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ISSN 2176-1396 TECNOLOGIA ASSISTIVA E EDUCAÇÃO: A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DAS SALAS DE RECURSOS MULTIFUCIONAIS Mayara de Oliveira Vieira 1 - UFPA Degiane da Silva Farias 2 - UFPA Eixo temático: Educação, Tecnologia e Comunicação. Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo É cada vez mais presente à inclusão de alunos com necessidades especiais nos sistemas formais de ensino, o que torna urgente as reflexões e fomentações, bem como, projetos de intervenções que verse sobre a formação docente dos professores que realizam o Atendimento Educacional Especializado AEE a estes alunos. Nesse sentido, este texto tem por objetivo mostrar um relato de experiência sobre a formação continuada de professores das salas de recursos multifuncionais. O referido relato é parte de um trabalho maior desenvolvido ao longo de quatro anos no município de Augusto Corrêa/PA enquanto coordenadora pedagógica da Informática Educativa. Como parte desse projeto foi desenvolvido um curso sobre a utilização adequada das tecnologias assistivas, entendida aqui como todo o arsenal de recursos e serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência e consequentemente promover vida independente e inclusão. É também definida como uma ampla gama de equipamentos, serviços, estratégias e práticas concebidas e aplicadas para amenizar as problemáticas encontradas pelos indivíduos com deficiências. Nesse sentido, além de uma discussão teórica a respeito do conceito de formação continuada, tecnologia e tecnologias assistivas, foi apresentado e demonstrado na prática a forma correta do uso de diversas ferramentas pedagógicas como: lupa eletrônica, mouse estático de esfera, teclado expandido com colmeia e outros, assim como, a utilização de softwares educativos como o HeadMouse, Plephoons, Dosvox e o Fonte Libras, que além de contribuir significativamente para a aprendizagem dos alunos ainda dinamizam o processo de 1 Bacharel em Sistema de Informação pelo Centro Universitário do Pará - CESUPA; Especialista em Desenvolvimento de aplicações para a internet pela Universidade Federal do Pará UFPA; Graduanda em Pedagogia pela Universidade Federal do Pará UFPA. E-mail: [email protected]. 2 Doutoranda em Educação pelo Programa de Pós Graduação em Educação-UFPA. Mestra em Linguagens e Saberes na Amazônia pela Universidade Federal do Pará-UFPA. Pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Juventude, Representações Sociais e Educação GEPJURSE. E-mail: [email protected].

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ISSN 2176-1396

TECNOLOGIA ASSISTIVA E EDUCAÇÃO: A IMPORTÂNCIA DA

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DAS SALAS DE

RECURSOS MULTIFUCIONAIS

Mayara de Oliveira Vieira1 - UFPA

Degiane da Silva Farias2 - UFPA

Eixo temático: Educação, Tecnologia e Comunicação.

Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

É cada vez mais presente à inclusão de alunos com necessidades especiais nos sistemas

formais de ensino, o que torna urgente as reflexões e fomentações, bem como, projetos de

intervenções que verse sobre a formação docente dos professores que realizam o Atendimento

Educacional Especializado – AEE a estes alunos. Nesse sentido, este texto tem por objetivo

mostrar um relato de experiência sobre a formação continuada de professores das salas de

recursos multifuncionais. O referido relato é parte de um trabalho maior desenvolvido ao

longo de quatro anos no município de Augusto Corrêa/PA enquanto coordenadora pedagógica

da Informática Educativa. Como parte desse projeto foi desenvolvido um curso sobre a

utilização adequada das tecnologias assistivas, entendida aqui como todo o arsenal

de recursos e serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de

pessoas com deficiência e consequentemente promover vida independente e inclusão. É

também definida como uma ampla gama de equipamentos, serviços, estratégias e práticas

concebidas e aplicadas para amenizar as problemáticas encontradas pelos indivíduos com

deficiências. Nesse sentido, além de uma discussão teórica a respeito do conceito de formação

continuada, tecnologia e tecnologias assistivas, foi apresentado e demonstrado na prática a

forma correta do uso de diversas ferramentas pedagógicas como: lupa eletrônica, mouse

estático de esfera, teclado expandido com colmeia e outros, assim como, a utilização de

softwares educativos como o HeadMouse, Plephoons, Dosvox e o Fonte Libras, que além de

contribuir significativamente para a aprendizagem dos alunos ainda dinamizam o processo de

