferra-

    menta fornece tcnicas para pr-processamento de texto e algoritmos de clus-

    tering hierrquico. Alm disso, foi desenvolvido um mdulo para mensagens

    e recomendaes temas e uma interface visual para explorar os resultados de

    agrupamento de tpicos e mensagens.

    As mensagens e tpicos recolhidos das comunidades de fruns online tm

    vrios atributos. Usou-se um conjunto de atributos habitual em muitas redes

  • 391

    sociais para permitir uma aplicao mais ampla da ferramenta. Os atributos

    considerados para cada post foram: a mensagem de texto, a data de publicao e

    o autor. Cada post pertence a um determinado tpico do frum da comunidade

    online e um frum tem muitos tpicos. Assim, os atributos considerados para

    a representao dos temas foram o ttulo do tpico, o perodo de existncia

    (definida pela data de publicao do primeiro e do ltimo post) e o nmero de

    participantes do tpico.

    Aps a coleta de um conjunto de mensagens e tpicos, a ferramenta exe-

    cuta o pr-processamento dos dados textuais. O primeiro passo a remoo

    stopwords onde pronomes, artigos e preposies so descartados. Em seguida,

    os termos so simplificados usando o algoritmo de Porter Stemming [Stemming

    1, Stemming 2]. Assim, as variaes morfolgicas de um termo so reduzidas

    sua radical. Finalmente, uma tcnica de seleo de recursos com base na

    frequncia documento obtm um subconjunto reduzido e representante dos

    termos.

    A rede de coocorrncia obtida a partir de textos pr-processados a pri-

    meira estrutura disposio dos usurios para explorar o contedo textual das

    comunidades online. A ferramenta permite que os usurios possam analisar

    as relaes significativas entre termos atravs de uma interface interativa.

    digno de nota dizer que as relaes importantes encontradas sobre o contedo

    dos fruns so destacadas pela rede, por exemplo, o crack Escol (crack e

    escolas) e drog jov (jovens e drogas). Alm disso, os usurios podem

    remover relaes que no so de interesse para eles.

    A Figura 7 mostra a interface principal da ferramenta criada para apoiar

    a resoluo do problema de seleo de contedo. A rede de coocorrncia de

    termos foi resumida com agrupamento hierrquico. Assim, os vrios temas

  • 392

    discutidos nos fruns so apresentados ao usurio de forma sucinta atravs de

    temas (Figura 7 A). Quando os usurios selecionam um tema, os tpicos mais

    relevantes (Figura 7 B) e mensagens (Figura 7 C) so apresentados de acordo

    com uma estratgia de classificao [16]. O usurio pode selecionar contedo

    atravs de caixas de seleo no lado direito do nome do tpico ou post. A se-

    leo de um post na parte inferior (Figura 7 C) inclui automaticamente todos

    os posts de seu tpico, porque a compreenso da discusso exige que todas as

    mensagens do tpico sejam exibidas.

    A progresso da resoluo do problema de seleo de contedo descrito

    por um conjunto de medidas (Figura 7 D) que descreve o nmero de partici-

    pantes, que devem ser aproveitados ao mximo, o volume de contedo (tpi-

    cos, postagens, palavras, caracteres), que deve ser minimizado, e uma relao

    de ambas as medidas (mdia de mensagens por participante). A primeira linha

    mostra a medio considerando todo o contedo do frum e a segunda tem a

    medio da seleo. Cabe aos usurios decidir quando a soluo corrente (i.e. ,

    seleo) satisfatria, e estas medidas ajudam-nos a tomar essa deciso.

    O problema de seleo de contedos um problema difcil para os cientis-

    tas sociais que buscam novas empreitadas na realizao de pesquisas com base

    no vasto contedo disponvel na internet. Ele possui dois objetivos distintos e

    antagnicos, sendo um maximizar o nmero de participantes selecionados e, o

    outro, minimizar o volume de contedo a ser analisado. A soluo do problema

    tambm direcionada pelos interesses de pesquisa, que no so mensurveis.

    Sem a ferramenta, os pesquisadores contam apenas com as mtricas gerais

    sobre o contedo dos tpicos e devem considerar todo o contedo do frum de

    uma vez para realizar a reduo do contedo. O processo proposto tem como

    objetivo apoiar os pesquisadores para resolver este problema de forma mais

    esperta, explorando as melhores tcnicas de aprendizado de mquina dispo-

  • 393

    nveis at o momento. Embora a minerao de contedo e descrio atravs de

    mtricas e modelos ajudem a resolver o problema, a meta subjetiva do que de

    interesse a ser analisado ainda um fardo para os pesquisadores.

