Teias sócioespaciais: iniciativas e novos usos aos imóveis de valor histórico e cultural.

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Teias sócioespaciais: iniciativas e novos usos aos imóveis de valor histórico e cultural. *Noely Manfredini (Curitiba/Paraná), Janaína Bueno (Lisboa, Portugal) e Paôla M. Bonfim (João Pessoa, Paraíba) Em verdade, só há um meio eficaz de assegurar a defesa permanente do patrimônio de arte e de história do país: é o da educação popular. Nós, mulheres, estamos, de fato, sensibilizadas para o coletivo, ou a vida apressada passou a impedir essa visão? ................................... O investimento em imóveis sempre foi muito popular entre os brasileiros. Mas a decisão de investir na compra de casas, apartamentos ou outros tipos de imóveis exige ter uma quantia alta de dinheiro, além de conhecimento sobre o mercado imobiliário que, como qualquer outro mercado, está sujeito a altas e baixas. Sujeito também a conhecimentos outros, como os valores e usos a serem atribuídos a imóveis históricos e culturais. O patrimônio cultural, melhor dizendo. Patrimônio cultural é o conjunto de bens, de natureza material e/ou imaterial, que guarda em si referências à identidade, à ação e à memória de diferentes grupos sociais. De modo que seja resgatada a relação de memória e afeto com a comunidade. Imateriais como a literatura, pinturas corporais, a Pampulha, o baião ou forró, coleções arqueológicas e de fotografias. Bens culturais, como aqueles que registram elementos do passado ou presente, capazes de traduzir o momento cultural ou natural de grupos sociais ou de ecossistemas. Obras de Villa Lobos ou Pixinguinha, receita da pamonha ou cachaça, lendas e festas tradicionais, a tecnologia dos fogões à lenha, a rendas do Ceará, telhas coloniais, livros de batismo. O Patrimônio Natural inclui bens cuja criação não recebeu interferência humana (grutas, montanhas, rios, ecossistemas, jazidas, animais silvestres) e também Sítios que fazem parte de uma lista de patrimônios para preservação, como o Parque Nacional do Iguaçu, Mata Atlântica, Parque Nacional Serra da Capivara, Atol das Rocas. Como bens de natureza material, o Patrimônio Edificado, que trata das edificações isoladas ou conjuntos, que possuam peculiaridades culturais: arquitetura rural ou urbana, fábricas, palacetes, jardins públicos, casas comuns de taipa. Todos são bens de contexto histórico que devem ser preservados, memorizados ... e amados. Memória e... afeto. Há dezenas de oportunidades à espera de investimentos. Reconverter pavilhões industriais subutilizados ou desativados em centro de compras. Revitalizar espaços públicos. Restaurar imóveis deteriorados. Manter ou reanimar edificações tombadas, re-uso de uma antiga residência a se transformar em agência bancária, quem sabe um supermercado. Desde que se obedeça às diretrizes do tombamento,

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Duas historiadoras e uma escritora discursam sobre novas iniciativas para uso de imóveis de interesse cultural e histórico.

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Teias sócioespaciais: iniciativas e novos usos aos imóveis de valor histórico e cultural.

*Noely Manfredini (Curitiba/Paraná), Janaína Bueno (Lisboa, Portugal) e Paôla M. Bonfim (João Pessoa, Paraíba)

Em verdade, só há um meio eficaz de assegurar a defesa permanente do patrimônio de arte e de história do país: é o da educação popular. Nós, mulheres, estamos, de fato, sensibilizadas para o coletivo, ou a vida apressada passou a impedir essa visão?

...................................

O investimento em imóveis sempre foi muito popular entre os brasileiros. Mas a decisão de investir na compra de casas, apartamentos ou outros tipos de imóveis exige ter uma quantia alta de dinheiro, além de conhecimento sobre o mercado imobiliário que, como qualquer outro mercado, está sujeito a altas e baixas. Sujeito também a conhecimentos outros, como os valores e usos a serem atribuídos a imóveis históricos e culturais. O patrimônio cultural, melhor dizendo.

Patrimônio cultural é o conjunto de bens, de natureza material e/ou imaterial, que guarda em si referências à identidade, à ação e à memória de diferentes grupos sociais. De modo que seja resgatada a relação de memória e afeto com a comunidade. Imateriais como a literatura, pinturas corporais, a Pampulha, o baião ou forró, coleções arqueológicas e de fotografias. Bens culturais, como aqueles que registram elementos do passado ou presente, capazes de traduzir o momento cultural ou natural de grupos sociais ou de ecossistemas. Obras de Villa Lobos ou Pixinguinha, receita da pamonha ou cachaça, lendas e festas tradicionais, a tecnologia dos fogões à lenha, a rendas do Ceará, telhas coloniais, livros de batismo. O Patrimônio Natural inclui bens cuja criação não recebeu interferência humana (grutas, montanhas, rios, ecossistemas, jazidas, animais silvestres) e também Sítios que fazem parte de uma lista de patrimônios para preservação, como o Parque Nacional do Iguaçu, Mata Atlântica, Parque Nacional Serra da Capivara, Atol das Rocas. Como bens de natureza material, o Patrimônio Edificado, que trata das edificações isoladas ou conjuntos, que possuam peculiaridades culturais: arquitetura rural ou urbana, fábricas, palacetes, jardins públicos, casas comuns de taipa. Todos são bens de contexto histórico que devem ser preservados, memorizados ... e amados. Memória e... afeto.

Há dezenas de oportunidades à espera de investimentos. Reconverter pavilhões industriais subutilizados ou desativados em centro de compras. Revitalizar espaços públicos. Restaurar imóveis deteriorados. Manter ou reanimar edificações tombadas, re-uso de uma antiga residência a se transformar em agência bancária, quem sabe um supermercado. Desde que se obedeça às diretrizes do tombamento, algumas cidades dão descontos de impostos para os bens tombados, a partir de leis específicas.

O patrimônio material protegido pelo Iphan -Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - , com base em legislações específicas, é composto por um conjunto de bens culturais classificados segundo sua natureza nos quatro Livros do Tombo: arqueológico, paisagístico e etnográfico; histórico; belas artes; e das artes aplicadas. Eles estão divididos em bens imóveis como os núcleos urbanos, sítios arqueológicos e paisagísticos e bens individuais; e móveis como coleções arqueológicas, acervos museológicos, documentais, bibliográficos, arquivísticos, videográficos, fotográficos e cinematográficos. O IPHAN, tem em seu acervo, 89 núcleos históricos, 20 mil sítios arqueológicos cadastrados, 500 mil bens móveis integrados protegidos, 19 bens imateriais registrados. Sua estrutura descentralizada é composta de 27 Superintendências Estaduais e 25 Escritórios Técnicos. É pouco. Ainda não conseguiu criar efetivamente a tal relação memória-afeto. Mas já se vê algumas boas mudanças de visão. Nas áreas de Patrimônio Natural, para que não sejam mais vistas como impedimento ao desenvolvimento e sim pólo sustentável de ações em benefício das comunidades. Na combinação entre a conservação dos sítios culturais com os sítios naturais, proposta pelo Estados Unidos. No Brasil, o IPHAN estabeleceu o conceito de chancela da Paisagem Cultural ( Portaria 127/2009). É instrumento ainda frágil, do ponto de vista legal, mas que busca reconhecer a interatividade do homem com um meio natural e singular, resultando em uma identidade única e ao mesmo tempo diversa. É a caracterização simbólica, a “imagem” de um lugar. O Rio de Janeiro seria um exemplo, é quase um cartão postal, por si só..

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Por outro lado, o que faz com que o conceito de Patrimônio Mundial seja excepcional é sua aplicação universal. Todos os países possuem sítios de interesse local ou nacional que constituem verdadeiros motivos de orgulho nacional e a Convenção os estimula a identificá-los e protegê-los. Este ano de 2012 marca o 40º aniversário da Convenção do Patrimônio Mundial, um dos programas mais bem sucedidos da UNESCO e uma das ferramentas mais poderosas para a preservação do patrimônio. Quase universalmente adotado, com 188 países signatários, inclui 936 sítios inscritos por seu valor universal excepcional em 153 países. Sítios que pertencem a todos os povos do mundo, independentemente do território em que estejam localizados. Algum exemplo excepcional de tipo de edifício ou de conjunto arquitetônico ou tecnológico, ou de paisagem que ilustre etapas significativas da história da humanidade, ou ainda, exemplo também excepcional de habitat ou estabelecimento humano tradicional ou do uso da terra, representativo de uma cultura ou de culturas. Alguns estão em em perigo, seja pela provocação de terremoto, inundação ou dano causado por conflito armado, sítios que tenham se tornado vulneráveis por efeitos de mudanças irreversíveis (neste caso, o bem é incluído na Lista do Patrimônio Cultural ou Natural em Perigo).

Tanzânia, ruínas de Kilwa Kisiwani e de Songo Mnara - ilhas que fazem parte do patrimônio mundial da África, representando vestígios de dois grandes portos comerciais dos séculos IX e XVI,ameaçadas pela erosão marinha, que pode levar ao desmoronamento de edifícios.

Tanzania – Grande Mesquita. Patrimônio em Perigo- Original Photograph, Claude McNab, Wikimedia Commons - http://pt.wikipedia.org/wiki/Ru%C3%ADnas_de_Kilwa_Kisiwani_e_de_Songo_Mnara

Chile - Fábricas de Nitrato de Humberstone e Santa Laura - norte do Chile, a 18 km da cidade de Iquique, no deserto de Atacama, região de Tarapacá.

Chile – Patrimônio em Perigo - Photograph taken in 1992 by Mark Somoza . Wikimedia Commons - http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Humberstone.png

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Paquistão , Complexo do Forte e jardins de Shalimar - em Lahore, é formado por edifícios construídos entre 1641-1642, por um imperador muçulmano da dinastia mongol.

Paquistão - Patrimônio em Perigo - Wikimedia Commons. Picture by Kaiser Tufail, 25 Sep 2006 [email protected]

Filipinas, Arrozais em terraços das Cordilheiras das Filipinas - os terraços de 2.000 anos, esculpidos na província de Ifugao, estão a aproximadamente 1500 metros de altura acima do nível médio das águas do mar e cobrem 10.360 km² de montanha.

Filipinas, patrimônio em Perigo. Foto Wikimedia Commons. http://pt.wikipedia.org/wiki/Arrozais_em_terra%C3%A7os_das_Cordilheiras_das_Filipinas

O Fundo do Patrimônio Mundial foi criado em 1972. Recebe seus recursos essencialmente das contribuições compulsórias dos Estados-membros, totalizando 1% de seus aportes à UNESCO, e de contribuições voluntárias. Outras fontes de ingressos são os fundos fiduciários doados por países com fins específicos.

Argentina - Conjunto e Estâncias Jesuítas de Córdoba, os Parques Naturais de Ischigualasto e Talampaya, entre outros.

Albânia - Cidade-museu de Gjirokastra, entre outros.

Africa do Sul - Sítios de Hominídeos Fósseis de Sterkfontein, Swartkrans, Kromdraai e Arredores, entre outros.

Brasil - A cidade histórica de Ouro Preto (MG), o centro histórico de Olinda (PE), Praça de São Cristóvão (SE) , entre outros.

Portugal - Mosteiro dos Jerónimos - Obra-prima da arquitetura portuguesa do século XVI, classificada como Monumento Nacional, situa-se numa das zonas mais qualificadas de Lisboa, um cenário histórico e monumental junto ao rio Tejo onde também marcam forte presença a Torre e o Centro Cultural de Belém. Parque Arqueológico do Vale do Côa, interior norte de Portugal, junto à fronteira com Espanha. Criado em 1996, é dos mais importantes sítios do mundo, o mais importante sítio com arte rupestre paleolítica de ar livre. Ali foram identificados cinco dezenas de núcleos de arte, ao longo dos últimos 17 quilómetros do Rio Côa, até à sua confluência com o Douro.

