TEIXEIRA, Isabel; FADEL, Georgette; FORJAZ, Cibele. Rainhas.pdf

download TEIXEIRA, Isabel; FADEL, Georgette; FORJAZ, Cibele. Rainhas.pdf

of 33

Transcript of TEIXEIRA, Isabel; FADEL, Georgette; FORJAZ, Cibele. Rainhas.pdf

  • 7/30/2019 TEIXEIRA, Isabel; FADEL, Georgette; FORJAZ, Cibele. Rainhas.pdf

    1/33

    RRRRR a i n h a s [ ( S ) ]a i n h a s [ ( S ) ]a i n h a s [ ( S ) ]a i n h a s [ ( S ) ]a i n h a s [ ( S ) ]Duas a t r i ze s em bus ca de um co rao .Duas a t r i ze s em bus ca de um co rao .Duas a t r i ze s em bus ca de um co rao .Duas a t r i ze s em bus ca de um co rao .Duas a t r i ze s em bus ca de um co rao .[A tos I , I I , I I I , I V e V ][A tos I , I I , I I I , I V e V ][A tos I , I I , I I I , I V e V ][A tos I , I I , I I I , I V e V ][A tos I , I I , I I I , I V e V ]

    ( V(V( V(V( Verso XIX rerso XIX rerso XIX rerso XIX rerso XIX rev ista em 19 de feverev ista em 19 de feverev ista em 19 de feverev ista em 19 de feverev ista em 19 de feverei re i rei re i rei ro de 2009).o de 2009).o de 2009).o de 2009).o de 2009).

    Uma l ivrUma l ivrUma l ivrUma l ivrUma l ivre re re re re recr iao sobrecr iao sobrecr iao sobrecr iao sobrecr iao sobre o textoe o textoe o textoe o textoe o texto Mary StuartMary StuartMary StuartMary StuartMary Stuart de Fr iedr ich Schi l lerde Fr iedr ich Schi l lerde Fr iedr ich Schi l lerde Fr iedr ich Schi l lerde Fr iedr ich Schi l ler.....

    Pea em ArPea em ArPea em ArPea em ArPea em Arena-Labir into para duas atr izes,ena-Labir into para duas atr izes,ena-Labir into para duas atr izes,ena-Labir into para duas atr izes,ena-Labir into para duas atr izes,

    um pianista e uma sdita-ass istente.um pianista e uma sdita-ass istente.um pianista e uma sdita-ass istente.um pianista e uma sdita-ass istente.um pianista e uma sdita-ass istente.

    dramaturgia:

    Isabel Teixeira

    Georgette Fadel

    Cibele Forjaz

    155

    PrlogoPrlogoPrlogoPrlogoPrlogo

    PRIMEIRO SINALPblico entra. As duas atrizes chegam atrasadasno teatro, paisana.

    Primeiro Movimento. Camarinhas.Atriz 1 / Elizabeth I Georgette Fadel.Atriz 2 / Maria Stuart Isabel Teixeira.Atriz 2 (Isabel) Em primeiro lugar, boa noite.Ns gostaramos de pedir desculpas pelo atra-so. Do fundo do corao.Atriz 1 (Georgette) Isso nunca aconteceu an-

    tes. Quem conhece a gente e mesmo quem noconhece sabe que nuncaAtriz 2 Aconteceu um imprevisto.Atriz 1 Vocs nem imaginam o que aconte-ceuAtriz 2 Nem vem ao caso explicar. O que importante dizer que quando essa pea come-

    a e vocs, ou seja, o pblico, entra, ns j esta-mos vestidasAtriz 1 , ns j estamos montadas de rai-nhas, cada uma no seu trono. Com maquiagem,com tudoAtriz 2 Mas no tem problema, no vai mu-dar muita coisa.Atriz 1 Vai ser at melhor, vocs s demum tempinho pra gente se arrumar, uns trsminutosAtriz 2 Trs minutos para ela e cinco para mim.Aos poucos tiram a roupa civil e vestem a roupa-base do figurino. Comeam a organizar a contra-

    regragem. Num determinado momento, vo falaralgum segredo sobre o final da pea para o pianis-ta. Quando terminam, retornam para a camari-nha da atriz 2. Durante toda essa cena elas esta-ro sempre fazendo alguma coisa.Atriz 1 (indo pegar alguns grampos da mesinhada atriz 2) Me empresta uns grampos?

    R3-A9-Cibele&Isabel&Georgette.PMD 15/04/2009, 08:25155

  • 7/30/2019 TEIXEIRA, Isabel; FADEL, Georgette; FORJAZ, Cibele. Rainhas.pdf

    2/33

    sssss a l a ppppp r e t a

    156

    Atriz 2 No.Atriz 1 Nossa, me empresta dois grampos!Atriz 2 (impedindo que a atriz 1 toque na caixade grampos) J falei que no, no mexe nasminhas coisas.Atriz 1 No acredito. Voc est falando srio?Dois grampos?Atriz 2 J falei no.Atriz 1 Mas voc tem duas caixas aqui!Atriz 2 Eu vou usar todos esses grampos. (Si-lncio.) O mundo co mesmo.Atriz 1 Por que que na sua camarinha temmais coisas do que na minha? Voc tem trsmas (Para a sdita-assistente:) Elisete, porque ela tem esses privilgios todos aqui? (Atriz1 comea a voltar para sua prpria camarinha.)Lis, voc tem dois grampos a?Silncio. Pausa.Atriz 1 Bel, voc est ficando linda grisalhaSilncio. Atriz 2 meio constrangida meio brava.Pausa.Atriz 2 Voc est falando isso porque eu note emprestei dois grampos, eu seiAtriz 1 No, no isso no Voc acha queeu sou assim, vingativa? Estou falando porque

    eu acho bonito mesmo. Olha em volta, quantagente linda, quanta gente grisalha, carecaAtriz 2 (indo com os grampos para camarinha daatriz 1) Toma, eu vou te emprestar, na frentede todo mundo, trs grampos que voc vai medevolver depois da pea. Elisete, voc est deprova, trs grampos. Use com sade. Eu te co-nheo. Voc vai ficar me cutucando at o fimda noite hoje, s por causa de dois grampos.Atriz 1 No nada disso, que besteira, eu se-ria incapaz Eu s falei isso porque eu me lem-brei daquela histria da Maria Stuart, lembra?Dizem que quando ela soube da notcia de queela iria morrer ela imediatamente ficou com to-dos os cabelos brancos.Atriz 2 cientfico: o corao leva um cho-que, manda uma mensagem para o crebro e ocrebro solta uma anilina branca e os cabelosficam brancos na hora. Aconteceu com a mi-nha av. Minha av percebeu que tinha algu-ma coisa errada no banheiro. Ela bateu na por-

    ta e ningum abriu, bateu de novo e ningumabriu. A com um ombro ela derrubou a porta,sozinha. Quando ela entrou, ela viu no box dobanheiro meu tio, filho dela, morto, enforcadocom a gravata do meu av. Ela viu aquilo e ti-rou ele dali, imagine se meu av visse aquilo,com a gravata dele. Ela tirou ele de l, arrastouele at a cama do quarto e arrumou ele ali dei-tadinho. No caminho do box at a cama o ca-belo dela ficou todo branco.Silncio.Atriz 2 Peguei pesado? Pesou?Atriz 1 No, no pesou no, imagine. Vamosmanter esse clima. sobre isso que a gente estfalando mesmo, sobre morte. Essa pea... EssaMaria Stuart Vinte anos enclausurada! Umamulher que nasceu rainha, que nunca soube seroutra coisa... Essa mulher um mistrio.Atriz 2 (Olhando-se num espelho de mo) Di-zem que ela era linda e, alm do mais, tinha umencanto irresistvel. Eu t pensando em fazeruma plstica daqui uns cinco anos.Atriz 1 No nariz? (Pausa longa.) Para dar umaajeitadinha, no ? Ele meio... Quer dizer,achatadinho... (Pausa.)

    Atriz 2 No. no meu peito que a coisa estficando feia.Atriz 1 Voc comprou o corao?(Msica. A partir daqui a Atriz 2 comea a pro-curar o anel de corao, discretamente. Subtextopara as atrizes: Corao? Perdi o corao?)Atriz 1 O fatal Bothwell. Eu no posso esque-cer-me disso. Era Bothwell o nome dele, no era?Atriz 2 O fatal Bothwell. Foram trs maridos,trs! Essa Maria teve trs maridos. Aquele quemorreu jovem, coitado, doente, o Phillipe II...Atriz 1 No, Felipe no. Francisco.Atriz 2 Oui, cest a. Franois II, rei da Frana,coitadinho, era fraquinho. Morreu. Enterraramele e a coroa dela, porque depois disso ela foiexpulsa do trono da Frana. A ela voltou para aterra natal para ser Rainha da Esccia. Na Es-ccia veio aquele desvairado do segundo mari-do. Darnley.Atriz 1 Dar nle y. Ah, iss o Dep ois doDarnley que veio o fatal Bothwell, esse nome

    R3-A9-Cibele&Isabel&Georgette.PMD 15/04/2009, 08:25156

  • 7/30/2019 TEIXEIRA, Isabel; FADEL, Georgette; FORJAZ, Cibele. Rainhas.pdf

    3/33

    RRRRRainhas [(S)]. Duas atrizes em busca de um corao. [Atos I, II, I I I, IV e V]

    157

    a gente no pode esquecer. Fatal Bothwell. Elae o fatal Bothwell mandaram matar o Darnley.Essa foi a falha trgica dela. Pelo menos oque dizem.Atriz 2 No, foi falha mesmo. Porque depoisdisso o povo da Esccia saiu correndo atrs delaenlouquecido. Ela teve que fugir. Cruzou a fron-teira pedindo ajuda pra primaAtriz 1 Elizabeth I, Rainha da Inglaterra.Quer ver o que a prima fez com ela? T aqui notexto. (Pega o texto original do Schiller e procu-ra.) Eu selecionei esse trecho para uma outraocasio, mas... Achei, eu vou ler: A infeliz,Maria Stuart, desde o dia em que primeiro estesolo pisou, onde buscava, suplicante exilada, oamparo de sua prima Elizabeth, viu-se, de re-pente, no obstante a realeza, posta em priso,chorando os belos anos da intil juventude. lindo isso: a intil juventude.Atriz 2 Voc sabia que, na vida real, a Eliza-beth e a Maria Stuart nunca se viram cara a cara,nunca se encontraram?Atriz 1 Eu acho que a Rainha Elizabeth nun-ca quis ficar cara a cara com a inimiga commedo de cair de amores e cometer loucuras que

    pusessem em risco a Inglaterra e a sua pr-pria cabea. Sei l, era um tempo de feitiaria...Voc acha que eu estou sendo ingnua?Atriz 2 Ah... Cotada da Elizabeth, no ? Atparece! Coitada da Maria Stuart! Ela perdeu acoroa da Frana, perdeu a coroa da Esccia e nofinal ela vai perder a cabea dela na Inglaterra.(Aponta para o centro da arena)Atriz 1 Mas tambm, quem manda uma rai-nha ficar dando o corao assim, a torto e a di-reito como se fosse uma qualquer?Atriz 2 Vem c, voc no vai passar nem umlapizinho vermelho a nesse teu rosto? No vaidar um up nesse teu rosto? Um blush, talvez?Ningum merece essa palidez.

    (Toca um telefo-ne.) No, por favor, telefone celular e teatro nocombinam. Algum se esqueceu de...Atriz 1 Espera s um minutinho?Atriz 1 (Atende o seu telefone celular (que estavatocando) e comea a falar, tentando ser discreta.)

