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    Representaes sociais de lei, justia e injustia: uma pesquisa comjovens argentinos e brasileiros utilizando a tcnica de evocao

    livre de palavras1

    Alessandra de Morais Shimizu

    Maria Suzana De Stefano MeninUniversidade Estadual Paulista, Presidente Prudente

    Resumo

    Este estudo teve como objetivo analisar as principais representaes sociais de lei, justia e injustia apresen-

    tadas por jovens argentinos e brasileiros. O grupo de brasileiros constituiu-se de 621 pesquisandos, de trsregies distintas: Floriano/PI, Erechim/RS e Marlia/SP. Da Argentina, participaram 200 jovens da cidade deAvellaneda (regio metropolitana de Buenos Aires). Os grupos foram proporcionalmente divididos conformeo tipo de escola (pblica e particular) e o ano escolar freqentado (8oano do Ensino Fundamental e 3oano doEnsino Mdio, considerando-se os graus equivalentes na Argentina). O instrumento de coleta de dadosconstituiu-se de um questionrio semidirigido, composto pela tcnica de evocao livre de palavras. Oprocedimento utilizado para a avaliao dos resultados foi a Anlise de Correspondncia (ANACOR). Osresultados demonstraram variaes importantes relacionadas nacionalidade dos jovens e foram discutidosde forma a contextualizarem-se as representaes apresentadas.

    Palavras-chave: teoria das representaes sociais; evocao livre de palavras; lei; justia.

    Abstract

    Social representations of law, justice and injustice: a research with Argentinean and Brazilian youngstersusing the free evocation of words technique. This study aims to analyze the main social representations oflaw, justice and injustice presented by Argentinean and Brazilian youngsters. The Brazilian group consistedof 621 polled of three different regions: Floriano/PI, Erechim/RS and Marlia/SP. From Argentina, 200youngsters of Avellaneda city (Buenos Aires metropolitan region) participated. The groups were proportionallydivided according to the kind of school (public or private) and the school year attended (8 thgrade and 11th

    grade, considering the equivalent grade in Argentina). The data collection technique consisted of semi directedquestionnaire composed by the free evocation of words technique. The procedure used to evaluate the resultswas the Correspondence Analysis (ANACOR). The results demonstrated important variations related to theyoungsters nationality and they were discussed so that the presented representations were contextualized.

    Keywords: social representations theory; free evocation of words; law; justice.

    Este estudo teve como objetivo pesquisar as associa-es realizadas por jovens argentinos e brasileiros emrelao s palavras lei, justia e injustia, a fim deanalis-las segundo a Teoria das Representaes Sociais.

    Atualmente a Teoria das Representaes Sociais temocupado um espao importante no meio cientfico, sendomuito utilizada para a interpretao dos fenmenos sociais.A noo de representao social foi introduzida na Psicolo-gia Social pelo francs Serge Moscovici em 1961, com a obraA Psicanlise, sua imagem e seu pblico.

    Ao pesquisar como se dava a implantao da Psicanlisena vida cotidiana da populao parisiense no final da dcada

    de 50, passando do domnio acadmico para o senso comum,Moscovici (1978) comprovou que uma teoria cientfica podeestar mais prxima dos indivduos do que se imagina. A partirdessa proximidade encontrada entre a cincia e os indivduos,o pesquisador pressups o potencial de uma abordagem cien-tfica em transformar a existncia humana, no s no que tanges conseqncias objetivas de sua aplicabilidade ou influnci-as que exerce sobre outra teoria, mas principalmente pela apro-priao que os indivduos dela fazem, transportando-a para o

    universo das relaes sociais, dentro do qual passa a fazerparte integrante das falas, gestos, costumes, emoes e pen-samentos de cada indivduo e, ao mesmo tempo, de todos.

    Estudos de Psicologia 2004, 9(2), 239-247

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    As representaes sociais so concebidas por Moscovici(1978) como fenmenos psicossociolgicos, podendo serexplicadas com base em implicaes no s psicolgicas comotambm sociais e ideolgicas, o que as integra ao contexto

    das determinaes histricas e culturais. A cultura, as trocassimblicas, o processo de construo e reconstruo do co-tidiano, conduzem cada indivduo organizao de uma rea-lidade que tem como base um imaginrio coletivo, diverso emcada tempo e espao, que se transforma em um imaginrioindividual - sem deixar, no entanto, de ser uma expresso doque coletivo.

    Esse imaginrio constitui-se em um conhecimentoconstrudo que ir reger a forma como os indivduos repre-sentam o mundo e conduzem suas aes. Cada indivduoconstri e utiliza uma representao social de um objetopossivelmente relacionada com o grupo social ao qual ele

    pertence. Isso leva a crer que as representaes sociais sediferenciem conforme os conjuntos sociais dentro dos quaiselas se elaboram.

    A partir da teoria de Moscovici (1978), novas reas deinvestigao e diferentes maneiras de se conceber a elabora-o das representaes sociais tm sido desenvolvidas.