    A realizao de pesquisa multidisciplinar possui um complicador em sua

    essncia, pois necessita alinhar diferentes mtodos de pesquisas, peculiares a

    cada rea de cincia envolvida no processo, e na criao de novas tecnologias

    para viabilizar o alcano dos objetivos gerais que so propostos para essa pes-

    quisa. A anlise de mdias sociais para estudo de populaes uma atividade

    inerente de pesquisa em cincias humanas, em que, no contexto do trabalho

    desenvolvido, busca-se dar aplicao prtica na rea da sade. Esta anlise

    baseou-se em extenso uso tecnologias da informao e comunicao, princi-

    palmente atravs de dados e aplicaes disponveis na internet. A cincia da

    computao foi fundamental nesta pesquisa, pois foi atravs de seus mtodos

    que se criaram ferramentas de suporte na realizao das pesquisas, que en-

    contram uma razo prtica de realizao em aplicaes na Cincia da Sade.

    Os desafios em Cincia da Computao so maiores no sentido de se buscar

    compreenso das reais necessidades dos pesquisadores que precisam de novas

    tecnologias para viabilizar suas pesquisas; isso requer uma imerso em outras

    reas da cincia, e tem como objetivo o desenvolvimento de melhores modelos

    computacionais e ferramentas de suporte. Atravs da aplicao de Cincia da

    Computao neste novo cenrio, busca-se a criao do novo instrumental de

    pesquisa, em que mdias sociais digitais so o insumo de pesquisa de cientistas

    sociais que buscam o entendimento de questes de pesquisa em Cincias da

    Sade. Portanto, alinhar as expectativas e objetivos de pesquisa foi o grande

    desafio e resultou no desenvolvimento de tcnicas, mtodos e ferramentas

    para a realizao de estudos nesse sentido, bem como na anlise de questes

    relevantes para problemas importante de sade pblica.

  • 394

    3. EXPERINCIAS COM TECNOLOGIAS DE SOFTWARE EM TELESSADE

    3.1. SANA Mobile OpenMRS Aplicados a uma Rotina Hospitalar

    3.1.1. Viso Geral

    A rotina hospitalar uma atividade rica e dinmica e a todo momento

    surgem novos desafios. Cada paciente singular e merece ter toda ateno e

    cuidado do mdico. Para uma melhor qualidade do servio de atendimento,

    as informaes dos pacientes, como seus dados pessoais e sua histria clnica

    devem estar registrados de forma clara e objetiva desde o primeiro atendimen-

    to, para melhorar a comunicao mdica e a relao mdico-paciente. Dessa

    forma, o pronturio do paciente, contendo a motivao da internao, evo-

    luo clnica, exames complementares, prescrio de medicamentos e outras

    possveis informaes relevantes so de extrema importncia para a conduta

    mdica. Neste contexto surge a necessidade de tecnologias da informao que

    auxiliem a comunicao e disseminao destas informaes clnicas sobre os

    pacientes. O SANA Mobile consiste em um sistema de pronturio eletrnico

    inicialmente desenvolvido pelo MIT, voltado para plataforma mveis (i.e. , An-

    droid, iOS, Windows Mobile). A motivao primordial que levou ao surgimento

    do projeto SANA Mobile revolucionar a distribuio de servios de healthcare

    em reas remotas e de difcil acesso de forma clara e objetiva.

    SANA2 uma ferramenta que tem por objetivo permitir a transmisso de

    arquivos mdicos atravs de um dispositivo mvel. SANA suporta a transmis-

    so desde arquivos de texto contendo informaes clnicas de um paciente at

    arquivos de udio e vdeo. Arquivos mdicos podem ser transmitidos para

    um servidor de armazenamento central (i.e. , baseado no OpenMRS3 ou dire-

    tamente para um especialista. SANA se integra facilmente com a plataforma

    OpenMRS, que tem por objetivo facilitar a construo personalizada de sis-

  • 395

    temas de armazenamento de informaes mdicas. Com o uso do OpenMRS,

    informaes sobre medicamentos, pronturios, diagnsticos, procedimento,

    dentre outras questes gerais, ficam armazenadas e disponveis de forma

    centralizada, podendo ser consultadas colaborativamente por diversos espe-

    cialistas.

    Qualquer procedimento mdico compreendido pelo SANA como um

    fluxo de trabalho dividido em um ou mais passos. Cada passo, caracterizado

    na ferramenta como um formulrio, composto de questes e solicitaes.