    Atriz 2 No acredito que era o seu celular.Senhores, por favor, desculpem. E desliguemos celulares.Atriz 1 (Falando no telefone.) Oi. No, meusenhor, eu j paguei essa conta h muito tempo.Tenho certeza, eu tenho o cupom, o recibo,cado em algum lugar da minha casa. Pelo amorde Deus, eu no posso pensar nisso agora, den-tro de poucos minutos eu vou ser uma rainha,eu no posso pensar em dvida agora. V seentende e resolve isso voc!! (Desliga.) Eu que-ria ser uma rainha pra ter cinquenta secretrias,isso sim.Atriz 2 Tem muita coisa que eu no posso es-quecer, tanta coisa para contrarregrar... (Folheiao texto da pea procurando alguma coisa.)Atriz 1 Quem essa mulher? Um poo depecados.Atriz 2 Rainha de Esccia. Rainha da Frana.(Comea a ler trechos do texto, como se estivessepassando alguma cena.) Ela tem direito a seussegredos. Ela tem direito a jias. (Pega uma cai-xa de jias em formato de corao e continua a lertrechos do texto.) a ltima jia que ainda aembeleza, e cuja vista consola a pobre do esplen-

    dor extinto, pois tudo o mais lhe foi arreba-tado. (Abre a caixa de jias para pegar o anel.No encontra.)Atriz 1 Cad o corao?Atriz 2 Tiraram tudo. (Para algum do pbli-co.) Voc mexeu aqui?Atriz 1 (Como se estivesse passando um trechodo texto.) Todo o cuidado pouco, nas mosdela tudo perigo.Atriz 2 (Ainda lendo o texto.) Quem, pondoo olhar nas paredes nuas dessa torre, dir quevive aqui uma rainha? Seus delicados ps afeitoss suaves alcatifas pisam agora em duro cho.Voc sabe o que alcatifa?Atriz 1 Sei, tapetinhoAtriz 2 Tapetinho... At os pequenos servi-os de um espelho lhe recusam.Atriz 1 Enquanto a sua imagem ela puderrever, no cessar de esperar e de ousar.Atriz 2 Suave corao, eu conheo to bemesse corao...

    R3-A9-Cibele&Isabel&Georgette.PMD 15/04/2009, 08:25157

  • 7/30/2019 TEIXEIRA, Isabel; FADEL, Georgette; FORJAZ, Cibele. Rainhas.pdf

    4/33

    sssss a l a ppppp r e t a

    158

    Atriz 1 O corao?Atrz 2 (Pega um livro onde um retrato de Ma-ria Stuart est estampado na capa.) uma ladyessa mulher. Importante isso. A gente est tra-tando com o devido respeito o fato delas seremrainhas?Atriz 1 O corao, cad?Atriz 2 Eu comprei o corao no aougueAtriz 1 Cad o corao?Atriz 2 Eu tenho certeza que eu comprei ocorao no aougue.Atriz 1 Cad o corao?Atriz 2 (Procura.)Acho que eu perdi, corao.Atriz 1 No, como perdeu? Como que podeperder o corao? Voc no trouxe o corao?Atriz 2 Eu tinha tazido... Estava num saco.Num saco, espremido, o corao.Atriz 1 A gente precisa do corao. a chaveda pea. Meu coraoAtriz 2 Eu no, eu no eu comprei, eu lem-bro que eu comprei esse corao em algum lu-gar, masAtriz 1 Cad meu corao? Vem, vem, meucorao. Vem, meu corao

    SEGUNDO SINAL

    Segundo Movimento. Atriz evoca Maria.Atriz 2 Segundo sinal. (Quase como um dese-jo.) Baixa a luz geral. Pode ser lentamente.Foco (Pausa.) nas camarinhas das atrizes.Atriz 1 Vem. Vem. Vem. Vem meu corao.Vem, vem, vem. Eu estou despojada. Eu estoucompletamente relaxada. Eu sou uma atriz. Eutenho 34 anos e estou completamente aberta.Vem, vem. pra voc que eu falo, sombra daminha alma. pra voc que eu falo, perdidoamor. (Citando o poema de Hilda Hilst) Quise-ra dar nome, muitos, a isso de mim.Vem. Vem.

    Porque a nsia tem parecimento com esse desme-surado de mim que te procura. Mas tambm no isso este meu neblinar contnuo que te busca.Vem vem vem. Ando em grandes vaguezas, aoi-tando os ares, relinchando sombras, carreando onada.Vem. Vem. Vem. Como se eu mesma flu-

    tuasse, cativa, oflica, sobre a tua Grande Face.Vem. S estou tendo que falar um pouco maisalto do que eu falaria, para isso poder ser pbli-co. Mas nada mais me importa a no ser te en-contrar, meu corao, pedao apartado de mim,pedao insensvel de mim. Maria. (Maria queestava virada de costas, sentada no trono de suacamarinha se vira para ela e depois volta a ficarde costas, incomodada pela luz forte de um re-fletor.) Estou seduzida por ti. Perdida de amor.Eu sou uma atriz apaixonada por uma persona-gem. So Fils, Estelas, Joanas, Martas, Carnei-ros, escravas, Anas, Gensios, Julies, Cristini-nhas, arautos, velhas, reis dourados. E agora omeu corpo chegou. Vem. Maria? (Maria se virae mostra um vestido vermeho. Em seguida comeaa vestir o vestido.) Eu tambm sou assassina. Eutambm sei ser santa como tu s. Mulher comotu s. Eu, a que tudo contm, a santa, a puta etudo o que h entre as duas. E no movimentoentre um ponto e outro que eu entendo que avida existe. Maria. (Maria se levanta, j vestidacom o vestido vermelho) Eu sou muito s. O co-rao um msculo to irrigado. Eu sou umrio. (Maria faz que vai embora.) Fica! Fica, se te

    interessa. Isso o que a gente chama Arena.(Maria sai de cena.)Atravs dos pomares, atra-vs dos jardins. Fica, se te interessa. Por entre asmil roupas que eu visto, debaixo de tudo, meuverdadeiro e desconhecido rosto. (Maria volta ecomea a se aproximar da arena. Atriz 1 com asElegias de Rilke nas mos.) Aqui, quem, se seugritasse, entre as legies de Anjos me ouviria?E mesmo que um deles me tomasse inesperada-mente em seu corao, aniquilar-me-ia sua exis-tncia demasiado forte. Pois o que o Belo se-no o grau do Terrvel que ainda suportamos eque admiramos porque, impassvel, desdenhadestruir-nos? (Maria pisa na arena e vai at o

    meio do labirinto.)Todo anjo terrvel

    TERCEIRO SINALAtriz 1 toca os trs sinais com o trompete. Atriz 2j est no centro da arenavestida de Maria.

    R3-A9-Cibele&Isabel&Georgette.PMD 15/04/2009, 08:25158

  • 7/30/2019 TEIXEIRA, Isabel; FADEL, Georgette; FORJAZ, Cibele. Rainhas.pdf

    5/33

    RRRRRainhas [(S)]. Duas atrizes em busca de um corao. [Atos I, II, I I I, IV e V]

    159

    Ato IAto IAto IAto IAto ICena 1Cena 1Cena 1Cena 1Cena 1

    Primeiro Movimento. Eu sou Maria.O rito do corao.Maria no centro da arena.Piano e trompete acom-panham a cena.Maria Eu sou Maria. Maria presa nessa torrepor quase vinte anos. As aflies desse longocativeiro vo me matando aos poucos, dia a dia,passando por um conta gotas os meus dias con-tados. Nenhuma notcia ultrapassa essas pare-des. E enquanto isso, l fora, o destino passeianas mos dos meus inimigos. Faz um ms, lon-go, penoso ms, que se instaurou o tribunal.E assim, de repente, me vi desprevinida, sem aassistncia de um advogado, diante de um in-justo tribunal de justia. O machado pende so-bre a minha cabea. No sei se fui ou no con-denada. Sou uma quase moribunda de coraopesado, carregado de incertezas. Meus rgoseram de um jeito, do jeito clssico: corao dolado esquerdo, rins abaixo das costelas, fgadodo lado direito, lngua dentro da boca, olhos nasrbitas (Comea a tirar do peito o prprio co-

    rao: uma bexiga vermelha com sangue, pulsan-do.) Mas desde que voc, Elizabeth, agarroumeu corao de passarinho com tua mo es-querda e ele foi inchando dentro da tua palma,pulsando desmedido, involuntrio, gordo deveias e molhado, desde que minha cabea dor-me pendurada na tua, meus rgos comearama se deslocar dentro do corpo. Ento eu vivo essabaguna, essa baguna de rgos deslocados,esse barulho de carne se arrastando entre lqui-dos, veias e espaos impossveis entre os ossos.Por isso essa anarquia que se instalou aqui den-tro. E isso a mais vertiginosa verdade de mim.Com um garfo explode o corao. (Msica instru-

    mental: Piano Pistols, de Lincoln Antonio.)Dentro do corao tem um anel, que Maria vesteno prprio dedo. Imediatamente aparece um fan-tasma no meio das roupas penduradas da arara,na camarinha da Atriz 1. Esta cena reflete o del-rio da culpa, representada pela sombra do fantas-ma do marido assassinado.

    Segundo Movimento. Julgamento ntimo dapersonagem: A Culpa Sanguinosa ou a Apari-o do Fantasma do Rei Darnley.Maria (apavorada) Quem voc? Fala!(Fantasma faz um gesto.)Maria Fala!Fantasma (Fantasma faz o mesmo gesto) Eu soualembrana dos erros da tua mocidade.Maria Eu te reconheo. Voc a sombra en-sangentada do meu marido, o rei Darnley, que,irritada, se levanta da tumba, e nunca vai deixarem paz meu corao, at transbordar a medidados meus infortnios.Fantasma a culpa sanguinosa, que agora terasga a alma, gela o teu sangue, faz os teus doisolhos, como se fossem estrelas, saltarem das r-bitas... Voc me matou!Maria No matei. Outros mataram.Fantasma Voc sabia de tudo e me atraiu paraa fatal cilada.Maria Desculpa. Eu no me pertencia. A lou-cura do amor, cego amor, me sujeitou ao sedu-tor temvel, o fatal Bothwell. A fora viril da-quele homem foi minha fraqueza. Desculpa!Fantasma E agora o crime com sangue h de

    vingar-se. Adeus, adeus, lembra de mim! Lem-bra de mim! (Sai a sombra do fantasma, silncio)Maria Existem maus espritos que se instalampor momentos em nosso corao, devastam-no,e ao fugirem, s nos fica o terror no peito macu-lado. Eu estou frgil. Eu no estou num dosmeus melhores momentos. Alguma coisa noplano da minha vida deu errado, entendeu? Deubem errado. (Maria canta Errei sim, de LincolnAntonio e Isabel Teixeira.)Errei, sim.Na pele, na carne, no sangue, nas veias.Errei, sim.A mo que diz mata,A boca que manda.Errei sim,Ardendo, ardendo, em chamasBombando o corao.ErreiSo loucuras de amor.Sou criana, por favor.

    R3-A9-Cibele&Isabel&Georgette.PMD 15/04/2009, 08:25159

  • 7/30/2019 TEIXEIRA, Isabel; FADEL, Georgette; FORJAZ, Cibele. Rainhas.pdf

    6/33

    sssss a l a ppppp r e t a

    160

    Depressa, tarde. Depressa, tarde.Antes que meu nome entre em cartaz em algu-ma campa da cidade.Meus senhores por favor.Quem aqui nunca pecou?Farei comigo as pazes,Depressa sairei.Eu no me pertencia.Eu, o sol, errante, vermelho.O sol.Errei.Errei, sim.

    (Fim da cano.)

    Cena 2Cena 2Cena 2Cena 2Cena 2

    Primeiro Movimento. All About Eve.Quando a cano Errei sim termina, Mariaretorna a sua camarinha e comea a se dema-quilar. Percebe a presena da Atriz apaixonada(Atriz / Elizabeth I). Reao Pausa.Maria Quem voc?Atriz apaixonada (baixo) Eu sou uma atriz

    apaixonada.Maria Mais alto. No d para ouvir nada.Atriz apaixonada (confusa, buscando palavras)No sou nada, a no ser algum que te viu. Tra-go boas ms novas. Voc quer me ouvir?Silncio.Atriz apaixonada (Ainda confusa) Eu quis tan-to chegar at voc, eu quis tanto. Eu vim ra-lando meu corao at aqui. Desde que eucomecei a violar as portas dos armrios embuti-dos, os delrios em vestidos de cetim, as maquia-gens roubadasMaria No d para entender nada, menina.Atriz apaixonada Se eu soubesse como come-arMaria Do comeo.Atriz apaixonada E eu estudei para chegar ataqui. Eu estudei muito. Fiz duas escolas. E eute via passando pelos corredores Voc Emvestidos de poca passando em frente ao meu

    olhar nulo num canto escuro de coxia. Pela fres-ta da porta da tua camarinha, eu te gravava naminha retina, cada gesto, cada som da tua boca.Eu ouvi a tua voz, tanto, tantas vezes que elaficou em mim. Eu j operei canho pra voc. bom quando algum faz a gente se sentir vivo. bom. Eu tenho f no poder das artes. Uniralmas alegres a almas alegres. Esse poder de vivere de morrer. Eu acho que isso tinha que ser es-crito. E ele escreveu. (Mostra o texto de Schiller.)Ele, o autor, o iluminado! Escreveu. A pea temteu nome.Maria Maria.Atriz apaixonada Maria Stuart. Se eu tiveruma filha, ela vai se chamar Maria. E eu voume emocionar com ela.

