tec2-0896

download tec2-0896

of 10

Transcript of tec2-0896

  • Informaes Econmicas, SP, v.26, n.8, ago. 1996.

    CUSTO E RENTABILIDADE NA PRODUO DO COGUMELO "CHAMPIGNON DE PARIS"1

    Alfredo de Almeida Bessa Jnior2Marli Dias Mascarenhas Oliveira2

    Alceu de Arruda Veiga Filho3Gilberto J. B. Figueiredo4

    1 - INTRODUO 1

    Cogumelos ou fungos so Basidiomice-tos h sculos conhecidos por diversos povos doMundo. Uns por eles se atraram, e outros ape-nas constataram a sua existncia, poucosdedicaram-lhes a ateno (BONONI, 1986). Seucorpo de frutificao vulgarmente conhecidopor "chapu de sapo" ou "orelha de pau" (TAN-GO, s.d.). Estes pertencem ao Reino Fungi, oqual apresenta cinco divises: Basidiomicota,Deuteromicota, Zigomicota, Ascomicota e Micofi-cota. Entre elas, a de interesse neste trabalho a da Basidiomicota (Basidiomicetos) na qualencontram-se as espcies: Agaricus bisporus(Champignon de Paris); Lentinula edodes (shita-ke); Pleurotus ostreatus, P. sajor-caju, P. cornu-copie, etc. (Cogumelos gigante, Hiratake, Shime-ji, Oyster mushroom e Caetetuba) (SOUZA,s.N.t.).

    Entre os maiores produtores mundiaisde cogumelos comestveis esto os EstadosUnidos, a Frana, a Itlia, a Blgica, a Dinamar-ca, a Austrlia e a Holanda, e em franco progres-so esto os produtores do Japo, da Coria, dasFilipinas, da China e de Formosa (MOLENA,1993).

    No Brasil, no municpio de Cabreva,Estado de So Paulo, foi montado o primeirocultivo de cogumelo em escala industrial, em1952, introduzido pelo imigrante agrnomo e

    enlogo italiano, Oscar Molena (RIBEIRO, 1992).Hoje, no Estado, em primeiro lugar aparece aregio de Mogi das Cruzes como a responsvelpor 88,06% da produo de cogumelos (Agari-cus bisporus e Pleurotus ostreatus), que com-posta por produtores, em sua maioria de descen-dncia coreana, chinesa e japonesa. Em segui-da, a regio de Campinas, 10,85% e, em ltimo,a regio de Sorocaba, 1,09% (dados do segundolevantamento da previso de safras subjetiva doIEA, junho de 1995). Atualmente, fora do territ-rio paulista, existem outras regies produtoras ede menor expresso econmica, como o casode Guaiba, no Rio Grande do Sul, e Curitiba, noParan, etc.

    O cogumelo tornou-se esporadicamen-te explorvel nas dcadas de 60 e 70, com maiorparticipao industrial nesta ltima, ao surgiremos problemas da comercializao in natura(TANGO, s.d.).

    A produo de miclios ("sementes") complexa e de custos elevados. Segundo osprodutores da regio de Mogi das Cruzes, omercado limitado e no comporta a produoque vem sendo registrada nos ltimos cincoanos, pois, o consumo no Pas restrito a euro-peus e a classe mais abastada. Em 1985, doscento e vinte produtores da regio, a maioriaformou uma associao de classe, estabelecen-do cotas de produo para no inflacionar omercado, e para evitar a queda de preos (BO-NONI & TRUFEM, 1986).

    A produtividade baixa, conseqnciada baixa tecnologia e recursos investidos nosetor, o que resulta nos altos custos de produ-o, refletindo nos elevados preos de merca-do. A qualidade dos produtos comparvel dos grandes produtores mundiais, porm, apreos no competitivos (BONONI & TRUFEM,1986).

    A exportao espordica, em peque-no volume, e dirigida a pases latino-americanos,

    1Trabalho referente ao projeto SPTC 16-010/94. Os autoresagradecem ao Engenheiro Agrnomo Pesquisador do Ins-tituto de Economia Agrcola, Minoru Matsunaga, as crticase sugestes.

    2Engenheiro Agrnomo, Pesquisador Cientfico do Institutode Economia Agrcola.

    3Economista, Pesquisador Cientfico do Instituto de Eco-nomia Agrcola.

    4Engenheiro Agrnomo da CATI, Delegacia Agrcola de Mogidas Cruzes.

