Tecido Urbano Final - Candido Malta Campos Filho · O Tecido Urbano da Cuaso 1 ... 13 – Ofícinas...

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O Tecido Urbano da Cuaso 1 Texto preparado pelo Professor da FAUUSP Arquiteto e Urbanista Candido Malta Campos Filho Outubro 2001 Introdução: O sentido principal próprio da idéia da criação de uma Cidade Universitária transcende objetivos práticos da facilitação administrativa para adentrar o papel fundamental de uma Universidade: o da produção de um conhecimento especial. O conhecimento humanista, que vai muito além da soma e justaposição do conhecimento parcelar. Assim entendida a missão da Universidade, a sua organização física conforme foi se constituindo ao longo de sua história, deve ser examinada sob a ótica do atendimento dessa sua finalidade maior. A idéia de “Cidade Universitária” pode ser examinada a luz de dois enfoques: o de um ente auto- suficiente enquanto oferta de serviços de apoio inclusive de habitação, comércio e serviços para produtores desse conhecimento e o de uma entidade que se utiliza da cidade a sua volta e que se concentra na idéia de cidade enquanto centralidade, enquanto espaço de vivência humana de alta qualidade, socialmente considerada. Avaliar as condições para a transmutação possível de uma Cidade Universitária como ente autônomo para o de uma centralidade altamente qualificada, como parte do processo histórico de desenvolvimento metropolitano da Cidade de São Paulo em sua estruturação urbana, é uma das questões que influenciam as formas da articulação da CUASO ao seu entorno urbano e também com relação a sua organização interna. Avaliar as transformações internas através das diretrizes assumidas por seus Planos Diretores dos quais resultou a sua atual condição, o que podemos denominar de tecido urbano, a luz daquela que destacamos como sua principal missão, qual seja a produção de um conhecimento humanista, científico e filosófico, é outra dimensão do trabalho ao qual nos propomos contribuir. Destaca-se a extraordinária visão dos que nos antecederam ao estabelescer ao longo do tempo, uma inteligente porque interligante, proximidade espacial de áreas afins do conhecimento. Desenvolvê-la ao seu limite de integração possível, nos parece ser o desafio maior na escala da tessitura interna do Campus. Extrair dessas avaliações algumas diretrizes preliminares para uma atualização e revisão do planejamento que vem sendo seguido, que correspondem as recomendações que propomos a luz do estado atual dos trabalhos, que estão em andamento, termina o texto por nós ora apresentado. O Papel do Campus na criação da Universidade de São Paulo A busca de integração maior entre as varias áreas do conhecimento depende fundamentalmente de uma busca de convergência do conhecimento, um ideal humanista. Se os muitos filósofos e cientistas parecem buscar esses caminhos não há como não reconhecer que a compartimentação crescente das ciências em disciplinas e suas aplicações técnicas segue paralelamente seu curso. A decisão dos fundadores da Universidade de São Paulo dentre os quais destaco meu tio-avô Ernesto de Souza Campos, de implantarem um Campus que reunisse instituições até então dispersas pela Cidade de São Paulo, entendo que corresponde a busca maior desse ideal de um conhecimento integrando áreas, mais completo, científico para alguns, filosófico para outros e poderiamos afirmar, acredito que sem muitas discordâncias, humanistas. Assim Ernesto de Souza Campos em seu livro Universidades: Cidades Universitarias (1) em seu capituloV quando discute as razões de uma centralização das faculdades e institutos até então dispersos pela Cidade de São Paulo, afirma: Centralização Universitária Quais as razões da centralização? Em breve esfôrço nos propomos a enumerá-las. 1 – Exercício real e eficiente das funções da reitoria que assim terá sob suas vistas imediatas todo o conjunto universitário. 2 - Centralização de departamentos ou institutos idênticos ou afins de acôrdo com as conveniências didáticas, pedagógicas e econômicas. 3 – Intercâmbio de material científico didático ou de pesquisa. 4 – Realização de seminários comuns em casos de disciplinas idênticas ou afins. 5 – Articulação da Faculdade de Filosofia com as outras Faculdades e Escolas, suas respectivas secções entrozando-se com as demais em um sistema eficiente e econômico. 6 – Centralização bibliográfica em biblioteca comum que reúna as revistas e periódicos técnicos e científicos para uso de todas. Tais publicacões não serão assinadas em duplicata. O mesmo ocorrerá com as grandes enciclopédias e obras clássicas e raras. As Faculdades e escolas (1) Souza Campos Ernesto; Universidades. Cidades Universidades, Imprensa da Universidade de São Paulo, 1946.

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Texto preparado pelo Professor da FAUUSP Arquiteto e Urbanista Candido Malta Campos Filho Outubro 2001 Introdução: O sentido principal próprio da idéia da criação de uma Cidade Universitária transcende objetivos práticos da facilitação administrativa para adentrar o papel fundamental de uma Universidade: o da produção de um conhecimento especial. O conhecimento humanista, que vai muito além da soma e justaposição do conhecimento parcelar.

Assim entendida a missão da Universidade, a sua organização física conforme foi se constituindo ao longo de sua história, deve ser examinada sob a ótica do atendimento dessa sua finalidade maior. A idéia de “Cidade Universitária” pode ser examinada a luz de dois enfoques: o de um ente auto-suficiente enquanto oferta de serviços de apoio inclusive de habitação, comércio e serviços para produtores desse conhecimento e o de uma entidade que se utiliza da cidade a sua volta e que se concentra na idéia de cidade enquanto centralidade, enquanto espaço de vivência humana de alta qualidade, socialmente considerada. Avaliar as condições para a transmutação possível de uma Cidade Universitária como ente autônomo para o de uma centralidade altamente qualificada, como parte do processo histórico de desenvolvimento metropolitano da Cidade de São Paulo em sua estruturação urbana, é uma das questões que influenciam as formas da articulação da CUASO ao seu entorno urbano e também com relação a sua organização interna. Avaliar as transformações internas através das diretrizes assumidas por seus Planos Diretores dos quais resultou a sua atual condição, o que podemos denominar de tecido urbano, a luz daquela que destacamos como sua principal missão, qual seja a produção de um conhecimento humanista, científico e filosófico, é outra dimensão do trabalho ao qual nos propomos contribuir. Destaca-se a extraordinária visão dos que nos antecederam ao estabelescer ao longo do tempo, uma inteligente porque interligante, proximidade espacial de áreas afins do conhecimento. Desenvolvê-la ao seu limite de integração possível, nos parece ser o desafio maior na escala da tessitura interna do Campus.

Extrair dessas avaliações algumas diretrizes preliminares para uma atualização e revisão do planejamento que vem sendo seguido, que correspondem as recomendações que propomos a luz do estado atual dos trabalhos, que estão em andamento, termina o texto por nós ora apresentado.

O Papel do Campus na criação da Universidade de São Paulo A busca de integração maior entre as varias áreas do conhecimento depende fundamentalmente de uma busca de convergência do conhecimento, um ideal humanista. Se os muitos filósofos e cientistas parecem buscar esses caminhos não há como não reconhecer que a compartimentação crescente das ciências em disciplinas e suas aplicações técnicas segue paralelamente seu curso. A decisão dos fundadores da Universidade de São Paulo dentre os quais destaco meu tio-avô Ernesto de Souza Campos, de implantarem um Campus que reunisse instituições até então dispersas pela Cidade de São Paulo, entendo que corresponde a busca maior desse ideal de um conhecimento integrando áreas, mais completo, científico para alguns, filosófico para outros e poderiamos afirmar, acredito que sem muitas discordâncias, humanistas. Assim Ernesto de Souza Campos em seu livro Universidades: Cidades Universitarias(1) em seu capituloV quando discute as razões de uma centralização das faculdades e institutos até então dispersos pela Cidade de São Paulo, afirma: Centralização Universitária Quais as razões da centralização? Em breve esfôrço nos propomos a enumerá-las. 1 – Exercício real e eficiente das funções da reitoria que assim terá sob suas vistas imediatas todo o

conjunto universitário. 2 - Centralização de departamentos ou institutos idênticos ou afins de acôrdo com as conveniências

didáticas, pedagógicas e econômicas. 3 – Intercâmbio de material científico didático ou de pesquisa. 4 – Realização de seminários comuns em casos de disciplinas idênticas ou afins. 5 – Articulação da Faculdade de Filosofia com as outras Faculdades e Escolas, suas respectivas

secções entrozando-se com as demais em um sistema eficiente e econômico. 6 – Centralização bibliográfica em biblioteca comum que reúna as revistas e periódicos técnicos e

científicos para uso de todas. Tais publicacões não serão assinadas em duplicata. O mesmo ocorrerá com as grandes enciclopédias e obras clássicas e raras. As Faculdades e escolas

(1) Souza Campos Ernesto; Universidades. Cidades Universidades, Imprensa da Universidade de São Paulo, 1946.

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conservarão apenas os livros didáticos especializados em pequenas bibliotecas ou nos seus diversos departamentos: bibliotecas escolares e departamentais.

7 – Centralização dos esportes em campos de atletismo que obedeça as normas internacionais. Um único campo de atletismo, completo, servirá a todas as escolas grupadas em Universidade.

8 – Centralização burocrática de muitos serviços idênticos como os de matrícula, etc. 9 – Formação de centros comuns de recreio e cultural geral. 10- Instituição de certos centros que, servindo ao público em geral, trazem, simultâneamente, grandes

benefícios aos estudos universitários. 1- O horto botânico ou melhor um jardim botânico colocado na continuidade do “campus”, além

de sua função de educação popular, fornece material precioso e indispensável aos departamentos de botânica e terapêutica

2- Um parque zootécnico, ou melhor um jardim zoológico que fôr necessário para a cidade, prestará multiplicado serviço se estiver a cargo e ao lado da Universidade. O material alí escolhido serve aos departamentos de anatomia, de histologia normal e comparada (anatomia patológica , parasitológica, etc.). É preciso lembrar que os animais próprios da nossa fauna estão muito pouco estudados. Na frase do meu antigo mestre o eminente professor Alfonso Bovero poder-se-ía dizer que este campo de estudos está quase virgem. São tantos os problemas que há dificuldades na escolha. Não devemos deixar aos estrangeiros esta tarefa.

3- Os museus dificilmente podem ser organizados pela dificuldade de obter espécimens de custo elevado. Com a centralização universitária um bom museu de história natural, por exemplo, poderá servir de ilustração a diversos departamentos de várias escolas.

11- Criação e hospitalização de animais para demonstração e esperiências. É quase impossível trabalhar com animais adquiridos em mercados e que trazem doenças ou epizootia. Impõe-se a criação para tal fim que aliás é também econômica.

12- Formação do espírito universitário libertando alunos e ex-alunos do conceito de uma só escola como sua “alma mater”. A “alma mater” é a universidade. Alí o estudante recebe não só os ensinamentos proporcionados pela sua escola como outros que lhes vêm das possibilidades determinadas pela vizinhança e contato com outras instituições, A centralização das escolas em uma cidade universitária exige porém condições necessárias à eficiência do sistema.Em breve resumo podem ser assim enumeradas:

1 – Vias de acesso e de comunicações internas no sentido de proporcionar tráfego desafogado e de evitar o congestionamento de estudantes no trajeto diário, por motivos disciplinares. É muito conveniente uma avenida de contôrno.

2 – Bons, parques para estacionamento de viaturas, tomando em consideração uma população universitária que poderá atingir 10.000 alunos, além de mestres, auxiliares, funcionários, empregados e admitindo, ainda, que em dias de festas haverá considerável afluência de público.

