Tele Medicina
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ARTIGO
Engenharia de software em Telessade: aplicaes e desafiosAUTORES
Elder Cirilo Doutor em Informtica PUC-Rio
Ingrid Nunes MSc em Informtica PUC-Rio
Darlinton Carvalho MSc em Informtica PUC-Rio
Gustavo Carvalho Doutor em Informtica PUC-Rio
Alfredo Veiga MSc em Informtica PUC-Rio
Carlos LucenaDoutor em Cincia da Computao - Universidade da Califrnia em Los Angeles
1. INTRODUO
Tecnologias da informao e comunicao (TIC) vm sendo amplamente
exploradas na prtica de Sade. Alm da grande variedade de ferramentas que
foram desenvolvidas no auxlio preveno e tratamento de doenas, tambm
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j se encontram usos mais inovadores de TIC ainda pouco explorados, como
por exemplo, na aquisio de dados e suporte anlise de comportamento
social acerca de doenas epidemiolgicas. Neste contexto, a engenharia de sis-
temas de Telessade est associada a resoluo de diversos problemas prticos
da rea de Sade, que so investigados dentro da Cincia da Computao no
mbito da Engenharia de Software. A Engenharia de Software 1 uma disciplina
que se preocupa com todos as aspectos da produo (ex.: especificao, valida-
o, desenvolvimento e evoluo) e uso de sistemas de software.
Figura 1. Sistemas de Informao aplicados rotina do profissional da sade e da populao em geral.
Neste captulo, diversos dos desafios relacionados engenharia de siste-
mas voltados Telessade sero discutidos atravs de aplicaes de software
deste domnio. A identificao desses desafios resultou de uma vasta experin-
cia no desenvolvimento e uso de sistemas de Telessade pelo Laboratrio de
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Engenharia de Software (LES) da Pontifcia Universidade Catlica do Rio de
Janeiro (PUC-Rio), em associao com diferentes hospitais e unidades de trata-
mento, no mbito de projetos financiados por diversas agncias financiadoras
tais como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico
(CNPq), Fundao Carlos Chagas Filho de Amparo Pesquisa do Estado do Rio
de Janeiro (FAPERJ) e Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). A Figura 1
ilustra como as aplicaes de software construdas e estudadas se aplicam no
dia a dia tanto do profissional da Sade, quanto da sociedade em geral.
O projeto que resultou no Sistema Unificado de Assistncia Pr-natal
(SUAP) foi realizado em parceria com ginecologistas e obstetras do Hospital
Universitrio Antnio Pedro (HUAP), Niteri/RJ. O SUAP consiste em um sis-
tema com funcionalidades autnomas que suportam e monitoram a assistncia
pr-natal. O termo unificado devido unificao dos dados em uma base de
dados central, que pode ser acessada de diferentes instituies de sade. Em
parceira com o Instituto de Responsabilidade Social do Hospital Srio-libans
(IRSSL), foi realizado um estudo, a partir do contedo disponvel em sites de
redes sociais na internet, sobre as motivaes que levam ao incio e ao fim do
uso de drogas, especialmente o crack. O resultado desse estudo serviu como
tema para discusso em um seminrio organizado pelo IRSSL, que envolveu
mais de 50 autoridades e especialistas de todas as esferas de governo, associa-
es e academia. Para viabilizar a realizao desse estudo, foi desenvolvido um
conjunto de ferramentas que auxiliam no estudo por especialistas. Finalmen-
te, o LES tambm vem conduzindo diversos estudos em relao aplicao
de tecnologias no apoio rotina hospitalar e ao treinamento de profissionais
da Sade. Em um primeiro estudo as tecnologias SANA Mobile2 e OpenMRS3
foram aplicadas em conjunto por mdicos na construo e disponibilizao de
pronturios, respectivamente. Um segundo estudo conduzido no contexto de
uma turma de Clnica Mdica da Escola de Medicina e Cirurgia da Universidade
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do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) avaliou o uso da plataforma de aprendizado
baseada em comunidades online Youknow4.
Durante a execuo destes projetos identificou-se uma srie de desafios,
principalmente no que diz respeito ao entendimento do domnio de aplicao
e a adaptao das tecnologias existentes. No caso do SUAP, por exemplo, ape-
sar da ampla expertise no desenvolvimento de sistemas multiagentes, tinha-se
somente uma vaga ideia do que poderia ser feito para melhorar a relao entre
mdicos e pacientes, devido s particularidades dos protocolos de acompanha-
mento pr-natal. Alm disso, os especialistas do domnio tambm no tinham
noo do que o sistema podia fazer a mais por eles, alm de prover uma infor-
matizao do que era feito manualmente. Neste sentido, tecnicamente, tam-
bm foi desafiador construir uma modelagem do domnio, bem como entender
e representar os protocolos de acompanhamento. Tambm observou-se uma
srie de resultados interessantes a partir da aplicao das tecnologias SANA e
OpenMRS na rotina hospitalar. Pode-se mencionar a partir das novas expe-
rincias alcanadas pelos estudantes de medicina do Hospital Universitrio
Gaffre e Guinle: a necessidade de padronizao dos pronturios encontrados
no hospital; o nmero reduzido de opes pr-prontas de pronturios ofereci-
dos pelo SANA; a dificuldade na criao de novos pronturios para atender os
mais diversos cenrios de atendimento; falta de uma ferramenta agregada ao
OpenMRS para anlise colaborativa dos pronturios publicados. Resultados
positivos tambm foram alcanados na aplicao do YouKnow como ferramen-
ta de aprendizado de clnica mdica, uma vez que os alunos deixaram de lado o
modelo tradicional de aprendizado e passaram a tirar suas prprias concluses
acerca do assunto abordado nas disciplinas atravs do incentivo realizao
de pesquisas e divulgao colaborativa do conhecimento pesquisado.
O restante desde captulo est organizado como se segue. A Seo 2 apre-
senta as principais aplicaes de Engenharia de Software realizadas nos proje-
tos de pesquisa em Telessade vinculadas ao LES. Tambm so apresentados,
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nesta seo, os desafios que surgiram durante a execuo dos projetos. A Seo
3 apresenta dois estudos de aplicao de tecnologias de software realizadas em
parceria com estudantes de Medicina de duas universidades. Ao final tambm
so apresentados os principais resultados e lies aprendidas. Finalmente, a
Seo 4 conclui esse captulo.