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Gravura rupestre, Vale do Coa. Autor da foto Henrique Matos. Wikimedia Commons. - http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADtios_de_arte_rupestre_do_Vale_do_C%C3%B4a

No Brasil, um proprietário de terras consideras Patrimônio Natural, pode se socorrer na criação da RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural). É uma reserva constituída por terras privadas com o fim de preservar a diversidade biológica do local, fauna e flora. O dono assume o compromisso pela preservação da propriedade por tempo indeterminado. Há apoio legal (lei N.º 9.985/2000), se o local tiver importância por sua biodiversidade ou aspecto paisagístico ou possuir características ambientais que justifiquem sua recuperação. Entre os benefícios, a preservação do direito de propriedade e a isenção do ITR (Imposto sobre Propriedade Territorial Rural). Em alguns Estados, parte do ICMS Ecológico arrecadado pelos municípios pode ser repassado para os proprietários de RPPN’s.

Paraná, RPPN Figueira (Reserva Natural Salto Morato) – pertencente à Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, a reserva se localiza em Guaraqueçaba e foi criada em 1994 para preservar o maior remanescente contínuo de Mata Atlântica do Brasil. (foto http://www.infoescola.com/meio-ambiente/reserva-particular-do-patrimonio-natural

Amazônia. Fundo Vale de Desenvolvimento Sustentável, criado pela Vale do Rio Doce em 2009, teve foco inicial em programas de combate ao desmatamento na Amazônia, em parceria com instituições públicas e privadas . Aportou R$ 13,9 milhões em 8 projetos. Até 2012, investirá R$ 51 milhões. Em janeiro de 2011, assinou memorando de entendimento com a UNESCO no Brasil, para apoio a projetos direcionados à gestão ambiental de Sítios do Patrimônio Mundial Natural do Brasil. www.fundovale.org  

Desde os tempos pré-históricos já era importante estar próximo de lugares altos para garantir visibilidade ampla, mas ainda assim, próximo a rios, grutas ou outros abrigos naturais – para garantir a sobrevivência. Começa-se uma comunidade construindo a cultura, a identidade com o solo. Seja pela abundância de córregos, arroios ou rios. Estar próximo a linhas de trens. A uma estrada de trânsito de pessoas e mercadorias. Presença de carreteiros, tropeiros, mensageiros, comerciantes, viajantes. Ou instalação local de corpos militares, imigrantes estrangeiros, religiosos. Todos os territórios do mundo formam suas teias espaciais. Seja qual for o motivo da ocupação geográfica, um povoamento começa com alguns lotes, torna-se distrito, eleva-se à categoria de vila, produz o alargamento de ruas e praças, o alinhamento de prédios fabris. Surge a cidade. Há dinâmica espacial visível, concentração urbana. A atualidade do espaço tem isto de especial: é formada de momentos que se foram, mas que podem ser cristalizados como objetos geográficos atuais (Bertrand Russel). A própria Geografia como produto da história, mostra, nos espaços terrestres, a realidade do passado e do presente. Mas também pode retratar o êxodo, o abandono.

Santa Maria, Rio Grande do Sul. O distrito Arroio do Só (1896), modificou, de forma intensa, sua paisagem, tendo sua arquitetura alterada por novos usos e reformas. Em 1961, perdeu parte do seu território e população para outras divisões: um município (Santa Flora), novas distritais (Palma, Passo

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Verde). Desarticulou-se a linha ferroviária. Fecharam-se casas de comércio. Caiu a oferta de empregos. Veio o despovoamento. Onde havia o hospital Santa Terezinha, hoje há um CTG. O prédio da Estação agora é pequena empresa de cuias. Havia grandes fábricas como a dos móveis Tronco e outra de calçados (esta sumiu, a outra sobrevive a duras penas). O distrito em 1950 possuía 460 km² e na atualidade 159,30 km². Em 1909, 4.289 habitantes, em 1996, 1.657. Hoje ali se vive do cultivo de porongos, fabricação de cuias, agricultura familiar. (fotos/presente e passado - http://w3.ufsm.br/gpet/files/_Microsoft.pdf

A arquitetura das cidades brasileiras pode ser dividida em três períodos: Colonial, Imperial e Republicano. Os séculos XVI e XVII utilizaram uma linguagem direta e simples Os terrenos eram estreitos e as casas de frente para a rua tocavam-se entre si. Destinavam-se ao comércio e à moradia ou, nos casos do sobrado, ao comércio no térreo e moradia nos pavimentos subseqüentes. Predominava a casa térrea e o sobrado de até 3 pavimentos. As madeiras empregadas no Brasil eram de boa qualidade, como jacarandá, canela parda, ou preta e jatobá. Os enquadramentos mais antigos eram feitos em pedra de cantaria lisa ou com decoração simples em frisos e trançados, quando se tratava de uma portada de maior importância. No século XVIII apareceu o arco abatido e as casas se enriqueceram com janelas de peitoril ou púlpito em treliça e balaustradas de ferro. As vidraças começam a aparecer nas portas e bandeiras. O século XIX foi marcado pela chegada da família imperial. Os pés direitos vão crescendo, o que favorece a monumentalidade dos edifícios. Telha francesa ou Marselha. As madeiras mais utilizadas neste período foram o pinho de riga, a peroba do campo ou ipê. As escadas externas de cantaria eram extensas e imponentes. Uso de pisos de mármore colorido, além dos tabuados, rodapés de grande altura, jardins internos e externos. No final do século XX, as grandes construções foram sendo transformadas em escolas, asilos ou locais de instituições públicas. Outras foram simplesmente abandonadas, virando casas de cômodos ou cortiços. Fracionamento da grande propriedade em loteamentos, substituição da casa individual pelo prédio coletivo, introdução de novos materiais e métodos construtivos.

Qualquer edificação é composta em sua essência por fundações, paredes e cobertura. Outros elementos se integram nesta estrutura, como as aberturas das paredes, pisos e forros, abóbadas cúpulas e arcos. E o imóvel antigo faz parte de um meio ambiente, com vizinhança de outras casas, todas inseridas no contexto de uma cidade, no meio urbano ou rural. Todos eles, antigos e novos, sujeitos às variações climáticas, ao efeito dos processos acelerados de urbanização, ao envelhecimento natural dos materiais.

Qualquer edificação está sujeita a danos causados pela deterioração natural ou provocada (pela natureza ou pelo homem). Danos por problemas próprios da construção ou problemas externos à construção que comprometem sua estabilidade. Rachaduras, deformações na fundação ou telhado, má qualidade dos materiais empregados, má execução, escavações indevidas nas vizinhanças, ação do vento (vendaval são ventos de velocidade igual ou superior a 54km/h e abaixo de 90km/h, furação, ventos acima de 90km/h). A umidade pela presença de água na alvenaria, a retirada da cobertura vegetal que expõe o solo ao impacto das chuvas. Catástrofes naturais, poluição ambiental, árvores de grande porte e raízes profundas nas proximidades da edificação. Vandalismo, intervenções erradas, sobrecargas por depósito de trastes e materiais de construção no sótão. Até a simples falta de uso, caracterizando abandono. A lesão pode ser de pequeno ou grande porte, passiva ou ativa. Pode ocorrer na superfície da construção (problema localizado, desgaste de material), ou ser problema mais sério que compromete a estabilidade da estrutura; pode resultar de movimento da estrutura (depois paralisado), ou a lesão continuar atuando até provocar desmoronamento.

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Igreja do Rosário, cidade histórica de Mariana/MG.Parte do cemitério localizado ao lado desabou, provocado pelas chuvas,dez/2011. http://g1.globo.com/minas-gerais/noticia/2011/12/chuva-provoca-deslizamentos-e-desabamentos-em-cidades-historicas.html

É preciso, compreender para depois avaliar, o sistema estrutural da fundação, o sistema estrutural da edificação e o estado de conservação dos materiais. No caso das fundações, problemas podem ser originados do deslizamento (terrenos argilosos) das camadas mais superficiais sobre as mais profundas. Retirada do revestimento vegetal do terreno. Desligamento entre o terreno e a rocha, devido à presença de águas subterrâneas. Alterações do ângulo de inclinação da encosta, decorrentes de novas ruas, presença de muros de arrimo. Desagregação das pedras de fundação provenientes da penetração das raízes de árvores. No segundo caso, é preciso compreender os três tipos de sistemas estruturais: a) edificação de sistema estrutural independente, onde paredes e empenas não têm ligação com pisos e tetos. b) edificação com sistema estrutural vertical composto de paredes empenas e pilares que possuem ligação com o sistema horizontal de pisos e tetos sistema (comum nas estruturas de madeira e tijolo). c) edificação de sistema complexo que além de paredes pisos e tetos, apresenta abóbadas cúpulas e arcos.

Manual de Conservação Preventiva para Edificações. GT-IPHAN –Programa Monumenta/Bid / Min Cultura.

A solução de cada caso exige um diagnóstico cuidadoso a ser realizado por especialista na área de estruturas, para identificar as condições do terreno, da fundação e das estruturas e matérias que a compõem, para estabelecer recomendações técnicas. A conservação preventiva é um conjunto de medidas a tomar para prevenir o aparecimento de danos em uma edificação.. Evita trabalhos radicais de restauração. Recorrer à restauração depois que o edifício chega a alto nível de degradação tem sido regra. Deve haver prevalência da conservação sobre a restauração, conhecer muito para intervir pouco, prevenir para não intervir . (Manual de Conservação Preventiva para Edificações. GT-IPHAN –Programa Monumenta/Bid / Min Cultura - http://www.monumenta.gov.br/upload/Manual%20de%20conserva%E7%E3o%20preventiva_1168623133.pdf – acesso em 26/1/2012)

Uma edificação deve ser considerada, seja qual for seu estado de conservação, seja imóvel isolado ou conjunto arquitetônico, além de ser um bem cultural, histórico e arquitetônico, é também um bem patrimonial. Uma edificação só se torna “histórica” quando se considera que ele pertence a dois mundos: o mundo passado e o mundo presente. Três agentes são os principais responsáveis pelas iniciativas: poder público, empreendedores da iniciativa privada, arquitetos.

Porto Alegre. Rua Felix da Cuna, bairro Moinhos de Vento. Recebeu do poder público uma solução apropriada para o local, revitalizando-a. Ali foi preservado um conjunto de residências da primeira metade do século XX, já incorporadas à “imagem” da cidade. Futuramente, serão destinadas ao comércio e prestação de serviços, sem que fosse preciso demolir tais edificações. (foto figura 7 - http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/4728/000414427.pdf?sequence=1

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Os arquitetos serão os responsáveis pela “leitura” do projeto, pelo respeito ao que já está construído, pelo compromisso com o passado no sentido de revitalizá-lo, observando a relação entre meio (condições físicas) e o contexto (histórico e atual). A realização de boa arquitetura não é incompatível com a produção do aumento da riqueza e por outro lado, realiza melhorias na qualidade de vida de uma comunidade. Contexto histórico refere-se a circunstâncias e fatores de relevância surgidos em uma determinada propriedade. No Brasil, essa relevância não tem ligação direta com idade. Nos Estados Unidos, cadastra-se nacionalmente o imóvel que tenha alcançado determinado grau de significância histórica nos últimos 50 anos, embora em caráter de excepcionalidade, alguns atuais.