3 – Sistematização dos edifícios ou zoneamento, com determinação de setores vizinhos. Teriámos assim os setores de engenharia, de belas artes, de recreação, de esportes, residencial, etc.

4 – Localização conveniente dos setores em posição central ou periférica de acôrdo com as maiores necessidades de contato com o público

5 – Orientação heliotérmica e anemoscópica das vias de comunicação e dos edifícios. 6 – Fácil acesso ao público para ingresso, em determinados dias, nos jardins botânicos e

zoológico e museu de história natural. 7 – Disposição dos setores e edifícios respectivos de modo a não ficarem muitos esparsos nem

muito concentrados. 8 – Posição da reitoria e biblioteca tão equidistante quanto possível dos outros elementos

universitários. 9 – Bom serviço de abastecimento de água, de esgotos, de luz e energia elétrica, com casa de força

para suplência. 10 – Setores de esportes e de recreio proporcionados à população universitária . 11 – Portaria geral 12 – Estação de bombeiros, polícia e correio geral 13 – Ofícinas gerais compreendendo carpitaria, marcenaria, mecânica, eletricidade, pintura,

vidraria, etc. 14 – Biotério para criação de animais de laboratório, incluindo canis, isolando esta seção de

outra em que existam animais doentes ou inoculados. 15 – Hospital e local (canis, etc.) para animais inoculados. 16 – Boa localizacão de parque zootécnico e jardim botânico atendendo a critérios técnicos e

abundância de água. 17 – Parque veterinário e hospital veterinário em fácil comunicação com respectiva escola. 18 – Preparação do conjunto sob forma de parque aprazível e de recreio. 19 – Condições adequadas para o exercício dos diversos objetivos da universidade a saber:

educação, instrução, pesquisa, rotina, expansão cultural e conservacão da ciência. É dentro dessa perspectiva que iremos buscar desenvolver nossas considerações sobre a organização do Tecido Urbano da CUASO inserida no Tecido Urbano da Cidade de São Paulo. Quando decidiram localizarem-se as margens do Rio Pinheiros na então Fazenda Butantã, a área localizava-se além da periferia urbana de então, na década de 20 do século passado (século XX). Pressupunha-se que a urbanização chegaria na década seguinte a região, de um lado impulsionada pela ação urbanizadora da Light and Power, retificando o rio e de outro, da ação da Campanhia City, que buscava urbanizar as várzeas desse rio, com projetos de um importante urbanista ingles Barry Parker, associado de Raymond Unwin, um grande teorizador da corrente urbanística das “cidades jardins”, iniciada na Inglaterra por Ebenezer Howard, na virada do século XIX para o XX, portanto há exatos 100 anos.

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O Campus nascia assim em meio da e contribuindo para, essa ação urbanística e veremos que por ela influenciada em sua interna organização. Se há 80 anos a área era um ermo rural, parte de uma fazenda, que remanesce no Instituto Butantã, seu vizinho, com suas cobras e aranhas, hoje o Campus é parte do centro expandido. O caminho para Itú que subindo a Consolação chegava ao espigão central no final da Av. Paulista, descia ao centro histórico do bairro de Pinheiros atravessava o Rio Pinheiros e passava na frente da Sede da Fazenda seguindo os rumos das atuais Av. Butantã e Av. Corifeu de Azevedo Marques. Esse caminho para Itú constituiu-se na principal via de chegada a região do Campus. Como este, ainda dessa estrada se distanciava, porque entre ela e o lado do Campus interpunha-se uma área sendo loteada pela Companhia City, tornou-se natural entrelaçar o sistema viário desse loteamento de um lado com a estrada de Itú e na outra ponta com o sistema viário do Campus. Na sequência da principal avenida do loteamento da Companhia City, paralela ao rio Pinheiros, definiu-se diretrizes da avenida que ofereceria um panorama monumental a entrada do Campus, como nos primeiros tempos se buscou imprimir, provavelmente pela impressão causada pelo Campus da Stanford University, em Palo Alto, na Califórnia, onde meu tio Ernesto esteve, ao ter sido encarregado de pesquisar a experiência norte-americana na organização dos Campi de suas principais universidades. Do outro lado do Rio Pinheiros, vis-a-vis da CUASO, a Companhia City e outras iniciativas urbanizadoras implantaram bairros jardins. Se eram como ainda hoje são suas frentes principais, pelos seus fundos, junto a Av. Corifeu de Azevedo marques, desenvolveram-se bairros de trabalhadores e também de classe média. Na sua lateral direita, ao oeste da CUASO, terrenos de grandes dimensões servidos por ramais ferroviários, foram implantados por empreendedores privados, especialmente para uso industrial. O Campus com o desenvolvimento urbano de São Paulo foi se cercando de bairros, abrigando todas as classes sociais e também empresas industriais e de serviços de grande porte, e até uma favela que invadiu uma de suas laterais, como a lembrar os universitários da USP, professores, funcionários e alunos, da existencia desse dramático problema em nossa cidade, a de moradia dos muitos pobres. O tráfego de passagem que se imaginava devesse passar ao largo do Campus, começou a nele penetrar, produzindo congestionamentos internos e nas entradas/saídas, em escala crescente. O sistema de transporte coletivo de acesso ao Campus, como em toda a cidade, foi perdendo e continua a perder gradativamente sua competição com o transporte individual. A violência urbana não apenas através do congestionamento penetra o Campus, mas também o faz através de roubos, assaltos, e até estupros. O tráfego de drogas é uma realidade dura dentro da CUASO, como o é fora dele, na cidade.

Em sua implantação gradativa da várzea para as colinas, (embora tenha tido um início nas colinas com o Instituto de Botânica, mas de pequena monta) o Campus inverteu a lógica topográfica do restante da cidade, que desceu das colinas para as várzeas. Essa abertura do Campus para a cidade se tornou problemática a medida que vem canalizando para o seu interior uma violência de tal porte que dificulta e até impede, as vezes, que ela exerça o seu papel de produtora de conhecimento. Se a universidade tem que estar aberta a realidade que a circunda, para melhor conhecê-la e até transformá-la, essa abertura não pode se dar de modo a anular essa sua missão social. Essa é uma contradição a ser enfrentada. A questão que temos que sempre monitorar e encaminhar é a de encontrarmos o grau certo dessa abertura para a cidade de modo que ela faça frutificar mais a sua produção acadêmica, e não o seu contrário, e leve ao cidadão não uspiano uma contribuição positiva na dimensão cultural. Voltando-nos para a sua organização interior, o que poderíamos denominar de seu partido urbanístico básico, podemos buscar analisá-lo a luz do que seria a missão básica da USP, a sua vocação, como a mais importante universidade brasileira, da produção de um conhecimento humanista. Assim por exemplo, uma flexibilidade escolar de matriculas que pudesse contribuir para uma melhor escolha de carreiras e para novas carreiras resultante de combinações não aleatórias de cursos de disciplinas existentes, seria melhor exercida se uma maior facilidade de acesso de uma instituição para outra, pudesse se realizar especialmente quando de áreas afins, que teriam maior demanda provável de matriculas de carreiras interdisciplinares, e para isso uma melhor organização do sistema de circulação, incluindo e talvez até previlegiando os pedestres e os ciclistas, deveria ser desenvolvida. Uma flexibilidade curricular poderia portanto contribuir para uma aproximação maior entre as diversas áreas do conhecimento que compõe a Universidade de São Paulo. Uma possibilidade maior de escolha por estudantes, especialmente aqueles que ainda não sabem bem o que querem seguir, nos anos iniciais de seus cursos, o surgimento de novas áreas de conhecimento trazendo hesitações na escolha, criaria oportunidades para os mesmos de estabelescerem pontes entre áreas de conhecimento, tanto entre as mais afins, como hoje em parte ocorre, ou não afins. Essa flexibilização curricular contribuirá para termos a possibilidade de formarmos um quadro mais amplo e flexivel de cientistas, tecnólogos e pessoas de mais ampla formação do que o quadro atual permite. Essa flexibilidade dos curriculum acadêmicos parece corresponder a uma necessidade profunda dos novos tempos que vivemos ou seja a de uma formação que garanta pontes entre áreas do conhecimento estabelecidas e com a ampliação também de novas áreas. Esse processo social, que parece positivo, pressiona para que se quebrem barreiras que confinam os saberes em setores específicos.

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Ao nível da organização física dos espaços do Campus alguma contribuição nesse sentido pode ser dada. Assim no âmbito de cada instituição um estudo do seu micro-tecido “urbano” poderá detectar dificuldades de encontro entre pessoas de sub-instituições da mesma, fruto de uma micro compartimentação. Áreas de vivência comum conectadas por caminhos lógicos e agradáveis de pedestres podem criar oportunidades de trocas de informações e experiências hoje pouco praticadas. No âmbito do Campus em seu conjunto, a análise e proposição de tecidos “urbanos” correspondentes com o mesmo objetivo acima, também propiciará a ampliação das oportunidades de integração universitária. A análise da história do desenvolvimento da organização física da CUASO nos revela quão felizes foram seus formuladores, a nosso ver, na busca dessa integração, a partir da contiguidade espacial das várias áreas do conhecimento, em termos de suas afinidades enquanto saberes diretamente relacionados.

Se a Universidade de São Paulo tem uma história que corresponde a uma agregação de unidades pre existentes em que a busca do conhecimento universal é o ponto mais importante de seu projeto constitutivo, a sua concentração por contiguidade espacial na CUASO foi presidida por uma sábia disposição em que as afinidades atuaram como campos magnéticos atrativos (figura 1 – A contiguidade espacial das áreas afins na CUASO e os tecidos urbanos existentes). Mas não apenas essa atratividade foi um criterio decisivo. A presença de uma cabeça dirigente ordenadora do todo, correspondente a instituições onde as decisões quanto as diretrizes gerais são tomadas, teria que ter o destaque espacial de modo a um sentido comum que essa busca de unidade e identidade decorrente almeja, pudesse ser percebida na própria organização espacial do campus.

Trazidas tais idéias para a Fazenda Butantã (figura 2 – A área definida para a CUASO) as margens do Rio Pinheiros retificado, eliminados os seus meandros, uma área com sua topografia própria contendo,

Figura 2 – A área definida para a CUASO

Figura 1 A Contiguidade Espacial das Áreas Afins na Cuaso e Os Tecidos Urbanos Existentes

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uma varzea com partes pantanosas envolvidas de um lado, o do sol poente, por colinas, os planejadores iniciais do Campus, logo definiram para essa varzea o centro compositivo, com o Rio formando um eixo que o atravessava. O Campus nessa versão inicial de 1935 (figura 3 – O Traçado Básico do Plano Diretor inicial do Campus, de 1935) se organizava no alto do espigão central ao longo da Av. Dr. Arnaldo, com seu centro médico, e dos dois lados do Rio Pinheiros em área não ocupada pelos loteamentos da Companhia City.