2. ENGENHARIA DE SOFTWARE EM TELESSADE
2.1. Sistema Unificado de Assistncia Pr-natal
A maioria das mortes relacionadas gravidez ocorre em pases recente-
mente industrializados (do ingls, Newly Industrialized Countries NIC). A fim
de se reduzir esse problema, foram identificadas deficincias na assistncia
pr-natal no sistema pblico de sade do Brasil que poderiam ser assistidas
por sistemas computacionais, em associao com ginecologistas e obstetras do
Hospital Universitrio Antnio Pedro (HUAP), Niteri/RJ. Essas deficincias
esto principalmente relacionadas com protocolos que devem ser seguidos nas
unidades primrias de sade e com o processo de referenciamento que deve
ser realizado quando uma gravidez de alto risco identificada, alm de outras
funcionalidades que podem ser automatizadas com uma aplicao de software.
Sistemas multi-agentes (SMAs)5 podem ser usados para auxiliar profissio-
nais de sade altamente especializados com a informao correta, em tempo
adequado e adaptada aos pacientes6. Nesse contexto, o projeto que teve como
resultado o Sistema Unificado de Assistncia Pr-natal (SUAP)7 foi realizado, pro-
vendo um SMA para dar suporte e monitorar a assistncia pr-natal. O termo
unificado devido unificao dos dados em uma base de dados central, que
pode ser acessada de diferentes instituies de sade. O projeto foi desen-
volvido pelo LES da PUC-Rio em associao com ginecologistas e obstetras
do HUAP. O SUAP utiliza a tecnologia de agentes para gerenciar registros de
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sade, agir como um sistema de suporte a decises clnicas, e para lidar com
a logstica de casos de gravidez de alto risco. Ele oferece funcionalidades com
um comportamento pr-ativo, o qual visa a solucionar questes relacionadas
a recursos limitados disponveis no sistema de sade pblico em NICs.
As principais funcionalidades do SUAP incluem: (i) armazenamento e
acesso eletrnico de registros de sade de gestantes, de forma que essa in-
formao possa ser usada em qualquer estgio dos protocolos da assistncia
pr-natal; (ii) identificao e monitorao do uso de protocolos de assistncia
pr-natal, agindo como um sistema especialista que atua por trs dos panos
para auxiliar profissionais da Sade. importante ressaltar que, em alguns
casos, um protocolo deve ser adaptado para ser mais efetivo. Em tais situaes,
o sistema de monitoramento pode ser usado para mostrar a efetividade de
um protocolo para o profissional, de forma que ele possa pensar a respeito de
mudanas; e (iii) suporte ao acesso contextualizado de servios relacionados
ao atendimento pr-natal. Gestantes de alto risco devem ser referenciadas s
unidades secundrias de sade. Este processo de referenciamento depende de
diversas questes, tais como a localizao da gestante, as condies clnicas
da me e do feto, etc.
O SUAP principalmente um sistema baseado na web. Entretanto, alguns
aspectos do sistema requerem um comportamento autnomo e pr-ativo, tais
como a indicao de situaes do uso de protocolos e a monitorao dos mes-
mos. Assim, o SUAP dividido em duas partes principais: (i) ele tem mdulos
que representam a aplicao web; e (ii) ele integrado com um SMA. Essa inte-
grao leva a alguns desafios no desenvolvimento do sistema.
A fim de se resolver essa questo, o SUAP foi desenvolvido seguindo o pa-
dro arquitetural Web-MAS8, que permite a construo de sistemas baseados
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na web com comportamento autnomo provido por agentes de software. Esse
padro estende o padro arquitetural em camadas, o qual um padro lar-
gamente adotado para estruturar aplicaes web9. O padro Web-MAS oferece
uma integrao com baixo impacto de agentes de software a arquiteturas de
aplicao web. Alm da aplicao web, o padro Web-MAS tem trs mdulos:
(i) Monitor da Camada de Negcios, que monitora a execuo de servios de ne-
gcio e os propaga para agentes do sistema ele representa o ambiente do
SMA; (ii) Fachada da Camada de Agentes, que o ponto de acesso para a aplica-
o web interagir com o SMA; e (iii) Camada de Agentes, que composta pelos
agentes do sistema.
Figura 2. Arquitetura e Tecnologias do SUAP.
Durante o desenvolvimento do SUAP, foi utilizado um conjunto de tecno-
logias que prov uma infraestrutura apropriada para a aplicao. A Figura 2
ilustra a estrutura da arquitetura e tecnologias do SUAP. Foi usado o Seam1, um
framework para a construo de aplicaes web ricas em Java, juntamente com
o servidor de aplicaes JBoss. Agentes de software foram desenvolvidos com o
1 http://seamframework.org
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framework JADE2. A nica camada que foi implementada de fato da aplicao web
a camada de aplicao, devido ao uso do Seam. No foi necessrio estruturar
o sistema usando as tradicionais trs camadas (apresentao, negcio e dados)
porque o Seam fornece o encapsulamento e implementao das outras camadas.
A Figura 3 mostra uma captura de tela do SUAP, que apresenta o passo de regis-
tro de um atendimento tpico da gestao. Ele ilustra a situao na qual o peso
no adequado atual idade gestacional. Portanto, pode ser visto na Figura 3
o alerta indicando essa inconformidade.
Figura 3. Alerta de baixo peso durante o atendimento.
2.1.1 Desafios do Domnio
No LES, sistemas baseados em agentes tm sido desenvolvidos nos lti-
mos anos. Com tais sistemas, os principais objetivos envolvem a avaliao de
certas abordagens da pesquisa orientada a agentes. O domnio destes estudos
de caso tipicamente o utilizado na literatura de SMA, tal como sistemas de
gerenciamento de conferncias e e-commerce. Alm disso, funcionalidades t-
2 http://jade.tilab.com
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picas de agentes destes sistemas, i.e. , aquelas com comportamento pr-ativo
e autnomo e/ou que requerem capacidade de raciocnio e aprendizado, so
bem definidas.
A principal diferena entre estes estudos de caso e o SUAP que no se tinha
um conhecimento anterior sobre o domnio, e tinha-se uma vaga ideia do que
poderia ser feito para melhorar a assistncia pr-natal. Alm disso, os especia-
listas do domnio tambm no sabiam do que precisavam eles no sabiam o
que o sistema poderia fazer para eles, alm de prover uma informatizao do
que era feito manualmente. Acredita-se que esta situao ocorreu porque os
stakeholders no eram familiarizados com sistemas que automatizam tarefas
e capazes de raciocinar sobre dados. Portanto, um primeiro grande desafio
enfrentado foi descobrir como se pode melhorar a assistncia pr-natal, i.e., que tarefas
podem ser automatizadas e delegadas para o sistema.
Outro problema enfrentado foi a identificao do escopo da automatiza-
o de tarefas. Ter agentes agindo em nome de usurios pode trazer a falsa
ideia de que automatizar tudo o que possvel bom. Concluiu-se que isso no
verdade, baseando-se em discusses com stakeholders. Durante a elicitao dos
requisitos do SUAP, profissionais da medicina mostraram um alto interesse
na maioria das sugestes feitas, e inferiu-se que eles tambm queriam um
sistema que usasse raciocnio baseado em casos para sugerir diagnsticos.