O reaproveitamento de edificações é opção a ser levada em conta para investimento de empreendedores. Deve estar orientado no sentido da geração de benefícios coletivos. Nos países mais desenvolvidos existem linhas de crédito a viabilizar as intervenções de prédios históricos e áreas urbanas.

Boston, EUA. Intervenção no Fanuilhal e no Quincy Market, antigo mercado da zona portuária, ano de 1826, até então, bastante deteriorado. Ao poder público coube estabelecer diretrizes urbanísticas; à empresa privada, responsável pelo aporte financeiro e administrativo, coube o projeto e recuperar não só o mercado mas também prédios vizinhos. Agregou-se a antiga função comercial a novas ocupações (escritórios, hotéis, restaurantes). Os edifícios, propriedades da municipalidade, foram objetos de um contrato de comodato que viabilizou a exploração comercial pelos investidores para o custeio da obra (1976-1978) - (figura 8- http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/4728/000414427.pdf?sequence=1

Oradour-sur-Glan, França. A aldeia original foi destruída em 1944, quando 642 de seus habitantes foram assassinados pela Waffen-SS alemã. Uma nova foi construída no pós-guerra em local próximo, mas o original foi mantido, como um memorial. http://www.dirjournal.com/info/abandoned-places-in-the-world/

A lembrar outro processo bastante comum na dinâmica das cidades brasileiras. Muitas vezes transforma-se o núcleo original da cidade em área de inércia. Intensifica-se a descentralização, criam-se novos centros secundários. A administração pública, entretanto, deve continuar no seu papel de reguladora (dos projetos, pela criação de licenciamento de obra diferenciado, orientação das normas mais adequadas, suporte técnico) - para evitar a completa desfiguração do imóvel antigo. Isso porque já houve muitas tentativas de modernização que destruíram os valores históricos, arquitetônicos e culturais.

São Paulo, capital. Cerca de 420 000 casas e apartamentos desabitados, boa parte no centro (pelo alto preço dos aluguéis); 2 500 bairros irregulares, 1 600 favelas tomam conta da periferia. Como o trabalho está no centro, cria-se fabulosa movimentação humana, que sobrecarrega os sistemas de transporte, provoca congestionamentos, gera poluição do ar. A saída: repovoamento da região central, recuperação dos cortiços.

João Pessoa, Paraíba. Outra tentativa de revitalizar o Centro de núcleos históricos está acontecendo com a viabilização de um convênio entre o Iphan (via superintendência da Paraíba) e a Prefeitura Municipal de João Pessoa, a fim de conceder financiamentos aos proprietários de imóveis localizados em áreas tombadas. O executor financeiro do programa é o Banco do Nordeste do Brasil, que cria a linha de financiamento para imóveis privados no período de 2012 a 2014, a fim de recuperar o acervo histórico, incentivar o uso habitacional e fomentar usos e das atividades econômicas direta ou indiretamente no centro da capital. Em pesquisa realizada pelo Centro de Estudos de Conservação Integrada (CECI, 2004), a partir de entrevistas públicas no setor comercial da cidade verificou-se a aceitação da área central pela população como o bairro mais desejável isso por conta da disponibilidade de infra-estruturas das áreas centrais, a maior disponibilidade de bens, serviços e equipamentos urbanos e melhor acessibilidade dada pela facilidade de locomoção a qualquer ponto da cidade. A partir da expansão da cidade em direção ao litoral (anos 60-70), o Centro Histórico foi perdendo algumas das suas características. Primeiro, a de lugar de residência da camada social de maior renda, depois, a de centro comercial e financeiro mais dinâmico. O melhor: hoje o Centro vem sendo lentamente reativado. A revitalização se faz presente parcialmente. Restaurados alguns edifícios isolados, tais exemplares históricos trouxeram “nova vida” para área que se encontrava sem investimentos

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públicos e privados. Serviram para mostrar que essas políticas não se sustentam sem a incorporação da população local e sem o investimento no retorno à moradia. Segundo levantamento realizado pelo Iphan/PB, há um total de 6.583 imóveis sob proteção no Centro Histórico de João Pessoa - dos quais 794 (12,06%) encontram-se em estado precário, sendo que destes, 286 (36,02%) são considerados de valor cultural.

Percentuais – bairros centrais Bairros da coroa intermediária Bairros periféricos - litorâneosCentro 10,5 Bancários 9,6 Manaíra 9,9Jaguaribe 8,4 Mangabeira 6,0 Bessa 7,2Torre 8,1 Estados 4,5 Tambaú 5,4Tambiá 3,6 Cristo 3,0 Cabo Branco 4,5Roger 2,1 Expedicionário 2,4 Outras praias 0,9Média por Setor 32,7 25,5 27,9

Fonte: CECI – Zanchetti et al. (2004)

LARGO SÃO FREI PEDRO GONÇALVES – CENTRO HISTÓRICO, JOÃO PESSOA. Acervo Iphan/PB

Centro histórico de Quito, Equador – San Francisco de Quito, mais conhecida como Quito, fundada em 1534 é o maior, menos alterado, e melhor preservado centro histórico na América Latina. Fez-se a revitalização do centro histórico e dos prédios coloniais. Apoiou-se nas premissas de renovação urbana para melhorar a qualidade de vida da população residente e dos seus usuários, no contexto de uma educação urbana destinada a introduzir o uso de práticas sociais próprias ao lugar. Com apoio do BID, 11 centros comerciais foram reabilitados ou reconstruídos para apoio a mais de 7.000 vendedores informais que estavam nas ruas e espaços públicos do Centro e moradias sociais. implementação do Plano de Re-ordenamento Integral do Trânsito e Transporte. Recuperados e postos em funcionamento vários edifícios e instituições (teatros, restaurantes, museus, centros culturais, hoteis, etc). Em 2005, o BID aprovou um empréstimo de $ 8 millones de dólares para a segunda etapa. El préstamo permitirá al Municipio de Quito continuar las inversiones en infraestructura y programas sociales y promover el desarrollo económico a partir de dos ejes principales: el del turismo cultural y del comercio.http://www.iadb.org/es/noticias/comunicados-de-prensa/2005-06-15/bid-aprueba-us8-millones-para-segunda-etapa-del-programa-para-la-revitalizacion-del-centro-historico-de-quito,262.html

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Quito, Equador- Centro Histórico. http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=512760

Goiana, Pernambuco. O município, a 62 km de Recife, é Patrimônio Histórico Nacional desde 1938. Pelo seu Centro Histórico de oito igrejas seculares e prédios tombados, foi apelidada de "Milão Brasileira". A falta de conservação desse patrimônio já foi discutida diversas vezes mas nada foi resolvido para conter as rachaduras, vidros quebrados e outros problemas. Por outro lado, o melhor: Cine-Teatro Polytheama, construído em 1914. Já foi "Cine Nacar", depois "Cine Rex". Desativado em 1980. Por iniciativa da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco, em 2010 foi reativado depois de uma reforma que custou R$ 1,2 milhão .

João Pessoa, Centro, Rua da Areia, nº 155. Sobrado com fachada em azulejos portugueses aproximadamente do século XIX. O atual proprietário tem interesse em restaurar o imóvel, mas precisa do aporte financeiro para a criação de um centro cultural no local. Este imóvel fica ao lado da antiga Fábrica de Vinhos Tito & Silva, tombada pelo Iphan em 1984. E a sua restauração significaria a recomposição de uma área interessante para o setor histórico. Tais ações, ainda que pontuais, a longo prazo e sendo alvo de investimentos constantes, promoveriam a recuperação de longos trechos de reconhecido valor cultural e turístico, agitando os centros antigos das cidades e promovendo o ressurgir de uma movimentação financeira no local.

Paraiba: Imóvel à esquerda na Rua da Areia, Fábrica de Vinhos Tito & Silva, à direita. Acervo Iphan/PB.

É vital, sempre, criar elementos de atração, entre eles, ressaltar laços do passado para propiciar inclusive o retorno de antigos moradores. Recriar o apego emocional pelo espaço vivido. Pois fortalece as economias locais. Renova a convivência, reproduz a diversidade étnica, cria memória para os descendentes de portugueses, espanhóis, italianos, japoneses, libaneses, sírios, afrodescendentes. A reorganização comunitária reconsidera os fatores naturais, culturais, políticos e econômicos do lugar. Faz com que esteja comprometida com a sustentabilidade. Promove a transformação espacial com o turismo, lazer, artesanato, agroindústria. Recicla o espaço terrestre deteriorado. Valoriza sua História.

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Entretanto, no mundo inteiro há construções abandonadas: hospitais, fábricas, conventos, casas, palácios, igrejas, parques, pontes, prisões, túneis, cemitérios, sanatórios, edifícios militares, viadutos. Por que desistiram delas? Muitas são as razões. Uma propriedade largada no tempo e não reclamada por ninguém se torna bem abandonado. Causas? Mudança do proprietário, falecimento, não localização dos herdeiros. Cada país, cada Estado, tem suas leis de propriedades e há centenas de bens não reclamados, não apenas imóveis: seguros, poupanças, ações, depósitos judiciais, objetos de ouro, platina ou pedras preciosas depositadas e esquecidas em bancos. Mas o sonho da casa própria é tão intenso que as pessoas insistem em ignorar que ninguém está isento de ficar doente, perder o emprego, passar por crise financeira, não ter meios de pagar impostos que oneram seu imóvel, viver conflitos de guerra ou catástrofes, ter seu imóvel desocupado à força por ser área de propriedade do poder público. No Brasil, um imóvel urbano ou em zona rural, abandonado e desocupado, é bem vago, é coisa de ninguém. Passados três anos torna-se propriedade da União. A não ser que o proprietário se arrependa, prove ser o dono e o reclame. Nos Estados Unidos, de acordo com uma decisão da Suprema Corte dos EUA, propriedade não reclamada retorna para o Tesouro do Estado do último endereço conhecido do dono do imóvel, após período de inatividade de 3 a 5 anos. Não há limite de tempo para recuperar a propriedade (exceto em dois estados). Há imóveis abandonados por 50, 180 anos. Embora os Estados devolvam gratuitamente tais bens, há quem não saiba disso e procure os “tracers”, agentes que se dispõem a localizar os bens, donos ou parentes por taxas exorbitantes entre 10 a 60% do valor do bem . http://www.citilink.com/~grizzly/unclaimd.htm

Ucrânia. Pripyat é uma cidade abandonada do norte do país. Fundada em 1970 para abrigar os trabalhadores da usina nuclear de Chernobyl Power. Evacuada em 1986 após o desastre nuclear.

Russia. Kadykchan é hoje cidade fantasma. Construída durante a II Guerra Mundial, abrigava trabalhadores das minas de carvão e famílias. Localizada no distrito de Susumansk (Rússia), Kadykchan já foi uma cidade ativa nos tempos da antiga União Soviética. Em 1986, seis homens morreram como resultado de uma explosão. As minas foram fechadas, 12 mil habitantes foram evacuados, deixando a cidade vazia e silenciosa.

Kadykchan, cidade abandonada.

Centralia, Pensilvânia, Estados Unidos. Sua população diminuiu de seus 1.000 habitantes em 1981 para apenas 9 em 2007, resultado de um incêndio em 1962. Em 1992 o governador declarou eminent domain (domínio eminente) em todas as residências, condenando todas as casas e prédios da cidade. Um subsequente processo dos moradores para ter essa ação revogada, falhou.

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Centralia, Pensilvania, antes e depois (site weburbanist.com)

Hong Kong, bairro Kowloon Walled City. Ali, em 1980, havia 35.000 habitantes. A cidade era famosa pelos bordéis, cassinos, casas de ópio, fábricas secretas. Em 1990, foi demolida e seus habitantes retirados em 1993. Depois da demolição, um parque foi construído em seu lugar.