As entradas ou melhor as ligações entre os seus dois lados, as margens do Rio Pinheiros, eram previstas perpendiculares ao Rio com duas pontes, uma onde se situa a atual ponte Cidade Universitária e a outra na diretriz da atual Av. Escola Politécnica, não implantada. A partir do plano de 1945 e todos os seguintes gira-se de 90 graus tais eixos. Assim o eixo de entrada passa a ser paralelo ao Rio Pinheiros, sendo que a entrada principal na forma de uma avenida ou eixo rodoviário articulando o conjunto, é planejada não a partir do rio que não possuia ainda vias marginais implantadas, mas sim a partir de via a ele paralela, constituida pelo prolongamento da avenida principal de um loteamento tipo cidade jardim, da Companhia City, seu vizinho. Implanta-se desse modo um eixo de caráter monumental. (Figura 5 – O Traçado Básico do 2º Plano Diretor da CUASO – 1945). É curioso notar que com as modificações que

foram sendo introduzidas nos sucessivos 10 planos diretores vae aumentando a importância relativa do eixo paralelo ao rio e diminuindo aquela do eixo a ele perpendicular mas, de alguma maneira se mantém o eixo ortogonal ao Rio Pinheiros. Denominado de Eixo Administrativo Cultural no PD 1945, ganha a forma de uma larga avenida no plano de 1949, a segunda avenida em importância, só perdendo para a denominada Avenida de Ingresso. Esse é o grande eixo que aí se estabelesce, mantidas essas orientações nos PDs, de 1952 e 1954, quando sofrem no PD de 1956 uma redução de sua importância simbólica, medida essa por suas larguras, mas relativamente mantém a proporção diferencial. O eixo ortogonal ao rio nesse plano, é mantido, mas transformado em um sistema binário de avenidas, que tem no seu centro um formato, como se fosse uma quadra linear, a Faculdade de Filosófia, Ciências e Letras.

Figura 4 - Plano Diretor da CUASO 1937

Figura 3 – Traçado Básico do Plano Inicial do Campus, 1935

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Assim retorna-se a importância do eixo ortogonal mas em versão nova, na qual o desdobro da avenida larga, em duas avenidas paralelas, abre espaço para entre elas se localizarem as dependências amplas da Faculdade de Filosófia, Ciências e Letras - FFCL. O CUORE de vivência está inserido ao final da grande avenida de entrada, que é o principal eixo, paralelo ao rio, entre ela e as avenidas binárias. Esse

CUORE, constituido pelo principal centro de vivência, ficando naquele Plano Diretor ao lado da FFCL considerada como a mais importante área do conhecimento, que é como pode ser entendido o papel a ela atribuido pelos fundadores da USP, mostra a importancia desse mesmo CUORE. Essa localização do CUORE como área de vivência entre os dois eixos principais de ordenamento do Campus mostra assim a importância que a ele se deu em 1956. Em 1962 as idéias modernistas de um urbanismo que se opõe aos grandes eixos barrocos e hausmanianos, levam a querer eliminá-los e isso é buscado pela eliminação dos aspectos monumentalistas ligados a esses dois eixos, mas, verifica-se que tirar-lhes à sua monumentalidade não significou eliminá-los. De certa forma o eixo que perdeu importância foi o ortogonal ao rio, agora uma única vía e a localização da FFCL que aí se encontrava é transferida para a lateral de uma avenida (a atual Luciano Gualberto) em uma organização linear a ela paralela, que os arquitetos que projetaram os diversos edifícios em que se desdobrou, fizeram questão de lembrar, constitue o que chamaram de Eixo das Humanas.

Figura 6 - Plano Diretor da CUASO – 1949

Organograma da Universidade de São Paulo Figura 5 O Traçado Básico do 2º Plano Diretor da CUASO - 1945

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Figura 7 - Plano Diretor da CUASO – 1952 No PD de 1966 o eixo paralelo ao rio é retomado em sua importância estendendo-o de modo a adentrar a área do CUORE de vivência criando no seu interior como um grande bolsão e mantendo-se o Eixo das Humanas em seu paralelismo ao Rio Pinheiros ao longo da Avenida Luciano Gualberto, e o antigo eixo viário ortogonal é também mantido com a sua importância assegurada por ser a grande avenida perpendicular ao rio mais ou menos no centro da frente do campus para esse mesmo rio. No PD de 1971, na várzea, desenvolve-se um xadrez de um sistema viário como constituindo quadras menores com vias secundárias, mas uma segunda e uma terceira grande avenida são acrescentadas confundindo a leitura daquela que havia sido o principal eixo ordenador do campus, agora ainda presente mas sem destaque algum. Como não concordando com o desaparecimento desse eixo ordenador do conhecimento que era para ser o ensino e a pesquisa das ciências humanas, mantem-se a denominação para o seu conjunto de “Eixo das Humanas” subentendendo-se Eixo das Ciências Humanas ou “das Humanidades”, como preferem alguns. O PD de 1971 é o plano que vem sendo seguido e é esse plano que o PD de 2001, revê e atualiza. Vê-se assim que ao longo dos 10 planos diretores elaborados, ao lado das transformações ocorridas com relação a idéia de eixo ordenadores espaciais e do conhecimento, é definido ainda, como se vê pelos desenhos resumo dos partidos urbanisticos adotado, desde o PD de 1949, o posicionamento da F.F.C.L..

Figura 8 - Plano Diretor da CUASO – 1954 A sua importância simbólica é assegurada nesse plano por seu posicionamento ao final do eixo de nível 2, perpendicular ao rio Pinheiros, entendendo-se que no Plano de 1945 a importância maior estava nesse eixo perpendicular ao rio. Invertia-se assim de 1945 para 1949 a importância dos eixos e desde então o eixo paralelo ao rio tornou-se o mais importante. No Plano de 1952 é mantida a posição da F.F.C.L. no final do eixo perpendicular ao rio. Da mesma forma no Plano de 1954. No de 1956, como já afirmado, esse eixo é desdobrado em 2 paralelos, e a F.F.C.L. é inserida entre os dois. Deixa assim de existir a monumentalidade tradicional de um edifício situar-se ao final de um eixo viário com a perspectiva que essa situação espacial propicia. A importância passa a ser mais indireta quanto as linhas visuais que com o binário viário são criados mas, em compensação, o posicionamento da F.F.C.L. ganha em centralidade na várzea plana relativamente ao mais importante eixo ordenador, embora atrás do CUORE. Antes, no plano diretor de 1952 e no de 1954 a posição da F.F.C.L. era mais central em relação ao conjunto da área do Campus e articulada tal como um foco de giração em relação as áreas biológicas e as tecnológicas da engenharia, o Instituto de Eletrotécnica e a Física. É na passagem do Plano de 1954 para o de 1962 que vae se desenvolver o Eixo das Humanas, com a denominação de área das ciências políticas e sociais. E

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de se ressaltar que de um conceito de Pólo de Giração passa-se ao de Eixo, que tem o duplo sentido de criação de simetrias espaciais no seu entorno como o de organizador de áreas de conhecimento articuladas entre si

Figura 9 - Plano Diretor da CUASO – 1956 A idéia de unidade que antes era garantida pela hegemonia suposta no proprio nome de Faculdade de Filosofia Ciências e Letras, mostrando uma precedencia da Filosofia, esta como ordenadora maior dos conhecimentos, agora no seu desdobramento no que se refere às ciências humanas, visa-se buscar essa unidade mediante o conceito de instituições muito articuladas entre si por um eixo. Nos projetos de arquitetura os arquitetos encarregados dos projetos dos departamentos da FFCL enquanto Ciências Humanas e da FAU no inicio dos anos sessenta do século passado, buscou-se por uma bonita posição consensual dos seus autores, Eduardo Corona para os Departamentos de Historia e Geografia, Carlos Barjas Millan para o edificio da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, Paulo Mendes da Rocha para o edifício do Departamento de Antropólogia e Sociologia, Cadeira de Econômia Política e História das

Doutrinas Economicas, secção de Filosofia Política; João Batista Vilanova Artigas para o Edifício da FAU para um maior entrelaçamento de seus cursos criar “uma rua de convivência, estendida desde o atual edificio de História e Geografia até a Faculdade de Arquitetura, (…) unidos espacialmente por páteos e terraços”(O espaço da USP Presente e Futuro, USP, Prefeitura da Cidade Universitaria Armando Sales de Oliveira, opúsculo editado em comemoração do cinquetenário 1934-1984, p.50) O que antes era Pólo de certo modo centralizador, virou Eixo de articulação. É quando, também, se estabelesce o zoneamento que vem sendo obedecido, com a exceção das áreas da psicologia e das comunicações e artes, como mais adiante abordaremos.

. Figura 10 - Plano Diretor da CUASO – 1962

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Figura 11 - Plano Diretor da CUASO – 1966 É interessante observar também a inserção da área de economia e administração no Plano de 1971 na área da tecnologia que tinha centro na Escola Politécnica. Ela revela uma crescente relação entre essas duas áreas especialmente através do Departamento de Engenharia de Produção. Muito mais poderiamos acrescentar aprofundando tal modo de análise. Mas consideramos suficiente até onde chegamos para exemplificar um processo de escolhas de localização, no qual foram obedecidas algumas diretrizes básicas tais como a da contiguidade das áreas afins (com a

exceção mencionada da psicologia e comunicações) e a da centralidade da filosófia e das ciências humanas em relação ao conjunto das áreas de conhecimento e do posicionamento dos orgãos centrais do Campus em termos político-administrativos em posição central em relação aos dois eixos físicos ordenadores básicos.

Figura 12 - Plano Diretor da CUASO – 1971 Por último nota-se que o acréscimo de áreas por desapropriação para além do espigão do campus por onde passava a antiga Estrada de Itú, até a nova Estrada de Itú, a atual avenida Corifeu de Azevedo Marques se deu em área previamente loteada em quadras e lotes, fato esse do qual poderemos tirar partido na integração do Campus com a cidade em seu entorno.

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O Tecido Urbano nos Fundos da CUASO Essa área de expansão do Campus situada entre a estrada velha e a nova de Itú, abrangendo uma área que havia sido já loteada, levou a que em certas regiões, como a que abarca um pequeno vale, tivesse seu sistema viário desfeito e com isso desaparecesse algumas das quadras previstas no loteamento. Entre o HU – Hospital Universitário e a Avenida Escola Politécnica ao longo da Av. Corifeu de Azevedo Marques, as quadras estão mantidas e denominadas por números como Q8, Q9 e Q10. Essa intromissão do tecido urbano de quadras típicas de um loteamento convencional está assim até agora mantida mas poderá ser eventualmente desfeita se razões houverem para isso. O que cabe assinalar é que a interface do Campus de sua área e dos lotes que dão frente para a Avenida Corifeu de Azevedo Marques se fez de modo a fazer assemelhar o tecido do campus com o da cidade em seu entorno. Desse fato poder-se-a tirar proveito prático e simbólico, se aí forem localizadas atividades para as quais essa interface fosse proveitosa.

Figura 13 – A topografia básica e os eixos ordenadores. Esses fundos do campus estão aos poucos se transformando em nova frente de caracteristicas próprias, onde a interpenetração com a cidade do seu entorno é marcante. Apenas 3 quadras , ainda privadas, separam parcialmente o campus de um contacto pleno com a Av. Corifeu de Azevedo Marques. Assim ao longo dos planos diretores da CUASO transformações foram realizadas mas foi se consolidando a idéia de um tecido urbano constituido por um quadriculado de vias ortogonais na várzea

e um sistema viário orgânico nas colinas. Essa dualidade vae se constituir na idéia básica de todos os Planos Diretores daí por diante e do que prevalece até hoje que é o de 1971. (Figura 12 – folha 7-A do Plano de Desenvolvimento Físico para a CUASO – Documento Preliminar Nov/1998 e figura 13 – folha 13 – idem).