Esta funcionalidade muito comum em sistemas especialistas do domnio da
sade. Contudo, profissionais da Medicina no quiseram esta funcionalidade
no SUAP. Quando se lida com o sistema pblico de sade, profissionais da Me-
dicina devem seguir estritamente os protocolos e o sistema deve identificar
quando um protocolo deve ser aplicado e indicar qual ao deve ser realizada.
Nenhum protocolo pode ser alterado automaticamente pelo sistema, mesmo
que ele no esteja sendo efetivo.
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Estas duas questes esto relacionadas com a elicitao dos requisitos
focando na identificao de funcionalidades que automatizam a assistncia
pr-natal, ou requerem tcnicas de raciocnio e aprendizado. Alm disso, foi
desafiante encontrar uma soluo de como este comportamento autnomo, i.e., agen-
tes, deve interagir com usurios. No SUAP, agentes devem expressar notificaes
sobre protocolos, medicamentos, exames e outros, mas ao mesmo tempo no
podem ser inconvenientes. Alguns profissionais da Sade so especialistas e,
portanto, no precisam de um sistema que lhes d notificaes. No SUAP todas
as notificaes so dadas atravs de um alerta na tela (veja Figura 3), com uma
mensagem correspondente que mostrada apenas se o usurio aponta para o
cone deste alerta.
2.1.2 Desafios Tcnicos
Do ponto de vista de Engenharia, o principal desafio enfrentado a mode-
lagem do domnio, bem como entender e representar protocolos (engenha-
ria do conhecimento). A informao que se tinha a respeito de aes a serem
realizadas para cada aspecto de preocupao (peso, altura uterina, etc.) e o
contexto da sua aplicao era muito especfica, e foi difcil encontrar conceitos
genricos para serem utilizados na representao dos protocolos. O objetivo
era modelar os protocolos de forma genrica a fim de reduzir o impacto da
criao e atualizao dos protocolos.
Como foi adotado um processo de desenvolvimento incremental10, uma boa
modularizao da arquitetura e dos seus mdulos essencial para permitir uma
evoluo e manutenibilidade do sistema. Isso foi particularmente desafiante
porque a maioria das aplicaes SMA, mesmo aquelas baseadas em frameworks bem
conhecidos, no se preocupam com princpios de estabilidade e manutenibilidade
durante a concepo e implementao de arquiteturas SMA11. Portanto, o objetivo
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no s se beneficiar das abstraes SMA para modelar comportamento autnomo
e pr-ativo, mas tambm levar em considerao princpios da Engenharia
de Software para permitir o desenvolvimento de arquiteturas SMA estveis e
manutenveis, logo facilitando a evoluo do sistema.
Com relao implementao do SUAP, a principal questo foi a escolha da
plataforma de agentes. Primeiramente, foi considerado o uso de uma platafor-
ma belief-desire-intention (BDI)12 para prover um mecanismo de raciocnio para
os agentes. Contudo, aps a identificao dos requisitos, percebeu-se que os
agentes forneciam um comportamento pr-ativo baseados em um conjunto
fixo de regras, e a arquitetura BDI no trouxe nenhuma vantagem a eles. Tambm,
havia uma preocupao com o prvio conhecimento dos programadores.
Mesmo que eles tivessem grande experincia com tecnologias orientadas a
objetos, no tinham conhecimento anterior sobre SMA e suas plataformas
de implementao. Como consequncia, a adoo de plataformas complexas que
fornecem novas abstraes iria aumentar significativamente os custos de treinamento.
Outra principal restrio considerada na escolha da plataforma de agentes
a integrao com tecnologias orientadas a objetos. Muitos frameworks orientados
a objetos de sucesso tm sido criados para o desenvolvimento de aplicaes
web, o que reduz o tempo de desenvolvimento significativamente. No caso do
SUAP, o Seam e o JADE foram utilizados; entretanto, a sua integrao no foi
trivial. Uma das funcionalidades providas pelo Seam a persistncia, o que tem
que ser usado pelos agentes. A fim de se obter acesso ao banco de dados atra-
vs do Seam, agentes tm que ser componentes Seam e serem instanciados sob
o container dele. Mas, os agentes JADE no funcionavam como componentes
Seam, e acredita-se que isso ocorria devido ao controle de threads. No foram
feitas investigaes a respeito disso, j que uma soluo alternativa foi adota-
da: criou-se um componente Seam como uma instncia nica usada como um
localizador de componentes que podem acessar a base de dados para agentes.
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2.2. Explorando Dados Pblicos Disponveis na Internet para Estudar Sade
A internet uma poderosa ferramenta de comunicao. Sendo uma mdia
digital, tem peculiaridades interessantes como, por exemplo, a possibilida-
de de facilmente persistir s interaes dos usurios acessando sites na web,
mensagens em sites de redes sociais e discusses sobre comunidades online. H
um grande debate sobre questes de privacidade e padres ticos em relao
ao rastreamento do comportamento de usurios na internet e o uso desses
dados13,14,15, mas h tambm boas fontes de dados disponveis publicamente
na internet e que podem ser usadas, por exemplo, para pesquisa acadmica15.
Em uma recente proposta16, apresenta-se uma abordagem prtica sobre como
usar esses dados sociais valiosos para a realizao de estudos sociais, a fim de
aumentar a compreenso das questes importantes sobre Sade.
Figura 4. Abordagem proposta para a realizao de estudos sobre sade baseado em dados pblicos dispon-veis na Internet.
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Esta abordagem foi projetada em trs estgios para orientar os pesquisado-
res na realizao dos estudos, comeando com uma anlise ampla de contedo,
que visa toda a web, e vai em busca de uma comunidade online em sites de redes
sociais, at encontrar uma comunidade em que a anlise de seus contedos
(discusses, por exemplo) parece promissora para responder s questes de
pesquisa do estudo. A abordagem pode ser vista como um guia para a realiza-
o destes estudos atravs da utilizao sistemtica de dados gratuitos dispo-
nveis na web. Este guia apoiado por ferramentas computacionais. A Figura 4
apresenta uma viso geral da abordagem utilizada na realizao dos estudos.
A abordagem proposta comea quando uma pessoa, que possui alguma
condio mdica, vai para os motores de busca (e.g. Google). um hbito cres-
cente entre as pessoas pesquisar na web sobre os sintomas e medicaes, mes-
mo antes de procurar um mdico. Observar como os usurios buscam infor-
maes na web pode fornecer dados esclarecedores sobre o comportamento da
populao em geral15. Assim, a ideia da abordagem aproveitar esses sistemas
e ferramentas que procuram tendncias gerais nas buscas, palavras-chave e
insights, geralmente oferecidas pelas empresas donas dos motores de busca.