    Considerando-se nosso especial interesse em avaliar opapel que os fatores scio-culturais possam exercer sobre aformao das representaes sociais de lei, justia e injusti-a, continuaremos nossos estudos aprofundando-nos emrelao proposta terica apresentada por Doise (1990; 1993),uma vez que esse autor aborda mais especificamente a di-menso das condies de produo e circulao das repre-sentaes sociais.

    A noo de representao social

    segundo Willem Doise

    Segundo Doise (1990; 1993), um dos principais fatoresdeterminantes na formao das representaes sociais aposio ou insero social dos indivduos e grupos. Basea-do nesse entrelaamento entre as dinmicas relacionais e asrepresentativas, define as representaes sociais como prin-cpios geradores de tomadas de posio ligados s inseresespecficas em um conjunto de relaes sociais, e que organi-

    zam os processos simblicos intervenientes nessas relaes(Doise, 1986, p.85).

    Em sua obra, Lgicas sociais no raciocnio (1993), opesquisador procura demonstrar como os modelos cognitivosno conceituam explicitamente a interveno das dinmicassociais, devido ao fato de serem insuficientes na explicaoda atividade de raciocnio do indivduo. Assim, prope-se aestudar as condies sociais que intervm diretamente noraciocnio sobre os diferentes aspectos da realidade social.

    Doise (1993) privilegia a interveno das dinmicas soci-ais, assim como a de natureza cultural, nas atividadescognitivas de raciocnio. Com esse propsito, afirma que po-

    dem ser realizados quatro diferentes nveis explicativos naPsicologia Social: (1) nvel intrapessoal, no qual focalizadaapenas a maneira como o indivduo organiza sua experincia

    no ambiente, no oferecendo explicaes sociais e/ou a res-peito da interao do indivduo com o meio em que est inse-rido; (2) nvel interpessoal e situacional, que tem como prin-cpios explicativos tpicos os sistemas de interao, uma vez

    que os indivduos so considerados como intercambiveis eas operaes cognitivas so estudadas por coordenaesinterindividuais ou mediante a confrontao de diferentesperspectivas; (3) nvel posicional, que leva em conta as maisdiversas posies que os diferentes atores sociais ocupamno emaranhado das relaes sociais caractersticas de umasociedade; e (4) nvel ideolgico, que enfoca os sistemas decrenas, representao, avaliaes e normas sociais que todasociedade desenvolve para fins de validao e manutenoda ordem social estabelecida. Ainda segundo Doise (1993),so as produes culturais e ideolgicas caractersticas deuma sociedade ou de certos grupos particulares que do sig-

    nificado aos comportamentos individuais e criam ou mantmas diferenciaes sociais em nome de princpios gerais.Essa distino entre os quatro nveis, no entanto, no

    deve ter somente objetivos classificatrios, mas deve, sobre-tudo, servir para um trabalho articulado de anlise.

    J existem alguns trabalhos, nacionais e internacionais,guiados pelas representaes sociais, que investigam temascomuns nossa pesquisa. Dentre os pesquisadores interna-cionais, podem-se destacar os prprios estudos de Doise eoutros (Doise & Clmence, 1996; Doise, Clmence, De Rosa,& Gonzalez, 1995; Doise, Dell Ambragio, & Spini, 1991; Doise& Herrera, 1994), os quais procuram explorar e entender oslimites da universalidade dos direitos humanos e de suasrepresentaes sociais em relao a diversidades culturais econtextos sociais especficos; a investigao de Pierre-Puysegur e Corroyer (1987) a respeito das representaessociais do sistema penal em crianas francesas; o estudo deEmler e Ohana (1992) sobre as representaes sociais de cri-anas em relao a situaes de danos ou prejuzos intencio-nais e, finalmente, a pesquisa de Halman (1995) sobre os sis-temas de valores e a orientao moral de jovens e adultos dediferentes pases, na qual o autor procurou analisar o efeitodos sistemas polticos e econmicos e a incidncia da idade eeducao sobre os valores morais.

    Entre os estudos brasileiros, pode-se apontar a pesquisa

    de Camino, Moraes, Pereira e Cruz (2000) sobre as represen-taes de jovens universitrios em relao a duas proposi-es da Declarao Universal dos Direitos Humanos: a pri-meira, proclamada pelo Artigo 1o, que discorre sobre o direitofundamental de liberdade e igualdade entre os homens, e asegunda, referente ao Artigo 29, sobre o dever de respeitaros direitos dos outros; os estudos sobre justia orientadospor Assmar (2000), que buscam avaliar de forma mais comple-ta o fenmeno em questo, procurando identificar os nveisde anlise propostos por Doise (intraindividual, interpessoal,posicional e ideolgico); e a pesquisa de Menin (2001) sobreas representaes sociais de lei, crime e injustia, realizada

    com adolescentes de diferentes nveis socioeconmicos, dacidade de Presidente Prudente, So Paulo. esse mesmo ca-minho que procuramos seguir em nosso trabalho.