1 Bacharel em Sistema de Informação pelo Centro Universitário do Pará - CESUPA; Especialista em

Desenvolvimento de aplicações para a internet pela Universidade Federal do Pará – UFPA; Graduanda em

Pedagogia pela Universidade Federal do Pará – UFPA. E-mail: [email protected].

2 Doutoranda em Educação pelo Programa de Pós Graduação em Educação-UFPA. Mestra em Linguagens e

Saberes na Amazônia pela Universidade Federal do Pará-UFPA. Pesquisadora do Grupo de Estudos e

Pesquisas sobre Juventude, Representações Sociais e Educação GEPJURSE. E-mail:

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ensino. O referencial teórico deste trabalho apoia-se em Valente (2000), Libâneo (2001) e

Manzini (2005).

Palavras-chave: Formação de professores. Tecnologia Assistiva. Softwares educativos.

Introdução

Sobre a ideia de atendimento educacional especializado, além de ser um direito, é um

dos caminhos para a inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais. Porém,

qualquer discussão nesse sentido merece considerar algumas questões, são elas: Como tem se

dado a formação continuada dos professores destes alunos? É possível realmente falar em

inclusão? Qual o papel e a importância das Salas de Recursos Multifuncionais (SRM) neste

processo?

Sobre o primeiro questionamento, destaca-se que, o processo de construção do ser

professor tem inicio com a chamada formação inicial. É nesse período que são fomentadas,

dentro do espaço da academia, as construções teóricas que fundamentarão o fazer pedagógico

desses sujeitos. Ainda nesse primeiro momento, os estágios supervisionados surgem como

uma possibilidade de vinculação e embate entre teoria e prática.

Todavia, de acordo com Libâneo (2001) o docente só constrói sua profissionalidade

no exercício efetivo do seu trabalho, fala-se de formação continuada, sendo a escola o local

privilegiado onde os profissionais tem a oportunidade de colocar em prática e construir

saberes e habilidades fundamentais para o sucesso do ensino.

Nessa perspectiva, percebe-se que as lacunas deixadas tanto na formação inicial

como na formação continuada dos professores vai incidir diretamente na qualidade do ensino-

aprendizagem. E apoiada na formulação de Vygotsky (1988), de que o ser humano é um ser

social, logo, seu desenvolvimento só se consolida através da participação do meio em que está

inserido, pode-se inferir que, em dias atuais onde a tecnologia está no cotidiano das pessoas, a

escola precisa introjetar essa realidade a favor do processo de construção do conhecimento.

Contudo, segundo Demo (2004) a questão consiste em transformar as informações

contidas nas tecnologias educativas em formação para os discentes. Dessa feita, o grande

desafio está no papel do professor, pois o mesmo não pode utilizar as ferramentas digitais

como mera obrigação do mundo atual, mas, em uma conexão direta, significativa e

comprometida com o saber.

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É nesse sentido que repousa este trabalho, que tem o objetivo de apresentar um relato

de experiência desenvolvido no município de Augusto Corrêa/PA no ano de 2016. Enquanto

parte de um projeto maior, o curso sobre o uso de tecnologia assististiva, conceito

relativamente novo que corresponde a todo o arsenal de recursos e serviços que contribuem

para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência e

consequentemente promover vida independente e inclusão, foi desenvolvido bimestralmente

envolvendo todos os docentes das salas de recursos multifuncionais. Nesse sentido, em uma

relação entre teoria e prática foi discutido junto aos docentes alguns conceitos sobre formação

continuada, tecnologia e tecnologia assistiva. Outrossim, foi apresentado diversas ferramentas

pedagógica como lupa eletrônica, mouse estático de esfera, teclado expandido com colmeia e

outros, assim como, a utilização de softwares educativos como: o HeadMouse, Plephoons,

Dosvox e fonte libras que além de contribuir significativamente para aprendizagem dos

alunos ainda facilita e dinamizam o processo de ensino.