A lógica da distribuição espacial das áreas de conhecimento e de decisão. Com uma lógica de ocupação retilinear e ortogonal foi ocupada a várzea, e podemos dizer que em coerência com a retificação do rio, como que afirmando a capacidade interventora da engenharia municipal. Essa lógica retilinear ortogonal vae aos poucos se afirmando de um Plano para outro, para essa área basicamente plana. Como se fora um prêmio a essa demonstração de capacidade urbanizadora, os seus dirigentes, ou seja, a reitoria e mais as áreas que comandaram essa operação urbana, foram instaladas nessa várzea seguindo essa linguagem da ortogonalidade. Essa ortogonalidade se podemos entender como expressadora do pensamento lógico formal dos engenheiros e até certo ponto de economistas, (ao menos dos neo-clássicos com sua intensa utilização das matemáticas) e que se constituiram nas principais áreas a se instalarem na várzea dominada, podemos dizer que essa ortogonalidade foi sendo crescentemente modificada pelas áreas humanas situadas em um eixo paralelo ao eixo organizador básico da várzea, mencionado, iniciando uma transição para as áreas biológicas. Estas, se mesclaram a natureza mais solta enquanto fauna, flora e topografia das colinas, expressando uma vontade, podemos supor de maior respeito e integração a mesma, próprias dessas disciplinas. As ciências humanas com seu eixo, são como uma grande charneira ou dobradiça entre as áreas biológicas e as exatas.

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Figura 14 – A charneira das humanas. As ciências matemáticas situadas na ponta do eixo das humanas, articulam todas as áreas e como alguns matemáticos filófosos ou filósofos matemáticos pretendem, articulam todos os saberes, (como com as mônadas de Leibniz).

Figura 15 – O foco articulador das matemáticas Desse modo as matemáticas podem ser percebidas como formando um foco de giração de todas as áreas, especialmente propiciando o desenvolvimento dos cálculos probabilísticos nos modelos explícitos da organização microcósmica na física, expandindo a mesma das certezas newtonianas para as incertezas da quântica. Esse avanço conceitual sobre as colinas, parte da engenharia e das tecnologias aplicadas (IPT) situadas na várzea, em arco, primeiro com o Instituto de Energia Atómica que se instala nas colinas em um de seus topos e depois com a expansão das demandas sociais dos usos pacíficos e militares da energia nuclear para a atual ocupação do IPEN e das dependências de pesquisa nuclear da Marinha, em seu interior.

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Figura 16 - O avanço das exatas / probabilísticas / tecnológicas. Se de um lado a física newtoniana já subiu parcialmente as colinas com um seu aprofundamento conceitual e foi se tornando probabilística em sua compreensão do microcosmo, parece estar dando cada vez mais importância as questões relativas as origens e fins do universo, aproximando-se muitas vezes de concepções religiosas. Ao seu lado, as tecnologias, em um arco mais aberto e amplo fizeram um caminho correlato do IPT ao IPEN. A educação, missão principal da Universidade, como um todo, teria em suas dimensões e papéis específicos que estar junto ao eixo ordenador principal e do seu início. Estava inicialmente na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, no interior do eixo das humanas em papel de grande destaque, pois lhe cabia, segundo os fundadores da USP, um papel especial e básico. A essa Faculdade foi atribuido o principal papel na produção do conhecimento humanista. A sua saída para a posição atual terá um significado a ser buscado. No que se refere a Educação antes era vista como parte da Filosofia, Ciências e Letras. Sua autonomização em relação a essa área significou conferir-lhe maior importância? Se quis dar a ela um caracter mais importante porém mais instrumental? Parece ser o que ocorre e não apenas

com relação as questões da educação do espirito, mas também as das nossas porções corporais, juntas que estão no espaço do Campus. A grande importância conferida a raia olímpica na paisagem, como referencial, nos leva a pensar que se quiz, através dela, acentuar o ideal olímpico de “mens sana in corpore sano” e colocando-a paralela ao eixo ordenador e junto ao rio retificado, demonstrando também que esse ideal deveria ser alcançado através de um controle do homem, pela razão, da natureza circundante. É intrigante indagar o porque simbólico das penetrações de certas áreas nas macro-áreas mencionadas. Devemos buscar, nesse sentido, explicar a posição relativa das áreas das químicas, da geologia, da oceanografia, da psicologia, das comunicações, como das áreas de vivência, e de moradia. Assim as químicas avançam a partir das humanas na direção das bio-ciências ou podemos entender que dessas últimas fazem parte. O estatuto das químicas como parcela das ciências que investigam o nível molecular tanto dos seres vivos como dos materiais inertes, justificaria essa inserção. A geologia inserida em meio ao eixo das humanas como que quer expressar a necessidade de permanentemente lembrarmos que somos fruto, a sociedade humana, de uma muito longa historia (uma “trés longue durée”, parafraseando Braudel), na verdade longuíssima, a revelada pelos estudos geológicos, a mais longa vivida por esse planeta, desde a sua criação, a qual acabou gerando a história humana. Pode assim essa inserção ser pensada como a lembrança permanente dessa dimensão extraordinária das idades da terra na conformação da história dos seres vivos estudados pelas bio-ciências e dentre eles os humanos e da sua história social. É um novo foco articulador do conhecimento e isso se expressa de forma forte, no que poderia parecer a primeira vista uma simples intromissão. Se entendemos a oceanografia não apenas como o estudo do uso útil dos mares para nós humanos mas como meio principal a dar a origem a vida, sua posição entre as bio-ciências, as físicas, e as ciências humanas está plenamente justificada por esse ângulo prático simbólico . Um caso interessante é o de indagarmos porque a psicologia e as comunicações estão onde estão, junto a Reitoria Velha nas proximidades, e ao lado das ciências exatas. Mero acaso? Como tudo parece até agora responder a necessidades de relações práticas de áreas afins que se busca integrar e de expressão simbólica dessas afinidades, tentemos imaginar razões para essas localizações que não sejam a da existencia de espaços vazios nem de uma ausência de definição clara de função. As comunicações quando se pretendem universalizantes a ponto dos meios de comunicação de uma forma crescente estarem sendo entendidos como a própria mensagem (na famosa frase de Mac Luhan, “o

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meio é a mensagem”), buscam ser um importante pólo transmissor da produção de conhecimento, ao menos no que se refere a comunicação de massa. Por isso nada melhor do que situarem-se junto ou no pólo central do Campus universitário, isto é, junto ao edifício da Reitoria Velha, onde ou próximo do qual se situam instituições centralizadoras dessa produção e simbolicamente está situado o poder político maior da universidade. Mais difícil se apresenta explicarmos o porque da localização da Psicologia. Deixadas aos psicologos (não os sociais evidentemente) tenderiam a situar fundamentalmente na psique dos decisores do momento dessa escolha as razões, subjetivas, que teriam levado a isso. Claro que tal afirmação encerra uma “boutade” de quem conhece essa área do conhecimento apenas superficialmente. Explicações de que teriam sido meras oportunidades ditadas por disponibilidades espaciais podem terem sido as causas imediatas de tal localização. Sua aceitação pelos psicólogos poderia ser derivada de seu autocentramento na busca mais de explicações individuais que sociais. Podem ter havido e ainda haver tensões internas a sua corporação sobre tal escolha. Mas pode-se levantar a hipótese que tal disposição física vae na direção de uma nova concepcão da interpenetração dos saberes, como afirmávamos no início dessa exposição. Será assim uma intromissão criadora. Que ocorre no campo do saber do psíquico, antes que nos demais, que, ousaríamos afirmar, por sua grande flexibilidade criativa, que pode ser entendida como a maior qualidade dos humanos. E sua inserção no campo das exatas, nestas incluidas as ciências econômicas e as da natureza, essas em sua formulação tecnológica ou das engenharias, poderá estar funcionando como uma provocacão criadora, pressionando-as a abandonar muitas certezas adquiridas. É de se registrar que as ciências econômicas parecem desde há muito terem percebido que sendo também parte das ciências humanas, não podem ter as certezas das ciências exatas e caminham por introduzir mais e mais no interior das suas concepções explicativas matematicizantes, o comportamento humano em sua dimensão até certo ponto contingente sujeito a leis próprias dos fatores sociais, como aliás desde há muito fez a economia política. A tentativa de uma interpretação inicial como a feita acima, é realizada com o objetivo de contribuir para a compreensão das razões da atual organização do campus, enquanto partido urbanístico, que é como nós arquitetos e urbanistas designamos sua orientação geral.

O debate que tal interpretação ensejar, que como uma primeira versão aqui apresentamos como um simples ensaio, contribuirá certamente para o seu aperfeiçoamento, correção ou até sua rejeição.

Mais e mais nós arquitetos e urbanistas de nossa Universidade de São Paulo nos preocupamos com as questões simbólicas além das funcionais como colocadas pelo modernismo. De há muito superamos a visão que hoje vemos como simplista da Carta de Atenas, em que a cidade se resume nas atividades de trabalhar, habitar, circular e de lazer, e para um ser humano médio e por isso abstrato. O conflito de interesses entre os vários agrupamentos ou classes sociais em torno de apropriação da riqueza material e da cultural, é um veio explicativo importante sobre o qual devemos nos debruçar para fundamentarmos o nosso projeto de sociedade com suas versões funcionais em suas dimensões técnicas e espaço-simbólicas. Se as interpretações acima esboçadas, e enfatizamos, em uma primeira versão, contribuem para uma compreensão da organização macro do zoneamento básico da CUASO, ela não é suficiente para compreendermos plenamente o “tecido urbano” que o organiza. A utilização da palavra “tecido urbano” aqui está realizada de um modo pouco comum. A expressão tecido urbano tem sido aplicada mais a organização do espaço das cidades, incluindo o modo espacial pelo qual se dá o entrelaçamento entre atividades públicas e privadas, estas no geral internalizadas em edifícios, entrelaçamento que se dá principalmente através do espaço das vias, praças e parques públicos em todas as suas modalidades. Cada forma física peculiar de organização dessas relações sociais corresponde a um determinado tipo de tecido urbano. Ao conjunto de tipos de tecido urbano denominamos de tipólogia. Questiona-se crescentemente esse funcionalismo estrito pois, a história nos mostra, que ao longo dos séculos castelos se transformam em centros culturais, conventos em universidades, e assim por diante. Entendemos assim, que a adaptabilidade de um edifício é uma qualidade a ser considerada, como muito bem nos mostraram Muratori, desde Veneza e Rossi, desde Florença, aliás, avaliando a evolução histórica e com espaços de altissima qualidade urbanistica e arquitetonica, dessas cidades onde vivem, e que passam com o seu uso transformado, de uma geração a outra.