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    Mtodo

    Participantes

    Os participantes da pesquisa foram 621 jovens brasilei-ros e 200 jovens argentinos.

    O grupo brasileiro foi distribudo conforme a regio deprocedncia, o tipo de escola (pblica e particular) e o anoescolar freqentado, da seguinte maneira: (a) 241 jovens deErechim (RS), sendo 58 do 8o ano do Ensino Fundamentalde escola pblica, 63 do 8oano do Ensino Fundamental deescola privada, 59 do 3o ano do Ensino Mdio de escolapblica e 61 do 3oano do Ensino Mdio de escola privada;(b) 209 jovens de Floriano (PI), sendo 54 do 8oano do Ensi-no Fundamental de escola pblica, 54 do 8o ano do EnsinoFundamental de escola privada, 54 do 3o ano do EnsinoMdio de escola pblica e 47 do 3oano do Ensino Mdio de

    escola privada; e (c) 171 jovens de Marlia (SP), sendo 50 do8o ano do Ensino Fundamental de escola pblica, 41 do 8o

    ano do Ensino Fundamental de escola privada, 52 do 3oanodo Ensino Mdio de escola pblica e 28 do 3oano do EnsinoMdio de escola privada.

    Os 200 participantes argentinos, provenientes deAvellaneda, regio metropolitana de Buenos Aires, foramigualmente distribudos conforme o tipo de escola (pblica eparticular) e o ano escolar freqentado, da seguinte maneira:50 alunos do 9ograu do Ensino Primrio de escola pblica, 50do 9o grau do Ensino Primrio de escola privada, 50 do 13o

    grau do Ensino Secundrio de escola pblica e 50 do 13ograu

    do Ensino Secundrio de escola pblica.Descreveremos as principais caractersticas dos partici-pantes de forma sucinta e geral, pautadas em resultados nu-mricos e testes estatsticos que no sero apresentadosneste artigo para que no o estendamos em demasia.

    Em relao faixa etria dos jovens brasileiros e argenti-nos, encontramos em ambos os grupos duas faixas predomi-nantes, de 13 a 14 anos e de 16 a 17 anos, marcadas pelosanos escolares que os jovens freqentavam (respectivamen-te 8oano do Ensino Fundamental e 3oano do Ensino Mdio).No que diz respeito ao sexo dos participantes, observamosuma distribuio mais proporcional entre indivduos masculi-nos e femininos no grupo argentino; enquanto neste a distri-buio foi quase precisamente equivalente (apresentando umadiferena de apenas 0,5% mais homens do que mulheres), nogrupo brasileiro essa diferena foi de 21% (mais mulheres doque homens).

    No que tange preferncia religiosa, observamos que amaioria dos brasileiros e argentinos se designa catlica; noentanto, muito maior o nmero de catlicos no-praticantesentre os argentinos que entre os brasileiros. Alm disso, en-contramos um nmero significativamente maior de jovens semreligio no grupo argentino.

    Comparando o status socioeconmico dos dois grupos,verificamos, mediante significncia comprovada pelo teste

    qui-quadrado (p= 0,01), que os jovens argentinos apresen-tam um melhor nvel socioeconmico que os brasileiros, de-vido a uma maior escolarizao e melhor posicionamento pro-

    fissional dos pais (no podemos nos esquecer do perodo emque esta pesquisa foi realizada na Argentina: outubro e no-vembro de 2001, fase em que a crise econmica Argentinainiciava sua intensificao). Alm disso, constatamos que o

    grupo brasileiro economicamente mais heterogneo que oargentino, uma vez que sua desigualdade de nvel de escola-ridade e status profissional entre os pais de participantes deescolas pblicas e os de escolas particulares bem maior.

    Coleta e anlise dos dados: a tcnica

    de evocao livre

    O instrumento de pesquisa que descreveremos a seguirfoi aplicado aos jovens em sala de aula. As aplicaes foramautorizadas formalmente pela direo de cada escola partici-pante e consentidas livremente pelos pesquisados. Tanto osobjetivos deste estudo como sua relevncia social foram

    explicitados previamente. Foi assegurada tambm, a cadaparticipante, a no divulgao, sob quaisquer circunstnci-as, de sua identidade para outras pessoas ou entidades. Acoleta de dados foi realizada, no Brasil, no decorrer do ano de2000 e, na Argentina, nos meses de outubro e novembro de2001. O instrumento de coleta de dados utilizado foi um ques-tionrio semi-dirigido construdo com base na Teoria dasRepresentaes Sociais. Entre outras questes - s quais nonos reportaremos no presente artigo -, abordaram-se as prin-cipais representaes dos indivduos frente s palavras-est-mulo: lei, justia e injustia. Utilizou-se, para esse fim, a tc-nica da evocao livre de palavras, que consiste na apresen-

    tao de uma palavra-estmulo ao respondente para que ele,por meio da associao livre, designasse o objeto apresenta-do. Com base em Zonta (1997), solicitamos aos participantesda pesquisa que respondessem quatro palavras para cadauma das trs palavras-tema eliciadoras.