Ao final desse curso verificaram-se avanços significativos no processo ensino

aprendizagem dos alunos que frequentam as Salas de Recursos Multifuncionais. É bem certo

que muito ainda precisa avançar para que de fato a ideia de inclusão, que tanto se discute,

transcenda o campo teórico e se efetive na prática. Para tanto, o processo de formação

continuada, como o próprio nome explicita deve ser perene.

Tecnologia, tecnologia assistiva e educação: breve fundamentação teórica.

A tecnologia é uma necessidade da sociedade atual. Pois é notório que ela se encontra

em toda parte, no trabalho, nas pesquisas, nos estudos, nas compras, nos lazeres, ou seja, em

quase todas as atividades da vida humana. Ela surge com o objetivo de facilitar a vida das

pessoas, servindo para otimizar o tempo, tornando mais fácil a comunicação, bem como, o

acesso à informação.

Nesse sentido, diz-se que, o ser humano vive a “era da informação”. E nesse

movimento tornou-se bem mais fácil a comunicação entre as pessoas por meio de redes

sociais, telefone, celulares e demais aparelhos tecnológicos. Algumas formas de comunicação

foram sendo substituídas, desaparecendo, as cartas é um exemplo nítido dessas

transformações, pois as mesmas estão cada vez mais sendo substituídas por correios

eletrônicos, denominados como e-mails. A internet que é o maior conglomerado de redes de

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comunicações em escalas mundiais nos dá acesso a tudo o que precisamos e procuramos.

Todavia aqui cabe uma ressalva, que é justamente da necessidade de fazer bom uso dessas

inovações tecnológicas. Outrossim, consiste na clareza de que a tecnologia deve estar à

serviço do bem estar da humanidade.

Teóricos como Pierre Lèvy, um dos maiores expoentes sobre o mundo da internet,

aborda o papel fundamental da tecnologia na esfera de comunicação. Ele sedimenta a ideia de

que a internet é um instrumento importantíssimo no desenvolvimento social. Diz ainda que, a

inclusão digital na sociedade é de suma importância para facilitar nossa vida e aumentar cada

vez mais o número de conectados, contribuindo para a evolução da sociedade.

Sobre a ideia de tecnologia e educação, tem-se claro que essa nunca substituirá o

professor, no entanto, tem-se mais claro ainda que, o profissional da educação que utilizar

essa ferramenta a seu favor poderá desenvolver um trabalho mais dinâmico e significativo.

É inegável a dinamização e a ludicidade que se dá no processo ensino-aprendizagem

com a inserção do computador como ferramenta pedagógica, o uso de softwares e jogos

educativos tem contribuído significativamente para a construção do conhecimento. Pois, de

acordo com o Ministério da Educação-MEC, Informática educativa é justamente a

implantação do computador no processo de ensino-aprendizagem dos conteúdos curriculares

de todos os níveis e modalidades da educação, onde os conteúdos de cada disciplina da grade

curricular aplicados por intermédio do computador.

Porém, nesse processo, é importante ressaltar que muito ainda se precisa caminhar,

construir, reconstruir, formular, discutir, pois, o Ministério da Educação ressalta ainda que o

emprego do recurso tecnológico isolado da proposta pedagógica da rede de ensino, não é

garantia de melhoria. É somente por meio da união de inúmeros fatores que se torna possível

promover um ensino de qualidade. Sendo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), a

grande responsável por estas entre várias outras mudanças, pois no artigo 39 promove a

inclusão da informática na educação.