A cidade universitária é uma cidade? Estendemos essa conceituação ao tecido interno da CUASO, não simplesmente porque denominamos esse campus de Cidade Universitária. Poderiamos entender que se essa denominação existe é porque parece que queremos ser uma cidade integral (mas não o somos). A sua localização em um arrebalde rural, justificava em seu início, tal busca de autonomização enquanto serviços de apoio. Mas, e agora? O que verdadeiramente somos é uma entidade pública em sua plena acepção, pois é também pertencente a esfera do poder público e por isso, não só as vias, praças e parques são públicos, mas inclusive as

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edificações e as atividades que nelas se efetivam. Nos faltariam atividades e edifícios plenamente privados se eles não existissem no Campus, mas tais atividades existem e até crescem em número e importância a ponto de muitos indagarem se tal aumento não põe em risco o caráter público da USP. Chamar de Cidade Universitária o nosso Campus parece corresponder a um modo de entender-se o que é ser cidade. Em nossa lingua portuguesa, como a utilizamos no Brasil, ir a cidade quer dizer muitas vezes ir ao seu centro, no geral seu centro principal que é quase sempre o histórico. Visto assim o significado da palavra cidade, ela encerra um valor social de importância, qual seja a valorização do que se pode dar em seu centro, que, em última instância é um espaço especial de relações sociais, as vezes intensas, não só pela frequência e variedade multi-cultural, como pela importância das decisões que aí se tomam, como ainda pela importância cultural das ofertas de oportunidades de encontro que propicia, não apenas nas ruas e praças, mas no interior da enorme variedade de instituições que abriga. A Cidade Universitária parece de algum modo querer reproduzir em seu microcosmo essas relações sociais especiais, dessa centralidade maior que ocorre em seu ápice, nos centros urbanos históricos não decaídos. Essa interpretação levanta a problemática da inserção da cidade universitária na cidade. Se na sua implantação inicial essa inserção era periférica ao núcleo urbano, com o gigantesco crescimento da metrópole paulistana, tornou-se parte do centro expandido. Se entendermos que as centralidades metropolitanas devam evoluir no sentido de criarmos as condições especiais para que tais centralidades possam possuir em sua plenitude e que essas centralidades devam oferecer suas qualidades não apenas no centro histórico, e mesmo que considerado em sua dimensão expandida, mas serem estendidas essas qualidades até a sua periferia, oferecendo aos seus habitantes, melhores oportunidades de usufruí-las, poderemos por exemplo, optar pela tese que defendemos dos Corredores Metropolitanos, Tese de Doutoramento defendida e aprovada em 1973, FAU USP, (Figura 17- Uma Nova São Paulo e Figura 18- A saída para metropole está nos rios), que busca implantar centralidades de alto nível, ao longo dos rios e ao longo das ferrovias que lhes correm em paralelo, transformadas em metrô de superfície, em que as altas densidades que a capacidade desses sistemas de transporte de massa de alta capacidade de suporte, de baixíssimo custo de implantação, podem oferecer, criam as condições espaciais propiciadoras de uma muito alta possibilidade de intercambio socio-cultural. Ou, dito de outro modo, de uma conectividade urbana do mais alto grau. A Cidade Universitária situada em local de grande potencial para essa inserção estratégica no desenvolvimento metropolitano pode, retomar aos poucos uma centralidade na cidade a qual parecia haver renunciado no seu início, ao querer se substituir à cidade, pois pelo menos quis ser uma cidade dentro da cidade. Mas vemos hoje, e seu nome não nos deixa esquecer, que pode ser cidade, no sentido de centralidade da alta qualidade. Ou dito de outra maneira, um espaço em que a conectividade entre as áreas afins vá sendo ampliada, propiciada até estimulada, mas de nenhum modo garantida pela simples organização espacial.

Figura 17 – Uma Nova Snao Paulo

Figura 18 – A Saída para a Metrôpole está nos Rios

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Quais são os tipos de tecido encontrados na CUASO? Basicamente temos 4 tipos de tecido que de certa forma já foram anunciados embora de modo incompleto: 1) o ortogonal cerrado, 2) o solto na natureza mas que está preservado em suas características originais, 3) um de transição em que um certo ortogonalismo microespacial de um pequeno conjunto de edifícios é quebrado por um não ortogonalismo entre esses pequenos conjuntos mesmo quando esses pequenos conjuntos de edifícios são pertencentes a uma mesma instituição e entre eles exista uma relativa penetração de uma natureza mais “natural”, menos modificada pelo ser humano e 4) Ortogonal organizado segundo eixos ordenadores.

Figura 19 – O tecido ortogonal cerrado

Figura 20– O tecido solto na natureza

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Figura 21 – O tecido solto com micro-ortogonalidades em seu interior.

Figura 22 – Ortogonal Organizado Segundo Eixos Ordenadores

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Sabemos que o sistema de acesso interno ao Campus pode ser por veículo individual, coletivo ou a pé, a partir de um sistema mais amplo de transporte, que envolve e penetra o Campus. No caso da CUASO temos que, a semelhança do que ocorre com a cidade de São Paulo que o engloba, o sistema principal hoje é o transporte individual, embora não há muito tempo atrás, fosse o transporte coletivo sobre pneus: o ônibus. De qualquer modo o sistema dominante sempre dependeu de pneus e veículos automotores e o que está ocorrendo é uma gradativa porém cada vez mais rápida passagem do sistema ônibus para o automóvel. Com essa transformação está se transformando o partido básico desenhado para a área de cada instituição. O que se desenhou primeiro foi o que podemos denominar de bolsão. Apenas no plano de 1945 o sistema viário projetado dividia a parte plana do Campus, em uma retícula de pequenas quadras. Logo esse partido foi abandonado em benefício de grandes quadras e glebas, que é o que estamos chamando de bolsões.

Figura 23 – Os tipos de “bolsões”.

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Com a preferência crescente pelo uso do automóvel, o espaço viário foi sofrendo transformações ditadas não apenas por necessidades internas de circulação no Campus, como pela necessidade de serem criados mais acessos aos mesmos, o que por sua vez gerou um tráfego de passagem por pessoas que não tem sua necessidade de deslocamento gerados por atividades na CUASO. Passou o sistema viário do Campus a se transformar em um corta caminho bonito e agradável aos usuários principalmente da cada vez mais congestionada Av. Corifeu de Azevedo Marques. O interessante é percebermos como o sistema viário previsto de abundante que era inicialmente foi sendo minimizado até 1966, quando se retoma uma sua ampliação crescente até os dias de hoje. Razões de uma necessidade de economia de investimentos e custeio podem ter ditado a redução e as necessidades crescentes de circulação de automóvel ampliações recentes crescentes de espaço viário, especialmente de estacionamento.

Figura 24 – O traçado viário básico hoje dominante.

Hoje pode ser esquematizado no desenho acima o sistema viário e de bolsões por ele criado. 1 – Entrada Principal 2 – Entrada pela Av. Corifeu de Azevedo Marques 3 – entrada pela Av. Escola Politécnica 4 – Nova ligação estrutural interna Em relação a cidade de São Paulo a CUASO é um enorme bolsão de 364 hectares. Nascido basicamente fechado, pois aberto e ligado à cidade apenas por uma porta, foi aos poucos se abrindo não tanto por vontade própria, poderiamos dizer, mas por necessidade de se relacionar com uma organização da cidade a sua volta, cada vez mais difícil de se comunicar fisicamente, exigindo novas aberturas. Foi através delas que a cidade foi penetrando e de forma cada vez mais perturbadora, a medida em que um caos crescente foi se instituindo na cidade a sua volta, especialmente pelas dificuldades crescentes de circulação e pela ausência crescente, per capita, de áreas verdes e de lazer, e até de espaços para moradia para populações de mais baixa renda. Com isso a manutenção de um ambiente adequado ao ensino, a pesquisa e a prestação de serviços a comunidade, foi e vae se tornando mais difícil. Esses três tipos de bolsão mencionados estão sofrendo uma pressão para que sejam implantados dentro ou fora de si áreas próprias de estacionamento. Assim nos 3 tipos, o distanciamento ou recuo das edificações em relação a via de acesso estão sendo ocupados mais e mais como pátios de estacionamento. Naqueles tipos em que a disposição dos edifícios deixava um certo espaçamento entre eles, também a demanda por mais espaço para automóveis vae preenchendo esses vãos com áreas pavimentadas de estacionamento. Outra demanda se junta a essa ultimamente. A insegurança da caminhada até o estacionamento, em muitos casos está pressionando para uma internalização desses espaços, para os aproximarem da localização dos locais de trabalho. Esse processo parece estar ocorrendo nos bolsões de tipo 1 mais que no tipo 2. Nos dos de tipo 3 parece também ocorrer o processo de colmatação dos espaços verdes naturais pelos geometrizados dos estacionamentos, embora estes podem e devem a nosso ver serem cobertos por árvores e terem pisos permeáveis até com pisos duros mesclados nas juntas, ou em orifícios para isso deixados, de gramineas ou outros vegetais apropriados.

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Figura 25 – A gradativa invasão dos estacionamentos de automóveis. Nos tecidos urbanos de escala macro espacial como vimos, foram aproximadas por justaposição, as áreas afins em um esquema rico de possibilidades, buscando articular inteligentemente as faculdades e departamentos nascidos autônomos e muitos com tendências a se subdividirem em novas instituições por sua vez autônomas. No tecido de escala micro espacial dos bolsões, vemos a onda de veículos que se espraia e se recolhe todos os dias, deixando uma área árida dos pisos pavimentados, produzindo um espaço não prazeiroso (por isso as preferimos como áreas verdes), ao produzir esse espaço anódino dos estacionamentos, um “lago” de carros parados, que gera barreiras aos buscados encontros interpessoais possivelmente interdisciplinares. Esses espaços não propiciam relacionamentos a menos para os que furtivamente queiram se aproveitar dessa desolada paisagem, mas o que não será decorrente da iniciativa de muitos. Desse modo esses “lagos” de automóveis tendem a se unir em “lagos” maiores, indo na direção oposta a desejada de criarmos espaços mutuamente atrativos interunidos. Ao lado da tendência acima e derivada em parte de uma tradição de autonomia e de outra parte de uma insegurança ainda crescente, as unidades constróem muitas vezes cêrcas e muros, obrigando a enormes voltas para se ir de uma a outra.

No interior do Campus a relativa autonomia historicamente constituida de algumas instituições gerou macro bolsões como o do IPEN e no seu interior um, um pouco menor, o da Marinha. O IPT ao se desligar da USP também buscou certo isolamento espacial. O Instituto Butantã, herdeiro da velha fazenda, também mantém-se em relativa separação e até as suas matas se separam das matas em recuperação da CUASO. Razões de segurança no que se refere ao perigo de contaminação por radiação nuclear, assim como da manutenção de informações não divulgáveis de descobertas tecnológicas de valor industrial ou militar, explicam e justificam o isolamento de algumas dessas instituições e de suas instalações físicas. Desse modo a integração desejada do conhecimento muitas vezes dependerá de autorizações especiais para que se torne possivel, mas esta deverá ser, a nosso ver a exceção e não a regra. Assim considerando, a direção da USP e do IPEN assim como da Marinha, vêm se reunindo para produzir as regras dessa maior integração que poderá levar a eliminação da cerca genérica em torno do macro bolsão do IPEN e não do entorno das instituições que a exijam no resguardo de informações estratégicas. Para definirmos diretrizes específicas quanto ao tecido ao nível da sua micro escala espacial devemos ainda desenvolver estudos adicionais, que inclusive considerem a necessária definição da ampliação quantitativa de atividades, professores, pesquisadores, estudantes e funcionários.

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Diretrizes urbanisticas para a macro-escala espacial da CUASO.