    O procedimento utilizado para a anlise dos dadoscoletados pela tcnica de evocao livre de palavras foi fun-damentado em Zonta (1997). Inicialmente digitamos as qua-tro palavras evocadas por cada participante aps a apresen-tao de cada palavra-estmulo, em um editor de texto emformato texto simples (txt). Em seguida, processamos osarquivos prontos - um arquivo de cada pas de origem e paracada palavra-estmulo - no software francs SPADT (SystmePortable pour lAnalyse des Donns Textuelles) e obtive-mos, para cada um deles, duas listagens de distribuio daspalavras evocadas: uma por ordem alfabtica e outra por or-dem de freqncia. Com base nessas listagens, efetuamos ahomogeneizao das palavras sinnimas, substituindo as demenor ocorrncia pelas de maior ocorrncia. Nesse trabalho,procuramos ser o mais cautelosas possvel, a fim de semprepreservar o sentido representacional da palavra substituda.

    Depois de realizada a homogeneizao das palavras, pro-cessamos novamente os arquivos no SPADT e obtivemos aslistagens finais das palavras evocadas por ordem de freqn-cia. Selecionamos ento as palavras mais citadas, seguindo

    como critrio uma porcentagem mnima de 2% em relao aogrupo total - no grupo brasileiro a incidncia mnima foi detreze para cada palavra, e no argentino, de quatro.

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    Entre os vocbulos evocados selecionamos, para todasas palavras-estmulo, os dez mais freqentes para que fos-sem, ento, analisados por Anlise de Correspondncia(ANACOR). Em seguida, transformamos os arquivos de tex-

    to simples (txt) em arquivos do software SPSS (StatisticalPackage for the Social Sciences) e cruzamos as dez palavrasmais freqentes geradas por cada palavra-estmulo com elasmesmas, construindo um banco de dados indicativo das fre-qncias dos cruzamentos entre os vocbulos. Por exemplo:consideremos que no arquivo relativo palavra-estmulo lei,do grupo brasileiro, o cruzamento da palavra dever com apalavra ordemfoi de 30 vezes. Isso significa que entre os 621jovens brasileiros entrevistados, 30 deles associaram a pala-vra-estmulo lei com ambas as palavras dever e ordem.

    Aps registrarmos as freqncias desses cruzamentos,construmos um novo banco de dados que, depois de ser

    processado no SPSS, resultou em uma matriz simtrica relati-va freqncia dos cruzamentos de todas as palavrasevocadas com elas mesmas. Conforme Zonta (1997), essamatriz demonstrativa do grau de relao de cada uma dasnove palavras mais freqentes com elas mesmas - foram novee no dez, porque uma das regras estatsticas do procedimen-to ANACOR a eliminao do ltimo vocbulo, para a cons-truo da matriz simtrica. Essa matriz indica, assim, a proxi-midade do espao semntico destas palavras, de forma queos vocbulos com maior ocorrncia de associao entre sidevem ser concebidas como sendo prximas no que diz res-peito s suas correspondncias semnticas em relao pa-lavra-estmulo. No entanto, Zonta (1997) esclarece que, em-bora as freqncias desses cruzamentos possam revelar con-tedos representacionais, no so suficientes para analisa-rem-se seus perfis no conjunto dos participantes de cadagrupo estudado.

    Com base nisso, continuamos o procedimento elevandoao quadrado os resultados dessa matriz simtrica para queobtivssemos uma matriz euclidiana possibilitando ento aanlise dos dados de todas as palavras cruzadas, mesmo

    quando o resultado do cruzamento de determinada palavracom outra fosse igual a zero.

    Dessa forma, foi-nos possvel construir, para cada pala-vra-estmulo, um grfico scatterplot demonstrativo dos re-sultados dos cruzamentos das palavras. Conforme Zonta(1997), por meio desse grfico possvel analisar o espaosemntico do campo representacional de cada populao es-tudada em relao palavra-estmulo apresentada. A posi-o central do grfico corresponde palavra-estmulo, ouseja, esta se localiza no cruzamento do eixo da abscissa (X)com o eixo da ordenada (Y) sobre o ponto zero (em 0; 0),indicado em nosso estudo por um asterisco (*). Quanto mais

    prxima do centro se localiza uma palavra associada, maisfreqente a associao desta com a palavra-estmulo. possvel, ento, considerar-se sua representao como maisconsistente, assim como se indicarem os possveis sentidoscircunscritos nas relaes que se apresentam.

    Resultados

    Associaes dos jovens brasileiros e argentinos s

    palavras: lei, Justia e InjustiaIniciando a anlise das associaes dos jovens, verifica-

    mos na Figura 1, referente s associaes dos jovens brasilei-ros palavra lei, um agrupamento, na parte central do grfico,constitudo pelos vocbulos importante, ordem, obrigao,respeito, cumprir e dever. Logo acima deste subgrupo est ovocbulo regrae, abaixo,justia. No quadrante direito superiordo grfico localiza-se a palavra injustiae no inferior, justia.