Nessa perspectiva, a contrapartida dos sistemas estaduais e municipais de ensino é

garantir a infraestrutura adequada para receber os laboratórios, mas, principalmente capacitar

os professores para a utilização das tecnologias existentes no ambiente escolar,

transformando-as em ferramentas mediadoras.

Assim, Valente (1993) afirma que, as formas de inclusão dos computadores e dos

softwares educacionais, quando bem conduzidos por um profissional devidamente capacitado,

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contribuem para a integração dos acontecimentos ocorridos fora do ambiente escolar com o

ensino, contextualizando-os.

De acordo com Ostrowski (2002 p.29) o computador tem um papel importante, por se

tornar um aliado na educação e colabora no desenvolvimento cognitivo da criança, através do

computador o aluno desenvolve o raciocínio e a organizar o pensamento e através dos

softwares facilita a expressão da criatividade.

Partindo dessas informações é que se sedimenta esse relato de experiência que traz

com principais teóricos Mouran (2000), Demo (2004), Valente (1993) que discutem a

necessidade de formação dos professores para o uso da tecnologia na educação, pois ensinar e

aprender com tecnologia é um desafio que até hoje não foi enfrentado com profundidade.

Em consonância com o que preconiza a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional (LDB 9.394/96), o Atendimento Educacional Especializado, assegurado no artigo

58, § 1º e § 2º, salienta que:

§ 1º. Haverá, quando necessário, serviço de apoio especializado, na escola regular,

para atender as peculiaridades da clientela de Educação Especial. § 2º. O

atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados,

sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua

integração nas classes comuns de ensino regular. (LDB 9.394/96).

Partindo dessa premissa legal, cabe afirmar que a educação inclusiva está sendo cada

vez mais valorizada, garantindo a esse público uma escola inclusiva com apoio e suporte que

assegurem uma educação efetiva e significativa.

É nesse sentido que as Tecnologias Assistivas surgem como o suporte necessário e

eficaz para um atendimento tecnológico e especializado que garanta resultados positivos, pois

as mesmas aparecem com a capacidade de desenvolver e incluir com qualidade os alunos em

suas várias especificidades. Diante disso, justifica-se o aprofundamento dos estudos sobre

esse conceito, que embora recentemente novo, tem contribuído grandiosamente com as

fomentações sobre o processo de inclusão.

Mas o que de fato é tecnologia assistiva? Nas palavras de SASSAKI, Tecnologia

Assistiva também é:

[...] a tecnologia destinada a dar suporte (mecânico, elétrico, eletrônico,

computadorizado etc.) a pessoas com deficiência física, visual, auditiva, mental ou

múltipla. Esses suportes, então, podem ser uma cadeira de rodas de todos os tipos,

uma prótese, uma órtese, uma série infindável de adaptações, aparelhos e

equipamentos nas mais diversas áreas de necessidade pessoal (comunicação,

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alimentação, mobilidade, transporte, educação, lazer, esporte, trabalho e outras).

(SASSAKI 1996, p. 01).

Nessa perspectiva nota-se que a Tecnologia Assistiva abarca diversas áreas que vai

desde recursos pedagógicos adaptados a recursos de acessibilidade ao computador e recursos

para atividade da vida diária como adaptações de jogos e brincadeiras, além de equipamentos

de auxílio às pessoas cegas e/ou com baixa visão.

De acordo com PELOSI (2003, p.183):

A Tecnologia Assistiva engloba áreas como a comunicação suplementar e/ ou

alternativa, as adaptações de acesso ao computador; equipamentos de auxílio para

visão e audição; controle do meio ambiente; adaptação de jogos e brincadeiras,

adaptações de postura sentada, mobilidade alternativa, próteses e a integração dessa

tecnologia nos diferentes ambientes como a casa, escola e local de trabalho.