    Segundo Movimento. Condenao.Atriz apaixonada A fbula simples. A gente que complica. (Conduz Maria at a camarinhada Atriz 1. Prende Maria atrs da arara, nacamarinha.) Maria Stuart foi presa pela primaElizabeth (Pega na arara o vestido de Elizabeth emostra para a platia). Porque s havia umacoroa para duas cabeas. H que se entender.

    Num mundo masculino. H que se compreen-der. Ele escreveu isso. Eu estudei o texto. Estu-dei a histria, sua rvore genealgica. Me con-venci que s voc pode reinar na Inglaterra eno esse arremedo de rainha, engendrada noadultrio do prprio rei, seu pai, repudiadacomo filha bastarda. Este reino, onde, semculpa, voc definha cativa, de direito te per-tence, Rainha! Agora voc fala aquela frase:Oh, esse fatal direito! nica fonte de todos osmeus males!Maria Oh, esse fatal direito! nica fonte detodos os meus males!Atriz apaixonada O que estou tentando te di-zer que ele te condenou, eleMaria Do que voc est falando?Atriz apaixonada Dele, do iluminado. Leiavoc mesma.(Mostra o livro da pea Mary Stuart, que Ma-ria abre e l).

    R3-A9-Cibele&Isabel&Georgette.PMD 15/04/2009, 08:25160

  • 7/30/2019 TEIXEIRA, Isabel; FADEL, Georgette; FORJAZ, Cibele. Rainhas.pdf

    7/33

    RRRRRainhas [(S)]. Duas atrizes em busca de um corao. [Atos I, II, I I I, IV e V]

    161

    Maria e Atriz apaixonada (Cantam a canoCondenada, de Lincoln Antonio.)Condenada!Quarenta e dois juzes declaram.Condenada!A cmara dos Lords e a dos Comuns.A cidade de LondresInsiste vivamente pela pronta execuo.S a rainha hesitaEntre a clemncia e a astcia.(Fim da cano.)Atriz apaixonada Eu li a pea at o fim. Por-que Ela, a Rainha, quem te mata no final, en-tendeu? Eles vo cortar a sua cabea com ummachado. O machado vai entrar uma vez e acabea no vai rolar. O pblico nesse momentovai ouvir um som mido, de uma fatia do cre-bro caindo dura no cho. E o machado vai en-trar outra vez e a cabea vai rolar. E o sanguevaijorrar. Sim, a histria errou, mas ele, o ilu-minado, teve toda a liberdade para mudar issotudo, e ele no mudou: achou que seria maistrgico te matar!

    Mudando o curso da histria.

    Atriz apaixonada Mas nada por acaso. Por-que o destino escolheu o meu brao para te sal-var. De edital em edital, eu lutei por voc. Fo-ram horas e horas na frente do computadoraprendendo a fazer planilhas. Eu consegui! Eucheguei at essa arena! Eu trouxe um exrcito!Eu vou arrancar as ltimas pginas do originale ningum vai poder dizer que esse original exis-tiu, entendeu? Ns vamos, juntas, reescrever ofinal da pea com o sangue do nosso coraoralado. a subverso do texto clssico! E todanoite, toda a noite voc vai ser coroada, nesseteatro, rainha da Frana, rainha da Esccia, rai-nha da Inglaterra! um tringulo de coroas so-bre a tua cabea! E sabe o que vai acontecer?The Queen! The Beatles!Maria Eu sou a Rainha Maria. Olha a minhacoroa! (Se coroa com um cabide sobre a cabea.)

    Cena 3Cena 3Cena 3Cena 3Cena 3

    Primeiro movimento. Montagem do julga-mento pblico.Atriz apaixonada O tempo corre. (Vai para umcanto e pega o material para fazer sangue: Karo,groselha e pote. Enquanto fala, prepara lentamen-te o sangue, que mistura com as mos. No final,exibe as mos ensangentadas.) Primeiro eu gos-taria de te pedir desculpas. Desculpa, meu co-rao. Para enganar o mundo, tome para si aaparncia do mundo. A salvaguarda est na am-bigidade. Eu parecerei uma flor inocente, masserei a serpente que por trs da flor se esconde.Eu te enquadrei. Tudo composio, desde ocomeo. Agora voc uma cabea prmio,pendurada. Enquadrada para ouvir a sentenaque eu mesma vim trazer. Eu vou agora, cirur-gicamente, como um mdico experiente quedesloca as menores veias para retirar um tumorda cavidade do tero, eu vou montar a cena paravoc. (Com as mos ensangentadas leva Mariapara o meio da arena. Msica ins trumental:Contact Tango, de Lincoln Antonio. Atriz dan-a o tango com Maria que progressivamente vai

    ganhando o peso de um cadver. Leva Maria ato cho.) E agora eu vou fazer voc brilhar. Euvou derramar na tua boca a cena mais linda des-sa pea. (Pisa na cabea de Maria-Justia).

    Segundo movimento.O Julgamento do julgamento.Maria Justia (Com a cabea sob o p da atriz.)De modo algum me submeti a esse injusto tri-bunal de justia. Eu no sou nenhuma sditadeste reino, eu sou a rainha de um pas estran-geiro. A lei que me aniquila agora foi redigida einventada especialmente para mim. No mederam o direito de encarar meus acusadores.Deformaram a cara da justia para que ela pos-sa desferir golpes mortais contra a minha pes-soa. Mas nenhuma sentena de tribunal poderme atingir. Meu sol briha mais alto. S os reisso meus iguais. (Mostra a carta.) Elizabeth domeu sangue e sexo e condio. S a ela me abri-

    R3-A9-Cibele&Isabel&Georgette.PMD 15/04/2009, 08:25161

  • 7/30/2019 TEIXEIRA, Isabel; FADEL, Georgette; FORJAZ, Cibele. Rainhas.pdf

    8/33

    sssss a l a ppppp r e t a

    162

    rei, irm, rainha, mulher. Peo um grandefavor nessa carta: me encontrar com voc, emquem jamais os olhos pus. (Deitada no centrocom a carta na mo estendida para Elizabeth.) Eusou a fraca; voc, a forte. Pois bem, (Cantam acano Audcia, de Lincoln Antonio:)Use a violncia,Sacrifique-me sua segurana,Mate-me!Mas confesse que tal atoSer no de justia, mas de fora!Entre mim e a Inglaterra se trata de foraNo pea lei que lhe empreste a espadaPara acabar com a inimiga que odeia!No disfarce em veste sagrada a sanguinriaprepotncia!No burle o mundo com tamanha farsa!Matar-me ela pode, mas nunca julgar-me!Tenha a audcia de parecer o que no fundodalma.(Fim da Cano. Atriz Elizabeth pega a carta.)Atriz apaixonada Um encontro.(Depois de um instante, deixa a carta no centroda arena.)Atriz apaixonada- Perdo, meu corao.

    Fim do Ato

    Ato I IAto I IAto I IAto I IAto I IPrlogoPrlogoPrlogoPrlogoPrlogo

    Atrizes voltam para suas camarinhas. Luz geralvai baixando. Foco no camarinha da Atriz 2.Atriz 2 (Enquanto fala, comea a prender gram-pos na cabea, como se estivesse terminando de ar-rumar o cabelo.) Sabe, hoje me contaram umapiada, mas uma piada to engraada, que euquase explodi de tanto rir, meu Deus do Cu.Uma piada de um humor to refinado, uma iro-nia sutil, uma coisa impressionante. Era assim:Uma mulher bomba. Ela entrou no supermer-cado e explodiu. Agora no precisa dizer que erauma mulher bomba porque isso completa-mente redundante, no ? s dizer: uma mu-lher entrou no supermercado e explodiu. Mu-lher bomba, est implcito. Todas so. No

    boa a piada? Sutil? Eu rolei de rir. Literalmenterolei pelo cho, fui rolando at o jardim da casa,rolei de rir at a terra molhada (tinha chovidonaquele domingo depois de dois meses nessacidade poluda e sem chuva) eu rolei na lamado canteiro arrumado, rolei e as unhas que eutinha feito na tera feira passada para nuncamais roer, nunca mais, foram sendo fincadas naterrra molhada at os braos arderem de to pradentro da terra, da terra molhada, e os cabelosemaranhados j, medusados, molhados tam-bm, rodos pela terra do jardim arrumado e acara no cho, no solo, na terra e eu gritei, griteicom todas as minhas foras de tanto que eu ri,o riso virou aquele grito, o grito dentro da ter-ra, o grito da mulher explodida, com terra nomeio dos dentes, com terra dilatando as pupilasna noite do centro da terra e eu ia em viagemcontnua, a cabea nascendo pra dentro da me,essa me terra acolhendo bocas e gritos meus, amulher explodida e rf de me. A me veio umpensamento na cebea, um pensamento comonum cineminha dentro da minha cabea, mi-nha imaginao de adolescente que se imaginafamosa e me perguntam no programa matinal

    para mulheres: E o que voc acha da condiofeminina hoje em dia? A mulher, na sua opi-nio, vai dominar o mundo? No. Eu respon-di: no. No, no vai. A energia do mundo vaiser feminina. Porque a energia feminina aque-la que consegue tomar o caf da manh lendo ojornal enquanto ao mesmo tempo aqui e agorad um telefonema importante amarrando o sa-pato de um filho e batendo a gemada do outro.Depois achei boba a entrevista e vi no cinemada minha imaginao de adolescente que querser famosa os crditos do programa matinal su-bindo como fumaa de fogueira indgena na telada minha tv em preto e branco da cozinha (queeu uso para ver tv domingo a noite enquantoesquento a lasanha, fao a lista da feira e ponhonome no uniforme do meu filho porque ama-nh segunda) enquanto o meu sorriso sem gra-a ia desmilinguindo frente apresentadora oxi-genada que conversa com um tucano de pelciacomo se ele fosse sei l, os crditos subindo,

    R3-A9-Cibele&Isabel&Georgette.PMD 15/04/2009, 08:25162

  • 7/30/2019 TEIXEIRA, Isabel; FADEL, Georgette; FORJAZ, Cibele. Rainhas.pdf

    9/33

    RRRRRainhas [(S)]. Duas atrizes em busca de um corao. [Atos I, II, I I I, IV e V]

    163

    meu sorriso descendo e de repente o barulhoensurdecedor da exploso, est implcito, a ex-ploso, a mulher, tudo pelos ares, est implci-to, ns somos assim: mltiplas exploses degozo em horrios matinais especialmente reser-vados para ns, para que possamos copiar nos-sas receitas no caderno de capa dura engordu-rada nas manhs de domingo, numa cidadeonde no chove mais, comendo p, comendoterra molhada no jardim arrumado, explodin-do de tanto rir.

    Cena 1Cena 1Cena 1Cena 1Cena 1

    Primeiro Movimento. Elizabeth. Essa Coleira.(Rainha Elizabeth Fadel entra em cena vestidacom um Parangol de Sacolas, andando em crcu-los sem parar. O vestido de Elizabeth est pendu-rado nesse amontoado de coisas.)Elizabeth Pronto! Cheguei! Entrei bem nahora que era para eu entrar, no foi? Adorei,adorei o que ela estava falando. Era uma piadi-nha e depois foi ficando srio, no foi? Boa noi-te, boa noite, como vo vocs? Quem me cha-

    mou? Algum me chamou para um projeto. Boanoite! Eu conheo a senhora. Como eu poderianegar? Eu conheo o senhor tambm. umprojeto sobre mulheres? a minha cara, eu acei-to. Um projeto sobre homens? Como eu pode-ria negar? Sobre animais, plantas, crianas, sim,eu digo sim! Eu no posso parar para conversaragora, mas vem comigo, vem comigo, vem fa-lando, vem contando. Eu sempre quis trabalharcom voc. Eu sou Elizabeth, rainha da Inglater-ra, como seu nome mesmo? Eu no vou es-quecer. Pode me ligar que eu vou. Eu vou mes-mo, eu vou me matar, mas eu vou. Eu estou umpouco na correria, mas eu t tima, pode meligar, e se eu no atender, me deixa um recado,ou ento me manda um email... Manda umemail para [email protected] que eu chegar em casa l pela meia noiteou uma da manh, talvez... No mximo no diaseguinte, entre hoje e amanh, eu com certezavou pegar o email, com certeza vou conseguir

    pegar os recados no celular e te respondo. Por-que eu no abro mo de nada. Eu sou Eliza-beth I, Rainha da Inglaterra. Vocs todos estono meu corao, eu adoro todos vocs, meus s-ditos, eu no abandono nenhum de vocs, viu?Ento no me abandonem no, lembrem demim, liguem pra mim. Eu, Elizabeth I, Rainhada Inglaterra, cheia de responsabilidades... Se euno atender hoje eu atendo amanh e tudo quevoc precisar voc pode me falar, que eu resol-vo, viu? Porque est tudo anotado na minhaagenda Eu tenho uma agenda bem prtica,daquelas que voc consegue ver todos os diasda semana numa s pgina... Quer ver? S uminstantinho que eu j vou mostrar. Eu compreiessa bolsa grande porque agora eu tenho umlaptop. Eu achei que o laptop ia cumprir a fun-o da agenda, mas eu achei um pouco demaisabrir mo de todos os papis, no ? Um poucode papel a gente sempre tem que ter. Afinal eusou uma rainha! E o que uma rainha sem umpouco de papel, no ? (Sdita assistente est pa-rada na beira da arena com uma pasta vermelhacom papis estendida para Elizabeth I.) O que isso? No, eu no posso assinar nada agora. No

    posso parar. uma nova lei? Uma sentena demorte? Outro dia um conselheiro me procuroucom duzentos papis, tive que assinar duzentasvezes, duzentas vezes minha assinatura nummomento em que eu estava l em casa toman-do um vinhozinho e pensando sobre a delica-deza das coisas, sobre o quanto a gente tem querelaxar um pouco mais e dar um tempo internopara as coisas acontecerem, um tempo parapoder respirar, ter um pouco de paz interna...E ele me veio com duzentos papis, duzentasassinaturas... Mas eu consegui pensar sobre a de-licadeza, sobre o tempo, assinando duzentas ve-zes, duzentas vezes o meu nome. Eu compreium

    laptoppara tentar me organizar um pouco

    porque meu tempo est ficando escasso, sabe?O tempo est ficando muito escasso. Horrios,essa coisa boba da vida que a gente vive corren-do atrs e no nada. Na verdade tudo isso uma grande iluso e ainda bem que eu sou umarainha e eu no preciso ficar correndo necessa-