  • Bessa

    Jnio

    r, Alf

    redo d

    e A. e

    t al. 22

    Informaes Econmicas, SP, v.26, n.8, ago. 1996.

    cujo potencial de compra limitado pelas dificul-dades econmicas que enfrentam. Para se teridia do potencial de mercado, em 1984, osEstados Unidos compraram quarenta toneladasde cogumelo, graas aos preos internacional-mente competitivos a poca, e, no ano seguinte,refizeram pedido de mil toneladas, tornandoinvivel o cumprimento do negcio dado o volu-me solicitado, perante a baixa produo brasilei-ra (BONONI & TRUFEM, 1986).

    Neste estudo, dar-se- ateno apenas espcie Agaricus bisporus, "Champignon deParis", com o objetivo de determinar os coefici-entes tcnicos; o clculo dos custos operacionaisde produo e os principais indicadores econ-micos.

    2 - REVISO DE LITERATURA

    Para a realizao do trabalho foramconsultadas obras de carter cientfico e informa-tivo - revistas e apostilas referentes produo,industrializao, comercializao e importnciado cogumelo na alimentao humana. Seguemas de carter cientfico que cooperaram naexecuo do trabalho.

    BONONI & TRUFEM (1985) tratam dainstalao, preparo e pasteurizao do compostopara dois, dos diversos gneros de cogumeloscomestveis, Agaricus e Pleurotus. Mencionam aobteno do spawm, semente ou miclio; asinstalaes para o preparo da semeadura, dacolheita, da industrializao, da comercializaoe a possibilidade da exportao dos produtosobtidos.

    MATSUNAGA; RIBEIRO JUNIOR;SVER (1981) discorrem sobre os aspectoseconmicos do cultivo do cogumelo, orientando-se em dois sentidos. No primeiro, procurandoconhecer seu perfil no panorama internacional,e no segundo, determinando os parmetroseconmicos de produo no principal centroprodutor do Pas (Estado de So Paulo), onde anfase foi dada determinao de matriz decoeficientes tcnicos, custos e renda da culturana regio de Mogi das Cruzes.

    MOLENA (1967) descreve a importn-cia do cultivo do cogumelo na alimentaohumana; na riqueza em protenas, gorduras,carboidratos e sais minerais; no ambiente timoe nas diretrizes para a sua multiplicao; no ciclo

    biolgico, nos substratos por ele utilizado na nu-trio e no crescimento; na colheita, venda e co-mercializao, em que so discutidos os fatoresconcorrentes para a produo de primeira quali-dade - ambiente fsico-qumico e bacteriolgico;nos destinos da produo, do consumidor diretodo produto (supermercados, mercearias, restau-rantes) que d preferncia a cogumelos maiorese de melhor aparncia; para o consumidor in-direto que o industrializa, enlata ou deposita emvidros.

    TANGO (s.d.) descreve todo o proces-so de produo do cogumelo comestvel: opreparo do miclio, do composto e da pasteuri-zao; o preparo da cmara de produo paraonde levado o composto e onde o miclio implantado; a manuteno da temperatura de 16a 20 graus centgrados; a umidade relativa do arde 70 a 90 por cento, s custas da irrigao combico de pulverizador; a pequena circulao de arpara que no haja o acmulo de gs carbnico;a ausncia da luz direta por pouco mais de 30dias. Diz, ainda, estar a produtividade relaciona-da com o peso do composto por metro quadrado.Discorre sobre as pragas e doenas e seuscontroles. Informa haver pases viabilizando ossistemas capazes de diminuir custos de produ-o por meio de mquinas auxiliares.

    3 - MATERIAL E MTODO

    O trabalho baseado em tcnicapraticada por produtor do municpio de Mogi dasCruzes, com o cultivo da espcie Agaricusbisporus, conhecida como "Champignon deParis".

    O municpio de Mogi das Cruzes estlocalizado na regio Leste da rea metropolitanada Grande So Paulo, aproximadamente a 60kmda Capital do Estado. Apresenta um clima tem-perado mido, com temperatura mdia anual de22 graus centgrados, umidade relativa do ar de85%, precipitao pluviomtrica mdia anual de1.600mm, a uma altitude de 760m do nvel domar. O municpio, com rea total de 74.900ha, extremamente subdividido, contando atualmentecom 3.200 propriedades agrcolas, tendo comoprincipais exploraes a Olericultura, a Fruticul-tura de Clima Temperado, a Floricultura e o cul-tivo de cogumelos comestveis (TADA et al.,1992).