Por fim, como já citado anteriormente, embora o termo Tecnologia Assistiva ainda

seja um termo, uma expressão, um conceito consideravelmente novo, segundo alguns autores

ainda em processo de construção e sistematização, porém são recursos que por vezes estão

presentes em nosso dia-a-dia, pois para esses teóricos qualquer ferramenta improvisada

caracteriza o uso de Tecnologia Assistiva, conforme saliente MANZINI (2005, p. 82):

Os recursos de Tecnologia Assistiva estão muito próximos do nosso dia-a-dia. Ora

eles nos causam impacto devido à tecnologia que apresentam, ora passam quase

despercebidos. Para exemplificar, podemos chamar de Tecnologia Assistiva uma

bengala, utilizada por nossos avós para proporcionar conforto e segurança no

momento de caminhar, bem como um aparelho de amplificação utilizado por uma

pessoa com surdez moderada ou mesmo veículo adaptado para uma pessoa com

deficiência.

Sobre esse conceito, muito precisa ser discutido, no entanto, o que já se percebe é que

o uso adequado desses recursos só tem contribuído para o processo de inclusão social e

educacional.

Caminhos metodológicos

O relato de experiência aqui exposto é parte de um projeto maior que envolve toda a

rede de ensino do município de augusto Corrêa, estado do Pará, na área de Informática

Educativa. Todavia percebeu-se a necessidade de um olhar mais atento e específico para a

formação continuada dos professores das salas de recursos multifuncionais. Pois é fato que o

emprego destes ou daqueles recursos tecnológicos, de forma isolada da proposta pedagógica

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da rede de ensino e da escola, não é garantia de melhoria na qualidade da educação. Apenas

por meio da conexão de inúmeros fatores e a inserção da tecnologia no processo pedagógico

da escola torna-se possível promover um processo de ensino-aprendizado de qualidade.

Objetivo da formação foi de facilitar o atendimento dos alunos com deficiências que

frequentam as salas de recursos multifuncionais existentes nas escolas do município de

Augusto Corrêa e no Centro de Atendimento Especializado-CAEE (Marilene Nascimento),

apresentando aos professores os inúmeros softwares específicos existentes nos computadores

e notebooks que em muitas escolas encontravam-se sem uso. Por meio do programa

implantação de salas de recursos multifuncionais, com inicio no ano de 2012, foi

disponibilizado, além do mobiliário e material pedagógico, um conjunto de equipamentos de

informática, composição esta alterada com o objetivo de atender as demandas dos sistemas de

ensino, em 2012/2013/2014/2015/2016, as escolas passam a receber 02 notebooks, 01

impressora multifuncional, 01 lupa eletrônica, 01 mouse estático de esfera e 01 teclado

expandido com colmeia.

De posse de todos estes equipamentos, grita a necessidade de formação para que os

professores pudessem utilizar todo esse aparato tecnológico de forma satisfatória e produtiva.

E partindo dessa necessidade foi proposto junto a eles momentos de formação. O curso se deu

no ano de 2016 em quatro momentos específicos em uma relação direta entre teoria e prática.

No primeiro momento, deu-se a discussão sobre os conceitos em questão, que são

eles: formação continuada, tecnologia e tecnologia assistiva. Este último trabalhado de forma

mais contundente. Pois, após algumas pesquisas relacionadas à tecnologia e educação chegou-

se então ao termo Tecnologia Assistiva, como sendo,

Uma área do conhecimento, que engloba produtos, recursos, metodologias,

estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade,

relacionada à atividade e participação, de pessoas com deficiência, incapacidades ou

mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e

inclusão social. (ATA VII - Comitê de Ajudas Técnicas (CAT) - Coordenadoria

Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE) -

Secretaria Especial dos Direitos Humanos - Presidência da República).