Foto de Kowloon Walled City ,1989 - http://enthusiasms.org/post/829452141

Importa revitalizar locais esquecidos no tempo? Sim. Mas o que é reabilitação de edifício? São as obras que visam a recuperação e a reintegração física de uma construção, uma vez resolvidas todas as anomalias construtivas, funcionais, de higiene e de segurança acumuladas ao longo dos anos. Busca-se sua modernização para melhorar o desempenho de suas funções, aproximando-se dos atuais níveis de exigência.

Portugal, conjunto fortificado de Alter do Chão (1249), região do Alentejo - Descrição pormenorizada de toda a operação de restauro e reabilitação da arquiterua medieval. D. Pedro I mandou restaurar em 1359 e ampliar as muralhas. Edificação medieval. Em 1910, classificada como Monumento Nacional. Várias vezes foi vendido. Na década de 1950 foi adquirido pela Fundação Casa de Bragança que o conserva até a atualidade. O projeto de reabilitação, foi iniciado em 2006 pelo município local e pela Fundação Casa de Bragança. Para ver fotos da reabilitação: http://dited.bn.pt/31637/2624/3211.pdf

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Alentejo, Castelo de Alter do Chão. Foto do Creative Commons, origem Flickr, 2006. http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:AlterChao-Castle-CCBY.jpg

Los Angeles, EUA - A chamada lei Mills (contratos de propriedades históricas) pode prover, aos donos de edifícios históricos cadastrados, com uma redução dos impostos que incidem sobre propriedade imobiliária, para compensar o custo de restauração, reparação ou manutenção do imóvel. www.Preservation.Lacity.Org. Há também uma série de programas disponíveis para os proprietário de baixos recursos que têm imóveis em áreas com projetos de reurbanização (atualmente são 32 áreas com esses projetos) http://www.preservation.lacity.org/files/CitiwideHPOZSpanish.pdf

Pode-se perguntar: um bem tombado pode ser alugado ou vendido? Não existe qualquer impedimento, nem no Brasil e nem no resto do mundo. Embora sejam diversos os primeiros passos para tal, em caso de venda, deve ser feita, primordialamente, uma comunicação prévia à instituição que efetuou o tombamento, para que ela manifeste seu interesse ou não na compra. O tombamento está previsto no Decreto-Lei 25 /1937. Auxilia a preservar as características originais. A autorização de técnicas e materiais construtivos modernos em bens tombados - só em último caso, quando não se encontra mais em lugar nenhum tal material ou a técnica tenha se perdido no tempo e ninguém mais sabe fazer tal coisa do jeito antigo. Ainda assim, mediante autorização. No tocante à competência para tombamentos, determina a Constituição de 1988, no art. 24, inciso VII, que compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal, legislar concorrentemente sobre proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico. O Município não fica prejudicado, pois o art. 30, inciso I e II garante-lhe a possibilidade de legislar, também, sobre o tema. A competência para efetuar tombamento cabe: 1)à União, via IPHAN, que é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Cultura; 2) ao governo estadual, por meio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado ou órgãos similares; 3) ao governo municipal, através de leis específicas ou de legislação federal. Havendo conflito de competência, isto é, mais de um interessado em tombar determinado bem , o competente para realizar o tombamento será o órgão do Poder Público que estiver mais diretamente relacionado ao bem. Não só ao Poder Público cabe a iniciativa de um tombamento. Qualquer cidadão comum ou mesmo uma pessoa jurídica pode requerer o tombamento de bens que entenda serem de interesse para o patrimônio histórico nacional e isso será feito através do Ministério Público, ou seja, dos Promotores de Justiça, representando a comunidade. O processo de tombamento tem início com o pedido de abertura do processo por parte de qualquer pessoa física, jurídica ou instituição pública.http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=7494

Rio de Janeiro. Fábrica de tecidos, Bangu Empreendimentos SA. Típica construção industrial de 1890, grande terreno (141.500,00m²), no centro. Área construída de 67.000m², quarteirão inteiro junto da linha férrea. Toda a estrutura metálica havia sido importada da Inglaterra. Com a má gestão e o tempo, a fábrica entrou em decadência nos anos 90. Em 1995, a Prefeitura fez o tombamento parcial. Em 2004 foi comprada pelo BSC Shopping Center, pelo equivalente a US$ 21,800,000.00, metade financiada pelo Banco do Brasil. Em 2007 a fábrica antiga foi reaberta como shopping e 75% das áreas ali construídas estão nos prédios antigos, devido à durabilidade dos materiais existentes na obra antiga. Foi implantada a ABL (área bruta locável) com 38.295,27m² distribuídos por 210 lojas e outras salas. As locações

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comerciais garantem aos proprietários retorno mensal médio de US$ 1.000.000,00. Com essa renda bruta a BSC terá reposto, com juros, o seu investimento em cerca de doze anos.

Para investidores, pode ser interessante e lucrativo ressuscitar essas espécies de “almas perdidas”: o preço muitas vezes é mais baixo do que construir o novo. Assim também com apartamentos e casas com 20, 30 anos de construção ou mais. Além de mais baratos, têm cômodos amplos, paredes altas e largas, boa estrutura física e localização (região central e proximidades). Ainda que seja preciso reformar instalações hidráulicas e elétricas, instalar sistema a gás moderno, remodelar o telhado, tem valido à pena.

Estados Unidos. Sam Zell, filho de imigrantes poloneses, dono de fortuna estimada em 3 bilhões de dólares, começou a construir seu império ainda estudante. Comprava apartamentos abandonados, reformava e alugava para outros estudantes. Tornou-se dono de 20.000 imóveis residenciais nos EUA. Também é célebre a venda de sua empresa de imóveis comerciais, a Equity Office Properties, para o fundo americano de private equity Blackstone, por 39 bilhões de dólares - o maior negócio já feito no setor, em 2006, pouco antes da implosão do mercado imobiliário americano.

Vale do Paraíba (SP). Desde 2006, com preços 25% abaixo da média e áreas reaproveitadas de antigas fábricas, ressurgiu como potencial mercado para investidores. Região de empresas tradicionais como Embraer e Johnson & Johnson, é hoje opção para empresas que procuram instalações de logística e armazenagem. Segundo a empresa de consultoria Herzog, o interior de São Paulo possui 1,6 milhão de metros quadrados de área construída de galpões e condomínios industriais. O Vale tem localização estratégica, entre Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo. Cerca de 75% da área é composta por imóveis antigos, adaptados para o uso de condomínios industriais. O melhor: empresas de grande porte optaram alugar os espaços vagos para outras companhias (Kodak e Lolypop). O Vale ainda vai receber novas indústrias. A montadora chinesa Chery, que comprou uma área de 1,2 milhão de m 2 em Jacareí, deve começar a construção em 2012. A chinesa de máquinas pesadas Sany, que já está em São José dos Campos, comprou uma área de 568 mil m2. http://www.logweb.com.br/novo/conteudo/noticia/26926/investidores-de-galpoes-industriais-comecam-a-migrar-para-o-vale-do-paraiba

Infelizmente, uma nova técnica empregada por arquitetos ainda não pode ser utilizada, a não ser parcialmente, no Brasil. Devido à intensa burocratização de uso dos imóveis arruinados ou muito antigos. O retrofit, porém, tem sido novo filão imobiliário. Via retrofit, preserva-se o patrimônio histórico, revitaliza-se, aumenta sua vida útil e utilização, via modernas tecnologias e materiais. Surgiu na Europa e a seguir introduzido nos Estados Unidos, pois não se permite que o rico acervo arquitetônico seja demolido ou substituído. Na Europa, 50% das obras já são constituídas hoje por reformas e reabilitações (França e Itália, 60%). No Brasil, com a ampliação da preocupação com a defesa de áreas tombadas aliada ao desenvolvimento das cidades, o retrofit é opção em duas situações pelos arquitetos: quando a recuperação reduz custos em comparação com uma construção nova, ou, no caso de uma edificação histórica, quando cria condições para novas funções, sem muitas alterações nos originais. Há de se rever a legislação e o protecionismo exagerado, pois no retrofit, o sentido é de renovação. Difere da simples restauração (restituição do imóvel à condição original), e da reforma (melhorias, sem compromisso com características originais). Essas duas situações são previstas no Brasil, mas não o retrofit em si.

Rio de Janeiro. Centro Empresarial RD-53. Construído há 40 anos, teve o valor do metro quadrado de locação elevado de R$ 13 para R$ 55 depois da modernização arquitetônica e sistemas prediais inteligentes

Bairro Botafogo, Rio, Casa anos 30, estilo neo-normando. Dois pavimentos, área de 350m², posta no mercado em 2009 pelo aluguel de US$ 2.700.00 mensais. O preço do aluguel era 35% mais barato do que um imóvel comercial moderno comum, na vizinhança. A possibilidade de uso comercial era com restrições (proibição de letreiros e aparelho de ar-condicionado nas fachadas frontais, repintura dentro de padrões para imóvel de época). Mas havia isenção de imposto predial (portanto, economia de US$ 7,500.00 anuais). Instalado duas lojas: fabricação de sofisticados chocolates e doces (parte térrea) e

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confecção de vestidos de noivas (parte superior). Para a adaptação e reforma foram gastos US$ 78,000.00 em cinco meses de obras. As duas lojinhas foram rapidamente alavancadas. O estilo europeu da casa coincidiu com o imaginário do público, a lembrar dos chocolates da Suíça e Bélgica e os vestidos sofisticados lembravam a moda francesa. O retorno financeiro foi além do esperado. O investimento inicial das obras está-se pagando em menos de um ano de uso do imóvel, o que é fora do comum em termos de comércio artesanal. http://ibape-nacional.com.br/wp/wp-content/uploads/2011/08/mercado-de-imoveis-historico-culturais.pdf ) 

Numa sociedade de mercado tudo tem um preço ou uma cotação de valor . Nos países europeus, é corriqueiro morar e trabalhar em imóveis dos séculos XIII a XIX. Há mercado constante de compra e venda desses bens e corretores especializados. Na França, há 91 setores protegidos que cobrem 5.000 hectares de bairros históricos. Ali vivem mais de 800.000 habitantes. No Brasil o mercado ainda é retraído. Há opções a serem levadas em conta pelas empreendedoras. Tudo pode ter preço mas nem sempre se analisa a cotação do valor cultural e histórico. Pode-se decidir querer desmobilizar seus ativos e realugá-los, como fazem os investidores de Fundos Imobiliários. Os recursos de um fundo imobiliário podem ser aplicados em empreendimentos imobiliários, na construção de imóveis, aquisição de imóveis prontos, ou no investimento em projetos que viabilizem o acesso à habitação e serviços, para posterior alienação, locação ou arrendamento de unidades comerciais. O objeto primordial do FUNDO é o investimento por meio da aquisição de imóveis comerciais prontos já locados. Preferível, todavia, seria a compra de um imóvel histórico como uma fábrica antiga e alugar, gerando também benefícios coletivos. Há parcerias de sucesso, de grupos de investidores com o poder público. Nada de mal nisso. Não se pode mais é levar em conta apenas os custos e retorno dos investimentos. Pois, a utilização de boa arquitetura não é incompatível com a produção do aumento da riqueza. Se realizar melhorias na qualidade de vida de uma comunidade, qual empresária não iria querer estruturar sua família vivendo num bom e valorizado bairro? É o desejo da valorização imobiliária que está empurrando a maior parte dos condomínios comerciais (e mesmo casas residenciais com grandes áreas) no caminho dos bens tombados e sua restauração. Trazê-los à vida útil. Seu valor não está apenas no preço do terreno ou em sua localização. Está principalmente na qualidade da sua arquitetura e no significado que essa arquitetura tem para a compreensão da história de uma cidade.