  • Custo

    e Re

    ntabil

    idade

    na Pr

    odu

    o do

    Cogu

    melo23

    Informaes Econmicas, SP, v.26, n.8, ago. 1996.

    Para o levantamento dos dados para aelaborao da matriz de exigncias de fatores deproduo do cogumelo "Champignon de Paris",foi contatada a Delegacia Agrcola de Mogi dasCruzes junto ao agrnomo responsvel pela rearegional de produo. Atravs dele foi feito ocontato com produtores do fungo, e levantadosdados sobre o sistema de cultivo e de produo.

    Trata-se, esta pesquisa, de um estudode caso, cuja matriz de coeficientes tcnicosrefere-se aos dados de um produtor tradicionalna regio, de elevado nvel de produtividade emrelao ao nvel mdio dos produtores do muni-cpio.

    A descrio do sistema de cultivo foifeita de acordo com a metodologia de CEZAR etal. (1991), em que a "conduo de uma culturaenvolve diversas atividades (preparo do solo,plantio, etc.), cada atividade envolve diversasoperaes (arao, gradeao, distribuio desementes),e, cada operao pode ser realizadapor diversas prticas (manual, mecnica, etc.)".A um determinado conjunto de atividades, opera-es e prticas, os autores denominam tcnica.

    O clculo do custo de produo baseado na metodologia de custo operacional deproduo, proposto por MATSUNAGA et al.(1976), contabilizando aqueles custos necessri-os para a realizao de um ciclo da cultura.

    O custo operacional de produo uminstrumento que serve ao agricultor para tomardecises de produo no curto prazo, relativasao ciclo produtivo em curso ou ao seu subse-qente, no servindo para se avaliar a atividadea longo prazo. A fim de se analisar a rentabilida-de em relao ao custo total de produo, acres-centaram-se aos custos operacionais as despe-sas com os custos fixos, arrendamento e remu-nerao do capital fixo (MARTIN et al., 1994).

    Os preos dos insumos utilizadosreferem-se queles observados em maio de1995, sendo a cotao do dlar para esse msde R$0,897. Calcula-se o custo total de produ-o e rentabilidade para os diferentes nveis deproduo. O preo de venda do cogumelo innatura refere-se ao ms de julho de 1994, pocade pico da produo, j que os preos recebidosem 1995 refletem situao atpica, devido aosaltos preos recebidos diante da baixa produo.

    Sendo assim, o custo operacionalefetivo (COE) composto das despesas commo-de-obra, operaes de mquinas e material

    consumido. O custo operacional total (COT) oCOE acrescido do custo da depreciao demquinas e equipamentos, calculada pelo mto-do linear; dos juros de custeio taxa de 6% a.a.sobre metade do COE, destinado a remunerar ocapital circulante; dos encargos sociais inciden-tes sobre o valor da mo-de-obra (33%); dacontribuio especial seguridade social rural(CESSR), que corresponde a 2,2% do valor daproduo ao preo de venda (R$1,80 por quilo-grama); das despesas com manuteno, cominstalaes e com construes da propriedade;do consumo de gua e de energia eltrica (30%do COE).

    Ao COT foi adicionada a remuneraoda terra, calculada segundo o valor do arrenda-mento vigente na regio e uma taxa de 6% a.a.remunerando os custos fixos, a fim de se obter oCusto Total de Produo (CTP). A elaboraodestes custos permitem anlises tcnicas, parao mdio prazo, com viso global da atividade.

    Os indicadores de anlise utilizados notrabalho foram os seguintes:

    a) Renda Bruta (RB) igual ao produtoda produo pelo preo de venda de R$1,80 porquilograma;

    b) Renda Lquida (RL) igual diferenaentre a renda bruta (RB) e o custo de produo,expressa em real e em quilograma e

    c) ndice de Lucratividade igual proporo da renda bruta que se constitui emrecursos disponveis. Esse recurso tambmdestinado a remunerar o risco e a capacidadeempresarial do produtor.

    4 - SISTEMA DE CULTIVO

    Existem diversos sistemas de cultivopara o "Champignon de Paris". O mais utilizadoe tradicional aquele que consiste na montagemde galpes ou barraces que propiciam as con-dies adequadas de temperatura, umidade erenovao do ar. No interior destes, sero colo-cados, em prateleiras de madeira sobrepostasumas s outras, "sacos" contendo o substratopreviamente preparado e fermentado, j inocula-do com a "semente". Estas iro se desenvolverno ambiente at a germinao, formao ecolheita.