    Por exemplo, em um dado passo pode-se solicitar ao usurio a coleta de uma

    imagem do paciente, a entrada de alguma informao relevante ou at mesmo

    a gravao de um vdeo. Com a coleta realizada, SANA envia as informaes

    disponveis para um servidor central para anlise mdica. Uma anlise resulta

    em notificaes contendo diagnsticos e recomendaes de tratamento.

    Figura 8. Arquitetura de comunicao SANA Mobile e OpenMRS.

    Uma infraestrutura completa, composta pela combinao do SANA com o

    OpenMRS, consiste de pelo menos um dispositivo mvel e um servidor. A Fi-

  • 396

    gura 8 ilustra a arquitetura de pronturios eletrnicos com SANA e OpenMRS.

    No lado do servidor temos tanto o sistema de armazenamento mdico (i.e. ,

    OpenMRS) quanto o sistema SANA de transferncia de arquivos (SANA Dis-

    patch Server MDS)2. O MDS responsvel por suportar a comunicao dos

    sistemas SANA instalados nos dispositivos mveis com o sistema de armaze-

    namento de informaes mdicas. A presena do MDS como uma camada na

    arquitetura permite a integrao do SANA com diversos sistemas de armaze-

    namento, no somente com o OpenMRS. Com MDS a transferncia de arqui-

    vos tambm fica agnstica do sistema operacional instalado no dispositivo

    mvel, isto , a arquitetura pode ser composta por dispositivos rodando iOS,

    Android, Windows Mobile, dentre outros.

    3.1.2 Resultados

    Com objetivo de compreender a metodologia e usabilidade na coleta de

    dados com o SANA Mobile combinado plataforma OpenMRS, foi realizado um

    estudo em parceria com estudantes do Ncleo de Telemedicina da UNIRIO

    Hospital Universitrio Gaffre e Guinle. Como resultado final, buscou-se

    formular um embasamento terico para a execuo e complementao de no-

    vos modelos de pronturios no SANA. O estudo tambm buscou identificar os

    principais desafios na visualizao dos pronturios criados com SANA em um

    sistema de armazenamento criado com o OpenMRS.

    O software do SANA contm diversos modelos de pronturios abrangen-

    do diferentes temas como, cncer oral e cervical, assistncia ao paciente com

    tuberculose e HIV, fichas de screening oftalmolgico e dermatolgico, alm de

    exames de imagem e pr-natal. Cada modelo de pronturio segue um fluxo de

    registro de informaes prprio, solicitando, por exemplo, queixa principal,

    incio da enfermidade, sinais e sintomas pertinentes quela doena, histria

  • 397

    pregressa do paciente, histria familiar, co-morbidades, solicitao e resulta-

    dos de exames laboratoriais, uso de medicamentos e diagnstico. Para realiza-

    o do estudo, inicialmente foi escolhido um modelo simples de pronturio no

    qual se deve cadastrar nome e sobrenome do paciente, seu nmero de matr-

    cula na unidade de sade e sua data de nascimento. Associado a este modelo,

    foram definidas algumas regras exigindo a informao de todos os dados e

    uma foto do paciente. Uma vez concludo o preenchimento do pronturio com

    os pr-requisitos necessrios, o envio para o servidor de armazenamento era

    liberado e ento cada profissional poderia visualizar e alterar suas informa-

    es via um sistema baseado no OpenMRS.

    Como resultado direto, o uso da plataforma SANA OpenMRS trouxe

    novas experincias para os estudantes de Medicina do Hospital Universit-

    rio Gaffre e Guinle. No entanto, em um primeiro momento alguns desafios

    foram encontrados, principalmente aqueles relacionados coleta de dados. A

    falta de padronizao dos pronturios encontrados no hospital e o nmero re-

    duzido de opes pr-prontas de pronturios oferecidos pelo SANA restringiu

    a usabilidade e aplicabilidade do sistema no contexto do estudo. Neste sentido,

    o mecanismo oferecido pelo SANA para criao e atualizao de formulrios

    tambm foi apontado como um ponto que dificultou a realizao do estudo.

    Pronturios so especificados de forma declarativa atravs de arquivos XML

    no SANA, seguindo um formato proprietrio. Esta especificao, apesar de

    declarativa, complexa, o que demandou uma constante comunicao entre

    os engenheiros de software do LES e os profissionais de sade. O pior cenrio

    observado foi o ciclo de atualizao de um pronturio. Depois de disparado a

    partir de uma solicitao de mudana no software, geralmente, demorava uma

    semana para todos os dispositivos estarem atualizados com a nova verso do

    pronturio. Isto porque aps cada mudana, os engenheiros de software so

    obrigados a enviar uma nova aplicao SANA para todos os profissionais de

  • 398

    sade, que por sua vez, precisam desinstalar a verso antiga e instalar a nova.