Os Eixos Ordenadores Básicos da CUASO

Figura 26 A nova entrada para a CUASO prevista no seu Plano Diretor 2001 encontra-se estratégicamente situada junto a uma nova estação na linha 7 do metrô de superficie sendo implantado onde antes corriam trens de subúrbio, entre a Av. Nações Unidas (Marginal direita do Rio Pinheiros) e o leito desse rio. Esta estação situada em frente a Praça do Relógio, a praça-parque de 300 por 600m que pelo Plano Diretor é considerada um espaço de convergência de todo o Plano, mais ainda do que já o é, dará origem a uma passarela sobre o Rio, a Raia Olímpica a Avenida Professor Melo de Moraes e as avenidas Marginais do Rio Pinheiros de modo a interligar esta estação a CUASO, bem no centro daquela raia e coincidindo com

eixo de pedestres tangente ao edifício da Reitoria Velha junto ao qual propõe-se seja implantado um Centro de Vivências, uma Livraria e uma Biblioteca Central. Esse novo eixo de pedestres é perpendicular a outro, que por sua vez entrelaça a Reitoria Nova, o Centro de Vivência que inclue restaurantes, lojas e serviços de conveniência já existentes assim como o MAC – Museu de Arte Contemporânea que formam um expressivo conjunto, atravessando a Praça do Relógio, penetrando sob o edifício da Reitoria Velha através da Livraria Central o qual se entrelaça ao Edifício antigo da Reitoria, com proposta de projeto oportuno do arquiteto Paulo Bruna, e que tem continuidade indo além do edifício da ECA passando por detraz dos edifícios da FEA até chegar no entremeio dos edifícios da Escola Politécnica.

Figura 27 Eixos Ordenadores Básicos

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Esses dois eixos, um basicamente N/S, o que é perpendicular ao Rio Pinheiros sobre o qual desenvolve-se a passarela e o outro paralelo ao rio, e basicamente Leste-Oeste logo acima descrito, constituem os dois eixos organizadores principais da CUASO e correspondem aos dois eixos que desde os primeiros planos diretores da CUASO ordenaram a sua implantação física. O N/S como analizado foi o primeiro e no início o principal eixo ordenador. Aos poucos e com a importância crescente do uso dos veículos sobre pneus como meio de acesso ao campus especialmente utilizando-se os automóveis, o eixo L/O, que corresponde a Avenida de Entrada da Universidade, no início pensada em escala monumental e depois reduzida, passou a ser o eixo ordenador principal, situando os edifícios principais, tanto o da Reitoria Velha, como os da nova, a sua volta. Agora com a redefinição de um Eixo ordenador N/S como mencionado, retoma-se essa direção ordenadora, sem abandono da anterior, e busca-se, com o conjunto de Caminhos para Pedestres, que são desenvolvidos a partir dos mesmos, criar-se um tecido de caminhos de pedestres integradores, acrescentando-se os mesmos ao tecido viário para veículos hoje dominante. Não que se queira eliminar o papel desempenhado por caminhos de veículos, constituidos pelas avenidas e ruas. Mesmo porque sendo as distâncias grandes a serem percorridas por pedestres entre os extremos do Campus medidos em até alguns quilometros, não é possível imaginar-se, percorrer-se os mesmos apenas por pedestres como ocorre em campus compactos e verticalizados. O nosso adotou um partido de um Campus “Cidade-Jardim” e assim entendemos deva ser mantido embora mais denso, porém sem destruir o tecido urbano historicamente constituido e sua proporção de áreas verdes. Complementaremos a reintegração das áreas de Comunicação e Artes e da Psicologia a esse grande conjunto das Ciências Humanas, ampliando a abrangência do tecido ordenado por eixo que gerou o Eixo das Humanidades estendendo-o de modo perpendicular a ele um eixo em parte coincidente com o Eixo Básico N/S ou perpendicular ao Rio Pinheiros, o qual, como proposto para o citado Eixo das Humanidades, abarcará, envolvendo, as duas citadas áreas. Assim nesse novo eixo N/S que retoma antigo eixo ordenador, deve se situar aquela que imaginamos possa se tornar a principal entrada do Campus. Isso se verificará na medida da transformação do principal sistema de circulação metropolitano de baseado em veículos sobre pneus para um sistema baseado em veículos sobre trilhos, destacadamente o metrô. E sendo que se privilegie o metrô de superficie ao longo dos rios metropolitanos Tietê, Pinheiros e Tamanduateí, o que já está ocorrendo em decorrencia da implantação do PITU – 2020 Plano Interligado de Transportes Urbanos tendo como ano meta 2020, do Governo Estadual de São Paulo, e se implantado em linhas paralelas e contíguas efetivadas a medida do aumento da demanda, teremos a formação do que podemos denominar de Corredores Metropolitanos de grande intensidade de uso do solo, no interior dos quais, no do Rio Pinheiros, estará situado a CUASO.

A crescente importância a ser dada ao transporte coletivo sobre trilhos na Cidade de São Paulo corresponderá no interior da CUASO a uma crescente importância do Eixo N/S, no centro geográfico do campus. Quer-se assim conferir uma especial importância ao encontro dos dois principais eixos ordenadores resgatando a importância da Reitoria Velha já reciclada para usos de coordenação geral político-administrativa mas principalmente acrescentando atividades constitutivas do CUORE principal da CUASO, abrigando áreas de vivência de um lazer cotidiano associado a atividades de serviços e comércio de apoio e mais com atividades culturais que possam propiciar um grande prazer intelectual, além de se constituirem em contributo para o oferecimento de condições muito propícias a troca de informações e a debates intelectuais que visem a formação de um pensamento humanista, desconfinado das áreas especializadas. Uma Biblioteca Central, que articulasse as Bibliotecas Mindlin, em projeto de equipe conduzida pelo arquiteto Eduardo de Almeida, a do IEB-Instituto de Estudos Brasileiros, localizada próxima daquela possivelmente em eixo paralelo ao Eixo das Humanidades que é um importante eixo resgatador da importância das Ciências Humanas e até também articulados todos esses elementos entre si e centrados na área da Filosofia, e por sua vez articulados com o espaço central de vivência e cultural previsto para junto da Reitoria Velha, cumpririam atuando conjuntamente, de modo muito positivo, um papel integrador do conhecimento, objetivo último de uma universidade. O IEA- Instituto de Estudos Avançados tem a merecida centralidade no Campus ao situar-se no Edifício da Reitoria Velha, ao ser recuperada a sua importância simbólica através do projeto de inserção nele da Livraria Central e reformulações decorrentes nele e no seu entorno.

A Tipólogia do Tecido Urbano da CUASO, os eixos ordenadores e a conectividade das areas afins. Para que sejam respeitadas as características ambientais historicamente constituídas devemos identificar cada uma das zonas em que se divide o Campus por grupos de áreas afins de produção do conhecimento e áreas de apoio ao ensino, pesquisa, divulgação e de desenvolvimento comunitário e os eixos ordenadores de sua formação entendemos devem ser respeitados. Com fundamento na evolução histórica dos Planos Diretores anteriormente adotados, o Plano Diretor da CUASO-2001 revigora e desenvolve o Eixo Ordenador Paralelo ao Rio Pinheiros na sequência da Avenida de Entrada constituida pelas Praças Professores Reynaldo Porchat e Rubião Meira e Av. Universidade e a Praça da Reitoria, definindo ao longo da Avenida um Eixo Ordenador que se prolonga para além da Praça do Relógio atravessando o edifício da Reitoria Velha e alcançando a área da FEA-Escola Politécnica, constituindo parcela do Sistema Básico de Caminhos de Pedestres Com fundamento na citada evolução histórica dos Planos Diretores e retomando a diretriz dos primeiros Planos Diretores se reinstitue um Eixo Ordenador Perpendicular ao Rio Pinheiros aproximadamente no

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centro da Raia Olimpica, tangente simultaneamente à Praça do Relógio e ao edifício da reitoria velha alcançando o Eixo das Humanidades, àquele perpendicular. Com fundamento na mesma citada evolução histórica dos Planos Diretores da CUASO pela qual a centralidade da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras prevista nos primeiros planos ficou substituida pelo Eixo das Humanidades revigora-se e amplia-se tal eixo através da integração das áreas de conhecimento das Comunicações e da Psicologia ao mesmo, ao incorporar-se tais áreas de forma a constituir-se em um ramo perpendicular do Eixo das Humanidades, em parte coincidente com o Eixo Ordenador Perpendicular ao Rio Pinheiros e por ele reforçado, como ocorria com os Eixos Ordenadores dos Planos Iniciais da CUASO. Os Eixos Ordenadores retilíneos mencionados se prolongam por sobre a área colinosa amoldando-se a sua topografia e sobresserem eixos virtuais de ordenação espacial traduzem-se concretamente no Sistema Básico de Caminhos de Pedestres, citado.” Assim, dever-se-á instituir um zoneamento por áreas afins do conhecimento e áreas de apoio às atividades de pesquisa, ensino e prestação de serviços a comunidade obediente àquele históricamente constituido, incluindo zonas especiais de destinacão em estudo na área fronteiriça com a Av. Corifeu de Azevedo Marques, conforme definido no Mapa contido na figura nº28 anexo.

Esse mesmo zoneamento identifica as áreas de conhecimento e de apoio por tipólogia de tecido urbano, como orientação contextualizada para os que definirem projetos de intervenção na área da CUASO, conforme Mapa contido na figura nº29. Constitue diretriz deste Plano Diretor buscar-se seguir o zoneamento por áreas afins do conhecimento de modo a se maximizar a potencialidade de contatos entre áreas afins, tanto de conhecimento, como administrativos e de vivência. Admitir-se á essa regra exceção por estudo circunstanciado e tecnicamente fundamentado e aprovado.

. Visando obter o máximo de conectividade entre áreas afins de conhecimento, de administração e vivência é definido um Sistema Básico de Caminhos de Pedestres, hierarquizado, e com níveis diferenciados de contrôle de acesso tendo em vista necessidades de garantir a segurança para seus usuários e das atividades de ensino, pesquisa e divulgação. (conforme Mapa n° 28 anexo)

Figura 28 – Mapa de Zoneamento

Proposta de Zoneamento para Áreas Afins com Contiguidade Espacial na CUASO

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Figura 29 – Mapa das Tipologias dos Tecidos Urbanos da CUASO Tal orientação deve ser vista como premissas ambientais que, no entanto, por justificadas razões, apresentadas de modo circunstanciado, e submetidas a instância de vistoria apropriada, poderão ser modificadas, se tal modificação de orientação for entendida como adequada.