A segunda etapa da abordagem vai para o universo das comunidades online
em sites de redes sociais, olhando para as discusses em torno dos temas de
interesse e visando a identificar um panorama. Um lugar importante para
os usurios de internet so as comunidades online17, pois onde as pessoas
podem encontrar seus pares que compartilham interesses em comum, trocar
informaes e buscar apoio. Um fenmeno mais recente o uso crescente de
sites de redes sociais21, que tambm apoiam a criao de comunidades online.
A ideia da abordagem usar os sites de redes sociais para buscar contedo
relacionado com o estudo, e a identificao de um panorama de comunidades
online.
A ltima etapa da abordagem vai fundo na anlise de uma comunidade
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online, buscando explicar a realidade da comunidade relacionada s questes
de pesquisa. Busca-se um estudo exaustivo da discusso apresentada no frum
da comunidade. A anlise emprega tcnicas de cincias sociais e computacio-
nais. Uma tcnica importante que pode ser usada para descrever a populao
o Discurso do Sujeito Coletivo18, pois uma tcnica qualitativa com razes na
Teoria das Representaes Sociais. Dados dos membros adicionais dispon-
veis no site de redes sociais tambm podem ser automaticamente analisados,
gerando grandes agregados de dados como resultados.
Esta abordagem rene assim disciplinas diferentes, como necessrio
para realizar tais estudos, alinhada a uma nova rea de pesquisa que vem
sendo chamada de cincia social computacional19, mas com aplicao direta
em questes importante de Sade. Para ilustrar o trabalho desenvolvido em
termos de Engenharia de Software, apresenta-se primeiramente um resumo do
estudo realizado em parceria com o Instituto de Responsabilidade Social Srio-
-Libans e logo em seguida so apresentadas duas ferramentas desenvolvidas
para dar suporte realizao desses estudos, conforme a abordagem descrita
anteriormente.
2.2.1. Estudo sobre o Incio e o Fim do Uso de Drogas: o Caso do Crack no Brasil
Como uma aplicao da abordagem proposta, apresentam-se alguns resul-
tados de um estudo sobre as motivaes para o uso de drogas (incio e fim), em
particular o crack no Brasil. As perguntas iniciais da pesquisa foram: 1) por que
as pessoas comeam a usar drogas, 2) por que continuam usando e 3) por que
deixam de usar. Todos os trs estgios da abordagem proposta para o estudo
foram realizados fornecendo informaes para descrever um panorama sobre
drogas na internet, especialmente sobre a audincia da internet brasileira, e
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385
revelando a realidade de uma comunidade de suporte dos usurios de crack.
Como resultado da anlise de contedo da comunidade, o relatrio compila
respostas para as perguntas a seguir: 1) quais so os fatores que levam ao uso
de crack; 2) quais so os pontos de giro para iniciar um tratamento, 3) que so
fatores de manuteno da abstinncia; 4) o que favorece o reincio do uso de
drogas; 5) quais so as crticas sobre o tratamento de sade oficial; e 6) que tipo
de ajuda os co-dependentes esto procurando.
Seguindo a recomendao da primeira etapa, o Google Insights for Search foi
usado para obter uma viso geral das tendncias de pesquisa sobre o termo
crack no Brasil. Por causa da ambiguidade do termo crack, que tambm utili-
zado por usurios que procuram por software ilegal e licenas na internet, o ser-
vio de configurao foi criado para recuperar apenas pesquisas relacionadas
sade da categoria. A Figura 5 mostra o resultado dessa consulta. A maioria
das pesquisas esto relacionadas ao crack termo geral, algumas pesquisas so
sobre a reao droga (efeitos de crack), e, como esta figura aponta, as pessoas
esto procurando informaes sobre o tratamento na internet (tratamento de
crack) tambm.
Figura 5. Insights Google para resultados de pesquisa
Uma vez que a principal fonte de mdia social no Brasil o Orkut da Google,
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este site de rede social foi usado como plataforma para a investigao em dois
estgios. A pesquisa para o termo crack no sistema do Orkut, considerando-se
filtros para localizao (Brasil) e lngua (Portugus), resultou em 995 ocorrn-
cias em Setembro de 2011. O prximo passo foi selecionar as comunidades que
possuem discursos contextualizados sobre a experincia das pessoas relacio-
nadas ao uso de drogas. A partir de uma categorizao das 995 comunidades
foi possvel identificar 278 (28%) comunidades de acordo com o objetivo da
seleo, 360 (36%) comunidades que pareciam no estar relacionadas com o
objetivo de seleo, e 357 (36%) comunidades que no usaram o termo crack
relacionado droga (por exemplo, programas e quebra de senha). Reduzindo
o conjunto de dados, as 278 comunidades identificadas foram filtradas para
13 comunidades, a partir da considerao de caractersticas da comunidade
online como: 1) ter mais de 300 membros, 2) ter mais de 6 meses de existncia;
3) ter atividade recente e 4) ter contedo pblico disponvel. O ltimo passo
desta etapa foi escolher uma comunidade para ser analisada. A comunidade
Crack, Nem Pensar AJUDA3 foi escolhida para a anlise em profundidade,
porque, a partir das 13 comunidades remanescentes, ela a mais antiga e tem
mais membros do que as outras (11.102 membros). Em uma rpida avaliao de
seu contedo, a comunidade apresentou uma intensa conversa entre os seus
membros, o que na medida mostrou depois uma mdia de 3,3 mensagens por
dia desde sua criao em 16 de julho de 2004.
A anlise da comunidade foi focada em membros participantes que se
envolveram em conversas no frum da comunidade. Vale a pena fazer essa
distino, pois todos os membros tm o potencial para acompanhar as discus-
ses, mas a maioria deles prefere no participar (i.e. lurkers), mas esta anlise
baseia-se no contedo dos participantes que postaram mensagens no frum.
A partir dos dados disponveis dos participantes, foi possvel aferir que 57%
eram homens e 43% mulheres. A localizao recuperada dos participantes foi
3 http://www.orkut.com/#Community cmm=175318
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consolidada no mapa disponvel online4. Na poca da realizao do estudo, se-
tembro de 2011, o frum da comunidade tinha 434 participantes, 384 tpicos
e 8.655 mensagens, totalizando 76.646 palavras, ou 4.515.087 caracteres. S a
ttulo de comparao, vale comparar com a Bblia de Gutenberg B-42 que tem
cerca de 3 milhes de caracteres. Considerando o grande volume de dados e
os esforos necessrios para a anlise de contedo, um recorte dos dados foi
realizado para focar a investigao em uma anlise de contedo adequado aos
objetivos do estudo, atravs da tcnica de Anlise do Discurso do Sujeito Coletivo.