    Os cogumelos se alimentam de matriaorgnica em decomposio, de onde extraem

  • Bessa

    Jnio

    r, Alf

    redo d

    e A. e

    t al. 24

    Informaes Econmicas, SP, v.26, n.8, ago. 1996.

    gua e carbono. Essa matria o substrato, oumeio nutritivo, assimilado pelos mesmos, chama-do composto.

    Para o cultivo do cogumelo, os materia-is sofrem a fermentao natural, para a qualnecessitam de 24 dias. Findo esse perodo, es-ses materiais sero colocados em cmara de"pasteurizao" onde ser completada a fermen-tao, transformando-se em composto ou subs-trato.

    Quatro so as fases de cultivo docogumelo: compostagem, pasteurizao, semea-dura e colheita. Compostagem vem a ser aformao da base para o desenvolvimento dofungo. Utiliza-se, como matria-prima, o bagaode cana e a palha de capim misturados aoesterco de cavalo. Aps a montagem da pilha,adicionam-se os adubos necessrios, e durante15 dias h um revolvimento feito por mquina,com intervalos de 3 dias. Nesse tempo, o com-posto atinge temperatura de, aproximadamente,80 graus centgrados.

    Aps a primeira fase, o composto levado para o tnel de pasteurizao, cujoobjetivo o de inibir qualquer tipo de fungo ebactria vivos a existentes, onde permanece auma temperatura de 60 graus centgrados, por8-10 horas. Depois resfriado 2-3 graus cent-grados por dia, de forma que, aps 4-5 dias desua entrada no tnel, o composto dever estarcom a temperatura de 48 graus centgrados, afim de se efetuar a semeadura.

    A terceira fase, a semeadura, feitamanualmente em sacos plsticos e dentro dotnel de pasteurizao. Preparados os sacos,esses so levados para a cmara de cultivo,onde aguardaro o incio da produo, poraproximadamente duas semanas, at que umaespcie de "teia" branca aparea na superfciedo composto. Deve-se, ento, acrescentar umacamada de solo esterilizado de, aproximadamen-te, dois centmetros de espessura, que recebe onome de terra de cobertura.

    A quarta, e ltima fase, a da colheita.Aproximadamente, 15 dias aps a cobertura deterra aparecem os cogumelos. A colheita ir seestender por mais 60 dias, com produo mdiaentre 1 e 2kg de cogumelo por saco de 12kg decomposto. Aps esta, os cogumelos deverosofrer uma limpeza no local do corte dos ps,com uma soluo de bissulfito de sdio, quepromover o branqueamento do produto. Ao

    trmino faz-se uma desinfeco completa doambiente com formol.

    5 - RESULTADOS

    Primeiramente expe-se a situaogeogrfica da propriedade analisada, suas ca-ractersticas quanto a construes e equipamen-tos utilizados para a produo do cogumelo. Aseguir so dados os coeficientes tcnicos neces-srios para a produo do mesmo e, finalmente,expem-se as diversas rentabilidades obtidasconforme os diferentes nveis de produo e faz-se uma anlise da renda lquida da atividade nosdiferentes nveis de produo propostos, compa-rando-a com os resultados obtidos por MATSU-NAGA et al. (1981) e FIGUEIREDO (s.d.).

    5.1 - Caracterstica da Propriedade

    A propriedade analisada est situadano municpio de Mogi das Cruzes, consideradogrannde produtor de "Champignon de Paris".Possui modernas instalaes e bom manejo naconduo da cultura, resultando em alta produti-vidade.

    A empresa possui onze galpes deproduo, medindo 7 x 25m; um galpo para aproduo de composto, juntamente com umtnel de pasteurizao, onde se controla atemperatura e a luminosidade para promover asua fermentao; dois poos semi-artesianos;extenso de fora e luz; linha telefnica; umacaixa d'gua para a reserva de 350 litros.

    Essa propriedade est equipada comum trator de 76cv; um microtrator de 13cv; duascarretas para carga; trs motores eltricos(3,0cv, 1,5cv e 1,0cv); dois ventiladores paraestufa; um misturador de composto; uma carre-gadeira; carrinhos de mo; exaustores e pratelei-ras utilizados no processo produtivo.

    A mdia de produo de cogumelo nosltimos trs anos foi de 100 toneladas anuais,com produo mdia de 8,33t/ms. A empresaproduz cogumelos nos doze meses do ano. Noperodo de menor temperatura (abril a outubro),atinge a maior produo (10t). O maior picoprodutivo do ano, no ms de julho, chega aatingir 14 toneladas.