Rio de Janeiro, bairro da Urca. Situado ao pé do morro do Pão-de-Açúcar, recentemente foi declarado, ele inteiro, oficialmente preservado. Logo em seguida as casas e apartamentos ali situados tiveram uma valorização de mais de 20% no mercado imobiliário da cidade.

Associar a imagem da empresa a iniciativas ligadas ao patrimônio histórico (e não apenas a eventos culturais), já é realidade, no Brasil? Sim. Isso não é contraditório ao desenvolvimento econômico e social, pelo contrário, impulsiona-o. Segundo a Agenda 21 da Cultura (Barcelona, 2004), por gestores de municípios de mais de 40 países, o patrimônio cultural, tangível e intangível, é o testemunho da criatividade humana. Aliás, cidade sem patrimônio preservado não oferece diferenciais que a destaquem dentre as demais.

Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Banco do Brasil e a instalação de um centro cultural (CCBB RJ) que ocupa o histórico nº 66 da Rua Primeiro de Março, prédio de linhas neoclássicas (1880) no centro. Inaugurado em 12 de outubro de 1989, transformou-se em pólo multimídia e fórum de debates. O prédio que abrigará o Centro Cultural Banco do Brasil de Belo Horizonte (CCBB BH) , ainda em fase de projeto, na Praça da Liberdade, é de 1926 e já foi sede do Comando Geral das Forças Revolucionárias, durante a Revolução de 1930. Foi tombado em 1977.

Porto Alegre e Recife Banco Santander e a sede em importante marco arquitetônico. As sedes do Santander Cultural em Recife e Porto Alegre, juntas, já receberam cerca 3,5 milhões de freqüentadores. A do Recife mantém a Biblioteca Marcantonio Vilaça, especializada em arte, arquitetura, moda e fotografia. A de Porto Alegre, o prédio foi construído para ser a sede do Banco Nacional do Comércio (que sucedeu ao Banco da Província, o primeiro banco do Estado, fundado em 1858) e mais tarde sediou o Banco Sulbrasileiro e o Meridional, tem cinema, e acervo da moeda, área de gastronomia, um Telecentro Cultural, que promove a inclusão digital para a terceira idade.

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Centro Cultural, banco Santander, Porto Alegre/RS. http://www.terracams.com.br/DCP_11189.JPG

É preciso dar novos usos aos imóveis de valor histórico e cultural . Essa é uma das mais práticas soluções de manutenção do patrimônio construído, com óbvios benefícios para a sua salvaguarda. “Velharias‟ tombadas (ou não) podem significar progresso, sim. Possuir ou vender imóveis antigos não é mau negócio. Construções centenárias bem preservadas costumam ter sólidas características construtivas, beleza diferenciada e um passado que permanece na memória das pessoas quase sempre de modo positivo. Comprar e restaurar um bem com estas características traz quase sempre um bom retorno a médio e longo prazo para o investidor, além de benefício fiscal com isenção de impostos. Memória e afeto, eis os pontos importantes. Cada lugar visitado, cada coisa extraordinária que se viu, é, ao mesmo tempo, universal e particular, singular e especial. Um jardim, o velho hospital, a barbearia do trisavô imigrante. Se um patrimônio histórico pode ser local, regional, nacional ou mundial, pode ser reanimado em qualquer lugar. Deve. Por quê? A destruição dos bens herdados das gerações anteriores tem conseqüências. Rompe a corrente do conhecimento. Então uma pessoa desatenta dirá: ora, bens tombados já são transformados em museus e casas de cultura. Só isso... não. Precisam fazer parte do dia-a-dia das pessoas. O importante é dar uma finalidade ao imóvel, pois de nada adianta sua restauração se não estiver ocupado – pois o processo de arruinamento pode recomeçar. A sociedade deve esperar fazer de sua população, não espectadores, mas habitantes do patrimônio. Se não, apaga-se da memória e afasta a afetividade. Há muitas soluções positivas e compensatórias, entre elas, criar atividade diversa da original.

Município de Salto, SP. Duas fábricas têxteis e uma fábrica de papel fechadas (dos anos 1890), foram adquiridas por acionistas italianos e brasileiros. Da fusão resultou a Tecelagem Brasital (1919). A Prefeitura local deu 25 anos de isenção de impostos, mas mesmo assim a Tecelagem terminou por fechar. Em 1981, a Moinhos Santistas adquiriu o complexo, até 1995. Os 60 mil m², o prédio principal e a vila com 240 casas foram comprados em 1998 por um centro universitário (CEUNSP). Embora o antigo Complexo não seja tombado, os atuais proprietários preservaram sua estrutura, apenas adequando-o para funcionar como universidade. http://www.ceunsp.br/sobre/histfcs.html

Convento de N. Senhora do Carmo, Pelourinho, Salvador. Obra típica do estilo colonial barroco sec. XVII, 1586, da Ordem Primeira dos Freis Carmelitas. Tombado em 1938. Uma rede hoteleira internacional alugou o prédio do convento para transformá-lo em hotel de alto luxo (Pestana Convento do Carmo). Mantido o aspecto de edifício com mais de três séculos de idade, as celas carmelitas foram transformadas em 79 requintadas suítes e quartos. Os custos foram amortizados com o enorme fluxo de turistas. Foi o primeiro hotel histórico de luxo no Brasil.

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Cela de convento transformada em Suíte. Acervo da Rede Pestana.

São Luiz, Maranhão. Antigo casario colonial de 1817. Passou por reformas em 1993 e foi transformado no Teatro Arthur Azevedo.

Estado do Rio de Janeiro, Magé, 1808, a Real Fábrica de Pólvora da Estrela, inaugurada por D. João VI, Minas Gerais, Itajubá, 1934. Fábrica de Canos e Sabres para Armamento Portátil. Em 1975, o governo brasileiro fundou a IMBEL - Indústria de Material Bélico do Brasil. Transferidas para a estatal, as unidades de Itajubá e Magé são hoje fornecedoras de armamento bélico para o Exército. http://armasonline.org/armas-on-line/as-espingardas-da-fabrica-de-itajuba/

Portugal, Massarelos (freguesia do Porto). Das mais antigas do norte português, a Fábrica de Louça de Massarelos foi fundada em 1766. Em 1920 pegou fogo. Tempos ao abandono. Foi comprada e submetida a obras de remodelação. Manteve-se o aspecto exterior e alterou-se o interior para transformá-lo num edifício de apartamentos, cujas obras terminaram recentemente e todas as unidades foram vendidas.

Massarelos, Porto - Fornos, autor Jota Cartas. Creative Commons. http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Fornos_F%C3%A1brica_Lou%C3%A7a_Massarelos.jpg#file

Portugal, Covilhã (Freguesia do Porto). Desde o século XIX especializou-se como cidade-fábrica. Até os anos 80. Ali agora se guarda a memória dos antigos lanifícios, no edifício pombalino da Tinturaria da Real Fábrica de Panos da Covilhã, um dos primeiros projetos de recuperação do patrimônio industrial português, dos mais representativos prédios fabris. Desde 1992, convertido em instalações universitárias e Museu. fotos - http://www.museu.ubi.pt/?cix=2987

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A relembrar o Estatuto da Cidade. Para quem ainda desconhece, ele permite, por assim dizer, o uso de moedas no mercado de bens tombados. A idéia de criar uma moeda para o patrimônio nasceu na França e tem obtido bons resultados em Minas Gerais. Em 2011, 90% das construtoras de grande porte de Belo Horizonte resolveram ampliar suas obras. Passaram a comprar, dos donos de imóveis protegidos pelo patrimônio, o direito de construir. Esse comércio existe e é ditado pelas UTDCs. As Unidades de Transferência do Direito de Construir movimentaram cerca de R$ 50 milhões em 2011. A empresa Decisão Engenharia foi criadora do primeiro Banco de Utdcs de Belo Horizonte (http://www.decisaoengenharia.com.br). O comércio funciona da seguinte forma: o proprietário do bem tombado, se não quer construir edificação em seu terreno tombado porém o manteve em bom estado de conservação, é autorizado a vender o seu direito de construção. Quem compra pode crescer o seu potencial construtivo em 20%, o que significa que uma obra de 1.0000 m2 pode chegar a 1,2 mil metros quadrados no terreno. A legislação é saudável para quem compra e para quem vende. Vende-se as UTDCs e conserva-se o imóvel para aluguel. Em Belo Horizonte, existem cerca de 618 imóveis tombados, 50% deles podem gerar a moeda. Quem ainda não utiliza é por desconhecer essa opção. E a través dela é possível viabilizar a restauração do patrimônio cultural. Em Curitiba, o TPC, ou seja, o potencial construtivo, quando comercializado, transforma-se em cotas que podem ser adquiridas por empresas de construção civil. Pode-se aumentar a área construída, número de pavimentos, ampliação de ático para abrigar casa de máquinas. No caso dos imóveis chamados Unidades de Interesse Especial de Preservação (UIEPS), o valor total das cotas de potencial construtivo corresponde ao estipulado no orçamento do projeto de restauração

Prédio do Ministério Público do Paraná, Curitiba - restauração orçada em R$ 2,04 milhões de reais. Para atingir este intento, foram comercializadas 10,2 mil cotas a um preço unitário de R$ 200,00 (duzentos reais). Ambas operações baseiam-se no Estatuto da Cidade, Lei 10.257/2001 e as referências ao direito de construir ou transferência do direito de construir. http://www.ibdu.org.br/imagens/ATransferenciadoDireitodeConstruir.pdf ).

Vai instalar um empreendimento? Como diz o povo Vezo, de Madagascar, mora, mora. Devagar, devagar. Pois a educação patrimonial tem que vir à reboque. Já se sabe, uma empresa não patrocina projetos culturais por caridade e sim para obter retorno ou adequação à sua marca. A realização de boa arquitetura não é incompatível com a produção do aumento da riqueza e por outro lado, realiza melhorias na qualidade de vida de uma comunidade. Não basta estar ciente da figura do tombamento legal. O ato de tombar por si só não provoca efeitos significativos, mudança de mentalidade e atitudes. Resguarda a “memória”, mas o afeto ainda é pequeno demais. A revitalização urbana não pode ser só econômica, mas social.

Eis o enfoque, Educação Patrimonial. É peça fundamental. Não é uma metodologia, mas sim uma ação que dispõe de várias metodologias. Ações de capacitação, como formar mão de obra qualificada em restauração e conservação. Ações que conscientizem na comunidade o valor cultural do imóvel e do bairro. Insisto: só se preserva e valoriza o que se conhece... e muito bem. Quanto mais uma comunidade conhece e se apropria de sua história, mais ela será agente da preservação, conservação e promoção de seus bens. Sejam eles materiais (edificações, paisagens, objetos) ou imateriais (manifestações populares, lendas, modos de fazer). Nesse sentido, a empresa interessada em reutilizar um imóvel histórico não pode olhar apenas a reforma ou restauração de fachadas, retrofit, coisas tais. Fará estudos de viabilidade do uso habitacional de interesse social nas áreas centrais históricas e pericentrais. Permitirá que sociólogos, antropólogos e educadores que já trabalham com arqueólogos, historiadores e arquitetos, dêem ao local a devida valorização. Contribuirá com ações educativas. Foco no patrimônio cultural, em escolas próximas e comunidades adjacentes. Oficinas de capacitação. Na verdade, só há um meio eficaz de assegurar a defesa permanente do patrimônio de arte e de história do país: é o da educação popular.

Casas do Patrimônio. Enfatizam a promoção permanente de oficinas, cursos e outros eventos voltados à socialização de conhecimentos e à qualificação de profissionais. É projeto pedagógico e de educação patrimonial.