    R3-A9-Cibele&Isabel&Georgette.PMD 15/04/2009, 08:25163

  • 7/30/2019 TEIXEIRA, Isabel; FADEL, Georgette; FORJAZ, Cibele. Rainhas.pdf

    10/33

    sssss a l a ppppp r e t a

    164

    riamente atrs desse tipo de coisa, no ? Meunome Elizabeth I. Eu reino por quarenta anos.Quanrenta anos reinando em tempos de ho-mens e no de mulheres. Em tempos de muitosangue correndo fcil, meu medo, minha mor-te terrvel. (Aponta um guarda chuva para Ma-ria Stuart, que est assistindo a cena na suacamarinha. Para Maria:) Eu tambm sofri presanuma torre quando eu era jovem, com um ma-chado pendendo sobre a minha cabea. Aindabem que agora eu sou uma rainha e eu no pre-ciso necessariamente me preocupar com essetipo de coisa. Meu nome Elizabeth e eu reinoporque eu sou muito inteligente, eu sou muitointeligente, a minha inteligncia uma coisafantstica, eu consigo fazer mil articulaes aomesmo tempo. Eu junto l com cr. Eu consi-go sintetizar tudo em mim. A minha memria,a minha memria o meu trono, minha me-mria meu reino. Meu nome Elizabeth, eusou o centro da cultura, eu mando em tudo, tudo meu por aqui. O Estado sou eu! Ento,assim que eu conseguir parar um pouquinho...Olha s, j estou conseguindo parar... (Aos pou-cos vai parando de correr em crculos e comea a

    dispor seus objetos, o vestido de Elizabeth e suassacolas pelo palco.) Quando eu quero parar euparo, olhem. Eu vou deixar essas coisas por aquiporque eu sou uma pessoa muito organizada.Vou agora mostrar a agenda para vocs e vouanotar esse compromisso, esse projeto... (Abre amochila e vai tirando objeto por objeto. Descrevea utilidade de cada coisa at tirar da bolsa umpaninho que mais parece um arco-ris.) Isso aqui... Como o nome disso mesmo? (Silncio.Ela chora.) No estou querendo menosprezar apresena de vocs aqui no... Mas de repente medeu uma vontade de estar numa prainha. Sabe?Nem precisa ser um paraso, no. Pode seraquela prainha com areia cinza, marzinho cin-za... Gaivotinhas voando. Cinco dias de frias.Sem fazer absolutamente nada. Com aqueleamigo que no fala muito. Que espontanea-mente te oferece uma aguinha de cco... Sim,eu quero, eu digo sim, eu aceito... Meu reinopor um arco-ris! (D uma choradinha. Deita so-

    bre a carta de Maria, que at agora estava no cen-tro da arena. Dorme. A cena interrompida porMaria, que aplaude.)

    Segundo Movimento.Segunda volta do parafuso. Maria.(Elizabeth recolhe rapidamente suas coisas do cho,ajudada pela sdita-assistente, enquanto Maria,aplaudindo, fala:) Muito bom. Parabns! Eugostei da pea. Eu gostei A vida transbordan-do de dentro de uma bolsa. Virando elementocnico. Uma contrarregragem explcita! (Pega docho o cabide com o vestido de Elizabeth.) Eu ado-ro teatro, adoro, me entretm. Muito bonito.Realmente muito interessante. (Pausa.) Eu pos-so fazer uma crtica construtiva, meu amor? Emprimeiro lugar, (Observa Elizabeth.) a sua altu-ra... No convence. Como que chamam umaatriz assim to pequenininha para representaruma Rainha? Sua sorte que voc forte. Deuste abenoou com essa presena que engana oespectador. Adoro mulheres fortes que repre-sentam mulheres fortes. (Leva o vestido deElizabeth com o cabide at Elizabeth. Com o ves-tido, fora Elizabeth a se sentar. Deixa Elizabeth

    sentada com o vestido e o cabide.) Em segundolugar, eu acho que falta uma linha dramatrgica(V a carta no centro da arena. Um som que pon-tua). A trama simples, a gente que compli-ca. Elizabeth prendeu sua prima Maria Stuartnuma torre. (Pega um cabide com o vestido Ma-ria na arara de sua camarinha.) Maria passa qua-se vinte anos bordando cartas implorando umencontro. (Veste um brao do vestido de Maria.Enquanto isso, em contraponto, Elizabeth veste umbrao do vestido de Elizabeth. Enquanto isso asduas cantam a cano Mary, me?, de WalterGarcia e Isabel Teixeira.)Maria If you want me, if you need meElizabeth Who knows?Maria Oh, if you want me, marry, marry,marry me Marry, marry, marry meElizabeth Maybe Maybe Who knows?Who knows? (A cena interrompida por Eliza-beth, que comea a aplaudir.)

    R3-A9-Cibele&Isabel&Georgette.PMD 15/04/2009, 08:25164

  • 7/30/2019 TEIXEIRA, Isabel; FADEL, Georgette; FORJAZ, Cibele. Rainhas.pdf

    11/33

    RRRRRainhas [(S)]. Duas atrizes em busca de um corao. [Atos I, II, I I I, IV e V]

    165

    Terceiro Movimento.Terceira volta do parafuso. Elizabeth.Elizabeth (Elizabeth aplaude.) Impressionan-te! No consigo parar de aplaudir. Eu no sabiaque esse tipo de teatro-instalao, j existia naEra Elizabetana. Parabns! E que atrizes da suacategoria, menina, j estavam sendo formadasem Inglaterra. (Olha para a carta de Maria queainda est no centro da arena.). Maria. A vida tefoi leve. Voc bebeu at o fundo a taa dos pra-zeres e das alegrias, enquanto eu deixei todos osdeleites da existncia pelos deveres austeros darealeza. Foi sempre o meu desejo que se lesseum dia na minha campa este epitfio: Aqui jaza Rainha Virgem. (V a carta no centro da are-na. Um som que pontua.)

    Quarto Movimento.Quarta volta do parafuso. Maria.Maria (Interrompendo. Aplaude pouco, commuita fora.) Nossa! Fiquei at com medo devoc. (Sdita-Assistente pega um p de arroz e vaipassando no cabelo de Maria. Cabelos imediata-mente brancos.) engraado isso, no ? O tea-tro. Ficar o tempo todo fingindo que outra

    pessoa. (Vai para a arena com o cabide e o vestidode Maria.) Eu vou trazer pra cena Maria Stuart.(Pega o vestido e leva para o centro da arena. Emseguida pega a carta e, com o vestido na sua fren-te, estende a carta para Elizabeth:) A sombra dasua alma. ( bruscamente interrompida porElizabeth. Cai no centro da arena e ali permane-ce como um cadver, com a carta na mo.)

    Cena 2Cena 2Cena 2Cena 2Cena 2

    Primeiro movimento.Elizabeth acaba com o teatro.Elizabeth Fim da pea! Luz! Luz! Mais luz!Chega de teatro! Fora! Fora todo mundo! Euquero ficar sozinha! Como voc ousa? Na mi-nha presena, na presena dos meus sditos!Trazer para a cena essa figura! (Se aproxima de

    Maria-cadver no centro da arena. Fala com ela,que no reage nunca.) Essa coroa fincada na mi-nha cabea minha. S minha. Pensa que euno sei, pensa que eu no percebo? Como umrato, voc se esgueira pelos mnimos vos des-sas paredes cata do meu cetro, do meu lugarno trono desse pas. Voc pensa que eu no es-cuto a conspirao sussurrada enquanto esquen-to meus travesseiros repletos de ira? Se eu nomatar essa sombra, ela me mata. Minha vida asua morte! Minha morte, a sua vida! E a suacabea descoroada que vai rolar(Maria estende novamente a carta para Eliza-beth, que pega e l. Espelhamento do final doprimeiro ato.)

    Segundo movimento. A carta.Elizabeth Que pouco o homem! A que hdescido esta rainha. Ela, que com to soberbasesperanas havia comeado. Que mansas pala-vras usa agora. Ela que sonhava juntar sobre asua cabea trs coroas! (Para a platia. CantaPerdoai, Milords, de Lincoln Antonio.)Perdoai, milords.Sangra-me a alma.

    Tristeza invade o corao,Ao ver to perto o que h de horrvelNo destino humano.(Fala enquanto o piano continua a cano.) Deusno ps no delicado corao da mulher severi-dade e no virtude dos reis o ser severo. Queno se diga depois que no meu corao falaramo egosmo e a paixo, no a misericrdia. Euno quero ser injusta. Matando-a, mato umpouco da rainha que sou

    Deciso.Eu quero me encontrar com voc. Eu vou aoteu encontro!Fim do Ato II

    R3-A9-Cibele&Isabel&Georgette.PMD 15/04/2009, 08:25165

  • 7/30/2019 TEIXEIRA, Isabel; FADEL, Georgette; FORJAZ, Cibele. Rainhas.pdf

    12/33

    sssss a l a ppppp r e t a

    166

    Ato IIIAto I I IAto IIIAto I I IAto IIICena 1Cena 1Cena 1Cena 1Cena 1

    Primeiro movimento. Liberdade.Maria No compreendo este contraste: ontemanunciavam minha morte; hoje me do um dialivre. J ouvi dizer que tiram as cadeias de quemespera a eterna liberdade. (Canta a cano Afda Liberdade, de Lincoln Antonio.)Deixa que voe minhalma liberta!Que eu seja criana em doce vai e vem.Oh, nuvens errantes, veleiros do ar,Feliz de quem possa vos acompanhar.Ser que estou livre da priso?Ou o sol uma iluso?Alm desses montes avana meu reino na am-plido. Sou menina inocente.Presa aqui nessa corrente.(Elizabeth toca o trompete.)No ouves as trompas na ptria distante o cora-o? Velhas trompas ressoais.Pensamento me levai.

    Segundo movimento. Soam as trombetas. Elizabeth quem vem.

    Maria (Elizabeth toca o trompete) Que som esse? Quem se aproxima? Elizabeth! No!Agora no! Eu estou desprevenida. Por que nome prepararam? Eu quis tanto que essa horachegasse! Me preparei durante anos, ensaiei aspalavras, gravei na memria o que pudesse cau-sar comoo. De repente esqueci tudo, e agoras me resta aflio e dor! Ai de mim! Supliqueia minha perda e, para minha desgraa, fui aten-dida! No deveramos nos encontrar. Um dioimplacvel contra ela inflama todo o meu cora-o, me foge da alma todo bom sentimento, eas frias espantosas giram em volta de mim sa-cudindo as suas cabeleiras de serpentes! Nadapode, nada!, provir de bom do nosso encontro.Seria mais fcil que o fogo vivesse fundido nagua ou o tigre e o cordeiro se beijassem amo-rosamente. Fui cruelmente ultrajada. Entre nsduas no haver conciliao que valha!