  • Custo

    e Re

    ntabil

    idade

    na Pr

    odu

    o do

    Cogu

    melo25

    Informaes Econmicas, SP, v.26, n.8, ago. 1996.

    5.2 - Coeficientes Tcnicos de Produo

    A matriz de coeficientes tcnicos deproduo mostra as exigncias fsicas de fato-res de produo, de 10.000kg de cogumelo innatura (Tabela 1).

    Os dados apresentados referem-se aum tnel de pasteurizao, capacitado a suprirtrs galpes de cultivo, os quais medem 175m2cada um, e possuem rea til, em prateleiras, de562m2 cada um, produzindo 17,7kg/m2.

    O composto utilizado na produo docogumelo constitudo de: bagao de cana(20t); palha de capim (1,8t); esterco de cavalo

    TABELA 1 - Coeficientes Tcnicos e Exigncias Fsicas de Fatores de Produco da Cultura doCogumelo, 3 Galpes (7 x 25m), Produo de 10.000kg, Mogi das Cruzes, Estado de SoPaulo, 1995

    OperaoMo-de-obra Mquinas e equipamentos

    Comum Tratorista Trator 76cvP carre-

    gadeiraMisturador

    comp.Pulver.estac.

    (hora-de-servio)Amontoa 4,00 12,00 12,00 12,00 - -Revolvimento da pilha 8,00 - - - 4,00 -Colocao de composto na estufa 20,00 20,00 20,00 20,00 -Semeao 40,00 - - - - -Preparo da cama 30,00 - - - - -Peneiragem da terra 8,00 - - - - -Cobertura 24,00 - - - - -Colheita 120,00 - - - - -Irrigao 24,00 - - - - 24,00Lavagem e corte 112,40 - - - - -Limpeza da cama 8,00 - - - - -Esterilizao 0,17 - - - - 0,17Total de horas 398,57 32,00 32,00 32,00 4,00 24,17Material consumido Quantidade UnidadeBagao de cana 20,00 tPalha de capim 1.800,00 kgFarelo de soja 500,00 kgSulfato de amnia 0,30 tCloreto de potssio 0,15 tUria 0,15 tCarbonato de clcio 150,00 kgEsterco de galinha 3,00 m3

    Esterco de cavalo 30,00 m3

    Superfosfato simples 0,40 tCal hidratada 80,00 kgFormol 3,00 lBissulfito de sdio 100,00 kg

  • Bessa

    Jnio

    r, Alf

    redo d

    e A. e

    t al. 26

    Informaes Econmicas, SP, v.26, n.8, ago. 1996.

    Saco plstico 210,00 kgSemente 210,00 kg

    Outros itens Valor Unidade

    Encargos diretos 33,00 %CESSR 2,20 %Preo de venda 1,80 R$Encargos financeiros 12,00 %Ciclo 4,00 mesesArrendamento 300,00 haOutras despesas 30,00 %Outros custos 6,00 %

    Fonte: Instituto de Economia Agrcola.

    (30m3); esterco de galinha (3,0m3); farelo de soja(0,50t); sulfato de amnia (0,30t); cloreto depotssio (0,15t); uria (0,15t); carbonato declcio (0,15t); superfosfato simples (0,40t); e calhidratada (0,08t).

    O preparo do composto realizadoatravs do auxlio do trator de 76cv e de uma pcarregadeira, utilizando, ambos, 12 horas deservio de mquina e tratorista e 4 horas deservio de mo-de-obra auxiliar. Aps a pilhaformada, foram utilizadas mais 8 horas de mo-de-obra auxiliar e mais 4 horas do misturador decomposto para o revolvimento da mesma. Acolocao do composto, pronto na estufa, outnel de pasteurizao, a ltima operao ondese utilizam mquinas no cultivo do cogumelo.Esta operao consome 20 horas de trabalho demo-de-obra, de trator e de p-carregadeira.

    No preparo da cama utilizam-se 30 ho-ras de servio de mo-de-obra comum e 210kgde sacos plsticos. A semeao consome 210kgde sementes de boa procedncia e 40 horas deservio de mo-de-obra.

    Os 60 dias de colheita consomem 120horas de trabalho, onde um homem chega acolher 20kg por hora. A lavagem e o corte, ope-raes totalmente manuais, consomem 112,40horas de trabalho. Na lavagem so utilizados100kg de bissulfito de sdio. A limpeza da camae sua desinfeco consomem 8,17 horas deservio e 3 litros de formol.