A partir do conjunto de dados original, 39 (10%) tpicos foram escolhidos, com
129 (30%) participantes e 925 (11%) mensagens, totalizando 107.488 (14%) pa-
lavras, ou 602.332 (13 %) caracteres.
A anlise identificou que a comunidade de fala de dependentes e co-depen-
dentes (dependentes da famlia e amigos) se misturam e se completam, pois
ambos requerem cuidados e ateno. A realidade dessas pessoas sintetizada
atravs da transcrio do discurso como respostas para as perguntas de pes-
quisa. A seguir so apresentadas duas ferramentas desenvolvidas para dar
suporte realizao deste estudo.
2.2.2 Criao de Mapas de Associao de Comunidades
A fim de auxiliar no estudo da participao do usurio dentro das comuni-
dades, foi proposto um processo para anlise baseada no relacionamento en-
tre comunidades a partir das associaes dos usurios da comunidade objeto
de estudo (Carvalho, 2012). A adeso de um usurio a uma comunidade pode
ser vista como o interesse do usurio no tpico da comunidade. O processo
baseia-se em um modelo de comunidades relacionadas com base no interesse
4 http://batchgeo.com/map/536db2e5aac00f746005efc6334542c4
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388
dos usurios. Um grfico traado revela afinidades mais fortes, em peso, das
linhas de ligao entre as comunidades. Esses grficos auxiliam os especia-
listas a descobrir as tendncias que iro aprofundar o seu conhecimento em
determinadas questes sociais. Alm disso, os especialistas podem aplicar fil-
tros sobre os dados previstos para escolher quais os usurios e as comunidades
interessantes para a anlise. A aplicao do processo limitada s situaes
em que os usurios sejam tambm membros de outras comunidades.
O processo tem trs etapas: coleta de dados do modelo, medio e visualiza-
o. A Figura 6 apresenta uma viso geral do processo. O primeiro passo, a co-
leta de dados, obtm os dados de mdias sociais em sites de comunidades online.
Em seguida, construdo um modelo que estabelece o relacionamento entre
as comunidades a partir das associaes dos usurios com essas comunidades.
Os dados coletados so processados e organizados em um formato apropriado
para traar a visualizao de dados na ltima etapa. A etapa de visualizao
responsvel por exibir dados de uma forma mais atraente, facilitando o traba-
lho dos peritos.
Figura 6. Uma viso geral do processo para a gerao do Mapa de Relacionamento de Comunidades.
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389
2.2.3 Seleo de Contedo a partir de Fruns de Comunidades Online
A abundncia de contedo pblico disponvel na internet, especialmen-
te nas comunidades online, permite novos mtodos de estudos sociais. Visto
que a realizao de anlise qualitativa de contedo demanda muito tempo, o
seguinte problema aparece: como selecionar o contedo a ser analisado? Nes-
te contexto, apresenta-se um novo processo para auxiliar na resoluo deste
problema16. Esse processo baseado em tcnicas de aprendizado de mquina
no supervisionado e proporciona resultados consolidados e estruturados, in-
cluindo mtricas e um mtodo para explorao de contedo. Uma ferramenta
que ajuda na utilizao do processo proposto foi criada e tambm apresen-
tada.
O problema da seleo de contedo pode ser resumido como a tarefa de
encontrar, em fruns de discusso da comunidade online, contedo que parece
promissor para responder a perguntas de pesquisa de estudo. Este problema
tem dois objetivos distintos, sendo o primeiro maximizar o nmero de participan-
tes de discusso (i.e. usurios) e o segundo minimizar o nmero de tpicos a serem
analisados (i.e. quantidade de contedo). importante dizer que a anlise do
contedo deve ser realizada considerando o contexto do estudo, pois a an-
lise de uma mensagem (i.e. post) interessante exige a compreenso de toda a
discusso, tal como apresentado em outras mensagens do tpico. Portanto, a
soluo do problema de seleo de contedo para anlise um conjunto de
tpicos selecionados a partir do frum de uma comunidade online.
Para resolver este problema, prope-se um processo, como introduzido
anteriormente, baseado em tcnicas de aprendizado no supervisionado de
mquina, que apresenta resultados processados e estruturados, incluindo me-
dies e um mtodo de explorao de contedo para apoiar os usurios finais
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390
(i.e. , pesquisadores sociais) na tarefa de seleo de contedo para anlise. Uma
ferramenta baseada nesse processo foi construda para apoiar os pesquisado-
res na soluo deste problema. A Figura 7 apresenta uma captura da tela do
prottipo desenvolvido.
Figura 7. Captura de tela da ferramenta desenvolvida para apoiar a seleo de contedo de comunidades online.
A ferramenta de software desenvolvida para apoiar a seleo de contedo de
comunidades online uma extenso da Tocha-Hierarquias Tpico20. Esta ferra-
menta fornece tcnicas para pr-processamento de texto e algoritmos de clus-
tering hierrquico. Alm disso, foi desenvolvido um mdulo para mensagens
e recomendaes temas e uma interface visual para explorar os resultados de
agrupamento de tpicos e mensagens.
As mensagens e tpicos recolhidos das comunidades de fruns online tm
vrios atributos. Usou-se um conjunto de atributos habitual em muitas redes
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391
sociais para permitir uma aplicao mais ampla da ferramenta. Os atributos
considerados para cada post foram: a mensagem de texto, a data de publicao e
o autor. Cada post pertence a um determinado tpico do frum da comunidade
online e um frum tem muitos tpicos. Assim, os atributos considerados para
a representao dos temas foram o ttulo do tpico, o perodo de existncia
(definida pela data de publicao do primeiro e do ltimo post) e o nmero de
participantes do tpico.
Aps a coleta de um conjunto de mensagens e tpicos, a ferramenta exe-
cuta o pr-processamento dos dados textuais. O primeiro passo a remoo
stopwords onde pronomes, artigos e preposies so descartados. Em seguida,
os termos so simplificados usando o algoritmo de Porter Stemming [Stemming
1, Stemming 2]. Assim, as variaes morfolgicas de um termo so reduzidas
sua radical. Finalmente, uma tcnica de seleo de recursos com base na
frequncia documento obtm um subconjunto reduzido e representante dos
termos.
A rede de coocorrncia obtida a partir de textos pr-processados a pri-
meira estrutura disposio dos usurios para explorar o contedo textual das
comunidades online. A ferramenta permite que os usurios possam analisar
as relaes significativas entre termos atravs de uma interface interativa.
digno de nota dizer que as relaes importantes encontradas sobre o contedo
dos fruns so destacadas pela rede, por exemplo, o crack Escol (crack e
escolas) e drog jov (jovens e drogas). Alm disso, os usurios podem
remover relaes que no so de interesse para eles.