    Cena 2Cena 2Cena 2Cena 2Cena 2

    Primeiro movimento. O encontro.Elizabeth Que lugar esse? (V Maria) Ah. a Torre. Mandem a comitiva adiante. gran-de a multido nas ruas de Londres. Vamos nosproteger um pouco no sossego deste parque.Meu povo me adora, me festeja com uma ale-gria idlatra, excessiva: ama-se assim a um deus,no a criatura humana.Maria Deus, nesses traos no h sinal decorao!Elizabeth Quem esta Lady? (Silncio. Re-conhece Maria. Finge surpresa e espanto.) Lady Maria?Maria (Consigo mesma). A mais esta provaome curvo. Quero esquecer quem eu sou e o queeu sofri.Elizabeth O qu?! Quem me falou de umamulher profundamente humilhada? O que en-contro uma orgulhosa de modo algum dobra-da ao infortnio.Maria Impotente altivez de uma alma nobre,longe de mim! Vou me jogar aos ps daquelaque me atirou nesta humilhao. (Dirige-se

    rainha. Cai de joelhos diante deElizabeth). Irm,o cu te escolheu! Sua feliz cabea foi coroadapela vitria: adoro a divindade que te elevouassim! Mas, minha irm, seja agora clemente!Me oferea sua mo soberana e me levante dofundo abatimento que me encontro!Elizabeth Esse o seu lugar, Lady Maria!Eu agradeo o grande favor que o meu Deusme fez, no permitindo que eu viesse a cair aosteus ps como eu estou te vendo agora cadaaos meus!Maria Pense, Rainha, nas vicissitudes da vidahumana! Existem deuses que castigam o orgu-lho! Voc deveria honrar e temer esses terrveisdeuses, que me arremessaram aos teus ps. Noprofane o nobre sangue real, que corre nas suasveias como nas minhas! No fique assim, Rai-nha, abrupta, inacessvel como rocha, a que onufrago perdido, quase sem foras j, tenta seagarrar! Meu tudo, minha vida, meu destino

    R3-A9-Cibele&Isabel&Georgette.PMD 15/04/2009, 08:25166

  • 7/30/2019 TEIXEIRA, Isabel; FADEL, Georgette; FORJAZ, Cibele. Rainhas.pdf

    13/33

    RRRRRainhas [(S)]. Duas atrizes em busca de um corao. [Atos I, II, I I I, IV e V]

    167

    dependem do que eu disser e das minhas lgri-mas: desaperte meu corao para que eu possamover o seu.Elizabeth O que voc tem para me dizer,Lady Maria? Voc pediu tanto esse encontro.Pois bem, eu estou aqui. Quero esquecer a rai-nha gravemente ofendida para cumprir comvoc o compassivo dever de irm e bondosa tedispensar o consolo de me ver. Embora meexponha justa crtica descendo a tanto, poistodos aqui sabem que voc conspirou para omeu assassinato.Maria Por onde devo comear, que palavrasdevo usar para te comover e no te ofender?Para falar por mim devo te acusar, Rainha, e istono quero. Voc procedeu comigo injustamen-te. Eu tambm sou uma rainha e, mesmo as-sim, voc me fez prisioneira. Cheguei aqui bus-cando asilo e voc, menosprezando o direitosagrado das gentes, as leis sagradas da hospitali-dade, me jogou num crcere. Me privaram dosmeus amigos e dos meus servidores. Me tiraramtudo o que me era necessrio. Depois disso, mepuseram diante de um tribunal injurioso! bem, no vamos mais falar nisso! Que o es-

    quecimento eterno cubra as crueldades que so-fri. Sim! Porei tudo na conta do destino; vocno culpada, nem eu; um esprito mau saiudo abismo para inflamar em nosso peito aqueledio que desde a infncia nos separa. Ele cres-ceu conosco. Fanticos insensatos armaram deespada e de punhal mos que nenhuma de nshavia chamado. Este o destino fatal dos reis:se divididos, desencadeiam sobre o mundo to-das as frias da discrdia. Agora no h boca deestranho entre ns. Estamos face a face. Irm,me diga do que sou acusada para que eu possame defender.Elizabeth A minha boa estrela me preservoude recolher a vbora em meu seio. No culpe odestino, Lady Maria, antes culpe o seu perversocorao, e a negra, selvagem ambio da sua fa-mlia. Pois nada de hostil havia entre ns, quan-do seu tio, esse cardeal ambicioso de todas ascoroas, me declarou guerra. Te instigou a se

    apropriar do meu braso real e do meu ttulode soberana de Inglaterra, a entrar em luta devida e morte contra mim. De que no lanoumo na louca empresa? A espada das naes, alngua envenenada dos padres da igreja catli-ca, as terrveis armas da piedosa demncia. Atem meu reino tentou atear as chamas da revol-ta. Mas Deus est comigo, e o astuto padre noganhou a batalha. A ameaa era contra a minhacabea, e tomba a vossa!Maria Estou nas mos de Deus. Voc no vaiusar o seu poder to cruamente.Elizabeth E quem me impediria? Seu tio mos-trou aos reis da terra que a paz com os inimigosse faz com guerra. Que me sirva de lio aquelanoite de So Bartolomeu, quando morrerammilhares de protestantes, tingindo o Sena desangue! Que representam para mim parentes-cos ou direitos de povos? Pois no rompe a Igre-ja os laos de todos os deveres? No consagra atraio, o assassinato de reis? Apenas uso o queos seus padres me ensinaram! Minha nica se-gurana est na fora.Maria Pode reinar tranqila! Renuncio a tododireito ao trono. As asas do meu sonho esto

    quebradas! Nem me atrai mais a grandeza. Vocconseguiu o que queria: no sou seno a som-bra da Maria que fui. Voc me fez o pior: medestruiu na flor dos anos! Agora, minha irm,ponha fim a todos os meus males: pronuncie apalavra generosa que aqui te trouxe, pois noacredito que tenha vindo para cruelmente zom-bar de sua vtima. Diga: Voc livre! Sentiu amo do meu poder: agora aprenda a honrar mi-nha clemncia. Diga e receberei minha vida eliberdade como um presente. Uma palavra apa-ga tudo: espero essa palavra. Oh, no demore,Rainha, em me dizer. Ai de voc se no a disser!Pois se voc no sair daqui magnnima comouma divindade, nem por toda a riqueza destailha eu quereria estar diante de voc, como vocest diante de mim neste momento!Elizabeth Voc se confessa finalmente venci-da? Renunciou s intrigas e enredos cavilosos?No h mais assassinos pelo caminho? Nenhum

    R3-A9-Cibele&Isabel&Georgette.PMD 15/04/2009, 08:25167

  • 7/30/2019 TEIXEIRA, Isabel; FADEL, Georgette; FORJAZ, Cibele. Rainhas.pdf

    14/33

    sssss a l a ppppp r e t a

    168

    aventureiro ousa mais te oferecer suas tristes ar-mas? Ento mesmo o fim, Lady Maria. Vocj no atrai mais ningum. Pois que insensatovai querer se tornar o seu quarto marido? Todossabem que voc mata tanto os seus maridoscomo os seus pretendentes!Maria Irm! Irm! Deus! Deus, me d mode-rao!Elizabeth Ento so estes os encantos que ne-nhum homem pode encarar impunemente?Junto aos quais nenhuma mulher deve ousar semostrar? Na verdade custou barata a fama: bas-tou dar a beleza para todos para em todos acharadmirador que a proclamasse!Maria (num brusco movimento de indignao)Isso demais!Elizabeth Peguei!Maria Basta destas douras de cordeiro!Torna ao teu cu, pacincia, que em silnciotudo suportas!Elizabeth Agora sim, voc se mostra como re-almente ! At este ponto da pea voc traziauma mscara escondendo seu rosto.Maria Escuta: errei humanamente, infantil-mente. O poder me perturbou. Errei, mas nun-

    ca s escondidas. Meus pecados e culpas so no-trios. Mas eu posso dizer que sou bem melhorque minha fama. E voc? Ai, que desgraadavoc, no dia que arrancassem o vu da hipocri-sia que cobre o ardor da sua oculta sensualida-de! Clera contida faz tanto tempo j, quebraas cadeias. Sai de teu antro! Uma bastardaprofanou o trono ingls, o nobre povo da In-glaterra foi por uma astuciosa comediante ludi-briado! Se direito houvesse, voc que neste ins-tante aos meus ps rastejaria no p, pois eu souo rei!Elizabeth Agora voc perdeu a cabea! Porquequando a morte atravessar o seu quarto com fa-cas de aougueiro, voc vai conhecer a verdade.

    Segundo movimento. Alvio de Maria.Maria como se tivessem me tirado do peitouma montanha! Enterrei o punhal no coraoda inimiga!

    Terceiro movimento.O dio de Elizabeth redige o fatal papel:a sentena de morte de Maria.Elizabeth Essa mulher em minha vida a F-ria, gnio do mal posto pelo destino a me per-seguir! Onde eu uma alegria, uma esperanaplante, ali me salta, tudo me tira. Maria Stuart,eis o nome de todas as desditas que me afron-tam! Ela tem que morrer! Desaparecida ela, res-pirarei desafogada. Livre como o ar que sopranas montanhas! (Fica silenciosa por um momen-to). Com que desdm me olhou de cima, comose com o olhar quisesse me fulminar! Mas nadapode contra mim! Tenho em mos melhoresarmas (Sdita-Assistente Elisete traz a carta).Vou assinar agora a tua sentena de morte.(Quando vai assinar, pra com a pena no ar.)Calma, meu corao, eu no posso perder a ca-bea agora. Uma mulher indefesa, atacada detodo o lado, em luta contra o mundo, eis o quesou. Escravos so os reis de seu estado e no po-dem ceder ao sentimento. Maria Stuart mu-lher como eu, rainha como eu. No posso porna minha conta a sua morte. Se eu pudesse en-contrar um meio mais inteligente de resolver

    tudo isso. Uma sntese indolor. Como uma cp-sula, uma plula, uma poo da invisibilidade(Decidida, toma de repente o meio da arena. Ges-to de arma que aponta para a prpria cabea comuma mo e com a outra aponta para Maria.Gira.) Mata ela pra mim? Mata? Mata ela pramim? (Neste momento a Sdita-Assistente entracom uma balana.) Porque se das duas rainhasuma tem que morrer para que a outra viva, eno existe soluo fora dessa alternativa, faameu povo a escolha: eu devolvo nas mos devocs a majestade. Vox Populi, Vox Dei. Vamosvotar. (A Sdita-Assistente entra em cena trazen-do uma balana de ouro. Demonstra para o p-

    blico a explicao de Elizabeth)As favas verme-

    lhas representam Maria. Se for ela a escolhida, sua cabea que pende poder, finalmente, rolar.Mas, se escolherem as favas brancas, sou eu,Elizabeth, quem dever morrer. Eu lavo as mi-nhas mos.

    R3-A9-Cibele&Isabel&Georgette.PMD 15/04/2009, 08:25168

  • 7/30/2019 TEIXEIRA, Isabel; FADEL, Georgette; FORJAZ, Cibele. Rainhas.pdf

    15/33

    RRRRRainhas [(S)]. Duas atrizes em busca de um corao. [Atos I, II, I I I, IV e V]

    169

    Primeira votao.Votao popular. A Sdita-Assistente passa pelopblico um pote, onde cada espectador deposi-ta a fava de sua escolha.Fim do Ato III

    Ato IVAto IVAto IVAto IVAto IVCena 1Cena 1Cena 1Cena 1Cena 1

    Primeiro movimento. Um intervalo que podemudar o curso da histria.As duas atrizes esto em suas respectivas cama-rinhas. Agem como se estivessem num pequenointervalo (bebem gua, descansam um pouqui-nho, comem uma ma, chupam uma bala, etc)Enquanto a votao ainda est em andamento, co-meam a conversar.Elizabeth Isso que subverso de texto cls-sico, no ? Agora no est mais nas minhasmos. Vox populi, vox dei. Sabe o que ? O jar-go clssico: a voz do povo a voz de DeusMaria Quer uma bala?Elizabeth O engraado que se a minha ca-bea rola e a sua coroada, pode ser que come-

    ce a acontecer com a gente aquele efeito DeVolta Para o FuturoMaria Do que voc est falando criatura?Elizabeth Do perigo de mudar assim o cursoda histria. Se a rainha da Inglaterra fosse vo-c, talvez ns no estivssemos aqui agora.Ento, enquanto o povo vota, as nossas ima-gens iriam progressivamente ficando cada vezmenos ntidasMaria Eu vou abrir um vinho, voc quer?Elizabeth e talvez no tivssemos mais oscontornos definidos para chegar at o fimMaria (Baixo) Se a minha cabea for rolar euvou querer morrer meio bacante.Elizabeth Voc trouxe um vinho? E um abri-dor? (Para a Sdita-Assistente) Onde esto as fa-vas? (Sdita-Assistente mostra o pote para Eliza-beth) Engraado Esse potinho e nossosdestinos chacoalhando a dentro Vox populi.Maria (com a garrafa de vinho na mo)s favas!

