Teatro de Bonecos Cultura contextualizada e de resistência

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Teatro de Bonecos Cultura contextualizada e de resistência Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 7 • nº1209 Dezembro/2013 Pureza Geraldo Zacarias Andrade é um jovem agricultor, militante do Movimento dos Sem Terra, vice- diretor e professor numa escola rural no município de Pureza. Desde criança, começou a se interessar pelo teatro de bonecos depois que viu algumas apresentações na antiga comunidade onde morava, Valentim, que é distrito de João Câmara. Na adolescência, começou a confeccionar alguns bonecos de madeira e também a fazer apresentações para a vizinhança na comunidade. Todos os bonecos do espetáculo são feitos por Geraldo; a maioria é de madeira, mas ele já começou a fazer alguns com papel reciclado, pois acha que é ecologicamente mais correto. Ainda criança, Geraldo usava o teatro de bonecos para apresentar os trabalhos da escola, quando era estudante. Mas as pessoas diziam que essa história de mamulengos era uma coisa ultrapassada, que não se usava mais. Em 2002, ele entrou no MST e começou a apresentar a sua arte nos espaços e atividades do movimento. Os roteiros das histórias contadas pelos bonecos variam um pouco, a depender do público e do tema que se quer abordar, mas geralmente reproduzem histórias bem conhecidas na cultura local. Geraldo diz que algumas das piadas e causos contados reproduzem o machismo e o racismo, mas que depois que ele entrou no movimento, começou a modificar as histórias que inferiorizavam as mulheres e negros, ajustando o roteiro do teatro de bonecos a um conteúdo que fosse, ao mesmo tempo, divertido e formativo. Os personagens incorporados pelos bonecos são o Capitão João Redondo, que é bastante comum nos teatros de bonecos no estado, Baltazar, Doutor Alexandre, entre outros. Geraldo Zacarias e seus nomecos

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Geraldo é um jovem agricultor, militante do MST e professor numa escola rural. Desde criança, começou a se interessar pelo teatro de bonecos depois que viu algumas apresentações na antiga comunidade onde morava. Na adolescência, começou a confeccionar alguns bonecos de madeira e também a fazer apresentações para a vizinhança na comunidade.

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Teatro de Bonecos Cultura contextualizada e de resistência

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 7 • nº1209

Dezembro/2013

Pureza

Geraldo Zacarias Andrade é um jovem agricultor, militante do Movimento dos Sem Terra, vice-diretor e professor numa escola rural no município de Pureza. Desde criança, começou a se interessar pelo teatro de bonecos depois que viu algumas apresentações na antiga comunidade onde morava, Valentim, que é distrito de João Câmara. Na adolescência, começou a confeccionar alguns bonecos de madeira e também a fazer apresentações para a vizinhança na comunidade. Todos os bonecos do espetáculo são feitos por Geraldo; a maioria é de madeira, mas ele já começou a fazer alguns com papel reciclado, pois acha que é ecologicamente mais correto.

Ainda criança, Geraldo usava o teatro de bonecos para apresentar os trabalhos da escola, quando era estudante. Mas as pessoas diziam que essa história de mamulengos era uma coisa ultrapassada, que não se usava mais. Em 2002, ele entrou no MST e começou a apresentar a sua arte nos espaços e atividades do movimento.

Os roteiros das histórias contadas pelos bonecos variam um pouco, a depender do público e do tema que se quer abordar, mas geralmente reproduzem histórias bem conhecidas na cultura local. Geraldo diz que algumas das piadas e causos contados reproduzem o machismo e o racismo, mas que depois que ele entrou no movimento, começou a modificar as histórias que inferiorizavam as mulheres e negros, ajustando o roteiro do teatro de bonecos a um conteúdo que fosse, ao mesmo tempo, divertido e formativo.

Os personagens incorporados pelos bonecos são o Capitão João Redondo, que é bastante comum nos teatros de bonecos no estado, Baltazar, Doutor Alexandre, entre outros. Geraldo Zacarias e seus nomecos

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Rio Grande do Norte

Realização Apoio

Os personagens incorporados pelos bonecos são o Capitão João Redondo, que é bastante comum nos teatros de bonecos no estado, Baltazar, Doutor Alexandre, entre outros.

A Associação Potiguar de Teatro de Bonecos definiu que o nome mais característico do teatro de bonecos no RN é Teatro de João Redondo, assim como em Pernambuco foi definido que se chamaria teatro de mamulengos. Atualmente, o teatro de bonecos faz parte da cultura de resistência no semiárido, pois é pouco valorizado e corre o risco de deixar de existir. De acordo com uma pesquisa feita em 2009 pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional, IPHAN, só existem 30 pessoas que trabalham com teatro de bonecos no estado do Rio Grande do Norte e que estão cadastradas.

Para dar visibilidade e fortalecer esse elemento cultural tão importante para a cultura do semiárido, Geraldo utiliza o teatro até na escola onde trabalha desde 2009, depois que se formou no curso de História da Terra, na Universidade Federal da Paraíba. Do lado de dentro do pano, ele dá voz aos bonecos. Do lado de fora do pano, as crianças assistem ao espetáculo. O artista se confunde com o professor, pois ele usa o teatro para dar aulas e para resgatar e valorizar a cultura local, ensinando história e fortalecendo a cultura contextualizada. Influenciados pelo professor e inspirados pela magia dos personagens, alguns alunos montaram uma peça de teatro com os bonecos para falar da história da cidade de Pureza. Eles mesmos montaram o texto e organizaram a apresentação.

É por isso que Geraldo persiste em levar as apresentações para as comunidades rurais, para atividades de algumas entidades e encontros dos movimentos sociais, mesmo sabendo que não dá para ter uma renda significativa vinda dessa atividade. Ele diz que os artistas da cultura popular são pouco valorizados pelo poder público e têm pouco incentivo. Mesmo assim, pretende continuar apresentando o teatro e dando a sua contribuição para que essa arte não se acabe e para fortalecer a cultura de resistência dos povos do semiárido.

Bonecos criados por Geraldo

Do lado de dentro do pano, Geraldo dá voz aos bonecos. Do lado de fora do pano, as crianças assitem o espetáculo