A Figura 7 mostra a interface principal da ferramenta criada para apoiar
a resoluo do problema de seleo de contedo. A rede de coocorrncia de
termos foi resumida com agrupamento hierrquico. Assim, os vrios temas
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392
discutidos nos fruns so apresentados ao usurio de forma sucinta atravs de
temas (Figura 7 A). Quando os usurios selecionam um tema, os tpicos mais
relevantes (Figura 7 B) e mensagens (Figura 7 C) so apresentados de acordo
com uma estratgia de classificao [16]. O usurio pode selecionar contedo
atravs de caixas de seleo no lado direito do nome do tpico ou post. A se-
leo de um post na parte inferior (Figura 7 C) inclui automaticamente todos
os posts de seu tpico, porque a compreenso da discusso exige que todas as
mensagens do tpico sejam exibidas.
A progresso da resoluo do problema de seleo de contedo descrito
por um conjunto de medidas (Figura 7 D) que descreve o nmero de partici-
pantes, que devem ser aproveitados ao mximo, o volume de contedo (tpi-
cos, postagens, palavras, caracteres), que deve ser minimizado, e uma relao
de ambas as medidas (mdia de mensagens por participante). A primeira linha
mostra a medio considerando todo o contedo do frum e a segunda tem a
medio da seleo. Cabe aos usurios decidir quando a soluo corrente (i.e. ,
seleo) satisfatria, e estas medidas ajudam-nos a tomar essa deciso.
O problema de seleo de contedos um problema difcil para os cientis-
tas sociais que buscam novas empreitadas na realizao de pesquisas com base
no vasto contedo disponvel na internet. Ele possui dois objetivos distintos e
antagnicos, sendo um maximizar o nmero de participantes selecionados e, o
outro, minimizar o volume de contedo a ser analisado. A soluo do problema
tambm direcionada pelos interesses de pesquisa, que no so mensurveis.
Sem a ferramenta, os pesquisadores contam apenas com as mtricas gerais
sobre o contedo dos tpicos e devem considerar todo o contedo do frum de
uma vez para realizar a reduo do contedo. O processo proposto tem como
objetivo apoiar os pesquisadores para resolver este problema de forma mais
esperta, explorando as melhores tcnicas de aprendizado de mquina dispo-
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393
nveis at o momento. Embora a minerao de contedo e descrio atravs de
mtricas e modelos ajudem a resolver o problema, a meta subjetiva do que de
interesse a ser analisado ainda um fardo para os pesquisadores.
A realizao de pesquisa multidisciplinar possui um complicador em sua
essncia, pois necessita alinhar diferentes mtodos de pesquisas, peculiares a
cada rea de cincia envolvida no processo, e na criao de novas tecnologias
para viabilizar o alcano dos objetivos gerais que so propostos para essa pes-
quisa. A anlise de mdias sociais para estudo de populaes uma atividade
inerente de pesquisa em cincias humanas, em que, no contexto do trabalho
desenvolvido, busca-se dar aplicao prtica na rea da sade. Esta anlise
baseou-se em extenso uso tecnologias da informao e comunicao, princi-
palmente atravs de dados e aplicaes disponveis na internet. A cincia da
computao foi fundamental nesta pesquisa, pois foi atravs de seus mtodos
que se criaram ferramentas de suporte na realizao das pesquisas, que en-
contram uma razo prtica de realizao em aplicaes na Cincia da Sade.
Os desafios em Cincia da Computao so maiores no sentido de se buscar
compreenso das reais necessidades dos pesquisadores que precisam de novas
tecnologias para viabilizar suas pesquisas; isso requer uma imerso em outras
reas da cincia, e tem como objetivo o desenvolvimento de melhores modelos
computacionais e ferramentas de suporte. Atravs da aplicao de Cincia da
Computao neste novo cenrio, busca-se a criao do novo instrumental de
pesquisa, em que mdias sociais digitais so o insumo de pesquisa de cientistas
sociais que buscam o entendimento de questes de pesquisa em Cincias da
Sade. Portanto, alinhar as expectativas e objetivos de pesquisa foi o grande
desafio e resultou no desenvolvimento de tcnicas, mtodos e ferramentas
para a realizao de estudos nesse sentido, bem como na anlise de questes
relevantes para problemas importante de sade pblica.
-
394
3. EXPERINCIAS COM TECNOLOGIAS DE SOFTWARE EM TELESSADE
3.1. SANA Mobile OpenMRS Aplicados a uma Rotina Hospitalar
3.1.1. Viso Geral
A rotina hospitalar uma atividade rica e dinmica e a todo momento
surgem novos desafios. Cada paciente singular e merece ter toda ateno e
cuidado do mdico. Para uma melhor qualidade do servio de atendimento,
as informaes dos pacientes, como seus dados pessoais e sua histria clnica
devem estar registrados de forma clara e objetiva desde o primeiro atendimen-
to, para melhorar a comunicao mdica e a relao mdico-paciente. Dessa
forma, o pronturio do paciente, contendo a motivao da internao, evo-
luo clnica, exames complementares, prescrio de medicamentos e outras
possveis informaes relevantes so de extrema importncia para a conduta
mdica. Neste contexto surge a necessidade de tecnologias da informao que
auxiliem a comunicao e disseminao destas informaes clnicas sobre os
pacientes. O SANA Mobile consiste em um sistema de pronturio eletrnico
inicialmente desenvolvido pelo MIT, voltado para plataforma mveis (i.e. , An-
droid, iOS, Windows Mobile). A motivao primordial que levou ao surgimento
do projeto SANA Mobile revolucionar a distribuio de servios de healthcare
em reas remotas e de difcil acesso de forma clara e objetiva.
SANA2 uma ferramenta que tem por objetivo permitir a transmisso de
arquivos mdicos atravs de um dispositivo mvel. SANA suporta a transmis-
so desde arquivos de texto contendo informaes clnicas de um paciente at
arquivos de udio e vdeo. Arquivos mdicos podem ser transmitidos para
um servidor de armazenamento central (i.e. , baseado no OpenMRS3 ou dire-
tamente para um especialista. SANA se integra facilmente com a plataforma
OpenMRS, que tem por objetivo facilitar a construo personalizada de sis-
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395
temas de armazenamento de informaes mdicas. Com o uso do OpenMRS,
informaes sobre medicamentos, pronturios, diagnsticos, procedimento,
dentre outras questes gerais, ficam armazenadas e disponveis de forma
centralizada, podendo ser consultadas colaborativamente por diversos espe-
cialistas.