    Figura 1. Grfico de ANACOR demonstrativo do campo representacional de respondentesbrasileiros e argentinos em relao palavra-estmulo lei.

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    Esses dados sugerem que, para os jovens brasileiros, alei muito importante, sendo necessria para o estabeleci-mento da ordemsocial. tambm uma obrigao edever detodos que ela seja respeitada e cumprida. Associado pala-

    vr a ordem est o vocbulo regras, o que indica seupertencimento, tambm, a esse mesmo camporepresentacional. Alm disso, a lei aplicada pela justia -quando consideramos esta palavra no sentido institucional.No entanto, apesar de s vezes a lei fazer justia, quando acompreendemos em seu carter moral tambm capaz de pro-vocar injustias.

    Em relao ao grupo argentino observamos, no centrodo grfico da Figura 1, a formao de um primeiro subgrupo,formado pelas palavras justia e obrigao. Logo abaixo, ebem prximo deste subgrupo, est o agrupamento das pala-vras regra, cumprir, ordem e respeito. Acima do subgrupocentral encontramos os vocbulos

    constituio e

    direito.

    Dispersa em relao s demais palavras do grfico, localiza-se corrupo (quadrante direito superior). Assim, para osjovens argentinos, a lei uma obrigao da justia, no sen-tido institucional, e tem a obrigaode fazer justia, no sen-tido moral. So regrasque devem ser cumpridas e respeita-das para a conservao e a preservao da estabilidade daordem social. , tambm, um direito constitucionalde todos,garantindo, por meio da constituio, que todos tenham osseus direitos preservados. No entanto, essa lei, que tem aobrigao de fazer justia, e que um direito constitucio-nal , est associada corrupo, porm de forma no toconsensual.

    Em relao s associaes palavra justia realizadaspelos jovens brasileiros, conforme possvel verificar-se nogrfico da Figura 2, as palavras direito e leiesto posicionadasbem prximas ao eixo central possuindo, portanto, maior for-

    a representacional. Mais acima se encontram as palavrasrespeito e igualdade. No quadrante superior direito locali-zam-se os vocbulos desigualdade e fal ta. No quadranteinferior do grfico esto as palavrasjulgamento, relativamente

    prxima ao subgrupo posicionado no eixo central, certo edepois necessria, posicionadas de forma mais dispersa queas demais.

    Como se pode visualizar nessa figura, para osrespondentes brasileiros a justia , sobretudo, um direitoque deve ser garantido pela lei. O julgamento representa aforma institucional mediante a qual ela cumpre seu papel. Eladeve fazer o que certo e, portanto, necessria. A justiatambm est relacionada com respeito e igualdade; porm,no existe um consenso em relao ao que essas duas pala-vras representam, visto encontrarem-se um pouco mais afas-tadas do centro do grfico - o que sugere no estarem tofortemente associadas s palavras

    direito e

    lei,apesar de

    existir uma correspondncia entre elas.Com base nisso, podemos sugerir que essa representa-

    o possui dois sentidos. O primeiro o de que a justia,enquanto instituio, deveria garantir pela lei o respeito igualdade dedireitos. Alm disso, fazer justia implica, nosentido moral, respeitar e tratar todos com igualdade. Dequalquer forma, no primeiro ou no segundo sentido que se d justia, nem sempre ela garantida, visto que, mesmo noto consensualmente, mas pertencendo a esse camporepresentacional, esto no quadrante direito superior do gr-fico, e prximas entre si, as palavras falta e desigualdade.

    Para os argentinos, no entanto, como se pode observar

    na Figura 2, a palavra justia relaciona-se estreitamente ajuiz, posicionada bem prxima ao eixo central do grfico, oque indica sua representao no sentido institucional. A justi-a tem, dessa forma, como seu maior representante o juiz,

    Figura 2. Grfico de ANACOR demonstrativo do campo representacional de respondentesbrasileiros e argentinos em relao palavra-estmulo justia.

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    que pela lei garante a igualdade de direitos (palavras quecompem o subgrupo mais prximo palavra juiz). As pala-vras verdade, corretoe justo tambm esto associadas a jus-tia, posicionadas abaixo do eixo central, com uma proximida-

    de considervel deste. Observamos que os jovens evocamtambm as palavras falta e corrupo, com uma associaoimportante entre ambas.