Minas Gerais. Cidades surgidas graças à mineração, Mariana, Vila Rica, Sabará, São João del Rei. Foram sendo abandonadas quando as minas se esgotaram. Não havia outra atividade econômica que desse

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continuidade ao progresso da região. Recentemente, uma cooperação técnica com o governo da França em parceria com o IEPHA (Instituto Est. Patrimônio Histórico e Artístico de Minas), promoveu ateliês SIRCHAL não só em Sabará, mas também em São Luiz, Pirenópolis, Salvador. SIRCHAL é uma rede para a reabilitação de centros históricos da América Latina e Caribe, patrocinada pela França, BID e UNESCO, entre outros. Metodologia de diagnóstico participativo. Ações integradas para a conservação do patrimônio nas cidades em estudo, oficinas de capacitação e educação patrimonial.

Antes de iniciar as obras, toda empresa deve realizar uma EIA-RIMA (Estudos de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental ou o RAS (Relatório Ambiental Simplificado), segundo resoluções do CONAMA. É também obrigatória a avaliação do impacto cultural que um empreendimento pode causar a uma comunidade ou ao próprio patrimônio histórico. Nesse sentido, o IPHAN tem exigido um “Diagnóstico de Bens de Interesse Cultural” (seja ele material ou imaterial). Conforme os resultados, podem apontar a necessidade de uma compensação pelos danos causados. Assim, a empresa pode promover um bem ao patrimônio cultural, seja por iniciativa voluntária e preventiva, seja por força da lei. ocorreu na Paraíba. Uma pequena equipe da superintendência do IPHAN na Paraíba, curiosamente formada por técnicos oriundos de outras regiões do Brasil, é hoje referência nacional. Briga, educa, luta pelos 6.583 imóveis sob sua proteção: 794 em estado precário mas 286 com valor cultural. Em João Pessoa, permite-se investimento de empresas e pessoas físicas, para preservar ou restaurar prédios, logradouros, sítios arqueológicos, com dedução mensal de 40% do valor devido em impostos de ISS, IPTU e ITBI. No caso do Município de Pilões, fez-se uma parceria de sucesso: grupos de capital aberto e fechado (Chesf e Energisa S/A) com o poder público e comunidade. Identificado um cemitério indígena da tradição Aratu de 820 anos durante as obras de instalação de uma subestação de energia. Não se levou em conta apenas os custos, demanda, consumo, mercado e retorno dos investimentos. Sim, a herança cultural.

Paraíba, Município de Pilões. Em 2009 foi feito um estudo preventivo identificado um sítio arqueológico durante as obras de instalação de uma subestação de energia (cemitério indígena da tradição Aratu, que data de cerca de 820 anos atrás, 54 urnas funerárias). Tão logo constatada a presença de artefatos cerâmicos e em pedra lascada e polida, que caracterizam a existência de sítio arqueológico pré-histórico, os trabalhos de movimentação de terra foram suspensos. Devido à grande comoção que a descoberta provocou na população da cidade, que se dirigiu em peso para conhecer o local das escavações e clamou pela permanência do acervo na comunidade, a Prefeitura Municipal de Pilões procurou o Iphan e disponibilizou algumas opções de local para a construção de um Museu, que seria viabilizado economicamente através de entendimentos com a Energisa e Chesf. O IPHAN estadual, em 2011, nomeou um grupo para planejar a criação do Museu de Arqueologia de Pilões, em outra área próxima, com a finalidade de preservar a pré-história do homem da região do brejo paraibano, não se limitando apenas à cidade de Pilões. Optando-se pelo Mercado Municipal, ali havia pequenas construções anexas ao complexo, ocupadas ilegalmente por comerciantes locais, a Prefeitura colocou uma parte deles em outra área. Para os não realocados, acertou-se a inclusão de alguns quiosques com comércios compatíveis com a cultura (artesanato, lanchonete p/visitantes). Toda a obra vem sendo apoiada e financiada também pela Cia. Hidro Elétrica do São Francisco – Chesf, Energisa S/A, membros da comunidade. Assim, através de uma iniciativa privada, coordenada pelo setor público federal, com apoio popular e da prefeitura, tornou-se referência para a arqueologia nacional. Ambas as instituições compreenderam a importância de divulgar a descoberta arqueológica e socializar a história e cultura que são referências para a compreensão das sociedades atuais.

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Paraiba, figura 1: Município de Pilões. Tecnicos do Iphan/PB e o cemitério indígena,. Acervo Iphan/PB

Figura 2: Fachada do Mercado Municipal de Pilões. Acervo Iphan/PB.

Figura 3: Proposta Arquitetônica do Museu de Arqueologia de Pilões. Acervo Iphan/PB

E quanto à museologia Industrial, o que significa? Exemplos podem ser buscados em Portugal. Indústria é toda atividade humana que, através do trabalho, transforma matéria-prima em outros produtos, que em seguida podem ser, ou não, comercializados. De acordo com a tecnologia empregada na produção e a quantidade de capital necessária, a atividade industrial pode ser artesanal, manufatureira ou fabril. Os chamados Gabinetes de Curiosidades ou os Quartos das Maravilhas designam os lugares em que durante a época das grandes explorações e descobrimentos dos séculos XVI e XVII, se colecionavam uma multiplicidade de objetos raros ou estranhos, porém em forma

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desorganizada, sem nenhuma classificação ou ordenação. Foram os antecessores diretos dos Museus, que exibem seus acervos ordenados e catalogados cientificamente, para para preservar e transmitir a informação correta de cada objeto neles incluídos. A museologia Industrial trata do acervo industrial. Objetos de trabalho, fábricas e seus maquinários, formas e processos de produção tornaram-se patrimônio, remanescentes do trabalho produzido principalmente até meados do século XX, quando então se tornaram obsoletos em vista da entrada de novas tecnologias . Aos vestígios e testemunhos de processos produtivos, Os vestígios materiais e imateriais dessas atividades são testemunhos de mudanças culturais que acompanharam os modelos produtivos que se sucedem. A isso se chama de patrimônio industrial. Uma herança do passado. A arquitetura industrial ficou ignorada, transformada por vezes em monumentos invisíveis, testemunhos edificados de processos produtivos ultrapassados, até aparecerem exemplos de prédios industriais sobre os quais se fez incidir práticas de musealização. É fundamental, entretanto, que as intervenções feitas sobre esses lugares de trabalho e produção não façam desaparecer totalmente suas funções originais, perdendo de vista o papel que cumpriram essas atividades na paisagem cultural do local onde surgiram. Estimulados pelo crescente turismo de natureza cultural, os agentes patrimoniais utilizam-se de vários recursos para tornar a estética industrial mais atrativa ao visitante, reproduzindo sob efeitos cênicos, os processos operacionais dos maquinários dessas fábricas. Esses “vestígios de atividades” que movimentaram e impulsionaram o país, tais como o sistema ferroviário, portuário, as primeiras empresas aéreas nacionais, trilhos e estações ferroviárias, prédios fabris, equipamentos portuários atracados perpetuamente – na Europa estão à salvo em Museus Industriais. No Brasil, muitas vezes só fazem parte do acervo da própria Companhia, das fototecas ou das lembranças guardadas pelos funcionários saudosos. Quantas dessas indústrias ficaram pelo caminho da memória?

“Os edificios e as estruturas construídas para as atividades industriais, os processos e os utensílios utilizados, as localidades e as paisagens nas quais se localizavam, assim como todas as outras manifestações, tangíveis e intangíveis, são de uma importância fundamental. Todos eles devem ser estudados, a sua história deve ser ensinada, a sua finalidade e o seu significado devem ser explorados e clarificados a fim de serem dados a conhecer ao grande público. (...) Edifícios e maquinaria, oficinas, fábricas, minas e locais de processamento e de refinação, entrepostos e armazens, centros de produção, transmissão e utilização de energia, meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas, assim como os locais onde se desenvolveram atividades sociais relacionadas com a industria, tais como habitações, locais de culto ou de educação.” (CARTA DE NIZHNY TAGIL SOBRE O PATRIMÔNIO INDUSTRIAL - texto aprovado pelos delegados reunidos na Assembleia Geral do TICCIH (The International Committee for the Conservation of the Industrial Heritage), de caráter trienal, que se realizou em Nizhny Tagil em 17 de Julho de 2003 – Comitê Brasileiro do Patrimônio Industrial - http://www.patrimonioindustrial.org.br – acesso em 10/2/2012)

Em Portugal esses caminhos estão sendo estudados, um a um. Curtumes (curtição de couros e peles uso no vestuário, equipamentos de trabalho). Moagem (moagens de cereais a vapor, moinhos movidos a água ou pela ação do vento). Metalúrgica (unidades industriais de fundição, utilização do ferro na arquitetura local). Têxteis (tecelagem e outros segmentos, como a fiação e a estamparia. Têxteis alternativos como a da seda, dos lanifícios e do linho). Cerâmica (produção de materiais de construção para revestimentos exteriores e interiores e materiais decorativos, produção de louça). Eletricidade (distribuição aos consumidores particulares e para iluminação pública). Metalomecânica (unidades fabris para produção de instrumentos e de máquinas industriais). Química (unidades fabris de tintas e sabões). Fosforeira (pequenas oficinas e fábricas de fósforos), são alguns exemplos encontrados no Museu da Indústria. Histórias associadas a objetos e protagonistas, edifícios e atividades industriais, ilustrando a Indústria, máquinas, apetrechos de trabalho, catálogos, manuais, documentação das empresas, fotografias. É um rico acervo e precisa ser guardado, visto, relembrado, preservado. Assim, vários museus trabalham, cada vez mais, com uma grande variedade de públicos aos quais procuram responder com atividades adequadas às suas necessidades e expectativas. http://www.museudaindustria.org/conteudo.aspx?args=3,25

Museu da Indústria do Ceará - recentemente entrou em nova fase de obras de engenharia, inclusive com o início da construção de um prédio anexo, que abrigará a administração do equipamento.

São Paulo, Espaço Votorantim - grupo Votorantim, também traça o caminho sobre o patrimônio industrial. O conteúdo informativo do Espaço se subdivide em três eixos: a história da industrialização

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no Brasil e seu contexto, a história do desenvolvimento do Grupo Votorantim e a contribuição do Grupo Votorantim para a evolução tecnológica brasileira.

Peru, Lima. Museo de la Electricidad - na Av. Pedro de Osma, n . 105 , cidade de Barranco (fundada em 1874). Acervo das máquinas de geração, transmissão e distribuição da eletricidade no Peru, destacando-se as grandes obras de engenharia hidroeléctrica. http://museoelectri.perucultural.org.pe

Peru, Barranco – foto . http://www.barranco.net/turismo-ocio/museo-de-la-electricidad.htm

Mas o que é área degradada? Há possível revitalização? Área degradada é a expressão que vem sendo utilizada, em português do Brasil, sob o significado que se aproxima daqueles referentes a palavras como brownfield, derilict land, friches industrielles, brachflaechen e altlasten, utilizadas na Europa e nos Estados Unidos. Complexos industriais e portuários são exemplos de áreas degradadas. O processo de revitalização do Porto do Rio de Janeiro, por exemplo, tem como referências projetos executados em regiões portuárias de outras metrópoles como o Puerto Madero em Buenos Aires e o Porto de Barcelona na Espanha.