Qualquer procedimento mdico compreendido pelo SANA como um
fluxo de trabalho dividido em um ou mais passos. Cada passo, caracterizado
na ferramenta como um formulrio, composto de questes e solicitaes.
Por exemplo, em um dado passo pode-se solicitar ao usurio a coleta de uma
imagem do paciente, a entrada de alguma informao relevante ou at mesmo
a gravao de um vdeo. Com a coleta realizada, SANA envia as informaes
disponveis para um servidor central para anlise mdica. Uma anlise resulta
em notificaes contendo diagnsticos e recomendaes de tratamento.
Figura 8. Arquitetura de comunicao SANA Mobile e OpenMRS.
Uma infraestrutura completa, composta pela combinao do SANA com o
OpenMRS, consiste de pelo menos um dispositivo mvel e um servidor. A Fi-
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396
gura 8 ilustra a arquitetura de pronturios eletrnicos com SANA e OpenMRS.
No lado do servidor temos tanto o sistema de armazenamento mdico (i.e. ,
OpenMRS) quanto o sistema SANA de transferncia de arquivos (SANA Dis-
patch Server MDS)2. O MDS responsvel por suportar a comunicao dos
sistemas SANA instalados nos dispositivos mveis com o sistema de armaze-
namento de informaes mdicas. A presena do MDS como uma camada na
arquitetura permite a integrao do SANA com diversos sistemas de armaze-
namento, no somente com o OpenMRS. Com MDS a transferncia de arqui-
vos tambm fica agnstica do sistema operacional instalado no dispositivo
mvel, isto , a arquitetura pode ser composta por dispositivos rodando iOS,
Android, Windows Mobile, dentre outros.
3.1.2 Resultados
Com objetivo de compreender a metodologia e usabilidade na coleta de
dados com o SANA Mobile combinado plataforma OpenMRS, foi realizado um
estudo em parceria com estudantes do Ncleo de Telemedicina da UNIRIO
Hospital Universitrio Gaffre e Guinle. Como resultado final, buscou-se
formular um embasamento terico para a execuo e complementao de no-
vos modelos de pronturios no SANA. O estudo tambm buscou identificar os
principais desafios na visualizao dos pronturios criados com SANA em um
sistema de armazenamento criado com o OpenMRS.
O software do SANA contm diversos modelos de pronturios abrangen-
do diferentes temas como, cncer oral e cervical, assistncia ao paciente com
tuberculose e HIV, fichas de screening oftalmolgico e dermatolgico, alm de
exames de imagem e pr-natal. Cada modelo de pronturio segue um fluxo de
registro de informaes prprio, solicitando, por exemplo, queixa principal,
incio da enfermidade, sinais e sintomas pertinentes quela doena, histria
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397
pregressa do paciente, histria familiar, co-morbidades, solicitao e resulta-
dos de exames laboratoriais, uso de medicamentos e diagnstico. Para realiza-
o do estudo, inicialmente foi escolhido um modelo simples de pronturio no
qual se deve cadastrar nome e sobrenome do paciente, seu nmero de matr-
cula na unidade de sade e sua data de nascimento. Associado a este modelo,
foram definidas algumas regras exigindo a informao de todos os dados e
uma foto do paciente. Uma vez concludo o preenchimento do pronturio com
os pr-requisitos necessrios, o envio para o servidor de armazenamento era
liberado e ento cada profissional poderia visualizar e alterar suas informa-
es via um sistema baseado no OpenMRS.
Como resultado direto, o uso da plataforma SANA OpenMRS trouxe
novas experincias para os estudantes de Medicina do Hospital Universit-
rio Gaffre e Guinle. No entanto, em um primeiro momento alguns desafios
foram encontrados, principalmente aqueles relacionados coleta de dados. A
falta de padronizao dos pronturios encontrados no hospital e o nmero re-
duzido de opes pr-prontas de pronturios oferecidos pelo SANA restringiu
a usabilidade e aplicabilidade do sistema no contexto do estudo. Neste sentido,
o mecanismo oferecido pelo SANA para criao e atualizao de formulrios
tambm foi apontado como um ponto que dificultou a realizao do estudo.
Pronturios so especificados de forma declarativa atravs de arquivos XML
no SANA, seguindo um formato proprietrio. Esta especificao, apesar de
declarativa, complexa, o que demandou uma constante comunicao entre
os engenheiros de software do LES e os profissionais de sade. O pior cenrio
observado foi o ciclo de atualizao de um pronturio. Depois de disparado a
partir de uma solicitao de mudana no software, geralmente, demorava uma
semana para todos os dispositivos estarem atualizados com a nova verso do
pronturio. Isto porque aps cada mudana, os engenheiros de software so
obrigados a enviar uma nova aplicao SANA para todos os profissionais de
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398
sade, que por sua vez, precisam desinstalar a verso antiga e instalar a nova.
Este processo, alm de muito sujeito a erros de comunicao entre os envolvi-
dos, visivelmente no serve de escala para um grande quantidade de envolvidos.
Para superar esta deficincia observaram-se duas necessidades: 1) oferecer
um suporte para instalao e atualizao dinmica de pronturios no SANA; 2)
uma ferramenta visual, voltada para os profissionais de sade, para criao de
pronturios. Este segundo ponto tambm supre um segundo problema enfren-
tado durante o estudo. A poltica de compartilhamento de dados cadastrados
via SANA e publicados pelo OpenMRS baseada no nome de itens identificados
no pronturio SANA. Neste caso, quando os itens no pronturio SANA no
correspondem diretamente aos itens criados dentro do OpenMRS, os dados
cadastrados se perdem. Com isso, em muitos dos casos, devido a problemas
de incompatibilidade entre as informaes de itens nos pronturios, os dados
de atendimento cadastrados via SANA no foram facilmente encontrados no
OpenMRS ou em outros casos estavam incompletos.
3.2 YouKnow como Ferramenta de Aprendizado de Medicina
3.2.1 Viso Geral
Tendo em vista a viso hierrquica do ensino tradicional, o qual define os
alunos como iguais dentro do contexto de ensino, meros ouvintes e receptores
passivos do contedo dado pelo professor, h uma necessidade no mercado
de investimento em aprendizagem colaborativa. O Youknow (Youknow, 2012)
representa uma mudana significativa do conceito de aprendizagem baseada
em salas de aula e palestras de professores. Essa ferramenta tem como enfoque
a interao entre o modelo tradicional e outros processos baseados na colabo-
rao entre pessoas. Os professores tornam-se facilitadores do aprendizado
-
399
em vez de transmissores de contedo. H interao entre os colaboradores e
parceiros, independente de estrutura hierrquica, reduo de barreiras geo-
grficas, fcil acesso para todos e canal de discusso sobre melhores prticas.