    Em relao ao sentido dado pelo grupo brasileiro palavrainjustia, representado na Figura 3, notamos o posicionamentodas palavras desigualdade, corrupo e preconceito bem pr-ximo ao eixo central, indicando a existncia de um forte consen-so entre os jovens brasileiros de que injustia a desigualda-de , a corrupo e o preconceito. Em seguida estoposicionados, no quadrante inferior do grfico, os vocbuloscrime e pobreza que, igualmente, representam a injustia. Noquadrante superior do grfico esto os vocbulos desrespei-

    to, errado, tristeza e, mais distante, realidade.Quanto s associaes do grupo argentino em relao a

    essa mesma palavra-estmulo (ainda na Figura 3), notamosque no quadrante inferior do grfico temos o subgrupo daspalavras mentira, corrupo, desigualdade, imoral e crime.Para os jovens argentinos, portanto, injustia a mentira e acorrupo, que esto associadas desigualdade, ao crime e imoralidade. No quadrante superior do grfico encontram-se as palavras mal, incorreto, realidade e polticos, indican-do que a injustia faz muito mal para a sociedade e incorre-ta, estando relacionada com a realidade poltica do pas.

    Discusso

    Comparando as representaes de lei, justia e injustiaentre os grupos do Brasil e da Argentina, notamos que, devi-

    do ao fato de se tratar de estruturas simblicas organizadasem espaos semnticos, do expresso aos aspectos intrn-secos da vida cotidiana, revelando caractersticas peculiaresde seus personagens que so marcados pela histria de cadapovo, sua cultura e pelo modo de se relacionarem com a rea-lidade vivida.

    Em relao lei, constatamos que, apesar de ser comumentre os jovens de ambos os pases a representao de queesta necessria para o estabelecimento e a manuteno daordem social, os brasileiros do uma maior nfase a essa fun-o. Para estes, a lei carregada de um carter impositivo, oque se comprova, tambm, mediante a estreita relao apresen-

    tada entre as palavras ordem, obrigao, cumprire dever. Ouseja, um dever de todos que a lei seja cumprida e, assim, aordem se estabelea. Para os jovens argentinos, por sua vez,so os sistemas responsveis pela lei que tm como obrigaogarantir a justia. No entanto, a justia garantida pela lei no serestringe somente preservao da ordem e ao cumprimento erespeito s suas regras: vista em um sentido muito mais amplo, considerada um direito constitucional e, como tal, deve asse-gurar os direitos de todos, prescritos pela Constituio.

    Apesar dessas diferenas, notamos que tanto os jovensargentinos como os brasileiros possuem uma desconfianaem relao lei, vendo-a com um olhar crtico. Mas, enquanto

    Figura 3. Grfico de ANACOR demonstrativo do campo representacional de respondentesbrasileiros e argentinos em relao palavra-estmulo injustia.

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    os brasileiros expressam o resultado negativo da lei quandono cumprida adequadamente - a injustia -, os argentinosexpressam o motivo pelo qual a justia no cumpre sua obri-gao legal - a corrupo.

    Dessa maneira, enquanto os jovens brasileiros demons-tram um menor esclarecimento em relao s leis e, conse-qentemente, um maior distanciamento e uma postura maissubmissa, passiva e fatalista em relao a elas, os argentinosmostram-se mais conscientes do papel das leis na sociedade,conhecendo melhor suas atribuies, seu funcionamento eas possveis causas de seu no funcionamento.

    A justia, por sua vez, representada pelos jovens deambos os pases, sobretudo no sentido institucional, sob aidia de que o que justo o que legal, e de que a justia feita pelos representantes do sistema judicirio (juiz e julga-mento). Nesse contexto representacional, a justia concebi-

    da como um direito que garante o princpio de igualdade naaplicao da lei, e esse sentido tem uma fora representacionalmaior entre os jovens da Argentina, uma vez que, enquantoas palavras lei, direito e igualdade esto bem prximas parao grupo daquele pas, entre os brasileiros a proximidade mai-or ocorre primeiramente entre as palavras lei e direito e, emseguida, entre os vocbulos igualdade e respeito - o quecarrega a palavra igualdade de um duplo sentido, moral e/oulegal. Observamos, ento, que enquanto para os jovens bra-sileiros o direito est em ter a lei para garantir essa igualdade,seja moral ou legal, para os argentinos est explcito que ajustia deve garantir, por meio da lei, no s o direito igual-

    dade, como tambm a igualdade de direitos.Em ambos os pases tambm fica explcita, assim como

    em relao lei, a existncia de uma certa desconfiana einsatisfao em relao justia com a qual os jovens estofamiliarizados, pois falta justia. Novamente, no entanto, aforma como essa desconfiana representada pelos brasilei-ros diferente do modo como os argentinos o fazem: enquan-to os primeiros enfatizam o resultado negativo que essa faltagera (a desigualdade), os ltimos apontam o motivo pelo qualela falta (a corrupo).

    No que diz respeito palavra-estmulo injustia, verifica-mos que as representaes construdas pelos brasileiros se

    referem ao sentido social da palavra - o que, talvez, estejamais aparente em nossa sociedade. Representando-as combase no contexto da realidade social, os jovens descrevem ainjustia na forma da desigualdade, corrupo e preconcei-to e revelam as suas conseqncias: o crime e a pobreza;constrem um julgamento de valor em relao a essa realida-de ao afirmarem que errada e que um desrespeito. De-monstram sentirem-se amarrados em relao a esse contexto,ao expressarem que essa uma realidade triste.