Rio de Janeiro, Região Portuária - em 1903, começou a construção do Cais da Gamboa e de sete armazéns. A inauguração oficial do moderno porto aconteceu em 1910. Nesta época, duas avenidas foram construídas sobre aterro para dar acesso ao porto e eliminar entraves a circulação de mercadorias. Em 1937, foi definido um zoneamento para a cidade4, onde ficou estabelecido que a Zona Portuária passasse a ter uso destinado às atividades portuárias e habitação. Nas décadas seguintes, o Porto do Rio continuou a se expandir, foram construídos o Cais de São Cristóvão e a Estação de Passageiros. O Píer da Praça Mauá e parte do Cais do Caju foram resultados de aterros, respectivamente em 1952 e 1977. Em 1988 foram iniciadas as atividades do Terminal de Contêineres e ao final dos anos 90, ampliou-se esse campo de ação com novos terminais de carga geral. Com a construção, porém, do Porto de Itaguaí5 em 1982, mais moderno e automatizado, muitas das atividades do Porto do Rio, foram transferidas para lá. O esvaziamento da região como pólo industrial e a redução das atividades portuárias no Porto do Rio causaram um impacto na economia local, mas também degradação física e social. O “Projeto Porto Maravilha” irá revitalizar cerca de cinco milhões de metros quadrados da região portuária, operação que vem sendo coordenada pela Cia. de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto (CDURP) - empresa de economia mista, controlada pela Prefeitura,e conta com a participação de proprietários, moradores, usuários e investidores. Os investidores interessados poderão comprar os Certificados de Potencial Adicional Construtivo (CEPACs). As vendas serão realizadas pela Comissão de Valores Mobiliários sob títulos mobiliários em leilões sucessivos. Com este potencial adicional poderão ser construídos edifícios mais altos do que os limites atuais, variando o número de pavimentos de cada edifício dependendo da localização do terreno. os valores arrecadados com a venda de CEPACs devem ser totalmente investidos na área do projeto e que um mínimo de três por cento do valor auferido será destinado, à recuperação do patrimônio histórico da região. E a possibilidade de propriedades pertencentes a União, que correspondem a aproximadamente 60% do terrenos planos da área de intervenção do projeto, poderem ser comprados diretamente da União por preço de mercado.

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Empresas e moradores que se instalarem na área do projeto também irão se beneficiar com incentivos fiscais (perdão de dívidas isenção de IPTU por dez anos, isenção do Imposto de Transmissão de Bens Imóveis por Ato Oneroso (ITBI) e redução do Imposto Sob Serviços (ISS). Além disso, quem tiver e restaurar imóveis de interesse histórico, cultural ou ecológico nos próximos 36 meses também poderá

pedir o perdão de possíveis dívidas. (V Encontro Nacional da Anppas 4 a 7 de outubro de 2010. Florianópolis – SC, Brasil. Revitalização de Áreas Centrais Degradadas como Estratégia para o Desenvolvimento Urbano Sustentável das Metrópoles: O projeto Porto Maravilha na cidade do Rio de Janeiro. Artigo de Mariana Peixoto de Toledo e Roberto Pereira Guimarães - http://www.anppas.org.br/encontro5/cd/artigos/GT11-620-602-20100901194820.pdf

Porto, Portugal - A vocação industrial da cidade do Porto começa quando os seus estaleiros navais fervilhavam na construção de veleiros que ligariam a cidade portuária ao mundo, criando as condições para um mais amplo comércio e, por arrastamento, a exigência de criação de produtos que permitissem as trocas. As indústrias históricas surgem daí, desde a produção de meios de transporte (construção naval, cordoaria, tanoaria, ferragens) à transformação de produtos agrícolas exportáveis (linho, azeite, fumados de carne, biscoito) ou de criação de artefatos domésticos (couros, tecidos, louças, cutelarias, ourivesaria e prataria, vidro).

Alguns exemplos de Associações em prol do patrimônio Industrial, no mundo, são:

THE INTERNATIONAL COMMITTEE FOR THE CONSERVATION OF THE INDUSTRIAL HERITAGE – TICCIH – Organização mundial que promove a preservação, conservação, inmvestigação e documentação da herança industrial: incluindo os restos materiais de indústria, sítios, edifícios e arquiteturas, plantas, maquinário e equipamentos. Também as paisagens industriais, os produtos e processos da sociedade industrial. Os membros do TICCIH se comunicam em todo o mundo, historiadores, conservadores, curadores de museus, investigadores, estudantes e professores, profissionais interessados no desenvolvimento industrial - http://www.mnactec.com/ticcih

Comitê Brasileiro para a Preservação do Patrimônio Industrial TICCIH – BRASIL- Filiado em 2004 ao The International Comittee for the Conservation of the Industrial Heritage (TICCIH), o Comitê tem como objetivo pesquisar, investigar, mapear, catalogar, inventariar, divulgar, proteger e conservar os bens materiais e imateriais do patrimônio industrial brasileiro. http://www.patrimonioindustrial.org.br

Comité Mexicano para la Conservación del Patrimonio Industrial, A.C. (CMCPI).Associação civil constituída em 1996, dedica-se a coordenar os esforços dos investigadores especializados, integrando com o estudo e conservação da herança industrial mexicana ( edifícios, monumentos, documentos de cunho industrial). Já documentou os inventários das fábricas em Puebla e mais: 41 fábricas em Angelópolis, 10 em Atlixco, 5 em San Martín , 4 em Cholula. A cada dois meses revisitam os locais para levantar o registro gráfico e ver as condições físicas em que estão - Http://morgan.iia.unam.mx

Portal de la Federación Europea de Asociaciones de Patrimonio Industrial y Técnico (European Federation of Associations of Industrial and Technical Heritage). Agrupa diversas associações dedicadas ao estudo e conservação do patrimônio industrial na Europa - http://www.e-faith.org.

Portal del Comité Internacional para la Conservación del Patrimonio Industrial- Sección España. Temáticas sobre Minería, Textil, Siderurgia, Archivos de Empresa, Agroalimentaria, Arte, Papel, Obra Pública y Paisaje. http://www.mnactec.cat

E quanto à ocupação de espaços vazios promovidos pela dispersão urbana? O termo em inglês urban sprawl, traduzido para português como dispersão urbana, surgiu na década de 60 como referência à expansão urbana norte-americana em direção aos subúrbios,caracterizada por baixa densidade e pelo uso do automóvel particular. Hoje, o termo é empregado em diferentes países. Quando não há estímulo

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à revitalização, a cidade se desenvolve em porções físicas maiores e mais distantes, utilizando áreas verdes da cidade para construção de novos empreendimentos ou infra-estrutura. São os chamados friches industrielles, na língua francesa, na língua portuguesa significando ruínas, vazios. A importação do conceito francês é utilizada como forma de analisar os espaços industriais produtivos de outrora, que hoje não mais desempenham tal atividade. Vazios industriais. As friches representam para as cidades fabris do passado ou que não mais dispõem de fábricas na sua área urbana de ocupação intensiva, uma quantidade de grandes estruturas industriais abandonadas que passaram a ter uma funcionalidade diferente daquela para o qual foi concebida. Em todo o mundo existem áreas (vazios), antigas fábricas, portos, estradas de ferro, minas, locais militares, propriedades cujo planejamento de re-uso é complexo por serem obras com elevados custos. O conceito “friches socialles” foi introduzido pelo geógrafo francês Jean Labasse, em 1966, associado aos conceitos de “ciclos industriais” e “descentralização industrial”. As friches correspondem a estruturas imbricadas na espacialidade urbana dentro de um contexto econômico e urbano que não mais se configura na realidade produtiva industrial do presente. Em variados países existem programas de reabilitação, com ênfase nos EUA e Europa, sendo neste continente europeu, a presença das friches ser mais antiga que na América, Reino Unido, França, Alemanha e Bélgica, por exemplo. Muitas cidades européias apresentam friches como conseqüência da mudança da estrutura econômica e do declínio das indústrias tradicionais. Causas? A chamada desconcentração industrial, cuja transferência das unidades produtivas da capital em direção ao interior, deixou de herança friches oriundas do fechamento de indústrias nos antigos centros urbanos. Outra causa, a globalização e reestruturação industrial: com a abertura econômica dos mercados, a competição entre países tornou-se mais acirrada e muitas áreas industriais não conseguiram reestruturar sua base produtiva, nem acompanhar as mudanças tecnológicas, entrando em declínio. Paris e Londres possuem grande quantidade dessas friches, vazios industriais. No Brasil há friches industrielles em muitas cidades, ocasionados pelo declínio econômico de atividades como a cana-de-açúcar (Nordeste), algodão (Maranhão), da mineração (Minas Gerais), café (eixo Rio de Janeiro - São Paulo). Ou casos de áreas e estruturas obsoletas (estradas de ferro, portos, rodovias). A reconversão desses espaços, promove a revitalização urbana, novos usos para aquelas espacialidades.

Cidade Rio Grande/RS - parque fabril - Muitas indústrias do setor de alimentos, charutos, chapéus, tecidos, setor pesqueiro, que atuaram no período de 1873 até a década de 1980, terminaram desativadas. A área total estimada das indústrias desativadas presentes na cidade do Rio Grande é de 522.529,61 m², um total de 26 friches.

Porto Alegre/RS, antiga Fábrica da Brahma - convertida num Shopping Center na última década.

Americana (SP), pólo têxtil - o maior Polo Têxtil de Tecidos Planos de Fibras Artificiais e Sintéticas da América Latina está localizado no leste deSão Paulo, região metropolitana de Campinas. E tem a cidade de Americana como sua sede. Povoada desde o século XVIII majoritariamente por luso-brasileiros, escravizados afro-brasileiros, norte-americanos e mais tarde por italianos. A competição com os tecidos asiáticos, na década de 1990, fez com que muitas unidades fabris encerrassem suas atividades. Hoje, apesar de a indústria têxtil ainda ter presença marcante, a cidade se destaca em outros setores de produção, como metalúrgico, químico e alimentício.

Americana, Vila, 1906 –Autor da foto desconhecido. Wikimedia Commons, http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Villa_Americana1906.jpg

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Há muitos espaços vazios a serem estudados. O crescimento das cidades (urban sprawl) propiciou que muitas indústrias passassem a se localizar longe dos centros urbanos, por motivos de ruído, poluição, intenso tráfego, etc. Formaram-se então os distritos industriais nas áreas periféricas e as indústrias foram deixando as áreas centrais, onde ainda permanecem como friches, isoladas e fragmentando o tecido urbano central. Rio Grande, RS - é um palco repleto de outras espacialidades que representaram uma economia industrial que sempre desenvolveu ritmos descompassados em sua economia, apresentando ora grande desenvolvimento e boas perspectivas futuras em termos de acumulação de riqueza e trabalho para sua população, ora de períodos longos de estagnação e retrocesso industrial. (...) Há um considerável espaço passível de reutilização mas algumas antigas indústrias não são tombadas como patrimônio histórico, estando em processo de degradação e com elas grande parte da memória social que essas contêm. Os espaços hoje ocupados pelas friches industrielles podem obter um novo papel dentro da cidade, embora não como atividade industrial, mas definitivamente deixando de ser um espaço sem aproveitamento, degradante e causador de impactos negativos ao desenvolvimento local e qualidade de vida dos moradores. Tais áreas podem abrigar áreas residenciais, áreas que alojem outros equipamentos urbanos ligados ao lazer assim como espaços verdes (DAMASCENO, Jenes J. O conceito de Friche Industrielle aplicado ao complexo industrial pesqueiro do município do Rio Grande/RS . Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Geografia. Rio Grande: FURG, 2006./ “Friches industrielles” (vazios industriais) na cidade do Rio Grande – RS: sobreposição no espaço urbano de formas e funções de épocas distintas, Autoes: Perla Duarte do Couto et all http://xiisimpurb2011.com.br/app/web/arq/trabalhos/d922dbaec0814167c124a3aa33222b83.pdf - acesso em janeiro de 2012)