    Durante o processo produtivo do cogu-melo, consomem-se 24 horas de servio com airrigao.

    5.3 - Custo de Produo

    O custo operacional efetivo, que en-globa as despesas com mo-de-obra, operaode mquinas e equipamentos e material consu-mido, totaliza R$5.439,55 para a produo de10.000kg ou R$0,54 por quilograma de cogume-lo produzido (Tabela 2).

    Ainda na tabela 2 observa-se a partici-pao percentual dos itens componentes docusto de produo e nota-se que do valor doCOE, 30,60% pertencem aos gastos com farelode soja, fornecedor de nitrognio ao sistema,utilizado em grande quantidade pelo produtor.Outro item que apresenta grande participao noCOE o bagao de cana juntamente com ocapim que so a base do composto e oneramo custo em 22,45%. Outros insumos participamdo custo com percentagem variando de 7,04%a 10,42%. claro que, quando calculadas sobreo CTP, estas participaes diminuem um pouco.

    O custo operacional total, compostopelo COE mais os gastos referentes deprecia-o de mquinas, aos encargos sociais e finan-ceiros e a outras despesas gerais da proprieda-de, totaliza R$8.014,26 para produo de10.000kg, ou R$0,80 por quilograma. Nota-seque o item outras despesas onera o custo opera-cional em 20,36%. Neste item so computadosos gastos com consumo de energia eltrica,gua e reparos realizados nas instalaes emgeral.

    O custo total de produo, que englobaos custos com arrendamento de terra e a remu-nerao ao investimento em instalaes, deR$8.640,63 na produo de 10.000kg ou R$0,86

  • Custo

    e Re

    ntabil

    idade

    na Pr

    odu

    o do

    Cogu

    melo27

    Informaes Econmicas, SP, v.26, n.8, ago. 1996.

    por quilograma de cogumelo produzido.Ao se adotar o custo total de produo

    para anlise, deve-se atentar que da rendaobtida deve-se subtrair um valor estipulado pararemunerar o empresrio e o risco.

    5.4 - Rentabilidade

    A produo sazonal, e o mercadorestrito com safra e entressafra bem definidas,acaba influindo na variao de preos. No inver-no, quando a produo maior, os preoschegam a nveis que cobrem apenas os custosoperacionais, havendo, portanto, uma compen-sao no vero quando a oferta reduzida.

    A figura 1 ilustra o comportamento daproduo da propriedade e do preo por elarecebido, em 1994, onde se pode observar asazonalidade dos mesmos.

    O manejo do composto e a qualidadedas sementes utilizadas so os fatores que maisinfluenciam na produo do cogumelo. Conside-rando que para um mesmo conjunto de insumose coeficientes tcnicos pode haver uma grandevariao da quantidade produzida, calculou-seento, para um mesmo custo de produo, arentabilidade da atividade para diferentes nveisde produo que variaram entre 4.000kg e10.000kg por ms. Na anlise utilizou-se o custounitrio de R$0,86/kg e o preo de vendaR$1,80/kg.

    Na tabela 3 observa-se a rentabilidadepara os diferentes nveis de produo e nota-seque ao aumento da produtividade tem-se umaumento significativo na receita lquida, e que a

    TABELA 2 - Custo de Produo e Participao Percentual dos Itens Componentes do Custo, Culturado Cogumelo, 3 Galpes (7 x 25m), Produo de 10.000kg, Mogi das Cruzes, Estado deSo Paulo, Maio de 1995

    Item Valor(R$)COE

    (%)COT

    (%)CTP(%)

    Mo-de-obra 487,65 8,96 6,09 5,64Operao de mquinas 382,49 7,04 4,78 4,43Semente 441,00 8,10 5,50 5,1Bagao/palha 1.221,20 22,45 15,24 14,13Esterco 566,46 10,42 7,07 6,56Farelo de soja 1.665,00 30,60 20,77 19,27Adubos 263,25 4,85 3,29 3,05Formol/bissulfito 97,50 1,79 1,21 1,13Saco plstico 315,00 5,79 3,93 3,65COE 5.439,55 100,00 67,88 62,95

  • Bessa

    Jnio

    r, Alf

    redo d

    e A. e

    t al. 28

    Informaes Econmicas, SP, v.26, n.8, ago. 1996.