    Os jovens argentinos, de outro modo, do maior nfases causas da injustia que s suas conseqncias: a realida-de poltica do pas, a mentira e a corrupo que levam

    desigualdade, a qual gera o crime. O julgamento de valorconstrudo em relao injustia de que ela sobretudoimoral, faz male incorreta.

    Consideraes finais

    Interpretamos as representaes encontradas nesta pes-quisa como reveladores de como os jovens investigados se

    apropriam, do sentido e redefinem as condies sociais ehistricas que marcam o contexto no qual esto inseridos.Realizaremos essas consideraes finais enfocando especi-almente a realidade brasileira, e pautados em autores quebuscam, em seus estudos, compreender alguns aspectos re-lativos ao funcionamento da nossa sociedade.

    A noo de cidadania no Brasil, segundo Da Matta (1987,1991), perdeu seu sentido poltico universal e nivelador. For-malmente, ela est inserida no iderio tico-poltico, descritonos comcios polticos como metas prioritrias dos progra-mas de partidos e plataformas eleitorais; ou ento, est pre-sente nas Constituies, as quais defendem que todos de-

    vem ser iguais perante a lei, a qual deve garantir seus direitos.Informalmente e na prtica social, no entanto, a cidadaniano vivida dessa maneira. Existe um jogo duplo na polticabrasileira, em que o discurso pblico se refere aos direitos enecessidades dos cidados do pas, de uma nao regida efundada em seus cidados; porm, o que impulsiona o cotidi-ano da sociedade uma prtica poltica que se rege pela leal-dade das relaes pessoais, desvinculada de qualquer com-promisso legal ou ideolgico. Essa realidade no passa des-percebida pela populao brasileira, que v de tudo na ativi-dade poltica, menos a tica.

    Conforme Souza (1999), a construo das leis brasilei-

    ras foi marcada por um contexto paradoxal: de um lado, foiinspirada em um projeto de instalao de um liberalismonacional e, de outro, padeceu pela ausncia de legitimidadee por sua condio de alienada em relao s necessidadesintrnsecas s experincias das relaes cotidianas. Essadistncia entre a lei e a populao resultou no s na faltade representatividade do povo na lei, como tambm no noreconhecimento da prpria elite autora da lei no cdigo for-mal. Essa lacuna entre a lei escrita e a necessidade da lei naprtica foi sendo preenchida, ento, pelas leis informais, asquais, por sua vez, poderiam dar margens a duas formasdistintas de relacionamento com a lei: uma tica, que possi-

    bilitasse maior igualdade e autonomia aos sujeitos sociais eoutra, que levaria aceitao da lei pautada em suaplausibilidade de ser ludibriada.

    No entanto, predominando a segunda forma de uso dalei informal, esta passou a ser (situao que, muitas vezes,ainda perdura em nossos dias) um privilgio da elite. Emboraos crimes ocorram nos mais diversos estratos sociais, os pos-suidores de poder econmico e poltico tm maior chance deburlar a lei e sarem inclumes. Dessa maneira, d-se a essaparcela da populao, especialmente, condies de escolherentre o uso ou no do cdigo formal, da maneira e no momen-to que melhor lhe convm e, por extenso, o acesso a privil-

    gios sociais e econmicos - os quais, entre outras regalias,podem lhes garantir o escudo da impunidade, fechando ocrculo vicioso.

    Representaes sociais: lei, justia e injustia

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    As diferentes formas de se representar a lei e se relacio-nar com ela so determinadas, portanto, pelo posicionamentosocioeconmico dos sujeitos e pela maneira como suas ne-cessidades so atendidas no contexto social.

    Jovchelovitch (2000) descreve a relao entre as esferaspblica e privada no Brasil e suas repercusses no funciona-mento contextual brasileiro. De acordo com a pesquisadora, fundamental que existam demarcaes ntidas de fronteirasentre as esferas pblica e privada e, ao mesmo tempo, umarelao dialtica essencial entre ambas, na qual se sustente apossibilidade de democracia e exerccio da cidadania. Ape-nas a existncia dessa interao pode levar os sujeitos polti-cos a utilizarem a ao e o discurso em funo da esfera davida que comum a todos, sem se voltarem apenas para inte-resses privados e intimidades.

    A mesma autora aponta, porm, a existncia de umdesequilbrio entre a vida pblica e a privada, no qual seperdeu parte fundamental da vida do indivduo fora do crcu-lo familiar, o que torna os outros seres humanos estranhos ouameaadores. Dessa forma, o silncio substituiu a conversa ea observao tomou o lugar da participao como nica ma-neira pela qual se experiencia a vida pblica; ao mundo pbli-co sobrepe-se a prioridade de um psiquismo privado queconduz degenerao do indivduo e da sociedade.