    Elizabeth E eu no consigo parar de pensarque da mesma forma que mudam as simpatias,o juzo humano muito varivel. Talvez um di-reito no se prove pela conta dos votos. O mun-do de hoje no mais o de ontem nem ser ode amanh.Maria No depende mais da gente. So favascontadas. Vox dei.Elizabeth Mas a gente pode, sim, continuarum pouco mais pra ver se a onda varivel dojuzo humano varia mesmo. Eu te proponhoum segundo encontro para pesar melhor as con-seqncias dos nossos atos.Maria Eu topo. Quem sabe o nosso destinono muda o curso da histria Comece voc,Rainha.

    Segundo Movimento. O segundo encontro.Elizabeth Descrio: noite. Vestida de preto,Elizabeth se esgueira pelo labirinto do jardim,toma uma passagem secreta, sobe uma escada emformato de caracol e penetra pela lareira na celada Torre, onde num tapetinho sujo, num canto es-curo, dormita Maria StuartMaria ao lado de uma garrafa de vinho e

    duas taas que estavam ali por acaso (Faz deconta que dorme)Elizabeth (Para Maria que dorme) Maria.Maria (Acorda, espantada) Elizabeth? Voctrouxe um espelho?Elizabeth Olhos nos olhos voc mais encan-tadora do que sua fama. Mas numa penada, euposso descabear de vez a tua beleza.Maria E essa penada vai decidir se a sua vidavai ser de paz ou de martrios.Elizabeth Como que essa histria, quandoa gente no tem inteno, quando a gente le-vado pelas circunstancias O que eu estouquerendo saber : quais so as implicaes ti-cas de tirar a vida de algum? Eu no estou fa-lando dos juzes deste mundo, eu estou falandodo plano espiritualMaria No plano espiritual, aqui se faz, aquise paga.Elizabeth Mas fato de estar acuada me liberaou no do erro? Eu posso acreditar que eu me-

    R3-A9-Cibele&Isabel&Georgette.PMD 15/04/2009, 08:25169

  • 7/30/2019 TEIXEIRA, Isabel; FADEL, Georgette; FORJAZ, Cibele. Rainhas.pdf

    16/33

    sssss a l a ppppp r e t a

    170

    reo uma absolvio? Ou se eu for absolvidaagora, eu vou ser condenada mais tarde?Maria A justia terrena reflete sempre, mes-mo que por caminhos tortos, a justia divina.Eu estou pronta para entrar na Eternidade. Podeassinar a minha sentena de morte.Elizabeth Eu tremo agora da Maria viva.Mas eu deveria tremer da morta. Voc vai sairda cena da decapitao como uma nova deusada discrdia, inflamando o reino todo em cha-mas de vingana, afastando de mim o coraodo meu povo. Eles vo chorar por voc! Morta,no vero mais em voc uma inimiga, mas a v-tima do meu cime e rancor. Eu no quero vi-ver com a tua morte nas minhas costas. Vivavoc! Eu quero te salvar. (Elizabeth pega a gar-rafa de vinho.)Maria Eu no quero que voc me salve, importante para mim morrer, o meu destino.J posso ver a cena. Eu vou usar um vestidonovo lindo que eu ainda tenho no dia da de-capitao (Elizabeth saca a rolha da garrafae serve o vinho nas taas que esto com Maria.) a cena do triunfo, e no da morte de umarainha! Vou morrer como herona, como Joana

    dArc! Eu quero virar Santa. No meu fim est omeu comeo!Maria (Oferecendo uma taa para Elizabethe ficando com a outra.) Toma, bebe. O sanguede cristo.Elizabeth vida!Maria morte! (Bebem.)

    Terceiro movimento.A bebedeira e a segunda votao.Maria Ai. A vida no bolinho.Elizabeth No no bolinho mesmo.Meupblico, meu povo, vamos votar novamente!Quem quiser pode mudar de idia.Maria um segundo turno, facultativo. Maspode mudar de idia. Votem em mim, eu que-ro morrer!Elizabeth Votem em mim, eu no quero matar!Maria Eu quero virar Santa! Cad meu corao?Elizabeth Eu quero o perdo! Eu perdi acabea?

    Maria Eu subi a Consolao arrastando o co-rao carregado, atravessei a Paulista e agoraElizabeth Eu no quero te matar.Maria Perdi meu corao? Eu tinha trazido umcorao do aougue. Num saco Espremido.Elizabeth Help, I need somebody, help.Maria Voc vai me matar! Mata!Elizabeth Eu sou amor. Eu sou amor da cabe-a aos ps.Maria Eu quero virar santa, quero que as pes-soas se ajoelhem, rastejem, chorem, rezem pormim, Mariinha, Mariinha.Elizabeth (Se ajoelha.) Mariinha! Eu peo queeu seja julgada como uma enviada divina, quemata para no morrer.Maria Enviada, viada divina.Elizabeth Eu no posso matar assim umarainha.Maria Mas pode parir uma santa. Eu sou umaPuta Santa. Cade o meu corao sagrado?Elizabeth O seu corao sangrandoMaria O corao no se basta a si mesmo.Elizabeth Meu corao to sem dureza.Maria Corao de rainha! Mata! Mata!Elizabeth Mas algum aqui j leu aquele livro

    A Conquista Psicolgica do Mal?Maria Algum j leu essa maravilha literria?Elizabeth Esse livro diz que s pode perdoarquem j pecou.Maria Quem j pecou!Elizabeth Eu j pequei.Maria Pequei sim.Elizabeth Ento eu perdo. Eu perdo todosvocs. E maisMaria E maisElizabeth Eu perdoMaria Eu perdoElizabeth O futuro.Maria O futuro de vocs depende de nossasaes passadas.Elizabeth Eu vou dizer pela ltima vez por-que ns no temos muito tempo no. Eu noquero mais o trono da Inglaterra.Maria Elle ne veut plus la couroune dAngla-terre.

    R3-A9-Cibele&Isabel&Georgette.PMD 15/04/2009, 08:25170

  • 7/30/2019 TEIXEIRA, Isabel; FADEL, Georgette; FORJAZ, Cibele. Rainhas.pdf

    17/33

    RRRRRainhas [(S)]. Duas atrizes em busca de um corao. [Atos I, II, I I I, IV e V]

    171

    Elizabeth Eu quero ficar quietinha no meucantoMaria She wants to be alone.Elizabeth ... pacificar meu corao.Maria So tantas lnguas que a gente fala, no ?Elizabeth My heart My geart belongs todaddyMaria Tem tanta lngua em mim, falando,lambendoElizabeth Voc me confunde. Voc est cons-pirando contra mim?Maria Eu conspirei Ai, eu conspirei Euconspirei, eu conspirei, eu conspirei, eu pirei,eu pireiElizabeth Voc est conspirando. Bebe. Bebe.Trepa. Bebe. Fode. Bebe. Bebe. Fuma. Bebe.Fuma. Trepa. Conspira. Bebe. Fuma. Trepa.Conquista.Maria Eu explodi meu corao.Elizabeth Minha primaMaria Minha quase irm. Lili? Lili? coutea que je dis, Lili. Lili? T escutando o que tfalando?Elizabeth Listen to me. Eu quero que vocsaiba

    Maria que nem mesmo em inteno aten-tei contra a vida de uma rainha.Elizabeth Eu sou a rainha da Inglaterra.Maria Eu sou a rainha da Esccia, eu sou arainha da Frana, eu sou a rainha da Inglaterra.Eu sou a rainha da Esccia, eu sou a rainha daFrana, eu sou a rainha da Inglaterra. Eu sou arainha da terra. Eu sou a rainha do Brasil, eusou a Miss Brasil. Eu sou a rainha da bateria.Eu sou a rainha da Inglaterra. Eu sou a rainhada vela!Elizabeth Adeus, adeus, linda cabecinha,adeus para sempre No me faltaro lgrimaspara te chorar.Maria Adieu France, adieu. Adeus e para sem-pre, adeus. Adieu. No me faltaro lgrimaspara te chorar.Elizabeth Adeus meu povo, adeus coroa.Maria Adieu mon coeur.Elizabeth e Maria EU SOU O REI!!!!!!!!(Brindam e bebem novamente.)

    Ato VAto VAto VAto VAto V

    Primeiro movimento. A Espera.Silncio. As favas comeam a ser pesadas. Lenta-mente.Maria Nada a fazer.Elizabeth E se a gente se arrependesse?Maria Do que?Silncio. S se escuta o barulho das favas.Maria O que a gente vai fazer agora?Elizabeth Esperar.Maria Sim, mas enquanto a gente espera.Elizabeth Que tal se a gente se enforcasse?Maria O comeo est no fim.Silncio. A pesagem dever estar terminando.Elizabeth Sou eu quem vai morrer.Maria No. Sou eu. Eu sinto.As favas foram pesadas. O veredito dado pelabalana.

    Segundo Movimento. A morte.Primeira verso: Elizabeth ganha a votao.Elizabeth (Canta a Cano Final de Eliza-beth, de Lincolnn Antonio e Walter Garcia.)A vontade do povo muda. Nas viradas do aca-

    so. Nada no mundo eterno. Tudo acaba. Temseu prazo. Onde a alegria mais canta e a dormais deplora, num instante a dor canta, e aalegria chora. hora de acabar o meu tormen-to, hora de cantar a liberdade. Se meu pensa-mento livre na noite, minhalma voa alm dosofrimento. Minhalma voa na tranqilidade.Minhalma voa na tranqilidade. Minhalmavoa na tranqilidade.(Maria leva Elizabeth para o alvo do machado.Maria vai matar e hesita.)Maria No me faltaro lgrimas para te chorar.Elizabeth Te perdo de todo o corao.Maria mata Elizabeth.

    Segunda verso: Maria ganha a votao.Maria vai para o centro da arena.Maria (Canta a Cano Final de Maria, deLincoln Antonio e Walter Garcia) A vida mi-lagre, o espao infinito. O espao milagre, otempo infinito. O tempo milagre, memria

    R3-A9-Cibele&Isabel&Georgette.PMD 15/04/2009, 08:25171

  • 7/30/2019 TEIXEIRA, Isabel; FADEL, Georgette; FORJAZ, Cibele. Rainhas.pdf

    18/33

    sssss a l a ppppp r e t a

    172

    milagre. Conscincia milagre. Tudo milagre.At a morte. Bendita seja a morte, maior de to-dos os milagres. Bendita seja a morte, juz sau-dvel, imparcial. A vida milagre o espao,infinito. O espao milagre, o tempo infinito.O tempo milagre, a vida infinito. A vida mi-lagre, memria infinito. (Fim da cano.)Elizabeth pe a cabea de Maria sob o machado.Vai matar e hesita.Maria Te perdo de todo o corao.Elizabeth mata Maria.Elizabeth No me faltaro lgrimas para techorar.

    Terceira verso: Elizabeth ganha a votao.E vira o jogo.Elizabeth (Canta a Cano Final de Eliza-beth, de Lincolnn Antonio e Walter Garcia.)A vontade do povo muda. Nas viradas do aca-so. Nada no mundo eterno. Tudo acaba. Temseu prazo. Onde a alegria mais canta e a dormais deplora, num instante a dor canta, e a ale-gria chora. hora de acabar o meu tormento, hora de cantar a liberdade. Se meu pensamen-to livre na noite, minhalma voa alm do so-

    frimento. Minhalma voa na tranqilidade.Minhalma voa na tranqilidade. Minhalmavoa na tranqilidade.(Maria leva Elizabeth para o alvo do machado.Maria vai matar e hesita. Elizabeth vira o jogo. Selevanta e pe a cabea de Maria sob o machado).Maria No me faltaro lgrimas para te chorar.

    Elizabeth Te perdo de todo o corao.Elizabeth mata Maria.