    Depreciao de mquinas 281,19 3,52 3,25Encargos diretos 160,92 2,00 1,86CESSR 396,00 4,94 4,58Encargos financeiros 104,71 1,30 1,21Outras despesas 1.631,87 20,36 18,89COT 8.014,26 100,00 92,74Arrendamento de terra 300,00 3,47Custos fixos 326,37 3,77CTP 8.640,63 100,00

    Fonte: Instituto de Economia Agrcola.

    Figura 1 - Quantidade e Preo Recebido pelo Produtor deCogumelo, Mogi das Cruzes, Estado de SoPaulo, 1994.

    Fonte: Instituto de Economia Agrcola.

    eficincia no processo de produo recompen-sada no resultado econmico da cultura.

    Analisando-se a renda lquida da ati-vidade em diferentes nveis de produo, ob-serva-se que com a produo de 4.000 quilogra-

    ma por ms, a receita negativa. Considerandoser esta a menor produo para o conjunto defatores de produo utilizados, torna-se, por-tanto, invivel continuar a produzir em patamaresto baixos sem diminuir o custo de produo.

    Quando se produz 5.000kg por ms, arenda lquida de R$0,11/kg. Obtendo-se umaumento na produo de 1.000kg a renda eleva-se para R$0,38/kg. Quando a produo mensalatinge 10.000kg a renda lquida R$0,93/kg,sempre ao preo de venda de R$1,80/kg.

    Produzindo-se 5.000kg por ms, ondice de lucratividade de 13,14%, conside-rando esta a menor produo para um resultadopositivo. Observa-se que ao se produzir 7.000kg,o lucro operacional 37,34%, aumentando sig-nificativamente a receita da atividade. No casoda produo atingir 10.000kg mensais, produoconsiderada no estudo de caso, o ndice de lu-cratividade atinge 55,48%, demonstrando o bomdesempenho da atividade.

    Numa anlise da atualizao dos custosestimados proposto por MATSUNAGA; RIBEI-RO JUNIOR; SVER (1981), verificou-se que o

    TABELA 3 - Indicadores de Resultados Econmicos na Cultura do Cogumelo1, Municpio de Mogi dasCruzes, Estado de So Paulo, 1995

    Produo para 3galps. de 7x25m(kg)

    Custo total2 por kg

    (R$)

    Renda lquida (estufa)

    (R$)

    Renda lquida por kg

    (R$)

    Renda lquida

    (kg)

    ndice de lu-cratividade

    (%) 4.000 2,1 -1.203,03 -0,30 -320,37 -8,01 5.000 1,69 557,37 0,11 657,63 13,15 6.000 1,41 2.317,77 0,38 1.635,63 27,26 7.000 1,21 4.078,17 0,58 2.613,63 37,34 8.000 1,07 5.838,57 0,72 3.591,63 44,9 9.000 0,95 7.598,97 0,84 4.569,93 50,77

  • Custo

    e Re

    ntabil

    idade

    na Pr

    odu

    o do

    Cogu

    melo29

    Informaes Econmicas, SP, v.26, n.8, ago. 1996.

    10.000 0,86 9.359,37 0,93 5.547,63 55,48

    1Preo de venda R$1,80 por quilo.2O custo de produo varia para as diferentes produes em funo do clculo da CESSR, que calculada sobre a quantidadeproduzida multiplicada pelo preo de venda.

    Fonte: Instituto de Economia Agrcola.

    custo de produo de R$2,09 por quilogramae a renda lquida negativa (-R$437,76), paraum sistema de cultivo, cujo trabalho quaseartesanal, e a produo mdia considerada 1.507,45kg.

    FIGUEIREDO (s.d.) prope um con-junto de insumos para a produo de 2.000kg decustos, que, mensurando-se os custos, chega-seao valor de R$1,64 por quilograma apontandouma receita lquida de R$324,63.

    6 - CONSIDERAES FINAIS

    A produo de cogumelo, restrita aalgumas regies do Estado, devido grande de-pendncia da cultura dos fatores climticos, noapresenta dados ou informaes disponveispara a realizao de estudos mais detalhados.

    A baixa produtividade apresentadapela maioria dos produtores o grande gargalopara que a atividade apresente melhores resulta-

    dos em termos de renda. A anlise do custo deproduo e da renda deste estudo de casorepresenta um parmetro de comparao para oprodutor.

    O custo de produo calculado emR$0,86 por kg, para um nvel de produtividadede 10.000kg, compatvel com a tecnologiaapresentada, que se situa acima da mdia. Arentabilidade em nvel de produtor bastantesatisfatria e alcana um lucro operacional de55,48% permitindo ao produtor condies deinvestir na atividade.