No segundo momento, foi realizada a distinção entre os sistemas operacionais Linux

e Windows, em seguida, apresentando alguns softwares educacionais já disponíveis na

distribuição do Linux educacional, assim como os softwares específicos para algumas

deficiências. Além do Dosvox, apresentou-se o HeadMouse. Ainda foram apresentadas e

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demonstradas na prática outras tecnologias assistivas, como a Lupa eletrônica, mouse estático

de esfera e o teclado com colmeia.

O terceiro momento destinou-se a apresentação e experimentação dos softwares

Plaphoons, Gcompriss e destaque para o Fonte libras, devido o perceptível interesse dos

professores, justamente por facilitar a produção de seu material.

O quarto momento deu-se o levantamento de todos os softwares específicos

existentes nos notebooks das salas de recursos multifuncionais, e o destaque foi para o

Dosvox, que se tornou um sistema operacional devido seu grau de importância, desenvolvido

pelo Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Este

sistema possui um conjunto de ferramentas e aplicativos próprios além de agenda, chat e

jogos interativos. Possibilitando o aluno com deficiência visual utilize o computador para

desenvolver suas tarefas, como editar e ler textos, imprimir, navegar na internet, entre outros,

pois o sistema emite som para cada tarefa que esta sendo executada.

Todo esse processo deu-se:

No Município de Augusto Corrêa/PA (Sede);

No período de 12 meses (Encontros bimestrais);

Com todos os docentes das Salas Multifuncionais;

Discussões e resultados

Diante das inúmeras possibilidades existentes, a ideia principal durante todo o

processo de formação foi capacitar os professores para o uso de tecnologias de informação e

comunicação em atividades e projetos educacionais, por meio de um curso em etapas

sequenciais. Para tanto foi necessário primeiramente conhecer a necessidade de cada escola,

verificar o parque tecnológico e em que estado se encontravam.

Assim, após um ano de trabalho junto a esses docentes, muitos avanços foram

conquistados, a certeza de que existe um longo caminho a percorrer também é clara, mas,

esforços conjuntos podem melhorar consideravelmente a realidade vivenciada.

O curso de formação continuada sobre o uso das tecnologias assistivas nas salas de

recursos multifuncionais trouxeram resultados significativos. Cada ferramenta que se

conhecia, cada software apresentado despertavam nos docentes inúmeras possibilidades para

seu fazer diário.

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Dessa feita, já no primeiro momento, que se caracterizou como mais teórico, os

resultados começaram a surgir. Foi perceptível que as problematizações dos conceitos sobre

formação inicial, tecnologia e principalmente tecnologia assistiva geraram muitos debates,

muitas dúvidas foram sanadas, a respeito inclusive de softwares básicos como o a utilização o

Word e Power Point, assim como a navegação na internet, como baixar um vídeo do

yooutube, sites de pesquisas, entre outros; confirmou-se a certeza da necessidade de se

estudar constantemente, pois o conhecimento é dinâmico e a todo o momento precisa ser

revisto, criticado e reconstruído.

Mas é evidente que a teoria por si só não se sustenta. É preciso uni-la a prática para

fazer sentido na vida dos sujeitos. Assim, foi justamente no momento de apresentação das

ferramentas e dos softwares que os destaques foram sendo aferidos.

Podemos observar na figura 1 os dois computadores que compõem o kit da sala de

recurso multifuncional, em algumas escolas o Ministério da Educação-MEC encaminhou

notebooks e outras o desktop, este registro aconteceu na Escola Manoel da Costa Neves, na

comunidade do Emburuaca, no entanto todas as escolas do município que possuíam salas de

recursos multifuncionais foram visitadas e na oportunidade foi realizado o levantamento da

situação e de todas as necessidades; a manutenção na, maioria das vezes, acontecia na própria

escola, dependendo do problema detectado, caso contrário à máquina deveria ser

encaminhada para secretária de educação para reparos e por último se houvesse a necessidade

realizávamos logo a instalação dos softwares que foram trabalhados no processo da formação.

Figura 1 - Computadores da sala de recursos multifuncional

Fonte: Acervo pessoal (2016).