    Quarta verso: Maria ganha a votao.E vira o jogo.Maria vai para o centro da arena.Maria (Canta a Cano Final de Maria, deLincoln Antonio e Walter Garcia) A vida mi-lagre, o espao infinito. O espao milagre, otempo infinito. O tempo milagre, memria milagre. Conscincia milagre. Tudo milagre.At a morte. Bendita seja a morte, maior de to-dos os milagres. Bendita seja a morte, juz sau-dvel, imparcial. A vida milagre o espao, in-finito. O espao milagre, o tempo infinito.O tempo milagre, a vida infinito. A vida mi-lagre, memria infinito. (Fim da cano.)(Elizabeth pe a cabea de Maria sob o machado.Vai matar e hesita. Maria vira o jogo. Se levanta epe a cabea de Elizabeth sob o machado.)Elizabeth Te perdo de todo o corao.Maria mata Elizabeth.Maria No me faltaro lgrimas para te chorar.

    FIM

    Obs: Esta pea tem cinco finais diferentes. Aquis apresentamos quatro verses. Para o leitorresta a responsabilidade de imaginar o ltimodesfecho.

    R3-A9-Cibele&Isabel&Georgette.PMD 15/04/2009, 08:25172

  • 7/30/2019 TEIXEIRA, Isabel; FADEL, Georgette; FORJAZ, Cibele. Rainhas.pdf

    19/33

    A

    SSSSS o b ro b ro b ro b ro b re a ms i ca em Ra inha [ ( s ) ]e a ms i ca em Ra inha [ ( s ) ]e a ms i ca em Ra inha [ ( s ) ]e a ms i ca em Ra inha [ ( s ) ]e a ms i ca em Ra inha [ ( s ) ]

    LLLLL incoln Antonio

    Lincoln Antnio msico.

    msica de Rainha[(s)] composta de novecanes e quatro temas instrumentais.Duas vozes, um piano e um trompete exe-cutam a msica ao vivo. As canes somais fechadas como forma, mas seu

    acompanhamento e os temas instrumentais sobem livres, bastante improvisados em certosmomentos. Foi esse o motivo que nos levou apublicar as partituras apenas com a melodia ci-frada, sem indicaes do acompanhamento,para no trair o esprito original desta msica

    de cena. preciso sempre, de alguma maneira,recri-las. As prprias melodias sugerem seuacompanhamento e so pontos de partida paraaperformancemusical.

    As canes surgiram primeiramente a par-tir da traduo de Manuel Bandeira do textooriginal de Schiller. De poeta para poeta. A tra-duo de Bandeira toda metrificada, em decas-slabos, mas sem rimas. Embora o verso longoseja menos comum na cano brasileira, a tradu-o no deixa de revelar a extrema musicalidadede Bandeira, que se expressa no ritmo e nas ri-mas internas. Foi da experincia de tornar can-tvel esta traduo recortando, colando e ree-ditando os versos que as primeiras idiastemticas se consolidaram e acabaram por nor-tear todo o desenvolvimento musical da pea.

    173

    O compositor Walter Garcia colaborouna feitura de parte das canes, sobretudo nasduas canes finais que nascem de necessidadesdramatrgicas do espetculo, j distantes do tex-to original. Nestas canes ecoam as vozes deHamlet (onde a alegria mais canta...) e nova-mente Manuel Bandeira, o poeta de Tema e vol-tase Preparao para a morte.

    Algumas canes de John Dowland, com-positor ingls contemporneo das rainhas, fo-ram cantadas nos primeiros ensaios como pre-

    parao e aquecimento. A atmosfera destascanes, carregadas de melancolia e geralmentea duas vozes, tambm nos serviu como estmu-lo sonoro e Dowland acabou nos emprestan-do trechos meldicos na cano cantada porElizabeth no final do 2 Ato.

    Por fim surge a colaborao do composi-tor Manuel Pessoa, em cena ao piano, acom-panhando o canto das atrizes, desenvolvendoe ampliando o material musical, especialmenteno 4 ato onde toda a cena da segunda votaotranscorre atravs de sua improvisao.

    A est a msica de Rainha[(s)], resultadoda colaborao entre trs compositores em con-junto com o elenco e direo para a construode uma msica de cena em parte composta, emparte improvisada.

    R3-A010-LincolnAntonio.PMD 15/04/2009, 08:25173

  • 7/30/2019 TEIXEIRA, Isabel; FADEL, Georgette; FORJAZ, Cibele. Rainhas.pdf

    20/33

    sssss a l a ppppp r e t a

    174

    ============================== 24

    q = 46

    __F#m6

    # _C/G

    __D#m7(b5)

    # _C

    A7

    Em

    ll ll ll ll ll ll

    ==============================& #

    A7

    #

    F#m6

    _

    C/G

    #

    D#m7(b5)

    _

    C

    #

    D#m7(b5)

    ll ll ll ll ll ll

    ==============================

    Em

    # F#m6

    Em

    C

    #D#m7(b5)

    C

    ll ll ll ll ll ll

    ==============================

    D#m7(b5)# Em

    A7

    #F#m6

    _C/G

    #F#m6

    ll ll ll ll ll ll

    =================& # _

    C/G

    ? # _# __

    Ull ll ll ll

    TEMA DO CORAO

    Lincoln Antonio

    R3-A010-LincolnAntonio.PMD 15/04/2009, 08:25174

  • 7/30/2019 TEIXEIRA, Isabel; FADEL, Georgette; FORJAZ, Cibele. Rainhas.pdf

    21/33

    SSSSSobre a msica em Rainha[(s)]

    175

    ==============================& ### 98q . = 54

    JE -

    rrei

    C#mj

    sim

    . Na

    J . pe

    Bm6

    -

    le,

    na

    . car ne-

    No

    .san gue,-

    nas

    #vei

    F#m6 J- as

    . E -

    Jll ll ll ll ll

    ==============================& ### rrei

    C#mjsim

    . AJ .

    mo

    Bm6

    que

    diz .

    ma ta-

    A .

    bo ca

    -que

    #man

    F#m6J

    - da .

    E -Jll ll ll

    ==============================& ### .rrei

    Em .sim

    Ar

    J-

    68 n .den

    C

    -

    do

    ar

    . - den

    D#m7(b5)

    do

    -

    #em

    .cha

    A

    -mas

    # Bom

    -

    ban

    B

    --

    doo

    co -

    ra -

    ll ll ll

    ==============================& ### .o,

    C#m

    e

    J-

    .rrei

    Bm6 e = e34 So

    C#m

    lou

    - cu -

    ras

    de

    a -

    68 .mor

    Dmaj7(b5) 34 Sou

    E7/9

    cri -

    an -

    a

    por

    -fa

    68ll ll ll ll ll

    ==============================& ### 68 n .vor

    Dm6/F

    DeJ

    -n n n

    pre

    Em

    J- ssa,

    J

    tar

    Dm6

    -Jde

    DeJ

    -

    pre

    Em

    -Jssa,

    J

    tar

    Dm6

    -Jde

    24ll ll ll ll ll ll

    ERREI SIM

    Lincoln Antonio e

    Isabel Teixeira

    R3-A010-LincolnAntonio.PMD 15/04/2009, 08:25175

  • 7/30/2019 TEIXEIRA, Isabel; FADEL, Georgette; FORJAZ, Cibele. Rainhas.pdf

    22/33

    sssss a l a ppppp r e t a

    176

    ==============================### 24

    q = 50

    Bel:

    . Con

    A

    de-

    -

    na -

    da!

    44Geo:

    .D#m7(b5)

    Qua

    K- ren

    tae

    - dois

    ju

    ten. -

    n -

    zes

    de

    - cla

    - ra

    - ram

    24ll ll

    ==============================& #### 24Bel: . Con

    A

    - de - na -- da! 44 .Geo:D#m7(b5)

    AK C ma- - ra dos nLor -

    ten.

    des ea dos Co - muns 54ll ll

    ==============================### 54Geo

    Bel

    A

    A

    ci-da

    -

    de

    de Lon -

    dres

    44 .D#m7(b5)

    In -

    kKsis

    - te

    vi -

    va -

    men

    nb- te

    pe

    -

    la

    pron

    - tae

    - xe

    -

    cu -

    24ll ll

    ==============================### 24 n

    . .o

    A7

    S aGeo:

    Ra

    -

    C#m . i nha-

    he -

    .si

    F#7

    ta-

    En

    - trea -

    cle

    C#m .

    mn cia,-

    ea

    as

    -

    ll ll ll ll

    ==============================& #### t

    F

    #7

    cia-

    J Jpiano

    . C

    #m

    F

    #7

    . C

    #m

    _ _ .F

    #7

    ll ll ll ll

    CONDENADA

    Lincoln Antonio

    R3-A010-LincolnAntonio.PMD 15/04/2009, 08:25176

  • 7/30/2019 TEIXEIRA, Isabel; FADEL, Georgette; FORJAZ, Cibele. Rainhas.pdf

    23/33

    SSSSSobre a msica em Rainha[(s)]

    177

    ===========================& 44

    INTRO # # U . #K # #U # _

    _

    _ #_ __# __U 78

    ===========================& 44 # # _ n _U ?w# w_#w# w

    w___78l

    lll llll l

    lll llll

    =============================& 78

    Aq = 140

    _ # _ #j _ # _ #jB

    __ b _ # _ # j __ b _ # _ # j=============================? 78 # ..# ..

    . # ..# . . . J> # #J> J J

    > # #J> Jllll

    {{ l

    lll {{ {{ l

    lll {{

    =============================& __ b _ _

    # j __ b _ _ # j __ b _ # _

    # j __ b _ # _ # j

    =============================? bJ> #J> nJ bJ

    > #J> J # bj # bjllll

    {{ l

    lll {{ {{ l

    lll {{

    =============================& __ b _ _ # j __ b _ _ #

    j __ _ # _ # #

    j __ _ # _ # #

    j

    =============================? # J # J # # #J # # #Jllll

    {{ llll

    {{ {{ l

    lll {{

    =============================&

    C

    # __ __ _ # _ #j # __ __ _ # _

    #j __ b _ # _ # j __ b _ # _

    # j

    =============================? # __ ..gggggg# ..# . . __

    .. .. .. .._..___ .. _..___

    .. ..llll

    {{ l

    lll {{ {{ l

    lll {{

    =============================&

    __b _ _

    # j

    __ b _

    _ # j

    __ _

    # _# # j

    __ _

    # _# # j

    =============================? .. ..__ .. .. .. ..__ .. # ..# _ .. .._ ..llll

    {{ l

    lll

    {{ {{ l

    lll

    {{

    CONTACT TANGO

    Lincoln Antonio

    R3-A010-LincolnAntonio.PMD 15/04/2009, 08:25177

  • 7/30/2019 TEIXEIRA, Isabel; FADEL, Georgette; FORJAZ, Cibele. Rainhas.pdf

    24/33

    sssss a l a ppppp r e t a

    178

    Maria ===========================### 34

    q = 75 .U

    A

    sea

    J- vi

    o --

    44 ln

    C

    -

    cia

    Sa

    - cri

    -

    54 .fi

    A

    - que

    J- me

    a

    su

    a

    - se

    -gu -

    34

    Elizabeth ===========================# 34 . 44 .

    U - soa

    Jvi

    - o

    n- ln

    -

    54 cia

    34l

    llll l

    llll l

    llll l

    llll

    ==============================### 34

    ran

    C

    -

    a

    44

    Ma

    - te

    D#m7(b5)

    -

    me

    U Mas

    con

    34-

    .fe

    A

    sse

    J- que

    tal

    44

    ==============================# 34

    Mi -

    nha

    se -

    ngu -

    ran -

    a

    44 Ma

    - to

    U 34 Jus

    J-

    44l

    llll l

    llll l

    llll l

    llll

    ==============================### 44

    a

    C

    -

    to

    Se

    J-

    54 .r

    A

    no

    Jde

    jus

    ti-

    a,

    - mas

    de

    34 Jfor

    D#m7(b5)

    a

    -

    44

    ==============================& ## 44 .ti - aJ se - jan fei - 54 ta 34 _Jfor _-a 44l

    llll l

    llll l

    llll l

    llll

    ==============================### 44

    C#m

    En -

    tre

    mim

    eaIn -

    gla -

    nte

    Cmaj7(+5)

    - rra

    se

    tra

    - ta

    de

    34 Jfor

    D#m7(b5)

    a

    -

    44

    ==============================# 44 34 . 44l

    llll l

    llll l

    llll l

    llll

    AUDCIAcomo recitativo Lincoln Antonio

    R3-A010-LincolnAntonio.PMD 15/04/2009, 08:25178

  • 7/30/2019 TEIXEIRA, Isabel; FADEL, Georgette; FORJAZ, Cibele. Rainhas.pdf

    25/33

    SSSSSobre a msica em Rainha[(s)]

    179

    1a voz =========================& 24q = 80

    __Who

    __knows? If

    __ _you

    _want

    _me,

    if

    __ you

    _ _need

    _ me

    __Who

    2a voz =========================& 24 Who

    knows?