    Quanto aos produtores que apresen-tam baixa produtividade cabe procurar elevarseus nveis tecnolgicos de produo, semcustos adicionais, atravs do melhoramento daqualidade da compostagem; do controle dacmara de fermentao; e de melhorar o prepa-ro dos sacos plsticos, onde se desenvolver ofungo semeado com miclios de boa procedn-cia. Medidas que a pesquisa pode apoiar se forpossvel maior interao com o setor.

    LITERATURA CITADA

    BONONI, Vera L. R. & TRUFEM, S. F. B. Cogumelos comestveis. CPRN Informtica, SP, p.4, jan./mar. 1985.

    . Cogumelos, um mercado ainda a ser conquistado. Dirigente Rural, SP, p.36-39, ago. 1986.

    CEZAR, Sergio A. G. et al. Sistemas de produo dentro de uma abordagem metodolgica de custosagrcolas. Agricultura em So Paulo, SP, v.38, t.2, p.117-149, 1991.

    FIGUEIREDO, Gilberto J. B. Cultivo de cogumelos comestveis. So Paulo: SAA/CATI, s.d. mimeo.

    MARTIN, Nelson B. et al. Custos: sistema de custo de produo agrcola. Informaes Econmicas, SP, v.24,n.9, p.98-122, set. 1994.

    MATSUNAGA, Minoru; RIBEIRO JUNIOR, Daniel; SVER, Fernando A. Aspectos econmicos da cultura docogumelo. So Paulo: IEA, 1981. 22p. (Relatrio de Pesquisa 14/81).

    et al. Metodologia de custo de produo utilizada pelo IEA. Agricultura em So Paulo,SP, v.23, n.1, p.123-139, 1976.

    MOLENA, Oscar. A cultura do cogumelo. Chcaras e Quintais: Agricultura e Pecuria, SP, v.58, n.4, p.211-217, abr. 1967.

  • Bessa

    Jnio

    r, Alf

    redo d

    e A. e

    t al. 30

    Informaes Econmicas, SP, v.26, n.8, ago. 1996.

    . O moderno cultivo de cogumelos. So Paulo: Nobel, 1993. 170p.

    RIBEIRO, Ana Lucia. Cogumelo d lucro mas exige tcnica. AGROFOLHA, SP, p.1, 18 fev. 1992.

    SOUZA, Edison de. Cultivo de cogumelos comestveis: curso de fungicultura. s.N.t. 32p.

    TADA, Jorge Shuitiro et al. Cultivo de cogumelos comestveis. Campinas: CATI, 1992. (Boletim Tcnico,210).

    TANGO, Washington Y. Dados sobre a cultura do cogumelo comestvel. Mogi das Cruzes: CATI/DelegaciaAgrcola, s.d. 7p. mimeo.

    CUSTO E RENTABILIDADE NA PRODUO DO COGUMELO "CHAMPIGNON DE PARIS"

    SINOPSE: Este trabalho tem como objetivos a elaborao da matriz de coeficientes tcnicos,a determinao do custo de produo e anlise da renda, em diferentes nveis de produtividade de umapropriedade produtora do cogumelo "Champignon de Paris" (Agaricus bisporus), situada no municpiode Mogi das Cruzes, Estado de So Paulo. Devido alta produtividade, o produtor, objeto deste estudo,chega a um custo de R$0,86 por quilograma produzido. Entretanto, regra geral, o cultivo de cogumelona regio, devido baixa produtividade, conseqncia da baixa tecnologia e recursos investidos nosetor, resulta no alto custo de produo.

    Palavras-chave: cogumelo, Champignon de Paris, custo de produo.

    PRODUCTION COST AND INCOME ANALYSIS OF THE AGARICUS BISPORUS ("CHAMPIGNON DE PARIS" MUSHROOM) PRODUCTION

    ABSTRACT: The purpose of this paper is to elaborate the matrix of technical coefficients, todetermine production costs and to analyze the income in different levels of productivity of a propertyproducing the "Champignon de Paris" mushroom (Agaricus bisporus). This property is located in theregion of Mogi das Cruzes, So Paulo state. The producer, study-object of this paper, reaches a costof R$0,86 per kilogram. However, as a general rule, the low yield due to poor technology and meagerresources allocated in the region results in the high production cost.

    Key-words: mushroom, "Champignon de Paris", production cost.

    Recebido em 20/06/96. Liberado para publicao em 28/08/96.