    Em pesquisa sobre as representaes dos brasileirossobre a vida pblica, Jovchelovitch (2000) constatou que seuprincipal aspecto a corrupo. Essas representaes, se-gundo a autora, baseiam-se nos eventos que tm marcado avida poltica do Brasil, tanto no decorrer de nossa histria

    como nos tempos atuais. A anlise desses eventos, portan-to, pode levar compreenso dos mitos, afetos e imagensque constituem essas representaes. O brasileiro cr que apoltica uma realidade que foge do controle do cidado,resultando, assim, em uma vida poltica privada do povo eum povo privado de representantes na vida poltica (p. 129).

    Com base nessa experincia vivida e ouvida, os brasilei-ros acabam por conceber a corrupo como uma realidadeimutvel, devido relao entre poderosos e sem poder:em contrapartida onipotncia dos poderosos, resta a im-potncia dos sem poder. Esta conduz ao fatalismo e, curio-samente, a que se evite a autonomia.

    Jovchelovicth (2000) acredita que, em meio sua heran-a social e poltica, o Brasil ainda no foi competente o sufici-ente para desenvolver uma esfera pblica sem limitaes.Assim, nega ao seu povo o direito cidadania, uma vez queest longe da realidade brasileira o reconhecimento da exis-tncia de um espao pblico em que haja a garantia de umestado de direito, declarado em uma constituio e funcio-nando plenamente nas instituies sociais. Ainda formamosuma sociedade autoritria, na qual os direitos de poucos com-pem a carncia de muitos; a lei no capaz de exercer suafuno de proteger os direitos dos cidados e a cidadaniaecoa como uma noo mais abstrata do que real.

    O abismo existente entre um cdigo constitucional expl-cito e escrito e um cdigo de prticas implcito demonstra oquo insalubre se torna uma fuso entre o que pessoal e oque pblico. No Brasil, o que pblico questo pessoal,

    como produto de uma teia de relaes que terminam por cons-truir uma ordem pblica em que preponderam os interessespessoais e a ambivalncia das leis, feitas por pessoas a quemelas nunca se aplicam.

    As reflexes dos pesquisadores aos quais nos referimosacima, em relao realidade social brasileira, no scontextualizam social e historicamente as representaes apre-sentadas pelos jovens brasileiros averiguadas por nossa pes-quisa, explicando em que condies foram erigidas, comotambm fazem referncia aos tipos de estratgia de que osmesmos jovens tm de lanar mo para sobreviverem dianteda realidade de nosso pas, ou seja, frente a essa grande ruaque se chama Brasil.

    Como afirmamos anteriormente, ao compararmos os jo-vens brasileiros com os argentinos, estes ltimos demons-tram estarem mais prximos dos aparatos legais, apresentan-do um melhor esclarecimento em relao a eles, assim comoum poder de ao mais efetiva na esfera pblica.

    Entre os brasileiros, essa forma de relacionamento com alei e a justia vivenciada de forma muito semelhante emrelao maneira como so representadas: so restries quedevem ser cumpridas, pois se no o forem levam a conseq-ncias ruins para o indivduo. No afirmamos que os argenti-nos no estejam sujeitos a essas mesmas restries; apenasque, entre eles, estas no ocupam um espao maior na expe-rincia cotidiana. Os resultados indicam que na vida dessesjovens h espao para a existncia de outros aspectos relati-vos a essas instncias, entre eles uma maior conscincia dosdireitos que possuem e, quem sabe, at da possibilidade de

    realizarem reivindicaes, nas diversas instncias da vida. interessante notar que, diante da atual crise econmica ar-gentina, a populao no deixou de evidenciar sua capacida-de reivindicatria - o que fez por meio dos inmerospanelaos (manifestaes organizadas ou realizadas pelaoposio poltica e por pessoas de diferentes estratossocioeconmicos em protesto contra o governo) que resulta-ram na renncia do presidente da repblica e na rpidaalternncia, no governo, de vrios outros presidentes e alia-dos polticos.

    Parece que para os jovens brasileiros a busca da autonomiaainda mais plausvel predominantemente no mbito privado.

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    Representaes sociais: lei, justia e injustia

    Nota1 Pesquisa financiada pela Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo.

    Alessandra de Morais Shimizu, doutora em Educao pela Universidade Estadual Paulista, Campus deMarlia, SP, bolsista Prodoc junto ao Programa de Ps-Graduao em Educao, Universidade EstadualPaulista, Campus de Presidente Prudente, SP. E-mail: [email protected] Suzana de Stefano Menin, doutora em Psicologia do Escolar pela Universidade de So Paulo, livre-docente em Psicologia da Educao e do Desenvolvimento e Coordenadora do Programa de Ps-Graduaoem Educao, Universidade Estadual Paulista, Campus de Presidente Prudente, SP. Endereo para correspon-dncia: Rua Jos Freire Sobrinho, 409 (Bairro Jequitib); Marlia, SP; CEP 17514-014. E-mail:[email protected] ou [email protected]

    Recebido em 06.nov.02Revisado em 17.fev.04

    Aceito em 23.jul.04