Com a maioria das salas de recursos multifuncionais revitalizadas, ficou mais fácil dar

sequencia nas formações, que ocorreram de maneira satisfatória. Bem como a utilização de

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todos os equipamentos disponibilizados nos kits, podemos observar na Figura 2 alguns destes

equipamentos, como o notebook, teclado expandido de colmeia e o mouse estático de esfera.

Figura 2: Kit eletrônico das salas multifuncionais

Disponível em: https://ntebls.blogspot.com.br.

Em todos os momentos da formação, os professores demonstravam bastante

interesse, eram curiosos e ficavam atentos sempre, porém o momento que merece destaque,

justamente pela fala de muitos, foi a apresentação da “fonte libras”, podemos observar na

figura 3, o instalador para a fonte libras encontra-se disponível para download de maneira

acessível, de fácil instalação e utilização nos editores de texto. No momento da demonstração

foi satisfatório observar a surpresa e a alegria dos professores em descobrir aquela ferramenta

e a fala deles eram: “eu não acredito! passei minha vida toda desenhando e recortando letra

por letra para montar uma frase” (Informação verbal)3.

A maioria dos professores destacou este recurso como o mais importante da oficina,

por ser um facilitador no processo pedagógico, na construção de textos, criação de livros, etc.

E mesmo após a instalação em todos os notebooks da sala, aqueles que estavam com o pen-

drive solicitaram que fosse disponibilizado o instalador e aqueles que não levaram nos

procuraram na secretária de educação para obter o aplicativo, todo este relato para destacar

que uma simples ferramenta pode mudar, no sentido de facilitar a vida do professor.

3 Oficina Fonte libras.

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Figura 03: Fonte Libras.

Disponível em: http://oficinadelibras.blogspot.com.br

Na figura 4 destaco outro momento interessante, a apresentação, instalação e a prática

do sistema operacional Dosvox, pois a apropriação dessa ferramenta pelos professores vai

facilitar a transmissão do sistema para os alunos com deficiência visual, garantindo-lhes o

acesso ao computador e com isso favorecendo a inclusão social e digital.

Figura 04: Sistema Dosvox (sintetizador de voz).

Disponível em: http://www.blogdafloresta.com.br

Estes momentos de formação continuada promoveu uma mudança significativa de

perspectiva a respeito da importância da utilização do computador, percebemos que este foi

apenas o inicio de uma longa jornada, pois baseada nas falas dos professores, despertamos o

interesse pela pesquisa, estudar, procurar novos softwares específicos de acordo com a

deficiência e necessidade de seus alunos. O objetivo destes momentos de formação eram

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justamente este, despertar o interesse do professor e mostrar como é importante nos dias

atuais a utilização do computador no processo de ensino aprendizagem, assim como na

inclusão social e digital.

Considerações finais

As tecnologias educacionais são incontáveis, a todo instante um software educativo

emerge com características potenciais para atender as demandas por disciplina, por área de

ensino e também, no caso da educação inclusiva, que contemple especificidades. No entanto,

a sua utilização adequada requer aprendizagens.

Como profissional da educação que tem sua primeira formação em Sistemas de

Informação e que está em fase de conclusão do curso de Pedagogia, bem como, estando à

frente da coordenação pedagógica da Informática Educativa em uma secretária de educação,

percebo a necessidade constante da formação continuada dos profissionais que lidam

diariamente com esses sujeitos e com essa gama de instrumentos que compreendem a ideia de

tecnologia assistiva. Assim, para que de fato aconteça o processo de inclusão preconizado em

lei e em muitos discursos é preciso que os profissionais sejam capacitados em seus lócus de

trabalho.

Contudo, salienta-se grande necessidade das políticas públicas cumprirem com seu

dever, a sociedade e os profissionais da área com seus papéis de cidadãos, pois boa parte

desse público ainda espera serem incluídos socialmente ganhando qualidade de vida,

independência e autonomia.

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