    Este processo, alm de muito sujeito a erros de comunicao entre os envolvi-

    dos, visivelmente no serve de escala para um grande quantidade de envolvidos.

    Para superar esta deficincia observaram-se duas necessidades: 1) oferecer

    um suporte para instalao e atualizao dinmica de pronturios no SANA; 2)

    uma ferramenta visual, voltada para os profissionais de sade, para criao de

    pronturios. Este segundo ponto tambm supre um segundo problema enfren-

    tado durante o estudo. A poltica de compartilhamento de dados cadastrados

    via SANA e publicados pelo OpenMRS baseada no nome de itens identificados

    no pronturio SANA. Neste caso, quando os itens no pronturio SANA no

    correspondem diretamente aos itens criados dentro do OpenMRS, os dados

    cadastrados se perdem. Com isso, em muitos dos casos, devido a problemas

    de incompatibilidade entre as informaes de itens nos pronturios, os dados

    de atendimento cadastrados via SANA no foram facilmente encontrados no

    OpenMRS ou em outros casos estavam incompletos.

    3.2 YouKnow como Ferramenta de Aprendizado de Medicina

    3.2.1 Viso Geral

    Tendo em vista a viso hierrquica do ensino tradicional, o qual define os

    alunos como iguais dentro do contexto de ensino, meros ouvintes e receptores

    passivos do contedo dado pelo professor, h uma necessidade no mercado

    de investimento em aprendizagem colaborativa. O Youknow (Youknow, 2012)

    representa uma mudana significativa do conceito de aprendizagem baseada

    em salas de aula e palestras de professores. Essa ferramenta tem como enfoque

    a interao entre o modelo tradicional e outros processos baseados na colabo-

    rao entre pessoas. Os professores tornam-se facilitadores do aprendizado

  • 399

    em vez de transmissores de contedo. H interao entre os colaboradores e

    parceiros, independente de estrutura hierrquica, reduo de barreiras geo-

    grficas, fcil acesso para todos e canal de discusso sobre melhores prticas.

    O YouKnow uma plataforma baseada na web para organizao de redes

    sociais entre usurios que discutem um determinado tema de estudo. O prin-

    cipal objetivo da ferramenta promover o aprendizado de maneira colabora-

    tiva entre os participantes. Neste sentido, o YouKnow oferece um conjunto de

    ferramentas que facilitam a troca de informaes, experincias, lies apren-

    didas e melhores prticas, fruns, rating de contedo, dentre outras.

    3.2.2 Resultados

    Com objetivo de melhor entender o uso do YouKnow e compreender a

    eficincia de suas ferramentas de aprendizagem dentro de um processo de

    ensino-aprendizagem em medicina, ela foi aplicada em uma turma de Clnica

    Mdica da Escola de Medicina e Cirurgia da Universidade Estadual do Rio de

    Janeiro. A experincia com a ferramenta consistiu no estudo do pronturio de

    um paciente. Neste estudo, o professor liberou informaes sobre o paciente

    gradativamente, de forma que a pesquisa e o aprendizado fossem concomi-

    tantemente associados com o que os alunos aprendiam nas aulas tericas e

    presenciais da turma de clnica mdica. A cada liberao, os alunos publicavam

    no ambiente juntamente com a pesquisa realizada, o contedo repassado nas

    aulas presenciais. Como forma de melhor entender a relao dos alunos com

    o ambiente, em um primeiro momento eles ficaram livres para escolher quais

    recursos mais os atraiam durante a publicao de um determinado contedo.

    Dentre os diversos itens que a comunidade oferece, os alunos escolheram o

    item Lio aprendida, para iniciar a atividade de publicao do contedo da

  • 400

    disciplina. A escolha foi motivada pelo fato de esse item apresentar perguntas

    previamente cadastradas, o que direcionou os alunos na apresentao do caso

    estudado. Inicialmente, a anamnese do paciente foi publicada, contendo os

    vrios diagnsticos diferenciais e uma imagem relacionada ao tema. Aps essa

    publicao, o professor utilizou o item Melhores Prticas para divulgar os

    exames que o paciente havia realizado, exame pr-bipsia de pncreas (tomo-

    grafia e colangioressonncia). Ao mesmo tempo, um artigo cientfico no item

    Artigo titulado Diabetes mellitus e carcinoma ductal de pncreas foi publi-

    cado, uma vez que esse era pertinente e relacionado com o assunto abordado.