Conclusão O trabalho desenvolvido, referente aos tecidos urbanos buscando compreender a sua evolução histórica visa, constituir um referencial para intervenções sobre a ordenação territorial na CUASO. O que este estudo, pioneiro diga-se de passagem, descobriu, foi uma evolução do conceito adotado de

tecido com referência a um sistema ordenador por eixos viários, até a introdução do Eixo das Humanidades quando um sistema de caminho de pedestres foi introduzido para orientar a conectividade entre as áreas de ciências humanas buscando integrá-las entre si e com a FAU-USP, que tem nas ciências humanas uma de suas bases. Esse conceito de eixo ordenador com base em caminho de pedestres foi aí introduzido. Estamos agora introduzindo, com grande e correta ênfase, a idéia de eixos ordenadores de pedestres para o conjunto do Campus. Esta é uma mudança qualitativa de grande importância na vida do Campus. Não devemos ver os Caminhos de Pedestres, ao menos o seu Sistema Básico ou Principal, como apenas um meio agradável para andarmos e usufruirmos a nossa CUASO. É mais importante, acredito, buscarmos o reforço e ampliação da conectividade entre as áreas afins de conhecimento e de apoio, pois a missão própria e exclusiva da Universidade de São Paulo é o de acumular e produzir conhecimento em seu mais alto nível, que depende cada vez mais dessa interrelação entre as áreas. As áreas afins estão próximas entre si como nos revela uma cuidadosa análise da distribuição espacial das mesmas legada por todos os que se debruçaram para definí-las, nos cerca de 10 planos diretores que antecederam o nosso. Houve uma extraordinária convergência de visões,ao longo de cerca de 66 anos, de 1935 a 2001, revelando uma forte base comum entre elas. Se temos por isso que respeitá-la devemos fazê-lo de modo explícito como uma diretriz básica, uma premissa urbanístico-ambiental de nosso Plano Diretor. Mas na nossa proposta do PD CUASO-2001, não apenas a estamos respeitando. A partir dela estamos definindo um Sistema Básico de Caminhos de Pedestres que irá completar o Sistema de Caminhos de Veículos que, obviamente, continua importantíssimo como meio de conexão, poderiamos até dizer, continua sendo o principal sistema conectivo, no transporte de bens e pessoas. Teremos assim dois sistemas ordenadores do Tecido Urbano: o Viário para veículos e o de Pedestres. Se os eixos ordenadores antes se referiam principalmente ao Sistema Viário, agora se referirão também ao de Pedestres, de modo combinado. O viário continuará se constituindo no principal sistema conectivo, atendendo aos que chegam por veículos, sejam pessoas sejam mercadorias. O de Pedestres incentiva uma forma pouco utilizada de conexão que valoriza o contato com a natureza presente no Campus, o contato entre as pessoas que

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caminham pelo Campus especialmente mas não apenas entre alunos e professores, e principalmente torna atrativo o caminhar entre as áreas afins, já que são todas próximas entre si. As áreas mais distantes, cerca de 500m terão que utilizar veículos e, desejamos, micro-ônibus e bicicletas. A facilidade de conexões físicas obviamente não é garantidora de conexões cognitivas. Mas pode e deve ser facilitadora das mesmas e o que o Plano Diretor CUASO-2001 está propondo é o de definir um novo sistema, o de Pedestres e de Ciclistas, hoje praticamente não efetivo e até obstruido em alguns casos por barreiras a serem eliminadas. Ao associar esse Sistema Básico de Caminhos de Pedestres aos Eixos Ordenadores pré-existentes, acrescendo ele mesmo que é o de Pedestres, como constituindo um sistema próprio ordenador, as vezes coincidente com os eixos ordenadores viários, como na entrada da Universidade e na área das Biológicas e as vezes constituindo novo eixo, como o de Pedestres quando caminha pelo meio das quadras viárias, estaremos reforçando e dando a devida importância ao Sistema Básico de Caminhos de Pedestres. Ao estarmos articulando esse sistema interno de Caminhos de Pedestres ao sistema de transporte coletivo metroviário, através da estação proposta na linha 7 do sistema, que se situará bem no meio do Campus, estaremos ainda mais reforçando um sistema que busca reduzir a dependência do transporte individual e criando uma nova entrada importante da CUASO, que se quer seja a mais importante no futuro, coincidente com um eixo ordenador que havia sido aos poucos esquecido e que agora é retomado. Se a idéia de eixos ordenadores estava um pouco esquecida, entendo que a estamos retomando e com isso revigorando conceitos urbanísticos básicos, fundamentais, que como vimos historicamente ordenaram a formação do tecido urbano da CUASO e entendo devem continuar ordenando, agora com uma sua reinterpretação, o futuro de seu desenvolvimento.

Quanto a localização de atividades no Tecido Urbano A análise da distribuição das áreas de conhecimento e dos setores de apoio as atividades da CUASO nos revela como o critério de proximidade de áreas afins foi fundamental, sem nenhum exagero no uso dessa palavra. Uma sequência no tempo de decisores foi definindo essas localizações com deslocamentos laterais as vezes significativos, como o que se refere a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras e aos departamentos e escolas em que se subdividiu fisicamente e também por exemplo no que se refere a área de Biociências, inclusive nesse caso devido a ampliações da área da CUASO para além da estrada velha de Itu até a nova (atual Av. Corifeu de Azevedo Marques). A herança recebida de nossos antecessores tem essa qualidade máxima que justificou e justifica a mudança para a CUASO de unidades até então isoladas: a máxima proximidade física entre áreas afins,

desde que garantida uma qualidade ambiental em termos de densidade edificada face ao ambiente natural. Essa qualidade sábia de saber aproximar sem desqualificação ambiental é um princípio norteador sempre seguido e que deve ser reconhecido e afirmado. Se a proximidade de áreas afins foi um princípio norteador sempre seguido deve ser mantido em princípio, pois ele é garantidor de maiores facilidades de intercâmbio de conhecimento e experiência, a razão maior da criação da CUASO. A intensificação desse intercâmbio entre áreas afins é um objetivo que não apenas reafirma o princípio norteador sempre seguido, mas o reforça. A busca de maior conectividade entre áreas afins torna-se assim um objetivo que pressupõe a proximidade pois ela é facilitadora do seu aumento, embora os meios telemáticos de comunicação venham alterando a importância da proximidade física, com resultados ainda até certo ponto indefinidos mas na verdade, ao que tudo indica não a substituindo, como está se verificando, especialmente nas metrópoles. Decorre que uma identificacão em mapa das áreas afins com as unidades que lhes correspondam é instrumento fundamental do Plano Diretor para permitir verificar-se a adequação das alternativas de localização ao princípio da proximidade das áreas afins. Não se quer engessar as localizações a tais áreas historicamente escolhidas. Mas quer-se que sejam produzidas justificativas tecnicamente fundamentadas para orientar mudanças nessa orientação, tão solidamente estabelecida pelos planos diretores iniciais e pelos usos e costumes posteriores praticados. É natural que uma nova atividade quando for se estabelecer na CUASO busque a proximidade de áreas afins. É estranho até que não o faça. Mas poderá ter razões e o que se deseja para que a nova orientação seja aceita é que seja devidamente justificada.

Quanto às diretrizes referentes as tipologias do Tecido Urbano Os estudos que realizamos mostram que cada área afim, ao se organizar espacialmente na CUASO escolheu um modo de organização urbanístico-paisagístico-ambiental que expressa de modo muito próprio o ideário básico predominante em sua área de conhecimento. Os decisores que atuaram nesse processo de escolha foram muito felizes. Destaco o papel dos planejadores e projetadores que foram ao longo dos muito planos e projetos elaborados, decantando aos

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poucos essa linguagem urbanístico-arquitetônica-ambiental, usando a racionalidade e a intuição, como sempre o fazemos, para assim decidir. Hoje podemos resumir em 4 tipologias básicas urbanísticas-arquitetônicas-ambientais as constituintes do que podemos denominar de tecido urbano na CUASO: a) a geometrizante de base ortogonal; b) a de geometria micro-ortogonal aleatória c) a inserida aleatoriamente na natureza circundante e d) a ordenada em torno a eixo básico. A sua identificação mostra claramente os princípios adotados em cada uma ainda que nesta fase dos estudos realizados apenas em seus traços mais marcantes. Mas essa relativa definição é vantajosa no sentido de sugerir grande amplitude de variação nos partidos decorrentes. Na verdade esse tipo de estudo hoje é desenvolvido por todos os arquitetos que passaram cada vez mais a valorizar o contexto histórico social e ambiental natural na inserção de seus projetos, superando a visão modernista de muitos dos seus fundadores de ignorar esses fundamentos ao desqualificá-los por uma análise que conduzia a esse posicionamento. Ao fazê-lo aqui e colocá-lo a disposição dos decisores futuros, lhes estamos assegurando um conhecimento adquirido, tornando uma sua decisão melhor fundamentada. Também aqui não se quer engessar o decisor, especialmente os arquitetos e urbanistas envolvidos. Assegura-se que se tal tipologia for considerada inadequada, mesmo em sua formulação bastante aberta, como está realizada, poderá ser alterada desde que sejam apresentadas justificativas fundamentadas. Para se operacionalizar o procedimento de verificação da adequação da tipologia adotada com as tipologias indicadas, associa-se em mapa específico, Figura 29, tais 4 tipologias às áreas de conhecimento, reunindo-as em conjuntos que adotaram historicamente cada uma dessas mesmas tipologias.

Na sua macro-escala destacamos, cinco diretrizes. 1 – Devemos conseguir maior integração entre as unidades de ensino, pesquisa e prestação de serviços a comunidades, como em parte já foi analisado e apontado. Para isso dever-se-á estimular a conectividade interunidades e intraunidades. Os caminhos para pedestres interunidades assim como dois grandes e principais centros de vivência, um a ser instalada na várzea como parte importante do CUORE, antiga aspiração dos Planos Diretores anteriores, junto a antiga Reitoria e outro a ser implantado nas colinas, no local denominado Praça Por do Sol, em seu espigão, expostos em relatório próprio, compõem um dispositivo chave para tal finalidade. Um sistema de transporte coletivo interno mais eficiente e agradável será outra peça importante para o alcance de tal objetivo, especialmente se for constituído por

uma frota de micro-ônibus que tenham sistema de propulsão que minimize a agressão ao meio ambiente, como os micro-ônibus ecológicos porque são elétricos,de Florença, Itália.. 2 – Devemos obter uma melhor utilização da paisagem externa aos edifícios no interior do Campus, para o que o dispositivo fundamental é outra vez o sistema de caminhos para pedestres. 3 – Devemos integrar o Campus a cidade de São Paulo, sem comprometer a sua missão básica de produção e difusão do conhecimento, pelo contrário, ampliando-a e enriquecendo-a 4 – Devemos fazer crescer a oferta de ensino, pesquisa e serviços a comunidade sem que esse crescimento traga perda de qualidade ambiental hoje existente no Campus. Pelo contrário devemos obter uma substancial melhoria da mesma, especialmente recuperando áreas hoje ambientalmente degradadas. Um adensamento cuidadoso deverá ser objeto de estudo, especialmente no que se refere as condições de insolação , ventilação, de entrelaçamento com o ambiente natural como paisagem e de ordenação estético-simbólica. É de se ressaltar que, obviamente, um crescimento maior do que a capacidade instalada infra-estrutural e edilícia de suporte, exigirá investimentos adicionais. Definir de modo mais preciso qual é a capacidade atual das instalações físicas e de seus sistemas infra-estruturais de apoio, buscando detectar ociosidades, como também levantar-se edificações substituiveis por outras mais adequadas, poderá significar economia de espaços enquanto terrenos e de edificações. Há muitas edificações construidas precariamente, algumas inclusive de madeira, desejadamente a serem demolidas. Algumas já estão sendo objeto desta medida. (Os chamados barracões, por exemplo). 5 – Devemos fazer com que a Universidade, através de seu Plano Diretor dê sua contribuição à cidade de São Paulo no sentido de pensar o seu futuro, como importante pólo cultural, que é, o maior de todos que essa cidade hoje oferece a seus cidadãos e aos que a visitam. Caminhos de Pedestre e Centros de Vivência Os Caminhos de Pedestres articulados a Centros de Vivência, por sua importância estratégica tal sistema será tratado em texto específico, sob o titulo A Estruturação da Conectividade do Professor Witold Zmitrovics. . Central de Cursos de Pós Graduação Por proposta do Professor Paulo Bruna apresentou-se a hipótese de se implantar uma Central de Cursos de Pós Graduação. A mesma poderia ser localizada onde hoje situam-se os chamados barracões entre a ECA/ Psicologia e a FEA/ Poli e que deverão ser substituídos dada a sua precariedade, o que já está em curso.