    Ma -

    rry ma

    -

    rry

    ma-

    rry

    me

    Ma

    - rry ma

    -rry

    ma

    -rry

    l

    llll l

    llll l

    llll

    {

    { l

    llll l

    llll l

    llll l

    llll

    ===========================& __knows...

    __jOh,

    if

    you

    __want

    _me...

    Ma -

    rry

    ma-

    rry

    ma -

    rry

    me...

    ===========================& me

    May

    be...

    May

    be...

    _Who

    __knows... If

    __you

    _l

    llll l

    llll l

    llll l

    llll l

    llll

    ===========================& Ma

    - r ry ma

    rry

    -

    ma

    -rry

    me...

    May

    be...

    May

    be...

    __jWho

    ===========================& _want

    _me,

    if__

    you_ _

    need_ me

    __Who

    __knows

    __Who

    l

    lll

    l l

    lll

    l l

    lll

    l l

    lll

    l

    {

    {

    ===========================& __knows...

    __ .Who

    __j __knows...

    __

    ===========================& .knows. .. Who

    j knows...

    .Who

    j knows...

    l

    llll l

    llll l

    llll l

    llll

    MARY, ME ?

    Walter Garcia eIsabel Teixeira

    R3-A010-LincolnAntonio.PMD 15/04/2009, 08:25179

  • 7/30/2019 TEIXEIRA, Isabel; FADEL, Georgette; FORJAZ, Cibele. Rainhas.pdf

    26/33

    sssss a l a ppppp r e t a

    180

    =============================## 24

    q = 70

    iano

    E

    #C#

    UF#m

    D

    E

    UA

    ll ll ll ll ll

    ==============================&

    ###Elizabeth

    Per

    E

    - do

    - #ai,

    C#

    Mi

    - lords

    F#mU

    San

    -

    D

    gra

    -

    mea #

    al

    C#

    - ma

    U

    ll ll ll ll ll

    ==============================##

    Tris

    F#m_

    - -te

    _A

    _zain

    - va

    - deo

    co

    Bm

    _- ra -

    _ .o

    C#

    Ao

    j ver

    F#m

    to

    per

    E

    #- t oo

    C#ll ll ll ll ll ll

    ==============================##

    queh

    D

    deho -

    rr -

    vel

    no

    des -

    #ti

    C#

    -

    nohu

    - ma -

    #no iano

    D

    ll ll ll ll ll ll

    ==============================&

    ###

    # C#

    D

    A

    Bm

    F#m

    A

    ll ll ll ll ll ll

    ==============================##

    E

    Bm/F#

    F#m

    F#m/C#

    E

    A

    _

    C## # #

    Ull ll ll ll ll

    QUE POUCO O HOMEMLincoln Antonio

    R3-A010-LincolnAntonio.PMD 15/04/2009, 08:25180

  • 7/30/2019 TEIXEIRA, Isabel; FADEL, Georgette; FORJAZ, Cibele. Rainhas.pdf

    27/33

    SSSSSobre a msica em Rainha[(s)]

    181

    ==============================## 34Maria:

    q = 102

    Dei

    C#m

    - xa

    que

    vo

    Bm6

    - e

    -mi

    Em

    nhal -

    ma -

    -li

    nber

    Dm6

    U- ta

    Queeu

    nse

    Gm - ja

    -cri

    nan

    Fm6 - a

    nem

    ll ll ll ll ll ll

    ==============================& ### do

    A#m#

    - ce

    va

    - -i

    n Uvm

    G#m6

    nu

    C#m

    - vens

    -e

    rran

    Bm6

    - tes,

    -ve

    Em

    lei

    - ros

    do

    n Uar

    Dm6

    Fe

    -

    ll ll ll ll ll ll

    ==============================## n

    liz

    Gm de

    quem

    npo

    Fm6 - ssa

    nvos

    A#m

    a -

    #com

    - -pa

    n nhar

    G#m6

    Se

    -

    U.r

    quees

    C#m

    -

    tou

    li -

    vre

    da

    pri

    ll ll ll ll ll ll

    ==============================##

    -

    .so

    Dmaj7(b5)

    Ou

    E7

    o

    sol

    u -

    mai-

    -lu

    so

    D#m7(b5)

    A

    -

    nlm

    C de -

    sses

    mon -

    D#m7(b5) .tes -a

    #J van

    A #- a

    meu

    ll ll ll ll ll ll

    ==============================## #

    rei

    B

    - no

    naam -

    pli -

    .do

    C#m

    Sou

    C#m

    me -

    ni -

    na

    i -

    no -

    .cente

    Dmaj7(b5)

    Pre

    E7

    -

    saa -

    qui

    ne -

    ssa

    -cotrompete

    . .

    rrente

    D#m7(b5)# .ll ll ll ll ll ll

    ==============================## n .

    C

    . ._D#m7(b5)

    # .

    No

    .n

    ou

    C

    -

    ves

    as

    # .trom

    D#m7(b5)

    -

    .pas na

    j p

    A

    #- tria

    - -dis

    #tan

    B

    - teo

    co

    - -ra

    ll ll ll ll ll ll

    ==============================& ### .o

    C#m

    Ve-

    lhas

    trom-

    pas

    re-

    sso

    U.ais-

    Dmaj7(b5)

    Pen

    E7

    -

    sa-

    men-to

    me

    -le

    68trompetevai.__ .#n n

    D#m7(b5)# . _.

    C

    .ll ll ll ll ll ll ll

    AF DA LIBERDADE

    Lincoln Antonio

    R3-A010-LincolnAntonio.PMD 15/04/2009, 08:25181

  • 7/30/2019 TEIXEIRA, Isabel; FADEL, Georgette; FORJAZ, Cibele. Rainhas.pdf

    28/33

    sssss a l a ppppp r e t a

    182

    =============================&24

    q = 90

    A

    -

    von

    ta

    Am

    de-

    do

    .po vo

    J-

    mu

    - da

    Nas

    -

    vi

    ll ll ll ll ll ll

    ==============================& ra

    D

    - das do a -ca

    - so

    Na

    Am

    da- no

    mun do

    - e

    -

    ter

    C - no Tu

    #

    --

    doall ll ll ll ll ll

    ==============================ca

    Bm - ba,

    tem

    seu

    pra

    A7/C# - zo

    On

    Dm

    dea

    - le --

    _ b _gri

    Gm/D

    a-

    _ mais

    ll ll ll ll ll ll

    ==============================&_

    can

    A7/C#

    ta-

    ea

    dor

    C#dimmais

    de

    -

    plo

    Bb - ra

    Num

    ins

    -

    .C

    tan tea

    J-

    _dor

    Am

    ll ll ll ll ll ll

    ==============================& canFmaj7(

    b5)

    - ta

    D7/F#

    Eaa le- - .gri aJ- cho

    E/G#

    - ra J hoDm

    - ra dea - -ca bar o meu

    -torll ll ll ll ll ll ll

    ==============================&

    men

    C

    -

    to

    J ho

    D7/F#

    - ra

    de

    -can

    tar

    a

    li -

    ber -

    da

    E/G# - de

    JSe

    ll ll ll ll ll ll

    ==============================&_

    meu

    Am

    pen

    _sa --

    _ .men to

    J-

    _li

    F

    vre-

    _na

    _noi te

    _- Mi

    -

    _ nhal

    Dm - ma

    _vo -

    aa -

    lm

    do

    so -

    -fri

    ll ll ll ll ll ll

    ==============================&menC

    - to MiJ -

    nhal

    Em/G

    - mavo - a

    na tran- qui - li -

    da

    Am

    - de Jll { ll ll ll {

    CANAO FINAL DE ELIZABETH

    Lincoln Antonio eWalter Garcia

    R3-A010-LincolnAntonio.PMD 15/04/2009, 08:25182

  • 7/30/2019 TEIXEIRA, Isabel; FADEL, Georgette; FORJAZ, Cibele. Rainhas.pdf

    29/33

    SSSSSobre a msica em Rainha[(s)]

    183

    ==============================### 24

    q = 94

    A

    vi

    A

    - da

    mi -

    la

    - greo

    -es

    pa

    - oin -

    -fi

    nni

    C U

    - to

    Oes -

    { ll ll ll ll

    ==============================###

    pa

    A

    - o mi - la

    - gre o

    tem

    - poin - -fi

    nni

    C U

    - to Oll ll ll ll

    ==============================### n

    tem

    Em - po

    -mi

    nla

    - gre

    -Me

    m

    A7 - ria

    -mi

    la

    -

    Ugre

    -Cons

    ll ll ll ll

    ==============================###

    cin

    C#m - cia

    -mi

    #la

    F#7

    - gre

    Tu

    G - do

    -mi

    la

    n-

    Ugre

    ll ll ll ll

    ==============================###

    A

    B7

    - t a

    morE

    - te A

    . BennJ

    - 34ll ll {

    1.

    ll

    2.

    ==============================### 34 n

    di

    C ta

    - se

    njaa-

    mor -

    te

    B

    .Mai

    J-

    or

    A de

    to -

    dos

    os

    mi -

    la

    C#m

    - gres

    Ben -

    nJll ll ll ll

    ==============================### n

    di

    C ta

    - se

    njaa

    - mor -

    te

    B

    .Ju

    nJ-

    niz

    C sau-

    d -

    vel,im-

    par-

    -ci

    al

    B

    A

    J 24ll ll ll ll

    CANO FINAL DE MARIA

    Lincoln Antonio e

    Walter Garcia

    R3-A010-LincolnAntonio.PMD 15/04/2009, 08:25183

  • 7/30/2019 TEIXEIRA, Isabel; FADEL, Georgette; FORJAZ, Cibele. Rainhas.pdf

    30/33

    R3-A010-LincolnAntonio.PMD 15/04/2009, 08:25184

  • 7/30/2019 TEIXEIRA, Isabel; FADEL, Georgette; FORJAZ, Cibele. Rainhas.pdf

    31/33

    FFFFF i cha t cn i cai cha t cn i cai cha t cn i cai cha t cn i cai cha t cn i ca

    DireoCibele Forjaz

    DramaturgiaIsabel Teixeira, Georgette Fadel e Cibele Forjaz

    ElencoGeorgette Fadel e Isabel Teixeira

    Cenografia e FigurinosSimone Mina

    Luz e operaoAlessandra Domingues

    Direo MusicalLincoln Antonio

    Preparao CorporalTica Lemos

    Direo de CenaElisete Jeremias

    Assistncia de DireoLuaa Gabanini

    Estagiria de direoPaula Bellaguarda

    Assistentes de cenografia e objetosCarolina Bertier e Patricia Brito

    Assistente de f igurinos

    Patricia BritoAssistente de cenografia 1 Fase

    Vanessa Poitena

    185

    R3-A011-FichaTecnica.PMD 15/04/2009, 08:25185

  • 7/30/2019 TEIXEIRA, Isabel; FADEL, Georgette; FORJAZ, Cibele. Rainhas.pdf

    32/33

    sssss a l a ppppp r e t a

    186

    CostureiraJudite de Lima

    BordadosMariana Lombardo

    VisagismoEmerson Murad

    Assistente de visagismoAnderson Bbatista

    MarcenariaDivaldo Tom da Silva

    CenotcnicoErik Klaus

    PintoresEdson Aureliano Pereira

    e Emerson Rodrigues da Mata

    Assistente de Luz e operaoMauricio Shirakawa

    MsicasLincoln Antonio, Manuel Pessoa,Walter Garcia e John Dowland

    Cano Leve, Meu CoraoCelso Sim

    VozCelso Sim e Maria Alice Vergueiro

    PianoManuel Pessoa

    Gravado no Estdio Outra Margem,por Paulo Lepetit

    HistoriadorRodrigo Bonciani

    Direo de arteSimone Mina

    R3-A011-FichaTecnica.PMD 15/04/2009, 08:25186

  • 7/30/2019 TEIXEIRA, Isabel; FADEL, Georgette; FORJAZ, Cibele. Rainhas.pdf

    33/33

    FFFFFicha tcnica

    187

    Imagens (vdeo)Roberto Setton, Alessandra Domingues

    e Luaa Gabanini

    FotosRoberto Setton

    Programao VisualFernando Bononi

    Estagirio de Programao VisualGabriel Satyahari

    Assessoria de ImprensaFrederico de Paula

    Produo Executiva 1 FaseMariana Trench

    Produo ExecutivaCarolina Flor Ga Azcuaga

    Direo de ProduoHenrique Mariano

    Idealizao do ProjetoIsabel Teixeira

    R3-A011-FichaTecnica.PMD 15/04/2009, 08:25187