Recife, Pernambuco, Usina Beltrão- Em 1890 são iniciadas as obras de implantação da Usina Beltrão, a primeira e mais moderna refinaria da América do Sul, na área conhecida por Tacaruna. O projeto da usina primava pela qualidade estética e técnica da edificação, área total de 54.515,79 m_ (terreno mais 9 casas) com detalhes até então pouco utilizados como: uso do concreto armado em um estabelecimento industrial; instalação de luz elétrica; criação de cooperativa com sistema de atendimento médico e construção de moradia para os funcionários e operários da usina; e sistema de água canalizada para a operação das máquinas da empresa. Em 1895 as obras da Usina são concluídas. Entre 1897 e 1899 a Usina Beltrão é comprada pela firma Cunha & Gouveia, liderada pelo empresário Delmiro Gouveia. A perseguição política a Delmiro Gouveia e sucessivas crises no setor açucareiro, forçam a Usina a fechar suas portas, após 27 anos. O conjunto edificado é adquirido, em 1924, pela Companhia Manufatora de Tecidos do Norte que o transforma em indústria têxtil, passando a se chamar Fábrica Tacaruna. Seu funcionamento é considerado favorável no período de 1925 a 1955. O uso se mantém até 1980 quando a produção diminuiu. Em 1975 o controle acionário da Fábrica é assumido pela Tecelagem Parayba do Nordeste. Em baixa produtividade, a Fábrica passa a produzir cobertores a preços populares encerrando definitivamente suas atividades industriais em 1992. O conjunto fabril é tombado em 1994 como patrimônio histórico e artístico pelo Governo Estadual e, em 1996 é declarado de utilidade pública para fins de desapropriação. Existem ainda diversos galpões posteriores à construção original que ampliaram a fábrica nos sentidos norte, sul e oeste em épocas distintas, perfazendo uma área de 12.873,70 m2. A partir de 1998 iniciam-se os estudos para a implantação do novo uso – Centro Cultural – no conjunto da fábrica. O modelo adotado para o gerenciamento do Centro Cultural Tacaruna é o de uma Organização Social Autônoma, nova figura jurídica que tem a vantagem de poder contar, entre seus mantenedores, com instituições públicas e privadas.

A relembrar, por fim, outro novo uso, a operação urbana consorciada – Segundo o Estatuto da Cidade, lei de 2001, é o conjunto de intervenções e medidas coordenadas pelo Poder Público municipal, com a participação dos proprietários, moradores, usuários permanentes e investidores privados, com o objetivo de alcançar, em uma área transformações urbanísticas estruturais, melhorias sociais e a valorização ambiental.

São Paulo, Hospital Matarazzo, inaugurado em 1915. Tombado em 1986, dez anos depois passou à PREVI. Recentemente foi vendido por R$ 117 milhões, para a holding de investimento WWI e o grupo francês Allard (dono de três propriedades históricas em Paris transformadas em hotéis). No local haverá centro cultural, comercial e gastronômico, hotel de luxo. O projeto tem parceria com os governos municipal e estadual na obra de revitalização. Selou-se o compromisso de cumprir exigências legais e

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ambientais, além de preservar as características históricas do imóvel. http://hospital-matarazzo.blogspot.com/

Belo Horizonte, Minas. Programa Adote um Bem Cultural, abril de 2011. Prefeito e empresários assinaram Termo de Cooperação Mútua e Plano de Trabalho para a adoção e revitalização do Conjunto Residencial São Cristóvão, conhecido como IAPI, no bairro São Cristóvão. A Akzo Nobel/Coral fornece os materiais e a Casa & Tinta, a coordenação técnica. Os outros parceiros entram com recursos financeiros, coordenação e colaboração na execução (MRV Engenharia, Grupo Orguel, Sind. do Com. Varejista de Material de Construção, Associação Comunitária do Conjunto Residencial São Cristóvão).

Também o fato de um bem não fazer parte da história de um mesmo grupo não significa que sua proteção não possa ser legitimada pela coletividade, vez que pode ser importante para a população como um todo. E novos usos vão transformando antigas teias socioespaciais.

Vitória, Espírito Santo. Construído pela Marinha, o Farol do Rio Doce foi instalado na margem norte do rio, em 1895, tido como inadequado 12 anos depois. Foi transferido para margem sul. Em 1998, a Associação de Moradores da Vila Regência pediu o tombamento, alegando ser ele o representante de toda transformação geográfica, histórica, cultural e econômica do Rio Doce e da Vila de Regência. Efetivado o tombamento (Livro do Tombo Histórico, sob o nº 187), isso não impediu sua substituição por outro. O antigo farol, porém, foi preservado com todos os seus pertences e exposto em área aberta, frente ao Museu de Regência. Também exemplo é a Capela de Santa Luzia, no centro da cidade, erigida por fazendeiro nos idos de 1840. Em desuso e abandonada, sofreu grave arruinamento. Restaurada em 1943, de posse do governo estadual, abrigou o Museu de Arte Religiosa por 30 anos. Parcialmente alterada em 1976, nela se instalou a Galeria de Arte e Pesquisa, da Universidade Federal do Espírito Santo.

Omaha, EUA. Artistas foram chamados a criar obras de valor visual duradouro onde antes só havia abandono e decadência. Foi o caso de um enorme complexo de silos em desuso há décadas. Os elevadores de grãos, hoje adornados por pinturas e desenhos, fazem a alegria de milhares de turistas. http://weburbanist.com/2011/10/02/stored-potential-the-art-of-omahas-grain-elevators/

Nova Iorque, EUA - a cidade de Nova York viu suas antigas indústrias e galpões fabris, localizados no bairro de SoHo, ao sul da ilha de Manhatan, receberem um toque arquitetônico, dos anos 70 em diante. Espaços ociosos onde antes funcionavam caldeiras e máquinas pesadas deram lugar a cômodos com pé-direito amplo, janelas altas e ambientes integrados, sendo utilizados como moradia e lugar de trabalho. Ateliê, quarto, sala, banheiro e cozinha se confundiam em um mesmo salão. Com a revitalização, atraiu-se comércio, serviços e entretenimento à identificação de jovens profissionais bem sucedidos, complementando, assim, o renascimento arquitetônico do bairro. O conceito loft espalhou-se pelas diversas metrópoles mundo afora. Solteiros e jovens casais sem filhos são o principal público.

conceito loft , NY, EUA. http://www.construtorajl.com/categorias/blog/arquitetura-e-engenharia

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Mesmo com tantas possibilidades de re-uso, ainda assim alguém quer desfazer-se daquele imóvel de 1920. O imóvel é admirado por todos, mas considerado pelas imobiliárias locais de pouco valor comercial? Uma idéia: nos Estados Unidos há sites que divulgam, exclusivamente, propriedades históricas à venda (ex: preservation directory.com). Liga-se o comprador que procura a "casa histórica dos sonhos” a centenas de imóveis catalogados, de variados estilos e épocas, dos EUA e Canadá. Cada propriedade à venda, bar, restaurante, fábrica, casa, tem sua própria página, fotos, história, estilo, ano de construção, contato com o proprietário vendedor. Nesse diretório, aplicou-se indiretamente a educação patrimonial: agregou-se respeito e bom preço a bens de surpreendente valor cultural.

Pergunta-se: nós, mulheres, estamos, de fato, sensibilizadas para o coletivo, ou a vida apressada passou a impedir essa visão? A atuação da mulher no mercado imobiliário tem sido destaque, pelas qualidades singulares que incrementam e ajudam o setor no fechamento de novos negócios. Pelo carisma feminino e a facilidade para se expressarem com os clientes. O número de mulheres no mercado de trabalho mundial é o maior da história e chegou à marca de 1,2 bilhão. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a participação das mulheres na força de trabalho subiu de 47,9% para 52,9% na última década do século XX. Outros estudos mostram que o enriquecimento das mulheres é uma tendência internacional. (dados do Portal Ambima, Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais - http://www.comoinvestir.com.br/canais-exclusivos/mulheres-e-investimentos/entrevistas/historias-de-sucesso/Paginas/default.aspx - acesso em 9/2/2012). Entre os 21,1 milhões de empreendedores brasileiros, 10,7 milhões pertencem ao sexo masculino e 10,4 milhões ao feminino, segundo o Relatório GEM-Brasil 2010. Mais da metade (56,9%) ainda estão na faixa etária de 35 anos de idade, demonstrando a jovialidade dos empreendedores de negócios novos, tendência mundial. À medida em que a renda cresce, a taxa de empreendedorismo também aumenta. O crescimento da atividade empreendedora no país não é apenas quantitativo, mas também tem sido qualitativo. De acordo com Eva Jonathan as mulheres empreendedoras caracterizam-se por serem destemidas, autoconfiantes, apaixonadas e identificadas com seus empreendimentos, identificam-se muito com os seus negócios e lutam para continuar a crescer. (JONATHAN, Eva Gertrudes. Mulheres empreendedoras: medos, conquistas e qualidade de vida. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 10, n. 3, p. 373-382, set/dez, 2005. Disponível em: www.scielo.br/pdf/pe/v10n3/v10n3a04.pdf. Acesso em: setembro de 2011)

Por toda parte desse bonito e ainda tão inexplorado Brasil, velhas casas podem se transformar em ateliês de artistas e intelectuais, livrarias, galerias, escritórios, hoteis, lojas. Pode-se atrair novas famílias. Vai vender ou locar um empreendimento? Agregou o valor afetivo a esses imóveis? Estimulou a memória da herança cultural? Ritmo de trabalho, quantidade mínima de interferência de terceiros e interesses pessoais alcançados, são fontes de satisfação. Mas a satisfação total, total mesmo, só é alcançada com a soma e domínio das experiências vividas, individual e coletiva, no passado e no presente. A educação patrimonial tem que vir à reboque. Porque, em verdade, só há um meio eficaz de assegurar a defesa permanente do patrimônio de arte e de história do país: via educação popular. Conservar o patrimônio cultural é tarefa de todos os brasileiros e não apenas do Governo e autoridades locais. Pelos exemplos citados, dezenas são as oportunidades, inúmeras possibilidades de novos usos. Importa mesmo é ver, no aproveitamento do antigo, além da alternativa viável para investimento, a criação da atitude consciente e coletiva. Assim, reformar, remodelar, reconstituir, reutilizar, funcionalizar, ampliar, resgatar, reciclar, reanimar, revitalizar, recuperar um bem histórico nas teias sócioespaciais... sim, faz bem à alma, ao bolso, à coletividade.

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Dicas de leitura: Cartilha do CREA/SP – Patrimônio Histórico: Como e Por Que Preservar, 2008 – disponível também em : http://www.creasp.org.br/arquivos/publicacoes/patrimonio_historico.pdf

Caderno 6 da CVM – fundo imobiliário/ Cartilha do Investidor. http://www.cvm.gov.br/port/protinv/caderno6.asp#II

Page 27: Teias sócioespaciais:  iniciativas  e novos usos aos imóveis de valor histórico e cultural.

Manual de Conservação Preventiva para Edificações. GT-IPHAN –Programa Monumenta/Bid / Min Cultura - http://www.monumenta.gov.br/upload/Manual%20de%20conserva%E7%E3o%20preventiva_1168623133.pdf – acesso em 26/1/2012)

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*Noely Manfredini é escritora (22 livros publicados), colunista da Revista Corporate sob o título Empreendedorismo Feminino. Janaína Bueno é historiadora formada pela UFPR, mestranda em Museologia com enfoque em Patrimônio Industrial e Patrimônio Imaterial, em Lisboa: Paôla M. Bonfim é Mestre em História atuando como Técnica em Arqueologia na Superintendência do IPHAN/Paraíba.