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Tal Central seria administrada conjuntamente pelas entidades uspianas que decidissem por tal sistema. Haveria grande econômia como área construída e possivelmente como custos administrativos de operação e manutenção. O Professor Paulo Bruna, apresentou exemplos de outros Centros Univesitários que se utilizam de edifícios como finalidade análoga, destacando-se o da Essex University, na Inglaterra. Entendo que tal hipótese merece estudos aprofundados que verifiquem sua conveniência e viabilidade, especialmente por sua implicação ambiental já que trata-se-á provavelmente de edificação compacta e de grandes dimensões, com alta taxa de impermeabilização do solo.

Figura 30 – O tecido urbano da CUASO e o papel entrelaçador dos caminhos de Pedestre

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Favela San Remo Considerando a necessidade de crescimento da área construída da USP e o objetivo social da Universidade e buscando uma melhoria da qualidade do espaço físico local com a melhoria da qualidade de vida da favela San Remo, na medida que esteja ocupando área da propriedade da USP, recomenda-se:

a) a regulamentação da propriedade b) a qualificação ambiental da área, reorganizando-se o espaço físico, com possível verticalização,

propiciando a recuperação de uma parte do terreno para a USP, seguindo orientação de comissão específica.

Tais recomendações estão fundadas em estudo específico desenvolvido por comissão especial constituida pela reitoria, ha alguns anos, mas perfeitamente atual, que apresenta alternativas de intervenção, sob a responsabilidade dos professores Maria Rute Amaral e Marta Tanaka. Centro de Convenções Assim por exemplo está entendendo o Grupo de Trabalho que com relação ao local do Centro Cultural estadual situado a entrada principal da Cidade Universitária (Paço das Artes), melhor seria para o Campus, no caso da desistência do projeto daquele complexo cultural pelo Governo Estadual e sua transferência para a USP, que ali se instalasse um Centro de Convenções, equipamento que muito faz falta aa CUASO. A sua localização periférica é muito indicada. Estando na entrada principal do Campus, recebe a importância simbólica que deve ter. As amplas instalações ali existentes, são sem grandes dificuldades transformáveis para o novo uso e conta, tal transformação, em princípio, segundo nos foi informado, com a anuência do autor de seu projeto, o arquiteto Jorge Wilheim. Museus de Zoologia,o de Arqueologia e Etnologia, e o de Ciências

No local onde está situado o projeto dos 3 museus, o de Zoologia, Arqueologia e Etnologia e o de Ciências, do Arquiteto Paulo Mendes da Rocha, que é um pequeno vale, em frente a area de veterinária e junto a avenida Corifeu de Azevedo Marques, o Grupo de Trabalho entende que sua localização estando em meio a região do Campus de carater mais natural onde predominam as áreas preservadas de mata, e onde apropriadamente se instalam as instituições dos que cuidam da saudabilidade dos seres vivos, no caso daquele projeto não mudar de localização, um dos seus Museus o das Ciências, seria oportuno que o mesmo pudesse se dedicar as biociências de um modo geral, enfatizando as grandes descobertas de que participa a USP, quanto aos códigos genéticos, por exemplo. Tais museus, se expusessem os feitos daquelas instituições que cuidam dos seres vivos, envolvidos por um Parque Público com acesso pela Av. Corifeu de Azevedo Marques, poderiam, em princípio, gerar um foco estruturador e recuperador daquela quase abandonada área do Campus contribuindo para a ambientação do Centro de Vivência previsto para junto da Praça do Por do Sol, que fica ao lado..

Biblioteca Central Desenvolve-se ainda a idéia de se implantar uma Biblioteca Central Humanista integradora do conhecimento, como ocorre nos centros mais adiantados, nos quais as universidades, na medida que vão flexibilizando os seus curriculos, propiciando combinações não tradicionais de conhecimentos, vão exigindo uma concentração bibliográfica de livros e demais publicações, duplicando bibliotecas temáticas de modo a facilitar o trabalho do estudioso interdisciplinar, que assim não se vê obrigado a se deslocar para as bibliotecas setoriais, num esforço desnecessário.Se a essa colecão selecionada de publicações adicionarmos uma outra de estudos filosóficos, científicos e artisticos de profundidade e amplitude que mereçam uma sua identificação como contribuintes para um pensamento humanista e porisso necessariamente plural teremos construido um espaço em que o espirito universitario será desenvolvido em sua mais alta acepção. Se a tudo isso ainda acrescentarmos livros raros teremos constituido um espaço altamente interessante e porisso atraente ao estudioso.

Uma arquitetura desenhada para oferecer conforto ao pesquisador ao mesmo tempo que se constitua em espaço integrador das atividades do campus e porisso situado em seu Cuore e também buscando oferecer um espaço as vezes ensimesmador as vezes extroversor, neste caso aberto para o espaço do campus , especialmente a Praça do Relógio, e para o próprio espaço urbano da cidade em seu entorno, estrategicamente situado no encontro dos dois principais eixos ordenadores, constituirá um ponto de alta centralidade da Cuaso. Essa Biblioteca Central teria como objetivo principal o de contribuir para que se pense os destinos da humanidade, na forma de uma grande biblioteca humanista, e que desenvolva o contato entre as pessoas com essa perspectiva intelectual e destes com os livros e documentos que lhe dão suporte. Entendemos que esse contato entre pessoas interessadas e destes com livros e documentos não pode ser substituido pelo necessário avanço dos sistemas telemáticos de arquivamento e de comunicação, que também, de uma maneira muito especial ainda a ser conceituada por estudiosos da questão, devem estar presentes nesse ambiente que busca criar uma capacidade excepcional de busca do conhecimento, como símbolo maior desse Plano Diretor, que quer contribuir para que o sonho de uma universidade que não seja apenas a soma de instituições competentes, se concretize. Biblioteca Mindlim A biblioteca doada por José Mindlim, projeto da equipe coordenada pelo Arquiteto Eduardo de Almeida, localizado junto à Reitoria, poderia ser entendida como o início, o primeiro elemento, dessa biblioteca central, sendo que o partido urbanístico e arquitetônico deve garantir uma individualidade própria, tendo sido esse o conceito adotado. É desejável ainda uma sua integração com a Biblioteca Mário de Andrade, sob a gestão do IEB – Instituto de Estudos Brasileiros, por sua importância e por seu caráter também humanista e propomos um novo eixo ordenador com essa finalidade paralelo ao eixo das humanidades, articulando entre si as bibliotecas Mindlim, do IEB e a Biblioteca, conforme Figura 28..

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Tal conceituação poderia, se isso for considerado oportuno, conferir uma nova importância dada a Biblioteca Mindlim como inauguradora da idéia de uma biblioteca central humanista, que poderá chegar a ter por exemplo, hum milhão de volumes e 25.000 m2. Instituto de Estudos Brasileiros Esse instituto hoje está mal localizado no interior do espaço destinado a habitação de alunos (CRUSP). Há proposta em estudo de localizá-lo entre a Biblioteca Mindlim e a Biblioteca Central e a Livraria Central em eixo paralelo à Avenida Luciano Gualberto, de modo a constituir um eixo de bibliotecas humanístas articulado ao centro de vivência do CUORE, conforme a mencionada Figura 28.. Livraria Central A Biblioteca Central (Central Library em ingles) Humanista deveria estar associada à Livraria Central no Cuore do Campus, situada na Reitoria Velha e seu entorno imediato, no exato encontro simbólico dos eixos construtores da organização espacial do Campus: o eixo da avenida de entrada que é perperdicular a sua fachada e de um novo eixo a ser criado retornando as primeiras idéias de organização do Campus a partir das Faculdades de Higiene e Saúde Pública e de Médicina no alto do Espigão Central (Av. Dr. Arnaldo) mais os Hospitais conexos, até a Fazenda Butantã, donde foi extraida a área da CUASO, que cria um eixo organizador perpendicular ao primeiro e portanto perpendicular também ao Rio Pinheiros. (Ver as figuras 4, 5, 6, 7, 8 onde tal idéia claramente está configurada). Tal novo eixo estruturador do Campus revalorizaria um entrelaçamento no interior do Campus por caminhos de pedestres e valorizaria uma nova forma de entrada no Campus, a de pedestres, a partir de nova estação de metrô a ser criada entre a estação Cidade Universitária junto a ponte Cidade Universitária e a Estação Jaguaré, exatamente a meio caminho da Raia Olímpica. (Figura 30 – O tecido urbano da CUASO e o papel entrelaçador dos caminhos de pedestres).A localização desse eixo novo coincidirá com um eixo tangente ao edifício da Reitoria Velha que passaria a se constituir em o principal eixo de pedestres de entrada e saída do Campus, o qual, cruzando-se com outro eixo de pedestre coincidente com o Eixo da Avenida de Entrada já parcialmente constituido na frente da atual Reitoria e atravessando a Praça do Relógio, se estenderia para os espaços da ECA, Psicologia, FEA e Poli, articulando-as entre si. Uma rede maior de caminhos de pedestres seria estruturada convergindo para esses dois eixos estruturadores que se cruzam exatamente em frente ao prédio da Reitoria Velha, que teria recuperado, em nova leitura, sua importância perdida. É de se notar como essa concepção de 2 eixos estruturadores principais de pedestres, cruzando-se em frente a entrada da Reitoria Velha, retoma em novos termos e sintetiza idéias presentes em todos os Planos Diretores realizados até aqui. Para exemplificar e tornar mais claras tais idéias apresento proposta de projeto para a Biblioteca Central em anexo. Nada melhor do que marcar essa nova abertura do Campus para a Metropóle, através de seu Sistema Metropolitano de Transporte de Massa, com instituições da USP que mostrem parcela importante da produção intelectual da mesma para o grande público.

Passarela Largo Um grande, largo e linear espaço de exposições paralelo e contiguo a uma passarela, que poderia abrigar exposições culturais com a produção acadêmica da USP, a que estamos denominando de Passarela Largo Cultural (Figura 31 – Planta - Passarela Largo e a Estação do Metrô e Figura 32 – Perspectiva - Passarela Largo e a Estação do Metrô), retomando uma tradição do urbanismo português que no lugar de Praças preferiu os Largos, fruto de alargamentos viários, no caso uma via aérea de pedestres, poderia se constituir em nova e importante entrada do Campus, alimentada pelo principal sistema de transporte que está sendo implantado na metropole: o metrô. Projetando a passarela por sobre a raia olímpica através de espaço linear perpendicular a mesma e com o largo a ela articulado, ultrapassando um vão de cerca de 100m sobre o seu espelho d’água da raia, daria a visibilidade, buscada não apenas para a sua arquitetura, bela que poderá ser, mas principalmente para as atividades culturais que aí se mostrarem ao grande público, que poderia acessá-las em grande número de pessoas, pelo metrô de superfície em implantação. Mostrando esse “rosto” que se quer oferecer da USP em suas relações com o grande público, facilitando o seu acesso ao Campus pelo único sistema que é capaz de solucionar os grandes problemas de circulação de São Paulo, o Metrô, daria assim a USP um exemplo concreto da opção concreta e não apenas retórica, a favor do transporte coletivo em nossa cidade. Exemplificando essa proposta elaborei projeto mostrado em relatório próprio anexo, denominado Passarela Largo. São assim 10 projetos estratégicos de intervenção propostos para a implantação do Plano Diretor da CUASO-2001.

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Figura 31 – Planta Passarela Largo e a Estação de Metrô

Figura 32 – Perspectiva - Passarela Largo e a Estação de Metrô

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Figura 33 - Caminho de Pedestres para o Eixo das Humanas