    Durante todo o processo, as dvidas que surgiram foram publicadas no item

    Frum, com o objetivo de serem respondidas pelo professor ou at mesmo

    pelos alunos.

    Em um prximo passo, o professor divulgou os exames complementares

    de imagens realizados no paciente em questo no item Galeria de Imagens.

    No item Entrevista, o professor postou os laudos das imagens do caso e os

    alunos postaram os exames laboratoriais. Tambm foi utilizado esse item para

    transcrever o pronturio do paciente. A partir de todas essas informaes

    liberadas pelo professor, os alunos conseguiram diagnosticar o caso. Neste

    momento eles voltaram ao item Lio Aprendida e publicaram o diagnstico

    e um resumo sobre o mesmo. Aps todo esse processo, no item Coluna foi

    publicada pelos alunos uma apresentao sobre o diagnstico do paciente. Ao

    final, como os assuntos postados nos diversos itens estavam relacionados, os

    alunos criaram links entre estes diversos assuntos por meio do subitem Este

    item est relacionado a. Dessa forma, todas as ferramentas de aprendizagem

    foram exercitadas por eles, exceto a ferramenta podcast.

    Os alunos reportaram o uso da ferramenta como positivo, dado que deixa-

    ram de lado o modelo tradicional de aprendizado e passaram a tirar suas pr-

  • 401

    prias concluses acerca do assunto atravs das pesquisas realizadas. Um dos

    fatores que influenciaram o resultado positivo foi a usabilidade da plataforma,

    bem como a praticidade do acesso, seja atravs de computadores ou dispositi-

    vos mveis. Outro fator foi a maneira como o aprendizado est organizado, isto

    , por meio de uma rede social, o que permite por exemplo que participantes

    com maior experincia insiram itens de conhecimento englobando conceitos

    e prticas mais eficazes ou at mesmo o desenvolvimento de inovao. Alm

    disso, o desenvolvimento colaborativo do contedo permitiu que itens mais

    bem avaliados pelos participantes diminussem o tempo de execuo das tare-

    fas e o tempo de busca por itens mais relevantes.

    4. CONSIDERAO FINAIS

    Como resultado de uma vasta experincia no desenvolvimento de sistemas

    de software voltados Telessade pelo Laboratrio de Engenharia de Software

    (LES) da Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), este

    captulo apresentou diversas aplicaes e desafios associados Engenharia

    de Sistemas neste contexto. Nossa experincia consiste na aplicao de tc-

    nicas avanadas de engenharia de software na construo: (i) do SUAP; e (ii)

    de ferramentas computacionais para anlise do comportamento social acerca

    de doenas epidemiolgicas, a partir do contedo disponvel em sites de redes

    sociais na internet. Alm dos trabalhos de Engenharia de Software aplicada,

    diversos estudos vm sendo conduzidos no sentido de melhor entender a apli-

    cao de tecnologias no apoio rotina hospitalar e no treinamento de profis-

    sionais da Sade. As tecnologias SANA Mobile e OpenMRS vm sendo aplicadas

    em conjunto por mdicos na construo e disponibilizao de pronturios,

    respectivamente. A plataforma Youknow vem sendo utilizada como uma fer-

  • 402

    ramenta modernizadora da forma de aprendizado em uma turma de Clnica

    Mdica da Escola de Medicina e Cirurgia da Universidade do Estado do Rio de

    Janeiro (UERJ).

    Existe ainda uma srie de desafios a serem superados. Continua desafiador,

    mesmo em se aplicando tcnicas de especificao avanadas, como as basea-

    das na abstrao de agentes, descobrir como se pode melhorar a assistncia

    mdica atravs da automatizao e delegao de tarefas aos sistemas de infor-

    maes. Alm disso, desafiante encontrar uma soluo adequada de como o

    comportamento autnomo disponibilizado pelo software deve interagir com

    os usurios. No que diz respeito anlise computacional do comportamento

    social acerca de doenas epidemiolgicas, questes como: (i) descrever a meta

    subjetiva do que de interesse a ser analisado em uma rede social; e (ii) maxi-

    mizar o nmero de participantes selecionados em uma anlise, minimizando,

    porm, o volume de contedo a ser analisado precisam ser tratadas de forma

    mais adequada. Finalmente, a aplicabilidade do SANA, em conjunto com o

    OpenMRS, em uma rotina hospitalar, demanda uma srie de evolues para,

    ento, se obter uma maior dinamicidade na disponibilizao de pronturios e

    se chegar anlise colaborativa de pronturios dentro do OpenMRS.

  • 403

    REFERNCIAS

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    5. Wooldridge, M. (2009). An Introduction to MultiAgent Systems - Second Edition.

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