O YouKnow uma plataforma baseada na web para organizao de redes
sociais entre usurios que discutem um determinado tema de estudo. O prin-
cipal objetivo da ferramenta promover o aprendizado de maneira colabora-
tiva entre os participantes. Neste sentido, o YouKnow oferece um conjunto de
ferramentas que facilitam a troca de informaes, experincias, lies apren-
didas e melhores prticas, fruns, rating de contedo, dentre outras.
3.2.2 Resultados
Com objetivo de melhor entender o uso do YouKnow e compreender a
eficincia de suas ferramentas de aprendizagem dentro de um processo de
ensino-aprendizagem em medicina, ela foi aplicada em uma turma de Clnica
Mdica da Escola de Medicina e Cirurgia da Universidade Estadual do Rio de
Janeiro. A experincia com a ferramenta consistiu no estudo do pronturio de
um paciente. Neste estudo, o professor liberou informaes sobre o paciente
gradativamente, de forma que a pesquisa e o aprendizado fossem concomi-
tantemente associados com o que os alunos aprendiam nas aulas tericas e
presenciais da turma de clnica mdica. A cada liberao, os alunos publicavam
no ambiente juntamente com a pesquisa realizada, o contedo repassado nas
aulas presenciais. Como forma de melhor entender a relao dos alunos com
o ambiente, em um primeiro momento eles ficaram livres para escolher quais
recursos mais os atraiam durante a publicao de um determinado contedo.
Dentre os diversos itens que a comunidade oferece, os alunos escolheram o
item Lio aprendida, para iniciar a atividade de publicao do contedo da
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400
disciplina. A escolha foi motivada pelo fato de esse item apresentar perguntas
previamente cadastradas, o que direcionou os alunos na apresentao do caso
estudado. Inicialmente, a anamnese do paciente foi publicada, contendo os
vrios diagnsticos diferenciais e uma imagem relacionada ao tema. Aps essa
publicao, o professor utilizou o item Melhores Prticas para divulgar os
exames que o paciente havia realizado, exame pr-bipsia de pncreas (tomo-
grafia e colangioressonncia). Ao mesmo tempo, um artigo cientfico no item
Artigo titulado Diabetes mellitus e carcinoma ductal de pncreas foi publi-
cado, uma vez que esse era pertinente e relacionado com o assunto abordado.
Durante todo o processo, as dvidas que surgiram foram publicadas no item
Frum, com o objetivo de serem respondidas pelo professor ou at mesmo
pelos alunos.
Em um prximo passo, o professor divulgou os exames complementares
de imagens realizados no paciente em questo no item Galeria de Imagens.
No item Entrevista, o professor postou os laudos das imagens do caso e os
alunos postaram os exames laboratoriais. Tambm foi utilizado esse item para
transcrever o pronturio do paciente. A partir de todas essas informaes
liberadas pelo professor, os alunos conseguiram diagnosticar o caso. Neste
momento eles voltaram ao item Lio Aprendida e publicaram o diagnstico
e um resumo sobre o mesmo. Aps todo esse processo, no item Coluna foi
publicada pelos alunos uma apresentao sobre o diagnstico do paciente. Ao
final, como os assuntos postados nos diversos itens estavam relacionados, os
alunos criaram links entre estes diversos assuntos por meio do subitem Este
item est relacionado a. Dessa forma, todas as ferramentas de aprendizagem
foram exercitadas por eles, exceto a ferramenta podcast.
Os alunos reportaram o uso da ferramenta como positivo, dado que deixa-
ram de lado o modelo tradicional de aprendizado e passaram a tirar suas pr-
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401
prias concluses acerca do assunto atravs das pesquisas realizadas. Um dos
fatores que influenciaram o resultado positivo foi a usabilidade da plataforma,
bem como a praticidade do acesso, seja atravs de computadores ou dispositi-
vos mveis. Outro fator foi a maneira como o aprendizado est organizado, isto
, por meio de uma rede social, o que permite por exemplo que participantes
com maior experincia insiram itens de conhecimento englobando conceitos
e prticas mais eficazes ou at mesmo o desenvolvimento de inovao. Alm
disso, o desenvolvimento colaborativo do contedo permitiu que itens mais
bem avaliados pelos participantes diminussem o tempo de execuo das tare-
fas e o tempo de busca por itens mais relevantes.
4. CONSIDERAO FINAIS
Como resultado de uma vasta experincia no desenvolvimento de sistemas
de software voltados Telessade pelo Laboratrio de Engenharia de Software
(LES) da Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), este
captulo apresentou diversas aplicaes e desafios associados Engenharia
de Sistemas neste contexto. Nossa experincia consiste na aplicao de tc-
nicas avanadas de engenharia de software na construo: (i) do SUAP; e (ii)
de ferramentas computacionais para anlise do comportamento social acerca
de doenas epidemiolgicas, a partir do contedo disponvel em sites de redes
sociais na internet. Alm dos trabalhos de Engenharia de Software aplicada,
diversos estudos vm sendo conduzidos no sentido de melhor entender a apli-
cao de tecnologias no apoio rotina hospitalar e no treinamento de profis-
sionais da Sade. As tecnologias SANA Mobile e OpenMRS vm sendo aplicadas
em conjunto por mdicos na construo e disponibilizao de pronturios,
respectivamente. A plataforma Youknow vem sendo utilizada como uma fer-
-
402
ramenta modernizadora da forma de aprendizado em uma turma de Clnica
Mdica da Escola de Medicina e Cirurgia da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ).
Existe ainda uma srie de desafios a serem superados. Continua desafiador,
mesmo em se aplicando tcnicas de especificao avanadas, como as basea-
das na abstrao de agentes, descobrir como se pode melhorar a assistncia
mdica atravs da automatizao e delegao de tarefas aos sistemas de infor-
maes. Alm disso, desafiante encontrar uma soluo adequada de como o
comportamento autnomo disponibilizado pelo software deve interagir com
os usurios. No que diz respeito anlise computacional do comportamento
social acerca de doenas epidemiolgicas, questes como: (i) descrever a meta
subjetiva do que de interesse a ser analisado em uma rede social; e (ii) maxi-
mizar o nmero de participantes selecionados em uma anlise, minimizando,
porm, o volume de contedo a ser analisado precisam ser tratadas de forma
mais adequada. Finalmente, a aplicabilidade do SANA, em conjunto com o
OpenMRS, em uma rotina hospitalar, demanda uma srie de evolues para,
ento, se obter uma maior dinamicidade na disponibilizao de pronturios e
se chegar anlise colaborativa de pronturios dentro do OpenMRS.
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403
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